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Estados Unidos1
1. INTRODUÇÃO
Para a dinastia Kim, que governa a porção Norte da península coreana há três
gerações, o discurso apresentado há décadas é muito interessante, pois ajuda a
manutenção de poder, além de manter a população sob a retórica anti-americana na
propaganda de Estado. Para os Estados Unidos, a retórica mantém parcerias estratégicas
no Pacífico e o faz presente em uma balança de poder cada vez mais tensionada por
hostilidades entre China e Japão.
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Trabalho apresentado no Eixo Temático 6 da X Semana de Pesquisa e Extensão e V Semana de Ciências
Sociais da UEMG/Barbacena.
2
Graduado em Comunicação Social/Jornalismo, pela UFSJ. Mestrando em Relações Internacionais pela
PUC Minas. Professor do curso de Comunicação Social (Publicidade e Propaganda), da Universidade
Presidente Antônio Carlos (UNIPAC). Vencedor do 3º Prêmio José Marques de Melo de Estímulo de
Memória à Mídia, email: [email protected] / Twitter: @RicardoMRios
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A Guerra da Coreia aconteceu de 1950 a 1953, tendo como protagonistas os Estados Unidos e a União
Soviética, que dividiram o país em dois Estados: o Sul capitalista e o Norte socialista. A Guerra foi
suspensa após um armistício em 1953. A ONU registrou 118.515 mortos, mas acredita-se que mais de 1
milhão de pessoas morreram durante os anos de conflito.
Nesta rápida reflexão conjuntural, é possível observar que os dois lados do
conflito possuem vantagens em manter o discurso da ameaça. Porém, mesmo com essas
vantagens, será que Coreia do Norte e Estados Unidos possuem tantas diferenças que
precisam ser resolvidas em um conflito armado, e não por meios diplomáticos?
Por isso, este trabalho debruça-se sobre as teorias mediadoras das políticas
externas dos dois Estados: a Ideologia Juche, na Coreia do Norte, e o Realismo, em sua
forma ofensiva, como defendida por Mearsheimer, nos Estados Unidos.
2. IDEOLOGIA E IDENTIDADE
3. A IDEOLOGIA JUCHE
A Ideologia Juche é a variante criada pelo Estado norte-coreano ao stalinismo
predominante na União Soviética durante o governo de Josef Stalin, que durou 30 anos
(de 1922 a 1952). Criada por Kim Il-sung, que governou o país até sua morte, em 1994,
mas que se mantém presidente eterno até os dias de hoje, as ideias da Juche foram
compiladas por seu filho, Kim Jong-il, em um livro chamado “Sobre a Ideia Juche”, em
1982.
Para que haja zazusong dentro da esfera ideológica, as pessoas devem “opor-se a
subserviência às grandes potências e outra ideologia ultrapassada”. Segundo Kim (p.
39-40), é possível realizar uma revolução mundial com base na Juche, caso ela seja
implantada em cada país, combinada com as ideias da classe operária. Para a
implantação perfeita, é necessário que as pessoas conheçam a história, geografia e
cultura do país. Só com essa identificação patriótica será possível implantar o Juche na
sociedade.
Já na esfera política, Kim Il-sung – chamado por toda a obra de seu filho como
“o Líder” – preconizou que o zazusong político é a primeira forma de existência de um
Estado soberano e independente. Kim observa que (p. 44) para obter esse zazusong
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Apesar do controle do PTC, o país possui outros dois partidos políticos: o Partido Social-Democrático
Coreano e o Partido Cheondoísta Chongu, ligado à religião cheondoísta.
dentro da política é necessário estabelecer o poder popular pelas massas e classe
operária. A obtenção do zazusong político passa, necessariamente, por um contrato
social entre o povo e seu líder. É neste momento que a Ideologia Juche fala sobre a
necessidade de um líder totalitário, que concentre o poder do Estado:
Em relação ao plano da defesa nacional, a Juche diz que o país que não possui
forças armadas com plenas capacidades de defesa para se defender de inimigos internos
e externos não pode considerar-se completamente soberano e independente. Kim pontua
que (p. 52) o imperialismo é o foco principal da guerra norte-coreana e que os Estados
Unidos (ou imperialismo ianque, como colocado pelo autor) são a principal força
imperialista. Segundo o autor, Kim Il-sung não deseja a guerra, mas que não a teme.
O autor também coloca que as forças armadas norte-coreanas devem ter em suas
linhas filhos e filhas do povo trabalhador. Para ele (p. 53-54), só assim é possível obter
unidade do Exército com o povo. A Ideologia Juche também prevê não só modernização
dos aparelhos e quadros do Exército, mas também o armamento de toda a população,
para “aniquilar com prontidão até o último dos inimigos que ataque” o país. A Juche
cria condições para a construção de uma indústria bélica nacional.
