As Meninas Rejeitadas Do CEO Libertino - J Munyz

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Copyright © 2023 J Munyz

Capa: Dennis Romoaldo

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimento descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com fatos reais é
mera coincidência.

Todos os direitos reservados


Nenhuma parte desta obra pode ser utilizada ou reproduzida por quaisquer meios existentes sem
a autorização prévia e expressa da autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei
N° 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
SUMÁRIO

SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
EPÍLOGO
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SINOPSE
Ela é feia, ou ao menos se esforça para ser.
Ele adora o belo e vive rodeado de lindas mulheres.
Ela se empenha para parecer invisível ao seu chefe.
Ele jurou jamais se envolver com uma secretária novamente.

Alex Valentin é mais do que satisfeito com a aparência pouco atrativa


de sua funcionária.
Cecília Moraes valoriza o fato de, pela primeira vez, ser reconhecida
como a secretária dedicada e esforçada que é.

Mas em uma noite aleatória, tudo muda.


Bebida, cumplicidade e sexo quente.
Alex percebeu que além de ser o melhor sexo de sua vida, Cecília está
longe de ter a aparência que aparenta. Ele percebeu também que quer
muitas outras noites com Cecília, que as coisas entre eles estão apenas
começando.
Mas um mal-entendido, afasta-os. Um equívoco acaba por separá-los.

Será que o libertino, que sempre esteve rodeado de lindas modelos,


está pronto para um relacionamento com alguém que parecia tão longe de
seus padrões?
Será que a secretária grávida conseguirá ser capaz de perdoar alguém
que a tratou como uma qualquer?
PRÓLOGO

Ver o sorriso vitorioso no rosto desta infeliz faz eu me sentir um trouxa,


um grande imbecil.
Porra! Quebrei a minha regra número 1 e para que? Para eu ser
ameaçado, extorquido e, no final, ainda perceber no rosto da biscate essa
expressão que me faz ter vontade de socar a minha própria cara.
Claro que sei que Carla é gostosa, e sei que ela se insinuou até que eu
cedi e a fodi em cada canto do meu escritório. Meu pau tava até viciado
nela, viciado em tirar meu estresse do dia em suas curvas gostosas. Mas,
mesmo eu sendo um tremendo de um puto, não fui eu quem deu em cima,
que demonstrou interesse e muito menos que deixou claro o quanto queria
ter os miolos fodidos pelo CEO da Suprema Essence. Foi Carla. Mas
infelizmente para a minha conta bancária, seu interesse ia muito além de
receber orgasmos do chefe.
E descobri isso da pior forma possível. Com chantagem, com vídeos
que eu sequer imaginava que existiam e com a porra de uma ameaça de levar
meu nome e o da minha empresa para a lama.
E isso me trouxe a esta sala. A um acordo entre as partes, com a
presença de advogados representando os envolvidos e eu tendo que pagar
uma nota para ela assinar a porra de um contrato que garante que a infeliz
jamais usaria os vídeos ou eu acabaria de vez com a raça desta fingida do
caralho.
Essa oportunista gozava gostoso no meu pau, gritava de prazer em
nossas transas e me aparece com tudo isso registrado, com vídeos que
mostram que está sendo fodida no meu escritório e ainda ameaça jogar esta
porra no ventilador. É ou não é pra foder com o juízo de qualquer um?
E é por isso, mesmo jamais gostando de perder, e odiando o fato de ter
sido encostado contra a parede, que pago. Muito. Mais do que suficiente
para ela viver com tranquilidade o restante de sua existência medíocre, e
também o suficiente para que eu jamais precise olhar novamente para a cara
desta cretina.
Tenho esta certeza porque meu advogado é o melhor. Do país, quiçá do
planeta. Sei que o contrato que redigiu não tem brechas. Ela jamais
conseguiria outra forma de me ameaçar, jamais me faria passar por algo
deste tipo novamente.
Nem ela e nem ninguém. Esta é uma decisão. A única certeza que tenho
na vida. Jamais foderei uma funcionária novamente. A partir de hoje minha
regra será respeitada. A partir de hoje elas passarão bem longe da minha
mesa, do sofá da minha sala, ou de qualquer parede da droga deste escritório,
que sei que somente o teto ainda não foi batizado.
— Sabe por que esperei três meses para mostrar os vídeos, as provas?
É muita audácia. Uma afronta.
A ordinária extorque de mim uma soma milionária e ainda tem o
desplante de me dirigir a palavra. É mesmo muito atrevimento! Que Deus
me dê sabedoria para eu me manter calado, para que eu não diga pra essa
fodida desprezível tudo que meu ser implora para que eu grite em alto e bom
tom.
Infelizmente a minha carranca não a impede de abrir a boca, não a
impede de falar o que quer.
— Seu corpo gostoso e o fato de você saber e bem o que fazer com uma
mulher.
Não amacia o meu ego, não me dá prazer esse projeto de elogio.
Apenas me dá asco e reforça a certeza de que jamais transarei com uma
funcionária novamente. Mesmo que seja gostosa, loira e fodível. Mesmo que
seja o meu número.
Foderei as que encontrar na balada ou as inúmeras modelos que
assinam contrato por projeto e que estarão livres tão logo gravem a
campanha para a qual forem contratadas.
Levanto-me, não aguento mais respirar o mesmo ar que ela. Já fiquei
aqui mais do que o esperado para alguém que está sendo extorquido por ter
dado prazer e por, sem nenhuma dúvida, ter proporcionado a ela os melhores
orgasmos que já sentiu.
— Poderia ser pior, Alex!
Respiro fundo, não vou retrucar. Ela terá o meu desprezo e a minha
frieza, qualidades tão conhecidas no meio empresarial.
— Eu poderia ter ficado grávida. Poderíamos ter gerado uma vida,
Alex.
Diz com um tom de voz que me gela a alma.
E a imagem me vem à mente.
Ameaças e extorsão. Brigas e mais brigas judiciais.
E sei que estarei exposto. Sei que em algum momento alguém pode
aprontar para cima de mim. Que posso encontrar novamente tipos como ela,
tipos que tenham suas intenções bem definidas: dar um golpe na maior
fortuna do país.
E isso faz um alerta se acender em minha mente. Faz eu pensar em
evitar essa possibilidade para sempre.
Vasectomia parece uma opção. Encapar o meu pau será, como sempre,
uma obrigação.
Decido quebrar meu voto de silêncio. Decido deixar bem claro todo o
asco que sinto por ela.
— Eu não teria tanto azar! Uma criança não teria a infelicidade de
surgir de um ato tão desprovido de sentimento e, que agora descobri, cheio
de tão péssimas intenções. Uma foda. Com uma qualquer. Com uma pilantra.
Nojo. Repulsa. É o que sinto. Por Carla e por esta possibilidade tão
repugnante.
Digo para ofender. Para tentar sair por cima. Para buscar aliviar todo
esse ódio que me corrói.
Decido que já que abri a boca, essa infeliz ouvirá mais alguns
desaforos.
— E que fique bem claro: nunca mais apareça na minha frente. Terá sua
entrada barrada permanentemente neste prédio e, se tiver o mínimo de bom
senso, sequer pisará na calçada. Aproveite este dinheiro que arrancou de
mim, ou arrume outro trouxa qualquer para tentar novamente se dar bem,
mas nunca mais apareça na minha frente, ou não serei tão cavalheiro como
fui agora. Agirei como fui treinado a agir, farei o que sempre faço com meus
oponentes. Esmagarei. Destruirei. Foderei tanto com a sua vida que você se
arrependerá de ter oferecido essa boceta desprezível para mim.
Nunca fui conhecido por ser cordato ou paciente, muito pelo contrário.
Infelizmente a situação me forçou a agir tão fora da casinha.
Infelizmente toda a pornografia com que fui coagido me obrigou a atitudes
extremas.
Atitudes caras, sexo que me custou uma verdadeira fortuna, mas golpe
em que jamais cairei novamente.
A começar por ventilar a opção pela vasectomia. Minha família não
passou nem perto de ser como uma de comercial de margarina, e talvez eu
não queira que uma criança passe pelas coisas que passei na infância. E
outra, nunca mais contratarei uma mulher bonita para ser minha secretária,
pois por mais que eu esteja escaldado e não vá cair neste truque novamente,
a convivência, as viagens constantes que preciso fazer com uma secretária
do lado, podem criar situações que façam com que me arrependa
amargamente, que façam com que mexa na minha conta bancária e na minha
dignidade.
Então a opção será contratar alguém que não me chame a atenção,
alguém que passe longe de ter os atributos que me atraem.
Uma mulher feia, muito diferente das que sempre saio, do padrão que
sempre busco em minhas companhias femininas.
Uma que eu não queira foder durante o expediente, uma que não me
faça passar por uma situação como esta novamente.
E é pensando nisso que me afasto, que caminho a passos largos para
longe de Carla e do fodido golpe que levei.
Sabendo que jamais cairei em algo assim novamente, sabendo que a
minha próxima funcionária não terá que ser somente feia, ela terá que ser
além.
Será uma condição inegociável, assim como a vasectomia
aparentemente será algo mais do que certo em um futuro próximo.
Mas antes que eu deixe terminantemente a sala, digo:
— Aproveite esse dinheiro, faça com que dure todo o caralho de sua
existência, pois é o único que você ou qualquer oportunista de merda
conseguirá arrancar de mim enquanto eu respirar.
E é com essa promessa que finalmente me afasto.
Para longe desta experiência que me levou uma soma considerável, mas
que me trouxe uma certeza: jamais me deitarei com uma secretária
novamente.
E para cumprir essa promessa sem passar pelo mínimo de vontade,
decido que minha nova funcionária não terá charme, beleza e muito menos
sex appeal.
Será feia. Será a mais feia que eu conseguir contratar.
CAPÍTULO 01

Felizmente consegui. Depois de mais de um mês sem secretária fixa,


finalmente terei alguém. E melhor, Cecília Moraes preencheu todos os
requisitos.
Astuta, articulada, aparentemente muito inteligente e o mais importante:
não possui nada em sua aparência que possa vir a me chamar a atenção.
Posso, sem temor algum, passar horas de voos com ela ao meu lado,
assim como posso fazer hora extra sempre que necessário sem qualquer
medo de me deixar levar pelo desejo e sem temer ser seduzido por ela.
E isso me traz alívio. Um grande alívio.
Não preciso ter que arrumar secretárias substitutas ou ter que contar
com alguém vindo de um dos setores da empresa para ter que suprir as
necessidades da presidência.
Felizmente as coisas por aqui começarão a se ajeitar e se, Cecília for
tudo que aparentou ser, minha vida entrará nos eixos depois do mês mais
traumático à frente da Suprema Essence.
Porra, tudo foi tão corrido que mal tive tempo de foder. Somente não
fiquei em branco porque algumas modelos, ao fim da campanha para qual
foram contratadas, resolveram fazer uma visitinha cheia de más intenções ao
CEO atarefado e gostoso, palavras delas.
Elas fingem que é somente desejo que envolve estes instantes e não
apenas mais uma tentativa de serem chamadas em um outro momento, e eu
finjo que acredito que é somente um orgasmo intenso que procuram.
E é isso, elas fingem que me enganam e eu finjo que elas tão somente
querem meu pau grande e grosso enterrado em suas vaginas gulosas.
As modelos não têm vínculos com a empresa e eu sou livre, leve e
solto, e nada melhor para curar o estresse destes dias do que uma trepada
gostosa na minha mesa que parece ter sido feita para o pecado.
Estou tão satisfeito por ter contratado Cecília e ter aparentemente
resolvido meu problema, que rio comigo mesmo, contente por finalmente ter
colocado um ponto final em todo o circo que foi o meu envolvimento com
Carla e todo o tipo de complicações que isso me trouxe.
Por isso que gosto de fodas sem sentido, por isso não gosto de repetir
mulher. Infelizmente ela era gostosa demais para eu pensar com a cabeça de
cima, mostrava uma vontade absurda de me ter dentro dela, mesmo que eu
só fosse descobrir o que era toda aquela vontade depois do primeiro contato
do advogado da desgraçada.
Mas para o bem do meu bom humor, é importante que eu afaste estes
pensamentos da minha mente. Já foi, já deu, já me fodi. Sequer adianta
chorar pelo leite derramado. O jeito agora é ficar atento e tentar manter
distância das minhas funcionárias e buscar conservar Cecília no cargo por
muito tempo.
Pois certamente tê-la ao meu lado diariamente não será problema e não
me fará cair em tentação. Não mesmo.
Nada na minha nova contratada me chamou a atenção e isso já era até
de se esperar. Óculos grossos, roupas largas, totalmente fora do padrão atual
e que encobrem todo e qualquer pedaço de pele, combinando perfeitamente
com um sapato horrendo que tornava tudo ainda mais atrativo aos meus
interesses.
Normalmente não verificaria cada detalhe de forma tão minuciosa, mas
depois do que passei e da necessidade que tinha de contratar alguém que não
me chamasse a atenção, nem mesmo minimamente, a visão de Cecília foi
como um oásis para mim.
E para completar o pacote, a forma como seu cabelo estava preso, em
um coque que talvez nem minha avó se fosse viva usaria, foi definitivamente
o último atributo que me fez contratá-la sem mais delongas.
Agora é deixar de focar em algo que nunca havia precisado de minha
atenção, pois jamais tinha selecionado secretárias, deixava isso ao encargo
do setor responsável. Mas como tinha algo em mente, dessa vez fui eu a
escolher a dedo aquela que passaria a maior parte do dia ao meu lado. Agora
é bola pra frente, seguir a vida como sempre segui. Focar na Suprema
Essence que é a maior empresa nacional no gênero de cosméticos, tendo na
perfumaria o carro chefe dos nossos lucros astronômicos, que faz o
patrimônio da empresa aumentar de forma exponencial e o meu pessoal
chegar a um patamar em que eu precisaria de centenas de vidas para poder
gastá-lo. Focar também em satisfazer os meus desejos e vontades pessoais.
Em sair, curtir e pegar geral.
Faz um tempo que não tô no clima, faz um tempo que não tenho um
momento para relaxar.
E parece que tudo hoje está conspirando para que eu chute o balde.
O fato de ser sexta-feira, de ter uma social na casa do puto do Caio,
meu parceiro de farras e, em horário comercial, o vice-presidente
competente da minha empresa.
Porra, já fico aceso. Sei que vai estar cheio de gostosa, bebida da
melhor qualidade, além da certeza do sexo delicioso e suado que farei.
E isso faz eu começar a organizar minhas coisas para encerrar meu
expediente bem antes do que venho fazendo nos últimos tempos.
Estou precisando de um descanso. Nem só de trabalho vive o homem.
Claro que gosto do poder, do respeito e de todas as vantagens inerentes
ao meu cargo de CEO, mas preciso usufruir disso tudo.
Preciso aproveitar a minha liberdade, que é a coisa que mais valorizo na
vida, assim como preciso foder loiras lindas e gostosas, preciso satisfazer o
desejo irrefreável que elas me despertam.
Claro que como morenas, negras ou ruivas. Porra, não dispenso mulher,
mas, caralho, as loiras mexem comigo, ativam meus instintos, atiçam o
caçador que há em mim.
E hoje será uma loira que receberá o meu pau. Será uma loira que se
desmanchará em meus braços. Pois estou há dias demais sem sexo e nada me
satisfaz mais do que gozar dentro de uma boceta loira.
E isso me traz um sorriso no rosto. Faz eu me apressar em caminhar
para fora da empresa. Faz eu caminhar em passos rápidos para a diversão
que me aguarda.
Saio do escritório e encontro a secretária provisória no posto que
Cecília ocupará na segunda-feira.
— Você está liberada.
Ela me olha assustada, talvez temendo que tenha feito algo errado.
Não sou conhecido por ser paciente e nem cordial com funcionários,
por isso o fato de liberá-la antes do fim de sua jornada causa-lhe temor e
aparente ansiedade.
Claro que abri exceções para a infeliz da Carla, mas lógico que isso não
se repetirá.
— Pode ir para casa e na segunda volte para o seu posto original.
Digo simplesmente. Sequer a trato pelo nome, não tive tempo de
decorá-lo, nem tampouco decorei os das dezenas de funcionárias que
apareceram por aqui enquanto escolhia a candidata que aparentemente
resolverá a minha vida e tornará as coisas na empresa mais tranquilas.
A moça que está diante de mim começa a arrumar suas coisas de forma
atrapalhada, visivelmente desconfortável em ter o chefe diante dela. Minha
fama me precede e não pretendo fazer nada com relação a isso.
Deixo-a finalizando o que quer que seja e sigo para o elevador
privativo.
Sigo para finalmente encerrar mais uma semana de trabalho.
Sigo para liberar a vontade que sempre tenho de foder. A enorme
vontade que sempre tenho de estar bem enterrado dentro da loira da vez.
CAPÍTULO 02

Dois meses fazendo esse ritual. Dia após dia.


Um processo complicado, que me faz acordar cedo para garantir que
esteja de acordo com as minhas expectativas e com as do meu chefe.
Sim, eu gasto um tempo considerável para me “arrumar” antes de
começar meu dia de trabalho. Faço isso depois de ter passado por uma
situação de assédio no meu trabalho anterior. Algo que fez eu me sentir
degradada e que infelizmente foi apenas mais uma situação de injustiça e
impunidade sofrida por uma mulher, sofrida por alguém que enfrentava nada
mais nada menos do que uma das grandes fortunas da capital paulista.
Fui desacreditada até onde tentei prestar queixas. Todos querendo
minimizar ou querendo me fazer acreditar que meu entendimento foi
equivocado, querendo provas que infelizmente não tinha, apenas a minha
palavra contra a do filho da puta que pagava meu salário.
Homem, rico e poderoso. Um prato cheio, sequer deram credibilidade
às palavras que saíram emboladas da minha boca.
Mas fiz minha parte. Prestei queixa, rezando para que desse em algo.
Para que o ocorrido fosse apurado, para que o dinheiro dele não silenciasse a
justiça, a apuração correta dos fatos.
Infelizmente não tinha imagens, não tinha mensagens, áudios ou
testemunhos. Foi a primeira tentativa do infeliz, foi a primeira e a última vez
que ele se insinuou para mim.
Empurrei-o. Ameacei-o. Ele debochou sabendo que o sistema me
desacreditaria, sabendo que sua conta bancária o colocaria acima do bem e
do mal.
Mas fiz o que tinha que ser feito. Fiz o que minha indignação e meu
sentimento de justiça me mandaram fazer. Fiz o certo e sempre vou fazer.
Mesmo que precisasse demais do emprego. Mesmo que fosse eu a
responsável por me manter e que não pudesse me dar ao luxo de não ter uma
fonte de renda para pagar minhas contas. Apesar disso fui firme, enfrentei e
denunciei. Apesar de não ter provas e que, no final, tenham tentado fazer
parecer que eu queria extorquir dinheiro, queria me aproveitar do meu chefe
injustiçado e que tinha uma lista de doações para as mais diversas
instituições de caridade, que mostrava o quanto sua índole aparentemente era
irretocável, mas que para mim apenas mostrava o quão hipócrita o ser
humano pode ser.
Saí do emprego. Não quis nem acertar contas e ele sequer tentou me
fazer cumprir o aviso prévio. Eu por motivos óbvios. Ele também.
E foi tudo isso que me trouxe até aqui. Criando uma personagem,
tentando evitar situações como a que vivi, e também buscando acalmar os
temores de Alex Valentin.
Morar com uma funcionária da Suprema Essence foi primordial para
que eu fizesse o que precisava ser feito e desse tranquilidade para que ele me
contratasse, para que eu pudesse mostrar que sou mais do que um rosto e um
corpo bonito, que eu não estou à venda e que não devo ser tocada, a não ser
que seja algo que eu também queira, que eu também deseje.
Isadora, com quem divido o minúsculo apartamento em que moro, é a
secretária do vice-presidente e me informou desta vaga. Ela também me
contou que ouviu seu chefe comentando com o meu atual patrão que além
das qualificações de secretária, a pessoa escolhida não poderia ser alguém
que chamasse a atenção, não poderia ter atributos físicos que o levasse a
sucumbir e cair novamente no golpe que caiu.
De uma forma ou de outra passamos por situações traumáticas e que
requereram atitudes extremas. Ele pela ganância de sua ex-funcionária, eu
porque meu ex-chefe acreditava que o dinheiro lhe dava direito a me tocar,
quem sabe até mesmo achasse que eu não deveria ser grata por despertar o
interesse de alguém como ele.
Arg! Mentes distorcidas, comportamentos fodidos, sociedade machista
e que passa o pano e até mesmo estimula e aplaude tais atitudes de merda.
E é por isso que perco um tempo absurdo procurando a imagem ideal,
procurando as combinações que façam de mim alguém que Alex Valentin
queira ao seu lado, alguém que seja vista e percebida por todo esforço e
dedicação com que realiza as atribuições para as quais foi contratada.
— Esse seu talento é algo que me surpreende!
Assusto-me com o comentário de Isadora.
Além de assustada, também me sinto lenta, pois não consegui entender
o real sentido de suas palavras.
Ela percebe que não captei sua mensagem e então diz, de forma direta:
— Ora, Cecília, você é uma das mulheres mais lindas e gostosas que
conheço e no entanto é capaz de camuflar de tal forma sua aparência que
consegue tornar-se alguém sem sal, alguém que passa despercebido ao crivo
de cafajeste do seu querido chefinho.
Sei que Alex é um galinha. Vive envolvido em flagras picantes, por
vezes constrangedores, sem falar na quantidade de sexo que ele pratica no
próprio escritório, com as diversas modelos que dia sim, e no outro também,
aparecem para sonorizar o espaço da presidência com todo o tipo de gemidos
e gritos que só podem me fazer imaginar que ele sabe muito bem o que faz
com o que tem entre as pernas.
— Gato escaldado tem medo de água fria. Jamais quero passar por uma
situação como aquela novamente. E mais, se todo este cuidado que estou
tendo me ajudou para que eu fosse contratada, eu tenho mais é que comprar
vestidos como este e lindos sapatos como o que tenho em meus pés.
Digo de forma jocosa.
— Queria saber onde você compra essas roupas cafonas e onde adquire
estes exemplares que traz nos pés. Porra, Cecília. Muito tecido, que não
deixa nada para a imaginação. Grosso, que consegue esconder suas curvas
espetaculares e que, junto com esse seu coque horroroso e esse óculos
horrendo, faz de você uma imagem que passa despercebida por aquele que
tem um radar mais do que apurado para beldades.
Devia comentar que não sou loira e que talvez o meu disfarce seja até
mesmo desnecessário, pois nestes dois meses em que trabalho na Suprema
Essence jamais vi meu chefe com uma morena, seja nas fotografias ou
frequentando seu escritório para ser fodida como se não houvesse amanhã.
Mas claro que não vou dizer, não vou fazê-la imaginar besteiras, não
vou fazê-la imaginar situações que estou mais do que disposta a evitar.
Para o meu próprio bem. Para o próprio bem dele.
— Vamos deixar esta conversa de lado porque toda esta minha
produção toma um tempo e já estamos quase atrasadas para assumirmos
nossos postos.
Ela olha rapidamente no relógio e confirma o que falei. Mas antes que
encerremos definitivamente o assunto, Isadora diz:
— Você está certa, estamos quase sem tempo, mas que uma coisa é
engraçada, isso é.
Faço cara de interrogação e aguardo, pois sei que ela não me deixará
sem saber o que está pensando.
— Enquanto você faz de tudo para não ser vista, eu faço tudo o que
posso e o que não posso para ser percebida, notada e, se Deus quiser, comida
pelo meu chefe.
E ri. E eu rio mais.
Ela não tem jeito, nunca teve.
Só espero que sua fixação e desejo por seu chefe não a coloque em
roubada.
Só espero que ela não venha a sofrer, pois por mais que minha amiga
brinque, sei que o que sente por Caio Romão está muito além de um mero
desejo.
Vejo como está envolvida, como seu olhar muda ao falar daquele que
não é nem um pouco diferente do meu chefe.
Ao falar daquele que não passa de um cafajeste, mulherengo. De um
puto.
Igual ou pior que Alex Valentin.
CAPÍTULO 03

Cecília foi uma de minhas melhores aquisições profissionais dos


últimos tempos. Digo isso sem medo de errar.
Ágil, criativa, comprometida, articulada, além de uma centena de
qualidades que não deixam nada a desejar. E o melhor de tudo foi a interação
entre nós: instantânea, o trabalho flui de forma quase automática.
Talvez seja muito cedo para falar, mas não tenho dúvidas de que minha
secretária tem capacidade de alçar voos maiores. Conseguiria sim coordenar
qualquer setor da nossa empresa, mas como sou territorial, ela não sairá do
meu lado nem tão cedo.
Certamente sua contratação otimizou e muito o meu trabalho,
proporcionando a possibilidade de delegar uma infinidade de coisas, pois
tenho total confiança na qualidade daquilo que Cecília desempenha.
Tirei a sorte grande. Dias menos atribulados, pique para conseguir dar
mais atenção à minha vida social. Consequentemente o número de modelos
que vem à minha sala tem aumentado consideravelmente, assim como
minhas noites acompanhado também.
E somente posso agradecer à ela: Cecília Moraes. Que tão bem
organizou minha vida, e ainda dividiu grande parte das minhas atribuições.
E o melhor, sequer percebo qualquer julgamento por meu
comportamento aqui dentro, como também não questiona quando preciso
dos seus préstimos para contactar as loiras com quem marco de ir aos
eventos.
Resumindo, até agora ela me parece perfeita. Tudo nela me agrada.
Até mesmo sua aparência, pois evita que eu caia em tentação, que eu
repita o erro de outrora.
Estou até mesmo acostumado com seus vestidos longos, grossos e
folgados. Estou até mesmo achando prático seu penteado diário que Caio
batizou como coque da vovó.
Meu amigo não perde uma chance de criticar a aparência da minha
funcionária. No começo eu cortava, ameaçava, irritava-me, mas quem o
conhece sabe que isso somente piora a situação, somente serve de estímulo.
Hoje faço ouvido de mercador, deixo ele dizer as idiotices que quiser, tento
vencê-lo desta forma.
De repente escuto uma batida na porta e autorizo a entrada.
O objeto dos meus pensamentos se concretiza na minha frente.
— Senhor Valentin, todos os documentos que me pediu já foram
revisados.
Olho para suas mãos e vejo uma pilha de documentos.
— Já? Ah, Cecília, você está me saindo melhor que a encomenda!
Não consegui conter a surpresa. E nem o elogio.
Vejo sua face ruborizar e penso comigo mesmo que infelizmente a
armação de seus óculos me impedem de ver melhor a cena.
— Vou deixá-los sobre sua mesa, quando o senhor terminar de assinar,
venho buscá-los.
Por mais que tenha dito que quando estivermos sozinhos ela poderia
evitar as formalidades, Cecília insiste em usar o senhor. Como já percebi que
não adianta insistir, deixo passar.
Ela se aproxima e deixa os papéis na minha mesa, percebo sua intenção
em se afastar. De forma surpreendente, digo:
— Sente-se e aguarde eu assinar, Cecília. Bem que de vez em quando
precisamos de uma pausa.
Não entendo direito o motivo do pedido, apenas descobri que quero
saber um pouco mais sobre a pessoa com quem passo a maior parte do meu
tempo.
Ela me encara, um pouco desconfiada, mas assente com a cabeça. Não
é a primeira vez que admiro o lindo tom esverdeado dos seus olhos, como
também não é a primeira vez que a recrimino por escondê-lo com tão
horrendos óculos.
Enquanto assino os documentos, olho-a de relance e digo como quem
não quer nada:
— Fale um pouco de você, Cecília.
Ela me encara, espantada com meu pedido, mas não recua, apenas diz:
— O que o senhor quer saber?
Direta. Adoro que ela seja assim. Sem charminho ou joguinho.
— Sei lá! Quantos irmãos você tem, onde moram seus pais...
— Meus pais morreram quando eu tinha três anos e eu praticamente
não tenho lembranças deles.
Fico desconcertado com o que escuto.
— Não tenho irmãos. Éramos apenas nós três. Felizmente minha tia
ficou com minha guarda e cuidou de mim até o ano passado, quando perdeu
a luta que travava contra um câncer.
Fico tentado a descobrir mais coisas sobre ela, mas somente digo:
— Eu sinto muito que tenha tido que passar por tudo isso sendo assim
tão nova. Eu, mais do que ninguém, sei que a vida não é este mar de rosas.
Ela me olha atentamente e algo em sua atenção me faz ter vontade de
falar, de dividir com ela coisas sobre mim.
Talvez a dor seja capaz de fazer isso, talvez nossas perdas tenham
criado este laço invisível entre nós. Mesmo que momentaneamente.
E então, contra todas as probabilidades, começo:
— Eu também coleciono perdas. Minha mãe morreu quando eu tinha
vinte e cinco anos e nesta idade também perdi meu pai.
Sei que ela não entende. Sua expressão deixa claro que minhas palavras
não fizeram muito sentido, pois, se ela tiver feito o dever de casa, sabe que
Paulo Valentin está vivinho da Silva.
— Minha mãe tomou uma infinidade de tranquilizantes e não mais
acordou. Queria fugir, dormir para sempre. Não queria ter que ver o desfile
de mulheres que meu pai exibia e exibe até hoje.
Respiro fundo, pois não é agradável lembrar, mas, pela primeira vez,
me faz bem falar.
— Todos percebiam sua tristeza, sua apatia e até mesmo seu estado
depressivo. E eu falava, pedia, implorava para ele ser o esposo que tinha
jurado ser, que ele honrasse toda a vida boa que a herança de minha mãe
sempre lhe proporcionou.
De repente hesito em continuar, talvez não queira retirar todos os
esqueletos do armário.
Mas basta olhar em sua face para saber que ela será uma boa ouvinte e
que talvez seja até bom revisitar o meu passado.
— Mas ele não me ouviu, claro que não. Continuou a exibir suas
conquistas em todo e qualquer canto. Na frente dos familiares de mamãe,
amigos e conhecidos. E era um prato cheio para a mídia que a cada dia o
mostrava em situações totalmente repreensíveis para um homem casado,
para um pai de família. E ela não aguentou. Não suportou. E eu não mais o
tolerei, não tinha mais nenhum motivo para aturá-lo.
É a verdade. Não nutro sentimentos bons por ele. Apenas tenho raiva e
rancor. Por ser tão escroto, por sequer ter a decência de manter seus casos
em segredo.
— Então eu os perdi, no mesmo dia. Ela por todas as circunstâncias que
comentei, ele por opção e até mesmo para me trazer alívio. Conforto.
Mesmo sendo uma situação fodida, e que eu tenha tomado uma decisão
mais fodida ainda, percebo em sua face que ela entende. Percebo que ela me
compreende.
Não há julgamentos ou discursos hipócritas falando de perdoar, de
absolver pelo simples fato de ser meu pai, mesmo que ele tenha tido anos
demais para provar ser um, e jamais o tenha feito. Em momento algum.
E este entendimento, esta aceitação, talvez tenha firmado algo entre
nós. Que provavelmente foi fomentado pela dor, pelo que foi conversado
entre chefe e secretária.
Possivelmente originados de uma confiança regada no respeito, na
admiração e na convivência destes dois meses. Que foi além das aparências,
das diferenças. Superando a reserva intrínseca que carrego sobre isso, ou
sobre minha intimidade.
Que não saberia explicar, só sei que mudaria toda a dinâmica entre nós.
E os meses que se seguiram apenas confirmariam isso.
CAPÍTULO 04

Em algum momento a dinâmica entre nós mudou e eu poderia apostar


que foi depois da nossa conversa, depois que abrimos uma pequena parte do
que foi nossa vida até aqui.
Não entramos em detalhes, não houve choro e muito menos contato,
mas houve cumplicidade, houve entendimento e isso certamente foi o que
alterou nosso entrosamento.
Parecia que não era mais somente sobre trabalho, pois agora havia
sorrisos, cortesias e até mesmo toques.
Não éramos somente profissionais, pois aleatoriamente falávamos um
pouco de nossas vidas, do que vivíamos fora das paredes da Suprema
Essence.
E invariavelmente a formalidade desapareceu, o senhor perdeu o
sentido depois do tanto de coisas que sabíamos um do outro, depois de todo
o tempo que passávamos juntos.
Comecei a apreciar e muito o tempo que permanecia dentro da empresa,
e as horas extras, quando necessárias, não me eram nenhum pouco
dificultosas, muito pelo contrário.
Amava como éramos bons juntos, como o trabalho rendia e fluía e
como os resultados eram surpreendentes.
A Suprema Essence é a líder de vendas de cosméticos no mercado,
inúmeras lojas físicas estão sendo abertas no país e as vendas de produtos
on-line superam quaisquer expectativas. Claro que não sou tão otimista em
associar tudo isso à minha contratação há quase sete meses, mesmo porque a
empresa sempre foi bastante sólida e até por isso o seu CEO era um dos mais
jovens bilionários do país, mesmo que muito do dinheiro que as revistas
noticiam que existe em sua conta seja oriundo também de gerações e
gerações de patrimônio da família de sua mãe.
Por tudo isso sei que não sou a responsável, mas sei que ajudei. Claro
que ajudei.
Meu esforço diário, minha doação a essa empresa, minha dedicação.
Tudo isso rendeu frutos, que sei reconhecer e Alex também.
Às vezes ele brinca dizendo que eu trouxe comigo ventos de sucesso, às
vezes ele diz da sua forma desbocada que sou muito foda, completando
dizendo algo que por vezes me tira do prumo: “não sei como consegui viver
sem você por tantos anos”.
Simples palavras, ditas sem qualquer intenção romântica, mas que
muda o ritmo do meu tolo coração. Tolo e idiota. Que não raciocina, que não
tem uma gota de instinto de preservação.
Quem já se viu, criar ilusões sobre um cafajeste como ele? Esperar que
alguém como Alex, que somente sai com as mais deslumbrantes beldades do
país, usaria esta frase de outra forma que não a profissional? Isso aconteceria
somente nas minhas mais secretas ilusões.
E eu mais uma vez me congratulo por ter tido a ideia do disfarce, de
não ser verdadeiramente eu na frente dele. Sei que não faço sequer sombra
perto daquelas com quem Alex se envolve, mas talvez ele tentasse algo, e
talvez eu estivesse ansiosa demais para isso.
Então somente tenho a agradecer por não correr este risco, somente
tenho a agradecer por evitar um sofrimento garantido ao qual eu estaria
exposta se despertasse o interesse de alguém como ele, se me envolvesse
com alguém como ele.
— Não gosto desta sua expressão. Essas suas vincas não podem
significar nada de bom.
A razão da minha insônia se materializa bem na minha frente.
— Claro que realmente não significam nada de bom.
Ele espera que eu continue.
Faço-me de desentendida e digo:
— O que foi?
— Você não vai me dizer o porquê de sua expressão tão carregada?
— Não acredito na sua audácia! Quer que eu divida até mesmo meus
pensamentos com você?
Tento parecer indignada, mas o riso na minha voz entrega que levei seu
pedido na esportiva.
— Não sei o porquê do meu pedido ter parecido tão surpreendente,
visto que eu não tenho segredos com você!
Quem dera ele tivesse alguma reserva! Quem dera ele não tivesse
tornado sua vida um livro aberto para mim!
Pois assim eu não saberia com quem ele sairia. Não saberia quem seria
a felizarda que receberia seu convite para um dos milhares de eventos para
os quais ele sempre era convidado. Não saberia para quem eu teria que
mandar flores quando a noite fosse mais do que satisfatória e ele abriria
exceção e repetiria de mulher. Quando Alex Valentin quebraria uma de suas
inúmeras regras e transaria duas vezes com a mesma garota.
Às vezes a ignorância é uma bênção!
Perco-me em meus pensamentos, em minha situação fodida, ao ponto
de me assustar quando escuto a voz do meu chefe.
— Achei que já tivéssemos passado da fase dos segredos entre nós!
Parece um menino emburrado e não um poderoso CEO. Sei que seu
comportamento é apenas reflexo de sempre ter suas vontades atendidas, de
ter sempre alguém pronto para atender seus mínimos pedidos.
Decido que não vou criar caso sobre isso, e não vou ficar sujeita a seus
pedidos e sua expressão que é capaz de me fazer cometer uma loucura, quem
sabe até mesmo me faça capaz de revelar a verdade sobre meus
pensamentos. Verdade absurda e surreal, mas é o que acabou tomando conta
de mim. Sem querer algum, mas, infelizmente, algo inevitável.
E é por tudo isso que decido contar uma mentira, apenas mais uma
entre a infinidade das que venho colecionando desde que decidi me
apresentar como me apresento dentro da Suprema Essence.
E sendo assim, já que decidi-me por mentir, que seja algo que me
favoreça de alguma forma.
— Está bem, você venceu! Tenho um encontro hoje, é isso! Depois de
um tempinho chegando em casa moída, sem vontade alguma de sair, hoje
resolvi fazer diferente. Decidi que vou aproveitar que amanhã é sábado e
vou aceitar o convite de um carinha para quem sabe começar o final de
semana já em grande estilo.
— Como é que é?
Sua cara é impagável e me toco do que está realmente acontecendo:
Alex está admirado que eu tenha um encontro. Quem sabe não me ache
digna de ser convidada para sair com um cara. A aparência com a qual me
apresento talvez não me faça, aos seus olhos, convidativa o suficiente para
ter um encontro.
Fico fodida de ódio, pois visto literalmente a personagem, já
imaginando como me sentiria se essa situação fosse real, se fosse preterida,
se não fosse desejável o suficiente para ser convidada para sair, para curtir
como qualquer pessoa saudável faz numa sexta-feira à noite. Ou pior, se
fosse considerado algo estapafúrdio eu receber um convite, despertar
interesse o suficiente para ter um encontro.
E a raiva e a indignação me faz responder, não me justificando, nem o
fazendo ver que além das roupas e das armações dos óculos existe sim uma
pessoa com sentimentos, desejos e vontades. Nada disso, apenas me faz
responder com o sarcasmo e a altivez que a situação merece.
— Isso mesmo que você ouviu: tenho um encontro. Vou sair com um
cara, beber um pouco e, se Deus quiser, terminar a noite em sua cama.
Agora mesmo é que sua cara está impagável.
Será que ele acha que roupas e aparência são capazes de limitar
alguém? Ou porque a pessoa não está dentro de um padrão inventado por
alguém ela não sinta vontade, necessidades? Ela não seja digna de ser
desejada? Um grandessíssimo foda-se, isso sim!
Resolvo esticar ainda mais a baladeira.
— Ora, todos aqueles gemidos que tenho escutado, tarde após tarde, me
deixaram cheia de ideias. Felizmente hoje tenho a oportunidade perfeita para
colocar em prática todas estas ideias.
Tenho vontade de dar uma piscadinha sugestiva, ou de rir de sua cara
assombrada, mas não perco a pose. Fico ereta, com toda a pinta de quem é a
dona da verdade e que não perderá a chance de foder gostoso com esse cara
imaginário que acabei de inventar.
Penso então que ele não irá retrucar, pois acredito de verdade que ele
perdeu a voz ou a capacidade de emitir qualquer som que seja. Confiante que
ele não seja capaz de algo neste sentido, apenas olho para o meu computador
tentando demonstrar que tenho coisas muito mais importantes a fazer neste
instante.
Mas eu estava errada, ele ainda é capaz de falar. Mesmo que o que
escute de sua boca, seja algo que eu sequer esperava. Seja algo até mesmo
surpreendente.
— Cancele este encontro! Você não vai à porra de encontro algum!
CAPÍTULO 05

— Cancele este encontro! Você não vai à porra de encontro algum!


Não sei qual dos dois está mais surpreso, se Cecília ou eu. Não consigo,
de forma alguma, conceber o porquê de ter dito o que disse. Desde quando
me acho no direito de me meter na vida da minha secretária? E, o mais
importante, por que cargas d’água quero evitar esse encontro?
— Alex, juro que não entendi! Talvez, se você desenhasse, ficaria mais
fácil para mim compreender o que acabou de dizer!
Engulo em seco buscando inspiração para sair dessa.
A razão me estimula a dizer que era brincadeira e desejar que tudo saia
como o esperado com o tal cara. Mas algo me impede. Algo em mim evita
que abra a boca, que eu diga as palavras.
Vejo-me tentando entender o motivo dessa minha rejeição, entender por
que tudo em mim grita para que eu evite que esse encontro aconteça.
— E então, Alex, seria pedir demais que você explicasse suas palavras?
Petulante. Altiva.
E pensar que no início Cecília sequer me chamava pelo nome! E que fui
eu que estimulei, de certa forma, esta liberdade!
Quem eu quero enganar? Eu gosto da nossa interação, gosto muito que
não tenhamos mais ressalvas com relação ao tratamento entre nós. Mesmo
que isso deixe sua língua mais afiada a cada dia, coisa que jamais aceitei,
coisa que jamais permiti com qualquer outro empregado desta empresa.
Muito embora profissionalmente esta exceção que abri não cause problema
algum, pois até parece que ela incorpora outra pessoa quando não estamos
sozinhos, nem mesmo meu melhor amigo e vice-presidente sabe em que pé
anda nossa relação chefe/funcionária.
E talvez por isso eu tenha dito aquilo, talvez me sinta responsável por
Cecília.
Talvez a amizade que construímos nestes meses me impele a cuidar
dela, me impele a evitar um possível sofrimento de Cecília causado por um
idiota qualquer que ela certamente não conhece direito.
Por pouco não suspiro aliviado quando finalmente entendo o meu
comportamento. Quando percebo um mínimo de razão na minha atitude.
E esse entendimento estimula-me a inventar uma desculpa qualquer
para não colocar em palavras meus receios, a inventar uma mentira inocente
para que ela não compareça a este caralho de encontro.
— Não entendo o motivo de tanto alarme! O porquê de você está tão
arisca!
Vou por este caminho. Vou pelas beiradas, sem jamais entregar minhas
reais intenções.
— Até parece que está muito ansiosa para...
— Alex, você sabe que não tem nada a ver com a minha vontade ou
ausência dela, o que estou questionando é a forma enfática com que falou,
com que deixou claro que eu não teria meu encontro.
— E como você pode ter este bendito encontro se teremos que fazer
hora extra? Se teremos que permanecer aqui por um bom tempo ainda.
Sou um gênio, pois somente isso justifica a forma inteligente com a
qual consegui me livrar desta sinuca de bico.
— Hora extra? Em plena sexta-feira?
Seu tom é de descrença. E acho justo, pois ela mais do que ninguém
sabe que sempre tenho uma foda engatilhada neste dia, bem como de
maneira alguma me privo das vontades do meu corpo nos demais dias em
que me ausento do escritório.
— Infelizmente são ossos do ofício. Terei que pular meu programa de
hoje.
Dou uma piscadinha cafajeste, pois sei muito bem ao que ela se referiu
quando usou a expressão em plena sexta-feira.
— Então, se é assim, o que não tem remédio, remediado está. É claro
que meu trabalho vem sempre em primeiro lugar.
Quase suspiro aliviado, ainda que não consiga atinar o motivo desta
minha reação.
— Mesmo porque tenho todo o final de semana para colocar em prática
as ideias que todos aqueles seus gemidos me despertaram.
Porra! Não acredito que estou abrindo mão de uma loira gostosa e o
máximo que vou conseguir será adiar a droga deste encontro.
Claro que isso não pode acontecer. Tenho que bolar alguma coisa.
Tenho que ter alguma ideia para tirar da cabeça de Cecília essa sua intenção.
Não quero saber o motivo e nem quero pensar muito sobre isso, apenas
quero agir, fazer alguma coisa a respeito, pois se meu instinto me estimula a
agir assim, certamente alguma razão há de existir.

Para mim é uma surpresa esta intimação para fazer hora extra, bem
como o comportamento tão fora de padrão do meu chefe, mas é como escuto
por aí: se ele paga bem, que mal tem?
Até porque não existia encontro nenhum, o mais perto de sexo que eu
passaria seria se eu decidisse me masturbar pensando no meu chefe. Mais
uma vez. Aí o sexo aconteceria e eu gozaria, pensando nele. No seu corpo
musculoso e gostoso que a roupa não consegue esconder, na sua voz grossa e
em todo o charme que exala de Alex pelo simples fato dele existir.
Porra, estou fodida! Fodida e muito mal paga!
Na hora lembro que minha situação é o inverso deste meu pensamento:
não estou fodida, embora esteja muito bem paga.
E rio. Do meu infortúnio. Da minha situação.
De desespero e até mesmo de conformação.
Por saber que esta pessoa que Alex conhece sequer teria chance, e a
minha verdadeira versão seria apenas mais uma na cama do CEO libertino
da Suprema Essence.
E para mim somente resta tentar colocar minha cabeça no lugar, tentar
tirar de mim este sentimento que nasceu sem qualquer consentimento e nem
possibilidade de ser retribuído.
Resta a mim esconder dele esta minha fraqueza e tentar a todo custo
exterminar de mim este sentimento inaceitável. Inviável. Impossível.
E talvez a solução seja esta, ou este seja o caminho que tenho que
seguir.
Aceitar os convites que recebo, substituir os paus de borrachas e dedos
por uma foda de verdade, com um homem que saiba o que fazer para levar
uma mulher ao paraíso.
Pois não posso seguir assim somente desejando, somente querendo e
me privando de viver.
Logo eu que de santa não tenho nada, e na verdade nunca tive.
Que tenho desejos como qualquer pessoa saudável e sempre os tive.
Talvez o fato de estar reprimindo-os é o que está me levando a imaginar
coisas, sentimentos e emoções.
Talvez uma noite de sexo suado resolva a minha situação. Quem sabe
não me faça perceber que as coisas não são como estou pensando e que não
estou tão fodida como fico imaginando.
E se no final os sentimentos se recusarem a me abandonar e se
realmente perceber que o que sinto por Alex é realmente isso que estou
supondo, resta a mim tentar esquecê-lo em outros corpos, em outras camas.
Pois não vou ficar chorando pelo leite derramado e nem vou ficar me
maldizendo da minha sorte.
A de gostar de alguém que não quer este sentimento. A de gostar de
alguém que jamais me olharia com segundas intenções.
CAPÍTULO 06

Já pensei em tudo. Está tudo esquematizado na minha cabeça.


Avaliaremos sim alguns balancetes, que certamente davam para ser
vistos na próxima semana, mas como disse que tínhamos trabalho a fazer,
alguma coisa teremos que produzir. Logo depois jantaremos uma massa, que
o tempo me mostrou ser o prato preferido de Cecília, regado a vinho da
melhor qualidade. Tudo isso já devidamente pedido no meu restaurante
favorito e com a entrega agendada para as 20h, que é a hora que imagino que
já posso encerrar as minhas atividades da semana sem dar bandeira.
Tentarei, quando começarmos a beber, entrar no assunto que está me
incomodando. Como as coisas são sempre leves e espontâneas entre nós,
acredito que serei capaz de expor o que está me inquietando. Muito embora
não consiga explicar para mim mesmo o que está acontecendo comigo, o
porquê de todo este escarcéu que armei para que ela não saísse com o tal
cara.
Não consigo entender ou explicar e ainda há a fodida da minha razão
que está a todo instante a guerrilhar com esta atitude impulsiva que tive e a
única palavra que retumba no meu íntimo neste momento é possessividade.
Mesmo que eu jamais tenha sido possessivo com o que quer que seja. E
isso inclui carros, casas, ou qualquer uma das mulheres com quem já fodi na
vida. Inclusive até gosto de compartilhar e vou além: não há nada na vida
que me excite mais do que dividir uma mulher, principalmente com outra.
Observar e participar. Excitar e ser excitado.
E fico duro, pois a simples imagem que se forma em minha mente faz o
meu pênis ficar pronto. E isso me faz decidir que amanhã terei duas loiras
lindas e deliciosas na minha cama. Na minha boca. E gozando bem gostoso
no meu pau.
E esta decisão me dá um pouco de alento para o que perdi hoje, para o
sexo que certamente não terei esta noite.

