Unidade 5

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Atendimento

Educacional
Especializado
Aline Aparecida Adão da Silva
Atendimento educacional
especializado

Introdução
Neste conteúdo, iremos estudar a surdez a partir do olhar da inclusão, problematizando
os conceitos de inclusão e também de acessibilidade. Nesse sentido, perguntamos: o
que é necessário para que os sujeitos surdos se sintam incluídos em todos os segmentos
da sociedade? Em termos de acessibilidade, o que é necessário ser feito para que os
sujeitos surdos tenham acesso a qualquer ambiente, tanto educacional como social?

O Atendimento Educacional Especializado (AEE) vem identificar, elaborar e organizar


recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena
participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas, na perspectiva
inclusiva, de um atendimento de qualidade, sendo fundamental que os professores
conheçam as dificuldades de seus alunos.

Objetivos da Aprendizagem
• Identificar os serviços do AEE, política e inclusão escolar do surdo;
• Motivar os alunos no aprendizado, destacando a importância da língua no
ensino para alunos surdos;
• Orientar e dar suporte nas estratégias pedagógicas para desenvolver a escri-
ta e a alfabetização do educando surdo;
• Desconstruir os mitos estabelecidos socialmente com relação às línguas de
sinais e à comunidade surda;
• Destacar metodologias para a expansão de informações/conhecimento ao
sujeito surdo por meio da Língua de Sinais.

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Surdez e Acessibilidade
Uma pessoa surda é como aquela que vivencia um déficit de audição
que o impede de adquirir, de maneira natural, a língua oral/auditiva usada
pela comunidade majoritária e que constrói sua identidade calcada
principalmente nesta diferença, utilizando-se de estratégias cognitivas e
de manifestações comportamentais e culturais diferentes da maioria das
pessoas que ouvem. (COSTA; REIS, 2009, p. 20, apud SILVA, 2009, p. 15).

Símbolos, logotipos e sinais servem para representar o que queremos expressar,


e pessoas com deficiência têm utilizado esse meio através de signos, emblemas,
símbolos, logotipos, logomarcas e sinais com o intuito de se comunicarem
visualmente com a população em geral. Essa ideia de transmitir imagens é tão antiga
quanto a história da humanidade, que envolve o uso de diversas inteligências, como
a pictográfica, a visual/espacial, a corporal/cinestésica, a musical, a ética/moral, a
política e muitas outras.

A utilização do Símbolo Internacional de Surdez, conforme a Figura 1, é prevista pela Lei


nº 8.160/1991, que dispõe sobre a caracterização de símbolo que permita a identificação
de pessoas portadoras de deficiência auditiva. Conforme o art. 1º da referida lei:

[...] é obrigatória a colocação, de forma visível do ‘Símbolo Internacional de


Surdez’ em todos os locais que possibilitem acesso, circulação e utilização
por pessoas portadoras de deficiência auditiva, e em todos os serviços que
forem postos a sua disposição ou que possibilitem seu uso. (BRASIL, 1991).

A Língua de Sinais vem para fazer a mudança necessária ao processo de ensino-


aprendizagem do aluno surdo, que constitui um alicerce para sua comunicação e se
baseia nos princípios de “igualdade de oportunidades” e “educação para todos”.

Com o reconhecimento da Língua de Sinais a ser utilizada pela comunidade surda e a


integração do aluno surdo no ensino regular, é necessário um estudo sobre a legislação
e o processo de ensino-aprendizagem para que a inclusão realmente se efetive.

A Libras ainda não tem o status de uma língua, e muitos ainda a consideram apenas uma
ferramenta para os surdos aprenderem a Língua Portuguesa escrita, o que é um equívoco.
No entanto, essa desvalorização e, muitas vezes, até o desconhecimento da Libras pelos
ouvintes faz com que os sujeitos surdos tenham problemas de comunicação.

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Figura 1: Símbolo Internacional de Surdez
Fonte: Plataforma Deduca (2018).

Identificando a surdez: bebê ou criança surda

Nos primeiros meses de vida, o bebê depende totalmente de sua mãe para sentir-
se compreendido e atendido nas suas necessidades básicas. Quando ele está
incomodado, é sua mãe que identifica e lhe oferece a ajuda necessária.

