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Capítulo preparado para o livro “Estudos de Paz: correntes e debates”, de Roberta


Maschietto, Marcos Alan S. V. Ferreira e Paulo Kuhlmann (orgs.). Favor não citar
antes da publicação da obra

As origens dos Estudos para a Paz e seus conceitos elementares: paz,


violência, conflito e guerra

Marcos Alan S. V. Ferreira (UFPB)

Introdução

A questão da paz tem sido ao longo do tempo uma questão premente para a
convivência humana. Filósofos têm escrito milhares de páginas indicando o caminho
para indivíduos e sociedades alcançarem a paz. Seres considerados sagrados para
religiões e filosofias espiritualistas de tempos em tempos trazem à luz possibilidades de
uma vontade divina ou interna para um mundo pacífico. Além disso, inúmeros ativistas,
empreendedores sociais e políticos – tais como Mohandas Gandhi, Muhammad Yunus,
Paulo Freire, Bahá'u'lláh, Martin Luther King Jr., Chiara Lubich, John P. Lederach,
dentre tantos outros – trabalharam de forma prática a fim de promover e consolidar a
paz a partir da ênfase em diferentes abordagens (como por meio da educação e
resistência não violenta).

Conforme é relatado por Nigel Young – editor da obra seminal The Oxford
International Encyclopedia of Peace – em um repasse histórico sobre as tradições
conceituais sobre a paz,

graças a um século de desenvolvimentos na sociedade civil, o significado


de paz tem se ampliado para incluir um amplo espectro de temas
positivos. Em áreas como direitos humanos e civis, desarmamento,
gênero, pobreza global, desenvolvimento e meio ambiente, a influência de
vários movimentos tem sido imensos. Com estas influências vêm também
um conceito mais amplo de paz, uma paz que envolve uma pacífica
metodologia de ação (YOUNG, 2014, p. 157).
2

O desenvolvimento destas diferentes tradições da paz, bem como dos diferentes


métodos para promover a paz no futuro, serão fruto de análises posteriores nesta obra. O
que nos interessará neste capítulo é compreender como tem sido a elaboração da
conceituação sobre paz e suas ideias correlatas, tais como violência, conflito e guerra. A
ideia aqui é prover uma visão geral de um termo em constante evolução, tendo como
objetivos específicos explorar três pontos: 1) como se desenvolveu o conceito de paz ao
longo da história; 2) a sistematização e desenvolvimento dos Estudos para a Paz (EPP)
como um campo do conhecimento das ciências sociais; 3) os conceitos centrais
desenvolvidos ao longo da história dos Estudos/Pesquisa para a paz desde seu
surgimento.

Na primeira seção será feito um repasse histórico, provendo ao leitor uma


contextualização de como a ideia de paz se desenvolveu desde as tradições religiosas
antigas até o engajamento social de Mohandas Gandhi, bem como a influência deste
último nos debates posteriores. Na seção subsequente, será discutido como os EPP
tornaram-se um campo de conhecimento específico nas ciências sociais, com uma
origem peculiar e ontologia e epistemologia próprias. Na última seção, o objetivo é
fornecer ao leitor uma introdução dos principais conceitos ligados à ideia de paz, tais
como a paz em si mesma, conflito, violência e guerra.

O conceito de paz através da história: influências religiosas, o pensamento


Ocidental e o papel de Mohandas Gandhi

Entender a evolução do conceito de paz ao longo da história torna-se importante


para uma compreensão global do tema, olhando para diferentes tradições, bem como
para os antecedentes históricos deste importante conceito. Como examinaremos nas
páginas seguintes, a construção da ideia de paz não é linear e é difícil falar sobre uma
compreensão universal do que é a paz. No entanto, olhando de maneira holística tanto as
tradições orientais como ocidentais, pode-se abarcar um quadro global aberto a
diferentes perspectivas, que avance para além da perspectiva ocidental do conceito.

Quando olhamos ao longo da história, logo se nota a riqueza do conceito de paz,


assim como a sua ligação com valores espirituais construídos na história humana. Muito
do seu surgimento se deve a um entrelaçamento da ideia de paz que flutua entre crença e
ação. Ho-Won Jeong esclarece que
3

a busca pela paz interna e comunal deriva de um pensamento ideal em


busca da vida espiritual. Desde os primórdios do pensamento humano,
tem existido um claro entendimento que a guerra não é um fenômeno
natural nem uma irreversível vontade dos deuses. Um mundo pacífico
pertence a uma sociedade onde as pessoas possam trabalhar e viverem
juntas em harmonia e amizade (JEONG, 2000, p.7).

Esta derivação da paz como continuidade da vida espiritual pode ser vista em
várias denominações religiosas ao redor do globo. Religiões orientais e suas filosofias –
tais como o Budismo, o Taoismo e o Confucionismo – colocam ênfase na ligação
profícua entre vida espiritual e justiça social. Culturas nativas americanas e tradicionais
africanas trazem a necessidade do homem estar em paz com o planeta, respeitando o
meio ambiente e seus reinos (JEONG, 2000, p.7). Por sua vez, embora a paz não seja
proeminente no Tanach (‫)תנ״ך‬, algumas passagens pressupõem que no futuro “uma
nação não mais pegará em armas para atacar outra nação, elas jamais tornarão a
preparar-se para a guerra” (BARASH & WEBEL, 2002, p.5).

De uma ideia enraizada em valores espiritualistas no Oriente e em parte da


doutrina judaico-cristã, a paz avança como conceito em paralelo com o
desenvolvimento do pensamento ocidental. A filosofia grega sugere que um mundo
pacífico significaria a falta de distúrbios civis baseados na substância moral da
humanidade. Em tal comportamento subjaz um princípio de cidadania mundial, como
expresso por Platão e Sócrates. A Stanford Encyclopedia of Philosophy esclarece que
Platão direciona parte do seu discurso em Protágoras (337c7-d3) conclamando uma
unidade universal pacífica entre os homens. Como cita essa enciclopédia, referenciando-
se a Platão,

Meus senhores aqui presentes, creio eu que todos são aparentados,


familiares e concidadãos – por natureza, não por lei. Porque qualquer
coisa que é semelhante a outra é, por natureza, aparentada com aquela a
que se assemelha; mas a lei, que é um tirano entre os homens, força a
muitas coisas contrárias à natureza.
(PLATÃO apud STANFORD ENCYCLOPEDIA OF PHILOSOPHY,
2013).
4

Essa ideia cosmopolita fundamentada numa paz entre os homens ganharia fôlego
na Europa do século XV quando o rei Jorge de Poděbrady sugere uma proposta de paz
entre os reinados europeus. Soma-se aí o fato de que após a Guerra dos Trinta Anos
seria visto o estabelecimento de um tratado em prol da paz, conhecido como Tratado de
Vestfália, que, embora não tenha criado uma situação de paz completa entre os grupos
políticos rivais europeus, teve sua importância em deliberar a autodeterminação dos
povos diante da Igreja Católica e em permitir a existência de fronteiras para evitar
guerras fratricidas como foi usual por décadas.

