Guidelines Opp Psicologia Ehealth

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Linhas de Orientação para a Prestação de Serviços de

Psicologia Mediados por Tecnologias da Informação e


da Comunicação (TIC)

Proposta do Grupo de Trabalho em Psicologia e eHealth da Ordem dos Psicólogos


Portugueses

Renato Gomes Carvalho (CP 111) (Coord.)


Ana Dias da Fonseca (CP 12369)
Artemisa Rocha Dores (CP 1610)
Cristina Mendes Santos (CP 13914)
João Batista (CP 9466)
João Salgado (CP 4956)
Marlene Sousa (CP 11344)

Porto, 2019

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Sumário Executivo

O surgimento de múltiplas ferramentas digitais e a possibilidade de prestação de


serviços de psicologia mediados por tecnologias da informação e da comunicação (TIC)
contribuíram para uma transformação do panorama da prestação de cuidados de saúde. A
Organização Mundial de Saúde (2005) define eHealth como a utilização rentável e segura
das TIC para apoiar os diferentes aspetos relacionados com os cuidados de saúde,
incluindo os serviços de saúde, a vigilância, a educação, bem como o conhecimento e a
investigação. Assumindo que as/os psicólogas/os e a psicologia como ciência e profissão
têm um papel relevante no domínio da eHealth e que, por isso, importa discutir a prática
neste domínio e promover a excelência profissional, a Ordem dos Psicólogos Portugueses
(OPP) apresenta, neste documento, um enquadramento e um conjunto de Linhas de
Orientação para a Prática Profissional (LOPP) das/os psicólogas/os que prestem serviços
de psicologia mediados por TIC. Estas LOPP resultam da ação do Grupo de Trabalho da
OPP em Psicologia e eHealth e correspondem a um conjunto de recomendações para a
conduta profissional nesta área, tendo como objetivo promover o desenvolvimento da
profissão, o autocuidado das/os profissionais e a prestação de serviços de elevada
qualidade à comunidade.
As presentes LOPP foram desenvolvidas tendo por base o princípio geral de que a
natureza do contexto de intervenção (presencial ou online, síncrono ou assíncrono) não
altera a obrigatoriedade de cumprimento dos princípios e orientações éticas da profissão,
pelo que, também no domínio da eHealth, as/os psicólogas/os devem respeitar o Código
Deontológico da OPP. Num plano específico, as LOPP assinalam a importância do
conhecimento e da competência das/os psicólogas/os na utilização de TIC e abordam as
questões relacionadas com a identificação da/o psicóloga/o e da/o cliente, com a
integridade e os limites da relação, e com o consentimento informado em serviços de
psicologia mediados por TIC. São também exploradas as questões de confidencialidade e
de segurança de dados que derivam da utilização de TIC na intervenção, assim como
aspetos legais e de jurisdição. Considerando os múltiplos contextos de ação das/os
psicólogas/os, são ainda apresentadas recomendações relativas à avaliação psicológica, à
intervenção com populações específicas, à participação das/os psicólogas/os no
desenvolvimento de ferramentas digitais, à intervenção em crise e à investigação.
Relativamente a estas duas últimas dimensões, são apresentadas LOPP mais específicas
em anexo. É também apresentado em anexo um resumo do conteúdo de cada uma das
dimensões que caracterizam estas LOPP.

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Índice

Introdução ............................................................................................................................... 4
Serviços de Psicologia Mediados por TIC ............................................................................... 6
Enquadramento das Linhas de Orientação ........................................................................... 11
Princípios Gerais ................................................................................................................... 15
Linhas de Orientação para a Prática Profissional ................................................................. 16
Cumprimento dos Princípios Éticos e Deontológicos da Profissão ................................... 16
Conhecimento e Competência .......................................................................................... 16
Identificação da/o Psicóloga/o e da/o Cliente .................................................................... 17
Integridade e Limites da Relação ...................................................................................... 18
Consentimento Informado ................................................................................................. 18
Confidencialidade e Segurança no Registo e Transmissão de Dados .............................. 20
Aspetos Legais e de Jurisdição ......................................................................................... 22
Avaliação Psicológica ........................................................................................................ 23
Investigação ....................................................................................................................... 24
Intervenção em Situações de Crise e Catástrofe .............................................................. 24
Intervenção com Populações Específicas ......................................................................... 25
Desenvolvimento de Ferramentas Digitais de Intervenção ............................................... 25
ANEXO A - Linhas de Orientação Específicas para a Realização e Relato de Investigação
em Psicologia e eHealth ........................................................................................................ 27
ANEXO B - Linhas de Orientação Específicas para a Intervenção em Situações de Crise . 35
ANEXO C - Resumo de Conteúdo das LOPP* ..................................................................... 37
Referências ........................................................................................................................... 40

3
Introdução

A inovação tecnológica e a revolução digital que estamos a viver no mundo


contemporâneo abriram possibilidades em vários domínios sociais, económicos e
profissionais, com implicações importantes para a intervenção profissional e para a própria
organização das profissões. A intensidade e a rapidez das transformações que se estão a
verificar com a digitalização fazem com que as pessoas tenham hoje acesso a produtos e
serviços diversificados, e em muitos casos personalizados, incluindo na área dos cuidados
de saúde e da psicologia. Com efeito, o aparecimento de múltiplas ferramentas digitais e a
possibilidade de prestação de serviços de psicologia mediados por tecnologias da
informação e da comunicação (TIC) contribuíram para uma transformação do panorama da
prestação de cuidados de saúde psicológica, numa trajetória que se intensificará nos
próximos anos.
A área da eHealth tem sofrido uma crescente expansão nos últimos anos. Apesar
de muitas definições terem sido propostas, não existe ainda uma que reúna totalmente o
consenso, ou que indique de modo claro o que pode ser incluído ou excluído do seu âmbito
(Showell & Nohr, 2012). Numa revisão sistemática da literatura sobre este tópico, Oh, Rizo,
Enkin e Jadad (2005) concluíram que a ausência de uma definição consensual de eHealth
tem subjacente a compreensão tácita do seu significado, embora a existência de uma
definição universal seja apontada como uma necessidade para melhorar a comunicação
entre os muitos interlocutores que utilizam este tipo de ferramentas. Em 2001, Eysenbach
propõe uma definição do conceito de eHealth, definindo-o como um campo emergente da
interseção entre os campos da informática médica, da saúde pública e do
negócio/comércio, que inclui os serviços e informações de saúde fornecidos ou facilitados
através da internet e tecnologias relacionadas (G. Eysenbach, 2001). Em 2005, a
Organização Mundial de Saúde definiu eHealth como a utilização rentável e segura das TIC
para apoiar os diferentes aspetos relacionados com os cuidados de saúde, incluindo os
serviços de saúde, a vigilância, a educação, bem como o conhecimento e a investigação
(WHO, 2005). De forma geral, as diferentes definições de eHealth apontam para a utilização
da tecnologia – nomeadamente as TIC, que são uma combinação de tecnologias da
informação (e.g., computadores e dispositivos relacionados) com as telecomunicações
digitais (que incluem, por exemplo, os telefones, a internet, e outros dispositivos de rede) –
para a prestação de cuidados em saúde.
A inovação tecnológica possibilita um acesso mais efetivo a serviços de saúde,
incluindo de psicologia, sobretudo no caso de clientes que se encontrem limitados por
questões de localização geográfica, condição física, restrições financeiras ou outras

