Avaliação para serviços de saúde AUDITORIAS CLÍNICAS
Avaliação para serviços de saúde AUDITORIAS CLÍNICAS
Avaliação para serviços de saúde AUDITORIAS CLÍNICAS
AUDITORIAS CLÍNICAS
PARA AVALIAR A QUALIDADE
DOS SERVIÇOS PRESTADOS
Uma auditoria clínica não é mais que uma auditoria interna aplicada a
qualquer acto clínico, quer na avaliação do processo de execução de
uma determinada técnica ou diagnóstico, quer na avaliação do resultado
que se obteve numa cura, numa baixa morbilidade ou numa determi-
nada mortalidade. Uma auditoria clínica tem por finalidade avaliar a
qualidade dos serviços prestados, no sentido de promover a satisfação
do utente/cliente a todos os níveis.
32 QUALIDADE EM SAÚDE
AUDITORIAS
Aauditoria clínica serve para, periodicamente, verificar Na identificação de quem irá fazer a auditoria devemos preparar
se todos os procedimentos acordados estão a ser workshops para que todos os que arranquem com o projecto
executados e realçar as não-conformidades. Essas estejam bem informados e com noções claras dos objectivos.
não-conformidades podem estar na deficiente imple-
mentação do procedimento, na necessidade de melho- Cada norma deve ser dividida em partes mensuráveis que
ria dos conhecimentos técnicos em determinada área, indiquem se a mesma está ou não a ser alcançada: falamos
ou na incapacidade do procedimento criado atingir os em critérios. Estes critérios podem ser de três tipos: critérios
objectivos determinados por não se encontrar adapta- de estruturas, que descrevem o que é preciso para alcançar a
do à realidade. Nenhuma destas decisões é punitiva norma; critérios de processo, que descrevem o que deve ser
ou depreciativa, é apenas uma tentativa continuada feito para alcançar a norma; critérios de resultado, que descre-
de melhorar a nossa prática clínica. vem os resultados esperados no sentido de alcançar a norma,
isto é, o que é esperado e desejado, descrito de uma forma
Passos da auditoria clínica específica e mensurável.
Para a realização duma auditoria clínica devemos Quanto à recolha de dados, as fontes são várias: processo
respeitar onze passos, dos quais falaremos de um clínico, Grupos de Diagnósticos Homogéneos (GDH), registos
modo resumido, focando aspectos importantes apenas de reclamações, relatórios de erros/acidentes/incidentes e entre-
nalguns deles: vista a doentes, utentes e outros utilizadores dos serviços. Por
vezes recorremos a amostras que devem ser amplas para satis-
– Obter o apoio e envolvimento dos colegas; fazer os objectivos da auditoria e suficientemente pequenas
– Escolher uma área para submeter à auditoria; para que não consumam demasiado tempo na recolha e para
– Identificar quem irá fazer a auditoria; que não incluam dados sem aplicação directa na auditoria.
– Determinar os objectivos da auditoria;
– Estabelecer normas para medir o desempenho Nas apresentações dos resultados devemos ter cuidado para
actual; que cada indicador da Qualidade determine em que grau é que
– Recolher dados fiáveis e válidos; a norma foi atingida, apresentando esse resultado em taxa de
– Verificar os resultados; sucesso ou ocorrência de falhas padronizadas.
– Identificar as melhorias;
– Desenvolver o plano de acção; Finalmente, é de salientar a importância do Relatório da
– Implementar o plano de acção; Auditoria, o qual deve realçar os aspectos positivos detectados
– Avaliar/Relatar. durante a auditoria, aconselhar medidas de melhoramento e
por último referir as não-conformidades observadas.
O apoio da Administração é muito importante e obtém-
-se apresentando os objectivos claros e as implicações
prováveis das auditorias com os respectivos projectos.
Auditoria ao processo clínico
O apoio dos colegas obtém-se fazendo com que as Como referido, uma das fontes de dados é o processo clínico,
auditorias façam parte dos Planos Individuais de Traba- o qual constitui um suporte fundamental para o desenvolvimento
lho que cada médico deve apresentar no início de cada e avaliação do desempenho clínico. Procedemos a uma audi-
ano. Para que não haja perda de tempo clínico deverá toria ao processo clínico utilizando os indicadores referenciados
haver assistentes de auditoria e de pessoal admi- pela norma 23 do sistema de acreditação do King’s Fund. Esses
nistrativo. 10 indicadores são os seguintes: legibilidade em todo o pro-
cesso clínico quer dos médicos, quer dos enfermeiros; registo
Em relação à área a submeter à auditoria, podemos de datas na entrada, saída e observação diária do doente;
utilizar uma norma já existente, na qual se identificou registo da hora no acto de observação, quer do médico respon-
um desempenho que deve ser melhorado ou fazer sável, quer de outra especialidade solicitada, ou de enfermeiros;
uma Prioridade de Avaliação baseada em: alto risco consentimento informado para acto cirúrgico; assinatura dos
– perigo para o utente ou para o pessoal; grande registos e presença de identificação dos médicos e enfermeiros
volume – atinge muitas pessoas; elevado custo – na folha terapêutica; existência de nota de entrada com histó-
grande custo monetário; inconsistência – grande varia- ria clínica e exame objectivo; nota de entrada com um plano de
ção nos procedimentos ou resultados; causas de preo- investigação ou tratamento; cópia de nota de alta no processo
cupação local; possibilidade de melhoria ou outras. clínico.
