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Introdução
A questão da paz tem sido ao longo do tempo uma questão premente para a
convivência humana. Filósofos têm escrito milhares de páginas indicando o caminho
para indivíduos e sociedades alcançarem a paz. Seres considerados sagrados para
religiões e filosofias espiritualistas de tempos em tempos trazem à luz possibilidades de
uma vontade divina ou interna para um mundo pacífico. Além disso, inúmeros ativistas,
empreendedores sociais e políticos – tais como Mohandas Gandhi, Muhammad Yunus,
Paulo Freire, Bahá'u'lláh, Martin Luther King Jr., Chiara Lubich, John P. Lederach,
dentre tantos outros – trabalharam de forma prática a fim de promover e consolidar a
paz a partir da ênfase em diferentes abordagens (como por meio da educação e
resistência não violenta).
Conforme é relatado por Nigel Young – editor da obra seminal The Oxford
International Encyclopedia of Peace – em um repasse histórico sobre as tradições
conceituais sobre a paz,
Esta derivação da paz como continuidade da vida espiritual pode ser vista em
várias denominações religiosas ao redor do globo. Religiões orientais e suas filosofias –
tais como o Budismo, o Taoismo e o Confucionismo – colocam ênfase na ligação
profícua entre vida espiritual e justiça social. Culturas nativas americanas e tradicionais
africanas trazem a necessidade do homem estar em paz com o planeta, respeitando o
meio ambiente e seus reinos (JEONG, 2000, p.7). Por sua vez, embora a paz não seja
proeminente no Tanach ()תנ״ך, algumas passagens pressupõem que no futuro “uma
nação não mais pegará em armas para atacar outra nação, elas jamais tornarão a
preparar-se para a guerra” (BARASH & WEBEL, 2002, p.5).
Essa ideia cosmopolita fundamentada numa paz entre os homens ganharia fôlego
na Europa do século XV quando o rei Jorge de Poděbrady sugere uma proposta de paz
entre os reinados europeus. Soma-se aí o fato de que após a Guerra dos Trinta Anos
seria visto o estabelecimento de um tratado em prol da paz, conhecido como Tratado de
Vestfália, que, embora não tenha criado uma situação de paz completa entre os grupos
políticos rivais europeus, teve sua importância em deliberar a autodeterminação dos
povos diante da Igreja Católica e em permitir a existência de fronteiras para evitar
guerras fratricidas como foi usual por décadas.
Este era somente um pontapé para um debate mais amplo impulsionado pelo
Iluminismo. Dentro deste movimento científico e cultural, violência e conflito passam a
ser vistos como um grande mal por iluministas como John Locke e Jean-Jacques
Rousseau. Já o filósofo francês Charles-Irénée Castel, ou Abbé de Saint-Pierre, torna-se
um pioneiro naquele movimento pela paz ao escrever uma obra específica sobre o
assunto, o chamado “Projeto para tornar a Paz Perpétua na Europa”, em que sugere um
tratado entre todas as nações europeias em uma “Grande Aliança”, um exército europeu
e o estabelecimento de uma Assembleia Europeia. Esse grande debate do iluminismo
pode ser visto como uma primeira tradição nos conceitos de paz ocidentais, que dariam
origem a uma segunda tradição.
1º.“Não deve viger nenhum tratado de paz como um tal que tenha sido
feito com a reserva secreta de matéria para uma guerra futura” (Ak.