O tempo passou rapidamente enquanto avaliávamos minuciosamente os


balancetes. Não é porque inventei esse tempo extra no escritório, que não
tinha o que ser feito. Sempre tem. E agora com a empresa numa crescente
vertiginosa, as coisas jamais ficam calmas por aqui.
Estava tão concentrado que chego a me assustar quando escuto uma
batida na porta. Cecília me olha e vejo a interrogação. Sei se tratar do
porteiro que foi orientado a subir com a encomenda que fiz no restaurante.
Levanto-me com um sorriso no rosto. Chegou a hora de finalmente
deixar o trabalho de lado. Chegou a hora de finalmente colocar o meu plano
em ação. Espero que as três garrafas que pedi me deem inspiração para tirar
da cabeça dela esse negócio de encontro, assim como espero que o álcool me
faça entender o porquê de eu estar agindo assim.
— Chegou o nosso jantar.
Digo, tão logo libero o porteiro para voltar ao seu posto.
— E pelo jeito também a nossa bebida.
Ela ri. Adoro que seja tão leve.
— Como já me disse que gosta muito de vinho e como teve que abrir
mão de um programa para servir a esta empresa, nada mais justo que seu
chefe explorador lhe mime com um de qualidade acima da média.
Ela apenas ri do meu tom jocoso.
Sigo para o sofá e já coloco as sacolas sobre a mesa de centro. Cecília
logo começa a desembalar tudo. Assim que percebe que pedi uma massa,
diz:
— Parece que alguém aqui está querendo me agradar!
Não minto e nem escondo minhas intenções.
— Prefiro ter uma mulher satisfeita ao meu lado a alguém rancorosa ou
frustrada.
E é a verdade. Não queria uma Cecília assim por perto.
E começamos a comer e a beber. Deixo claro que o trabalho se encerrou
por hoje e minha secretária não se faz de rogada, degusta a saborosa massa
sempre acompanhada do vinho delicioso.
Conversamos. Muito. Sobre tudo e qualquer coisa.
Em algum momento ela tira o sapato e pela primeira vez tem um
vislumbre dos seus pés e o que vejo mexe com algo dentro de mim. Unhas
pintadas de vermelho vivo, em pés delicados e bem cuidados.
Fico fissurado na imagem e agradeço que Cecília já esteja alegrinha
para não perceber que sou incapaz de desviar os olhos, ainda mais agora que
o vestido grosso subiu quando ela colocou as pernas sobre o sofá e vejo seus
tornozelos torneados, surpreendentemente causando-me um desejo absurdo
de ter uma visão do que ela esconde embaixo de tanto pano.
Movimento a cabeça de um lado para o outro, tentando afastar de mim
tal vontade, quando escuto algo que somente dificulta a minha intenção.
— Transar, certamente é a melhor coisa da vida.
O tom da voz me diz que isso é algo que ela gosta e muito. Estava tão
entretido descobrindo partes dela jamais vistas, que não sei como chegamos
a isso.
— Muitos dizem que o melhor é comer, dormir, mas digo, sem dúvida
nenhuma e com muita experiência no assunto, que a melhor coisa é transar.
Puta que pariu, parece que a Cecília gosta e muito de sexo. Parece que
estas roupas recatadas e sem graça escondem alguém que não estou
conseguindo associar com a imagem que sempre tive dela.
Como não tenho e nunca tive pudor algum, e não temos assuntos
proibidos entre nós, apenas sigo o fluxo.
— Tenho que concordar com você. O sexo tira o cansaço, o estresse...
— E dá prazer, muito prazer. E por si só isso já seria motivo para eu te
odiar, ao menos um pouquinho. Quem já se viu me privar de um orgasmo,
ou alguns deles? Felizmente eu tenho meus vibradores, pois com o calorzão
que este vinho está me dando, com certeza não vou conseguir dormir sem
antes gozar e gozar muito.
E para ilustrar sobre este calorzão que ela diz sentir, começa a
desabotoar o vestido. Nada de tirar a roupa ou mostrar demais, mas o
vislumbre que tenho me deixa com vontade de ver mais, muito mais.
A pele nunca vista, o assunto e talvez a bebida me fazem ter vontade de
algo. Faz-me dizer, decidido:
— E pra que usar vibradores se posso fazer algo por você, se posso
fazer algo por nós dois?
Assusto-nos com a proposta, mas quando me questiono sobre minhas
intenções, somente posso dizer que quero muito que receba dela o sinal
verde para o que propus.
E não há reserva ou vergonha em sua resposta.
Há somente Cecília sendo Cecília. Decidida, dizendo tudo que lhe vem
à mente.
— É o mínimo que você deveria fazer, não é mais do que sua obrigação
depois de me privar de estar com Pedro.
De cara odeio o nome e sequer atino sobre o motivo. Somente sei que
não gosto da ideia de que ele poderia estar com alguém tão decidida e que
sabe muito bem o que quer. Alguém que neste momento usa toda a sua
decisão e eu não poderia estar mais feliz com esta situação.
— Você tem razão, Cecília, é minha obrigação que você tenha todos os
orgasmos que esta minha decisão de trabalhar, em plena sexta à noite, a
privou.
Ela me olha expectante e meu pau dá uma fisgada. Sei que não são suas
roupas sensuais, maquiagem ou qualquer esforço para se fazer desejável,
pois isso passa longe da imagem que tenho dela neste momento. Na verdade
o que me instiga é o que ela esconde, é sua língua afiada e o desejo crescente
de saber se ela tem todo este fogo relatado em nossa conversa.
E por isso, digo:
— Senta aqui!
Aponto para minha perna.
Na hora vejo-a titubear, talvez arrependida de ter falado tanto, de ter
deixado-se levar tanto pelo álcool.
Temo que mude de ideia, temo que tenha que fazer algo a respeito, pois
agora que decidi que ela terá os orgasmos que perdeu, não há nada no
mundo que me faça mudar de ideia.
Nem mesmo toda a confusão que vivi com Carla, nem mesmo a minha
promessa de jamais comer uma secretária novamente.
Mas a Cecília petulante e decidida toma as rédeas da situação. A
mulher que passei a conhecer e porque não a admirar, aceita prontamente o
meu convite.
E vem até mim, não sem antes diminuir um pouco da iluminação do
ambiente. Não sei se por pudor, por alguma insegurança ou apenas por
gostar da penumbra, não saberia dizer.
E isso sequer é importante, não quando a vejo se aproximando, quando
a vejo encarando-me e nem mesmo as armações pesadas dos óculos
escondem seu desejo, ou abalam o meu.
Senta no meu colo, não como esperei, e sim como ela deseja.
Uma perna de cada lado, montada literalmente em mim.
Aproxima a boca da minha orelha e diz:
— Faça valer a pena. Proporcione-me os orgasmos, impeça-me que use
para isso meus paus de borracha.
Puta que pariu, com essas palavras ela fodeu com tudo que não seja a
vontade de saber por que ela gosta tanto de sexo e se ela é tão boa nisso
como está fazendo parecer.
E uma verdadeira força da natureza me faz avançar sobre ela, me faz
tomar sua boca de forma ansiosa e desesperada.
CAPÍTULO 07

Não sou uma mulher de perder oportunidades e nem de chorar pelo leite
derramado.
Claro que usei este disfarce porque não queria que as coisas chegassem
até aqui, não queria ser assediada pela minha aparência como fui no meu
emprego anterior. Mas percebi, muito pouco tempo depois que comecei a
trabalhar na Suprema Essence, que Alex não é um canalha como o meu
antigo chefe. Ele gosta de sexo. Suas tardes trancafiado com uma infinidade
de modelos comprova isso, mas sempre de forma consensual. Seu caráter é
algo que me chamou a atenção, seu respeito também. Jamais me senti
ultrajada em sua presença.
E talvez isso foi apenas mais uma qualidade sua que me conquistou.
Talvez foi apenas mais uma característica de sua personalidade que me
transformou nisso: alguém apaixonada, louca para ser fodida. Sem falar na
sua aparência que é um ponto fora da curva, que certamente é a cereja do
bolo.
E por isso ter sua língua na minha mexe com tudo dentro de mim. Faz
de mim uma massa disforme. Que geme, que grunhe, que morde.
Poderia colocar a culpa no álcool, na verdade até quero que ele imagine
isso, mas não é a verdade.
Quem eu quero enganar? Estou louca pelo homem, masturbo-me
pensando nele mais do que é minimamente saudável para alguém que
deveria ter uma vida sexual ativa, como eu tinha antes de me ver
enlouquecida por este libertino.
E esta minha loucura somente aumenta com a intensidade do beijo,
somente aumenta ao sentir seu pau duro entre as minhas pernas.
Aproveito minha posição e dito o ritmo, esfregando-me, buscando o
atrito que tanto preciso.
Alex também parece precisar de contato, começa a tentar tirar meu
vestido.
Felizmente deixei o ambiente na penumbra, não quero que ele descubra
que sou uma fraude.
— Cecília, preciso de ajuda!
Para ele ver como eu sofro com todo o peso deste vestido! Deveria era
ganhar ainda mais, isso sim!
Mas não digo nada, apenas saio do seu colo. Começo então a tirar o
vestido, com sensualidade, como se eu tivesse todo o tempo do mundo.
Vejo ele estreitar os olhos, sei que não quer perder nenhum detalhe. Ele
que lute para tentar ter certeza de minhas formas, eu apenas vou fazer o que
sei fazer de melhor: enlouquecer um homem e fazer com que ele tenha um
orgasmo inesquecível.
Viro de costas e sei que mesmo a pouca claridade vai ser capaz de
entregar o fio dental que adorna minha bunda. O uso dessas lingeries é o que
garante a satisfação do meu lado sexy e ousado. É o que deixa minha
autoestima em dias mesmo tendo ciência da imagem que estou passando.
E ele não resiste. Alex não espera que eu volte para o seu colo.
Ele vem até mim. Pronto, louco de tesão.
Sinto isso quando ele se esfrega despudoradamente na minha bunda,
quando ele passeia as mãos desesperadamente em busca do fecho do sutiã.
— Puta que pariu!
Ele diz tão logo tem meus seios em suas mãos. Tão logo massageia-os
enquanto continua a moer e me apertar contra si.
Mas eu não seria eu se apenas aguardasse o próximo passo. Gosto de
participar e, por vezes, ditar como as coisas serão.
Então me afasto e tiro a calcinha, a última coisa que me cobre. Tenho
vontade de tirar os óculos e desfazer o coque, mas sei que depois deste
momento, mais do que nunca preciso continuar com o meu disfarce.
Quando estou totalmente nua, vou rebolando até a mesa. Sei que ele
olha, sei que parece admirado com toda a minha desenvoltura.
Subo na mesa e o encaro. Vejo-o se aproximar, deixando peças de roupa
pelo caminho.
Como não sou flor que se cheire, decido apressar um pouco mais as
coisas entre nós. Ergo uma perna e coloco na beirada da mesa, deixando
minha vagina totalmente exposta. Levo meus dedos até o meu clitóris e o
acaricio da forma que gosto.
Ele parece vidrado com a cena. Resolvo provocar mais.
— Será que novamente vou precisar usar meus dedos para me aliviar?
E acelero o ritmo. Chego a fechar os olhos porque as sensações são
demais para mim.
Demora poucos segundos e sinto ele entre as minhas pernas.
— Hoje serei eu a lhe dar prazer!
O tom enrouquecido expressando comando, mas também necessidade.
E substitui meus dedos pelos dele. E tudo fica melhor, muito melhor.
E o gemido é impossível de ser contido. Alto, desinibido.
Isso o faz acelerar os movimentos. Introduzir os dedos apressadamente
em meu canal.
E tomo sua boca e domino o beijo. Assim como estou dominada,
subjugada ao toque experiente de sua mão, também quero o poder de
proporcionar a ele o máximo de prazer possível.
Sinto seu membro pulsando rente à minha perna. Tão pronto que é um
desperdício não estar dentro de mim.
Mas não vou pedir e nem suplicar, como é a minha vontade. Vou deixá-
lo insano de necessidade de me penetrar. Vou deixá-lo no limite, se possível
quero ouvi-lo implorar.
Levo então uma mão até seu pau, massageio a glande e espalho a
lubrificação em toda a sua extensão. Grossa. Enorme.
Ele parece perder o compasso do beijo. Dos dedos.
Por um instante apenas aproveita a atenção que estou lhe dando. Por um
instante grunhe como um animal desejoso.
E acelero os movimentos, pareço encontrar a forma e a pressão que
Alex gosta.
E chupo com volúpia a sua língua. O beijo tornando-se profano, quase
obsceno.
Tá gostoso demais. Estamos ambos úmidos demais.
E os suspiros, gemidos e toques parecem demais para mim. Parecem
também demais para ele.
Tenho urgência em tê-lo enterrado em mim. Alex também parece ter
urgência em se enterrar dentro de mim.
Tenho certeza disso quando escuto a voz rouca, quando escuto as
palavras desejosas:
— Não aguento mais! Preciso estar dentro de você!
CAPÍTULO 08

— Não aguento mais! Preciso estar dentro de você!


Quase não reconheço a minha voz. A rouquidão e a intensidade do
desejo expresso nas palavras não deixa de ser surpreendente.
Infelizmente tenho que me afastar, mesmo que minimamente, para
colocar a proteção. Mesmo que o perigo da gravidez seja inexistente, há o
cuidado com a saúde e isso é algo que jamais abro mão.
Rapidamente procuro na gaveta e as encontro. Muitas delas. Pego uma
aleatoriamente e já retorno para perto de Cecília.
Surpreendentemente não escuto gracinhas e nem provocações. Apenas
vejo-a vidrada no movimento que faço de colocar a camisinha. Ansiosa,
assim como estou.
Mal me coloco novamente entre suas pernas e já sinto minha cintura ser
envolvida. Ela sabe o que quer, jamais titubeia e gosto demais disso.
E não me faço de rogado, dou a ela e a mim mesmo o que tanto
queremos.
A invasão. A penetração. A consumação da foda.
Dura. Crua. Intensa demais.
Sinto-me vivo. Arrepiado. Totalmente mexido.
E ela me estimula a movimentar-me, oferece os seios que, apesar da
pouca luminosidade, não podem ser descritos como menos que perfeitos.
E eu aceito a oferenda. Caio de boca e de língua. Chupando, mordendo,
lambendo.
Enquanto literalmente a devoro. Enquanto meu pau martela em sua
vagina de forma descontrolada.
Sinto-me insano, louco de desejo como há muito não sentia.
Não sei se pelo proibido, pelo improvável de tudo isso ou apenas pelo
mistério que toda essa penumbra oferece.
O que sei é que está bom demais, tão bom que certamente não durarei
muito.
Não com ela se esfregando desse jeito. Não com Cecília gemendo de
forma tão despudorada.
Isso me faz acelerar cada vez mais os movimentos e dizer de forma
incontida:
— Porra! Gostosa do caralho!
Ela apenas pega minha mão e a coloca entre nós.
Mostrando o que quer. Demonstrando não ter inibições ou quaisquer
falsos pudores.
E é com gosto que atendo seu pedido. Que bolino seu botão duro.
E ela morde, arranha e diz:
— Ah, estou tão perto!
E eu apenas continuo. Dando o que ela precisa. Buscando o que tanto
necessito.
De repente ela me aperta, ordenha compulsivamente o meu pau.
Gozando. Desmanchando-se. E me levando junto com ela.
Em um orgasmo intenso. Avassalador.
Que me faz momentaneamente esquecer meu nome e que somente me
faz enterrar-me ainda mais desesperadamente dentro dela. Até que Cecília
extrai até a última gota do meu prazer, até que ela tomba a cabeça no meu
peito. Parecendo esgotada, deixando-me totalmente exaurido.
De um gozo intenso. De uma foda por demais gostosa.
Cecília respira pesadamente, enquanto eu tento buscar uma forma de
controlar a respiração, os batimentos do coração.
Tudo um reflexo do que foi vivido aqui. Tudo falando de um sexo que
mexeu com as estruturas.
De repente ela afasta a cabeça do meu peito e me encara.
E vejo que ela também gostou, vejo que o momento satisfez as suas
expectativas. E confirmo isso em suas palavras, pois claro que ela jamais
omitiria suas impressões.
— Tenho que admitir que o sexo com você foi muito bom. O prazer que
consigo com meus paus de borracha não chegam nem perto do que
aconteceu nesta sala.
Sinto-me envaidecido. Sinto meu ego totalmente amaciado.
Decido prolongar o momento. Decido que foi bom demais para que eu
abra mão de tê-la outra vez. Quem sabe não consigo convencê-la a ficar
comigo pelo resto da noite.
Animado, bem mais do que deveria, digo:
— E a noite está somente começando. Vamos...
Ela me interrompe. Afasta-se, quebrando nosso contato íntimo.
Fazendo-me sentir falta do seu calor gostoso.
— Alex, vou pra minha casa. Claro que foi ótimo e que não estou nem
um pouco arrependida pelo que aconteceu. Mas foi um momento. Um
momento muito gostoso, mas que não vai se repetir.
Franzo a testa, tentando entender onde ela quer chegar.
— Somos chefe e funcionária e isso não pode, de maneira alguma,
voltar a acontecer.
E desce da mesa, já colocando em prática o que está a me dizer.
— Cecília, escute...
— Não, Alex, não tenho nada a escutar. O sexo foi intenso demais e
com certeza está nublando sua capacidade de discernimento. Não podemos
misturar as coisas, o que aconteceu aqui deve ser visto como um caso
isolado.
— Isolado é o caralho, se você pensa que vou fingir...
— Claro que não vamos, somos adultos o suficiente para entendermos o
que aconteceu aqui. E por sermos adultos e responsáveis é que não vamos
repetir isso.
— Cecília, não entendo você. Você mesmo disse que foi bom, que
somos adultos e o escambau, então não compreendo por que não podemos...
— Alex, pare e pense com a cabeça de cima. Você acabou de sair de
uma confusão com uma funcionária, não faz muito tempo que me jurou que
jamais se envolveria com outra novamente e agora está aí, insistindo em algo
que não pode dar certo.
— Mas, Cecília, você é muito diferente de Carla. Sei que jamais
tentaria me dar um golpe...
— Você está correto neste seu julgamento, sou muito diferente dela.
Mas, infelizmente para as nossas expectativas de futuro, quem sabe não
posso ser pior. Posso não querer seu dinheiro, mas posso querer algo que
você certamente não quer oferecer.
Paro. Penso. Suas palavras me fazem repensar minhas intenções.
Dou um passo para trás. Certamente temeroso, assustado com o que
escuto.
— Pois, por não ter mais parentes vivos, por ser muito sozinha, temo
me envolver e talvez confundir as coisas. Por isso evito repetição, evito
dependência e principalmente fazer sexo com quem tenha convivência ou
vínculo. Não quero criar laços, não quero compromisso e principalmente não
quero manter relações sexuais com meu chefe, onde a minha convivência
diária possa me fazer confundir as coisas, ou quando o tesão e a química
acabar, sequer restará um emprego para pagar minhas contas.
Fico em silêncio enquanto Cecília começa a se vestir, a se cobrir com
suas roupas horrendas.
Depois do que escutei acredito que ela esteja certa, mesmo que tudo em
mim grite para que eu evite que se cubra, para que evite que nos tornemos
apenas chefe e secretária novamente.
Pois o sexo foi bom demais para que eu abra mão. As coisas foram
intensas demais para que se findem, quando o desejo ainda lateja vivo e cru
dentro de mim.
Mas nunca fui de adular mulher, e nem de implorar. Também não quero
ficar exposto a possíveis sentimentos por parte de Cecília e muito menos
perder a excelente secretária que tenho.
Então faço a única coisa a ser feita: concordo com suas palavras, com
sua decisão.
Mesmo que o corpo insista por mais uma transa. Por tê-la uma última
vez.
— Você está certa, Cecília. É melhor que as coisas sejam assim.
Ela termina de se vestir e assente com a cabeça.
Vejo que anda em direção a porta e tento estar mais um pouco com ela,
com certeza para confirmar que não ficará nenhum clima estranho entre nós.
— Espere, claro que deixarei você em casa!
— Um outro dia, Alex. Hoje eu preciso pensar, esfriar a cabeça. Esse
momento será útil para que eu coloque novamente as coisas em perspectiva.
Não insisto. Ela parece mais centrada neste momento. Ela parece não
estar tão dominada pelos hormônios quanto eu.
E enquanto a vejo sair da sala, tento acalmar meus desejos, tento pensar
que Cecília está certa em ter se afastado.
Mesmo que a vontade permaneça, mesmo que a frustração ameace me
dominar.
Mesmo que o sexo entre nós tenha sido excepcional e que não lembre
de ter me sentido assim em qualquer outra de minhas transas.
CAPÍTULO 09

Praticamente corro, como se mil demônios me perseguissem, pois se


não me afastasse urgentemente, certamente cederia à tentação e me jogaria
nos braços daquele deus grego.
Porra de homem gostoso! Porra de homem que sabe como cuidar das
necessidades de uma mulher! Pena que é um puto e que mexe muito mais
comigo do que realmente gostaria.
Claro que a historinha que inventei foi balela, ainda mais porque já
estou com os quatro pneus arriados por este puto dos infernos. Mas
precisava espantá-lo, porque quando um não quer, dois não brigam. E
precisava que fosse ele a se afastar, fosse ele a se manter distante, porque se
dependesse de mim, foderíamos que nem coelhos. O final de semana seria
curto para colocar em mente todos os meus desejos e taras no que se refere
ao meu chefe tesudo.
E isso só poderia foder com tudo, somente faria com que as coisas que
fizeram morada dentro de mim, sem qualquer permissão, aumentassem ainda
mais de intensidade. E, se eu não parasse com as coisas por aqui, e levasse
isso adiante, somente acabaria comigo na rua da amargura e com o coração
completamente destruído. Pois ele não quer nada sério e ainda mais com a
Cecília que ele conhece.
Fiz o correto em me afastar. Foi melhor para mim.
Mas não sou santa, tirei uma casquinha.
Para aquecer minhas noites frias e me dar ainda mais ideias para
quando eu tiver me masturbando pensando nele. Mesmo que saiba que
quando ouvir uma modelo gozando na sua sala, morrerei de inveja, além de
saber que agora isso me machucará mais do que gostaria.
Mas foi escolha minha. Não perderia esta oportunidade. Por mais que
pareça algo que o seletivo Alex jamais faria, na noite de hoje ele transou
com uma feia, morena e funcionária, algo que achei que ele jamais faria. E
esta transa me levou ao paraíso, mesmo que saiba que nunca voltarei lá
novamente.
Mas é isso. Quis, usufruí, e agora é tentar segurar a bola. É torcer para
que minhas palavras causem o efeito esperado e o mantenha distante, pois
até posso ganhar uma briga contra as minhas vontades, mas sei que se ele
demonstrar o mínimo interesse que seja, não serei forte o suficiente para
suportar. Não conseguiria lutar contra nós dois, mesmo que a minha vida
dependesse disso.

Tive uma noite agitada, praticamente insone. As lembranças permeando


meus pensamentos, as sensações vividas tornando impossível o merecido
sono dos justos.
E é nisso que penso enquanto passo ainda mais tempo em frente ao
espelho, enquanto esmero-me ainda mais no meu disfarce.
E sei que atingi meu objetivo quando escuto Isadora dizer:
— Poxa, hoje você está ainda mais horrorosa, se é que é possível!
Quase sorrio do comentário da minha amiga, estando feliz por ter
conseguido o objetivo desejado. Hoje caprichei ainda mais na escolha da
roupa. Nem mesmo o pescoço e o cabelo estão visíveis à inspeção. Vesti um
vestido com o modelo ultrapassado que cobre tudo, inclusive meu pescoço,
além de ter colocado uma rede de cobertura de coque no cabelo. E o
conjunto da obra é, na verdade, um espetáculo à parte.
— Gostou?
Dou uma voltinha.
— Queria saber qual o motivo de caprichar tanto, de se esforçar ainda
mais para que sua aparência divirja tanto de como você realmente é! Será
que a maneira como vinha se vestindo não foi suficiente para afastar o
galinha do Alex Valentin?
Touché! Ela foi literalmente em cima. Mas por mais que ela seja minha
amiga, não contarei o que ocorreu na noite anterior. E não é porque não
confie em Isadora, na verdade confiaria minha vida à ela. A questão é que
numa noite de bebedeira, com ela falando sobre seus sentimentos por Caio
Romão, acabei falando demais e admitindo como me sentia em relação ao
meu chefe.
E é por isso que omitirei sobre o sexo selvagem de ontem à noite, pois
sei que somente traria preocupação para a minha amiga. Ela já tem
problemas demais. Iniciar uma relação aberta com seu chefe já trouxe a ela
sofrimento demais, por mais que ela negue e que tente esconder de mim a
verdade sobre ver o cara com quem ela transa e tem sentimentos, propor
sexo sem compromisso, e o tolo coração a fazer aceitar essa migalha, por ser
a única coisa que aquele infeliz é capaz de propor.
— Não viaja, Isadora. Você conhece o todo-poderoso CEO da Suprema
Essence, e sabe da sua preferência por beldades loiras, e neste momento eu
não poderia estar mais distante desta sua predileção.
Ela concorda ao me olhar mais detalhadamente, pois não há como
negar.
— E por que hoje você caprichou ainda mais?
— Digamos que eu seja masoquista, pois já que não posso ir linda
como gostaria, me esforçarei ainda mais para que a versão que quero
aparentar seja ainda mais caprichada.
E rio. Forçadamente. Querendo que ela acredite. Precisando que todo
este meu visual consiga o intento desejado.
Vou mostrar indiferença, vou fingir que o que aconteceu na sexta-feira
não tem importância nenhuma. Este é o meu mantra, é o que repito para
mim mesma.
Apesar de saber que não terei momentos fáceis. Apesar de saber que
tudo que queria era dar vazão à toda a emoção que trago dentro do peito.
Que começou com admiração, seguido de uma amizade e cumplicidade
improváveis devido o abismo de diferenças que existe entre nós e que
culminou com um sentimento que não tive como evitar ou impedir.
E enquanto tudo isso era somente algo platônico, tudo bem, pois eu
estava mais do que segura tendo como escudo este meu disfarce, por mais
trabalhoso que fosse montá-lo dia após dia.
Mas, mesmo que ainda me surpreenda quando lembro dos momentos
ocorridos, o mais inacreditável aconteceu, ele me desejou, me quis, transou
comigo, apesar das aparências, apesar de ter prometido jamais transar
novamente com funcionárias.
E agora estou aqui, pilhada, ansiosa e sem saber como agir. Tendo
como certo somente que terei que “esmerar-me” ainda mais na aparência e
tentar me manter ainda mais longe possível do radar de Alex Valentin.
— Bom dia, Cecília.
Tenho um sobressalto. Pelo susto, pela voz profunda e sexy que mexe
com tudo dentro de mim. E mesmo sendo um teste para o meu controle,
respondo aparentemente indiferente:
— Bom dia, Alex.
Dou um sorriso polido e olho para o computador.
Penso que ele pode querer falar algo sobre a loucura que fizemos, por
isso adianto-me:
— Sua agenda hoje tá bem cheia. Você tem uma reunião com..
E começo a passar sua agenda, com a voz robotizada, com um tom que
nada entrega o alvoroço dentro de mim. Penso que além de disfarçar muito
bem minha aparência exterior, também estou conseguindo disfarçar e bem
meus sentimentos. Enfim, sou um atriz indo e voltando, digna de Oscar.
Termino de dizer como o seu dia está organizado e vejo que ele quer
falar algo, então mais uma vez antecipo-me:
— Irei no jurídico deixar uma documentação que precisa de um parecer
urgente.
Claro que quero me afastar, mas quero mais ainda que ele veja a
caprichada que dei, quero que ele me ache ainda menos fodível, mesmo que
aparentemente o que usei ontem não o impediu de me comer gostoso sobre a
sua mesa. Vamos tentar ter mais sorte desta vez. Ou não, pensa minha mente
masoquista.
Vejo que ele percorre o olhar pelo meu corpo, talvez pensando como
consegui piorar ainda mais o que já era ruim. Ou talvez tentando encontrar
algo que possa tê-lo deixado tão enlouquecido de tesão para me comer
daquela forma tão desesperada, tão gostosa.
Ele continua a inspeção, enquanto apenas me afasto. Alex não faz
comentários ou tenta engatar qualquer outro assunto. Eu apenas quero me
afastar, tentar colocar meu bobo coração novamente nos eixos, ou
simplesmente fugir, temendo que seja capaz de implorar para que ele me
tome novamente como fez na outra noite.
CAPÍTULO 10

Semana esquisita da porra!


Muita coisa que não consigo entender, coisa demais para me perturbar e
uma vontade quase incontrolável de descobrir se supervalorizei o orgasmo
que senti, ou se as sensações foram potencializadas pelo álcool.
Mesmo que no fundo eu saiba como me senti quando estava dentro de
Cecília, e que talvez o meu corpo ainda se acenda na sua presença. Mas, da
mesma forma que ela colocou entre nós uma distância importante, assim
também eu tenho procurado manter. Sequer permaneci sozinho com ela no
prédio, estes dias não fui embora além do horário nenhuma vez sequer.
E talvez o fato de não ter trazido modelos à minha sala estes dias,
acabam fazendo com que as cenas vividas apenas retornem à minha mente
com mais frequência ainda.
Felizmente hoje é sexta e marquei com uma loira linda, que sei que vai
expulsar de vez estas imagens que tanto me assombraram e tentaram me
fazer cair em tentação por mais de uma vez, obrigando-me a encerrar meu
expediente bem antes do que comumente termino.
Mais umas três horinhas e irei para casa. Terminada a reunião que tenho
com os diretores, colocarei um fim na escapada que demos.
Saio da sala para passar no jurídico antes do encontro com os diretores
e o que vejo me deixa desconfiado.
Cecília está em uma ligação. Ri. Parece muito leve. O rosto iluminado
enquanto interage com alguém no celular.
— Tenho que desligar, à noite continuamos com este assunto. Não
pense que esquecerei sua promessa.
A cabeça vai a mil. Associo a pessoa do outro lado ao cara com quem
Cecília tinha marcado semana passada. E essa suspeita se dá pela aparente
alegria, a voz baixa e até mesmo sedutora e a referência a algo que
acontecerá mais tarde, em plena sexta-feira à noite.
A cabeça questiona muita coisa, a vontade de indagar e verbalizar as
minhas desconfianças é algo quase incontrolável. Infelizmente não devo.
Não tenho nenhuma justificativa para isso.
E somente sigo. Para onde tinha me disposto a ir. Lamentavelmente não
achando mais nenhuma graça no encontro que tenho logo mais.

Claro que Cecília é profissional, ela sempre é. Anota tudo, faz algum
comentário quando solicitada e é atenta a qualquer necessidade dos
participantes da reunião, embora para mim hoje ela pareça ansiosa,
aparentemente não vê a hora de terminar o expediente.
E isso me faz suspeitar do motivo, me faz ter certeza de que tem a ver
com o telefonema que escutei.
— Acho que nunca tivemos lucros tão bons nesta época do ano. Mesmo
sem qualquer data comemorativa no radar e com a economia pouco
aquecida, o sucesso de vendas da Suprema Essence é algo a ser
comemorado.
Diz Renato, um diretor que na grande maioria das vezes é contido e até
mesmo pessimista com as previsões apresentadas.
E claro que fico admirado e talvez Caio também. Quem sabe não foi
essa surpresa que o levou a dizer:
— Acho mais do que merecido que todo nosso esforço e dedicação
sejam comemorados. Que nosso sucesso seja brindado.
Faz uma pausa, mas logo continua:
— Nada mais do que justo que todos aqui, incluindo as secretárias,
comemorem. Conheço um local ideal para celebrarmos os excelentes
números alcançados neste trimestre.
Um a um os presentes vão concordando, animados. Inclusive a
secretária de Caio, que sei ser amiga de Cecília.
Minha secretária não se manifesta, embora neste momento saiba que a
loira não me terá esta noite. Irei confraternizar com minha equipe e ficar de
olho em Cecília.
— E então, Cecília, topa?
Apenas faltava nós dois respondermos.
— Infelizmente, senhor Caio, não poderei ir.
Na hora me sobe uma ira, uma raiva. Por saber o motivo da negativa.
Por saber que outro poderá vir a ter aquilo que ainda não esqueci e que, se
for sincero comigo mesmo, estou longe de esquecer.
Uma gana me toma, a vontade de sair com os colegas de trabalho
desaparece instantaneamente.
— Ora, Cecília, hoje é sexta-feira, não vejo mal algum em
comemorarmos os bons ventos que estão soprando para a Suprema Essence.
— Eu gostaria muito de ir, mas tenho...
— Cecília tem que fazer hora extra. Na verdade nós dois temos.
Olho para ela e vejo seu olhar me fulminar. Que está a um passo de me
desmentir.
Sei que o que assegura que não retruque é a minha condição aqui
dentro, é o fato de estar sentado na cabeceira.
Sei que não agi de forma correta e que minha atitude foi mais que
injustificável, mas era isso ou aceitar que ela negasse o convite de Caio para
ir ao encontro daquele que estava com ela ao telefone.
E mesmo não sabendo por que para mim isso parecia tão inaceitável,
deu-me algum alívio ter inventado essa desculpa esfarrapada, repetida e
mentirosa.
Embora não tenha coragem de enfrentar seu olhar, embora tema ser
morto apenas pela ira que sei que ela está sentindo.
— Ah não, Alex, já não basta vocês trabalharem todos os dias da
semana e muitas noites também, você ainda arruma trabalho no final do
expediente de uma sexta-feira? Vai ser viciado em trabalho assim lá na
China!
Muitos riem, alguns soltam piadinhas, pois o clima é leve, o sucesso da
empresa dá margem para isso e muito mais.
A única que parece insatisfeita e desgostosa com tudo isso é Cecília.
Eu, mesmo temendo ser esfolado vivo quando estiver sozinho com ela, estou
mais do que radiante por ter inventado essa história. E para dar veracidade à
minha mentira, digo com a voz desgostosa:
— Claro que preferiria relaxar e comemorar junto com vocês o
momento que estamos vivendo, mas com a abertura das vinte novas filiais
espalhadas pelo Brasil, todo tempo que trabalhamos tem se mostrado
insuficiente.
Soo convincente. Até eu mesmo quase acredito no que disse.
Cecília então desiste de tentar me matar com o olhar, pois afasta os
olhos da minha pessoa, embora a raiva com que arruma suas coisas apenas
faça com que tema pela minha integridade.
E todos sabem que minha decisão é definitiva, até ela sabe que não
voltarei atrás.
Então, um a um todos começam a se levantar. Animados com a
perspectiva de saírem, de comemorarem. Cecília apenas se levanta, sem
sequer me dirigir qualquer olhar.
Ela segue para a saída da sala de reunião. Pisando duro por ter que
permanecer aqui ainda por algum tempo.
Quando fico sozinho tento entender o porquê de tudo isso. Entender por
que o encontro com a loira foi pro brejo.
Minha mente é rápida, afiada. Certeira.
E a resposta vem.
Porque você ainda deseja Cecília. Porque você não consegue tirar da
sua mente o que aconteceu entre vocês.
E não tento negar, ou fingir que não estou doido para tê-la novamente.
Não tento inventar qualquer outra desculpa para as minhas ações.
Embora tenha passado a semana em negação. Embora desconfie que
nada ocorrerá esta noite.
Pois não tenho jantar encomendado e muito menos vinho. Somente
tenho uma mulher chateada e que certamente me fará pagar por tudo que
aprontei.
Não do jeito que anseio e que desejo, mas do jeito que a mente sagaz e
maquiavélica de Cecília é capaz.
E por isso não tenho pressa alguma em deixar a sala, muito embora
saiba que não tenho mais como adiar o confronto.
Então sigo lentamente para o meu calvário, em direção à mulher que
mexeu comigo de uma forma improvável, surreal.
Pois não lembro de já ter me sentido assim depois de uma transa
qualquer, depois de um mero momento entre um homem e uma mulher.
CAPÍTULO 11

Bufando de ódio, é assim que estou!


Quem Alex Valentin pensa que é? Um CEO lindo, gostoso e
competente! Minha mente traiçoeira se apressa em me irritar.
Claro que ele é tudo isso e muito mais, mas nada disso dá direito ao
infeliz de querer mandar em mim. Quem já se viu? Sequer me deixou dizer
que eu não iria, sequer me deixou falar por mim mesma. Ainda que eu
soubesse que àquela altura do campeonato, o que tinha combinado com
Isadora estava indo por água abaixo. Ela jamais iria deixar de ficar próxima
ao seu “peguete” para ficar assistindo séries ao meu lado.
E hora extra? De novo? Toda a semana e nenhum trabalho depois do
horário e hoje ele literalmente me convoca. Isso está muito estranho, além de
que certamente esta atitude intransigente vai render, isso vai.
Minha vontade é ir embora, deixá-lo na mão. Sei que isso não é nada
profissional, mas estou pouco me lixando. A única coisa que me impede é a
vontade do confronto, de deixar claro para ele que estou subordinada, que
sou funcionária, mas jamais permitirei que ele opine nas minhas decisões, na
minha liberdade de ir e vir onde der na telha.
E é neste estado, fumando de ódio, que escuto passos e sei que é Alex
que se aproxima.
Viro-me para ele e fulmino-o com o olhar. Cheio de raiva, louca por
sangue.
— Nunca mais fale por mim! Nunca mais decida nada por mim!
A voz num tom que não deve ser usada com o chefe, mas neste
momento não vou engolir esta ira que estou sentindo.
— Vamos para a minha sala, bater boca aqui está longe de ser uma boa
ideia.
Nenhuma crítica à minha postura, nenhuma desculpa por sua infeliz
atitude.
Alex apenas me dá as costas e temo não me controlar, temo avançar
sobre o desgraçado.
Ele caminha para a sua sala. Entra e deixa a porta aberta.
Sei que se eu fosse inteligente não o seguiria. Primeiramente tentaria
me acalmar e só depois colocaria esta história a limpo. Mas não me controlo,
é muito mais forte do que eu.
Piso duro e neste momento não sou a funcionária exemplar. Sou a
amiga que se sente desrespeitada com sua atitude, sou uma mulher frustrada
por desejá-lo como desejo.
E é com as emoções em polvorosa e por tanto desejo reprimido que
digo, tão logo fecho a porta e nos isolo do resto do mundo:
— Quem você pensa que é?
Ele apenas me olha como se estivesse pensando no que responder.
E me irrito. Com seu silêncio, com sua ousadia na sala de reunião e
com tudo o mais.
Com os óculos, com o coque apertado e com a roupa pesada que limita
e muito meus movimentos. E num ato de rebeldia tiro os óculos, como forma
de afronta à personagem que criei, e que deve subordinação ao chefe
gostoso. No momento sou uma mulher zangada, chateada por ter sido
impedida de externar sua vontade.
Encaro-o, demonstrando a fúria. Precisando que ele entenda que jamais
deve agir assim novamente.
Olho no olho. Sem as grossas lentes, nada atrapalhando o intenso
contato visual.
— Onde você tava com a cabeça, Alex?!
E me aproximo. Ele também dá alguns passos. Talvez minha ira o
estimule, talvez qualquer outra coisa nos aproxime.
Respiramos o mesmo ar, seu silêncio e seu olhar apenas me enerva
mais. Ou me excita.
Tenho vontade de colar nossos lábios. Seus olhos não abandonam
minha boca.
Sei que o clima mudou, que não é mais sobre o que aconteceu na
reunião, que minha raiva virou combustão. Mas tento disfarçar, tento
impedir que caiamos na mesma cilada da outra noite. Por mais que
estejamos perto demais, e que talvez nada consiga apagar o desejo que
aparentemente tenta nos dominar.
A respiração arfante, o olhar intenso, os dedos coçando por um mísero
contato que seja.
Mas tento disfarçar, tento dissipar a névoa de tesão que se instalou tão
logo nos aproximamos mais do que deveria. Rompendo toda e qualquer
distância que mantivemos ao longo de toda essa semana.
Tento quebrar o clima, tento falar algo, continuar com minha
indignação.
Embora saiba que a voz talvez não tenha qualquer segurança, e que
talvez o que eu queira de verdade é ser calada por lábios gostosos que
povoaram os meus sonhos, noite após noite.
— Você não manda em mim! Não nos meus programas, nas minhas
vontades...
E felizmente o que eu queria acontece. Não ser calada, sim ser beijada.
Devorada, prensada, apertada.
Em um abraço que parece saudoso, por uma boca que parece
desesperada por meu sabor, meu calor.
E como me sinto da mesma forma, retribuo. Com sofreguidão, com
exagerada urgência.
Parece que passamos tempo demais distantes, parece que somos
incapazes de controlar o que está por vir.
Pois suas intenções são claras, a forma como roça seu pau excitado em
mim não me deixa enganar. E essa constatação me deixa insana, molhada.
Atrevida.
Passeando minhas mãos por todo canto. Chegando onde nós dois
queremos.
Ele arfa quando toco na frente da sua calça, o beijo parece perder
momentaneamente o compasso.
Mordo seus lábios como forma de punição por tudo que fez. Acaricio
seu membro como forma de demonstrar o desejo que não quero mais conter.
Não neste instante.
Apesar do beijo tá gostoso demais, e nossas línguas parecerem velhas
amigas, o ar se faz necessário. Afastamo-nos, e nos encaramos desejosos
demais.
De repente um lapso de sanidade me toma. Ter nossas bocas distantes
faz com que eu pense na loucura que estou prestes a cometer novamente.
E eu tento me controlar, me dominar. A atmosfera parece mudar, meus
pés me levam para longe, mesmo que a distância conseguida seja mínima.
Alex parece não aceitar e me traz para si até mesmo com desespero.
— Quero você, Cecília!
Diz rente à minha boca, a voz num tom desconhecido para mim. E é
com uma força de vontade espantosa que afasto minimamente nossas bocas,
privando-me daquilo que mais quero.
Ele então beija meu pescoço, lambe. Empurra sua pelve e demonstra
seu querer. Infelizmente sou uma mulher com sangue nas veias, e o desejo
que sinto impele-me a ceder. Mas antes que isso aconteça, a voz da minha
consciência fala, tentando sobressair-se sobre o tesão.
Claro que o sexo entre vocês não pode se repetir, pois as únicas coisas
que conseguirá se ceder será um coração partido e a perda do emprego. E
este lapso de sanidade é o que me faz impedir o contato de nossas bocas, é o
que me faz buscar forças nas profundezas do meu ser para dizer:
— Nós não podemos, Alex! É melhor pararmos por aqui!
Ele parece não acreditar em minhas palavras. Parece não acreditar que
tenha forças para lutar contra toda a luxúria em que estamos envolvidos.
CAPÍTULO 12

— Nós não podemos, Alex! É melhor pararmos por aqui!


A voz um pouco incerta, mas a atitude de se afastar não deixa nenhuma
dúvida. Ela está me rechaçando.
Fiquei zonzo, perdido. Não acredito no que estou ouvindo.
E não me controlo. O tesão é demais para que eu aja com qualquer
controle.
— Porra, Cecília! Como pode ser melhor pararmos, se estamos loucos
para transarmos?
— Sou adulta e admito que nos desejamos. Não negarei e nem fingirei.
Pensei que ela fosse negar, se esquivar. Mas claro que ela admite seus
desejos, suas vontades. E isso apenas aumenta ainda mais a minha libido.
— Mas já tínhamos conversado sobre isso, já tínhamos decidido que o
que aconteceu na outra sexta não mais se repetiria.
— E essa conversa fez o desejo diminuir? Fez com que essa loucura, de
alguma forma, abrandasse?
Ela fica calada, pois sabe que eu tenho um ponto.
Aproximo-me. Digo olhando em seus olhos, que infelizmente já estão
novamente atrás das lentes. Estou tão puto e tão frustrado que não saberia
dizer a hora exata em que ela colocou novamente os óculos.
— Porra, estou duro, Cecília. Muito duro.
E a trago para mim. O corpo já sentia falta. Já não aguento vê-la
vestida, vê-la tentando se afastar de mim.
— Você já admitiu que me quer, Cecília, e só Deus sabe como quero
você!
E jogo baixo. Tomo sua boca.
Provando novamente o sabor. Mostrando todo o meu desejo. A língua
ansiosa chupando, oferecendo-se. As mãos vão diretamente para os seios, e
mesmo com todo o tecido, sinto seus mamilos. Aperto-os, estimulo os bicos
que sei serem rosados e suculentos. E esta lembrança faz meu pau babar,
pulsar. Faz eu dizer, talvez implorar.
— Eu quero você, Cecília. Demais...por favor...
E ela novamente dá um passo para trás, e mais para trás. Começo a
pensar que não consegui convencê-la e isso quase me desespera. Até que a
vejo indo até o interruptor, até que somente as luzes da rua iluminam o
ambiente.
E nunca fiquei tão feliz com a penumbra. Sei que isso é um bom sinal.
E mesmo com a pouca claridade ainda consigo ver seus movimentos,
ver que Cecília começa a se livrar da roupa feia que a cobre.
Rapidamente começo a fazer o mesmo, ansioso pelo contato entre
nossos corpos.
E ele não demora, pois agora que Cecília felizmente decidiu sucumbir
ao desejo, ela rapidamente toma as rédeas, porque se tem uma coisa que
minha secretária passa longe de ser, é inibida quando o assunto é sexo.
— Quero duro. Forte. E gostoso.
Uma lambidinha na minha boca antes de me beijar. De tomar minha
língua de assalto. E de me permitir devorar sua boca com todo o desejo que
me consome.
Ela leva à mão ao meu pau. Duro, melado, mas infelizmente ainda
dentro da boxer.
Ela ultrapassa o elástico, pois depois que Cecília decide algo, nada é
capaz de pará-la.
E sou imensamente grato por isso, principalmente quando ela começa a
massagear a cabeça sensível, quando ela começa um vai e vem gostoso que
me faz amaldiçoar as peças íntimas que separam nossos sexos do contato
absoluto. E isso faz com que me livre de sua calcinha. Um puxão e uma
barreira a menos. Uma investida do meu dedo para descobrir que ela está
ensopada.
Porra, Cecília não decepciona. A forma como acaricia meu pau diz tudo
sobre isso.
Uma língua na outra, bocas sôfregas e mãos que sabem
verdadeiramente o que querem. E isso faz meu pau vibrar e desejar se
enterrar. Faz a boceta dela apertar meus dedos, gulosa, louca para me ter
dentro dela.
E com o desespero que sinto, isso é apenas a permissão que faltava. Era
apenas o que eu precisava para que nos levasse à parede mais próxima.
Sequer preocupo-me em retirar a cueca, apenas a afasto para que nada
atrapalhe os meus movimentos.
Com um impulso a tenho com as pernas em minha volta e, sem
conseguir me conter, empurro meu pau desesperadamente para dentro dela.
— Puta que pariu!
Não consigo conter o palavrão. Na verdade consigo conter quase nada
quando o assunto é foder Cecília.
Levo minhas mãos aos seios dela, que infelizmente ainda estão
envolvidos pelo sutiã. A posição não me deixa desabotoá-lo, então apenas
abaixo as taças, apenas livrando-os do jeito que dá da prisão que me impede
de sentir o seu sabor. E isso seria um sacrilégio.
Mal eles pulam para fora do tecido e já estão na minha boca, sendo
lambidos, chupados e massageados. Sendo apenas mais um estímulo para
que o controle do ato se torne ainda mais escasso.
Movimentos profundos, desesperados. Mãos, bocas e línguas por todo
canto e ainda não é suficiente.
Os sons são pecaminosos, o desejo parece nos engolfar, totalmente nos
dominar, enquanto a empalo completamente, enquanto o barulho de suas
costas na parede me excita ainda mais, se é que isso possa ser possível.
Não vou durar muito, uma semana sem sexo e, se for sincero comigo
mesmo, uma semana ansiando exatamente por isso.
Por sua boca, por sua boceta apertada. Que me sufoca com seus
espasmos, que me leva rapidamente à borda.
Levo então minha mão ao seu clitóris, tento garantir que ela venha
comigo.
E massageio seu botão, enquanto a fodo alucinadamente.
E ela geme. Eu rosno.
Estou a instantes de me perder.
— Ahhhhh...
E ela vem. E me ordenha, estrangula-me.
Perdida em um clímax sentido, absoluto.
Que a deixa rendida, que me deixa saber que eu não desejo sozinho.
Que esta loucura que me tira o juízo, também faz miséria com ela. Faz
Cecília perder a pose, o controle. A razão.
E comigo também é assim. E jamais conseguiria me reprimir ou me
conter mais. Apenas deixo vir, não seria capaz de impedir.
Jatos e mais jatos de porra, um orgasmo que me tira momentaneamente
do ar. Que me rouba o fôlego, o prumo, o rumo.
— Porrrrraaaaaa!
Minha voz rouca, mexida. Irreconhecível.
No corpo espasmos incontroláveis e na mente uma certeza absoluta:
isso entre nós não pode parar, isso entre nós está muito longe de acabar.
CAPÍTULO 13

Ainda estou perdida em emoções, curtindo um puta de um orgasmo,


quando a realidade me chama, e esta realidade escorre na minha perna.
Porra! Literalmente, porra! Escorrendo, mostrando que perdemos o
juízo de vez.
Tento me afastar, tento retornar definitivamente à terra. Ele me aperta,
cheira e lambe o meu pescoço. Quase me desmonta, quase me tira o foco.
Mas tem algo urgente a ser conversado, tem uma inconsequência a ser
exaustivamente discutida.
Afasto-me, o pouco que consigo. Ele não me deixa descer, apenas
busca minha boca. Parece ainda querer mais de mim. De nós. Viro o rosto,
não temos tempo para isso agora.
Uso mais força e ele entende o que quero. Permite que eu desça, que eu
finalmente coloque meus pés no chão novamente. As pernas bambas, o
corpo ainda devastado por tudo que vivemos nesta sala.
— Cecília...
Sequer o deixo terminar.
— Nós não usamos camisinha!
E dizer em palavras torna a situação muito pior.
Na voz um início de um desespero. O arrependimento por tamanha
insanidade.
Ele parece surpreso com o que digo.
— Olha, Cecília, nunca fiz sexo sem camisinha e somente posso culpar
a loucura que estava por você para cometer tamanho lapso. Mas uma coisa
lhe garanto: jamais tinha transado sem proteção antes.
Uma onda de alívio me invade. Por ele não ser daqueles que transa sem
camisinha, que corre riscos desnecessários e que, com esta atitude, colocaria
a minha saúde também em risco.
— E mais, garanto a você que estou limpo, que fiz todos os exames
recentemente.
Felizmente! Mas ainda há uma outra preocupação, não menos
inquietante.
— Também nunca fiz sexo sem proteção e meus exames estão em dias.
Ele apenas acena com a cabeça, como se não esperasse outro
comportamento de mim.
— Mas ainda há o risco da gravidez, ainda há...
— Cecília, fiz vasectomia. Não corremos risco algum.
Mesmo surpresa que alguém que não tem filhos, irmãos ou quem quer
que possa se candidatar a herdeiro de uma das maiores fortunas do país, opte
por uma atitude assim tão radical, não questiono seu ato, sua decisão.
Apenas me sinto aliviada. Apenas deixo-me respirar sem todo aquele
peso que ameaçava me esmagar, desde que senti o sêmen de Alex escorrer
em minha coxa.
E como se percebesse que o motivo que fez eu me afastar dele foi
finalmente sanado, ele logo está colado novamente, logo está sussurrando
em meu ouvido:
— Agora que já resolvemos isso, o que você acha de me deixar cuidar
de você?
Olho com cara de interrogação e ele continua num tom pra lá de
sedutor.
— Vamos tomar um banho...
— Um banho? Sei!
Não dispenso a ironia.
— Essa é a minha intenção inicial, mas isso não quer dizer que seja a
única.
E me beija, deixando mais do que claro sua principal intenção,
deixando evidente que ele pretende me proporcionar outros orgasmos e eu
seria uma hipócrita se não admitisse para mim mesma que estou mais do que
ansiosa para me perder novamente em seus braços.
E eu não sou hipócrita, claro que não, mas também não preciso falar
tudo que sinto neste momento, não preciso dizer com palavras como este
cafajeste mexe comigo.
— Talvez eu esteja precisando mesmo de um banho. Talvez faça tempo
demais que não tomo um banho acompanhada.
Ele torce a cara, como se somente a ele fosse permitido o privilégio de
transar por aí, como se eu também não pudesse ter minhas transas, minhas
taras.
E não é assim, tenho sim os meus momentos, sempre tive. Por mais que
depois que me encantei por este desgraçado, apenas meus dedos foram
responsáveis por meus orgasmos, isso até semana passada. Mas ele não
precisa saber, e tudo que puder fazer para desviar o foco destes meus
repreensíveis sentimentos, certamente farei.
— E então, sua proposta está ou não de pé? Este banho vai ou não
acontecer?
Ele pisca, como se estivesse tentando acompanhar o sentido do que
acabei de dizer.
E viro-me, seguindo para o banheiro que, depois de meses trabalhando
aqui, sei muito bem onde fica.
Mas dou poucos passos, rebolando a bunda de forma sugestiva, quando
sinto ele colado nas minhas costas.
— Você é uma diaba, sabia?
Como se isso o surpreendesse.
Resolvo que posso dar mais munição para ele.
— Já me chamaram de coisa muito pior, Alex.
— O que eu faço com você, Cecília?
— Você ainda pergunta, Alex? Ora, me foda, isso certamente é algo que
quero, e se eu não estiver enganada, é algo que seu pau, que não disfarça a
animação, também quer.
E paro de andar, viro-me e ofereço-me.
Como sou, o que quero, sem deixar dúvida alguma de que anseio por
um repeteco.
E a forma como ele invade a minha boca apenas diz que conheço um
homem com tesão, que me deseja e o meu chefe, contra todas as
probabilidades, deseja a sua secretária morena, feia e sem graça.
E eu, como a boba cheia de sentimentos que me tornei, apenas posso
aproveitar e me esbaldar neste gostoso, puto e tesudo dos infernos.
Mesmo que saiba que estes momentos apenas me tornarão ainda mais
cativa do seu charme, do que passei a sentir por ele.
Mas infelizmente não tenho forças para me afastar, infelizmente preciso
dele dentro de mim novamente. Apesar de saber o quanto é errado, de saber
que isso não pode acabar bem. Mas me reprimi por meses demais. Fingi não
querer por tempo demais.
Passei uma semana infernal, sonhando com seus beijos, acordando
molhada e desejosa do seu corpo. E não será o medo de me machucar que
me fará mudar de ideia.
Não depois do tornado que vivi enquanto gozava gostoso. Não depois
de todas as promessas que este infeliz me faz com a boca, com a língua e
com o pau.
E se somente tenho estes momentos, me jogarei, me esbaldarei. Mesmo
sabendo que isso não pode me trazer nada que não seja dor e sofrimento.
Mas é o que quero agora. O depois será o depois.
Tentei me fazer invisível, me manter longe e resistir. Hoje mesmo tentei
repeli-lo e nada adiantou. Estou molhada e precisada. Ele duro e
aparentemente desesperado.
Então vamos ver onde isso tudo dará. Vamos deixar toda essa loucura
nos dominar.
E deixarei para juntar os cacos quando chegar a hora, pois não tenho
dúvida nenhuma de que este momento chegará.
E já que não posso proteger meu coração, meu corpo e nem meus
desejos, pois é uma luta inglória e a cada momento isso apenas se torna mais
evidente, tentarei ao menos proteger o meu emprego, se é que sou capaz de
proteger ou pensar no que quer que seja com Alex por perto.
E a sorte está lançada, e espero que minhas suspeitas não se
concretizem.
Você não tem para onde correr, nem para onde se esconder. Ele vai
usar e destruir você. Espero que seja forte o suficiente para se recuperar
depois de Alex Valentin.
Essa é a voz da minha consciência. Certeira, racional e infelizmente
cheia de razão.
CAPÍTULO 14

Fiz o que prometi e o que insinuei.