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Pacto de Varsóvia foi uma aliança militar feita entre os países do bloco Comunista durante a Guerra
Fria. O Pacto funcionava como contraponto à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
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Disponível em: <http://www.adherents.com/Religions_By_Adherents.html>.
o Sistema Internacional; (II) grandes potências 7 possuem forte capacidade militar para
atacar outros países; (III) Estados nunca podem ter certeza sobre as intenções de outros;
(IV) a sobrevivência é o principal objetivo; (V) grandes potências são atores racionais.
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Para os realistas ofensivos, grandes potências são aqueles Estados que possuem meios militares que
ofereçam resistência séria em uma guerra convencional total contra o Estado mais forte do Sistema
Internacional.
em Estados rivais. O medo pode ser provocado por Estados que possuem forças
nucleares, além de países que são separados por grandes massas de água entre eles. A
distribuição relativa de poder também pode influenciar os níveis de medo. Isso cria
competição por segurança e abre possibilidade de uma guerra.
E é nesse contexto que a retórica dos Estados Unidos entra em ação. Como a
Coreia do Norte pode prejudicar uma série de regiões com um ataque nuclear, os
Estados Unidos respondem, seja com atividades militares na península coreana ou por
meio de propostas de sanções (econômicas e/ou humanitárias). Apesar da tensão, é
importante observar que ataques militares não são feitos, já que existe a questão do
medo provocado pelo material atômico, como o Realismo Ofensivo coloca.
Bush não tinha o menor interesse em manter contato [com a Coreia do Norte].
Por quê? Tive uma espécie de resposta após um debate público sobre a Guerra
do Iraque em Berlim, em 2003. Minha oponente era Ruth Wedgwood, de Yale,
conselheira de Donald Rumsfeld. No almoço, perguntei-lhe quais eram seus
planos para a Coreia do Norte. Mostrou-se conclusiva. “Você não viu o brilho
nos olhos dos militares da Coreia do Sul?”, disse ela. “Estão loucos para tomar
posse do arsenal nuclear da Coreia do Norte. Isso é inaceitável.” Por quê?
“Porque se uma Coreia unificada se tornar uma potência nuclear, será
impossível impedir que o Japão também se torne uma potência nuclear, e se
tivermos a China, o Japão e uma Coreia unificada como Estados nucleares, a
correlação de forças vai mudar de maneira desfavorável para nós”. Obama
parece concordar com essa maneira de pensar. (ALI, 2012)
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Já no caso dos Estados Unidos, o medo que a Coreia do Norte coloca na Ásia é
benéfico para que o país se coloque como hegêmona regional e fator de equilíbrio na
balança de poder asiática, já abalada com o aumento das hostilidades entre China e
Japão. A retórica bélica americana não pode ser diminuída para que não haja uma
mudança na balança de poder.
É importante ressaltar que este trabalho não analisou os motivos que levaram à
manutenção e ao recente aumento da retórica bélica, mas focou-se apenas às teorias
regentes das políticas externas dos Estados supracitados.
Espera-se que este trabalho possa contribuir com mais discussões acerca do
movimento diplomático entre Coreia do Norte e Estados Unidos e do uso da ideologia
na formação de políticas estatais.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALI, Tariq. No país do grande e amado Peterson. São Paulo: Revista Piauí, 2012.
ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas: reflexões sobre a origem e a
difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
EAGLETON, Terry. Ideologia: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
FIGUEIREDO, Ivan Vasconcelos. Imaginários Sociodiscursivos Sobre a Surdez:
Análise Contrastiva de Discursos do Jornal Visual a Partir da Produção e da Recepção.
Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2013.
GUILBERT, Thierry. Le discours idéologique ou la force de l’evidence. Paris:
L’Harmattan, 2007.
KIM, Jong-il. Sobre la Idea Zuche. Pyongyang (Coreia do Norte): Ediciones en
Lenguas Extranjeras, 1982.
MEARSHEIMER, John. The Tragedy of Great Power Politics. Nova York (EUA):
Norton, 2001.
O ESTADO DE SÃO PAULO. Guerra da Coreia. Disponível em:
<http://acervo.estadao.com.br/noticias/topicos,guerra-da-coreia,878,0.htm>. Acesso em:
11 jan. 2016.
RAMOS, Leonardo. Realismo Ofensivo. Belo Horizonte: PUC Minas, 2011.
ZAHREDDINE, Danny. Realismo Ofensivo. Belo Horizonte: PUC Minas, 2015.
WILLIAMSON, Kevin. O livro politicamente incorreto da esquerda e do
socialismo. Rio de Janeiro: Agir, 2013.