Nesse contexto, são sinais e situações nas quais os pais podem suspeitar quando
alguma coisa não vai bem com a audição do seu filho quando:

• o bebê recém-nascido não mostra sobressalto nem se desperta diante de


qualquer ruído do ambiente;
• a criança não faz barulho durante jogos, por exemplo;
• o bebê de mais de três meses não vira ao ser chamado;
• o bebê de aproximadamente um ano não inicia a linguagem;
• a criança, no seu primeiro ano de vida, não balbucia nem responde aos sons
ou às chamadas normais em uma família;
• a criança de dois anos de idade ainda não diz papai nem mamãe;
• a criança, aos dois anos de idade, atende somente às ordens simples e bási-
cas, sem olhar a quem as produz;
• a criança de três anos de idade não diz palavras, mas emite ruídos que
não se entendem;
• a criança, aos três anos de idade, não é capaz de repetir frases com mais de
duas palavras;

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• a criança, aos quatro anos de idade, não sabe contar o que acontece;
• a criança, aos cinco anos de idade, ainda fala como bebê;
• a criança é muito passiva e não incomoda;
• a criança pronuncia mal as letras: R, S, D, L, J e T;
• o bebê é demasiadamente tranquilo;
• o bebê não se altera diante de ruídos inesperados.

Como posso saber se meu filho ouve bem?

Quando bebês, é muito difícil detectar uma deficiência auditiva. Segundo


alguns especialistas, a surdez é mais facilmente detectada somente a partir
dos dois ou três anos, pois a criança deixará de responder quando seus pais
a chamam; o volume da televisão e da música estará acima do normal; a
criança se mostrará mais reservada, excluída, porque se sentirá insegura.

Considerações Sobre a Surdez


A surdez é entendida nas perspectivas clínica e educacional. Do ponto de vista clínico,
para entender como acontece uma perda auditiva é imprescindível conhecer, antes,
como funciona o ouvido.

Os sons são captados pelo ouvido externo, formado pelo pavilhão auricular (orelha) e
o canal auditivo; em continuidade, o som é conduzido até o ouvido médio, chocando-
se contra a membrana timpânica e produzindo ondas vibratórias que chegam a três
pequenos ossos, também conhecidos como cadeia ossicular do ouvido: o martelo, a
bigorna e o estribo. Esses ossos formam uma ponte entre o ouvido médio e o ouvido
interno, e essa interação intensifica e amplifica as ondas sonoras antes que elas
cheguem à janela oval, o ouvido interno.

É no ouvido interno que está localizada a cóclea, com formato de um caracol, que
contém um sistema de canais cheio de um líquido aquoso. Quando as ondas sonoras
fazem a janela oval vibrar, o líquido se move e faz mexer células muito pequenas,
chamadas células ciliadas, que o nervo auditivo capta e leva informações até o
cérebro. No órgão de corti há a transformação das vibrações em impulsos elétricos,
que são o que conhecemos como ondas sonoras transmitidas pelo ar.

Trata-se de sons captados por nossa via aérea, mas também podemos captar os sons
por via óssea. No caso de uma pessoa com audição normal, o som é escutado por
via aérea e, apenas quando o som for muito grave e intenso, sentimos a vibração por

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via óssea, como, por exemplo, o bater de um tambor. É fundamental que o professor
entenda sobre o funcionamento da audição normal para, depois, conhecer os conceitos
iniciais da deficiência auditiva e surdez, de modo a agir no processo educacional.

Figura 2: Sistema auditivo


Fonte: Plataforma Deduca (2018).

A Classificação da Deficiência Auditiva


Para conhecer a deficiência auditiva, é necessário distinguir aspectos fundamentais
desse tipo de deficiência. Saber quais são os fatores etiológicos que originam a
perda auditiva, classificar diferentes tipos de perda auditiva, identificando as escalas
em decibéis (dB), são informações importantes para o professor e qualquer outro
profissional que encontrar uma pessoa com essa deficiência em sua vida, pois, ciente
da caracterização da pessoa com Deficiência Auditiva (DA) ou com surdez profunda,
esse profissional poderá lidar de acordo com as necessidades específicas de cada um
e, ainda, entender as possibilidades de comunicação por meio da Língua de Sinais.