Cuidei dela, da sua higiene e também de suas necessidades. E das
minhas.
E o banho foi por demais gostoso, mas foi também bastante revelador.
Vi Cecília completamente iluminada pela luz do banheiro, sem artifícios. E
posso dizer que ela somente pode ser descrita como linda, perfeita, além de
muito gostosa.
O rosto livre dos óculos que desconfio que ela não precisa usar, os
cabelos longos, lindos e bem-cuidados, longe do coque apertado que causa
dor na minha cabeça apenas em olhar. Livre das roupas pesadas que
disfarçam totalmente essa delícia de corpo, não dando nenhuma pista do
espetáculo de mulher por detrás de tanto tecido.
E sei que isso tem uma razão e quero saber. Preciso saber.
E é quando ela pega as peças horríveis, quando pensa em colocá-las
novamente que pergunto:
— Por quê?
Ela me olha sem entender, a palavra não fazendo nenhum sentido para
ela.
— Por que você se esconde? Começo a achar que isso é algum disfarce.
Sou direto, digo exatamente o que penso. Cecília fica tensa, parece
surpresa ao ouvir minhas palavras.
— Certamente não precisa dos óculos, seu coque seguramente não é
para embelezá-la e suas roupas...
— Alex, não é porque transamos que você tem direito de se meter na
minha vida, nas minhas escolhas.
— Não estou querendo me meter, somente queria entender...
— Que necessito que meu chefe preste atenção no que falo e não nos
meus peitos? Que eu seja relevante para a empresa pelo que tenho a oferecer,
pelo meu esforço diário e não por ser considerada comível?
Ela diz brava, como se isso a enfurecesse. Como se não fosse somente
uma armadura criada, mas uma armadura necessária. Como se fosse uma
situação vivida, como se um maldito tivesse ultrapassado alguma linha e a
exposto a uma situação desagradável. Na verdade por todo este teatro, que
descobri se tratar apenas de fake, acredito que Cecília foi submetida a uma
situação traumatizante.
E meu rosto se contorce de ira, de raiva. Por ela ser minha funcionária,
minha amiga. Claro que esta raiva não é por estarmos envolvidos
sexualmente, e sim pela pessoa que passei a gostar e a admirar durante estes
meses em que trabalhamos muito bem juntos.
— Quem foi o infeliz? Quem foi o maldito que fez isso com você? Diga
o nome, Cecília, prometo acabar com a raça desse desgraçado!
Surpreendo-me com o ódio que escorre por minhas palavras,
desconheço o sentimento que me corrói como ácido.
Mas sequer tenho tempo de questionar como me sinto, pois vê-la virar-
se e tentar esconder-se mexe comigo.
Perceber seus espasmos e ouvir seus fungados acaba comigo.
E isso me faz rapidamente envolvê-la em meus braços. Buscar
urgentemente confortá-la, protegê-la.
Acaba comigo saber que alguém se aproveitou do seu cargo, posição e
poder para tentar subjugar e se aproveitar quando tão nitidamente não houve
querer, interesse ou desejo. Faz-me querer descobrir quem é o infeliz, e
ansiar por acabar com a raça do desgraçado que, porque é homem ou se acha
superior financeiramente, acredita que pode impor ou infligir a alguém suas
vontades, suas taras repugnantes.
— Por favor, Alex!
A voz quebra. Não sei se ela quer que eu me cale, ou que a conforte
mais.
— Cecília, fale comigo. Acima de tudo, somos amigos. Preciso saber o
que aconteceu!
Resolvo não insistir em saber nomes, pelo menos não neste momento.
Decido que talvez assim ela consiga me dizer o que a faz se apresentar desta
forma, quando a imagem que mostra, tão claramente diverge da pessoa que
na verdade é.
E ela começa. Baixinho. Mostrando que eu estava certo em minhas
suposições, em minhas afirmações. Contando tudo, contando como a
humanidade é doente, e como existem pessoas indignas e repugnantes. Que
não aceitam um não e que, porque pagam salários por trabalho, acham que
podem avançar o sinal, que podem e devem impor seus desejos. Não
aceitando um não como resposta.
Assédio, essa é a palavra que expressa o que aconteceu. E descaso e
incompetência foram as reais atitudes das pessoas que deveriam proteger e
resguardar.
Puta que pariu! Ouvir isso não é fácil. Saber que ela acredita que se
vestir assim seria uma opção para frear avanços indesejados, mexe comigo.
Faz-me ter descrédito na humanidade e entender que ser mulher às vezes não
é fácil.
Cecília é forte, determinada e me faz mal ouvir seu tom quebrado,
machucado.
— Você sabe que pode contar comigo, que estou mais do que disposto a
ajudar você a colocar este filho da puta na cadeia...
— Alex, não. Fiz a denúncia, contei exatamente tudo que aconteceu.
Quero que funcione e aconteça porque é o certo, porque estão lá para isso e
não porque alguém com dinheiro e poder e que não passou pelo que passei,
tenha mais credibilidade e sucesso em fazer as coisas acontecerem.
— Quero ajudar, quero...
— Alex, você ajuda quando respeita, quando se revolta e quando tem
sensibilidade suficiente para me ajudar a enfrentar tudo isso. Quando apoia
causas, quando financia instituições voltadas para este fim. Quando contribui
social e financeiramente para que cada vez as vozes sejam ditas e
principalmente ouvidas.
Vou respeitar a decisão e o silêncio dela com relação ao nome do
desgraçado. Mesmo insatisfeito, mesmo que não concorde.
Mas Cecília que não pense que esqueci e que vou deixar prá lá. Vou
insistir em um outro momento, vou tentar arrancar-lhe esta informação.
Pois pessoas assim não merecem estar soltas, não podem ter a
oportunidade de ferrar com a vida de mais ninguém.
Infelizmente é o que tenho para agora. Por enquanto as coisas
acontecerão desta forma.
Decido tocar em outro assunto, não menos difícil. Decido dizer o que
penso.
— Acredito que você não precise mais usar este disfarce...
Ela se desvencilha, não parece feliz com minhas palavras.
Lentamente começa a se vestir, deixando-me ansioso sobre o que está
por vir.
— Incomoda você minhas roupas, a forma como...
— Claro que não! Somente acho que você não necessita...
— Já passou pela sua cabeça que eu ache as roupas confortáveis, que
goste da forma prática com que arrumo meu cabelo...
— Não é possível que goste de se mostrar assim tão...
Calo-me, antes que a machuque. Antes que diga algo que possa fazer
com que me arrependa.
— Por que você não diz o que pensa? Por que você não completa seu
raciocínio?
Tarde demais, sei que falei demais.
— O que você queria dizer é que não é possível que eu goste de me
mostrar assim tão feia.
Ela não pergunta, apenas completa a frase que interrompi. Cecília me
olha, raivosa, e na hora sei que não vai aliviar.
— O que não é possível, Alex Valentin, é que tenha se deitado com
alguém que lhe incomode tanto a forma como se veste e como se apresenta.
O que não é possível é que você tenha se deitado com alguém que considere
assim tão feia.
E dizendo isso caminha em passos largos para fora da sala. Caminha
rapidamente para longe de mim.
CAPÍTULO 15

Sei que poderia ter agido diferente, mas depois da emoção em relatar
tudo o que vivi, estava fragilizada, machucada e certamente ele não teve tato
algum no pedido, não teve a mínima sensibilidade em insinuar sobre a minha
aparência.
Além é claro que tudo ainda estava potencializado pelas sensações
causadas pelo orgasmo, e o fato de sequer ter lembrado da proteção foi
apenas algo para foder com o resto da minha paciência, ou racionalidade.
E tudo isso culminou com as farpas que soltei, com a brusquidão com
que deixei a sala. E, pensando nisso enquanto viro de um lado para o outro
na cama, somente agradeço por ser tão passional. Ter cedido agora apenas
lhe daria ainda mais poder sobre mim. Mostrar-me como realmente sou
talvez apenas criaria boatos e especulações sobre a forma como nos
mantemos juntos e como ficamos além do nosso horário de trabalho.
Infelizmente as pessoas valorizam demais a estética e colocam
indivíduos que não condizem com que é rotulado como belo, em outro
patamar. Não esperam que pessoas fora dos ditos “padrões” seduzam ou até
mesmo despertem interesse. São competentes, amigas, mas não são capazes
de serem vistas, de serem amadas.
O que elas diriam se soubessem que o CEO que desfila ao lado de
lindas modelos, despiu uma feia? Transou, gostou e repetiu a dose?
Infelizmente isso é algo que ninguém jamais saberá.
Estou muito bem protegida de comentários machistas, livre de cantadas
de homens que apenas visam a aparência, além de muito confortável com o
estilo que adotei desde o meu primeiro dia na Suprema Essence. Então não
há motivos para abdicar deste dito estilo.
Pior para Alex Valentin, que não terá sua vontade satisfeita.
Acho que na cabeça dele eu abandonar o meu disfarce, como ele bem
compreendeu que era, talvez justificaria o tesão que sente, talvez
apaziguasse os conflitos que tenho certeza se instalaram depois que transou
comigo.
É uma pena para ele que seus conflitos não me interessam, que não
tenho vontade alguma de saná-los.
A única coisa que me importa, neste instante, é estar bem comigo
mesma, à vontade em meu ambiente de trabalho e ser vista e valorizada pela
pessoa que sou e pelo que posso contribuir na função que ocupo.

— Cecília, preciso conversar algo com você. Venha comigo até a minha
sala.
Alex diz, tão logo sai do elevador.
Já imagino sobre o que se trata, pois a inspeção que fez nas minhas
roupas, confirmando que não mudei um milímetro na forma como ele
sempre me viu, confirma que a conversa tem a ver com o que sugeriu na
sexta-feira.
Tive o final de semana para pensar e minhas intenções e convicções em
nada mudaram. E não há nada que ele tenha a me falar que altere este meu
ponto de vista.
Mas como Alex é o chefe e eu uma reles mortal, apenas obedeço. Muito
embora o dele esteja guardado, caso ele ouse questionar a forma como me
visto para trabalhar.
Ele senta em sua cadeira e aponta para uma poltrona em frente a sua
mesa. Sento-me e espero o que está por vir.
— Desculpe, eu não tinha nada que me meter na sua vida.
Não esperava. Juro.
Esperava conselhos, opiniões e até mesmo sessões de psicologia e
psicanálise. Tudo, menos as palavras que ouvi.
E certamente a minha cara de surpresa e a perda momentânea da minha
voz, faz com que ele continue:
— Cecília, se você estiver de bem com você mesma, é o que importa.
Percebi que está muito longe da minha alçada definir ou determinar sobre
sua aparência e suas roupas.
Sensibilidade nunca foi o forte dele e muito menos delicadeza. Foi
picado por algum inseto, mas não tenho nada a ver com isso.
— Alex, também peço desculpas pela reação que tive, mas realmente
não fiquei feliz com a forma com que se meteu, como quis ditar sobre este
tema. Na verdade isso é algo irrelevante para a função que ocupo e o que
menos quero e, para ser sincera, jamais vi foi um chefe querer determinar tão
diretamente a forma como uma funcionária se apresentará no dia a dia da
empresa.
Ele apenas assente e parece que estamos entendidos.
Como sei que fui chamada apenas para acertar os ponteiros sobre o que
aconteceu na sexta, fico de pé, pronta para ir para o meu canto.
Mas infelizmente a curiosidade é maior e, mesmo sabendo que estamos
resolvidos e que poderia me retirar, um diabinho perturba no meu ouvido e
me faz indagar:
— Alex, se não tivéssemos transado, você teria pedido para que eu
mudasse a forma como me visto?
Direta. Algo me diz que ele se sente incomodado por ter desejado
alguém tão diferente dos padrões a que está habituado.
Ele também fica em pé. E enquanto parece pensar numa resposta, se
posiciona de frente para mim, encostando o corpo em sua mesa de trabalho.
— Cecília, se não tivéssemos transado, eu jamais desconfiaria do corpo
que você esconde, do cabelo que você...
— Não foi isso que perguntei!
Rapidamente o corto. Ele tenta ser racional, mas não é isso que
realmente quero saber.
Decido então perguntar diretamente, sem meias-palavras.
— Você teria pedido que eu mudasse a maneira como me visto se nada
tivesse ocorrido entre nós, ou seu pedido se deu como forma de justificar
internamente seu desejo por alguém tão distante dos padrões?
— Quê?
Ele parece surpreso com minha pergunta.
— Você se sente incomodado por ter desejado uma mulher feia? Por
isso pediu para que eu mudasse minha roupa, meu cabelo?
Mal termino a sentença e logo ele se encontra colado em mim.
Surpreendentemente, em pleno horário de trabalho, e isso não é o que mais
me causa espanto.
Duro. Inegavelmente duro.
— Pelo estado que estou, pelo estado em que me encontro, você
acredita mesmo que eu me incomodo com a porra da roupa que você veste?
E não tenho tempo de responder, pois ele toma a minha boca. Num
beijo ansioso, urgente.
E na mesma hora todo e qualquer questionamento desaparece da minha
mente, pois neste instante parece que somente sei chupar e beijar.
Somente sei ceder e me entregar.
Mesmo que eu não deva, que não seja o correto a se fazer.
CAPÍTULO 16

Passei todo o final de semana pensando na porra deste gosto, deste


beijo, deste corpo. Preocupado com o que havia dito, temeroso que minhas
palavras mal colocadas afastasse Cecília de mim.
Por isso a chamei tão logo cheguei, louco para colocar tudo em pratos
limpos.
E qual não foi a minha surpresa quando ela veio com indagações tão
descabidas, certamente determinadas pela minha falta de tato com relação a
um tema que percebi ser por demais sensível para ela.
E isso não foi o que mais me surpreendeu. Certamente não.
O que mais me surpreendeu foi a vontade que tive de tirar estas
caraminholas da sua cabeça. Foi o desejo que senti apenas por ela citar o
sexo que fizemos, a mera lembrança da nossa transa.
E melhor do que explicar a situação com palavras, é mostrar o desejo
que ela me desperta.
Independente da roupa, independente das artimanhas que usa para se
esconder.
E o beijo gostoso mostra isso. O meu pau duro, comprimido na sua
barriga, confirma isso.
E neste momento perco-me nela, saboreio-a como se jamais pudesse ter
o suficiente.
Cecília geme, entregue.
Eu esfrego meu pau do jeito que posso, louco de tesão.
E minha língua na dela apenas me deixa mais duro, a possibilidade de
sexo entre nós deixa-me insano.
Até que um som, parecendo ter saído das profundezas do inferno, tira-a
do transe. Afasta Cecília de mim.
Eu xingo, amaldiçoo e deixo a porcaria do aparelho tocar. A frustração
tomando conta de mim.
Mas tenho que dizer algo. Fazer algo.
— Cecília...
— Alex, fico feliz pela interrupção, estamos em pleno expediente...
— E estou pouco me fodendo, eu só quero...
— Por isso foi processado, por não respeitar sequer seu horário de
trabalho. Droga, Alex!
— Fui processado porque aquela lá era uma interesseira, só pensava em
dinheiro, mesmo quando gozava gostoso no meu pau.
Digo irritado, a frustração tirando qualquer resquício de filtro que eu
pudesse ter.
— Eu não vou transar com você correndo o risco de sermos pegos!
Diz enfática e na hora tenho vontade de dizer que se a porra do telefone
não tivesse tocado, ela certamente já estaria com o meu pau enterrado todo
dentro dela. Mas como sei que não irei ganhar nada dizendo esta verdade,
deixo passar, somente quero garantir que o sexo entre nós aconteça, mesmo
que não seja neste instante, pois ainda falta muito para eu me fartar dela.
Respiro fundo, sabendo que infelizmente terei que controlar o meu
desejo, mas tentando garantir que mais tarde ele será saciado.
— Cecília, posso me conter por um tempo, posso esperar até
terminarmos o expediente. Só quero que você prometa que mais tarde
continuaremos.
Olho-a firme. Com desejo e com um misto de ansiedade.
Pela resposta, pela certeza de que terei meu desejo saciado.
— Mesmo que eu saiba que o correto seria pararmos com isso, desejo-o
muito para que eu me negue tal prazer. Então podemos sim ter bons
momentos, quando tivermos certeza de que estaremos sozinhos aqui.
Quase suspiro de alívio, mesmo que saiba que terei que esperar.
— Mas tenho uma condição.
— Que seria...
Solto a deixa temendo que ela queira fidelidade, ou exclusividade. Isso
está fora de cogitação. Infelizmente se essa for sua condição, certamente
meu pau jamais comerá sua boceta novamente.
— Enquanto estivermos a fim um do outro, você não comerá suas
modelos nesta sala. Leve-as para sua casa, um motel ou para onde lhe convir.
Você tem que combinar comigo que eu teria que ter muito pouco amor-
próprio se esperasse que você transasse com alguém por aqui, enquanto
aguardava a minha vez para o abate. Claro que talvez isso até já tenha
ocorrido, mas tenho a meu favor a desculpa de que não sabia que aconteceria
algo entre nós.
E reconheço a mulher decidida que é por suas palavras. Pela condição
que ela prontamente impõe.
Eu certamente aceitarei, pois é conveniente demais para mim
Reservarei minha sala para as fodas entre Cecília e eu. Foderei as
demais longe das vistas da minha decidida secretária.
Ela aproxima-se do meu ouvido e diz baixinho:
— É pegar ou largar, Alex, pois da mesma forma que posso ter meus
casos longe daqui, você também pode.
Mesmo que eu sinta um amargor desconhecido por suas palavras,
envolvo fortemente sua cintura enquanto digo:
— Claro que pego, mesmo que saiba que o final do expediente vai
demorar muito a chegar.
E beijo-a, selando o nosso compromisso. Odiando o fato dela ter falado
em outros casos, de saber que não suprirei totalmente suas necessidades.
Mas como sei que não me contentarei somente com ela, é mais do que
justo que eu aceite suas condições. Pois o beijo dela é gostoso demais para
abdicar, pois desejo-a demais para que possa me privar de tais sensações.
Mesmo que saiba que fiquei incomodado e muito por suas palavras, que
saiba que não estou muito feliz em saber que não serei o único em sua cama.
Mas um homem com desejo é capaz até mesmo de vender sua alma ao
diabo, imagine concordar com algo que é apenas justo, tendo em vista o
comportamento que pretendo ter.
Que é o de foder a secretária que é mais gostosa do que poderia
imaginar. De foder qualquer mulher que mexer com minha libido.
Porque sou solteiro e muito viril. Gosto de sexo, mais até do que é
recomendado para qualquer um que queira ser taxado como cavalheiro.
Talvez eu esteja mais para cafajeste, canalha, mulherengo.
Mas se isso me faz bem, que mal tem?
E isso me faz tão bem, me traz tão bons momentos que é assim que
quero viver por muito tempo.
Aproveitando beijos gostosos, ficando excitado e ansioso por um
orgasmo.
Como me sinto agora, enquanto tenho minha língua sugada por Cecília,
que sabe demais como mexer com minha libido.
E antes que eu tente convencê-la de uma rapidinha, ou de quebrar o
acordo recém-fechado, ela se afasta e com esforço aparente, diz:
— Vamos deixar esse fogo para mais tarde, por ora temos muito o que
fazer.
E se afasta. Da minha boca. Do meu corpo. Da minha presença.
Com passos firmes, decididos. Como se não tivesse abdicado de algo
que quisesse, como se não tivesse me deixado ardendo de desejo para trás.
E mesmo com a frustração a mil, apenas consigo admirá-la e desejá-la
mais.
Apenas consigo almejar que o tempo passe rapidamente, pois não vejo
a hora de colocar nosso acordo em prática.
Mesmo que ache que o final da tarde demorará demais a chegar, mesmo
que saiba que o meu pau reclamará e muito dessa espera.
CAPÍTULO 17

Só posso estar louca, isso sim. Não tem nenhuma outra explicação que
justifique o meu comportamento.
Porra, eu aceitei ter um caso com Alex. Aceitei cometer os mesmos
deslizes que venho cometendo.
Em minha defesa tem o fato dele ser gostoso demais, e de mexer
comigo mais do que é humanamente recomendável.
E pensar que comecei com este disfarce para evitar ser cantada, ou
constrangida e assediada como fui no meu emprego anterior. Que inventei
este circo para não ter que mais uma vez deixar um emprego do qual tiro o
meu sustento.
Só não imaginaria que Alex mexeria comigo. Demais.
Contra todas as probabilidades, meu chefe mexe comigo e não apenas
fisicamente.
Infelizmente ele mexe com minhas emoções, domina os meus
pensamentos e me faz tomar atitudes que, em gozo das minhas perfeitas
faculdades mentais, jamais tomaria.
Mas o sexo entre nós foi bom demais para que eu conseguisse abrir
mão. O que sinto por ele é intenso demais para que eu conseguisse resistir.
E mesmo sabendo que serei eu a única a sofrer quando todo o desejo
dele cessar, aceitei. Mesmo sabendo que terei meu coração esmagado
quando esse acordo findar, concordei.
Mas não deixei barato. Não me submeterei. Ditei minhas regras, impus
condições.
Ele me terá, mas será da minha maneira, pois apesar de não poder tê-lo
da forma como meu coração almeja, ele somente transará comigo se parar de
foder aquele monte de modelos bem debaixo do meu nariz.
Infelizmente não posso exigir fidelidade, nem tampouco prometerei,
pois não é algo nem minimamente desejado pelo poderoso e cafajeste CEO.
Mas podarei suas asas, farei com que ele tenha a decência de ter o mínimo
de decoro, se ele quiser realmente terminar o dia entre minhas pernas.

Enquanto me direciono para colocar alguns contratos sobre a mesa de


Alex, vejo, pela minha visão periférica, meu chefe se levantar da sua cadeira.
E sei o que vem aí, mesmo que eu finja que não desconfio de suas intenções.
— Aqui estão os contratos que você me pediu para revisar. Estou
saindo para almoçar, assim que chegar concluo os slides para a apresentação
da reunião da diretoria.
Como a reunião será às 16:00, tenho tempo de sobra para isso.
E antes que ele queira me tentar, ou testar minha resistência, viro de
costas, querendo voltar rapidamente por onde vim.
Logo sei que não terei vida fácil, pois sempre que pode, Alex tenta
algo.
E sei que hoje ele não fará diferente quando o sinto colado em minhas
costas, envolvendo seus braços em minha cintura e apertando-me contra si.
— Bem que poderíamos almoçar por aqui. Prédio esvaziado, nós dois
precisando relaxar, além é claro de podermos saciar este desejo que dá as
caras sempre que estamos juntos.
E esfrega seu pau em mim. Animado. Quinze dias em que transamos
quase que diariamente, e o fogo não parece amainar.
Mas não posso e não vou ceder. Mesmo que o tesão já desponte, mesmo
que todo o meu corpo queime de vontade do dele.
— Alex, você sabe que não vai rolar. Você sabe das condições...
— Porra, Cecília, às vezes penso que você tem um botão de liga e
desliga. Penso até que essa coisa entre nós não mexe com você da mesma
forma que mexe comigo.
Ah se ele soubesse! Que a minha calcinha já tá encharcada, que o
coração já bate desembestado e que morro por ser dele. E que apesar de
tentar imprimir um tom firme na voz, tudo em mim exige que eu me vire,
para que o beije e implore que me faça dele.
Sei que ele também fica mexido, mas é coisa de carne, de pele, é essa
química inexplicável que existe entre nós. Infelizmente comigo não é só
isso. Tem o sentimento, tem tudo isso que nasceu dentro de mim e que só
vem aumentando a cada dia, desde que tive a belíssima ideia de firmar este
acordo com ele.
E então, antes que eu caia em tentação, afasto-me do agarre, tentando
colocar uma distância segura que me ajude a agir com a racionalidade que
preciso.
— Claro que não é isso. Apenas não sou controlada pela minha boceta,
como você parece ser por seu pau. Além do mais a única que tem algo a
perder no caso de um flagrante sou eu, então nada mais justo que eu queira
me precaver, me resguardar.
— Caralho, Cecília, você fala como se não pudéssemos trancar a
porta...
— Alex, você mais do que ninguém sabe o que foi combinado, então
por favor não insista. Não se você quiser que as coisas entre nós continuem a
acontecer.
Digo firme, pois não é fácil, além de ter que lutar contra as minhas
vontades, em toda e qualquer oportunidade Alex insiste, tenta me fazer
ceder, tenta testar todos os meus limites.
— Calma, Cecília, eu apenas acredito que não há mal nenhum em
termos um tempo juntos agora, mas não vou mais insistir, as coisas
acontecerão como combinamos.
Ele deve estar gostando e muito do sexo que fazemos, pois somente
isso justificaria tanta compreensão, penso com ironia. Eu, mais do que
ninguém, conheço o todo-poderoso e sei que ele raramente cede, raramente
não tem suas vontades satisfeitas.
Mas isso não é motivo nenhum para me regozijar, é sim motivo para me
preocupar, pois enquanto o desejo dele existir, certamente as transas
acontecerão e meu sentimento apenas aumentará.
— Então, se estamos acertados, irei almoçar. Daqui a pouco chega a
hora de voltar e eu sequer saí do prédio.
Viro-me e saio. Sem encompridar. Sem olhar para trás.
Tenho medo de mudar de ideia, tenho medo de pedir que ele releve as
palavras falsas e fingidas que disse.
Então fecho a porta, agradecendo por ter conseguido resistir mais uma
vez.
E sigo para o banheiro, preciso jogar uma água na face, nos pulsos.
Preciso acalmar um pouco deste fogo que tenta me consumir viva.
E ajuda. Poucos minutos e já estou mais recomposta.
Retorno então à minha mesa para pegar a bolsa. Querendo o quanto
antes me afastar, mesmo que por pouco tempo.
Mas há algo que me impede.
Uma porta aberta e vozes, que dizem que Alex não está sozinho, que
talvez as coisas entre nós termine antes mesmo do que imaginei.
E que talvez ele me machuque muito mais do que um dia sequer sonhei.
CAPÍTULO 18

— Cara, se eu não soubesse dos teus gostos, diria que está pegando a
feiosa!
Mal a Cecília deixou a sala e Caio apareceu. Realmente ela está certa.
Mesmo com o prédio quase vazio, o risco sempre existe.
E já chegou enchendo o saco, pois vira e mexe é sempre o mesmo
assunto. Acredito que meu sumiço está contribuindo para que ele comece a
somar dois mais dois. Não ajuda também todo o tempo que Cecília e eu
passamos juntos no escritório.
— Nunca fez tanta hora extra, nunca esteve tão ausente da balada. Para
falar a verdade, estou começando a ficar com uma pulga atrás da orelha.
Infelizmente estou numa tara tão grande pelo corpo de Cecília que
sequer tenho procurado outras. Porra, a mulher está ao meu lado o dia todo,
é gostosa pra caralho e tem me deixado bem satisfeito, por isso não vejo
motivos nenhum para procurar fora o que tenho aqui dentro. E da melhor
qualidade, diga-se de passagem.
O jeito é mentir, fingir. É desacreditar suas suspeitas. E nada melhor do
que uma risada debochada, juntamente com uma pitada de escárnio.
Por isso rio, alto. Interpretando o papel do grande cafajeste que sou,
certamente tendo a reação que teria, há um tempo atrás, se alguém associasse
meu nome ao de Cecília.
— Porra, só você pra me fazer rir!
E continuo, forçadamente. E sei que preciso ir além, pois daqui a pouco
este meu projeto de gargalhada apenas confirmará as suspeitas de Caio.
— Tá me desconhecendo? Gosto de loira, gostosa e quanto mais nua
melhor.
Ele ainda traz na expressão desconfiança e resolvo caprichar mais.
— Você não acha que eu ficaria com alguém tão feia como a Cecília,
acha? Com aquelas roupas horrendas, aqueles óculos que a deixam ainda
mais estranha, além daquele penteado da época da minha avó e que me dá
dor de cabeça só de pensar. Somente ficaria com alguém como ela por
piedade, aposta ou promessa.
Olho-o com um falso sorriso no rosto, querendo que ele acredite e que
consiga mudar de assunto.
— Cara, pois juro que não estou entendendo...
Vejo que ele ainda não está totalmente convencido, então resolvo
mentir um pouco mais.
— Na verdade estou pegando uma modelo argentina. Lindíssima, de
parar o trânsito. E antes que você pergunte por que não a conheceu,
respondo que não queria perder um segundo de tempo, pois infelizmente sua
permanência no país é questão de dias e já bastava o tempo que perdia por
ficar aqui além do horário.
— E onde você está pegando essa tal argentina? Com certeza ninguém
os viu juntos, pois nenhum dos caras comentou nada comigo, muito pelo
contrário, eles, assim como eu, estão encucados com o seu sumiço.
— Ora, na minha casa!
— Na sua casa?
Ele parece um idiota repetindo o que disse. Dou um desconto, pois sei
que isso se deve a surpresa de eu jamais ter levado ninguém para os meus
domínios.
— Sim, lá mesmo. Ela é diferente das mulheres com quem já saí e
queria descobrir até onde esse lance gostoso nos levaria. Por isso optei pela
privacidade e conforto, optei para que as coisas entre nós acontecessem de
forma discreta e reservada. A pegada entre nós está gostosa demais e quis
proporcionar a ela essa deferência. Além do mais tenho alguns motivos para
deixar esse caso em segredo.
— Que seriam?
Talvez tenha sido bom criar esta história fictícia, assim poderei
continuar com a rotina que venho tendo com Cecília sem precisar me
preocupar com possíveis desconfianças. Bem como poderei me manter
afastado sem ter que justificar minha ausência das curtições e farras das
quais jamais tinha aberto mão antes.
Mas sou impedido de continuar meu teatro, pois quando penso em
prosseguir discorrendo sobre essas mentiras deslavadas que saem da minha
boca, ouço um barulho que na hora me faz temer descobrir de que se trata.
Receio descobrir que Cecília esteja por perto.
Temeroso me desloco em direção à porta do escritório. Receando ter
minhas suspeitas confirmadas.
Chego a tempo de descobrir que o barulho que escutei veio realmente
de Cecília.
Sinto-me mal. Ansioso, atemorizado.
Querendo saber o quanto ela escutou. Querendo saber o quão fodido
posso estar.
E quando ela se vira ao entrar no elevador, sei que estou muito, bastante
fodido.
Vejo dor, raiva e porque não decepção.
Não sei se por causa do envolvimento fictício que tão idiotamente me
atribuí, ou se ela escutou quando eu babacamente a desmereci.
Sua expressão desgostosa diz que provavelmente escutou muito,
escutou tudo.
Seu semblante triste diz que falei demais, talvez até mais do que ela é
capaz de entender ou até mesmo perdoar.
E mesmo desnorteado sei que preciso fazer algo, preciso agir. Antes
que as portas do elevador se fechem e a levem para longe, impedindo-me de
tentar remediar a burrada que fiz.
— Cecília, espere!
E não tenho mais nenhum tempo, pois logo a cabine se fecha. Logo
estou sozinho com Caio, aflito como não lembro de já ter estado.
— Porra, Alex, pela cara da sua secretária, acredito que ouviu que
estávamos falando dela.
Meu vice-presidente diz e esta constatação apenas me adoece mais. E
para piorar ainda tem o lance da tal da argentina. Mesmo que não tenhamos
nenhum acordo de fidelidade, ouvir que teoricamente tenho estado com
outra, depois dos nossos momentos, de nada vai aliviar para o meu lado.
Duvido que eu tenha qualquer alívio, de qualquer forma.
Temo por nossa amizade, temo por sua permanência nesta empresa.
Mas temo principalmente pela possibilidade de tê-la rechaçando minhas
investidas, de tê-la renegando aquilo que tínhamos.
E isso me faz verbalizar todo o pavor que me corrói:
— Porra, estou fodido! Muito fodido! Preciso conversar com ela, fazer
Cecília entender...
Sequer continuo, porque talvez nem tenha o que fazer, talvez eu tenha
ido longe demais.
— Infelizmente não sei como você vai fazer esta mágica, este milagre.
Diz e sua voz não tem mais nenhum sinal de brincadeira ou zoação.
Apenas a constatação, apenas sua opinião.
E neste momento sei que preciso tentar, me esforçar.
Pois não estou pronto para ficar sem ela. Não estou pronto para abdicar
de Cecília.
Abdicar dela na empresa e muito menos nos meus braços.
CAPÍTULO 19

Porra, queria ter saído na surdina. Não precisava ser tão desastrada e
derrubado a bolsa. Atraindo sobre mim uma atenção indesejada, permitindo
que ele me visse tão arrasada, que soubesse quão mal estou.
Droga, como fui idiota. Como me senti uma imbecil em descobrir que
ele tinha uma amante fixa. Modelo, certamente loira. Daquelas que ele
sempre fodia, sua escancarada preferência.
E foi isso que me rasgou, que me magoou. Que fez me deixar
transparecer como a conversa toda mexeu comigo, como machucada estava.
Claro que eu não era cética ao ponto de achar que estava sendo a única,
mas ele ter alguém fixo, que levava para casa logo após me foder
diariamente e que sequer contava para os amigos, pois tratava o que tinha
com a tal argentina como algo especial, foi demais para mim. Para o meu
coração.
Que sangrou. Que se dilacerou.
De dor. De amor.
Por alguém mesquinho, capaz de brincar e de tripudiar sobre a
aparência de alguém. De fazer brincadeiras ultrajantes e que somente
mostram o quão idiota Alex é.
Por alguém que somente pensa em satisfazer suas vontades, e que não
dispensa sequer seu ambiente de trabalho e muito menos sua funcionária, por
mais desagradável que ache a forma como ela se apresenta. Que tem casos e
mais casos e que atualmente pensa ter algo especial com alguém, mesmo que
isso não signifique que deva fidelidade a tal modelo, e que continue me
seduzindo, dia após dia. Que continue me apaixonando, mesmo sem querer,
apenas por existir.
E pensar que fiz sexo com ele sem camisinha! Em pensar que me expus
desta forma! Mesmo que o fato de ser vasectomizado tenha evitado que
necessitasse de contracepção de urgência, tenha evitado que o dano fosse
maior, expus-me a uma doença, expus-me a algo que poderia me trazer
consequências irreparáveis.
Porra, em que fui me meter? Por que fui deixar meu coração me
dominar desta forma?
Estava bem em sentir as coisas de forma platônica, em me manter
invisível perto dele.
Mas não o fui por muito tempo. Uma noite regada a álcool e deixei vir à
tona meus desejos, meu sentimento. Uma sucessão de erros, de necessidade
de ceder, e agora estou mais apaixonada do que nunca, por um cara que se
mostrou um grandessíssimo filho da puta. Que debocha, que menospreza e
que não sabe de forma alguma valorizar uma mulher, mesmo que esta seja,
segundo ele, alguém diferente.
E escutar a maldita conversa e chegar a todas estas conclusões, fodeu
com tudo.
Com a admiração, com a amizade e com o indesejado sentimento.
E isso me faz chorar, me faz fraquejar.
E deixar todas as lágrimas que tenho vir à tona. De forma abundante, de
forma incontrolável.
Felizmente durante a minha fuga lembrei de me proteger, lembrei de
tentar manter o mínimo de dignidade.
E somente deixei todo o desespero aflorar quando estava na cabine de
um sanitário, em um andar da empresa pouco movimentado, principalmente
no horário de almoço.
E se usar o elevador privativo da presidência me deu toda a
privacidade, estar aqui me dará todo o tempo e sossego que necessito para
me recompor, para tentar me apresentar com o mínimo de dignidade.
Depois de tudo. Depois de tanta decepção.
E como tenho um tempinho antes do confronto, deixo a dor extravasar,
deixo as lágrimas virem livremente.
Deixo a decepção me tomar, deixo meu rosto banhar.
Pois me conheço e sei que darei tudo de mim para ser forte, que lutarei
com todas as minhas forças para enfrentar meus problemas e desilusões de
pé, com todo amor-próprio que uma pessoa numa situação dessa é capaz de
ter. Mas nesse instante quero externar, quero chorar. Preciso colocar tudo
isso para fora.
A dor da desilusão. O sofrimento e a decepção por amar Alex.
Alguém tão indigno e agora totalmente impossível para mim.
Por ser como é, por agir como alguém que não quero perto de mim.
E por isso choro, soluço. Como não lembro de já ter feito, como espero
jamais o fazer novamente.
Mas hoje é necessário. Neste momento colocar tudo isso para fora
talvez me coloque novamente em perspectiva. Pelo menos é o que anseio.
Para que consiga enfrentar a tarde que está por vir. Para que consiga me
manter aqui nesta empresa, e consiga me colocar o mais longe possível do
meu chefe.
Pois embora neste momento eu esteja arrasada, desmanchando-me num
choro copioso, espero não mais derramar uma lágrima sequer por ele.
Porque ele não merece e eu sou inteligente o suficiente para saber disso.
Muito embora o coração seja um órgão burro, mas não mais me
deixarei conduzir por ele, e muito menos por minha boceta.
Porque isso somente me trouxe essa angústia e esse desespero que me
consome.
Manterei distância. Evitarei. Rejeitarei.
Nada de hora extra e muito menos qualquer intimidade, nem mesmo
amizade. Pois a maneira que se referia a mim não era, de forma alguma, a
maneira que um amigo se referiria a outro.
E isso foi o divisor de águas para me fazer enxergar minha verdadeira
função aqui dentro. A de empregada. De funcionária.
E será assim a partir de agora. Minha dignidade garantirá isso. Meu
orgulho e amor-próprio reforçará minhas intenções.
Mas não sou inocente de imaginar que o esquecerei de um dia para a
noite, claro que disso eu sei. Entretanto tenho que começar em algum
momento e não há teste melhor que um encontro em uma sala lotada, logo
após sofrer toda essa decepção.
Pois tenho fibra suficiente para passar por tudo isso, tenho garra
suficiente para me mostrar superior.
Aparecerei na reunião recomposta, eficiente e feia. Como sempre
apareci.
Totalmente igual a todas as outras reuniões que participei, mesmo que
por dentro esteja destruída, desolada de uma forma que não lembro de já ter
estado.
Mesmo que as lágrimas retornem quando estiver em casa, quando puder
me render ao choro dos apaixonados não correspondidos.
Mas isso será depois, bem depois.
Por ora lavarei meu rosto e tentarei me mostrar impassível, fria.
Tentarei fingir uma altivez e superioridade que estou longe de sentir.
Mas se fui capaz de enganar a todos sobre a minha aparência,
certamente conseguirei mentir também sobre todo o amor e sofrimento que
trago dentro de mim.
Ambos causados por Alex. O homem por quem me apaixonei, mesmo
que ele esteja longe de merecer tal sentimento.
Mas da mesma forma que o sentimento veio, este vai ter que sumir.
Mesmo que para isso precise sair, curtir. Que precise me reinventar.
Pois já sofri demais na vida para ainda ter que sofrer por quem não
merece.
E, pelo que ouvi de Alex Valentin, ele está muito longe de merecer de
mim ou de quem quer que seja qualquer sentimento, apreço ou consideração.
Ele somente merece todo desprezo e rejeição que estou mais do que
disposta a oferecer.
E Alex que se cuide, pois uma mulher magoada é capaz de tudo,
mesmo que ela seja loucamente apaixonada. Mesmo que seu corpo queime
de desejo e que sua alma implore pelo mínimo de atenção.
Mas nada mais acontecerá entre nós, pois realmente acabou e logo mais
ele saberá, perceberá.
Que a partir de hoje ele comerá todas e qualquer uma, mas jamais estará
dentro de mim novamente.
Que a partir de hoje o que havia entre nós acabou. Definitivamente.
Irremediavelmente.
CAPÍTULO 20

Dizer que estou aflito é minimizar toda a angústia que estou sentindo,
desde que percebi que Cecília havia escutado minha conversa com Caio.
Desde que vi sua expressão, que a vi fugindo no maldito elevador.
Porra, eu não tinha nada que falar dela, de sua aparência e muito menos
tinha que posar de fodão, de garanhão. O que tinha que fazer era deixar Caio
falar e supor se assim o quisesse.
Mas não, eu tinha que abrir a boca. Eu tinha que estragar as coisas entre
Cecília e eu.
E não me refiro somente ao sexo, refiro-me também à amizade, ao
trabalho.
Caralho de criatura idiota, totalmente imbecil.
E diante destes xingamentos que me atribuo, novamente olho no
relógio, louco que consiga um instante com ela antes da reunião.
Sei que não será fácil, pois a sala de reuniões é neste andar e sei que
pontualmente os diretores começarão a subir. Mas tentarei, pois não
conseguirei conduzir nada até que consiga resolver toda esta merda em que
me meti.
De repente escuto um som e respiro um pouco mais aliviado.
Esbaforido vou em direção à Cecília. Nem ao menos sei como me redimir,
somente sei que é algo que preciso e muito fazer.
E qual não é a minha surpresa ao vê-la acompanhada com a secretária
de Caio, a que divide apartamento com ela. Claro que Cecília, esperta como
é, não ia deixar as coisas fáceis para mim.
Mas se ela pensa que isso inibirá minhas intenções, está muito
enganada.
— Cecília, você poderia me acompanhar à minha sala um minuto?
Indago, pois tentar me entender com ela é algo primordial neste
momento.
Mal digo as palavras e o elevador avisa a chegada de alguém
certamente indesejado.
Três diretores, que literalmente não poderiam ter escolhido pior hora
para se mostrarem eficientes e pontuais.
— Acho que teremos que deixar para depois, senhor. Pois preciso
correr com a organização da reunião, visto que alguns diretores já chegaram.
Diz séria, profissional. Livrando-se da conversa, deixando bem claro
que não desejava esse momento.
E se vira. Levando alguns papeis consigo, sendo acompanhada por sua
amiga, que em nenhum momento deixou de observar a interação entre nós.
Infelizmente terei que esperar, pois Cecília foi salva pelo gongo.
Mas ela não me escapará. Ainda hoje teremos a conversa. Ainda hoje
farei tudo que estiver ao meu alcance para voltar às boas com ela.
Pois não posso suportar ficar longe do seu corpo. Não posso suportar
que as coisas entre nós termine.
Não agora. E, certamente, não tão cedo.