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barreiras. Não obstante, as vantagens da sua utilização não se esgotam na conveniência
geográfica ou nas circunstâncias instrumentais; o recurso às TIC não é apenas uma forma
de compensar potenciais limitações nem está circunscrito à sua utilização de forma
complementar. A evolução do conhecimento, da investigação e, mais especificamente, dos
estudos de custo-efetividade das intervenções em psicologia e na saúde tem levado à
discussão sobre a amplitude do seu papel no quadro da prestação de cuidados de saúde e
de saúde psicológica, quer em termos das suas potencialidades, quer das suas possíveis
limitações e riscos, sobretudo em determinados quadros clínicos. Em suma, o debate
científico e profissional não está somente colocado ao nível da utilidade e conveniência das
tecnologias para suprir determinadas situações específicas, mas remete também para a
definição do papel transversal que as tecnologias podem ter na prestação de serviços, não
como exceção ou alternativa de recurso, mas como fazendo parte integrante e natural dos
mesmos.
Reconhecendo que, por um lado, a transformação tecnológica trouxe formas de
intervenção e ferramentas que devem ser colocadas ao serviço das pessoas e do
desenvolvimento da sociedade, e que, por outro lado, importa discutir o impacto na prática
profissional e mitigar potenciais riscos, a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) tem
desenvolvido um conjunto de iniciativas neste domínio. Além da produção de informação e
de criação de espaços de debate sobre o papel das tecnologias na prática profissional
das/os psicólogas/os, de colaboração com instituições e integração em equipas de trabalho
sobre este tema no âmbito da interface entre associações profissionais europeias e
mundiais (e.g., Federação Europeia das Associações de Psicólogos, American
Psychological Association), a OPP constituiu um Grupo de Trabalho em Psicologia e
eHealth, cuja missão envolveu a discussão sobre a intervenção psicológica mediada por
TIC e a definição de linhas de orientação para a prática profissional das/os psicólogas/os
que recorram a TIC na sua intervenção.
No presente documento, são apresentados um enquadramento conceptual e um
conjunto de Linhas de Orientação para a Prática Profissional (LOPP) das/os psicólogas/os
que intervenham ou prestem serviços de psicologia mediados por TIC. Face a algumas
especificidades, nomeadamente relativas à investigação e à intervenção em situações de
crise e de emergência clínica, são também providenciadas linhas de orientação mais
adaptadas (em anexo).

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Serviços de Psicologia Mediados por TIC

A utilização da eHealth no contexto da Psicologia tem sido alvo de interesse e de


investigação crescentes, apesar de esta área sofrer, tal como o campo mais vasto da
eHealth, de escassez de padrões definidos, bem como de pouca sistematização de
metodologias e conceitos (Barak, Klein, & Proudfoot, 2009). Neste contexto, a utilização das
TIC para prestar serviços de psicologia tem sido designada por diferentes terminologias,
como, por exemplo, eMental health, telepsicologia, ciberterapia, e-terapia, intervenções
mediadas pelo computador/pela web, terapia/aconselhamento online, entre outros. Estes
conceitos têm sido utilizados como sinónimos e de forma indiferenciada para designar o
campo mais vasto de utilização da eHealth no contexto da Psicologia, apesar de alguns
destes termos representarem apenas subcampos ou ferramentas específicas.
Neste documento, utilizaremos a designação mais vasta de Serviços de Psicologia
Mediados por TIC, para descrever o recurso às TIC para prestar serviços de Psicologia,
sendo que, como apresentado na Figura 1, são distinguidas as ferramentas disponíveis no
âmbito das diferentes modalidades de intervenção.

Figura 1. Serviços de psicologia mediados por TIC: ferramentas e modalidades de intervenção.

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Assim, de forma geral, os serviços de psicologia mediados por TIC podem incluir
diferentes tipos de ferramentas:

1. Instrumentos de avaliação (neuro)psicológica computorizados/online

São instrumentos de avaliação (neuro)psicológica administrados com recurso a um


software, que pode ou não estar disponível online (administração online vs. administração
computorizada, respetivamente) (Barak & English, 2002; Green, 1991). Alguns dos
instrumentos de avaliação (neuro)psicológica administrados de forma computorizada/online
são uma adaptação da mesma versão do instrumento em formato “papel-e-lápis”, enquanto
outros são originalmente desenvolvidos neste formato de administração.
Independentemente da forma como são aplicados, as propriedades psicométricas dos
instrumentos devem ser previamente estabelecidas (Ritterband, Andersson, Christensen,
Carlbring, & Cuijpers, 2006). Existe ainda um outro formato de administração – Teste
Adaptado Computorizado (CAT), que é uma abordagem para a avaliação que adapta a
administração do teste às características do utilizador, selecionando os itens do teste (em
termos de dificuldade e número de itens) de acordo com um determinado critério de seleção
e considerando as respostas anteriores do utilizador. Neste caso, o utilizador não responde
a todos os itens do instrumento, tornando o processo de avaliação mais eficiente e preciso
(Segall, 2005).

2. Meios de comunicação à distância: videoconferência, telefone, chat ou email


O fornecimento de serviços de psicologia pode ser realizado através de meios
tecnológicos de informação e comunicação, nomeadamente videoconferência, telefone,
email ou mensagens instantâneas (chat), permitindo a comunicação remota (ou à distância)
entre psicólogas/os e as/os suas/seus clientes. Esta comunicação pode ocorrer de forma
síncrona (com as partes – terapeuta e cliente – a comunicar em tempo real; e.g.,
videoconferência, telefone) ou assíncrona (e.g., email, chat). Podem ainda ser combinados
diferentes meios tecnológicos (e.g., videoconferência e email), com diferentes propósitos.

3. Programas de intervenção (neuro)psicológica computorizados ou mediados


pela web
Estes programas de intervenção (neuro)psicológica são operacionalizados e
programados para o formato computorizado (se acessível offline) ou online (Mohr, Burns,
Schueller, Clarke, & Klinkman, 2013). Os programas de intervenção psicológica têm
habitualmente como objetivos: 1) promover o conhecimento, a consciência e a
compreensão acerca de uma situação ou problema específicos (e.g., condição de saúde

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física ou mental) – quando esse é o objetivo principal, estamos perante intervenções de
natureza educativa; e/ou 2) potenciar a mudança terapêutica no utilizador (e.g., a nível
cognitivo, emocional e/ou comportamental) (Barak et al., 2009). Estes programas incluem
habitualmente as seguintes componentes: a) informação didática; b) opções multimédia
(e.g., figuras/gráficos, animações, vídeos); c) ferramentas interativas (apoiam a
aprendizagem do conteúdo através de experiências interativas, como ferramentas de
autoavaliação e automonitorização); d) ferramentas de feedback (permitem obter
informação sobre o seu progresso); e f) ferramentas de apoio/orientação, que pode ser
inexistente (programa completamente autoguiado) ou incluir um elevado nível de
apoio/orientação; o apoio/orientação pode ser gerado por programação automática ou com
recurso a suporte por parte de profissionais/técnicos (Barak et al., 2009; Ritterband et al.,
2006). Pelo facto de poderem ser acedidos através de diferentes dispositivos (e.g.,
computador, tablet, smartphone), o desenvolvimento deste tipo de programas pode recorrer
à utilização de design responsivo (isto é, adaptação do layout e da apresentação de
conteúdos aos diferentes dispositivos). Além disso, para facilitar o envolvimento do
utilizador com a plataforma/programa, podem ser utilizadas estratégias de gamificação, que
correspondem à utilização de elementos do design de jogos, especialmente dos videojogos,
em contextos da vida real e tendo em vista a mudança de comportamento. Estas
estratégias de design responsivo e gamificação podem ser utilizadas no desenvolvimento
de outras ferramentas, como os dispositivos móveis.

4. Dispositivos Móveis
Os serviços de psicologia também podem ser baseados ou apoiados em dispositivos
móveis, como telemóveis (smartphones), dispositivos de monitorização pessoal, assistentes
digitais pessoais (PDA) e outros dispositivos sem fio. As aplicações para dispositivos
móveis (apps) podem ser desenvolvidas com fins de avaliação clínica, monitorização de
sintomas, informação/psicoeducação, avaliação do progresso do tratamento, treino de
competências e comunicação bidirecional com o terapeuta (Luxton, McCann, Bush,
Mishkind, & Reger, 2011). Uma tendência crescente da utilização deste tipo de ferramentas
diz respeito à monitorização das/os clientes em tempo real, já que estes dispositivos
permitem a obtenção de uma variedade de dados (comportamentais – e.g., rotinas diárias;
emocionais – e.g., estado de humor; fisiológicos – e.g., atividade cardíaca, padrões de
sono) em tempo real de forma sofisticada, passiva e não-invasiva, o que potencialmente
poderá melhorar a sensitividade e fiabilidade da monitorização da/o cliente em contexto
clínico (Gagglioli & Riva, 2013; Mohr, Burns, et al., 2013).

5. Jogos sérios / Jogos terapêuticos computorizados/online

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São jogos desenvolvidos com os princípios do design de jogo interativo, com o
objetivo de transmitir conteúdo educacional, treinar competências ou promover a mudança
comportamental, ao mesmo tempo que têm uma componente de entretenimento para o
utilizador. Os jogos terapêuticos incluem jogos computadorizados (offline), bem como jogos
terapêuticos online (Fleming et al., 2017; Lau, Smit, Fleming, & Riper, 2017; Mohr, Burns, et
al., 2013).