343. p. 26);
2º. “Nenhum Estado independente (pequeno ou grande, isto vale aqui
igualmente) deve poder ser adquirido por um outro Estado por
herança, troca, compra ou doação” (Ak. 344, p. 26);
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Uma quarta tradição – desta vez unindo Oriente e Ocidente – surgiria no início
do século XX. Como explica Young,
Webel, foi no épico hindu Mahabharata, que contém os elementos mais importante do
Livro Sagrado para o Hinduísmo, Bhagavad Gita, que Gandhi se inspirou para sua ação
não-violenta. A relutância de um dos personagens centrais do épico, Arjuna, em lutar
em um conflito armado é superado pelo convencimento do Deus Krishna, que
argumenta a Arjuna que a luta pelo dever altruísta deveria ser levada a cabo. Foi este
contexto que inspirou Mohandas Gandhi “como uma alegoria para subjugar o eu individual e
buscar ideais mais elevados” (BARASH & WEBEL, 2002, p.5).
A ação pela paz conduzida por Gandhi teve impacto marcante, incorporando
pacifistas do mundo todo em uma visão unívoca da importância da não-violência e da
discussão ativa sobre paz. Para Gandhi, o amor não violento (ahimsa) era um conceito
central e somente seria alcançado por meio da compaixão e tolerância por outros povos,
o que, por sua vez, requereria esforço constante, experimentação e erro. A ideia de
satyagraha, ‘força da verdade’, por sua vez, refletia o comprometimento com a verdade
e aderência mental aos objetivos de amor e respeito mútuo, fundamentais para o ahimsa
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Filme satírico de Stanley Kubrick, lançado em 1964, que trata da irracionalidade da dissuasão
nuclear no contexto da Guerra Fria.
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Além de Galtung, a equipe no início do PRIO consistia de mais cinco pesquisadores: o
psicólogo Otto Klinberg, a socióloga Ingrid Eide, a cientista política Mari Holmboe Ruge, a antropóloga
Arne Martin Klausen e o historiador Sivert Langholm. O mesmo instituto lançaria em 1964 um dos mais
importantes periódicos da área, o Journal of Peace Research (GALTUNG, 1985).
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desejo de utilizar a violência; mas somente algumas dessas linhas são fronteiras
nacionais (GALTUNG, 1964, p.2).
Tal perspectiva contribuiu para uma ontologia que liga o estudo científico sobre
os processos que levam à paz com os interesses de toda a sociedade, independentemente
das fronteiras nacionais. Isso faz com que o campo não olhe apenas para os desafios
políticos para alcançar a paz – ou o fenômeno da guerra, centro da análise no campo de
estudos estratégicos – mas também para questões como a violência, a desigualdade,
justiça, reconciliação e resolução de conflitos. Ainda que a unidade de análise
permaneça focalizada no âmbito do Estado em boa parte de seus estudos,
ontologicamente o principal objeto de análise é a manifestação da violência. Ainda,
predominantemente o campo considera importantes questões sociais e seu avanço em
direção à paz – diferente de um campo não-normativo como Relações Internacionais.
Além disso, como foi afirmado pelo pesquisador sobre paz nigeriano Demola
Akinyoade,
tal como visto em espaços acadêmicos como a International Studies Association (ISA) e
a International Peace Research Association (IPRA). Na seção a seguir,
compreenderemos um pouco dos conceitos-chave que guiam as discussões e pesquisas
dessa comunidade.
A definição de paz
Um dos fundadores dos EPP, Johan Galtung, inovou a maneira como as ciências
sociais interpretam a paz com o seu ensaio seminal publicado em 1969, “Violence,
Peace and Peace Research”. Ainda que seja um ensaio comumente utilizado como
referência para uma explicação sobre violência estrutural – conceito que examinaremos
posteriormente – este ensaio vai além, ao colocar as bases do que os EPP realmente se
engajam em explicar, além de uma definição sobre paz e violência que até hoje serve
como base analítica. Primeiramente, ele define a ideia de paz baseado em três princípios
(...) o termo ‘paz’ deve ser utilizado para fins sociais ao menos
verbalmente concordado por muitos, caso não necessariamente pela
maioria; estes fins sociais podem ser complexos e difíceis, mas não são
difíceis de serem alcançados; a afirmação de que paz é a ausência de
violência deve ser tida como válida (GALTUNG, 1969, p. 167)
fins sociais concordados por muitos, Galtung segue o pressuposto de que a paz é
necessária para a sociedade alcançar alguns de seus fins. E isso, por sua vez, implica
que a paz deve ser vista tanto como fim social como também um meio para alcançar
uma almejada justiça social, deixando assim de ser meramente uma ideia utópica.
