As Meninas Rejeitadas Do CEO Libertino - J Munyz
As Meninas Rejeitadas Do CEO Libertino - J Munyz
As Meninas Rejeitadas Do CEO Libertino - J Munyz
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimento descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com fatos reais é
mera coincidência.
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
EPÍLOGO
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SINOPSE
Ela é feia, ou ao menos se esforça para ser.
Ele adora o belo e vive rodeado de lindas mulheres.
Ela se empenha para parecer invisível ao seu chefe.
Ele jurou jamais se envolver com uma secretária novamente.
Para mim é uma surpresa esta intimação para fazer hora extra, bem
como o comportamento tão fora de padrão do meu chefe, mas é como escuto
por aí: se ele paga bem, que mal tem?
Até porque não existia encontro nenhum, o mais perto de sexo que eu
passaria seria se eu decidisse me masturbar pensando no meu chefe. Mais
uma vez. Aí o sexo aconteceria e eu gozaria, pensando nele. No seu corpo
musculoso e gostoso que a roupa não consegue esconder, na sua voz grossa e
em todo o charme que exala de Alex pelo simples fato dele existir.
Porra, estou fodida! Fodida e muito mal paga!
Na hora lembro que minha situação é o inverso deste meu pensamento:
não estou fodida, embora esteja muito bem paga.
E rio. Do meu infortúnio. Da minha situação.
De desespero e até mesmo de conformação.
Por saber que esta pessoa que Alex conhece sequer teria chance, e a
minha verdadeira versão seria apenas mais uma na cama do CEO libertino
da Suprema Essence.
E para mim somente resta tentar colocar minha cabeça no lugar, tentar
tirar de mim este sentimento que nasceu sem qualquer consentimento e nem
possibilidade de ser retribuído.
Resta a mim esconder dele esta minha fraqueza e tentar a todo custo
exterminar de mim este sentimento inaceitável. Inviável. Impossível.
E talvez a solução seja esta, ou este seja o caminho que tenho que
seguir.
Aceitar os convites que recebo, substituir os paus de borrachas e dedos
por uma foda de verdade, com um homem que saiba o que fazer para levar
uma mulher ao paraíso.
Pois não posso seguir assim somente desejando, somente querendo e
me privando de viver.
Logo eu que de santa não tenho nada, e na verdade nunca tive.
Que tenho desejos como qualquer pessoa saudável e sempre os tive.
Talvez o fato de estar reprimindo-os é o que está me levando a imaginar
coisas, sentimentos e emoções.
Talvez uma noite de sexo suado resolva a minha situação. Quem sabe
não me faça perceber que as coisas não são como estou pensando e que não
estou tão fodida como fico imaginando.
E se no final os sentimentos se recusarem a me abandonar e se
realmente perceber que o que sinto por Alex é realmente isso que estou
supondo, resta a mim tentar esquecê-lo em outros corpos, em outras camas.
Pois não vou ficar chorando pelo leite derramado e nem vou ficar me
maldizendo da minha sorte.
A de gostar de alguém que não quer este sentimento. A de gostar de
alguém que jamais me olharia com segundas intenções.
CAPÍTULO 06
Não sou uma mulher de perder oportunidades e nem de chorar pelo leite
derramado.
Claro que usei este disfarce porque não queria que as coisas chegassem
até aqui, não queria ser assediada pela minha aparência como fui no meu
emprego anterior. Mas percebi, muito pouco tempo depois que comecei a
trabalhar na Suprema Essence, que Alex não é um canalha como o meu
antigo chefe. Ele gosta de sexo. Suas tardes trancafiado com uma infinidade
de modelos comprova isso, mas sempre de forma consensual. Seu caráter é
algo que me chamou a atenção, seu respeito também. Jamais me senti
ultrajada em sua presença.
E talvez isso foi apenas mais uma qualidade sua que me conquistou.
Talvez foi apenas mais uma característica de sua personalidade que me
transformou nisso: alguém apaixonada, louca para ser fodida. Sem falar na
sua aparência que é um ponto fora da curva, que certamente é a cereja do
bolo.
E por isso ter sua língua na minha mexe com tudo dentro de mim. Faz
de mim uma massa disforme. Que geme, que grunhe, que morde.
Poderia colocar a culpa no álcool, na verdade até quero que ele imagine
isso, mas não é a verdade.
Quem eu quero enganar? Estou louca pelo homem, masturbo-me
pensando nele mais do que é minimamente saudável para alguém que
deveria ter uma vida sexual ativa, como eu tinha antes de me ver
enlouquecida por este libertino.
E esta minha loucura somente aumenta com a intensidade do beijo,
somente aumenta ao sentir seu pau duro entre as minhas pernas.
Aproveito minha posição e dito o ritmo, esfregando-me, buscando o
atrito que tanto preciso.
Alex também parece precisar de contato, começa a tentar tirar meu
vestido.
Felizmente deixei o ambiente na penumbra, não quero que ele descubra
que sou uma fraude.
— Cecília, preciso de ajuda!
Para ele ver como eu sofro com todo o peso deste vestido! Deveria era
ganhar ainda mais, isso sim!
Mas não digo nada, apenas saio do seu colo. Começo então a tirar o
vestido, com sensualidade, como se eu tivesse todo o tempo do mundo.
Vejo ele estreitar os olhos, sei que não quer perder nenhum detalhe. Ele
que lute para tentar ter certeza de minhas formas, eu apenas vou fazer o que
sei fazer de melhor: enlouquecer um homem e fazer com que ele tenha um
orgasmo inesquecível.
Viro de costas e sei que mesmo a pouca claridade vai ser capaz de
entregar o fio dental que adorna minha bunda. O uso dessas lingeries é o que
garante a satisfação do meu lado sexy e ousado. É o que deixa minha
autoestima em dias mesmo tendo ciência da imagem que estou passando.
E ele não resiste. Alex não espera que eu volte para o seu colo.
Ele vem até mim. Pronto, louco de tesão.
Sinto isso quando ele se esfrega despudoradamente na minha bunda,
quando ele passeia as mãos desesperadamente em busca do fecho do sutiã.
— Puta que pariu!
Ele diz tão logo tem meus seios em suas mãos. Tão logo massageia-os
enquanto continua a moer e me apertar contra si.
Mas eu não seria eu se apenas aguardasse o próximo passo. Gosto de
participar e, por vezes, ditar como as coisas serão.
Então me afasto e tiro a calcinha, a última coisa que me cobre. Tenho
vontade de tirar os óculos e desfazer o coque, mas sei que depois deste
momento, mais do que nunca preciso continuar com o meu disfarce.
Quando estou totalmente nua, vou rebolando até a mesa. Sei que ele
olha, sei que parece admirado com toda a minha desenvoltura.
Subo na mesa e o encaro. Vejo-o se aproximar, deixando peças de roupa
pelo caminho.
Como não sou flor que se cheire, decido apressar um pouco mais as
coisas entre nós. Ergo uma perna e coloco na beirada da mesa, deixando
minha vagina totalmente exposta. Levo meus dedos até o meu clitóris e o
acaricio da forma que gosto.
Ele parece vidrado com a cena. Resolvo provocar mais.
— Será que novamente vou precisar usar meus dedos para me aliviar?
E acelero o ritmo. Chego a fechar os olhos porque as sensações são
demais para mim.
Demora poucos segundos e sinto ele entre as minhas pernas.
— Hoje serei eu a lhe dar prazer!
O tom enrouquecido expressando comando, mas também necessidade.
E substitui meus dedos pelos dele. E tudo fica melhor, muito melhor.
E o gemido é impossível de ser contido. Alto, desinibido.
Isso o faz acelerar os movimentos. Introduzir os dedos apressadamente
em meu canal.
E tomo sua boca e domino o beijo. Assim como estou dominada,
subjugada ao toque experiente de sua mão, também quero o poder de
proporcionar a ele o máximo de prazer possível.
Sinto seu membro pulsando rente à minha perna. Tão pronto que é um
desperdício não estar dentro de mim.
Mas não vou pedir e nem suplicar, como é a minha vontade. Vou deixá-
lo insano de necessidade de me penetrar. Vou deixá-lo no limite, se possível
quero ouvi-lo implorar.
Levo então uma mão até seu pau, massageio a glande e espalho a
lubrificação em toda a sua extensão. Grossa. Enorme.
Ele parece perder o compasso do beijo. Dos dedos.
Por um instante apenas aproveita a atenção que estou lhe dando. Por um
instante grunhe como um animal desejoso.
E acelero os movimentos, pareço encontrar a forma e a pressão que
Alex gosta.
E chupo com volúpia a sua língua. O beijo tornando-se profano, quase
obsceno.
Tá gostoso demais. Estamos ambos úmidos demais.
E os suspiros, gemidos e toques parecem demais para mim. Parecem
também demais para ele.
Tenho urgência em tê-lo enterrado em mim. Alex também parece ter
urgência em se enterrar dentro de mim.
Tenho certeza disso quando escuto a voz rouca, quando escuto as
palavras desejosas:
— Não aguento mais! Preciso estar dentro de você!
CAPÍTULO 08
Claro que Cecília é profissional, ela sempre é. Anota tudo, faz algum
comentário quando solicitada e é atenta a qualquer necessidade dos
participantes da reunião, embora para mim hoje ela pareça ansiosa,
aparentemente não vê a hora de terminar o expediente.
E isso me faz suspeitar do motivo, me faz ter certeza de que tem a ver
com o telefonema que escutei.
— Acho que nunca tivemos lucros tão bons nesta época do ano. Mesmo
sem qualquer data comemorativa no radar e com a economia pouco
aquecida, o sucesso de vendas da Suprema Essence é algo a ser
comemorado.
Diz Renato, um diretor que na grande maioria das vezes é contido e até
mesmo pessimista com as previsões apresentadas.
E claro que fico admirado e talvez Caio também. Quem sabe não foi
essa surpresa que o levou a dizer:
— Acho mais do que merecido que todo nosso esforço e dedicação
sejam comemorados. Que nosso sucesso seja brindado.
Faz uma pausa, mas logo continua:
— Nada mais do que justo que todos aqui, incluindo as secretárias,
comemorem. Conheço um local ideal para celebrarmos os excelentes
números alcançados neste trimestre.
Um a um os presentes vão concordando, animados. Inclusive a
secretária de Caio, que sei ser amiga de Cecília.
Minha secretária não se manifesta, embora neste momento saiba que a
loira não me terá esta noite. Irei confraternizar com minha equipe e ficar de
olho em Cecília.
— E então, Cecília, topa?
Apenas faltava nós dois respondermos.
— Infelizmente, senhor Caio, não poderei ir.
Na hora me sobe uma ira, uma raiva. Por saber o motivo da negativa.
Por saber que outro poderá vir a ter aquilo que ainda não esqueci e que, se
for sincero comigo mesmo, estou longe de esquecer.
Uma gana me toma, a vontade de sair com os colegas de trabalho
desaparece instantaneamente.
— Ora, Cecília, hoje é sexta-feira, não vejo mal algum em
comemorarmos os bons ventos que estão soprando para a Suprema Essence.
— Eu gostaria muito de ir, mas tenho...
— Cecília tem que fazer hora extra. Na verdade nós dois temos.
Olho para ela e vejo seu olhar me fulminar. Que está a um passo de me
desmentir.
Sei que o que assegura que não retruque é a minha condição aqui
dentro, é o fato de estar sentado na cabeceira.
Sei que não agi de forma correta e que minha atitude foi mais que
injustificável, mas era isso ou aceitar que ela negasse o convite de Caio para
ir ao encontro daquele que estava com ela ao telefone.
E mesmo não sabendo por que para mim isso parecia tão inaceitável,
deu-me algum alívio ter inventado essa desculpa esfarrapada, repetida e
mentirosa.
Embora não tenha coragem de enfrentar seu olhar, embora tema ser
morto apenas pela ira que sei que ela está sentindo.
— Ah não, Alex, já não basta vocês trabalharem todos os dias da
semana e muitas noites também, você ainda arruma trabalho no final do
expediente de uma sexta-feira? Vai ser viciado em trabalho assim lá na
China!
Muitos riem, alguns soltam piadinhas, pois o clima é leve, o sucesso da
empresa dá margem para isso e muito mais.
A única que parece insatisfeita e desgostosa com tudo isso é Cecília.
Eu, mesmo temendo ser esfolado vivo quando estiver sozinho com ela, estou
mais do que radiante por ter inventado essa história. E para dar veracidade à
minha mentira, digo com a voz desgostosa:
— Claro que preferiria relaxar e comemorar junto com vocês o
momento que estamos vivendo, mas com a abertura das vinte novas filiais
espalhadas pelo Brasil, todo tempo que trabalhamos tem se mostrado
insuficiente.
Soo convincente. Até eu mesmo quase acredito no que disse.
Cecília então desiste de tentar me matar com o olhar, pois afasta os
olhos da minha pessoa, embora a raiva com que arruma suas coisas apenas
faça com que tema pela minha integridade.
E todos sabem que minha decisão é definitiva, até ela sabe que não
voltarei atrás.
Então, um a um todos começam a se levantar. Animados com a
perspectiva de saírem, de comemorarem. Cecília apenas se levanta, sem
sequer me dirigir qualquer olhar.
Ela segue para a saída da sala de reunião. Pisando duro por ter que
permanecer aqui ainda por algum tempo.
Quando fico sozinho tento entender o porquê de tudo isso. Entender por
que o encontro com a loira foi pro brejo.
Minha mente é rápida, afiada. Certeira.
E a resposta vem.
Porque você ainda deseja Cecília. Porque você não consegue tirar da
sua mente o que aconteceu entre vocês.
E não tento negar, ou fingir que não estou doido para tê-la novamente.
Não tento inventar qualquer outra desculpa para as minhas ações.
Embora tenha passado a semana em negação. Embora desconfie que
nada ocorrerá esta noite.
Pois não tenho jantar encomendado e muito menos vinho. Somente
tenho uma mulher chateada e que certamente me fará pagar por tudo que
aprontei.
Não do jeito que anseio e que desejo, mas do jeito que a mente sagaz e
maquiavélica de Cecília é capaz.
E por isso não tenho pressa alguma em deixar a sala, muito embora
saiba que não tenho mais como adiar o confronto.
Então sigo lentamente para o meu calvário, em direção à mulher que
mexeu comigo de uma forma improvável, surreal.
Pois não lembro de já ter me sentido assim depois de uma transa
qualquer, depois de um mero momento entre um homem e uma mulher.
CAPÍTULO 11
Sei que poderia ter agido diferente, mas depois da emoção em relatar
tudo o que vivi, estava fragilizada, machucada e certamente ele não teve tato
algum no pedido, não teve a mínima sensibilidade em insinuar sobre a minha
aparência.
Além é claro que tudo ainda estava potencializado pelas sensações
causadas pelo orgasmo, e o fato de sequer ter lembrado da proteção foi
apenas algo para foder com o resto da minha paciência, ou racionalidade.
E tudo isso culminou com as farpas que soltei, com a brusquidão com
que deixei a sala. E, pensando nisso enquanto viro de um lado para o outro
na cama, somente agradeço por ser tão passional. Ter cedido agora apenas
lhe daria ainda mais poder sobre mim. Mostrar-me como realmente sou
talvez apenas criaria boatos e especulações sobre a forma como nos
mantemos juntos e como ficamos além do nosso horário de trabalho.
Infelizmente as pessoas valorizam demais a estética e colocam
indivíduos que não condizem com que é rotulado como belo, em outro
patamar. Não esperam que pessoas fora dos ditos “padrões” seduzam ou até
mesmo despertem interesse. São competentes, amigas, mas não são capazes
de serem vistas, de serem amadas.
O que elas diriam se soubessem que o CEO que desfila ao lado de
lindas modelos, despiu uma feia? Transou, gostou e repetiu a dose?
Infelizmente isso é algo que ninguém jamais saberá.
Estou muito bem protegida de comentários machistas, livre de cantadas
de homens que apenas visam a aparência, além de muito confortável com o
estilo que adotei desde o meu primeiro dia na Suprema Essence. Então não
há motivos para abdicar deste dito estilo.
Pior para Alex Valentin, que não terá sua vontade satisfeita.
Acho que na cabeça dele eu abandonar o meu disfarce, como ele bem
compreendeu que era, talvez justificaria o tesão que sente, talvez
apaziguasse os conflitos que tenho certeza se instalaram depois que transou
comigo.
É uma pena para ele que seus conflitos não me interessam, que não
tenho vontade alguma de saná-los.
A única coisa que me importa, neste instante, é estar bem comigo
mesma, à vontade em meu ambiente de trabalho e ser vista e valorizada pela
pessoa que sou e pelo que posso contribuir na função que ocupo.
— Cecília, preciso conversar algo com você. Venha comigo até a minha
sala.
Alex diz, tão logo sai do elevador.
Já imagino sobre o que se trata, pois a inspeção que fez nas minhas
roupas, confirmando que não mudei um milímetro na forma como ele
sempre me viu, confirma que a conversa tem a ver com o que sugeriu na
sexta-feira.
Tive o final de semana para pensar e minhas intenções e convicções em
nada mudaram. E não há nada que ele tenha a me falar que altere este meu
ponto de vista.
Mas como Alex é o chefe e eu uma reles mortal, apenas obedeço. Muito
embora o dele esteja guardado, caso ele ouse questionar a forma como me
visto para trabalhar.
Ele senta em sua cadeira e aponta para uma poltrona em frente a sua
mesa. Sento-me e espero o que está por vir.
— Desculpe, eu não tinha nada que me meter na sua vida.
Não esperava. Juro.
Esperava conselhos, opiniões e até mesmo sessões de psicologia e
psicanálise. Tudo, menos as palavras que ouvi.
E certamente a minha cara de surpresa e a perda momentânea da minha
voz, faz com que ele continue:
— Cecília, se você estiver de bem com você mesma, é o que importa.
Percebi que está muito longe da minha alçada definir ou determinar sobre
sua aparência e suas roupas.
Sensibilidade nunca foi o forte dele e muito menos delicadeza. Foi
picado por algum inseto, mas não tenho nada a ver com isso.
— Alex, também peço desculpas pela reação que tive, mas realmente
não fiquei feliz com a forma com que se meteu, como quis ditar sobre este
tema. Na verdade isso é algo irrelevante para a função que ocupo e o que
menos quero e, para ser sincera, jamais vi foi um chefe querer determinar tão
diretamente a forma como uma funcionária se apresentará no dia a dia da
empresa.
Ele apenas assente e parece que estamos entendidos.
Como sei que fui chamada apenas para acertar os ponteiros sobre o que
aconteceu na sexta, fico de pé, pronta para ir para o meu canto.
