Green Card - Graci Rocha
Green Card - Graci Rocha
Green Card - Graci Rocha
Está é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sob
quaisquer meios existentes — tangíveis ou intangíveis — sem autorização por escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do
Código Penal.
“Magnata do ramo bancário é visto com as calças na mão...” N.Y. Post.
“Senhoras, abanem-se, pois empresário bonitão é visto dando um show de pernas de fora na
noite de ontem, em Nova York...” Revista Agito.
“Pelo jeito, o herdeiro do Conglomerado Howard, o banqueiro Josh Howard, teve uma noite
difícil ontem...” The N.Y. Times.
“Onde foi o incêndio? Parece que nas calças de Josh Howard…” outro jornal qualquer.
Por que em todos os livros de romance por aí sempre que o cara não quer compromisso
significa que tem algo quebrado dentro dele? Por que ele sempre tem que ser um cara legal, de pau
grande e grosso, que a vida ferrou e por isso não se sente merecedor do amor de uma linda mulher,
com sua linda bunda em forma de coração? Vamos ser honestas, às vezes, o cara é só um babaca que
não quer nada além de foder com uma mulher diferente a cada noite.
É bem diante de um desses que estou agora. Joshua Howard é um babaca de pau grande que
não para de secar a minha bunda sempre que ando pela sala. Sim, eu tenho uma bela bunda, mas gosto
de pensar que a minha inteligência é ainda melhor.
Pior é que o cretino me pegou com os olhos na linha do seu super membro e a não ser que ele
use uma meia ou algo para aumentar a exibição, as coisas são mesmo grandes por ali. Droga! Pare de
olhar, Mila. Pare de secar o idiota. Fico me repreendendo, até que meus olhos sobem um pouco mais
e sou obrigada a engolir em seco. Ele tem um corpo desgraçado de tão lindo. Mesmo sob a camisa
chique, consigo ver o contorno dos músculos do abdômen e dos braços. Droga, por que ele não podia
Meus olhos sobem mais um pouco, dançando pelo maxilar firme que está... sorrindo. Ele sabe
que é lindo e gosta do efeito que provoca nas mulheres. Mas se ele acha que eu vou cair nessa, está
pra lá de enganado. Eu posso estar numa maldita seca de quase um ano, e em uma encrenca dos
diabos, mas ainda sou eu, ainda sou a Blue. E a Blue não é o tipo de garota que cai de amores pelo
primeiro cara de pau grande que cruza o seu caminho em um ano. Bom, em alguns anos.
Suspiro e afundo no sofá, consternada com a confusão que está minha cabeça. Linda ainda não
parou de falar, mas não pesquei nem meia dúzia de palavras, é difícil coordenar o idioma com o
tumulto dentro de mim. Fecho meus olhos, massageio as têmporas. Eu tô muito ferrada.
Respiro fundo e resmungo. Linda vem se sentar ao meu lado. Se eu não gostasse tanto dela,
mandaria enfiar sua boca tagarela na privada, nunca ouvi tanta maluquice saindo de uma só boca.
Mas ela é uma das pessoas mais legais que conheço desde que me mudei para os Estados Unidos e
sua tagarelice geralmente é mais divertida do que qualquer programa de humor. O problema não é
ela, é todo o resto.
— Eu sei que você está chateada e também sei que não está mais prestando atenção porque não
para de resmungar no seu idioma — Linda fala, pegando uma das minhas mãos entre as suas.
americanos por esse líquido horroroso. Ela anda de um lado para o outro, apontando o indicador
para mim e para o irmão babaca, citando todas as peças de um suposto quebra-cabeça que eu deveria
entender, mas que parece fazer sentido só na cabeça dela. Na realidade, não consigo sequer prestar
atenção direito com a visão desse homem me lançando olhares e meios sorrisos.
Linda é uma boa amiga e uma mulher bonita, com cabelos louros que adornam um rosto
perfeito, de olhos claros e pele de porcelana que ela completa com um batom vermelho vivo, igual
ao seu temperamento. Uma americana típica, linda, forte e teimosa.
Joshua, por outro lado, tem os cabelos escuros em um corte bagunçado que é ao mesmo tempo
sexy e chique, o maxilar proeminente é quadrado e a barba por fazer arremata um conjunto de nariz,
lábios e olhos perfeitos. Olhos verdes claros que me encaram com uma mistura de curiosidade e
divertimento.
— Por que você não pode simplesmente vender a porra do programa pra mim? — ele diz,
enquanto enche um copo de whisky no que parece ser uma dose bem maior do que costumo ver por
aí.
— Porque é a única coisa que eu tenho pra me tirar dessa enrascada... é a minha barganha —
crispo, levantando e indo até o aparador para me servir de uma dose de whisky. Se eles podem beber
Joshua Babaca Howard, que até há alguns minutos não passava de um cara que está sempre nas
manchetes ou por estar com as calças nas mãos ou por estar falando demais, me encara e seu olhar
sexy e convencido muda para algo mais profundo, como se uma engenhoca começasse a funcionar
dentro daquela cabeça arrogante.
Linda pensa por algum tempo e então levanta e começa a zanzar pela sala outra vez. Nesse
momento ela fica muito parecida com o irmão. Como se uma engrenagem funcionasse por trás dos
contratos com o governo americano que exigem minha residência no país, a fim de evitar que eu me
torne algum tipo de terrorista digital fora de controle, e de enumerar o tamanho do prejuízo que vai
ser quando eu for deportada, estamos todos convencidos de que alguém está mesmo tentando me
pagas do mundo, legalmente paga, claro. — Vou embora. Obrigada por toda essa conversa doida.
Linda, você realmente é uma das pessoas mais criativas que já conheci.
— E o que você vai fazer, agora? — Linda pergunta.
— Vou passar no seu departamento de TI e chutar a bunda daquele seu gerente de cabelo
estranho, depois que eu ensinar alguns truques talvez ele consiga proteger sua rede um pouco melhor.
De todas as garotas nerds que já conheci na minha vida, essa com toda certeza é a que tem a
boca mais suja e a bunda mais gostosa. Desde que a minha irmã mais velha e mais maluca nos
chamou para essa reunião bizarra, a nerd não parou de desfilar com aquela bunda redonda e sexy de
sobre a tal coisa que está criando, resmungando em português, o que é sexy pra caralho na verdade, e
mas as caretas que faz são ainda mais desafiadoras e divertidas. Ela não vai com a minha cara, mas
parece que gosta do meu corpo.
Só quando ela começa a explicar tudo que vai perder se for deportada e os números começam
a ser falados abertamente é que meu lado executivo se ativa. Números são a minha praia. Números e
mulheres.
Posso entender por que ela estava disposta a pedir ajuda para minha irmã e, também, a escutar
a proposta insana que Linda jogou na conversa com a maior naturalidade. Mas me casar não é bem a
solução que eu esperava para o problemão que apareceu na nossa segurança digital nas últimas vinte
e quatro horas. Não que essa garota não seja o meu tipo, não me entenda mal, eu adoraria me afundar
nela, puxar seus cabelos enquanto mordo seu pescoço e chupar aqueles peitos, mas casamento? Ah,
não, não mesmo.
— Olha, eu só descobri toda essa merda porque ainda tenho amigos do outro lado — ela diz,
largando o copo de whisky na mesa e pegando a bolsa do sofá. Aquelas pernas também são de tirar o
fôlego. — Vou embora. Obrigada por toda essa conversa doida. Linda, você realmente é uma das
pessoas mais criativas que já conheci.
Ela parece mesmo chateada quando seus grandes olhos cruzam com os meus. Eu adoraria
ajudá-la, mas a última coisa que quero, depois da confusão que arrumei com aquela modelo russa, é
voltar aos jornais. Não que eu me envergonhe das minhas pernas ou do resto do meu corpo, mas
tenho uma rede bancária a administrar e não posso me dar ao luxo de andar por aí mostrando tudo
para todo mundo.
— E o que você vai fazer, agora? — Linda pergunta e de repente vejo um olhar afiado brotar
no rosto da nerd sexy.
— Vou passar no seu departamento de TI e chutar a bunda daquele seu gerente de cabelo
estranho, depois que eu ensinar alguns truques talvez ele consiga proteger sua rede um pouco melhor
— ela diz e o movimento dos seus lábios contorce algo dentro de mim. Porra, por que ela tinha que
ser tão gostosa assim?
As duas conversam por mais algum tempo, e quando a tal Mila estende a mão para apertar a
minha o faz com um olhar maroto, seu sorriso é escandalosamente provocante.
— Bem, obrigada por essa conversa estranha. Não posso dizer que foi um prazer.
— Não? — digo, sorrindo como bobo para ela.
Ela me olha de cima a baixo, provocando uma onda de calor no meu pau. Porra, que mulher.
— Acho que prefiro a versão do jornal — ela diz, e sai.
Levo um tempo para compreender a que ela está se referindo. É claro, ela está falando daquela
maldita foto. Do vexame provocado pela russa que não entendeu quando eu disse que não estávamos
namorando e me expulsou do quarto do hotel com as calças nas mãos, me fazendo correr para o
elevador enquanto tentava enfiar um pau duro pra cacete dentro da calça.
— E eu gosto da sua versão de costas — retruco como o idiota que eu sou, quando ela já está
perto do elevador.
As portas se abrem e ela não diz nada, mas seu sorriso é suficiente para desmanchar a porcaria
da tensão que estava sentindo desde que vi minha foto em todas as manchetes hoje cedo.
— Joshua Thomas Howard, onde você está? — minha irmã grita pelo telefone.
— O que foi Linda? Alguma outra foto das minhas pernas? — resmungo, ligando o abajur. É
madrugada e ela raramente me liga a essa hora, mesmo quando apareço em alguma manchete bizarra
que me faz parecer ainda mais imbecil do que normalmente já sou. — Onde você está? — ela insiste.
— Estava dormindo até você me acordar aos berros — retruco, mas algo na voz dela me
— Fomos atacados de novo e dessa vez, alguém ainda vazou para sites da internet. Estamos
acabados.
Merda. Pulo da cama e começo a me vestir. Pego o carro e disparo para o prédio onde
mantemos nossos servidores. Linda está andando de um lado para o outro no corredor do oitavo
andar, xingando como um caminhoneiro. Ela aponta aquele dedo pequeno para Spencer, nosso gerente
de tecnologia. Ele se encolhe.
— Você não era, supostamente, o cara mais esperto da sua turma? — Linda está berrando. —
Torça para que ela resolva, ou vou cortar suas bolas.
Linda joga os braços para o alto quando me vê. Estou vestindo uma calça jeans e uma
camiseta escura, além de uma jaqueta simples, mas minha irmã parece que nem se trocou, ainda está
com a mesma roupa e maquiagem de hoje mais cedo.
— O que foi? — pergunto, ponderando se o olhar de reprovação é por causa da minha roupa
ou dos acontecimentos recentes.
— Como se lidar com as suas merdas públicas não fosse o bastante, agora estou a ponto de ter
um ataque do coração, Josh. Alguém está ferrando com a nossa rede. E tentando expor a falha na
segurança para que todo mundo veja. Imagine só, nossos clientes vão debandar, vamos falir... Oh
Deus!
Nesse momento, viro e a vejo saindo da sala do servidor principal. Os cabelos pretos estão
amarrados em um rabo de cavalo e ela veste uma camisetinha branca e uma jeans que sobe por sua
cintura. E porra, ela está linda pra caramba outra vez.
— Consegui tirar as informações da internet — Mila diz, abrindo aquele sorriso de tirar o
bom senso de um cara. — Foi fácil. Só precisei hackear os sites e fazer a limpa.
— Então está resolvido? — Linda fala, aflita.
— Não. Ainda precisamos descobrir quem criou a backdoor e por que vazou a falha. Eles
podiam lucrar bem mais roubando seus clientes. Isso está cheirando a espionagem, boicote.
— É uma porta dos fundos, uma vulnerabilidade que alguém colocou no seu sistema.
De repente, Mila se vira e me encara com aqueles lindos olhos, ela tenta parecer indiferente,
mas seu olhar corre por todo meu corpo, gosto do jeito como ela morde o canto do lábio e fica
corada quando se dá conta de que acabo de pegá-la em flagrante me secando.
— Preciso de um café grande — ela diz, voltando a encarar minha irmã. — Vamos descobrir
quem é o merdinha que está aprontando.
Linda manda Spencer providenciar café para todo mundo e Mila volta para seu laptop na sala
do servidor, carregando com ela minha irmã que não para de falar. As duas parecem bem
familiarizadas uma com a outra e sorriem com algum comentário que não escuto. Me junto a elas no
momento exato em que minha irmã fala.
— Você acha que seu código de segurança seria capaz de evitar isso?
— Meu código vai tornar impossível que alguém invada o seu firewall. E ele ainda será
capaz de rastrear quem tentar, inclusive através do Tor.
— Tor? — pergunto, sem fazer a mínima ideia do que ela está falando.
Mila começa a explicar, mas para quando percebe que continuo sem entender. Então solta um
suspiro longo.
— Em resumo, é um navegador que permite que gente perigosa navegue pela deep web sem
ser rastreada.
— Um navegador seguro? — falo, dando alguns passos mais para dentro do espaço pessoal
dela.
— Navegador perigoso — ela diz, olhando por baixo dos cílios volumosos.
Depois que Spencer traz o café e tenta novamente explicar que não faz ideia de como alguém
venceu nossa segurança avançada, Mila tira os tênis, senta com as pernas cruzadas numa daquelas
posições namastê, coloca fones de ouvido e esquece que estamos aqui.
— Você precisa fazer alguma coisa — minha irmã sussurra enquanto saímos da sala, deixando
— E o que você quer que eu faça? Eu entendo de administrar bancos, não hackeá-los.
— Você sabe do que eu estou falando — ela cruza os braços sobre o peito.
— Por que você mesma não casa com a sua amiga e arranja um visto pra ela? — retruco,
fechando a cara.
— Porque tanto ela quanto eu gostamos de pau — ela me encara com um brilho ferino nos
olhos. — Simples assim.
Uma hora mais tarde, um dos contatos de Mila na divisão cibernética do FBI confirma que
conseguiram prender o hacker. O criminoso, na verdade, não passava de um moleque de dezoito anos
que se infiltrou no banco como estagiário. Pilantrinha esperto. Mas isso me deixa em alerta, se
alguém conseguiu tão facilmente causar todo esse transtorno, imagina o que um hacker da pesada
faria. Droga! Nem pense nisso, Joshua Howard. Não. Não. Não. Ok. Vamos ver no que vai dar.
— Hey, Mila, você tem um minuto? — chamo, quando ela está saindo da sala da minha irmã e
rumando para o elevador.
— Não se preocupe, reforcei seu firewall — ela diz e eu aceno concordando. Achando que
era sobre isso que eu queria falar, ela caminha para o elevador. Não me canso de ver essa bela
acabar matando tanto Joshua quanto Linda. Os dois não param de falar do outro lado da tela, não
concordam com nada e estão começando a me deixar com dor de cabeça.
— Não Linda, não é tão simples — Joshua fala. — Eu não faria nada assim, tem que ser algo
que eu faria.
— É simples, Josh. A Relações Públicas da família sou eu, então ouça quando eu digo que é
simples. Tudo de que precisamos é de uma refeição, um beijo em público e uma aliança.
— E de pernas, precisamos de pernas — digo, me intrometendo na conversa dos irmãos.
Joshua cai na gargalhada, mas Linda resmunga algo sobre sermos cansativos demais. Ela sai
para buscar café e nos deixa a sós, bom, tanto quanto é possível uma vez que não estamos no mesmo
lugar.
— Tem que ser natural. Rápido, mas natural para sermos convincentes — Joshua diz.
— E o que você sugere? — minha pergunta sai quase como um sussurro, estou começando a
achar que não foi uma boa ideia seguir o plano de Linda.
— Quer saber, deixa comigo, eu dou o primeiro passo, depois vamos vendo o que fazer.
Menos de vinte e quatro horas depois da última conversa com Linda e Joshua descubro qual é
o próximo passo do nosso plano. Estou no escritório da Faces, minha empresa de segurança digital,
com Dylan, meu amigo e sócio, discutindo sobre o planejamento semestral quando nossa secretária
Ashley entra carregando o que eu chamaria de surpresinha agradável.
Dylan que está sentado em frente a mim pula quando vê Ashley. Ele é alto, tem a pele negra e
lindos olhos escuros que vibram quando entramos em algum projeto. É um gato, mas é o meu sócio.
— O que é que você tem aí? — ele quase enfia a cara no embrulho que Ashley carrega.
Ashley é uma garota franzina, de cabelos avermelhados que fala pelo menos três idiomas. Ela
sorri quando estica os braços e me passa o presente.
— Um buquê de cubos mágicos — diz animada.
— Mas quem diabos manda um buquê de cubos mágicos para uma garota? — Dylan tenta
interceptar o cartão, mas sou mais rápida e o pego antes que ele sequer consiga roçar os dedos no
papel.
Não consigo evitar de sorrir quando leio o cartão: “Desvende o mistério e descubra o
próximo passo”.
Fico olhando para o buquê por algum tempo, os cubos mágicos estão colocados em uma
ordem, então os posiciono na mesa na mesma ordem sobre a mesa.
— Cancele meus compromissos para a próxima hora — digo para Ashley, que sai soltando
minha mesa.
— Você não me disse que estava saindo com alguém.
— Ainda é recente.
— Quem é?
O primeiro cubo que desvendo traz apenas a palavra sexy. Ergo minhas sobrancelhas,
desconfiando do que Josh possa estar aprontando. Não me surpreenderia se fosse uma mensagem
safada, algo me diz que estou brincando com fogo quando se trata de Joshua Howard.
Vou reorganizando cubo por cubo, ao mesmo tempo em que discuto coisas da rotina do nosso
negócio com Dylan. Não temos nada de importante para tratar, mas ele não vai arredar o pé daqui até
descobrir qual a mensagem. Está tão curioso quanto eu.
— E como está o novo programa de segurança? — Dylan pergunta quando termino de montar
um cubo com um horário, 20 horas. Em geral nos damos muito bem, ele administra a parte
burocrática do nosso negócio, vende nossos programas e fecha contratos milionários para a empresa
e eu cuido da parte criativa, criando programas e sistemas e aprimorando a segurança dos nossos
— Tudo correndo dentro do esperado — digo ainda sem desviar o olhar da tarefa.
— E sobre aquele outro problema, do seu visto?
— Ainda não fui notificada nem nada — digo, porque de jeito nenhum vou contar que acabo de
aceitar me casar com Joshua em troca de um green card.
— Eu podia falar com meu pai, talvez ele descubra alguma coisa.
— Obrigada Dylan, seria ótimo.
Depois de montar os cubos nas suas devidas cores e organizar a mensagem, descubro do que se
trata. Não consigo deixar de sorrir quando leio em voz alta:
— Esta noite, Giordani’s, 20hs, jantar e vista algo sexy.
Quem poderia dizer que o magnata mulherengo Joshua Howard podia ser tão criativo?!
Solto um palavrão quando encontro Mila saindo do escritório da sua empresa. Eu não estava
brincando quando pedi que ela vestisse algo sexy, mas também não esperava que ela fosse dar um
show e tanto. Ela sorri quando me vê babando. O vestido vermelho é frente única e envolve os seios
com delicadeza, deixando-os ainda mais empinados, como se gritassem: Hey, Josh, estamos de olho
em você. E eu respondo em pensamento: Hey, garotos, podem apostar que também estou.
Afasto os pensamentos e vou até ela. Toco seu braço e a beijo no rosto, afastando a tensão que
faz parte da nossa relação maluca. Tenho que admitir que fingir estar apaixonado por uma nerd não
era nem de longe um plano para minha vida, mas olhando para as costas nuas de Mila eu bem que
posso acabar me divertindo. Contanto que ninguém descubra, é claro, ou vou acabar atrás das grades
por fraudar um green card.
Mila ergue os olhos e inspeciona meu corpo, seus lábios se curvam num sorriso maroto que é
o suficiente para que meu pau comece a dar sinal de vida.
— Gosta do que vê? — Provoco-a.
— Nada mal, Joshua — ela diz com aquele sotaque brasileiro que me deixa com vontade de
A guio até meu carro, abro a porta, porque já que farei o papel de homem apaixonado vai ser
o serviço completo e isso inclui abrir a porta do carro, puxar a cadeira e o que mais vier. Mila se
senta e me encara com aqueles olhos vivos. Fico me perguntando o que tanto ela pensa, o que tanto
está remoendo naquela cabecinha...
Mila sorri e toda a tensão por baixo dos cílios some, deixando apenas um brilho provocativo
no lugar.
— Espero que você não ronque também — ela diz.
— Em breve você vai descobrir.
Quando chegamos ao Giordani’s Mila solta um suspiro de alívio, suponho que por perceber
que o lugar é bem sereno, sem a agitação das casas noturnas de Nova York. Na verdade, o restaurante
é pequeno e aconchegante, refinado, mas com uma aura retrô de quem já está no mercado há muito
tempo. Somos recebidos pelo velho Paolo com a animação de quem me conhece desde sempre. Ele
nos guia pelo corredor de iluminação suave e nos indica a mesa de sempre, falando com animação
sobre eu finalmente ter levado uma garota, sobre eu precisar comer mais, e toda a ladainha que gente
de sessenta anos gosta de fazer sobre aqueles de quem gosta. Já comemos no Giodarni’s há muito
tempo, meu pai e Paolo foram amigos por mais de trinta anos, eu adoro esse lugar.
— Você parece surpresa — digo, depois que nos sentamos.
— Para sua informação, venho aqui desde menino. Meu pai comemorou o casamento dele bem
no meio deste lugar, quando mal tinha dinheiro pra pagar uma cerveja e um prato de comida. O Paolo
ali — aponto com a cabeça para o italiano que está conversando com outro casal mais ao fundo do
salão. — É o meu padrinho.
Mila não tem tempo de dizer nada, porque Paolo vem na nossa direção com um par de
cardápios.
— Ei, garoto — ele diz. Depois passa o cardápio para Mila, inspecionando-a. — Até que
enfim você me traz uma ragazza, hein. Um pouco magra demais, mas não é nada que uma bela massa
não resolva.
Mila arqueia as sobrancelhas e abre um sorriso discreto, depois de perceber que Paolo não vai
esperar que ela escolha sua refeição.
— Vocês escolhem o vinho, eu escolho a comida — ele diz e sai com os cardápios na mão.
— Ele é sempre assim ou só quando você traz suas garotas? — Mila sussurra, mas Paolo já
está longe e não a ouviria mesmo que ela falasse alto.
— Quer dizer que você é minha garota? — Sorrio.
— Vai sonhando.
— Bom, ele é sempre assim — digo, ainda encarando os olhos vivos e desafiadores da
brasileira à minha frente. — E eu nunca trago garotas aqui.
— Sou a primeira?
ao altar e que também estou prestes a levar você ao altar. É bem importante.
— Ah não, não me diga que você é um daqueles.
— Um daqueles? — É a minha vez de olhar com desconfiança.
— Um daqueles caras bonitos que teve o coração partido e por isso virou um mulherengo que
anda por aí mostrando as pernas nas manchetes. Não que suas pernas não sejam legais, mas...
— Não, Mila, eu não sou um desses caras legais que as menininhas acham nos livros.
— Mesmo assim tem uma história aí, não tem?
— É claro que tem, mas acho melhor a gente deixar pra outro dia.
— Tudo bem — ela diz, mas posso ver a curiosidade estampada no rosto dela.
— E você? Qual a história por trás de tudo?
Ela dá de ombros e remexe na cadeira. Insisto.
— Estamos prestes a trocar alianças, mas eu não faço ideia de quem você é. Preciso conhecer
minha futura noiva.
— Cariño? Você tá brincando comigo? — ela diz, vincando uma linha tensa na testa. — Você
sabe que nós brasileiros falamos português, não espanhol, não sabe?
— Não me diga — provoco-a, é claro que eu sei que é o português a língua do Brasil, mas a
brincadeira serve bem para tirar o foco do medo de Mila de se comprometer.
— Joshua...
— Mila... — Sorrio, entregando o jogo.
— Bom... — ela pensa um pouco. — Paolo, vou deixar você escolher um vinho que combine
com a refeição que está preparando.
Paolo sorri satisfeito e sai, não demora muito e volta com um típico vinho da Toscana, um
Masseto 1996.
— Masseto, é? — Interrogo Paolo enquanto ele serve a taça de Mila e depois a minha.
— Um vinho macio para uma bella donna.
— Ah, velho sacana, vem com essa conversinha mole pra roubar minha garota.
Paolo solta uma risada rouca e puxa uma cadeira.
— Então... — ele começa a falar. — Suponho que não vamos ver mais suas pernas nos jornais.
— Ah, não, se depender de mim veremos muitas vezes ainda essas pernas — Mila fala,
— Quer dizer que você é a responsável? — Paolo a interroga, dando espaço para que um
garçom abasteça a mesa com variadas guarnições tipicamente italianas.
— Não, eu não — ela diz, sorrindo. — Que culpa eu tenho se o seu afilhado perdeu uma
aposta?
Mila chega perto de Paolo e fala baixo, como se estivesse prestes a contar um segredo, mas a
verdade é que ela está prestes a contar uma mentira.
— Nunca prometa comida italiana para uma moça e leve mexicana ao encontro — ela pisca e o
italiano ri abertamente. É claro que conquistou o velho, como não poderia com esse sorriso e essa
sagacidade?
— É bom — Paolo diz e se levanta. — Agora vamos dar uma verdadeira comida italiana para
essa bella donna.
Três pratos e várias taças do Masseto depois, Mila sorri por qualquer coisa, faz perguntas
inesperadas e fala coisas pessoais sobre ter vindo de uma família pobre e sobre ter sido hacker. Em
algum momento esqueço de que isso é só para que ela possa me conhecer o suficiente para a
entrevista do green card e me solto, contando coisas da minha adolescência com Linda, sobre a perda
do meu pai, e o jeito um pouco doido da minha mãe. Mila se preocupa se ela vai conseguir
conquistar a sogra e quando percebemos estamos rindo da loucura da situação. É estranho como essa
garota consegue derrubar a pose de executiva de sucesso sem perder o brilho, como consegue falar
com paixão sobre uma coisa chata como sistemas de informação e no instante seguinte fazer alguma
piada terrível que nem ela parece entender.
Terminamos a noite quando já não há mais ninguém no salão de jantar, a luz está mais baixa e
Paolo colocou uma música suave de fundo, velho danado, sempre pensando em tudo. Depois de
várias tentativas inúteis de pagar a conta, rumamos para fora do restaurante. Perto da porta, começo a
sentir a tensão voltando a se instalar outra vez. Sei o que está para acontecer, mas algo mudou
durante a noite, não só a proximidade com Mila, mas ver o quão real essa coisa toda está se tornando
Paolo abraça Mila enquanto o manobrista busca meu carro, e quando o italiano volta para
dentro do restaurante a puxo para um abraço. Ela é pequena e firme, o salto bate de leve no chão
quando Mila afunda nos meus braços. Passo meu casaco ao seu redor e ela ergue os olhos na minha
direção. Estonteante, é a única palavra que vem em minha mente.
Quando percebo o fotografo se aproximando, puxo Mila para o meu peito e escondo seu rosto
bem na hora do flash. O que deu em mim? Paolo volta a aparecer bem na hora e espanta o fotografo
pelo tempo necessário para que eu coloque Mila no carro e saia em disparada.
Não sei se foi a coisa certa, mas não quero que ninguém estrague esta noite.
“Quem será a nova conquista de Josh ‘pernas saradas’ Howard?” (Blog de fofocas).
“Parece que Joshua Howard tem uma nova garota. Será que descobriremos a identidade da
mulher misteriosa?” (The N.Y Times).
“Apenas alguns dias depois de ser visto com as calças na mão, Joshua Howard, o polêmico
banqueiro, é visto tentando esconder o rosto de uma mulher depois do que parece ter sido um
jantar romântico. Se ele for tão bom nos negócios como é em desfilar com garotas bonitas, seu
ele pode ser uma companhia agradável. Mas é assim mesmo, esse tipo de cara sabe bem como fazer a
gente se sentir única, especial e depois eles nos destroem como se não passássemos de um pedaço de
lixo. Eu já tive minha cota de babacas.
Quando acordei hoje cedo estava com um péssimo humor. Como eu pude ser tão boba? Como é
que eu achei que de alguma maneira essa experiência toda podia ser legal? É claro que para Joshua
Howard é tudo um jogo, não, é tudo um negócio. Então por que no último momento ele evitou o
fotografo e me escondeu com o próprio corpo?
Desde que cheguei ao escritório tudo o que fiz foi remoer essa maldita pergunta. Mesmo agora,
olhando a notícia e vendo nossa foto nas manchetes de fofocas eu ainda não consigo entender. Será
que foi algum tipo de estratégia? Droga. Pare de pensar nele, Mila, concentre-se. Meu celular vibra
alô.
— Não seja dramática — retruco.
— Por que você está mal humorada?
— Quem disse que estou?
— Íntimos?
— Não finja que não notou, Mila. Vocês juntinhos, os olhares...
— Tivemos uma boa noite, mas foi só isso.
— De qualquer forma isso não é da minha conta, só tome cuidado para não se magoar, Josh é
meu irmão e eu o amo, mas ele não é uma pessoa simples.
— Eu sei e não tenho a menor pretensão de cair de amores pelo seu irmão. Mesmo que ele
tenha aquelas pernas.
Linda ri.
— Vocês são bem parecidos, na verdade.
— Sim, com certeza Linda. Seu irmão aparece no jornal com as pernas de fora e declarações
polêmicas toda semana, enquanto eu fujo de entrevistas como se fugisse de uma doença venérea. Não
rindo. — Tudo bem, agora vamos falar do próximo passo do nosso plano.
— Não sei, não Linda. É muito arriscado, podemos acabar presos.
— Deixe de ser mole, você prefere falir a entrar numa igreja?
— Não, mas é que...
— Se você quiser desistir tudo bem, mas pense no futuro da sua empresa, no tanto que se
dedicou para chegar até aqui.
— Você está certa, não posso ficar sentada, esperando que me deportem como se tudo que fiz
por esse país não fosse nada.
— Essa é a minha garota — Linda diz. — Pense em alguma coisa para fazer a seguir e nos
falamos mais tarde. Agora vou ligar para o meu irmão cabeça oca e descobrir o que foi que deu...
— Linda... — a interrompo. — Obrigada, por tudo.
— Não me agradeça, você não sabe o problema que estou te empurrando.
— Problema?
sala, joga os braços para o alto, reclama por eu ter escondido o rosto de Mila quando o fotografo
contratado por ela deu o clique.
Não tenho a menor pretensão de inventar uma desculpa, não sei o que deu em mim, então fico
calado e ponto final.
— Pelo amor de Deus, Josh. O que deu em você?
— Por que todo esse drama, Linda? Não foi nada demais.
— Nós precisamos que as pessoas vejam você com a Mila, ou você esqueceu do que se trata
tudo isso? — uma linha tensa se forma entre as duas sobrancelhas dela.
— Não esquec... — começo a dizer, mas sou interrompido por Carole Ascott, minha secretária
de meia idade, que na verdade é a mulher mais elegante que conheço. Ela me entrega uma caixa preta
mistério até as 16 horas. Olho para o relógio, faltam quinze minutos para uma da tarde. Abro a caixa
e despejo o conteúdo na mesa. Puta merda, um quebra cabeça com centenas de peças bem
pequenininhas.
Linda pega o cartão da minha mão e o lê, depois, com uma sobrancelha erguida ela encara as
ela.
São três da tarde quando Linda enfia a última peça bem no meio do jogo. A mesa está tomada
por ele e pelas minhas contas acabamos de derrotar um quebra-cabeça de 305 peças. 305 peças.
Quem diria!?
— Então, o que é isso tudo? — Linda coloca as mãos na cintura e me encara com aquele olhar
de “que merda é essa, Josh?”, geralmente usado quando eu faço alguma burrada.
— É um código — Spencer é quem responde. — Só precisamos saber do que.
O garoto da correspondência enfia a cara na frente e sorri. Depois ergue os olhos pra mim e
diz:
— Se eu desvendar posso ter um aumento?
Olho para o relógio e aceno que sim. Satisfeito, o garoto aponta para o código e depois dá um
— E como você sabe disso? — Linda monta aquela linha tensa de novo entre as sobrancelhas.
— Porque quando eu era pequeno, meu avô guardava a medalha do pai dele em um desses e
tinha um número assim que ele precisava passar para o gerente para acessar a caixinha.
— Mas as caixas foram reconfiguradas há semanas, os números são menores e há sensores
digitais... — Spencer declara, nos lembrando da atualização que fizemos há pouco tempo, quando
digitalizamos tudo.
— Então é um dos antigos, dos que ainda não foram trocados — concluo. — Linda, em quantas
agências ainda temos essas caixas?
— Não em muitas, suponho. A maioria dos cofres já foi modificado, só uns poucos ainda não.
— Ela responde, pensativa.
— Por que ainda têm cofres assim?
— Burocracia — Spencer responde ao garoto, que ainda está satisfeito por acabar de ganhar
um aumento.
— Posso perguntar mais uma coisa? — O garoto da correspondência fala, mas não espera por
uma resposta. — Por que 305 peças e não 300 ou 310 ou 299?
— É isso! — digo, tendo meu repentino momento eureca.
— É isso? — Linda pergunta.
— Sim, agência 305. Senhorita Ascott, desmarque meus compromissos, vou tirar o resto do dia
de folga.
Carole acena que compreendeu e me alcança meu casaco. Pego minha carteira, o celular e a
chave do carro. Tiro uma foto do número do cofre e caminho para a porta. Não é uma boa ideia sair a
essa hora por causa da loucura do trânsito, mas não posso esperar mais.
— Aonde você está indo, Josh? Não me diga que você sabe exatamente onde fica a agência
305?!
— Que espécie de administrador eu seria se não conhecesse nossas agências? — dito isso,
saio e deixo todo mundo ali com a bagunça de peças. Escuto o garoto comemorar seu aumento e por
uma fração de segundo consigo imaginar o quão longe o rapazinho ainda vai. Garoto esperto,
aproveitou a demanda do mercado. Eu precisava de algo que só ele tinha, ele deu seu preço e tive de
aceitar. E bum, lá está ele comemorando um inesperado aumento.
Chego à agência 305, bem no centro de Manhattan. Sou atendido com prontidão por um gerente
muito surpreso e levado à área dos cofres. Há apenas um que não passou pela atualização digital. Um
cofre comprado há alguns anos.
À princípio o gerente fica receoso de abrir um cofre de outro, mesmo eu mostrando a chave.
Por via das dúvidas ele liga para o telefone de contato e volta alguns minutos depois, com
autorização para abrir a caixa. Mila.
Sozinho, respiro fundo e abro.
Um par de ingressos para algo misterioso. Os ingressos são em preto e violeta, num tom
holográfico com apenas uma data, local e horário. Seja o que for que ela aprontou vai ser hoje, as
dez da noite. Coloco-os na carteira, fecho o cofre e saio.
Mando uma mensagem para Mila perguntando que roupa eu devo vestir, agora são exatamente 4
da tarde e ela responde imediatamente.
“Vista o que quiser, ou se preferir pode não vestir nada.”
Ela nunca vai esquecer aquela maldita foto no jornal, vai?
“Tudo bem, pego você as nove, talvez eu siga seu conselho e vá de pernas de fora.” Respondo.
“Mal posso esperar.” Sua resposta curta é suficiente para me deixar em alerta, ou melhor,
deixar meu pau em alerta.
Se as coisas não fossem se complicar, talvez eu me divertisse muito aproveitando nosso
suposto casamento. Mas as coisas não podem seguir por esse caminho. Não importa o quanto Mila
seja gostosa, ou esperta ou tenha uma bunda incrível. Não importa que ela seja a pessoa mais
desafiadora, não posso enganá-la. E hoje vou esclarecer isso. Essa noite vou colocar todos os pingos
nos is e se ainda assim ela quiser continuar, que seja, vamos para igreja.
Desço pelo elevador de serviços do prédio onde fica a Faces. Como geralmente sou a última a
sair da empresa, os seguranças do prédio já estão acostumados com as minhas, digamos,
excentricidades e por isso ninguém me questiona quando passo, vestida com um elegante vestido
preto que envolve meus seios e quadris e tem uma enorme fenda na coxa direita. Se vou desfilar por
aí com o mulherengo e super sexy magnata do ramo bancário, Joshua Howard, farei isso vestindo
algo que me coloque em um patamar próximo, pelo menos.
Carl, o porteiro noturno que ostenta um divertido sotaque texano, junto com um cabelo grisalho
muito alinhado, sorri quando me vê. Ele sai do seu lugar atrás do balcão e com passinhos rápidos de
alguém cheio de vitalidade, embora já na casa dos sessenta anos, abre a porta. Geralmente trocamos
alguma conversa fiada sobre a família dele no Texas, sobre seu filho que se formou recentemente e
acabou de comprar um carro novo ou sobre a torta de framboesa que a esposa sempre prepara aos
finais de semana, mas não hoje, essa noite estou nervosa, com as mãos suadas e o coração acelerado
— Pelo jeito a noite vai ser boa, hein dona Camila... — ele dá uma piscadinha.
— Foi a promessa do meu horóscopo hoje.
Carl ri, o porteiro sabe que odeio essas coisas, embora ele acredite muito que os signos
possam descrever perfeitamente a personalidade de alguém.
— Quer que chame um taxi?
— Não será necessário, meu acompanhante já está me esperando.
conhecido performer americano e não foi nada fácil conseguir as entradas. Somos guiados por um
corredor estrategicamente escuro e amontoados junto com a plateia, no centro do que parece ser um
salão. Mal consigo ver a fisionomia de Joshua, mas sinto a firmeza de seus dedos que não largam os
A música vai ficando mais alta até que as luzes começam a vibrar com as batidas. Aparecendo
em todos os lados. É mesmo lindo, psicodélico de um jeito quase inebriante.
Então, do nada, vejo movimentos nas paredes, são pessoas rastejando de cima para baixo,
iluminadas pelo brilho que pisca vermelho em seus peitos, como se fossem corações batendo. Josh
aperta minha mão quando as luzes explodem em movimentos intensos por todos os lados. Somos
embalados por uma música deliciosa, forte, que dá o compasso dos bailarinos que brilham e deixam
tudo mais lindo. Mesmo eu, que já tinha ideia da grandiosidade do espetáculo, estou boba com o
efeito.
Um novo show de luzes começa a iluminar aos arredores, permitindo que eu tenha um
vislumbre do meu acompanhante. Josh está sorrindo e seu sorriso ilumina tudo, fazendo com que eu
desista das luzes e só consiga focar em seus lábios. Deus do céu, por que ele tem de ser tão sexy e
cativante?
Pisco algumas vezes, engolindo a saliva com dificuldade. Por que meu corpo reage desse
jeito? Respiro fundo e percebo que ele está me olhando, seus olhos profundos me encaram com uma
atenção perturbadora, como se desvendasse o que há por trás de tudo, o que tenho de mais profundo.
Desvio o olhar e sorrio para as luzes que formam desenhos no ar, desenhos feitos por corpos que
pulsam e brilham, pendurados naquelas cordas de segurança e dançando como se não pesassem nada.
Depois que o espetáculo acaba esperamos que a maior parte das pessoas rume ao bar da
galeria para um coquetel rápido, nós ficamos ali, observando como as paredes simples e enegrecidas
pela penumbra conseguem permitir que um show e tanto seja feito. Só precisa de pessoas, música e
um pouco de luz.
Joshua segura minha mão com firmeza, me guiando para a saída. Nós dois conversamos sobre
coisas relacionadas ao show e ainda que eu saiba que o momento se aproxima, não consigo deixar de
sentir um frio no estômago. É hoje que vamos dar o próximo passo rumo ao nosso falso enlace. Sei
que foi combinado, mas estou um pouco nervosa.