6. Ambientes de realidade virtual


Consiste na utilização de ambiente de realidade virtual 3D (incluindo computação
gráfica em tempo real, sons e outros inputs sensoriais) com o qual o utilizador pode interagir
(explorar e navegar), como se estivesse fisicamente imerso no ambiente representado. As
aplicações clínicas dos ambientes de realidade virtual têm sido particularmente usadas no
tratamento de perturbações de ansiedade (e.g., fobias específicas; baseadas no princípio
da exposição) ou para a avaliação e reabilitação cognitiva (Gregg & Tarrier, 2007). Mais
recentemente, têm sido desenhados ambientes de realidade virtual disponíveis através da
internet, permitindo às/aos terapeutas partilhar o espaço virtual com as/os suas/seus
clientes (Barak et al., 2009; Mohr, Burns, et al., 2013). Esta partilha de espaço virtual pode
ocorrer via avatars – personagens virtuais que cada cliente pode customizar para
representar a sua identidade ou que representam uma personagem com o qual a/o cliente
pode interagir (e.g., a/o terapeuta, outra pessoa). Este segundo formato pode ser
particularmente útil para o treino de competências sociais (Rehm et al., 2016).

7. Tecnologia robótica aplicada à saúde (mental)


Consiste na utilização de tecnologia robótica (robots desenhados especificamente
para fins terapêuticos, nomeadamente para treino de comunicação e assistência nas
atividades de vida diária) para apoio na prestação de cuidados de saúde (mental). Tem sido
particularmente utilizada no contexto da perturbação do espetro do autismo e da demência
(Riek, 2015).

Estas ferramentas deverão ser sempre devidamente enquadradas de modo


adequado numa intervenção psicológica sustentada em resultados empíricos que apoiem a
sua utilização. O seu uso poderá percorrer potencialmente todo o espetro da intervenção
psicológica. Salientamos as seguintes possibilidades de uso: a) no screening/rastreio,
avaliação e monitorização; b) na provisão de informação (psicoeducação); c) na intervenção
psicológica (incluindo a promoção da saúde geral e mental, prevenção, tratamento,
manutenção e prevenção da recaída, ou reabilitação); e d) o apoio social (e.g., grupos de
discussão) (Lal & Adair, 2014). Sem sermos exaustivas/os, identificamos os seguintes

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grandes grupos de modalidades distintas de fornecimento de serviços de psicologia
mediados por TIC:

A. Telepsicologia/ Psicoterapia ou Aconselhamento Online (por videoconferência,


telefone, chat ou email)
Consiste no fornecimento de serviços de aconselhamento ou psicoterapia através de
meios tecnológicos de informação e comunicação, nomeadamente videoconferência,
telefone, email ou mensagens instantâneas (chat). A provisão destes serviços pode ocorrer
de forma síncrona (com as partes – terapeuta e cliente – a comunicar em tempo real; e.g.,
videoconferência, telefone) ou assíncrona (e.g., email, chat). Podem ainda ser combinados
diferentes meios tecnológicos (e.g., videoconferência e email), com diferentes propósitos.
Nestes casos, o processo terapêutico é estruturado à semelhança da terapia face-a-face e
conduzido pela/o profissional (terapeuta), mas tem de ser adaptado ao tipo de pistas
comunicacionais recebidas (Barak et al., 2009; Mohr, Burns, et al., 2013). Especificamente,
a condução do processo terapêutico pode ocorrer de forma síncrona (comunicação em
tempo real entre terapeuta e cliente, e.g., videoconferência) ou assíncrona (e.g., por email,
chat) ou, ainda, conjugando os dois formatos com diferentes propósitos (e.g.,
videoconferência e chat).

B. Intervenção psicológica com recurso a programas de intervenção


(neuro)psicológica computorizados ou mediados pela web
A intervenção psicológica baseada em programas de intervenção computadorizados
tem habitualmente a designação em inglês de Internet-delivered interventions, Web-based
Psychological Interventions ou ainda eTherapy (quando online) ou de Computorized
Psychological Interventions (quando offline). As intervenções deste tipo são frequentemente
do tipo clínico e psicoterapêutico. Desejavelmente deverão ser assentes em protocolos
terapêuticos estruturados e baseados na evidência empírica. O seu formato de aplicação
também varia num conjunto diferente de variáveis (e.g., possibilidade e tipo de contacto
com a/o psicóloga/o). Uma das distinções importantes neste domínio consiste no grau de
apoio dado à/ao cliente durante a intervenção, variando entre os seguintes formatos:
intervenção com grau mínimo de apoio e sem contactos pessoais (formato não-guiado);
intervenção com apoio regular pela/o psicóloga/o (e.g., contacto telefónico semanal e
possibilidade de troca de mensagens escritas); e intervenção “combinada” (blended em
inglês) onde são realizadas consultas presenciais face-a-face intermediadas por sessões
através de um computador (online ou offline).

C. Intervenção psicológica mediada por dispositivos móveis

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As intervenções com recurso a este tipo de tecnologia podem variar nos seus alvos
e objetivos e estão também dependentes das características das aplicações móveis em
causa. Algumas das aplicações existentes estão integradas na intervenção psicológica com
recurso a programas de intervenção (neuro)psicológica computadorizados ou mediados
pela web ou como meio de apoio a formas mais tradicionais de fornecimento de serviços
(e.g., como apoio a psicoterapia realizada presencialmente).

D. Grupos de apoio online


São comunidades virtuais (entre pares) facilitadas por meios eletrónicos (e.g., fóruns
de discussão, chat rooms, mailing lists), onde as pessoas com interesses comuns se
reúnem virtualmente para partilhar experiências, colocar questões, ou para proporcionar
apoio emocional mútuo. As comunidades virtuais podem ser moderadas (facilitadas por um
moderador, que pode ser ou não profissional, que responde a questões e filtra mensagens
de conteúdo inadequado) ou não moderadas. Podem ainda ter um formato síncrono
(comunicação em tempo real) ou assíncrono (G. Eysenbach, Powell, Englesakis, Rizo, &
Stern, 2004).
Destacamos, ainda, outras possibilidades em que as ferramentas digitais e de
comunicação são importantes na intervenção das/os psicólogas/os, tais como apoio a
situações de crise e prevenção de suicídio, apoio a problemas duradouros de saúde mental
e psicoeducação para promoção da saúde. Refira-se, aliás, que toda e qualquer área de
intervenção da psicologia poderá beneficiar da introdução deste tipo de tecnologias, tal
como acontece com todas as áreas da vida social quotidiana, pelo que qualquer listagem
será sempre meramente ilustrativa e nunca exaustiva.

Enquadramento das Linhas de Orientação

A utilização de TIC na intervenção psicológica tem acontecido frequentemente em


complementaridade aos serviços presenciais (e.g., leitura de materiais psicoeducativos
online após uma sessão terapêutica face-a-face), mas também como via única de acesso à
intervenção psicológica (e.g., programas de intervenção computorizados ou mediados pela
web). Nos últimos anos, diversos ensaios aleatorizados e controlados, revisões sistemáticas
e meta-análises têm vindo a ser publicados evidenciando a eficácia e efetividade das
intervenções psicológicas mediadas por TIC (Andersson, 2016; Andersson & Cuijpers,
2009; Barak, Hen, Boniel-Nissim, & Shapira, 2008; Olthuis, Watt, Bailey, Hayden, & Stewart,
2016; Richards & Richardson, 2012).