Mas infelizmente a curiosidade é maior e, mesmo sabendo que estamos
resolvidos e que poderia me retirar, um diabinho perturba no meu ouvido e
me faz indagar:
— Alex, se não tivéssemos transado, você teria pedido para que eu
mudasse a forma como me visto?
Direta. Algo me diz que ele se sente incomodado por ter desejado
alguém tão diferente dos padrões a que está habituado.
Ele também fica em pé. E enquanto parece pensar numa resposta, se
posiciona de frente para mim, encostando o corpo em sua mesa de trabalho.
— Cecília, se não tivéssemos transado, eu jamais desconfiaria do corpo
que você esconde, do cabelo que você...
— Não foi isso que perguntei!
Rapidamente o corto. Ele tenta ser racional, mas não é isso que
realmente quero saber.
Decido então perguntar diretamente, sem meias-palavras.
— Você teria pedido que eu mudasse a maneira como me visto se nada
tivesse ocorrido entre nós, ou seu pedido se deu como forma de justificar
internamente seu desejo por alguém tão distante dos padrões?
— Quê?
Ele parece surpreso com minha pergunta.
— Você se sente incomodado por ter desejado uma mulher feia? Por
isso pediu para que eu mudasse minha roupa, meu cabelo?
Mal termino a sentença e logo ele se encontra colado em mim.
Surpreendentemente, em pleno horário de trabalho, e isso não é o que mais
me causa espanto.
Duro. Inegavelmente duro.
— Pelo estado que estou, pelo estado em que me encontro, você
acredita mesmo que eu me incomodo com a porra da roupa que você veste?
E não tenho tempo de responder, pois ele toma a minha boca. Num
beijo ansioso, urgente.
E na mesma hora todo e qualquer questionamento desaparece da minha
mente, pois neste instante parece que somente sei chupar e beijar.
Somente sei ceder e me entregar.
Mesmo que eu não deva, que não seja o correto a se fazer.
CAPÍTULO 16
Só posso estar louca, isso sim. Não tem nenhuma outra explicação que
justifique o meu comportamento.
Porra, eu aceitei ter um caso com Alex. Aceitei cometer os mesmos
deslizes que venho cometendo.
Em minha defesa tem o fato dele ser gostoso demais, e de mexer
comigo mais do que é humanamente recomendável.
E pensar que comecei com este disfarce para evitar ser cantada, ou
constrangida e assediada como fui no meu emprego anterior. Que inventei
este circo para não ter que mais uma vez deixar um emprego do qual tiro o
meu sustento.
Só não imaginaria que Alex mexeria comigo. Demais.
Contra todas as probabilidades, meu chefe mexe comigo e não apenas
fisicamente.
Infelizmente ele mexe com minhas emoções, domina os meus
pensamentos e me faz tomar atitudes que, em gozo das minhas perfeitas
faculdades mentais, jamais tomaria.
Mas o sexo entre nós foi bom demais para que eu conseguisse abrir
mão. O que sinto por ele é intenso demais para que eu conseguisse resistir.
E mesmo sabendo que serei eu a única a sofrer quando todo o desejo
dele cessar, aceitei. Mesmo sabendo que terei meu coração esmagado
quando esse acordo findar, concordei.
Mas não deixei barato. Não me submeterei. Ditei minhas regras, impus
condições.
Ele me terá, mas será da minha maneira, pois apesar de não poder tê-lo
da forma como meu coração almeja, ele somente transará comigo se parar de
foder aquele monte de modelos bem debaixo do meu nariz.
Infelizmente não posso exigir fidelidade, nem tampouco prometerei,
pois não é algo nem minimamente desejado pelo poderoso e cafajeste CEO.
Mas podarei suas asas, farei com que ele tenha a decência de ter o mínimo
de decoro, se ele quiser realmente terminar o dia entre minhas pernas.
— Cara, se eu não soubesse dos teus gostos, diria que está pegando a
feiosa!
Mal a Cecília deixou a sala e Caio apareceu. Realmente ela está certa.
Mesmo com o prédio quase vazio, o risco sempre existe.
E já chegou enchendo o saco, pois vira e mexe é sempre o mesmo
assunto. Acredito que meu sumiço está contribuindo para que ele comece a
somar dois mais dois. Não ajuda também todo o tempo que Cecília e eu
passamos juntos no escritório.
— Nunca fez tanta hora extra, nunca esteve tão ausente da balada. Para
falar a verdade, estou começando a ficar com uma pulga atrás da orelha.
Infelizmente estou numa tara tão grande pelo corpo de Cecília que
sequer tenho procurado outras. Porra, a mulher está ao meu lado o dia todo,
é gostosa pra caralho e tem me deixado bem satisfeito, por isso não vejo
motivos nenhum para procurar fora o que tenho aqui dentro. E da melhor
qualidade, diga-se de passagem.
O jeito é mentir, fingir. É desacreditar suas suspeitas. E nada melhor do
que uma risada debochada, juntamente com uma pitada de escárnio.
Por isso rio, alto. Interpretando o papel do grande cafajeste que sou,
certamente tendo a reação que teria, há um tempo atrás, se alguém associasse
meu nome ao de Cecília.
— Porra, só você pra me fazer rir!
E continuo, forçadamente. E sei que preciso ir além, pois daqui a pouco
este meu projeto de gargalhada apenas confirmará as suspeitas de Caio.
— Tá me desconhecendo? Gosto de loira, gostosa e quanto mais nua
melhor.
Ele ainda traz na expressão desconfiança e resolvo caprichar mais.
— Você não acha que eu ficaria com alguém tão feia como a Cecília,
acha? Com aquelas roupas horrendas, aqueles óculos que a deixam ainda
mais estranha, além daquele penteado da época da minha avó e que me dá
dor de cabeça só de pensar. Somente ficaria com alguém como ela por
piedade, aposta ou promessa.
Olho-o com um falso sorriso no rosto, querendo que ele acredite e que
consiga mudar de assunto.
— Cara, pois juro que não estou entendendo...
Vejo que ele ainda não está totalmente convencido, então resolvo
mentir um pouco mais.
— Na verdade estou pegando uma modelo argentina. Lindíssima, de
parar o trânsito. E antes que você pergunte por que não a conheceu,
respondo que não queria perder um segundo de tempo, pois infelizmente sua
permanência no país é questão de dias e já bastava o tempo que perdia por
ficar aqui além do horário.
— E onde você está pegando essa tal argentina? Com certeza ninguém
os viu juntos, pois nenhum dos caras comentou nada comigo, muito pelo
contrário, eles, assim como eu, estão encucados com o seu sumiço.
— Ora, na minha casa!
— Na sua casa?
Ele parece um idiota repetindo o que disse. Dou um desconto, pois sei
que isso se deve a surpresa de eu jamais ter levado ninguém para os meus
domínios.
— Sim, lá mesmo. Ela é diferente das mulheres com quem já saí e
queria descobrir até onde esse lance gostoso nos levaria. Por isso optei pela
privacidade e conforto, optei para que as coisas entre nós acontecessem de
forma discreta e reservada. A pegada entre nós está gostosa demais e quis
proporcionar a ela essa deferência. Além do mais tenho alguns motivos para
deixar esse caso em segredo.
— Que seriam?
Talvez tenha sido bom criar esta história fictícia, assim poderei
continuar com a rotina que venho tendo com Cecília sem precisar me
preocupar com possíveis desconfianças. Bem como poderei me manter
afastado sem ter que justificar minha ausência das curtições e farras das
quais jamais tinha aberto mão antes.
Mas sou impedido de continuar meu teatro, pois quando penso em
prosseguir discorrendo sobre essas mentiras deslavadas que saem da minha
boca, ouço um barulho que na hora me faz temer descobrir de que se trata.
Receio descobrir que Cecília esteja por perto.
Temeroso me desloco em direção à porta do escritório. Receando ter
minhas suspeitas confirmadas.
Chego a tempo de descobrir que o barulho que escutei veio realmente
de Cecília.
Sinto-me mal. Ansioso, atemorizado.
Querendo saber o quanto ela escutou. Querendo saber o quão fodido
posso estar.
E quando ela se vira ao entrar no elevador, sei que estou muito, bastante
fodido.
Vejo dor, raiva e porque não decepção.
Não sei se por causa do envolvimento fictício que tão idiotamente me
atribuí, ou se ela escutou quando eu babacamente a desmereci.
Sua expressão desgostosa diz que provavelmente escutou muito,
escutou tudo.
Seu semblante triste diz que falei demais, talvez até mais do que ela é
capaz de entender ou até mesmo perdoar.
E mesmo desnorteado sei que preciso fazer algo, preciso agir. Antes
que as portas do elevador se fechem e a levem para longe, impedindo-me de
tentar remediar a burrada que fiz.
— Cecília, espere!
E não tenho mais nenhum tempo, pois logo a cabine se fecha. Logo
estou sozinho com Caio, aflito como não lembro de já ter estado.
— Porra, Alex, pela cara da sua secretária, acredito que ouviu que
estávamos falando dela.
Meu vice-presidente diz e esta constatação apenas me adoece mais. E
para piorar ainda tem o lance da tal da argentina. Mesmo que não tenhamos
nenhum acordo de fidelidade, ouvir que teoricamente tenho estado com
outra, depois dos nossos momentos, de nada vai aliviar para o meu lado.
Duvido que eu tenha qualquer alívio, de qualquer forma.
Temo por nossa amizade, temo por sua permanência nesta empresa.
Mas temo principalmente pela possibilidade de tê-la rechaçando minhas
investidas, de tê-la renegando aquilo que tínhamos.
E isso me faz verbalizar todo o pavor que me corrói:
— Porra, estou fodido! Muito fodido! Preciso conversar com ela, fazer
Cecília entender...
Sequer continuo, porque talvez nem tenha o que fazer, talvez eu tenha
ido longe demais.
— Infelizmente não sei como você vai fazer esta mágica, este milagre.
Diz e sua voz não tem mais nenhum sinal de brincadeira ou zoação.
Apenas a constatação, apenas sua opinião.
E neste momento sei que preciso tentar, me esforçar.
Pois não estou pronto para ficar sem ela. Não estou pronto para abdicar
de Cecília.
Abdicar dela na empresa e muito menos nos meus braços.
CAPÍTULO 19
Porra, queria ter saído na surdina. Não precisava ser tão desastrada e
derrubado a bolsa. Atraindo sobre mim uma atenção indesejada, permitindo
que ele me visse tão arrasada, que soubesse quão mal estou.
Droga, como fui idiota. Como me senti uma imbecil em descobrir que
ele tinha uma amante fixa. Modelo, certamente loira. Daquelas que ele
sempre fodia, sua escancarada preferência.
E foi isso que me rasgou, que me magoou. Que fez me deixar
transparecer como a conversa toda mexeu comigo, como machucada estava.
Claro que eu não era cética ao ponto de achar que estava sendo a única,
mas ele ter alguém fixo, que levava para casa logo após me foder
diariamente e que sequer contava para os amigos, pois tratava o que tinha
com a tal argentina como algo especial, foi demais para mim. Para o meu
coração.
Que sangrou. Que se dilacerou.
De dor. De amor.
Por alguém mesquinho, capaz de brincar e de tripudiar sobre a
aparência de alguém. De fazer brincadeiras ultrajantes e que somente
mostram o quão idiota Alex é.
Por alguém que somente pensa em satisfazer suas vontades, e que não
dispensa sequer seu ambiente de trabalho e muito menos sua funcionária, por
mais desagradável que ache a forma como ela se apresenta. Que tem casos e
mais casos e que atualmente pensa ter algo especial com alguém, mesmo que
isso não signifique que deva fidelidade a tal modelo, e que continue me
seduzindo, dia após dia. Que continue me apaixonando, mesmo sem querer,
apenas por existir.
E pensar que fiz sexo com ele sem camisinha! Em pensar que me expus
desta forma! Mesmo que o fato de ser vasectomizado tenha evitado que
necessitasse de contracepção de urgência, tenha evitado que o dano fosse
maior, expus-me a uma doença, expus-me a algo que poderia me trazer
consequências irreparáveis.
Porra, em que fui me meter? Por que fui deixar meu coração me
dominar desta forma?
Estava bem em sentir as coisas de forma platônica, em me manter
invisível perto dele.
Mas não o fui por muito tempo. Uma noite regada a álcool e deixei vir à
tona meus desejos, meu sentimento. Uma sucessão de erros, de necessidade
de ceder, e agora estou mais apaixonada do que nunca, por um cara que se
mostrou um grandessíssimo filho da puta. Que debocha, que menospreza e
que não sabe de forma alguma valorizar uma mulher, mesmo que esta seja,
segundo ele, alguém diferente.
E escutar a maldita conversa e chegar a todas estas conclusões, fodeu
com tudo.
Com a admiração, com a amizade e com o indesejado sentimento.
E isso me faz chorar, me faz fraquejar.
E deixar todas as lágrimas que tenho vir à tona. De forma abundante, de
forma incontrolável.
Felizmente durante a minha fuga lembrei de me proteger, lembrei de
tentar manter o mínimo de dignidade.
E somente deixei todo o desespero aflorar quando estava na cabine de
um sanitário, em um andar da empresa pouco movimentado, principalmente
no horário de almoço.
E se usar o elevador privativo da presidência me deu toda a
privacidade, estar aqui me dará todo o tempo e sossego que necessito para
me recompor, para tentar me apresentar com o mínimo de dignidade.
Depois de tudo. Depois de tanta decepção.
E como tenho um tempinho antes do confronto, deixo a dor extravasar,
deixo as lágrimas virem livremente.
Deixo a decepção me tomar, deixo meu rosto banhar.
Pois me conheço e sei que darei tudo de mim para ser forte, que lutarei
com todas as minhas forças para enfrentar meus problemas e desilusões de
pé, com todo amor-próprio que uma pessoa numa situação dessa é capaz de
ter. Mas nesse instante quero externar, quero chorar. Preciso colocar tudo
isso para fora.
A dor da desilusão. O sofrimento e a decepção por amar Alex.
Alguém tão indigno e agora totalmente impossível para mim.
Por ser como é, por agir como alguém que não quero perto de mim.
E por isso choro, soluço. Como não lembro de já ter feito, como espero
jamais o fazer novamente.
Mas hoje é necessário. Neste momento colocar tudo isso para fora
talvez me coloque novamente em perspectiva. Pelo menos é o que anseio.
Para que consiga enfrentar a tarde que está por vir. Para que consiga me
manter aqui nesta empresa, e consiga me colocar o mais longe possível do
meu chefe.
Pois embora neste momento eu esteja arrasada, desmanchando-me num
choro copioso, espero não mais derramar uma lágrima sequer por ele.
Porque ele não merece e eu sou inteligente o suficiente para saber disso.
Muito embora o coração seja um órgão burro, mas não mais me
deixarei conduzir por ele, e muito menos por minha boceta.
Porque isso somente me trouxe essa angústia e esse desespero que me
consome.
Manterei distância. Evitarei. Rejeitarei.
Nada de hora extra e muito menos qualquer intimidade, nem mesmo
amizade. Pois a maneira que se referia a mim não era, de forma alguma, a
maneira que um amigo se referiria a outro.
E isso foi o divisor de águas para me fazer enxergar minha verdadeira
função aqui dentro. A de empregada. De funcionária.
E será assim a partir de agora. Minha dignidade garantirá isso. Meu
orgulho e amor-próprio reforçará minhas intenções.
Mas não sou inocente de imaginar que o esquecerei de um dia para a
noite, claro que disso eu sei. Entretanto tenho que começar em algum
momento e não há teste melhor que um encontro em uma sala lotada, logo
após sofrer toda essa decepção.
Pois tenho fibra suficiente para passar por tudo isso, tenho garra
suficiente para me mostrar superior.
Aparecerei na reunião recomposta, eficiente e feia. Como sempre
apareci.
Totalmente igual a todas as outras reuniões que participei, mesmo que
por dentro esteja destruída, desolada de uma forma que não lembro de já ter
estado.
Mesmo que as lágrimas retornem quando estiver em casa, quando puder
me render ao choro dos apaixonados não correspondidos.
Mas isso será depois, bem depois.
Por ora lavarei meu rosto e tentarei me mostrar impassível, fria.
Tentarei fingir uma altivez e superioridade que estou longe de sentir.
Mas se fui capaz de enganar a todos sobre a minha aparência,
certamente conseguirei mentir também sobre todo o amor e sofrimento que
trago dentro de mim.
Ambos causados por Alex. O homem por quem me apaixonei, mesmo
que ele esteja longe de merecer tal sentimento.
Mas da mesma forma que o sentimento veio, este vai ter que sumir.
Mesmo que para isso precise sair, curtir. Que precise me reinventar.
Pois já sofri demais na vida para ainda ter que sofrer por quem não
merece.
E, pelo que ouvi de Alex Valentin, ele está muito longe de merecer de
mim ou de quem quer que seja qualquer sentimento, apreço ou consideração.
Ele somente merece todo desprezo e rejeição que estou mais do que
disposta a oferecer.
E Alex que se cuide, pois uma mulher magoada é capaz de tudo,
mesmo que ela seja loucamente apaixonada. Mesmo que seu corpo queime
de desejo e que sua alma implore pelo mínimo de atenção.
Mas nada mais acontecerá entre nós, pois realmente acabou e logo mais
ele saberá, perceberá.
Que a partir de hoje ele comerá todas e qualquer uma, mas jamais estará
dentro de mim novamente.
Que a partir de hoje o que havia entre nós acabou. Definitivamente.
Irremediavelmente.
CAPÍTULO 20
Dizer que estou aflito é minimizar toda a angústia que estou sentindo,
desde que percebi que Cecília havia escutado minha conversa com Caio.
Desde que vi sua expressão, que a vi fugindo no maldito elevador.
Porra, eu não tinha nada que falar dela, de sua aparência e muito menos
tinha que posar de fodão, de garanhão. O que tinha que fazer era deixar Caio
falar e supor se assim o quisesse.
Mas não, eu tinha que abrir a boca. Eu tinha que estragar as coisas entre
Cecília e eu.
E não me refiro somente ao sexo, refiro-me também à amizade, ao
trabalho.
Caralho de criatura idiota, totalmente imbecil.
E diante destes xingamentos que me atribuo, novamente olho no
relógio, louco que consiga um instante com ela antes da reunião.
Sei que não será fácil, pois a sala de reuniões é neste andar e sei que
pontualmente os diretores começarão a subir. Mas tentarei, pois não
conseguirei conduzir nada até que consiga resolver toda esta merda em que
me meti.
De repente escuto um som e respiro um pouco mais aliviado.
Esbaforido vou em direção à Cecília. Nem ao menos sei como me redimir,
somente sei que é algo que preciso e muito fazer.