Eu não poderia estar mais disperso, não poderia estar mais fora do ar.
Felizmente Cecília é totalmente participativa, me ajuda na condução da
reunião. Responde perguntas, explica dados, interage com todos os diretores.
Só não olha para mim. Em momento algum me dirige o olhar.
E isso apenas me desnorteia mais, apenas me deixa mais inapto a
interagir com meus funcionários.
Porra, Cecília está com ódio. Deixa claro, por sequer me olhar, que não
quer mais contato algum comigo. E isso me deixa ansioso, louco para que
esse circo aqui se finde e eu tenha um momento com ela.
— Acho que todos concordamos que está bom por hoje. Que os lucros
foram mais do que satisfatórios e que as estratégias de marketing totalmente
aprovadas.
Diz Caio, talvez tentando se redimir da furada em que me meteu, pois
sabe que eu estou muito aquém do CEO impetuoso que costumo ser.
— Mas antes de nos retirarmos, gostaria de parabenizar Cecília por seu
excelente trabalho e dizer que a cada dia que passa ela se mostra ainda mais
competente e eficiente.
Dessa vez ele tenta se redimir frente à minha secretária. Mas se Caio
estava esperando sorrisos, agradecimentos ou que ela aliviasse de alguma
forma para o lado dele, estava muito enganado.
Ela apenas faz um maneio de cabeça, deixando claro que não será um
elogio, mais do que merecido, que abrandará seu coração. Ela apenas se
mostra distante, fria e aparentemente inacessível.
E isso me faz mal. Vê-la desta forma me faz temer a conversa que está
por vir.
— Concordo com o reconhecimento do vice-presidente.
Digo apenas para puxar assunto, mas aparentemente um arremedo de
uma careta é a única resposta que terei.
— Então é isso, acho que podemos encerrar a semana.
E todos começam a juntar os documentos, todos começam a se levantar
para sair.
Logo o diretor de marketing se aproxima e sei que tenho que me livrar
rapidamente dele, pois não posso perder a oportunidade de conversar com
Cecília.
— Gostei demais das ideias, Alex. Na verdade não vejo a hora de
implementá-las. A propósito...
E perco o fio da conversa quando vejo minha secretária tentar sair
desapercebida da sala.
— Cecília, por favor, me espere na minha sala. Ainda temos alguns
pontos a serem alinhados antes de terminarmos a semana.
Por ser sempre profissional e disposta a ficar além do horário, jamais
esperei ouvir a resposta que ouvi, não com a sala ainda lotada.
— Senhor, infelizmente hoje não posso ficar. Tenho um compromisso
inadiável.
Ela diz firme e olha-me diretamente. Mostrando-se irredutível,
inabalável em sua recusa.
Além da surpresa, a raiva por não estarmos sozinhos. E quando penso
em pedir licença para me ausentar e tentar conseguir uns minutos com ela,
eis que o idiota do diretor de marketing diz:
— Nada mais merecido e aceitável do que sair no horário, pelo menos
dessa vez. Acredito que Alex entende e que deixará para segunda o que quer
que seja que ele ainda queira discutir com você.
E me olha como se esperasse um elogio por reconhecer o valor de
Cecília. Garanto que com a ira que me causou, o que está a ponto de receber
é sua demissão sumária.
Quando penso em tentar conseguir ao menos um instante, ela diz:
— Boa tarde, senhores, e até segunda.
Saindo rapidamente. Esquivando-se de qualquer tentativa minha.
Tenho gana de matar esse idiota na minha frente, temo não conseguir
controlar minha frustração.
— Como estava dizendo...
— Realmente preciso conversar com Cecília. Vamos deixar para
segunda o que quer que você queira me dizer.
Digo de forma infantil, para que prove do próprio veneno. Uso do
mesmo artifício que usou para com ela.
Frio e sem qualquer consideração, para que ele nunca mais ouse se
meter nas minhas coisas.
Despeço-me rapidamente daqueles que ainda restaram no recinto e saio
rapidamente para tentar pegá-la na sua mesa.
Mas apenas encontro o lugar vazio. Apenas encontro a certeza de que
não conseguirei falar com ela, pelo menos não até segunda.
E tenho vontade de chutar e de esmurrar. Tenho raiva e temo não
conseguir conter meus instintos.
Porra de situação fodida em que me meti.
Que me fez estragar as coisas entre Cecília e eu. Que me faz temer
perder minha funcionaria e minha amiga.
Temer principalmente perder minha foda gostosa, a única mulher que
eu quero neste momento.
E se não bastasse estar fodido de tantas maneiras, algo me vem à mente.
Algo que ela disse, e que somente agora me dou conta de que talvez as
coisas apenas piorem.
Que ela tem um encontro. Tem a porra de um encontro.
E na hora vejo tudo vermelho, sinto no corpo sensações jamais sentidas.
Infelizmente estando de mãos atadas, impossibilitado de fazer o que
quer que seja.
Amaldiçoando-me por me colocar na porra desta situação.
Amaldiçoando-me pelo final de semana de merda que sei que terei pela
frente.
CAPÍTULO 21

— Juro que estou chocada, jamais achei que estava acontecendo algo
entre você e o bonitão.
E sua expressão traz realmente a surpresa com o que acabou de ouvir.
— E claro que nunca desconfiei porque, mesmo sendo muito estranho
esse monte de hora extra que faziam, o disfarce que usa é capaz de espantar
até o menos seletivo dos homens, imagina o grande pegador de modelos,
nitidamente fissurado em aparência e beleza.
E é a verdade. Ele sempre foi conhecido assim. Sempre foi visto com as
mais lindas beldades, inclusive sei que a argentina deve estar totalmente
dentro destes padrões.
— Agora que é um grande filho da puta esse Alex Valentin, isso ele é.
Assim também como Caio, que não fica nem um pouco atrás.
Ela diz, pois mesmo estando de rolo com o vice-presidente, Isadora
sempre é muito justa com o que tem que ser. E se alguém está errado, ela não
passa pano, mesmo que esse alguém seja sua mãe.
— Estou com tanto ódio dele que acho até que vou cancelar o programa
que íamos fazer hoje.
Ela diz e mesmo que saiba que está indignada com o que aconteceu,
reluta porque gosta do chefe. Assim como gosto do cretino do meu. E não é
justo que ela fique em casa, que sofra por se privar de sair com Caio.
Sei que ele é um filho da puta e em muitos sentidos, mas quem sou eu
para julgar, pois justamente o cara que estava me agarrando difere muito
pouco do peguete dela. E além do mais, ele não foi nem o primeiro e nem o
último que me julgou devido o estilo que uso para trabalhar. E pior foi Alex,
que mesmo sabendo como realmente sou, ainda ficou de zoação. Que
mesmo fazendo sexo comigo, o tempo todo, ainda manteve um caso com
alguém que, aparentemente, para ele era algo diferente.
Antes que me perca nas minhas divagações, decido ser incisiva com
Isadora.
— Claro que você vai sim, não há motivo nenhum para você desmarcar
o encontro.
— Não é encontro, tipo só nós dois e nem clima de romance não. É
uma balada, com alguns amigos dele e umas meninas que sempre saem
nessa turma. Já fizemos este tipo de programa outras vezes.
Ela diz e vejo que a voz dela traz uma tristeza, talvez uma decepção,
pois vejo que realmente está disposta a não ir, a tomar as minhas dores.
Mesmo caidinha pelo sem base do Caio, minha amiga optou por mim, por
ficar ao meu lado.
Tenho que fazer algo, preciso intervir. Não posso deixá-la se privar
assim.
De repente tenho uma ideia, mas antes preciso verificar algo.
— E o Alex costuma estar junto nestes momentos?
Ela me olha incrédula ao ouvir a pergunta, talvez não acreditando que
eu esteja indagando pelo infeliz, não depois de tudo que aconteceu hoje.
— Não. Inclusive este sumiço repentino do nosso chefe era algo que
eles questionavam. Agora entendo o que estava acontecendo.
Diz de forma sugestiva.
Decido então dizer como as coisas serão hoje, pois de repente decidi
chutar o balde.
Decidi que as coisas mudarão e começarão esta noite.
Para calar a boca daquele preconceituoso de uma figa. Para que ele
nunca mais faça julgamentos e críticas a mulher nenhuma, pois todas tem
seus valores e atributos, independente da forma que gostam ou precisam se
apresentar.
— Não somente você irá, como eu também irei. Caio conhecerá minha
real versão, e a partir de segunda todos da Suprema Essence também
conhecerão.
Vejo o choque, percebo que Isadora não esperava que desse esse passo.
— Cecília, eu não entendi por que você vai fazer isso. Você não
precisa...
— Claro que não preciso, mas eu quero. Meu disfarce não cumpriu seu
intento, que era afastar investidas e tentações. Também preciso admitir que é
muito trabalhoso me montar dia após dia, ter que acordar mais cedo para isso
e que no final o resultado passou longe de ser o esperado. Além do mais
quero ver a cara do Caio, quero ver a cara dos demais, que mesmo que não
falassem, secretamente me julgavam e caçoavam da minha aparência. E
acima de tudo quero ver Alex quando perceber que não mais me esconderei,
que atrairei olhares e principalmente que estarei definitivamente fora do seu
radar.
Ela me olha chocada, admirada, mas conhecendo-a como conheço,
Isadora também está mais do que orgulhosa da minha decisão.
Continuo:
— Claro que não sou ingênua de pensar que aquele puto sente algo por
mim, inclusive está até bem longe disso. Mas que ele morre de desejo, isso
ele morre. Ele fica doido de tesão, de vontade e a partir de agora, no que
depender de mim, ele terá um grande caso de bolas roxas. Porque minha
roupa e minha postura serão as mais atrevidas possíveis, e a distância que o
obrigarei a manter será a maior que você poderá imaginar.
Nunca fui tímida e nem insegura, e por isso colocarei tudo o que disse
agora em prática, e colocarei logo esta noite.
— E por que, se na segunda você vai abdicar do disfarce, perguntou se
Alex estaria na balada? Entendo que se ele saberá que acabou o fingimento,
não há motivos para perguntar o que perguntou. A não ser que queira vê-lo
hoje, a não ser que você queira que esta noite mesmo Alex saiba que as
coisas mudaram.
Poderia fingir que sim, poderia mentir ou me iludir. Mas Isadora é
minha amiga, a melhor e única. E não vejo motivos para fingimentos, não
com ela.
E por mais que eu seja forte e decidida, não preciso ser o tempo todo. E
principalmente não preciso ser com ela.
E é por isso que digo a verdade. É por isso que abro o meu coração.
E deixo a dor emergir. E deixo todo o sofrimento que dilacera minha
alma se apresentar.
— Perguntei por que, se ele fosse, eu não iria. Não posso vê-lo, não esta
noite. Farei tudo o que disse, e se puder com requintes de crueldade,
entretanto hoje não seria capaz de encará-lo. Assumirei minha verdadeira
aparência para Caio, primeiramente, e na segunda a Cecília das roupas e
estilo horrendos, não mais existirá.
Minha amiga entende que não estou pronta, que hoje o dia foi demais,
mais do que sou capaz de suportar.
Mas ainda preciso deste fechamento, preciso calar Caio e fazê-lo
engolir tudo que disse.
Assim como preciso que, a partir de segunda, Alex veja a cada instante
o que perdeu.
Que veja a mulher que ele não mais terá em seus braços.
E que ele fique com a argentina ou com qualquer outra modelo, pois a
sua secretária, a partir de agora, somente será o que foi contratada para ser:
funcionária da Suprema Essence.
CAPÍTULO 22

— Linda, você está linda! E gostosa, demais!


Sei que caprichei e realmente queria conseguir este efeito. Depois de
muito tempo, novamente me esmerei no meu visual.
Entendo que a minha genética é boa, além de todo o cuidado com a
alimentação que tenho. Também cumpro uma rotina de exercícios em casa
que me ajuda a tonificar o corpo e, por mais cansada que eu esteja, sempre
sigo à risca, pois gosto do resultado final do meu esforço.
Dou uma voltinha mostrando toda a pele que estará descoberta e tudo
que o vestido curto valorizará, enquanto digo:
— Somente quero saber se serei capaz de fazer o seu chefe idiota
engolir as palavras.
Minha amiga abre um amplo sorriso, antes de falar:
— Ele não somente engolirá todas as idiotices que disse, como, se tiver
o mínimo de bom senso, jamais se colocará numa situação constrangedora
como se colocou mais cedo.
E certamente isso me fará mais do que satisfeita. Caio entender que ele
não deve julgar a aparência de ninguém, mesmo porque ele sequer tem esse
direito.
E é somente por querer que ele tenha essa percepção e esse
constrangimento é que irei, que buscarei esse confronto, porque na verdade o
que eu queria realmente era deitar na minha cama e sofrer, era lamber
minhas feridas.
Era chorar por ter um coração burro, pois na primeira vez que se viu
apaixonado, foi por alguém totalmente indigno, impróprio. Foi por alguém
que seguramente não merece o sentimento que lhe é devotado e que com
certeza não o quer.

Fazia um tempo que não aparecia neste tipo de lugar, muito embora
goste das luzes, do som e da possibilidade de ser caça ou caçador. Mesmo
que hoje esteja fechada para balanço, não tardarei a voltar à ativa, ainda
porque tenho um grande imbecil para tirar do meu sistema.
Durante o percurso Isadora já contactou com o seu chefe e sei que o
confronto acontecerá. Inclusive já sabemos para que reservado nos
direcionaremos quando chegarmos ao local.
Então não temos trabalho nenhum em identificarmos o lugar e, quanto
mais nos movimentamos, mas ansiosa fico para presenciar a sua reação.
E não demorará muito o tal confronto, pois assim que subimos a escada,
logo os avisto. Uns cinco rapazes, todos bem bonitos, diga-se de passagem, e
duas mulheres, que certamente não querem terminar a noite sozinhas. E
certamente elas tem muito bom gosto, se levar em conta a aparência, mas se
os amigos tiverem o mesmo caráter de Caio e Alex, somente posso me
solidarizar pela infeliz escolha.
Assim que Isadora fica cara a cara com ele, Caio a puxa para si e a
beija. Loucamente. Como se estivesse desesperado pelo contato, sequer
percebendo que ela trouxe uma amiga consigo e se isso não for um bom
sinal, eu não sei o que seria.
E o beijo dura muito tempo, e a cena é no mínimo constrangedora. Mas
como a amiga protetora que sou, observo a interação entre eles para ver se
entendo onde minha amiga está se metendo.
E quando parece que eles precisam ao menos respirar, se afastam
minimamente, mesmo que o babaca em questão, pareça não ter o suficiente
de Isadora. Ele distribui beijinhos e fungadas. De olhos fechados.
Certamente perdido no momento, assim como minha amiga.
E quando acho que posso vir a ficar constrangida, de tanto que estou
segurando vela, Isadora parece lembrar de mim e coloca uma distância
segura entre ela e o chefe.
Com a face levemente corada olha para mim. Esperando julgamento,
buscando talvez uma desculpa para a forma como estava entregue. Resolvo
sorrir, querendo que entenda que está tudo certo. Ela retribui e parece
aliviada pelo meu comportamento.
De repente minha amiga parece lembrar o motivo de eu estar aqui. Ela
toma a dianteira do meu plano e diz, com um toque de humor:
— Caio, acho que você conhece Cecília, secretária da presidência.
Ele olha para um lado e para o outro. Parecendo não achar o que está
procurando. Buscando encontrar alguém com a aparência semelhante àquela
a quem ele tanto criticou mais cedo.
Quando não encontra o que está procurando, Caio foca na minha pessoa
e quando vem o entendimento de quem realmente sou, a expressão que faz é
no mínimo cômica.
De surpresa. De assombro. De descrédito.
Ele chega a coçar os olhos, como se esperasse que a imagem que via se
assemelhasse ao que ele esperava encontrar. E quando de repente a ficha cai,
o queixo despenca e o espanto se faz presente em cada traço de sua face.
— O que? Co-mo?
Ele gagueja, inseguro. Como se não concebesse o que está à sua frente.
— Juro que não estou entendendo...
Eu o encaro e digo:
— Tudo bem, senhor Caio?
A formalidade que usarei a partir de hoje, deixando claro a distância
que existirá. Entre ele e eu. Entre Alex e eu.
Escutar minha voz o faz entender que a mulher que está à sua frente é a
secretária horrorosa, aquela de quem ele muito zombou e humilhou. Aquela
a quem menosprezou e deu muitas risadas.
Ele olha-me de cima a baixo e sei que para ele ainda é difícil a
percepção. É nítido a surpresa, mas também o constrangimento pelo que
presenciei mais cedo, pela forma fria com que o encaro.
— Cecília...
Chama meu nome, tentando achar as palavras. Talvez queira se
desculpar, ou simplesmente deixar claro como se sente surpreso. Nada disso
me interessa. Já mostrei meu potencial, ele já sabe como sou.
Agora somente a indiferença, a frieza e a distância que existirá entre os
dois e eu.
— Com licença, senhor, vou atrás de uma bebida para mim.
E saio. Rebolando. Causando.
Mostrando tudo que esteve oculto pelas roupas longas que sempre usei.
E sei que ele olha e apenas ouso mais. E sei que não tem nada a ver
com interesse da parte dele, nem muito menos interesse meu em chamar a
atenção de Caio. Ele apenas analisa como realmente sou. E eu somente
mostro como sempre fui e como serei a partir de então.
CAPÍTULO 23

Frustrado. Irritado. Temeroso.


São esses sentimentos que me invadem, na mesma proporção.
Frustrado por não ter Cecília comigo, por não estar dentro do seu corpo
gostoso, depois de tantos e tantos dias dessa rotina deliciosa. Irritado por ser
tão idiota, tão imbecil. E temeroso com o que me aguarda. Uma demissão?
Certamente um afastamento.
Tenho gana de colocar toda a minha sala abaixo, tenho gana de ir ao seu
encontro. Enquanto tento evitar qualquer uma destas possibilidades, perco-
me no consumo de álcool, tento algum tipo de conforto, enquanto o celular
continua acusando a chegada de mensagens. Dos caras, mas principalmente
do Caio. Desculpando-se da roubada em que nos meteu, insistindo para que
eu vá encontrá-los.
Mal sabe ele que tenho ânimo zero para curtição e que neste momento
somente queria estar com Cecília.
E parece que terei que ser mais incisivo em minha negativa, pois as
mensagens agora estão chegando com ainda mais frequência, uma seguida
da outra, como se alguma coisa que ele me mandasse alterasse a minha
recusa. Mal sabe ele que nada no mundo me levaria até a casa noturna onde
estão.
É com isso na cabeça que pego o telefone, pronto para deixar bem claro
a minha decisão.
Até que leio o que ele escreve, até que a vontade de me teletransportar
neste exato momento se faz imperativa.
Para a boate. Para onde está Cecília.
Do jeito que estou, com a mesma roupa que cheguei do escritório.
Somente havia me livrado da gravata, do blazer e arregaçado as
mangas. Continuo com a roupa com que trabalhei o dia inteiro. E isso não é
importante, está muito longe de ser. Quando somente ir até ela é o que me
importa, ter a chance de tentar resolver toda a porra desta situação que está
me enlouquecendo. E é o que farei. Agora mesmo.
Em um lapso de sanidade chamo o motorista, depois do álcool que
ingeri e que certamente ingerirei, não posso e não devo dirigir. Não colocarei
minha vida em risco e nem a de outras pessoas. E isso talvez seja o meu
único pensamento coerente, pois a loucura parece que se apossou de mim
desde que li a mensagem de Caio.
Dirijo-me então rapidamente para a garagem, louco para vê-la.
Precisando resolver as coisas, necessitando tê-la em meus braços
novamente.
Pois o desejo por Cecília é intenso, e o fogo que sinto por ela está muito
longe de acabar.

Sequer olho para os lados, mesmo sabendo que aqui está cheio de
gostosas. Sequer perco um segundo além do necessário, pois sou um homem
em uma missão.
E todo o meu esforço é compensado quando me encontro no mesmo
ambiente que os caras. Olho para os lados e não a vejo, temo que tenha
demorado demais e que ela não esteja mais aqui.
Vejo Caio e Isadora ao seu lado. Sei do rolo deles e isso me é
totalmente indiferente.
Apenas uma coisa me importa. Saber de Cecília.
E pergunto. Ansioso. Aflito.
— Onde ela está? Onde...
Caio me interrompe e diz:
— No bar, mas antes você precisa saber...
Dou-lhe as costas, nada quero saber.
Apenas sigo para o bar do reservado em que estamos, apenas morro por
resolver as coisas entre nós.
Aproximo-me rapidamente e a vejo.
Estanco por vê-la como realmente é. Por saber que agora Caio sabe
como a vejo.
E nunca achei que desejaria que ela estivesse vestida como sempre se
veste, que estivesse usando o disfarce que sempre usou.
Não teria aquele idiota falando ao seu ouvido, não estaria sendo
abordada por um filho de puta qualquer.
Na hora começo a enxergar vermelho, temo cometer uma loucura.
Esbarro de propósito no ombro do idiota e espero que ele tente tirar
satisfação.
— O que você pensa que está fazendo?
Ele diz. Procurando a morte. Certamente buscando uns murros.
— Ela está acompanhada! É melhor você dar o fora daqui!
Ele olha para Cecília, esperando a confirmação do que escuta.
— Sou livre e desimpedida e você pode sim me fazer companhia. A não
ser que você não queira!
Diz coquete, insinuando-se para o imbecil.
Ele abre um sorriso que mostra a porra dos dentes, e eu busco tudo de
mim para não quebrá-los.
— Vaza, não estou para brincadeira!
Digo feroz, raivoso.
— Eu não vou a lugar nenhum!
Diz com peito estufado e só posso pensar que ele pediu o que está por
vir.
Pego-o pelo braço e o afasto dela. Coloco minhas mãos em seu peito e
o empurro para longe.
Ele é pego de surpresa e arremessado a uma boa distância.
Percebo a ira e vejo que ele não deixará barato. O infeliz avança sobre
mim e também me empurra. Meus amigos, percebendo o início de confusão,
aproximam-se, mesmo que eu seja mais do que capaz de dar uma coça nele.
Escuto um grito e sei que vem de Cecília, certamente surpresa com tudo o
que está acontecendo.
Ele parece intimidado com a quantidade de pessoas que estão prontas
para a briga, mesmo que ele não saiba que somente eu tocaria nele. Que ele
me pagaria pela audácia de dar em cima de Cecília.
O imbecil bufa e desiste, percebendo que terá muito a perder se insistir.
Ele caminha para longe, o corpo tenso, certamente irritado e frustrado.
— Cara, o que foi isso?
Caio pergunta, curioso. Vejo que os demais não estão diferentes.
— Quero um momento com Cecília. Depois conversamos.
Ele tenta argumentar, mas meu olhar mostra que ele não tirará nada de
mim, não neste momento.
E eles se afastam, e Isadora também. Nem percebi que também tinha
vindo ver a confusão. Felizmente Caio a levou consigo.
Olho então para Cecília e a vejo espumando. Com ódio.
— O que você pensa que está fazendo? Com que direito você empurra e
afasta Tiago de perto de mim?
Ela o chama pelo nome, e isso apenas me deixa mais insano.
— Então você conhece o idiota? Você...
— Claro que eu conheço o cara que tinha escolhido para dar uns beijos.
Você acha que ia sair beijando sem sequer perguntar o nome?
Fecho os olhos e tento colocar as coisas novamente em perspectiva.
O acontecido de hoje à tarde, o álcool que ingeri, vê-la tão bela e ainda
por cima cercada por um marmanjo, foderam meu juízo. Meu controle.
— Cecília, precisamos conversar...
Não retruco, não questiono suas ações ou palavras. Apenas peço um
instante. Apenas quero resolver as coisas.
Não lembro de já ter sido tão cordato. Não nesta vida.
— Não temos nada para conversar, senhor, não...
— Que porra é essa de senhor? Desde quando me trata assim?
Digo sem controle algum. Perdendo totalmente as estribeiras.
Ela parece não se incomodar com meu descontrole. Não parece se
afetar.
— Desde que decidi que quero distância de você. Desde que decidi que
entre nós somente existirá a relação de chefe e funcionária e nada além
disso.
Fala firme, decidida.
E eu rezo por providência divina.
Para que eu não surte. Para que eu não enlouqueça de vez.
CAPÍTULO 24

Ainda não estava pronta para este confronto, na verdade nem sei se
algum dia estaria.
Somente queria atingir o cretino do Caio e ter uma noite normal, como
qualquer pessoa da minha idade.
Sem ficar presa em um escritório com seu chefe, sendo seu segredinho
sujo, antes dele realmente ter em sua cama e em sua casa alguém que para
ele realmente valha a pena.
E quando eu achava que estava tendo um pouco de normalidade,
tentando obter as rédeas da minha vida novamente, eis que o desgraçado
surge do além. Como se tivesse direito, como se estivesse na porra do
direito!
É bom para o meu ego vê-lo agitado, enfurecido, imaginando que
ficaria com outro, mesmo que somente eu soubesse que não existia vontade,
tesão e que eu terminaria minha noite sozinha, amaldiçoando este infeliz por
ter me estragado para outros, pelo menos por enquanto.
— Cecília, você sabe que precisamos conversar. Mesmo que estejamos
irritados um com o outro...
— Como é que é? Eu estou irritada com você, estou fodida de ódio de
você! No entanto você não tem motivo nenhum para...
— Como não, porra! Você estava aí de paquera com um imbecil
qualquer e tenho certeza de que se não tivesse impedido, a essa hora ele já
tava com a língua enfiada na sua boca.
Eu mereço!
— E não haveria mal nenhum nisso. Até quando ainda tínhamos os
momentos no escritório, sempre ficou bem claro que cada um poderia viver
a vida como bem lhe agradasse, inclusive você, pelo que escutei, já estava
aproveitando essa parte do acordo, imagina agora que nada mais existirá
entre nós.
Ele bufa, grunhe. Respira fundo e diz:
— Cecília...
— Acabou. Depois do que ouvi essa tarde, não há nenhuma
possibilidade de voltarmos ao que tínhamos.
— E por que não, por causa da história da argentina?
Diz com resquício de deboche, como se não tivesse importância
nenhuma.
Claro que não direi que é esse o motivo, até porque foi eu quem o
lembrou do nosso combinado. Pois realmente isso não seria problema, se eu
não estivesse apaixonada, se saber da existência dessa mulher não tivesse me
destruído, me machucado como não lembro de já ter sido machucada.
Então não vou por esse caminho, pois não quero me entregar. Não
quero que ele perceba o ciúme e muito menos a dor que esta descoberta me
causou. Vou por outra frente, sobre o que ouvi a respeito da aparência com
que me apresentava, a descoberta que fiz sobre a sua real personalidade.
A que ri, a que zomba, a que deprecia quem não se assemelha ao padrão
que tão desesperadamente busca em si, ou nas parceiras com quem sai e até
mesmo em mim, quando insistiu para que eu não usasse os trajes que tanto
lhe incomodava.
— Claro que não é por isso, não devíamos nada um ao outro. É pela
pessoa que descobri que você é, pela pessoa que descobri que não quero ter
contato algum.
Digo de forma decidida e mentirosa, deixando meu peito apertado e
dolorido.
Vejo que ele não gosta do que escuta, parece até mesmo desnorteado
com as palavras.
— Cecília, acho que por tudo que vivemos merecemos uma conversa
franca. Pela amizade que sempre nutrimos um pelo outro, merecemos um
momento sem toda essa multidão e barulho ao nosso redor.
Tenho vontade de retrucar que ele não merece nada de mim, não depois
de me fazer tanto mal.
Mas sei que se não acontecer agora, mais cedo ou mais tarde
acontecerá, pois sei que ele não desistirá. Alex Valentin não é conhecido por
ser um desistente.
Melhor seria se fosse mais tarde, mas infelizmente essa não é uma
opção. O futuro do meu emprego depende desta conversa e dela também
dependerá minha sanidade.
— Está certo, teremos sim esta conversa.
Ele parece suspirar aliviado. Logo o modo CEO é ativado. Logo escuto
sua voz num tom decidido, não esperando questionamentos.
— Iremos até minha casa, lá teremos privacidade para tal.
O que uma penteada na aparência não faz! Ficamos por um tempo e
sequer saímos de sua sala, agora que pareço digna de estar ao seu lado, vem
o convite. Para azar dele, depois que soube da argentina, sua casa é o último
lugar que desejaria ir.
— Não. Você pode ir me deixar em casa e lá resolveremos de uma vez
por todas tudo isso.
Renego a sua opção, pois certamente sei que em seus domínios seria
quase impossível não ceder ao desejo insano que sinto.
Aproveito também e dou a ideia de fim. De encerramento. E sei que,
esperto como é, percebeu minhas intenções.
— Você quer ir se despedir de sua amiga ou podemos ir?
Diz, sendo prático. Aparentemente querendo logo ficar sozinho comigo.
— Não, no caminho mandarei mensagem.
Ele acena com a cabeça. Não há mais nada a ser dito. Não aqui. Não
com essa multidão a nos rodear.
E então tomo a dianteira. Mostrando decisão. Querendo logo dar um
fim a tudo o que vivemos.
E caminho na frente, renegando o contato que buscou quando colocou a
mão nas minhas costas.
Querendo marcar território, querendo uma intimidade que jamais
existirá.
E eu buscando distância, buscando uma forma de não ceder aos meus
desejos e sentimentos.
E minha vontade prevalece e assim será de agora em diante.
E logo chegamos do lado de fora. Alex de pronto chama o motorista.
— Não quis dirigir, tinha bebido um pouco.
Ele justifica o motivo de precisar de um motorista. Eu não fico
satisfeita com esta informação.
Sei que isso dificultará um pouco minhas intenções, pois não poderei
conversar com ele no carro, como tinha imaginado quando aceitei o seu
pedido.
Mas para uma mulher forte e decidida, isso é apenas um obstáculo,
nada que altere a minha decisão. Subirei com ele e as coisas serão como
precisam ser.
Porque sei o que necessito. Sei o quanto o afastamento é imperativo.
Para a minha sanidade. Para o bem das minhas emoções.
Pois infelizmente Alex Valentin jamais foi uma opção.
Não para o meu coração. Não para ser o amor da minha vida.
Ele foi por algum tempo um corpo que me dava prazer. No escritório.
Na surdina.
Mas quero mais para a minha vida. Muito mais.
Precisei ouvir aquela conversa para perceber que não posso continuar.
Que apenas dor me aguardará.
E por isso esse encerramento se dará agora, se dará ainda esta noite.
CAPÍTULO 25

Silêncio. Total.
Desde que saímos da boate. No carro e enquanto caminhamos no
corredor que leva até o seu apartamento.
Somente ouvi a sua voz quando informou o seu endereço, depois fez
questão do mutismo absoluto. Mesmo não sendo um silêncio agradável, não
fiz nada a respeito, pois precisava colocar minha cabeça para pensar. Numa
forma de reverter a situação, numa forma de voltar ao que tínhamos antes de
eu agir como um idiota, antes de eu me meter nessa enrascada.
Sei que preciso resolver tudo isso, pois não estou pronto para deixá-la.
Não ainda.
E se for sincero comigo mesmo, nem tão cedo. Decerto estou viciado
nela.
Nem sei quando comi outra boceta. Cecília sempre me deixou
plenamente saciado e é por isso minha agitação, pois sei que ainda a quero
por muito e muito tempo.
Sou tirado de meus pensamentos pelo som da porta sendo aberta, pela
necessidade de focar neste momento.
Ainda sem falar ela faz um gesto, convidando-me para entrar.
Olho ao redor e percebo a organização e o bom gosto do ambiente.
Ela fecha a porta e sequer permite que eu termine minha inspeção, pois
logo diz:
— E então, o que você queria tanto me dizer que não poderia ficar para
segunda-feira?
O tom longe de ser cordial, longe da Cecília que conheço.
— Queria lhe pedir desculpas pelas coisas que ouviu.
Já é um começo. Na verdade é o ponto principal para o próximo passo.
— E com isso você pretende que continuemos com os encontros? Com
as fodas no escritório?
O que posso dizer, se isso é o que mais anseio.
Faço que sim com a cabeça. E antes que eu possa falar o que quer que
seja, ela diz:
— Já estava mais do que na hora de tudo isso terminar. Foi muito bom
enquanto durou...
— Claro que não vamos terminar, a gente se dá bem demais, o tesão tá
longe de acabar e...
— Não haverá mais nada entre a gente. Acabou. Todos já comentavam
sobre o monte de horas extras que fazíamos, imagine agora quando eu
aparecer diferente...
— Você não vai mais vestir aquelas roupas?
De repente um medo, de que alguém mais perceba o quanto é linda e
gostosa e que tente alguma coisa com ela.
— Não, a partir de agora serei como sou.
— E por que você não continua a se vestir como antes?
Digo rapidamente, pois penso que assim não teria olho grande pra cima
dela e continuaria zero desconfiança sobre o tempo que passaríamos juntos
depois do expediente.
Ela me olha surpresa e diz:
— Não era o senhor mesmo que queria que eu deixasse de lado aquela
aparência, que...
— Não me chame de senhor, entre nós não existe este tipo de
formalidade!
Digo exaltado. Odeio que ela me trate assim, que queira colocar entre
nós qualquer tipo de distância.
— Não existia, antes. A partir de agora haverá. Seremos apenas chefe e
funcionária e...
Não aguento. Não suporto. Não resisto.
Avanço sobre ela e faço o que meu corpo implora. Desde cedo, sempre.
Beijo-a com querer. Com desejo. Com sofreguidão.
Percebo sua surpresa e aproveito. Colo nossos corpos, enfio minha
língua sedenta em sua boca.
Buscando seu sabor. O encaixe.
E ele acontece. Desesperado. Sôfrego.
O corpo de Cecília não nega que me quer. Eu morro por tê-la.
E meu corpo mostra isso. Meu pau, ansioso por contato, demonstra
isso.
Duro. Sedento. Saudoso.
Dela. De sua boceta apertada e gostosa como nenhuma outra.
Levo-nos à parede mais próxima. Comprimo nossos corpos e sinto-me
no paraíso.
O membro baba, o beijo se torna ensandecido.
Busco o contato, mas todas as peças de roupas entre nós, frustra-me.
Mesmo que minhas mãos acariciem seus seios e que sinta seus mamilos
intumescidos. Mesmo que a fricção de nossas pelves esteja por demais
gostosa, mas é insuficiente.
Para todo o desejo que sinto. Todo o tesão que Cecília sempre me
desperta.
Por toda a saudade que me sufoca, apesar de ainda ontem ter estado
dentro dela. Mas não foi suficiente, nunca é.
A vontade que tenho de Cecília é um fogo que queima. Vigoroso.
Abrasivo.
Que tira minha sanidade. Minha razão.
Que descartou qualquer ideia que tinha de jamais me envolver
novamente com funcionárias, que me faz querer que as coisas entre nós dure
por muito tempo, por tempo indeterminado.
E seus gemidos me colocam louco, seu beijo me coloca pronto.
Para penetrá-la, para finalmente saciar um pouco de toda a luxúria que
me consome. Sempre.
— Cecília, preciso de você!
A voz rouca. Quase irreconhecível.
Que fala de como me sinto. De como ela mexe comigo.
Mas de repente parece que somente eu estou mexido. Parece que
somente eu quero saciar este desejo. Pois sou empurrado. Afastado como se
tivesse uma doença contagiosa.
Sinto-me desnorteado. Incapaz de me permitir tal afastamento.
E tento uma aproximação. Tento envolvê-la novamente em meus
braços.
Mas Cecília levanta a mão. Mostrando que não quer. Dizendo sem
palavras que não vai rolar.
E passo a mão seguidamente nos cabelos. A frustração do momento
quase levando-me à loucura.
E busco palavras para impedir esta distância. Para tentar continuar de
onde paramos.
E antes que eu sequer abra a boca, eis que Cecília diz:
— Acho melhor você ir embora.
A voz enrouquecida, mostrando que o momento também foi demais
para ela, mas infelizmente falando que talvez não terminemos o que
começamos.
— Cecília, você sabe que também quer, você sabe...
— Claro que quero, que desejo muito você. Mas não vai rolar. Nunca
mais. Acabou.
Sinto o baque. Sinto de repente que não conseguirei reverter essa
situação.
— Mas, Cecília, tínhamos um lance legal...
— Acabou e queria que você respeitasse a minha decisão.
Algo em seu olhar fez com que eu desse um passo para trás. Não sei se
foi a decisão ou se foi a raiva que percebi. O que sei é que mesmo que tudo
de mim gritasse por contato, afastei-me. Senti-me preterido. Senti que
realmente ela já tinha tomado uma decisão.
E algo em meu peito apertou. Saber que nada mais haveria entre nós,
mexeu comigo como jamais esperei.
E se não bastasse o olhar, houve um gesto. Decisivo. Incontestável.
Dela ao abrir a porta. Mostrando para mim que minha presença não era
querida.
E, mesmo contra todas as probabilidades, dói. Muito. Sufoca.
E há uma vontade de gritar. Esbravejar.
De pedir. Quem sabe implorar.
Para que ela não leve esse fim adiante. Pois quero muito dela ainda.
Como não lembro de ter querido de qualquer outra.
E essa constatação me deixa imóvel, sem ação.
Inconscientemente não querendo me afastar. Não querendo aceitar o
fim.
Ou não podendo.
Mas ela quer. Está mais do que decidida.
— Por favor!
E mostra a saída. Implora para que eu me vá.
E apesar do meu desejo fremente, eu obedeço.
E preciso ser muito forte para dar os passos.
Pesados. Incertos.
A dor aumentando à medida que me aproximo da saída. O corpo
implorando por uma última tentativa quando me aproximo dela.
E dou tudo de mim para não ceder, para fazer o que ela pede.
Para desistir do que havia entre nós. Para concordar em me afastar.
E mal ultrapasso a porta, ela a fecha. Isolando-nos. Confirmando sua
decisão.
E sinto-me perdido. Desnorteado.
Não sabendo como proceder ou como fazer para parar de doer.
CAPÍTULO 26

Final de semana difícil. Muito.


Um misto de vontade de voltar atrás, um misto de determinação em
levar adiante a minha decisão. O coração burro querendo algo impossível, a
consciência de sobrevivência tentando a todo instante me fazer forte para
não ceder, para manter este afastamento.
Apesar deste instinto de sobrevivência não me impedir de masturbar-
me, não conseguir me impedir de me tocar pensando nele, de gemer
chamando por Alex.
Pelo menos essa dependência e essa vergonha será algo que somente eu
terei conhecimento, essa minha fraqueza jamais será descoberta.
E em meio a essas sensações, pensamentos e questionamentos os dias
passaram e a segunda-feira chegou.
Para o enfrentamento, para colocar em prática a decisão tomada.
E para mostrar-me como realmente sou.
Despida do disfarce e trazendo no peito um sentimento que está difícil
de arrancar. Praticamente impossível de tirar de dentro de mim.
Olhares assustados, desconfiados. Tendo dificuldade em reconhecer,
parecendo assombrados quando o reconhecimento acontece.
Mas sigo plena, sempre fui muito segura com minha aparência, sempre
fui muito decidida no que faço.
Quem dera eu também fosse assim com o que trago no peito! Talvez a
novidade em sentir seja a grande questão, talvez a impossibilidade de
controlar o que sinto seja a dificuldade maior.
Afasto de mim esses questionamentos, enquanto me aprumo para sair
do elevador. Preparando-me para o encontro que não tardará a acontecer.
E quando as portas se abrem percebo que ele acontecerá antes do que
imaginava. Que ele acontecerá agora.
Sou pega de surpresa ao encontrar Alex próximo à minha mesa. Parado,
pensativo, parecendo até mesmo perdido.
Tenho finalmente sobre mim o seu olhar, e observo sua expressão ir da
surpresa à admiração. Observo a forma como engole em seco. A forma
minuciosa e até mesmo cobiçosa com que me observa.
— Bom dia, senhor!
Sou a primeira a falar e vejo a forma como fecha os olhos ao ouvir a
formalidade com que é tratado.
— Bom dia, Cecília.
E ando até a minha mesa e ele parece até mesmo hipnotizado. Pelo
gingado dos meus quadris, pelas porções de pele desnudas que minha saia
apertada deixa à mostra, ou até mesmo pela transparência da blusa que deixa
a renda do sutiã mais do que evidente. Percebo que ele não consegue desviar
o olhar e sinto-me vingada por todas as palavras que escutei dele e de seu
amigo na tarde fatídica de sexta-feira.
Embora satisfeita em saber como Alex está afetado, não posso deixar
que tudo isso direcione meus atos, não posso deixar de ser profissional.
— O senhor quer que passe sua agenda agora?
É a rotina, mesmo que o fato dele ter chegado antes de mim na empresa
tenha mudado um pouco da dinâmica que nos acompanha há tantos meses.
Alex apenas confirma com a cabeça, como se falar ainda não lhe fosse
possível. Aponta a porta de sua sala. Indicando silenciosamente que devo
tomar a dianteira.
E vou. Confiante. Proporcionando-lhe a visão da minha bunda, que sei
que fica gostosa dentro da bendita saia. E aproveito para deixar meu andar
mais insinuante, tentar fazê-lo ver o que perdeu.
Sento na cadeira de sempre. E ele na sua.
E começo. Tentando manter a voz metódica, tentando dar um pouco de
normalidade a tudo isso.
— Cecília, queria pedir um minuto antes que continuasse.
Diz, tão logo faço uma pausa para pontuar algo sobre a rotina que tinha
lhe passado até ali.
— Pois não, senhor.
A carranca. A formalidade entre nós parece ser algo que Alex está
detestando.
— Em primeiro lugar queria que você me chamasse pelo nome.
Segundo queria que realmente você tentasse esquecer e também me perdoar
por tudo que ouviu da conversa entre Caio e eu.
Ele faz uma pausa enquanto minha mente alfineta: só nos seus sonhos.
— E o principal, vamos esquecer essa idiotice de ficarmos afastados.
Você sabe que sou louco por você e...
Não deixarei que prossiga, meu coração idiota não precisa de mais
ilusões e mentiras para criar falsas esperanças.
— Senhor Valentin, espero que essa seja a última vez que toquemos
neste assunto. Espero que minhas palavras e minha vontade sejam
integralmente respeitadas.
Falo firme e vejo que ele me olha espantado e até mesmo incrédulo
devido o tom decidido que uso.
— Seremos chefe e secretária e somente isso. Você será para mim o
senhor Valentin e nada além disso. Quanto a esquecer o que ouvi, isso não
acontecerá, pois aquela conversa é um lembrete constante do quanto eu me
enganei com o senhor e que o que tínhamos é algo que definitivamente
ficará no passado, pois jamais permitirei que me toque novamente. Jamais!
Faço uma pausa, e ele aproveita para tentar argumentar:
— Cecília, não fala assim. Não podemos acabar com o que temos, pois
você sabe que é gostoso demais e sabe também que ainda nos desejamos,
então por favor reconsidere...
— Fale somente por você. Não fale por mim. Não decida por mim e
jamais coloque palavras na minha boca.
Neste momento perco a paciência e parte do controle de me manter
afastada.
Por vê-lo insistir, por ouvi-lo praticamente implorar.
Então fico de pé, pronta até mesmo a mandar a porra deste emprego
para o espaço, pois talvez me manter plena e altiva perto dele seja muito
mais difícil do que imaginei.
— Fique com a tal argentina, com suas modelos, ou com qualquer outra
que desejar, mas nunca mais fale sobre esse assunto ou tente algo novamente
comigo. Eu o proíbo de ultrapassar qualquer limite, de tentar o que quer que
seja. Eu não quero mais.
Falo arfante. Enraivecida. Por ouvir que me deseja, enquanto mantém
um caso com outra. Por saber que sou louca por ele e entender que, por mais
que ele insista, para Alex é somente desejo e que sequer consegue saciá-lo
plenamente comigo, pois manteve um caso com outra, enquanto morria e
morro por ele.
— Aquilo que ouviu não era...
— Importante? Não quero saber. Somente quero que respeite a minha
decisão.
— Cecília...
— Parece que o que eu mais temia aconteceu. Parece que o nosso
envolvimento me levará inevitavelmente à demissão.
O meu choque ao dizer a palavra. O dele ao escutá-la.
— Demissão? Você está disposta a pedir demissão?
O temor por trás de suas palavras. A clara rejeição em perder tão
dedicada funcionária.
— Infelizmente é a única solução que vejo, quando tão claramente o
senhor não consegue aceitar a minha decisão de ficarmos afastados. Minha
decisão de terminar as coisas entre nós.
A voz não tem mais tanta firmeza, pois não posso me dispor deste
emprego e principalmente não posso me afastar definitivamente dele. Pois
sei que como uma drogada, necessito do mínimo de contato. Mesmo que
saiba o quanto maléfico é, sei que a distância definitiva de Alex será algo
impossível para mim.
Ele passa a mão incontáveis vezes na cabeça, já também de pé.
Parecendo inconformado. Desnorteado. Parecendo não saber o que
fazer.
Enquanto espero minha sentença. Enquanto espero ele dizer como será.
Pois certamente não será algo fácil, o que quer que seja que escute.
— Cecília, você certamente é a melhor secretária que já tive e a
empresa não pode perdê-la.
Suas palavras parecem ter um gosto amargo para ele e mesmo sendo
elogiosas para mim, não parecem ter efeito diferente.
— Peço que reconsidere, que permaneça conosco.
Olho-o para confirmar que é somente isso. Que está agindo novamente
como o poderoso CEO.
Tento, com este olhar perceber se está disposto a renegar o desejo e o
tesão. A acatar o que decidi.
— Senhor Valentin, como bem sabe, preciso e gosto muito deste
emprego, mas antes que pense em reconsiderar, necessito deixar algumas
coisas bem claras.
Ele acena com a cabeça, estimulando-me a continuar.
— A barreira chefe e secretária jamais será ultrapassada, nunca poderei
fazer hora extra e nem fazer qualquer tipo de viagem em sua companhia.
Ele parece esbaforido. Afrontado.
— Mas está em seu contrato! Você sabe que existirão situações em que
precisarei...
— Claro que sei, senhor, e por este motivo acredito que o melhor é que
comece a procurar outra secretária...
— Não! Você é imprescindível para a empresa!
Diz o CEO. Refere-se somente à minha condição de funcionária.
— Certamente estamos num impasse, pois não poderei cumprir
integralmente o que está estipulado no contrato.
Ele respira fundo.
Parece ter que tomar uma decisão difícil. Parece não estar sabendo lidar
com toda a situação.
E quando já estava pronta para ajeitar as minhas coisas e partir, quando
já me preocupava em conseguir um novo emprego, eis que Alex Valentin me
surpreende com suas palavras, com sua decisão.
— Você venceu, Cecília, as coisas serão do seu jeito!
Diz, certamente chateado. Visivelmente contrariado.
E minha vitória tem gosto de derrota. Minha permanência na empresa
mais parece um castigo, uma punição.
Por ter me apaixonado por quem não merece.
Por ter que conviver com ele sabendo que não mais haverá toques,
contatos, transas.
Que serei somente alguém que gosta sozinha, fadada a dor de ter
entregado seu coração a alguém que certamente não o merece.
CAPÍTULO 27

Meu dia está insuportável. Porra!


Como se não bastasse ter concordado com todas as insanidades de
Cecília, ainda tive que ouvir, de todo infeliz que entrou na droga desta sala,
elogios cobiçosos à minha secretária. Até mesmo os casados deixaram claro
que tentariam algo, se tivessem uma chance.
E ouvir tudo isso quase me fez voltar atrás em minha decisão de mantê-
la na empresa. Quase.
E o teria feito se fosse capaz. De ficar sem vê-la. Cobiçá-la. Tê-la por
perto.
Estou fodido por desejar alguém que já não mais me quer. Por sentir em
meu peito este aperto absurdo, que só pode ser saudade, vontade.
E pensar que tudo estava indo tão bem, o sexo era tão gostoso que
sequer tive necessidade de outras. Cecília era mais do que satisfatória, e eu
estava bem com isso. Estranhava esse meu novo comportamento, mas nada
que me fizesse dispor um segundo pensamento sobre o assunto.
Mas tive que abrir a boca, falar merda e até mentir. E ser pego em
flagrante. E ser, mais do que justificavelmente, afastado, execrado e banido
para sempre da vida dela.
Somente resta a mim aceitar e tentar seguir em frente. Tentar arrancar
de mim esse desejo que por pouco não me sufoca. Esse tesão que por pouco
não me leva ao desespero.
E vê-la linda não ajuda. Vê-la sem disfarce talvez seja a pior parte desta
minha nova realidade.
Que é não tê-la. Não tocá-la.
Sabê-la linda e ter ciência de que todo homem com sangue nas veias
também concorda comigo, arrasa-me. Ouvir os elogios e saber que tentarão
algo, roubará o meu juízo.
Pois sei que acompanharei tudo isso, porque estarei por perto.
Na vigília. Na contemplação.
Mesmo sendo preterido. Repelido.
Restando a mim somente ficar à espreita. Cobiçando sem qualquer
perspectiva. Desejando sem qualquer possibilidade de tê-la novamente.
E tudo isso por culpa exclusivamente minha. Colherei somente o que
plantei.
E isso dói, como jamais acreditei que doesse tanto.
Espero que o tempo traga algum alívio e que meu pau comece a desejar
outras bocetas.
Pois essa me é impossível. Essa jamais será minha novamente.