O que é dB e frequência?

Os termos dB e frequência são utilizados para descrever o nível do som e os


números de ciclos de uma onda sonora em um segundo.

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Frequência

A frequência de som é o número de ciclos de uma onda sonora, por segundo.


As vibrações entre 20 e 20.000 ciclos por segundo são consideradas como
som de uma pessoa com saúde normal. Sons agudos são os emitidos por uma
flauta ou o canto de um pássaro, por exemplo; e os sons graves são aqueles
produzidos por fortes trovoadas distantes ou sons de uma guitarra.

Decibéis (dB)

Os termos dB (decibéis) e escala de decibéis são usados mundialmente para


medir o nível de som. É importante entender que o termo dB pode ter diferentes
significados e não tem um uma unidade fixa, como as relacionadas à voltagem,
a metro e afins. A unidade de dB vai depender do contexto em que ela é utilizada.

Saber se a surdez foi adquirida ou é congênita, se é uma perda condutiva ou


neurossensorial, ajudará os profissionais da educação e de outras áreas a entender
por que um surdo é diferente de outro surdo.

Identificar os modelos clínico-terapêutico e socioantropológico também irá auxiliar


na discussão acerca da inteligência e da comunicação dos surdos, bem como a
concepção de que existem dois mundos distintos, o dos OUVINTES e o dos SURDOS,
que incide na compreensão plena da existência de uma diferença linguística e, assim,
na visão educacional, os aspectos clínicos servirão de parâmetros para definir as
melhores e as mais eficazes práticas pedagógicas.

Vejamos os dois tipos de surdez.

• Surdez condutiva: também conhecida como de condução, caracteriza-se


como aquela que causa problemas na transmissão das ondas sonoras atra-
vés do ouvido externo ou médio, podendo ser temporária ou permanente.
• Neurossensorial: acontece quando a perda de audição ocorre devido a proble-
mas na parte interna do ouvido ou no nervo auditivo, que liga o ouvido ao cére-
bro, o que indica problema na cóclea, sendo um problema irreversível. São mui-
tas as causas da perda auditiva, e aqui iremos enumerar algumas mais comuns,
não esgotando todas as possibilidades que afetam a diminuição da audição.
1. Consumo de álcool ou drogas durante a gravidez.
2. Otites frequentes no ouvido externo ou médio.
3. Grande quantidade de cera no ouvido médio.

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4. Presença de líquido no ouvido médio.
5. Presença de algum corpo estranho ou de pequenos objetos dentro do ouvido.
6. Otosclerose, doença hereditária. Trata-se de uma formação anormal do osso
esponjoso próximo ao estribo e da janela do vestíbulo da orelha.
7. Ingestão de alguns medicamentos ototóxicos que podem acarretar perda au-
ditiva.
8. Exposição a ruídos excessivos por longos períodos.
9. Traumatismo crânioencefálico ou AVC.
10.Doenças como diabetes, sarampo, toxoplasmose, esclerose múltipla, lúpus,
tumor no ouvido ou cerebral etc.

Acompanhe agora as características da surdez e os períodos de aquisição.

Audição normal

Perda auditiva de até 25 dB. Não há limitação da capacidade de comunicação


e desenvolvimento linguístico.

Surdez leve

Perda auditiva de 26 a 40 dB. Permite ouvir os sons pouco intensos, dificuldade


de perceber os fonemas e voz com pouca intensidade. Essa perda auditiva
não impede a aquisição normal da linguagem, havendo dificuldade na leitura
e/ou escrita.

Surdez moderada

Perda auditiva de 41 a 55 dB. É necessária uma voz de mais intensidade para


que seja percebida; ao telefone, o indivíduo não ouve com clareza, trocando
muitas vezes a palavra ouvida por outra foneticamente semelhante. Nesse
caso, é frequente o atraso da linguagem.