Paramos do lado de fora, aguardando o manobrista buscar o carro, uma brisa suave bagunça
meus cabelos e Josh pega uma mecha teimosa e a coloca atrás da minha orelha. Ergo meus olhos na
direção dos dele e é como se o mundo parasse. Josh se aproxima de mim, colando o corpo e me
aconchegando a ele. Sua mão sobe até meu queixo e me faz encarar seus lindos olhos verdes. Então
desvia e seus lábios roçam o lóbulo da minha orelha, sem querer deixo escapar um gemido baixo e
Josh me aperta mais contra o corpo.
— Preparada? — ele sussurra. — Posso beijá-la?
Assinto e ele toma meu rosto nas mãos, olhando para a minha boca e em seguida voltando para
os olhos. Josh mergulha nos meus lábios com força, como se não houvesse mais nada no mundo que
ele quisesse a não ser me devorar. E eu me deixo levar, porque apesar de saber que tudo isso não
passa de uma encenação, meu corpo é um traidor que reage com força total. Sim, já sei, estou na
porcaria de uma seca, sim, Josh é uma delícia de homem e seu beijo é fogo puro, que me inflama
como nunca antes senti. E sim, me sinto atraída por ele, é verdade, mas não posso me apaixonar.
Suas mãos puxam meu cabelo de leve, me pressionando ainda mais contra ele e nossos lábios
se movimentam num ritmo sedento. Não sou apenas eu que reajo a ele, sinto seu corpo movendo-se,
uma de suas mãos nos meus quadris nos faz encaixar e ele está... duro. Ah Deus, não sei se aguento.
Um Josh safado que beija bem é uma coisa, mas um Josh safado, que beija bem e está completamente
duro por minha causa é demais para mim. Meus mamilos reagem na hora e sei que lá embaixo estou
pronta para tê-lo em mim.
Afasto os pensamentos insanos, isso nunca vai acontecer. Não serei mais uma na longa lista de
Josh me puxa ainda mais, mordendo meus lábios e mergulhando sua língua profundamente. Eu
sei, eu sei, é encenação, eu sou forte, não vou cair na dele, mas está tão bom que simplesmente não
consigo parar e minhas mãos agem feito malucas, puxando o cabelo de Josh, ou puxando seu corpo
contra o meu.
Só conseguimos nos afastar quando o manobrista pigarreia constrangido. Josh afasta o rosto,
mas ainda me encara, parece confuso, perplexo. Ele retoma a atenção e pega a chave do carro. Abre
a porta e eu entro em silêncio, mexida demais com o beijo que deveria ter sido só mais uma coisa
para despertar a curiosidade das pessoas em relação a nós, mas que acabou por ser um furacão.
Estou mesmo brincando com fogo.
Josh senta do meu lado e suspira.
— Está tudo bem? — pergunto com um fio de voz.
— Você sabe que tudo isso é um acordo, não sabe? — ele me lança um olhar sombrio, como se
estivesse tentando convencer a si mesmo. — Não tenho a menor pretensão de transformar isso em
algo além do que é.
— Eu sei, Joshua — digo, cruzando os braços sobre o peito.
Ele dá a partida, resmungando baixo demais até mesmo para que eu possa ouvir.
— O que há de errado? — pergunto, porque esses resmungos estão me irritando.
— Nada — ele responde rápido e áspero demais.
— Olha, você ser um babaca eu aturo, mas um babaca caduco que resmunga sozinho não sei se
dou conta.
Joshua sorri e eu continuo.
— Além do mais, não tenho culpa que beijo bem e você ficou animadinho — digo, apontando
na direção do seu “super membro” que até a poucos momentos estava me cutucando enquanto nos
beijávamos.
Josh fica vermelho, mas então um sorriso maroto brota nos lábios dele e sei que aí vem
chumbo grosso.
— Eu não fiquei animadinho, Mila, fiquei animadão — ele sorri e sei que está se referindo ao
tamanho do seu pau.
Claro, Josh convencido Howard está de volta. Sorrio, porque apesar de tudo, esse jeito bobo
dele é muito mais fácil de lidar.
— O que foi? — é a vez de ele perguntar, as sobrancelhas curvadas do mesmo jeito que Linda
faz quando está desconfiada.
um visto.
— Mas acho interessante que você se preocupe com a minha satisfação — ele diz, mordendo
os lábios. Seguro a resposta afiada que ia dizer, porque percebo que ele ainda não terminou.
Convencido. — Isso me faz pensar em você...
— Ah, não se preocupe, eu tenho meu vibrador pra me consolar — solto sem pensar e me
arrependo no mesmo instante.
Voltamos a ficar em silêncio, mas Josh não consegue, ele sorri, morde o lábio inferior e sei
exatamente o que está provocando essa reação nele. Ao invés de ficar constrangido com minha
resposta afiada, como eu esperava, ele está se divertindo, imaginando coisas. Droga, ele está mesmo
imaginando e isso me deixa mais quente.
— Não consigo evitar — ele fala e eu engulo em seco, isso está indo longe demais.
Volto os olhos para o outro lado do vidro. Josh não insiste em continuar a conversa. Ele para o
carro na frente do prédio onde minha empresa fica, como pedi. Desço e peço ao porteiro para pedir
que um dos manobristas tragam meu carro. É uma das vantagens de estar em um dos prédios mais
fogueira. — Acho que vou demorar pra dormir, tenho muito em que pensar.
Ele sorri e se afasta, me deixando ali, atordoada com a ideia de que ele vai pra casa me
imaginar brincando com um vibrador. E a culpa é de quem? Minha é claro, porque não aguentei e tive
de provocá-lo. Só de pensar nele se tocando e pensando em mim sinto um calor percorrer todo meu
corpo. Droga. Droga, controle-se Mila.
Acho que vou mesmo pra casa brincar com a porcaria do vibrador.
Passo horas revirando. Desde aquele maldito beijo que tudo que consigo fazer é remoer de um
lado para o outro na cama, lutando contra uma ereção desgraçada que não se cansa de aparecer
sempre que me lembro do seu cheiro, a forma como me puxou para junto do corpo. E quando me
lembro dela falando do vibrador, puta merda, isso me deixa louco. Tudo em que consigo pensar é ir
até a casa dela, meter o pé na porta e me afundar com força naquele corpo pequeno e sexy. Se bem
que nem sei onde Mila mora...
Sento na cama e pego o celular. Se eu não vou dormir, ela também não.
Começo a digitar uma mensagem, mas apago. Se mandar isso, com toda certeza Mila vai
desistir de tudo achando que sou um completo pervertido. Penso por mais um momento e então
digito: “almoço amanhã?”
Me surpreendo ao ver que rapidamente vem uma resposta, então ela também não está
dormindo. Isso só inflama ainda mais a minha imaginação. Leio a resposta: “Tudo bem.” Hum... o
“Perdeu o sono, Mila?” Envio a mensagem, levanto e vou a cozinha me servir de um copo de
suco.
“Por que é tão estranho que uma garota queira satisfazer suas próprias necessidades?” Ela
devolve.
“Não é estranho, é sexy. Tanto que não penso em outra coisa nesse momento.”
Mila não me manda mais nada por algum tempo. Será que a ofendi? Estou começando a digitar
um pedido de desculpa quando a mensagem dela brilha na tela do celular: “Talvez você devesse
comprar um pra você também, já que está tão curioso”.
Me jogo no sofá pensando na mensagem de Mila, é claro que ela diria esse tipo de coisa, é
ousada e forte o bastante para isso, mesmo que minha resposta seja áspera ou muito sacana. Começo
a pesquisar em um aplicativo de compras alguns modelos de vibradores e mando várias fotos pra ela,
— Um almoço.
— Um almoço? Só isso?
— Sim, e deixamos que vejam o rosto da Mila, vazamos a identidade dela.
— Ok, mas quando?
— Hoje, precisamente daqui uma hora.
— Ah, merda, quando você pretendia me avisar?
Dou de ombros e Linda bufa, rumando para a porta com pressa.
— Preciso dar um jeito no fotografo, ele vai me arrancar os olhos da cara por não ter
combinado antes...
Linda sai do meu escritório reclamando sobre os custos da nossa farsa, sem se importar mais
com nada a respeito do meu beijo ou da cara de transtornado que eu estava quando me afastei de
Mila. Pensando nisso, pego meu celular e procuro o blog. Assisto ao vídeo do beijo uma dúzia de
vezes só pra ter certeza de que preciso mesmo controlar o rumo que as coisas estão indo.
Apesar de ter marcado o almoço, a reunião em que estou se estende mais do que o esperado e
sou obrigado a enviar uma mensagem para Mila me desculpando. Vinte minutos depois, Carole entra
na sala de reunião onde estou esbravejando com um gerente idiota que acha que sabe mais de
investimentos do que eu, a secretária cochicha no meu ouvido que há uma “bela moça, chamada Mila,
que é. Um vibrador.
— Definitivamente esse é o meu favorito — ela diz, finalmente saindo da minha cadeira e indo
se sentar na cadeira em frente à mesa.
Assim que ela termina de falar começo a sentir meu pau dando sinal. Droga.
Linda chega bem na hora e fico todo embananado, tentando esconder a ereção e o vibrador dos
olhos atentos da minha irmã mais velha. Ela abraça Mila, que ao perceber minha confusão começa a
jogar conversa fora, arrumando tempo para que eu esconda o vibrador na gaveta e afunde na cadeira.
Começo a remexer na sacola e descubro que Mila trouxe comida de um restaurante brasileiro
que há do outro lado do Central Park. O cheiro é delicioso e só pelo trabalho que ela teve deve valer
a pena.
— Espero que goste de comida brasileira — ela diz, vindo pegar uma das embalagens. — Vai
— Tem pra você também — Mila fala pra minha irmã, que observa nossa interação com muita
curiosidade.
— Já tenho um compromisso, mas obrigada — Linca fala e sai, nos deixando ali discutindo
sobre a comida e sobre nossos planos futuros.
— Sexo? — engulo em seco porque só a simples menção me deixa com vontade de voar sobre
— Não estou entendendo... — começo a falar, mas então percebo que ela está se referindo a
mim com outras garotas e não com ela. Ok, limites então. — Não sou um babaca infiel Mila, se não
tenho nenhum relacionamento sério é justamente porque não quero ferir ninguém.
— Tudo bem, mas você sabe, há certas necessidades... — ela ruboriza. — E eu não gostaria de
ser humilhada, não que eu me importe com o que pensam de mim, mas poderia prejudicar minha
carreira, minha empresa é tudo que tenho.
— Eu sei — digo e penso por um momento. — Bom, agora que você me deu um vibrador acho
que posso aguentar.
Mila solta um riso alto e estranho e quando me dou conta estou rindo junto com ela. Entendo
que esteja preocupada com sua carreira e sei que vai ser difícil ficar sem sexo, mas o Conglomerado
Howard também vai lucrar e muito com isso, então não posso e não vou ferrar com as coisas.
— E você... também não vai me trair por aí com algum brasileiro sarado que joga capoeira,
hein.
— Nem todo brasileiro faz capoeira ou é sarado. Nossa, vocês americanos têm uma visão
maluca do meu país. Mas por mim tudo bem, agora tenho uma coleção de vibradores, já que tive de
experimentar vários pra saber qual o melhor.
Cuspo a água que estava bebendo. Mila não pode estar falando sério. Ou será que está?
— Calma Joshua, são só alguns vibradores, não é motivo pra tanto espanto — ela estreita os
olhos, chegando mais perto de mim sobre a mesa. Puta merda, estou começando a perder o bom
senso.
— Você sabe que quando me mudar pra sua casa vou encontrá-los, não sabe?
— Vou guardar tudo em um cofre — ela ri. — O vibrador de uma garota é coisa séria.
— E o de um cara, também é? — digo, pegando a caixinha da gaveta e jogando na mesa.
— Meu Deus, essa conversa está terrível — Mila fala, levantando e saindo da mesa. — Nunca
pensei que fosse discutir esse tipo de coisa com um cara, ainda mais o irmão da minha melhor amiga.
— Então vamos mudar de assunto ou vou acabar passando a tarde trancado no banheiro.
Mila me lança um olhar de esguelha e morde o cantinho da boca. Ela está imaginando, ah
garota safada, está pensando em mim e no meu pau.
— Certo — ela diz.
— Então, jantar essa noite? — pergunto. — Precisamos mostrar seu rosto para o mundo, antes
observá-lo.
— Há alguma coisa errada?
— Nã-não. Você está linda.
— Obrigada — falo, voltando para o espelho do banheiro e começando o delineado.
— Com quem você vai sair? É o cara dos cubos?
— Ele mesmo — digo, partindo para o rímel.
— Por que tanto mistério? Eu conheço o cara?
— Todo mundo conhece — resmungo, sabendo que em algum momento vou precisar fingir que
estou apaixonada por Joshua e aguentar toda a confusão que isso trará.
Saio do banheiro outra vez e encaro Dylan, ele está sendo possessivo e está começando a me
irritar, por isso nunca passei dos limites com ele, cruzar essa linha com alguém que trabalha tão perto
acaba estragando tudo e o que menos preciso nesse momento é outro homem tentando me dizer o que
fazer. Já passei por isso antes e não vou deixar acontecer de novo.
— O que é que está havendo com você, Dylan?
— Não é nada — ele cruza os braços sobre o peitoral. Não posso negar que é uma delícia de
homem, forte e sexy, ainda mais quando está emburrado como agora, mas não posso me deixar iludir,
nunca daria certo trabalhar e dormir com a mesma pessoa.
— Estou saindo com Joshua Howard, o irmão da Linda — declaro, sem desviar. A mudança na
postura dele é imediata, de curioso e um pouco enciumado para muito possesso.
— Você está de brincadeira.
— Estou falando sério — retruco, furiosa. — Além do mais isso não é da sua conta.
— Mila... — Dylan ameniza a voz. — O cara é um idiota que trata as mulheres como lixo.
— Você não sabe do que está falando.
— Não, Mila, é você que não sabe com quem está lidando. Josh Howard é praticamente um
Aceno que sim enquanto pego minha bolsa. Josh então faz a coisa mais inesperada do mundo,
se curva e me pega no colo, me jogando sobre seus ombros como se eu fosse um saco de batatas e ele
um carregador. A facilidade com que faz isso é impressionante.
Até finjo que estou esperneando, como se fosse uma donzela raptada. Josh não me larga nem no
elevador.
— Está apreciando a vista? — pergunto, enquanto o elevador nos leva até a saída.
— Pode apostar que sim — ele retruca e posso sentir no tom de sua voz que a tensão de dois
minutos atrás já começou a dissipar.
Seria ultrajante, se não fosse tão sexy. Droga, acho que preciso mesmo resolver as coisas com
o meu vibrador, antes que acabe me jogando nos braços de Joshua e estrague tudo. Pra isso dar certo
preciso ser forte e não me render. Não posso e não vou ter meu coração partido outra vez. Eu sei que
no fundo Dylan está certo, Josh está acostumado a ter a mulher que quer e depois descartá-la como se
não fosse nada, mas eu não sou assim, uma tola que se ilude com um olhar bobo e algumas
provocações sexuais, e o que temos não passa de um contrato que favorece a ambos.
Josh, comigo ainda nos ombros, sai pelo lobby do prédio e os seguranças nos abordam
alarmados. Dispenso o socorro com uma gargalhada, acenando que estou bem. Acho que o sangue
está começando a se amontoar na minha cabeça, porque não consigo pensar direito, tudo que vem à
minha mente é o som da voz de Josh anunciando que vai me levar pra casa e fazer com que eu grite
de prazer. Ah, maldito corpo traidor, só de lembrar já se acende todo.
Meu raptor me coloca no banco do carona do seu carro e com um olhar muito profundo
anuncia:
— Mudança de planos.
Josh entra no carro e dá a partida, a princípio seus olhos profundos parecem perdidos em
alguma coisa no trânsito, irritado por trás de uma fachada de playboy imune e indiferente. Aos
poucos a tensão vai dissipando, o maxilar relaxa um pouco e ele logo está cantarolando baixinho,
— Todo mundo gosta de James Blunt — depois de dizer isso Josh começa a cantar baixinho
“you’re beautiful”.
Contraponho a letra fofinha cantando “same mistake” e Josh para de cantar para me ouvir. Seus
lábios se curvam em um sorriso carnudo e sexy, mas ele não diz nada por algum tempo, depois
começa a cantar comigo e seguimos o resto do percurso até seu apartamento pulando de música em
música de James Blunt.
— Bem vinda ao seu futuro lar — Josh diz, quando abre a porta da cobertura.
É claro, ele não podia morar em um apartamento pequeno e apertado como todo mundo em
Manhattan, ele tinha que morar em uma cobertura gigante, com vista para o Central Park.
Dou uma olhada pelo apartamento, é bonito e tem uma aura bem aconchegante. O estilo aberto
é limpo e tem uma mistura de industrial e chique em harmonia.
— Você parece surpresa.
— É inesperado — digo. — Acho que imaginei você mais como o dono de um apartamento
frio, tipo um abate para suas presas...
— Claro, porque sou um monstro devorador de garotas indefesas — ele fala, o rosto muito
perto de mim, tão perto que quase posso sentir o sabor dos seus lábios.
Desvio e suspiro, não posso deixar que as coisas sigam por esse caminho, não mesmo.
— Desculpe por Dylan, ele não falou sério, só estava preocupado — digo, tentando mudar de
assunto.
Quando Josh volta estou parada diante da janela. A vista do Central Park é realmente
deslumbrante. As pessoas são tão pequenas daqui de cima, mas ainda assim o verde do parque, a lua,
a forma como a luz banha lago Jackie Kennedy transforma a paisagem em uma obra de arte.
Josh traz uma taça de vinho e me entrega, ele está lindo, com os cabelos bagunçados e uma
camiseta com decote levemente em v e uma calça jeans escura com furo nos joelhos.
— Você tem sempre que mostrar as pernas? — provoco-o, olhando para o furo nos joelhos,
apartamento dele e de outro, o diabinho que existe em mim diz que devo pular nos braços de Josh,
arrancar suas roupas e deixar que ele transforme meu corpo em um parque de diversões sexuais,
fazendo o que bem entende comigo. Santo Deus, estou enlouquecendo.
— Bom, de uma coisa você pode ter certeza, não vai morrer de fome quando nos casarmos...
— Josh para de falar, posso ver que ele está pesando o que acabou de falar. — Que loucura. — Ele
diz e começa a rir. — Há anos que não me imagino em um relacionamento, nem gosto da ideia, e
agora estou aqui, falando em cozinhar pra você depois de nos casarmos. E nem fizemos sexo.
— Ainda podemos desistir — digo, mas no fundo sei que eu não posso, não se quiser manter
meu negócio.
— Você quer desistir, Mila?
— Sinceramente? Não. Eu preciso disso para não perder meu negócio, mas se você quiser
parar agora antes que a gente cometa um crime federal, eu vou aceitar, não é justo pedir que você e
sua família se arrisquem assim.
A simples menção de alguém tirando uma foto nossa me arrepia toda e não é um daqueles bons
arrepios, eu odeio ter que me expor, me sentir vulnerável enquanto outras pessoas observam e
julgam, tirando conclusões que na maior parte das vezes não têm nada de verdadeiras. Joshua, por
outro lado, lida bem com a exposição, criado nesse mundo de aparências acho que ele criou um muro
ao seu redor e não deixa que ninguém saiba quem realmente é. Cada dia que o conheço melhor, tenho
mais certeza disso.
Depois de ajudá-lo com a louça, nos sentamos no sofá com nossas taças de vinho. Josh está
tão perto que o calor de seu corpo me acerta em ondas suaves. Preciso reunir toda a minha força para
não pensar no maxilar, na pele, no cheiro, no corpo definido por baixo da roupa casual, mas é bem
difícil já que ele não desvia aqueles olhos verdes nem por um momento.
— Tudo bem, já decidimos que vamos viver parte do tempo no lago e parte do tempo aqui, o
que mais preciso saber a seu respeito, Mila?
— Tudo — digo, porque na verdade Josh não sabe nada sobre quem realmente sou.
— Que seja então, pode começar, não me esconda absolutamente nada.
Rindo, começo a contar sobre a minha trajetória de hacker a executiva, de garota pobre a
independente financeiramente. Não escondo dele nem mesmo sobre as coisas erradas que fiz quando
era a hacker conhecida como Blue. A única coisa que deixo para lá é o meu coração partido.
— Sua vez — digo, depois de narrar coisas que nunca cogitei contar nem para minha melhor
amiga, Linda.
— Não tem muito sobre mim... só o que todo mundo lê nos jornais.
Cruzo meus braços sobre o peito e o encaro.
— Isso é o que você diz pras garotas que passam uma noite com você, pra mim, você vai dizer
a verdade.
Josh franze a testa, intrigado. Ao notar que estou falando sério esfrega o rosto.
— Nem sei por onde começar...
para descobrir que a gravidez era uma mentira e eu ter meu amor próprio e minha inteligência
despedaçados. Então é isso, não odeio relacionamentos, só não tenho qualquer pretensão de ser o
idiota enganado por uma falsa gravidez outra vez. E mesmo assim aqui estou, vendendo minha alma a
fazendo engasgar.
— E você, Mila, me contou tanto da sua vida, mas não me disse uma só coisa sobre seus casos
amorosos. Pelo jeito eu não sou o único que odeia relacionamentos.
Ela pensa por um momento.
— Não odeio relacionamentos, tive alguns ruins, outros bons. É a vida.
Percebo que a mudança no semblante de Mila é sutil, ela está desconfortável, incomodada.
Resolvo dar o assunto por encerrado, migrando para outros temas como cor favorita, música,
comida. E assim ficamos por mais uma hora, jogando conversa fora, tentando conhecer um ao outro.
Arrumo a cama e Mila se joga nela sem a menor preocupação. Suas pernas quicam para cima e
para baixo e ela ri. Vê-la afundando nas minhas cobertas e aspirando o cheiro do meu travesseiro é
estranhamente excitante.
— Tem o seu cheiro — diz e então cruza os braços sob a cabeça. — Até que é bem
confortável.
Fico parado, olhando-a, porque nesse momento não consigo raciocinar direito, tenho certeza de
que se abrir minha boca para falar vai sair uma porção de coisas pervertidas que vem à minha mente
só de vê-la ali. Sem dizer nada, rumo para a porta.
— Obrigada Joshua — ela diz. Maldito sotaque sexy.
— De nada, Mila.
Deito no sofá, afofo o travesseiro e afundo a cabeça nele. Quando, em um milhão de anos, uma
mulher linda e sexy dormiria na minha cama e eu não tiraria proveito disso? Droga, vai ser um
definitivamente não devo imaginar, bem porque, o que temos é um acordo que beneficia a ambos,
misturar sexo à equação vai complicar tudo a um nível que não será bom para ninguém. Não posso
dormir com Mila. E repetindo isso como um mantra, acabo pegando no sono.
Acordo com o cheiro do café e o som da cafeteira. Resmungo quando sento no sofá, mas logo
Estou bem perto de cravar minha boca na sua e de arrancar as roupas que nos afastam quando
meu telefone toca alto e por um breve momento consigo recuperar o juízo.
— Me desculpe — digo, me afastando dela e indo atender ao telefone.
No celular, Linda não para de tagarelar sobre o que devemos fazer e como precisamos estar
quando o fotografo for bater as fotos, mas não presto a menor atenção ao plano da minha irmã. Minha
atenção está toda na movimentação dentro do meu apartamento. Primeiro Mila desce do balcão e
depois vai para o quarto. Silenciosa, ela termina de se arrumar antes mesmo de eu desligar o
telefone.
Quando retorna para a cozinha, Mila está com as bochechas vermelhas, mas tirando isso nada
parece fora do lugar e ela já está recuperada do nosso quase beijo. Desligo o telefone e vou me
arrumar, quando volto, ela está terminando de beber seu café. Com um sorriso suave de quem diz que
demais.
Descemos de elevador sem trocar uma palavra sequer, saímos para o estacionamento e vejo
nos olhos de Mila que ela está apreensiva. A guio até a vaga do meu carro e me preparo para abrir a
porta quando escuto ao longe o som de um clique. Mila enrijece o corpo, mas não diz nada. Como se
fosse algo natural, me aproximo bem dela, quase a prensando entre o carro e meu corpo. Sou bem
maior do que a brasileira e ela quase some nos meus braços, quando a puxo para mim. Seus olhos se
levantam devagar na minha direção e os cílios batem devagar. Meus dedos acariciam as bochechas
rosadas e ela suspira, abrindo um sorriso quase imperceptível.
— Vou beijá-la, se estiver tudo bem pra você — sussurro em seu ouvido, mas ao invés de me
responder, Mila solta um gemido suave. Isso inflama todo meu corpo e mesmo que não houvesse uma
porcaria de fotografo a nossa espera eu a beijaria com toda a minha vontade.
O beijo é... o que eu posso dizer? É a porra de um beijo louco, quente, que faz todo meu
corpo queimar. E o pior é que ela está reagindo a mim do mesmo jeito que eu reajo a ela. Droga, ela
— Me desculpe, Mila, acho que já está claro que me sinto atraído por você, não, que meu
— Então temos que dar um jeito de fazer isso funcionar sem estragar as coisas — ela declara
mais uma vez, como se estivesse falando mais para si mesma. — Vamos nos casar porque isso
beneficia sua empresa e a minha, mas não vamos nos envolver.
— Certo.
— Sua irmã é minha melhor amiga, não quero estragar o que temos.
— Também não quero isso.
— Então o que fazemos? — ela solta, como se eu fosse algum tipo de especialista em não me
relacionar com mulheres por quem me sinto atraído.
— Não faço ideia... — respondo com sinceridade. — Talvez se não nos beijarmos com tanta
vontade.
— Ok! Beijar com menos... animação.
— E você não pode ficar andando de pernas de fora na minha casa, é demais pra mim —
completo.
— E você não pode me jogar nos seus ombros... — ela retruca.
— Você tem que admitir que foi bem legal — provoco-a.
Rindo, ela concorda comigo. Mila prefere ir direto para o escritório, diz que pode se trocar lá
mesmo para trabalhar, que tem roupa extra e que alguém vai ao seu apartamento alimentar o cão e
levá-lo para passear. Estaciono o carro na Lexington, perto do prédio onde ela trabalha e a
acompanho até a entrada. Não que haja algum fotografo por perto e precisemos manter as aparências,
Atravessamos a rua e paramos para nos despedir, quando estou prestes a beijar a bochecha de
Mila, vejo por cima de seu ombro que o idiota com quem ela trabalha está se aproximando. Os olhos
dele recaem sobre Mila e posso apostar um dedo, ou melhor, o braço todo, que ele notou que ela está
com a mesma roupa que saiu ontem daqui.
Eu poderia só dar tchau e ir embora, mas não é o que eu faço. Chego bem perto do ouvido de
Mila e sussurro um pedido de desculpas. Sem entender porque estou me desculpando, ela ergue os
olhos pra mim no momento exato em que cravo meus lábios ao seu e em seguida a puxo bem para
junto de mim, grudando o corpo pequeno e firme ao meu. A sensação é inesperada, como se nós dois
fôssemos duas bombas prestes a explodir, entrando em um ritmo intenso, incrível. Não sei como
explicar, mas o beijo que damos poderia desencadear a terceira guerra mundial.
Com meus braços ao redor dela, afundo o nariz no seu pescoço e ela cede um pouco mais,
receptiva a minha investida. Beijo o queixo, a bochecha e sua boca outra vez, dessa vez o ritmo é
diferente, mais cálido, suave e Mila me guia, mordendo de leve meu lábio inferior e sugando a minha
língua. É excitante pra caralho e estou outra vez de pau duro, só que dessa vez diante do prédio de
Mila, do seu sócio com cara de bobo e de todo mundo que passa por nós.
Só quando alguém que passa nos manda procurar um quarto é que me dou conta do que estou
de fato fazendo. Me afasto de Mila devagar e ela parece tão chocada quanto eu quando seus olhos
encontram os meus. Ela procura por uma resposta, por algum entendimento e seguindo a direção do
meu olhar ela percebe o sócio nos encarando com o maxilar duro.
— Entendi — ela sussurra, depois me dá um beijo suave e se afasta. Como se nada tivesse
acontecido. O tal Dylan vai logo atrás dela, acho que ele fala alguma coisa, mas de onde estou não
consigo ouvir. Assim que passa pela porta de vidro, Mila me lança um último olhar. Um olhar triste
que faz algo estremecer dentro do meu estômago.
Dylan está sentando na cadeira em frente à minha mesa, me seguiu desde a entrada e não parou
de reclamar sobre o showzinho que demos diante de todo mundo. O que é que o está incomodando
tanto? Por que o fato de eu estar saindo com Joshua o perturba?
— Desde quando você se tornou um puritano? — aponto o dedo para ele.
— Não é isso.
— Então o que é? — pergunto num tom acusatório que é proposital, meu sócio reclama
baixinho, mas não chega a responder. — Bom, se é só isso...
Ele se levanta e sai sem dizer mais nada. Depois de me trocar, sento no sofá perto da janela
com o laptop no colo, tenho muita coisa para colocar em dia, coisas administrativas que são um
tédio, mas que são importantes. O café que Ashley me trouxe fumega na mesinha de vidro ao lado.
Meus olhos rapidamente correm da tela para as janelas enormes que me dão plena vista dos prédios
ao redor. É uma bela visão, mas não é o que vejo.
Nem mesmo preciso fechar meus olhos para vê-lo ali, sorrindo daquele jeito que me arrepia
inteira, ouvindo a voz sensual no meu ouvido, anunciando que vai me beijar, o gosto ardente dos seus
administrativas da empresa. Estou quase desistindo de continuar a mexer em uma planilha chata e
pensando em ir embora quando Ashley bate na porta e interrompe o início de outra viagem minha,
faltou bem pouco para eu voltar, pela milésima vez hoje, naquele beijo.
— Chegou isso pra você — ela diz e me entrega um embrulho.
— É uma caixa mágica — ela diz, vindo me mostrar pequenas diferenças nos cantos. — É um
tipo de quebra-cabeça, mas ao invés de montar uma imagem, você precisa achar o lugar certo para
puxar, do contrário ela não vai abrir.
Surpresa e com o ânimo renovado, começo a tentar abrir a caixinha. Preciso de pelo menos
cinco minutos para me dar conta de que fui vencida por um pedaço de madeira. Ashley e eu
decidimos investir juntas na empreitada e levamos poucos minutos para descobrir o jeito certo.
Rindo e tagarelando sem parar sobre a astúcia de Josh com os presentes, somos
surpreendidas ainda mais quando escutamos um pequeno estalo e a caixinha abre.
Puxo de dentro um embrulho em tecido macio e escuro, de dentro do saquinho tiro uma
pulseira cravada de diamantes, linda, delicada e cara.
— Caramba, isso sim é presente — Ashley solta e nesse momento escuto o baque forte da
minha porta. Nós pulamos ao perceber que Dylan deve ter entrado na sala e visto o presente e ido
embora furioso, batendo a porta ao sair.
combinamos que está na hora de deixar as coisas mais às claras. É hora de o mundo saber. Deveria
ser uma decisão mais difícil, mas parece tão natural deixar que as pessoas saibam que estamos
juntos. Ainda que não estejamos realmente juntos.
Linda e eu marcamos uma noite de tequila antecipada e estou mesmo precisando espairecer.
Desde que Josh me mandou a pulseira que nos vemos e nos falamos pelo menos duas vezes ao dia.
Não só por causa do plano, mas porque, segundo Linda, precisamos nos conhecer bem para passar
nas entrevistas do visto e para não nos matarmos quando formos morar na mesma casa.
Então ou almoçamos ou jantamos juntos ou as duas coisas. Ele vem me buscar quando fico até
mais tarde por causa de uma reunião e eu levo o almoço quando fica preso no escritório. Num ritmo
nosso, mas que está me deixando de cabelo em pé.
É bom estar com Joshua, é estranho dizer isso, mas com ele consigo ser eu mesma, com meu
humor ácido, minhas respostas afiadas e com o temperamento recluso que me faz odiar os paparazzi
que nos perseguem. Tenho a impressão de que Josh também é ele mesmo, com as provocações
sexuais, com aquele cabelo rebelde e o olhar profundo, com a voz sexy e a honestidade avassaladora.
Talvez possamos nos tornar bons amigos no final das contas, isso se eu conseguir controlar meu
Termino de me arrumar no escritório porque como sempre fiquei até mais tarde trabalhando
no código do meu programa. Estou tão perto de concluí-lo que já consigo imaginá-lo funcionando...
protegendo clientes de gente como eu, que adora zeros e uns e é capaz de fazer um verdadeiro estrago
com um laptop e um cabo de rede.
Dylan aparece na porta da sala e me pega colocando os sapatos, ele ergue as sobrancelhas
quando seus olhos pousam na pulseira de diamantes. Eu sei, eu deveria guardá-la em um cofre, mas
não resisto, é simplesmente linda. Geralmente sou avessa a presentes caros e exibições fajutas que os
caras costumam fazer para mostrar sua conta bancária para as garotas, mas essa pulseira é tão
delicada e combina comigo. Algo me diz que Josh a escolheu pessoalmente. E não, eu não tive
coragem de perguntar se foi esse o caso, não quis parecer desesperada.
— Parece que você realmente gostou da bijuteria que ele te mandou — Dylan solta cheio de
veneno.
— Gostei mesmo — digo, sem rebater que de bijuteria não há nada na pulseira.
— Você merece coisa melhor, Mila.
— Melhor do que uma pulseira de diamantes? — Cruzo os braços, um pé em um salto e o
Fecho a fivela do sapato e volto os olhos para o meu sócio, ele parece mesmo perturbado, sua
expressão é uma mistura entre agonia e raiva.
— Josh me faz feliz e não dou a mínima se ele mostra as pernas nos jornais ou a bunda num
blog de fofocas.
Ele suspira outra vez, acena com a cabeça em concordância e então se prepara para sair, mas
então, como se algo tivesse pipocado em sua cabeça, ele estaca no lugar e bem devagar volta.
— Isso tem alguma coisa a ver com aquela história de você ser deportada?
— Claro — digo, exacerbada demais para conseguir pensar. Mesmo que Dylan tenha razão ele
não tem nenhum direito sobre mim ou sobre quem faz parte da minha vida, é assim que as coisas eram
quando Josh entrou em minha vida, é assim que vai ser quando ele sair. — Porque por algum motivo
essa sua cabeça mesquinha me acha fria ou insensível, incapaz de me apaixonar por um cara
inteligente, divertido e lindo.
— Eu não quis dizer isso... — Dylan tenta se aproximar, mas estico minha mão e o faço parar
onde está. — Só que você é tão diferente das garotas com quem ele sai que eu pensei que pudesse
estar... desculpe, Mila. Não sei o que há comigo, é que só de pensar nesse Joshua Howard magoando
você me deixa enfurecido.
— Eu gosto dele, gosto do jeito que me olha, de como provoca meu temperamento e aguça a
minha inteligência, ou como me faz sentir quando me toca. Você é meu sócio e meu amigo, não espero
que você entenda meu interesse pelo Josh, mas espero que respeite.
Dylan engole em seco. É um cara legal e me dói ter de ser tão dura com ele. Sei que quando
Josh e eu nos separarmos, meu amigo ainda vai estar lá, estendendo a mão para me consolar. Sei que
mesmo que ele soubesse de toda a verdade não me trairia e por isso é tão difícil vê-lo saindo da
minha sala, magoado.
Minha esperada noite da tequila para desestressar acabou de se tornar um desastre. Só espero
que Linda esteja bem para me aguentar pelas próximas três horas, porque hoje vou encher a cara.
— Não me leve a mal Josh, você é um gato e tal, mas a noite da tequila eu prefiro passar com a
Linda — Mila solta com um riso torto quando me vê chegar.
— Estou vendo — retruco, sorrindo. — Mas saiba que não vim por você, tinha um encontro
com um amigo... então vi as duas, como eu ia embora sem ao menos me despedir da minha futura
noiva?
Mila solta um rá alto, como se não acreditasse em nada da minha explicação. Ela faz bem, na
verdade nem sei porque vim. Passei no escritório da Faces e a secretária magricela me disse que ela
tinha saído para beber, não aguentei, tive de vir espiar. Imagine a minha surpresa ao me dar conta de
que nada tinha a ver com aquele sócio babaca que está morrendo de vontade de levá-la para cama.
Bom, pelo menos a companhia de Mila é a minha irmã. Ainda que Linda possa ser difícil, é minha
irmã e confio de olhos fechados nela. Se bem que... por que diabos isso me importa?
— Veio me vigiar? — Mila estreita os olhos na minha direção.
— Não — respondo rápido, mas algo nos olhos dela me dizem que não engoliu uma palavra
sequer.
— Claro que não — tento outra vez, mas acabo rindo como bobo.
— O que é que está havendo entre vocês? — Minha irmã pergunta entre um suspiro alcoólico e
— Está sim — Mila diz e pisca para Linda. — Você não sabe? Nós estamos apaixonados e
em breve vamos nos casar. — Mila cai na gargalhada, levando minha irmã junto.
— Acho que as duas moças já beberam demais, não? — digo e chamo o garçom.
— Não, Josh, eu bebi demais — Linda diz. — Mila não aguenta nem três doses de tequila.
— Tequila é muito forte — Mila responde e parece que as duas já esqueceram de mim aqui
porque começam a discutir o teor de várias bebidas.
— Então, o que fez a noite de sexta virar a noite de quarta? — pergunto, porque até onde sei a
tal da noite da tequila é na sexta feira.
— Mila brigou com o sócio por sua causa — minha irmã é direta. Espero que ela continue,
mas ela leva algum tempo pensando. — Acho que ele está apaixonado pela Mila e está com ciúme de
você, maninho.
— Ou talvez só queria levar Mila pra cama — digo, mordendo a língua em seguida. Não sei o
que acontece comigo, mas só a ideia de aquele babaca colocar as mãos em Mila já me deixa com um
nó na garganta.
Mila resmunga no seu idioma.
— Não entendi — digo, porque ela ainda está carrancuda e falando em português.
Provavelmente me xingando.
— Se fosse para entender eu teria falado em inglês — ela retruca e sei que não gostou do meu
comentário sobre Josh levá-la para cama.
— Não me provoque ou jogo você nos meus ombros outra vez — digo.
— E vai descobrir que tenho spray de pimenta na bolsa — ela cruza os braços sobre os seios e
lá estão eles me encarando outra vez. Hey garotos, senti saudade.
Linda fica algum tempo intercalando entre olhar para mim e para Mila, como se estivesse
fazendo um raio x dos nossos corpos. Tento controlar minhas mãos, mas nesse momento minha única
vontade é fazer mesmo o que acabei de falar, colocá-la nos meus ombros e levá-la embora, como se
fosse minha propriedade. Não me entenda mal, não sou um homem das cavernas, só estou me
— Que bom, porque vou precisar de carona, acho que não consigo nem lembrar qual é o meu
carro — ela diz e estende a mão para mim, a puxo e deixo que afunde no meu peito.
O garçom chega com a conta, pago e passo meus braços nos ombros de Mila. Ela deita a
cabeça no meu abdômen, como se fosse a coisa mais natural do mundo, é tão pequena e delicada e
seu corpo encaixa com perfeição sob o meu. Minha irmã pega as bolsas e me segue.
— Josh, me diga que você e a Mila não dormiram juntos — ela crispa quando senta no banco
de trás, depois que acomodo uma Mila sonolenta demais no banco do carona.
— Por que você tá dizendo isso? — pergunto, pisando no acelerador.
— Não sei, tem alguma coisa rolando.
— Não dormimos juntos, mas estamos nos ajudando e precisamos ser amigos pra isso
funcionar.
— Hum — ela diz e fica em silêncio. — Só não vá magoá-la. Mila já sofreu o bastante.
Passo no loft de Mila logo cedo. O lugar é pequeno e em conceito aberto, é suave, com pouca
decoração e cores serenas que variam entre cinza e branco e alguns tons de azul escuro aqui e ali.
Logo que entro sou arrebatado pelo cheiro do perfume de Mila, mas ela não está na sala. Corro meus
olhos pelos arredores e gosto imediatamente da vista, as janelas são grandes e antigas e deixam o
ambiente arejado. Há plantas espalhadas por estantes, disputando o espaço com livros e enfeites
discretos. De um lado, a cozinha aberta com uma ilha grande que faz as vezes de mesa, rodeada por
bancos altos. mais perto da janela, um tapete macio e um sofá confortável separam o ambiente. Não
tem televisão na sala, nem qualquer aparelho de som ou outro objeto que pareça interativo ou de alta
tecnologia. O lugar é simples e confortável.