— Cara, você está insuportável e já tem uns dias. Quando fazia hora
extra esse mau humor poderia até ser justificável, mas agora que parou de se
matar no trabalho, não há justificativa nenhuma para esse seu temperamento
de cão.
Ah, se Caio soubesse o quanto meu expediente estendido me fazia bem,
e que a impossibilidade de ter tudo aquilo novamente é o que realmente está
tirando o meu juízo e o meu humor. E ademais eu sei contar. Tem
precisamente 15 dias que me encontro desta forma. Insuportável. Pois este é
o tempo que estou afastado de Cecília. E que surpreendentemente estou sem
sexo.
Nenhum contato feminino, nenhuma outra. Apenas minha mão que
trabalha quase que diariamente, numa masturbação desesperada em busca do
prazer, das sensações que tinha ao lado dela. Regada a lembranças que me
fazem gozar forte, mas que nem de longe conseguem diminuir a vontade e a
saudade que sinto de Cecília.
Estou numa fossa terrível. De vê-la a cada dia mais bela, mais
inteligente e ainda mais distante. Insistindo em usar a porra do senhor para
se dirigir a mim e rodeada de marmanjos e engraçadinhos que insistem em
querer dela o que já tive. E isso somente piora o meu humor, fode com
qualquer resquício dele que porventura eu ainda pudesse ter.
— Toda essa sua cara de bunda só pode ser por causa da tal argentina.
Acabou o rolo? Ela te deu um pé na bunda? Voltou para o seu país?
Poderia continuar mentindo, aproveitando o álibi sem precisar me
entregar, sem precisar admitir que estou viciado na porra de uma boceta.
Mas de repente decido que talvez seja válido eu me abrir, que Caio é
meu amigo e que talvez seja bom desabafar. Contar sobre o lance que tive
com Cecília e como aquela nossa conversa idiota fodeu literalmente com
tudo o que estava acontecendo de gostoso entre nós.
— Cara, não tem porra de argentina nenhuma. Nunca teve.
Ele me olha surpreso, tentando entender o que digo, entender por que
menti.
— Era Cecília. A mulher que estava me tirando de circulação, era
Cecília.
Caio me encara como se eu tivesse sete cabeças. Como se o que eu
dissesse não fizesse sentido algum.
— Mas como? Porra, a garota espantava qualquer um! Mesmo que seja
linda, não tinha como você saber, não tinha como sequer desconfiar com
aquele monte de pano ao redor dela, aquele penteado horroroso e aqueles
óculos que seriam capazes de afastar até o mais disponível pau, imagine o
seu que sempre foi seletivo, seletivo até demais!
Fala com um misto de ironia e espanto.
Mas isso não impede as minhas próximas palavras, não muda a minha
vontade de desabafar.
— Pois é, Caio, apesar de tudo isso, aconteceu. Várias vezes. E com o
contato veio a descoberta de como ela realmente era. Também fui pego de
surpresa.
— Então naquele dia da conversa, que coincidiu com a aparição dela na
boate, decidida a parar de se esconder, você já sabia como ela realmente era?
— Sim, sabia.
— E você ficou com aquele papinho idiota e ainda inventou que estava
tendo um caso com outra?
Eu apenas acenei com a cabeça, envergonhado pelo que tinha dito.
— E levou um pé na bunda. Justo, justíssimo.
Mesmo sabendo que ele não foi santo e que o desenrolar daquela
conversa idiota me trouxe até aqui, sei que o verdadeiro culpado fui eu. Que
disse coisas sobre Cecília que estava longe de achar, que inventei um caso
que sequer existiu. Eu fui um verdadeiro filho da puta, e o desprezo e a
distância que ela me impôs são mais do que merecidos.
— E em que pé estão as coisas entre vocês?
— Ela, claro, não quer me ver nem pintado de ouro. É senhor Valentin
pra cá e pra lá. Ameaçou até pedir demissão se eu não me mantivesse
afastado.
Ando de um lado para o outro, inconformado com toda essa situação.
— E sabe o que é pior? Ver um monte de urubu em cima dela.
Diretores, fornecedores e todo e qualquer idiota que tem um pau entre as
pernas. Elogiando, paquerando, insinuando-se e eu tendo que ver e aguentar
tudo isso de longe e calado.
Ele parece surpreso com meu destempero, com minhas palavras. Parece
não acreditar que eu esteja tão mexido por uma mulher. Na verdade até
mesmo custo a acreditar em tamanha possessão. Obsessão.
— Alex, você está fodido e muito mal pago!
Constata. E na sua face tem um ar de riso, como se ele soubesse alguma
coisa que eu desconhecesse. Como se ele tivesse descoberto um grande
segredo.
— Mas como um bom amigo que sou e também por me sentir um tanto
responsável por esse fora que recebeu, vou te ajudar.
Diz cheio de humor. E não me incomodo. Somente quero saber dessa
ajuda.
E antes que eu pergunte, ele explica o sentido de suas palavras.
— Vim aqui justamente convidar você para sair hoje. Curtir a noite.
Fora os caras, também irão Isadora e Cecília. Claro que não sabia de nada,
apenas ia incluir você na parada de mais tarde. Sabia que você tinha tomado
toco, só que imaginei que a nacionalidade da mulher fosse outra.
Não ligo para as suas gracinhas, apenas concebo o significado do que
acabei de escutar.
E de repente uma euforia me invade, por ter a oportunidade de estar
perto dela, em um local neutro, longe de tudo isso.
E percebo o quanto desejo este momento quando o meu coração bate
descontrolado no peito e uma ansiedade absurda me toma. E também um
medo. Dela não ir. De descobrir minhas intenções e nem aparecer.
— Cecília ou Isadora sabem que você pretendia me convidar?
— Não comentei, porque como você estava neste humor de cão,
dificilmente contava com sua presença mais tarde.
Graças a Deus. Assim Cecília não tinha motivos para não ir.
— Por favor, Caio, não comente com Isadora que irei. É bem capaz de
Cecília não ir caso desconfie que estarei na tal boate.
Minha voz traz um desespero e mais uma vez a face do meu amigo
assume uma expressão que não consigo ler.
— Pode deixar, Alex, esse será o nosso segredinho.
Ri. O idiota ri.
Da sua piadinha.
Do meu estado. Da minha agonia.
E mesmo com uma vontade enorme de dar um murro nas suas fuças,
apenas consigo sorrir.
Por ter uma oportunidade, uma possibilidade.
Por poder pedir e até implorar para que ela volte para a minha cama.
Para os meus braços.
Para que ela volte a ser minha.
CAPÍTULO 28

Sei que preciso sair, me distrair. Tentar tirar Alex dos meus
pensamentos, e mesmo que isso não seja possível, pelo menos tirá-lo das
minhas vistas.
Um lugar onde ele não esteja, onde não veja seus olhos sobre mim.
Onde não perceba sua vigília constante, seu desejo tão aparente.
Tão semelhante ao meu, só que não vem acompanhado do sentimento
que carrego.
O meu desejo aparentemente podendo ser satisfeito exclusivamente por
ele. O de Alex sendo satisfeito por todas e por qualquer uma.
Dou um suspiro cansado por saber-me rendida desta forma. Por saber-
me apaixonada por alguém que tão claramente não me merece. Devido seu
caráter e também devido seu comportamento.
E este sentimento que carrego me maltrata, me adoece.
Emocionalmente e fisicamente.
Como se não bastasse a dor, a agonia, o coração partido, há também a
falta de apetite, o desânimo e uma vontade de dormir e esquecer tudo isso.
Sinto-me enjoada, cansada, mas cada vez mais apaixonada.
E isso é um carma, uma provação.
E por estar assim tão entregue a este sentimento é que me forço a sair, a
tentar conhecer alguém. Mesmo que saiba que não haverá sexo e muito
menos sentimento.
Mas quero me sentir desejada, única. Ao menos por esta noite.
Para me tirar dessa fossa, para tentar aliviar, mesmo que
momentaneamente, o que sinto em meu corpo e também na minha alma.
E é com estas intenções que me obrigo a me arrumar. Que me obrigo a
me produzir.
Para ficar linda, sensual.
Para chamar a atenção. Para causar.
Mesmo que isso não me dê alento algum e que não diminua, nem
minimamente, tudo o que sinto por Alex Valentin.

Claro que não estou gostando. Sinto-me incomodada com tudo e os


sintomas físicos desta minha paixão, apenas estão mais amostrados e sequer
tive coragem de pedir para colocarem álcool no meu drink. Tive medo da
bebida me pegar, pois não comi quase nada o dia inteiro. Por isso beberico
num copo, com o conteúdo bem estiloso, mas que não me fará ficar de
pilequinho.
Movimento meu corpo no ritmo da música, pois, mesmo sem vontade
alguma, decidi dançar para poder me afastar um pouco dos amigos de Caio.
Sim, estou com eles, porque minha amiga está neste lance com o vice-
presidente, então é o que temos para hoje. Apesar de ainda não ter engolido
o que ouvi da boca do infeliz, apesar de achá-lo tão idiota quanto o seu
amigo.
E são todos iguais, uns libertinos. Pois percebi um ou outro olhar
interessado, percebi que não demorariam a me abordar.
Por isso decidi dançar e estou aqui tentando demonstrar uma vontade e
uma leveza que na verdade não sinto.
E já faz um tempo que me afastei do grupo e que sequer olhei naquela
direção. Não quero dar cabimento, sequer quero que eles lembrem de minha
presença. Somente deixo minha mente viajar nas lembranças, pois já
descobri que não tenho controle algum sobre elas, não no que se refere a
Alex Valentin.
De repente sinto uma energia diferente, uma vibração. Por pouco não
perco o compasso. Estranho isso e olho em volta, tentando identificar o que
me causou essas sensações.
Não demora muito e identifico quem me causou tudo isso.
Olhando fixamente em minha direção está a última pessoa que eu
desejaria ver, está a única pessoa capaz de mudar a atmosfera e a perspectiva
do lugar.
Alex Valentin.
Lindo. Estiloso. Gostoso.
De encher os olhos. De aquecer o coração de uma boba apaixonada
como eu.
Seu olhar fixo é desejoso, cobiçoso. Cheio de vontade.
Na mão um copo com uma bebida qualquer. A sua atenção sendo total e
exclusivamente minha.
E antes que eu faça uma loucura e implore por seus braços, por seus
beijos, viro-me de costas, tentando fazer parecer que vê-lo não me abalou,
não me causou tremores e não me fez sedenta dele. Tentando fazer-me
lembrar de tudo que ele disse, de tudo o que ele fez.
E de repente dançar não me parece mais sem graça e muito menos o
ambiente. Quero a qualquer custo demonstrar que estou curtindo e que estou
feliz. Quero sensualizar, quero que ele sinta pelo que perdeu.
E entrego-me ao momento, ao ritmo da música.
Recebendo olhares, querendo exclusivamente o dele.
Até que sinto um corpo colado ao meu e poderia até aproveitar esta
aproximação para mostrar a Alex que tudo agora faz parte do passado, do
esquecimento. Poderia se o contato não me fosse tão conhecido, tão querido,
tão necessário.
Que me faz ter uma vontade absurda de somente ceder e me entregar.
Que me faz somente ter necessidade de deixar meu coração e meus desejos
me guiarem.
Mas infelizmente satisfazer meu ser está além das minhas
possibilidades, da minha vontade. Está além do meu querer.
E por isso me afasto, rompo o contato que somente poderia ser descrito
como sublime.
Respirando fundo, tentando buscar formas de renegar Alex e de renegar
os meus anseios mais íntimos.
E viro-me. Mesmo não estando pronta para o confronto, mas sem poder
adiar o embate.
E antes que eu fale o que quer que seja, ele diz:
— Prazer, meu nome é Alex Valentin!
E estende a mão. Como se realmente não me conhecesse.
Minha expressão mostra que não captei o significado de suas palavras.
— Por favor, Cecília. Façamos de conta que somos pessoas aleatórias
numa balada, façamos de conta que somos desconhecidos sem passado
algum.
De repente percebo suas intenções, o que na verdade Alex quer com
esta abordagem. De repente percebo que dois podem sim jogar esse jogo.
— E também sem futuro nenhum.
Digo e então aperto a sua mão com firmeza, muito embora
internamente esteja mais do que temerosa pelo passo que pretendo dar.
— Cecília Moraes.
Sucinta. Sem mais.
Aguardando o próximo passo. Esperando que as peças sejam
distribuídas no tabuleiro.
Mesmo sabendo o que ele verdadeiramente quer.
Esta noite. Sexo.
Algo que também estou mais do que desejosa. Desesperada, para ser
totalmente sincera.
E talvez esse artifício inventado por ele seja a desculpa que eu estava
esperando para ceder.
Longe do ambiente de trabalho. Distante da história que tivemos.
Como se fôssemos realmente desconhecidos que se desejam. Uma noite
e nada mais.
E mesmo sabendo que serei sempre a única a sofrer e que meu coração
será o único a ser despedaçado, mal posso esperar as cenas do próximo
capítulo.
Mal posso esperar o que está por vir.
CAPÍTULO 29

Congratulo-me pela jogada de mestre. Fico até mesmo admirado com


tamanha expertise.
E tê-la apertando minha mão, concordando com o que propus, leva-me
a um nível de euforia impossível de explicar, certamente jamais sentido. Por
ter a chance de ter um presente com ela, um hoje, mesmo que Cecília já
tenha deixado mais do que claro que não haverá futuro.
E apesar do aperto que sinto no peito quando escuto suas palavras,
decido que viverei o agora, pois é algo que quero demais, é algo que preciso
demais. Pois são muitos dias sem ela, uma abstinência que já não suporto
mais.
E então ela fica de costas, para não falar ou me encarar. Ou
simplesmente para sensualizar.
E é algo que me tira o fôlego, é algo que me faz perder totalmente as
estribeiras.
E no segundo seguinte estou colado nela, como não tinha mais estado.
Como morreria para estar novamente.
E parece que estou no céu, parece que as coisas entraram novamente no
rumo.
Deleito-me com suas formas gostosas, com seu cheiro único.
Sequer consigo controlar minhas ações. Pareço um sedento tendo um
vislumbre de um oásis.
Apertando-a em meus braços. Beijando seu pescoço. Cheirando seus
cabelos.
E ela rebola mais, no ritmo da música. Sua bunda roçando diretamente
no meu pau, que está mais do que saudoso e desejoso dela.
Por isso logo estou pronto, duro. Insano.
Por Cecília, somente por ela.
E tem sido assim desde que estivemos juntos pela primeira vez. Como
uma droga. Como um vício.
Eu rosno por estar tão mexido. Ela geme quando me sente pulsar na sua
bunda.
E mesmo temendo quebrar o encanto, temendo ser rechaçado, digo:
— Cecília, vamos sair daqui. Preciso muito ficar sozinho com você.
A voz rouca de vontade. O corpo tenso de desejo.
E espero ansioso o seu aval, a permissão para fazê-la minha novamente.
Ela para de dançar. Subitamente.
Vira-se. Lentamente.
E um medo atroz me toma. Um temor absoluto sobre o que Cecília
decidirá.
E então ela me encara. E vejo fogo. Desejo. Que arde. Que incendeia,
assim como acontece comigo.
Ela autoriza. Acena com a cabeça.
E o momento somente não é perfeito porque ela diz:
— Esta noite. Somente por esta noite estaremos juntos novamente.
O baque com o que escuto. Um aperto no peito somente por pensar
nesta possibilidade.
Ela percebe minha hesitação com suas palavras. Percebe o quão afetado
estou.
Mas isso não mexe com ela, apenas a instiga a dizer:
— É pegar ou largar!
Porra. Não é o arranjo ideal, está até bem distante de ser. Mas é o que
temos para hoje, é a única forma de me enterrar dentro dela novamente.
E não falo. Apenas seguro sua mão e nos guio. Saindo do reservado,
descendo as escadas. E rumando rapidamente para a saída da boate.
Pois tenho pressa em ficar sozinho com ela, muito embora, depois do
que ouvi, não tenho para que esta noite termine. Porque se somente posso
contar com o hoje, minha obrigação é que consiga fazer valer a pena, para
tentar assim tirar essa ideia da cabeça de Cecília.
E, enquanto reflito sobre isso, chego onde meu carro está estacionado,
abro a porta para ela e quando Cecília já está acomodada, sigo para o meu
assento, com rapidez, pois estou mais do que desesperado para ficar com ela
novamente.
— Podemos ir para a minha casa. Lá teremos privacidade...
— Você levaria alguém que acabou de conhecer numa boate para a sua
casa?
Minha expressão diz tudo que ela precisa saber.
— Faremos de acordo com a sua proposta. Inclusive quando a noite
acabar.
Sua decisão me assombra. Sua frieza em reforçar que teremos uma
única noite, me abala.
— Podemos ir para um hotel? Um lugar neutro?
Ela diz.
— Claro, Cecília.
Digo simplesmente e arranco.
Com medo dela mudar de ideia. Temendo não saciar o desejo que me
consome vivo.

Tenho vontade de avançar sobre ela. No elevador. No corredor. Estou


dando tudo de mim para esperar até estarmos dentro do quarto. É muito
tesão. Tempo demais de vontade.
E felizmente não sinto sozinho, pois mal fecho a porta, Cecília toma a
minha boca. Faminta, decidida.
E eu não me faço de rogado. Chupo a língua gostosa. Delicio-me com
seu sabor único.
Enquanto afasto suas roupas, desnudo seu corpo. Passando pelo mesmo
processo, rapidamente minhas roupas também vão sendo retiradas.
E sinto o contorno do seu corpo, sua pele na minha. E suspiro alto, o
contato é gostoso demais para me reprimir.
E logo estamos nus, e meu pau mais do que pronto. Toco sua boceta,
encharcada de tesão. Claro que queria preliminares, lamber e chupar Cecília
toda. Mas não aguento mais roçar e moer contra ela. Temo não suportar,
temo gozar nas calças como um adolescente.
Então encosto-a na parede. Ergo-a e a faço envolver suas pernas em
minha cintura.
O contato de nossos sexos arrancam gemidos, a necessidade é maior
que a razão.
— Preciso foder você, Cecília. Estou há muitos dias sem você, não
aguento mais.
Ela morde e lambe meu pescoço e estremeço.
Petulante, diz:
— E o que você está esperando?
Era o que estava faltando para eu me enterrar profundamente nela, até o
talo. Deliciando-me com seu calor, com sua umidade.
Paro, trinco os dentes e espero um segundo. Buscando controle,
tentando não passar vergonha.
Esse segundo parece dar um pouco de sanidade à Cecília, que diz:
— A proteção!
Fecho os olhos, pois sei que seria pedir demais ser capaz de desfazer o
contato. Então falo a verdade e tento convencê-la a permitir que sigamos em
frente.
— Não tive ninguém. Juro que não fiquei com ninguém depois de você.
Não existiu porra de argentina nenhuma...
Não concluo, pois sua boca não deixa, sua língua não permite.
Sôfrega, querente.
Aceitando. Permitindo.
E eu apenas mexo-me, delirando por estar novamente dentro dela, indo
e vindo na sua boceta apertada.
Ela morde minha boca e eu grunho de tesão.
Perdido. Totalmente rendido.
— Eu...também... não fiquei...com ninguém.
Diz entre um beijo e outro. Entre uma lambida e outra.
E eu perco totalmente o controle. Suas palavras tornando-me insano de
vez.
Ela diz para garantir que também está limpa. Para mim, saber que não
foi de nenhum outro, torna-me desesperado.
E eu acelero. Empurro contra ela. Os movimentos mostrando todo o
meu querer.
Rapidamente chego à borda, tempo demais desejando Cecilia. Temo me
perder antes do seu orgasmo. Temo perder-me na próxima metida.
E por isso levo a mão ao seu clitóris. Duro. Melado.
— Ahhhh....
Ela geme e eu enlouqueço.
— Caralho de boceta apertada... gostosa da porra!
E tudo é demais para nós.
Sinto meu membro ser apertado, esmagado. E eu também me perco.
Gozando juntos, perdidos nas sensações.
E é avassalador. Para nós dois.
Os gemidos dizem isso. O desespero dos nossos corpos mostra isso.
Apertos. Mordidas. Arranhões.
Suspiros, gemidos. Gritos sem controle algum.
Que mostram que chegamos ao paraíso. Que demonstram nosso deleite
pelo orgasmo avassalador que nos tomou.
— Puta que pariu!
Digo, tão logo consigo emitir palavras. Tão logo consigo entrar
novamente em órbita.
Minhas pernas cobram pelo esforço, mas temo que ela se afaste se eu
desfizer o contato.
Então apenas nos aparto da parede, com esforço levo-nos para o quarto.
O clímax também cobra seu preço para Cecília, que encosta a cabeça no
meu ombro. E neste instante eu quase rosno de satisfação, por ela ter
guardado as garras, por ter cedido às sensações que nos envolve.
E mesmo nos conduzindo com esforço, sigo satisfeito.
Por tê-la nos meus braços. Por ter a chance de fazê-la minha
novamente.
Por ter a oportunidade de sanar toda a saudade que me consome, ou
grande parte dela.
Louco para colocar Cecília numa cama e começar tudo de novo. E de
novo.
Pois a noite hoje será curta. Até mesmo o final de semana inteiro seria.
Sequer saberia dizer quanto tempo seria necessário para arrancá-la de
mim, nem mesmo sei se conseguiria.
Porque minha secretária virou meu vício. Tornou-se a única mulher que
desejo.
E por isso preciso reverter essa situação. Preciso fazer com que Cecília
esqueça esse lance de uma noite e me aceite de volta.
E se para isso eu tiver que prometer, mudar ou até mesmo me
reinventar, é o que farei, pois ela é gostosa demais para que eu não o faça.
Sua ausência me fez mal demais para que eu não implore, se precisar.
CAPÍTULO 30

Não lembro de ter tido tantos orgasmos, não em um intervalo de tempo


tão pequeno. Porra, sequer descansamos! Gozamos na boca um do outro e
proporcionamos prazer de todas as formas possíveis e imagináveis, pois já
tínhamos transado vezes suficientes para que cada um soubesse o que fazer
ou como fazer para que no final nos resumíssemos a isso: um amontoado de
pernas e braços, cabeças incapazes de raciocinar e esgotamento físico
comum para maratonistas.
E foi isso que aconteceu. Uma maratona de sexo da melhor qualidade.
E na hora somente posso ser grata pela proposta dele que possibilitou minha
aceitação sem que minha mente me questionasse ou me fizesse agir de forma
mais coerente, assim como possibilitará me afastar, pois está dentro do
combinado. Do esperado.
Somente estou aguardando recarregar as energias, aguardando que
minha respiração aos poucos se normalize para que eu me vá.
Mesmo já me sentindo saudosa e longe de estar satisfeita, o momento
de partir está próximo. A hora de cumprir com o que combinamos na boate
se aproxima.
E isso faz meu peito arder, apertar. Faz meu tolo coração apaixonado se
despedaçar.
E enquanto ensaio para me afastar e crio coragem para deixar o abrigo
do corpo de Alex, eis que escuto algo que me surpreende.
Um pedido. Humilde. Hesitante.
— Cecília, preciso que me escute!
A voz insegura, certamente temerosa.
Não consigo manter-me como estou. Necessito olhar em seus olhos.
Sento-me rapidamente. E há em mim esperança, mas também temor,
pois não imagino o que um cafajeste seja capaz de me dizer que possa de
alguma forma me interessar, ou que possa não me magoar.
Alex também decide sentar-se e me encara enquanto diz:
— Primeiramente queria reforçar que falei a verdade quando disse que
não tive ninguém depois que ficamos juntos.
Meu coração pede para de pronto aceitar, mas as palavras que ouvi
continuam me assombrando.
— Eu ouvi quando você falou do seu envolvimento com a argentina, de
como ela era diferente...
— Eu menti. Não me orgulho de admitir isso, mas tudo aquilo era
fingimento. Tem sido só você. Não fiquei com nenhuma outra. Não tive
vontade.
Ele faz uma pausa, acredito que não está sendo fácil para ele admitir,
assim como não é fácil para mim acreditar.
— E já que estamos finalmente conversando sobre aquele dia, queria
também que você me desculpasse sobre o que disse a respeito da sua
aparência. Eu, mais do que ninguém, sei o quanto é linda e gostosa, então
não há justificativa para o que saiu da minha boca.
Na hora fico sem graça. Claro que ele já tinha me elogiado, no calor do
sexo, mas olhando no olho, sem a comoção do ato sexual, as palavras
ganham um significado ainda maior e o meu coração apaixonado suspira,
mesmo que a minha expressão tente disfarçar as emoções que me tomam.
— Não vou fingir que escutar aquilo não me fez mal. Porra, claro que
éramos patrão e funcionária, mas na minha cabeça acreditava que éramos
amigos, cúmplices...
— E éramos, melhor, somos. Sei que nada justifica minhas ações, mas
admito que fiquei perdido, pois as coisas entre nós aconteceram de forma
rápida e intensa demais. Tudo era muito novo, diferente e acredito que foi
isso que me fez meter os pés pelas mãos. E não ajudou em nada o fato de
que tinha decidido jamais me envolver novamente com uma funcionária e
me ver viciado em você foi algo que não soube como conduzir.
Ele respira fundo e eu apenas permaneço calada, pois por mais que suas
palavras estejam longe do sentimento que carrego dentro de mim, o que
escuto é algo totalmente inesperado, incomum na boca de alguém como
Alex Valentin.
— E nossa distância, depois da burrada que fiz, me fez muito mal. Vê-
la rechaçar minha amizade, renegar meu corpo e manter a formalidade,
deixou-me louco. E saber que era culpa minha apenas piorava tudo.
Resolvo quebrar meu silêncio, ceder, embora apenas o necessário para
que não me machuque.
— Admito que ouvir tudo aquilo não foi fácil e no primeiro momento
apenas quis me afastar, inclusive ventilei a possibilidade de mudar de
emprego. Mas, mesmo não entendendo a necessidade da mentira e daqueles
comentários, estou disposta a tentar passar uma borracha em tudo aquilo.
Podemos ser amigos novamente...
— Cecília, quero sua amizade, mas quero mais. Quero você, muito.
Você sabe como o sexo entre nós é gostoso e acredito que podemos sim
continuar de onde paramos.
Diz quase sem fôlego. Doido para ter de volta a foda fácil e certa.
Doido por algo que somente pode me trazer ainda mais sofrimento.
Decido então dizer como me sinto, não com todas as letras, mas deixar
claro a forma como vejo as coisas.
— Alex, claro que o sexo entre nós é gostoso, mas não vai mais rolar.
Não quero, agora que abdiquei do estilo que usava, ter que ficar no prédio
sozinha com você e dar margens para especulações. Não preciso que meu
trabalho ou esforço sejam desmerecidos unicamente porque me deito com
você. Não quero ser um segredinho sujo, mais um caso do poderoso CEO.
Termino as palavras e me levanto. Procurando minhas roupas, tentando
colocar alguma distância entre nós. Preciso me vestir e ir embora, antes que
me entregue, antes que ele perceba que para mim as coisas sempre foram
muito mais do que uma transa.
Noto, pela minha visão periférica, que ele também se levanta. Que está
agitado.
E continuo a me vestir. Mesmo que não estejamos mais agindo como
desconhecidos como propunha o acordo inicial, a condição de ser apenas
esta noite ainda vale.
Quando estou pronta para partir, viro-me para o ato derradeiro. Sei que
não vai ser fácil, mas é o que temos para hoje.
— Então é isso, Alex. Vida que segue. A partir de agora tentaremos aos
poucos reatar toda aquela amizade e cumplicidade, mas nada além disso.
— Cecília, tenho algo a lhe propor!
Parece esbaforido. Perdido.
Mesmo temendo o que está por vir, me calo. Aguardo, sabendo que
somente dor pode advir de uma proposta vinda de um libertino.
— Você tem razão em muitas coisas que falou, pois sei como são os
boatos e como isso pode prejudicar uma pessoa, e garanto que você é a
última pessoa do mundo que quero prejudicar. Não serei cínico em dizer que
aquele esquema que tínhamos não me beneficiava e era satisfatório, não
serei hipócrita a este ponto, mas não posso pensar somente nos meus
desejos, no que me é conveniente.
Ele pausa e morro para escutar o que virá. Embora permaneça calada e
tente fazer a minha melhor cara de pôquer.
— Podemos tentar algo então fora do escritório. Tentar nos conhecer
melhor e ver onde tudo isso vai dar. Sair para jantar, boates, barzinhos.
Tentar ver onde toda essa loucura nos levará.
Sei que minha cara mostra o assombro, pois ouvir isso da boca do
libertino é realmente algo surpreendente. Sei que não falou em rótulos e nem
de fidelidade, muito embora isso seja o mais próximo de um compromisso
que conseguirei arrancar dele, pelo menos nesse momento.
E decido me jogar, pois meu tolo coração já o imagina gostando,
precisando, amando.
Pela proposta escutada. Pela voz temerosa. Pelo corpo seguramente
tenso e por demais ansioso por uma resposta.
E já me vejo ouvindo declarações no futuro, já me vejo sendo amada e
adorada. E isso é algo fácil, é algo que qualquer coração apaixonado
imaginaria.
Mesmo que minha consciência tente me fazer pedir um tempo para
pensar, avaliar isso longe do calor do momento, com sangue frio. Pois
conheço a sua fama e sei que ele não assume mulher e que não pode ver um
rabo-de-saia.
Apesar disso tudo, eu o quero demais, mais até do que é saudável para
alguém que tem amor à vida.
E ele também parece me querer demais. No rosto uma tensão aparente,
no corpo uma vontade incapaz de ser disfarçada.
E porra, sou louca por ele!
Então, como posso resistir? Como posso lutar contra mim mesma?
E isso torna minha negativa impossível, apenas torna minha aceitação a
única resposta possível.
Mas não tenho tempo de responder, não tenho oportunidade de
tranquilizar-nos.
Alex me toma em seus braços, cheira minha face e pescoço. E diz com
a voz insegura, certamente carregada de humildade.
— Por favor, Cecília, vamos tentar, não quero passar por toda aquela
saudade novamente. Não quero ter que ficar longe de você outra vez.
E me beija, antes que eu diga algo, seguramente temendo uma recusa.
Provavelmente tentando me convencer com seus beijos, com sua língua
e com sua boca.
E mesmo não precisando de estímulo algum, eu somente posso vibrar
por estar em seus braços. Somente posso vibrar porque o homem que quero,
escolheu, sem dúvida nenhuma, a melhor forma de tentar me convencer. A
forma mais gostosa para arrancar de mim um sim.
CAPÍTULO 31

Beijo-a com desespero. Cheio de tesão, mas também de um temor


absurdo de que ela possa me recusar.
Não imaginava que fosse capaz de propor algo deste tipo a uma mulher,
algo equiparado a compromisso, mas vê-la arrumada, decidida a pôr um
ponto final entre nós, foi o estímulo que faltava para eu ir mais fundo, ir
além. Preciso demais do seu sim e estou disposto a tudo para continuarmos
de onde paramos.
E as sensações que ela me causa apenas me confirmam que tomei a
atitude certa, e que certamente cederei a qualquer contraproposta e
concordarei com o que for necessário para que Cecília seja minha.
Porra, meu coração está afoito no peito, a respiração descompensada e
o pau duro e pulsante, louco por ela novamente. Sem descanso, sem enjoar.
Apenas uma vontade que não se acaba, apenas um desejo que nunca
esvanece.
E logo estamos na cama. Embolados. Sôfregos.
As roupas já se foram, e qualquer resquício de razão.
E quando me enterro nela novamente, já existia saudade, mesmo que
houvesse pouco tempo do último ato. E tudo parece melhor, se é que é
possível.
Os suspiros, as mordidas, os gemidos. Tudo gera combustão. Ansiedade
para a consumação.
E as metidas são fortes, profundas. Cecília parece por um triz. Eu
apenas me seguro para garantir o seu prazer.
Que vem intenso, soberano. Seguidamente do meu, que me tira
momentaneamente do ar.
— Caralho...
Um palavrão em meio aos sons e gritos de prazer.
E pouco a pouco retornamos à terra. À realidade.
Onde espero um sim, anseio pela possibilidade de estarmos juntos.
E a palavra ainda não vem, mas vem os indícios.
A cabeça no meu peito, o aperto de seus braços.
Beijos salpicados, o carinho depois do ato.
E todo o meu ser se enche de esperança. Do sim. De continuarmos com
tudo isso que não sei nominar, mas que certamente não posso abdicar.
E quando penso em perguntar minha resposta, em confirmar minhas
suposições, ela fala e o que sai de sua boca me causa um êxtase tão grande
que começo a me perguntar o que realmente Cecília me causa. O que é
realmente todo esse alvoroço dentro de mim no que se refere a ela.
— Podemos tentar, Alex. Ver onde tudo isso vai nos levar.
Aperto-a em meus braços e vibro internamente com o que escuto,
mesmo que o que tenha proposto seja algo muito diferente do que busco em
minhas relações com as mulheres com quem já fiquei. Mesmo que não saiba
como realmente agir, o que fazer e nem como me portar.
Mas sei que quero ficar com ela, que quero que fiquemos juntos e sei
que isso direcionará minhas ações.
— Obrigado, Cecília. Você não vai se arrepender.
Digo, para tentar tranquilizá-la, mas principalmente para me
tranquilizar.
Sobre o passo que estou dando.
Sobre estar me jogando de cabeça em algo tão novo que sequer sei
como nominar.
E antes que a razão me leve a questionar tudo isso, foco no agora, nos
corpos suados e na possibilidade de todo o final de semana juntos.
— O que você acha de estendermos nossa estadia aqui?
A voz não disfarça a ansiedade pela resposta.
— Alex, não temos roupas, apenas as que estávamos vestidos!
Ela diz e a voz traz leveza. Sua boca pronunciando meu nome e isso é
algo que enche meu peito de satisfação, pois o desconforto ao ouvi-la me
tratar por senhor era algo que doía. A formalidade com que me tratava
machucava-me sobremaneira.
— Cecília, para o que tenho em mente, sequer precisaremos de roupas.
Até mesmo as que temos aqui serão desconsideradas.
E ela ri. E a acho linda. Demais.
Sua beleza me deixa nocauteado. Sua presença ao meu lado é tudo que
quero neste instante.
— Você tem as melhores ideias, Alex.
E monta sobre mim. E, porra, já fico aceso.
Para mais uma rodada. Para todas as que desejarmos.
Enquanto essa vontade absurda durar. Enquanto todo esse fogo existir.

Porra, apenas uma noite longe e não vejo a hora de colocar meus olhos
nela. E claro que não entendo por que tivemos que nos afastar.
O final de semana foi como precisava. Muito sexo, risos e conversas.
Tudo que sempre fizemos com familiaridade e prazer e que não foi diferente
estes dias.
Mas, depois de dormirmos a sexta agarradinhos e termos um sábado e
domingo que somente podem ser descritos como perfeitos, eis que Cecília
insistiu em dormir em casa, alegando que segunda precisaria de roupas
apropriadas e estar composta para a semana de trabalho. Também alegou que
se eu não saísse de dentro dela, certamente nem conseguiria andar, tantas
foram as vezes que transamos, as vezes que não conseguimos ficar longe um
do outro.
E dormir distante dela, depois de tanto grude, não foi fácil. O sono
demorou a chegar e as imagens do final de semana passavam como um filme
na minha cabeça. Sexo na banheira, na parede, no tapete e na cama. Muitas
vezes intenso, de tirar o fôlego. Muitas vezes sentido, emocionado, como eu
jamais tinha feito.
E enquanto relembro tudo isso, me arrumo. Rapidamente. Querendo o
quanto antes chegar na empresa, querendo ter uma dose de Cecília para
começar o meu dia.

— Não, Alex. Claro que não!


Diz com a mão levantada, pedindo que me mantenha distante. Negando
o beijo mais do que desejado.
— Não estou entendendo, Cecília, tínhamos combinado em ter um
lance...
— Sim, Alex, e não estou mudando nada do que foi conversado. O que
estou impedindo é que este lance aconteça dentro da empresa.
Oi?! Não vai haver beijos, amassos? Passarei o dia desejando Cecília e
sequer posso abraçar, tocar? Que porra de relação é essa?
São questionamentos que me faço, mas antes que possa dizer o que
quer que seja, ela fala:
— Teremos nossos momentos. Sempre que desejarmos. Mas não
acontecerá dentro da empresa. Aqui seremos profissionais. Apenas chefe e
funcionária.
— Mas, Cecília, claro que podemos ser mais maleáveis com relação a
isso...
— E corrermos o risco de sermos pegos? De ter meu profissionalismo
questionado por não conseguir manter minhas mãos longe do meu chefe?
Claro que não. Sei que já transamos e muito aqui dentro, mas em minha
defesa tem o fato de sempre ter acontecido após o expediente, quando na
verdade não corríamos riscos por estarmos sozinhos. E, agora, nem nestas
condições acontecerá. Demos sopa pro azar e felizmente jamais fomos
pegues, mas agora será diferente. Não mais nos arriscaremos. Somente
estaremos juntos quando estivermos longe da Suprema Essence.
Apenas posso descrever isso como praga ou castigo. Por ter trazido
mulheres demais para esta sala, por ter alardeado que não ficaria com uma
funcionária novamente.
Mas mesmo ela parecendo decidida, digo:
— E o que vou fazer com o meu desejo? Como vou fazer com esta
vontade que nunca passa?
Faço mais uma tentativa, digo a mais pura verdade.
E como alguém má e vingativa que descobri que ela é, escuto de sua
boca, sem qualquer piedade ou clemência:
— Terei todo prazer em lhe ajudar com relação a isso, mas que fique
bem claro: essa ajuda somente acontecerá em um lugar bem longe daqui.
E sai. Rebolando. Fazendo pouco caso.
Do que eu quero. Do que eu esperava.
E eu que lute. Para me concentrar. Para manter minhas mãos longe dela.
Torcendo para que o tempo passe rápido e eu consiga o quanto antes
estar enterrado dentro dela novamente.
CAPÍTULO 32

A cada dia que passa estou mais apaixonada. E como não poderia, se
Alex é um tesão, um gostoso e que por enquanto está me saindo muito
melhor do que a encomenda.
Porra, neste mês e meio que estamos juntos, não tenho do que reclamar.
Nem na cama e muito menos fora dela. Alex me trata com carinho,
dedicação e cuidado. Leva-me para a sua casa quase que diariamente,
ficamos juntinhos e depois que matamos todo o desejo, o motorista deixa-me
no meu apartamento, para que estas escapulidas na semana não atrapalhem
meu horário e muito menos o meu desempenho na empresa.
Claro que por Alex dormiríamos juntos, inclusive ele até queria que eu
levasse umas roupas para que me arrumasse e fôssemos para a empresa pela
manhã. E eu quase cedi. Quase.
Somente botei minhas barbas de molho após uma discussão, e foi o que
me fez colocar o pé no freio. Fez-me perceber que por mais que vivêssemos
uma rotina de casal, ainda não tínhamos o status, e por mais que ele fosse
alguém que me tratava muito bem, ainda não estava pronto para nada além
do que tínhamos.
Estávamos juntos há um mês quando Alex teve que viajar a negócios.
Para outro estado. Precisando permanecer no mínimo dois dias distante.
Devido a correria no escritório, tive que ficar e garantir o bom
andamento da empresa, pois quanto mais ganhávamos visibilidade, mais
trabalho aparecia. E, mesmo deitando comigo todo dia, ele não achou nada
demais aparecer acompanhado em um evento. Com uma modelo. Com todos
os atributos que sempre chamaram a atenção do cafajeste.
E não prestou. Quando tive acesso à informação de que ele estava
acompanhado e logo de pronto imaginei que certamente terminaria a noite
com a dita cuja, resolvi que dois poderiam jogar este jogo.
Ah, se ele podia se divertir, eu também poderia! E se ele não achou
nada demais ficar desfilando com alguém que sequer duvido que já não
tenha estado em sua cama, eu também poderia aprontar, mesmo que dentro
de mim eu soubesse que isso era somente uma retaliação inocente. Que o
máximo que eu poderia fazer era dançar, encher a cara e mostrar nas minhas
redes sociais que estava tudo bem, e que não estava sofrendo com a
possibilidade dele colocar outra em meu lugar. Com a possibilidade dele ser
capaz de colocar o que estávamos vivendo de lado e procurar alguém para
terminar a noite.
Eu é que não iria ficar me martirizando em casa e muito menos ficar
fuçando rede social para descobrir algo que somente poderia me fazer sofrer.
Então comentei com ele, e desliguei o celular. Sim, fiquei
incomunicável. Fiz isso ou era aguentar as perguntas, as indagações e
cobranças de quem achava normal estar desfilando com outra ao seu lado,
mas achava justo que eu ficasse em casa e sozinha.
Nem pensar. E ele que lute. E Caio também. Que teve que me pajear a
noite inteira, que teve a incumbência de garantir que eu permanecesse
intocável, mesmo que eu não pudesse exigir o mesmo do seu amigo.
E não dei confiança. Por vezes desapareci para dançar e quando vi que
no fundo não estava me divertindo, fui para casa.
Amaldiçoar-me por ter me apaixonado por um puto, sofrer por imaginá-
lo ao lado da tal modelo.
E tive uma noite insone, para acordar sozinha visto que Isadora
certamente tinha dormido novamente na casa de Caio.
E quando ouvi a campainha soar, jurei que era minha amiga, apostava
que tinha esquecido a chave.
E qual não foi a minha surpresa quando abri a porta e encontrei Alex.
Com cara de cansado, certamente chateado. Ainda lembro de suas palavras.
— Por que você desligou o telefone? Por que desapareceu? O que você
aprontou, Cecília? Saiba que não tenho vocação pra corno e que jamais vou
aceitar que você enfeite a minha cabeça.
Tive vontade de rir, pois ele não poderia estar mais longe da verdade.
— Não sei por que você se preocupa com o que faço ou deixo de fazer.
Logo você que de santo não tem nada. Logo você que estava tão bem
acompanhado na noite passada. Inclusive em nenhum momento vi você
recusar a companhia da modelo que certamente terminou a noite ao seu
lado. Em nenhum momento vi você diferente de satisfeito e sorridente por ter
a oportunidade de ter carne nova na sua cama novamente.
E ele avançou sobre mim, parecia enlouquecido, a ponto de cometer
uma loucura.
— E porque você, erroneamente, julgou que não consigo passar uma
noite sem sexo, decidiu que eu deveria ser punido por algo que não fiz.
Decidiu colocar outro em sua cama. Decidiu me colocar insano, a ponto de
abandonar meus negócios, abandonar tudo para correr atrás de você.
Disse arfante. Parecia fora de si.
E para afetá-lo de vez, disse:
— É melhor você ir para a sua casa, Alex. É melhor esfriarmos os
ânimos. Do jeito que estamos é capaz somente de nos ferirmos cada vez
mais.
E ele me puxou, me apertou em seus braços. Cheirou meu pescoço,
porque aparentemente estava louco por contato.
— Cecília, sou seu, todo seu. Claro que não fiquei com aquela mulher,
nem com ninguém. Queria que você fosse minha acompanhante, não ela.
Nenhuma outra.
E decidi ceder também. Fazer minha parte.
— Alex, sou louca por você. Como poderia ficar com outro, deitar com
outro? Sou somente sua...
E fui tomada. Enfurecidamente.
Por um sedento. Por alguém sabidamente desesperado. E tivemos sexo
de reconciliação. Fizemos sexo com o corpo, mas também com a alma.
Verbalizando o que a boca ainda não disse. Declarando o quanto nos
pertencemos, o quanto estes ditos corpos não querem nenhum outro.
E foi neste dia que percebi que Alex e eu ainda não estávamos na
mesma página e que ele estava longe de estar pronto. Pois não falou em
necessidade. Não discutiu os rumos do relacionamento e não quis nada
diferente do que tínhamos. Mesmo tendo largado tudo e tendo corrido atrás
de mim, ele não disse as palavras e muito menos nomeou a nossa relação ou
me rotulou como dele.
Alex apenas fala com o corpo. Apenas me quer como não deseja
nenhuma outra.
E foi poucos dias deste fatídico sábado, que muita coisa mudou.
Fisicamente. Mentalmente.
Enjoos, indisposição.
Uma preocupação absurda. Uma certeza absoluta.
Que foi prontamente confirmada num exame.
Algo totalmente inesperado. Impensado.
Que nem sei como será recebido por Alex, mas certamente já amado
por mim.
Muito amado.
CAPÍTULO 33

Porra, estou apaixonado, muito apaixonado por Cecília.


E não é de hoje. E nem de depois que assumimos este lance entre nós.
É de sempre, desde o começo.
Desde a primeira vez, de quando não quis mais nenhuma outra. Meu
corpo foi o primeiro a comprovar o sentimento, e agora meu coração
confirma este entendimento.
O fatídico dia que abandonei tudo para correr atrás dela foi o divisor de
águas, foi desde então que deixei de pensar somente com o pau e comecei
realmente a notar todos os sinais.
A preocupação absurda com o bem-estar dela. O querer sem igual. O
precisar a cada segundo e a necessidade absoluta de ser dela e de fazê-la
minha todos os instantes do dia.
E somei dois e dois e me achei um tapado, um burro. Por não ter
percebido antes.
É o coração que bate desembestado com a mera lembrança. A emoção
que me toma quando estamos juntos. O corpo que se arrepia ao menor
contato.
E o temor que havia, a reserva mínima que ainda mantinha, hoje mesmo
será rechaçada, afastada para longe de mim.
Pois decidi que quero o rótulo, quero e preciso ficar sempre por perto.
Juntos, sempre juntos. Como namorados, como um casal.
Que divide tudo, que dorme junto todos os dias e não somente no final
de semana.
Não quero mais dormir sozinho, não consigo mais.
É um suplício, um rolar na cama, um sentir falta mesmo que ela tenha
há pouco tempo se afastado.
É algo que não posso mais suportar.
E por isso tudo e pela descoberta do sentimento que proporei o próximo
passo.
Mesmo que não saiba como fazer, ou como proceder a partir de então,
falarei sobre o que sinto. De como preciso me declarar, de como preciso que
ela seja minha, não somente de corpo, mas de alma, de coração, como
descobri que sou dela, e o sou há muito tempo. Desde sempre.
E esta noite afastados foi bom para pensar, para decidir. Que não quero
esta cama vazia, nunca mais. Que a quero comigo para sempre.
O fato dela ter tido uma consulta com o ginecologista no final da tarde e
depois ter querido ficar em casa, não foi algo bem aceito por mim no
momento, pois infelizmente sou um dependente, alguém por demais
apaixonado. Mas foi algo benéfico, pois me fez sentir na alma a falta e me
deu tempo para pensar, refletir e decidir.
Ter ciência do que sinto e de como preciso que as coisas sejam a partir
de agora.
E enquanto me arrumo faço toda essa reflexão e sei que sequer sou
capaz de esperar o final do dia para dizer como me sinto. Conversarei assim
que chegar no escritório, chamarei Cecília na minha sala e abrirei meu
coração.
Por sorte minha declaração será retribuída, por sorte hoje, ao menos
hoje, ela esquecerá suas restrições e aceitará meus carinhos. Ela permitirá
ultrapassar as barreiras impostas.
E é merecido depois de abrir meu coração. É mais do que merecido
depois da noite de saudade e afastamento. Queimando por ela, desejando
unicamente Cecília, a minha mulher.
E coloco um sorriso no rosto ante a possibilidade dela ceder. Já coloco a
esperança em meu íntimo, ante a probabilidade do meu sentimento ser
correspondido.
Adentro no prédio cumprimentando todos que encontro pelo caminho.
Estou com um excelente humor, já antecipando o sucesso que será minha
conversa com Cecília.
Mal saio do elevador e já a procuro, mas sua mesa está vazia. Claro que
estranho, pois ela é super pontual, mesmo não morando perto e dependendo
de transporte coletivo. Decido ser mais incisivo e garantir este cuidado com
minha mulher. Garantir virmos juntos para o trabalho, pois não penso em
dormir nunca mais longe da minha futura namorada. Abro um sorriso bobo,
pois o futuro se desenha em minha mente muito melhor do que um dia
esperei.
Ainda que impaciente para vê-la, não aguardei mais que poucos
minutos, mesmo que para minha ansiedade tenha sido tempo demais.
E ao olhar para ela percebi que o que preciso dizer esperará um pouco,
as necessidades de Cecília virão sempre em primeiro lugar. Não sei quando
deixei de ser um egoísta de merda, quando parei de pensar primeiro e
unicamente em mim.
Mas foi somente olhar para seu rosto abatido e seus olhos inchados, que
empurrei minhas vontades e necessidades para o fundo da mente. Que decidi
que nada é mais importante do que descobrir o que aconteceu com Cecília.
— Precisamos conversar!
— Cecília, o que aconteceu?
Dissemos juntos. Cada qual verbalizando a sua preocupação.
— Estou preocupado, você não parece bem!
Digo. Aguardo ansioso sua resposta.
— Como você sabe, Alex, ontem fui ao médico.
Ela para e o meu coração também. Por imaginar doenças, por imaginar
que minha mulher não está bem.
— Você está doente? Você...
Ela me interrompe, sequer deixa-me expressar todo o desespero que me
toma.
— Não estou doente! Eu estou...grávida!
Custo a entender. As palavras demoram a fazer sentido.
Mas de repente fazem. De repente o mundo parece desabar sobre a
minha cabeça.
E todos os meus sonhos se evaporam no ar.
O meu sentimento recém-descoberto parece zombar de mim. De como
me deixei levar, de como fui enganado.
Traído. Cecília se deitou com outro, enquanto fui somente dela.
E ao olhar para sua barriga, confirmo isso. Pelo tempo que estamos
juntos e pelo tamanho da barriga somente pode ser algo recente, que
aconteceu enquanto eu me envolvia, me apaixonava.
Porra, juro que seria até capaz de aceitar um filho de outro, se ela
estivesse grávida antes de nós, mas Cecília ter conseguido estar com outro
após nosso envolvimento, torna-me incapaz de aceitar, perdoar, sequer
discutir.
— Fiz uma ultrassonografia, estou com mais ou menos dez semanas de
gravidez, mas como nunca tive um ciclo regular, não tinha atentado para a
possibilidade...
E taí a confirmação. Palavras que me transportam diretamente para o
inferno, pois faço as contas mentalmente e tudo leva a crer que estávamos
juntos, que foi antes da fatídica conversa que escutou entre Caio e eu. Agora
sequer acredito que também não tenha ficado com outro quando viajei. Não
sei mais de nada. Não conheço essa mulher e acho que nem quero conhecer.
Pois enquanto me mantive fiel, desde o início, ela fez isso comigo,
conosco. Cecília conseguiu me machucar como ninguém jamais conseguiu.
Ela colocou um punhal no meu peito, e duvido que algum dia a dor
causada por esta sua atitude passe ou amenize. Duvido que algum dia pare
de doer, ou que eu pare de sofrer.
Tantos planos e tudo destruído. Tanto sentimento e tudo aniquilado.
Mas decido que ela nunca saberá o mal que me fez e nem o amor que
sinto. Decido que arrancarei este amor do meu peito e que ela sequer
desconfiará de sua existência.
Pois do contrário Cecília pode aproveitar-se desta minha fraqueza para
imputar-me o filho de outro. Pode aproveitar-se desta loucura que sinto para
tentar me fazer aceitar o fruto dessa sua traição.
Sou apaixonado, mas não sou tolo. Deixei-me iludir, mas não mais me
permitirei ser enganado.
— Parabéns, Cecília. Fico feliz que será mãe.
Digo frio, as palavras dando um gosto amargo na minha boca.
— E quem é o pai? Você já contou pra ele? Você sabe quem é ele?
Ainda tem contato com ele?
Digo venenoso. Maldoso. Querendo machucar.
Tentando fazer doer nela pelo menos um pouco. Tentando causar-lhe
um sofrimento que se equipare minimamente ao meu.
Que sufoca meu peito. Que adoece minha alma.
Um sofrimento que jamais tinha sentido e que sequer sei como curar,
como tirar de mim.
Mas sei que preciso ser forte. Para que ela não perceba. Para que ela
não tente se aproveitar.
Para afastá-la de vez da minha vida. E para que ela jamais se aproxime
novamente.
Apesar de saber que isso me fará mal. Muito mal.
Apesar de saber que eu sequer sei como farei com a minha vida a partir
de então.
CAPÍTULO 34

— E quem é o pai? Você já contou pra ele? Você sabe quem é ele?
Ainda tem contato com ele?
Sinto-me destroçada. Destruída.
Esperava que ele nos culpasse por sermos displicentes, na pior das
hipóteses se eximisse da culpa e a jogasse somente sobre mim, mas jamais
esperei isso. Que ele sequer cogitasse que o filho fosse dele. Sequer pensasse
que seria o pai.
Sinto-me magoada, mas também zangada. Muito.
— Quem é o pai? Você ousa me perguntar quem é o pai? O pai é você!
Quem mais seria?
E ele ri. E não é algo agradável. É um som ofensivo, que magoa.
— Eu? Você quer jogar sobre mim a responsabilidade deste bastardo?
Essa palavra. O julgamento que ele faz de mim. A forma como fala do
próprio filho.
— Desde que começamos com isso, transamos mais sem proteção do
que com, e você tem a audácia de perguntar quem é o pai.
E ele ri mais. E me machuca mais. Pois não tem humor, não tem nada
do homem que amo. Apenas um som odioso e detestável.
— Certamente, eficiente secretária, você não fez o dever de casa
direito, pois sequer sabe que sou vasectomizado, pior, sequer se lembra, pois
tenho certeza que foi a primeira coisa que disse quando fiz a loucura de
comer você sem proteção.
O termo que usa, como resume o ato em uma palavra vulgar, que
certamente emprega para ilustrar suas transas com as mulheres que pega na
rua, que não representam nada para ele, como percebi que é também como
me enxerga.
— E isso somente me causou preocupação, pois percebi que você não
esteve somente comigo, e que também saiu com outros sem proteção. E
percebi que o que era para ser apenas uma transa, pode me trazer
consequências mais do que indesejadas. Só Deus sabe quem você pega na
rua e que tipo de doenças pode ter transmitido para mim.
Saio de mim e faço algo que jamais tinha feito. Agrido alguém. Um
tapa certeiro. Com toda força que tenho.
E merecido, por me tratar como uma vadia, por renegar de forma tão
veemente a criança que tenho no ventre.
Ainda assim o amor que trago dentro de mim tenta me fazer
argumentar. Buscar fazê-lo entender que não saí com qualquer outro e que
simplesmente aconteceu e que seguramente estamos nas exceções das
estatísticas.
Felizmente meu amor-próprio faz-me recuar a tempo. Faz-me evitar
que eu me rebaixe mais.
E o fim do respeito entre nós, tanto pelas palavras ditas, como pelo tapa
desferido, determina o que tenho que dizer. Determina o que acontecerá.
— Acredito que não há clima nenhum para que eu permaneça aqui.
Pode procurar uma nova secretária. A partir de hoje não trabalho mais para
você.
Digo enquanto o observo esfregar a mão no rosto, talvez tentando
aliviar a dor. Na face o assombro por minha atitude, talvez por minhas
palavras.
E para foder com o resto, ele consegue me magoar mais. Extrair de
mim qualquer resquício de respeito que ainda houvesse. Pela amizade que
tivemos, pelos bons momentos que vivemos.
— Você pode até não trabalhar mais aqui, mas não sairá sem cumprir o
aviso prévio, não se ainda quiser trabalhar neste estado.
É um filho de uma puta. Como parceiro de relacionamento, como
possível pai e também como chefe.
— Ora, seu infeliz, como você pode querer me obrigar...
E não tenho a oportunidade de dizer mais nada, pois a porta é aberta de
supetão e logo escuto a voz do vice-presidente:
— Desculpe, achei que você estivesse sozinho.
Diz olhando para Alex. Desconfiado, certamente percebendo o climão.
— Está tudo bem por aqui?
— Sim.
— Não.
Respondemos juntos. Isso apenas faz ele fechar a porta e se aproximar
mais.
— Na verdade eu acabei de pedir demissão e este senhor insiste em
querer que eu cumpra um aviso prévio, que nada mais é do que impossível
na minha condição.
— Eu não quero, é uma regra trabalhista e...
— De que condição você se refere, Cecília?
Caio pergunta, interrompendo Alex. Totalmente focado em mim.
Ganhando até alguns pontos comigo neste momento, pois demonstra uma
preocupação que meu ex ficante em nenhum momento demonstrou.
— Eu estou grávida...
— E quis me imputar este bastardo, quis me empurrar o filho de outro.
Avanço novamente contra ele, mas logo Caio se coloca na frente,
evitando certamente uma nova agressão.
— Você está vendo que não há a menor condição deste aviso prévio ser
cumprido? Que não há clima e muito menos respeito para eu continuar aqui?
— Já eu não abro mão de você cumpri-lo. E se você ainda quiser
arrumar algum emprego para ajudar a criar esta criança, é melhor você
permanecer nesta empresa e cumprir esta obrigação trabalhista.
Intransigente. Afrontoso e odioso.
Respiro fundo e tento ser racional, sabendo que agora, mais do que
nunca, preciso ter uma fonte de renda, pois não posso contar com ninguém e
tudo que acabou de acontecer aqui, apenas me provou que sequer posso
recorrer ao pai do meu filho, muito pelo contrário, ele certamente é a última
pessoa na face da terra com quem posso contar.
E de repente o improvável acontece. O auxílio vem de alguém que
jamais esperei.
— Ela cumprirá o aviso prévio sendo secretária da vice-presidência.
— Quem você pensa que é, Caio, para tomar esta decisão? Para ao
menos cogitar que eu aceitarei...
— Sou o segundo aqui na linha de comando e estou pensando com a
razão, coisa que você não está. Não quero trazer problemas para uma mulher
grávida, como também não quero a empresa sujeita a processos movidos por
uma gestante, que é o que certamente acontecerá se continuarem trabalhando
juntos. Depois da discussão que vi aqui, sei que não há clima nenhum para
que Cecília continue como secretária da presidência.
Eu suspiro alto. De alívio.
Ele grunhe enfurecido, as mãos em punho.
E antes que eu possa agradecer ou concordar com a intervenção, eis que
Alex diz:
— Ela cumprirá o aviso no lugar para o qual foi contratada para
trabalhar ou sequer conseguirá emprego...
— Alex, não gosto de me indispor com você, mas estou disposto a
intervir se você continuar com essa insistência, pois sei que a única coisa que
pode advir dessa sua intransigência é a porra de um processo trabalhista. E
mais, conheço empresários que ficariam mais do que felizes em ter Cecília
na sua equipe, e não medirei esforços para alocar ela hoje mesmo, se for o
caso.
Silêncio.
Alex espuma de ódio. Eu somente posso agradecer por Caio ter tomado
partido a meu favor. Por motivos racionais, eu sei, mas somente posso ser
grata por isso.
E minha gratidão virá em forma de aceitar a sua oferta.
— Nestas condições, aceito cumprir o aviso prévio. Começarei agora
mesmo a levar minhas coisas para o outro andar.
— Ainda não terminei com você, ainda...
— Vá, Cecília, preciso de um momento a sós com Alex.
E quem diria que alguém que eu sequer tinha simpatia, agiria para me
proteger do homem que amo? Para proteger meu filho do próprio pai?
E enquanto isso passa pela minha cabeça, avanço rapidamente para me
afastar de Alex. Para exercer minha função num andar diferente do qual fui
contratada.
Arrasada por tudo que ouvi. Machucada como não lembro de já ter
sido.
Tendo minha índole questionada, minha palavra refutada. Sendo tratada
como uma interesseira. Como uma qualquer.
Sendo largada à própria sorte quando mais precisei, tendo meu filho
rejeitado e renegado, tratado por um termo que me recuso sequer a trazer à
minha lembrança.
E mais uma vez na vida terei que ser forte. Felizmente agora não mais
terei que enfrentar este mundo sozinha.
Agora terei o filho que trago no ventre. Terei alguém por quem ser
forte, por quem lutar.
E mesmo com o coração sangrando e com a alma aniquilada, seguirei
em frente. Seguirei sem Alex.
Por mais que isso me doa, que me maltrate.
Por mais que isso despedace meu ser e ameace roubar toda a minha
sanidade.
CAPÍTULO 35

— Quem você pensa que é para tomar este tipo de decisão?