Esta auditoria tem carácter administrativo, mas os Numa auditoria que tenha por finalidade validar um protocolo, os
resultados obtidos demonstram a dificuldade de procedimentos são semelhantes aos anteriores, sendo apenas
obtenção de dados, pois a avaliação global foi de 47% necessário definir objectivos e indicadores. Segue-se o exemplo
para uma percentagem que se deseja ser de 100%. duma auditoria no âmbito da nossa especialidade, mas que apre-
As principais deficiências são: o registo de horas da senta uma componente fundamental nos cuidados assistenciais
observação clínica (30%), a assinatura e identificação ao doente cirúrgico: a visita pré-anestésica. Esta auditoria tem
dos médicos e enfermeiros (23%); a frequente ausên- como objectivo proporcionar a informação indispensável para
cia de consentimento informado (11%); a deficiente garantir que 100% dos doentes candidatos a cirurgia programada
história clínica na nota de entrada (40%) e o exame têm visita pré-anestésica; que essa visita é preferencialmente
objectivo (25%). Estes valores são mais baixos nas realizada pelo anestesista que vai realizar o procedimento; que
especialidades cirúrgicas do que nas médicas. no respectivo processo clínico do doente haja um registo legível
da visita pré-anestésica e que no registo dessa visita seja utilizado
Indicadores a avaliar um protocolo de avaliação standard do Serviço.
Numa vertente mais clínica, a auditoria pode ser Os indicadores distribuem-se por duas vertentes, uma referente
desencadeada por grandes desvios de indicadores à existência de registo da visita pré-anestésica e do anestesista
de eficácia da prática clínica ou por validação de que o realizou e outra à análise do conteúdo. Assim sendo, os
protocolos. Um dos indicadores de eficácia é o tempo dados recolhidos deverão determinar o seguinte: percentagem
de internamento num Serviço. Se houver uma grande de doentes com visita registada, percentagem de doentes cuja
variação no tempo médio, em função de um valor ideal visita foi feita ou avalizada por especialista, percentagem de
para determinada instituição, procede-se à auditoria doentes cuja visita foi feita pelo anestesista que assegurou o acto
desse Serviço. anestésico, razões de eventuais omissões da visita, percentagem
de doentes com registo legível, percentagem de doentes em que
Depois de escolhida a equipa de auditoria e deter- é registado o risco anestésico de acordo com a classificação
minado o objectivo a atingir elabora-se o plano da A.S.A., percentagem de doentes com informação registada sufi-
auditoria, no qual se define o tempo, as fontes, a popu- ciente para decisão sobre a conduta a adoptar no que se refere
lação ou a amostra e os indicadores que irão ser ava- ao protocolo anestésico, percentagem de doentes em que é
liados. Como exemplo de indicadores, temos os se- referida a técnica anestésica proposta e percentagem de doentes
guintes: distribuição dos diagnósticos pela tabela dos em que é feita referência ao consentimento informado do doente.
Grupos de Diagnósticos Homogéneos; quais os dia-
gnósticos mais frequentes; qual a sua distribuição por O relatório da auditoria é depois comunicado ao Director Clínico
dias de internamento; qual a percentagem de reinter- e ao Director do Serviço. Se os objectivos foram atingidos é
namentos e qual a relação de doentes saídos por proposta uma melhoria. Se houver não-conformidades dever-se-
cama no serviço em relação à média dos hospitais -á proceder às medidas correctivas. Depois da implementação
semelhantes. de um plano de acção deverá ser determinado um tempo para
uma nova auditoria.
Depois da recolha e tratamento estatístico dos dados
emite-se um relatório da auditoria, o qual deverá real- Para terminar, relembramos que se trata de um processo que
çar os aspectos positivos encontrados, seguidos de visa fazer uma avaliação da qualidade dos serviços prestados,
recomendações de medidas de melhoria e referência sem intuitos de penalização, mas sim com o objectivo de promover
a aspectos determinantes de ineficiência. Com esta a satisfação do utente/cliente em todas as suas vertentes.
informação dever-se-á elaborar um plano de acção
dirigido à melhoria que deverá ser implementada e
BIBLIOGRAFIA:
avaliada ao fim de determinado tempo. Se os dados
• Auditoria en Salud – "Para uma Gestión Eficiente" - Autor: Malagón-Londõno
não forem conclusivos, por se basearem em dados
• Manual de Auditoria – Autor: Etienne Barbier
retrospectivos deficitários ou omissos, recomenda-se
• Auditoria Interna - Função e Processo – Autor: Georgina Morais e Isabel Martins
nova auditoria ao fim de um tempo pré-definido. • Hospital – Gestão Operacional e Sistemas de Garantia de Qualidade – "Viabilizando a sobrevivência"
Qualquer auditoria é uma mais-valia na nossa acti- – Autor: Renato Couto e Tania Pedrosa
vidade diária. Avalorização da eficácia motiva a melho-
ria, enquanto a percepção das dificuldades estimula
Maria Elisabete Silva Quaresma
a procura de conhecimentos. Assistente Graduada em Anestesiologia - Hosp. do Barlavento Algarvio
[email protected]
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