E qual não é a minha surpresa ao vê-la acompanhada com a secretária
de Caio, a que divide apartamento com ela. Claro que Cecília, esperta como
é, não ia deixar as coisas fáceis para mim.
Mas se ela pensa que isso inibirá minhas intenções, está muito
enganada.
— Cecília, você poderia me acompanhar à minha sala um minuto?
Indago, pois tentar me entender com ela é algo primordial neste
momento.
Mal digo as palavras e o elevador avisa a chegada de alguém
certamente indesejado.
Três diretores, que literalmente não poderiam ter escolhido pior hora
para se mostrarem eficientes e pontuais.
— Acho que teremos que deixar para depois, senhor. Pois preciso
correr com a organização da reunião, visto que alguns diretores já chegaram.
Diz séria, profissional. Livrando-se da conversa, deixando bem claro
que não desejava esse momento.
E se vira. Levando alguns papeis consigo, sendo acompanhada por sua
amiga, que em nenhum momento deixou de observar a interação entre nós.
Infelizmente terei que esperar, pois Cecília foi salva pelo gongo.
Mas ela não me escapará. Ainda hoje teremos a conversa. Ainda hoje
farei tudo que estiver ao meu alcance para voltar às boas com ela.
Pois não posso suportar ficar longe do seu corpo. Não posso suportar
que as coisas entre nós termine.
Não agora. E, certamente, não tão cedo.
Eu não poderia estar mais disperso, não poderia estar mais fora do ar.
Felizmente Cecília é totalmente participativa, me ajuda na condução da
reunião. Responde perguntas, explica dados, interage com todos os diretores.
Só não olha para mim. Em momento algum me dirige o olhar.
E isso apenas me desnorteia mais, apenas me deixa mais inapto a
interagir com meus funcionários.
Porra, Cecília está com ódio. Deixa claro, por sequer me olhar, que não
quer mais contato algum comigo. E isso me deixa ansioso, louco para que
esse circo aqui se finde e eu tenha um momento com ela.
— Acho que todos concordamos que está bom por hoje. Que os lucros
foram mais do que satisfatórios e que as estratégias de marketing totalmente
aprovadas.
Diz Caio, talvez tentando se redimir da furada em que me meteu, pois
sabe que eu estou muito aquém do CEO impetuoso que costumo ser.
— Mas antes de nos retirarmos, gostaria de parabenizar Cecília por seu
excelente trabalho e dizer que a cada dia que passa ela se mostra ainda mais
competente e eficiente.
Dessa vez ele tenta se redimir frente à minha secretária. Mas se Caio
estava esperando sorrisos, agradecimentos ou que ela aliviasse de alguma
forma para o lado dele, estava muito enganado.
Ela apenas faz um maneio de cabeça, deixando claro que não será um
elogio, mais do que merecido, que abrandará seu coração. Ela apenas se
mostra distante, fria e aparentemente inacessível.
E isso me faz mal. Vê-la desta forma me faz temer a conversa que está
por vir.
— Concordo com o reconhecimento do vice-presidente.
Digo apenas para puxar assunto, mas aparentemente um arremedo de
uma careta é a única resposta que terei.
— Então é isso, acho que podemos encerrar a semana.
E todos começam a juntar os documentos, todos começam a se levantar
para sair.
Logo o diretor de marketing se aproxima e sei que tenho que me livrar
rapidamente dele, pois não posso perder a oportunidade de conversar com
Cecília.
— Gostei demais das ideias, Alex. Na verdade não vejo a hora de
implementá-las. A propósito...
E perco o fio da conversa quando vejo minha secretária tentar sair
desapercebida da sala.
— Cecília, por favor, me espere na minha sala. Ainda temos alguns
pontos a serem alinhados antes de terminarmos a semana.
Por ser sempre profissional e disposta a ficar além do horário, jamais
esperei ouvir a resposta que ouvi, não com a sala ainda lotada.
— Senhor, infelizmente hoje não posso ficar. Tenho um compromisso
inadiável.
Ela diz firme e olha-me diretamente. Mostrando-se irredutível,
inabalável em sua recusa.
Além da surpresa, a raiva por não estarmos sozinhos. E quando penso
em pedir licença para me ausentar e tentar conseguir uns minutos com ela,
eis que o idiota do diretor de marketing diz:
— Nada mais merecido e aceitável do que sair no horário, pelo menos
dessa vez. Acredito que Alex entende e que deixará para segunda o que quer
que seja que ele ainda queira discutir com você.
E me olha como se esperasse um elogio por reconhecer o valor de
Cecília. Garanto que com a ira que me causou, o que está a ponto de receber
é sua demissão sumária.
Quando penso em tentar conseguir ao menos um instante, ela diz:
— Boa tarde, senhores, e até segunda.
Saindo rapidamente. Esquivando-se de qualquer tentativa minha.
Tenho gana de matar esse idiota na minha frente, temo não conseguir
controlar minha frustração.
— Como estava dizendo...
— Realmente preciso conversar com Cecília. Vamos deixar para
segunda o que quer que você queira me dizer.
Digo de forma infantil, para que prove do próprio veneno. Uso do
mesmo artifício que usou para com ela.
Frio e sem qualquer consideração, para que ele nunca mais ouse se
meter nas minhas coisas.
Despeço-me rapidamente daqueles que ainda restaram no recinto e saio
rapidamente para tentar pegá-la na sua mesa.
Mas apenas encontro o lugar vazio. Apenas encontro a certeza de que
não conseguirei falar com ela, pelo menos não até segunda.
E tenho vontade de chutar e de esmurrar. Tenho raiva e temo não
conseguir conter meus instintos.
Porra de situação fodida em que me meti.
Que me fez estragar as coisas entre Cecília e eu. Que me faz temer
perder minha funcionaria e minha amiga.
Temer principalmente perder minha foda gostosa, a única mulher que
eu quero neste momento.
E se não bastasse estar fodido de tantas maneiras, algo me vem à mente.
Algo que ela disse, e que somente agora me dou conta de que talvez as
coisas apenas piorem.
Que ela tem um encontro. Tem a porra de um encontro.
E na hora vejo tudo vermelho, sinto no corpo sensações jamais sentidas.
Infelizmente estando de mãos atadas, impossibilitado de fazer o que
quer que seja.
Amaldiçoando-me por me colocar na porra desta situação.
Amaldiçoando-me pelo final de semana de merda que sei que terei pela
frente.
CAPÍTULO 21
— Juro que estou chocada, jamais achei que estava acontecendo algo
entre você e o bonitão.
E sua expressão traz realmente a surpresa com o que acabou de ouvir.
— E claro que nunca desconfiei porque, mesmo sendo muito estranho
esse monte de hora extra que faziam, o disfarce que usa é capaz de espantar
até o menos seletivo dos homens, imagina o grande pegador de modelos,
nitidamente fissurado em aparência e beleza.
E é a verdade. Ele sempre foi conhecido assim. Sempre foi visto com as
mais lindas beldades, inclusive sei que a argentina deve estar totalmente
dentro destes padrões.
— Agora que é um grande filho da puta esse Alex Valentin, isso ele é.
Assim também como Caio, que não fica nem um pouco atrás.
Ela diz, pois mesmo estando de rolo com o vice-presidente, Isadora
sempre é muito justa com o que tem que ser. E se alguém está errado, ela não
passa pano, mesmo que esse alguém seja sua mãe.
— Estou com tanto ódio dele que acho até que vou cancelar o programa
que íamos fazer hoje.
Ela diz e mesmo que saiba que está indignada com o que aconteceu,
reluta porque gosta do chefe. Assim como gosto do cretino do meu. E não é
justo que ela fique em casa, que sofra por se privar de sair com Caio.
Sei que ele é um filho da puta e em muitos sentidos, mas quem sou eu
para julgar, pois justamente o cara que estava me agarrando difere muito
pouco do peguete dela. E além do mais, ele não foi nem o primeiro e nem o
último que me julgou devido o estilo que uso para trabalhar. E pior foi Alex,
que mesmo sabendo como realmente sou, ainda ficou de zoação. Que
mesmo fazendo sexo comigo, o tempo todo, ainda manteve um caso com
alguém que, aparentemente, para ele era algo diferente.
Antes que me perca nas minhas divagações, decido ser incisiva com
Isadora.
— Claro que você vai sim, não há motivo nenhum para você desmarcar
o encontro.
— Não é encontro, tipo só nós dois e nem clima de romance não. É
uma balada, com alguns amigos dele e umas meninas que sempre saem
nessa turma. Já fizemos este tipo de programa outras vezes.
Ela diz e vejo que a voz dela traz uma tristeza, talvez uma decepção,
pois vejo que realmente está disposta a não ir, a tomar as minhas dores.
Mesmo caidinha pelo sem base do Caio, minha amiga optou por mim, por
ficar ao meu lado.
Tenho que fazer algo, preciso intervir. Não posso deixá-la se privar
assim.
De repente tenho uma ideia, mas antes preciso verificar algo.
— E o Alex costuma estar junto nestes momentos?
Ela me olha incrédula ao ouvir a pergunta, talvez não acreditando que
eu esteja indagando pelo infeliz, não depois de tudo que aconteceu hoje.
— Não. Inclusive este sumiço repentino do nosso chefe era algo que
eles questionavam. Agora entendo o que estava acontecendo.
Diz de forma sugestiva.
Decido então dizer como as coisas serão hoje, pois de repente decidi
chutar o balde.
Decidi que as coisas mudarão e começarão esta noite.
Para calar a boca daquele preconceituoso de uma figa. Para que ele
nunca mais faça julgamentos e críticas a mulher nenhuma, pois todas tem
seus valores e atributos, independente da forma que gostam ou precisam se
apresentar.
— Não somente você irá, como eu também irei. Caio conhecerá minha
real versão, e a partir de segunda todos da Suprema Essence também
conhecerão.
Vejo o choque, percebo que Isadora não esperava que desse esse passo.
— Cecília, eu não entendi por que você vai fazer isso. Você não
precisa...
— Claro que não preciso, mas eu quero. Meu disfarce não cumpriu seu
intento, que era afastar investidas e tentações. Também preciso admitir que é
muito trabalhoso me montar dia após dia, ter que acordar mais cedo para isso
e que no final o resultado passou longe de ser o esperado. Além do mais
quero ver a cara do Caio, quero ver a cara dos demais, que mesmo que não
falassem, secretamente me julgavam e caçoavam da minha aparência. E
acima de tudo quero ver Alex quando perceber que não mais me esconderei,
que atrairei olhares e principalmente que estarei definitivamente fora do seu
radar.
Ela me olha chocada, admirada, mas conhecendo-a como conheço,
Isadora também está mais do que orgulhosa da minha decisão.
Continuo:
— Claro que não sou ingênua de pensar que aquele puto sente algo por
mim, inclusive está até bem longe disso. Mas que ele morre de desejo, isso
ele morre. Ele fica doido de tesão, de vontade e a partir de agora, no que
depender de mim, ele terá um grande caso de bolas roxas. Porque minha
roupa e minha postura serão as mais atrevidas possíveis, e a distância que o
obrigarei a manter será a maior que você poderá imaginar.
Nunca fui tímida e nem insegura, e por isso colocarei tudo o que disse
agora em prática, e colocarei logo esta noite.
— E por que, se na segunda você vai abdicar do disfarce, perguntou se
Alex estaria na balada? Entendo que se ele saberá que acabou o fingimento,
não há motivos para perguntar o que perguntou. A não ser que queira vê-lo
hoje, a não ser que você queira que esta noite mesmo Alex saiba que as
coisas mudaram.
Poderia fingir que sim, poderia mentir ou me iludir. Mas Isadora é
minha amiga, a melhor e única. E não vejo motivos para fingimentos, não
com ela.
E por mais que eu seja forte e decidida, não preciso ser o tempo todo. E
principalmente não preciso ser com ela.
E é por isso que digo a verdade. É por isso que abro o meu coração.
E deixo a dor emergir. E deixo todo o sofrimento que dilacera minha
alma se apresentar.
— Perguntei por que, se ele fosse, eu não iria. Não posso vê-lo, não esta
noite. Farei tudo o que disse, e se puder com requintes de crueldade,
entretanto hoje não seria capaz de encará-lo. Assumirei minha verdadeira
aparência para Caio, primeiramente, e na segunda a Cecília das roupas e
estilo horrendos, não mais existirá.
Minha amiga entende que não estou pronta, que hoje o dia foi demais,
mais do que sou capaz de suportar.
Mas ainda preciso deste fechamento, preciso calar Caio e fazê-lo
engolir tudo que disse.
Assim como preciso que, a partir de segunda, Alex veja a cada instante
o que perdeu.
Que veja a mulher que ele não mais terá em seus braços.
E que ele fique com a argentina ou com qualquer outra modelo, pois a
sua secretária, a partir de agora, somente será o que foi contratada para ser:
funcionária da Suprema Essence.
CAPÍTULO 22
Fazia um tempo que não aparecia neste tipo de lugar, muito embora
goste das luzes, do som e da possibilidade de ser caça ou caçador. Mesmo
que hoje esteja fechada para balanço, não tardarei a voltar à ativa, ainda
porque tenho um grande imbecil para tirar do meu sistema.
Durante o percurso Isadora já contactou com o seu chefe e sei que o
confronto acontecerá. Inclusive já sabemos para que reservado nos
direcionaremos quando chegarmos ao local.
Então não temos trabalho nenhum em identificarmos o lugar e, quanto
mais nos movimentamos, mas ansiosa fico para presenciar a sua reação.
E não demorará muito o tal confronto, pois assim que subimos a escada,
logo os avisto. Uns cinco rapazes, todos bem bonitos, diga-se de passagem, e
duas mulheres, que certamente não querem terminar a noite sozinhas. E
certamente elas tem muito bom gosto, se levar em conta a aparência, mas se
os amigos tiverem o mesmo caráter de Caio e Alex, somente posso me
solidarizar pela infeliz escolha.
Assim que Isadora fica cara a cara com ele, Caio a puxa para si e a
beija. Loucamente. Como se estivesse desesperado pelo contato, sequer
percebendo que ela trouxe uma amiga consigo e se isso não for um bom
sinal, eu não sei o que seria.
E o beijo dura muito tempo, e a cena é no mínimo constrangedora. Mas
como a amiga protetora que sou, observo a interação entre eles para ver se
entendo onde minha amiga está se metendo.
E quando parece que eles precisam ao menos respirar, se afastam
minimamente, mesmo que o babaca em questão, pareça não ter o suficiente
de Isadora. Ele distribui beijinhos e fungadas. De olhos fechados.
Certamente perdido no momento, assim como minha amiga.
E quando acho que posso vir a ficar constrangida, de tanto que estou
segurando vela, Isadora parece lembrar de mim e coloca uma distância
segura entre ela e o chefe.
Com a face levemente corada olha para mim. Esperando julgamento,
buscando talvez uma desculpa para a forma como estava entregue. Resolvo
sorrir, querendo que entenda que está tudo certo. Ela retribui e parece
aliviada pelo meu comportamento.
De repente minha amiga parece lembrar o motivo de eu estar aqui. Ela
toma a dianteira do meu plano e diz, com um toque de humor:
— Caio, acho que você conhece Cecília, secretária da presidência.
Ele olha para um lado e para o outro. Parecendo não achar o que está
procurando. Buscando encontrar alguém com a aparência semelhante àquela
a quem ele tanto criticou mais cedo.
Quando não encontra o que está procurando, Caio foca na minha pessoa
e quando vem o entendimento de quem realmente sou, a expressão que faz é
no mínimo cômica.
De surpresa. De assombro. De descrédito.
Ele chega a coçar os olhos, como se esperasse que a imagem que via se
assemelhasse ao que ele esperava encontrar. E quando de repente a ficha cai,
o queixo despenca e o espanto se faz presente em cada traço de sua face.
— O que? Co-mo?
Ele gagueja, inseguro. Como se não concebesse o que está à sua frente.
— Juro que não estou entendendo...
Eu o encaro e digo:
— Tudo bem, senhor Caio?
A formalidade que usarei a partir de hoje, deixando claro a distância
que existirá. Entre ele e eu. Entre Alex e eu.
Escutar minha voz o faz entender que a mulher que está à sua frente é a
secretária horrorosa, aquela de quem ele muito zombou e humilhou. Aquela
a quem menosprezou e deu muitas risadas.
Ele olha-me de cima a baixo e sei que para ele ainda é difícil a
percepção. É nítido a surpresa, mas também o constrangimento pelo que
presenciei mais cedo, pela forma fria com que o encaro.
— Cecília...
Chama meu nome, tentando achar as palavras. Talvez queira se
desculpar, ou simplesmente deixar claro como se sente surpreso. Nada disso
me interessa. Já mostrei meu potencial, ele já sabe como sou.
Agora somente a indiferença, a frieza e a distância que existirá entre os
dois e eu.
— Com licença, senhor, vou atrás de uma bebida para mim.
E saio. Rebolando. Causando.
Mostrando tudo que esteve oculto pelas roupas longas que sempre usei.
E sei que ele olha e apenas ouso mais. E sei que não tem nada a ver
com interesse da parte dele, nem muito menos interesse meu em chamar a
atenção de Caio. Ele apenas analisa como realmente sou. E eu somente
mostro como sempre fui e como serei a partir de então.
CAPÍTULO 23
Sequer olho para os lados, mesmo sabendo que aqui está cheio de
gostosas. Sequer perco um segundo além do necessário, pois sou um homem
em uma missão.
E todo o meu esforço é compensado quando me encontro no mesmo
ambiente que os caras. Olho para os lados e não a vejo, temo que tenha
demorado demais e que ela não esteja mais aqui.
Vejo Caio e Isadora ao seu lado. Sei do rolo deles e isso me é
totalmente indiferente.
Apenas uma coisa me importa. Saber de Cecília.
E pergunto. Ansioso. Aflito.
— Onde ela está? Onde...
Caio me interrompe e diz:
— No bar, mas antes você precisa saber...
Dou-lhe as costas, nada quero saber.
Apenas sigo para o bar do reservado em que estamos, apenas morro por
resolver as coisas entre nós.
Aproximo-me rapidamente e a vejo.
Estanco por vê-la como realmente é. Por saber que agora Caio sabe
como a vejo.
E nunca achei que desejaria que ela estivesse vestida como sempre se
veste, que estivesse usando o disfarce que sempre usou.
Não teria aquele idiota falando ao seu ouvido, não estaria sendo
abordada por um filho de puta qualquer.
Na hora começo a enxergar vermelho, temo cometer uma loucura.
Esbarro de propósito no ombro do idiota e espero que ele tente tirar
satisfação.
— O que você pensa que está fazendo?
Ele diz. Procurando a morte. Certamente buscando uns murros.
