fundação PONTEDERA ator
fundação PONTEDERA ator
fundação PONTEDERA ator
Resumo:
O artigo prevê uma breve reflexão acerca dos processos de criação na Fondazione
Pontedera Teatro, Itália, hoje e ao longo de sua história. Como processo criativo entende-se
a dramaturgia viva elaborada pelo ator em um processo de montagem que o compreenda
como criador e, portanto também produtor de uma dramaturgia. Perpassaremos as
transformações sofridas na preparação de atores deste contexto e as influência de Jerzy
Grotowski que em 1986 a convite do Centro per la Sperimentazione e la Ricerca Teatral,
atual Fondazione Pontedera Teatro, transfere-se para a cidade criando junto a Thomaz
Richards o Workcenter of Jerzy Grotowski and Thomas Richards.
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SCHINO, Mirella. Il Crocevia del Ponte D' Era -Storie e voci da una generazione teatrale 1974-1995.
Bulzoni Editore, 1996.p.249.
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Para buscar entender o ator e as suas problemáticas em Pontedera hoje, nos
debrucemos sobre a história deste lugar. Nos anos setenta, influenciado pelos ideais do
Living Theatre, o Piccolo Teatro di Pontedera surge a fim de desenvolver um grupo de
pesquisa experimental. O Piccolo, traçou as primeiras linhas de uma história que hoje
ultrapassa trinta anos, dando origem, por iniciativa de Roberto Bacci, ao Centro per la
Sperimentazione e la Ricerca Teatrale- atual Fondazione Pontedera- que em 1986, passa a
abrigar Jerzy Grotowski e o Workcenter of Jerzy Grotowski and Thomas Richards2.
Mirella Schino ressalta no livro II Crocevia Del Ponte D’Era que para poder
pensar o impacto sobre a cidade exercido por um grupo como àquele é preciso
compreender este fenômeno como um sintoma histórico de algo muito maior. Era uma
geração toda que através de revistas e livros se perguntava incessantemente sobre as
problemáticas do ator. “Então, a chegada de Grotowski neste período é sentida como a
força de um meteoro” (SCHINO,1996,p.21).
Além do pensamento presente no Piccolo e nos grupos dos anos 70, este tinha
uma característica que o diferenciava de outros grupos: seus atores eram homens e
mulheres de teatro, pois eram também responsáveis pelo trabalho burocrático do Centro de
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Tem por sua base a prática de elementos técnicos da arte performativa e a sua relação com as tradições
culturais, ritualísticas e antigas tanto do oriente quanto do ocidente. O objetivo é transmitir práticas, técnicas
metodológicas e criativas , ligadas ao trabalho que Grotowski desenvolveu nos últimos trinta anos.
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SCHINO, Mirella. Il Crocevia del Ponte d’Era. “Tradução nossa”, p. 68.
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Pontedera. Aos poucos o Centro foi criando autonomia do grupo e cada vez mais tornava-se
um órgão independente. Em 1986 o Piccolo Teatro di Pontedera chega ao fim, dando
origem a Compagnia Laboratorio.
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Espetáculo criado em 2003 a partir da obra O Idiota, de Dostoievski. Dramaturgia: Roberto Bacci e Stefano
Geraci. Direção: Roberto Bacci. Com: Compagnia Laboratorio di Pontedera (Elena Ciardella, Marco de Liso,
Andrea Fiorentini, Renzo Lovisolo, Silvia Pasello, Silvia Rubes e Tazio Torrini).
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Espetáculo de 2009, criado a partir do tema do surgimento da consciência no ser humano. Com: Compagnia
Laboratorio di Pontedera (Savino Paparella e Tazio Torrini).Dramaturgia Stefano Geraci. Direção: Roberto
Bacci.
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TORRINI, Tazio. Questionário aplicado por mim em 28/02/2009. Tradução nossa.
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prática, sua fala trás em essência uma visão coerente com as pesquisas desenvolvidas em
Pontedera, pois refere-se principalmente a uma ética no fazer teatral e a compreensão de
que o ator é autor de sua formação:
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Suas diversas formas são originárias da China. Consiste de exercícios que envolvem práticas de respiração e
ou movimentos específicos, com o objetivo de aumentar e equilibrar o qi.O princípio básico envolve a meditação
em um centro de energia vital conhecido como dantian.
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Diretor e pedagogo suéco, foi assistente de na escola de Etienne Decroux em Paris.
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pois sua produção diz respeito à uma dramaturgia do ator. Artistas deste contexto
vislumbram enquanto ponto de partida para a criação o consenso de que o ator é o sujeito
criador de uma poética e, portanto, aquele que possui maior autonomia sobre o espetáculo.
Estas experiências em Pontedera nos permitem refletir sobre de que maneira
pode acontecer este processo de travessia Itália/Brasil. Percorrer esta história é confrontar
os paradigmas nos quais estão fundadas tantas de nossas verdades. Mas novamente,
percorrê-la só nos será válido se formos capazes de abandonar as certezas mais profundas,
voltarmos para casa duvidosos e traçarmos nosso próprio percurso. As nascentes são
sempre lugares de visitação, mas “a água corre sempre, a água cai sempre, acaba sempre
em sua morte horizontal”9.
Bibliografia:
BONFITTO, Matteo. O ator compositor. São Paulo: Perspectiva, 2002.BROOK, P. Grotowski, el arte
como vehículo. Máscara – Cuaderno iberoamericano de reflexion sobre escenologia: número
especial de homenaje a Grotowski, México: Escenología, ano 3, n. 11-12, jan. 1993.
BURNIER, Luís Otávio. A arte de ator: da técnica à representação. Campinas. Editora da Unicamp,
2001.
FLASZEN, Ludwik e POLLASTRELLI, Carla. O Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski, 1959 —
1969. São Paulo: Perspectiva, 2007. Tradução de Berenice Raulino.
BACHELARD, Gaston. A água e os sonhos – Ensaio sobre a imaginação da matéria. Tradução de
Antonio de Pádua Danesi. São Paulo, Martins Fontes, 1989.
GERACI, Stefano- In cammino com lo spettatore. La Casa Usher. Firenze: Fondazione Pontedera
Teatro, 2008.GROTOWSKI, Jerzy – Holiday e teatro delle Fonti. La Casa Usher. Firenze:
Fondazione Pontedera Teatro, 2006. GROTOWSKI, Jerzy - Para Um Teatro Pobre, Forja Editorial,
1975. MOLINARE, Renata M. – Diario del teatro delle Fonti, Polonia 1980. La Casa Usher. Firenze:
Fondazione Pontedera SCHINO, Mirella. Il Crocevia del Ponte D' Era -Storie e voci da una
generazione teatrale 1974-1995. Bulzoni Editore, 1996.
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BACHELARD, Gaston. A água e os sonhos – Ensaio sobre a imaginação da matéria. Tradução de Antonio de
Pádua Danesi. São Paulo, Martins Fontes, 1989, p.07.
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