Este era somente um pontapé para um debate mais amplo impulsionado pelo
Iluminismo. Dentro deste movimento científico e cultural, violência e conflito passam a
ser vistos como um grande mal por iluministas como John Locke e Jean-Jacques
Rousseau. Já o filósofo francês Charles-Irénée Castel, ou Abbé de Saint-Pierre, torna-se
um pioneiro naquele movimento pela paz ao escrever uma obra específica sobre o
assunto, o chamado “Projeto para tornar a Paz Perpétua na Europa”, em que sugere um
tratado entre todas as nações europeias em uma “Grande Aliança”, um exército europeu
e o estabelecimento de uma Assembleia Europeia. Esse grande debate do iluminismo
pode ser visto como uma primeira tradição nos conceitos de paz ocidentais, que dariam
origem a uma segunda tradição.

Como uma evolução da tradição iluminista sobre paz, temos posteriormente o


chamado racionalismo cosmopolita. Aperfeiçoando a ideia de paz de Saint-Pierre, em
“A Paz Perpétua”, Immanuel Kant generalizou as proposições do seu antecessor ao
incluir todos os povos – e não somente europeus – numa paz cosmopolita universal
guiada por acordos e instituições. A obra é estruturada em duas partes e se fundamenta
na suposição de que alcançar a paz seria fácil ao se definir os direitos dos Estados
soberanos em um sistema internacional e ao se prevenir um Estado de intervir no
governo de outro. A primeira parte descreve os passos a serem tomadas imediatamente
para tornar a paz perpétua, a saber:

1º.“Não deve viger nenhum tratado de paz como um tal que tenha sido
feito com a reserva secreta de matéria para uma guerra futura” (Ak.
343. p. 26);
2º. “Nenhum Estado independente (pequeno ou grande, isto vale aqui
igualmente) deve poder ser adquirido por um outro Estado por
herança, troca, compra ou doação” (Ak. 344, p. 26);
5

3º. “Exércitos permanentes (miles perpetuus) devem desaparecer


completamente com o tempo” (Ak. 345. p. 27);
4º. “Não deve ser feita nenhuma dívida pública em relação a conflitos
exteriores do Estado” (Ak. 345. p. 28)
5º. “Nenhum Estado deve imiscuir-se com emprego de força na
constituição e no governo de um outro Estado” (Ak. 346. p. 29);
6º. “Nenhum Estado em guerra com um outro deve permitir
hostilidades que tenham de tornar impossível a confiança recíproca na
paz futura; como tais são: emprego de assassinos (percussores),
envenenadores (venefici), quebra da capitulação, instigação à traição
(perduellio) no Estado com que se guerreia, etc (Ak. 346. p.30).”
(KANT, 1795)

Na segunda parte, três Artigos Definitivos proveriam não meramente o cessar de


hostilidades, mas também a base para construção da paz:

1. “A constituição civil de cada Estado deve ser republicana”


2. “O direito dos povos – Das Völkerrecht – deve ser fundado
sobre um federalismo de estados livres”
3. “Uma lei da cidadania mundial deve ser limitada a condições
de hospitalidade universal” (KANT, 1795)

O racionalismo cosmopolita de Kant ressoa de diferentes maneiras na ciência


política moderna e contemporânea. Primeiro, a concepção do republicanismo como uma
base para a paz deu margem para o surgimento séculos depois da chamada teoria da paz
democrática, que coloca as democracias como hesitantes em se engajarem no conflito
armado quando identificadas com outras democracias. Segundo, suas ideias
influenciaram o internacionalismo liberal, que argumenta que os Estados liberais devem
intervir (direta ou indiretamente) em outros Estados soberanos no sentido de buscar
objetivos condizentes com a liberdade política e de mercado – uma ideia fortemente
disseminada na política externa de certos países ocidentais como Estados Unidos e
França, em especial após a publicação dos Quatorze Pontos de Woodrow Wilson.
Terceiro, inspirado pelas ideias kantianas, outro importante trabalho sobre a função do
comércio para promoção da paz veio ao debate em 1909 quando foi publicado A Grande
Ilusão, de Norman Angell. O autor sugere que o comércio moderno faz a guerra não ser
rentável, mesmo para nações vitoriosas. Isso se dá pelo fato da guerra entre nações
industriais serem fúteis, dado que a conquista não paga os custos das mortes resultantes,
o que faria da possibilidade da guerra uma grande ilusão de progresso.
6

Nigel Young relembra que um renascimento de ideais pacíficos foi previamente


solapado pela realidade da sociedade internacional do século XIX. Segundo ele, … o
iluminismo e o racionalismo liberal na década de 1750… foram traduzidos em ideias
internacionais socialistas e liberais que bifurcaram no século XIX. As versões mais
idealisticamente otimistas daquelas [ideias] foram duramente golpeadas – primeiro pela
carnificina das guerras napoleônicas, depois pela Grande Guerra” (YOUNG, 2013,
p.159). Adicionalmente, o encerramento dos sonhos internacionalistas tiveram como
símbolo o Palácio da Paz e as Conferências de Haia (1899 e 1907), assim como o
fracasso da Segunda Internacional Comunista em seus esforços de prevenir a guerra.

Para além do iluminismo e do discurso racional cosmopolita, inovações ao


conceito de paz emergiram posteriormente tanto no Ocidente como em uma abordagem
revolucionária na Índia do século XX. Logo, uma terceira tradição emergiria no
Ocidente praticamente como um resultado ideológico sobrevivente da Primeira Guerra
Mundial. Estes são os movimentos pacifistas, que surgem com protestantes radicais e
outros remanescentes do puritanismo de esquerda, tais como os Quakers e outras
minorias proféticas que, por séculos, viam a guerra como uma instituição ímpia.
Embora pequenos, com o passar dos anos os movimentos pacifistas constituiram-se
como um forte lobby através de pressão política e da efetividade de seus projetos sociais
humanitários.

Uma quarta tradição – desta vez unindo Oriente e Ocidente – surgiria no início
do século XX. Como explica Young,

… uma quarta tradição emergia em 1918, que, embora incluísse


aquelas influências ocidentais, trouxe valores não ocidentais para o
diálogo global. Primeiro e antes de mais nada, após o desembarque de
Gandhi na Índia da África do Sul em 1917, o crescente impacto da
teoria e prática da ação não violenta (satyagraha) foi sentido para
além de ambas as nações. Hinduísmo, bem como outros elementos
(por exemplo, Sikh), foram adicionados em uma mistura de
Tolstoianismo com cristandade Quaker. Então se colocaram elementos
de uma desobediência civil Thoureauana e um socialismo humanista.
Esta mistura de utopia e pragmatismo foi fundida numa filosofia
enraizada “verdadeiramente” na ação social (YOUNG, 2013, p.159).

Compreender a ação gandhiana pela paz através da não-violência exige


compreender a inspiração que guiou o líder hindu. Como mencionado por Barash &
7

Webel, foi no épico hindu Mahabharata, que contém os elementos mais importante do
Livro Sagrado para o Hinduísmo, Bhagavad Gita, que Gandhi se inspirou para sua ação
não-violenta. A relutância de um dos personagens centrais do épico, Arjuna, em lutar
em um conflito armado é superado pelo convencimento do Deus Krishna, que
argumenta a Arjuna que a luta pelo dever altruísta deveria ser levada a cabo. Foi este
contexto que inspirou Mohandas Gandhi “como uma alegoria para subjugar o eu individual e
buscar ideais mais elevados” (BARASH & WEBEL, 2002, p.5).