— Ela está acompanhada! É melhor você dar o fora daqui!
Ele olha para Cecília, esperando a confirmação do que escuta.
— Sou livre e desimpedida e você pode sim me fazer companhia. A não
ser que você não queira!
Diz coquete, insinuando-se para o imbecil.
Ele abre um sorriso que mostra a porra dos dentes, e eu busco tudo de
mim para não quebrá-los.
— Vaza, não estou para brincadeira!
Digo feroz, raivoso.
— Eu não vou a lugar nenhum!
Diz com peito estufado e só posso pensar que ele pediu o que está por
vir.
Pego-o pelo braço e o afasto dela. Coloco minhas mãos em seu peito e
o empurro para longe.
Ele é pego de surpresa e arremessado a uma boa distância.
Percebo a ira e vejo que ele não deixará barato. O infeliz avança sobre
mim e também me empurra. Meus amigos, percebendo o início de confusão,
aproximam-se, mesmo que eu seja mais do que capaz de dar uma coça nele.
Escuto um grito e sei que vem de Cecília, certamente surpresa com tudo o
que está acontecendo.
Ele parece intimidado com a quantidade de pessoas que estão prontas
para a briga, mesmo que ele não saiba que somente eu tocaria nele. Que ele
me pagaria pela audácia de dar em cima de Cecília.
O imbecil bufa e desiste, percebendo que terá muito a perder se insistir.
Ele caminha para longe, o corpo tenso, certamente irritado e frustrado.
— Cara, o que foi isso?
Caio pergunta, curioso. Vejo que os demais não estão diferentes.
— Quero um momento com Cecília. Depois conversamos.
Ele tenta argumentar, mas meu olhar mostra que ele não tirará nada de
mim, não neste momento.
E eles se afastam, e Isadora também. Nem percebi que também tinha
vindo ver a confusão. Felizmente Caio a levou consigo.
Olho então para Cecília e a vejo espumando. Com ódio.
— O que você pensa que está fazendo? Com que direito você empurra e
afasta Tiago de perto de mim?
Ela o chama pelo nome, e isso apenas me deixa mais insano.
— Então você conhece o idiota? Você...
— Claro que eu conheço o cara que tinha escolhido para dar uns beijos.
Você acha que ia sair beijando sem sequer perguntar o nome?
Fecho os olhos e tento colocar as coisas novamente em perspectiva.
O acontecido de hoje à tarde, o álcool que ingeri, vê-la tão bela e ainda
por cima cercada por um marmanjo, foderam meu juízo. Meu controle.
— Cecília, precisamos conversar...
Não retruco, não questiono suas ações ou palavras. Apenas peço um
instante. Apenas quero resolver as coisas.
Não lembro de já ter sido tão cordato. Não nesta vida.
— Não temos nada para conversar, senhor, não...
— Que porra é essa de senhor? Desde quando me trata assim?
Digo sem controle algum. Perdendo totalmente as estribeiras.
Ela parece não se incomodar com meu descontrole. Não parece se
afetar.
— Desde que decidi que quero distância de você. Desde que decidi que
entre nós somente existirá a relação de chefe e funcionária e nada além
disso.
Fala firme, decidida.
E eu rezo por providência divina.
Para que eu não surte. Para que eu não enlouqueça de vez.
CAPÍTULO 24
Ainda não estava pronta para este confronto, na verdade nem sei se
algum dia estaria.
Somente queria atingir o cretino do Caio e ter uma noite normal, como
qualquer pessoa da minha idade.
Sem ficar presa em um escritório com seu chefe, sendo seu segredinho
sujo, antes dele realmente ter em sua cama e em sua casa alguém que para
ele realmente valha a pena.
E quando eu achava que estava tendo um pouco de normalidade,
tentando obter as rédeas da minha vida novamente, eis que o desgraçado
surge do além. Como se tivesse direito, como se estivesse na porra do
direito!
É bom para o meu ego vê-lo agitado, enfurecido, imaginando que
ficaria com outro, mesmo que somente eu soubesse que não existia vontade,
tesão e que eu terminaria minha noite sozinha, amaldiçoando este infeliz por
ter me estragado para outros, pelo menos por enquanto.
— Cecília, você sabe que precisamos conversar. Mesmo que estejamos
irritados um com o outro...
— Como é que é? Eu estou irritada com você, estou fodida de ódio de
você! No entanto você não tem motivo nenhum para...
— Como não, porra! Você estava aí de paquera com um imbecil
qualquer e tenho certeza de que se não tivesse impedido, a essa hora ele já
tava com a língua enfiada na sua boca.
Eu mereço!
— E não haveria mal nenhum nisso. Até quando ainda tínhamos os
momentos no escritório, sempre ficou bem claro que cada um poderia viver
a vida como bem lhe agradasse, inclusive você, pelo que escutei, já estava
aproveitando essa parte do acordo, imagina agora que nada mais existirá
entre nós.
Ele bufa, grunhe. Respira fundo e diz:
— Cecília...
— Acabou. Depois do que ouvi essa tarde, não há nenhuma
possibilidade de voltarmos ao que tínhamos.
— E por que não, por causa da história da argentina?
Diz com resquício de deboche, como se não tivesse importância
nenhuma.
Claro que não direi que é esse o motivo, até porque foi eu quem o
lembrou do nosso combinado. Pois realmente isso não seria problema, se eu
não estivesse apaixonada, se saber da existência dessa mulher não tivesse me
destruído, me machucado como não lembro de já ter sido machucada.
Então não vou por esse caminho, pois não quero me entregar. Não
quero que ele perceba o ciúme e muito menos a dor que esta descoberta me
causou. Vou por outra frente, sobre o que ouvi a respeito da aparência com
que me apresentava, a descoberta que fiz sobre a sua real personalidade.
A que ri, a que zomba, a que deprecia quem não se assemelha ao padrão
que tão desesperadamente busca em si, ou nas parceiras com quem sai e até
mesmo em mim, quando insistiu para que eu não usasse os trajes que tanto
lhe incomodava.
— Claro que não é por isso, não devíamos nada um ao outro. É pela
pessoa que descobri que você é, pela pessoa que descobri que não quero ter
contato algum.
Digo de forma decidida e mentirosa, deixando meu peito apertado e
dolorido.
Vejo que ele não gosta do que escuta, parece até mesmo desnorteado
com as palavras.
— Cecília, acho que por tudo que vivemos merecemos uma conversa
franca. Pela amizade que sempre nutrimos um pelo outro, merecemos um
momento sem toda essa multidão e barulho ao nosso redor.
Tenho vontade de retrucar que ele não merece nada de mim, não depois
de me fazer tanto mal.
Mas sei que se não acontecer agora, mais cedo ou mais tarde
acontecerá, pois sei que ele não desistirá. Alex Valentin não é conhecido por
ser um desistente.
Melhor seria se fosse mais tarde, mas infelizmente essa não é uma
opção. O futuro do meu emprego depende desta conversa e dela também
dependerá minha sanidade.
— Está certo, teremos sim esta conversa.
Ele parece suspirar aliviado. Logo o modo CEO é ativado. Logo escuto
sua voz num tom decidido, não esperando questionamentos.
— Iremos até minha casa, lá teremos privacidade para tal.
O que uma penteada na aparência não faz! Ficamos por um tempo e
sequer saímos de sua sala, agora que pareço digna de estar ao seu lado, vem
o convite. Para azar dele, depois que soube da argentina, sua casa é o último
lugar que desejaria ir.
— Não. Você pode ir me deixar em casa e lá resolveremos de uma vez
por todas tudo isso.
Renego a sua opção, pois certamente sei que em seus domínios seria
quase impossível não ceder ao desejo insano que sinto.
Aproveito também e dou a ideia de fim. De encerramento. E sei que,
esperto como é, percebeu minhas intenções.
— Você quer ir se despedir de sua amiga ou podemos ir?
Diz, sendo prático. Aparentemente querendo logo ficar sozinho comigo.
— Não, no caminho mandarei mensagem.
Ele acena com a cabeça. Não há mais nada a ser dito. Não aqui. Não
com essa multidão a nos rodear.
E então tomo a dianteira. Mostrando decisão. Querendo logo dar um
fim a tudo o que vivemos.
E caminho na frente, renegando o contato que buscou quando colocou a
mão nas minhas costas.
Querendo marcar território, querendo uma intimidade que jamais
existirá.
E eu buscando distância, buscando uma forma de não ceder aos meus
desejos e sentimentos.
E minha vontade prevalece e assim será de agora em diante.
E logo chegamos do lado de fora. Alex de pronto chama o motorista.
— Não quis dirigir, tinha bebido um pouco.
Ele justifica o motivo de precisar de um motorista. Eu não fico
satisfeita com esta informação.
Sei que isso dificultará um pouco minhas intenções, pois não poderei
conversar com ele no carro, como tinha imaginado quando aceitei o seu
pedido.
Mas para uma mulher forte e decidida, isso é apenas um obstáculo,
nada que altere a minha decisão. Subirei com ele e as coisas serão como
precisam ser.
Porque sei o que necessito. Sei o quanto o afastamento é imperativo.
Para a minha sanidade. Para o bem das minhas emoções.
Pois infelizmente Alex Valentin jamais foi uma opção.
Não para o meu coração. Não para ser o amor da minha vida.
Ele foi por algum tempo um corpo que me dava prazer. No escritório.
Na surdina.
Mas quero mais para a minha vida. Muito mais.
Precisei ouvir aquela conversa para perceber que não posso continuar.
Que apenas dor me aguardará.
E por isso esse encerramento se dará agora, se dará ainda esta noite.
CAPÍTULO 25
Silêncio. Total.
Desde que saímos da boate. No carro e enquanto caminhamos no
corredor que leva até o seu apartamento.
Somente ouvi a sua voz quando informou o seu endereço, depois fez
questão do mutismo absoluto. Mesmo não sendo um silêncio agradável, não
fiz nada a respeito, pois precisava colocar minha cabeça para pensar. Numa
forma de reverter a situação, numa forma de voltar ao que tínhamos antes de
eu agir como um idiota, antes de eu me meter nessa enrascada.
Sei que preciso resolver tudo isso, pois não estou pronto para deixá-la.
Não ainda.
E se for sincero comigo mesmo, nem tão cedo. Decerto estou viciado
nela.
Nem sei quando comi outra boceta. Cecília sempre me deixou
plenamente saciado e é por isso minha agitação, pois sei que ainda a quero
por muito e muito tempo.
Sou tirado de meus pensamentos pelo som da porta sendo aberta, pela
necessidade de focar neste momento.
Ainda sem falar ela faz um gesto, convidando-me para entrar.
Olho ao redor e percebo a organização e o bom gosto do ambiente.
Ela fecha a porta e sequer permite que eu termine minha inspeção, pois
logo diz:
— E então, o que você queria tanto me dizer que não poderia ficar para
segunda-feira?
O tom longe de ser cordial, longe da Cecília que conheço.
— Queria lhe pedir desculpas pelas coisas que ouviu.
Já é um começo. Na verdade é o ponto principal para o próximo passo.
— E com isso você pretende que continuemos com os encontros? Com
as fodas no escritório?
O que posso dizer, se isso é o que mais anseio.
Faço que sim com a cabeça. E antes que eu possa falar o que quer que
seja, ela diz:
— Já estava mais do que na hora de tudo isso terminar. Foi muito bom
enquanto durou...
— Claro que não vamos terminar, a gente se dá bem demais, o tesão tá
longe de acabar e...
— Não haverá mais nada entre a gente. Acabou. Todos já comentavam
sobre o monte de horas extras que fazíamos, imagine agora quando eu
aparecer diferente...
— Você não vai mais vestir aquelas roupas?
De repente um medo, de que alguém mais perceba o quanto é linda e
gostosa e que tente alguma coisa com ela.
— Não, a partir de agora serei como sou.
— E por que você não continua a se vestir como antes?
Digo rapidamente, pois penso que assim não teria olho grande pra cima
dela e continuaria zero desconfiança sobre o tempo que passaríamos juntos
depois do expediente.
Ela me olha surpresa e diz:
— Não era o senhor mesmo que queria que eu deixasse de lado aquela
aparência, que...
— Não me chame de senhor, entre nós não existe este tipo de
formalidade!
Digo exaltado. Odeio que ela me trate assim, que queira colocar entre
nós qualquer tipo de distância.
— Não existia, antes. A partir de agora haverá. Seremos apenas chefe e
funcionária e...
Não aguento. Não suporto. Não resisto.
Avanço sobre ela e faço o que meu corpo implora. Desde cedo, sempre.
Beijo-a com querer. Com desejo. Com sofreguidão.
Percebo sua surpresa e aproveito. Colo nossos corpos, enfio minha
língua sedenta em sua boca.
Buscando seu sabor. O encaixe.
E ele acontece. Desesperado. Sôfrego.
O corpo de Cecília não nega que me quer. Eu morro por tê-la.
E meu corpo mostra isso. Meu pau, ansioso por contato, demonstra
isso.
Duro. Sedento. Saudoso.
Dela. De sua boceta apertada e gostosa como nenhuma outra.
Levo-nos à parede mais próxima. Comprimo nossos corpos e sinto-me
no paraíso.
O membro baba, o beijo se torna ensandecido.
Busco o contato, mas todas as peças de roupas entre nós, frustra-me.
Mesmo que minhas mãos acariciem seus seios e que sinta seus mamilos
intumescidos. Mesmo que a fricção de nossas pelves esteja por demais
gostosa, mas é insuficiente.
Para todo o desejo que sinto. Todo o tesão que Cecília sempre me
desperta.
Por toda a saudade que me sufoca, apesar de ainda ontem ter estado
dentro dela. Mas não foi suficiente, nunca é.
A vontade que tenho de Cecília é um fogo que queima. Vigoroso.
Abrasivo.
Que tira minha sanidade. Minha razão.
Que descartou qualquer ideia que tinha de jamais me envolver
novamente com funcionárias, que me faz querer que as coisas entre nós dure
por muito tempo, por tempo indeterminado.
E seus gemidos me colocam louco, seu beijo me coloca pronto.
Para penetrá-la, para finalmente saciar um pouco de toda a luxúria que
me consome. Sempre.
— Cecília, preciso de você!
A voz rouca. Quase irreconhecível.
Que fala de como me sinto. De como ela mexe comigo.
Mas de repente parece que somente eu estou mexido. Parece que
somente eu quero saciar este desejo. Pois sou empurrado. Afastado como se
tivesse uma doença contagiosa.
Sinto-me desnorteado. Incapaz de me permitir tal afastamento.
E tento uma aproximação. Tento envolvê-la novamente em meus
braços.
Mas Cecília levanta a mão. Mostrando que não quer. Dizendo sem
palavras que não vai rolar.
E passo a mão seguidamente nos cabelos. A frustração do momento
quase levando-me à loucura.
E busco palavras para impedir esta distância. Para tentar continuar de
onde paramos.
E antes que eu sequer abra a boca, eis que Cecília diz:
— Acho melhor você ir embora.
A voz enrouquecida, mostrando que o momento também foi demais
para ela, mas infelizmente falando que talvez não terminemos o que
começamos.
— Cecília, você sabe que também quer, você sabe...
— Claro que quero, que desejo muito você. Mas não vai rolar. Nunca
mais. Acabou.
Sinto o baque. Sinto de repente que não conseguirei reverter essa
situação.
— Mas, Cecília, tínhamos um lance legal...
— Acabou e queria que você respeitasse a minha decisão.
Algo em seu olhar fez com que eu desse um passo para trás. Não sei se
foi a decisão ou se foi a raiva que percebi. O que sei é que mesmo que tudo
de mim gritasse por contato, afastei-me. Senti-me preterido. Senti que
realmente ela já tinha tomado uma decisão.
E algo em meu peito apertou. Saber que nada mais haveria entre nós,
mexeu comigo como jamais esperei.
E se não bastasse o olhar, houve um gesto. Decisivo. Incontestável.
Dela ao abrir a porta. Mostrando para mim que minha presença não era
querida.
E, mesmo contra todas as probabilidades, dói. Muito. Sufoca.
E há uma vontade de gritar. Esbravejar.
De pedir. Quem sabe implorar.
Para que ela não leve esse fim adiante. Pois quero muito dela ainda.
Como não lembro de ter querido de qualquer outra.
E essa constatação me deixa imóvel, sem ação.
Inconscientemente não querendo me afastar. Não querendo aceitar o
fim.
Ou não podendo.
Mas ela quer. Está mais do que decidida.
— Por favor!
E mostra a saída. Implora para que eu me vá.
E apesar do meu desejo fremente, eu obedeço.
E preciso ser muito forte para dar os passos.
Pesados. Incertos.
A dor aumentando à medida que me aproximo da saída. O corpo
implorando por uma última tentativa quando me aproximo dela.
E dou tudo de mim para não ceder, para fazer o que ela pede.
Para desistir do que havia entre nós. Para concordar em me afastar.
E mal ultrapasso a porta, ela a fecha. Isolando-nos. Confirmando sua
decisão.
E sinto-me perdido. Desnorteado.
Não sabendo como proceder ou como fazer para parar de doer.
CAPÍTULO 26
— Cara, você está insuportável e já tem uns dias. Quando fazia hora
extra esse mau humor poderia até ser justificável, mas agora que parou de se
matar no trabalho, não há justificativa nenhuma para esse seu temperamento
de cão.
Ah, se Caio soubesse o quanto meu expediente estendido me fazia bem,
e que a impossibilidade de ter tudo aquilo novamente é o que realmente está
tirando o meu juízo e o meu humor. E ademais eu sei contar. Tem
precisamente 15 dias que me encontro desta forma. Insuportável. Pois este é
o tempo que estou afastado de Cecília. E que surpreendentemente estou sem
sexo.
Nenhum contato feminino, nenhuma outra. Apenas minha mão que
trabalha quase que diariamente, numa masturbação desesperada em busca do
prazer, das sensações que tinha ao lado dela. Regada a lembranças que me
fazem gozar forte, mas que nem de longe conseguem diminuir a vontade e a
saudade que sinto de Cecília.
Estou numa fossa terrível. De vê-la a cada dia mais bela, mais
inteligente e ainda mais distante. Insistindo em usar a porra do senhor para
se dirigir a mim e rodeada de marmanjos e engraçadinhos que insistem em
querer dela o que já tive. E isso somente piora o meu humor, fode com
qualquer resquício dele que porventura eu ainda pudesse ter.
— Toda essa sua cara de bunda só pode ser por causa da tal argentina.
Acabou o rolo? Ela te deu um pé na bunda? Voltou para o seu país?
Poderia continuar mentindo, aproveitando o álibi sem precisar me
entregar, sem precisar admitir que estou viciado na porra de uma boceta.
