Unidade 5
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Educacional
Especializado
Aline Aparecida Adão da Silva
Atendimento educacional
especializado
Introdução
Neste conteúdo, iremos estudar a surdez a partir do olhar da inclusão, problematizando
os conceitos de inclusão e também de acessibilidade. Nesse sentido, perguntamos: o
que é necessário para que os sujeitos surdos se sintam incluídos em todos os segmentos
da sociedade? Em termos de acessibilidade, o que é necessário ser feito para que os
sujeitos surdos tenham acesso a qualquer ambiente, tanto educacional como social?
Objetivos da Aprendizagem
• Identificar os serviços do AEE, política e inclusão escolar do surdo;
• Motivar os alunos no aprendizado, destacando a importância da língua no
ensino para alunos surdos;
• Orientar e dar suporte nas estratégias pedagógicas para desenvolver a escri-
ta e a alfabetização do educando surdo;
• Desconstruir os mitos estabelecidos socialmente com relação às línguas de
sinais e à comunidade surda;
• Destacar metodologias para a expansão de informações/conhecimento ao
sujeito surdo por meio da Língua de Sinais.
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Surdez e Acessibilidade
Uma pessoa surda é como aquela que vivencia um déficit de audição
que o impede de adquirir, de maneira natural, a língua oral/auditiva usada
pela comunidade majoritária e que constrói sua identidade calcada
principalmente nesta diferença, utilizando-se de estratégias cognitivas e
de manifestações comportamentais e culturais diferentes da maioria das
pessoas que ouvem. (COSTA; REIS, 2009, p. 20, apud SILVA, 2009, p. 15).
A Libras ainda não tem o status de uma língua, e muitos ainda a consideram apenas uma
ferramenta para os surdos aprenderem a Língua Portuguesa escrita, o que é um equívoco.
No entanto, essa desvalorização e, muitas vezes, até o desconhecimento da Libras pelos
ouvintes faz com que os sujeitos surdos tenham problemas de comunicação.
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Figura 1: Símbolo Internacional de Surdez
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Nos primeiros meses de vida, o bebê depende totalmente de sua mãe para sentir-
se compreendido e atendido nas suas necessidades básicas. Quando ele está
incomodado, é sua mãe que identifica e lhe oferece a ajuda necessária.
Nesse contexto, são sinais e situações nas quais os pais podem suspeitar quando
alguma coisa não vai bem com a audição do seu filho quando:
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• a criança, aos quatro anos de idade, não sabe contar o que acontece;
• a criança, aos cinco anos de idade, ainda fala como bebê;
• a criança é muito passiva e não incomoda;
• a criança pronuncia mal as letras: R, S, D, L, J e T;
• o bebê é demasiadamente tranquilo;
• o bebê não se altera diante de ruídos inesperados.
Os sons são captados pelo ouvido externo, formado pelo pavilhão auricular (orelha) e
o canal auditivo; em continuidade, o som é conduzido até o ouvido médio, chocando-
se contra a membrana timpânica e produzindo ondas vibratórias que chegam a três
pequenos ossos, também conhecidos como cadeia ossicular do ouvido: o martelo, a
bigorna e o estribo. Esses ossos formam uma ponte entre o ouvido médio e o ouvido
interno, e essa interação intensifica e amplifica as ondas sonoras antes que elas
cheguem à janela oval, o ouvido interno.
É no ouvido interno que está localizada a cóclea, com formato de um caracol, que
contém um sistema de canais cheio de um líquido aquoso. Quando as ondas sonoras
fazem a janela oval vibrar, o líquido se move e faz mexer células muito pequenas,
chamadas células ciliadas, que o nervo auditivo capta e leva informações até o
cérebro. No órgão de corti há a transformação das vibrações em impulsos elétricos,
que são o que conhecemos como ondas sonoras transmitidas pelo ar.
Trata-se de sons captados por nossa via aérea, mas também podemos captar os sons
por via óssea. No caso de uma pessoa com audição normal, o som é escutado por
via aérea e, apenas quando o som for muito grave e intenso, sentimos a vibração por
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via óssea, como, por exemplo, o bater de um tambor. É fundamental que o professor
entenda sobre o funcionamento da audição normal para, depois, conhecer os conceitos
iniciais da deficiência auditiva e surdez, de modo a agir no processo educacional.
O que é dB e frequência?
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Frequência
Decibéis (dB)
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4. Presença de líquido no ouvido médio.