Surdez acentuada

Perda auditiva entre 41 e 70 dB. O indivíduo não escuta sons como o toque do
telefone; é frequente o atraso de linguagem e alterações articulatórias. Dificuldade
em compreender certos termos de relação e/ou frases gramaticais complexas.

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Surdez severa

Perda auditiva entre 71 e 90 dB. Permite que o indivíduo identifique ruídos


familiares; não entende a voz humana e não distingue os fonemas da fala. A
compreensão verbal vai depender, em grande parte, de aptidão para utilizar a
percepção visual (leitura labial) e para observar o contexto das situações.

Surdez profunda

Perda auditiva superior a 90 dB. Priva a pessoa das informações auditivas


necessárias para perceber e identificar a voz humana. As perturbações da
função auditiva estão ligadas tanto à estrutura acústica quanto à identificação
simbólica da linguagem.

Congênita

É aquela que ocorre antes do nascimento ou, em alguns casos, durante o parto,
podendo ser hereditária ou até mesmo se a mãe, durante o período de gravidez,
contrair alguma doença, como, por exemplo, uma rubéola.

Adquirida

Quando ocorre após o nascimento, nos casos em que a criança pode adquirir
alguma doença, como a meningite, ou ter infecções, como otites crônicas ou
agudas. Pode acontecer em qualquer idade.

Política de Inclusão Educacional e Atendimento


Educacional Especializado – Art. 205
A inclusão das crianças na escola é um princípio de valorização do ser humano sem
qualquer tipo de preconceito para que possam exercer sua cidadania, fazendo parte
da sociedade e não sendo apenas inseridas, participando ativamente do processo
de aprendizagem para que essa aprendizagem seja significativa, com resultados
reais, mostrando que teoria e prática acontecem em parceria com a escola, equipe
multidisciplinar, professores, família e comunidade.

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A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988).

Figura 3: Inclusão
Fonte: Plataforma Deduca (2018).

Somente uma política de inclusão educacional fundamentada em leis e documentos


é capaz de provocar mudanças que desenvolvam um paradigma educacional, com
transformações benéficas e imprescindíveis aos sistemas de ensino.

No Brasil, a primeira lei que deixa explícitos os direitos à educação dos surdos é a
Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Além disso, a primeira Lei de Diretrizes e
Bases (LDB), de 20 de dezembro de 1961 (Lei nº 4.024), já recomendava a integração
da Educação Especial no Sistema Nacional de Educação.

A partir da Constituição de 1988 e também da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990


(Estatuto da Criança e do Adolescente), os sujeitos com deficiência passaram a ser
reconhecidos como sujeitos de direitos, inclusive no que se refere à educação.

No ano de 1996, mais especificamente em 20 de dezembro de 1996, com a segunda


Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBEN), Lei nº 9.394, a Educação Especial
é contemplada com um artigo específico. “Entende-se por educação especial, para
os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente
na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”.
(BRASIL, 1996, art. 58).

Caso a escola regular não possua condições de atender esses alunos: “O atendimento
educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que,
em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração
nas classes comuns de ensino regular”. (BRASIL, 1996).

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Para que se efetive uma política educacional de qualidade, é necessário investir na
formação de professores para atuarem no AEE, na formação de intérpretes de Libras
e na adaptação curricular. É primordial contemplar uma formação voltada para a
diversidade, capaz de dar oportunidades a todos, respeitando as diferenças.

Nessa perspectiva, a educação especial está estruturada por meio de três eixos,
conforme anunciado, em 2010, no documento do MEC “Marcos Político-Legais da
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva”, elaborado pela Secretaria
de Educação Especial. O primeiro eixo se constitui em uma política fundamentada
na concepção de educação inclusiva; o segundo, pela institucionalização de uma
política de financiamento para a oferta de recursos e serviços na intenção de eliminar
obstáculos no processo de escolarização; o terceiro, em orientações específicas para
o desenvolvimento de práticas pedagógicas inclusivas (BRASIL, 2010). Dessa forma,
a educação especial se apresenta como um serviço para atender aos estudantes
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades.