Consequentemente, por mais que haja complexidade em alcançar tal ideal, ele é factível
de serem alcançados se os entes sociais se debruçarem em reduzir a violência, variável
possível de ser mensurada e controlada. A violência, por sua vez, seria o oposto da paz,
e não a guerra, como comumente disseminado. Assim,
Assim, a concepção de paz não se restringe à paz interestatal. Ela vai além, ao
considerar a paz um conceito que abarca diferentes esferas da sociedade e que deve ser
assim ampliado para a compreensão de fenômenos violentos em diferentes níveis de
análise. Isto implica a necessidade de se conceber paz como um conceito iminentemente
social, e não necessariamente restrito ao ambiente internacional. Sob esta perspectiva, o
estudioso da paz não se engaja somente em compreender a guerra, mas também outros
processos violentos e conflitos da sociedade. Esta concepção moderna de paz entende
que ela é mais do que o simples estudo da guerra e sua superação. A guerra é somente
um tipo de violência dentre milhares existentes na sociedade contemporânea.
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Charles Webel e David Barash lembram que “muitas tradições culturais e espirituais
identificaram objetivos políticos e sociais mais próximos da paz positiva do que da negativa. Na antiga
Grécia, o conceito de eireinei (…) denota harmonia e justiça, bem como paz. Similarmente, o árabe
salaam e o hebraico shalom dão a conotação não somente da ausência de violência como também da
presença de bem-estar, totalidade e harmonia dentro de si, numa comunidade ou entre todas as nações e
povos. A palavra em sânscrito shanti se refere não somente a paz, mas também a tranquilidade espiritual,
integração com os modelos interior e exterior do ser, tal como o substantivo chinês ping denota harmonia
e realização da unidade na diversidade. No russo, a palavra mir significa paz, uma vila comunitária ou
todo o mundo (BARASH & WEBEL, 2000, p.8)”.
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Embora Galtung tenha sistematizado o conceito, a história da filosofia e da religião traz diversos
exemplos de percepções de paz próximos à ideia de paz positiva. Como explicado por Ho-Won Jeong,
“por milhares de anos (…) a visão de paz das tradições religiosas às ideias filosóficas modernas encoraja
um estilo de vida baseado na não violência e na vivência comunal” (JEONG, 2000, p.9). Ainda, a ideia
foi aperfeiçoada no ensaio seminal de 1969, dado que no editorial da primeira edição do Journal of Peace
Research ele já fala sobre essa definição de paz (GALTUNG, 1964, p.2). As principais influências para
pensar paz com dois subtipos vêm de uma análise crítica dos trabalhos de Quincy Wright e Hermann
Schmid (cf. WRIGHT, 1962; SCHMID, 1968).
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Depreende-se, das citações acima, que violência não pode ser considerada
somente como o uso de ferramentas ou do corpo com o fim de ferir alguém, como
comumente se compreende o significado do termo. Esta última seria só uma vertente de
violência que se pode intitular direta/pessoal. A ideia de violência estrutural, por sua
vez, é um importante desenvolvimento nos EPP introduzido por Galtung para a
compreensão das bases de uma violência indireta que vitima milhares de pessoas e são
um obstáculo para o fim do sofrimento humano.