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Nestes trabalhos, tem-se verificado que estas são mais eficazes do que o tratamento
habitual e tão eficazes como as intervenções face-a-face para o tratamento de um grupo
alargado de alterações no funcionamento e perturbações psicológicas, nomeadamente a
perturbação de ansiedade generalizada (Andersson et al., 2012; Per Carlbring et al., 2011;
Paxling et al., 2011), a ansiedade social (P. Carlbring et al., 2007; Mansson et al., 2015), a
perturbação de pânico (Hedman et al., 2013; Spence et al., 2011), a perturbação de stress
pós-traumático (Ivarsson et al., 2014), o stress (Kien Hoa Ly, Asplund, & Andersson, 2014;
Zetterqvist, Maanmies, Strom, & Andersson, 2003), a depressão (Andersson et al., 2013; T.
Berger, Hämmerli, Gubser, Andersson, & Caspar, 2011; Per Carlbring et al., 2013; K. H. Ly,
Carlbring, & Andersson, 2012; Mohr, Duffecy, et al., 2013; O'Mahen et al., 2014; Perini,
Titov, & Andrews, 2009; Ruwaard et al., 2009; Vernmark et al., 2010; Wagner, Horn, &
Maercker, 2014), o perfecionismo (Arpin-Cribbie, Irvine, & Ritvo, 2012), o sofrimento
associado à infertilidade (Haemmerli, Znoj, & Berger, 2010), as perturbações do
comportamento alimentar (Loucas et al., 2014) e a procrastinação (Rozental, Forsell,
Svensson, Andersson, & Carlbring, 2015).
Além disso, as intervenções psicológicas mediadas por TIC também se têm revelado
eficazes na promoção da adaptação a uma série de doenças físicas, em que se incluem a
dor crónica (Buhrman, Faltenhag, Strom, & Andersson, 2004), o tinnitus (Andersson,
Stromgren, Strom, & Lyttkens, 2002), as perturbações de sono (Blom et al., 2015), o
síndrome do cólon irritável (Ljótsson et al., 2011), a diabetes (Hadjiconstantinou et al., 2016;
Kitsiou, Paré, Jaana, & Gerber, 2017) e o cancro (Agboola, Ju, Elfiky, Kvedar, & Jethwani,
2015; Kim & Park, 2015; Kuijpers, Groen, Aaronson, & van Harten, 2013; McAlpine, Joubert,
Martin-Sanchez, Merolli, & Drummond, 2015; Ryhänen, Siekkinen, Rankinen, Korvenranta,
& Leino-Kilpi, 2010). O custo-efetividade deste tipo de intervenções tem sido também alvo
de avaliação. Uma revisão sistemática recente concluiu que as intervenções psicológicas
mediadas por TIC são custo-efetivas, quando comparadas com intervenções em grupo e
grupos de controlo em lista de espera (Donker et al., 2015).
A prestação de serviços mediados por TIC apresenta diversas vantagens quando
comparada com as intervenções face-a-face ou quando associada a este tipo de
intervenções, designadamente: (1) acessibilidade (estando ao alcance de uma grande parte
da população, particularmente, a indivíduos a residir em áreas rurais ou remotas, ou a
indivíduos cuja sintomatologia ou condição física se traduza em dificuldades de mobilidade
ou cujo ambiente hospitalar/clínico acarrete associações negativas que os impedem de
receber os cuidados de que necessitam); (2) flexibilidade e conveniência (permitindo o
acesso assíncrono aos cuidados de saúde, não dependendo do horário de funcionamento
das unidades de saúde ou da disponibilidade de profissionais de saúde, eliminando tempos
de espera e evitando deslocações que podem ser dispendiosas); (3) elevada adaptabilidade

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(o conteúdo dos programas de intervenção e a forma como estes são apresentados podem
ser facilmente adaptados às necessidades e limitações dos seus utilizadores); (4) a
estandardização e estrutura dos conteúdos (garantindo a fidelidade do programa de
tratamento e diminuindo o impacto das competências da/o psicoterapeuta nos resultados do
mesmo); (5) ritmo de utilização autodeterminado (as/os utilizadoras/es podem utilizar o
programa de intervenção de acordo com a sua conveniência e rever os seus conteúdos
quando necessário, o que facilita a retenção e a aprendizagem dos conceitos e técnicas
apresentadas); (6) monitorização integrada do tratamento (a adesão e o progresso
terapêutico podem ser facilmente monitorizados através da integração de questionários
online, testes adaptados, pontuação automática e ferramentas de visualização dos
resultados obtidos pelos utilizadores); (7) promoção da autoeficácia e empoderamento
das/os utilizadoras/es; (8) privacidade e possibilidade de anonimato (contornando o possível
estigma associado ao acesso a cuidados psicológicos); (9) tradutibilidade e adaptabilidade
cultural; 9) baixo custo associado à prestação de serviços e elevado potencial de
disseminação (um mesmo programa pode ser implementado em diversas unidades de
saúde, prevenindo a duplicação de recursos e facilitando o treino e a supervisão)
(Andersson, 2016; Andersson & Titov, 2014; Per Carlbring & Andersson, 2006; Schröder,
Berger, Westermann, Klein, & Moritz, 2016; Wolvers, Bruggeman-Everts, Van der Lee, Van
de Schoot, & Vollenbroek-Hutten, 2015).
Simultaneamente, a utilização de TIC na intervenção psicológica poderá apresentar
ainda um conjunto de desafios e limitações que merecem ser ponderados (Andersson &
Titov, 2014; Schröder et al., 2016), nomeadamente a falta de acesso a um computador ou
dispositivos móveis, a baixa literacia informática e a inacessibilidade à internet; os
problemas tecnológicos associados ao login, download ou decorrentes de ligações lentas;
uma possível atitude negativa por parte das/os utilizadoras/es ou das/os profissionais de
saúde face à intervenção psicológica mediada por TIC; as questões relativas à segurança,
privacidade e confidencialidade que decorrem da utilização de TIC, incluindo mecanismos
de gravação e rastreio das comunicações ou o acesso indevido por terceiros ao conteúdo
das intervenções. Além disso, a escassez de legislação relativa à prestação de serviços e,
particularmente aos serviços de psicologia mediados por TIC, coloca dificuldades de
regulação e de mitigação de riscos relacionados com a qualidade dos serviços e com a
credibilidade das intervenções. A facilidade de acesso e transação instantânea de
mensagens poderá desafiar a integridade da relação, as fronteiras profissionais e as
expetativas dos seus utilizadores, por exemplo, da/o cliente em relação à prontidão de
resposta da/o psicólogo às suas solicitações. Por fim, não obstante as crescentes
evidências relativamente à eficácia de diversos serviços de psicologia mediados por TIC, é
necessária mais investigação que permita informar e validar a utilização de novas

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ferramentas e programas de prestação de serviços de saúde psicológica, produzindo dados
sobre a sua eficácia e resultados terapêuticos.

Assim, considerando as particularidades, desafios e potencialidades da utilização de


TIC na intervenção psicológica e, particularmente, que:

(1) estão a ocorrer transformações significativas na sociedade, no quadro da


digitalização e da amplificação da utilização de TIC, com estas a serem
crescentemente utilizadas na prestação de diversos serviços, incluindo na área da
psicologia e da saúde;

(2) os recursos tecnológicos que permitem intervenções em psicologia e eHealth estão


a expandir-se de forma significativa, estando cada vez mais acessíveis à população
ferramentas de intervenção que apresentam indicadores de validade e de utilidade;

(3) é importante que as/os psicólogas/os continuem a desenvolver novas formas de


providenciar serviços de modo acessível, seguro e capaz de promover o bem-estar
das pessoas e o desenvolvimento das comunidades;

(4) as/os psicólogas/os e a ciência psicológica tem um papel relevante na construção e


desenvolvimento de ferramentas digitais de intervenção em saúde e saúde mental;

(5) a utilização de TIC na prestação de serviços de psicologia apresenta


potencialidades, mas também especificidades e limitações, o que implica uma
discussão sobre as implicações para a prática profissional das/os psicólogos;

então, torna-se necessário informar a prática das/os psicólogas/os, através da


definição de linhas orientadoras para a prática profissional (LOPP, professional
guidelines) das/os psicólogas/os que prestem serviços mediados por TIC. Estas LOPP
procuram facilitar a excelência e o desenvolvimento da profissão, o autocuidado das/os
profissionais e garantir que estas/estes prestam serviços de elevada qualidade à
comunidade. Não correspondendo a normas legais que se revestem de obrigatoriedade e
de mecanismos de aplicação, as presentes linhas orientadoras correspondem a um
conjunto de recomendações para a conduta profissional das/os psicólogas/os que utilizem
TIC como um meio para prestarem os seus serviços.
A elaboração das presentes LOPP, fruto da dinâmica desenvolvida pelo Grupo de
Trabalho em Psicologia e eHealth, teve também em consideração as propostas pré-

14
existentes, desenvolvidas por diversas associações profissionais a nível internacional, e
entre as quais se incluem a American Psychological Association (2013), a Australian
Psychological Society (2011), a British Psychological Society (2009), o Consejo General de
la Psicología de Espanha (2017), a Federação Europeia das Associações de Psicólogos
(2001) e a New Zealand Psychologists Board (2011).