Nesse contexto, o Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011, dispõe sobre


a educação especial, o Atendimento Educacional Especializado e dá outras
providências, da seguinte forma:

Art. 1º. O dever do Estado com a educação das pessoas público-alvo da


educação especial será efetivado de acordo com as seguintes diretrizes:

I - garantia de um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem


discriminação e com base na igualdade de oportunidades;

II - aprendizado ao longo de toda a vida;

III - não exclusão do sistema educacional geral sob alegação de deficiência;

IV - garantia de ensino fundamental gratuito e compulsório, asseguradas


adaptações razoáveis de acordo com as necessidades individuais;

V - oferta de apoio necessário, no âmbito do sistema educacional geral,


com vistas a facilitar sua efetiva educação;

VI - adoção de medidas de apoio individualizadas e efetivas, em ambientes


que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a
meta de inclusão plena;

VII - oferta de educação especial preferencialmente na rede regular de


ensino; e

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VIII - apoio técnico e financeiro pelo Poder Público às instituições privadas
sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação
especial. (BRASIL, 2011).

Observando o que é recomendado pelo Decreto nº 7.611/2011, a inclusão se encontra


em um processo inicial, em que as escolas estão se adaptando, vagarosamente, às
recomendações previstas na legislação. Entretanto, nota-se que há um movimento
político-educacional que impõe mudanças nos ambientes escolares e nas instituições
e adéqua seus espaços físicos, os mobiliários, materiais, recursos, currículos e,
principalmente, a composição do quadro de profissionais contratados para atuar na
escola e no AEE. O Governo Federal, em parceria com os estados e municípios, vem
criando salas de recursos multifuncionais, adequando os seus serviços para atender
estudantes com deficiências, sejam elas auditivas, visuais, motoras ou intelectuais.

Atendimento Educacional Especializado em Libras na es-


cola regular

O planejamento é feito pelo professor especializado, juntamente com os


professores de turma comum e os de Língua Portuguesa, que utilizam imagens
visuais e, quando o conceito é muito abstrato, recorrem a outros recursos,
como o teatro ou vídeos.

A organização didática desse espaço de ensino implica:

• imagens que possam colaborar para o aprendizado dos conteúdos curricula-


res, na sala de aula comum;
• mural de avisos e notícias;
• biblioteca da sala;
• painéis de gravuras e fotos sobre a aula;
• roteiro de planejamento;
• ficha de atividade e outros.

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Vocabulário
Começar reconhecendo a Língua de Sinais como primeira língua do surdo, sua língua
materna e língua escolar, é o avanço de sucesso para a aprendizagem do sujeito surdo,
assim como os processos e práticas construídos e os a serem construídos. A Língua
de Sinais apresenta particularidades, portanto, torna-se fundamental a apropriação
da Libras para o desenvolvimento cognitivo, linguístico e social no aprendizado da
Língua Portuguesa e na formação da identidade surda.

A Língua de Sinais vem organizar o pensamento, estabelecer relações interpessoais,


conceituar o mundo, pressuposto para a leitura da palavra. Dar acesso a sua própria
linguagem visual e natural desde o berço é a chave para uma aquisição de linguagem
bem-sucedida para que esses indivíduos tenham uma base eficiente de uma primeira
língua que possa facilitar a aprendizagem de uma segunda.

A oferta de uma educação bilíngue a essas crianças se torna essencial já que cada
criança surda deve ter a Língua de Sinais como proteção contra o dano de aquisição
tardia de uma primeira língua, por essa razão, as escolas têm um papel importante na
sociedade moderna, que se encontra em constante mudança.

Além disso, práticas de ensino de leitura e escrita devem ser desenvolvidas


mantendo as dimensões da Língua de Sinais e do português escrito vinculadas
para a acessibilidade visual do surdo, promovendo e facilitando o acesso à escrita e
proporcionando situações de comunicação em que os alunos possam se expressar
e ampliar os seus recursos linguísticos.