Mila vem de outro cômodo, está com um par de óculos escuros, um terninho vinho e sapatos de
— Não — digo com ênfase, porque nunca seria capaz de esquecer com quem já dormi.
— Coisa da Linda? — agora o semblante de Mila é tenso, ela está incomodada com a estranha.
Digito uma mensagem e minha irmã não demora para responder.
— Linda disse que não mandou ninguém.
— Então vamos descobrir quem é essa curiosa — minha acompanhante fala, pegando o celular
e digitando alguma coisa, ela se levanta para ir em direção à mulher. — Já volto.
Quando a mulher percebe que Mila está indo na sua direção, levanta-se rápido e sai, deixando
para trás o café. Vai embora apressada, o que é suspeito pra caralho.
Mila volta para a mesa com uma expressão frustrada vincada no rosto, ela morde o lábio
inferior quando senta.
— Você viu aquilo? Ela fugiu, não tive tempo nem de me aproximar.
Talvez ela seja do governo, sei lá, faz algum tempo que meus contatos não me dizem nada sobre a tal
investigação que pretende me deportar.
— Ou talvez seja uma blogueira curiosa que nos reconheceu — digo, dando de ombros.
— Pode ser — ela diz, sem convicção.
Deixo Mila em sua sala na Faces e faço questão de beijá-la na frente de quem quiser ver, é
claro que isso nada tem a ver com nosso acordo, mas se aquele babaca que ela chama de sócio acha
que vai tirar proveito da minha falsa noiva, vai cair do cavalo. Volto para o meu escritório e passo o
resto do dia pulando de uma reunião para outra com gerentes das nossas agências. A rede vai bem e
em parte isso se dá porque Mila e Linda resolveram a coisa do hacker com as tais backdoors. É perto
das 17 horas quando recebo um telefonema de Mila, geralmente ela me manda mensagem quando
precisa desmarcar nossos compromissos, além do mais, não combinamos nada para hoje à noite.
Será que tem algo errado?
— Mila? O que houve?
— Está tudo bem, mas tem uma porção de fotógrafos trancando a entrada do prédio da Faces
— ela solta, numa voz embargada.
— Droga!
— Josh, não sei se consigo fazer isso, não sei lidar com toda essa exposição.
— Estou indo praí.
Chego trinta minutos depois na frente do prédio onde fica a empresa de Mila e para ser
honesto, dizer que tem uma porção de fotógrafos é eufemismo, tem uma multidão isso sim. Tento
passar com o carro e usar o passe de visitante que Mila me deu, mas levo um bom tempo para
conseguir que esses sanguessugas de merda me deixem seguir para o estacionamento. Os flashs quase
me cegam no caminho e algum imbecil bate no meu vidro, me fazendo soltar vários palavrões.
Subo pelo elevador de serviços porque estou com pressa demais para ficar esperando o outro.
Nem o porteiro ou os seguranças me impedem, acho que já estão acostumados com as minhas vindas
e devem estar, no mínimo, muito ocupados impedindo que essa tropa de fotógrafos entre no prédio.
Encontro Mila andando de um lado para o outro como um animal enjaulado. Ela está furiosa,
mas sorri quando me vê.
— Você não precisava ter vindo — ela diz, mas cede quando estendo a mão e acaba afundando
em um abraço.
Saímos com o carro e passamos por todos os curiosos, Mila afunda no banco quando os flashs
começam. É, eu sei, ter dinheiro é bom, mas a fama que isso traz é uma merda. Sempre tem alguém
procurando por qualquer coisa que possa usar como matéria e humilhar a gente, foi assim quando
meu pai morreu e isso quase destruiu minha mãe.
Levo Mila para pegar o carro dela e depois a acompanho até o loft, marcamos de conversar
com Linda mais tarde, então tenho tempo de tomar uma taça de vinho com calma.
Mila sai do banho um tempo depois, está com um humor sombrio desde que saímos do
escritório, mas não reclama de nada. Está vestida com um camisetão que vai até a altura de suas
coxas, a estampa do Iron Maiden com a caveira de cabeleira amarela fica um pouco disforme por
causa da saliência dos seios e os cabelos molhados dançam pelas costas até quase os quadris. O
interfone toca no momento exato em que me preparo para fazer algum comentário picante que sempre
arranca um sorriso maroto da brasileira. Linda chega no apartamento alguns minutos depois.
Minha irmã joga conversa fora por algum tempo, tentando animar Mila que ainda não desfez a
cara fechada. Coloco um prato com pequenos sanduiches na frente das duas e sirvo uma taça de vinho
tinto suave, porque nenhuma delas parece animada para nada amargo.
— Desde agora. Coma e não torre a paciência — resmungo, indo sentar no tapete, com a
cabeça de Scotty no meu colo. Scotty, que nome hein.
— Tudo bem, vamos ao que interessa, você disse que uma mulher estava observando vocês de
um jeito estranho hoje? — Linda pergunta para Mila.
— Sim, mas não tive tempo de descobrir mais, quando ela percebeu que notei fugiu, deixou até
o café para trás, nem tentou disfarçar.
— Provavelmente era uma repórter que reconheceu vocês.
— É o que acho agora — digo. — Até pensamos que pudesse ter a ver com o problema com o
governo, mas agora que apareceu toda aquela gente na frente da Faces, só pode ser esse o caso.
Linda suspira.
— Bom, vamos ter que nos adaptar, meus planos não eram para divulgar agora, achei que as
coisas pudessem mudar com a questão do visto de Mila, mas em todo caso vamos antecipar as coisas
um pouco. Tudo bem pra vocês?
— O que você quer dizer com isso? — Mila aperta as mãos, aflita.
— Fase dois: redes sociais.
— Ai, merda — Mila solta, arrancando uma gargalhada da minha irmã.
— Calma Mila, isso é temporário e por uma boa causa.
— Na minha profissão estar exposta nunca é uma coisa boa — ela rebate.
— Você está fazendo drama, é hora de deixar o mundo conhecer esse rostinho, amiga.
— Quais são os planos?
— Vazar o relacionamento de vocês nas redes sociais — minha irmã é enfática.
— Não tenho redes sociais — Mila diz.
— Já sabemos disso — Linda rebate, animada.
— Eu também não tenho — digo e vejo o semblante de minha irmã mudar de divertido para
imagem.
— Você fez o quê?
— Veja — ela me mostra um perfil de instagram com pelo menos vinte fotos aleatórias minhas,
dos meus livros, de reuniões, nem sei como ela conseguiu. As fotos são boas, as legendas são leves e
finalmente assumiu o relacionamento com uma foto para lá de reveladora em uma rede social. Na
foto, uma mão feminina exibe um anel de diamante e ela repousa sobre uma mão masculina. Será
que é o que estamos pensando?” (Harold Tribune – coluna de fofocas)
entrega uma única rosa de cor azul e vai embora. Pego a rosa e fico olhando. É um sinal, não, é o
sinal. Preciso encontrá-lo hoje.
Suspiro, porque ele querer me ver pessoalmente significa que algo muito errado está
acontecendo. Da última vez, quase fomos mortos por mafiosos russos.
— O que foi? — Josh me encara com uma sobrancelha arqueada e uma linha tensa na testa.
Nessas horas fica muito parecido com a irmã.
— Talvez eu me atrase hoje — digo. — Tenho um compromisso.
— Com o dono da rosa?
Aceno que sim.
significa algo importante, ele sabe. Afinal, é a única outra pessoa no mundo que sabe que fui uma
hacker que se meteu em muitas confusões no passado. Ele só não sabe que quem enviou esta flor sabe
ainda mais sobre mim. E que é alguém a quem eu já confiei minha vida.
Ashley vem na minha direção quando nos vê. Ela para diante da rosa e fica observando, então
um pouco teatral.
— Vou com você — Josh crispa depois de ouvir em silêncio toda a minha explicação.
— Se você for, ele não vai aparecer.
— O cara nem vai saber — Josh rebate.
— Josh, o Mik é um dos melhores hackers do mundo, se desconfiar que levei alguém até ele
vai pensar que o traí e vai sumir no mundo e nunca mais vai dar notícia.
— E se for uma armação da pessoa que quer destruir você?
— É um risco que preciso correr.
— Você não pode esperar que eu fique parado enquanto se coloca em perigo.
Caminho até Josh, ele está parado perto das janelas, alternando entre olhar para fora e dentro
— Ninguém sabe sobre meu esquema para encontrá-lo, nem como ele me indica a localização.
Mik é meu amigo e se precisa me ver só pode ser algo importante.
interferir.
Saio do escritório mais cedo e vou para o loft. Troco a roupa de executiva por um conjunto de
moletom que uso para correr. Pego a coleira de Scotty e o levo comigo. Nos encontraremos em um
depósito no Soho. É uma construção antiga e sem uso, numa área industrial e pertence a uma empresa
de fachada não rastreável. É claro que fiz meu dever de casa depois de pegar as coordenadas dentro
da rosa e se não consigo rastrear a fonte só pode ser porque essa empresa de fachada pertence a Mik.
É perto das sete quando chego, estaciono e desço do carro com Scotty ao meu lado, o prédio é
o terceiro de um conjunto de seis galpões. Há uma rosa azul pendurada na porta, mas nenhuma luz.
Mik é dado a um bom drama.
A porta não está trancada, mas é dura e preciso fazer força para fazê-la ceder e abrir. Entro e
meu cão começa a farejar o ar. Desde a última vez que nos vimos e quase morremos em um túnel da
antiga União Soviética, que me acostumei a andar com um kit de ferramentas na bolsa e isso inclui
uma lanterna, a pego e ligo. Dou uma boa olhada por dentro do galpão, provavelmente foi algum tipo
de depósito de bebidas, pois há caixotes de garrafas empilhados pelos cantos e uma boa dose de
poeira.
Scotty fareja o ar e senta, dando sinal de que alguém está se aproximando. Pego meu spray de
pimenta e aguardo. Nada acontece por um tempo que me parece longo demais. Até que...
— Bela jogada — o sotaque russo de Mik é inconfundível, mas não relaxo até vê-lo, entrando
por uma porta atrás dos caixotess. — Trazer o Scotty foi bem esperto.
Scotty faz festa quando ouve a voz de Mik, o solto e ele corre até o russo que o conhece muito
bem, afinal, foi presente dele. Mik acende um interruptor e acaricia as orelhas do meu cão. Ele se
afasta de Scotty e vem até mim. Guardo o spray de volta na bolsa e solto um suspiro.
Me solto do meu antigo parceiro e o observo. Continua lindo, mas seu rosto parece cansado.
Ele está vestido como um típico novaiorquino em uma noite de frio ameno, com um casaco comprido
de corte fino, a calça é elegante e tem caimento perfeito. Usa uma touca escura. E como não podia
faltar um toque de humor, tem um cachecol estampado enrolado no pescoço.
— Você parece bem — digo. — Então suponho que quem está em perigo sou eu.
— Infelizmente sim — ele diz e me beija na bochecha.
Mik espanta a poeira de uns caixotes com um pedaço de jornal e eu me sento ao lado dele,
Scotty se aninha nos nossos pés.
— Então, o que você sabe?
— Alguém da 2Bhammer está atrás de você — ele fala, referindo-se a um grupo de hackers
radicais que criam problemas demais e chamam atenção indesejada.
2Bhammer. Idiotas que já causaram colapsos em bolsas de pequenos países e escândalos
políticos. Até há alguns anos eu os achava infantis apenas, como criança emburrada que quer chamar
atenção dos pais, então um deles derrubou um avião no oceano e matou 190 pessoas, transformando-
os em lunáticos. Quando montei minha empresa, um dos primeiros algoritmos que criei para o
governo americano possibilitou que o FBI impedisse um ataque e colocasse três deles na cadeia. Até
onde eu sei continuam presos e sem acesso a qualquer dispositivo eletrônico. Então quem ainda pode
estar atrás de mim?
— Você sabe de algo mais? — pergunto.
— Ouvi alguns sussurros sobre você estar prestes a fechar um grande contrato com o governo
eu sabia que não conseguiria mantê-lo sob sigilo para sempre, mas ainda não o terminei, são muitos
detalhes e o código tem que ficar perfeito. Agora, para o esquivo “R_aV4r” aparecer pessoalmente
me alertando do perigo, é sinal de que algo ruim está vindo por aí, com força total.
— Talvez eu não feche contrato algum — conto. — Alguém está tentando fazer com que eu seja
deportada.
— Então o ataque já começou — Mik diz e dá um tapinha em meu joelho. — Tem algo que eu
possa fazer para ajudar, Blue Rose?
— Eu não sou mais a B1ue551— resmungo.
— Você sempre vai ser... — ele começa a dizer com aquele tom sexy que faz sempre quer se
aproximar mais, quando Scotty ergue as orelhas na direção da porta por onde entrei.
Meu cão se levanta e vai até a porta. Dá algumas latidas e começa a abanar o rabo, isso faz
com que Mik entre em estado de alerta.
— Alguém seguiu você? —pergunta, me puxando para trás dele e tirando um revólver do bolso
do casaco.
— Desde quando você usa arma?
— Desde aquele maldito túnel.
Scotty dá uma choradinha e então percebo que algo está se movendo bem devagar perto da
porta. Não pode ser!
— Joshua Howard, juro que vou matar você — crispo, cruzando meus braços sobre o peito.
Josh aparece carregando um taco de beisebol. Mik ergue a arma na direção dele e eu coloco
meu corpo entre a arma e meu falso noivo.
— Está tudo bem, Mik — digo. — Josh não é nosso inimigo.
Mik engatilha e abre um sorrisinho.
— Desde quando você precisa de escolta para vir me ver? — o russo pergunta, o sorriso ainda
está lá, plantado nos lábios, mas não nos olhos azuis, os olhos estão mortíferos.
— Não preciso — digo e me viro para Josh. — O que você está fazendo aqui? Eu disse que
viria sozinha.
— Você achou mesmo que eu ia deixá-la correr riscos?
— Eu estou bem. Mikhail é meu amigo, agora abaixe esse taco, Josh — falo, voltando a olhar
para o russo. — E você, pelo amor de Deus, abaixe essa porcaria de arma.
— Então você se tornou uma donzela que precisa ser resgatada — Mik provoca, baixando a
arma, mas com os olhos ainda vincados em Josh. — Resgatada por um taco...
— Você vai ver a donzela quando eu der um chute nessa sua bunda — retruco e ele sorri.
— Essa é a minha garota — Mik diz, mas sei que está fazendo isso apenas para provocar Josh.
— Então, quem é esse aí?
— Esse é o meu amigo Josh. Meu... noivo.
— É o cara do jornal — Mik fala, de repente dando-se conta de quem é Josh. — Não me diga
que isso é sério.
— E se for? — Josh vem para perto de mim, ainda com o instinto protetor ativado.
— Nossa, é testosterona demais para o meu cérebro — reclamo e então Scotty acena para a
porta outra vez.
Em uma mistura de tropeço e corridinha desajeitada, Linda faz uma entrada triunfal, soltando
um palavrão e se firmando na parede para não cair com os saltos super altos e finos.
— Droga Linda, falei pra você ficar no carro — Josh resmunga enquanto vai ajudá-la a se
recompor.
— Pelo jeito veio a família toda — Mik solta num tom irritado.
— É claro e se você acha que vai machucar minha amiga, pode saber que vai ter que passar
por cima de mim também — Linda responde, vindo para o meu lado.
— E como vai fazer? Pisar no meu pé com seu salto? — Mik retruca, irônico.
— Você ficaria surpreso com o estrago que um salto é capaz de fazer, eu poderia furar o seu
malvados dos filmes usando, com cabo de madeira. Ela empunha na direção de Mik, que dá dois
passos para trás.
— Mas que diabos deu em vocês? — Crispo. — Guarda essa coisa, Linda, ninguém vai atirar
em ninguém. Mik é meu amigo e veio ajudar.
Linda analisa minha expressão por um momento, então dá de ombros e guarda o revólver.
— Tudo bem, mas não esqueça que ainda tenho meu salto e não vou hesitar em enfiá-lo nesse
seu olho azul.
Depois de nos despedirmos de Mik, com a garantia de que ele vai tentar descobrir mais
informações sobre quem está atrás de mim, pego meu cão e o levo para o carro. Linda é a primeira a
ir embora. Vai adiantar as coisas com o jantar na casa da mãe, enquanto Josh vai comigo para se
assegurar de que não corro nenhum perigo. Claro, porque agora virei mesmo a princesa que precisa
ser salva. Isso é enlouquecedor. Aposto que eu poderia fazer um estrago bem maior com aquele taco
do que Josh.
Então é isso, só falta conhecer minha futura sogra. Eu poderia enfrentar um batalhão de hackers
enfurecidos da 2Bhammer, mas conhecer a mãe do homem com quem vou me casar e por quem estou
fingindo estar perdidamente apaixonada é aterrorizante.
Se os últimos dias foram difíceis, não quero nem pensar em como esse jantar vai ser.
Desde que voltamos ao loft para que Mila pudesse se trocar para o jantar com a minha mãe,
que ela não disse uma única palavra. Se trancou no banheiro do quarto e ligou o chuveiro. Afasto os
pensamentos da imagem de Mila nua, com a água quente correndo pelas costas e se assentando
naquela bunda sexy. Ainda estou furioso demais com a história do tal de Mik/amigo íntimo/hacker
com cara de espião russo. É claro que eles foram um casal, dava para ver no olhar daquele... daquele
imbecil, que estava morrendo de ciúmes de Mila.
Sento na cama dela e fico observando ao redor, o quarto está levemente escurecido pelas
persianas e o ambiente tem o cheiro do perfume de Mila. Droga! Esse russo desgraçado tinha que
aparecer logo agora?
Eu sei, não temos um relacionamento, mas ela vai ser minha esposa no fim das contas e...
além do mais, Mila é uma boa mulher e merece uma vida legal. Pode chover canivetes que não vou
permitir que ela volte a viver a vida de ilegalidade que transpira do tal Mikhail. Não seria justo e
Mila merece mais do que uma vida furtiva, ou ter que sempre andar olhando por cima do ombro ou
de uma cama infantil, lendo um livro de aventura para uma menininha de cabelos escuros e longos
como os dela, ensinando que garotas precisam ser independentes e fortes e saber usar computadores.
A imagino correndo atrás de um garotinho pela casa, reclamando em português por conta de alguma
encrenca da criança travessa.
— Por que você está sorrindo? — Mila interrompe meu pensamento. Sacudo a cabeça e
levanto. Posso não ser o cara que vai dar isso a ela, mas não serei o cara que vai permitir que
Mikhail tire isso dela.
— Pronta?
— Quase — ela solta e se vira para o espelho de corpo inteiro.
Mila está linda, vestindo uma calça preta que se ajusta bem na cintura e desce solta, de longe
poderia se passar pela parte de baixo de um quimono masculino. A blusa é justa e desce rente aos
seios até mergulhar na calça de cintura alta. Santo demônio no meu ombro, já está me fazendo
imaginar a velocidade com que eu seria capaz de arrancar essa roupa e mergulhar minha língua
— O que é que há com você, Joshua? Pode parar de bufar, por favor?
— Você está demorando — resmungo e Mila responde com algo em português. — O que você
disse?
— Fera?
— Sua mãe — ela diz e eu caio na gargalhada, porque Mila não faz ideia de como minha mãe
é.
— É, pelo jeito está se divertindo bastante hoje.
— Do que você está falando? — retruco, sem saber ao certo o que ela quer dizer com isso.
— Primeiro, o príncipe Joshua Howard resgata a donzela indefesa, depois...
— Eu não resgatei você, Mila — a interrompo. — Só estava preocupado.
— Por quê? — a pergunta dela me pega desprevenido e fico em silêncio porque neste momento
não tenho uma explicação. Seu olhar me diz que não vai deixar para lá. — Por que, Josh?
— Porque não queria que você corresse perigo, somos amigos, não quero que se machuque.
— Besteira!
— Besteira coisa nenhuma. Você vai se enfiar em um depósito abandonado, num lugar deserto e
com um estranho que não vê há não sei quantos anos, porque recebeu uma rosa azul e acha que estou
errado em tentar protegê-la? Aquele espião de meia tigela tinha uma arma, Mila. E se ele tentasse
algo e usasse a arma pra conseguir.
— Tentasse o quê? Tocar em mim? Me levar para cama?
Não respondo.
— Já sou bem crescidinha, não acha?
Mila aperta os olhos e dá alguns passos na minha direção, continuo sem dizer nada, mas minha
vontade é pegar Mila pelos braços e sacudi-la, para que entenda que não pode sair por aí no meio da
— Agora pode até ser que não, mas já foram, não é? E pelo jeito seu amiguinho espera que
voltem a ser.
— Isso não é da sua conta.
— É sim!
— Você está com ciúme? — ela diminui o tom de voz, me analisando com aqueles cílios
volumosos.
— Ciúme, eu? — solto uma gargalhada alta e rouca, mas ela não cede, continua me observando
com as sobrancelhas erguidas. Droga, será que eu estou com ciúmes? — Eu só queria proteger você.
— Eu sei me defender sozinha.
Mila me encara e posso ver pelo formato como seus lábios estão desenhados em uma linha
malditas agências. Nem a porcaria de uma conquista, isso você reserva para as modelos anorexias
que gostam de migalhas com quem desfila por aí. O que nós temos é um acordo que beneficia a
ambos. Não preciso de favores e nem de um dono.
— Eu não disse isso.
mistura de chique e bagunçado, um caos total, com quadros de todos os tipos por todos os lados,
perto de quase todas as janelas tem cavaletes e mesinhas cheias de tintas e pincéis, pois minha mãe
não pode ser uma artista no sentido convencional, reclusa que pinta na penumbra do seu ateliê. Não,
minha mãe é cheia de vida, ama cores, plantas, bichos, gente. E sua arte e a nossa casa sempre foram
reflexo disso.
Por um tempo depois da morte do meu pai, cheguei a pensar que ela abandonaria a arte de tão
triste que estava, mas aos poucos voltou a ser ela mesma. Levou tempo, mas os quadros voltaram a
aparecer pela casa.
Minha mãe é uma dessas pessoas que precisa levar a arte que produz para casa toda, para todo
lugar, seguindo seu humor e por isso, a poucos intervalos de distância, encontramos quadros, ou
blocos de desenho. Cresci vendo telas começadas e abandonadas espalhadas por todos os lados.
Algumas repousam encostadas nas paredes, nas estantes e até nas cortinas há pelo menos dez anos.
Tem coisas lindas e coisas um pouco bizarras também. Ela é uma ótima mãe, só um pouco estranha.
À medida que vamos nos aproximando e começamos a subir a rua, vou ficando mais tenso. Sei
que, além de chateada comigo, Mila está preocupada que minha mãe seja uma dessas mães
conservadoras e esnobes, que não a aceite por conta de suas origens, mas estou mais preocupado
com a possibilidade de minha mãe achar Mila tão linda que a queira transformar em um quadro de nu
artístico. Ela já fez isso antes, com amigas da Linda e até com uma menina que ousei levar pra casa
quando tinha uns quatorze anos. E se Mila decidir que minha família é maluca demais para ela? Não
é impossível depois da confusão no armazém abandonado.
— É quase dez, talvez nós devêssemos cancelar e marcar para outro dia — Mila fala depois de
olhar no relógio e suspirar.
— Minha mãe é uma artista em quase todos os sentidos da palavra, ela não dorme antes das
três da manhã. Além do mais nós já chegamos.
O carro de Linda já está ao lado do de minha mãe, ambos do lado de fora da garagem,
estaciono atrás e desço para abrir a porta de Mila, mas quando chego ela já está plantada de pé,
batendo a porta e me direcionando um olhar indignado que é um pouco engraçado. Prefiro não
comentar sobre o assunto e evitar mais um transtorno. Se tem algo que aprendi como empresário é
que devemos saber escolher nossas batalhas.
Antes de chegarmos à porta da frente, ela se abre num rompante e Linda nos recebe com uma
carranca que parece uma mistura de pânico e dor de barriga. Mila solta o ar dos pulmões e os
ombros descem um pouco, menos tensos.
— Até que enfim vocês chegaram, mais cinco minutos sozinha com a mamãe e ela vai me
transformar numa versão hippie novaiorquina.
— Seu reforço chegou, madame — digo, provocando um resmungo baixo em Mila que mais
parece um rosnado.
Linda lança um olhar para minha falsa noiva e sorri. As duas se cumprimentam e Mila entra no
vestíbulo. Quando passo por minha irmã e a beijo no rosto, ela cochicha.
— O que você fez?
sociais mais altas. Tenho dinheiro o bastante para uma vida inteira, mas a questão é que Josh é
conhecido como o herdeiro de um império, é chamado de magnata por tabloides do mundo todo,
enquanto eu não nasci em berço de ouro, saí das ruas, aprendi a me virar e cresci sozinha, descobri
os computadores trabalhando em uma loja de fundo de garagem no Brasil, montando e desmontando
máquinas que as pessoas jogavam no lixo, não me tornei oradora de nada, nem saí em capas de
editoriais ou na FORBES, apenas agarrei a oportunidade que tive e deixei de ser uma criminosa, e
isso não foi da noite para o dia.
A sala onde entramos é um ambiente aberto e amplo, bem iluminado por luminárias discretas.
O sofá é grande e confortável, com tapete, mesa de centro e uma estante branca que cobre toda a
parede da frente. Tirando isso, todo o restante é colorido e vivo, de um jeito bagunçado que funciona
bem. As cortinas são de um tom cinza claro, mas os quadros nas paredes são uma profusão de
rabiscos coloridos e há uma cadeira no outro canto da sala que é de uma cor entre o azul e o verde.
As almofadas do sofá são todas coloridas, com temas de flores, quadriculadas e tem até uma de
coraçõezinhos. E há telas espalhadas por todos os lados, encostadas nos móveis e nas paredes.
— Eu sei, é um pouco bagunçado, mas se a cabeça e a casa de um artista forem muito
organizadas, a inspiração faz as malas e nunca mais volta — diz Martha, a mãe de Josh ao se
aproximar.
Martha, vem da cozinha com uma taça de vinho branco na mão e ela é... inesperada, assim
como a casa. Vestindo um macacão jeans todo manchado, ela tem os cabelos castanhos, quase ruivos,
amarrados em um rabo de cavalo. É um pouco mais alta do que eu e usa brincos de pérolas, uma
composição bem maluca e divertida, na verdade. Linda é muito parecida com ela, mas com certeza
foi Josh quem herdou os belos olhos verdes e astutos.
— Mãe, essa é a Mila — Josh fala, depois de abraçar e beijar o alto da cabeça dela.
— Uma linda obra de arte brasileira — Martha diz, me olhando nos olhos.
Sorrio porque não consigo deixar de achar esse comentário muito doce. Logo em seguida
Martha nos guia para a sala de jantar e duas empregadas nos servem. Elas são educadas e
descontraídas, assim como a dona da casa que não tarda a me entregar uma taça de vinho como a sua.
A conversa flui naturalmente e migramos de coisas como Josh ter sido um menino franzino e
rabugento à Linda cantar no chuveiro por toda a adolescência, falamos sobre arte e a anfitriã me
surpreende com um comentário para lá de inesperado, como tudo na noite.
— O que você faz é um tipo de arte também, Mila — ela diz.
— Gosto de pensar que sim, mas ao invés de tinta e pincéis, uso códigos.
Martha concorda com um aceno.
— Então, como se conheceram? — ela pergunta logo que o jantar começa a ser servido.
— Linda nos apresentou — respondo com simplicidade. — Não posso dizer que foi amor à
primeira vista.
— É verdade, mas a beleza só provoca atração, e sim, me senti atraída por ele de imediato,
mas é o resto que faz a gente gostar, quando ultrapassamos toda a fachada de badboy e conhecemos
ele de verdade.
— Resto? — Josh pergunta, abrindo as covinhas ao lado dos lábios.
— O buquê de cubos mágicos por exemplo — digo, sorrindo sem querer ao me lembrar. —
Quem é que manda um buquê de cubos mágicos com uma mensagem para ser decifrada? E a senhora
Martha concorda, satisfeita com a conversa. Talvez seja uma romântica... ou talvez nós só
estejamos sendo bem convincentes, se eu não soubesse da verdade, acreditaria cegamente em Joshua,
ele é muito bom em fingir que está apaixonado por mim. Bom, pra ser bem honesta comigo mesma,
acho que eu não disse uma única palavra que não fosse verdade, Joshua é diferente do que as pessoas
pensam. Ele pode não se parecer com os caras românticos dos livros que leio, que foram magoados e
por isso estão quebrados, mas ele é intenso e verdadeiro, sem contar que é criativo, inteligente e
sexy, nossa, como é sexy. Gosto de passar meu tempo com ele, mesmo que seja discutindo por alguma
bobagem. Acho que no final dessa loucura toda vamos acabar, pelo menos, amigos.
— Sempre soube que um dia você ia achar a garota certa e que ela seria diferente dessas
meninas superficiais de hoje em dia — Martha declara, me deixando vermelha. — Mal posso esperar
para ter netos, vou pintar um milhão de quadros de você grávida, Mila.
— Obrigada — digo, contente. — Estava morrendo de medo que a senhora fosse uma fera, mas
agora entendo de quem Linda e Josh herdaram boa parte da personalidade.
— Espero que isso seja uma coisa boa — minha futura sogra conclui, mas posso ver em seus
olhos que ela entendeu o elogio.
— E eu mal posso esperar pra ser pintada. A senhora faz nus artísticos?
Josh engasga com a simples menção de sua mãe me pintar nua. Começo a rir porque isso é
tão... ele. Numa hora faz alguma piada apimentada e na outra fica todo atrapalhado porque a mãe
poderia me pintar nua.
— Acho que meu filho pode ser bem convencional às vezes, você não acha? Uma vez ficou
sem falar comigo por quase uma semana, só porque ofereci de pintar um nu da namoradinha de
escola.
— Mãe, ela não era minha namorada e ainda por cima era filha do diretor — Josh retruca, mas
já estamos as três rindo.
— Nem me fala, precisa ver o drama que ele fez quando falei que tenho um vibrador.
Josh fica vermelho e Martha solta outra de suas gargalhadas ruidosas. Linda assiste a tudo
maravilhada, acho que ela nunca viu ninguém irritar o irmão assim.
ombros. Pode-se dizer que me sinto um pouco vingada por nossa discussão hoje mais cedo, mas só
um pouco. Ainda tenho muito o que descontar.
— Tudo bem, agora me contem como foi o pedido — Martha se anima.
Ok, que a mentira comece.
Me preparo para começar a inventar uma história romântica que sei que agradaria qualquer
mulher, mas Josh se antecipa e toma as rédeas da situação. Isso me lembra de algo que ele disse logo
que começamos essa farsa, que tem de ser algo que ele faria na realidade.
— Estávamos conversando sobre redes sociais — Josh sorri e sinto que talvez ele vá contar
toda a verdade para sua mãe. — Mila odeia todas essas coisas e estava reclamando com Linda que
argumentava sobre a importância de vendermos uma boa imagem para as pessoas. Tinha a ver com
nossas empresas...
Martha assente. A história está bem próxima da realidade e acho que quanto mais perto da
verdade, mais fácil vai ser de ela acreditar.
— Foi quando a vi sentar naquela posição namastê, que sempre faz quando tá concentrada,
estava mexendo nas fotos do perfil que Linda criou pra melhorar minha imagem e Mila e fazendo
piada, foi aí que tive certeza de que queria isso todos os dias, pra sempre. Então peguei o anel da
vovó que eu já vinha carregando comigo há uma semana, esperando o momento certo, e perguntei se
Mila aceitaria passar o resto da vida comigo. Só isso, nada de espetacular ou mirabolante.
— E eu disse sim — digo.
— O amor é simples, não precisa de exageros.
— Bobagem — Linda solta, empolgada. — Pra mim, o pedido precisa ser estrondoso, cheio de
detalhes fofos, com flores, vinho, talvez um avião com uma faixa.
— Você é muito cafona — Josh rebate e os dois começam imediatamente a discutir.
volto ao dia do meu suposto pedido de casamento. Pode não ter sido exatamente como Josh contou,
mas foi especial e verdadeiro dentro do que podemos considerar é claro, afinal, estamos vivendo
uma farsa.
Josh, Linda e eu estávamos terminando de criar minha rede social e eu estava resmungando.
Scotty estava deitado no colo de Josh, como se fosse um filhote sedento por carinho. Depois que
acertamos tudo, Linda estava se preparando para ir embora quando o irmão falou que precisava fazer
mais uma coisa, disse que era hora de dar o próximo passo.
— Mais um? — Lembro que foi o que eu disse. — Acho que se tiver que fazer outra rede
social vou ter um treco.
— Sem redes sociais — Josh disse, todo misterioso. Então ele pegou algo no bolso do casaco
e sentou de frente pra mim no sofá. — Eu sei que nós não estamos nos relacionando de verdade, mas
prometo ser fiel, cozinhar pra você e ser um pouco rabugento pelo tempo que durar a nossa união.
Então, Mila, você aceita ser minha esposa e viver feliz pra sempre enquanto esse pra sempre durar?
— Aceito, Joshua — respondi, com o coração batendo de um jeito meio estranho. Nunca me
senti assim, nem mesmo com Mik. Talvez fosse o nervosismo da situação ou por ter sido pega
a levou para conhecer muitas de suas telas, sem contar que, de repente, se tornou a mãe mais
convencional de todas, narrando uma série de histórias antigas e constrangedoras sobre mim e Linda.
Mila também contou uma versão sucinta da sua história, que provocou muitos suspiros em
minha mãe e Linda. Sem contar que ouvimos com detalhes a história de amor dos meus pais. Já fazia
muito tempo que não via mamãe falando do amor que viveu com ele, de como enfrentaram os
obstáculos por ela ser o que a família do meu pai chamava de artista morta de fome, enquanto ele era
o herdeiro de um banco, filho de uma família conservadora. É bom vê-la bem, sem toda aquela dor
que sentiu quando o perdeu, agora parece que o que restou foi saudade e amor. Um amor que ela está
compartilhando conosco com histórias antigas.
— Vocês foram bem convincentes — Linda sussurra e seus olhos percorrem meu rosto, me
analisando.
— Precisamos que isso dê certo, então fingimos bem.
— Repita isso um milhão de vezes antes de dormir pra ver se você mesmo acredita nisso,
irmãozinho.
— Do que você está falando? — cochicho.
— De toda essa química que está rolando entre vocês.
— Não tem química nenhuma.
— E Papai Noel existe e vai me trazer um pau de vinte centímetros de natal esse ano. Acorda
Josh. Papai Noel não existe, paus de vinte centímetros são raridade e você tá caidinho pela Mila.
— Você está delirando — resmungo.
— Mamãe é esperta, ela não cairia num fingimento com tanta facilidade. Além do mais, você
não notou como Mila olha pra você? Pior, precisa ver como você olha pra ela.
— Mas não era isso que você queria? Que mamãe acreditasse que estamos apaixonados? Que
o mundo acreditasse nisso...
— Sim.
— Então por que você está enchendo meu saco com isso?
— Tudo bem, quer bancar o imbecil, azar o seu — Linda fala e vai se sentar do outro lado da
minha mãe, no sofá.
— Ok, agora vamos falar do casamento. Linda me disse que vocês pretendem se casar no final
deste mês.
Concordo com um aceno e minha mãe estreita os olhos. Ela deve estar ponderando sobre a
urgência do nosso casamento e como não é de guardar nada, espero pelo pior. É claro que minha mãe
não me desaponta.
— Você está grávida, Mila? — ela fala, com a maior naturalidade, talvez até uma pontada de
expectativa.
— Ótimo. Não prometo ficar nua, acho que prefiro algo que não me exponha tanto, mas
adoraria ter uma pintura bem sexy.
— Podemos dar um jeito nisso — minha mãe diz.
— Eu adoraria ter uma pintura sua — pisco para Mila, que fica corada. — Acho que a
penduraria lá no escritório, no banh...
— Certo, certo, já entendi. Casamento final do mês. Quem vai organizar? — Mamãe me
interrompe.
— Eu — Linda diz com convicção. — Sou a madrinha e a responsável pela festança.
— Desde quando você é a madrinha? — pergunto pra minha irmã, mas é Mila quem responde.
— Desde sempre, Josh. Mesmo que eu me casasse com um esquimó e fosse viver em um iglu,
— Acho que também prefiro algo mais íntimo — Mila diz e minha irmã acena concordando,
mas todos nós sabemos que vai ser uma festança mesmo.
— E quem vai levar você ao altar, Mila? — Mamãe pergunta.
— Não tenho ninguém, acho que vou sozinha.
O que Mila diz me deixa com um nó no estômago, é como se alguém me desse um soco bem
dado. Deixo as mulheres discutindo por menores da festa na sala e vou pegar mais vinho, não gosto
da ideia de ninguém levar Mila ao altar, parece solitário. Como uma garota como ela pode ser tão
sozinha no mundo?
— Se o seu pai estivesse aqui ia fazer questão de levá-la ao altar — minha mãe fala quando
entra na cozinha, me pegando de surpresa.
— Você me assustou.
— Desculpe, percebi como ficou com o assunto de Mila entrar sozinha na igreja.
— Acho que você me conhece bem.
Minha mãe pega uma garrafa de vinho da adega sob o balcão e me entrega para que eu abra.
Enquanto dou uma forçada suave com o saca rolha, ela me esquadrinha com os olhos atentos.
— Gostei dela — diz, esticando a mão para que eu abasteça sua taça. — É esperta e vai dar
bastante trabalho pra você.
— Linda diz que Mila é um desafio mental — acho engraçado como as duas mulheres da minha
vida parecem concordar em como Mila é intrigante e desafiadora. Só não imaginam o quanto estou
tentado a levá-la para cama e me afundar nela até que a faça perder as forças. Sem contar que eu
seria capaz de doar um rim só pra vê-la usando aquele maldito vibrador.
— Acho que os Howard só gostam de pessoas complexas. Seu pai, Linda, você...
— Gostamos de pessoas interessantes, como você — digo e abraço minha mãe. — Obrigado
— Isso porque vocês ainda não tiveram bebês, vou ser uma avó muito chata.
— Aposto que ela vai adorar isso — digo, mas engulo em seco no mesmo instante. Não posso
esquecer que esse casamento se trata apenas de um negócio e não vamos chegar ao ponto de ter
bebês, espero que minha mãe não se magoe.
— Acho que gosto mais da sua mãe do que de você — Mila diz sorridente ao entrar no carro.
É perto de uma da manhã, mas ela parece bem desperta e feliz. — Ela é encantadora.
— É um pouco diferente, mas é ótima — respondo, dando a partida e pisando no acelerador.
— A Martha é muito diferente e isso é bom — Mila retruca, talvez um pouco embalada pelo
álcool. É realmente fraquinha pra bebidas.
— Minha mãe também gostou de você — digo.
— Seu pai deve ter sido um cara esperto, escolheu uma mulher incrível para amar.
— Meu pai sempre dizia que se apaixonou por ela por causa do temperamento. Eles se
conheceram em Paris, minha mãe era estudante de arte e estava sentada em uma praça pintando uma
estátua quando meu pai passou e esbarrou na tela. Claro que ela ficou furiosa e o chamou de imbecil
destruidor de arte e foi nesse minuto que ele soube que ela era especial.
— Sua mãe disse que ele era bem temperamental, que não aceitava não como resposta e que foi
assim que a convenceu a se casar com ele. Isso é tão fofo.
— Meu pai era um grande homem, me ensinou tudo, conhecia cada agência, cada gerente, cada
detalhe do negócio. Sinto falta dele.
Mila toca meu ombro sem se dar conta do quanto esse toque é familiar e como pode ser
reconfortante. Dói pensar no meu pai, tanto que há dias que penso que tudo ao redor podia explodir
que não me importaria. Não é algo que eu admita com facilidade, mas é bom ter alguém com quem
falar sobre ele. Talvez um dia eu possa transformar essa dor em amor e saudade, como minha mãe
fez.