A ação pela paz conduzida por Gandhi teve impacto marcante, incorporando
pacifistas do mundo todo em uma visão unívoca da importância da não-violência e da
discussão ativa sobre paz. Para Gandhi, o amor não violento (ahimsa) era um conceito
central e somente seria alcançado por meio da compaixão e tolerância por outros povos,
o que, por sua vez, requereria esforço constante, experimentação e erro. A ideia de
satyagraha, ‘força da verdade’, por sua vez, refletia o comprometimento com a verdade
e aderência mental aos objetivos de amor e respeito mútuo, fundamentais para o ahimsa

A vida de Gandhi inspirou posteriormente vários acadêmicos que estudaram e


ainda estudam questões da paz, assim como ativistas e personalidades como Martin
Luther King Jr, Albert Einstein, Desmond Tutu e Nelson Mandela. Baseados no
Weltanschauung de Gandhi, o século 20 passa a ver novos movimentos pelos direitos
civis, pelo fim da opressão através da ação não-violenta e a luta contra o colonialismo.
Como resumido por Nigel Young ao se referir a Gandhi, “a gama mundial de projetos
de paz e de transformação social que adotaram tais métodos é um tributo ao seu poder e
relevância” (YOUNG, 2013, p. 159).

Origens, ontologia e epistemologia dos Estudos/Investigação para a Paz

Ao longo da história, não foi apenas a busca da transformação social capitaneada


por pessoas como Gandhi que inspiraram a evolução do conceito de paz. A divisão
ideológica testemunhada depois de duas Guerras Mundiais politizou a concepção de
paz, nas quais percepções de mundo divididas entre o espectro capitalista e socialista
afirmavam que a sua visão de paz seria precisa o suficiente para promover uma
mudança estrutural no mundo.

Como sabemos, a divisão ideológica diminuiu significativamente após diferentes


processos políticos ao final do século XX. Além disso, mesmo com a queda de Cortina
8

de Ferro e da perda de influência do socialismo, o mundo liberal não cumpriu a


promessa de um mundo mais pacífico. Em vez disso, continuamos a ver um mundo
atormentado por guerras civis, por deslocamentos que resultam em milhões de
refugiados e a ocorrência de inúmeros abusos de direitos humanos – apenas para
mencionar algumas das aflições de um mundo ainda em afligido por tensões da
desigualdade, injustiça e conflito.

Embora os anos 1930 e 1940 vissem uma onda crescente de estudos


preocupados com a questão da paz nas ciências humanas (ver SOROKIN, 1937;
WRIGHT, 1942), foi na década de 1950 e 1960 que se testemunharia um aumento
drástico dos estudos sistemáticos sobre a paz. A dinâmica da Guerra Fria, somada ao
temor do retorno de uma Guerra Mundial e novos ataques nucleares, fizeram com que
bem-intencionados cientistas sociais – tais como Lewis Fry Richardson e Quincy
Wright – refletissem mais profundamente sobre como promover a paz de maneira
consistente e contínua, sistematizando as compreensões sobre a paz que vem desde a
antiguidade até o século XX. É nesse ínterim que surge nos Estados Unidos e Europa
uma onda crescente de departamentos e núcleos de pesquisa voltados à compreensão da
paz e conflitos, na qual Johan Galtung na Noruega (um fundador do Peace Research Institute
of Oslo), Anatol Rapoport na Universidade de Michigan (EUA) e Kenneth Boulding na
Universidade de Stanford University (EUA) “ofereceram uma saída sã às alternativas de
abordagem de destruição assegurada mútua do Dr. Fantástico1, bem como a teóricos como
Henry Kissinger e Herman Kahn e outros apóstolos da dissuasão nuclear e da Guerra Fria”
(YOUNG, 2013, p. 168).

É deste engajamento de cientistas sociais norte-americanos e europeus que


surgem os Estudos para a Paz. Embora as mesmas questões ontológicas ao redor da paz
fossem tratadas em diferentes centros acadêmicos, seria o Peace Research Institute of
Oslo (PRIO – Instituto de Oslo de Pesquisa sobre Paz), liderado por Johan Galtung, a
primeira instituição a utilizar o termo2. Por sua vez, foi Elise Boulding juntamente com
Kenneth Boulding e outros acadêmicos como Anatol Rapoport e Herbert Kelman, que

1
Filme satírico de Stanley Kubrick, lançado em 1964, que trata da irracionalidade da dissuasão
nuclear no contexto da Guerra Fria.
2
Além de Galtung, a equipe no início do PRIO consistia de mais cinco pesquisadores: o
psicólogo Otto Klinberg, a socióloga Ingrid Eide, a cientista política Mari Holmboe Ruge, a antropóloga
Arne Martin Klausen e o historiador Sivert Langholm. O mesmo instituto lançaria em 1964 um dos mais
importantes periódicos da área, o Journal of Peace Research (GALTUNG, 1985).
9

criariam o primeiro periódico dedicado ao estudo da paz e conflitos em 1957, o Journal


of Conflict Resolution.

Os pesquisadores desta corrente focaram desde o início não somente no perigoso


jogo de influência entre potências, mas também nos fatores econômicos e sociais
comumente relegados ou entendidos como secundários. Peter Wallensteen, um dos mais
engajados pesquisadores deste movimento desde a década de 1970, resume de maneira
concisa o que é esse campo do conhecimento, como ele caminha e o que examina.
Segundo ele,

o objetivo dos Estudos [ou Pesquisas] para a Paz são de compreender


as causas da violência e maneiras de reduzir ou remover essa
violência. (…) Pesquisas para a Paz é também sensível a mudanças
históricas e circunstâncias locais, pelas quais certamente devem e
podem guardar sua autonomia e direção central. Algumas mudanças
societais constituem desafios para os paradigmas existentes de
Pesquisa para a Paz e levam a novos campos de investigação. Em
outros tempos, desenvolvimentos históricos confirmaram a agenda
existente. De qualquer forma, o diálogo com as realidades da paz e as
agitações formam e afetam o crescimento da pesquisa sobre paz. Ela
toma um perfil diferente sob diferentes circunstâncias. (…) Ela será
exposta às mudanças na metodologia da ciência. Focos regionais
diferem, as regiões têm diferentes prioridades com relação aos
conflitos e a resolução de conflitos (WALLENSTEEN, 2001, p. 9-10).

Esta nova onda de institutos e acadêmicos examinando a paz durante a Guerra


Fria desafiou o ramo das ciências sociais que até então vinha investigando temáticas
transnacionais mormente com um viés estatocêntrico – especialmente os campos de
Ciência Política e Relações Internacionais. Mais que decisões acerca do uso da força, o
foco passa a ser a busca da “paz por meios pacíficos” (WALLENSTEEN, 2001, p.7).