5. Presença de algum corpo estranho ou de pequenos objetos dentro do ouvido.
6. Otosclerose, doença hereditária. Trata-se de uma formação anormal do osso
esponjoso próximo ao estribo e da janela do vestíbulo da orelha.
7. Ingestão de alguns medicamentos ototóxicos que podem acarretar perda au-
ditiva.
8. Exposição a ruídos excessivos por longos períodos.
9. Traumatismo crânioencefálico ou AVC.
10.Doenças como diabetes, sarampo, toxoplasmose, esclerose múltipla, lúpus,
tumor no ouvido ou cerebral etc.
Audição normal
Surdez leve
Surdez moderada
Surdez acentuada
Perda auditiva entre 41 e 70 dB. O indivíduo não escuta sons como o toque do
telefone; é frequente o atraso de linguagem e alterações articulatórias. Dificuldade
em compreender certos termos de relação e/ou frases gramaticais complexas.
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Surdez severa
Surdez profunda
Congênita
É aquela que ocorre antes do nascimento ou, em alguns casos, durante o parto,
podendo ser hereditária ou até mesmo se a mãe, durante o período de gravidez,
contrair alguma doença, como, por exemplo, uma rubéola.
Adquirida
Quando ocorre após o nascimento, nos casos em que a criança pode adquirir
alguma doença, como a meningite, ou ter infecções, como otites crônicas ou
agudas. Pode acontecer em qualquer idade.
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A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988).
Figura 3: Inclusão
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
No Brasil, a primeira lei que deixa explícitos os direitos à educação dos surdos é a
Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Além disso, a primeira Lei de Diretrizes e
Bases (LDB), de 20 de dezembro de 1961 (Lei nº 4.024), já recomendava a integração
da Educação Especial no Sistema Nacional de Educação.
Caso a escola regular não possua condições de atender esses alunos: “O atendimento
educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que,
em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração
nas classes comuns de ensino regular”. (BRASIL, 1996).
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Para que se efetive uma política educacional de qualidade, é necessário investir na
formação de professores para atuarem no AEE, na formação de intérpretes de Libras
e na adaptação curricular. É primordial contemplar uma formação voltada para a
diversidade, capaz de dar oportunidades a todos, respeitando as diferenças.
Nessa perspectiva, a educação especial está estruturada por meio de três eixos,
conforme anunciado, em 2010, no documento do MEC “Marcos Político-Legais da
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva”, elaborado pela Secretaria
de Educação Especial. O primeiro eixo se constitui em uma política fundamentada
na concepção de educação inclusiva; o segundo, pela institucionalização de uma
política de financiamento para a oferta de recursos e serviços na intenção de eliminar
obstáculos no processo de escolarização; o terceiro, em orientações específicas para
o desenvolvimento de práticas pedagógicas inclusivas (BRASIL, 2010). Dessa forma,
a educação especial se apresenta como um serviço para atender aos estudantes
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades.
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VIII - apoio técnico e financeiro pelo Poder Público às instituições privadas
sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação
especial. (BRASIL, 2011).
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Vocabulário
Começar reconhecendo a Língua de Sinais como primeira língua do surdo, sua língua
materna e língua escolar, é o avanço de sucesso para a aprendizagem do sujeito surdo,
assim como os processos e práticas construídos e os a serem construídos. A Língua
de Sinais apresenta particularidades, portanto, torna-se fundamental a apropriação
da Libras para o desenvolvimento cognitivo, linguístico e social no aprendizado da
Língua Portuguesa e na formação da identidade surda.
A oferta de uma educação bilíngue a essas crianças se torna essencial já que cada
criança surda deve ter a Língua de Sinais como proteção contra o dano de aquisição
tardia de uma primeira língua, por essa razão, as escolas têm um papel importante na
sociedade moderna, que se encontra em constante mudança.
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Mitos e Crenças sobre a Língua Brasileira de Sinais
Um dos mitos mais falados da Língua Brasileira de Sinais consiste na ideia de que
esta seria gesticulação ou imitação da língua majoritária, dominante, do país: a Língua
Portuguesa. Esse mito surge a partir do desconhecimento da Língua de Sinais, como
afirmam Quadros e Karnopp (2004), ao abordarem alguns dos mitos relacionados à
Língua Brasileira de Sinais.
[...] não são como mímicas. Em primeiro lugar porque, mesmo os sinais
icônicos [...] não são uma simples imitação, já que, ao contrário de uma
mímica, não são reconhecidos por qualquer um, mas dependem de um
dado conhecimento linguístico vigente dentro de uma comunidade. Em
segundo, nem todos os sinais são imitativos.