— Uma vez, logo que meu pai assumiu os negócios da família, pegou um faxineiro escrevendo
um bilhete e deixando em sua mesa. Dizia algo sobre ele se sentir grato pelo emprego e orgulhoso de
fazer parte da companhia, além disso, o homem listou dez coisas que poderiam ser melhoradas e que
diminuiriam o desperdício de materiais.
— Diz muito sobre meu pai, a lealdade que ele era capaz de inspirar nas pessoas...
— Você parece com ele, não só na aparência.
— Como assim?
— A forma como você sempre fala o que pensa, faz o que acha certo, mesmo que isso
signifique invadir um galpão abandonado com um taco.
Paro em uma sinaleira e aproveito para olhar para Mila, ela está me observando, seus olhos
são sérios, mas não há mais nenhum sinal da raiva de antes do jantar.
— Me desculpe por isso — digo, fazendo-a abrir um sorriso de canto. — Sei que você não é
uma donzela que precisa ser resgatada.
— Tudo bem, você está perdoado — ela sorri, fica em silêncio por um breve instante. Depois
de um suspiro começa a falar. — Você estava certo, Mikhail e eu já fomos um casal, há muitos anos.
— E o que aconteceu?
— Nos envolvemos com gente muito mais perigosa do que éramos capazes de lidar e por
carnívoros, vegetarianos, cor das flores... Deus do céu, por que foi mesmo que concordei com isso?
Nem o fato de termos decidido por uma cerimônia simples com um juiz de paz amenizou a
empolgação de Linda e ela, sutilmente, foi nos guiando para o que parece ser o casamento do século.
Do jeito que as coisas vão vai ser mais badalado que o tapete vermelho do Grammy.
Josh está dormindo em um colchonete de acampamento no chão do quarto. Faz dois dias que eu
trouxe boa parte das minhas coisas para seu apartamento e ele ainda está arrumando o que vai enviar
para a casa do lago, não tivemos tempo de ir até lá e Josh está bem curioso sobre minha casa.
Conversamos bastante sobre ter um lugar mais perto e confortável, com espaço para Scotty e que
atenda todas as nossas exigências, mas não temos tempo pra ver isso, além do mais, decidimos que
não devo entregar meu loft, afinal de contas um ano passa rápido e esse é o prazo que combinamos de
força brutal.
— Vou sair pra correr com Scotty. Quer que traga café?
— Não, tudo bem, vou tomar café com a Linda. Hoje é o grande dia.
— Grande dia?
— Vou experimentar o vestido.
Josh fica em silêncio por um momento.
— Eu posso ir junto se quiser — ele diz, a voz mais alerta agora.
— Nunca disseram que dá azar ver a noite com o vestido antes do casamento?
— Eu não dou a mínima pra isso — ele soa rabugento. — Mas tudo bem desde que você
escolha algo sexy.
Rio alto.
— Pode deixar, chefe, você quem manda — provoco e ele bufa. — Essa semana temos de ir
provar o bolo.
radiante, em uma roupa descontraída que nem de perto se parece com o que costuma usar para
trabalhar. Aposto que seus funcionários a achariam bem menos intimidante com o jeans frouxo e a
sapatilha baixa. Os cabelos parecem bagunçados, mas olhando mais atentamente tenho certeza de que
é proposital. E claro, ela está de batom vermelho e a cor combina muito com ela.
— Você devia se vestir assim sempre — digo, depois que nos cumprimentamos. — Está linda.
— Obrigada, cunhada — ela ri. — Já pegou café?
— Preto pra mim, leite e canela pra você.
Linda pega o café e me cutuca de leve nas costelas.
— Vamos lá colocar esse seu corpinho em um vestido branco e lindo — ela diz, animada, me
medo de se relacionar.
— Não é nada disso — digo, voltando a andar antes que algum carro decida encurtar ainda
mais minha jornada de solteira convicta à esposa de magnata.
— Então o que é? — Linda pergunta assim que alcançamos a calçada. Seus olhos são firmes e
é difícil conseguir formular algo direito.
— É complicado.
— Não, Mila, não é não. Você é linda, inteligente, decidida, mas morre de medo de se envolver
e acabar magoada. Eu entendo, você teve o coração partido, sofreu. Tudo bem, ninguém está forçando
nada. Temos um acordo e se isso é suficiente pra vocês dois, pra mim também é.
— Obrigada — digo e depois sigo em um silêncio sepulcral. As palavras de Linda ecoando em
minha mente. O que é que estou sentindo? Será...?
Com todas as coisas que estão acontecendo, não tive tempo de pensar bem em como me sinto.
Sei que estou atraída por Josh, mas é só atração certo? Pura e simples. Vamos lá, o cara é um babaca.
Um babaca com um corpo escultural que transpira sexo selvagem. ATRAÇÃO.
Com um rosto de tirar o fôlego. ATRAÇÃO.
Que tem um cheiro tão gostoso. ATRAÇÃO.
Que consegue dizer algo muito sexual sem perder a graça e o sorriso torto.
Que curva a sobrancelha quando está remoendo alguma coisa importante.
Que me observa com paciência e atenção quando pensa que ninguém está olhando.
E que de jeito nenhum me deixaria ir a um galpão no meio da noite e correr riscos sem levar
um taco de beisebol para me defender...
Um babaca que não diz as coisas certas ou bonitinhas, mas que diz o que está pensando, que
envia um enigma só para tornar as coisas mais divertidas...
Ah. Meu. Deus! Estou apaixonada por Joshua Howard, o magnata mulherengo e de pau grande
que vive aparecendo nas revistas e sites de fofocas.
Uma hora e meia é tempo suficiente para me deixar irritada e Linda com dor nas bochechas de
tanto rir. Para ela, minha aversão a tule, renda e saias bufantes e rodadas é puro drama, para mim é o
próprio inferno na terra.
— Já disse que não vou usar nada assim — falo, rodando com o vestido pesado diante do
menos você goste do que vai usar. Quero que seja um dia especial.
— Tudo bem — digo e começo a pensar. — Acho que prefiro algo mais leve, sem essas coisas
embaixo...
— Você está com olheiras — é a primeira coisa que Josh diz quando entra na minha sala.
Ele beija minha bochecha e seu cheiro afunda no meu peito com uma força arrebatadora. Faço
um esforço para controlar as reações involuntárias do meu corpo. Preciso manter o foco no que é
importante: conseguir o green card e manter minha empresa em segurança, nada mais. Nem mesmo
Joshua Howard.
— Pronta? — ele pergunta, me dando um dos seus olhares de sobrancelha curvada. Droga,
esses são os piores, sempre me instigando a imaginar o que ele está remoendo. — Você esqueceu,
não foi?
Arregalo meus olhos e mordo o lábio. Esqueci que marcamos de ir experimentar os bolos.
Linda vai surtar se não decidirmos isso hoje.
— Desculpa.
— E dizem que mulheres adoram casamentos — ele resmunga.
— Oscar?
— É, o programa que vai transformar o Conglomerado Howard em um império.
Josh apoia as mãos sobre a mesa, aproxima o rosto do meu e abre um sorrisinho maroto.
— Já somos um império.
— Então se prepare para ser ainda mais, se é que é possível. — Nossos rostos estão tão
próximos que quase posso sentir o gosto dos seus lábios. — Você consegue esperar mais uns
minutos? Só preciso terminar uma planilha ou Dylan vai me matar. Com as coisas do casamento
acabei deixando de lado tarefas administrativas.
— Não culpe nosso casamento por procrastinar.
— Joshua!
— O que foi? É verdade, você odeia essas coisas.
Ele começa a andar pela sala, analisando um quadro na parede, depois o aparador. Está prestes
a abrir a portinha do armário e desvendar meu segredo sórdido: o esconderijo dos chocolates,
quando desligo o computador e levanto.
— Tudo bem, terminei.
— Droga! — ele diz e ruma para a saída. — Quando nos casarmos vou voltar aqui e vasculhar
Josh é o ser humano mais curioso da face da terra, às vezes parece um adolescente bobo que
não vê a hora de descobrir o mundo, em outros momentos é um homem que sabe que é sexy e capaz
de balançar o mundo de qualquer mulher. É tão divertido provocá-lo, permitir que imagine o que
escondo ali alimenta meu ego de um jeito inexplicável. Mal sabe ele que é uma caixa de hershey’s.
Ele segue inquerindo sobre meu suposto esconderijo de brinquedos sexuais por todo o caminho
até a confeitaria, mas mantenho minha boca muito bem fechada, dando apenas sorrisinhos
esporádicos e mordendo o canto do lábio de vez em quando. Josh está resmungando quando
finalmente entramos.
A atendente que vem à nossa mesa é uma garota de cabelos louros cortados na altura dos
ombros, é bonitinha, embora um pouco sem sal. Desde o momento em que chegamos que ela se
derreteu inteira por Josh, fazendo todo o possível para me ignorar. Esperamos em uma mesa enquanto
a senhorita derretida vai buscar nossas amostras.
— Quantos sabores vamos provar? — Josh pergunta.
— Não havia reunião nenhuma e eu era só uma ex hacker começando um negócio na cidade
mais cara do país. Praticamente uma morta de fome
A senhorita derretida se aproxima com o carrinho e começa a depositar os pratos com as fatias
de bolo na mesa, todas ao redor do meu noivo, colocando as plaquinhas com os sabores e se
desmanchando em sorrisos.
— Está bom assim, obrigada — digo, controlando a vontade de levantar e chutar a bunda da
garota. Ela se afasta, me fuzilando com os olhos.
— O que foi isso? — Josh fala, estreitando os olhos.
— O que foi o quê?
— Está bom assim, obrigado — ele tenta imitar o tom irritado da minha voz.
Dispenso o assunto mergulhando o garfo em uma fatia de bolo cuja plaquinha indica damasco e
creme de nozes.
— Nada mal — digo.
Josh prova outro e me mostra a plaquinha, café e cacau.
— Quase tão bom quanto você — ele diz, olhando direto para os meus lábios.
Me contorço na cadeira porque a simples provocação de Josh é suficiente para deixar todo
meu corpo arrepiado.
— Você não faz ideia — retruco só pelo prazer de mexer com ele tanto quanto mexe comigo.
— Não posso dizer que já não tenha imaginado.
— Ah é? — coloco outra garfada na boca, afastando o pratinho do sabor que não gosto, sem
nem mesmo olhar a plaquinha. — E o que foi que você imaginou?
Sei que estou indo longe demais, mas nesse momento não me importo. Estamos provando
amostras do bolo do nosso casamento, droga, que se dane o fato disso tudo ser apenas um negócio.
Se é para brincar com fogo, que seja.
Praticamente me jogo no sofá do escritório e ergo as pernas. Fico balançando os pés descalços
na direção da janela, apreciando o resto de luz natural que entra. É lindo. Tenso, mas lindo. Nos
últimos dias as coisas têm sido loucas. Em um dia experimento aquele que vai ser meu vestido de
noiva, no outro discuto sobre as fantasias sexuais de Josh enquanto experimentamos as amostras de
bolo, algumas noites depois, me entupo de massa com Josh no Giordani’s, debatendo sobre
coquetéis, lua de mel, que pra variar não teremos, afinal de contas, tenho medo de sair do país e ser
impedida de voltar. Nossa, quem poderia dizer que a corajosa B1ue551 um dia ficaria com medo de
Dylan puxa a cadeira de frente da minha mesa e vem se sentar bem perto de mim. Ele esfrega o
rosto e depois fixa os olhos no convite.
— Não entendo — ele diz, a voz melancólica. — Até há algumas semanas você não podia nem
ouvir falar em se envolver com alguém e agora isso...
Fico em silêncio, acho que nada do que eu disser vai dissuadir a tristeza que se desenhou no
rosto do meu amigo. Nunca imaginei que isso pudesse afetá-lo tanto. Não pensei que pudesse ter
Fecho os olhos e tento recuperar a pouca tranquilidade que ainda disponho. Será que ele vai
atrapalhar meus planos? Não, o Dylan não faria isso, ou será que faria?
Minha resposta não demora a chegar, Ashley irrompe pela porta, acompanhada do som de um
tumulto.
— Mas que barulheira é essa? — resmungo, levantando e indo na direção da minha secretária.
— É o seu noivo e o Dylan.
— Como é?
— Os dois estão brigando, com socos e tudo mais.
— Puta merda!
Agora ferrou mesmo.
Meu padrinho de casamento e amigo de infância é um dos advogados mais proeminentes de
Nova York. Apesar de sempre nos reunimos para jogar basquete com o pessoal da época do ensino
médio, ele é o único cara com quem realmente converso. Não me entenda mal, não é que eu não seja
sociável, é só que não tenho muito tempo livre para amizades profundas desde a morte do meu pai.
Edgar é um cara legal, estudou com bolsa na minha escola e depois na faculdade, se formou
como primeiro da turma, estagiou em um dos escritórios de maior notoriedade de Manhattan e depois
abriu a própria firma de advocacia.
Apesar de tudo, ele mantém as raízes simples, gosta de jogar basquete com os amigos de
escola, almoços familiares e está se preparando para transformar Mary em sua esposa, os dois estão
juntos desde o último ano da faculdade. A primeira coisa que meu amigo diz quando ligo para marcar
o jantar com ele é:
— Não acredito que você vai se casar antes de mim.
— Nem eu — respondo com sinceridade.
— Ela deve ser especial — ele diz e no mesmo momento eu repito pra mim mesmo: Você não
faz ideia.
Confesso que eu estava um pouco preocupado que ele percebesse que estamos fingindo tudo
isso, afinal de contas, o cara é uma verdadeira fera e entende de leis como ninguém, mas se mostrou
bastante receptivo apesar das manobras jurídicas que nossos advogados têm feito. Talvez ele não
perceba.
— Mary está ansiosa para conhecer a garota que fisgou o queridinho da América.
— Você também? — resmungo, sabendo que ele está rindo do outro lado da linha.
— Ah, cara. Não tenho culpa que você vive estampando as colunas de fofoca. Por mim tudo
bem, quanto mais vocês Howards aprontam, mais honorários minha empresa pode cobrar...
Esfrego meu rosto e suspiro.
— Então é sério? — ele pergunta.
— É — digo, porque mesmo sabendo que nosso casamento é apenas um acordo de negócios,
ainda é algo que levo muito a sério e sei que Mila e Linda também estão dando tudo de si. — Você
vai gostar da Mila, ela é linda, inteligente e muito teimosa.
— Tudo bem, então nos vemos à noite. Tem algo que preciso saber.
— Mal posso esperar — digo, mas as palavras têm um gosto amargo na minha boca.
Ando de um lado para o outro, sei que Edgar jamais faria qualquer coisa para prejudicar a mim
ou minha irmã, mas sinceramente acho que quanto menos gente souber do nosso falso casamento,
melhor.
— Você vai acabar abrindo um buraco no chão de tanto andar — Mila diz, calma. — Vai dar
tudo certo. Se nós conseguimos convencer sua mãe, convenceremos o seu amigo também.
— Mila, Edgar está desconfiado, disse que tem algo que quer saber.
— O escritório dele representa a sua família?
— Não. O escritório de advocacia que nos representa é o mesmo há 30 anos. Depois que
assumi como CEO não vi motivo para trocar.
— Você está certa — digo e passo meus braços ao redor dela, deixando que afunde no meu
peito. — Pronta?
século já. É inacreditável como essa garota consegue conquistar todo mundo ao redor.
Alguns minutos depois de Paolo encher nossas taças de vinho, Edgar e Mary chegam. Paolo os
acompanha até nossa mesa, rindo e fazendo piada sobre a aparência do meu amigo. Edgar e eu
viemos muito aqui durante a faculdade e meu velho padrinho acompanhou praticamente todo nosso
desenvolvimento físico. Então quando ele fala que éramos dois garotos magros e desgrenhados que
sempre pediam almondegas é a mais pura verdade.
— Então você é a garota corajosa... — Mary diz, estendendo a mão para Mila.
— Ou a garota de sorte — Mila responde com seu maior sorriso e apertando a mão dela em
seguida.
Mary sorri e nesse momento sei que vai dar tudo certo, Mila tem um jeito especial de cativar
as pessoas, de fazê-las se abrirem e se sentirem à vontade, o que é um verdadeiro mistério pra mim,
porque na verdade ela é introspectiva e detesta se sentir exposta.
Depois de algumas taças de vinho e de discutir praticamente todos os detalhes do casamento, a
conversa flui com naturalidade e toda a ansiedade que eu estava sentindo dissipa de vez.
— Tem algo que preciso saber — Edgar diz durante o jantar, me levando de volta ao clima
tenso de quando chegamos.
Engulo em seco, porque algo me diz que ele está prestes a nos confrontar.
— Como foi que você conseguiu que o solteiro mais convicto dos Estados Unidos resolvesse
se casar? — meu amigo fala. — Não me leve a mal, mas conheço esse cara praticamente a vida toda
amigo, fala como meu melhor amigo, mas não pode ser ele. O Josh que eu conheço tem verdadeira
aversão a relacionamentos.
— Edy — diz Mary. — O que queremos saber é se você está grávida ou se tem algum outro
motivo para se casarem às pressas. Não fique chateada Mila, só estamos preocupados.
— Por que diabos todo mundo acha que a Mila está grávida? — Explodo. — Primeiro minha
mãe, agora vocês... Será que não posso conhecer uma garota linda e sexy, me apaixonar e querer me
casar?
— Claro que pode, não é isso... — Edgar começa a falar.
— Não estou grávida — Mila o interrompe, visivelmente chateada.
— Desculpa, não foi nossa intenção — Mary se apressa. — É só que...
— Que Josh quase se casou por causa de uma falsa gravidez, sim eu sei — Mila retruca e sei
que está irritada pelo tom. — Mas eu não sou esse tipo de pessoa e ele está nisso porque quer, não o
forcei e sabemos exatamente o que temos.
fim do jantar já parece menos chateada e até sorri com algumas das histórias constrangedoras que
Edgar resolve contar. Claro, porque compensar minha noiva, no dicionário do meu melhor amigo
significa me envergonhar.
— Mila, me desculpe, não quero que pense que não apoiamos vocês — Mary chama Mila para
um canto, quando estamos nos despedindo. Paro de prestar atenção na conversa das duas e volto
minha atenção para Edgar, que está falando alguma coisa.
— O que foi que você disse? — pergunto e meu amigo abre o habitual sorriso de garotão.
Ela assente e volta a olhar pela janela. Mais duas quadras e estaremos em casa, não vejo a
— Aposto que você se divertiu descobrindo sobre todas as encrencas em que me meti.
— É verdade.
— E por que ainda parece chateada?
— Porque na verdade eles têm razão, estou me aproveitando de você.
— Vamos lá, Mila, já passamos dessa fase — resmungo, acionando o controle para abrir a
garagem. — Estamos nos ajudando, só isso.
— Será mesmo?
Olho para a lápide a minha frente e solto um suspiro pesado. Já faz algum tempo que não venho
ao cemitério ver meu pai. Sei que ele não está mais ali, que não pode me ouvir ou responder, mas é
só o que consigo encarar e falar com ele assim se tornou uma forma de escapar quando as coisas se
complicam.
Troco as flores do túmulo e me sento. Sinto tanto a falta do meu pai que é como se uma faca
estivesse perfurando a carne do meu peito e apunhalando meu coração, me eviscerando e arrancando
tudo que há dentro de mim.
— Droga, pai. Sinto sua falta — digo, limpando uma lágrima que corre por conta própria. —
— O que é que o incomoda, filho? — escuto a voz do meu pai, quase como se ele estivesse
mesmo aqui, com aquele olhar astuto que sempre desvendava tudo sobre mim.
quer cruzar esse limite, não quer que nosso casamento se torne algo mais do que é, um acordo. E as
coisas podem ir muito facilmente por água abaixo quando misturamos sexo e sentimentos aos
negócios.
Meu celular toca quando estou começando a me afastar do túmulo, abro a porta do carro e me
sento.
— Onde você está?
— Ah, oi pra você também, Linda — digo.
— É importante, Josh.
— Estou saindo do cemitério, o que houve?
— Recebi uma ligação de um contato, alguém nos denunciou e é possível que Mila tenha que
prestar esclarecimentos.
— Como é possível? Ninguém sabe de nada.
— Não sei, Josh, já liguei para os nossos advogados e eles estão averiguando.
— Você já deu entrada nos documentos?
— Sim, mas isso complica tudo.
— Merda. Preciso avisar a Mila.
Chego no andar do escritório dela e a secretária de cabelo vermelho acena com um olhar
especulativo. Estou indo para a sala de Mila quando sou interceptado por Dylan. O cara está furioso
e quando me vê não se contém.
— Isso tudo é culpa sua — ele diz, amassando algo e jogando em mim. Pego o papel e
descubro do que se trata. É o convite do nosso casamento.
— Qual é a sua, cara? — pergunto, jogando o papel amassado no chão. — Não sabe admitir
que perdeu? Ela não quer você.
— Eu não perdi nada, você está se aproveitando só porque ela está num momento difícil e
precisa de um visto — Dylan vem para cima de mim e agarra minha camisa com as duas mãos.
— Não estou me aproveitando de ninguém — digo, empurrando-o para longe. Tento me conter,
mas a raiva desse cara acende um alerta em mim. — Foi você, não foi? Você denunciou a Mila, é
você quem está tentando destruí-la.
Quando termino de falar, estamos os dois rolando pelo chão, aos socos. Se esse babaca pensa
que vou permitir que ele destrua tudo pelo que Mila tanto lutou está muito enganado. Faço todo o
possível para imobilizá-lo, mas ele também é forte e ágil.
— O que é que vocês estão fazendo? — Mila fala, apontando o spray de pimenta na nossa
— Você a denunciou e agora ela terá de prestar esclarecimentos. Pode ser expulsa do país por
— Você não vai acreditar nesse cara, vai? Eu nunca faria nada pra prejudicar você, Mila. Isso
só pode ser uma armação...
— Não é, minha irmã me ligou há pouco, alguém quer mesmo que você seja deportada.
— E o que garante que não é você ou sua família? — Dylan retruca.
— Bobagem! Você está com ciúmes — digo, fazendo esforço para não ir pra cima dele outra
vez.
— Aposto que é tudo uma armação — Dylan insiste.
— Não estou entendendo — ela senta e esfrega o rosto.
Dylan vai até ela, mas o impeço de se aproximar mais.
— Não acha conveniente que bem quando está para lançar o Oscar, alguém comece persegui-la
e do nada o magnata do ramo bancário caia de amores por você? — Dylan explode. — Não seja
ingênua, Mila.
— Você não sabe nada sobre mim, e pelo jeito não sabe nada sobre a Mila também.
— Eu sei que isso tudo é uma farsa. Ela não o ama.
— Não, Dylan, você não sabe — Mila se levanta e vai até ele. — Eu o amo. Não importa o
precisa manter nossa farsa, mas soa tão real que por um momento me questiono se ela não está
mesmo dizendo a verdade e isso enche meu coração. É como um furacão, como um incêndio, tudo em
mim grita para ir até ela, toma-la nos braços e a levar para bem longe do perigo, longe desse cara
que ameaça sua segurança. Preciso de muito esforço para me conter. Mila é uma mulher forte e ainda
que meu corpo todo grite que devo protegê-la, nesse momento o melhor que faço é ficar onde estou e
ouvi-la.
— Não acredito — Dylan insiste, mas Mila passa por mim e vai na sua direção, me afasto para
que ela pare diante dele e o encare.
— Sinto muito se isso o magoa, mas eu amo o Joshua e vou me casar com ele em alguns dias.
Gostaria que fosse ao meu casamento porque é meu amigo, mas entendo se não puder ir, entendo se
for demais pra você.
— Não denunciei você — a voz dele sai quase como um sussurro.
— Eu sei — ela assente, pega sua mão com carinho e aperta de leve. Suspirando, Dylan me dá
Fecho os olhos, tentando não voltar a olhar para o corpo delicioso que se estende quase que
por cima de mim. A respiração de Josh é suave, tranquila. Preciso conter minhas mãos, porque minha
vontade é esticar os dedos e percorrer o delineado do braço sobre mim, contornar o desenho dos
músculos, brincar com o cabelo bagunçado. Droga, estou ficando excitada só de me imaginar
tocando-o.
— Você tem um cheiro tão bom — a voz de Josh sai rouca e percebo que ele está acordado.
Mordo o lábio, tentando fingir que ainda estou dormindo, mas não consigo, começo a rir e logo
— E estragar tudo? Melhor não, além do mais, hoje é o grande dia — pulo da cama e começo a
recolher a roupa que joguei no chão, tentando evitar os fragmentos de lembranças da noite passada,
mas as memórias me acertam como um boxeador faminto, respiro fundo e continuo. — Sua irmã me
mata se eu me atrasar para o nosso casamento.
Depois de passarmos por um mês turbulento com os preparativos para o casamento e toda a
confusão com a minha suposta deportação, pensei mesmo que podia agir como uma garota qualquer e
ter uma despedida de solteira na véspera do meu casamento. E tudo começou tão bem...
— É bom que você esteja pronta — Linda fala quando entra no apartamento e me vê de pernas
cruzadas no sofá, digitando no laptop. — É a sua despedida de solteira e você nem se mexeu.
— Podemos deixar isso pra outro dia?
— Deixar sua despedida de solteira para outro dia? Pelo amor de Deus, Mila, você se casa
amanhã.
— Eu sei, mas dadas as circunstâncias a gente podia deixar isso pra lá, só preciso ficar aqui,
tomar um bom chocolate quente e dormir.
— Nem pensar. Vá já se arrumar, contratei os melhores dançarinos de Nova York e paguei um
extra para eles ficarem totalmente nus.
— Você não faria isso...
Linda ergue as sobrancelhas e abre um sorriso maroto.
— Tudo bem, essa eu vou pagar pra ver — digo, me levantando. Passo por Josh que estreita os
olhos na minha direção.
— O que foi?
— Sua irmã contratou dançarinos pelados para minha despedida de solteira.
Deixo os dois conversando e vou para o quarto me arrumar. Vestido na altura das coxas, salto
alto, maquiagem sexy. Quando volto para sala, encontro Josh com os braços cruzados e uma carranca.
— Tudo bem?
— Nada que você precise saber, vamos? — Linda é quem responde. — Gostei do visual.
— Você também está ótima. Tudo bem, vamos ver os peladões.
Linda fechou uma casa noturna e a encheu de mulheres de ambas as nossas empresas. Todas
animadas, bebendo e ansiando pelo momento de ver os homens sarados que vão dançar e tirar suas
roupas para o nosso divertimento. É claro que só podia vir de Linda uma ideia dessas.
A noite promete ser animada, com as garotas em mesas delicadamente decoradas e espalhadas
pelo salão, deixando apenas um corredor que termina na nossa mesa. A mesa da noiva, da madrinha e
da dama de companhia. Eu, Linda e Ashley.
se posso estar magoando o cara com quem vou me casar? Um casamento de faz de conta, ainda por
cima. O cara que deve estar se divertindo na própria despedida de solteiro. Será que Edgar contratou
dançarinas que vão tirar a roupa também? Caramba, só de pensar nisso já sinto vontade de
estrangular Edgar e as dançarinas peladas e Josh...
— Você tem certeza de que isso não é ilegal? — Ashley, que está na nossa mesa, pergunta.
— Qual é? Desde quando você virou essa medrosa? — provoco-a, mas a imagem de garotas
peitudas e seminuas dançando na frente de Josh vem à minha mente e me deixam rabugenta.
— Diz a garota que está com uma faixa de noiva pendurada no peito — ela devolve.
— Isso porque ela não quis usar a coroa — Linda reclama.
Sim, eu estou usando uma faixa que diz: Futura senhora Howard. E de jeito nenhum ela ia
enfiar uma coroa na minha cabeleira bagunçada. Essa faixa cor de rosa com purpurina já é demais
para mim.
— Meu Deus, aquele homem é o dançarino? — Ashley solta, mirando o palco alguns metros à
frente. Ela olha para Linda e fala — Me lembre de contratar você como organizadora da minha
despedida de solteira se um dia for me casar.
O homem parado a nossa frente tem pelo menos um metro e noventa de músculos muito bem
distribuídos, a visão é de tirar o fôlego, tenho que admitir. Ele veste uma calça justa de couro e vem
até mim. Meu Deus, ele vem até mim.
A música e a luz contracenam com um burburinho agitado. Conforme ele se aproxima as
conseguiria imitar.
Ele se vira e quase enfia a bunda na minha cara. Seria bem constrangedor, se não fosse
divertido pra caramba. Começo a rir e dançar sem sair do meu lugar. Linda faz a mesma coisa.
Mesmo Ashley, sempre tão na dela, está nas nuvens.
Dou uma palmadinha no dançarino, mas então sinto um aperto no coração, como se estivesse
cometendo o maior de todos os pecados. Não posso fazer isso com Josh. Espero que dançarino se
afaste um pouco e antes mesmo que comece a se despir saio da mesa. Digo para as meninas que
preciso de ar e que volto logo, mas Linda e Ashley estão distraídas demais com o bonitão tirando a
roupa para se preocuparem com a minha escapada.
Logo outros como ele estão circulando pelo salão, sendo iluminados por luzes piscantes e
músicas sensuais. Escapo para o balcão e peço uma bebida para o bartender.
— Vodca com soda e gelo, por favor.
— Aproveitando a última noite livre? — o bartender sexy pergunta quando me entrega a
bebida, seus olhos recaem sobre a faixa cor de rosa e ele me dá um sorriso cordial. Será que é um
requisito para trabalhar em locais assim que o cara seja estonteante de tão lindo?
— Você não parece animada — ele fala. — Quer algo mais?
— Não, estou bem assim, obrigada.
— Estava me perguntando quem era a garota de sorte que teve a casa noturna mais cara de
Manhattan fechada só para comemorar o último dia antes de se enforcar — Olho para o lado e vejo
Josh falando.
Seu sorriso se ilumina e nesse momento meu coração se enche da mais pura emoção. Todo meu
corpo reage e sei, lá no fundo, que estou feliz por vê-lo.
— Achei que Linda tinha proibido você de entrar.
— O que está fazendo aqui? — pergunto, quando Josh vem se sentar ao meu lado.
O bartender se aproxima e fica encarando-o.
despedida de solteiro.
Ele dá de ombros.
— Fiquei preocupado que algum desses gorilas tentasse tirar vantagem, você é fraquinha pra
bebida — Josh fala, depois que o bartender traz sua bebida e se afasta.
— Mentira — falo e ele sorri. — Você estava preocupado que eu ficasse com algum dos
peladões. Isso é ciúme, puro e simples.
— Vamos dançar? — ele pergunta, ignorando a minha constatação de que pode estar sentindo
algo mais por mim.
Bebo vodca com soda de um gole só e assinto, deixando que meu falso noivo me arraste para a
pista de dança onde outros homens lindos exibem seus corpos definidos e performáticos. Mesmo que
nada disso seja de verdade, esta noite Joshua Howard é meu e eu sou toda dele. Passo minha faixa
sobre o seu pescoço e ele pega uma das minhas mãos. Me mantém todo tempo a uma curta distância.
Dançamos por algum tempo e depois voltamos para a mesa. Linda resmunga quando vê que
Josh está aqui, mas amolece quando percebe que ele está usando minha faixa virada ao contrário e
que escreveu com batom nela: Futuro objeto sexual da Mila.
Daí por diante a noite ganha proporções épicas e se torna a melhor despedida de solteira que
uma garota poderia querer. Bebo várias doses de vodca com soda, danço muitas vezes com meu falso
noivo e dou muitas risadas. Até que Linda resolve dar o seu toque especial e pede ao DJ que coloque
uma sequência de músicas lentas.
Josh passa seus braços ao meu redor e deito minha cabeça em seu peito, sentindo o efeito do
álcool. É tão gostoso estar assim com ele, sentindo seu cheiro. Josh suspira no meu ouvido e isso faz
com que um arrepio percorra todo meu corpo. Solto um gemido baixo sem querer, mas ele escuta e
gruda mais meu corpo ao seu. Quando me dou conta estamos nos beijando. O beijo é arrebatador,
quente, sedento. Caramba.
As lembranças me acertam em cheio. Josh com suas mãos em mim, me guiando pela pista de
dança, me puxando para os seus braços, me beijando. Ai Deus.
— Mila, você está bem? — Josh fala, do outro lado da porta do banheiro. — Se estiver de
ressaca tem remédio na gaveta do armário.
— Eu estou bem — digo, desligando o chuveiro e me enrolando na toalha.
— Não aconteceu nada — ele diz, quando saio.
— Eu sei, eu me lembro — respondo, mas algo mais está me perturbando. Não porque nós nos
beijamos como se o mundo fosse acabar e essa fosse nossa salvação, ou porque chegamos
arrancando a roupa um do outro, mas sim porque desistimos.
Sim, é isso que está me incomodando. O que é que eu estou fazendo? Por que meu corpo
traidor não entende que Josh e eu nunca teremos nada além de um acordo? Merda.
— Quer que eu a leve? — ele pergunta e há algo no seu olhar, algo que me toca de um jeito que
não sei explicar. Parece triste e me faz querer dizer que tudo vai ficar bem. Que ele ainda pode
desistir se quiser. Droga, meu coração dói só de ver essa expressão de desalento.
— Não, Linda já está vindo.
— Tá bom — ele diz, pegando o terno com a capa protetora e uma bolsa com acessórios e
produtos que possa precisar. — Te vejo lá, então.
Vamos nos arrumar em salas na igreja, Linda já enviou todo um batalhão de pessoas que, como
ela mesma disse, vão me deixar espetacular para a cerimônia, e isso inclui duas cabeleireiras, uma
maquiadora, minha sogra, Ashley e mais duas ajudantes que vão se certificar de que meu vestido
fique perfeito.
Ela vem me buscar e não fala nada a respeito da noite de ontem, sei que nos viu dançando, com
certeza também viu as muitas vezes que nos beijamos, mas se ela não vai tocar no assunto é um favor
que me faz. Tudo que menos preciso nesse momento é ter uma crise de consciência ou ouvir da minha
Depois que desligo o telefone, com o humor renovado volto para a frente do espelho e sorrio
para minha futura cunhada.
— Vamos lá, não podemos deixar o noivo plantado no altar.
— Graças a Deus, por um instante achei que você fosse fugir pela janela do banheiro.
— E perder a festa? Nem pensar — digo e deixo que a maquiadora termine de retocar meus
olhos.
Os minutos seguintes passam com rapidez, vejo vultos e mais vultos me rodeando, ajustando
vestido, prendendo o véu, tentando me alimentar, até que escuto uma voz que enche o ambiente de
energia.
— Martha! — me lanço em um abraço reconfortante.
— Você está linda — ela diz.
— Obrigada — digo e fico mais um pouco nos braços da mãe de Josh. Sei que se o casamento
fosse pra valer, ela seria a melhor sogra que eu poderia querer, mas quando ela descobrir a verdade
vai ficar tão magoada que acabará me odiando. Espero que um dia ela possa me perdoar.
— Estou feliz que você esteja entrando para a minha família — ela diz e então se aproxima do
meu ouvido e sussurra. — Eu sei a verdade.
Me afasto e a encaro com pavor, mas ela pega minhas mãos e dá um aperto leve, com carinho.
— Tudo bem, Mila, mesmo assim estou feliz.
— Co-como você soube?
— Josh me contou há alguns minutos.
— Tudo bem, podemos desistir, não quero que você fique ofendida.
— Sabe, Mila, a vida costuma dar voltas engraçadas e como meu marido sempre dizia: não é
por acaso que encontramos as pessoas. De um jeito ou de outro, você tinha que ser a esposa de Josh.
— Mesmo que seja temporário? Que eu não dê os netos que você quer?
— Isso a gente pensa depois, por enquanto fico feliz de você não deixar o meu filho plantado
mim.
Então é isso, hoje é o dia do meu casamento.
Desligo o telefone com um aperto no coração. Mila vai desistir. Que merda, por que eu a beijei
daquele jeito ontem? Por que não pude simplesmente deixar pra lá? Coloco o celular sobre a mesa.
Não posso permitir que ela abandone todos os nossos planos agora. Não importa que o casamento
não seja de verdade, o que temos é mais real que qualquer coisa que já tive ou senti. Que inferno.
Rumo para a porta, mas minha mãe entra na saleta onde estou me arrumando e bloqueia minha saída.
— Como você está lindo — ela diz, mas então estreita os olhos. — O que há de errado?
— Acho que Mila vai desistir — sussurro, puxando minha mãe para longe de Edgar e dos
nossos amigos do basquete.
— Ela não faria isso.
Então absolutamente tudo para minha mãe, sobre a ideia de Linda de fraudarmos o green card,
sobre alguém querer prejudicar Mila, os ataques à nossa segurança digital, o programa Oscar que ela
está criando. Não escondo nada.
— Joshua, isso é muito sério. Onde vocês estavam com a cabeça quando inventaram uma
maluquice dessas?
— Pareceu uma boa ideia — respondo, mas sei que minha mãe está certa. Nunca deveria ter
deixado essa história toda ir tão longe. Agora não posso voltar atrás, isso prejudicaria Mila e... me
deixaria quebrado.
— Tudo bem, filho, ainda podemos cancelar sem gerar maiores complicações — minha mãe
fala, surpreendentemente calma.
— Não, mãe. Eu não vou cancelar nada e não tenho a menor pretensão de deixar que a Mila
desista agora, porque...
— Porque você a ama?!
Fico em silêncio, tentando convencer a mim mesmo de que o que sinto não passa de uma
atração intensa provocada pelo fato de Mila não ter se deixado levar, por eu saber que ela também se
sente atraída por mim e que mesmo assim foi capaz de resistir a química que rola entre nós. Por
querer me afundar nela com força, sentindo-a estremecer.
— É isso, filho, você ama aquela moça?
Sento em uma poltrona e esfrego o rosto. Eu a amo? É isso que eu sinto? Droga, por que tem
Minha mãe me acompanha até o altar e lá nós esperamos. Não demora e a marcha nupcial
começa. Um alivio tremendo percorre meu corpo, porque até ver os olhos de Mila sorrirem para
mim, eu ainda temia que ela desistisse. Ela vem devagar na minha direção, segurando um buquê
delicado e num vestido sexy pra caralho. O vestido branco é liso e a abraça nas curvas, deixando um
decote suave nos seios e uma fenda que dá uma pequena amostra das pernas firmes quando ela anda.
O véu está para trás, prendendo o cabelo e deixando-o pender em cachos. Meu coração salta no peito
e nesse momento eu sei exatamente o que sinto por Mila. Eu a amo.
Depois do sim tudo passa rápido. Em um minuto estamos nos beijando diante do padre e no
seguinte desfilando pelo salão onde nossa festa de casamento está acontecendo. Mila tira o véu e
joga o buquê. Cumprimentamos as pessoas. Tudo voa e eu mal consigo pensar a respeito da minha
grande descoberta. Estou apaixonado por Mila e não faço ideia se o que ela sente é apenas atração
ou se há algo mais.
Concordo com um aceno, pois sei exatamente o que ela quer dizer. Sei que prefiro brigar com
Mila na nossa casa do que me divertir com qualquer outra pessoa.
conversando com um conhecido. Tudo está indo bem, até que percebo uma figura vagamente familiar.
Ele está vestido de garçom, anda entre os convidados com uma bandeja de champanhe e por mais
sorrateiro que seja eu sei que é ele. Eu jamais esqueceria aquele jeito de espião russo. Mikhail.
O sigo com os olhos, ele transita sem qualquer preocupação. Mila termina de dançar e vai até
ele. Claro que ela também o notou. Mikhail toca as mãos de Mila e a faz olhar na direção da palma
fechada. Os dois mal trocam umas palavras e ele some no meio da profusão de gente.
É claro que não vou deixá-lo escapar assim, se pensa que pode vir aqui e estragar a nossa noite
vai descobrir que não. Deixo meu convidado com uma desculpa qualquer e sigo na direção que o
hacker foi.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto para Mikhail, quando o alcanço já saindo pelos
fundos.