As crianças surdas que utilizam a Língua de Sinais, quando escrevem, buscam


significado na própria língua para produzir a escrita de uma outra língua, no caso,
a Língua Portuguesa. As “palavras” não se constroem a partir de sons que se
combinam, mas de mãos que se movimentam no espaço e que se organizam de
forma simultânea e não linear. Essa relação entre escrita e linguagem estabelece
correspondência entre o que é sinalizado e o que é escrito para surdo e ouvinte.

Assim, a primeira língua do surdo é a Libras, e a segunda é a Língua Portuguesa, que


acontece em níveis de compreensão e utilização na ampliação de seu vocabulário.

Figura 4: Escrita e sinal


Fonte: Capovilla e Rafhael (2001).

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Mitos e Crenças sobre a Língua Brasileira de Sinais
Um dos mitos mais falados da Língua Brasileira de Sinais consiste na ideia de que
esta seria gesticulação ou imitação da língua majoritária, dominante, do país: a Língua
Portuguesa. Esse mito surge a partir do desconhecimento da Língua de Sinais, como
afirmam Quadros e Karnopp (2004), ao abordarem alguns dos mitos relacionados à
Língua Brasileira de Sinais.

Aceita-se a Língua Brasileira de Sinais como uma forma de linguagem, entendendo-se


esta como toda uma forma de comunicação, mas uma linguagem imitativa e inferior
à Língua Portuguesa. Contudo, como afirma Forster (2017, p. 3), os sinais na Língua
Brasileira de Sinais:

[...] não são como mímicas. Em primeiro lugar porque, mesmo os sinais
icônicos [...] não são uma simples imitação, já que, ao contrário de uma
mímica, não são reconhecidos por qualquer um, mas dependem de um
dado conhecimento linguístico vigente dentro de uma comunidade. Em
segundo, nem todos os sinais são imitativos.

Na Língua de Sinais há alguns elementos icônicos, imitativos, que não são imitação,
de onde vem a falsa crença de que todo surdo é mudo e, como ele não pode falar,
imita a Língua Portuguesa por meio da gesticulação.

De acordo com Quadros (1997), Goldfeld (2002) e Sousa (2017), entre outros, a Língua
Brasileira de Sinais é uma língua natural que nasceu da interação espontânea entre
surdos, não sendo, portanto, uma imitação. A Língua de Sinais é “[...] autônoma, flexível,
versátil, criativa, de dupla articulação, constituída dos mesmos traços que compõem
qualquer outra língua humana”. (SANTOS; SANTOS; SANTOS, 2017, p. 491).

Além disso, Ferreira Brito (1998 apud SOUSA, 2017, p. 2) afirma que as línguas de
sinais são línguas naturais porque:

[...] sugiram espontaneamente da interação entre pessoas e porque


devido à sua estrutura permitem a expressão de qualquer conceito -
descritivo, emotivo, racional, literal, metafórico, concreto, abstrato - enfim,
permitem a expressão de qualquer significado decorrente da necessidade
comunicativa e expressiva do ser humano.

Quadros e Karnopp (2004, p. 36-37) concluem que muitas concepções são


equivocadas em relação às línguas de sinais, assinalando um estatuto linguístico
inferior em relação às línguas orais. As investigações mostram que as línguas de

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sinais, sob o ponto de vista linguístico, são completas, complexas e possuem uma
abstrata estruturação em todos os níveis de análise.

Sinais básicos: alfabeto digital e números


O alfabeto manual ou datilológico é uma forma de “escrita” pelas mãos que representa
as letras do alfabeto do país de origem. No Brasil, é composto por 27 formatos, incluindo
o “Ç”, que representam as letras do alfabeto da escrita na Língua Portuguesa. Não é
uma língua, e sim um código de representação das letras alfabéticas. Sendo assim, seu
domínio poderá auxiliar na construção do conhecimento proposto. (GESSER, 2009).

A datilologia é usada em muitas línguas gestuais, com vários propósitos: representar


palavras (especialmente nomes de pessoas ou de localidades) que não têm gesto (sinal)
equivalente, ou para ênfase, para se ensinar ou aprender uma determinada língua gestual.