Princípios Gerais

Para além do trabalho de revisão de literatura, quer ao nível dos trabalhos empíricos
neste domínio, quer das guidelines a nível internacional, o desenvolvimento destas linhas
de orientação para a prática profissional baseou-se nos seguintes princípios gerais:

(1) Em qualquer intervenção profissional, quer presencial ou à distância, as/os


psicólogas/os devem respeitar os Princípios Éticos e o Código Deontológico da
Ordem dos Psicólogos Portugueses. A natureza do contexto de interação não altera
a necessidade de os princípios e orientações éticas da profissão serem
integralmente cumpridos.

(2) As/os psicólogas/os que prestem serviços mediados por TIC, quer na interação com
as/os clientes, quer na construção e desenvolvimento de ferramentas digitais de
intervenção, devem desenvolver competências técnicas nos respetivos domínios.

(3) O recurso a TIC na prestação de serviços de psicologia deve ser ponderado para
cada quadro específico, nomeadamente em relação à sua adequabilidade, à
existência ou não de benefícios da sua utilização, à sua validade clínica e à sua
complementaridade ou integração com intervenções face-a-face.

(4) A utilização de ferramentas digitais de forma generalizada e a respetiva


disponibilização à comunidade na qualidade de ferramentas de intervenção
psicológica, particularmente no que se refere a aplicações para smartphone e tablet,
sítios web e realidade virtual, deve decorrer de evidências suficientes de eficácia,
obtidas através de ensaios clínicos aleatorizados e estudos de validade.

15
Linhas de Orientação para a Prática Profissional

Cumprimento dos Princípios Éticos e Deontológicos da Profissão

Linha de orientação 1. As/Os psicólogas/os que prestem serviços de psicologia mediados


por TIC estão obrigadas/os a agir em consonância com os princípios éticos e normas
deontológicas consagrados no Código Deontológico que regula a profissão e que se
encontra publicado em Diário da República, 2ª série, nº 246/2, de 26 de dezembro de 2016.
Os contextos e a natureza das ferramentas utilizadas para a prestação deste tipo de
serviços não alteram a obrigatoriedade de cumprimento dos princípios éticos e orientações
deontológicas da profissão.

Conhecimento e Competência

Linha de orientação 2. As/Os psicólogas/os que prestem serviços de psicologia mediados


por TIC asseguram-se que possuem as competências necessárias a nível técnico, ético e
legal, para a provisão segura destes serviços, designadamente através de treino e
formação. Especificamente, as/os psicólogas/os garantem que possuem:
a) Conhecimento e recursos necessários para lidar com os aspetos práticos e tecnológicos
associados ao uso desta modalidade de serviços;
b) Conhecimento sobre os aspetos interpessoais e comunicacionais necessários (e.g.,
competências para promover a relação terapêutica, mesmo na ausência de pistas visuais).
c) Conhecimento e competências culturais necessárias para a prestação adequada, segura
e eficaz destes serviços.
É ainda da responsabilidade das/os psicólogas/os monitorizar de forma contínua a sua
competência técnica e profissional na provisão desta modalidade de serviços,
designadamente através de atividades de supervisão.

16
Linha de orientação 3. As/Os psicólogas/os que prestem serviços de psicologia mediados
por TIC asseguram-se que possuem o conhecimento prévio e atualizado sobre a eficácia
desta modalidade de prestação de serviços, bem como dos seus potenciais riscos para uma
determinada condição clínica. É importante que as/os psicólogas/os considerem esse
conhecimento no desenho de novas ofertas de serviços e que avaliem, para cada cliente, se
esta opção de tratamento é a mais eficaz e que a/o cliente possui os recursos necessários
(e.g., literacia digital) para a aplicação desta modalidade de serviços.

Identificação da/o Psicóloga/o e da/o Cliente

Linha de orientação 4. As/Os psicólogas/os que prestem serviços de psicologia mediados


por TIC fornecem informação que assegura a sua competência e permite às/aos clientes
verificar, de forma clara, a sua identidade profissional, nomeadamente os seguintes dados:
o seu nome, a especificação da sua certificação profissional (formação académica, outra
formação relevante, número de cédula profissional e especialidade) e a especificação de
uma localização/morada física.

Linha de orientação 5. A identificação clara da/o cliente que pretende aceder a serviços de
psicologia mediados por TIC deve ser considerada a boa prática. Para assegurar a
verificação da identidade da/o cliente, bem como para a obtenção de consentimento livre e
informado pela/o cliente, as/os psicólogas/os podem utilizar algumas medidas como, por
exemplo, o agendamento de um contacto prévio presencial ou por videoconferência, a
validação de um endereço de e-mail, ou a utilização de outros sistemas de código. No
entanto, as/os psicólogas/os devem estar conscientes de que estes métodos não permitem
assegurar completamente a identidade da/o cliente.

Linha de orientação 6. As/Os clientes que usam os serviços de psicologia mediados por
TIC podem querer fazê-lo de forma anónima, embora isso nem sempre seja possível,
realista ou ético. Para cada situação que envolva o pedido de anonimato por parte da/o
cliente, as/os psicólogas/os devem considerar os riscos e as questões éticas envolvidas,
tendo em conta a natureza do serviço (e.g., pode ser adequado se se tratar de um
aconselhamento mais geral sobre desenvolvimento de carreira ou promoção da saúde, mas
ser contra indicado em situações clínicas que envolvem um acompanhamento mais
individualizado e, particularmente, se envolver grupos de risco). Nas situações em que se
verifica o anonimato da/o cliente, as/os psicólogas/os asseguram-se que: (a) discutem as
limitações desta opção com a/o cliente; (b) a forma como prestam serviços de nenhuma

17
forma quebra o anonimato, caso tenham concordado com ele (e.g., assegurando formas de
pagamento que não impliquem a identificação da/o cliente); (c) estão atentas/os a possíveis
discrepâncias na informação (informação incorreta ou falsa) apresentada pela/o cliente,
procurando clarificar a fonte e natureza da informação apresentada; e (d) têm bem
definidas, com a/o cliente, as circunstâncias em que o anonimato deixa de ser uma opção
sustentável (e.g., situações de risco acrescido para a/o própria/o ou para terceiros),
definindo um plano de ação caso isso aconteça.

Integridade e Limites da Relação

Linha de orientação 7. As/Os psicólogas/os reconhecem a necessidade de manter uma


relação profissional com as/os seus clientes e estão conscientes do potencial para quebras
na integridade da relação, no contexto de serviços de psicologia mediados pelas TIC. Nesse
contexto, as/os psicólogas/os reconhecem o setting terapêutico como variável relacional,
que pode ter impacto nos resultados da intervenção, pelo que se recomenda que analisem
com a/o cliente os limites quanto à utilização de tecnologia no contexto da relação
terapêutica, estabelecendo a assimetria e não-similaridade do par terapeuta-cliente. Estes
elementos estruturantes da relação incluem o uso de linguagem profissional no contacto
escrito, a definição da extensão e dos momentos em que será esperada a comunicação
(as)síncrona, nomeadamente por chat ou email, a clarificação dos períodos do dia/semana
nos quais a/o cliente pode esperar uma resposta e sua duração, bem como a criação de um
espaço profissional visionado através de videoconferência.

Linha de orientação 8. As/Os psicólogas/os procuram assegurar-se da proteção da sua


privacidade, separando as páginas profissionais online das suas páginas pessoais e perfis
em redes sociais, as quais devem ser de acesso restrito a clientes. Sublinha-se o cuidado
que deve ser tido na partilha de informação pessoal, clínica ou outra informação sensível
através de meios que não sejam informaticamente seguros (e.g., redes sociais) ou que não
sejam objeto de uma contratualização prévia.

Linha de orientação 9. As/Os psicólogas/os não devem procurar informação online sobre
a/o sua/seu cliente (e.g., pesquisa em motores de busca ou redes sociais), a não ser no
melhor interesse da/o mesma/o, por exemplo em situações em que a/o própria/o ou outras
pessoas possam estar em risco, devendo esse ato de pesquisa ser comunicado, ou em
situações em que foi dado consentimento para tal.