Ele se vira e sorri, mas sei que não há nada de simpático ou amigável. Ele me odeia e aposto
que está morrendo de ciúmes por eu ter levado Mila até o altar.
mas também não cedo. Se ele tentar qualquer coisa vamos ter uma boa briga, porque não vou desistir
fácil, de jeito nenhum vou permitir que ele estrague o dia de hoje. Mila já está sob pressão demais
com a urgência de criar o programa e o sentimento de culpa por estarmos nos casando para ela
conseguir um green card, não precisa de mais stress por conta desse cara.
— Você nem sabe a sorte que tem, não é? — Mikhail fala, me pegando desprevenido.
— O que você quer dizer com isso?
— Suponho que em breve você vai descobrir — ele diz e começa a se afastar devagar. — Só
não esqueça de uma coisa, americano. Se você machucá-la, eu machuco você.
Ele vai embora e eu não o impeço. Volto para a festa e encontro Mila dançando uma música
eletrônica na pista de dança. Ela me lança seus abraços e eu a envolvo num abraço. Uma música
lenta começa a tocar e Mila deita a cabeça no meu peito.
— O que o seu amigo hacker queria? — pergunto no ouvido de Mila.
— Me entregar informações sobre o hacker que quer me destruir.
— Só isso?
— Também queria saber se estou feliz.
— E...
Mila suspira. Não responde a minha pergunta, mas deixa que eu a embale por toda a pista.
Quando a música eletrônica volta, começamos a dançar outra vez, tocando nossas mãos e arriscando
alguns beijos. Se é para fingir, vamos fazer direito. Só que nesse momento, eu não estou mais
E a noite transcorre assim, entre beijos inflamados, amassos às escondidas cheios de mãos
bobas e danças lentas. Edgar faz o brinde do padrinho e minha irmã faz o de madrinha, minha mãe diz
apreciar bem o lugar. Como Mila teme não poder voltar ao país se sairmos em lua de mel, vamos
passar as próximas duas semanas no lago. Ela vai trabalhar só no seu programa Oscar e eu vou
gerenciar o que for essencial à distância.
— Obrigada pelo lindo casamento — Mila diz quando entramos no apartamento, ela está meio
alta do champanhe e se abaixa para fazer carinho em Scotty.
— Por nada — digo, puxando Mila para um abraço.
Eu sei, não posso ultrapassar mais ainda os limites, mas não consigo evitar, todo meu corpo
pede por ela, por seu cheiro e toque.
Mila fala alguma coisa em português.
— O que disse?
— Que você está ficando duro — ela ri e aponta direto para o meu pau. Puta merda, estou
mesmo ficando duro só de tê-la assim tão perto.
— Desculpe — falo, me afastando. — Meu corpo gosta de você.
Mila vai para o quarto, rindo e tagarelando, alternando entre o português e o inglês. Tira o
vestido e fica só de lingerie, um conjunto branco de renda que me deixa ainda mais duro. Cara, fica
difícil desse jeito. Uma coisa é ver Mila zanzando por aí naqueles terninhos e salto altos, outra bem
diferente é estar cara a cara com o corpo quente, com ela usando nada mais do que uma lingerie
super sensual.
— Ainda bem que você não fala português — ela diz e desconfio que não percebe que na
verdade está falando em inglês — Ou eu não poderia falar em voz alta todas as coisas que me vêm à
português e volta para o inglês numa transição natural que nem mesmo nota. — Um cara
deliciosamente legal. Droga, vou ficar louca desse jeito.
Mila bêbada é revelador.
— Não entendo — ela diz. — Não entendo. Você já disse que não me quer, mas o meu corpo
não está nem aí pra isso e fico excitada toda vez que vejo você sem camisa.
Tiro meus sapatos e a camisa, Mila está parada, observando. Eu sabia que ela gostava do meu
corpo, mesmo arisca e sempre com alguma resposta afiada. Vai ser difícil me controlar vendo-a com
esse olhar de desejo, mordendo o canto do lábio.
— Joshua — fala, com o sotaque que sempre me faz sentir um arrepio. Ela sorri — Joshua
se encontram. Ficamos assim, nos encarando por um momento, até que Mila pisca bem devagar. Ela
repete o gesto mais uma vez e depois outra, só que não abre mais os olhos. Está dormindo.
Deito ao lado dela e a puxo para se aconchegar ao meu peito, Mila não oferece qualquer
resistência, esparramando os cabelos sobre mim. Apesar de estar sentindo uma dor latejante no pau,
cheio de tesão, estou aliviado. Por mais tentador que seja e por mais que eu saiba agora que Mila
também me quer, não posso me aproveitar da fragilidade da situação, não só porque está alcoolizada,
mas porque na nossa relação, ela, com a necessidade de conseguir o green card, é o elo mais fraco e
eu jamais usaria qualquer coisa desse tipo para conseguir levar uma garota pra cama. Nunca teria paz
se fizesse algo assim.
Se bem que, conhecendo-a, aposto meu braço que ela nunca iria pra cama comigo por conta de
um visto. Não por obrigação.
Mila. Mila. Mila. Droga. Eu a amo, não é? Amo mesmo.
Daria qualquer coisa pra me afundar nesse corpo e provar sua bocetinha quente agora, mas se é
pra tê-la, tem que ser do jeito certo.
É o segundo dia consecutivo que acordo com a cabeça deitada no peito de Josh, meus cabelos
espalhados por seu peitoral definido e com o braço dele ao meu redor. Deus, é como se ele tivesse
mesmo um imã que me puxa para junto dele, dos músculos trincados e do senso protetor que emana
até mesmo quando está dormindo. Uma onda de calor percorre meu corpo e se instala entre as minhas
pernas. Controle-se Mila, Josh não é pra você.
Me afasto devagar, deitando no travesseiro e deixando o braço dele sobre a cama. Que
dorzinha chata de cabeça. Não, eu definitivamente não nasci para beber. E o pior é que tenho uma
vaga lembrança do que aconteceu depois que chegamos ao apartamento. Espero que eu realmente não
tenha dito ou feito nada demais.
“Joshua Thomas Howard, o magnata de pernas sexy” Nãooooo. Não posso ter falado isso. Mas
o que diabos foi que deu em mim? Só espero que eu tenha ao menos falado em português, assim me
poupo um pouco da vergonha de ele ter percebido minha tara por suas pernas.
E o pior, ele me beijou, não foi? Me carregou para o quarto sem a menor dificuldade. Ai
caramba. Me apalpo toda, mas não sinto nada de diferente. Aposto que se tivesse rolado algo eu
estaria toda dolorida. Josh não é do tipo delicado e com todo aquele corpo… com certeza eu saberia
se tivesse rolado.
Mordo a língua para forçar minha mente a abandonar a imagem que se forma de Joshua me
carregando e me devorando em um beijo intenso. Não rolou, mas será que eu acharia mesmo ruim se
tivesse rolado?
Me arrasto para fora da cama e visto uma camiseta e um shorts. Josh vai dormir por um bom
tempo ainda e preciso de um pouco de distância. Além do mais, tenho que separar as coisas que
vamos levar para a casa do lago. Não vejo a hora de voltar pra minha casa, sem toda essa
preocupação com imprensa, visto, com gente tentando me destruir.
Para minha surpresa, não demora muito e ele está circulando pela casa, com aquele peitoral
trincado e as pernas definidas. Pelo menos podia ter colocado uma camiseta e uma bermuda, mas
não, ele fica para cima e para baixo só com uma cueca boxer. Como eu vou aguentar desse jeito?
— Bom dia — fala, vindo me beijar na bochecha. Deus do céu, isso só pode ser brincadeira.
— Dormiu bem?
— Hunrum.
Josh me olha com aquela sobrancelha erguida e uma covinha nas bochechas. Meu pai amado,
como esse homem consegue ficar ainda mais lindo?
Terminamos de arrumar nossas coisas e vamos para o lago, nem posso dizer o quanto senti falta
da minha casa nessas últimas semanas. Josh também parece apreciar e sorri quando entramos na
última curva e em seguida conseguimos ver a casa.
— Você tem bom gosto — diz, olhando os arredores.
A casa do lago é mesmo linda. Do lado de fora vemos as janelas grandes nos cômodos e uma
bay-window na cozinha. Do outro lado tem a piscina, as espreguiçadeiras, um espaço gourmet e
portas francesas que dão para a sala. O lago fica a alguns metros e contorna um punhado de árvores,
seguindo seu curso para o fim da propriedade. Ainda temos a garagem coberta, um balanço, um canil
e um belo jardim. Sem contar todas as imensas árvores que se espalham a perder de vista.
assim que eu assinto, o sorriso meigo do meu, agora, marido, se transforma em algo muito diferente e
eu sei que ele vai aprontar algo. Josh se curva e ao invés de me pegar no colo como os maridos dos
filmes fazem com as esposas depois do casamento, ele me joga sobre seus ombros, do mesmo jeito
que fez no meu escritório. Como se eu fosse um saco de batatas e ele o carregador musculoso.
— Josh!
Josh abre a porta e entra me carregando em seus ombros. Praticamente um homem das
cavernas. O problema é que eu não consigo ficar com raiva. Sou mesmo uma tola apaixonada, não
sou? Rindo, deixo que me carregue até nosso quarto e me deite na cama. Ele tira a própria blusa e se
debruça sobre mim e Deus, ele é tão quente, tão gostoso que tenho que admitir que se ele me beijar
tão lindo por aí e me lançando olhares esquivos. O que é que deu nele, afinal?
O bom de termos nos casado no verão é que podemos aproveitar toda a glória do lago, ouvir os
pássaros animados em suas tarefas e brincar com Scotty sem todo o frio e neve do inverno
novaiorquino. Josh, é claro, entende isso como um excelente motivo pra ficar desfilando por aí só
com uma sunga. E Deus do céu, se um Josh sem camisa é uma tentação dos diabos, um Josh sem
camisa e só de sunga é a perdição total.
Coloco um café para passar na cafeteira e uns biscoitos no forno, o aroma do amendoim com
chocolate se espalha rapidamente pela casa e não demora muito para que Josh apareça, farejando o
ar. Às vezes ele parece um menino.
Ele passa tão perto que posso sentir o calor do seu corpo se irradiar até mim, seu peitoral
trincado é uma tentação, mas eu controlo minha vontade de esticar os dedos e tocar os gomos do
abdômen, forçando minha mente a pensar em outra coisa que não seja no corpo do homem lindo que
e embora pouco o use quando estou aqui na casa do lago, mantenho tudo em ordem. As janelas
grandes dão vista para as árvores e um pedaço do lago, nos fundos da minha propriedade. A mesa é
de madeira antiga e tem um cheiro gostoso, perto da parede de estantes, um sofá confortável e uma
isso, Josh abre as caixas e começa a vasculhar minhas prateleiras. Há qualquer coisa de levado no
seu olhar, mas prefiro não perguntar, porque algo me diz que talvez eu possa me arrepender.
— Onde posso colocar meus livros? — ele pergunta, fazendo meus olhos correrem do seu
corpo definido até seu rosto.
— Você trouxe livros?
— Claro, se vamos passar um ano morando juntos é natural que eu traga minhas coisas.
Surpresa, acabo sem reação. Josh dá de ombros e decide que ele mesmo vai arrumar um lugar
para suas coisas. Fico observando enquanto ele abre espaço e infiltra seus livros entre os meus,
acabando com meu sistema de organização.
— Pelo amor de Deus, você está bagunçando tudo — reclamo e me junto a ele na arrumação.
— Não estou bagunçando nada — ele retruca enquanto coloca um livro sobre mercados
emergentes entre dois romances eróticos. — Que culpa eu tenho se você tem mania de controle.
— Não é mania de controle, é organização.
— Hunrum — ele diz, mas infiltra outro livro entre os meus. — Fica melhor assim.
— Mas não faz o menor sentido.
— Claro que faz, as capas têm cores parecidas.
— Sim, porque mercados emergentes e romances eróticos combinam perfeitamente.
— É tudo uma questão de ponto de vista — Josh diz e começa a colocar mais e mais livros
entre os meus, pouco se importante até com as cores das capas.
Jogo meus braços para o alto e vencida, volto para o laptop. Quanto antes descobrirmos quem
passar.
— Gosto de ter opções.
— Ah, sim, são muitas opções — ele fala, mirando direto para uma coleção de romances cujas
capas são homens de peitoral de for. — Todo tipo de bombadão.
— Eles não são bombados, são sarados.
— Claro, faz muita diferença — ironiza.
Deixo meu laptop na mesinha, porque sei que Josh não está nem um pouco disposto a me deixar
trabalhar e vou até ele. Pego o exemplar que está segurando e sorrio.
— Gostei desse — digo, com meus olhos fixos no homem da capa. — É sobre um cara que
perdeu a memória e se apaixonou pela garota que o resgatou.
E num instante posso ver as engenhocas se movimentando na cabeça de Josh, ele está remoendo
alguma coisa. Então, pega o exemplar da minha mão e devolve para a prateleira. Sorrindo, puxa
outro e me entrega.
— E esse?
— É sobre uma escritora que se apaixona por um professor e apesar de todo mundo estar
contra os dois conseguem formar uma linda família.
— Meio meloso, não?
— Pois fique sabendo que a autora é bem famosa no meu país e ela escreve muito bem. Ali
embaixo você vai ver os outros livros dela.
Dando de ombros ele pega outro livro e me entrega.
— Me fale sobre este.
— Este também é de uma autora brasileira — digo.
— Percebi. Mas o que diz aí?
— Amigo Virtual. É sobre uma garota que finge estar noiva de um rapaz, mas se apaixona
perdidamente por outro.
— Parece interessante.
— Interessante e quente.
Josh larga de mão meus livros, mas não sem antes mudar a ordem dos livros e infiltrar mais
— Claro e você seria o CEO gostosão sem camisa e de pernas de fora na capa.
Rindo, ele olha para o próprio peito, como se analisasse se o seu físico é digno de uma capa de
livro. Jesus, e como é. Cada pedacinho dele encheria o sonho de muitas leitoras. Eu mesma poderia
brincar com os gomos do tanquinho por horas, não, por dias.
— E como seria o nome do nosso livro? O CEO e a nerd gostosa? — ele fala, o rosto bem
próximo ao meu. Um calor percorre minha espinha, e preciso apertar as pernas para me controlar.
— Um magnata em minha vida — digo e ele sorri.
— Green card – um magnata em minha vida — Deus, até ele falando uma bobagem dessas me
faz sentir fogo pelo corpo.
— Uma hacker e um CEO – a fraude do green card — arrisco, mas agora ele está tão perto que
mal consigo pensar. — Falando em hacker...
Saio de perto dele e ligo o laptop outra vez.
— No card de memória que o Mik me deu só tinha um documento com um nome escrito.
— E ele não podia ter enviado por correio? Um bilhetinho era suficiente — Josh soa rabugento
quando vem se sentar ao meu lado.
— Mik é dado a um bom drama — sorrio.
— Tudo bem — ele bufa. — O que diz aí?
— Andrômeda — digo.
— A constelação?
— Não, um dos hackers mais perigosos do mundo. Se ele estiver certo, estou mesmo
encrencada.
Josh fica pensativo por algum tempo, depois pega minha mão na sua e entrelaça nossos dedos.
— Não importa quem seja, vamos resolver isso juntos.
“Fonte anônima garante que o casamento de Josh Howard e Camila Bitencourt é uma farsa
criada para que a brasileira consiga seu green card. Nossa equipe de jornalismo procurou a RP
Linda Howard e ela não quis comentar o assunto” (Harold Tribune).
Mila desiste da nossa brincadeira com os livros e vai para a cozinha, decidida a preparar o
jantar. Ela nunca cozinhou para mim então provoco-a várias vezes, dizendo que não quero morrer
intoxicado, mas ela ignora minhas tiradas e se concentra em cortar uma porção de legumes e temperar
o peixe.
Ligo uma música no aparelho de som que fica perto da bancada, desconfio que de propósito
para momentos como esse. Ela sorri, satisfeita com a minha escolha de música.
Enquanto Mila prepara os legumes sobre o peixe e cobre a forma, sirvo uma taça de vinho para
cada um de nós, fiz questão de trazer algumas boas garrafas e agora elas parecem cair com perfeição.
Tomo um gole do meu vinho e fico observando Mila fazendo uma dancinha leve enquanto mexe
a panela com o molho. A cena é sexy pra cacete e ao mesmo tempo é como se derretesse algo no meu
coração.
Me junto a Mila no preparo do jantar e quando menos espero estamos os dois dando passinhos
bobos com a música. Ela sorri e tudo o que eu quero é me afundar nesse corpo pequeno e quente,
beijá-la até que seus lábios carnudos estejam ainda mais inchados e fazê-la gritar meu nome quando
Contorno a bancada da ilha e escondendo a parte excitada do meu corpo, pego a taça de vinho
e tomo um gole grande da bebida. Ela desce suave por minha garganta, aliviando a pressão que a
falta de sexo está começando a provocar.
Sei que podia só ligar para qualquer uma das garotas com quem me relaciono ocasionalmente,
mas ainda que eu não levasse a sério a palavra do padre sobre o casamento ser sagrado, coisa que
levo, não faria esse tipo de coisa com Mila. Além do mais, desde que ela surgiu em minha vida que
só penso nela, no seu corpo, sorriso, cheiro.
— Ainda acho que nós deveríamos sair em lua de mel — digo.
— E pra onde iriamos?
— Algum lugar frio, suponho.
— E por que frio? — Mila arqueia as sobrancelhas.
Dou de ombros, porque não tenho um motivo muito bom, na verdade, é só algo que me pareceu
a cara dela.
lábios e saboreio, soltando um grande hummm quando o sabor explode dentro da minha boca. É
simplesmente mágico e eu poderia comer assim sempre. Quando reabro meus olhos percebo que
Mila está me observando, seus olhos estão na minha boca e ela morde o canto do lábio. Esse é o
olhar de alguém que poderia facilmente me devorar e me deixa com mais tesão ainda.
Preciso de todo o esforço do mundo para me controlar. Tudo que quero nesse momento é pegar
essa mulher linda e pequena e carregá-la para o quarto e não a deixar sair até que tenha matado
minha fome de Mila. Ao que parece, ela também tem fome. Seu olhar inflamado e o jeito atordoado
de se afastar me dizem que ela está lutando contra o desejo. Que inferno, é difícil não misturar as
coisas. É difícil não dar esses três passos que nos distanciam, mergulhar nos seus lábios e esquecer
do resto do planeta.
Eu sei, já estou parecendo um louco, mas a verdade é que até hoje nunca tinha sentido nada
assim e ainda não sei bem como lidar com toda essa situação.
Depois de almoçarmos e juntos darmos um jeito na cozinha, Mila pega um livro da sua estante
e senta em uma das espreguiçadeiras ao redor da piscina. Está um dia lindo, mas não consigo me
concentrar muito bem em nada, por causa de toda a energia acumulada que está fervendo dentro do
meu corpo.
Deixo Mila lendo sua historinha de homens sarados, o que é surpreendente se considerar o
tanto que ela consegue ser nerd quando está falando de programas e códigos de computador, e vou
para o escritório. Passo a hora seguinte alternando entre responder e-mails e resolver pequenos
problemas que definitivamente poderiam ser resolvidos por qualquer um no escritório. Tudo que
preciso é de um pouco de distração.
É fim de tarde quando saio do escritório. Vejo Mila passando para o quarto, distraída com uma
conversa com Scotty. O cão a acompanha como se entendesse cada palavra que ela está falando.
Espero que Mila entre no quarto e então, tomado por espírito da provocação outra vez, decido
investir mais um pouco em tirá-la do sério.
Não sei porque preciso fazer isso, só sei que é o que vou fazer.
— Pensei em levar Scotty para uma corrida — digo, depois de tirar a camiseta e logo em
seguida começar a baixar minha bermuda.
Mila fica com os olhos fixos em mim, seu rosto está corado e ela morde o canto do lábio. Cara,
esse gesto é tudo que preciso pra sentir uma onda elétrica percorrendo todo meu corpo.
Dou alguns passos na direção dela e percebo que sua reação instintiva é de se mover para mim.
É garota, vamos lá, admita que você também me quer e vamos aproveitar. Mas Mila para no caminho,
olhando meu corpo de cima a baixo, sua respiração é ofegante.
Sei que muitas garotas gostam de homens definidos como eu, sempre fiz do meu corpo uma das
minhas melhores armas, seja nos negócios quando preciso ser altivo e firme, seja na cama, quando
quero transformar leoas em gatinhas manhosas. Mas Mila é diferente de todas as mulheres com quem
estive. Além do que ela é um desafio, é verdade. Sei que sente pelo menos uma atração por mim, mas
é tão resistente...
Estamos tão perto que quase posso senti-la tocando minha pele. A energia que flui entre nós é
intensa demais para ser ignorada. Mesmo que não seja a coisa certa a fazer, dou mais um passo na
direção dela. Seus olhos percorrem meu corpo devagar, como se estivesse saboreando e isso me
deixa ainda mais ansioso por seu toque, até que eles se fixam nos meus e nesse momento, sei, com
todas as minhas forças, que não é coisa da minha cabeça. Mila sente algo por mim.
Como se estivesse mergulhado numa névoa sexual, demoro algum tempo para entender o que
está rolando. O celular está tocando.
Mila pega seu aparelho e o atende. É uma chamada de vídeo da minha irmã estraga momentos
especiais. Deixo as duas conversando um pouco e termino de me vestir longe dos olhos das duas.
Estou prestes a sair quando escuto a pergunta de Linda.
— Vocês já transaram? — a voz da minha irmã é provocadora.
Linda resmunga alguma coisa, mas não espero para ouvir a continuação da conversa. Entro no
banheiro da suíte e me concentro na tarefa de passar desodorante e me ajeitar para ir correr com
Scotty. Se eu não der um jeito nessa energia acumulada, vou acabar me tornando um desses maníacos
— É uma boa ideia, vocês se saem bem juntos, ainda mais quando bebem — Linda provoca e
sorri.
É claro que ela nos viu aos beijos na festa de despedida e, talvez, no casamento também.
coisa é bem demorada, mesmo no laptop equipado que ela tem. Então, entre uma seção de digitação
frenética e outra, matamos o tempo conversando e comendo, assistimos a um filme e eu me pego
massageando os pés de Mila mais de uma vez no decorrer do dia. É delicioso ver como ela se rende
a pequenos gestos.
— Não adianta — Mila diz quando me vê saindo do banho. — Nada do que eu faça me ajuda a
entender porque esse maldito Andrômeda está atrás de mim. Jamais sequer nos cruzamos.
— Algum trabalho que tenham feito juntos?
— Nada. O que me leva a pensar que é algo indireto. De algum jeito pisei no calo desse hacker
e agora ele está atrás de mim.
— Isso significa que ele pode tentar feri-la?
— Não sei, há muitos boatos sobre esse tal Andrômeda, mas nunca soube nada sobre ele usar
violência física.
— Mesmo assim, talvez seja melhor providenciarmos alguns seguranças. Vou fazer isso nos
próximos dias.
— Tudo bem. Quem sabe até lá a gente descobre mais alguma coisa.
Dormimos lado a lado, com Mila afundando o nariz no meu peito e suspirando pesado várias
vezes, exausta. Sei que ela está tensa por conta do risco que estamos correndo. Por mais que eu
insista que Linda foi quem teve a ideia de fraudarmos o green card ou que ninguém me obrigou a
entrar nessa farsa e que tudo que temos feito é em comum acordo, ela continua se sentindo culpada.
Toda essa situação é uma droga. Odeio vê-la assim, sofrendo em silêncio, se fechando e me
afastando, carregando o peso do mundo nas costas, sem me deixar compartilhar um pouco. Não posso
permitir que isso ocorra.
Acaricio o cabelo de Mila e sua respiração vai aos poucos mudando de tensa e curta para
profunda e lenta. Ela está dormindo. Fico imóvel, não por estar com sono, mas porque não quero
deixar que Mila se afaste. Gostaria de arrancar essa preocupação de seu coração, mas se não posso,
ao menos quero estar aqui para aconchegá-la, dividir um pouco do peso. Fico pensando sobre o que
posso fazer nos próximos dias para afastar o perigo de nós, mas minha cabeça está mergulhada em
uma guerrinha pessoal, uma batalha entre desejo e preocupação, entre a vontade de ter Mila nos meus
braços para devorá-la e a vontade de tê-la nos meus braços para protegê-la.
Levo algum tempo, mas acabo pegando no sono.
Acordo no meio da madrugada com os cabelos de Mila por todo o meu rosto e uma de suas
mãos pousada em minha coxa. Caramba, isso é suficiente para tirar meu centro de equilíbrio e me
deixar completamente louco de tesão.
Em um minuto estou tentando me livrar de uma mecha de cabelo escuro, no momento seguinte
estou pensando em enrolar esses cabelos em minhas mãos e puxá-los, obrigando aquela boca em
forma de coração a mergulhar na minha, devorando-a com a fome que me domina. Ah, cara. Eu
poderia arrancar essa roupa toda e me afundar nesse corpo miúdo e quente. Nossa, como eu quero
devorá-la, comer Mila com minha boca, dedos e com meu pau.
Por falar em meu pau, não demoro nada para ficar duro e sei que minha noite está perdida. Me
arrasto para fora da cama e vou para o banheiro, passando a mão por uma cômoda e levando uma
camisola de Mila comigo para o banheiro da suíte.
Fecho a porta e me encosto nela, pensando no que estou prestes a fazer. Eu sei, eu sei, já me
masturbei pensando em Mila antes, mas não depois de descobrir o que sinto. A vontade e o tesão, no
facilidade. Primeiro a imagino vestida na camisola que estou segurando perto do nariz. Então, a pego
no colo e a deito na cama. A beijo profundamente e Mila solta um daqueles seus gemidinhos leves
que sempre escapam sem querer. Esse pequeno gesto é suficiente para que eu rasgue sua camisola e
crave os dentes em seus seios. Com os lábios percorro todo o corpo, sem deixar de provar nada e
não demoro para chegar em sua bocetinha deliciosa. Imagino Mila se contorcendo de prazer quando
enfio minha língua e começo a lambê-la, primeiro lentamente e depois com muita vontade, sugando
tudo que ela me dá de boa vontade.
Antes mesmo de minha Mila imaginaria gozar, eu chego lá, sentindo a tensão das últimas noites
se esvair nas imagens borradas que restam. Droga. Preciso muito transar.
Preciso muito transar com Mila.
Acordo com a sensação de que há algo errado, faltando. Olho para o lado e não vejo a silhueta
de Josh, passo a mão por seu lado da cama, tateando na penumbra, e ele não está mesmo ali. Levanto
em silêncio, não quero acordá-lo caso tenha ido dormir no outro quarto, mas então ouço um som
está fazendo isso. Sei que é bobagem minha, que ele está apenas esgotando a energia sexual
o, depois deixo minha mente vagar até a imagem dele sugando-o. É tão real que sinto um arrepio
percorrer desde a espinha até a parte interna das minhas coxas. Meus mamilos endurecem e preciso
de toda a força de vontade que tenho para me impedir de bater na porta e oferecer meu corpo a ele.
Volto para cama e afundo sob as cobertas, pedindo para meu corpo se acalmar e rezando para
que eu seja capaz de esquecer o que ouvi, do contrário não serei capaz de dormir.
Fico em um silêncio mortal por um bom tempo, mordendo a língua para focar minha atenção em
qualquer coisa que não seja o som de Josh se masturbando, qualquer coisa que não seja me
imaginando sendo consumida por ele. É difícil, mas obrigo minha respiração a se ritmar e permitir
que o ar fresco entre profundamente, acalmando as batidas desenfreadas do meu coração, amainando
a ânsia que sinto pelo toque dele.
Levo muito tempo ainda depois que ele volta para a cama para conseguir dormir, mantendo-me
o mais longe possível do corpo em chamas que afunda ao meu lado. É como se um instinto selvagem,
dentro de mim, gritasse para agir como uma fera, devorá-lo e ser devorada, forço essa fúria para um
lugar bem fundo dentro de mim e aos poucos meu corpo vai se rendendo, pelo menos o suficiente
para que eu apague.
Saio da cama logo cedo, depois de uma noite complicada demais para ser tratada em palavras.
Depois da conversa com Linda, dormi aconchegada em Josh, sentindo seus dedos acariciando
meus cabelos e acalmando minha angústia, mas a tranquilidade não durou muito e no meio da
madrugada acordei sentindo um vazio, Josh. Descobrir o que ele estava fazendo tornou ainda mais
difícil sossegar e quando finalmente dormi, sonhei que era arrebatada por ele para uma noite de
paixão enlouquecedora.
Eu deveria ter acordado de mau humor e tensa, mas não, até que estou controlada, dentro do
que é possível considerando-se que estou louca para arrancar minhas roupas e pular em cima dele.
Há muita energia pulsando entre nós, tudo o que quero nesse momento é abrir um pouco de
distância e deixar que meu corpo encontre a calma que precisa para voltar ao normal.
Ligo a cafeteira e começo a preparar um suco, então ouço o som de notificação do meu celular,
pego-o e vejo que Josh postou uma foto, abro o aplicativo de rede social e me surpreendo ao ver que
sou eu, de costas, na ponta dos pés, tentando pegar algo no armário. A legenda diz: “Apreciando a
paisagem”. Olho para mim e me dou conta de que é o mesmo camisetão, é aí que a ficha cai, isso
aconteceu agora pouco, viro para a bancada e Josh está lá, encarando-me. E é a porcaria de um Deus,
lindo, esculpido em músculos e pele bronzeada, os olhos verdes sorrindo com um brilho ferino.
— Há quanto tempo está aí? — pergunto, um pouco sem jeito.
— Tempo suficiente para ver a sua dancinha enquanto prepara o café — ele abre aquela
covinha no canto dos lábios. Lábios que eu daria tudo para beijar agora.
Foco, Mila, foco.
Falo muito pouco com ele durante o café da manhã, não consigo raciocinar direito porque
minha mente sempre insiste em vagar para a noite de ontem, e logo em seguida ela emenda no sonho
ardente que tive. Droga, preciso mesmo dar um jeito nessa confusão. Josh me lança olhares
divertidos, como se estivesse analisando minhas expressões e soubesse exatamente o que estou
pensando. Torço para que não, isso seria embaraçoso, para dizer o mínimo.
Depois do café da manhã, pego meu laptop e me sento na varanda. Minha atenção logo é
roubada para Josh. É claro que ele tinha que desfilar sem camisa, brincando de jogar a bolinha para
Scotty e tentando ensinar meu... nosso cão a pular. É lindo, sexy e tentador pra caramba.
Sem pensar, me pego buscando o celular na mesinha e tirando uma foto. O momento não
poderia ser mais perfeito e a foto fica linda. Josh, o torso meio dobrado para o lado, com um sorriso
radiante, e Scotty pulando na direção em que ele estica a bolinha. Não resisto e posto a foto com uma
perfeita e natural que quero que o mundo todo saiba que essa cena está se passando aqui, bem diante
dos meus olhos e do meu coração.
Droga, preciso tomar cuidado ou vou acabar machucada.
Sei que Josh e eu não temos qualquer futuro, mas está cada vez mais difícil manter o muro que
me protege dele erguido. Cada noite que passamos juntos, cada refeição que dividimos, cada doçura
que faz, é como uma martelada constante, rachando a barreira que nos separa.
Josh me lança um olhar com as sobrancelhas erguidas, é um daqueles seus olhares de garoto
maroto que sempre contorcem algo dentro do meu estômago e me forçam a trancar um suspiro pesado
dentro do peito, hoje, porém, ele está longe o bastante para não perceber e eu deixo que o suspiro
irrompa do meu peito e ganhe a superfície. Uau, é como se destrancasse algo lá dentro, algo há muito
preso e soterrado por camadas de medo e dor.
E então, uma ideia maluca nasce das profundezas do meu suspiro e dos sentimentos que
emergem com ele.
Meia hora depois meu plano está pronto. Posto uma foto com uma legenda misteriosa:
“desvende o mistério e receba o prêmio”. Eu sei, sou completamente doida, mas não resisto, todo
meu corpo está agindo por conta própria e não vejo a hora de ver Josh em sua caça ao tesouro.
Ele está deitado numa das espreguiçadeiras ao redor da piscina, com Scotty aos pés. Assim
como eu, ativou as notificações das redes sociais e pega o celular distraído quando o aparelho toca.
Primeiro ele sorri bobo e suponho que acaba de ver a primeira foto que postei dele brincando com
Scotty, sim, agora Scotty é um pouco dele também, ou talvez muito, porque meu cão traidor não sai
do lado de Josh.
Sua expressão muda, de garoto bobo para o homem astuto e curioso. Ele acaba de ver a foto e
seu olhar me assegura que comprou o desafio.
O mapa tem cinco pistas, todas charadas cuidadosamente pensadas que o levaram a um prêmio
que pode ou não causar uma explosão nuclear. Pensando bem, talvez eu não devesse ter feito isso,
mas agora não tem volta, ele já entrou na brincadeira.
Josh leva exatos 5 minutos olhando para a foto, movendo as sobrancelhas e até virando o
celular. Então me lança seu olhar matador, isso mesmo, aquele olhar que seria capaz de derreter até o
mais gelado dos corações. O que eu não daria para saber o que está pensando agora?!
Com o celular sacudindo na mão, Josh levanta da espreguiçadeira e começa a procurar. O olhar
do meu falso marido é de tirar o fôlego, quase posso ver as engrenagens se movendo por trás dos
olhos verdes, desvendando a charada em busca do prêmio merecido.
Fico onde estou, tentando soar indiferente, mas cheia de vontade de sair em seu encalço e
observar suas reações. Me forço a ficar com a bunda colada na cadeira, mas minhas pernas se mexem
sozinhas, sacudindo pra cima e pra baixo.
Alguns instantes depois e meu celular vibra. Abro o aplicativo e vejo uma foto do cartão com a
segunda charada. A legenda é: “Primeira pista desvendada, não vejo a hora de receber meu prêmio”.
A mensagem é suficiente para provocar uma comichão entre minhas pernas. Se ele soubesse o
que é...
Pouco tempo depois, outras imagens aparecem em meu celular, com uma legenda que é, na
verdade, uma contagem regressiva. Josh leva pouco tempo para matar quase todas as charadas, com
exceção da última, que vai dar um pouco mais de trabalho.
A última pista leva Josh à minha estante de livros no escritório e é uma série de características
sutis que indicam um livro, um livro cujo modelo da capa está sem camisa, é obvio.
Alguns minutos se passam e o celular vibra, meu coração acelera quando vejo o punho de Josh
fechado, com apenas uma pequena fresta entre os dedos de onde escapa um pedacinho da renda cor
de rosa. Na legenda ele escreveu: “Cor de rosa é a minha nova cor favorita”.
Todo meu corpo explode em sensações, um misto de nervosismo e excitação me arrebatam e
não faço ideia do que fazer. Sei que a ideia de esconder uma calcinha foi provocação além da conta,
mas depois de ouvir Josh se masturbando simplesmente não resisti. Mais ousado ainda é o cartão que
deixei junto com ela, onde escrevi: “para quando perder o sono”. É claro que nesse momento ele já
sabe que o escutei na noite passada, e sabe também que encontrei minha camisola amassada no
banheiro logo cedo e aposto que já imagina tudo que passou pela minha cabeça.
Decido encarar a fera e vou para o escritório. Josh está sentado no sofá, a calcinha está
esticada em sua perna, como um prêmio a ser exibido e ele está... lendo.
Josh está lendo o livro onde escondi a calcinha cor de rosa, sua expressão é de divertimento,
mas ela muda assim que ele ergue os olhos na minha direção. O que vejo é mais forte do que
qualquer coisa que já tenha visto. Ele está desnorteado, confuso, mas tomado pelo desejo, assim
como eu.
Nenhum de nós diz qualquer coisa por algum tempo e eu fico, em algum lugar da minha mente,
ansiando que ele finalmente ignore todas as coisas que dissemos e me jogue em seus braços e cumpra
o que prometeu naquela noite, no meu escritório, que me leve para a cama e me faça gritar de prazer.
Oh, Deus! Quero mesmo isso.
Como se pressentisse, ele se levanta e dá alguns passos na minha direção, está tão perto que já
consigo senti-lo em mim, suas mãos, boca, tudo. Mas Josh para pouco antes de me tocar e tira o
celular do bolso. Não percebi que estava tocando até ver seu olhar de desaprovação para a tela.
— Algum problema? — pergunto, a voz embargada das emoções ainda à flor da pele.
— É do escritório — diz e aperta o botão para atender. — É bom que seja urgente, porque eu
estava no meio de algo muito importante.
Saio para que ele tenha privacidade, mais do que decidida a esfriar a cabeça. Estive bem perto
de jogar tudo para o alto e me lançar nos braços de Josh. Sei, senti que ele também me queria, mas se
abrirmos essa porta, só Deus sabe o que pode acontecer e eu já tive meu coração destroçado uma
vez, não sei se conseguiria lidar com outro coração partido. Ainda mais quando tenho certeza de que
nunca senti nada tão intenso como o que sinto por Josh.
Quando estive com Mikhail tudo era intenso, livre e a adrenalina nos movia sempre em frente,
me apaixonei pelo que tínhamos, pelo perigo, até que descobri que tinha perdido a pequena vida que
nem sabia que crescia dentro de mim, aquilo me destruiu de um jeito tão profundo que levou muito
tempo para que conseguisse remendar os pedaços.
Não foi fácil e desde então não houve relacionamento que conseguisse vencer as barreiras e
me atingir de verdade, sempre que alguém tentava se aproximar um pouco mais eu me esquivava e
recuava vários passos, acabando com qualquer possibilidade de dar certo.
Foram muitas chances de ter relacionamentos bons ou ruins, mas isso não importava, eu os
afastava um a um, todas às vezes. Por um bom tempo, tudo passou como um borrão, pessoas entrando
e saindo da minha vida sem qualquer significado, sem deixar qualquer marca em mim. Pode ser
piegas, mas com Josh eu sinto como se de repente tudo que estava trancado viesse à tona e
explodisse na minha cara, com a força de uma onda que quebra na praia em uma maré cheia e a fúria
de uma tempestade.
Não sei se sou forte para colocar meu coração outra vez no olho da tempestade.
O problema é que já o entreguei a Josh, não é?
Saio com pressa, tentando afastar a sensação de pânico que se aloja em mim, sei que estou
apaixonada por ele, mas e se o que ele sentir for apenas atração? Ou pior, se ele sentir o mesmo? São
tantas coisas quicando na minha mente que não consigo atinar. É terrível e nauseante. Eu o quero? Eu
não o quero? Deus do céu, acho que estou perdendo a cabeça.
Sento na cama, a respiração acelerada. O que diabos vou fazer?
Scotty aparece na porta e sacode o rabo, fazendo festa pra mim, acaricio atrás das suas
orelhas, reclamando por ele ser um traidor e puxa saco de Josh. Meu cão parece não se importar com
meu mau humor, satisfeito com o carinho.
Passo meus olhos pelo quarto, a cômoda perto da porta do banheiro, as caixas de Josh num
canto e meu tênis de corrida.
É isso, nada como uma corrida para me ajudar a colocar a cabeça no lugar. Entro no banheiro
e troco de roupa, vestindo um top e uma calça de lycra. Amarro os cabelos em um rabo de cavalo e
sento na cama para colocar os tênis, quando chega uma mensagem de Linda.
minutos sentada na cama, esperando que uma ideia venha à minha mente. Eu sei o que preciso fazer,
mas como fazer isso sem piorar tudo?
Levanto da cama e troco de roupa outra vez, colocando meu biquini mais sexy, cujo corte
brasileiro sempre deixa alguém com o olhar horrorizado. Jogo a roupa de corrida em cima da
endurecer no meu ventre. O pensamento que quica na minha cabeça é o mesmo que tive quando nos
vimos pela primeira vez, Josh tem um corpo lindo e com certeza um pau grande.
— Mila — ele sussurra quando passo meus lábios úmidos por seu pescoço.
Então suas mãos se cravam em mim, puxando minha bunda para junto dele e me fazendo soltar
um gemido involuntário quando seu pau duro roça na minha parte mais intima, isso é suficiente para
fazê-lo tomar a frente da nossa encenação. Enquanto mergulha os lábios nos meus, mordiscando e
chupando minha boca, uma de suas mãos corre pelas minhas costas e se aloja na nuca, grudando-se
nos meus cabelos e me dominando completamente. E é bom, tão bom que quase esqueço que isso não
passa de um fingimento.