A representação de soletrar com as mãos o alfabeto, sendo a parte mínima da língua


oral escrita, permite formar palavras, frases e textos, sendo uma das alternativas que
se propõe para a comunicação com/entre os surdos. Nesse contexto, a Libras é uma
língua de modalidade gesto-espaço-visual, com sua estrutura gramatical que auxilia
no desenvolvimento cognitivo do surdo.

A Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, a qual reconhece que a Libras como língua, é
o meio legal de comunicação e expressão para os surdos, afirmando que:

Entende-se como Língua Brasileira de Sinais (Libras) a forma de


comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza
visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema
linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de
pessoas surdas do Brasil. (BRASIL, 2002).

O Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, estabelece:

Art. 2º Para os fins deste Decreto considera-se pessoa surda aquela que,
por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de
experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso
da Língua Brasileira de Sinais – Libras. (BRASIL, 2005).

Esse mesmo Decreto determina que o surdo tem o direito à educação bilíngue,
sendo que:

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Art. 22. § 1º São denominadas escolas ou classes de educação bilíngue
aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa
sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o
processo educativo. (BRASIL, 2005).

Além disso, a utilização do alfabeto manual com o uso de imagens promove a


construção de conhecimento para os surdos em todos os níveis da educação.

Figura 5: Alfabeto manual


Fonte: Plataforma Deduca (2018).

• Números

Em Libras, os números também podem ser representados de formas diferentes para


apresentar os numerais quando utilizados como cardinais, ordinais, quantidade,
medida, idade, dias da semana ou mês, horas e valores monetários.

Os numerais cardinais são feitos com configurações de mãos diferenciadas que não
apresentam movimento. A sinalização dos números na Língua Brasileira de Sinais
acontece conforme pode ser observado na Figura 6, a seguir.

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Figura 6: Números
Fonte: Plataforma Deduca (2018).

Curiosidade
Alexander Graham Bell nasceu em Edimburgo, em 3 de março de
1847, em uma família ligada ao ensino de elocução: o seu avô,
em Londres; seu tio, em Dublin; e seu pai, Sr. Alexander Melville
Bell, em Edimburgo, eram todos elocucionistas professados. Este
último publicou uma variedade de trabalhos sobre o assunto, dos
quais vários são bem conhecidos, em especial o seu tratado da
linguagem gestual, divulgado em Edimburgo em 1868. Nesse
trabalho, explica o seu método engenhoso de instruir surdos por
meio visual, como articular palavras e como ler o que as outras
pessoas dizem pelo movimento dos lábios.

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Conclusão
Neste conteúdo, estudamos os conceitos de inclusão e de acessibilidade linguística
para os sujeitos surdos. Muitas são as políticas públicas pensadas e criadas para
que a inclusão e a acessibilidade dos sujeitos surdos se torne realidade. No entanto,
muitas ações ainda precisam ser pensadas e colocadas em movimento para que
essa realidade se modifique. Os surdos ainda encontram muitas dificuldades de
comunicação em vários segmentos da sociedade, por isso, podemos afirmar que não
basta existirem políticas públicas, é necessário que tenhamos condições de colocá-
las em funcionamento.

Saiba mais
Ser Surdo (com “S” maiúsculo) é reconhecer-se por meio de uma
identidade compartilhada por pessoas que utilizam a Língua de
Sinais e não veem a si mesmas como marcadas por uma perda,
mas como membros de uma minoria linguística e cultural que tem
normas, atitudes e valores distintos, assim como uma constituição
física distinta (LANE, 2008). Para saber mais sobre o atendimento
à pessoa com surdez, acesse o site do INES: http://www.ines.gov.br

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Referência
BISOL, C.; SPERB, M. T. Discursos sobre surdez: deficiência, diferença, singularidade
e construção de sentido. Revista Psicologia: teoria e pesquisa. Brasília, v. 26, n. 1,
jan./mar., 2010.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em: 09 ago. 2018.

______. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de


Sinais – LIBRAS e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm. Acesso em: 09 ago. 2018.

______. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436,


de 24 de abril de 2002, dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o Art. 18
da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 09 ago. 2018.

______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da


Educação Nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L9394.
htm. Acesso em: 09 ago. 2018.

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