Odeio ter minhas decisões contestadas, odeio o que acabou de
acontecer aqui.
Porra, queria que ela cumprisse aqui seus deveres trabalhistas, queria
fazer da vida dela um inferno, como ela está fazendo da minha.
— Sou a droga do vice-presidente. Sou a porra do cara que investiu
dinheiro demais em ações desta empresa, para ver muito dele em um
processo trabalhista que sei que viria, pois infelizmente você não está sendo
razoável e sei que o que queria era fazer a vida de Cecília impossível durante
estes dias que você insiste que ela trabalhe. Já não basta tudo que aconteceu
com a sua ex-secretária? Já não basta toda a confusão envolvendo dinheiro e
advogado?
Claro que ele tem um ponto, mas queria ela sob o meu jugo, queria que
ela sentisse um pouco desta dor que me consome, um pouco deste
sofrimento que tão levianamente me causou. Por não conseguir manter as
pernas fechadas, por colocar uma outra pessoa no meio do lance gostoso que
estávamos vivendo.
— Porra, Alex, Cecília está grávida e...
— E quis imputar a mim esta responsabilidade. Fiz vasectomia, ela
sabe que não é meu. Mas quis me enganar, queria me ganhar com um
papinho para iludir idiota.
— Cara, você sabe que existe risco, você sabe que quando as coisas
entre vocês começaram, a cirurgia estava recente e...
— Até você, Alex? Pelo menos ela conseguiu enganar alguém com esse
teatrinho, com essas mentiras. Cuidado, pode ser que a convivência ou até
mesmo a lábia da infeliz possa lhe convencer que o filho é seu.
Rio, sem humor. Parecendo inabalável.
Apenas para me mostrar como o poderoso CEO que sou. Apenas para
tentar passar para ele a imagem de homem que pega e não se apega.
Jamais vou dizer que me sinto ferido de morte. Que tinha planos para
namorá-la, para ficar com ela todos os instantes do dia.
Nunca que ele saberá que estou apaixonado, louco de amor.
Caio não saberá. Ninguém saberá. Abafarei e matarei o sentimento.
Não serei feito de trouxa, tampouco permitirei que sintam pena pelo
inocente que caiu no conto do vigário. Não despertarei piedade em ninguém,
não me exporei desta forma.
— Você está agindo como um idiota. Esse seu comentário foi
totalmente desagradável, sem base alguma. Somente posso imaginar que
essa situação mexe com você mais do que quer deixar transparecer.
Ele quer arrancar algo de mim. Jogar a verde. Mas tenho tempo demais
de estrada para me deixar levar, tenho minha honra e meu orgulho para
resguardar, então nunca que vou permitir-me ser exposto desta forma,
mesmo que seja para meu melhor amigo, mesmo que seja para alguém que
eu confie cegamente.
— Cara, você me conhece. Sabe que eu gosto de sexo e Cecília era uma
boceta certa e gostosa e eu tava meio que viciado nela, mas sabe que
também estava viciado na Carla, inclusive abri para ela uma exceção que
jamais tinha aberto. Você também sabe que a partir do momento que ela quis
se dar bem em cima de mim as coisas mudaram, que logo coloquei outra em
seu lugar e que, depois de tudo, ela jamais receberia um segundo olhar meu
novamente. E assim será com esta outra golpista.
Ele parece ter comprado minhas palavras, mas antes de engolir toda a
história, pergunta:
— E por que você insistiu com esta droga de aviso prévio? Por que
você simplesmente não a deixou ir?
Ele é esperto, quer apaziguar todos os seus questionamentos.
— Para fazê-la pagar por querer me dar o golpe, para fazer dos dias
dela um inferno. Não pense, em nenhum momento, que era por qualquer
outra coisa, queria apenas ensinar para ela que não sou nenhum moleque
para ela tentar enganar e que, depois que eu acabasse com ela, Cecília ia
pensar duas vezes antes de tentar buscar dinheiro fácil.
Ele coça a cabeça, parecendo quase convencido, mas solta uma nova
isca.
— Então, já que você não sente nada por ela, não se incomodará se eu a
mantiver como minha secretária de forma definitiva.
Tento não me abalar com esta possibilidade. Tento não pensar em
cruzar com ela pelos corredores. Grávida. Uma lembrança de tudo que fez
comigo e com o que eu sentia.
— E por que você faria isso?
Tento ganhar tempo, pescar suas intenções.
— Por ela estar grávida? Por ser uma excelente profissional? Por ser
melhor amiga de Isadora?
Razões demais. Convincentes. Talvez suficientes.
— Parece que o lance com Isadora é mais sério do que imaginei.
Tento fazê-lo recuar, insistindo num tema que sei ser sensível para ele.
— Sabe, Alex, Isadora e eu transamos. Muito. Mas além do carnal,
somos amigos, preocupo-me com ela, reconheço suas qualidades como
profissional e temos uma ótima convivência. Ao ponto de saber muito da sua
vida e saber um pouco da vida de sua melhor amiga. Que ela não tem
familiares, não tem com quem contar além de Isadora. E por isso vou tentar
garantir que tenha uma gravidez sem preocupação financeira, além de evitar
que saia por aí atrás de emprego. Darei essa tranquilidade a Cecília e
consequentemente a Isadora.
Admiro seu caráter, sua índole, enquanto sinto-me um crápula ao passar
por cima de todas estas informações que eu tão bem conheço, mas na hora
lembro de como ela quis me enganar, se dar bem e o resquício de
consciência some rapidamente, restando somente a decepção pela mentira, o
dissabor em saber que ela me achou um alvo fácil para um golpe.
Faço mais uma tentativa, tento dissuadi-lo de sua decisão, pois sei que
ele, como vice-presidente, tem poder e não sei se suportaria ter que conviver
com Cecília depois de tudo.
— E está disposto a proporcionar esta distância entre você e Isadora,
unicamente para bancar o bom samaritano?
Totalmente sarcástico, pois conheço meu amigo, sei que sua sala
também faz as vezes de motel, e não o culpo, meu comportamento e
histórico aqui dentro não é diverso do seu.
— Acredito que esta distância apenas apimentará ainda mais as coisas
entre nós. Além do mais, o fato de tê-lo enfrentado somente fará com que eu
ganhe uns pontos extras com minha secretária. E é por isso, por minha
humanidade e pelo bebê inocente que não tem culpa nenhuma da decisão dos
adultos, que Cecília a partir de hoje será secretária da vice-presidência e
usarei todo o poder que o cargo me proporciona para mantê-la comigo, se
assim for a vontade dela.
Porra, logo agora ele decide ser defensor dos pobres e oprimidos!
Decide pela primeira vez afrontar minha autoridade de CEO!
— Caio...
— Já está decidido, Alex. E as mudanças começarão imediatamente.
Irei para a minha sala garantir o que estou dizendo.
Fala com firmeza, não deixando mais nenhuma brecha para
argumentação.
E vira-se, como se não tivesse acabado de bater de frente comigo.
E tão logo ele sai, reflito sobre a possibilidade de ter que conviver com
ela e um misto de emoções me toma.
Raiva, pelo que fez comigo.
Dor, por saber que o sentimento que trago jamais poderá ser vivido.
Que entreguei meu coração para uma aproveitadora.
E alívio, apesar de tudo. Mesmo me condenando, questionando minha
sanidade, sei que é isso que sinto.
Pela possibilidade dela estar por perto, mesmo sem poder tocá-la. Vê-
la, mesmo que não mereça um segundo olhar meu.
E me considero um idiota, um imbecil, por me sentir assim.
Como um dependente, como um drogado.
Certamente como alguém muito apaixonado.
CAPÍTULO 36

Considero-me forte, determinada. Mas infelizmente a mulher que está


sendo consolada por Isadora, está bem longe de ser definida desta forma.
Olhos inchados, lágrimas que jamais cessam e uma dor que ameaça me
tomar por completo. Um aperto jamais sentido e uma vontade absurda de
ficar em um quarto escuro, em posição fetal, ou apenas me acordar deste
pesadelo que ameaça roubar minha sanidade.
Contar para ela não foi fácil. Reviver as cenas vividas neste fatídico dia
só me fizeram ainda mais frágil, mais propensa ao choro. Falar da
desconfiança e da humilhação que passei, foi por demais difícil e ser tratada
como golpista e aproveitadora matou muita coisa dentro de mim. Mas
infelizmente não matou o sentimento que arde em meu peito, que me sufoca
e que me faz ainda mais sensível a tudo que passei, a todas as lembranças do
que vivi mais cedo.
— Filho da puta! Desgraçado!
Alguns adjetivos, muitos outros já foram proferidos.
— Nem sei se conseguirei trabalhar ao lado dele e não quebrar a cara
daquele imbecil!
— Isadora, por favor não diga isso nem de brincadeira!
Começo a temer pela convivência dos dois. Começo a achar que foi um
erro ter permitido essa troca entre as secretárias.
— Acho que o melhor é que eu procure algo, antes que ao invés de
uma, tenhamos duas demissões.
Minha voz demonstra o temor por esta possibilidade, por saber como
será difícil a convivência entre minha amiga e o infeliz do Alex Valentin.
— Claro que não vai procurar emprego nenhum, Cecília. Ainda mais
depois que Caio garantiu que você ficará no cargo de forma definitiva.
Somente tenho que fazer minha parte, assim como vocês fizeram. Como
meu boy por bater de frente com o idiota e como você por aceitar conviver
com quem lhe fez tanto mal.
E eu sequer tenho como retrucar. Não depois de todas as lágrimas que
derramei em sua frente e na face inchada que ganhei ao contar tudo que se
passou neste dia, que era para ser um dos mais felizes da minha vida.
O dia em que dividiria com o homem que amo a descoberta do nosso
filho. O dia em que sonhei que faríamos planos e declarações.
E eu não poderia estar mais enganada, as cenas vividas não poderiam
estar mais distantes das que perneavam os meus sonhos.
Mas nem por isso meu filho não é bem-vindo, nem por isso não o
considero a maior bênção da minha vida.
E é por ele, somente por ele, que permanecerei na Suprema Essence. É
por meu filho que me submeterei a conviver com Alex Valentin, bem menos
do que aconteceria caso permanecesse no meu antigo cargo, mas bem mais
do que é saudável depois de tanta decepção, tanto amor.
E de repente, enquanto estava perdida em pensamentos, eis que sinto
braços ao meu redor. Aconchegantes, carinhosos, verdadeiros. Da minha
irmã de alma. De alguém que verdadeiramente poderei contar.
— Dará tudo certo! Estaremos juntas!
— Eu sei, Isadora. E isso é algo que fará toda a diferença para mim.
Falo emotiva. Depois de uma pequena pausa, continuo:
— Seu afilhado e eu estamos muito felizes em termos você.
Ela fica emocionada, mesmo sabendo que meu bebê jamais teria outra
madrinha.
— E como sabe que será um afilhado?
Ela tenta quebrar um pouco do clima que se formou.
— Claro que não sei, o que apenas sei é que você será a madrinha!
Mais abraços, mais lágrimas e a certeza de ser amada. Não por quem
esperei, por quem sonhei, mas por alguém muito importante para mim. Por
alguém que sabidamente estará ao meu lado durante os dias difíceis que
certamente virão.
Desisto de rolar na cama de um lado para o outro. Desisto de tentar o
esquecimento pelo sono.
Levanto-me, tentarei o esquecimento pelo álcool.
Buscarei afastar as lembranças de nós dois do meu pensamento, a
consciência de como estava feliz pela descoberta do amor, do sentimento.
Porra, eu estava feliz. Muito. Achava-me um puta de um sortudo por ter
me apaixonado por alguém tão integro, especial. Tão diferente.
E para que? Para descobrir que ela é muito diversa da pessoa que
imaginei, e que no fundo Cecília não passa de uma aproveitadora, como
tantas outras. De uma golpista.
E mal encontro o que procurava e já o viro em minha boca. Com
vontade. Com necessidade.
De afastar tudo isso da minha mente. De afastar as cenas que insistem
em me assombrar, em me machucar.
Momentos sexuais, de tesão, de querer. Corpos nus, suados. Sempre
satisfeitos.
Momentos emocionais, de carinho, que pareciam ter sentimento. E que
na verdade tinha, mas somente da minha parte.
E isso me faz ter vontade de quebrar algo, de agredir alguém. De
agredir a mim mesmo.
Por me deixar levar, envolver. Apaixonar.
Por parecer tão iludido aos olhos dela, que não titubeou em tentar me
enganar, em tentar me empurrar um bastardo, fruto de uma traição, fruto de
um momento com outro homem.
E esta constatação apenas me faz virar ainda mais o litro, me faz beber
com ainda mais vontade o líquido rascante.
Desejando esquecer, sonhando acordar deste pesadelo.
Onde a mulher que entreguei meu coração é alguém totalmente sem
escrúpulos e que o filho que ela carrega jamais poderá ser meu, e que ele
nada mais é do que a prova cabal de que eu sentia sozinho, de que não
estávamos na mesma página. Onde ele será sempre algo a nos separar, a me
lembrar que jamais poderei tê-la novamente em meus braços, em minha
cama.
Devido a mentira, a trapaça. A traição. E nem é pelo ato em si, pois em
algum momento ficou combinado que sequer éramos exclusivos e talvez se
ela dissesse que aconteceu neste período eu até poderia tentar relevar, ao
menos buscar entender.
Mas não! Ela tentou me enganar, me ludibriar. Imputando a mim um
filho que jamais poderia ser meu, uma criança gerada única e
exclusivamente para me fazer sofrer.
E no meio da cortina de embriaguez que ameaça me dominar, desejei
jamais ter feito a vasectomia, não ter tirado a chance de permanecer ao lado
dela.
Mesmo que para isso eu precisasse assumir um filho que provou-se não
ser meu, ficar ao lado de alguém que confirmou-se não ser digna do
sentimento único que carrego no meu peito.
Mas isso talvez não fosse nada se comparado a angústia que me toma,
ao desespero que ameaça roubar minha sanidade.
Por saber que não mais a terei comigo. Que não beijarei sua boca e nem
possuirei seu corpo gostoso.
E essa certeza faz meu coração apertar, minha garganta entalar. Faz
surgir em mim uma vontade absurda de ser fraco, de submeter-me às minhas
emoções.
Chorar, gritar. Sucumbir.
Como um adolescente apaixonado. Como um homem doente de amor
que sou.
Mas tento me conter, tento fazer do álcool um amigo, um conselheiro.
Capaz de aliviar, ao menos amainar todo esse desespero.
Tentando passar por esta noite, sequer sabendo como passarei as
demais.
Onde não terei Cecília ao meu lado. E sabendo que neste local ela
jamais estará.
Pois não se mostrou digna. Sequer se mostrou minimamente
apaixonada.
Porque se estivesse não teria procurado outros, se deitado com outro.
Como eu não fiz.
Por não querer. Nem necessitar. Sequer conseguir.
E isso foi o que ganhei por amar tanto, por sentir tanto.
Um filho que não é meu, um coração despedaçado e a companhia
indesejada de uma garrafa de bebida.
Que sequer proporcionou o esquecimento. A embriaguez.
Apenas conseguiu que eu me emocionasse mais. Pensasse mais.
No que perdi. No que não mais terei.
E no futuro frio e vazio que certamente terei pela frente.
Longe de Cecília. Distante da única mulher que amei.
CAPÍTULO 37

Dias difíceis. Muito.


Mesmo tendo o apoio improvável do meu chefe atual, as coisas não
estão fáceis.
Fisicamente é enjoo, sonolência e cansaço. Emocionalmente tudo é
muito pior.
Estar no mesmo ambiente que Alex me maltrata, ter que contar com a
blindagem de Caio é desgastante.
A todo momento ele tem que intervir para que eu não participe de
reunião, impor seu poder de vice-presidente para que o contato entre Alex e
eu não aconteça.
Porra, não sei o que este idiota quer. E na verdade sei. Ele quer me
humilhar, me abalar com sua presença, ele quer me imputar ainda mais
sofrimento.
Mas felizmente até mesmo nosso contato individual é quase inexistente,
pois até mesmo quando ele se dispõe a vir até este andar, sou avisada por
Isadora e logo dou um jeito de ir na copa, no banheiro ou em qualquer outro
lugar em que possa ficar distante da presença que tanto mal me faz, que
tanto machuca meu coração.
E quando ele encontra meu lugar vazio, reclama para Caio, alegando
que estou fazendo corpo mole, que talvez o melhor seria ele trocar de
secretária. Tudo para me fazer mal, para me prejudicar. Felizmente meu
chefe protege-me, defende-me. Por minha condição. Certamente por
valorizar toda minha dedicação e esforço. Principalmente por seu rolo, cada
vez mais firme, com minha colega de apartamento.
E com isso o tempo vai passando. Minha barriga já está aparente.
Com mais de três meses de gestação, meu corpo esbelto já mostra as
mudanças, a barriguinha já é perceptível. Pequena, mas já é notada.
Estou realizando o pré-natal e ouvir o batimento do coração do meu
bebê é certamente uma experiência única.
Claro que a situação não é a ideal e que não ter o apoio e a presença do
pai do meu filho ao meu lado, é algo que me machuca, mas foi opção dele,
desconfiança dele. Talvez por me considerar mesmo uma aproveitadora, por
tudo aquilo que achei estarmos vivendo ser somente ilusão do meu
apaixonado coração.
E não tê-lo ao meu lado nestes momentos é difícil, mas insuportável
mesmo é a sua ausência na minha cama. É ter meu corpo longe do dele, é ter
meu peito sangrando pela impossibilidade de viver meu grande amor. É a
certeza de que nós dois juntos jamais acontecerá novamente, e que meu
neném jamais terá um pai, não porque eu não sei de quem se trata, ou porque
omiti ou enganei, mas simplesmente porque o dito pai não acredita, não
quer, sequer consultou um especialista para ver as possibilidades, as
probabilidades.
Ele achou mais fácil renegar-nos. Achou muito melhor rejeitar-nos.
E assim será.
Aceitarei. Conformar-me-ei.
Não tem jeito. Não havia amor.
Era somente um desejo, que esfriou com a notícia da gravidez. Que
acabou quando eu mais precisei.
E por isso não quero contato, não quero vê-lo, nem me colocar em
situações em que esteja passível de recaída. Pois sei que meu coração é tolo
e meu corpo necessitado. O amor me toma por completo, invadiu-me inteira
e certamente me fará agir de forma errada, equivocada. Sem amor-próprio,
orgulho. Sem medir as consequências.
Por isso apenas me afasto, evito sua presença, evito sofrimentos
adicionais.
Basta as lágrimas que derramo no silêncio do meu quarto. No
aconchego da minha cama.
Enquanto lembranças me invadem, enquanto meu corpo clama pelo de
Alex.
E é uma dor sem precedentes. Pela rejeição insana. Pela saudade que
ameaça me devorar viva.
E nessa hora somente posso agradecer pela vida que trago dentro de
mim, por Deus ter me permitido que não estivesse sozinha neste momento.
Não sei se teria forças ou motivos para seguir em frente.
Pois meu bebê é minha fortaleza, alguém por quem prosseguir.
Continuar.
Minha família. A única de sangue que terei.
Uma parte daquele que amo. Uma parte daquele que destruiu o meu
coração.
E que mesmo depois de tanta decepção, o único que amei e que ainda
amo.
E mesmo que jamais estejamos juntos novamente, o que sinto dentro de
mim permanecerá. Porque é forte demais para que seja arrancado, e porque é
um meio de lembrar que jamais posso me entregar daquela forma
novamente.
Pois não resistiria a outra decepção desta. Porque, mesmo o homem que
aparentava sentir tanto, abandonou-me no momento que mais precisei.

Às vezes acho que não suportarei. De saudade. De querer. De amor.


A cada dia que passa as coisas estão cada vez mais insuportáveis, a falta
de Cecília é como uma dor física que toma tudo de mim.
Não tenho concentração. O trabalho não é importante. Passa longe de
sequer ser interessante. Felizmente a equipe é muito boa, e a Suprema
Essence segue firme, lucrativa, mesmo que seu presidente padeça, que não
consiga atenção e nem ânimo para o mínimo, estando longe de cumprir o seu
papel.
Dias dispersos, sonhando com o que vivemos, buscando uma forma de
encontrá-la. Mesmo que para maltratá-la, para desprezá-la, mas
principalmente para vê-la, para matar um pouco da saudade que tenho dela.
Para ver sua barriga incipiente, que me faz mal, que lembra que Cecília foi
de outro, que não sente como eu sinto.
Os encontros são raros, apesar de eu ir mais vezes do que o necessário
ao seu andar, apesar de eu insistir em tê-la nas reuniões. Mas há uma
blindagem de Isadora, mas principalmente de Caio. Evitando que Cecília
enfrente minha raiva, ou seja vítima da ira descontrolada causada pelo amor
que não consigo arrancar de mim.
E assim seguem os dias, os meses.
Noites insones. Bebedeiras frequentes. O corpo sendo levado a
sucumbir por exagerar na musculação. Buscando ceder pela exaustão,
buscando um alívio mínimo ao corpo e ao coração.
Que não acontece e que infelizmente não quer qualquer outra. Parece
enfeitiçado. Fissurado. Certamente apaixonado.
Mesmo que leve uma infinidade de modelos para a minha sala, que
discuta situações mais do que claras nos contratos firmados e que no fim
renegue a abordagem. Renegue qualquer aproximação. Contato.
Querendo unicamente que Isadora conte. Que Cecília sofra.
Como eu. Ou ao menos que sofra um pouco.
Pois já que não posso acabar com a dor, que eu a divida, que
compartilhe.
Mesmo sabendo que nada melhora o que sinto, mas me alivia pensar
que faço algum mal à Cecília.
Que trago a ela um pouco do que me causa, apesar de saber que
certamente não chega nem perto do que me aniquila, dia após dia. Do que
me destroça, noite após noite.
CAPÍTULO 38

— Acho melhor não ir. Ainda não estou pronta para estar no mesmo
ambiente que Alex.
Digo resignada, mesmo sabendo que o baile anual da empresa é algo
muito esperado. É o reconhecimento do esforço de todos e seria mais do que
justo que eu participasse, assim como é justo a presença de todos que fazem
a Suprema Essence.
— Mas é claro que você vai comigo e com o Caio e ai daquele idiota se
sequer olhar para você!
Isadora está se portando como um cão de guarda, assim como o Caio.
— Você sabe que está falando do seu chefe, não sabe?
Falo com ironia, apenas para tirar o foco.
— Sei e o respeito muito como profissional e lá dentro da empresa. Do
resto, ele não passa de um idiota que ainda vai chorar e muito pelas decisões
que tomou.
Tenta profetizar, mas sei que isso não vai acontecer. Ele foi claro,
enfático e inclusive já está seguindo a sua vida, então as palavras de Isadora
não tem sentido algum.
E sei que ele está seguindo com a vida, pois continua a sair com
modelos magérrimas, principalmente nos eventos que representa a empresa.
Jamais vai sozinho ou demonstra qualquer tristeza. E se isso não for seguir
com a vida, não sei o que seria.
E é a certeza de vê-lo acompanhado que me desanima a ir. A certeza de
que terei uma noite de sofrimento, acompanhando-o com outra, rindo, feliz.
Como se eu não estivesse tão perto, vendo, sofrendo, tão grávida do seu
filho.
Decido externar os meus temores, os motivos de não querer ir a essa
bendita festa.
— Amiga, ele vai estar lá acompanhado e eu...
— E você também vai estar lá muito bem acompanhada!
Faço cara de interrogação, pois de forma alguma eu entendo onde ela
quer chegar.
— Ora, Cecília, claro que garantirei um par para você. E, diga-se de
passagem, um par para mulher nenhuma botar defeito.
— E quem vai querer acompanhar em uma festa, uma mulher muito
grávida de outro cara?
Por mais que o tempo praticamente se arraste, e que o amor e a
decepção que sinto por Alex em nenhum momento jamais tenha esmorecido,
já se passou tempo suficiente para a minha barriga estar mais do que
saliente, para demonstrar claramente todos os seis meses de gravidez que já
completei.
— E mais, eu jamais vou colocar no olho do furacão alguém da
empresa, vai que o idiota acha que o cara é o pai do próprio filho, e decide
aprontar pra cima deste possível candidato a acompanhante. Não, isso tá
fora de cogitação!
Digo firme, não quero dar margem para insistência.
— E quem disse que vai ser alguém da empresa? Há um tempo venho
pensando nisso e consegui a solução ideal. Para você ir ao evento. Fazer um
ciuminho básico. E ainda tirar o atraso, se você quiser.
Olho-a, chocada com o que escuto. Pergunto-me onde ela achará essa
pessoa. Também me pergunto se ela fumou alguma coisa, porque normal ela
não tá.
— E nem me olha com essa cara, pois sei o que estou dizendo. E mais,
que você deve tá na maior vontade, isso deve. Esses seus hormônios da
gravidez, junto com todo esse tempo de abstinência, deve ter deixado você
subindo pelas paredes.
Fico vermelha com sua colocação certeira e nem posso persistir no
assunto, pois as coisas só podem piorar. Bocuda como ela é, capaz de
perguntar se estou me masturbando para tirar o atraso. E pior, se ela
certeiramente perguntar, a cor que tingirá meu rosto entregará o que venho
fazendo nas minhas noites solitárias e doloridas, que são amenizadas pela
agilidade dos meus dedos, e a minha imaginação fértil, que infelizmente
insiste em povoar estes momentos com imagens minhas e de Alex, e estas
lembranças fazem eu atingir o orgasmo rapidamente, e mesmo não saciando
meu corpo completamente, é o mais perto que eu consigo das sensações que
outrora tive.
Então pergunto algo que tenho curiosidade em saber.
— E qual seria essa solução ideal?
— Ora, Cecília, nem eu mesmo sei como você não desconfiou, dadas as
pistas que eu já forneci. Não faça essa cara de santa do pau oco, que de
inocente você não tem nada.
Ela faz uma pausa e sinceramente juro que sequer cogito no que Isadora
está pensando.
— Um acompanhante de luxo. Contrataremos um para ser seu par. Um
lindo, gostoso e que faça Alex Valentin pirar somente por considerar que ele
possa estar envolvido com você e melhor: enlouquecer por imaginar como
sua noite será quente. Uma fornalha.
Fico estupefata. Assombrada com o nível de imaginação da minha
amiga. Porra, ela devia fazer filme, livro, envolver-se com ficção, porque ela
é boa. Muito boa. Embora não seja boa o suficiente para me fazer embarcar
nas suas loucuras.
— Isadora, se você acha que eu...
— Não só acho como sei que vai aceitar, pois você, mais do que
ninguém, merece estar lá. Por todo o empenho, dedicação, esforço e tempo
em ajudar nas conquistas da Suprema Essence. Também deve aceitar para
fazer o idiota do meu chefe provar do próprio veneno, porque se ele pode
desfilar com essas pseudobarbies, você também pode aparecer acompanhada
e, se depender de mim, muito bem acompanhada.
Ela tem um ponto, muito embora não deixarei minha expressão entregar
que ela quase me convenceu. Quase.
— E mais, não vou aceitar que fique aqui sem aproveitar um evento em
que merece estar por direito, para não dar de cara com um imbecil que estará
lá, seguramente acompanhado.
Certamente Isadora sabe como mexer os pauzinhos. Sabe como cutucar
com as palavras certas.
— Você sabe que eu nunca fiz nada nem minimamente parecido. Nem
sei em que site procurar, onde é seguro contratar...
Deixo que ela perceba a única restrição que restou, depois de tudo que
ouvi de sua boca.
E o sorriso que ela dá, mostra que percebeu que estou quase cedendo. E
sei que, ardilosa como é, garantirá sanar o que ainda me impede de aceitar
essa loucura.
— Ah, Cecília, eu não seria sua melhor amiga se já não soubesse sobre
tudo isso. Claro que já pesquisei, já me informei. Sei de valores e sobre
questões de confiabilidade e segurança. Inclusive, conhecendo-a como
conheço, já até filtrei alguns que talvez cairiam no seu gosto, se você não
tivesse entregado seu coração para aquele idiota de terno e gravata.
Fico espantada com o que escuto. Percebo que ela já tinha
esquematizado tudo. Sequer tinha chance de recusar e, se for sincera comigo
mesma, nem quero.
Pois sei que quero e mereço estar lá. Sei que Alex vai estar
acompanhado e claro que não quero parecer abandonada, largada. Quero que
ele acredite que tenho alguém, que estou dando a volta por cima. Que ele
sofra como eu estou sofrendo.
Nada nobre da minha parte, mas sou como sou. O amor me condicionou
a isso, a rejeição dele faz com que ele me desperte estes sentimentos.
Não vou avaliar que tipo de pessoa eu sou por me sentir desta forma,
pois tenho algo mais importante a fazer.
— Você está certa, Isadora. Quero e mereço estar lá. E por mais que
ache isso de acompanhante de luxo uma loucura, essa com certeza não deixa
de ser a melhor opção.
Minha amiga bate palminhas e abre um sorriso gigante, feliz por ter
conseguido o seu intento.
— Eu sabia, Cecília, que você não ia me decepcionar. Não ia fugir da
raia.
Balanço minha cabeça de um lado para o outro. Minha amiga é
impossível.
— E então, pronta para apreciar o cardápio? É cada pedaço de carne!
Nem mesmo eu que a conheço bem, acredito no que estou ouvindo. Rio
de nervoso.
Ela logo abre a tela do celular e se aproxima, cola seu corpo no meu e
diz:
— Você pode babar e desejar todos, mas infelizmente só pode escolher
um!
Nem me surpreendo mais com que escuto. Apenas olho para a tela,
desejando realmente que as imagens mostrem tudo isso que ela está
alardeando.
E não é que os caras são bonitos!
Que são boas-pintas e gostosos!
Muito gostosos!
— Admita que minhas escolhas foram bem interessantes! E pela baba
que está escorrendo do canto de sua boca, sei que será bem difícil optar entre
estas quatro delícias.
Num gesto automático levo minha mão até o canto da boca para checar
esta história de baba. Felizmente minha amiga está muito concentrada
secando os caras para perceber esse meu deslize.
Decido entrar no clima, decido comprar de vez esta ideia.
— Ora, Isadora, temos a noite toda pela frente. Checar cada mínimo
detalhe deles não será trabalho algum.
— Assim é que se fala, minha amiga. Felizmente me adiantei e fiz uma
pasta de cada um. Inclusive tem umas fotos bens sensuais. Parece que a
nossa noite vai ser bem interessante.
Rio, Isadora é demais. Ela nunca decepciona.
A única coisa difícil em toda essa ideia mirabolante que ela teve, vai ser
escolher somente um destes quatro monumentos.
Será uma escolha difícil, mas no mínimo excitante.
E fico feliz por este momento. Por esta noite que destoa tanto das outras
que estou passando.
Quem sabe não seja o primeiro passo. Para sair, conversar e dançar.
Para começar meu processo de cura. Pois todos esses meses é tempo
demais para sofrer. É tempo demais para me martirizar por alguém que
claramente não merece o amor que sinto. Que claramente não me merece e
nem merece a criança que carrego em meu ventre.
CAPÍTULO 39

Não tiro o olho da entrada da festa, apesar de estar com uma linda
mulher ao meu lado, e de certamente a pessoa que desejo ver mais que tudo,
claramente não merecer um segundo olhar meu.
Por ter me traído, por ter me feito sofrer. Por me condenar a essa
existência vazia de dor e solidão.
Que os holofotes não mostram, pois me empenho em aparecer sempre
muito bem acompanhado. Empenho-me a jamais ir a um evento sozinho e
congelar em meu rosto um sorriso fingido, uma alegria muito distante do
meu ser.
E hoje não é diferente. A minha acompanhante nada mais é que um
adorno, nada mais é que um escuro para blindar minha vontade, para
esconder o amor que sinto, para fingir que estou bem, que estou seguindo em
frente.
E isso não poderia ser algo mais mentiroso, não poderia estar mais
longe da verdade.
Porra, sonho com ela, só penso nela, gozo apenas para ela. Sem contato
com outras, sem ao menos tentar. Mesmo que estas que por vezes me
acompanham, insistam em terminar a noite em minha cama, mas meu corpo
renega, não há um pingo de desejo em mim.
Nem por esta, nem pelas outras. Quero somente Cecília, desejo única e
exclusivamente aquela aproveitadora.
E novamente volto ao mesmo lugar, penso nas mesmas coisas. Passo
então a mão na cabeça e tento afastar de mim estes pensamentos, mesmo que
não consiga sequer afastar meus olhos da porta de entrada.
E vejo algo que me tira do prumo, vejo algo que me desmonta
totalmente. Uma visão que há dias ansiava para ter.
Cecília. Linda. Um espetáculo.
Com sua barriga saliente, que lembra tudo que nos separa, que me faz
novamente desejar jamais ter operado, que me faz desejar até mesmo ser
enganado. E tudo para não ter que estar afastado, para não ter que viver sem
ela.
Mas não é isso que fode com tudo, não é isso que me descontrola.
É ela estar acompanhada. É ao seu lado estar um homem, que parece ter
o direito de tocar em suas costas. Ter o direito de ficar ao lado de Cecília. Na
hora sinto vontade de avançar, sinto gana de matar. Dou tudo de mim para
permanecer onde estou.
Parado. Inerte. Como um dois de paus. Os olhos bebendo desesperados
a imagem da mulher que domina todos os meus pensamentos, que ocupa o
meu coração. Tendo total consciência de que ela não está sozinha, morrendo
porque ela colocou outro em meu lugar, e infelizmente isso aconteceu
mesmo antes de terminarmos.
Um aperto sutil em meu braço lembra-me que também não estou
sozinho, mas infelizmente esta e nenhuma outra foi colocada no lugar de
Cecília. Nem na cama e muito menos no coração.
— Querido, aconteceu alguma coisa? Você está tenso!
Claro que todas as emoções que minha ex-secretária me desperta seriam
percebidas. Minha expressão fechada e a tensão em meu corpo não
passariam despercebidas. Principalmente para Bia, que já esteve em minha
cama e ao meu lado em eventos mais vezes do que eu poderia contar.
Mesmo que agora seja apenas encenação e que ela já tenha percebido que
estou atualmente fechado para balanço.
Como não respondo, ela continua:
— É ela, não é? A mulher grávida.
Faço cara de desentendido, tentando não ter que falar sobre Cecília para
ela. Pois é humilhante. É doloroso. É devastador.
— Ora, meu querido, eu sei que tem uma mulher na parada. Por isso
não rolou mais nada entre nós, e estes sorrisos que parecem congelados em
sua face, são mais falsos do que uma nota de três reais.
Bia é sagaz e esperta. E me conhece. Claro que perceberia que estou
diferente. Que não rejeitaria sexo se pudesse.
— Vocês tiveram algo?
Solto um suspiro profundo e apenas confirmo com a cabeça.
— E parece que as coisas não acabaram bem, não é?
— Não poderiam ter acabado de forma pior.
— Alex, se você quiser podemos nos afastar, ir para longe ou...
Ela faz uma pausa dramática e apenas espero.
— Ou podemos ficar próximos, fazer ciúmes, tentar causar nela o
mesmo mal que causou a você.
Isso é visível. Nem é preciso ser um expert em Alex Valentin para
perceber que estou diferente. Triste. Destruído.
E decido aceitar a oferta, não porque ache que lhe afetarei, pois vejo
seu sorriso brilhante, meus olhos não conseguem desviar de sua face
radiante. Aceitarei porque preciso estar perto, preciso de qualquer migalha
depois de meses sendo evitado. Depois de meses apenas sobrevivendo.
— E não será nem um pouco difícil, visto que está próxima de Caio.
Acho que podemos fingir um pouquinho. E que podemos sim nos aproximar
do grupo.
Tudo que quero. Morro por esta proximidade.
Somente tenho que disfarçar esta minha necessidade. Não preciso
demonstrar o quanto estou fodido.
Por isso digo com a voz calma, como se o coração não estivesse
enlouquecido em meu peito.
— Vamos para junto deles. É até esperado que sejamos um grupo. Caio
é meu vice-presidente e amigo pessoal, nada mais normal do que
comemorarmos o excelente momento da empresa, juntos.
Meu discurso coerente engana zero pessoas e isso sequer é importante.
Não quando ela ri satisfeita com minha resposta e quando nossos pés
fazem o percurso na direção em que Cecília está.
E a cada passo dado, as sensações apenas aumentam. A boca seca, o
coração ensandecido, os tremores involuntários que Bia será incapaz de não
perceber. E não me importa, nada mais me importa.
Apenas meu olhar fixo no dela. Apenas a interação que nenhum de nós
é capaz de fugir, de negar.
Que dizem tantas coisas, que mostram tantas mágoas e ressentimentos.
Mas que não conseguem disfarçar o sofrimento e nem conseguem
esconder o sentimento.
Apesar dela ter colocado uma gravidez entre nós. Dela ter se envolvido
com outro, quando eu apenas sabia ser dela.
Como ainda sou. Invariavelmente ainda sou.
E por tudo isso a noite não será fácil. Certamente uma provação.
Mas não sofrerei sozinho. Tentarei, com tudo de mim, infligir a Cecília
alguma dor.
Machucá-la, enciumá-la.
Levá-la ao inferno. O lugar onde ela me colocou.
O local onde permaneço, onde não tenho qualquer esperança de sair.
Nem agora. Nem jamais.
CAPÍTULO 40

Não acredito na audácia. Na deliberada afronta.


De se aproximar, depois de tudo. E ainda trazer pendurada no seu braço
alguém que certamente aquece sua cama. Alguém que ocupou meu lugar.
E não sei se suportarei, se resistirei.
Tudo em mim entra em ebulição. Combustão. Tudo em mim é emoção.
E minha filha sente. Nossa filha vigorosamente se manifesta.
Sim, estou grávida de uma menina. Mesmo que ainda não tenha dito
que já sei o sexo e que já sei há algum tempo. Apenas não quis que alguém
soubesse antes do pai, apenas queria que ele fosse o primeiro a saber.
Como se ele se importasse. Como se ele reconhecesse a criança que
fizemos, em noites tão cheias de sentimentos, como sua.
Talvez, por tudo que vivemos, ainda achei que devesse algum tipo de
lealdade a Alex. Talvez por senso de justiça, ou mesmo por todo o amor que
carrego dentro de mim.
Mas a linda mulher que ele traz junto a si, apenas confirma que sou
uma idiota e que jamais estaremos juntos novamente.
Pois ele não faz nenhuma questão de me ter ao seu lado e a nossa filha
tampouco é importante para ele.
E percebo que meu senso de lealdade está distorcido, e que a única que
o merece é Isadora, e porque não Caio. Decido que ainda esta noite eles
saberão, que tão logo tenha uma oportunidade, contarei que serão padrinhos
de uma menina.
Mas não será agora, pois Alex está perto. Perto demais.
Não desviando o olhar do meu um instante sequer. Dizendo sem
palavras coisas demais.
Uma conversa muda, carregada de sentimentos, muito embora a
maioria deles sequer sejam bons.
Mas isso não importa. Nada disso importa.
Não quando ele já está entre nós. Quando sua voz se faz ouvida e mexe
com tudo dentro de mim.
— Boa noite!
Todos respondemos, mesmo que a educação não prevaleça e que as
apresentações não aconteçam. Não me esforço para apresentar Lucas, e ele
tampouco a mulher que lhe acompanha.
Mas sei de quem se trata, pois é famosa, todas elas são. As que
apareceram antes de mim. E certamente as que surgirão depois do que
vivemos.
Muito embora não ficaria sem este conhecimento, pois Caio também é
amigo da loira.
— Ah quanto tempo, Bia!
E dá um abraço nela, algo que não deixa Isadora nem um pouco
satisfeita, muito embora a única que tenha motivos para insatisfação seja eu,
pois é na cama de Alex que a tal Bia terminará a noite, e não na de Caio.
Embora eu não tenha direitos, e não os tenha há muito tempo.
— E quem é sua linda acompanhante, Caio?
— Desculpem a indelicadeza. Bia, esta é Isadora Vasconcelos. Isadora,
esta é Beatriz Molina.
Sem delongas. Sem rótulos. E vejo que minha amiga murcha, sei que
ela já está em seu limite. Certamente se Caio continuar com esta negação,
ele perderá a chance de ter essa mulher incrível ao seu lado.
Muito embora isso não impeça minha amiga de ser educada. Cortês.
E de repente estão sobre mim as atenções, a modelo direciona para mim
sua aparente simpatia.
— E estes tão grávidos, quem são?
Engulo em seco. Quero desmentir a paternidade que imputa à minha
filha, mas não quero ser a grávida abandonada.
Isadora impede que eu tenha a opção de escolha, quando diz:
— Estes são Lucas e Cecília.
Ela nos cumprimenta efusivamente, enquanto observo o olhar de Alex
mudar para algo parecido com dor, desespero. Por talvez acreditar que meu
silêncio confirme suas suspeitas sobre não ser o pai de minha filha, por
talvez imaginar que estou com o homem que supostamente o traí.
E mesmo que me doa constatar que sofre, sinto-me satisfeita por saber
que também dói nele, por perceber que não sofro sozinha.
Pode parecer mesquinho e pequeno da minha parte, mas sou humana.
Porra, sou feita de carne e osso. E coração.
Que sangra. Que clama.
De amor e de saudade.
— Alex, como sempre a organização da festa está impecável!
Visivelmente meu chefe tenta puxar assunto com ele. Busca impedir a
troca intensa de olhares entre nós.
E ele desvia momentaneamente a vista. E fala.
E ouvir sua voz novamente me remete à lembranças demais. Envolve-
me numa espiral de recordações que me tira o prumo, o senso de realidade.
Levando-me aos sussurros, às palavras ao pé do ouvido. À
cumplicidade e à amizade. De uma época perfeita e que não mais voltará.
E perco-me em suas explicações, na verdade pouco acompanhando o
que é dito, mas bebendo o som que sai de sua boca.
— E você, Cecília, está com quantos meses de gravidez?
A modelo pergunta e de repente tenho olhos demais sobre mim.
— Quase sete.
Alex torna a me olhar, me secar.
E novamente nos perdemos um no outro. Parece até estarmos sozinhos.
— Já sabem o sexo do bebê?
Claro que a acho metida, invasiva. Até mesmo por estar com o homem
que amo, principalmente por isso.
Mas decido que fornecerei a informação que quer saber. Decido contar
ao pai da minha filha o sexo da criança que carrego em meu ventre.
— Uma menina. Estou grávida de uma menina.
Posso ter me omitido quando permiti que ela associasse a Lucas a
paternidade da minha filha, mas não serei mentirosa ao ponto de dizer tal
coisa. Por isso o singular.
E é isso que essa criança é. Minha. Até porque o próprio pai a rejeitou,
nos rejeitou.
— Uma menina?
Diz Isadora. E percebo a alegria e porque não a incredulidade por ser
uma informação ainda não compartilhada. Não me sinto bem por saber que
escondi isso dela. Deles. Que me apoiaram, me blindaram e defenderam da
maldade e da ira do homem que amo.
Olho-a então envergonhada, com um pedido de desculpas explícito.
Ela apenas me abraça. Feliz. Minha amiga, acima de tudo.
Recebo os cumprimentos também de Caio e da modelo. E dele.
Que diz, simplesmente:
— Parabéns, Cecília.
Sem alegria. Como se lhe fosse doído tocar no assunto. Dolorido.
Respondo, laconicamente:
— Obrigada, senhor.
A distância e a formalidade que existe hoje e que sempre existirá.
Que me faz mal e também o faz a ele.
E por tudo isso sei que essa noite não será fácil, que mais será uma
provação.
E infelizmente nada é tão ruim que não possa piorar.
Pois toca uma música. Romântica.
E muitos casais se direcionam para o espaço destinado à pista de dança.
Então o inesperado acontece, o improvável.
— Cecília, aceita dançar comigo?
Estende a mão. Temeroso. Vacilante.
Não sou convidada por Lucas, tampouco Alex convida sua
acompanhante.
Ele me convida, talvez queira me testar. Ou enlouquecer-nos.
Mas não sou medrosa, nem fraca.
E por isso estendo a mão.
Ansiosa pelo contato. Fria, devido todo o sentimento que tenho dentro
de mim.
— Por que não, senhor?
E mesmo me achando louca pela decisão, mal posso esperar pela
oportunidade de estar em seus braços novamente.
Mais uma vez, nem que seja uma última vez.
Pois posso não ser fraca, mas sou apaixonada.
Certamente ainda sou muito apaixonada por Alex Valentin.
CAPÍTULO 41

No momento em que fiz o convite me achei louco. Insano.