Entregue, ainda que com a mente gritando comigo, deixo que outro gemido escape e isso
transforma Josh mais uma vez. Em um minuto estou no seu colo, passando minhas mãos em seu
cabelo e sendo consumida pelo fogo que cresce entre nós, no outro ele se ergue e me leva no colo,
sem qualquer esforço.
Entrelaço minhas pernas ao seu redor e mordo o ombro de Josh, tentando me forçar a pensar
com clareza, mas nesse momento nada mais importa, só o que ele é capaz de provocar. E ainda que
não saiba, Josh consegue provocar um verdadeiro incêndio dentro de mim.
Josh empurra o restante da porta com a perna para abrir mais espaço para passarmos
entrelaçados, nos guia para dentro de casa sem tirar as mãos da minha bunda. Deixo que nossos
lábios se afoguem em um beijo que parece não ser suficiente para acalmar essa sede que tenho dele.
Os dedos dele roçam na parte debaixo do biquini, cavando o caminho entre as minhas pernas
que me faz arquejar, solto o ar com força quando o sinto roçar no lugar mais sensível que tenho e
cravo as unhas nas costas dele. Para uma encenação as coisas parecem reais demais, caramba.
Quando dou por mim estamos no nosso quarto, com Josh ainda me segurando e minhas pernas
apertando firme sua cintura, aos beijos, quase arrancando a pouca roupa que ainda separa nossas
peles. Minha mente grita um alerta e levo algum tempo para conseguir voltar a mim.
— Você pode me soltar, Josh — digo, a voz afogueada.
Josh leva um tempo para recuperar o controle de si mesmo e entender o que estou fazendo.
Ele me coloca no chão com cuidado e seus olhos esquadrinham meu rosto, a procura de algo, mas
não sei o quê.
Ele parece atordoado enquanto me vê dando alguns passos para longe. Não sai do lugar, nem
para perto, nem para longe, simplesmente fica ali, esperando que eu tome uma decisão. Deixando-me
decidir se quero ou não cruzar essa linha.
E nesse momento sei, com todas as forças, o que quero fazer e o que estou disposta a arriscar.
E se isso me machucar depois, tudo bem, mesmo que leve anos para colar meus pedaços outra vez,
minha ânsia por Josh é mais forte que qualquer medo que tenha.
Dou alguns passos e paro diante dele, seu rosto está tão tenso, profundo. Como se o que
houvesse despertado ali fosse mais do que desejo, mais do que a atração que já admitiu que sente.
Quer saber?
Que se dane!
Me lanço nos braços de Josh e ele me arrebata em um novo e mais intenso beijo, o beijo que
derruba todas as portas e obstáculos pelo caminho. O beijo que faz com que eu entregue, de uma vez
por todas, meu corpo e meu coração a ele.
— Você pode me soltar, Josh — Mila diz e a coloco com cuidado no chão, todo meu corpo
implorando que eu faça justamente o contrário, que a puxe para dentro de um abraço e não a solte
nunca mais.
Ela se afasta e me encara como se estivesse em transe, os olhos percorrem meu corpo e eu não
mexo um músculo sequer, deixando-a tomar a decisão que vai mudar tudo. É a primeira vez na vida
que carrego a mulher que desejo para o quarto e não faço ideia do que fazer.
Com qualquer outra garota eu já estaria em cima dela, arrancando as roupas, dizendo o quanto
a desejo, desvendando seu corpo, mas com Mila as coisas são diferentes. Nós nem sequer
deveríamos estar nessa situação para começo de conversa, mas aconteceu e o que sinto é tão
devastador que nem sei como agir, então espero que ela me diga por qual caminho quer seguir. E só
me resta respeitar sua decisão.
Torcendo em pensamento que ela queira o mesmo que eu, claro.
Ela fica me olhando por um tempo que parece longo demais, meu corpo todo grita por seu
toque e pele. Mila parece pressentir, morde o canto do lábio, naquele tique que só atiça ainda mais a
vontade que tenho de me afundar nela. Meu pau, duro como pedra, está quase saltando da bermuda,
mas continuo firme, esperando que ela decida por ficar ou sair do quarto.
Mila, segurando os seios com as mãos pequenas e delicadas, vem até mim e sinto sua
respiração pesada e tensa. Ela me olha com aqueles cílios enormes, deixando o ar cheio, vibrando o
tesão contido entre nós. Por um segundo, penso que vai me abandonar aqui, tomado pela insanidade
de uma ereção e um coração prestes a se partir. Porque essa é a mais pura verdade, Mila me tem nas
mãos. Meu corpo, meu desejo, a porra do meu pau. Tudo é dela e ela só precisa aceitar que
entregarei de bom grado.
E ela abre um sorriso delicioso, maroto, como se jogasse para o alto tudo que falamos e
finalmente se rendesse. É isso, Mila está me aceitando como eu sou, com o que tenho a oferecer.
Meus pensamentos desligam no momento em que a brasileira joga os braços no meu pescoço,
deixando os deliciosos seios à mostra e abrindo a boca de leve para que eu a invada com a minha
necessidade.
A beijo como se estivéssemos vivendo a porcaria de um apocalipse e esse fosse nosso último
instante vivos. Minha língua mergulhando feroz e procurando a sua, e ela me entregando cada gota do
seu mel, com as mãos frenéticas percorrendo meu corpo, puxando meus cabelos, querendo mais.
A pele macia de Mila me enche ainda mais de tesão e quero saborear cada pedacinho seu.
Deito-a na cama e com a língua vou desbravando o caminho por seu pescoço, vendo-a arquejar
quando chego ao mamilo rosado que está pontudo e firme. Rodo com a língua e conforme ela mexe
devagar os quadris, reagindo a mim, engulo o mamilo, sugando-o com firmeza, raspando de leve os
dentes. Mila geme e meu pau dói de vontade de preenchê-la.
— Josh — Mila sussurra, quando deixo o mamilo e sigo para o outro, repetindo o gesto.
Saboreando-a.
Não quero perder nada, então a sinto com minha língua, minhas mãos, olhos, olfato. Quero
Subo sobre Mila, apertando-a junto a mim, roçando meu pau duro sobre a parte de baixo do
biquini sexy. Ela balança o quadril, mostrando sua receptividade e abrindo as pernas para que me
percorrendo o abdômen liso, enquanto solto com uma das mãos o biquini e o lanço para longe. Meus
dedos roçam a pele quente, encontrando a fenda úmida à minha espera. Senti-la assim tão molhada, é
demais para mim e com vontade enfio dois dedos dentro dela.
— Joshua — ela diz, puxando meus cabelos e me guiando de volta aos seus lábios. O beijo é
quente, molhado.
Afasto-me dos lábios de Mila e passo a beijar seu corpo, seguindo com a língua bem devagar.
Volto a brincar com os seios dela, apreciando a forma como o corpo pequeno se mexe e
mantendo o ritmo em que meus dedos entram e saem. Mordo de leve o mamilo e Mila fecha os olhos,
empinando o queixo. Minha língua sobe devagar e dou mordidinhas no pescoço, sussurrando em seu
ouvido que quero chupá-la depois que gozar, sentir seu gosto quando chegar ao ápice.
Desço mais um pouco e ela abre as pernas, deixando que minha boca tenha acesso a melhor
parte.
— Mila — sussurro em sua boceta molhada, enfiando e tirando os dedos em um ritmo cada vez
mais intenso.
Sim, eu quero me afundar nela, mas antes quero vê-la gozar até que seu corpo se desmanche e,
empenhado nisso, sigo chupando-a, lambendo e massageando o clitóris inchado. Cara, é a coisa mais
deliciosa do mundo, ver a minha garota se contorcendo de prazer, chamando meu nome enquanto
estende as pernas sobre os meus ombros.
Não demora muito e Mila começa a tensionar os músculos, mantenho o vaivém dos dedos até
que minha boca encontra a bocetinha outra vez, agora a chupo com força, friccionando a língua e a
lambendo com muita vontade. Mila curva o corpo quando alcança o orgasmo e assim como prometi,
passo minha língua por toda a pele quente, sentindo o sabor do seu prazer.
— Porra, você é tão gostosa — digo, lambendo-a. — Preciso entrar em você agora.
Falo e me afasto por um momento, admirando o corpo suado no meio da cama. Procuro um
preservativo em uma das caixas que ainda não terminei de organizar e quando o encontro, rasgo o
pacote com urgência.
Ela vem até mim e ajuda a colocar o preservativo no meu pau, aproveitando para cobri-lo com
a mão pequena e firme. Sobe e desce, empregando a força necessária para me deixar muito perto de
perder o controle.
— O que você quer? — pergunto, depois de beijar Mila nos lábios.
— Você — ela diz, num sussurro que me faz puxá-la para perto.
Mila ergue os olhos para mim e nossa diferença de altura nunca fez tanto sentido quanto faz
agora, quando a iço sobre mim e a levo de volta para cama.
— Quero você, Joshua — ela diz e eu ajeito a cabeça do meu pau na abertura molhada. —
Quero você dentro de mim.
— Vamos Mila, quero que você goze no meu pau — digo, enfiando uma vez e depois outra,
preenchendo-a toda, beijando seu pescoço, sua boca, apertando seu seio. Nada é o bastante.
— Acho... a-cho que eu vou gozar, Josh — ela diz e, eu tiro e meto com força outra vez,
— Você pode ligar a televisão? — Mila pergunta quando vem da cozinha. Seus olhos estão
tensos e ela segura o celular com força.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto, puxando-a para o sofá. Ela senta entre minhas pernas
e estica as pernas, mas o corpo ainda continua tenso.
— Sua irmã disse que estamos na televisão.
— Puta merda! — resmungo, mas ligo e começo a zapear os canais, torcendo para que seja
mentira.
Não demora muito e encontro. O vídeo é reproduzido automaticamente numa tela para onde três
apresentadoras olham, nele, eu carrego Mila no colo, nos beijamos como loucos e minhas mãos estão
firmes na bunda da minha garota.
— Olha, pode até ser que essa história toda de green card seja verdadeira, mas pelo jeito os
dois estão aproveitando e unindo o útil ao agradável — diz uma das apresentadoras do programa de
fofocas, a que veste a camisa laranja e usa um batom berrante.
— Pra mim esses boatos são intriga das invejosas, está na cara que esses dois estão
apaixonados — rebate a outra, de cabelo arrepiado.
— Combinam? Eles são fogo e brasa, um incêndio completo — retruca sorrindo a de cabelo
arrepiado.
— Até eu queria combinar com o magnata gostosão — diz a terceira apresentadora, uma loira
de vestido preto que pisca quando fala.
— A gente devia ter desconfiado, depois de todas aquelas fotos em que os dois estavam
praticamente comendo a boca um do outro — ri a de batom berrante, que com certeza é a principal.
— Bom, a família Howard sempre foi conhecida por ter opiniões fortes, não seria de estranhar
que o magnata escolhesse como esposa uma mulher excêntrica que é um verdadeiro mistério... — a
loira de vestido preto começa a falar, mas é interrompida pela de cabelo arrepiado.
— Isso é bobagem... — diz a de cabelo arrepiado. — Todo mundo tem o direito de se
apaixonar sem que pessoas invejosas fiquem tentando minar a relação. Olhem pra essa cena, tem
tesão, tem paixão.
Pelo menos uma defensora. Penso, sentindo Mila enrijecer o corpo rente ao meu. Beijo seu
pescoço e ela suspira.
— Pois é, pelo jeito temos uma fã do casal — diz a loira de vestido preto, provocando a de
— E o que é? — pergunto.
— Vai ficar tudo bem, logo isso tudo vai passar — digo ao seu ouvido e ela suspira.
— E se descobrirem a verdade? — Mila se vira para mim.
— Que verdade? — retruco. — Que me casei com uma mulher linda, sexy e gostosa pra
caralho? Quero mais é que descubram e morram de inveja.
Mila sorri e depois coloca as duas mãos no meu rosto, olhando-me com uma profundidade que
é inexplicável.
— Um dólar pelo seu pensamento — digo e ela morde o canto do lábio.
— Estou pensando o que vou ter que fazer para você fazer aquilo que me prometeu no meu
escritório.
Curvo minhas sobrancelhas tentando me lembrar do que ela está falando. Só quando morde o
lábio é que rapidamente sou açoitado pelas memórias.
— Você quer que eu a faça gritar de prazer? — pergunto, já imaginando as coisas que quero
fazer.
Mila acena, concordando, mas isso não é o bastante para mim. Aproximo-me do seu ouvido e
sussurro.
— Diga o que você quer que eu faça com você.
— Quero que me faça gritar de prazer — ela diz, a voz baixa.
— E o que mais?
Mila se afasta um pouco de mim e me encara, estudando meu rosto, a procura de algum sinal de
brincadeira. Vamos lá, garota, nós dois sabermos que você gosta disso tanto quanto eu.
— Quero que você me coma até que eu não consiga mais pensar nas coisas terríveis que estão
falando ao meu respeito por aí.
Ela está séria e sei que o que ela está pedindo é mais do que apenas sexo e prazer, ela quer
mais e eu quero isso tanto quanto ela.
— Seu pedido é uma ordem madame — digo e a puxo para junto de mim.
Afasto o cabelo de Mila dos olhos e focalizo-os, apreciando o jeito profundo como ela me
observa. Se ela vai conseguir esquecer o que tem sentido com toda essa história não sei, mas com
certeza vou fazê-la gritar o meu nome quando me afundar na sua boceta gostosa.
— Acho que agora é a minha vez de oferecer um dólar por seus pensamentos — ela diz, me
trazendo de volta.
— Estava aqui pensando o que vou fazer primeiro.
— E o que você pensou… exatamente? — o olhar de Mila é provocador e inocente ao mesmo
tempo, uma mistura que mexe com a fera dentro de mim.
— Você tem um lado bem safado escondido aí, não tem? — provoco-a, satisfeito por saber que
ela quer ouvir as coisas safadas que tenho para dizer, as coisas que quero fazer com ela.
— Pode apostar — ela diz, os olhos afiados, mordendo o lábio daquele jeito que quase me
leva a perder o controle.
Passo a língua pelo meu lábio, já imaginando-me sentindo o sabor de Mila. Ela sorri de leve
quando percebe que estou prestes a dizer todas as coisas que estão pulando na minha mente.
— Vamos fazer assim, para cada coisa que você disser eu tiro uma peça de roupa...
Não espero que ela termine a frase, a simples menção do que pretende fazer me faz irromper
em uma lista de coisas que quero fazer. Despejo tudo sem pensar.
— Vou enfiar meus dedos na sua boceta enquanto a chupo com força. Morder seu mamilo até
que ele fique vermelho, e vou comê-la de quatro. Faz tempo que quero ver a sua bunda gostosa
enquanto me afundo em você.
— Uau, deixa eu ver, são… uma, duas, três… quer saber vou tirar a roupa toda — ela diz e
num instante está nua para mim, mordendo o canto do lábio e me incitando a devorá-la toda.
Mila está sentada de frente para mim no sofá, ela pega a minha mão e a leva até seu mamilo.
— Faça o que prometeu — ela ordena e seu tom é como dinamite que acende tudo em mim.
Adoro quando minha garota deixa transbordar a mulher de negócios que existe dentro dela, a fera
sexy e mandona.
Aperto o mamilo de Mila e ela geme, mas quando faço menção de me mexer na sua direção ela
falando coisas eróticas é delicioso, ainda mais quando a sinto assim, tão exposta.
Escorrego um pouco no sofá e puxo Mila direto para a minha boca. Ela geme quando senta no
meu rosto e encosto a língua no seu clitóris. Começo a chupá-la com ritmo e na sequência enfio dois
dedos. Ela está tão molhada, tão quente e começa a rebolar a boceta gostosa, criando o ritmo em que
nos sintonizamos.
Ela me guia no compasso do seu prazer, rebolando mais rápido conforme fica mais excitada.
— Espera Josh — diz, a voz entrecortada.
Mila se afasta de mim por um momento, volto a me sentar no sofá e me surpreendo quando a
vejo olhando para o meu pau.
— Quero ver uma coisa —ela diz, um pouco sem jeito. — Quero ver você se tocar, como fez
no banheiro.
Porra, Mila astuta e provocadora é muito bom, mas a Mila ousada que pede o que quer é ainda
melhor. Cubro meu pau com a mão e devagar começo um movimento de sobe e desce. Ela lambe os
lábios e fica observando, em seguida leva uma das mãos ao próprio seio e aperta-o.
— Você sabe que eu estava pensando em você — digo, aumentando o ritmo da minha mão. —
No seu gosto, cheiro...
Ela acena que sim, parece prestes a dizer algo, mas em vez de fazer isso, se abaixa na direção
do meu pau e o mergulha na boca, me dando uma deliciosa e bem molhada surpresa. Mila tira minha
mão e assume a função, lambendo a cabeça do meu pau e voltando a mergulhá-lo bem fundo. Porra, é
como pegar um trem desgovernado para o paraíso.
Mila me chupa sem colocar as mãos, sugando meu pau, molhando-o bem e me fazendo chegar
bem perto de perder o controle. Não me entenda mal, eu quero ter a chance de gozar na linda boca em
forma de coração, mas não hoje. Hoje vou comê-la em cima da mesa, até que ela grite.
Levo uma das minhas mãos até a nuca dela e guio seus lábios até os meus. Passo minha língua
por seus lábios, mordisco de leve e então a invado com a minha língua, Mila solta um gemido de
prazer e esse é o sinal que preciso.
Me levanto do sofá e sem tirar meus lábios dos de Mila e minhas mãos de seus seios, nos guio
até a mesa. Empurro os papéis para o lado e a debruço sobre a mesa. Mila afasta as pernas, abrindo-
se para que eu a penetre.
Beijo seu pescoço, cobrindo-a parcialmente com meu corpo, depois vou descendo pela linha
da coluna e encaixando minhas mãos nos seus quadris. Ela é tão pequena… afasto suas nádegas e
passo minha língua na sua boceta, bebendo seu tesão como se fosse a melhor de todas as bebidas.
— Josh, por favor, eu quero você — ela diz.
— O que você quer? Diga.
— Quero que você me coma, agora — ela geme e eu a penetro.
Nas primeiras estocadas tomo cuidado para não machucá-la, me aprofundando conforme ela se
— Mais forte — ela ordena e eu obedeço, metendo com força enquanto aperto seus seios com
uma das as mãos e levando a outra até o clitóris quente. Ela solta outro gemido forte e eu continuo o
movimento.
E num instante, a minha garota safada desconecta e começa a murmurar no seu idioma natal,
como se entrasse em um transe sexual, que é como brasa no fogo que nos queima, fazendo-me
aumentar o ritmo com que a como, apertando seu seio e beijando a curva do pescoço, saboreando o
universo.
— O que você está fazendo? — Mila pergunta, quando a pego no colo.
— Levando a minha garota para o quarto — digo e beijo a ponta do seu nariz.
— Mas eu ainda não estou com sono, Josh.
— E quem foi que falou em dormir?
Abro os olhos sentindo uma onda de profunda preguiça percorrendo todo meu corpo. A única
coisa que me motiva a tirar a cabeça do travesseiro é o cheiro do café vindo da cozinha. Josh.
Levanto e visto a camiseta dele que está sobre a cômoda. O cheiro de Josh me envolve como
um abraço, suave, mas presente e firme, fazendo meu corpo formigar nas partes mais erógenas. Como
— Panquecas com gotas de chocolate — o sorriso resplandecente está lá de novo quando ele
fazemos no Brasil.
— Mal posso esperar — ele diz, erguendo as sobrancelhas num gesto provocador.
Contorço minhas pernas porque o olhar de Josh diz que ele quer provar tudo, menos as
panquecas e eu, com toda a certeza do universo, quero que ele me prove por completo. Ah Deus!
o avental. Nossos lábios se encontram e sei que vou ter outra sessão de prazer insano.
Josh se estica e ocupa quase toda a cama, ele abre as pernas e os braços, como se estivesse
fazendo um anjo na neve. E é a visão de um anjo, não, é a visão de um deus lindo, sexy e nu.
— Você está tentando me matar de fome? — digo, vestindo novamente a camiseta dele.
— Eu não sou viciado em trabalho — ele responde e pelo tom está pensando no que eu disse.
Entro no banheiro e tiro a camiseta, desistindo de ir para a cozinha. Essa conversa vai longe
ainda.
— Eu só estava brincando — digo, entrando no box com ele. — Você é ótimo no seu trabalho.
— Eu sei, mas você tem razão, tenho vivido bem pouco desde que assumi como CEO da rede.
— E tem feito um ótimo trabalho pelo que Linda me conta.
Josh pega o sabonete e começa a fazer espuma, depois me vira para a parede e começa a
passar a espuma nas minhas costas, num gesto que é doce e distraído ao mesmo tempo.
— Acho que nós deveríamos mesmo sair em viagem, uma lua de mel numa ilha paradisíaca ia
ser muito bom. Sem repórteres, sem a mesquinharia da mídia.
Solto um suspiro profundo, porque sei que ele está certo, uns dias longe de toda essa confusão
seria incrível e com certeza me ajudaria a vencer o bloqueio que andei enfrentando com o projeto
Oscar nos últimos dias.
olhos percorrem meu corpo como se não passasse de um garotinho diante de um sorvete de duas
bolas, no meu caso, dois peitos.
E meus peitos o adora, porque ele só precisa encará-los e eles começam a reagir, na verdade
todo meu corpo reage por conta própria, se jogando para cima do homem delicioso com quem tenho
dividido a minha vida.
A brincadeira na piscina se estende por algum tempo e por isso acabamos decidindo por ir
comer na cidade vizinha, em um restaurante pequeno que serve um bolo de carne delicioso. O bom é
que ninguém parece dar a mínima para quem somos e conseguimos ter uma refeição tranquila, com
direito a torta de maçã de sobremesa. E se tem uma coisa que os americanos fazem como ninguém é
uma boa torta de maçã.
Antes de ir para as ruas no Brasil, eu vivia em uma comunidade no sul do país. Minha avó que
me criou até sua morte, quando eu tinha onze anos, fazia um bolo de chocolate delicioso. Pensando
nisso volto para casa com uma ideia.
— O que há com você? Ficou tão calada na volta pra casa — Josh pega minha mão quando
saímos do carro.
— Estava pensando na minha avó.
— Achei que não tivesse ninguém.
— Ela morreu quando eu tinha onze anos, mas antes disso tivemos uma vida boa, dentro do que
se é possível quando se é uma menina pobre no meu país.
— E o que a fez pensar na sua avó? — ele beija meus dedos, antes de me puxar para dentro de
casa.
Josh se senta no sofá e me puxa para o seu colo, fica brincando com uma mecha rebelde do meu
cabelo, que insiste em cair sobre meus olhos.
— Então...
— Foi a torta — respondo, suspirando com a lembrança da minha avó e eu fazendo bolo na
minúscula cozinha que tínhamos. — Acho que se alguém me dissesse naquela época que um dia eu
Pulo da bancada e sigo até o armário, pego algumas tigelas e ingredientes e começo a depositar
tudo sobre a ilha.
Levamos muito mais tempo do que o necessário para fazer o bolo, porque Josh não consegue
controlar suas mãos e ao invés de mexer a massa, resolve me revirar do avesso, com suas mãos,
língua...
Claro, não posso tirar a minha parcela de culpa nessa história, é uma tentação irresistível ver o
meu como companheiro de farsa fica uma verdadeira delícia empunhando um fouet[1] cheio de massa
de chocolate, como se fosse uma espada e ele um guerreiro lendário. Melhor ainda é tirar sua
camiseta suja de respingos de massa e vê-lo com o peitoral nu, os músculos desenhados movendo-se
com agilidade pela cozinha.
Salpico pedaços de chocolate por toda a forma, depois que Josh espalha a massa. Ele sorri,
satisfeito com a adição. Nunca vi um homem gostar tanto de doces como ele, e ainda conseguir
manter o corpo escultural.
Colocamos a forma no forno e Josh se vira, resplandecente, como se tivesse acabado de ganhar
um grande prêmio. Percebendo meu olhar para o seu corpo, ele corta a distância entre nós e me
— Você vai ter que fazer cada uma dessas coisas — ele diz, me pegando no colo e me jogando
nos seus braços, daquele jeito primitivo e bruto que deveria me deixar furiosa, mas que só atiça mais
o desejo que tenho por ele.
— Tudo bem, mas vamos precisar do chocolate e... de morangos — ele me carrega pela
cozinha, pegando os ingredientes da nossa receita sexy.
O restante da semana alternamos entre ter orgasmos bombásticos e trabalhar, com Josh
coordenando as coisas do conglomerado Howard nosso escritório improvisado e eu mexendo no
código do meu programa no laptop, na maior parte das vezes na frente da piscina ou no sofá do
escritório.
Nossa relação está cada vez mais complicada de ser descrita e o tempo que temos passamos
ocupados demais desvendando o corpo um do outro, conversando sobre as coisas mais loucas do
universo, sobre negócios, comendo e brincando com Scotty, então, não falamos sobre como as coisas
vão ser daqui para frente e conforme os dias vão passando e a data de nossa volta para Manhattan vai
se aproximando, começo a ficar um pouquinho nervosa.
— Então é isso — Josh me diz na noite anterior à nossa partida. Meu cabelo se espalha por
todo o seu peitoral e estamos deitados nus na cama, depois de uma roda de um sexo que mais pareceu
— Passei a vida toda enfrentando essas coisas, criando dispositivos para não deixar que eles
atingissem a mim ou minha família, mas eles não se cansam, sempre em busca de algo para nos
humilhar.
— E estou piorando tudo, não é? Colocando sua família em evidência por causa dos meus
problemas.
— Agora você também é minha família — ele diz e beija os nós dos meus dedos.
— Não quero que você ou Linda se prejudiquem por minha causa — sussurro, contendo a dor
que começa a bater no compasso do meu coração.
Joshua se firma nos cotovelos e foca meus olhos. Seu rosto está tomado por algo indecifrável,
mas profundo de um jeito que faz todo meu corpo querer tocá-lo.
— Não importa o que aconteça, nós vamos passar por tudo isso junto — ele diz.
Aceno em concordância porque sei que Josh está falando sério, ele entrou nessa de cabeça e
vai até o fim. O problema, nesse momento, é que sei que isso que temos, seja lá o que for, terá um fim
e não faço a menor ideia de como chegar ao fim sem me machucar.
Nessa noite, durmo aconchegada ao peito de Josh como tenho feito nas últimas noites,
sentindo sua mão sobre meus cabelos e a respiração no mesmo ritmo que a minha. Como se nos
sintonizássemos no momento em que nossas peles se tocam. Como se uma imensidão se
descortinasse, mas que só coubesse nós dois e não existisse mais nada ou ninguém em todo o
universo.
Enquanto Josh prepara nosso café da manhã, me concentro em colocar todas as coisas em dia
para que em algumas horas voltemos para Manhattan. Um peso repousa sobre meu peito, como se
estivéssemos dizendo adeus ao que temos, estourando a bolha que nos mantinha distantes de todas as
outras pessoas, nosso cantinho especial do mundo. Sei que é coisa da minha cabeça, mas não consigo
evitar. Estou com medo.
— Você não parece bem — Josh diz, ele veio até o quarto me trazer um copo de suco de
laranja.
— Só estou um pouco rabugenta — respondo, esticando a mão e pegando o suco. —
Obrigada.
Josh intercepta minha mão no ar e me puxa para um abraço, afundo no seu peito e ele enfia o
nariz no meu cabelo, gesto que vem se tornando muito familiar na nossa relação.
— Nada vai mudar — ele diz no meu ouvido. — Bom, não é verdade, algumas coisas
definitivamente vão mudar.
Pelo tom, sei que a conversa tomou outro rumo.
— E o que vai mudar? — instigo-o a falar e ele aperta os braços ao meu redor, depois dá uma
mordidinha no lóbulo da minha orelha, provocando uma onda elétrica na pele.
— Antes eu só tinha vontade de me afundar em você na ilha, no chuveiro, hum... no sofá...
agora, com certeza, eu vou fazer tudo isso.
É claro que nós vamos voltar aqui, pelo menos eu espero que sim, mas os próximos dias serão
de adaptação e retomada das nossas rotinas profissionais, então talvez demore um pouco para eu
rever o lugar que rapidamente deixou de ser apenas o meu lar e se tornou nosso lar.
Será que ela está arrependida? Droga, afasto esse pensamento para o fundo da mente e aperto
com força o volante.
— Estava pensando — ela diz, quando já estamos muito perto do nosso destino.
Espero sem dizer nada, confesso que com um pouco de medo de que ela esteja prestes a dizer
algo que vai destruir tudo o que vivemos até este momento, sem que eu tenha tempo de dizer tudo que
sinto. Percebendo que não digo nada, Mila remexe no banco.
— Você está bem? — ela pergunta e eu aceno que sim.
— O que você estava pensando? — pergunto, tentando soar o mais natural que consigo, diante
do buraco que se forma no meu estômago.
— Acho que eu comeria uma pratada daquelas almôndegas do Paolo.
Solto todo o ar dos pulmões com um ruído e engato em uma gargalhada. Que droga, por um
Sem responder, puxo sua mão e planto um beijo suave nos dedos.
— Gostei da ideia, podemos aproveitar e pedir também tiramisu e um vinho. Acho que
bebemos todos que levei para a casa do lago.
— É verdade — ela sorri. — Tiramisu, almôndegas, vinho e sorvete.
— Sorvete?
— Sim, de repente estou morrendo de vontade de comer sorvete.
Viro para o lado no exato momento em que ela lambe os lábios e sou obrigado a forçar meus
pensamentos para a estrada, ou vou acabar parando o carro aqui mesmo.
— Eu adoraria comer sorvete, mas só se fosse em você — digo e é a vez de Mila reagir com
um gemidinho baixo e quase imperceptível. — Adoro como você imagina essas coisas.
— Como você sabe que estou imaginando?
— E não está?
— Estou — ela admite e morde os lábios.
Dou sinal e paro no acostamento, puxo Mila para um beijo e aproveito para apalpar seu corpo,
nos lugares que sei que a acendem. Ela geme e abre a boca para que minha língua a invada.
Ficamos assim por alguns minutos, até que Scotty resmunga no banco de trás.
— Acho que ele está nos mandando achar um quartdo — Mila diz, rindo.
— Estraga prazer.
Passamos no Paolo antes de ir pra casa e pedimos comida para viagem. Ele prepara as
almôndegas de Mila e o tiramisu, mas aproveita e coloca muito mais coisa na embalagem.
Depois de guardar o carro no estacionamento, Mila e eu tiramos nossas malas e algumas
outras coisas que ela resolveu trazer do lago para a cobertura, fazemos uma manobra maluca para
levar tudo de uma só vez.
Scotty fica animado quando entra no apartamento e encontra sua cama perto do sofá. Afunda
limpa e livre dos vestígios da viagem - dividimos a refeição preparada pelo homem que me
alimentou muitas vezes nos últimos anos, sentados na sala com as cortinas escancaradas, apreciando
a vista do Central Park.
A comida tem um cheiro ótimo e é gostoso ver como Mila se rende a esse tipo de prazer. Nos
deliciamos com as almôndegas e uma porção de macarrão ao pesto de manjericão. Bebemos vinho e
dividimos o tiramisu.
Mila começa a limpar a bagunça do jantar e me junto a ela. Rapidamente damos conta da pouca
louça e ela vai para o freezer, pegar o sorvete de chocolate. Ela abre a embalagem redonda e coloca
a colher sem dó lá dentro, levando-a em seguida aos lábios. E é a porra da cena mais sexy do dia.
Mila, tomando sorvete me acende de um jeito louco.
Ela sorri quando percebe que a estou devorando com os olhos. Depois coloca o o pote de
sorvete no balcão que separa a cozinha da sala e num gesto muito natural começa a tirar a blusa. E
Mila está sem sutian.
Seus seios apontam na minha direção e faço menção de me mexer na direção deles, mas ela me
impede com um aceno de mão. Então espero, ansioso e meio bobo.
Mila tira o short e a calcinha. Pega a colher do sorvete e passa um pouco da mistura em cada
bico dos seus seios.
— Você disse que queria tomar sorvete em mim? — ela morde o lábio e nesse momento perco
a linha, cortando a distância entre nós e abocanhando um dos seios. O chupo com vigor, deixando o
sorvete correr pela minha garganta. Mila geme e eu parto para o próximo seio, sugando-o do mesmo
jeito. Depois a puxo para mim, para que ela sinta a minha ereção sobre a bermuda. Mila reage se
abrindo um pouco e eu a pego pela bunda, roçando o dedo quando a iço do chão e coloco sobre o
balcão de mármore.
A deito de pernas abertas e deposito um pouco de sorvete na sua boceta. Ela arqueja e curva as
costas. Começo passando a língua de baixo para cima, encontrando o sorvete e lambendo-o com
força em seu clitóris. Logo ele se mistura com o prazer de Mila e eu lambo toda a mistura melada,
enfiando dois dedos do jeito que sei que ela gosta. Mila chama meu nome, mas eu não a deixo gozar
de imediato, colocando mais um pouco de sorvete e sugando-o todo enquanto ela se derrama sobre a
minha língua. Porra, é bom demais e mal posso esperar para me afundar em Mila.
Para minha surpresa, minha garota se senta e então desce do balcão, me empurrando de costas
até ele. Dessa vez é ela quem pega a colher de sorvete e com um olhar maroto, passa nos meus
lábios, me beijando logo em seguida.
Tento levar minhas mãos até ela, mas ela me impede de tocá-la, mostrando que está no
comando. Mila então deposita um pouco de sorvete na curva do meu pescoço, fazendo um rastro até o
ombro, que ela retira lambendo e beijando.
Vai descendo até meu pau, onde coloca só um pouquinho na cabeça. O gelado provoca uma
onda de choque e Mila o mergulha nos lábios, criando uma dança sensual entre o quente e o frio,
arrancando minhas amarras, cavando a insanidade selvagem dentro de mim.
A boca de Mila sobe e desce, sugando devagar, rápido, lambendo. É incrível e preciso pedir
que ela espere senão nossa brincadeira vai acabar rápido demais.
Pego Mila no colo e a levo para a sala, não posso esperar até chegarmos no quarto. A beijo e
ela reage puxando meus cabelos.
— Mila — sussurro. — Eu to limpo, fiz os exames... tudo bem se formos sem camisinha?
— Tudo bem, também estou limpa e tomo a pílula já faz um tempo.
Isso é o bastante para mim, me sento e puxo Mila para cima de mim. Ela se ajeita e
devagarinho vai me deixando invadi-la. Mexendo os quadris, rebolando gostoso, subindo e descendo
num ritmo que vai, aos poucos, me tirando o bom senso.
Cravo minhas mãos na bunda dela e a puxo para perto.
— Vai gostosa, goza pra mim — digo e ela geme baixinho, aumentando a intensidade,
esfregando a boceta molhada em mim enquanto sobe e desce.
Sem conseguir mais esperar, puxo Mila para perto e nos viro ao mesmo tempo, sem nos
separar, deitando-a de costas na cama e começando a entrar e sair dela.
Ela me aperta, pedindo por mais, choramingando baixinho quando saio e volto a entrar.
Empurro, saio, empurro, é tão bom que preciso fazer um esforço para não ceder e gozar.
Mila estica o corpo e encontra o prazer um instante depois, entrelaçando as pernas na minha
cintura e cravando as unhas nas minhas costas.
— Joshua — ela solta e eu engulo seu gemido com um beijo, aprofundando a estocada.
— Mila — digo, entregando o controle a ela. E Mila começa a rebolar de novo, acompanhando
o ritmo do meu corpo, me puxando mais para junto de si, mordendo a curva do meu ombro, me
impelindo a dar o que é seu por direito, meu prazer, meu corpo, tudo.
E eu entrego tudo a ela, me afundando com vontade e rugindo quando chego ao orgasmo. Se
ainda havia algo que ainda não tivesse entregado a ela, agora foi tudo, absolutamente tudo, meu
corpo, meu coração, inclusive um pedaço da minha alma.
Mila passa o domingo inspirada, fuçando no laptop e vibrando a cada nova conquista com o
programa Oscar, eu alterno entre responder e-mails chatos, preparar nossas refeições e provocar
Mila, arrebatando-a em sessões de sexo molhado e quente. Minha garota não me desaponta em nada,
me levando a uma maratona que facilmente ganha de um treino intenso na academia.
O final de semana passa muito rápido e quando menos espero a segunda feira chega e nós
temos que voltar aos poucos para nossas antigas rotinas. Nesse primeiro dia da semana, Mila vai
reforçar a segurança digital da minha empresa, amanhã, ela vai visitar vários clientes e depois vai
dar uma passada no escritório e finalmente na quarta, reassume seu posto com força total.
Não vou mentir, a vontade que tenho é de nos manter distante de tudo e todos, dentro da nossa
bolha sexual de prazer c intimidade, mas isso não é possível, Mila é uma mulher independente e
forte, gosta do que faz e faz bem o seu trabalho. Só o que me incomoda um pouco é saber que ela
voltará para o escritório e aquele mané do Dylan vai voltar a cercá-la.
Talvez eu faça uma visita para Mila, não vejo a hora de descobrir o que ela esconde dentro
— Ótimo — mamãe fala e Mila vem se sentar perto de mim, para que ela consiga ver nós
dois. — E como é que vocês estão?
— A imprensa tem sido implacável, mas estamos dando um jeito — Mila responde.
— E quando é que vocês virão jantar aqui em casa?
Mila me lança um olhar de esguelha e minha mãe o capta de relance. Sorrindo, ela decide por
nós.
— Que tal no final de semana? Prometo não enchê-los com muitas perguntas.
— Pra mim parece ótimo, Martha — Mila diz e eu dou de ombros, porque nem que eu
quisesse discordar conseguiria vencer essas duas juntas.
Depois de marcar um jantar para o final de semana, nosso primeiro compromisso oficial
enquanto um casal, Mila e minha mãe ficam conversando sobre várias coisas, da empresa a viagens,
das notícias aleatórias ao Oscar e como ele vai revolucionar a segurança digital.
À noite, durmo com ela aconchegada ao meu peito, de um jeito que já se tornou muito
familiar, e tudo o que quero é mantê-la ali pelo máximo de tempo que puder, enquanto ela ainda
quiser. Não sei o que vai acontecer no nosso futuro, nem mesmo sei como ela se sente quanto a tudo
que temos vivido, com a mudança na nossa relação, e apesar de não querer pressioná-la, não tenho a
menor pretensão de abrir mão dela.
Mila se senta no chão e cruza as pernas naquela posição namastê que ela insiste em chamar de
“pernas de índio”, fazendo alusão a algo do seu país natal. Ela puxa o laptop para o colo e conecta
um cabo na entrada principal do servidor da Corporação Howard.
Fico encostado em uma coluna, observando-a, linda, sexy e tão nerd. Nem posso acreditar que
há alguns meses ela estava aqui, salvando minha empresa de um hacker praticamente adolescente e
que decidi entrar nessa loucura de fraudar o green card. Em absoluto, foi a melhor decisão que tomei
em toda a minha vida adulta e não consigo me imaginar vivendo de outro jeito que não seja
saboreando cada pedacinho dela. Droga, só de pensar nisso já sinto meu pau dando sinal.
Mila me olha como se fosse capaz de ler meus pensamentos, arqueando as sobrancelhas e
mordendo de leve o cantinho da boca, é tão ela, tão sexy.
— Acho que estou começando a ficar cansada — ela diz, mas algo em seu olhar me diz que
não é exatamente isso que quer dizer. — Talvez eu precise de um incentivo para continuar.
Pego a jogada dela no ar, mas finjo não estar entendendo.
— Um café ajudaria?
Ela sacode a cabeça em negativa.
— Um doce?
Ela repete o gesto. E então eu começo a desabotoar minha camisa bem devagar. Deixando que
os olhos travessos acompanhem.
— Talvez algo mais quente? — digo, quando tiro a camisa e jogo em um canto.
Mila assente, lambendo o lábio, numa expressão que é puro desejo, inflamando ainda mais as
coisas em mim.