Sendo um campo distinto da área tradicional de estudos estratégicos e segurança,


os EPP são também distintos do ativismo pela paz, embora ajude a construir pontes na
sociedade, assim trazendo o elemento necessário e frequentemente esquecido da
integração global (WALLENSTEEN, 2001, p.11). De acordo com o proeminente
pesquisador Johan Galtung, não se pode estudar somente as possibilidades da paz
focalizando nos conflitos internacionais ou na luta entre Estados. Para ele, há muitas
linhas de fronteira cortando a humanidade, criando diferentes graus na integração e no
10

desejo de utilizar a violência; mas somente algumas dessas linhas são fronteiras
nacionais (GALTUNG, 1964, p.2).

Tal perspectiva contribuiu para uma ontologia que liga o estudo científico sobre
os processos que levam à paz com os interesses de toda a sociedade, independentemente
das fronteiras nacionais. Isso faz com que o campo não olhe apenas para os desafios
políticos para alcançar a paz – ou o fenômeno da guerra, centro da análise no campo de
estudos estratégicos – mas também para questões como a violência, a desigualdade,
justiça, reconciliação e resolução de conflitos. Ainda que a unidade de análise
permaneça focalizada no âmbito do Estado em boa parte de seus estudos,
ontologicamente o principal objeto de análise é a manifestação da violência. Ainda,
predominantemente o campo considera importantes questões sociais e seu avanço em
direção à paz – diferente de um campo não-normativo como Relações Internacionais.
Além disso, como foi afirmado pelo pesquisador sobre paz nigeriano Demola
Akinyoade,

(…) a erudição, a pesquisa e a prática em Estudos sobre Paz e


Conflitos se concentra em certas questões fundamentais, que definem
a sua ontologia e da qual questões epistemológicas, metodológicas e
teóricas fluem neste campo. O mais básico destes é o que é a paz; a
natureza, causas, manifestação, e dinâmica do conflito; os meios para
a resolução de conflitos; a construção de uma paz sustentável (...). As
questões centrais constituem as grandes áreas de investigação, gerando
uma série de conceitos no campo. Alguns dos conceitos-chave
próprios do campo são conflitos armados, grupos armados, resolução
de conflitos, paz, consolidação da paz, manutenção da paz,
pacificação, violência e guerra (...). É sobre estes conceitos-chave e
suas variantes que o campo de Estudos sobre Paz e Conflitos faz suas
reivindicações ontológicas (AKINYOADE, 2012, p.6-7).

Tendo em seu seio uma abordagem normativa, os EPP são considerados um


campo orientado a valores com três ramos epistemológicos. Johan Galtung é instrutivo
neste sentido:

Estudos Empíricos de Paz, baseados no empiricismo: uma


comparação sistemática de teoria com a realidade empírica (dados),
revisando teorias se eles não concordam com os dados – sendo os
dados mais fortes que a teoria.
Estudos Críticos de Paz, baseado na criticidade: a comparação
sistemática da realidade empírica (dados) com valores, tentando, nas
11

palavras e/ou na ação, mudar a realidade se ela não concorda com os


valores – valores sendo mais fortes que os dados.
Estudos Construtivos de Paz, baseado no construtivismo: a
comparação sistemática das teorias com os valores, tentando ajustar
teorias para os valores, produzindo visões de uma nova realidade –
valores sendo mais fortes que a teoria (GALTUNG, 1996, p.9-10).

Para Galtung estes três ramos epistemológicos devem trabalhar e dialogar de


maneira conjunta, conectando dados, teoria e valores. Há um explícito relacionamento
entre os três nesta definição. Os EP podem se comparar com a arquitetura ou a
medicina, áreas que triangulam de maneira ímpar dados, teoria e valores. Não deve ser
uma área que combina somente dois vértices deste triângulo, como a Ética ou a
Teologia, que se ocupa apenas dos vértices de normas e valores. Logo, “o modelo ideal
de Investigação para a Paz apresentado por Galtung correlaciona os três vértices do
triângulo: valores, teoria e dados” (WIBERG, 2005, p.26-27).

A epistemologia dos EP com base nas proposições galtungianas demandam uma


abordagem transdisciplinar que não é necessariamente simples de ser construída. Para
trabalhar com os três ângulos é necessário ao pesquisador um esforço adicional para
superar a fragmentação e aprender com múltiplas áreas do conhecimento, deixando de
lado concepções binárias de quantitativo/qualitativo, moderno/pós-moderno,
clássico/contemporâneo para se abrir a novos diálogos, insights e perspectivas em busca
do objetivo final de compreender a paz como ausência/redução da violência de todos os
tipos, como veremos mais adiante (FERREIRA, 2016). Não obstante, ainda se vê uma
persistente divisão do trabalho na área, com alguns especialistas focados em dados,
outros com foco no teste de hipóteses e avaliações normativas, e alguns centrados no
desenvolvimento de teorias. Poucos são os generalistas como Peter Wallensteen em sua
obra Quality Peace: Victory, Peacebuilding and World Order que combinam os ângulos
de valores, teorias e dados (ver WALLENSTEEN, 2015).

Hoje, baseado na ontologia e epistemologia acima explanada, há centenas de


institutos em EPP oferecendo desde cursos de extensão até o nível de bacharelado,
mestrado, doutorado. Assim, é um campo que partiu de um início tímido para um
empreendimento grande e bem estabelecido. Ainda que a diversidade e participação de
países do Sul Global pudesse ser maior, os EPP contam hoje com um discurso em
desenvolvimento que une uma considerável comunidade epistêmica ao redor do mundo,
12

tal como visto em espaços acadêmicos como a International Studies Association (ISA) e
a International Peace Research Association (IPRA). Na seção a seguir,
compreenderemos um pouco dos conceitos-chave que guiam as discussões e pesquisas
dessa comunidade.

Conceitos centrais nos Estudos de Paz: paz, violência, guerra e conflito

Dentro de seus pressupostos ontológicos e epistemológicos, os EP trouxeram ao


longo das últimas décadas um grande volume de novas ideias, conceitos e construtos
que nos auxiliam a refletir sobre a paz para além dos pressupostos iluministas,
cosmopolitistas ou com base na ação política de Gandhi. Tais concepções são apoiadas
pela sistematização da exploração científica sobre a condição da paz e do conflito no
mundo. Na presente seção, pretende-se explorar alguns conceitos-chave nos
pressupostos centrais dos EP: paz, violência, guerra e conflito.

A definição de paz

Um dos fundadores dos EPP, Johan Galtung, inovou a maneira como as ciências
sociais interpretam a paz com o seu ensaio seminal publicado em 1969, “Violence,
Peace and Peace Research”. Ainda que seja um ensaio comumente utilizado como
referência para uma explicação sobre violência estrutural – conceito que examinaremos
posteriormente – este ensaio vai além, ao colocar as bases do que os EPP realmente se
engajam em explicar, além de uma definição sobre paz e violência que até hoje serve
como base analítica. Primeiramente, ele define a ideia de paz baseado em três princípios

(...) o termo ‘paz’ deve ser utilizado para fins sociais ao menos
verbalmente concordado por muitos, caso não necessariamente pela
maioria; estes fins sociais podem ser complexos e difíceis, mas não são
difíceis de serem alcançados; a afirmação de que paz é a ausência de
violência deve ser tida como válida (GALTUNG, 1969, p. 167)

Tal concepção traz consigo implicações epistemológicas relevantes não só para


o exame do pensamento galtungiano, como também para os EPP como um todo.
Primeiro, a ideia de paz para Galtung tem um caráter fortemente normativo e orientado
a valores (value-oriented). Quando se coloca que a paz deve ser usada para se alcançar
13

fins sociais concordados por muitos, Galtung segue o pressuposto de que a paz é
necessária para a sociedade alcançar alguns de seus fins. E isso, por sua vez, implica
que a paz deve ser vista tanto como fim social como também um meio para alcançar
uma almejada justiça social, deixando assim de ser meramente uma ideia utópica.
Consequentemente, por mais que haja complexidade em alcançar tal ideal, ele é factível
de serem alcançados se os entes sociais se debruçarem em reduzir a violência, variável
possível de ser mensurada e controlada. A violência, por sua vez, seria o oposto da paz,
e não a guerra, como comumente disseminado. Assim,

a definição de paz torna-se em grande parte uma estratégia científica.