Mas de repente decido que talvez seja válido eu me abrir, que Caio é
meu amigo e que talvez seja bom desabafar. Contar sobre o lance que tive
com Cecília e como aquela nossa conversa idiota fodeu literalmente com
tudo o que estava acontecendo de gostoso entre nós.
— Cara, não tem porra de argentina nenhuma. Nunca teve.
Ele me olha surpreso, tentando entender o que digo, entender por que
menti.
— Era Cecília. A mulher que estava me tirando de circulação, era
Cecília.
Caio me encara como se eu tivesse sete cabeças. Como se o que eu
dissesse não fizesse sentido algum.
— Mas como? Porra, a garota espantava qualquer um! Mesmo que seja
linda, não tinha como você saber, não tinha como sequer desconfiar com
aquele monte de pano ao redor dela, aquele penteado horroroso e aqueles
óculos que seriam capazes de afastar até o mais disponível pau, imagine o
seu que sempre foi seletivo, seletivo até demais!
Fala com um misto de ironia e espanto.
Mas isso não impede as minhas próximas palavras, não muda a minha
vontade de desabafar.
— Pois é, Caio, apesar de tudo isso, aconteceu. Várias vezes. E com o
contato veio a descoberta de como ela realmente era. Também fui pego de
surpresa.
— Então naquele dia da conversa, que coincidiu com a aparição dela na
boate, decidida a parar de se esconder, você já sabia como ela realmente era?
— Sim, sabia.
— E você ficou com aquele papinho idiota e ainda inventou que estava
tendo um caso com outra?
Eu apenas acenei com a cabeça, envergonhado pelo que tinha dito.
— E levou um pé na bunda. Justo, justíssimo.
Mesmo sabendo que ele não foi santo e que o desenrolar daquela
conversa idiota me trouxe até aqui, sei que o verdadeiro culpado fui eu. Que
disse coisas sobre Cecília que estava longe de achar, que inventei um caso
que sequer existiu. Eu fui um verdadeiro filho da puta, e o desprezo e a
distância que ela me impôs são mais do que merecidos.
— E em que pé estão as coisas entre vocês?
— Ela, claro, não quer me ver nem pintado de ouro. É senhor Valentin
pra cá e pra lá. Ameaçou até pedir demissão se eu não me mantivesse
afastado.
Ando de um lado para o outro, inconformado com toda essa situação.
— E sabe o que é pior? Ver um monte de urubu em cima dela.
Diretores, fornecedores e todo e qualquer idiota que tem um pau entre as
pernas. Elogiando, paquerando, insinuando-se e eu tendo que ver e aguentar
tudo isso de longe e calado.
Ele parece surpreso com meu destempero, com minhas palavras. Parece
não acreditar que eu esteja tão mexido por uma mulher. Na verdade até
mesmo custo a acreditar em tamanha possessão. Obsessão.
— Alex, você está fodido e muito mal pago!
Constata. E na sua face tem um ar de riso, como se ele soubesse alguma
coisa que eu desconhecesse. Como se ele tivesse descoberto um grande
segredo.
— Mas como um bom amigo que sou e também por me sentir um tanto
responsável por esse fora que recebeu, vou te ajudar.
Diz cheio de humor. E não me incomodo. Somente quero saber dessa
ajuda.
E antes que eu pergunte, ele explica o sentido de suas palavras.
— Vim aqui justamente convidar você para sair hoje. Curtir a noite.
Fora os caras, também irão Isadora e Cecília. Claro que não sabia de nada,
apenas ia incluir você na parada de mais tarde. Sabia que você tinha tomado
toco, só que imaginei que a nacionalidade da mulher fosse outra.
Não ligo para as suas gracinhas, apenas concebo o significado do que
acabei de escutar.
E de repente uma euforia me invade, por ter a oportunidade de estar
perto dela, em um local neutro, longe de tudo isso.
E percebo o quanto desejo este momento quando o meu coração bate
descontrolado no peito e uma ansiedade absurda me toma. E também um
medo. Dela não ir. De descobrir minhas intenções e nem aparecer.
— Cecília ou Isadora sabem que você pretendia me convidar?
— Não comentei, porque como você estava neste humor de cão,
dificilmente contava com sua presença mais tarde.
Graças a Deus. Assim Cecília não tinha motivos para não ir.
— Por favor, Caio, não comente com Isadora que irei. É bem capaz de
Cecília não ir caso desconfie que estarei na tal boate.
Minha voz traz um desespero e mais uma vez a face do meu amigo
assume uma expressão que não consigo ler.
— Pode deixar, Alex, esse será o nosso segredinho.
Ri. O idiota ri.
Da sua piadinha.
Do meu estado. Da minha agonia.
E mesmo com uma vontade enorme de dar um murro nas suas fuças,
apenas consigo sorrir.
Por ter uma oportunidade, uma possibilidade.
Por poder pedir e até implorar para que ela volte para a minha cama.
Para os meus braços.
Para que ela volte a ser minha.
CAPÍTULO 28
Sei que preciso sair, me distrair. Tentar tirar Alex dos meus
pensamentos, e mesmo que isso não seja possível, pelo menos tirá-lo das
minhas vistas.
Um lugar onde ele não esteja, onde não veja seus olhos sobre mim.
Onde não perceba sua vigília constante, seu desejo tão aparente.
Tão semelhante ao meu, só que não vem acompanhado do sentimento
que carrego.
O meu desejo aparentemente podendo ser satisfeito exclusivamente por
ele. O de Alex sendo satisfeito por todas e por qualquer uma.
Dou um suspiro cansado por saber-me rendida desta forma. Por saber-
me apaixonada por alguém que tão claramente não me merece. Devido seu
caráter e também devido seu comportamento.
E este sentimento que carrego me maltrata, me adoece.
Emocionalmente e fisicamente.
Como se não bastasse a dor, a agonia, o coração partido, há também a
falta de apetite, o desânimo e uma vontade de dormir e esquecer tudo isso.
Sinto-me enjoada, cansada, mas cada vez mais apaixonada.
E isso é um carma, uma provação.
E por estar assim tão entregue a este sentimento é que me forço a sair, a
tentar conhecer alguém. Mesmo que saiba que não haverá sexo e muito
menos sentimento.
Mas quero me sentir desejada, única. Ao menos por esta noite.
Para me tirar dessa fossa, para tentar aliviar, mesmo que
momentaneamente, o que sinto em meu corpo e também na minha alma.
E é com estas intenções que me obrigo a me arrumar. Que me obrigo a
me produzir.
Para ficar linda, sensual.
Para chamar a atenção. Para causar.
Mesmo que isso não me dê alento algum e que não diminua, nem
minimamente, tudo o que sinto por Alex Valentin.
Porra, apenas uma noite longe e não vejo a hora de colocar meus olhos
nela. E claro que não entendo por que tivemos que nos afastar.
O final de semana foi como precisava. Muito sexo, risos e conversas.
Tudo que sempre fizemos com familiaridade e prazer e que não foi diferente
estes dias.
Mas, depois de dormirmos a sexta agarradinhos e termos um sábado e
domingo que somente podem ser descritos como perfeitos, eis que Cecília
insistiu em dormir em casa, alegando que segunda precisaria de roupas
apropriadas e estar composta para a semana de trabalho. Também alegou que
se eu não saísse de dentro dela, certamente nem conseguiria andar, tantas
foram as vezes que transamos, as vezes que não conseguimos ficar longe um
do outro.
E dormir distante dela, depois de tanto grude, não foi fácil. O sono
demorou a chegar e as imagens do final de semana passavam como um filme
na minha cabeça. Sexo na banheira, na parede, no tapete e na cama. Muitas
vezes intenso, de tirar o fôlego. Muitas vezes sentido, emocionado, como eu
jamais tinha feito.
E enquanto relembro tudo isso, me arrumo. Rapidamente. Querendo o
quanto antes chegar na empresa, querendo ter uma dose de Cecília para
começar o meu dia.
A cada dia que passa estou mais apaixonada. E como não poderia, se
Alex é um tesão, um gostoso e que por enquanto está me saindo muito
melhor do que a encomenda.
Porra, neste mês e meio que estamos juntos, não tenho do que reclamar.
Nem na cama e muito menos fora dela. Alex me trata com carinho,
dedicação e cuidado. Leva-me para a sua casa quase que diariamente,
ficamos juntinhos e depois que matamos todo o desejo, o motorista deixa-me
no meu apartamento, para que estas escapulidas na semana não atrapalhem
meu horário e muito menos o meu desempenho na empresa.
Claro que por Alex dormiríamos juntos, inclusive ele até queria que eu
levasse umas roupas para que me arrumasse e fôssemos para a empresa pela
manhã. E eu quase cedi. Quase.
Somente botei minhas barbas de molho após uma discussão, e foi o que
me fez colocar o pé no freio. Fez-me perceber que por mais que vivêssemos
uma rotina de casal, ainda não tínhamos o status, e por mais que ele fosse
alguém que me tratava muito bem, ainda não estava pronto para nada além
do que tínhamos.
Estávamos juntos há um mês quando Alex teve que viajar a negócios.
Para outro estado. Precisando permanecer no mínimo dois dias distante.
Devido a correria no escritório, tive que ficar e garantir o bom
andamento da empresa, pois quanto mais ganhávamos visibilidade, mais
trabalho aparecia. E, mesmo deitando comigo todo dia, ele não achou nada
demais aparecer acompanhado em um evento. Com uma modelo. Com todos
os atributos que sempre chamaram a atenção do cafajeste.
E não prestou. Quando tive acesso à informação de que ele estava
acompanhado e logo de pronto imaginei que certamente terminaria a noite
com a dita cuja, resolvi que dois poderiam jogar este jogo.
Ah, se ele podia se divertir, eu também poderia! E se ele não achou
nada demais ficar desfilando com alguém que sequer duvido que já não
tenha estado em sua cama, eu também poderia aprontar, mesmo que dentro
de mim eu soubesse que isso era somente uma retaliação inocente. Que o
máximo que eu poderia fazer era dançar, encher a cara e mostrar nas minhas
redes sociais que estava tudo bem, e que não estava sofrendo com a
possibilidade dele colocar outra em meu lugar. Com a possibilidade dele ser
capaz de colocar o que estávamos vivendo de lado e procurar alguém para
terminar a noite.
Eu é que não iria ficar me martirizando em casa e muito menos ficar
fuçando rede social para descobrir algo que somente poderia me fazer sofrer.
Então comentei com ele, e desliguei o celular. Sim, fiquei
incomunicável. Fiz isso ou era aguentar as perguntas, as indagações e
cobranças de quem achava normal estar desfilando com outra ao seu lado,
mas achava justo que eu ficasse em casa e sozinha.
Nem pensar. E ele que lute. E Caio também. Que teve que me pajear a
noite inteira, que teve a incumbência de garantir que eu permanecesse
intocável, mesmo que eu não pudesse exigir o mesmo do seu amigo.
E não dei confiança. Por vezes desapareci para dançar e quando vi que
no fundo não estava me divertindo, fui para casa.
Amaldiçoar-me por ter me apaixonado por um puto, sofrer por imaginá-
lo ao lado da tal modelo.
E tive uma noite insone, para acordar sozinha visto que Isadora
certamente tinha dormido novamente na casa de Caio.
E quando ouvi a campainha soar, jurei que era minha amiga, apostava
que tinha esquecido a chave.
E qual não foi a minha surpresa quando abri a porta e encontrei Alex.
Com cara de cansado, certamente chateado. Ainda lembro de suas palavras.
— Por que você desligou o telefone? Por que desapareceu? O que você
aprontou, Cecília? Saiba que não tenho vocação pra corno e que jamais vou
aceitar que você enfeite a minha cabeça.
Tive vontade de rir, pois ele não poderia estar mais longe da verdade.
— Não sei por que você se preocupa com o que faço ou deixo de fazer.
Logo você que de santo não tem nada. Logo você que estava tão bem
acompanhado na noite passada. Inclusive em nenhum momento vi você
recusar a companhia da modelo que certamente terminou a noite ao seu
lado. Em nenhum momento vi você diferente de satisfeito e sorridente por ter
a oportunidade de ter carne nova na sua cama novamente.
E ele avançou sobre mim, parecia enlouquecido, a ponto de cometer
uma loucura.
— E porque você, erroneamente, julgou que não consigo passar uma
noite sem sexo, decidiu que eu deveria ser punido por algo que não fiz.
Decidiu colocar outro em sua cama. Decidiu me colocar insano, a ponto de
abandonar meus negócios, abandonar tudo para correr atrás de você.
Disse arfante. Parecia fora de si.
E para afetá-lo de vez, disse:
— É melhor você ir para a sua casa, Alex. É melhor esfriarmos os
ânimos. Do jeito que estamos é capaz somente de nos ferirmos cada vez
mais.
E ele me puxou, me apertou em seus braços. Cheirou meu pescoço,
porque aparentemente estava louco por contato.
— Cecília, sou seu, todo seu. Claro que não fiquei com aquela mulher,
nem com ninguém. Queria que você fosse minha acompanhante, não ela.
Nenhuma outra.
E decidi ceder também. Fazer minha parte.
— Alex, sou louca por você. Como poderia ficar com outro, deitar com
outro? Sou somente sua...
E fui tomada. Enfurecidamente.
Por um sedento. Por alguém sabidamente desesperado. E tivemos sexo
de reconciliação. Fizemos sexo com o corpo, mas também com a alma.
Verbalizando o que a boca ainda não disse. Declarando o quanto nos
pertencemos, o quanto estes ditos corpos não querem nenhum outro.
E foi neste dia que percebi que Alex e eu ainda não estávamos na
mesma página e que ele estava longe de estar pronto. Pois não falou em
necessidade. Não discutiu os rumos do relacionamento e não quis nada
diferente do que tínhamos. Mesmo tendo largado tudo e tendo corrido atrás
de mim, ele não disse as palavras e muito menos nomeou a nossa relação ou
me rotulou como dele.
Alex apenas fala com o corpo. Apenas me quer como não deseja
nenhuma outra.
E foi poucos dias deste fatídico sábado, que muita coisa mudou.
Fisicamente. Mentalmente.
Enjoos, indisposição.
Uma preocupação absurda. Uma certeza absoluta.
Que foi prontamente confirmada num exame.
Algo totalmente inesperado. Impensado.
Que nem sei como será recebido por Alex, mas certamente já amado
por mim.
Muito amado.
CAPÍTULO 33
— E quem é o pai? Você já contou pra ele? Você sabe quem é ele?
Ainda tem contato com ele?
Sinto-me destroçada. Destruída.
Esperava que ele nos culpasse por sermos displicentes, na pior das
hipóteses se eximisse da culpa e a jogasse somente sobre mim, mas jamais
esperei isso. Que ele sequer cogitasse que o filho fosse dele. Sequer pensasse
que seria o pai.
Sinto-me magoada, mas também zangada. Muito.
— Quem é o pai? Você ousa me perguntar quem é o pai? O pai é você!
Quem mais seria?
E ele ri. E não é algo agradável. É um som ofensivo, que magoa.
— Eu? Você quer jogar sobre mim a responsabilidade deste bastardo?
Essa palavra. O julgamento que ele faz de mim. A forma como fala do
próprio filho.
— Desde que começamos com isso, transamos mais sem proteção do
que com, e você tem a audácia de perguntar quem é o pai.
E ele ri mais. E me machuca mais. Pois não tem humor, não tem nada
do homem que amo. Apenas um som odioso e detestável.
— Certamente, eficiente secretária, você não fez o dever de casa
direito, pois sequer sabe que sou vasectomizado, pior, sequer se lembra, pois
tenho certeza que foi a primeira coisa que disse quando fiz a loucura de
comer você sem proteção.
O termo que usa, como resume o ato em uma palavra vulgar, que
certamente emprega para ilustrar suas transas com as mulheres que pega na
rua, que não representam nada para ele, como percebi que é também como
me enxerga.
— E isso somente me causou preocupação, pois percebi que você não
esteve somente comigo, e que também saiu com outros sem proteção. E
percebi que o que era para ser apenas uma transa, pode me trazer
consequências mais do que indesejadas. Só Deus sabe quem você pega na
rua e que tipo de doenças pode ter transmitido para mim.
Saio de mim e faço algo que jamais tinha feito. Agrido alguém. Um
tapa certeiro. Com toda força que tenho.
E merecido, por me tratar como uma vadia, por renegar de forma tão
veemente a criança que tenho no ventre.
Ainda assim o amor que trago dentro de mim tenta me fazer
argumentar. Buscar fazê-lo entender que não saí com qualquer outro e que
simplesmente aconteceu e que seguramente estamos nas exceções das
estatísticas.
Felizmente meu amor-próprio faz-me recuar a tempo. Faz-me evitar
que eu me rebaixe mais.
E o fim do respeito entre nós, tanto pelas palavras ditas, como pelo tapa
desferido, determina o que tenho que dizer. Determina o que acontecerá.
— Acredito que não há clima nenhum para que eu permaneça aqui.
Pode procurar uma nova secretária. A partir de hoje não trabalho mais para
você.
Digo enquanto o observo esfregar a mão no rosto, talvez tentando
aliviar a dor. Na face o assombro por minha atitude, talvez por minhas
palavras.
E para foder com o resto, ele consegue me magoar mais. Extrair de
mim qualquer resquício de respeito que ainda houvesse. Pela amizade que
tivemos, pelos bons momentos que vivemos.
— Você pode até não trabalhar mais aqui, mas não sairá sem cumprir o
aviso prévio, não se ainda quiser trabalhar neste estado.
É um filho de uma puta. Como parceiro de relacionamento, como
possível pai e também como chefe.
— Ora, seu infeliz, como você pode querer me obrigar...
E não tenho a oportunidade de dizer mais nada, pois a porta é aberta de
supetão e logo escuto a voz do vice-presidente:
— Desculpe, achei que você estivesse sozinho.
Diz olhando para Alex. Desconfiado, certamente percebendo o climão.
— Está tudo bem por aqui?
— Sim.
— Não.
Respondemos juntos. Isso apenas faz ele fechar a porta e se aproximar
mais.
— Na verdade eu acabei de pedir demissão e este senhor insiste em
querer que eu cumpra um aviso prévio, que nada mais é do que impossível
na minha condição.
— Eu não quero, é uma regra trabalhista e...
— De que condição você se refere, Cecília?
Caio pergunta, interrompendo Alex. Totalmente focado em mim.
Ganhando até alguns pontos comigo neste momento, pois demonstra uma
preocupação que meu ex ficante em nenhum momento demonstrou.
— Eu estou grávida...
— E quis me imputar este bastardo, quis me empurrar o filho de outro.
Avanço novamente contra ele, mas logo Caio se coloca na frente,
evitando certamente uma nova agressão.