Primeiro passo a mão pelo meu abdômen, sei que Mila gosta de tocá-lo e faço isso para
provocá-la, sem o menor puder, depois começo a desafivelar o cinto e ela suspira quando baixo
minha calça, tirando um pé e depois com o outro jogando-a para longe, fico só com a cueca boxer.
— Alguém pode entrar — ela diz.
— Então você quer que eu pare?
Ela acena que não e isso é suficiente para que eu vá até ela e a coloque em pé e separando suas
pernas para ter mais acesso, baixo sua calça e a calcinha e coloco meus dedos no cantinho do
paraíso, ela está molhada e eu massageio o clitóris.
— Você tem apenas uma opção, Mila — digo e ela arqueja. — Gozar no meu pau quando eu
me afundar em você.
— Josh — diz e choraminga quando a viro de costas e a penetro devagar, apertando seus
seios e iniciando um vaivém gostoso pra caramba.
Depois que fazemos amor na sala do servidor principal da minha empresa, Mila termina de
rodar a verificação de segurança no sistema, me lançando esporádicos olhares, como se quisesse me
dizer algo, mas desistisse antes mesmo de abrir a boca.
— Esse foi o sexo mais nerd que já fiz — digo, depois que ela termina de se arrumar para ir
embora.
— Eu não sou nerd — Mila rebate.
— Você é muito nerd — insisto.
— E isso faz o que de você?
— Alguém que adora nerds — respondo, e nós saímos da sala, rumando para casa. — Sabe o
que Josh e eu nos colocamos e do qual vou sentir muita falta. Tem tanto que preciso dizer a ele, mas
que não o faço por... medo. E se ele não estiver sentindo o mesmo que eu?
Depois da noite em que transamos pela primeira vez sem preservativo, fico remoendo isso.
Talvez para ele seja apenas sexo e se eu tocar no assunto posso acabar assustando-o. Não quero
estregar tudo, ainda mais se isso for tudo que temos. Quero aproveitar cada momento.
Ashley me intercepta no caminho para a minha sala, me alcançando um café grande e um olhar
sapeca.
— Por um momento pensei que você ia adiar a volta — ela diz, sorrindo.
— Pensei nisso — respondo, piscando para ela. — Então, o que você tem pra mim?
— Os recados estão na sua mesa, a varredura na sua sala já foi feita e ontem tivemos uma
tentativa de invasão do nosso sistema, mas a coisa toda foi resolvida em questão de minutos.
— Identificou a origem do ataque?
— Sim, mas...
— Mas?
— Só temos um nome, nada mais.
— Andrômeda — digo e Ashley ergue os olhos na minha direção, como se fosse pega de
surpresa.
— Como você sabe?
— Porque esse é o hacker que está tentando me derrubar.
— E você sabe por quê?
— Ainda não, mas preciso descobrir. Andrômeda não é qualquer hacker e não parece nem um
pouco disposto a parar.
— E o que a gente faz?
Entro na minha sala, jogo a bolsa e o casaco sobre o aparador e afundo na minha cadeira.
Ashley se senta na minha frente, colocando as mãos sobre a mesa e esperando que eu me pronuncie.
— Acionamos o protocolo de segurança máxima. Fale com o Dylan, ele saberá o que fazer.
— Tudo bem.
— Ninguém deve saber que o Oscar está quase pronto. Certifique-se de que só quem é
estritamente essencial ao projeto saiba do andamento.
Ela acena em concordância e se prepara para sair da sala.
— Ashley.
— Sim?
— O que é isso? — Falo, apontando para uma caixinha de presente em cima da minha mesa.
Nesse momento, qualquer coisa é sinal de alerta.
— Ah! Já ia me esquecendo — ela volta, o rosto totalmente transformado, como se de repente
a garota preocupada com a empresa desse lugar a jovem romântica e só pelo seu olhar já sei de quem
é o embrulho. — Josh ligou há uma meia hora, dizendo que o entregador estava trazendo esse
presente pra você.
— Obrigada — digo, sem conseguir evitar de sorrir. O que será que ele aprontou dessa vez?
Pego o presente e fico admirando a embalagem por algum tempo, sem me dar conta do
momento em que minha secretária se afasta.
Dentro da caixa tem outra caixa, e dentro desta segunda caixa, tem outra. Claro, Josh nunca vai
ser do tipo que dá apenas um presente, pra ele, tudo é um desafio, tudo é questão de simbolizar ou
significar algo e eu simplesmente amo isso nele. Amo como se empenha em fazer com que um
simples presente seja significativo e inesquecível.
Por fim, depois de quatro caixas, umas dentro das outras, encontro um embrulho delicado,
perfeito para uma joia. Tiro de dentro um colar com um pingente de esmeralda verde em forma de
coração. É a coisa mais linda que já vi e ainda que não queira dizer nada, lá no fundo, eu espero que
signifique exatamente o que eu penso, Josh está me dando seu coração.
Fico olhando para o colar por algum tempo, apreciando a capacidade desse pequeno gesto de
me aquecer, de me fazer sentir importante.
Não sou muito ligada a joias ou presentes caros, na verdade gosto mais das ideias malucas que
Josh tem ao me mandar os presentes, como o buquê de cubos mágicos, a caixa quebra-cabeças,
enfim, esses pequenos desafios que fazem minha mente trabalhar, mas de alguma maneira esse
pingente me tocou de um jeito nunca antes feito por nada, como se ele pudesse me confortar, me dizer
que no fim tudo vai ficar bem e que talvez, só talvez, as coisas possam ter um final diferente para
nós.
Mesmo que não seja verdade e que no fim das contas eu saia quebrada em milhares de
pedaços, eu me deixo levar e só por hoje escolho acreditar nessa mentira, acreditar que esse é o
nosso caminho e que o amor é possível para nós.
Termino de tomar o café e pego o telefone para ligar para Josh, para agradecer pelo presente,
mas paro antes de completar a chamada, uma ideia brotando na mente. Josh pode ter enviado o colar
por qualquer que seja o motivo, e ter tocado meu coração com a delicadeza. Agora é minha vez de
enviar um presente, mas eu não jogo limpo e o que vou enviar vai ter um objetivo claro.
— Ashley — chamo minha secretária pelo telefone. — Chame um entregador, tenho que
enviar uma coisa para o Josh. Ah, e me arrume uma caixa de presente pequena.
— Pode deixar chefe — ela responde, animada.
Quinze minutos depois, o entregador sai do escritório com uma embalagem de presente que
minha secretária arrumou, dentro dela está nada mais e nada menos que a minha calcinha.
Calculando o tempo que o entregador leva, o tempo de reação necessário para Josh se dar
conta do que fiz, e a distância de algumas quadras da sede do Conglomerado Howard em relação a
Faces, devo ter notícias de Josh em mais ou menos 40 ou 45 minutos. Não me leve a mal, não sou
controladora nem nada, sou apenas uma nerd de computadores que adora lógica e números.
Para minha felicidade ele é surpreendentemente rápido, aparecendo na porta da minha sala
cerca de vinte minutos depois que o entregador saiu. Preciso lembrar de enviar uma boa gorjeta para
o garoto, ele fez por merecer.
Josh bate a porta atrás de si, tira do bolso minha calcinha e a segura no alto como um troféu,
seus olhos estão de um verde escuro e profundo, e me avisam que acabei de acender a brasa do fogo
que existe dentro dele. Aperto minhas pernas, contendo a expectativa do que me aguarda. É claro que
eu sei que ele não vai deixar por isso mesmo a provocação e espero ansiosa por isso.
— Eu estava no meio de uma reunião de acionistas quando recebi seu presente — ele diz e eu
sorrio, porque sei que ele largou tudo e veio por mim.
Mordo o canto do lábio, naquele maldito tique que sempre faço quando estou perto dele.
Droga, se controle Mila, controle-se.
Josh dá alguns passos e cobre toda a distância entre nós, ele coloca as mãos nas guardas da
minha cadeira e seu rosto fica muito perto do meu.
— Eu sabia que dentro desse rosto lindo havia uma mulher muito safada — diz e remexo na
cadeira. Josh lindo e romântico é ótimo, mas o Josh empresário, mandão e meio primitivo é ainda
delicioso como o som dança nos seus lábios. Como reverbera em ondas pelo meu corpo, inflamando
ainda mais as coisas.
— O quê? — sussurro.
— Vou pegar o resto do meu presente — ele diz e se ajoelha na minha frente, puxando meus
quadris na sua direção, empurrando a saia do meu terninho para cima e expondo a parte mais intima
do meu corpo.
Solto um gemido e ele lambe os lábios, como se uma fera tivesse tomado seu corpo e o instinto
animal dominasse toda a situação. Exposta e sexy é assim que me sinto.
— Abra as pernas — ele diz sem tirar os olhos de mim. — Abra e diga que você é minha e que
posso fazer o que eu quiser com você.
Obedeço sem pensar duas vezes, sem me importar com o peso das palavras ou dos gestos,
adoro o jeito de Josh, adoro como ele se deixa levar pelo desejo e se entrega, pedindo tudo de mim,
me dando tudo que tem.
— Eu sou sua — sussurro quando ele passa a língua pelos lábios úmidos no meio das minhas
pernas. — Por favor... — choramingo, quando ele coloca um dedo, me deixando tão excitada.
— Diga — ele fala, movendo os lábios e passando a língua por toda a região sensível.
— Eu sou sua, Joshua e pode fazer o que quiser comigo — me forço a dizer.
— Você é minha e eu vou fazer você gozar gostoso na minha boca.
Quando Josh termina de falar ele volta a colocar a boca entre as minhas coxas, ritmando a
língua e me lambendo com muita vontade. Não demoro nada para sentir meu corpo se tensionar e o
orgasmo se preparar. Para minha surpresa, ele se afasta e eu choramingo que ainda preciso demais.
Josh me ajuda a levantar da cadeira e me deita na mesa, puxando meu corpo ao seu encontro e
abocanhando meu seio com a boca. Ele suga forte, passando os dentes de leve e provocando um
misto de dor e prazer. É difícil manter a atenção, mas Josh me pede para ficar de olhos abertos e eu
os abro, focalizando o corpo lindo que se prepara para entrar em mim. Josh baixa a calça e a cueca
boxer, deixando o pau duro e lindo exposto. Faço menção de me levantar para tocá-lo, mas Josh me
impede.
— Não — ele diz e abre as minhas pernas, me puxando ao encontro do seu membro e
roçando-o com carinho. — Hoje eu quero você assim.
Josh ajeita o pau na minha abertura e aos poucos vai penetrando, ganhando seu espaço e
arrancando um gemido rouco de mim. Ele começa a estocar devagar, cuidando para não me
machucar, mas eu preciso de mais, de muito mais e o agarro pela camisa e imploro que ele faça com
mais força.
Ele não pensa duas vezes e mete em mim com tudo que tem. O orgasmo me alcança logo em
seguida, e eu cruzo as pernas ao redor da cintura dele, fazendo-o apertar-se mais em mim. Chamo seu
nome quando alcanço o ponto alto. Josh se dobra um pouquinho e logo alcança o próprio orgasmo,
rugindo meu nome quando chega lá.
Depois da primeira rodada, Josh me pega no colo e me leva para o sofá que fica perto da
janela. Sem se importar que qualquer um dos prédios vizinhos possa nos ver, ele deita no sofá e me
criar falsas esperanças, nutrir sentimentos que talvez ele não consiga corresponder.
sensação de soar carente, então volto minha atenção aos outros acontecimentos que são tão ou mais
preocupantes para o momento.
— Sofremos uma tentativa de ataque e adivinha quem está por trás.
— Andrômeda?
providenciar um novo sistema pra Companhia Howard, não quero arriscar que ele tente atacar vocês
para me ferir e vou terminar o Oscar, o programa vai conseguir rastreá-lo caso tente invadir nosso
sistema outra vez.
— Pelo jeito você já tem tudo resolvido.
— Vamos torcer que as coisas saiam como esperado.
Josh me puxa para seu peito outra vez e eu aspiro o perfume que vem da sua pele, como se
fosse um calmante, deixo que a preocupação se vá e me rendo ao momento, ao aconchego dele.
— O que você acha de darmos uma passadinha no Giordani’s, pegar uma bela macarronada pra
viagem?
— Depois do jantar podemos acabar o que começamos — provoco, mordendo o queixo dele.
— Ou antes... — ele diz e me coloca de pé. — Mas antes quero ver uma coisa.
Ele se desprende de mim e vai até o aparador. Com as sobrancelhas curvadas pousa a mão na
maçaneta delicada. Espero, prendendo a respiração. Ele puxa a portinha de correr e ela desliza
devagar. Josh quase enfia a cara dentro do aparador, mas volta a me olhar com cara de quem comeu e
não gostou.
— O que foi? — pergunto, dissimulada.
— Onde estão os brinquedos sexuais? — ele resmunga, dando-se conta de que não há nada no
armário.
Nem mesmo os chocolates estão lá, porque assim que mandei minha calcinha dentro da
embalagem de presente, tirei tudo, sabendo que ele viria xeretar. Não, não tinha nenhum brinquedo
sexual, qualquer coisa desse tipo fica muito bem guardada na minha casa, não no meu trabalho, claro.
Mas ver Josh morrendo de curiosidade é bom demais.
— Não sei do que você está falando — faço a minha cara de dissimulada.
— Você escondeu? — ele aperta as sobrancelhas.
— Você nunca vai saber — retruco e saio.
Vou até o banheiro do meu escritório e ligo a ducha. Uma das vantagens de ser a dona da
empresa é ter um banheiro à minha disposição. Josh tira a própria roupa e depois entra no chuveiro
comigo, resmungando sobre os supostos brinquedos sexuais que eu suspostamente escondi dele.
Tomamos um banho rápido e eu visto a minha roupa outra vez. Até tenho uma muda para trocar, mas
acho que ia ser um pouco estranho chegar ao escritório no fim da tarde apenas para trocar de roupa...
— Você quer sua calcinha de volta? — Josh pergunta, com aquele olhar sexy que derruba todas
as minhas barreiras.
— Não, tudo bem — digo e ele curva as sobrancelhas.
— Quer dizer que você vai embora sem?
— Pode apostar.
— Droga Mila, desse jeito eu vou acabar perdendo o juízo.
— Ótimo.
Ajeito minha roupa e pego meu casaco e bolsa. Josh me beija e sorri, os cabelos bagunçados
entregando que até há poucos momentos eu estava puxando-os com força.
Terminamos de nos arrumar e saímos de fininho. Ashley me lança um olhar de esguelha da sua
mesa, mas como não tem nada que eu precise realmente fazer hoje, ela não me interpela. Abraçados,
descemos de elevador até a portaria e é aí que a coisa desanda como num piscar de olhos.
Num minuto estamos rindo e discutindo o cardápio do jantar e no seguinte vejo um enxame de
agentes federais inundando o saguão do meu prédio e vindo para cima de nós.
Os seguranças da Faces tentam impedir a aproximação, mas são tantos federais e têm tantas
armas que nem mesmo os melhores seriam capazes de fazer alguma coisa. Eles vieram preparados.
— Josh — digo, mas meu marido já está me puxando para perto dele, num gesto protetor.
A mulher que para diante de nós, vestindo um colete do FBI, me parece muito familiar, ela
entrega um documento e puxa um par de algemas.
— Camila Bitencourt?
Aceno que sim, enquanto Josh lê o documento. Focalizo seu rosto tentando me lembrar se já a
vi alguma vez. Algo me diz que sim, mas não vem de imediato.
A mulher da cafeteria parece satisfeita por ouvir isso, ela olha para dois dos seus colegas e
contra o governo dos Estados Unidos, tudo que disser pode e será usado contra você....
— Vocês não podem fazer isso — Josh explode, mas eu já estou sendo algemada.
— Calma — digo, mas ele está uma fera, tentando se desvencilhar dos dois federais que o
impedem de chegar até mim. — Josh, Joshua...
Ele me olha, desorientado, gritando coisas sobre a América, sobre advogados e violação dos
nossos direitos, completamente transtornado.
— Por favor, posso falar com o meu marido? — falo para a mulher da cafeteria que na verdade
é uma agente do FBI muito contente por me prender. — Eu não vou a lugar algum, você já me
prendeu... por favor.
A mulher para e me vira para Josh, ele vem até mim e passa as mãos no meu rosto, nervoso.
— Josh eu preciso de você calmo, preciso do CEO implacável — digo e ele concorda, se
acalmando e tensionando as sobrancelhas, entrando em seu modo mais funcional. As engrenagens
estão funcionando. Bom sinal. — Preciso que você ligue para o meu advogado e chame o Dylan, ele
vai cuidar das coisas da empresa. Não posso perder a minha empresa, Josh.
— Vou ligar para o Edgar e Linda também — ele diz, pensando mais claramente.
— Tá bom, nós vamos provar que isso não passa de um mal entendido, ok?
Ele acena.
— Não diga nada até que o nosso advogado chegue — ele me instrui e eu sorrio, tentando
acalmá-lo.
Apesar de toda a loucura da cena, Josh está do meu lado, e ele vai fazer o que me prometeu,
cuidar da sua família e eu sou sua família.
— Eu vou ficar bem — digo e a agente me faz entrar no carro sem sequer tirar as algemas. Me
sento toda torta, mas forço um sorriso para Josh, que parece não ter qualquer efeito pois a última
coisa que escuto é ele rugindo para a agente, dizendo que ela não faz ideia de com quem mexeu. Ele
toca no vidro, os lindos olhos envolvidos por uma linha grossa de preocupação. O carro sai,
deixando-o para trás, deixando meu coração para trás.
Sou levada por dois agentes grandalhões e muito bem armados, como se eu pudesse fazer
alguma coisa contra eles dentro do próprio Bureau federal de investigação. É irritante, mas não tem
jeito, agora preciso agir com calma, descobrir exatamente do que se trata para decidir como lidar.
Minhas algemas são retiradas depois que me colocam em uma sala muito bem iluminada. Pelo
tom da acusação de terrorismo digital, confesso que pensei que seria jogada em algum daqueles
lugares no fim do mundo, sem julgamento, sem chance de ter acesso a um advogado, numa daquelas
prisões secretas que vemos falar em livros e filmes, mas o lugar é surpreendentemente tranquilo e
limpo, claro e, ainda que frio, não é assustador o bastante para me fazer perder a serenidade.
A mulher da cafeteria entra e se senta à minha frente, bem ao estilo policial e bandido. Ela liga
— Não, o que eu admito é que sou muito boa no que faço, a minha empresa é referência em
segurança digital e os contratos que temos com o seu governo são prova disso. Agora, eu quero o
meu advogado.
— Você vai ter o seu advogado quando ele aparecer, até lá, o melhor que faz é conversar
comigo, ou pode acabar indo parar num lugar bem ruim ou mesmo acabar sendo expulsa do nosso
país e pelo que andei pesquisando você tem muito a perder com isso, um marido bonito, uma
empresa bem sucedida, uma boa casa...
— Se você andou pesquisando já deve saber que não sou a única a perder. Os Estados Unidos
também — digo, apertando as mãos embaixo da mesa para controlar a vontade de chutar a bunda
dessa agente.
— O que você quer dizer com isso?
— Quero dizer que meus programas e eu sempre fomos muito úteis para o seu país — meu
sotaque arrasta forte dessa vez, deixando claro que preciso retomar a tranquilidade. — Se eu for
expulsa, quem vocês vão procurar quando a NSA precisar do que eu faço? Ou quando a CIA precisar
resgatar um agente? Ou sofrer um ataque cibernético? Você sabia que já tentaram me recrutar para
trabalhar pra vocês? E mesmo eu não aceitando ainda me contratam para fazer o que nenhum dos seus
— Ok! Camila. Quanto mais você demorar para contar o que eu quero saber, pior será a chance
de sair dessa situação. Dependendo do que disser, podemos negociar um acordo. Além do mais você
não quer prejudicar a sua família, quer? Imagine o escândalo: Esposa de bilionário é acusada de
terrorismo.
— Eu não sei o que você quer saber — explodo.
— Quero saber quem contratou você.
— Me contratou pra quê?
A mulher me encara, analisando cada minúsculo movimento do meu rosto. Me mantenho firme,
mas a verdade é que realmente não faço ideia do que está acontecendo, então, não há nada que eu
possa fazer ou dizer.
— Para atacar o FBI.
— Honestamente, não faço ideia do que você tá falando — digo e é a mais pura verdade. —
Não ataquei ninguém. Na verdade, eu estive ocupada demais com o meu marido bonito...
— Vamos lá, você não é tão boa quanto diz?
— Trabalho dentro da lei, agente Wilson, protegendo as pessoas e não prejudicando-as.
— Isso é o que você diz, mas a verdade Blue, é que nós duas sabemos quem você realmente é
— ela coloca uma página impressa na minha frente, com um código digitado e nele há uma sequência
no final que é exatamente a mesma que eu usava quando era uma fora da lei. É a minha assinatura.
Pego a folha e analiso tudo, sacudindo a cabeça sem compreender como alguém decifrou meu
código e conseguiu usá-lo para assinar o ataque. Sempre estive vários passos à frente de qualquer
um, minha assinatura sempre foi complexa. Andrômeda está fechando o cerco é só o que consigo
pensar.
— Continuo sem saber do que você está falando — empurro a folha de volta para ela. — Esse
código não me diz nada. Não ataquei seu governo, nem seu banco.
— Deixa ver se eu entendi, você é a hacker conhecida como Blue, essa é sua assinatura, mas
você não sabe do que estou falando? — ela soa com um forte senso irônico e isso me deixa bastante
preocupada.
— Eu não disse que sou hacker. Sou empresária, trabalho com segurança digital, não ganho
nada atacando meus clientes, mas sim protegendo-os.
A mulher sai batendo a porta às suas costas, furiosa, não tanto quanto eu estou. Agora, esse
Andrômeda foi longe demais, tão longe que se ele não me destruir eu irei destruí-lo.
Ando de um lado para o outro na sala de espera do FBI, já esmurrei a parede e já esbravejei
com todo mundo que cruzou meu caminho. Pelo menos sei que Mila está aqui, que não foi levada
para algum canto do mundo para ser torturada. Nunca se sabe quando se trata de uma acusação tão
Um agente vem até nós depois que Edgar ameaça chamar a imprensa e acionar a
Procuradoria do estado. Ele tenta explicar que estão averiguando para onde Mila foi levada, mas
Edgar é muito esperto e começa a listar todas as infrações que estão cometendo ao impedir a cliente
— Nós podemos sim e o próximo que vou prender vai ser você, se não tirar as mãos de mim
— o agente fala, e Edgar me puxa para longe.
Minha mãe e Linda chegam cerca de meia hora depois de Edgar me trazer para a sede do FBI
em Nova York, bem na hora que Edgar me tira de cima do rapaz. Meu amigo tem muitos contatos,
mas ainda que esteja praticamente berrando ao telefone, continuamos aqui, sem saber o que fazer.
— Pois isso eu quero ver — minha mãe diz, entrando na sala com um olhar feroz. — Aposto
que o governador vai gostar de saber que você está ameaçando um Howard.
O agente não diz nada, bufando sai da sala e nos deixa a sós. Minha mãe vem até mim, passa
os braços ao meu redor e deixa que eu afunde minha cabeça furiosa no seu ombro.
— Vai ficar tudo bem, filho, nós vamos tirar ela daqui.
— Talvez você precise mesmo chamar o governador — resmungo.
— E você acha que a mãe já não ligou pra ele? — Linda é quem diz, me entregando um copo
grande de café que nem vi que ela estava carregando.
— Você ligou? E o que ele disse?
— Que vai pessoalmente descobrir o que está acontecendo.
Esperamos por quase uma hora até que Edgar seja chamado pela agente que prendeu Mila.
Ela está carrancuda e algo me diz que o governador deve ter cumprido com o que prometeu para
minha mãe.
— Você já pode ver a sua cliente — ela diz e Edgar sai ao seu encalço, mas eu sou impedido
— Minha cliente é uma Howard, agente Wilson — ele rebate, como se isso explicasse tudo.
Talvez explique, afinal de contas somos uma família tradicional nos Estados Unidos, nossa
rede bancária é tão robusta que poderia ser equiparada ao PIB de um país. E além disso, nunca houve
um escândalo de corrupção, desvio ou sonegação de impostos na nossa empresa. Minha família
sempre cuidou muito de perto dos negócios e nosso lema sempre foi fazer tudo com excelência e
honestidade. Não é à toa que somos respeitados no mundo todo. Menos por essa tal agente Wilson,
que resolveu comprar uma briga com a gente. O que ela não faz ideia é que somos unidos e uma vez
que você mexe com um Howard, mexe com todos.
— Edgar — o chamo quando ele já está fora da sala, ele se vira e me encara, talvez
compreendendo o tamanho da minha agonia. — Traga minha esposa, por favor.
— Pode deixar, irmão, não saio daqui sem ela — ele diz e sorri com uma expressão que
poderia ser traduzida por “nunca vi você tão caído por uma garota”.
É verdade, nunca senti nada assim por ninguém e o pior é que não tive sequer tempo de dizer
para Mila o quanto ela é importante e o quanto quero que as coisas não se resumam a apenas um
acordo, mas sim a uma vida inteira.
— O que há com você? — Linda me puxa para um canto. — Nunca o vi tão transtornado.
— Eles arrancaram a Mila de mim — solto, afundando na poltrona.
Minha irmã se senta ao meu lado e dá umas batidinhas de leve no meu joelho, como se
buscando me reconfortar de alguma maneira.
— Você entrou bem no papel de marido aflito — ela diz e eu ergo minha cabeça, deixando
que ela veja a dor que estou sentindo. — Meu Deus, você não está fingindo, não é?
— Não — é tudo que consigo dizer.
— Eu sabia que vocês iam acabar se atracando, estava na cara... também, toda aquela
química... — ela fala e então subitamente se cala. — Desgraçados, vocês prenderam a minha
cunhada...
Minha irmã vai até o outro lado da sala, uma parede de vidro separa o local em que estamos
de uma grande sala cheia de mesas e agentes com olhares enfadonhos. Ela bate no vidro.
— Vou acabar com a raça de vocês, ninguém mexe com a minha família, ouviram? Ninguém
mexe com a mulher que meu irmão ama e que por sinal é a minha melhor amiga. Seus cretinos.
Minha mãe sorri com a reação maluca de Linda, ela assume o lugar ao meu lado e pega a
minha mão, do mesmo jeito que fazia quando eu era menino e sentia medo por qualquer coisa que
fosse.
Acho que, tanto Linda quanto eu, podemos ter herdado da minha mãe o temperamento forte e o
gosto por uma boa briga. O telefone toca e ela me mostra o visor antes de se levantar para atender.
— É o governador — ela sussurra e se afasta dos rompantes de Linda, que volta e meia ataca
a parede de vidro com xingamentos. — Então meu querido, diga que tem uma resposta para essa ação
vergonhosa que fizeram contra a minha família...
Minha mãe é uma das mulheres mais intrigantes que já conheci, é simples, espontânea e quase
sempre está com as roupas manchadas de tinta, ama a arte como ninguém, mas também sempre
acompanhou meu pai e foi ela a responsável por ajudá-lo a conhecer e se conectar com muitos dos
investidores que ajudaram o conglomerado Howard a crescer.
Minha responsabilidade é só com o ramo bancário, mas ela nunca deixou de cuidar de perto
dos outros segmentos, tem um gosto particularmente especial pelo ramo imobiliário e por anos
dos demais negócios ela se dedica apenas a pintar e expor sua arte, principalmente depois da morte
do meu pai.
— E então? — interpelo minha mãe antes mesmo de ela guardar o celular de volta na bolsa.
— Paciência, filho. Paciência.
Cada minuto que passa é como uma ferroada no meu coração, uma fisgada que me diz que
minha garota pode estar sofrendo algum tipo de abuso. Não posso nem imaginar o que está
enfrentando, mas isso não vai sair barato. Vou descobrir o que aconteceu e vou atrás do desgraçado
que resolveu prejudicá-la.
Esperamos por uma eternidade, mas então, quando já estou prestes a explodir outra vez,
Edgar aparece na porta e logo atrás dele vem Mila, minha Mila, cansada, chateada e com certeza
muito furiosa.
Ela vem direto para os meus braços e eu a aperto junto do meu peito, beijando seus lábios
com sofreguidão e em seguida beijando cada um dos seus olhos, fechados e tensos.
— Achei que teria que meter o pé na porta e invadir pra buscar a minha linda esposa —
cochicho no ouvido dela.
Mila ergue os olhos na minha direção, seu rosto está tomado por angústia. Tem algo errado.
— Podemos ir embora?
— Podemos — digo, a puxando para a saída, sem esperar que Edgar diga qualquer coisa ou
mesmo que minha família nos siga.
Mila não diz nada nem mesmo no elevador, ela encosta a testa no meu braço e fecha os olhos
e isso aumenta minha preocupação. Tem algo que ela não está me contando e preciso saber.
Saio praticamente arrastando Mila para fora do prédio do FBI e só quando o ar gelado do
início de madrugada nos arrebata é que me dou conta de que vim com Edgar e estou sem carro.
Minha mãe nos alcança e puxa Mila para um abraço, minha brasileira deita a cabeça no
— Ainda não passou — ela diz, mas não fala mais nada.
Linda envolve as duas num abraço e começa a tagarelar, soltando seus habituais xingamentos.
— Preciso chamar um taxi — digo, com um senso de urgência.
— Estou com o motorista, ele vai nos levar em casa — minha mãe diz e pega o telefone.
Alguns minutos depois, o motorista chega, Linda se despede de mim e vai com o próprio
carro. Edgar dá algumas explicações sobre o que pode acontecer nos próximos dias e de como
devemos proceder, uma vez que eles não têm provas suficientes para seguir com uma acusação
formal, provavelmente vão revirar nossas vidas de cabeça para baixo. Até poderiam ter mantido
Mila presa por dois dias, mas por sorte, a conversa da minha mãe com o próprio governador gerou
resultado. A pressão foi alta e acabaram liberando Mila. Temos que tomar cuidado, levar uma rotina
mais tranquila e Mila não deve se envolver com nada que se relacione com hackers e isso inclui não
contactar o amigo Mikhail, mesmo que ele possa ajudar.
Minha mãe senta no banco da frente e eu puxo Mila para o carro, depois de nos despedirmos
de Edgar .
Mila afunda no banco e eu a puxo para meus braços, ela fecha os olhos e espera que o carro
siga antes de falar.
— Alguém usou a minha assinatura de hacker para atacar o Banco Central americano e o FBI.
A pessoa não conseguiu, ou não quis conseguir, mas deixou um rastro que levava até mim.
— Andrômeda — digo e ela concorda, apertando as mãos com força.
— Estou com medo, Josh — ela diz antes de se fechar em copas e focar nas imagens borradas
do lado de fora do automóvel.
O motorista da família nos deixa em casa, mando uma mensagem para a Senhora Ascott,
pedindo que reforce a segurança da empresa e providencie guarda-costas para todos os membros da
família.
Se esse maldito hacker a quem chamam de Andrômeda pensa que vai ser fácil ferir qualquer
um dos meus familiares, está muito enganado. Mesmo que para isso eu tenha que recorrer até a Dylan
— Providenciei seguranças para todos nós — digo, acariciando os cabelos dela, como
sempre faço quando vamos dormir.
— Tá bom — é a única coisa que diz.
— Mila, estou do seu lado.
— Eu sei, obrigada. Só que é difícil pensar que por algum motivo esse hacker está decidido a
acabar comigo. A coisa é pessoal e isso me deixa apavorada. Não por mim, mas porque não quero
nem pensar que ele possa tentar machucar você ou a Martha e a Linda.
— Vai ficar tudo bem, linda. Nós vamos passar por isso — tento consolá-la, mas ela suspira
pesado. — O que você tem em mente?
possam me acusar e me manter na prisão. Preciso provar que não tenho nada a ver com essa coisa
toda e para isso, decido que o melhor a ser feito é ficar em casa pelos próximos dias. Oscar é a
minha única esperança.
Pensei em procurar por Mikhail, mas pode ser arriscado para ele aparecer nesse momento.
Além do mais, o russo já fez mais por mim do que precisava, mais do que nosso status atual de
amizade requer.
Saio da cama sem fazer muito barulho, ligo a cafeteira e enquanto a torradeira tosta algumas
fatias de pão, pego o celular e ligo para minha secretária.
— Ashley...
— Graças a deus você está bem — ela fala quando ouve minha voz. — Eu estava apavorada.
— Está tudo bem, mas vou ficar fora por alguns dias.
reuniões para o fim da semana, o que for trabalho técnico farei daqui.
— Tudo bem, algo mais?
— Não, por enquanto é só isso.
— Se tiver qualquer coisa que eu possa fazer por você, Mila, não hesite em me ligar.
Agradeço e deixo mais algumas recomendações sobre como agir nos próximos dias, digo que
Linda vai se responsabilizar por qualquer declaração pública, representando os Howard e também a
Faces e desligo.
Sirvo uma caneca de café e telefono para Dylan, sem meias palavras o coloco a par de tudo
que está acontecendo. Josh acha que meu sócio pode estar por trás dessa perseguição que estou
sofrendo, mas embora seja uma das pessoas mais inteligentes que conheço, Dylan é um homem de
negócios e não acredito que ele correria o risco de perder milhões por conta de alguma birra pessoal
comigo.
Até por que não dei nenhum motivo para que ele pensasse que podia rolar algo mais entre
nós, ou que pudesse fazê-lo querer se vingar de mim. Não, Dylan é o cara das finanças, que conquista
clientes, faz o dinheiro render com ações e investimentos, é o gestor do nosso negócio, não um hacker
maligno, e mesmo que tivesse tempo e vontade, não chegaria nem perto de ser um adversário como
Andrômeda, para isso precisaria de habilidades, conhecimentos e contatos que ele definitivamente
não tem.
Não mesmo.
A única pessoa que conheço que teria essa capacidade é Mikhail, mas não gosto nem de
imaginar que o homem com quem dividi tantos sonhos e com quem me meti em tantas confusões seria
tão vingativo a ponto de me prejudicar. Não pode ser ele.
Quem diabos é esse Andrômeda e o que foi que o chateou tanto?
Preciso descobrir e vai ser o Oscar quem vai me ajudar, meu programa precisa estar funcional
logo e, para isso, preciso entrar de cabeça nos seus ajustes, terminar o código e começar os testes.
Peço a Dylan que cuide de tudo, que transmita segurança aos nossos clientes e faça o que for
preciso para não deixar que a Faces pague pela minha guerra contra Andrômeda. Ele dá sua palavra
de que já está fazendo isso e me dá todo seu apoio.
Depois que desligo o telefone, pego o café e as torradas e vou para o sofá. Ligo a televisão e
fico zapeando os canais por algum tempo.
Josh se junta a mim alguns minutos depois, carregando sua própria xícara de café e uma tigela
de cereais. O sofá balança um pouco e eu me viro para encará-lo. Meu companheiro de farsa está
com um olhar sombrio voltado para a televisão, viro no momento em que escuto o meu nome, a
imagem na televisão me faz congelar no lugar.
Na tela, em tamanho grande, está uma foto de ontem. Não me lembro de ter visto nenhum
fotografo, mas pela qualidade baixa da imagem pode ter sido tirada por qualquer um, talvez um
agente idiota com um celular meia boca ou algum curioso que estava por ali, francamente não sei.
Na foto, estou sendo puxada pela agente Wilson para o carro do FBI e Josh está transtornado,
se desvencilhando de dois agentes. Seus olhos estão... desesperados.
Nesse momento sinto como se uma faca partisse meu coração ao meio, a culpa sendo a cola
que junta os dois pedaços. Culpa por fazê-lo passar por toda aquela terrível situação e também por
expô-lo desse jeito. Os jornais e revistas de fofoca já adoram torturá-lo, as coisas vão piorar e
muito.
Cobrindo a boca com a mão, seguro a vontade de sair correndo, aos prantos. Não, agora eu
preciso ser forte para tirar essa família que tanto tem me apoiado disso com o mínimo de
machucados.
— Me desculpe, Josh — digo e ele pega minha mão entre as suas. — Não queria que você
tivesse de passar por nada disso.
— Você não tem culpa — ele diz, virando meu rosto e plantando um beijo suave nos meus
— Obrigada — digo e enterro bem lá no fundo da minha mente a angústia que me faz sentir
bloqueada, travada e desesperada. Agora, preciso ser a Blue, a hacker capaz de tudo.
Os dois dias que se seguem são como um borrão. Foco totalmente em resolver os problemas do
programa Oscar e ajustá-lo para que o protótipo esteja pronto antes de o fim da semana chegar. Josh,
por outro lado, está mais cuidadoso e um pouco mais possessivo do que o normal.
Ele trabalha de casa no que é essencial, além de que reforçou nossa segurança e da sua mãe e
irmã. Paolo envia a maior parte de nossas refeições do Giordani’s, nos mantendo muito bem
alimentados.
Percebo o quanto Josh está abalado quando o vejo, pela primeira vez desde que o conheci,
berrar ao telefone com um gerente de agência. Ele desliga e atira o aparelho no sofá, xingando como
nunca faz.
Preparo um café e levo para ele.
— Não quero café — ele diz, pegando a caneca e colocando sobre a ilha da cozinha.
Josh me puxa para junto dele e afunda o nariz no meu pescoço. Aspira meu cheiro como se
fosse o ar necessário para sua sobrevivência, provocando uma onda de calor que percorre desde a
minha nuca até chegar no meio das minhas coxas.
— Quero você — diz, os lábios sobre a pele quente do meu pescoço.
— Também quero você — digo, correndo o risco de soar carente, porque nesse momento é
exatamente assim que me sinto.
Passo meus braços ao redor do seu pescoço e entrego o que ele quer. Josh sente minha
receptividade, então passa seus braços por minha cintura e me ergue no colo de um jeito doce. Com
os braços sob as minhas pernas ele me aperta mais junto do seu peitoral.
Seguro no seu pescoço e levo meus lábios aos seus. Dessa vez, o beijo é diferente, apesar de
poder sentir a paixão fluindo de nós, não é o incêndio ansioso de sempre, é mais terno, o toque mais
profundo e me transporta para um mundo onde nada mais existe. Nada além de nós dois.
Ele me deita na cama e vem por cima de mim, sem desviar nem uma vez nossos olhos. Há algo
mais nessa troca de olhares, mais do que o desejo, mais do que a vontade de tocar em mim. Não
consigo desvendar, mas deixo que ele me arrebate e procuro sua alma tanto quanto ele deve estar
encontrando a minha.
Josh passa uma das mãos no meu rosto, afastando uma mecha teimosa de cabelo, depois, bem
devagar vai me despindo e plantando beijos delicados por todo meu corpo.
Fico completamente nua em cima da cama e ele me observa com uma intensidade que é como
fogo que queima minha pele.
Ajudo Josh a tirar sua roupa, tocando a pele quente com a ponta dos dedos, percorrendo os
gomos no abdômen, talhados por longos treinos. Ele passa a mão por dentro do meu cabelo e segura
aceitando tudo o que ele está me dando e aceitando também tudo que tenho para dar a ele, deixando
que a magnitude do que sinto irrompa na forma de um orgasmo incrível. Assim que chego ao ápice,
ele empurra mais um pouco para dentro de mim, aumentando a pressão e encontrando o próprio
prazer. Josh se derrama dentro de mim, em meio a um gemido que eu engulo no seu beijo.
— Mila, tá acordada? — ele pergunta, depois de um longo tempo em que passamos em
silêncio, apenas abraçados e nus na cama.
— Estou.
— Preciso dizer uma coisa — Josh se vira de lado e com delicadeza ergue meu queixo,
fazendo-me olhar para ele. — Eu amo você.
— Puta merda, Josh! — digo e me sento na cama. — Você quase me matou de susto.
— Não era bem essa reação que eu estava esperando.
— Eu também amo você — digo, sorrindo de orelha a orelha.
— Ah, essa era a reação que eu queria — ele sorri meio bobo e me puxa para cima do seu
corpo. — Às vezes, você é difícil, sabia?
— Eu? Eu sou ótima, nem vem com essa.
— É difícil sim — ele sorri e eu passo a mão no seu cabelo, bagunçando ainda mais.
— Algo me diz que você não gosta do que é fácil, não é, MAGNATA?