Ela pode partir da linguagem comum de não ser concordado ‘pela
maioria’ (consenso não é requerido), mas ainda não deve ser totalmente
subjetiva (‘concordada por muitos’). Ela deve representar um estado de
coisas que não é utópico (‘não é difícil de se alcançar’), ainda que não
esteja imediatamente na agenda política (‘complexa e difícil’). E ela
deve imediatamente dirigir a atenção aos problemas que estão na
agenda política, científica e atual de hoje e de amanhã (GALTUNG,
1969, p. 167).

Diferentemente do comumente aceito até então de que paz seria simplesmente a


ausência de guerra, Galtung inova ao prover a conceituação de que a paz significa a
ausência/redução de violência de todos os tipos, bem como a transformação não
violenta e criativa do conflito (GALTUNG, 1996, p.9). Sendo a paz ausência de
violência, os EPP diferem das Relações Internacionais e da Ciência Política, já que
segue para um caminho transdisciplinar que busca investigar a paz em múltiplas
dimensões, em oposição ao estudo somente do fenômeno da guerra.

Assim, a concepção de paz não se restringe à paz interestatal. Ela vai além, ao
considerar a paz um conceito que abarca diferentes esferas da sociedade e que deve ser
assim ampliado para a compreensão de fenômenos violentos em diferentes níveis de
análise. Isto implica a necessidade de se conceber paz como um conceito iminentemente
social, e não necessariamente restrito ao ambiente internacional. Sob esta perspectiva, o
estudioso da paz não se engaja somente em compreender a guerra, mas também outros
processos violentos e conflitos da sociedade. Esta concepção moderna de paz entende
que ela é mais do que o simples estudo da guerra e sua superação. A guerra é somente
um tipo de violência dentre milhares existentes na sociedade contemporânea.
14

Dentro deste debate, a paz se desdobra em duas tipologias: a paz positiva3 e a


paz negativa (GALTUNG, 1969). A paz negativa consiste na ausência de violência
direta. Por sua vez, a violência direta pressupõe a existência clara de um sujeito
executor de ato que não só impeça um indivíduo ou sociedade de alcançar algo, mas
também busca causar danos ou destruição aos mesmos (GALTUNG, 1969, passim). Os
meios de violência direta são numerosos, e vão desde o ataque pessoal com armas
brancas até a destruição coletiva com armas de guerra. Exemplificando, o fim de uma
guerra interestatal configura o cessar da violência direta entre grupos beligerantes e, por
sua vez, resultaria na paz negativa; um cessar-fogo entre dois grupos beligerantes dentro
de um estado também se enquadraria nesta reflexão. Da mesma maneira, a ausência e
abdicação do uso de instrumentos como armas entre grupos inimigos seria uma
manifestação de ausência de violência direta, e consequentemente, de obtenção da paz
negativa.

Porém, a ausência de violência direta pode se dar de maneira imposta por


determinado ator político ou por atores não-estatais através de formas diversas de
opressão econômica e política. Assim, torna-se importante a definição do conceito de
paz positiva4. A paz positiva pressupõe a ausência ou redução de violência estrutural.
Isto significa uma busca constante por qualidade de vida, crescimento pessoal,
liberdade, igualdade social, equidade econômica, solidariedade, autonomia e
participação (GALTUNG, 1973, p.354-358). Ou seja, a ausência de violência estrutural
pressupõe altos padrões de justiça social em uma dada sociedade.

3
Charles Webel e David Barash lembram que “muitas tradições culturais e espirituais
identificaram objetivos políticos e sociais mais próximos da paz positiva do que da negativa. Na antiga
Grécia, o conceito de eireinei (…) denota harmonia e justiça, bem como paz. Similarmente, o árabe
salaam e o hebraico shalom dão a conotação não somente da ausência de violência como também da
presença de bem-estar, totalidade e harmonia dentro de si, numa comunidade ou entre todas as nações e
povos. A palavra em sânscrito shanti se refere não somente a paz, mas também a tranquilidade espiritual,
integração com os modelos interior e exterior do ser, tal como o substantivo chinês ping denota harmonia
e realização da unidade na diversidade. No russo, a palavra mir significa paz, uma vila comunitária ou
todo o mundo (BARASH & WEBEL, 2000, p.8)”.
4
Embora Galtung tenha sistematizado o conceito, a história da filosofia e da religião traz diversos
exemplos de percepções de paz próximos à ideia de paz positiva. Como explicado por Ho-Won Jeong,
“por milhares de anos (…) a visão de paz das tradições religiosas às ideias filosóficas modernas encoraja
um estilo de vida baseado na não violência e na vivência comunal” (JEONG, 2000, p.9). Ainda, a ideia
foi aperfeiçoada no ensaio seminal de 1969, dado que no editorial da primeira edição do Journal of Peace
Research ele já fala sobre essa definição de paz (GALTUNG, 1964, p.2). As principais influências para
pensar paz com dois subtipos vêm de uma análise crítica dos trabalhos de Quincy Wright e Hermann
Schmid (cf. WRIGHT, 1962; SCHMID, 1968).
15

Dentro desta definição de paz, torna-se central compreender os pormenores de


seu antônimo, a violência. A próxima subseção é dedicada a esse conceito.

Compreendendo os pormenores do conceito de violência

Galtung define que violência é a causa da diferença entre o potencial e o


realizável, entre o que poderia ter sido e é (GALTUNG, 1969). Por exemplo, se uma
pessoa falece jovem com uma doença como tuberculose no século XVIII é difícil dizer
que isso seja violência, mas se o mesmo acontece nos dias atuais com os recursos que
hoje dispomos, isso se configura como violência dentro da perspectiva galtungiana. Ou
seja, quando o potencial é mais alto do que o realizável e este por sua vez é evitável,
então configura-se a violência (GALTUNG, 1969, p. 168-169). Por sua vez, a violência
em si pode ser compreendida através de uma taxonomia que prevê duas subdivisões:
direta/pessoal e indireta/estrutural. Neste debate,

Enquanto o foco na violência direta levaria para a análise das


capacidades e motivações dos atores internacionais e intranacionais,
com esforços em criar instituições que possam prevenir então o
exercício da violência (e assim punindo os que o fazem), o foco na
violência estrutural levaria a uma análise crítica das estruturas prenhes
de violência [...]. Uma transformação básica da estrutura é comumente
referida como uma revolução, então esta é uma perspectiva mais aberta
entre os radicais assim como a perspectiva institucional é mais bem-
vinda aos liberais/conservadores. Novamente, a atitude aqui é de
ambas/e e não uma questão de e/ou[...] (GALTUNG, 1985, p.146)

Depreende-se, das citações acima, que violência não pode ser considerada
somente como o uso de ferramentas ou do corpo com o fim de ferir alguém, como
comumente se compreende o significado do termo. Esta última seria só uma vertente de
violência que se pode intitular direta/pessoal. A ideia de violência estrutural, por sua
vez, é um importante desenvolvimento nos EPP introduzido por Galtung para a
compreensão das bases de uma violência indireta que vitima milhares de pessoas e são
um obstáculo para o fim do sofrimento humano.