— Você está vendo que não há a menor condição deste aviso prévio ser
cumprido? Que não há clima e muito menos respeito para eu continuar aqui?
— Já eu não abro mão de você cumpri-lo. E se você ainda quiser
arrumar algum emprego para ajudar a criar esta criança, é melhor você
permanecer nesta empresa e cumprir esta obrigação trabalhista.
Intransigente. Afrontoso e odioso.
Respiro fundo e tento ser racional, sabendo que agora, mais do que
nunca, preciso ter uma fonte de renda, pois não posso contar com ninguém e
tudo que acabou de acontecer aqui, apenas me provou que sequer posso
recorrer ao pai do meu filho, muito pelo contrário, ele certamente é a última
pessoa na face da terra com quem posso contar.
E de repente o improvável acontece. O auxílio vem de alguém que
jamais esperei.
— Ela cumprirá o aviso prévio sendo secretária da vice-presidência.
— Quem você pensa que é, Caio, para tomar esta decisão? Para ao
menos cogitar que eu aceitarei...
— Sou o segundo aqui na linha de comando e estou pensando com a
razão, coisa que você não está. Não quero trazer problemas para uma mulher
grávida, como também não quero a empresa sujeita a processos movidos por
uma gestante, que é o que certamente acontecerá se continuarem trabalhando
juntos. Depois da discussão que vi aqui, sei que não há clima nenhum para
que Cecília continue como secretária da presidência.
Eu suspiro alto. De alívio.
Ele grunhe enfurecido, as mãos em punho.
E antes que eu possa agradecer ou concordar com a intervenção, eis que
Alex diz:
— Ela cumprirá o aviso no lugar para o qual foi contratada para
trabalhar ou sequer conseguirá emprego...
— Alex, não gosto de me indispor com você, mas estou disposto a
intervir se você continuar com essa insistência, pois sei que a única coisa que
pode advir dessa sua intransigência é a porra de um processo trabalhista. E
mais, conheço empresários que ficariam mais do que felizes em ter Cecília
na sua equipe, e não medirei esforços para alocar ela hoje mesmo, se for o
caso.
Silêncio.
Alex espuma de ódio. Eu somente posso agradecer por Caio ter tomado
partido a meu favor. Por motivos racionais, eu sei, mas somente posso ser
grata por isso.
E minha gratidão virá em forma de aceitar a sua oferta.
— Nestas condições, aceito cumprir o aviso prévio. Começarei agora
mesmo a levar minhas coisas para o outro andar.
— Ainda não terminei com você, ainda...
— Vá, Cecília, preciso de um momento a sós com Alex.
E quem diria que alguém que eu sequer tinha simpatia, agiria para me
proteger do homem que amo? Para proteger meu filho do próprio pai?
E enquanto isso passa pela minha cabeça, avanço rapidamente para me
afastar de Alex. Para exercer minha função num andar diferente do qual fui
contratada.
Arrasada por tudo que ouvi. Machucada como não lembro de já ter
sido.
Tendo minha índole questionada, minha palavra refutada. Sendo tratada
como uma interesseira. Como uma qualquer.
Sendo largada à própria sorte quando mais precisei, tendo meu filho
rejeitado e renegado, tratado por um termo que me recuso sequer a trazer à
minha lembrança.
E mais uma vez na vida terei que ser forte. Felizmente agora não mais
terei que enfrentar este mundo sozinha.
Agora terei o filho que trago no ventre. Terei alguém por quem ser
forte, por quem lutar.
E mesmo com o coração sangrando e com a alma aniquilada, seguirei
em frente. Seguirei sem Alex.
Por mais que isso me doa, que me maltrate.
Por mais que isso despedace meu ser e ameace roubar toda a minha
sanidade.
CAPÍTULO 35
— Acho melhor não ir. Ainda não estou pronta para estar no mesmo
ambiente que Alex.
Digo resignada, mesmo sabendo que o baile anual da empresa é algo
muito esperado. É o reconhecimento do esforço de todos e seria mais do que
justo que eu participasse, assim como é justo a presença de todos que fazem
a Suprema Essence.
— Mas é claro que você vai comigo e com o Caio e ai daquele idiota se
sequer olhar para você!
Isadora está se portando como um cão de guarda, assim como o Caio.
— Você sabe que está falando do seu chefe, não sabe?
Falo com ironia, apenas para tirar o foco.
— Sei e o respeito muito como profissional e lá dentro da empresa. Do
resto, ele não passa de um idiota que ainda vai chorar e muito pelas decisões
que tomou.
Tenta profetizar, mas sei que isso não vai acontecer. Ele foi claro,
enfático e inclusive já está seguindo a sua vida, então as palavras de Isadora
não tem sentido algum.
E sei que ele está seguindo com a vida, pois continua a sair com
modelos magérrimas, principalmente nos eventos que representa a empresa.
Jamais vai sozinho ou demonstra qualquer tristeza. E se isso não for seguir
com a vida, não sei o que seria.
E é a certeza de vê-lo acompanhado que me desanima a ir. A certeza de
que terei uma noite de sofrimento, acompanhando-o com outra, rindo, feliz.
Como se eu não estivesse tão perto, vendo, sofrendo, tão grávida do seu
filho.
Decido externar os meus temores, os motivos de não querer ir a essa
bendita festa.
— Amiga, ele vai estar lá acompanhado e eu...
— E você também vai estar lá muito bem acompanhada!
Faço cara de interrogação, pois de forma alguma eu entendo onde ela
quer chegar.
— Ora, Cecília, claro que garantirei um par para você. E, diga-se de
passagem, um par para mulher nenhuma botar defeito.
— E quem vai querer acompanhar em uma festa, uma mulher muito
grávida de outro cara?
Por mais que o tempo praticamente se arraste, e que o amor e a
decepção que sinto por Alex em nenhum momento jamais tenha esmorecido,
já se passou tempo suficiente para a minha barriga estar mais do que
saliente, para demonstrar claramente todos os seis meses de gravidez que já
completei.
— E mais, eu jamais vou colocar no olho do furacão alguém da
empresa, vai que o idiota acha que o cara é o pai do próprio filho, e decide
aprontar pra cima deste possível candidato a acompanhante. Não, isso tá
fora de cogitação!
Digo firme, não quero dar margem para insistência.
— E quem disse que vai ser alguém da empresa? Há um tempo venho
pensando nisso e consegui a solução ideal. Para você ir ao evento. Fazer um
ciuminho básico. E ainda tirar o atraso, se você quiser.
Olho-a, chocada com o que escuto. Pergunto-me onde ela achará essa
pessoa. Também me pergunto se ela fumou alguma coisa, porque normal ela
não tá.
— E nem me olha com essa cara, pois sei o que estou dizendo. E mais,
que você deve tá na maior vontade, isso deve. Esses seus hormônios da
gravidez, junto com todo esse tempo de abstinência, deve ter deixado você
subindo pelas paredes.
Fico vermelha com sua colocação certeira e nem posso persistir no
assunto, pois as coisas só podem piorar. Bocuda como ela é, capaz de
perguntar se estou me masturbando para tirar o atraso. E pior, se ela
certeiramente perguntar, a cor que tingirá meu rosto entregará o que venho
fazendo nas minhas noites solitárias e doloridas, que são amenizadas pela
agilidade dos meus dedos, e a minha imaginação fértil, que infelizmente
insiste em povoar estes momentos com imagens minhas e de Alex, e estas
lembranças fazem eu atingir o orgasmo rapidamente, e mesmo não saciando
meu corpo completamente, é o mais perto que eu consigo das sensações que
outrora tive.
Então pergunto algo que tenho curiosidade em saber.
— E qual seria essa solução ideal?
— Ora, Cecília, nem eu mesmo sei como você não desconfiou, dadas as
pistas que eu já forneci. Não faça essa cara de santa do pau oco, que de
inocente você não tem nada.
Ela faz uma pausa e sinceramente juro que sequer cogito no que Isadora
está pensando.
— Um acompanhante de luxo. Contrataremos um para ser seu par. Um
lindo, gostoso e que faça Alex Valentin pirar somente por considerar que ele
possa estar envolvido com você e melhor: enlouquecer por imaginar como
sua noite será quente. Uma fornalha.
Fico estupefata. Assombrada com o nível de imaginação da minha
amiga. Porra, ela devia fazer filme, livro, envolver-se com ficção, porque ela
é boa. Muito boa. Embora não seja boa o suficiente para me fazer embarcar
nas suas loucuras.
— Isadora, se você acha que eu...
— Não só acho como sei que vai aceitar, pois você, mais do que
ninguém, merece estar lá. Por todo o empenho, dedicação, esforço e tempo
em ajudar nas conquistas da Suprema Essence. Também deve aceitar para
fazer o idiota do meu chefe provar do próprio veneno, porque se ele pode
desfilar com essas pseudobarbies, você também pode aparecer acompanhada
e, se depender de mim, muito bem acompanhada.
Ela tem um ponto, muito embora não deixarei minha expressão entregar
que ela quase me convenceu. Quase.
— E mais, não vou aceitar que fique aqui sem aproveitar um evento em
que merece estar por direito, para não dar de cara com um imbecil que estará
lá, seguramente acompanhado.
Certamente Isadora sabe como mexer os pauzinhos. Sabe como cutucar
com as palavras certas.
— Você sabe que eu nunca fiz nada nem minimamente parecido. Nem
sei em que site procurar, onde é seguro contratar...
Deixo que ela perceba a única restrição que restou, depois de tudo que
ouvi de sua boca.
E o sorriso que ela dá, mostra que percebeu que estou quase cedendo. E
sei que, ardilosa como é, garantirá sanar o que ainda me impede de aceitar
essa loucura.
— Ah, Cecília, eu não seria sua melhor amiga se já não soubesse sobre
tudo isso. Claro que já pesquisei, já me informei. Sei de valores e sobre
questões de confiabilidade e segurança. Inclusive, conhecendo-a como
conheço, já até filtrei alguns que talvez cairiam no seu gosto, se você não
tivesse entregado seu coração para aquele idiota de terno e gravata.
Fico espantada com o que escuto. Percebo que ela já tinha
esquematizado tudo. Sequer tinha chance de recusar e, se for sincera comigo
mesma, nem quero.
Pois sei que quero e mereço estar lá. Sei que Alex vai estar
acompanhado e claro que não quero parecer abandonada, largada. Quero que
ele acredite que tenho alguém, que estou dando a volta por cima. Que ele
sofra como eu estou sofrendo.
Nada nobre da minha parte, mas sou como sou. O amor me condicionou
a isso, a rejeição dele faz com que ele me desperte estes sentimentos.
Não vou avaliar que tipo de pessoa eu sou por me sentir desta forma,
pois tenho algo mais importante a fazer.
— Você está certa, Isadora. Quero e mereço estar lá. E por mais que
ache isso de acompanhante de luxo uma loucura, essa com certeza não deixa
de ser a melhor opção.
Minha amiga bate palminhas e abre um sorriso gigante, feliz por ter
conseguido o seu intento.
— Eu sabia, Cecília, que você não ia me decepcionar. Não ia fugir da
raia.
Balanço minha cabeça de um lado para o outro. Minha amiga é
impossível.
— E então, pronta para apreciar o cardápio? É cada pedaço de carne!
Nem mesmo eu que a conheço bem, acredito no que estou ouvindo. Rio
de nervoso.
Ela logo abre a tela do celular e se aproxima, cola seu corpo no meu e
diz:
— Você pode babar e desejar todos, mas infelizmente só pode escolher
um!
Nem me surpreendo mais com que escuto. Apenas olho para a tela,
desejando realmente que as imagens mostrem tudo isso que ela está
alardeando.
E não é que os caras são bonitos!
Que são boas-pintas e gostosos!
Muito gostosos!
— Admita que minhas escolhas foram bem interessantes! E pela baba
que está escorrendo do canto de sua boca, sei que será bem difícil optar entre
estas quatro delícias.
Num gesto automático levo minha mão até o canto da boca para checar
esta história de baba. Felizmente minha amiga está muito concentrada
secando os caras para perceber esse meu deslize.
Decido entrar no clima, decido comprar de vez esta ideia.
— Ora, Isadora, temos a noite toda pela frente. Checar cada mínimo
detalhe deles não será trabalho algum.
— Assim é que se fala, minha amiga. Felizmente me adiantei e fiz uma
pasta de cada um. Inclusive tem umas fotos bens sensuais. Parece que a
nossa noite vai ser bem interessante.
Rio, Isadora é demais. Ela nunca decepciona.
A única coisa difícil em toda essa ideia mirabolante que ela teve, vai ser
escolher somente um destes quatro monumentos.
Será uma escolha difícil, mas no mínimo excitante.
E fico feliz por este momento. Por esta noite que destoa tanto das outras
que estou passando.
Quem sabe não seja o primeiro passo. Para sair, conversar e dançar.
Para começar meu processo de cura. Pois todos esses meses é tempo
demais para sofrer. É tempo demais para me martirizar por alguém que
claramente não merece o amor que sinto. Que claramente não me merece e
nem merece a criança que carrego em meu ventre.
CAPÍTULO 39
Não tiro o olho da entrada da festa, apesar de estar com uma linda
mulher ao meu lado, e de certamente a pessoa que desejo ver mais que tudo,
claramente não merecer um segundo olhar meu.
Por ter me traído, por ter me feito sofrer. Por me condenar a essa
existência vazia de dor e solidão.
Que os holofotes não mostram, pois me empenho em aparecer sempre
muito bem acompanhado. Empenho-me a jamais ir a um evento sozinho e
congelar em meu rosto um sorriso fingido, uma alegria muito distante do
meu ser.
E hoje não é diferente. A minha acompanhante nada mais é que um
adorno, nada mais é que um escuro para blindar minha vontade, para
esconder o amor que sinto, para fingir que estou bem, que estou seguindo em
frente.
E isso não poderia ser algo mais mentiroso, não poderia estar mais
longe da verdade.
Porra, sonho com ela, só penso nela, gozo apenas para ela. Sem contato
com outras, sem ao menos tentar. Mesmo que estas que por vezes me
acompanham, insistam em terminar a noite em minha cama, mas meu corpo
renega, não há um pingo de desejo em mim.
Nem por esta, nem pelas outras. Quero somente Cecília, desejo única e
exclusivamente aquela aproveitadora.
E novamente volto ao mesmo lugar, penso nas mesmas coisas. Passo
então a mão na cabeça e tento afastar de mim estes pensamentos, mesmo que
não consiga sequer afastar meus olhos da porta de entrada.
E vejo algo que me tira do prumo, vejo algo que me desmonta
totalmente. Uma visão que há dias ansiava para ter.
Cecília. Linda. Um espetáculo.
Com sua barriga saliente, que lembra tudo que nos separa, que me faz
novamente desejar jamais ter operado, que me faz desejar até mesmo ser
enganado. E tudo para não ter que estar afastado, para não ter que viver sem
ela.
Mas não é isso que fode com tudo, não é isso que me descontrola.
É ela estar acompanhada. É ao seu lado estar um homem, que parece ter
o direito de tocar em suas costas. Ter o direito de ficar ao lado de Cecília. Na
hora sinto vontade de avançar, sinto gana de matar. Dou tudo de mim para
permanecer onde estou.
Parado. Inerte. Como um dois de paus. Os olhos bebendo desesperados
a imagem da mulher que domina todos os meus pensamentos, que ocupa o
meu coração. Tendo total consciência de que ela não está sozinha, morrendo
porque ela colocou outro em meu lugar, e infelizmente isso aconteceu
mesmo antes de terminarmos.
Um aperto sutil em meu braço lembra-me que também não estou
sozinho, mas infelizmente esta e nenhuma outra foi colocada no lugar de
Cecília. Nem na cama e muito menos no coração.
— Querido, aconteceu alguma coisa? Você está tenso!
Claro que todas as emoções que minha ex-secretária me desperta seriam
percebidas. Minha expressão fechada e a tensão em meu corpo não
passariam despercebidas. Principalmente para Bia, que já esteve em minha
cama e ao meu lado em eventos mais vezes do que eu poderia contar.
Mesmo que agora seja apenas encenação e que ela já tenha percebido que
estou atualmente fechado para balanço.
Como não respondo, ela continua:
— É ela, não é? A mulher grávida.
Faço cara de desentendido, tentando não ter que falar sobre Cecília para
ela. Pois é humilhante. É doloroso. É devastador.
— Ora, meu querido, eu sei que tem uma mulher na parada. Por isso
não rolou mais nada entre nós, e estes sorrisos que parecem congelados em
sua face, são mais falsos do que uma nota de três reais.
Bia é sagaz e esperta. E me conhece. Claro que perceberia que estou
diferente. Que não rejeitaria sexo se pudesse.
— Vocês tiveram algo?
Solto um suspiro profundo e apenas confirmo com a cabeça.
— E parece que as coisas não acabaram bem, não é?
— Não poderiam ter acabado de forma pior.
— Alex, se você quiser podemos nos afastar, ir para longe ou...
Ela faz uma pausa dramática e apenas espero.
— Ou podemos ficar próximos, fazer ciúmes, tentar causar nela o
mesmo mal que causou a você.
Isso é visível. Nem é preciso ser um expert em Alex Valentin para
perceber que estou diferente. Triste. Destruído.
E decido aceitar a oferta, não porque ache que lhe afetarei, pois vejo
seu sorriso brilhante, meus olhos não conseguem desviar de sua face
radiante. Aceitarei porque preciso estar perto, preciso de qualquer migalha
depois de meses sendo evitado. Depois de meses apenas sobrevivendo.
— E não será nem um pouco difícil, visto que está próxima de Caio.
Acho que podemos fingir um pouquinho. E que podemos sim nos aproximar
do grupo.
Tudo que quero. Morro por esta proximidade.
Somente tenho que disfarçar esta minha necessidade. Não preciso
demonstrar o quanto estou fodido.
Por isso digo com a voz calma, como se o coração não estivesse
enlouquecido em meu peito.
— Vamos para junto deles. É até esperado que sejamos um grupo. Caio
é meu vice-presidente e amigo pessoal, nada mais normal do que
comemorarmos o excelente momento da empresa, juntos.
Meu discurso coerente engana zero pessoas e isso sequer é importante.
Não quando ela ri satisfeita com minha resposta e quando nossos pés
fazem o percurso na direção em que Cecília está.
E a cada passo dado, as sensações apenas aumentam. A boca seca, o
coração ensandecido, os tremores involuntários que Bia será incapaz de não
perceber. E não me importa, nada mais me importa.
Apenas meu olhar fixo no dela. Apenas a interação que nenhum de nós
é capaz de fugir, de negar.
Que dizem tantas coisas, que mostram tantas mágoas e ressentimentos.