Por me permitir tamanha provação. Por deliberadamente me colocar
nesta situação.
Mas daí veio contato, senti novamente sua mão na minha e, mesmo
sabendo que tudo isso é uma loucura, cheguei à conclusão que tudo isso é
certo, é a coisa mais correta a se fazer.
E nenhum dos dois fala nada, enquanto caminhamos para junto dos
outros casais. Os corpos tensos, um contato há muito reprimido, desejado.
E finalmente estamos dentre os demais, finalmente a tenho novamente
em meus braços. Aperto-a o máximo que posso, suspiro porque me é
impossível guardar somente para mim todas estas sensações.
Ela amolece e também suspira, pois tudo é muito intenso, as emoções
dominam totalmente nossos atos.
E, mesmo com a barriga proeminente, os corpos se encaixam como dá,
o contato é mais do que satisfatório.
Lembra uma época boa, perfeita. Noites quentes, cumplicidade a todo
instante, o coração repleto de um amor maior que tudo.
E que não se acabou. E infelizmente parece jamais ter fim.
E que me leva a cheirar, fungar e beijar. O pescoço, o ombro a face.
Sei que devemos ser motivo de atenção, devemos ter sobre nós todos os
olhares. Mas sequer posso confirmar, pois meus olhos estão fechados, estou
perdido no momento, pouco me importando com o espetáculo que estamos
fornecendo.
Ela procura uma proximidade maior, eu busco não deixar nenhum
mísero espaço entre nós. Até que digo sôfrego, pois é impossível conter as
palavras:
— Ah que saudade, Cecília! Saudade demais!
E quando não suporto mais não provar sua boca, eis que a música
termina, eis que tenho que soltá-la. Atordoado. Perdido. Totalmente
desnorteado.
E abro os olhos e vejo que ela abre os dela. Com dificuldade. Parecem
pesar uma tonelada.
E vejo tudo. Vejo aquilo que trago dentro de mim.
O querer. O desejo. O sentimento.
E tenho vontade de perguntar por que ela fez isso conosco. Perguntar se
há alguma chance desta criança ser minha, mesmo que o saiba impossível.
Mas o que mais tenho vontade de dizer é que aceito. As duas. Pois se
para ter Cecília preciso ser o pai da filha que carrega, serei. Mesmo que me
machuque, mesmo que me aniquile saber em que condições esta criança foi
concebida.
E decido acabar com minha angústia, meu suplício.
Decido pedir, ou até mesmo implorar.
— Cecília...
Mas não tenho chance de continuar, de abrir meu coração.
— Tive que comprovar com meus próprios olhos que era você!
Diz Fernando Gonçalves. Dirigindo-se a Cecília. Sequer me
cumprimentando, o que não me causa incômodo algum, pois no mundo
empresarial, o CEO da metalúrgica Gonçalves, é alguém a quem prezo
muito pouco.
— Senhor Gonçalves!
Percebo o susto, mas também o medo.
E já fico de orelha em pé, imaginando o motivo de tanta tensão.
— Parece que você se deu bem, né? Você não poderia ter achado um
melhor partido para ser o pai do seu filho.
Diz olhando para a barriga de Cecília e o olhar é doentio, maldoso. E
me faz mal, faz-me posicionar em frente à ela e dizer:
— Acho que não é da sua conta quem é o pai do filho de Cecília, não é
Gonçalves? Quem você pensa que é para...
— Sou o antigo chefe dela, então acho que não há mal nenhum em me
informar em quantas anda a sua vida.
E aí está o motivo da retração, do silêncio e do aparente temor de
Cecília. Gonçalves é o antigo chefe. O abusador, que a obrigou a vestir-se
como vestiu-se. Que a expôs e a impeliu a denunciá-lo, mesmo que
infelizmente o poder, a riqueza e a influência deste cretino levou a vítima a
ser desacreditada, e porque não desmoralizada.
— Então foi você, seu infeliz! Eu vou acabar com a sua raça!
E já o pego pelo colarinho, preparando-me para esmurrá-lo. Para matá-
lo.
Mas antes que eu concretize minha necessidade, uma Cecília nervosa e
extremamente pálida se aproxima.
— Por favor, Alex, não! Ele não vale a pena!
A voz chorosa. A mão trêmula e fria em meu braço. A atenção de
muitos já totalmente focada no início de confusão que se formou.
Mas estou pouco me fodendo para a repercussão negativa, ou para as
possíveis reportagens, o que me faz soltá-lo, empurrá-lo para longe de nós é
o toque aflito, angustiado. A face que implora e a palidez que me faz temer
que Cecília a qualquer momento desmaie.
O que me faz conter o meu ímpeto de sangue, são as necessidades da
mulher que amo. É a forma como pede, como quer a qualquer custo evitar a
confusão.
— Saia daqui e nunca mais se aproxime de Cecília. Você sequer tem o
direito de estar aqui, é uma festa privada...
— Estou acompanhando uma das diretoras...
— E ela sabe com quem está se envolvendo? Sabe que você não passa
de um abusador...
— Alex, pare!
A voz baixa, trêmula, arfante. E o amor que sinto impele-me a focar
somente nela. Impele-me a trazê-la para os meus braços.
Aperto-a, abraço-a como se não houvesse um mar de desentendimentos
entre nós, como se nosso amor não fosse impossível. Tentando acalmá-la,
apenas tentando fazê-la entender que tudo vai ficar bem. Porque vou cuidar
dela agora, protegê-la. Porque vou fazer este amaldiçoado aprender a nunca
mais abusar de uma mulher. Este infeliz vai pagar por todo o mal que fez a
Cecília e a tantas outras, pois a partir de hoje moverei céus e terra para ver
este maldito atrás das grades.
Vejo com a minha visão periférica que ele inteligentemente se afasta,
certamente preocupado com o que sei a seu respeito.
Os curiosos pouco a pouco se dispersam e sei que já proporcionamos
fofocas para as próximas décadas. E isso pouco importa, a única coisa que
quero e preciso é tirar Cecília daqui.
Então afasto-me minimamente, não sem pesar e digo:
— Vou tirar você daqui! Vamos para um lugar tranquilo onde...
— Não podemos, temos que voltar para onde os outros...
— É por causa dele, não é? Por causa daquele cara que você rejeita...
— Alex, você também está acompanhado, claro que você não pode
abandonar...
— Eu quero que essa festa exploda, eu estou pouco me lixando para a
Bia ou para qualquer um que não seja você!
A verdade. Nua e crua. Dita com sinceridade. Com todo o sentimento
que é incapaz de ser contido.
Mas talvez ela não possa, ou queira ir. O cara. O provável pai da
criança que carrega.
E então faço a pergunta. Temeroso. Apenas um fio de voz.
— Você quer ficar com...
E sinto os seus dedos em meus lábios, vejo que ela quer impedir que eu
traga ainda mais sofrimento para nós.
— Eu quero ficar com você! Preciso muito ficar com você!
E de repente sinto-me completo. Feliz, como há tempos não me sentia.
— Hoje. Ao menos hoje.
E a realidade se abate sobre mim e ameaça me levar novamente para o
inferno no qual tenho vivido desde que nos separamos. Mas resisto, luto.
Para viver o agora, para aceitar o que ela está me propondo.
Pois não é o que quero, mas é o que me é oferecido.
E embora não seja nem minimamente suficiente, é algo que preciso,
assim como necessito do ar para respirar.
E não respondo, apenas a pego pela mão.
E a levo para longe dele, afasto-me o máximo que consigo de Bia.
Distanciando-nos de todos e de tudo que possa ficar entre nós, pois já
temos fantasmas demais, já temos impedimentos demais.
Mas esta noite isso não será considerado, lembrado.
Porque se só tenho este instante, farei com que seja eterno, ao menos
enquanto dure.
Mesmo que meu desejo é que fosse por todo o tempo que eu respirasse.
CAPÍTULO 42

Silêncio, os dois perdidos nos próprios pensamentos.


E há tanta coisa a se pensar!
A presença de Fernando Gonçalves, Alex ter somado dois e dois e ter
chegado à certeira conclusão, termos abandonado as pessoas que nos
acompanhavam, estarmos indo para o apartamento que por vezes fui tão
feliz.
Sim, estamos indo para lá. Na verdade estamos a poucos metros de
chegarmos.
— Acho que merecemos uma trégua. Na verdade, precisamos.
E claro que sei do que ele fala.
Da dor. Do sofrimento. Da saudade.
E apenas aceno, pois seu comentário não poderia ser mais verdadeiro.
Palavras agora apenas nos levariam a lembranças e situações dolorosas.
Chegamos. Entramos na garagem e ele estaciona em uma das suas
vagas.
Alex desce e logo se posiciona para me ajudar.
Toques cuidadosos e um segurar na mão talvez inesperado, mas por
demais necessário.
Para não me sentir usada, descartável. Para me sentir querida. Preciosa.
E ele me traz para os seus braços tão logo entramos no elevador.
Carinhoso. Como precisamos.
Depois dos desencontros do passado. Dos encontros de hoje.
Um alisar de corpos despretensioso, mas que mexe, que acende. Que
causa rebuliço.
E logo o elevador sinaliza que chegamos, e o coração palpita por saber
o que virá.
Caminhamos novamente de mãos unidas e isso afasta medos e temores
momentâneos. Também quero o instante, preciso deste alento até mesmo
para continuar.
Entramos e logo ele nos leva para o sofá. Senta-se e me coloca em suas
pernas.
— Cecília, Fernando Gonçalves foi o cara...
Coloco o dedo na sua boca. Não quero que diga as palavras.
Mas respondo o que quer saber, meu balançar de cabeça confirma suas
suspeitas.
— Eu vou acabar com a raça daquele maldito!
— Não quero falar sobre isso, não quero lembrar.
Ele acena, disposto a encerrar o assunto.
— Você está certa. Nem deveria ter tocado no assunto. Na verdade
minha obrigação é fazer você esquecer tudo isso.
E seu olhar desejoso diz como isso acontecerá. Seu olhar lascivo mostra
exatamente o que se passa em sua cabeça.
E a espera acaba. Finalmente acaba.
Depois de meses longe do seu gosto, do seu sabor único, finalmente
tenho sua boca novamente na minha. E é como eu me lembrava, embora
certamente melhor.
Uma miríade de sensações, um turbilhão de emoções.
E quando as línguas se enroscam, tudo em mim se acende, o desejo
varre qualquer outro pensamento. Restando basicamente ele, que duela com
o amor que ameaça me engolfar.
É tempo demais sem qualquer contato. Uma eternidade longe dele.
E logo perdemos totalmente o controle. Os gemidos são descontrolados,
a respiração curta, a pegada sôfrega.
E esfrego-me como posso, pois a vagina já está úmida e o seu pau duro.
Muito duro.
Sempre foi assim. Instantâneo. Avassalador.
E quando acho que acontecerá aqui, e que somente tiraremos as peças
necessárias, eis que ele afasta nossas bocas, não sem pesar. Não sem esforço.
E arfando, Alex diz:
— Vamos para o quarto. Você está grávida. Temos que pensar no seu
conforto.
E surpreendo-me com seu cuidado. Ganha uns pontos comigo, depois
de ter perdido toda e qualquer credibilidade. De merecer somente o meu
desprezo, mesmo que os acontecimentos desta noite atípica tenham nos
trazido até aqui.
Meu coração apaixonado tenta iludir-me ao achar que pode ser
diferente, que nem tudo está perdido. A razão me obriga a focar no agora,
em aproveitar um instante que talvez jamais se repetirá.
E sou impedida de cogitar o que quer que seja, pois logo estou
novamente sobre a sua cama, aquela em que em algum momento foi nossa.
Lembranças. Emoções. Que não superam o que sinto neste instante
quando tenho o seu corpo sobre o meu. Protegendo minha barriga, mas
garantindo o contato que mais preciso.
E em meio ao desejo alucinado, a fricção descontrolada e as mãos que
massageiam incansavelmente os seios pesados e por demais sensíveis, eis
que escuto em palavras o cuidado, que ultrapassa até mesmo o desejo
indisfarçável e urgente que Alex não consegue negar.
— Será que não vai machucar a bebê? Você perguntou a sua médica se
é seguro?
Olha-me ansioso, louco que eu garanta que possamos continuar.
Resolvo ser sincera, resolvo diminuir nem que seja minimamente o
sofrimento que nos acompanha por todos esses meses.
— Acredito que não machuca, mas na verdade não perguntei. Achei
desnecessário, visto que faz tempo que não transo com ninguém e nem
pretendia.
Ele custa a entender e decido que ouvirá a sentença com todas as letras.
Muito embora não acredite, certamente até mesmo duvide.
— Depois que terminamos não transei com ninguém. Faz tempo que é
só você!
Ele parece satisfeito com o que escuta. E parece que também tem algo a
dizer.
— Também não fiquei com ninguém. Tem fotos, braços dados com
outras mulheres, mas não houve beijos, não houve nada.
Aparentemente está envergonhado, por ter que admitir isso. Confessar
que mesmo depois de tudo, ainda não seguiu em frente.
E não tenho mais tempo para reflexões ou suposições, pois sua boca
toma novamente a minha. Lentamente, como se me adorasse. Com devoção.
As peças de roupa pouco a pouco vão sendo retiradas, as mãos
vagueiam por todos os cantos. O contato íntimo finalmente acontece e nada
mais parece ser importante.
Queria ter sua boca em mim, queria levá-lo à loucura com minha
língua, mas a penetração se faz imperativa e não se é possível esperar mais
um instante sequer.
E logo sou novamente preenchida por ele, encontro novamente meu
lugar no mundo. Fecho os olhos, pois o momento é intenso demais. Especial
demais.
Mesmo depois de tudo, mesmo com um universo de coisas a nos
separar.
Neste momento tudo o mais parece distante, errado. Apenas as
sensações importam.
E elas são demais para que possamos ficar calados. São demais para
que nossos corpos permaneçam parados.
E a dança começa. Intensa. Ensandecida.
E as palavras vem. Sem controle. Sem filtro algum.
Falando de um sentimento que sempre existiu. Fazendo-nos lembrar de
tudo que perdemos.
— Que saudade, Alex!
— Sou louco por você, Cecília!
E é pele contra pele. Um vai e vem insano.
Palavras desconexas. Beijos luxuriosos. Seu pau indo cada vez mais
profundo.
Mãos nos lugares certos. Todos os estímulos necessários.
E logo estou perto. Perto demais.
E sua face, sua respiração diz que com ele não é diferente.
E me perco. Nas sensações. Nas emoções.
É sexo. Mas é muito mais.
É amor. Querer. Precisar.
Do amigo. Do pai da minha filha. Do meu homem.
E ele também vem. Goza. Deleita-se.
A expressão mostra que Alex sente. Gosta. Necessita.
As palavras são desconexas, mas as línguas entrelaçadas falam tudo o
que precisa. Mostra que ainda sentimos e que ficarmos separados nos faz
mal, muito mal.
Ao ponto de não nos entregarmos a mais ninguém. Ao ponto de nos
condenarmos à dor e à solidão.
E por isso tudo é aproveitado, é explorado ao máximo.
Ele sequer ousa sair de dentro de mim, enquanto o beijo está bem
distante de acabar.
Pois a realidade está bem ali. Depois do momento. Após a entrega.
E tudo é muito doloroso para que deixemos vir. O sentimento tenta nos
blindar de todo o sofrimento que nos espera.
CAPÍTULO 43

Ter estado com Cecília em meus braços durante a dança, apenas


reforçou o que eu já sabia: que sou apaixonado por ela.
E até por isso eu estava disposto a propor-lhe que ficássemos juntos, e
também por isso era tão doloroso o afastamento.
Estar distante é difícil, quase impossível. É uma dor que me come vivo
e que nada que faço consegue amainar, minimizar.
Mas bastou tê-la novamente para que a cura viesse, mesmo que
momentânea. Este instante e confirmo que não posso mais lutar e muito
menos me afastar.
Nem que tenha que assumir uma bebê que não é minha, nem que tenha
que tentar arrancar de mim esta dor por saber que ela quis outro, precisou de
outro.
Antes era impossível para mim esta concepção. Era impossível para
mim esta opção.
Mas não é mais sobre o passado, sobre o que já aconteceu.
É sobre o restante da minha vida e sobre a minha única oportunidade de
ser feliz.
Pois do contrário serei submetido novamente à escuridão, condenado ao
inferno e sem qualquer oportunidade de dele sair.
E é por isso que, mesmo encontrando-me no paraíso por tê-la em meus
braços, o barulho dos meus pensamentos me faz garantir que não haverá
mais afastamento. Que a partir de agora estaremos juntos e que criaremos
esta criança como um casal.
Então começo a conversa, busco acalmar a agitação que me invade ante
a possibilidade da separação.
— Cecília, precisamos conversar.
Instantaneamente sinto-a tensionar em meus braços, sinto que a trégua
se encerrou.
Ela senta-se na cama. Eu rapidamente me coloco de frente para ela.
Nos olhos o pavor, certamente a dor pelo medo de novamente nos
distanciarmos.
— Cecília, não há como negar que somos loucos um pelo outro!
Sinto que acertei na escolha das palavras e que, mesmo com toda a
ansiedade que me invade, não poderia ter começado a conversa de forma
melhor. E como não é uma pergunta e sim uma constatação, sequer espero
que diga algo, apenas continuo:
— Disse, no calor do momento, que não fiquei com ninguém e é a
verdade, a mais pura verdade.
Reforço o que havia falado anteriormente, pois quero começar do jeito
certo. Já temos fantasmas demais para nos preocupar, não precisamos de
mais.
— Também não tive ninguém, Alex.
Ela apressa-se em repetir o que já havia dito, e na hora um alívio
absurdo me invade.
Fico feliz por suas palavras e mais do que pronto para dar o próximo
passo.
— Não quero mais ficar longe. Quero que voltemos a ficar juntos. Que
sejamos um casal.
Vejo seus olhos brilhando e isso me estimula a continuar.
— Vamos fazer dar certo, Cecília!
Ela se joga em meus braços. De forma espontânea. Depois de tanto
tempo.
Beija minha face. Minha boca. Faz meu coração se encher de esperança
de que tudo vai ficar bem.
Sinto as lágrimas de felicidade, assim como percebo a emoção que
sente. Que certamente sinto.
E essa aceitação de nós, essa chance de recomeço e todo esse carinho
me faz abrir o coração, e me faz dizer da forma mais sincera possível:
— Vou criar a sua filha como se fosse minha, Cecília. Vou amá-la, vou
ser o pai que ela necessita. Ela não precisa do pai verdadeiro, você não
precisa...
Sinto o empurrão. O afastamento. O vazio.
Olho para o seu rosto e percebo a decepção. Vejo lágrimas que
certamente não são de felicidade.
Não entendo!
Jurava que ficaria eufórica. Que entenderia o quanto a amo e que minha
atitude mostraria que quero seguir em frente ao seu lado.
Ser dela. Fazê-la minha.
Formar uma família e esquecer o que passou.
Vejo-a se levantar. De supetão.
Querendo distância. Afastando-se depois da maior prova de amor que
eu poderia dar.
E não entendo nada, mas tenho que buscar respostas. Meu coração
apaixonado já se desespera por vê-la desta forma.
— Cecília, não sei o que falei que possa ter causado tudo isso!
Ela respira fundo e me olha. Vejo a mágoa.
— Alex, você não está entendendo? Você me propõe ficarmos juntos,
começar uma família...
— Claro. É o que mais quero e jurava que isso era também algo que
você queria.
Ela balança a cabeça de um lado para o outro. Como se eu não
entendesse, como se fosse uma briga perdida o que tem a me dizer.
— E é claro que quero. Porra, Alex, eu amo você. Sou apaixonada por
você.
O alívio me invade. Por ouvir as palavras e por confirmar o que nossos
corpos afirmaram ainda há pouco. Que não amo sozinho. Que o que sinto é
mais do que retribuído.
— Eu também amo você e é por isso que não...
— Alex, você não entende como me machuca quando diz que vai criar
minha filha como se fosse sua!
— Droga, Cecília, achei que isso seria a minha maior prova de amor!
Claro que sei que não tínhamos nada sério no começo e que podíamos ficar
com outras pessoas, mas na prática isso magoa, na prática não é fácil saber
que este momento fugaz gerou um fruto que marcará nossa história para
sempre. E apesar de tudo estou disposto a tentar esquecer e a dar tudo de
mim para amar sua filha, registrá-la como minha. A ser um verdadeiro pai
para ela.
O choro é mais visível. Os soluços são mais altos. As lágrimas já não
tem controle algum.
Mas mesmo com este aparente descontrole, ela fala. Cecília diz o que se
passa em sua mente.
— Sabe, Alex, se eu fosse uma mentirosa, uma aproveitadora, eu ficaria
mais do que feliz com sua proposta.
— Cecília, eu não disse...
— Alex, quando você acha que essa filha não é sua, e que em algum
momento eu quis lhe imputar a paternidade do bebê que carrego, mesmo ele
sendo de outro, somente posso imaginar que você pensa o pior de mim.
— Cecília, talvez você estivesse com medo de que as coisas entre nós
terminassem. Temendo que o seu deslize culminasse com a nossa separação.
— Achei que você me conhecesse melhor, que tivesse mais fé em mim.
E mais, achei que este tempo separados, tivesse feito você refletir mais.
Entendido a verdade mais absoluta. A maior certeza de tudo isso: você é o
pai da minha filha.
Ela faz uma pausa e mais lágrimas caem.
Minha mente tenta me fazer acreditar que isso possa ser verdade, mas a
razão me traz de volta à realidade. Tem algo concreto que me impede de
sonhar.
— É impossível, fiz vasectomia...
— Impossível é você falar de chance quando acha que eu mentiria
sobre algo tão grave. Impossível é você falar de sermos uma família quando
acredita que sairia com outro, engravidaria e tentaria empurrar o bebê para
você.
Diz magoada.
Parecendo sincera. Verdadeira.
— Então, se eu fosse esse tipo de pessoa, ficaria feliz com a sua atitude.
E se eu fosse tão sem escrúpulos desta forma, comemoraria este seu gesto
tão nobre, tão magnânimo.
Percebo a ironia, mesmo que sinta que tenha tentado evitar.
— Mas esta não sou eu, e não fiz esta filha sozinha. Ela foi feita em
momentos como este, com todo o amor e sentimento que trago dentro de
mim. Jamais tentaria mentir e omitir quanto a paternidade e achei que você
me conhecesse melhor do que isso, mas parece que eu estava enganada.
A voz sai emocionada e começo a questionar até mesmo a razão, pois
não quero e não posso questionar a mulher que amo.
— E é por isso, Alex, que a resposta à sua proposta é não, pois não
posso ficar com alguém que me acha capaz de tão terríveis coisas e nem
posso deixar você assumir sua filha como se estivesse fazendo um favor,
como se fosse um gesto de amor a mim e ao que sentimos.
Tento dizer algo, tento impedir que ela me destrua desta forma. Mas
antes que eu diga o que quer que seja, ela continua:
— Acho que não temos mais nada a dizer um ao outro.
— Cecília...
— Nada vai mudar o que você pensa, assim como nada do que disser
me fará aceitar a proposta que me fez. Não nestes termos. Não você
pensando tão mal de mim.
E termina de vestir-se, enquanto tento assimilar tudo isso.
Tento pensar em algo, tento consertar as coisas. Impedir que se afaste
novamente de mim.
— Alex, quero que faça um DNA. Faço questão. Não agora, não quero
que minha filha corra risco algum. Quando nascer, pois já que você está
disposto a ser pai dela, talvez pelos motivos errados, quero que você o seja,
mas pelos motivos certos.
Engulo em seco. Temo por este resultado, temo que essa descoberta me
afaste definitivamente da mulher que amo.
Mas tenho algo a perguntar. Urgente. Imperativo.
— E nós?
Ela olha com pesar. Com pena.
Dela. De mim. De nós.
— Você não merece essa pessoa que você acha que sou. E eu,
definitivamente, não mereço alguém que pensa tão mal de mim assim.
E sai. Lentamente.
Do meu quarto. Da minha casa.
E me deixa cheio de coisas a pensar. Questionamentos a fazer.
Sobre a probabilidade de eu ser o pai. Sobre a possibilidade de eu estar
totalmente enganado.
Mas acima de tudo me deixa arrasado. Devastado. Destruído.
Como na vez anterior. Talvez até mais, se é que é possível.
Por novamente não tê-la ao meu lado. Por perdê-la mais uma vez.
Quando o futuro se apresentava tão lindo. Quando ele era tudo que eu
mais queria.
Restando apenas o presente dolorido, esmagador.
Regado a incertezas, dor e solidão.
Mas acima de tudo regado a medo. De não ter acreditado. De ter
acusado.
De ter renegado a minha própria filha e afastado, definitivamente, a
minha mulher.
CAPÍTULO 44

Meus olhos inchados entregam a noite sofrida que tive. Entregam que
houve muito mais choro do que sono e que o amanhecer certamente traria a
imagem de tudo que passei.
Por não poder aceitar a proposta dele. Por ter que abdicar daquilo que
eu mais quero.
E tudo por Alex acreditar tão piamente na ciência, ou por desacreditar
tão facilmente em mim.
Eu que fui leal, amiga e apaixonada, desde o instante em que o conheci.
Muito embora nada disso pareça importante para ele, nem mesmo para
questionar algo tão facilmente esclarecido com um retorno ao consultório do
médico que o operou, algo que uma simples conversa com a minha obstetra
elucidou.
Mas ele achou mais fácil julgar, culpar. Achou mais fácil nos fazer
sofrer, mesmo que essa claramente fosse a opção mais dolorida.
E lembrando de tudo que ocorreu na noite anterior, reconheço seu
sentimento, até mesmo pela proposta que fez, mas este nada vale se não vier
associado de confiança, pois sei que essa situação sempre nos levaria a
outras desconfianças, não seria saudável uma relação iniciada desta forma.
Claro que poderia ter proposto que ele procurasse o especialista que o
operou, mas esta vontade, ou até mesmo esta dúvida sobre o seu julgamento
tem que partir dele, jamais de mim.
E ele sequer tem essa desconfiança, pois foi mais fácil propor criar o
filho de outro do que imaginar que eu pudesse estar falando a verdade, do
que imaginar que eu não seria uma golpista, uma aproveitadora.
Por que quem mais imputaria o filho de outro a alguém com quem
estivesse tendo um lance? E justo este alguém sendo um milionário mais do
que cobiçado?
Alguém com o caráter que ele me atribuiu, e continua a atribuir. Apesar
do amor. Independentemente do sentimento.
Suspiro alto, esmiuçar tudo isso não me levará a lugar nenhum, pois
não me levou durante a noite, e não o fará agora. Apenas posso esperar mais
choro e um inchaço na face ainda mais difícil de ser disfarçado, muito
embora saiba o quanto será impossível esta proeza mesmo da forma que
está.
Mas é o que temos para agora. É a opção que tenho para enfrentar mais
um dia de trabalho.
E assim o farei, porque fui forte por todos estes meses e o serei por todo
o tempo que ainda restar da gravidez.
E depois.
Somente espero não ser necessário ser forte para sempre.
Pois minha filha precisa de mim, mas precisa também de um pai.
Por isso rogo a Deus que ele encontre o caminho até ela.
Claramente já encontrou até a mim, mas não é o suficiente. Talvez o
fosse para a mulher que já fui um dia, mas não para a mãe que sou agora.
Certamente Alex precisa caminhar ao encontro de nós duas.

— Gostaria de saber o que de tão urgente você quer comigo, que sequer
pode esperar chegarmos na empresa!
Caio diz, tão logo abro a porta para ele.
— Porra, cara, você está horrível!
Não contesto. É a verdade.
E não tinha como ser diferente, não depois de como as coisas entre
Cecília e eu terminaram. Por um instante fugaz tive um vislumbre do
paraíso, para ser novamente jogado às trevas, nas labaredas do inferno.
— Achei, otimista como sou, que finalmente vocês se entenderiam, que
deixariam de procurar sofrimento gratuito e certamente evitável. Mas
infelizmente encontro você pior do que estava, se é que isso é possível.
Temo até encontrar Cecília, juro que sequer sei o que esperar depois de ver
essa sua cara de derrotado.
Suspiro, sentindo-me extremamente devastado.
Mas já ouvi demais, não o chamei para isso.
Chamei Caio aqui para me escutar. Aconselhar. Orientar.
Para me tirar deste suplício, para me ajudar a fazer Cecília me aceitar
de volta.
— Senta aí, Caio. Preciso conversar com você. Preciso que me escute.
— Você vai admitir o que sente por Cecília? Vai buscar uma forma de
resolver as coisas entre vocês? Porque, cara, depois que vi vocês dois juntos
ontem, depois da forma como abandonaram seus acompanhantes para
ficarem juntos, nada do que possa dizer me convencerá de que não gosta
dela, de que não é louco por ela!
Pra que negar? Pra que fugir da verdade mais absoluta?
E como posso querer que ele me ajude, se não me abrir com ele? Como
posso esperar que ele me auxilie a sair desta situação fodida, se não for
totalmente sincero com ele?
— Claro que gosto dela! Que sou apaixonado por Cecília! E por isso
essa minha cara, por isso tudo em mim fala de um sofrimento que já não
consigo mais suportar.
Desnudo-me.
E é fácil. E me traz um alívio que me faz bem, mesmo que
minimamente.
— O que não entendo é que saíram juntos da festa, e que parecia que
finalmente se entenderiam.
— E por um momento nos entendemos. Por um instante achei que todo
esse sofrimento terminaria.
Respiro fundo para contar da proposta, para contar nos mínimos
detalhes tudo que aconteceu.
E começo. E ele me escuta, atento.
E discorro sobre como imaginei que minha oferta soaria como a mais
sincera prova de amor, e de como minha proposta magoou Cecília. Como me
senti um verme por ver seu choro, sua decepção. Suas lágrimas.
Em como pela primeira vez duvidei sobre a eficácia da cirurgia que fiz.
E como temo que tenha me equivocado, que tenha estragado as coisas
definitivamente entre nós.
— Caio, claro que queria que esta filha fosse minha, queria mais do que
qualquer coisa na vida. Mas se isso fosse possível, se fosse realidade este
meu sonho, não sei se Cecília seria capaz de me perdoar. Não depois de eu
dizer tão claramente que criaria a filha de outro, não depois de eu jamais ter
lhe dado o benefício da dúvida.
— Porra, Alex, você está ferrado, pois conhecendo Cecília como passei
a conhecer, ela jamais se sentiria tão afrontada com a sua proposta se você
não fosse o pai. Ela jamais se sentiria tão magoada com sua oferta, se não
tivesse certeza da paternidade de sua filha. E mais, ela jamais proporia um
teste de DNA para alguém, se não tivesse convicção do que estava dizendo.
Ela não blefa. Ela é sincera. É autentica.
E é a verdade. Um amigo percebe isso, um chefe também, mas alguém
que diz amá-la, não percebeu.
E talvez seja esse o meu martírio. O meu calvário.
Sinto-me perdido. Sem chão. Sequer sei por onde começar.
— Alex, você deveria voltar ao consultório do médico que o operou.
Ouvir dele as possibilidades. Na verdade você deveria ter feito isso desde o
início. Deveria ter tentado achar uma justificativa para entender o que falhou
e não tentar arrumar um pai para a sua própria filha.
No começo recusava-me a ouvir sobre a gravidez dela, recusava-me a
sequer cogitar que a cirurgia não fosse totalmente segura. Pensava em
traição, revoltava-me por Cecília alegar que a criança era minha.
Mas bastou estar com ela para eu perceber que não posso continuar
como estou. Sozinho. Sofrendo.
Bastou fazê-la novamente minha para saber que seria o pai que a filha
dela precisava, seria o que ela quisesse de mim, desde que a tivesse ao meu
lado.
E sua mágoa e negativa fizeram-me ligar o alerta. Fizeram-me temer
estar errado, temer arrepender-me para sempre.
— E se o médico afirmar que é possível que essa criança seja minha? E
se ele apenas confirmar o quanto estou ferrado?
— E você ainda tem alguma dúvida? Ah, cara, até eu que não conheço
Cecília tão bem, sei que ela não mentiria e principalmente sobre algo tão
sério. E ainda digo mais, não mentiria pelos motivos que você, no início,
cogitou.
Envergonho-me por tê-la comparado com tantas outras interesseiras que
cruzaram meu caminho. Envergonho-me principalmente por ter deixado meu
ciúme me guiar até aqui.
Arrependo-me porque tudo isso apenas me afastou da minha mulher,
apenas me trouxe dor, sofrimento e noites e mais noites insones e solitárias.
Mas tenho que ter atitude. Tenho que tentar virar esse jogo.
— Vou procurar o médico que me operou. Vou dar o primeiro passo
para mudar essa situação.
Caio levanta as mãos para cima. Como que agradecendo aos céus por
eu finalmente mostrar algum juízo.
— E depois vou correr atrás do prejuízo, vou tentar reconquistar
Cecília.
— É assim que se fala, cara. E por favor, faça tudo isso e faça logo.
Falta pouco tempo para o parto de Cecília e ela precisará e muito de você.
Tanto agora, como depois que a criança nascer.
Aquiesço, pois o tempo não corre a meu favor.
— Assuma o seu lugar e suas responsabilidades, porque do contrário eu
serei o único prejudicado com toda essa confusão que criou.
Faço cara de desentendido, porque na verdade não consigo acompanhar
o seu raciocínio.
— Não é à toa que fez tanta besteira! Como você é lento, misericórdia!
— Não estou com humor pra gracinhas e acho que você já percebeu.
Agradeceria se fosse direto ao ponto.
Digo bravo, pois mesmo me vendo bem derrubado, Caio quer forçar
ainda mais a barra.
— Ora, Isadora está reticente em deixar Cecília sozinha, agora que o
parto se aproxima. Imagino que essa proteção e cuidado apenas aumentará
com a chegada da bebê. E isso, querendo ou não, é e será um grande empata
foda no meu lance com Isadora. Então, cara, resolve a situação de vocês e
resolve logo. Assume teu posto na cama e na vida de Cecília. Libera a minha
garota, deixa eu curtir minha Isadora. Estou viciado naquela gostosa.
Nem acredito em tamanho desaforo, mas relevo.
Apenas atino a respeito do que ouvi sobre Caio estar viciado em Isadora
e na mesma hora lembro que foi assim que comecei, e que era assim que me
enganava.
Sei bem o que ele está sentindo e o que vai acontecer.
Mas não vou dizer, pois talvez observar os perrengues do meu amigo
lavem um pouco a minha alma. Talvez observar Caio não me faça parecer
que somente eu fui um cego, um completo imbecil.
Pois não há dúvida de que nós homens somos lentos e idiotas, mas há
também uma verdade absoluta: que quando nos apaixonamos é de verdade.
E, no meu caso, é para sempre. Para todo o sempre.
CAPÍTULO 45

Enquanto o elevador me leva ao meu destino, meu pé bate


descontroladamente no chão.
Por estar nervoso. Agitado. Ansioso.
Como não lembro de já ter estado.
E também não é para menos. Talvez esta noite seja decidido se terei um
futuro feliz, ou se continuarei condenado a este sofrimento, a esta dor.
Armei com Caio e com Isadora para deixar o caminho livre e, mesmo
com muitas ressalvas, consegui meu intento.
E estou indo ao encontro da minha amada, com o coração repleto de
vergonha, arrependimento e muito amor.
Nos braços as flores preferidas dela, Isadora ajudou-me com este
detalhe. Na alma esperança e fé.
De conseguir o seu perdão e acabar com essa distância.
De sermos novamente um do outro. De fazer a proposta que outrora
estava pronto para fazer.
E ir além. Muito além.
Pois a distância e a saudade me fazem querer mais. Tudo.
Dormir e acordar juntos. Ser todo o apoio neste final da gestação e
depois do parto. Ser totalmente seu a partir de agora.
Chego a emocionar-me com estes pensamentos. Com a doce ilusão de
que tudo acontecerá da forma que mais desejo.
Mas infelizmente a chegada do elevador ao meu destino obriga-me a
voltar à realidade. Obriga-me a lembrar que as coisas não serão nada fáceis.
Somente me resta ser forte e lutar por uma nova chance.
Lutar por minha mulher. E por minha família.
E sigo para o seu apartamento. Decidido. Apertando o buquê em meus
braços, implorando a Deus para que as coisas saiam como desejo.
Toco a campainha e o coração falta sair pela boca. Penso que não terei
nervos para esperar que a porta seja aberta.
E quando Cecília a abre, temo não conseguir convencê-la do que sinto,
temo não conseguir resolver as coisas entre nós. Mesmo rastejando e
implorando, como certamente estou disposto a fazer.
— Alex?!
A surpresa, o inesperado de toda a situação.
Eu voltar a procurar-lhe depois de tantos meses. As flores em meus
braços.
— Cecília, preciso muito conversar com você!
Aguardo ansioso a permissão. Percebo que debate consigo mesma sobre
a decisão a tomar.
Felizmente ela é uma pessoa muito melhor do que eu. Que conversa,
que escuta e, principalmente, que não julga erroneamente.
— Mesmo acreditando que já tenhamos dito tudo ontem à noite, você
pode sim entrar um instante e dizer o que ainda precisa me falar que não
tenha sido deixado claro na conversa que tivemos.
Magnânima, mas decidida. Cordata, mas definitivamente não vai deixar
barato.
Mas tenho a chance de ser escutado, e isso é muito mais do que fui
capaz de dar a mulher que amo.
Ela me dá passagem e eu rapidamente entro, temendo que ela mude de
ideia.
— Para você.
Estendo o buquê e mesmo vendo sua surpresa e, por que não, alegria
com o recebido, sinto que não será algo que facilitará a minha vida.
Certamente que não.
— Cecília, ontem falei que queria que fôssemos novamente um casal...
— Eu lembro, Alex, assim como lembro que novamente associou a
paternidade de sua filha a qualquer outro cara e que continuava imaginando
que eu seria capaz de mentir para você de forma tão vil e premeditada.
Ela já fica inflamada, minha atitude de antes a enfurece, desperta sua
ira. Já muda o tom da conversa e não é isso que preciso.
— Você tem razão e isso é algo imperdoável da minha parte. Inclusive
nem sei se sou capaz de me perdoar por todo o mal desnecessário que nos
causei e por ter ficado distante de você e de nossa filha por todo esse tempo.
A voz embarga por, pela primeira vez, reivindicá-la como minha filha.
O coração bate alucinado, meus olhos não perdem um movimento dela
sequer.
E vejo a descrença, a surpresa. E logo depois a esperança.
— Você está dizendo...
— Estou dizendo que depois de termos nos amado ontem, e de ter
ouvido novamente de você que essa filha é minha, deixei-me, pela primeira
vez, ser guiado pela razão e não pelo ciúme. Entendi que você não me devia
fidelidade, naquela época, e que mesmo que houvesse a menor dúvida
quanto a paternidade, você me diria. E que a partir do momento que você
afirma que ela é minha, eu devo somente aceitar e agradecer que o que sentia
por mim impediu-a de ser de outro naquele momento e continuou impedindo
também agora.
E isso é algo que alivia um pouco toda a dor que corroeu minha alma
por todo esse tempo. Saber do seu amor, do seu sentimento. Mas não quero
somente o alívio, quero a chance, a oportunidade. Nem que precise implorar,
rastejar. Necessito ser dela, assim como necessito que seja minha para
sempre.
— Infelizmente, Cecília, eu estava tão envolvido por este sofrimento
todo que sequer me abri ao questionamento, à dúvida. Sequer retornei ao
médico que me operou para obter alguma resposta. Por vezes pedi para que
jamais tivesse feito essa maldita cirurgia para não ter que questionar, para
não ficar longe de você. Apesar de idiotamente continuar achando que essa
criança não era minha, apenas queria qualquer desculpa que me permitisse
continuar ao seu lado.
Desnudo-me. Mostro até onde vai o que trago dentro de mim.
— Estava cego pelo ciúme, mas a forma como fizemos amor, como
você afirmou que somente foi minha, mesmo após a separação, e que negou
a minha oferta de ficarmos juntos por eu não acreditar na paternidade da
nossa filha, fez com que a ficha finalmente caísse. Fez com que eu me
debatesse toda a noite, conversasse com o Caio. E que eu fizesse algo que
deveria ter feito logo que você descobriu a gravidez: procurasse o cirurgião
que me operou. E isso eu deveria ter feito ao seu lado, para que ele nos
explicasse cientificamente como esse milagre foi concebido, como, mesmo
eu tendo optado por não ser pai, Deus, em sua infinita bondade, permitiu que
eu fosse capaz de construir uma família, apesar de eu não ter tido a
sensibilidade de entender, compreender. De agradecer.
A voz embarga, os olhos ficam úmidos.
Mas não posso parar, não posso me dar ao luxo de tentar me acalmar.
Tenho que aproveitar sua emoção, aproveitar que ela está me deixando
desnudar meu coração, sem rancor, sem ironia ou julgamento. Coisa que é
bem mais do que eu fui capaz, pois de mim ela só teve acusação, injustiça e
perseguição.
E somente posso me apresentar diante dela envergonhado e
constrangido. E é assim que falo sobre o que o médico me explicou.
Com humildade e vergonha falo que o método, mesmo sendo um dos
mais seguros, tem suas falhas. E que o fato de termos transado sem
camisinha, nos primeiros meses após a cirurgia, apenas potencializou os
riscos. O médico também me explicou que pode haver uma recanalização
espontânea dos canais que foram separados cirurgicamente e que isso é algo
que também pode justificar este milagre. E claro que o fato de não ter feito
nenhum espermograma após o procedimento, somente me deixou às escuras
quanto ao momento exato em que posso ter deixado de produzir
espermatózoides, ou até mesmo quanto ao sucesso da cirurgia.
Digo tudo que ele me explicou e mostro que em todo o tempo eu estava
errado, principalmente por sequer me abrir ao diálogo, dando espaço apenas
para o meu ciúme e o meu julgamento.
— Toda a minha solidão e o meu choro poderia ser evitado com uma
conversa. Bastava apenas que você acreditasse em mim, que não me visse
como uma golpista.
Ela diz e a voz traz o tom do choro, da dor. Traz a mágoa e na hora
temo que ela não seja capaz de me perdoar, de nos dar uma chance.
— Perdão, meu amor, perdão! Por ter sido cético, ciumento. Por ter
deixado minhas experiências anteriores nublarem o meu discernimento,
afetarem a forma como lhe enxergava, a forma como obrigatoriamente
deveria lhe conhecer, pois convivia com você, confiava a você toda e
qualquer decisão profissional, entregaria a você qualquer deliberação da
empresa e, quando mais precisou, não confiei em sua palavra. Por medo,
insegurança, ciúme. Culpo a decisão que tinha tomado. Culpo o sentimento
que tinha descoberto. Tudo isso me deixou inseguro, fraco. Até mesmo para
reconhecer em suas palavras a verdade absoluta, era a minha obrigação. Mas
infelizmente na hora fiquei cego, maluco e estraguei tudo. Estraguei e me
afastei da melhor coisa que já me aconteceu.
Ela escuta tudo, mas não parece convencida. Mesmo eu falando de
coração, percebo que Cecília tem muitas ressalvas, e não sem motivos.
Noto também que ela precisa entender tudo, e que não disse com todas
as letras a decisão que tinha tomado naquele fatídico dia.
Mas antes que eu fale, ela questiona:
— E que decisão você tinha tomado? A que se refere...
— Lembra que você tinha dito que tinha algo a me contar e na hora eu
também falei que tinha que conversar um assunto com você?
Ela assente, esperando que eu continue.
— Eu ia lhe propor exclusividade, o rótulo. Já naquele instante queria
que tivéssemos um compromisso, precisava dormir e acordar todos os dias
ao seu lado. Queria que fôssemos um casal. Saí de casa feliz, disposto a
pedir-lhe em namoro e pouco tempo depois meu mundo desmoronou.
Acredito que muito da minha reação desproporcional e irracional também se
deve a isso, mesmo que nada jamais vá justificar meu comportamento e todo
o mal que isso nos causou.
Digo, deixando tudo às claras, não querendo que nenhum mal-
entendido fique entre nós.
— E foi isso que vim fazer aqui esta noite. Tentar me redimir, abrir meu
coração, buscar seu perdão e tentar uma nova chance.
Ela olha-me emocionada, mas nada fala.
Eu sei que chegou a hora, sei o que necessito fazer.
— Cecília, você quer namorar comigo? Quer ser minha, assim como
sou seu? Quer me permitir ficar ao seu lado e ao lado da nossa filha e fazer
de mim um homem honrado, o homem mais feliz do mundo?
Falo apressado, ansioso.
Mas a voz traz a emoção, o sentimento.
Que mexe com ela, pois as lágrimas caem numa proporção cada vez
maior. O corpo aparentemente trêmulo, fazendo par com o meu.
E espero ansioso a sua resposta.
Que pode me transportar diretamente para o céu ou condenar-me a um
sofrimento sem fim.
É este o poder que Cecília tem sobre mim, e seguramente sempre o terá.
CAPÍTULO 46

— Cecília, você quer namorar comigo? Quer ser minha, assim como
sou seu? Quer me permitir ficar ao seu lado e ao lado da nossa filha e fazer
de mim um homem honrado, o homem mais feliz do mundo?
A emoção me toma e eu só sei chorar.
Uma resposta tão fácil e uma vontade tão grande.
Mas infelizmente não é algo que diga respeito somente ao meu querer,
tem a ver com um universo de coisas que precisa ser colocado para fora.
Verbalizado.
E por isso tento um pouco de controle, tento ser capaz de me fazer
entender.
— Sabe, Alex, tudo que aconteceu ontem também mexeu demais
comigo. Inclusive sobre a resposta a estas suas perguntas. A que quero dar.
A que sou capaz de dar.
Vejo-o ansioso e temeroso, enquanto aguarda que eu continue.
— O fato de mesmo depois da entrega de ontem, você ainda continuar a
achar que eu mentiria sobre a paternidade, também mexeu comigo. Afetou o
que vivemos, manchou um momento que somente poderia ser descrito como
especial. Trouxe-me várias descobertas, mas trouxe também decepções.
Respiro fundo para que possa ser capaz de continuar.
— Descobri o seu sentimento e que sou retribuída naquilo que trago em
meu peito, mas também descobri que ainda há desconfiança, que você ainda
acredita que eu seria capaz de mentir sobre algo tão sério, que eu seria capaz
de enganar talvez buscando vantagens e benefícios que sinceramente não me
importam, pois a única coisa que me faz falta é a sua presença, sua
companhia. É você, Alex.
— Perdão, meu amor! Perdão! Por favor não deixe minhas
inseguranças nos condenarem a mais sofrimento, não permita que
continuemos em meio a toda essa dor.
— Alex, também não quero mais viver assim, não suporto mais tudo
isso, mas não é fácil esquecer as palavras, as atitudes. Esquecer que até
ontem você continuava a me achar capaz...
— Meu amor, me perdoe, tudo é novo demais e não fui capaz de
discernir corretamente sobre os fatos, mas juro, do fundo do meu coração
que, ao procurar o médico hoje, já tinha total confiança em você. Juro que eu
apenas queria uma razão científica para tudo, queria entender como se deu
essa dádiva.
Ele faz uma pausa, tentando um pouco de controle.
— Demorei mas entendi que a criança que carrega é minha e por isso
não faremos DNA, é algo totalmente desnecessário, pois essa é uma certeza
que não precisa de prova alguma, precisa somente ser curtida, amada.
Vivida. E eu te imploro que me permita, que nos permita essa nova chance.
Por nós, por nossa filha e pela família linda que podemos construir com o
que sentimos.
Alex diz emocionado e eu não estou diferente.
Quero tanto ceder. Preciso tanto dele. Mas ainda tem algo que me
impede. Tem algo que me assombra.
— Tenho tanto medo! Tudo ainda me machuca tanto!
Digo com um soluço. Ainda há uma barreira derradeira que somente
palavras não foram capazes de romper.
E ele então faz algo necessário. Demais.
Aproxima-se e me toma em seus braços. Abraçando-me. Confortando-
nos.
E sinto seu corpo totalmente trêmulo. Carente. Necessitado.
E sei que ele fala a verdade quando diz o que sente.
— Cecília, claro que sei que não é fácil esquecer tudo o que fiz. Que
talvez o perdão não seja instantâneo, e que muito menos aconteça sem
ressalvas ou temores. Mas, por favor, permita-nos começar o processo. Dê-
me a abertura para estar presente, para cortejá-la, mimá-la. Acompanhá-la
em suas consultas, em todo e qualquer instante que falta para a nossa filha
vir ao mundo. Por favor, permita-nos iniciar o processo de cura, permita-nos
tentar.
Alex implora, com lágrimas na face, com a alma desnuda.
E apesar do medo, do temor, aceitar o que me propõe é o que eu mais
quero. Na verdade é o que mais preciso.
— Vamos devagar, no ritmo que você quiser. Só peço que me deixe
estar presente neste momento, que me deixe tentar conquistar novamente um
espaço na sua vida e no seu coração.
E ele beija a minha face. Muitas vezes.
Com adoração. Em toda e qualquer parte que consegue alcançar.
E serve como bálsamo, e para lembrar que dele sempre quero mais,
quero tudo.
Quero o beijo necessitado que recebo. Quero a língua atrevida na
minha.
Os braços me estreitando cada vez mais, os corpos parecendo que tem
vida própria.
E nenhum dos dois consegue negar tanto desejo, tanto querer.
Mesmo havendo um longo caminho a ser percorrido, e sabendo que a
cura será demorada e a confiança restaurada lentamente, não há mais como
manter a distância ou evitar o contato.
Pois o desejo é latente e a necessidade é premente.
As bocas se afastam, momentaneamente, pois respirar se faz necessário.
E sinto-me mole, lânguida.
Pronta para ceder ao que quer que seja. Pronta para acabar com o
martírio e o suplício em que me encontro. E Alex sabe que talvez este seja o
momento, ou tão somente ele não consiga não insistir, não implorar.
— Meu amor, por favor, diga que aceita que tentemos. Diga que não
será somente mais um instante, que poderei buscar me redimir.
Fecho meus olhos, tentando questionar-me internamente sobre o que
fazer. Lembrando todos os bons momentos que vivemos, relembrando todos
os maus que me fizeram companhia recentemente. E não é uma escolha
difícil, não quando lembro de como as coisas eram perfeitas entre nós e de
como ele parece arrependido e pronto para se redimir.
E a escolha ainda se torna mais fácil quando lembro de como necessito
dividir com ele este momento, de como quero sua companhia e apoio
enquanto gesto nossa filha, enquanto aguardo que venha ao mundo.
— Prometo que serei paciente, que caminharemos lentamente e que as
coisas serão como você quiser. Somente quero estar perto, matar essa
saudade que me consome e demonstrar que posso ser alguém digno de estar
ao seu lado e ao lado da nossa filha.
Não consigo responder, por temor, mas também devido a emoção que
me domina.
Mas posso me fazer entender de outra forma. Singela.
Um balançar de cabeça. Lento. Simples.
Que nos tira do inferno, que traz a felicidade de novo para as nossas
vidas.
— Obrigado, Cecília, sei que não mereço, mas vou buscar ser
merecedor desta oportunidade. Vou ser digno de você e da nossa menina.
— É o que mais quero, Alex. Por favor, não me decepcione.
— Nunca, Cecília. A partir de hoje vou viver para fazer você feliz, para
ser um homem melhor e para ser um pai exemplar. Vou me esforçar para
cumprir o que estou prometendo e para que você jamais se arrependa de nos
dar esta oportunidade.
Ele me dá um selinho calmo, um gesto de carinho, pois não pode ficar
longe. Apenas algo para selarmos esse compromisso, esse recomeço.
E antes que nos percamos nos corpos um do outro, decido desanuviar
toda esta emoção que nos envolve. Decido que merecemos uma trégua das
tristezas do passado e das emoções do presente.
— Estou feliz que tenhamos decidido por tentar, e que tenhamos sido
fortes o suficiente para perdoar e reconhecer nossos erros.
Ele acena fortemente, concordando, certamente vibrando por
novamente estarmos juntos.
— E é isso, Alex. Uma nova chance. Uma oportunidade. Certamente
um treinamento. Onde você terá que levar em conta muitas coisas,
principalmente os desejos e os hormônios de uma mulher grávida.
Digo insinuante, com uma piscadela.
Ele me abraça mais, parece que tudo somente aumenta ainda mais o
querer, a necessidade.
— Seria como um treinamento de aptidão física?
Diz safado, como o libertino que é.
— Mais ou menos isso.
E aperto-me mais contra ele, deixo claro que estou louca para fazer
sexo de reconciliação.
— Ah, Cecília, prometo que serei o melhor e que você nunca terá
motivos para reclamar, principalmente neste quesito. Garanto a você que
sempre deixarei você satisfeita e saciada. Prometo que você terá sempre um
homem apaixonado e louco de desejo em sua cama.
E avança sobre mim. Porque já conversamos demais. Porque o fogo
queima e ameaça nos tomar.
Pois a saudade é intensa e o desejo é urgente.
São mãos, beijos e a busca por contato. Por pele.
São roupas retiradas e a certeza de que jamais chegaremos ao quarto.
E isso não é importante, nada mais é.
Teremos muito tempo para isso, certamente teremos uma vida inteira.
Pois agora estamos juntos novamente, como sempre deveria ter sido. E
como será a partir de agora.
Pois o amor foi maior e o desejo também.
O perdão, bem como a redenção.
Maior que tudo, além de qualquer coisa que não fosse o que sentimos.
Que não fosse nós e a vida que concebemos.
CAPÍTULO 47

Certamente este é o melhor lugar. A cama de Cecília, os seus braços.