A violência estrutural tem o arquétipo da exploração e seus impactos na


expectativa de vida como ponto central. Há dominadores – ou 'topdogs', utilizando o
termo de Galtung – que obtém mais benefícios da estrutura do que outros, os oprimidos
16

– ou 'underdogs' (GALTUNG, 1985, p.145)5. Os oprimidos (underdogs) podem de fato


ser tão prejudicados que eles morrem (de fome, definham com doenças) devido à
exploração. Ou eles podem ser deixados em estado de permanente e não desejada
miséria, usualmente incluindo desnutrição e doenças (GALTUNG, 1990, p.293). Em
resumo, a violência estrutural seria o

contexto dentro do qual indivíduos podem fazer enormes danos para


outros seres humanos sem mesmo pretender, somente levando a cabo
seus deveres regulares de um trabalho definido na estrutura (…). A
violência estrutural é então vista como um dano não intencional a
outros seres humanos (…) como um processo que funciona lentamente
como é a miséria em geral, a fome em particular, e que erodem e
finalmente matam seres humanos (GALTUNG, 1985, p.145).

A mensuração da injustiça social nos permite identificar esta forma de violência


que muitas vezes passa desapercebida, mas que vitimiza milhares de pessoas
diariamente. Em um contexto de desigualdade, Galtung sugere que se questione: que
fatores outros além da violência direta suportam uma condição de desigualdade?
Desafiado com essa questão, o pesquisador deve saber os elementos das ciências sociais
que explicam as estruturas sociais, da mesma maneira que a perspectiva militar e
estatocêntrica avaliam a violência direta (GALTUNG, 1969, p.175). Além disso, não é
o bastante mensurar a violência somente a partir do número de mortes, mas é necessário
também considerar outros fatores tais como o quanto a expectativa de vida diminui
devido à presença da violência estrutural (cf. GALTUNG & HOIVIK, 1971; KÖLHER
& ALCOCK, 1976; FARMER, 2004).

Posteriormente, o pensador norueguês afirmaria que os conceitos de violência


direta e estrutural se complementam com a ideia de violência cultural. Este conceito
seria desenvolvido posteriormente, dado que o autor compreende que nem a
conceituação de violência direta, nem a de violência estrutural, explicaria uma tipologia

5
Embora os termos “exploração”, “dominadores” e “dominados” lembrem os pressupostos do
marxismo, Johan Galtung clarificou que seu conceito de violência estrutural não está enraizado numa
demanda por ação revolucionária e nem acredita que as dinâmicas históricas são puramente motivadas
pela necessidade de expansão dos mercados. Seguramente, o marxismo tem uma influência em suas
visões como aconteceu com vários acadêmicos que viveram intensamente o período da Guerra Fria,
porém como explicado por Galtung: “o conceito de ‘violência estrutural’ nasce desse encontro [com o
marxismo], mas é profundamente inspirado pela abordagem de Gandhi ao mesmo assunto, embora ele
não tivesse usado o termo. Por um longo tempo eu tentei me liberar de uma perspectiva orientada ao ator
como é muito visto nas ciências sociais ocidentais (...)” (GALTUNG, 1985, p. 145).
17

relacionada com símbolos culturais. Como definido pelo próprio autor


(GALTUNG,1990, p. 291),

Por violência cultural nos referimos a aqueles aspectos da cultura, da


esfera simbólica de nossa existência – exemplificada pela religião e
ideologia, linguagem e arte, ciência empírica e ciência formal (lógica,
matemática) – que pode ser usada para justificar ou legitimar a
violência direta ou estrutural. Estrelas, cruzes e crescentes; bandeiras,
hinos e paradas militares; onipresença do retrato do líder; discursos
inflamados e pôsteres – tudo isso vem à mente [no conceito de
violência cultural]6.

Colocadas em conjunto, as três tipologias de violência de Galtung podem ser


representadas como um triângulo em que os ângulos se conectam e se complementam
dentro de um círculo vicioso. Na prática eles se complementam e coexistem, já que
muitas vezes a violência estrutural desemboca em violência direta, ou a violência
cultural se constitui em violência estrutural e assim por diante.

Não obstante, há diferenças na relação de tempo entre os três conceitos.


Violência direta é um evento, violência estrutural é um processo de altos e baixos e a
violência cultural é invariável e permanente (GALTUNG, 1990, p.294). A luta para
superar a “permanência” – entre aspas pois a expectativa é que a permanência seja
superada – da violência cultural é desafiadora, mas necessária. Distinções com base no
gênero, raça e nação justificam e legitimam a violência direta e estrutural, sendo
necessário superar essas difíceis barreiras que impedem o avanço social.

Não obstante a inovação conceitual que Galtung proporcionou, sua definição de


violência em três tipologias não é ausente de críticas (cf. BOULDING, 1977).
Basicamente, quatro argumentos são reivindicados pelos críticos do construto teórico de
violência em Galtung. Primeiro, é argumentada a dificuldade de tornar o conceito
operacional em um contexto de pesquisa, dado que ele é demasiado amplo. Segundo, há
a defesa de que ainda que se tornasse operacional, ele não seria válido por ser enraizado
em valores, fato que impactaria na objetividade científica. Terceiro, o extensivo uso de
metáforas confunde a atenção ao problema real das estruturas que levam à violência. E

6
Ideia similar é desenvolvida pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu em seu conceito de
violência simbólica. No entanto, seu conceito difere do de violência estrutural em termos de
aplicabilidade e campo. Enquanto Galtung está preocupado exclusivamente em compreender a violência
como um desafio para alcançar a paz, Bourdieu está considerando de uma maneira ampla a questão do
poder dentro da sociedade. Para mais sobre o assunto, ver BOURDIEU (1989).
18

quarto, o termo não parece ir além das teorias da estratificação social e suas bases
(WEIGERT, 1999, passim).

Uma obra contemporânea de destaque que traz um avanço conceitual na


compreensão desta problemática é Quality Peace: Peacebuilding, Victory and World
Order, escrita por Peter Wallensteen (2015). Ali o autor sugere a ideia de qualidade da
paz (quality peace), sendo este um conceito que visa quebrar a dicotomia de paz
negativa versus paz positiva. Qualidade da paz pressupõe que a paz tem uma qualidade
particular além da ausência de guerra, definido em termos de segurança, dignidade e
previsibilidade. Assim, em vez de pensar paz negativa e paz positiva, Wallensteen vê
que primeiro se alcança a paz negativa e depois se pode mensurar a qualidade da paz
através do quanto há segurança e garantia da integridade para as partes antes em
conflito, o quanto a dignidade delas em termos de direitos humanos é garantida e da
medida em que se pode prever que o conflito não voltará a ocorrer.