Mas que não conseguem disfarçar o sofrimento e nem conseguem
esconder o sentimento.
Apesar dela ter colocado uma gravidez entre nós. Dela ter se envolvido
com outro, quando eu apenas sabia ser dela.
Como ainda sou. Invariavelmente ainda sou.
E por tudo isso a noite não será fácil. Certamente uma provação.
Mas não sofrerei sozinho. Tentarei, com tudo de mim, infligir a Cecília
alguma dor.
Machucá-la, enciumá-la.
Levá-la ao inferno. O lugar onde ela me colocou.
O local onde permaneço, onde não tenho qualquer esperança de sair.
Nem agora. Nem jamais.
CAPÍTULO 40
Meus olhos inchados entregam a noite sofrida que tive. Entregam que
houve muito mais choro do que sono e que o amanhecer certamente traria a
imagem de tudo que passei.
Por não poder aceitar a proposta dele. Por ter que abdicar daquilo que
eu mais quero.
E tudo por Alex acreditar tão piamente na ciência, ou por desacreditar
tão facilmente em mim.
Eu que fui leal, amiga e apaixonada, desde o instante em que o conheci.
Muito embora nada disso pareça importante para ele, nem mesmo para
questionar algo tão facilmente esclarecido com um retorno ao consultório do
médico que o operou, algo que uma simples conversa com a minha obstetra
elucidou.
Mas ele achou mais fácil julgar, culpar. Achou mais fácil nos fazer
sofrer, mesmo que essa claramente fosse a opção mais dolorida.
E lembrando de tudo que ocorreu na noite anterior, reconheço seu
sentimento, até mesmo pela proposta que fez, mas este nada vale se não vier
associado de confiança, pois sei que essa situação sempre nos levaria a
outras desconfianças, não seria saudável uma relação iniciada desta forma.
Claro que poderia ter proposto que ele procurasse o especialista que o
operou, mas esta vontade, ou até mesmo esta dúvida sobre o seu julgamento
tem que partir dele, jamais de mim.
E ele sequer tem essa desconfiança, pois foi mais fácil propor criar o
filho de outro do que imaginar que eu pudesse estar falando a verdade, do
que imaginar que eu não seria uma golpista, uma aproveitadora.
Por que quem mais imputaria o filho de outro a alguém com quem
estivesse tendo um lance? E justo este alguém sendo um milionário mais do
que cobiçado?
Alguém com o caráter que ele me atribuiu, e continua a atribuir. Apesar
do amor. Independentemente do sentimento.
Suspiro alto, esmiuçar tudo isso não me levará a lugar nenhum, pois
não me levou durante a noite, e não o fará agora. Apenas posso esperar mais
choro e um inchaço na face ainda mais difícil de ser disfarçado, muito
embora saiba o quanto será impossível esta proeza mesmo da forma que
está.
Mas é o que temos para agora. É a opção que tenho para enfrentar mais
um dia de trabalho.
E assim o farei, porque fui forte por todos estes meses e o serei por todo
o tempo que ainda restar da gravidez.
E depois.
Somente espero não ser necessário ser forte para sempre.
Pois minha filha precisa de mim, mas precisa também de um pai.
Por isso rogo a Deus que ele encontre o caminho até ela.
Claramente já encontrou até a mim, mas não é o suficiente. Talvez o
fosse para a mulher que já fui um dia, mas não para a mãe que sou agora.
Certamente Alex precisa caminhar ao encontro de nós duas.
— Gostaria de saber o que de tão urgente você quer comigo, que sequer
pode esperar chegarmos na empresa!
Caio diz, tão logo abro a porta para ele.
— Porra, cara, você está horrível!
Não contesto. É a verdade.
E não tinha como ser diferente, não depois de como as coisas entre
Cecília e eu terminaram. Por um instante fugaz tive um vislumbre do
paraíso, para ser novamente jogado às trevas, nas labaredas do inferno.
— Achei, otimista como sou, que finalmente vocês se entenderiam, que
deixariam de procurar sofrimento gratuito e certamente evitável. Mas
infelizmente encontro você pior do que estava, se é que isso é possível.
Temo até encontrar Cecília, juro que sequer sei o que esperar depois de ver
essa sua cara de derrotado.
Suspiro, sentindo-me extremamente devastado.
Mas já ouvi demais, não o chamei para isso.
Chamei Caio aqui para me escutar. Aconselhar. Orientar.
Para me tirar deste suplício, para me ajudar a fazer Cecília me aceitar
de volta.
— Senta aí, Caio. Preciso conversar com você. Preciso que me escute.
— Você vai admitir o que sente por Cecília? Vai buscar uma forma de
resolver as coisas entre vocês? Porque, cara, depois que vi vocês dois juntos
ontem, depois da forma como abandonaram seus acompanhantes para
ficarem juntos, nada do que possa dizer me convencerá de que não gosta
dela, de que não é louco por ela!
Pra que negar? Pra que fugir da verdade mais absoluta?
E como posso querer que ele me ajude, se não me abrir com ele? Como
posso esperar que ele me auxilie a sair desta situação fodida, se não for
totalmente sincero com ele?
— Claro que gosto dela! Que sou apaixonado por Cecília! E por isso
essa minha cara, por isso tudo em mim fala de um sofrimento que já não
consigo mais suportar.
Desnudo-me.
E é fácil. E me traz um alívio que me faz bem, mesmo que
minimamente.
— O que não entendo é que saíram juntos da festa, e que parecia que
finalmente se entenderiam.
— E por um momento nos entendemos. Por um instante achei que todo
esse sofrimento terminaria.
Respiro fundo para contar da proposta, para contar nos mínimos
detalhes tudo que aconteceu.
E começo. E ele me escuta, atento.
E discorro sobre como imaginei que minha oferta soaria como a mais
sincera prova de amor, e de como minha proposta magoou Cecília. Como me
senti um verme por ver seu choro, sua decepção. Suas lágrimas.
Em como pela primeira vez duvidei sobre a eficácia da cirurgia que fiz.
E como temo que tenha me equivocado, que tenha estragado as coisas
definitivamente entre nós.
— Caio, claro que queria que esta filha fosse minha, queria mais do que
qualquer coisa na vida. Mas se isso fosse possível, se fosse realidade este
meu sonho, não sei se Cecília seria capaz de me perdoar. Não depois de eu
dizer tão claramente que criaria a filha de outro, não depois de eu jamais ter
lhe dado o benefício da dúvida.
— Porra, Alex, você está ferrado, pois conhecendo Cecília como passei
a conhecer, ela jamais se sentiria tão afrontada com a sua proposta se você
não fosse o pai. Ela jamais se sentiria tão magoada com sua oferta, se não
tivesse certeza da paternidade de sua filha. E mais, ela jamais proporia um
teste de DNA para alguém, se não tivesse convicção do que estava dizendo.
Ela não blefa. Ela é sincera. É autentica.
E é a verdade. Um amigo percebe isso, um chefe também, mas alguém
que diz amá-la, não percebeu.
E talvez seja esse o meu martírio. O meu calvário.
Sinto-me perdido. Sem chão. Sequer sei por onde começar.
— Alex, você deveria voltar ao consultório do médico que o operou.
Ouvir dele as possibilidades. Na verdade você deveria ter feito isso desde o
início. Deveria ter tentado achar uma justificativa para entender o que falhou
e não tentar arrumar um pai para a sua própria filha.
No começo recusava-me a ouvir sobre a gravidez dela, recusava-me a
sequer cogitar que a cirurgia não fosse totalmente segura. Pensava em
traição, revoltava-me por Cecília alegar que a criança era minha.
Mas bastou estar com ela para eu perceber que não posso continuar
como estou. Sozinho. Sofrendo.
Bastou fazê-la novamente minha para saber que seria o pai que a filha
dela precisava, seria o que ela quisesse de mim, desde que a tivesse ao meu
lado.
E sua mágoa e negativa fizeram-me ligar o alerta. Fizeram-me temer
estar errado, temer arrepender-me para sempre.
— E se o médico afirmar que é possível que essa criança seja minha? E
se ele apenas confirmar o quanto estou ferrado?
— E você ainda tem alguma dúvida? Ah, cara, até eu que não conheço
Cecília tão bem, sei que ela não mentiria e principalmente sobre algo tão
sério. E ainda digo mais, não mentiria pelos motivos que você, no início,
cogitou.
Envergonho-me por tê-la comparado com tantas outras interesseiras que
cruzaram meu caminho. Envergonho-me principalmente por ter deixado meu
ciúme me guiar até aqui.
Arrependo-me porque tudo isso apenas me afastou da minha mulher,
apenas me trouxe dor, sofrimento e noites e mais noites insones e solitárias.
Mas tenho que ter atitude. Tenho que tentar virar esse jogo.
— Vou procurar o médico que me operou. Vou dar o primeiro passo
para mudar essa situação.
Caio levanta as mãos para cima. Como que agradecendo aos céus por
eu finalmente mostrar algum juízo.
— E depois vou correr atrás do prejuízo, vou tentar reconquistar
Cecília.
— É assim que se fala, cara. E por favor, faça tudo isso e faça logo.
Falta pouco tempo para o parto de Cecília e ela precisará e muito de você.
Tanto agora, como depois que a criança nascer.
Aquiesço, pois o tempo não corre a meu favor.
— Assuma o seu lugar e suas responsabilidades, porque do contrário eu
serei o único prejudicado com toda essa confusão que criou.
Faço cara de desentendido, porque na verdade não consigo acompanhar
o seu raciocínio.
— Não é à toa que fez tanta besteira! Como você é lento, misericórdia!
— Não estou com humor pra gracinhas e acho que você já percebeu.
Agradeceria se fosse direto ao ponto.
Digo bravo, pois mesmo me vendo bem derrubado, Caio quer forçar
ainda mais a barra.
— Ora, Isadora está reticente em deixar Cecília sozinha, agora que o
parto se aproxima. Imagino que essa proteção e cuidado apenas aumentará
com a chegada da bebê. E isso, querendo ou não, é e será um grande empata
foda no meu lance com Isadora. Então, cara, resolve a situação de vocês e
resolve logo. Assume teu posto na cama e na vida de Cecília. Libera a minha
garota, deixa eu curtir minha Isadora. Estou viciado naquela gostosa.
Nem acredito em tamanho desaforo, mas relevo.
Apenas atino a respeito do que ouvi sobre Caio estar viciado em Isadora
e na mesma hora lembro que foi assim que comecei, e que era assim que me
enganava.
Sei bem o que ele está sentindo e o que vai acontecer.
Mas não vou dizer, pois talvez observar os perrengues do meu amigo
lavem um pouco a minha alma. Talvez observar Caio não me faça parecer
que somente eu fui um cego, um completo imbecil.
Pois não há dúvida de que nós homens somos lentos e idiotas, mas há
também uma verdade absoluta: que quando nos apaixonamos é de verdade.
E, no meu caso, é para sempre. Para todo o sempre.
CAPÍTULO 45
— Cecília, você quer namorar comigo? Quer ser minha, assim como
sou seu? Quer me permitir ficar ao seu lado e ao lado da nossa filha e fazer
de mim um homem honrado, o homem mais feliz do mundo?
A emoção me toma e eu só sei chorar.
Uma resposta tão fácil e uma vontade tão grande.
Mas infelizmente não é algo que diga respeito somente ao meu querer,
tem a ver com um universo de coisas que precisa ser colocado para fora.
Verbalizado.
E por isso tento um pouco de controle, tento ser capaz de me fazer
entender.
— Sabe, Alex, tudo que aconteceu ontem também mexeu demais
comigo. Inclusive sobre a resposta a estas suas perguntas. A que quero dar.
A que sou capaz de dar.
Vejo-o ansioso e temeroso, enquanto aguarda que eu continue.
— O fato de mesmo depois da entrega de ontem, você ainda continuar a
achar que eu mentiria sobre a paternidade, também mexeu comigo. Afetou o
que vivemos, manchou um momento que somente poderia ser descrito como
especial. Trouxe-me várias descobertas, mas trouxe também decepções.
Respiro fundo para que possa ser capaz de continuar.
— Descobri o seu sentimento e que sou retribuída naquilo que trago em
meu peito, mas também descobri que ainda há desconfiança, que você ainda
acredita que eu seria capaz de mentir sobre algo tão sério, que eu seria capaz
de enganar talvez buscando vantagens e benefícios que sinceramente não me
importam, pois a única coisa que me faz falta é a sua presença, sua
companhia. É você, Alex.
— Perdão, meu amor! Perdão! Por favor não deixe minhas
inseguranças nos condenarem a mais sofrimento, não permita que
continuemos em meio a toda essa dor.
— Alex, também não quero mais viver assim, não suporto mais tudo
isso, mas não é fácil esquecer as palavras, as atitudes. Esquecer que até
ontem você continuava a me achar capaz...
— Meu amor, me perdoe, tudo é novo demais e não fui capaz de
discernir corretamente sobre os fatos, mas juro, do fundo do meu coração
que, ao procurar o médico hoje, já tinha total confiança em você. Juro que eu
apenas queria uma razão científica para tudo, queria entender como se deu
essa dádiva.
Ele faz uma pausa, tentando um pouco de controle.
— Demorei mas entendi que a criança que carrega é minha e por isso
não faremos DNA, é algo totalmente desnecessário, pois essa é uma certeza
que não precisa de prova alguma, precisa somente ser curtida, amada.
Vivida. E eu te imploro que me permita, que nos permita essa nova chance.
Por nós, por nossa filha e pela família linda que podemos construir com o
que sentimos.
Alex diz emocionado e eu não estou diferente.
Quero tanto ceder. Preciso tanto dele. Mas ainda tem algo que me
impede. Tem algo que me assombra.
— Tenho tanto medo! Tudo ainda me machuca tanto!
Digo com um soluço. Ainda há uma barreira derradeira que somente
palavras não foram capazes de romper.
E ele então faz algo necessário. Demais.
Aproxima-se e me toma em seus braços. Abraçando-me. Confortando-
nos.
E sinto seu corpo totalmente trêmulo. Carente. Necessitado.
E sei que ele fala a verdade quando diz o que sente.
— Cecília, claro que sei que não é fácil esquecer tudo o que fiz. Que
talvez o perdão não seja instantâneo, e que muito menos aconteça sem
ressalvas ou temores. Mas, por favor, permita-nos começar o processo. Dê-
me a abertura para estar presente, para cortejá-la, mimá-la. Acompanhá-la
em suas consultas, em todo e qualquer instante que falta para a nossa filha
vir ao mundo. Por favor, permita-nos iniciar o processo de cura, permita-nos
tentar.
Alex implora, com lágrimas na face, com a alma desnuda.
E apesar do medo, do temor, aceitar o que me propõe é o que eu mais
quero. Na verdade é o que mais preciso.
— Vamos devagar, no ritmo que você quiser. Só peço que me deixe
estar presente neste momento, que me deixe tentar conquistar novamente um
espaço na sua vida e no seu coração.
E ele beija a minha face. Muitas vezes.
Com adoração. Em toda e qualquer parte que consegue alcançar.
E serve como bálsamo, e para lembrar que dele sempre quero mais,
quero tudo.
Quero o beijo necessitado que recebo. Quero a língua atrevida na
minha.
Os braços me estreitando cada vez mais, os corpos parecendo que tem
vida própria.
E nenhum dos dois consegue negar tanto desejo, tanto querer.
Mesmo havendo um longo caminho a ser percorrido, e sabendo que a
cura será demorada e a confiança restaurada lentamente, não há mais como
manter a distância ou evitar o contato.
Pois o desejo é latente e a necessidade é premente.
As bocas se afastam, momentaneamente, pois respirar se faz necessário.
E sinto-me mole, lânguida.
Pronta para ceder ao que quer que seja. Pronta para acabar com o
martírio e o suplício em que me encontro. E Alex sabe que talvez este seja o
momento, ou tão somente ele não consiga não insistir, não implorar.
— Meu amor, por favor, diga que aceita que tentemos. Diga que não
será somente mais um instante, que poderei buscar me redimir.
Fecho meus olhos, tentando questionar-me internamente sobre o que
fazer. Lembrando todos os bons momentos que vivemos, relembrando todos
os maus que me fizeram companhia recentemente. E não é uma escolha
difícil, não quando lembro de como as coisas eram perfeitas entre nós e de
como ele parece arrependido e pronto para se redimir.
E a escolha ainda se torna mais fácil quando lembro de como necessito
dividir com ele este momento, de como quero sua companhia e apoio
enquanto gesto nossa filha, enquanto aguardo que venha ao mundo.
— Prometo que serei paciente, que caminharemos lentamente e que as
coisas serão como você quiser. Somente quero estar perto, matar essa
saudade que me consome e demonstrar que posso ser alguém digno de estar
ao seu lado e ao lado da nossa filha.
Não consigo responder, por temor, mas também devido a emoção que
me domina.
Mas posso me fazer entender de outra forma. Singela.
Um balançar de cabeça. Lento. Simples.
Que nos tira do inferno, que traz a felicidade de novo para as nossas
vidas.
— Obrigado, Cecília, sei que não mereço, mas vou buscar ser
merecedor desta oportunidade. Vou ser digno de você e da nossa menina.
— É o que mais quero, Alex. Por favor, não me decepcione.
— Nunca, Cecília. A partir de hoje vou viver para fazer você feliz, para
ser um homem melhor e para ser um pai exemplar. Vou me esforçar para
cumprir o que estou prometendo e para que você jamais se arrependa de nos
dar esta oportunidade.
Ele me dá um selinho calmo, um gesto de carinho, pois não pode ficar
longe. Apenas algo para selarmos esse compromisso, esse recomeço.
E antes que nos percamos nos corpos um do outro, decido desanuviar
toda esta emoção que nos envolve. Decido que merecemos uma trégua das
tristezas do passado e das emoções do presente.
— Estou feliz que tenhamos decidido por tentar, e que tenhamos sido
fortes o suficiente para perdoar e reconhecer nossos erros.
Ele acena fortemente, concordando, certamente vibrando por
novamente estarmos juntos.
— E é isso, Alex. Uma nova chance. Uma oportunidade. Certamente
um treinamento. Onde você terá que levar em conta muitas coisas,
principalmente os desejos e os hormônios de uma mulher grávida.
Digo insinuante, com uma piscadela.
Ele me abraça mais, parece que tudo somente aumenta ainda mais o
querer, a necessidade.
— Seria como um treinamento de aptidão física?
Diz safado, como o libertino que é.
— Mais ou menos isso.
E aperto-me mais contra ele, deixo claro que estou louca para fazer
sexo de reconciliação.