Consentimento Informado

18
Linha de orientação 10. As/Os psicólogas/os deverão compreender os princípios da sua
prática, de modo a que, quando relevante, solicitem consentimento informado assinado para
o uso de meios digitais durante os serviços prestados – como, por exemplo, a prestação de
serviços online de terapia, mas também qualquer forma de contacto por meio digital (e.g.,
email). A obtenção do consentimento informado implicará sempre que a/o psicóloga/o tenha
conhecimento dos enquadramentos legais e éticos de tal prática, como será o caso,
atualmente, do Regulamento (UE) 2016/679 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 27
de abril de 2016 e do Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Linha de orientação 11. O uso de meios digitais no contacto com a/o cliente acarreta,
frequentemente, riscos específicos adicionais que deverão ser considerados na obtenção
de tal consentimento. Por exemplo, existem potencialmente maiores dificuldades de
verificação da identidade das pessoas, o que, por sua vez, pode acarretar maiores
problemas em determinar se a pessoa tem uma idade apropriada para dar o seu
consentimento ou se se encontra num estado que limita a capacidade de o dar (e.g.,
comprometimento ao nível do funcionamento intelectual que limite a sua compreensão do
consentimento). Deverão, assim, ser tomadas medidas adequadas que estabeleçam se
será necessário consentimento por parte de terceiros, como pais ou outras pessoas e
entidades que legalmente representem a/o cliente, para que o trabalho se possa
desenvolver; e, se assim for, garantir que este é apropriadamente obtido. Isto poderá
requerer procedimentos adicionais de verificação da identidade, como mencionado na linha
de orientação 5.

Linha de orientação 12. O consentimento informado, tendo em conta a natureza dos dados
que poderão ser registados de modo digital, deverá compreender informação clara e
compreensível pela/o cliente. Este consentimento informado, para lá do habitual
consentimento dado em situações de contacto face-a-face, deverá também incluir
informações detalhadas sobre o registo e manipulação da informação obtida. A este nível,
isto implicará, no mínimo, a descrição dos seguintes elementos: o conteúdo das
informações registadas; o(s) objetivo(s) que norteiam a sua realização; os meios e formas
de armazenamento; os procedimentos de segurança e de proteção e de destruição
adotados; o período de tempo durante o qual serão mantidos; o direito das/os clientes de
acederem aos mesmos e/ou de solicitarem a sua destruição; e os procedimentos que serão
utilizados caso exista alguma violação da segurança dos dados, incluindo a necessária
comunicação dessa falha à/ao cliente ou sua/seu representante legal. Deverão ainda ser
explicitados o nível de segurança e riscos que poderão ocorrer em situações específicas

19
pelo uso, por parte da/o psicóloga/o ou pela/o cliente, destas tecnologias. O preço e
faturação dos serviços prestados deverá ser sempre clarificado antes do fornecimento dos
mesmos. Como tal, o consentimento informado deverá ainda discriminar os serviços
prestados e os pagamentos devidos, de modo discriminado e claro, incluindo o tipo de
comunicação online estabelecida, os serviços prestados, e o respetivo preço para cada
serviço em causa, e o meio de pagamento. Também poderão aqui ser acordados aspetos
variados, tais como os seguintes: eventuais tarifas, reembolsos ou indemnizações por
interrupção do serviço ou falhas encontradas, reduções de tarifas por falhas na tecnologia,
ou outros custos.

Confidencialidade e Segurança no Registo e Transmissão de


Dados

Linha de Orientação 13. As/Os psicólogas/os devem assegurar-se que detêm um


conhecimento atualizado sobre os desafios e riscos associados ao uso de tecnologia nos
serviços de psicologia, de forma a adotar, nas suas práticas, medidas de segurança que
minorem esses riscos e protejam a confidencialidade das informações das/os suas/seus
clientes. Para tal, recomenda-se que as/os psicólogas/os que prestam serviços de
psicologia mediados por TIC se mantenham informadas/os relativamente aos avanços na
área e consultem regularmente especialistas em tecnologia para assessoria ao nível da
segurança das ferramentas informáticas.

Linha de Orientação 14. As/Os psicólogas/os devem informar as/os suas/seus clientes
sobre os pressupostos e os limites da confidencialidade associados a cada serviço prestado
(e.g., em caso de risco para a/o cliente ou terceiros), mecanismos de segurança a adotar e
os problemas de segurança inerentes ao uso de tecnologia. Neste último ponto, devem
informar sobre: (a) a possibilidade de acesso por pessoas não autorizadas a emails,
mensagens e/ou vídeos e, provável, divulgação de informação confidencial; (b) possíveis
avarias no sistema e consequentes implicações para a segurança das ferramentas
tecnológicas utilizadas; (c) a possibilidade de acesso a emails, mensagens e/ou vídeos
excluídos/apagados, mas que permaneceram armazenados em cópias de segurança e,
provável, divulgação de informação confidencial. Recomenda-se que as/os psicólogas/os
que prestam serviços de psicologia mediados por TIC usem criptografia de ponta a ponta
nos seus dispositivos tecnológicos e que informem as/os suas/seus clientes sobre como
devem proceder para aumentarem a sua segurança. A criptografia de ponta a ponta permite
codificar a mensagem de forma a que só o emissor e o recetor consigam decifrá-la,
garantindo, à partida, um maior nível de segurança e confidencialidade da informação. O

20
recurso a este tipo de encriptação deve ser mantido e os procedimentos de segurança
devem ser regularmente atualizados por parte da/o psicólogo e da/do cliente. Além disso,
deverão usar senhas de acesso, pessoais e intransmissíveis, em todos os seus dispositivos
informáticos e alterá-las regularmente para impedir o acesso alheio a emails, mensagens,
vídeos e/ou registos com informações confidenciais.

Linha de Orientação 15. As/Os psicólogas/os devem apenas revelar a informação obtida
através de serviços psicológicos online quando: (1) há obrigação legal ou judicial para o
fazer; (2) há um risco elevado ou imediato de as/os clientes fazerem mal a si próprias/os ou
a outros; (3) em casos de supervisão, sob consentimento expresso das/os clientes, e
disponibilizando apenas a informação relevante para o entendimento do caso (omitindo o
nome, por exemplo).

Linha de Orientação 16. As/Os psicólogas/os que prestam serviços de psicologia


mediados por TIC em contexto de grupo devem requerer um compromisso por parte
das/dos clientes em relação a manterem a confidencialidade sobre os conteúdos
partilhados, respeito e seriedade pelos restantes elementos do grupo. Não obstante, devem
informar também as/os clientes que, dado o número elevado de pessoas envolvidas neste
tipo de intervenção, não podem garantir a segurança e a confidencialidade da informação.

Linha de Orientação 17. As/Os psicólogas/os devem estar cientes que, quando interagem
eletronicamente com clientes, o registo e o armazenamento de informações podem ser
realizados por ambas as partes. Assim, é importante que, a par das/os psicólogas/os, as/os
clientes estejam também conscientes de que a recolha, divulgação ou cedência a terceiros
de informação considerada como dados pessoais, nomeadamente voz ou imagem, deve ser
somente efetuada com o consentimento informado escrito de ambas as partes.

Linha de orientação 18: As/Os psicólogas/os que prestam serviços de psicologia mediados
por TIC devem ter cópias de segurança das informações relevantes das/dos clientes para
que permaneçam disponíveis mesmo que ocorram problemas ou falhas nos hardwares,
softwares e/ou dispositivos de armazenamento. No caso de ser necessário, por solicitação
da/o cliente ou finalização do serviço psicológico prestado, as/os psicólogas/os realizarão
esforços para garantir a destruição efetiva dos dados e informações guardadas nos
softwares, dispositivos e plataformas informáticas. Para tal, recomenda-se que estejam
devidamente informadas/os sobre as políticas de registo, armazenamento e destruição de
cada ferramenta informática, de forma a analisarem e ponderarem as potencialidades e os
riscos associados a cada uma e, assim, selecionarem as alternativas mais credíveis e

21
seguras. Nos casos em que se verificar uma falha de segurança e/ou o acesso indevido a
informação confidencial, as/os psicólogas/os devem informar de imediato as/os suas/seus
clientes e as autoridades competentes para mitigar os efeitos danosos de tais atos.

Aspetos Legais e de Jurisdição

Linha de orientação 19. A prestação de serviços de psicologia mediada por TIC envolve
contextos e instrumentos de interação que apresentam particularidades, o que significa que,
para além da legislação aplicável à prestação de serviços de psicologia em geral, se
poderão aplicar também enquadramentos legais específicos. Assim, face a estas
especificidades, as/os psicólogas/os devem conhecer a legislação que regula a prestação
de serviços de psicologia através de TIC. Esta legislação poderá incluir os seguintes
aspetos:
a) Requisitos legais para exercer psicologia, incluindo quando a intervenção à distância
ultrapassa fronteiras jurisdicionais (regiões, estados, países);
b) Regulamentação específica para diferentes serviços de psicologia mediados por
TIC;
c) Informação que deve ser obrigatoriamente apresentada para que a/o cliente possa
dar o consentimento livre e informado (cf. linhas de orientação relativas ao
Consentimento Informado);
d) Confidencialidade e situações de quebra de confidencialidade;
e) Responsabilidade civil;
f) Domínios, marcas e patentes;
g) Spam.

