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1.
Contexto Internacional: Transformações Geopolíticas e
Econômicas
Juscelino Kubitschek, antes mesmo de assumir a presidência, percebeu
mudanças globais que influenciariam seu governo. No plano político, a morte de Stalin (1953) e a ascensão de Nikita Kruschev trouxeram um período de “Degelo” na Guerra Fria, com a política de “competição pacífica”, até a Revolução Cubana e a crise de Berlim no final da década. Essas transformações suavizaram temporariamente as tensões ideológicas globais.
No plano econômico, o fim do Plano Marshall (1954) sinalizou a recuperação
das economias europeias e japonesa, que retomaram a competição global, especialmente no mercado de máquinas e equipamentos. Esses países preencheram lacunas deixadas pelo retraimento do Eximbank dos EUA durante o governo Eisenhower, fornecendo crédito de exportação essencial ao Brasil. Embora caros e de curto prazo, esses financiamentos foram cruciais para o Programa de Metas.
2. Estratégias de Governança de JK
Política Nacional e Comunicação
• JK buscou pacificação política e nacional, distanciando-se de temas
polarizadores como o nacional-populismo do governo Vargas. Evitou conflitos ideológicos, mesmo diante de desafios como o macarthismo e a Revolução Cubana. • Anistiou opositores militares, neutralizou acusações de corrupção e concentrou-se em desenvolver o país, promovendo união nacional por meio do progresso econômico. • Demonstrando habilidades excepcionais de comunicação política, mobilizou apoio popular com a mensagem de “50 anos em 5”, usando a construção de Brasília como símbolo de modernidade e integração nacional. 3. Desafios Econômicos Internos e Externos
Dependência do Café e Comércio Exterior
• O café, principal produto de exportação, correspondia a 60% das vendas
externas, mas os preços caíram drasticamente devido à superprodução global e à volatilidade do mercado. Entre 1958 e 1960, as receitas de exportação diminuíram, atingindo níveis inferiores aos de 1950. • A estagnação das exportações foi agravada pela falta de créditos oficiais favoráveis. O Brasil enfrentava um cenário de dívida externa crescente, que alcançou US$ 2,7 bilhões em 1960.
Inflação e Financiamento do Desenvolvimento
• O governo recorreu à emissão de moeda para financiar o Programa de
Metas, gerando inflação crescente (20% no início para 35% ao final do mandato). Isso aumentou o déficit orçamentário, que passou de 19% do PIB em 1952 para 23,7% em 1961. • A dependência de capitais estrangeiros foi facilitada pela Instrução 113, que beneficiava empresas estrangeiras, permitindo a entrada de equipamentos sem cobertura cambial.
4. O Programa de Metas: Ênfase no Crescimento Econômico
Estrutura e Prioridades
• O Programa de Metas foi baseado em 31 objetivos econômicos e sociais,
com destaque para energia e transportes, que receberam mais de 70% dos investimentos. • Brasília, a “meta-síntese”, simbolizou a interiorização do desenvolvimento e foi acompanhada de grandes projetos, como a Rodovia Belém-Brasília. • O crescimento econômico médio anual foi de 9% entre 1957 e 1961, superando a taxa demográfica de 3%.
Resultados
• Construção de rodovias e expansão da geração de energia superaram
80% de execução. • A indústria automobilística ganhou destaque com a entrada de montadoras como Volkswagen, favorecida pelos incentivos aos capitais estrangeiros. • Apesar do sucesso imediato, o modelo inflacionário comprometeu a estabilidade econômica a médio prazo.
5. Política Externa: Diplomacia Desenvolvimentista
Relações com o FMI
• Em 1959, JK rompeu negociações com o FMI, rejeitando condições que
poderiam comprometer o Programa de Metas. Justificou a decisão como proteção aos interesses nacionais, consolidando sua imagem de líder desenvolvimentista. • A ruptura foi usada para mobilizar apoio interno, reunindo diversos setores políticos e empresariais ao redor de sua liderança.
Operação Pan-Americana (OPA)
• A OPA foi lançada como resposta às tensões antiamericanas na América
Latina, evidenciadas pela recepção hostil a Richard Nixon em Caracas e Lima. • Proposta como um pacto social renovado entre os EUA e a América Latina, a iniciativa defendia o investimento em infraestrutura e o combate ao subdesenvolvimento como soluções para evitar a expansão da influência comunista. • A criação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) foi um dos resultados concretos da OPA, embora a iniciativa tenha enfrentado limitações devido à falta de comprometimento dos EUA.
Multilateralismo e Acordos Regionais
• JK liderou esforços para estabilizar o mercado de café, resultando no
Convênio Internacional do Café (1959) e na criação da Organização Internacional do Café. • Fortaleceu as relações com vizinhos sul-americanos, como Paraguai e Bolívia, e apoiou a formação da Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC), inspirada no Mercado Comum Europeu.
6. Legado e Impactos
Diplomacia e Alinhamento Geopolítico
• JK consolidou o Brasil como parte do Ocidente democrático, alinhado
aos EUA na Guerra Fria. Sua política externa não questionou o alinhamento brasileiro com o campo ocidental, o que ajudou a evitar oposição severa de setores conservadores. • No entanto, o projeto de desenvolvimento integrado com os EUA revelou-se inviável, devido à falta de reciprocidade americana e ao crescente desinteresse pela América Latina.
A Era JK como Parêntese Histórico
• O governo Kubitschek é considerado um período de apaziguamento
político, crescimento econômico e otimismo social, marcado por avanços culturais (modernismo na arquitetura, bossa nova e literatura) e grandes obras de infraestrutura. • A estabilidade e prosperidade, porém, foram temporárias, sendo seguidas por décadas de instabilidade política e tensões na Guerra Fria, agravadas pela Revolução Cubana e pela crise dos mísseis.
Essa análise oferece uma visão abrangente sobre o papel de JK como estadista e diplomata. Caso deseje explorar aspectos específicos, como o Programa de Metas, a Operação Pan-Americana ou a relação com o FMI, posso detalhar ainda mais.