— Ah, Cecília, prometo que serei o melhor e que você nunca terá
motivos para reclamar, principalmente neste quesito. Garanto a você que
sempre deixarei você satisfeita e saciada. Prometo que você terá sempre um
homem apaixonado e louco de desejo em sua cama.
E avança sobre mim. Porque já conversamos demais. Porque o fogo
queima e ameaça nos tomar.
Pois a saudade é intensa e o desejo é urgente.
São mãos, beijos e a busca por contato. Por pele.
São roupas retiradas e a certeza de que jamais chegaremos ao quarto.
E isso não é importante, nada mais é.
Teremos muito tempo para isso, certamente teremos uma vida inteira.
Pois agora estamos juntos novamente, como sempre deveria ter sido. E
como será a partir de agora.
Pois o amor foi maior e o desejo também.
O perdão, bem como a redenção.
Maior que tudo, além de qualquer coisa que não fosse o que sentimos.
Que não fosse nós e a vida que concebemos.
CAPÍTULO 47
Sei que Alex quer conversar, e aposto que até imagino o assunto.
A maneira como passa a mão no cabelo e a forma como movimenta o
pé esquerdo sem parar, não me passa despercebido. Mesmo assim não o
apresso, será no seu tempo.
— Cecília, sei que lhe prometi paciência e cadência em nosso
relacionamento e você sabe que venho me esforçando, mesmo que isso seja
algo difícil para mim, pois, no que diz respeito a estar com você, agir desta
forma é praticamente um castigo. Certamente um suplício.
Exagerado. Demais.
— E com a proximidade do nascimento da nossa filha, tudo apenas
piorou, pois sei que não vou suportar não estar com você em todos os
instantes do dia, não vou suportar saber que estou longe e que você pode
entrar em trabalho de parto a qualquer instante.
Apenas observo e ele parece cada vez mais nervoso. Quem diria que o
poderoso Alex Valentin ficaria assim tão perdido durante uma conversa com
a namorada?
— Como vou dormir longe de você? Como vou conseguir ter paz
quando penso que algo pode acontecer com você ou com nossa filha?
A voz embarga e sei que ele está sofrendo. Esta distância que mantenho
entre nós, nesta etapa da gestação, está deixando meu namorado mais do que
agitado.
— E o que você me propõe? O que posso fazer para que as coisas sejam
mais leves para você?
Ele respira fundo. Aperta as mãos uma na outra e baixa o olhar. Sei o
que ele quer, mas vou esperar que diga as palavras.
— Vou ser sincero com você, Cecília, tudo que eu queria era ter você ao
meu lado, na minha casa. Para sempre. Montar um quarto lindo para a nossa
filha e ficar o maior tempo possível ao lado de vocês. Queria casar, assinar
papel, sermos marido e mulher.
Sinto um toque de dor, até mesmo de desespero. Percebo-o respirar
fundo para fazer a proposta que ele acha mais oportuna, que tem alguma
chance de ser aceita por mim.
— Mas como tenho ciência de tudo que aprontei, e que na verdade
ainda estou no lucro, ficaria feliz se você me aceitasse aqui, que permitisse
que eu trouxesse algumas coisas minhas e que eu pudesse dormir e acordar
com você todos os dias. Queria também que quando Marília nascesse eu
pudesse trocar, banhar, colocar para arrotar. Todas essas coisas que estou
louco para fazer e que, se estivermos em casas separadas, não terá como. Na
verdade chego a suar frio por imaginar que minha ausência possa fazê-la me
estranhar, possa fazer com que minha filha não se acostume comigo.
Sei que ele é exagerado, mas que eu fiquei com uma peninha, isso eu
fiquei.
— Vamos ver se eu entendi direito, Alex. Você quer se mudar para cá,
um apartamento minúsculo, que mal cabe Isadora, eu e o berço que comprei?
Você quer abandonar todo o luxo e conforto...
— Você ainda não entendeu, Cecília? Você é minha casa. Onde você e
minha filha estiverem será o meu lugar, e será o melhor lugar do mundo.
Diz emocionado. Certamente agitado.
— De que vale tudo aquilo se não consigo pregar o olho quando você
decide que não dormiremos juntos? De que vale todo o conforto da cama se
parece ter espinhos e não é capaz de me fazer sequer cochilar, quando estou
longe?
Dramático? Talvez. Muito embora saiba que não é fácil, pois também
passo por tudo isso.
— Por favor, meu amor, sei que ainda preciso amadurecer mais e que
não é fácil para você esquecer tudo aquilo, mas eu te peço: vamos dar mais
este passo. Aceite-me aqui, vamos fazer este arranjo. Pelo menos até que
esteja pronta para me aceitar totalmente em sua vida!
— Ah meu amor, você soube como ganhar meu sim. A forma como
abdica da sua vida para partilhar da minha é algo que a cada dia me
convence que você amadureceu e que merece sim uma chance. Que é um
novo homem e que merece o meu voto de confiança.
Alex não cabe em si de contentamento. E não consegue mais se manter
distante. Avança rapidamente sobre mim e me enche de beijos.
— Eu te amo! Te amo, minha Cecília!
Aproveito seu rompante e me delicio com seus carinhos, com seu gosto.
Quando ele parece um pouco mais controlado, diz:
— Posso ir pegar minhas coisas? Podemos colocar isso em prática
imediatamente?
E agora vem a melhor parte. Vem a cereja do bolo.
Pois não seria justo colocar todo mundo num aperto, também não seria
justo submeter Isadora a choro e noites insones, quando no outro dia terá que
trabalhar e ainda mais dobrado, pois, pelo andar da carruagem, o digníssimo
pai ficará afastado da empresa o maior tempo possível.
E também não seria justo conosco. Com nosso amor. Com nossa
família.
Deixar que o passado dite eternamente as regras. Direcione para sempre
o nosso presente. O nosso futuro.
Um tempo novo chegou. De esperança. De amor. De uma nova vida.
E o perdão finalmente chegará. Plenamente.
Pois já não mais existe mágoa. Rancor.
A dedicação, o empenho e o arrependimento de Alex fizeram isso. Seu
amor foi o maior responsável por isso.
E isso eu já sinto. Já sei.
Que o sentimento venceu a desconfiança, a dor e o sofrimento.
E ele também saberá. Agora. Sem mais delongas.
— E o que você acha de arrumarmos minhas coisas? O que você acha
de ser eu a me mudar para a sua casa?
Ele parece abismado. Totalmente estupefato.
— Você está brincando, não é?
A voz ansiosa. O grande CEO resumido a um garoto temeroso de que
seu maior desejo não passe de um sonho.
— Alex, acho que nosso amor precisa desse passo, desse voto de
confiança. Fomos privados muitos meses, e limitados outros tantos dias.
Acho que amadurecemos, acho que estamos prontos.
— Sim, meu amor, claro que sim!
Olhos umedecidos, assim como os meus.
— Então é isso. Ajeitarmos todas as minhas coisas e as de Marília,
ficarmos juntos esperando o grande dia e depois aproveitarmos a
maternidade e a paternidade como tem que ser.
Ele beija minha testa com reverência e diz:
— Obrigado, Cecília. Não sou digno desse seu gesto, mas viverei para
provar que sou um novo homem, para provar o meu amor e a minha devoção
para você e para a nossa Marília.
Emociono-me. Pela pessoa que ele é hoje. No grande homem que se
transformou.
Decido desanuviar um pouco, decido impedir que o choro me tome.
— Pois comecemos com a mudança, porque garanto a você que suas
meninas não estão para brincadeira quando o assunto é roupas e acessórios.
Nem sei se conseguiremos mudar tudo antes do parto.
Digo, exagerada.
Alex apenas ri, feliz.
— Ah meu amor, tenho uma condição. Apenas uma.
Ele sequer titubeia. Diz de pronto.
— Qualquer uma, Cecília, não sou capaz de negar-lhe nada e jamais
serei.
— Você escolheu o dia em que finalmente juntaremos nossas escovas,
nada mais justo que eu escolha a data do sim definitivo.
Ele acena, concordando.
Nossa convivência é muito fácil, passou a ser.
Dialogamos, conversamos, cedemos e confiamos.
— Condição mais que aceita, meu amor. Claro que não vejo a hora do
papel, do anel, mas aguardarei.
Dou um selinho por sua compreensão, por este novo Alex.
— Posso ao menos pedi-la em casamento? Posso ao menos buscar o seu
sim?
— Alex, se você for ao menos razoável com relação ao intervalo entre
os pedidos, digamos que você possa treinar.
— Ah, meu amor, assim será. Viverei para merecer o seu sim, sem
fraquejar e sem esmorecer. E quando ele acontecer, vai ser no tempo certo.
Vai ser perfeito e vai ser para sempre.
Beijo-o. Emocionada. Feliz demais.
No coração um amor maior que tudo. Na alma uma gratidão por termos
finalmente conseguido vencer o que nos separava. O que nos afastava.
Para sermos enfim um do outro e estarmos preparados para este passo.
E preparados para todos os outros passos que o futuro nos reservar.
CAPÍTULO 49
Minha vida não poderia estar melhor e nem meus dias mais felizes.
Durmo e acordo ao lado de Cecília, inclusive evito desgrudar dela um
instante sequer. Por gostar e necessitar estar sempre perto, devido à
proximidade da data prevista do parto.
Como o prazo que a médica deu já está findando, conversamos e ela
não está mais indo para a empresa, consequentemente estou trabalhando em
home office. Quero estar com ela quando acontecer e por isso somente saio
de casa para resolver coisas do trabalho se realmente a minha presença for
indispensável.
Tudo já está arrumado no closet, bolsa da maternidade pronta e o berço
dentro do nosso quarto. Como a mudança de Cecília para cá aconteceu há
poucos dias, ainda não houve tempo hábil para que o quarto de Marília fosse
concluído, muito embora uma equipe já esteja trabalhando para que ele fique
pronto o mais rapidamente possível.
E tudo isso leva um sorriso fácil aos meus lábios, e a notícia que recebi
ainda há pouco apenas melhora o meu humor. O infeliz do Fernando
Gonçalves foi finalmente preso, e já não era sem tempo.
Claro que depois que descobri a identidade do maldito, movi céus e
terra para que esse dia chegasse. Cobrei favores, forneci-os, usei todo o meu
poder e dinheiro para este fim. E por mais que saiba que meu
comportamento é mais do que repreensível, não me arrependo, pois a justiça
será finalmente feita.
E de repente os depoimentos passaram a ter sentido, de repente a
desconfiança recaiu sobre ele. Mas não posso levar sozinho o mérito por
essa boa ação, o infeliz contribuiu e muito para esse desfecho. Pois, como
um doente que é, ele novamente repetiu seu comportamento asqueroso e a
vítima, desta vez, foi tratada com o cuidado e a credibilidade merecida. E
teve então a denúncia, a prisão. E se depender de mim ele mofará atrás das
grades, pois vou fazer o possível e o impossível para que ele pague por todos
os crimes que cometeu.
E estou ansioso para contar as boas novas para Cecília, mas
prontamente mudo de ideia quando vejo a expressão da minha mulher ao sair
do banheiro.
Tensa, certamente sentindo dor.
De pronto me levanto e agitado, digo:
— Cecília, o que...
— Chegou a hora, Alex.
Sem muitos rodeios, nem dúvida nas palavras. Como a mulher decidida
que é. Forte como jamais deixou de ser.
Mesmo que esteja levemente encurvada, devido a dor. Mesmo que a
mão na sua barriga mostre que as coisas já estão mais avançadas do que eu
sequer desconfio.
E isso me põe louco, me faz desesperado. E somente consigo ficar
inerte, paralisado. Esperando o comando, sendo de pouca valia neste
instante.
— Alex, pegue a bolsa da Marília, os meus documentos e vamos para o
hospital.
Começo a me movimentar e isso me faz sair da letargia em que me
encontrava.
Arrumo as coisas enquanto com um canto de olho a vejo respirar fundo,
e percebo, pela sua expressão, que suas dores apenas aumentam de
intensidade.
Quando estou com tudo pronto, aproximo-me e tento colocá-la em
meus braços.
— Não, Alex, quero caminhar. Estimula o trabalho de parto.
Sempre forte, sempre fazendo o que é melhor para o nascimento da
nossa filha.
Sinto o orgulho me invadir, muito embora o que predomine neste
momento seja o desespero e a ansiedade.
Seguro então sua mão e seguimos. Lentamente. No ritmo dela.
Aproveitando para avançarmos nos intervalos entre as contrações.
Quando chegamos na garagem, o motorista já está a postos e abre a
porta. Felizmente não preciso dirigir, não daria conta.
— Amor, temos que ligar para a doutora...
— Já fiz o contato, toda a equipe já está nos esperando.
Independente. Determinada. Talvez tenha passado tempo demais
sozinha durante a gestação, talvez preparou-se por imaginar que não poderia
contar comigo, como deveria.
E sou tirado de minhas recriminações por um gemido sentido, por um
aperto firme em meus dedos.
— Cecília, as dores estão cada vez mais próximas, tenho medo...
— O hospital não é longe, e não acho que seja assim tão rápido.
Pela primeira vez sinto que suas palavras trazem um pouco de medo
pelo que a aguarda, pelo processo doloroso que pode ser um parto vaginal.
Sim, minha mulher escolheu o mais saudável, o tipo de parto que traria
mais vantagens para a nossa filha, mesmo sendo o mais dolorido. Somente
optará pela cesariana se for uma indicação de última hora, se não conseguir
trazer nossa filha ao mundo da forma como gostaria.
O carro estaciona e agradeço a Deus por termos chegado a tempo para
que minha esposa tenha o acompanhamento que necessita.
Logo uma equipe chega trazendo uma cadeira de rodas e felizmente
Cecília tem o bom senso de deixar-se conduzir. Talvez para chegar o quanto
antes, ou tão somente por não suportar sequer andar.
E enquanto acompanho-a ser conduzida, observo que as contrações
aumentam a cada instante e que, para a minha Cecília, as coisas não estão
sendo fáceis.
No corredor encontramos a médica que logo diz:
— E aí, Cecília, pronta?
Minha mulher engole em seco e isso mexe comigo. Sei que as dúvidas e
os temores finalmente surgiram, mas ela é forte o suficiente para responder,
com a voz baixa, que não passa de um sussurro:
— Tenho que estar, doutora!
E isso me quebra, mas também me estimula a tentar ser a fortaleza que
Cecília precisa.
— Onde me preparo, onde...
— Márcia, acompanhe o pai. Leve-o para se preparar e depois o
conduza para a sala de parto.
Dou um beijo na testa da minha mulher e digo:
— Volto o mais rápido que puder. Não ouse trazer Marília ao mundo
sem a minha presença!
Ela tenta rir do meu tom jocoso, mas sua expressão não passa de um
esgar de dor.
Apresso-me a seguir a enfermeira. Apresso-me a fazer o que é preciso.
Logo estou pronto e sou levado para a sala de parto e, assim que
adentro, corro para perto da minha mulher.
— Respire, querida. Respire.
Cecília está numa espécie de mesa própria para parto, enquanto sua
médica a orienta. Pessoas se movimentam pela sala, cada qual realizando o
que lhe é designado.
Percebo que as contrações estão cada vez mais perto uma da outra e que
não é fácil suportar tudo isso. O aperto firme em minha mão diz isso, o suor
que escorre em sua face mostra isso.
Alterno beijo na testa com palavras de carinho enquanto vejo o tempo
passar demoradamente. Percebo Cecília desgastada, aparentemente no
limite.
— Eu não vou conseguir! Não aguento mais!
Sua voz chorosa, derrotada.
Acaba comigo, dilacera-me.
— Doutora, por favor, faça uma cesariana. Cecília não vai aguentar...
Ela me interrompe e diz animada:
— Estou vendo a cabecinha. Agora está perto. Vamos, Cecília, só mais
um pouquinho.
E isso parece renovar as forças da minha guerreira. Parece lhe dar garra
para um esforço derradeiro
E ela me aperta mais. Espreme-se demais.
E grita. E há também um outro grito.
Mais precisamente um choro. Uma dádiva que logo é erguida para o
nosso encantamento.
— Seja bem-vinda, linda Marília!
E desmancho-me, de amor e gratidão.
Cecília não está diferente, totalmente tomada pela emoção.
A médica faz os cuidados com o cordão umbilical e coloca Marília ao
alcance dos nossos braços.
— Nossa filha, Alex. Nossa filha!
E chora. Eu choro mais.
E nossa menina parece entender a importância do momento. Do
reconhecimento.
Então abre os olhos e nessa hora percebo que sou capaz de morrer e de
matar por ela. Por elas.
— Linda demais! Perfeita como a mãe!
Minha mulher ri descrente e constata:
— Ora, Alex, ela tem tanto de você! Os olhos são iguaizinhos...
— Cecília, Marília é guerreira e linda como você. Ela é o meu amor,
assim como você!
E sai fácil, muito fácil. Nunca achei que me declarar assim me deixaria
tão leve e feliz.
— Obrigado, Cecília. Neste momento somente posso ser grato por sua
generosidade, por seu perdão e por seu amor. Obrigado por unir nossa
família, quando a única coisa que fiz foi...
E nossa garotinha chora, insatisfeita com alguma coisa, talvez até
mesmo com o assunto.
E Cecília verbaliza meus pensamentos.
— Passou, meu amor, passou. Eu entendo isso e Marília também. E
estarmos aqui juntos é a maior prova disso. E termos nossa filha nos braços é
o motivo que faltava para esquecermos de vez nossos erros e seguirmos
finalmente em frente. Esquecendo totalmente o passado e focando
exclusivamente no futuro. Deus foi muito generoso conosco e o mínimo que
podemos fazer é agradecer e nos esforçar para sermos felizes.
A voz embargada. Buscando realmente o esquecimento. Querendo e
esperando que eu definitivamente me perdoe.
— Você está certa, meu amor!
E neste momento finalmente sinto que sou capaz de me perdoar.
Instantaneamente chego a sentir isso em minha alma
E na hora agradeço a Deus por sentir-me livre do peso, do remorso e da
culpa. Agradeço a Deus por finalmente sentir-me pronto para amar e me
doar plenamente à minha família.
E isso é amor. É milagre.
É o efeito das minhas meninas na minha vida.
EPÍLOGO
FIM
Conheça os outros trabalhos da autora
A OBSESSÃO DO ADVOOGADO
Mariana sonha com um amor impossível!
Menina humilde, trabalha há algum tempo na casa de abastados e
influentes advogados da capital paulista. Mesmo sem qualquer esperança,
alimentou por anos uma paixão platônica pelo filho de seus patrões, o
herdeiro e sucessor do legado Andrade.
Percebendo ser em vão este sentimento, resolve mudar atitudes e
comportamentos. Após anos de dor e sofrimento, resolve seguir em frente.
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