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Embora os termos “exploração”, “dominadores” e “dominados” lembrem os pressupostos do
marxismo, Johan Galtung clarificou que seu conceito de violência estrutural não está enraizado numa
demanda por ação revolucionária e nem acredita que as dinâmicas históricas são puramente motivadas
pela necessidade de expansão dos mercados. Seguramente, o marxismo tem uma influência em suas
visões como aconteceu com vários acadêmicos que viveram intensamente o período da Guerra Fria,
porém como explicado por Galtung: “o conceito de ‘violência estrutural’ nasce desse encontro [com o
marxismo], mas é profundamente inspirado pela abordagem de Gandhi ao mesmo assunto, embora ele
não tivesse usado o termo. Por um longo tempo eu tentei me liberar de uma perspectiva orientada ao ator
como é muito visto nas ciências sociais ocidentais (...)” (GALTUNG, 1985, p. 145).
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Ideia similar é desenvolvida pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu em seu conceito de
violência simbólica. No entanto, seu conceito difere do de violência estrutural em termos de
aplicabilidade e campo. Enquanto Galtung está preocupado exclusivamente em compreender a violência
como um desafio para alcançar a paz, Bourdieu está considerando de uma maneira ampla a questão do
poder dentro da sociedade. Para mais sobre o assunto, ver BOURDIEU (1989).
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quarto, o termo não parece ir além das teorias da estratificação social e suas bases
(WEIGERT, 1999, passim).
Algumas das críticas acima encontram sua consistência, enquanto outras são
questionáveis a depender do referencial de ciência ou os pressupostos epistemológicos
que o analista defende. No entanto, o termo encontra seu mérito justamente por alargar
o foco da violência indo da atitude proporcionada pela violência cultural até à estrutura.
Isto provê uma mudança que vai além do comportamento do indivíduo ou do grupo
beligerante promotor da violência e desembarca em uma compreensão holística dos
desafios para se alcançar a paz na sociedade atual. Adicionalmente, o conceito leva a
uma discussão sobre as transformações sociais necessárias para eliminar a violência
estrutural. Finalmente e o mais importante, “com o conceito de violência estrutural, a
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ligação entre justiça e paz torna-se central e a questão da ação não-violenta essencial.
Aqui, conceitos tais como interdependência, solidariedade e consciência” motivam o
trabalho pela paz, bem como demandam uma urgência na construção de uma cultura de
paz (WEIGERT, 1999, p.438-439)7.
Para além das conceituações sobre paz e violência acima explanadas, pensados
dentro do que chamamos de EPP, a ideia de focalizar nos conflitos permitiu a abertura
de um campo distinto denominado Resolução de Conflitos (Conflict Resolution - CR) –
que posteriormente também foi denominado Transformação de Conflitos (Conflict
Transformation - CT). Embora haja conexões entre CR e EPP, estes se desenvolveram
como campos distintos, daí a influência diferente nas definições e o uso mais preciso da
ideia de conflito em CR (ver mais em DAHL, 2012). Não obstante, muitas vezes EPP e
CR/CT é colocado como um mesmo campo denominado Estudos de Paz e Conflitos.
A ideia do que é conflito e o debate sobre sua resolução também evoluem com o
advento e a sistematização dos EPP. De algo visto essencialmente a partir do viés
estatal, na qual a preocupação precípua é o conflito enquanto guerra, os EPP ampliam a
discussão para olhar o conflito de maneira mais ampla, abarcando também os elementos
inter e intra-societais do conflito. De acordo com Grotten e Jansen (1981),
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Não obstante as críticas, a ideia de violência estrutural continua como um importante referencial
nos EP e também em outras áreas do conhecimento. Para mais sobre os debates atuais na temática, ver
DILTS (2012), ALBRECHT (2008) e MULLEN (2015).
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Dentro desta perspectiva, o conflito não é restrito à guerra. Ele deve ser
compreendido como um triângulo de três vértices compreendidos pelas:
atitude/suposições (A), compreendidas pela percepção que as partes em tensão têm
umas das outras; comportamento (B), na qual pode haver uma hostil violência ou
conciliação, como também cooperação ou coerção e ameaça; e a contradição (C), sendo
esta a conjuntura estrutural do conflito que abrange a incompatibilidade dos objetivos
dos atores (cf. GALTUNG, 1996, p.70-73; RAMSBOTHAM et.al., 2005, p. 9-10).