Na Língua de Sinais há alguns elementos icônicos, imitativos, que não são imitação,
de onde vem a falsa crença de que todo surdo é mudo e, como ele não pode falar,
imita a Língua Portuguesa por meio da gesticulação.
De acordo com Quadros (1997), Goldfeld (2002) e Sousa (2017), entre outros, a Língua
Brasileira de Sinais é uma língua natural que nasceu da interação espontânea entre
surdos, não sendo, portanto, uma imitação. A Língua de Sinais é “[...] autônoma, flexível,
versátil, criativa, de dupla articulação, constituída dos mesmos traços que compõem
qualquer outra língua humana”. (SANTOS; SANTOS; SANTOS, 2017, p. 491).
Além disso, Ferreira Brito (1998 apud SOUSA, 2017, p. 2) afirma que as línguas de
sinais são línguas naturais porque:
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sinais, sob o ponto de vista linguístico, são completas, complexas e possuem uma
abstrata estruturação em todos os níveis de análise.
A Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, a qual reconhece que a Libras como língua, é
o meio legal de comunicação e expressão para os surdos, afirmando que:
Art. 2º Para os fins deste Decreto considera-se pessoa surda aquela que,
por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de
experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso
da Língua Brasileira de Sinais – Libras. (BRASIL, 2005).
Esse mesmo Decreto determina que o surdo tem o direito à educação bilíngue,
sendo que:
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Art. 22. § 1º São denominadas escolas ou classes de educação bilíngue
aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa
sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o
processo educativo. (BRASIL, 2005).
• Números
Os numerais cardinais são feitos com configurações de mãos diferenciadas que não
apresentam movimento. A sinalização dos números na Língua Brasileira de Sinais
acontece conforme pode ser observado na Figura 6, a seguir.
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Figura 6: Números
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Curiosidade
Alexander Graham Bell nasceu em Edimburgo, em 3 de março de
1847, em uma família ligada ao ensino de elocução: o seu avô,
em Londres; seu tio, em Dublin; e seu pai, Sr. Alexander Melville
Bell, em Edimburgo, eram todos elocucionistas professados. Este
último publicou uma variedade de trabalhos sobre o assunto, dos
quais vários são bem conhecidos, em especial o seu tratado da
linguagem gestual, divulgado em Edimburgo em 1868. Nesse
trabalho, explica o seu método engenhoso de instruir surdos por
meio visual, como articular palavras e como ler o que as outras
pessoas dizem pelo movimento dos lábios.
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Conclusão
Neste conteúdo, estudamos os conceitos de inclusão e de acessibilidade linguística
para os sujeitos surdos. Muitas são as políticas públicas pensadas e criadas para
que a inclusão e a acessibilidade dos sujeitos surdos se torne realidade. No entanto,
muitas ações ainda precisam ser pensadas e colocadas em movimento para que
essa realidade se modifique. Os surdos ainda encontram muitas dificuldades de
comunicação em vários segmentos da sociedade, por isso, podemos afirmar que não
basta existirem políticas públicas, é necessário que tenhamos condições de colocá-
las em funcionamento.
Saiba mais
Ser Surdo (com “S” maiúsculo) é reconhecer-se por meio de uma
identidade compartilhada por pessoas que utilizam a Língua de
Sinais e não veem a si mesmas como marcadas por uma perda,
mas como membros de uma minoria linguística e cultural que tem
normas, atitudes e valores distintos, assim como uma constituição
física distinta (LANE, 2008). Para saber mais sobre o atendimento
à pessoa com surdez, acesse o site do INES: http://www.ines.gov.br
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Referência
BISOL, C.; SPERB, M. T. Discursos sobre surdez: deficiência, diferença, singularidade
e construção de sentido. Revista Psicologia: teoria e pesquisa. Brasília, v. 26, n. 1,
jan./mar., 2010.
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CAPOVILLA, F. C.; RAFHAEL, W. D. Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da
Língua de Sinais Brasileira. Vol. I e I: Sinais de A à Z. Ilustração de Silvana Marques.
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001.
COSTA, N. M.; REIS, S. M. C. Cultura Surda: novas representações sobre a surdez. In:
Estudos Surdos: novas perspectivas. Olinda: Livro Rápido, 2009, p. 14-34. v. II.
LANE, H. Do deaf people have a didability? In: DIRKSEN, L. B. (Org.). Open your eyes:
Deaf studies talking. Minneapolis: University od Minnesota, 2008.
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