Tê-la numa proximidade gostosa, dormindo, enquanto a escuto ressonar
é, sem dúvida, minha ideia atual de paraíso.
Seu despertador dispara e sei que nosso prelúdio precisa ser
interrompido, pois o dever nos chama.
Jamais teria coragem de acordá-la, já cogitava nem sequer pisar na
empresa, mas isso nunca foi uma opção para a minha melhor funcionária.
Apesar de mal termos dormido, apesar de termos nos perdido vezes sem
fim no corpo um do outro. Durante a noite e na madrugada.
— Bom dia!
Ela diz, com a voz rouca de sono. Linda, fazendo-me o homem mais
feliz do mundo, por estar exatamente neste lugar.
— Bom dia, meu amor!
E ela sorri, e me é impossível resistir.
Ao beijo que se segue, ao desejo que já desponta. Louco por um sexo
matinal, por fazê-la novamente minha.
Mas sei que não vai acontecer quando ela me empurra. Cecília é a voz
das nossas responsabilidades.
— Calma aí, garanhão, você já passou com louvor no teste de
resistência física. Agora você terá outros testes para ser avaliado.
Não entendi o que ela quis dizer e minha expressão reflete isso.
— Ora, se não me engano você prometeu ser um poço de paciência e
talvez até um ser superior, e tudo isso para que voltássemos a ficar juntos,
então veremos como o meu namorado se portará diante de tantas promessas.
O sorriso é instantâneo, gigante. Uma mera referência a minha posição
atual e ela me faz feliz como jamais o fui.
— Eu me portarei de acordo com suas necessidades e as da relação que
estamos construindo.
Ela me dá um selinho, certamente feliz com que escuta.
— Então vamos, galante cavalheiro. Não quero me atrasar, meu chefe...
— Estava pensando, Cecília, por que você não retorna à sua antiga
função...
— Não, Alex. Caio me defendeu, apoiou e não é justo que agora que
estamos entrosados, eu o abandone. E mais, o meu ritmo e tudo o mais que
foi prometido está diretamente ligado com a minha rotina e como as coisas
precisarão ser ajustadas, compreendidas e aceitas e um dos pontos principais
é que não voltaremos a trabalhar diretamente juntos.
Diz enfática e sei que são os erros do meu passado voltando para me
assombrar.
E tenho que me policiar, pois sei o que prometi e entendo o quanto tudo
isso é difícil, porque preciso estar ao lado dela todos os instantes do dia. Mas
farei como combinei, serei o namorado que jurei ser.
Mesmo que isso ferre com tudo, mesmo que tenha que trabalhar a
paciência e a resignação.
Ela levanta-se enquanto eu ainda me recrimino por ter nos trazido até
aqui.
Apesar de saber que cumprirei exatamente ao que me propus, mesmo
sabendo que não terei dias fáceis.
Pois o amor que sinto é intenso demais, e a necessidade dela é urgente
demais.
Por isso colherei o que plantei, farei como combinei.
Pois a tenho de volta, tenho o compromisso e isso é muito mais do que
um fodido como eu merece.
Certamente isso é muito mais do que sonhei ao vir aqui na noite
anterior.
Pagando os meus pecados, é isso que venho fazendo. Certamente mais
do que merecido, embora isso não me dê alento algum.
Estamos namorando, mas as coisas são exatamente como propus.
Cecília garante que eu cumpra exatamente o que prometi.
Que tudo aconteça lentamente, que seja no ritmo dela e assim acontece.
Do jeito dela, precisamente como minha namorada quer.
Cecília continua trabalhando diretamente com Caio e mantém sua
rotina da mesma forma como vinha levando. Não participa de reuniões,
contato quase inexistente comigo durante o expediente e raramente aceita
almoçar ao meu lado. E essa distância me põe louco, testa toda e qualquer
paciência.
Claro que todos na empresa sabem que somos um casal, pois me
esforço para que isso aconteça, embora sejam raras as vezes que ela me
permite ficar tão perto como gostaria.
E é porque tenho abusado na criatividade, inventado toda e qualquer
desculpa para ir até a vice-presidência. Também tenho me empenhado por
mimá-la, por tentar agradá-la, mas nada faz com que alivie para o meu lado.
Apareço sempre com flores, chocolates, pelúcias e o máximo que
recebo são piadinhas e chacota por parte de Caio, enquanto Cecília continua
a fazer o que ela faz de melhor: manter-me em banho-maria.
E as noites não são diferentes. Preciso rebolar e muito para dormimos
juntos. Certamente agradeço aos hormônios da gravidez para isso acontecer
com alguma frequência, pois seguramente meu castigo seria ainda maior se
não fosse a libido exacerbada da minha mulher grávida.
Sei que não posso reclamar, apesar de saber que, se me fosse permitido,
estaria grudado a ela por todos os instantes do meu dia. Mas as coisas são
assim e me fazem muito feliz, embora não me conforme por ter me colocado
em tal situação.
Mas só em poder andar de mãos dadas, participar de sua gravidez e
denominá-la minha mulher, já me faz feliz. Só em ser dela e me ser
permitido viver o sentimento, fazem-me ter certeza de que caminharei no
ritmo de Cecília e que aceitaria até mesmo migalhas se isso me garantisse
instantes ao seu lado.

Aperto suas mãos enquanto espero o som, enquanto aguardo escutar o


bater do coração da nossa filha.
As consultas eram quinzenais quando nos reconciliamos e agora, que a
data do parto se aproxima, elas acontecem toda semana.
E mesmo ouvindo o coração da nossa filha a cada consulta, jamais
deixo de me emocionar.
E aí está, o som mais lindo, o que consegue mexer comigo de uma
forma intensa e única. Que umedece meus olhos e me faz declarar-me,
mesmo na presença da médica.
— Amo vocês!
Digo baixinho, emocionado.
Suas lágrimas escorrem sem reservas, um sorriso lindo na face ao me
escutar mais uma vez declarar meus sentimentos.
— Agora falta pouco, talvez mais uma semana e estarão com a bebê de
vocês nos braços.
Fala a médica, furando a nossa bolha.
Mas é o que precisa ser feito. Foi para isso que viemos aqui. Verificar
se está tudo bem com as minhas meninas e abrirmos contagem para o
nascimento de Marília.
Sim, escolhemos o nome, e o fizemos juntos, assim como a escolha das
peças do enxoval que ela ainda não havia comprado. Claro que odeio não ter
estado presente em todos os outros momentos, mas não adianta mais chorar
pelo leite derramado.
Foco nas orientações que recebemos, em assimilar todos os sinais de
parto. Concentro-me em tudo que é dito, ansioso e nervoso com a
proximidade do grande dia.
A médica finaliza o exame, conclui as orientações e reforça que
aguardará nossa ligação ao menor sinal. Sinto confiança nela e fico feliz com
a profissional que Cecília escolheu.
Despedimo-nos e seguimos para o apartamento das garotas,
continuarmos a nossa doce espera.
Mesmo que hoje eu saiba que se faz necessário uma conversa, que se
faz necessário até mesmo que eu implore.
E a mera lembrança da conversa que preciso ter já mexe comigo, já faz
eu sentir-me um fraco, um frouxo, pois foi exatamente isso que me tornei.
Muito embora não me incomode com estes rótulos, se no final do meu
rastejar eu tenha finalmente conseguido o meu maior desejo.
O que verdadeiramente anseio.
CAPÍTULO 48

Sei que Alex quer conversar, e aposto que até imagino o assunto.
A maneira como passa a mão no cabelo e a forma como movimenta o
pé esquerdo sem parar, não me passa despercebido. Mesmo assim não o
apresso, será no seu tempo.
— Cecília, sei que lhe prometi paciência e cadência em nosso
relacionamento e você sabe que venho me esforçando, mesmo que isso seja
algo difícil para mim, pois, no que diz respeito a estar com você, agir desta
forma é praticamente um castigo. Certamente um suplício.
Exagerado. Demais.
— E com a proximidade do nascimento da nossa filha, tudo apenas
piorou, pois sei que não vou suportar não estar com você em todos os
instantes do dia, não vou suportar saber que estou longe e que você pode
entrar em trabalho de parto a qualquer instante.
Apenas observo e ele parece cada vez mais nervoso. Quem diria que o
poderoso Alex Valentin ficaria assim tão perdido durante uma conversa com
a namorada?
— Como vou dormir longe de você? Como vou conseguir ter paz
quando penso que algo pode acontecer com você ou com nossa filha?
A voz embarga e sei que ele está sofrendo. Esta distância que mantenho
entre nós, nesta etapa da gestação, está deixando meu namorado mais do que
agitado.
— E o que você me propõe? O que posso fazer para que as coisas sejam
mais leves para você?
Ele respira fundo. Aperta as mãos uma na outra e baixa o olhar. Sei o
que ele quer, mas vou esperar que diga as palavras.
— Vou ser sincero com você, Cecília, tudo que eu queria era ter você ao
meu lado, na minha casa. Para sempre. Montar um quarto lindo para a nossa
filha e ficar o maior tempo possível ao lado de vocês. Queria casar, assinar
papel, sermos marido e mulher.
Sinto um toque de dor, até mesmo de desespero. Percebo-o respirar
fundo para fazer a proposta que ele acha mais oportuna, que tem alguma
chance de ser aceita por mim.
— Mas como tenho ciência de tudo que aprontei, e que na verdade
ainda estou no lucro, ficaria feliz se você me aceitasse aqui, que permitisse
que eu trouxesse algumas coisas minhas e que eu pudesse dormir e acordar
com você todos os dias. Queria também que quando Marília nascesse eu
pudesse trocar, banhar, colocar para arrotar. Todas essas coisas que estou
louco para fazer e que, se estivermos em casas separadas, não terá como. Na
verdade chego a suar frio por imaginar que minha ausência possa fazê-la me
estranhar, possa fazer com que minha filha não se acostume comigo.
Sei que ele é exagerado, mas que eu fiquei com uma peninha, isso eu
fiquei.
— Vamos ver se eu entendi direito, Alex. Você quer se mudar para cá,
um apartamento minúsculo, que mal cabe Isadora, eu e o berço que comprei?
Você quer abandonar todo o luxo e conforto...
— Você ainda não entendeu, Cecília? Você é minha casa. Onde você e
minha filha estiverem será o meu lugar, e será o melhor lugar do mundo.
Diz emocionado. Certamente agitado.
— De que vale tudo aquilo se não consigo pregar o olho quando você
decide que não dormiremos juntos? De que vale todo o conforto da cama se
parece ter espinhos e não é capaz de me fazer sequer cochilar, quando estou
longe?
Dramático? Talvez. Muito embora saiba que não é fácil, pois também
passo por tudo isso.
— Por favor, meu amor, sei que ainda preciso amadurecer mais e que
não é fácil para você esquecer tudo aquilo, mas eu te peço: vamos dar mais
este passo. Aceite-me aqui, vamos fazer este arranjo. Pelo menos até que
esteja pronta para me aceitar totalmente em sua vida!
— Ah meu amor, você soube como ganhar meu sim. A forma como
abdica da sua vida para partilhar da minha é algo que a cada dia me
convence que você amadureceu e que merece sim uma chance. Que é um
novo homem e que merece o meu voto de confiança.
Alex não cabe em si de contentamento. E não consegue mais se manter
distante. Avança rapidamente sobre mim e me enche de beijos.
— Eu te amo! Te amo, minha Cecília!
Aproveito seu rompante e me delicio com seus carinhos, com seu gosto.
Quando ele parece um pouco mais controlado, diz:
— Posso ir pegar minhas coisas? Podemos colocar isso em prática
imediatamente?
E agora vem a melhor parte. Vem a cereja do bolo.
Pois não seria justo colocar todo mundo num aperto, também não seria
justo submeter Isadora a choro e noites insones, quando no outro dia terá que
trabalhar e ainda mais dobrado, pois, pelo andar da carruagem, o digníssimo
pai ficará afastado da empresa o maior tempo possível.
E também não seria justo conosco. Com nosso amor. Com nossa
família.
Deixar que o passado dite eternamente as regras. Direcione para sempre
o nosso presente. O nosso futuro.
Um tempo novo chegou. De esperança. De amor. De uma nova vida.
E o perdão finalmente chegará. Plenamente.
Pois já não mais existe mágoa. Rancor.
A dedicação, o empenho e o arrependimento de Alex fizeram isso. Seu
amor foi o maior responsável por isso.
E isso eu já sinto. Já sei.
Que o sentimento venceu a desconfiança, a dor e o sofrimento.
E ele também saberá. Agora. Sem mais delongas.
— E o que você acha de arrumarmos minhas coisas? O que você acha
de ser eu a me mudar para a sua casa?
Ele parece abismado. Totalmente estupefato.
— Você está brincando, não é?
A voz ansiosa. O grande CEO resumido a um garoto temeroso de que
seu maior desejo não passe de um sonho.
— Alex, acho que nosso amor precisa desse passo, desse voto de
confiança. Fomos privados muitos meses, e limitados outros tantos dias.
Acho que amadurecemos, acho que estamos prontos.
— Sim, meu amor, claro que sim!
Olhos umedecidos, assim como os meus.
— Então é isso. Ajeitarmos todas as minhas coisas e as de Marília,
ficarmos juntos esperando o grande dia e depois aproveitarmos a
maternidade e a paternidade como tem que ser.
Ele beija minha testa com reverência e diz:
— Obrigado, Cecília. Não sou digno desse seu gesto, mas viverei para
provar que sou um novo homem, para provar o meu amor e a minha devoção
para você e para a nossa Marília.
Emociono-me. Pela pessoa que ele é hoje. No grande homem que se
transformou.
Decido desanuviar um pouco, decido impedir que o choro me tome.
— Pois comecemos com a mudança, porque garanto a você que suas
meninas não estão para brincadeira quando o assunto é roupas e acessórios.
Nem sei se conseguiremos mudar tudo antes do parto.
Digo, exagerada.
Alex apenas ri, feliz.
— Ah meu amor, tenho uma condição. Apenas uma.
Ele sequer titubeia. Diz de pronto.
— Qualquer uma, Cecília, não sou capaz de negar-lhe nada e jamais
serei.
— Você escolheu o dia em que finalmente juntaremos nossas escovas,
nada mais justo que eu escolha a data do sim definitivo.
Ele acena, concordando.
Nossa convivência é muito fácil, passou a ser.
Dialogamos, conversamos, cedemos e confiamos.
— Condição mais que aceita, meu amor. Claro que não vejo a hora do
papel, do anel, mas aguardarei.
Dou um selinho por sua compreensão, por este novo Alex.
— Posso ao menos pedi-la em casamento? Posso ao menos buscar o seu
sim?
— Alex, se você for ao menos razoável com relação ao intervalo entre
os pedidos, digamos que você possa treinar.
— Ah, meu amor, assim será. Viverei para merecer o seu sim, sem
fraquejar e sem esmorecer. E quando ele acontecer, vai ser no tempo certo.
Vai ser perfeito e vai ser para sempre.
Beijo-o. Emocionada. Feliz demais.
No coração um amor maior que tudo. Na alma uma gratidão por termos
finalmente conseguido vencer o que nos separava. O que nos afastava.
Para sermos enfim um do outro e estarmos preparados para este passo.
E preparados para todos os outros passos que o futuro nos reservar.
CAPÍTULO 49

Minha vida não poderia estar melhor e nem meus dias mais felizes.
Durmo e acordo ao lado de Cecília, inclusive evito desgrudar dela um
instante sequer. Por gostar e necessitar estar sempre perto, devido à
proximidade da data prevista do parto.
Como o prazo que a médica deu já está findando, conversamos e ela
não está mais indo para a empresa, consequentemente estou trabalhando em
home office. Quero estar com ela quando acontecer e por isso somente saio
de casa para resolver coisas do trabalho se realmente a minha presença for
indispensável.
Tudo já está arrumado no closet, bolsa da maternidade pronta e o berço
dentro do nosso quarto. Como a mudança de Cecília para cá aconteceu há
poucos dias, ainda não houve tempo hábil para que o quarto de Marília fosse
concluído, muito embora uma equipe já esteja trabalhando para que ele fique
pronto o mais rapidamente possível.
E tudo isso leva um sorriso fácil aos meus lábios, e a notícia que recebi
ainda há pouco apenas melhora o meu humor. O infeliz do Fernando
Gonçalves foi finalmente preso, e já não era sem tempo.
Claro que depois que descobri a identidade do maldito, movi céus e
terra para que esse dia chegasse. Cobrei favores, forneci-os, usei todo o meu
poder e dinheiro para este fim. E por mais que saiba que meu
comportamento é mais do que repreensível, não me arrependo, pois a justiça
será finalmente feita.
E de repente os depoimentos passaram a ter sentido, de repente a
desconfiança recaiu sobre ele. Mas não posso levar sozinho o mérito por
essa boa ação, o infeliz contribuiu e muito para esse desfecho. Pois, como
um doente que é, ele novamente repetiu seu comportamento asqueroso e a
vítima, desta vez, foi tratada com o cuidado e a credibilidade merecida. E
teve então a denúncia, a prisão. E se depender de mim ele mofará atrás das
grades, pois vou fazer o possível e o impossível para que ele pague por todos
os crimes que cometeu.
E estou ansioso para contar as boas novas para Cecília, mas
prontamente mudo de ideia quando vejo a expressão da minha mulher ao sair
do banheiro.
Tensa, certamente sentindo dor.
De pronto me levanto e agitado, digo:
— Cecília, o que...
— Chegou a hora, Alex.
Sem muitos rodeios, nem dúvida nas palavras. Como a mulher decidida
que é. Forte como jamais deixou de ser.
Mesmo que esteja levemente encurvada, devido a dor. Mesmo que a
mão na sua barriga mostre que as coisas já estão mais avançadas do que eu
sequer desconfio.
E isso me põe louco, me faz desesperado. E somente consigo ficar
inerte, paralisado. Esperando o comando, sendo de pouca valia neste
instante.
— Alex, pegue a bolsa da Marília, os meus documentos e vamos para o
hospital.
Começo a me movimentar e isso me faz sair da letargia em que me
encontrava.
Arrumo as coisas enquanto com um canto de olho a vejo respirar fundo,
e percebo, pela sua expressão, que suas dores apenas aumentam de
intensidade.
Quando estou com tudo pronto, aproximo-me e tento colocá-la em
meus braços.
— Não, Alex, quero caminhar. Estimula o trabalho de parto.
Sempre forte, sempre fazendo o que é melhor para o nascimento da
nossa filha.
Sinto o orgulho me invadir, muito embora o que predomine neste
momento seja o desespero e a ansiedade.
Seguro então sua mão e seguimos. Lentamente. No ritmo dela.
Aproveitando para avançarmos nos intervalos entre as contrações.
Quando chegamos na garagem, o motorista já está a postos e abre a
porta. Felizmente não preciso dirigir, não daria conta.
— Amor, temos que ligar para a doutora...
— Já fiz o contato, toda a equipe já está nos esperando.
Independente. Determinada. Talvez tenha passado tempo demais
sozinha durante a gestação, talvez preparou-se por imaginar que não poderia
contar comigo, como deveria.
E sou tirado de minhas recriminações por um gemido sentido, por um
aperto firme em meus dedos.
— Cecília, as dores estão cada vez mais próximas, tenho medo...
— O hospital não é longe, e não acho que seja assim tão rápido.
Pela primeira vez sinto que suas palavras trazem um pouco de medo
pelo que a aguarda, pelo processo doloroso que pode ser um parto vaginal.
Sim, minha mulher escolheu o mais saudável, o tipo de parto que traria
mais vantagens para a nossa filha, mesmo sendo o mais dolorido. Somente
optará pela cesariana se for uma indicação de última hora, se não conseguir
trazer nossa filha ao mundo da forma como gostaria.
O carro estaciona e agradeço a Deus por termos chegado a tempo para
que minha esposa tenha o acompanhamento que necessita.
Logo uma equipe chega trazendo uma cadeira de rodas e felizmente
Cecília tem o bom senso de deixar-se conduzir. Talvez para chegar o quanto
antes, ou tão somente por não suportar sequer andar.
E enquanto acompanho-a ser conduzida, observo que as contrações
aumentam a cada instante e que, para a minha Cecília, as coisas não estão
sendo fáceis.
No corredor encontramos a médica que logo diz:
— E aí, Cecília, pronta?
Minha mulher engole em seco e isso mexe comigo. Sei que as dúvidas e
os temores finalmente surgiram, mas ela é forte o suficiente para responder,
com a voz baixa, que não passa de um sussurro:
— Tenho que estar, doutora!
E isso me quebra, mas também me estimula a tentar ser a fortaleza que
Cecília precisa.
— Onde me preparo, onde...
— Márcia, acompanhe o pai. Leve-o para se preparar e depois o
conduza para a sala de parto.
Dou um beijo na testa da minha mulher e digo:
— Volto o mais rápido que puder. Não ouse trazer Marília ao mundo
sem a minha presença!
Ela tenta rir do meu tom jocoso, mas sua expressão não passa de um
esgar de dor.
Apresso-me a seguir a enfermeira. Apresso-me a fazer o que é preciso.
Logo estou pronto e sou levado para a sala de parto e, assim que
adentro, corro para perto da minha mulher.
— Respire, querida. Respire.
Cecília está numa espécie de mesa própria para parto, enquanto sua
médica a orienta. Pessoas se movimentam pela sala, cada qual realizando o
que lhe é designado.
Percebo que as contrações estão cada vez mais perto uma da outra e que
não é fácil suportar tudo isso. O aperto firme em minha mão diz isso, o suor
que escorre em sua face mostra isso.
Alterno beijo na testa com palavras de carinho enquanto vejo o tempo
passar demoradamente. Percebo Cecília desgastada, aparentemente no
limite.
— Eu não vou conseguir! Não aguento mais!
Sua voz chorosa, derrotada.
Acaba comigo, dilacera-me.
— Doutora, por favor, faça uma cesariana. Cecília não vai aguentar...
Ela me interrompe e diz animada:
— Estou vendo a cabecinha. Agora está perto. Vamos, Cecília, só mais
um pouquinho.
E isso parece renovar as forças da minha guerreira. Parece lhe dar garra
para um esforço derradeiro
E ela me aperta mais. Espreme-se demais.
E grita. E há também um outro grito.
Mais precisamente um choro. Uma dádiva que logo é erguida para o
nosso encantamento.
— Seja bem-vinda, linda Marília!
E desmancho-me, de amor e gratidão.
Cecília não está diferente, totalmente tomada pela emoção.
A médica faz os cuidados com o cordão umbilical e coloca Marília ao
alcance dos nossos braços.
— Nossa filha, Alex. Nossa filha!
E chora. Eu choro mais.
E nossa menina parece entender a importância do momento. Do
reconhecimento.
Então abre os olhos e nessa hora percebo que sou capaz de morrer e de
matar por ela. Por elas.
— Linda demais! Perfeita como a mãe!
Minha mulher ri descrente e constata:
— Ora, Alex, ela tem tanto de você! Os olhos são iguaizinhos...
— Cecília, Marília é guerreira e linda como você. Ela é o meu amor,
assim como você!
E sai fácil, muito fácil. Nunca achei que me declarar assim me deixaria
tão leve e feliz.
— Obrigado, Cecília. Neste momento somente posso ser grato por sua
generosidade, por seu perdão e por seu amor. Obrigado por unir nossa
família, quando a única coisa que fiz foi...
E nossa garotinha chora, insatisfeita com alguma coisa, talvez até
mesmo com o assunto.
E Cecília verbaliza meus pensamentos.
— Passou, meu amor, passou. Eu entendo isso e Marília também. E
estarmos aqui juntos é a maior prova disso. E termos nossa filha nos braços é
o motivo que faltava para esquecermos de vez nossos erros e seguirmos
finalmente em frente. Esquecendo totalmente o passado e focando
exclusivamente no futuro. Deus foi muito generoso conosco e o mínimo que
podemos fazer é agradecer e nos esforçar para sermos felizes.
A voz embargada. Buscando realmente o esquecimento. Querendo e
esperando que eu definitivamente me perdoe.
— Você está certa, meu amor!
E neste momento finalmente sinto que sou capaz de me perdoar.
Instantaneamente chego a sentir isso em minha alma
E na hora agradeço a Deus por sentir-me livre do peso, do remorso e da
culpa. Agradeço a Deus por finalmente sentir-me pronto para amar e me
doar plenamente à minha família.
E isso é amor. É milagre.
É o efeito das minhas meninas na minha vida.
EPÍLOGO

O tempo passou rapidamente. E passou pleno e feliz.


Marília já está com três anos e é uma garotinha linda e muito amada. E
é o nosso milagre, pois depois de seu nascimento jamais nos precavemos, no
entanto minha menstruação nunca atrasou novamente, nem mesmo um dia. E
isso nos leva a conversar, cogitar até mesmo realizar a reversão da
vasectomia.
É claro que queremos mais filhos, irmãozinhos para Marília. Bebês para
alegrar ainda mais a nossa vida. Principalmente agora que Alex trabalha
grande parte do tempo em home office, para ficar próximo, e até para que eu
possa secretariá-lo e não me afastar da nossa pequena.
E tudo é perfeito, nem parecemos aquele casal que passou um tempo
distante, nada lembra aquele casal que começou de forma tão errada. Com
mentiras, fingimentos. Que começou como um lance qualquer e se tornou
algo firme. Duradouro.
— Mamãe!!!
Rio antes de me virar. Rio apenas por ela existir.
Ao olhá-la me perco em sua perfeição. Perco-me por ser exatamente
uma miniatura do homem que amo.
— Oi, minha princesa! Como foi na escolinha?
— Adolo a escolinha, mamãe!
Resposta de praxe. E isso me encanta.
Vê-la chamando suas bonecas pelo nome de suas colegas e cantar
várias vezes as musiquinhas infantis que são ensinadas, fazem-me ter certeza
que o ambiente escolar que Marília frequenta é saudável e a faz feliz, e isso é
o que importa.
— Mamãe, quelo ganhá um imão!
Vira e mexe ela diz isso. Por ver algumas mães de seus colegas com
bebês no colo, por ouvir seus amiguinhos sempre falando de seus
irmãozinhos.
— A mamãe e o papai também estão loucos por um bebezinho, porque
você já tá uma mocinha.
Alex diz e ela se derrete. Adora quando ele a trata assim.
— Hoje na hora de dormir vamos pedir ao papai do céu que mande um
bebê para nós.
— Oba! Quelo dois!
E levanta a mão aberta. Cinco dedos, mais do que confiante em sua
contagem. Controlamos o riso, enquanto seu pai responde:
— Certo, mas pediremos um de cada vez. Combinado?
— Sim, papai.
— Ótimo! E agora o que você acha de tirar a farda e tomar um banho
bem gostoso? Posso chamar a Yara para ajudar você?
— Pode!
Yara é a babá que está conosco desde os primeiros meses da Marília.
Dedicada, amorosa, extremamente profissional e de total confiança. É ela
quem garante nossas escapulidas noturnas que ajudam a aquecer a nossa
relação.
Logo Alex volta acompanhado de Yara, que diz:
— Princesa, eu estava com tanta saudade!
E abre os braços e Marília se joga em seu abraço. Agradeço pela doçura
de Yara, por tê-la escolhido e porque o carinho entre elas é algo real e
palpável.
E a carrega nos braços, minha Marília tagarelando sem parar, enquanto
Yara parece se deliciar com tudo que sai da boca da nossa pequena.
— E aí, pronto para a oração de mais tarde?
Pergunto, pois é algo que também quero demais.
— Cecília, nós vamos pedir a Deus, sim. Muito. E pedir que venham
com saúde. E que nos dê a bênção de encher esta casa de crianças, pois
somente os dois que Marília pediu estão muito longe de serem suficientes,
talvez os cinco que ela mostrou ao abrir a mão seja uma conta que me agrade
mais.
E pisca. E eu sorrio por vê-lo tão família. Tão pai. Um homem tão
diverso do libertino que jamais pensava em compromisso, sequer era adepto
de repetir mulher.
— E para que venham todos e que não demore tanto, decidi que farei a
reversão da vasectomia, pois Marília está mais do que pronta para o papel de
irmã mais velha.
Encho meus olhos d’água. Por ele sempre se mostrar disponível a
enfrentar qualquer obstáculo por nossa família, por esse gesto ser tão
simbólico para demonstrar o homem que Alex é hoje.
— E queria combinar algo com você. Estive pensando que deveríamos
entrar na fila para adoção. Sei que o processo é demorado, mas acredito que
seremos sim escolhidos, que teremos a chance de proporcionar uma vida de
amor, proporcionar uma família para um bebê que precisa de um lar.
Ele diz com a voz vacilante, como se temesse minha resposta. Eu
apenas me emociono, orgulhosa do homem que meu coração escolheu amar.
— Ah, Alex, vinha pensando justamente nisso. Estava buscando um
momento para discutir essa possibilidade com você. Mas como sempre você
me surpreendeu e mostrou-me o homem especial que é, mostrou-me quão
grande é o seu coração.
Ele fica sem graça. Meu amor sempre fica tímido com meus elogios.
— Linda, não se engane, talvez eu apenas esteja sendo egoísta e não
queira ver você passar por toda aquela dor novamente.
Ele tenta disfarçar, tenta me enganar.
— E o quão disposto você está para evitar que eu sinta toda aquela dor?
Resolvo entrar no clima.
— Talvez entrar na fila várias vezes? Adotar um bebê após o outro?
Todos os dedinhos da nossa princesa? Encher nossa casa de riso e amor,
proporcionar isso a quem possivelmente não os terá?
Meus olhos umedecem. E os dele também. Pela enormidade de tudo
isso. Por quão afortunados somos e pela decisão maravilhosa que acabamos
de tomar.
— E que tal fazermos isso imediatamente? E que tal o quanto antes
entrarmos com o pedido de adoção do nosso segundo filho?
As lágrimas já escorrem. De felicidade.
Mas há algo a ser feito antes de darmos esse passo. Para a nossa
felicidade ficar completa.
— Acredito, Alex, que o melhor seria se nos cassássemos antes.
Certamente o pedido de adoção seria visto com melhores olhos.
Faço como ele, falo uma desculpa para o que verdadeiramente quero.
Alex parece não acreditar que acabou de ser pedido em casamento. Que
finalmente realizará seu sonho.
Ele nunca deixou de fazer o pedido, mas meu coração pedia para
esperar, sentia que não era o momento certo. Mas agora sei que a hora
chegou, estamos mais do que prontos para o felizes para sempre.
— Ah, meu amor, obrigado. Você sabe que sempre desejei isso. Sabe
que sou louco para fazê-la minha esposa, perante os homens e perante Deus.
E me dá um beijo emocionado. Com gosto de lágrimas. De para
sempre.
— E já posso começar a dar entrada na papelada?
Ele pergunta ansioso, tão logo nossas bocas se afastam.
— Meu amor, agora que decidimos, tenho pressa, se nos casássemos
amanhã, ainda seria tarde demais.
Ele ri feliz e diz:
— Amanhã não sei se conseguirei, mas esteja pronta para se tornar
oficialmente a senhora Valentin em poucos dias.
— E como o senhor todo-poderoso conseguirá realizar tal feito?
Ele faz cara de CEO fodástico e diz:
— Vegas, meu amor. Vegas.
E me toma num beijo saboroso, apaixonado. Que me deixa acesa e
ainda mais louca de amor.
Ele me ergue e eu envolvo minhas pernas em sua cintura. É sempre
assim. Um toque, um beijo e a necessidade vem com tudo. Abrasadora.
Avassaladora.
E ele já caminha em direção às escadas, tem pressa para fazer-me sua.
Entre beijos, gemidos e declarações, pergunto:
— Será que não deveríamos estar cuidando da viagem, das...
— Prometo, meu amor, que hoje sequer dormirei enquanto tudo não
estiver resolvido. Agora somente preciso de uma prévia do que me espera na
lua de mel.
— Safado. Libertino.
— Sempre. Mas com você. Somente com você.
E eu sei. Percebi isso em todos esses anos juntos. Vivenciei seu desejo e
seu amor em todo esse tempo.
E isso apenas me faz ainda mais ansiosa para o nosso para sempre.
As declarações. Os votos. A emoção.
A daminha mais linda e apenas os convidados que têm realmente
importância para nós.
Nada pomposo ou espetaculoso. Apenas nossa bênção.
O nosso sim.
Para o nosso futuro. Para todos os filhos que nos escolherão.
Maiores, menores. Meninos ou meninas.
Que serão amados, igualmente Marília é.
Pois amor temos de sobra.
Na cama. No quarto. Em nossa relação.
E certamente em nossos corações.

FIM
Conheça os outros trabalhos da autora

A OBSESSÃO DO ADVOOGADO
Mariana sonha com um amor impossível!
Menina humilde, trabalha há algum tempo na casa de abastados e
influentes advogados da capital paulista. Mesmo sem qualquer esperança,
alimentou por anos uma paixão platônica pelo filho de seus patrões, o
herdeiro e sucessor do legado Andrade.
Percebendo ser em vão este sentimento, resolve mudar atitudes e
comportamentos. Após anos de dor e sofrimento, resolve seguir em frente.

Leonardo é o típico cafajeste. Libertino, jamais se apega. Muito ligado


a aparência e status, descrente no amor e no casamento. Não quer
compromisso e está sempre rodeado de lindas mulheres de sua classe social.
Mesmo com toda a vida desregrada que leva, tem na doce Mariana,
seu ponto fraco. Seu limite absoluto.

No decorrer do livro percebemos o crescimento e o afastamento de


Mariana e como isto afeta e desestabiliza o inveterado mulherengo. Como a
distância imposta por nossa protagonista, abala tão afamado pegador.
Neste embate entre amor, simplicidade, dinheiro e poder, qual lado
sairá vencedor?
Totalmente Seu
Alice não aguenta mais viver um casamento de aparências. Não
suporta saber que não faz parte da vida de seu esposo, saber que com o
tempo, o sucesso e o dinheiro, ela foi ficando para trás. É nítido como ela e
as crianças ficaram em segundo plano na vida de Paulo.
Ela percebe que há sentimento, carinho, mas sente que para Paulo isso
não é suficiente. É visível a necessidade que ele tem de ir além, de ir
sozinho em busca de algo que talvez nem ele saiba o que é. O coração dela
sangra por saber que não bastam para ele, sofre porque sabe que não pode e
nem merece continuar assim. Em algum momento se perderam pelo
caminho. Infelizmente o cansaço pela situação imutável a domina. Jamais
tentará concorrer com o glamour e a ostentação da vida que aparentemente
ele tanto gosta. Deixará Paulo livre. Sabe que não merece estar numa
relação assim. Não quer nunca mais sentir que não é o bastante para seu
próprio esposo.
Estes são os conflitos que preenchem o âmago da nossa personagem.
No decorrer do livro exporemos os sentimentos de Paulo e veremos se serão
capazes de superar os muitos obstáculos que os impendem de alcançar a
felicidade.
Completamente Dela
Flávia sempre foi tranquila em seus relacionamentos. Quando jovem
procurou viver intensamente e nunca buscou amor ou compromisso.
Gostava do novo, de sair e se divertir. Independente, dona do próprio nariz,
não deixava ninguém guiar seus passos e a forma como vivia suas relações
favorecia ainda mais essa faceta de sua personalidade.
Dizer que ficou feliz em conhecer alguém tão parecido com ela não
reflete tudo o que sentiu ao conhecer Ricardo. Colegas desde o curso de
marketing, trabalham desde formados na mesma empresa de publicidade,
que hoje é responsável pela maior fatia deste tipo de mercado no país.
Toda essa convivência com Ricardo criou uma cumplicidade e
intimidade que evoluiu rapidamente para os dois rolando na mesma cama.
Sexo sem compromisso, oportunidade de variedade e ausência de
cobranças. Esta situação era a realização dos seus sonhos, era a certeza de
continuar com o estilo de vida que sempre prezou.
Com o passar dos anos tudo isso passou a ser insuficiente. A vontade
de estar com outros acabou e o estilo de vida de Ricardo, que sempre foi
perfeito para Flávia, passou a ser fonte de dor e sofrimento. Flávia se
apaixonou, viu-se amando alguém averso a relacionamentos, um solteiro
convicto e um cafajeste assumido.
Sabendo que ele jamais se comprometeria com ela, desfez a relação
aberta que tinham e a partir de então tenta juntar os cacos, tenta reconstruir
sua vida.
Percebeu que esse estilo de vida não lhe era mais suficiente. Percebeu
que queria amor, não queria mais viver ilusões passageiras.
Precisava então se afastar de Ricardo e seguir em frente. Precisava ser
forte e tentar esquecer esse sentimento que habitava todo o seu ser.
O CEO e a Loba Má
Essa história não terá nenhum final que não seja Álvaro aos meus pés.
Que não seja nós dois juntos como tem que ser.
Nunca entro numa batalha para perder. Tudo o que quero consigo. E eu
o quero. Deus como eu o quero!
Lindo, gostoso, safado e mulherengo. Nunca quis compromisso, não
promete fidelidade e muito menos deseja largar a vida de libertinagem.
Quer a mim como a tantas outras, sem vínculo e sem cobranças. E me
tem. Arrebatada e entregue. Com um amor no peito maior do que se é capaz
de mensurar. Mas com muito orgulho, força de vontade e sabedoria para
fazer esse cafajeste ser meu e de mais nenhuma outra.
Não jogarei limpo, não me dobrarei. Passarei por cima de tudo e de
todas como um rolo compressor.
Essa sou eu, Mirela.
E esta é história onde transformo um CEO inalcançável em um
cordeirinho apaixonado. Onde transformo um homem de baladas em um
cara de família.
Este é meu conto de fadas às avessas, mas certamente com um final
feliz.
Acompanhem e conheçam o meu para sempre.
O CEO e um conto de fadas moderno
Esta história contém quase todos os elementos de um conto de fadas:
uma madrasta má, uma bela princesa e um príncipe encantado.
Mas como tudo se passa na nossa época, pequenas diferenças se fazem
presentes.
A bela princesa não consegue manter a inocência dos antigos contos, a
madrasta não é apenas má, ela é além e o príncipe foi corrompido pelo
universo de bebidas, farras e belas mulheres.
Então seria errado tal designação? Certamente não.
Clara, nossa linda princesa, perderá sua inocência com todos os
dissabores vividos, a madrasta má pagará por suas crueldades e o príncipe,
quando se descobrir apaixonado, fará tudo que estiver ao seu alcance para
viver o seu felizes para sempre.
Haverá muita intriga, inveja e injustiças.
Mas haverá muito amor, romance e redenção.
Apaixone-se por Marcelo, odeie com todas as forças a malvada
Virgínia e lute junto com Clara por seu grande amor e por sua afirmação
pessoal.
Esteja pronto para viver intensamente esta história, que representa a
pureza do amor verdadeiro e a certeza de que com força de vontade e fé,
dias melhores sempre virão.
A Proposta do Bilionário
Melissa Lacerda tem tudo que o dinheiro pode comprar, mas o que ela
mais deseja não está à venda.
Lucius Martins pode comprar qualquer coisa, mas o seu dinheiro e
poder não são capazes de evitar algo que ele mais abomina: compromisso.
Ela sempre o quis para si, mas jamais achou que pudesse competir com
as festas e toda a luxúria em que ele estava envolvido.
Ele sempre percebeu sua devoção, mas sabia que ela não se encaixava
no seu mundo de devassidão.
Infelizmente o destino não pensava desta forma.
Infelizmente para garantir a solidez de sua empresa, ele precisaria
fazer a proposta.

Poderia Melissa achar que um libertino como ele seria capaz de


sossegar?
Poderia Lucius imaginar que continuaria com toda a sua depravação,
mesmo depois de fazer a proposta?

Muitas emoções, risos e choro.


Muito amor-próprio, redenção e sentimento.

Convido vocês a conhecerem A Proposta do Bilionário.


Proibida para Rafael
Sempre amarei Mia, e isso é um fato. Embora jamais possa fazê-la
minha e ficarmos juntos nunca será uma opção.
Apaixonei-me talvez ao primeiro olhar, quando ela era apenas um bebê
e eu um garotinho de dois anos. Somente ser apaixonado desde sempre
justifica uma vida em função dela e para ela. Cuidando e protegendo de
tudo e de qualquer coisa que pudesse tirar o sorriso de sua face.
Minha Mia, como o garotinho sempre a chamou, mas como o homem
feito jamais poderá fazê-lo, por termos sido criados para sermos irmãos, por
jamais ser aceitável qualquer envolvimento entre nós.
Fui estudar longe, o mais distante que consegui. Para tentar sufocar o
amor, para tentar enganar-me com outras bocas, com outros corpos. Mas
quis o destino que ela viesse morar comigo, e que toda a distância que
impus por dois anos e toda a quase normalidade que consegui dar à minha
vida, fosse jogada ao vento, pois apenas olhá-la, logo na chegada, mostra-
me que nada mudou, mostra-me que ainda a amo.
E não ajuda saber que sou correspondido, que o coração de Mia
também bate por mim.
Serei eu capaz de sufocar tanto sentimento? Será Mia capaz de
esquecer seu amor, seu primeiro beijo?
A Noviça e o Jogador
Gustavo Leão é um sobrevivente.
Órfão de uma mãe viva, desde muito cedo teve que conviver com o
alcoolismo do pai, que não foi forte o suficiente para superar a partida da
esposa.
O garoto franzino viu então no futebol uma válvula de escape para
enfrentar seus problemas, além de enxergar no esporte a única oportunidade
para fugir da sua dolorosa realidade.
Aplicado nos treinos e com um talento extraordinário, Guto Leão logo
caiu nas graças do empresário Vicente Mello, o que foi um divisor de águas
na vida desta jovem promessa do futebol brasileiro.
Infelizmente não foi cedo o suficiente para custear um tratamento
adequado para o pai, que acabou falecendo de cirrose antes de ver o grande
jogador que o filho se tornaria.
Condoído com a situação de Guto, Vicente foi para ele mais do que um
empresário, foi talvez um pai, cuidando do garoto desde então.
Mas o empresário também tinha um passado trágico, tinha perdido sua
esposa em um acidente de trânsito, deixando-o totalmente desnorteado, não
tendo sido sequer capaz de cuidar de sua única filha, que ficou aos cuidados
da tia, uma religiosa que não hesitou em levar a criança de seis anos para o
convento que dirigia.
Anos depois um ataque fulminante ceifou a vida da madre, deixando a
garota novamente sem uma figura materna. Clarisse, agora com 20 anos,
não viu como continuar no convento sem a presença de sua amada tia
Fernanda.
Mesmo lhe sendo muito doloroso, Clarisse abdicou da única vida que
conhecia e foi morar com seu pai, na mesma casa que o devasso e
mulherengo Gustavo.
Poderia uma ex-noviça, totalmente inocente, resistir a tão lindo
jogador?
Poderia um jogador, sabidamente cafajeste, apaixonar-se por alguém
com crenças e valores tão diferentes dos seus?

O Filho Desconhecido do Sertanejo


O medo de ser obrigada a interromper minha gravidez levou-me para
longe do homem que amava. A mera possibilidade do aborto afastou-me da
única realidade que conhecia.
Sem dinheiro, sem estudo e grávida. Felizmente acolhida por uma tia
até então desconhecida, felizmente sendo capaz de gerar o meu filho.
E valeu a pena. Meu Levi valeu todo o meu esforço, tudo que
abdiquei. Valeu inclusive o esforço de abandonar João Miguel.
Jamais esperei que o homem que amava fosse capaz de sugerir
tamanha atrocidade, jamais achei que o cantor sertanejo, que teve meu
coração desde sempre, fosse capaz de pronunciar tais palavras.
Por isso fugi, escondi-me. Ocultei a existência de Levi e tudo estava
indo bem, na medida do possível.
Até que uma coincidência infeliz forçou-me a ficar frente a frente com
João Miguel.
Até que sua ira indomável e seu desejo de vingança fosse capaz de nos
colocar novamente sob o mesmo teto.
Como resistir a tanto amor?
Como aceitar todo o sofrimento que me é infligido?
Como esquecer tudo que ele é capaz de fazer?
Penso que estou condenada a esta realidade. Penso que não há mais
chance alguma para nós.
A Amante do Magnata
Ele é frio como um iceberg. Temível. Insensível.
Ela é apenas uma órfã, saída de um orfanato e sem muitas opções para
o futuro.
Ele é um bilionário, averso a relacionamentos.
Ela é uma garota que é obrigada a vender o próprio corpo para garantir
o seu sustento.
Maya Oliveira é a primeira acompanhante de luxo virgem e caiu
justamente na cama do libertino.
Marco Mancini é o primeiro cliente da inexperiente garota.
Um encontro explosivo. Tesão. Vontade. Querer.
Uma proposta. Um contrato.
Um ano juntos, para matar o desejo. Para se apaixonarem.
Mas ele precisa casar e Maya jamais seria sua escolhida.
Ela aceitou por muito tempo ser amante, mas agora, apaixonada,
jamais aceitaria ser a outra.
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Table of Contents
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
EPÍLOGO
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