Lidar com esse conflito significa lidar com os três tipos de violência acima
listados. Logo, o fim do comportamento violento significa o fim da violência direta. Já o
fim das contradições estruturais seria o mesmo que o fim da violência estrutural. Por
fim, a diminuição das tensões em termos de atitudes e suposições passa pela
compreensão da violência cultural. Não obstante, é importante ressaltar que o conflito é
natural e pode contribuir para o avanço da sociedade, embora o mesmo não
necessariamente se possa dizer quanto a violência.
Posto isto, a resolução de um conflito pode se dar tanto para parar um estado de
violência como para preveni-la. Embora seja um dos críticos mais bem fundamentados
do pensamento de Johan Galtung, o economista Kenneth Boulding afirma que as
explicações daquele estão entre uma das mais importantes contribuições sobre a teoria
do conflito. Para além da conceituação acima explanada, o pensador norueguês
pressupõe que haveria dois tipos de resolução de conflitos: associativa e dissociativa.
Como explica Boulding (1977, p. 82-83),
Do que se analisa acima, logo se pode depreender que conflito não é nos EPP
necessariamente um sinônimo de guerra. Guerra é um tipo de violência dentre as muitas
que podem ser analisadas pelos EPP. É somente um vértice de um todo mais complexo,
que envolve atitudes e contradições a serem igualmente superadas. Por consequência,
conflito é algo mais amplo relacionado a dificuldade de conciliação de objetivos por
parte de dados atores.
Considerações finais
Fria, na qual a tensão e o temor de outro conflito mundial preocupavam uma gama de
cientistas sociais ao redor do mundo. Dali surgem os pressupostos epistemológicos e
ontológicos, fortemente influenciados pelo pensamento de um dos fundadores do PRIO,
o sociólogo e matemático norueguês Johan Galtung. Suas ideias sobre o que é paz,
violência, conflito e guerra até hoje permeiam o debate dos EPP, sejam essas discussões
em concordância ou visando criticamente avançar com base nos construtos teórico-
conceituais consolidados. Esse debate continua em constante e frutífera evolução, como
se vê na obra recente de Peter Wallensteen (2015) ao buscar superar a abstração da ideia
de paz positiva e proporcionar parâmetros mais claros para compreender a paz após o
fim da violência direta em um conflito armado.
Cabe salientar aqui que este capítulo buscou dar apenas uma base geral de como
evoluiu a discussão sobre a paz e os conceitos elementares dos EP. Há outros tantos
debates neste campo que serão objeto de análise pormenorizada nas páginas posteriores,
tais como manutenção da paz (peacekeeping), imposição da paz (peace-enforcement),
construção da paz (peace-building), cultura de paz, educação para a paz e operações de
paz – somente para citar alguns dos temas importantes que são objeto de estudo na área
e nesta obra.
Vale citar aqui para reflexão final as palavras de Kenneth Boulding sobre a
importância dos EPP. Este importante economista e pioneiro no campo, fundador do
Journal of Conflict Resolution e crítico de Johan Galtung – embora ambos mantivessem
um diálogo de respeito e admiração mútua até o passamento de Boulding em 1993 –,
resume o quão importante é conhecer as bases do campo para o avanço da
transformação social através das ciências sociais:
São justamente esses subsistemas levantados por Boulding (1977) que esta obra
tenta explorar, em uma tentativa de fornecer para a academia brasileira uma base
conceitual e teórica para os EPP permeada com estudos de caso de relevância para este
campo do conhecimento. Diante de uma simplificação da realidade dos conflitos, muitas
vezes enxergados puramente pelos laços do Estado, ampliar o escopo de análise e trazer
a violência como objeto analítico se torna uma tarefa da mais alta importância.
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