— Odeio esse apelido.
— Eu sei — retruco.
— Tá vendo porque eu digo que você é difícil?
Começo a rir, deixando toda a tensão em que estive mergulhada nos últimos dias se esvair.
— O que foi? Do que você tá rindo? — ele pergunta, as sobrancelhas curvadas daquele jeito
desconfiado.
— Dessa discussão boba. Você acabou de dizer que me ama, eu acabei de dizer que também
amo você e nós acabamos discutindo sobre o temperamento um do outro.
Josh ri junto comigo do absurdo em que nos colocamos.
— Não, mas ele tem várias estratégias para acabar com isso, quer reunir provas de que não
estávamos na cidade quando o ataque aconteceu, já que parece que partiu da Faces.
— Vou terminar o Oscar em breve e talvez a gente consiga descobrir inclusive quem é que está
tentando ferrar com a minha vida.
— E depois dessa merda resolvida, nós vamos tirar férias de verdade, lua de mel e vamos
rever esse nosso acordo, ok?
— Tudo bem, desde que o nosso destino seja em um lugar paradisíaco.
— Havaí aí vamos nós.
Fazemos amor outra vez, só que não do jeito meigo e entregue de antes, e sim do jeito Joshua
quero vencer o Andrômeda, preciso me empenhar em fazer o programa funcionar. De jeito nenhum
Mais alguns dias se passam e eu finalmente me sinto pronta para voltar ao trabalho, até
porque não posso adiar mais as minhas tarefas. Por mais que tenhamos uma boa equipe técnica na
Faces, boa parte do que fazemos nasce dos meus projetos e precisa da minha atenção. Além do mais,
preciso descobrir quem é que está por trás dos ataques ao FBI e ao banco americano, do contrário
nunca terei minha vida de volta.
E agora, mais do que nunca, tenho motivos para lutar.
Termino de me arrumar e me olho no espelho, o terninho está um pouco mais frouxo do que o
de costume. Mesmo com Paolo nos alimentando tão bem, perdi algum peso nos últimos dias, um
pouco por causa das maratonas de sexo e também por causa do stress, de qualquer maneira me dou
por satisfeita ao vê-lo em mim.
Josh vai para a sede da sua empresa, está com várias coisas por fazer e precisa embarcar
numa série de reuniões que devem tomar boa parte dos seus dias nas próximas duas semanas, mesmo
assim combinamos de nos encontrarmos na Faces mais tarde para irmos embora juntos.
Dispenso os seguranças enormes que ele colocou no meu encalço e pego um uber, não estou
nem um pouco com vontade de dirigir. Peço que ele me deixe na entrada do estacionamento, sabendo
que há pelo menos uma dúzia de repórteres acampando na frente do prédio há vários dias.
Apesar do tumulto, o motorista que me leva, um homem na casa dos cinquenta anos, consegue
driblar os curiosos e me deixar sem complicações dentro do prédio, agradeço e entrego uma nota de
cinquenta dólares como gorjeta, o que provoca um chiado de espanto nele. O homem me entrega seu
cartão e diz que se há qualquer momento precisar de transporte posso chamá-lo.
Agradeço outra vez e guardo o cartão na bolsa, é sempre bom ter alguém disposto a ajudar
sem fazer muitas perguntas, mesmo que seja por causa de uma boa gorjeta.
Subo pelo elevador de serviços e chego ao meu andar, onde vários seguranças fortões estão
espalhados. Josh não mentiu quando disse que ia reforçar a segurança. Peço que eles fiquem na
portaria, explico que há uma sala para funcionários onde podem revezar o descanso e fazer sua
alimentação e ainda que achem isso uma coisa estranha, não me questionam. A única coisa que peço
é que não deixem a imprensa entrar.
Com o meu andar livre de homens bombados vestidos em ternos escuros e usando armas,
consigo respirar melhor para trabalhar.
Depois de uma reunião rápida com Dylan e de Ashley me atualizar de como tudo tem andado,
me fecho na minha sala e começo o verdadeiro trabalho que vim fazer. Com os recursos tecnológicos
que tenho aqui vai ser possível começar a investigar.
Dou tudo de mim, procurando em cada canto remoto em que consigo pensar, totalmente ligada
no modo Blue. As horas que se seguem são de trabalho árduo e de uma busca que vai mudar tudo.
Refaço o caminho do ataque, seguindo os rastros deixados e o desvio do servidor vai me
levando por um caminho que percorre milhares de direções, até que uma delas me salta aos olhos.
Corporação Howard.
É como se eu acabasse de levar um soco no estômago. De repente, as provas começam a
aparecer e, uma atrás da outra, mais a empresa de Josh é incriminada. Se essas coisas caírem nas
mãos da agente especial Wilson, Josh pode acabar preso e nenhuma influência conseguirá salvá-lo.
Imprimo todas as informações e espalho sobre a minha mesa. Pela porta de vidro vejo
Ashley se aproximando, quando ela faz menção de entrar aceno que não com a cabeça. Minha
secretária se afasta, mas não deixa de perceber todos os papéis sobre a minha mesa.
De repente, eu sei o que tem de ser feito e por pior que seja a dor, tenho que ir até o fim.
Josh aparece no fim do dia, chega com uma rosa azul nas mãos, sorrindo e sequer pensa em
bater na porta. Vai entrando e passando os braços ao meu redor, cheirando meu cabelo e anunciando
que arrumou a rosa numa floricultura e que achou pertinente já que estou em minha versão hacker.
Não pego a flor e me afasto de Josh. Agora, não posso voltar atrás, preciso ser forte e fazer o
que tem de ser feito. Preciso confrontá-lo.
— É possível — digo, sabendo que estou destruindo um pouco do que nós temos.
Queria que as coisas pudessem ser diferentes, que o amor que juramos há poucos dias fosse
suficiente para nos manter à salvo do perigo que se tornou todo esse jogo de gato e rato com
Andrômeda. Mas agora, essa é a única coisa que pode proteger Josh, mesmo que me roube um
pedaço da alma vê-lo assim, transtornado.
Sei que ele nunca seria capaz de me trair assim, até porque essas provas caíram no meu colo
como um passe de mágica e isso por si só seria um grande alerta. Infelizmente, se eu quiser destruir
esse desgraçado que está fechando o cerco, vou precisar ser forte e afastar aqueles que amo, para
que não sejam machucados nessa guerra.
Joshua anda de um lado para outro, argumenta, xinga, e quando percebe que não vou voltar
atrás, se desespera. Quando o homem que eu amo vai embora, só me resta sentar e chorar. E eu faço
“Depois de muitos rumores envolvendo o casal, parece que os pombinhos decidiram seguir
por caminhos diferentes. Na noite de ontem, Camila Bintencourt foi vista saindo do prédio onde
morava com o marido Joshua Howard, levando um cão e uma mala de rodinhas, ela entrou em um
carro de aplicativo e não quis comentar a cena. Será que há problemas no paraíso?” (Agito –
revista de fofoca).
Até alguns dias atrás tudo estava perfeito, finalmente tive coragem de dizer a Mila que a amo e
o melhor foi que descobri que ela também me ama, mas quando pensei que as coisas não podiam
estar melhores a merda desandou de vez. Numa só tacada perdi o amor da minha vida e fui acusado
de ser um cyber criminoso, que não só atacou uma agência do governo e o banco do país, como ainda
tentou incriminar uma inocente.
Sempre tive total controle de tudo, me relacionei com quem quis, e fiz o que bem entendi da
minha vida, mas agora me sinto perdido, sem chão.
Ando pela casa sentindo falta do barulho das patas de Scotty, do som das teclas do laptop de
Mila sendo apertadas com rapidez por aqueles dedos pequenos.
Sinto falta da sua voz, da provocação e do olhar maroto. Sinto falta do seu cheiro, dos
cabelos espalhados no meu peito, na mordida no canto do lábio, porra, sinto falta de tudo.
Inconformado, pego a chave do carro e dirijo direto para a Faces. Ninguém impede a minha
passagem e em poucos instantes estou caminhando direto para a sala de Mila, ela precisa me escutar,
não é possível que seu amor seja tão frágil que ela acredite no que é, com toda certeza, uma armação
contra mim.
Ashley, a secretária de cabelo vermelho, me intercepta poucos passos da porta de Mila.
— Sim, parece que eles tinham alguns assuntos pra resolver. Está tudo bem?
Não digo mais nada, me viro e vou embora. Se aquele babaca pensa que vai aproveitar do
momento em que minha esposa está mais fragilizada para se chegar, não perde por esperar.
Encontro o restaurante alguns minutos depois. Deixo meu carro do outro lado da rua e vou
entrando, sem dar a menor bola para a recepcionista.
— Senhor, não pode entrar... — ela diz, andando ao meu encalço.
— Não se preocupe, já encontrei quem vim procurar.
— Que seria...?
— Minha esposa — digo, e sigo para a mesa onde Mila e Dylan conversam.
A recepcionista desaparece da minha vista e com poucos passos alcanço a mesa deles. Mila
se levanta assim que me vê, o rosto fechado, como se tivesse uma grande interrogação no ar.
— Você não perde tempo, não é? — acuso Dylan, que se levanta e me encara, confuso.
— Josh... — Mila fala, mas estou soltando fogo pelas ventas. — Você não deveria estar aqui.
— Nem você, Mila. Deveria estar na nossa casa.
— Eu estou onde tenho que estar — ela retruca rápido. — Vá embora, Josh.
— Cara, nós estamos tratando de negócios aqui — Dylan fala, mas parto pra cima dele e o
pego pelo colarinho.
— Ela é minha esposa, minha esposa.
— Chega — Mila é ríspida. — Vá pra casa, Joshua, vai para onde é o seu lugar.
As palavras de Mila são como marretadas no meu coração. Solto Dylan e desnorteado
Me enfio debaixo do chuveiro e deixo a água correr, todos os meus músculos estão doloridos.
Depois que Mila me expulsou do restaurante, vim pra casa, troquei de roupa e saí pra correr. Levei
meu corpo a quase exaustão e agora deixo que a água leve o restante da frustração, que não é pouca.
Destruído, me jogo no sofá com uma garrafa de vinho. As palavras de Mila martelando na
minha mente. Vá pra casa, Joshua, vai para onde é o seu lugar.
Encho o copo com o vinho, não me dei sequer o trabalho de pegar uma taça, nada mais parece
fazer sentido sem ela aqui. Vá pra casa, Joshua, vai para onde é o seu lugar.
Vá pra casa, Joshua, vai para onde é o seu lugar.
Vá pra casa, Joshua, vai para onde é o seu lugar.
Vá pra casa, Joshua, vai para onde é o seu lugar.
De repente, como um clique na minha mente, sei por que Mila falou isso. Sei o que ela quer
que eu faça.
Pego o carro e algumas peças de roupa e vou para o lago. O caminho todo ouvindo o martelar
dessas palavras na cabeça, e também lembrando da nossa conversa antes de voltarmos para
Manhattan, quando nós dois concluímos que aquele era nosso lugar favorito. Nosso lugar. Meu lugar.
Sei que posso estar apenas me iludindo, mas algo me diz que é mais do que apenas a minha
vontade de que as coisas deem certo entre nós e que essa distância dolorosa acabe. Eu sei que é só
Depois de quase revirar a casa do lago, é justamente dentro da capa daquele livro onde ela
escondeu sua calcinha cor de rosa quando estávamos aqui que encontro a resposta que procuro.
Um pequeno pedaço de papel com vários números. Uma sequência que parece tão aleatória...
Mila sabe que não sou nenhum gênio, sou bom com matemática financeira e penso rápido, consigo
discutir qualquer assunto, mas uma lista de números soltos não me diz muita coisa.
Como era mesmo a sequência que ela achou na rosa que o Mikhail deu pra ela? Fibonacci?
Será que é isso?
Pego o celular e começo a pesquisar sobre isso, não levo muito tempo para descartar o tal
Fibonacci, os números não seguem a sequência necessária para que fosse isso. Droga! O que diabos
eu vou fazer?
Deixo o papel na ilha e pego a garrafa de vinho que trouxe comigo de casa, já que não a bebi
antes de sair, resolvi trazê-la para me afundar caso tudo não passasse de desespero meu. Encho o
copo e tomo um gole grande.
Passo as duas horas seguintes fuçando na internet, tentando descobrir sequências malucas que
poderiam ser usadas para resolver o código de Mila. Pego o livro e fico folheando, como se o cara
sem camisa pudesse me dar alguma resposta e não é que o desgraçado me dá mesmo.
Prestes a descartar tudo como uma alucinação ridícula da minha mente, folheio rápido o livro,
brincando de passar as páginas. As páginas. Puta merda! É isso.
Pego cada um dos números e vou na respectiva página do livro. Será que ela faria algo tão
simples? É claro que sim, Mila é genial e só alguém assim seria capaz de esconder um código
simples e mesmo assim me fazer perder horas tentando desvendar. Nenhum hacker que se prese
pensaria em algo menos estilizado e complexo.
Para minha surpresa e alívio já na primeira página que olho, a de número oito, encontro uma
palavra sublinhada.
Desesperado, volto a folhear o livro, pegando cada uma das palavras que encontro e anotando
num pedaço de papel. Por fim, uma confusão de palavras dança na minha cara. Reorganizo-as,
seguindo a ordem de numeração e encontro a frase: “Sinto muito por tudo, eu amo você”.
Apesar de estar furioso por finalmente entender o que ela está fazendo, me excluindo para
proteger a mim e minha família, também me sinto aliviado porque sei que ela não apenas acredita que
não fui eu, como também me ama mesmo e está lutando por nós.
Droga, por que ela tinha que me excluir? Juntos nós conseguiríamos vencer.
Penso por muito tempo, enquanto vou bebendo cada vez mais vinho. Minha vontade é de
voltar para Manhattan, meter o pé na porta do loft e tomar minha mulher de volta, mas aposto que ela
tem um plano.
Com a mente turva do álcool, a única coisa que consigo pensar antes de apagar no sofá é:
Também amo você Mila.
Entro no loft e fecho a porta às minhas costas, encosto na porta e fecho os olhos, respiro bem
fundo, tentando afastar as imagens da minha cabeça, o olhar magoado de Josh me assombra. Como eu
pude fazer isso com o homem que amo?
Será que um dia ele será capaz de me perdoar? Será que vai perceber o que eu quis dizer e ir
para casa do lago e achar a mensagem? Quero muito que ele entenda que só estou fazendo isso para
mantê-lo seguro, não sei se conseguiria enfrentar essa batalha contra o Andrômeda se algo
acontecesse a ele.
Não posso confiar em mais ninguém nesse momento, preciso que todos acreditem que nossa
separação é de verdade e que assim Andrômeda o deixe em paz, mas tenho que admitir que a dor é
dilacerante.
O que eu mais quero é voltar para os braços do homem que eu amo, mas preciso continuar
sendo forte.
Scotty vem fazer festa, faço um carinho no cão e ele cheira a porta, como se esperasse que
Josh entrasse a qualquer momento.
— Eu sei garoto, também estou sentindo falta dele — digo e meu cão vira a cabeça para o
maior. Não ouvir a voz dele ou sentir o seu cheiro... isso está acabando comigo.
Depois de um banho demorado que não muda em nada meu humor me jogo na cama e puxo de
debaixo do meu travesseiro uma camiseta de Josh, que trouxe no meio das minhas coisas na noite em
que o deixei.
Abraçada, sentindo o cheiro do amor da minha vida, carente, frustrada, pego no sono.
Chego ao escritório no horário de sempre, os seguranças que Josh colocou ainda estão
espalhados pelo saguão e alguns percorrem o prédio, certificando-se de que não corro nenhum risco.
Sei que mesmo que não tenha pegado a deixa que dei quando o mandei embora do restaurante
ontem ele não me deixaria correr riscos com Andrômeda à solta por aí. Não faz parte da natureza de
Josh, mas ainda assim queria muito saber se pegou meu recado, se isso apaziguou a dor que causei.
Dylan entra na minha sala no momento em que estou mergulhada em um copo gigante de café,
preto, puro, porque estou precisando demais dessa energia para seguir adiante. Ele me encara com
aqueles belos olhos amendoados, esperando que eu diga alguma coisa. Como não abro a boca, puxa a
cadeira e se senta.
— Você está um caco.
— Eu sei, me olhei no espelho antes de sair de casa.
— Isso tem a ver com ele, não é?
— O que você acha, Dylan?
— Acho que o babaca ama você.
— Tenho que admitir que ainda não vou muito com a cara dele, mas não posso negar o que eu
vi, um cara muito ferrado por sua causa.
Assim que Dylan sai da minha sala, fecho a porta e as cortinas e ligo meu laptop na nossa
rede segura. Deixo que meu incrível programa comece a interagir com a rede. Em questão de minutos
escuto a voz metálica soando pelo sistema de som que instalamos meses atrás para o programa de
reconhecimento de voz.
— Bom dia, Mila — a voz metálica declara, me fazendo abrir um sorriso vitorioso.
— Bom dia, Oscar, é bom ter você aqui. Por favor, inicie procedimento de reconhecimento de
toda a nossa rede.
— Iniciando reconhecimento da rede.
Ashley me espia da sua mesa, fazendo menção de vir até a minha sala, quando aceno que não,
ela volta para sua mesa e fica por lá, ocupada com algo no próprio computador.
Suponho que ela compreende que precisa cancelar meus compromissos, porque não me
interrompe nenhuma vez durante todo o dia, nem mesmo para me trazer comida, que por sinal é a
última coisa em que consigo pensar.
— Oscar, conectar meu telefone pessoal e conta de e-mail.
— Conectando telefone pessoal de Camila Bitencourt, Mila, em trinta segundos.
— Oscar, conectar com os sistemas operacionais do prédio, sistema anti-incêndio,
comunicações, servidor principal, servidores secundários, segurança. Instalação segura e sigilosa.
Foco toda a minha atenção em deixar o Oscar funcional o quanto antes e tão logo descubro que
ele está interagindo bem com a nossa rede (sim, eu arrisquei ferrar com tudo instalando meu
protótipo na rede da minha empresa, me julgue se quiser, não tenho tempo pra isso), começo a
Andrômeda.
É início de noite quando escuto aquilo que me enche de esperança.
— Pesquisa realizada com sucesso — a voz metálica de Oscar diz.
— Transferir dados para o laptop matriz.
— Transferindo dados.
Abro as imagens que Oscar me mandou, tem de notícias internacionais sobre ataques de
Andrômeda a recortes de conversas em chats na dark web. Todo tipo de informação. Se eu não for
capaz de descobrir quem é, ao menos vou conhecer bem mais sobre ele e isso vai me ajudar a pensar
em uma forma de enfrentá-lo.
Sigo analisando as informações reunidas pelo rastreamento de Oscar e finalmente chego a
uma data e origem para o ataque ao FBI. Andrômeda conseguiu usar o meu código, uma parte grande
dele, mas apesar de todo o cuidado, deixou seus próprios rastros.
E tudo partiu mesmo da Faces, mais precisamente do servidor secundário que cuida da rede
do meu andar. Merda, é alguém perto de mim. Será que pode mesmo ser o Dylan?
— Vamos lá garoto, mais um pouco e nós pegamos o desgraçado — me animo. — Oscar,
relacionar a data e horário do ataque ao FBI com as agendas dos funcionários da Faces, com as
câmeras de segurança e o GPS dos celulares corporativos. Enviar dados para o laptop.
Um minuto depois consigo descartar Dylan e mais da metade dos funcionários do andar. E
cerca de dois minutos depois, um vídeo aparece no canto superior da tela, clico em cima e a imagem
aparece, me deixando completamente desorientada.
No vídeo, minha secretária está deixando o prédio da Faces, momentos depois do ataque.
Incrédula, pego as demais informações que Oscar está colocando à minha disposição e começo a
checar. Não posso acreditar.
Olho para a porta do meu escritório e Ashley está olhando para mim, engulo a saliva grossa
que se forma na minha boca, uma sensação estranha se alojando no meu estômago. Fui mesmo traída.
— Oscar, enviar todos os arquivos para a agente Delila Wilson, endereço de e-mail e número
de telefone na agenda. Enviar uma cópia para Joshua Howard com a seguinte mensagem: Seja rápido.
— Mensagem para Delila Wilson enviada. Mensagem para Joshua Howard enviada.
— Entrar em protocolo silencioso — falo e nesse momento a porta da minha sala se abre e
sinto todos os pelos da minha nuca se eriçarem.
Ashley coloca uma embalagem do Giordani’s na mesa e se senta na cadeira à minha frente.
Ela me olha de um jeito muito profundo. Tento soar natural, mas algo me diz que ela sabe que eu sei a
verdade.
— O cheiro tá bom... — falo, mas ela não desvia o olhar.
— Você sabe — Ashley declara. — É claro que sabe.
— Eu sei — decido acabar com a tentativa inútil de dissimular. Além do mais, quero saber o
motivo. — Só não sei o porquê.
— Então o Oscar finalmente está operacional.
— Quase — minto, mas ela não vai cair nessa. — Por que Ashley? Ou esse não é o seu
nome?
— Não, esse é mesmo o meu nome. Não ia ser fácil enganar sua segurança pra vir trabalhar
aqui.
— São dois anos. Dois anos tramando contra mim? O que foi que eu fiz?
— Você fez com que meu irmão fosse preso. Por sua causa ele foi condenado a prisão
perpétua sem direito à condicional.
Aceno em negativa, sem entender.
— Lembra do avião que caiu? Então...
— Seu irmão era do 2bhammer — concluo.
— Meu irmão era só um garoto e você destruiu a vida dele.
— Não destruí nada, Ashley, seu irmão é um criminoso e está pagando por tirar a vida de
centenas de pessoas. O FBI usou um programa de rastreio da minha empresa, não tive nada a ver com
isso, nem sei quem é o seu irmão.
Ashley levanta da cadeira e quando percebo ela está apontando uma arma pequena na minha
direção. Droga, espero que a agente Delila resolva dar as caras.
— A culpa é sua — ela anda pela sala. — E você vai pagar.
— Você é uma garota esperta, uma das hackers mais inteligentes que já vi, ainda dá tempo de
parar...
— Cala a boca!
Fico em silêncio e nisso Dylan vem à minha sala, entra sorrindo e falando algo sobre uma
ligação estranha da agente Wilson.
— Você também, cala a boca — Ashley aponta a arma para ele. Dylan estaca no lugar,
confuso.
— Dylan, apresento Andrômeda, a hacker que está me perseguindo e tentando destruir a
Faces.
— Puta merda! — ele diz e Ashley o encara de um jeito alucinado. Ela está perdendo o
— Eu sabia que você tinha conseguido. Você é a melhor black hat[2] que conheço. Se não fosse
assim eu já teria acabado com você.
— Não posso negar que você também é uma inimiga de respeito — tento distraí-la enquanto
Oscar aciona o protocolo que nos coloca a todos presos no prédio. Neste momento não há como as
pessoas saírem dos andares, nem acessar a rua ou assim como nós que ficamos enclausurados na
minha sala.
Claro que quando o programa for efetivo na rede e não apenas um protótipo, haverá um
código de emergência para liberação, mas por enquanto eu sou a única que tem esse poder.
meu plano.
Ela vai me matar.
— É só uma pena que você tenha que morrer também, Dylan — ela sorri, alternando apontar a
arma entre mim e ele.
Andrômeda, Ashley.
— Você é boa, mas nós somos melhores — digo, e Dylan sorri, empunhando a arma na
direção dela.
— E nós temos o Oscar — meu amigo e sócio fala, vitorioso. — Você tá ferrada!
Depois que a confusão diminui e o prédio é liberado por Oscar, conseguimos acalmar os
poucos funcionários que acharam que estavam presos em um prédio em chamas. A maioria está
encharcado e nós providenciamos para que sejam levados para casa com as despesas custeadas pela
empresa, bem como qualquer despesa de lavanderia e de quebra um bom jantar. É o mínimo depois
do susto.
A agente Wilson vem até mim depois de prender Ashley e deixar dois agentes cuidando da
hacker para que ela não escape. Com aquela ali não podemos dar mole. Wilson estica a mão na
minha direção, se desculpa por ter me prendido e confirma que as provas são suficientes para a
promotoria.
— Oscar, encaminhar a gravação da última hora na minha sala para a agente Delila Wilson —
aciono Oscar pelo celular. — O Oscar é um protótipo, então estive testando algumas coisas, você vai
receber em alguns minutos o áudio de tudo que aconteceu lá em cima, inclusive a confissão da
Ashley.
— Isso com certeza vai ajudar, obrigada.
— Espero que isso faça você largar do meu pé — resmungo e ela sorri.
— Talvez...
Olho para o lado assim que escuto meu nome. Josh. Minhas pernas amolecem no momento em
que ele passa os braços ao meu redor e me puxa para si. Nos beijamos, ele examina meu corpo e
checa se estou bem, apesar de estar encharcada ele não encontra nenhum hematoma e fica satisfeito.
— Josh, você pode me perdoar? — digo, aflita, morrendo de medo que ele diga que não.
— Você não devia ter me excluído. Estou possesso com isso.
— Eu não sabia mais o que fazer, quando vi as provas contra você eu soube que o Andrô... a
Andrômeda ia fazer qualquer coisa pra me atacar e isso inclui te prejudicar. Não podia deixar isso
acontecer.
— A Andrômeda?
— Sim, é Ashley.
— A secretária de cabelo vermelho?
— Ela mesma — suspiro, triste. — Nunca imaginei.
— Eu gostava dela, agora acho que quero fazer picadinho daquela nanica — ele resmunga, me
Ela ameaça ir tirar satisfação com Ashley, mas se dá por vencida quando vê o olhar todo
atirado de Dylan na sua direção. Pelo jeito como os dois trocam olhares e farpas durante a conversa,
não demoro a sentir que talvez mais um casal se forme no futuro. E se não acontecer, pelo menos os
dois podem se divertir um pouco, afinal são tão intensos e criativos, pode acabar saindo algo de bom
daí. Deixamos os dois ali no maior papo e saímos de fininhos.
— Preciso ir à sede do FBI depor amanhã à tarde — digo.
— Tudo bem, vou pedir que Edgar nos acompanhe.
Aceno, concordando.
— Acabou, não é? — Josh pergunta, a voz tensa.
— Acabou sim, Josh, com todas as provas que a agente Wilson tem, Ashley deve ficar muito
tempo presa.
— E o que nós faremos depois do depoimento?
— Bom, já podemos rever o nosso acordo e se você quiser já pode pedir o divórcio — digo.
— Pedir o divórcio? Você só pode estar brincando, passei um inferno nesses últimos dias.
Mila — ele pega meu rosto entre as duas mãos. — Eu acho que tá na hora de a gente rever nosso
acordo mesmo, porque um ano não é suficiente, acho que nem uma vida inteira vai ser suficiente.
Sorrio.
— Eu nunca me apaixonei de verdade, nunca amei ninguém antes — ele fala, os olhos verdes
muito sérios — Escuta bem, nerd. Eu amo você, amo muito e se você topar quero que o nosso acordo
siga sem data de validade, quero descobrir o que vem a seguir, descobrir como ser feliz com você, e
isso inclui encher a casa de crianças um dia.
— Eu topo — digo, porque sei que o amo como nunca amei ninguém.
— Então agora nós vamos sair em uma bendita lua de mel.
— Uhul! Havaí aí vamos nós.
Deito a cabeça no travesseiro e solto um suspiro longo e preguiçoso. Não quero levantar, ainda
não estou pronta para deixar o conforto da minha cama.
Uma fresta de luz escapa pela cortina e corta o quarto da casa do lago em dois, Scotty, meu
cão preguiçoso suspira no tapete.
Josh aparece na porta e sorri, seu cabelo bagunçado é ainda mais sexy e seu sorriso é como
um sol que resplandece e me enche de felicidade. Ele vem até a cama e se joga, o corpo musculoso
afundando do meu lado.
— Já fiz o café — diz e eu me escondo embaixo da coberta.
— Ainda não acordei — resmungo e Joshua gargalha.
Desde a prisão de Ashley, que aguarda o julgamento em total isolamento, e da nossa lua de
mel, temos alternado entre a cobertura em Manhattan e a casa do lago. É bom acordar aqui, ainda
mais quando tenho um despertador alto, musculoso e de lindos olhos verdes.
— Você tem duas opções, Camila Bitencourt Howard. A primeira é levantar por bem, tomar
café da manhã e depois cair na piscina. A outra é eu arrastar você para fora da cama, tomar café e
depois...
— Depois? — espio, esperando pela resposta, mas basta olhar para o rosto cheio de desejo
do meu amor que já sei exatamente o que ele pretende.
— Depois você vai ver — ele diz, pulando da cama e me arrastando pelos pés.
Rio alto, chacoalho as pernas e me debato, fazendo um pouco de drama e deixando-o ainda
mais primitivo, como ele fica sempre que decide bancar o machão.
Josh me joga nos ombros daquele jeito que deixaria qualquer garota furiosa, mas que acende
todos os lugares certos do meu corpo. Está me carregando para a cozinha quando meu celular toca.
Ele pega e me entrega e eu o atendo de cabeça para baixo mesmo, me obrigando a não rir.
Escuto e concordo com tudo o que é dito e finalizo a ligação com um agradecimento polido.
— O que foi? — Josh pergunta, me colocando sentada sobre a ilha.
— O acordo com o governo deu certo, sou oficialmente metade brasileira e metade
americana.
— Agora você já pode me dar um chute na bunda.
— Talvez mais tarde, por enquanto acho que prefiro fazer sexo de comemoração.
— Meu favorito — ele diz, me puxando para um beijo cheio de paixão.
— Tem mais uma coisa — digo, interrompendo as mãos bobas de Josh que já percorrem meu
corpo em busca de acesso. — Aceitei trabalhar com a agente Wilson em um caso de fraude fiscal. Já
que ela não consegue me recrutar, quer ao menos me usar como recurso de vez em quando.
— E o que você acha disso?
— Acho que vai ser divertido — sorrio e mordo o lábio inferior.
— O que foi que você aprontou, Blue? — Joshua pronuncia meu nome de hacker com um tom
delicioso e sexy.
— Nada, mas talvez... alguém pode ter enviado um pequeno presente pra ela.
— Presente?
— Uhum... — digo, me lembrando do quebra-cabeça digital que mandei e que no final das
contas vai formar a imagem de um homem sarado totalmente nu. Não quero nem imaginar a cara dela
e, profundos como estão, só aguçam ainda mais a vontade que tenho de me perder em seus beijos.
— Sabe o que eu pensei quando o vi pela primeira vez?
— O quê? — Josh curva as sobrancelhas, desconfiado.
— Que você era um cretino de pau grande.
disso, eu estava muito satisfeito com a vida que estava levando, apesar dos contratempos com a
imprensa.
E eu realmente não imaginei que chegaríamos a isso. O casamento pode ter sido uma armação
para fraudar um green card para Mila e garantir o uso do Oscar para nossa rede bancária e, nesse
sentido, deu tudo certo no fim das contas com Mila implementando o programa de segurança em
todos os seguimentos da Corporação Howard, o que não quer dizer que o resultado final não seja
verdadeiro.
Mila pode ter entrado na minha vida por conta de uma farsa, mas foi por amor que ela ficou. E
eu amo muito essa mulher, como nunca fui capaz de amar qualquer pessoa. Amo o jeito como morde
o canto do lábio quando me olha, desejando meu corpo, amo como estremece quando a toco, como
seus cabelos se esparramam pelo meu peito quando dormimos. Amo tudo, cada pedacinho seu e às
vezes chego a pensar que uma vida inteira não será suficiente para matar essa fome que tenho de
Mila.
A Corporação Howard é uma das mais importantes do país, a Faces é referência mundial em
segurança digital, o governo aprovou o green card de Mila e fechou um contrato milionário para
deter os direitos de uso exclusivo do programa Oscar. É claro que a única condição para isso,
imposta por Mila, foi de que minha empresa possa usar uma versão do programa e isso nos levou a
Minha brasileira está com um olhar atento, animada demais com o nosso plano. Acho que faz
sentido criar um mapa do tesouro para a nossa família, um enigma. Do mesmo jeito que me empenhei
em nossos enigmas, quando começamos a fingir nosso relacionamento ou depois, nos aniversários de
Mila e de casamento. São três anos e meio de muitos quebra-cabeças e códigos de computador.
Agora colocamos minha mãe, Linda, Edgar e Mary, e Dylan, que no fim não era tão babaca
assim e acabou virando meu amigo, à caça de um prêmio que acho que todos vão gostar.
Eles seguem as pistas com atenção, interagindo entre si e discutindo as opções. O Lago se
tornou nosso lar e nada mais justo do que revelar nosso grande mistério aqui. Scotty faz festa para
Linda, enquanto ela resmunga que Dylan não está ajudando a desvendar o mistério.
Esses dois pensam que não percebemos, mas Mila e eu já sabemos há um bom tempo que
estão juntos.
claro que o nosso cão fofoqueiro ajuda, levando-os direto ao ponto. Edgar percebe a terra remexida
e com ajuda de um galho começa a cavoucar o chão. Mary dá pulinhos de alegria quando encontram a
caixinha enterrada.
Sim, é uma caixa mágica, daquelas que você precisa acertar os pontos de pressão para que
abra. Você achou mesmo que nós facilitaríamos a vida desse pessoal? Não mesmo.
Mila entrelaça seus dedos aos meus.
— Estou nervosa — sussurra.
Beijo o alto da sua cabeça e passo meus braços ao seu redor. Minha vontade é de gritar para o
mundo todo o que estamos prestes a revelar, mas me contenho, porque nesse exato momento, eles
conseguiram abrir a caixa.
Minha mãe pega o que tem dentro da caixinha e ergue as sobrancelhas na minha direção. Um
par de sapatinhos de lã para pés minúsculos. Ela vem até nós quando Edgar começa a comemorar.
— É sério? — Minha mãe pergunta e Mila assente.
madrinha, vai ter que ensinar a criança, já está certa de que será uma menina. Não que nós nos
importemos com o sexo do bebê, na verdade, a felicidade que estou sentindo é tanta que Mila
poderia estar esperando um batalhão de pequenos Howard que eu não hesitaria.
Minha mãe coloca as mãos no ventre da minha esposa, emocionada. Mila sorri e eu me sinto
preenchido por um sentimento que nunca pensei que fosse capaz de sentir. Amor.
Com um olhar maroto, Mila declara:
— Agora você me deve aquele nu artístico.
Josh está sentado na beirada da cama, os olhos verdes sonolentos e o cabelo bagunçado. Quem
podia imaginar que nosso casamento de mentira ia se tornar a maior de todas as verdades da minha
vida, hein? E quem poderia dizer que eu seria capaz de amar tanto o magnata de pau grande que vivia
o amo de verdade, com todas as minhas forças. Amo o que temos e a família que ele me presenteou.
— Ei mamãe, olha só quem está morrendo de fome — Josh diz e me passa nossa menininha.
Scotty pula na cama e cheira os pezinhos da bebê, Josh faz um carinho no nosso cão, elogiando
o quanto ele se preocupa com nossa filhinha. Se existe felicidade maior do que essa, jamais serei
capaz de descobrir.
Ajeito Alexandra no meu colo e ela gruda no peito, como se estivesse mesmo morrendo de
fome, nem parece que mamou há pouco. Com certeza puxou o pai nesse sentido.
E o pai da minha menininha me olha com admiração e amor e eu sei de todo meu coração que,
Joshua Howard pode não ser um dos mocinhos dos livros que eu leio, mas ele é meu e eu sou dele. E
isso é tudo que importa.
“Nasce segundo filho do casal mais queridinho da América, Brendan é o nome divulgado
pela RP da família, Linda Howard. Segundo declaração da titia, o menino nasceu saudável e tanto
mãe quanto filho já estão em casa” (Harold Tribune).
“Quadro pintado pela matrona da família Howard, Martha, é vendido em leilão exclusivo
por U$125 mil dólares. A imagem de rosto desfocado é de uma mulher seminua, gestante. Boatos
dizem que a modelo foi a própria nora da artista plástica, Camila Bitencourt Howard, mas
ninguém na família confirmou ou negou” (NY Post).
“Agente especial Delila Wilson recebe condecoração por maior prisão da década. Usando
de recursos tecnológicos, ela e sua equipe deflagaram uma operação que inativou o grupo de
perigosos hackers conhecidos como 2BHammer”.
A seguir reservei um bônus especial do meu próximo lançamento. Em breve estará disponível
na Amazon o livro Amigo Virtual. Embora sejam temáticas parecidas, as duas obras são
independentes. Espero que aprecie.
Esmurro a parede com toda a força. Enzo faz a mesma coisa do outro lado do escritório, mas
solta um chiado de dor logo em seguida. Nada disso provoca qualquer reação na nonna. Ela está
irredutível.
— Nonna, pelo amor de Deus, de onde a senhora tirou um absurdo desse? — digo, sentando no
sofá e esfregando o rosto.
— Absurdo nenhum mio ragazzo, absurdo é o chefe desta família não ter raízes. Raízes,
Filippo, são o que tornam um homem de negócios responsável e respeitável. — A nonna cruza os
braços sobre o peito, os olhos pequenos e muito azuis escapando por cima dos óculos.
— Nonna, eu tenho raízes, tenho a senhora, o Enzo, a família toda.
— É, mas não tem uma esposa e filhos.
— Nonna, noninha que eu amo, por favor... — Enzo vai até nossa avó e esfrega os baços dela.
— Enzo, mio menino, entenda de uma vez por todas. O responsável por uma família inteira, por
todos os nossos negócios, tem que ter um elo mais forte pra colocar juízo em sua cabeça na hora de
tomar as decisões. O elo do coração, é ele que faz com que se pense antes de fazer uma grande
burrada. Sempre foi assim na nossa família, sempre funcionou... veja o que temos... tudo conquistado
por homens que zelaram pelos seus. Nossa tradição tem que ser mantida pelo bem da família.
— Mas nonna, alguma vez já a desapontei? — resmungo, numa tentativa emocional de fazê-la
— Filho mio — minha avó me chama de volta quando já estou perto da porta. — Vem aqui
filho mio.
Volto para perto da nonna, ela pega minhas mãos e me faz sentar ao seu lado no sofá outra vez.
— Non fica bravo com sua nonna, por favor.
— Não to bravo, nonna.
— Entenda, sua avó é velha, logo me vou desse mundo. Preciso deixar você e o seu irmão
encaminhados.
— Não fala uma coisa dessas, nonna. A senhora vai viver muito tempo ainda.
—Non, ragazzo mio, non muito mais. Por favor, bota cabeça no lugar, esta velha nonna precisa
disso.
— Ta bom, nonna. A senhora venceu. Vou arrumar uma noiva.
Oi!
Espero que você tenha gostado de Green Card, sei que a Mila e o Josh são muito
temperamentais, mas admito que tenho um verdadeiro xodó por essa dupla.
Em breve vou lançar Amigo Virtual, como você deve ter visto no bônus especial que deixei
algumas páginas atrás.
Embora sejam histórias com temáticas bem próximas (uniões nada convencionais), os
personagens, cenários e conflitos se diferenciam muito e acho que você vai gostar de conhecer a
Alice, o Enzo e o Filippo, nossos dois tchutchucos italianos e a ruiva boa de briga que vai bagunçar a
vida deles. Ah, e não podemos esquecer da nonna Allegra. Essa avó querida que vai tumultuar tudo.
Fique atento, logo eles estarão aí.
Se quiser acompanhar mais sobre os lançamentos e tudo que rola nos bastidores da minha
escrita criativa, venha interagir comigo em:
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Graci Rocha é escritora de romances e fantasia. Escreve desde menina, mas decidiu se
profissionalizar em 2012, depois que uma gestação de alto risco a colocou de pernas para o ar,
literalmente. Participou de concursos literários e foi premiada em alguns, além de ter participado de
antologias de contos e publicações como autora convidada.
Mora em Santa Catarina com a família e divide seu tempo entre criar personagens
arrebatadores e viajar para dentro dos livros que lê. Tem 8 livros publicados, incluindo um guia para
escritores iniciantes que ainda estão desenvolvendo seu processo criativo.
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Black hat é um hacker que realiza proezas e viola a segurança de computadores para obter lucros ou por malícia.