Embora compreenda um avanço teórico-conceitual importante na área de EP, as


proposições de Wallensteen são muito focalizadas no fenômeno do conflito armado
(seja ele interestatal, intraestatal para controle territorial ou intraestatal para controle
governamental). Resta saber se seu construto analítico pode abranger o exame de
sociedades em conflito sem a configuração da guerra e igualmente sem a paz, como são
as democracias latino-americanas assoladas pela criminalidade organizada, os países do
Oriente Médio vítimas constantes do terrorismo ou as nações africanas com altos
índices de mortalidade devido à extrema pobreza. Longe de ser uma fraqueza de seu
estudo, isso mostra o quanto o exame científico da paz é uma tarefa complexa que exige
constantes reexames e análises dos que a ela se dedicam.

Algumas das críticas acima encontram sua consistência, enquanto outras são
questionáveis a depender do referencial de ciência ou os pressupostos epistemológicos
que o analista defende. No entanto, o termo encontra seu mérito justamente por alargar
o foco da violência indo da atitude proporcionada pela violência cultural até à estrutura.
Isto provê uma mudança que vai além do comportamento do indivíduo ou do grupo
beligerante promotor da violência e desembarca em uma compreensão holística dos
desafios para se alcançar a paz na sociedade atual. Adicionalmente, o conceito leva a
uma discussão sobre as transformações sociais necessárias para eliminar a violência
estrutural. Finalmente e o mais importante, “com o conceito de violência estrutural, a
19

ligação entre justiça e paz torna-se central e a questão da ação não-violenta essencial.
Aqui, conceitos tais como interdependência, solidariedade e consciência” motivam o
trabalho pela paz, bem como demandam uma urgência na construção de uma cultura de
paz (WEIGERT, 1999, p.438-439)7.

Por consequência e não menos importante, o arcabouço teórico de paz e


violência explicado até aqui também se relaciona com as teorias do desenvolvimento.
Ele abarca uma ideia de que a busca pela paz serve de baluarte para investigar maneiras
de controlar e reduzir a violência direta (busca da paz positiva) – como nas guerras,
genocídios, dentre outros –, mas também para pesquisar como promover o
desenvolvimento e a justiça social em um mundo desigual (busca da paz positiva).

As definições de conflito nos Estudos para a Paz

Para além das conceituações sobre paz e violência acima explanadas, pensados
dentro do que chamamos de EPP, a ideia de focalizar nos conflitos permitiu a abertura
de um campo distinto denominado Resolução de Conflitos (Conflict Resolution - CR) –
que posteriormente também foi denominado Transformação de Conflitos (Conflict
Transformation - CT). Embora haja conexões entre CR e EPP, estes se desenvolveram
como campos distintos, daí a influência diferente nas definições e o uso mais preciso da
ideia de conflito em CR (ver mais em DAHL, 2012). Não obstante, muitas vezes EPP e
CR/CT é colocado como um mesmo campo denominado Estudos de Paz e Conflitos.

A ideia do que é conflito e o debate sobre sua resolução também evoluem com o
advento e a sistematização dos EPP. De algo visto essencialmente a partir do viés
estatal, na qual a preocupação precípua é o conflito enquanto guerra, os EPP ampliam a
discussão para olhar o conflito de maneira mais ampla, abarcando também os elementos
inter e intra-societais do conflito. De acordo com Grotten e Jansen (1981),

Conflito (…) indica uma situação dentro do sistema social em que


objetivos irreconciliáveis de cada um lutam pelo domínio do outro.
Isto mostra que os conflitos se originam da oposição de interesses nos
sistemas intra-societais e inter-societais. Há concretas razões entre

7
Não obstante as críticas, a ideia de violência estrutural continua como um importante referencial
nos EP e também em outras áreas do conhecimento. Para mais sobre os debates atuais na temática, ver
DILTS (2012), ALBRECHT (2008) e MULLEN (2015).
20

indivíduos e grupos. Entre as causas está a distribuição desigual de


bens materiais e chances educacionais.

Dentro desta perspectiva, o conflito não é restrito à guerra. Ele deve ser
compreendido como um triângulo de três vértices compreendidos pelas:
atitude/suposições (A), compreendidas pela percepção que as partes em tensão têm
umas das outras; comportamento (B), na qual pode haver uma hostil violência ou
conciliação, como também cooperação ou coerção e ameaça; e a contradição (C), sendo
esta a conjuntura estrutural do conflito que abrange a incompatibilidade dos objetivos
dos atores (cf. GALTUNG, 1996, p.70-73; RAMSBOTHAM et.al., 2005, p. 9-10).

Lidar com esse conflito significa lidar com os três tipos de violência acima
listados. Logo, o fim do comportamento violento significa o fim da violência direta. Já o
fim das contradições estruturais seria o mesmo que o fim da violência estrutural. Por
fim, a diminuição das tensões em termos de atitudes e suposições passa pela
compreensão da violência cultural. Não obstante, é importante ressaltar que o conflito é
natural e pode contribuir para o avanço da sociedade, embora o mesmo não
necessariamente se possa dizer quanto a violência.

Posto isto, a resolução de um conflito pode se dar tanto para parar um estado de
violência como para preveni-la. Embora seja um dos críticos mais bem fundamentados
do pensamento de Johan Galtung, o economista Kenneth Boulding afirma que as
explicações daquele estão entre uma das mais importantes contribuições sobre a teoria
do conflito. Para além da conceituação acima explanada, o pensador norueguês
pressupõe que haveria dois tipos de resolução de conflitos: associativa e dissociativa.
Como explica Boulding (1977, p. 82-83),

soluções associativas envolvem algum tipo de acordo, alguns deles


fundindo identidades das partes em conflito, talvez em alguma
estrutura ou organização hierarquicamente superior, para que o
conflito se funda por assim dizer na vontade geral maior. Soluções
dissociativas são aquelas que envolvem propriedades ou fronteiras,
boas cercas fazendo bons vizinhos, mantendo-os longe um do outro
(…). Galtung não rejeita as soluções dissociativas em princípio, mas
ele claramente tem uma forte parcialidade em favor das soluções
associativas.
21

Do que se analisa acima, logo se pode depreender que conflito não é nos EPP
necessariamente um sinônimo de guerra. Guerra é um tipo de violência dentre as muitas
que podem ser analisadas pelos EPP. É somente um vértice de um todo mais complexo,
que envolve atitudes e contradições a serem igualmente superadas. Por consequência,
conflito é algo mais amplo relacionado a dificuldade de conciliação de objetivos por
parte de dados atores.