Linha de orientação 20. A prestação de serviços de psicologia que ultrapassa jurisdições é


cada vez mais frequente. Os serviços de psicologia podem ser acedidos à distância e em
qualquer parte do mundo, o que significa que poderão prevalecer diferentes requisitos
legais conforme o país ou jurisdição em que a/o psicóloga/o ou cliente está. Esta prestação
de serviços pode variar entre a/o psicóloga/o ou a/o cliente estar deslocada/o
temporariamente (num outro país, estado, região com regulamentação ou legislação
diferentes) e a/o psicóloga/o prestar os serviços para além de fronteiras físicas (e,
consequentemente, para diferentes enquadramentos jurídicos). Assim, as/os psicólogas/os
que providenciam serviços mediados por TIC que ultrapassem jurisdições (noutra região,
espaço económico ou país) devem conhecer a legislação e a regulamentação aplicável (cf.
linha de orientação anterior), procurando antecipar e resolver potenciais conflitos. É
recomendável que, em situações em que a/o psicóloga/o se encontra deslocada/o, ainda

22
que temporariamente da sua área habitual de residência ou região/estado/país em que tem
licença para exercer, sobretudo aquando da saída do Espaço Económico Europeu, se
informe previamente de potenciais diferenças ou requisitos para exercer numa outra
jurisdição, incluindo através do contacto junto da entidade que regula a profissão no destino,
caso exista.

Avaliação Psicológica

Linha de orientação 21. É fundamental que as/os psicólogas/os que prestam serviços de
psicologia mediados por TIC rejam os processos de avaliação psicológica pelos princípios
elencados no Código Deontológico da OPP, assegurando, assim, uma prática profissional
ética, informada e responsável. As/Os psicólogas/os que prestam serviços de psicologia
mediados por TIC devem: (a) reconhecer as limitações associadas a processos de
avaliação psicológica conduzidos através das TIC e implementá-los apenas quando as
condições mínimas estiverem asseguradas, de forma a garantir processos de avaliação
rigorosos, transparentes e fidedignos; (b) procurar perceber e explicar, se necessário,
às/aos clientes as diferenças entre resultados obtidos a partir da aplicação presencial
versus online dos instrumentos; (c) serem conhecedoras/es dos requisitos tecnológicos
necessários (por exemplo, em termos de software e hardware) para garantir uma aplicação
adequada e fiável dos instrumentos.

Linha de orientação 22. Face aos desafios e às especificidades da condução de avaliação


psicológica através de TIC, é importante que as/os psicólogas/os sejam capazes de
reconhecer a necessidade de adequar as condições de administração dos instrumentos, de
forma a preservar as suas propriedades psicométricas, nomeadamente a sua fiabilidade e
validade. Deste modo, recomenda-se que as/os psicólogas/os assegurem, por exemplo,
que é efetivamente a/o cliente a responder ou a preencher o instrumento, que esta/este não
acedeu previamente aos resultados do instrumento e que não há a interferência de terceiros
durante a avaliação psicológica. As/Os psicólogas/os devem estar conscientes da presença
de outros distratores não existentes no contacto face-a-face e adotar medidas que previnam
o seu impacto nos resultados dessa mesma avaliação. Aconselha-se que utilizem, sempre
que possível, instrumentos que estejam validados para aplicação e uso via online para
garantir a obtenção de resultados válidos. É fundamental que o juízo clínico não se baseie
apenas nos resultados de um único instrumento formal, mas sim num conjunto de
ferramentas formais e informais de avaliação. Importa realçar ainda que a avaliação
psicológica diferencia-se da recolha de indicadores (realizada, por exemplo, através de
aplicações móveis, realidade virtual).

23
Investigação

Linha de orientação 23. As/Os psicólogas/os que desenvolvam ou participem em projetos


de investigação no âmbito da Psicologia e eHealth, independentemente de estes se
centrarem na análise qualitativa ou quantitativa dos dados ou recorrerem a big data, devem
assegurar a qualidade, comparabilidade e generalização dos resultados obtidos, garantir
que os requisitos éticos aplicáveis são cumpridos e obedecer às normas de relato para
estudos desta natureza. Face à especificidade desta temática, são apresentadas linhas
orientadoras específicas para realização e relato de investigação em Psicologia e eHealth
no Anexo A.

Intervenção em Situações de Crise e Catástrofe

Linha de Orientação 24. As/Os psicólogas/os que prestam serviços de psicologia


mediados por TIC devem familiarizar-se com as leis e regras na jurisdição da/o cliente na
forma como lidar com situações de crise e de risco para a/o cliente e/ou para outras
pessoas. De igual forma, é aconselhável identificar potenciais situações de crise e definir,
antecipadamente, quais os mecanismos a implementar nessas situações. Perante situações
de risco elevado ou iminente para as/os clientes ou para outros (e.g., risco de suicídio,
surtos psicóticos, violência), as/os psicólogas/os devem manter-se em contacto com as/os
mesmas/os, de modo a obterem as informações necessárias para atuar diretamente e/ou
encaminhá-las/los para serviços de saúde mais adequados e, assim, diminuir o nível de
risco. Nestes casos, pode ser útil recorrer a uma das pessoas próximas e/ou ao contacto da
unidade de saúde local (cf., linhas de orientação relativas ao Consentimento Informado).
Pode também ser vantajoso consultarem outros colegas para obterem auxílio na tomada de
decisões.

Linha de orientação 25. Em situações de catástrofe (e.g., desastres naturais), a prestação


de serviços de psicologia mediada por TIC poderá ser relevante, devendo assegurar-se as
condições necessárias para a sua realização adequada. Neste tipo de intervenção, pode
não ser possível a obtenção de um consentimento informado completo, pelo que o mesmo
incidirá sobre os aspetos considerados imprescindíveis.

Face à especificidade desta temática, são apresentadas linhas orientadoras específicas


para a gestão de situações de crise em Psicologia e eHealth no Anexo B.

24
Intervenção com Populações Específicas

Linha de orientação 26. Devido às suas características de conveniência e acessibilidade,


as TIC poderão ser utilizadas na prestação de serviços de psicologia com populações
específicas. Estas populações podem incluir menores não acompanhados, cuja utilização
das TIC é frequente e as atitudes face às mesmas tendem a ser favoráveis. No quadro dos
movimentos migratórios e demográficos a nível mundial, estas populações específicas
podem incluir ainda pessoas que procuram asilo (requerentes de asilo) e refugiadas/os.
Assim, as/os psicólogas/os que trabalhem com estas populações devem reconhecer o
potencial das TIC na sua prática, de forma isolada ou combinada com sessões presenciais.
A sua utilização pode permitir ultrapassar limitações associadas a estas populações, como
a barreira da língua ou a dificuldade de acesso aos serviços no formato tradicional. No
entanto, devem respeitar as linhas orientadoras expressas neste documento, sendo a sua
intervenção neste formato guiada pelos mesmos princípios éticos e deontológicos que as
intervenções tradicionais face-a-face, dando especial atenção às questões de
consentimento (e.g., no caso de menores não acompanhados, devem requerer o
consentimento informado explícito por parte da pessoa com a autoridade legal, bem como
facultar um documento com todas as informações sobre a confidencialidade e limites à
confidencialidade e segurança a todos os intervenientes), situações de emergência e de
crise (e.g., necessidade de prever a possibilidade de referenciação) e de confidencialidade
(e.g., no caso de crianças, ter em conta a necessidade da presença de um adulto para
ajudar a lidar com a tecnologia).