Esta dificuldade de conciliação pode ser endereçada de diferentes maneiras. Ele


pode ser simplesmente gerenciado (conflict management), em que se pressupõe aqui tão
somente sua contenção ou assentamento (settlement). Uma outra maneira de lidar com o
conflito seria através de sua resolução (conflict resolution), uma terminologia mais
completa que pressupõe lidar com as fontes do conflito, implicando que o
comportamento não seja mais violento, atitudes não sejam mais hostis e a estrutura do
conflito mude (RAMSBOTHAM et.al., 2005, p. 29). Por fim, uma maneira mais ampla
e complexa de lidar com o conflito é a transformação do mesmo (conflict
transformation), entendido aqui como um passo além da resolução de conflitos que
implica uma mudança radical nas instituições e discursos que propagam a violência,
desembocando finalmente em um processo de reconciliação (RAMSBOTHAM et.al.,
2005, p.29). A completude de um processo de transformação de conflitos é resumido
por John Paul Lederach. Para ele,

a transformação de conflitos é precisa porque estou empenhado em


esforços de mudança construtiva que incluem, e vão além, da
resolução de problemas específicos. É uma linguagem cientificamente
sólida porque se baseia em duas realidades verificáveis: o conflito é
normal nas relações humanas e o conflito é um motor de mudança. A
transformação fornece uma visão clara e importante, porque traz em
foco o horizonte para o qual caminhamos - a construção de
relacionamentos e comunidades saudáveis, local e globalmente. Esse
objetivo exige uma mudança real em nossas formas atuais de
relacionamento (LEDERACH, 2014, p. 12)

Aprofundando sobre o tema em outra obra, John Paul Lederach argumenta em


“Building Peace” que construir a paz nos conflitos atuais demandam um
“comprometimento de longo prazo em estabelecer infraestrutura através de todos os
níveis da sociedade, uma infraestrutura que empodera os recursos para a reconciliação e
dentro da sociedade e maximiza a contribuição de fora” (LEDERACH, 1997, p. xvi).
22

Dentre estes níveis propostos por Lederach, pressupõe-se que a resolução e


transformação do conflito deve envolver os níveis locais, nível médio e os líderes
máximos de uma sociedade. Na base local, líderes das bases podem apoiar comissões
locais de paz. Líderes no meio desta estrutura social podem ter a responsabilidade de
servir de ponte entre as bases e as lideranças máximas, fazendo com que a resolução e
transformação do conflito envolva todos os níveis de uma sociedade assolada por um
conflito (RAMSBOTHAM et.al., 2005, p. 23-24).

Ao dialogar esses pressupostos sobre o conflito com o conceito de paz, pode-se


dizer uma atenção mais focalizada na paz negativa usualmente traz uma ênfase na
manutenção da paz (peacekeeping) ou restauração da paz. Já a ideia de paz negativa
pressupõe um foco na construção da paz (peacebuilding), com o estabelecimento de
estruturas sociais não exploratórias mesmo quando a guerra não é mais iminente. Logo,
em um contexto de conflito a paz negativa passa a ser um objetivo mais conservador, já
que a ideia é parar a violência direta mantendo as coisas iguais ou similares do que foi
antes do conflito, enquanto que a paz positiva é mais ativa e ampla ao implicar a criação
de algo que até então não existe (BARASH & WEBEL, 2008, p.8).

Um problema que permanece é a abstração da ideia de paz positiva e sua


aplicação em um contexto de conflito armado. Afinal como mensurar o quanto é
necessário de justiça social ou emancipação para dar fim ao conflito, por exemplo?
Dado que a plenitude da paz é em teoria um fim imensurável e difícil de ser alcançado,
como compreender se um conflito foi além da cessação da violência direta para também
caminhar rumo a superação das violências estrutural e cultural?

Considerações finais

Nas páginas anteriores, buscou-se dar um panorama de alguns conceitos centrais


para a compreensão dos EPP, assim como discutir o desenvolvimento histórico do
conceito de paz. Em um primeiro momento, vimos que a ideia de paz avançou
historicamente no Ocidente e no Oriente através de diferentes correntes, que vão desde a
conexão de paz com correntes religiosas até os debates proporcionados pelo Iluminismo
e o pensamento do Mohandas Gandhi.

Após um fluxo constante e frutífero de ideias e suposições acerca da paz, um


campo do conhecimento para o exame específico do tema surge no contexto de Guerra
23

Fria, na qual a tensão e o temor de outro conflito mundial preocupavam uma gama de
cientistas sociais ao redor do mundo. Dali surgem os pressupostos epistemológicos e
ontológicos, fortemente influenciados pelo pensamento de um dos fundadores do PRIO,
o sociólogo e matemático norueguês Johan Galtung. Suas ideias sobre o que é paz,
violência, conflito e guerra até hoje permeiam o debate dos EPP, sejam essas discussões
em concordância ou visando criticamente avançar com base nos construtos teórico-
conceituais consolidados. Esse debate continua em constante e frutífera evolução, como
se vê na obra recente de Peter Wallensteen (2015) ao buscar superar a abstração da ideia
de paz positiva e proporcionar parâmetros mais claros para compreender a paz após o
fim da violência direta em um conflito armado.

Cabe salientar aqui que este capítulo buscou dar apenas uma base geral de como
evoluiu a discussão sobre a paz e os conceitos elementares dos EP. Há outros tantos
debates neste campo que serão objeto de análise pormenorizada nas páginas posteriores,
tais como manutenção da paz (peacekeeping), imposição da paz (peace-enforcement),
construção da paz (peace-building), cultura de paz, educação para a paz e operações de
paz – somente para citar alguns dos temas importantes que são objeto de estudo na área
e nesta obra.

Vale citar aqui para reflexão final as palavras de Kenneth Boulding sobre a
importância dos EPP. Este importante economista e pioneiro no campo, fundador do
Journal of Conflict Resolution e crítico de Johan Galtung – embora ambos mantivessem
um diálogo de respeito e admiração mútua até o passamento de Boulding em 1993 –,
resume o quão importante é conhecer as bases do campo para o avanço da
transformação social através das ciências sociais:

O que Galtung tentou fazer com os conceitos de violência estrutural e


paz positiva foi expandir o conceito de pesquisa para a paz dentro de
uma ciência normativa geral. Em princípio isto me parece uma
contribuição muito importante e poderia bem ser que um dos mais
importantes frutos do movimento de pesquisa para a paz seja
precisamente sua expansão dentro de um movimento geral de ciência
normativa, o que trataria em si não somente da paz e da guerra, ou
mesmo da violência, mas com todas as mazelas que afligem a raça
humana, e que envolvem uma maneira ordenada de pensar sobre essas
coisas na esperança de uma intervenção normativa com maior sucesso.
Muitos danos têm sido feitos com a motivação de se fazer o bem e
está claro que uma boa ciência normativa é algo da mais alta
prioridade. Dentro disto, o estudo da paz e da guerra no sistema
internacional, e o problema mais amplo da violência pessoal e de
grupo, formam importantes subsistemas (BOULDING, 1977, p. 85).
24

São justamente esses subsistemas levantados por Boulding (1977) que esta obra
tenta explorar, em uma tentativa de fornecer para a academia brasileira uma base
conceitual e teórica para os EPP permeada com estudos de caso de relevância para este
campo do conhecimento. Diante de uma simplificação da realidade dos conflitos, muitas
vezes enxergados puramente pelos laços do Estado, ampliar o escopo de análise e trazer
a violência como objeto analítico se torna uma tarefa da mais alta importância.

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