Desenvolvimento de Ferramentas Digitais de Intervenção

Linha de orientação 27. O crescimento do número e tipologia de ferramentas digitais tem-


se verificado também no domínio da saúde e da saúde mental. Neste âmbito, as/os
psicólogas/os têm vindo a participar de forma cada vez mais significativa na criação e no
desenvolvimento de ferramentas digitais de intervenção, em que se incluem aplicações para
smartphone e tablet, em sites web e realidade virtual. Assim, as/os psicólogas/os que
desenvolvam ou participem em tarefas de programação ou de sistematização e utilização
de big data devem ter consciência do impacto das aplicações e outras ferramentas digitais
que sejam desenvolvidas na saúde e na saúde mental dos potenciais utilizadores das
mesmas. Deverão orientar a sua ação considerando se esses produtos vão ao encontro das
necessidades e desejos da população e, particularmente, das pessoas com problemas de
saúde mental. Deverão ainda considerar que qualquer ferramenta digital de intervenção,
para ser considerada uma ferramenta clínica e/ou de intervenção psicológica, deve ser

25
construída com base no conhecimento das ciências psicológicas e apresentar evidências
suficientes de eficácia, obtidas através de ensaios clínicos aleatorizados e estudos de
validade. Somente devem ser disponibilizadas à comunidade como ferramentas clínicas
e/ou de intervenção psicológica aquelas que apresentem evidência de eficácia ou que, em
caso de ainda não terem, estejam contingentes a um compromisso nesse sentido. Aquando
do desenvolvimento de ferramentas digitais de intervenção, os/as psicólogos/as deverão
ainda procurar facilitar a adesão dos utilizadores a tais ferramentas recorrendo, para isso e
quando pertinente, a estratégias como o design persuasivo e motivacional ou a
ludificação/gamification.

26
ANEXO A - Linhas de Orientação Específicas para a
Realização e Relato de Investigação em Psicologia e
eHealth

Dado o caráter emergente e elevada heterogeneidade no que concerne à


terminologia de referência, materiais e métodos utilizados na investigação em Psicologia e
eHealth, afigura-se pertinente definir linhas orientadoras que assegurem a qualidade,
comparabilidade e generalização dos resultados obtidos. As presentes linhas orientadoras
baseiam-se nos trabalhos desenvolvidos por Proudfoot et al. (2011) e Eysenbach e grupo
CONSORT-EHEALTH (2011) e incidem sobre as especificidades deste tipo de investigação.

Objeto

Linha orientadora específica 1. Considera-se investigação em Psicologia e eHealth,


qualquer avaliação qualitativa ou quantitativa de uma intervenção psicológica mediada por
TIC.

Dados de Autoria

Linha orientadora específica 2. Informação relativa aos dados de autoria, tais como, a
identidade dos promotores do estudo, criadores da intervenção, suas credenciais e
afiliação, direitos de autoria e propriedade intelectual, país de origem, versão do programa
utilizado e data da última atualização, deverá ser providenciada, de modo a que a fiabilidade
e validade da intervenção possam ser atestadas. Quando as/os investigadoras/es detenham
software em avaliação, esta informação deverá ser tornada pública e ser mencionada na
secção “Conflitos de Interesse” dos documentos do estudo.

Título e Resumo

Linha orientadora específica 3. O título do projeto de investigação/relatório de


investigação deverá identificar claramente a população-alvo da intervenção, a metodologia
de investigação e o modo de implementação da mesma (e.g., “web-based/mediado ou
suportado pela web”; “mobile/telemóvel”; “serious game/jogo sério”). Termos ambíguos, tais
como “online”, “interativo” e “virtual”, deverão ser evitados, estando este último conceito
reservado a projetos que incluam realidade virtual, i.e., realidades 3D. O termo “internet-
based/suportado pela internet” deverá ser utilizado apenas quando a intervenção inclua
componentes/funcionalidades que sejam baseadas na web (e.g., e-mail). Deverá utilizar-se

27
a denominação “computer-based/computorizado” ou “electronic/eletrónico” apenas se a
intervenção incluir funcionalidades offline. A terminologia adotada deverá ser abrangente no
que respeita à classe de produtos utilizados, evitando a nomeação de marcas (e.g.,
telemóvel ou smartphone em oposição a iPhone), especialmente se o programa operar em
diferentes plataformas.

Linha orientadora específica 4: O resumo deverá estruturar-se em torno dos objetivos,


métodos, resultados e conclusões do estudo. Este deverá fazer alusão, quando possível,
aos seguintes aspetos: funcionalidades/componentes da intervenção e respetivos
comparadores; grau de envolvimento humano (e.g., “fully automated ou
unguided/totalmente automatizado” vs. “guided/assistido/guiado por uma/um profissional de
saúde”); estratégia de recrutamento das/os participantes (e.g., online vs. offline; open
access website vs. contexto clínico); se a avaliação e/ou intervenção ocorreram
exclusivamente via web/dispositivos móveis ou se incluíram componentes face-a-face; se os
indicadores em estudo foram alvo de autoavaliação através de questionários; e se se
verificou ou não ocultação. Aquando da descrição dos resultados, os dados de utilização
deverão também ser descritos (e.g., taxas de atrição e adesão, utilização ao longo do
tempo, número de logins). As conclusões deverão centrar-se na discussão das variáveis
primárias. Quando se verifique a não eficácia da intervenção, deverá discutir-se se os
resultados obtidos se devem ou não à não utilização/adesão das/os participantes ao
programa experimental.

Métodos

Linha orientadora específica 5: O desenho do estudo deverá ser descrito, justificando-se


qualquer alteração efetuada após o início do mesmo. Dado o dinamismo dos sistemas em
eHealth afigura-se necessário reportar quaisquer alterações efetuadas ao nível dos
métodos de investigação, critérios de seleção das/os participantes, intervenção e
comparadores (e.g., atualização dos sistemas, alteração de funcionalidades ou conteúdo
dos módulos).

Participantes

Linha orientadora específica 6: Os critérios de elegibilidade das/os participantes deverão


ser criteriosamente listados descrevendo-se, para o efeito e quando relevante, o
diagnóstico/quadro nosológico em apreço, dados sociodemográficos, índices psicológicos
aplicáveis (e.g., ponto de corte utilizado no instrumento previamente validado para a
população em estudo), entrevista diagnóstica estruturada ou formulação de caso que
identifique o problema ou sintomatologia associada. O facto de as/os participantes

28
conseguirem utilizar um computador/dispositivo móvel e a internet deverá ser explicitado
enquanto critério de inclusão.

Linha orientadora específica 7: O modo como as/os participantes são recrutadas/os (e.g.,
online vs. offline; open access website vs. contexto clínico) deverá ser claramente definido.
Nos estudos que ocorram exclusivamente em ambiente online, deverão ser especificados
quais os mecanismos utilizados para prevenir que uma/um participante assuma múltiplas
identidades (e.g., cookies, email de confirmação do registo, contactos telefónicos).
Informação adicional acerca de outras fontes e recursos de apoio disponíveis deverá ser
providenciada em caso de desistência/término prematuro da participação no estudo.

Intervenção Experimental

Linha orientadora específica 8: O processo de desenvolvimento da intervenção deverá


ser descrito (e.g., grupos focais, testes de usabilidade), uma vez que a metodologia de
desenvolvimento da intervenção poderá ter impacto nas taxas de utilização/adesão ao
programa e auxiliar a interpretação de resultados.

Linha orientadora específica 9: A versão do programa de intervenção estudado deverá


ser mencionada e no caso de esta ter sofrido alterações ao longo do estudo, tal deve ser
especificado.

Linha orientadora específica 10: Deverá ser fornecida informação acerca da metodologia
utilizada para validação e garantia da qualidade dos conteúdos da intervenção.

Linha orientadora específica 11: A intervenção em estudo deverá basear-se em modelos


/informados por evidência científica. O modelo psicoterapêutico que sustenta a intervenção
deverá ser enunciado e os indicadores terapêuticos que lhes estão associados deverão ser
identificados. O mecanismo de mudança a ser testado deverá, sempre que possível, ser
evidenciado.

Linha orientadora específica 12: O tipo de intervenção (e.g., psicoeducação, prevenção,


intervenção precoce, tratamento, autocuidado, autoavaliação, customizado ou não
customizado, de monitorização do progresso terapêutico) e duração da mesma (número de
sessões ou módulos de tratamento prescritos/previstos e/ou intervalo de tempo em que a
intervenção se encontra acessível às/aos participantes) deverão ser discriminados. Sempre
que se antecipe a administração de instrumentos psicométricos, deverá ser clarificado se a
administração computorizada se encontra validada.

Linha orientadora específica 13: As/Os investigadores deverão clarificar se as


intervenções em análise são guiadas ou não guiadas, i.e., dotadas ou não de

29
apoio/seguimento por parte de profissionais de saúde. Para intervenções que prevejam o
apoio por parte de profissionais de saúde os seguintes aspetos deverão ser especificados:
tipo e qualificações das/os profissionais de saúde a prestar apoio, tipo de apoio prestado,
intervalo de tempo e frequência em que ocorre esse apoio, como é que este apoio é iniciado
e qual o meio/veículo utilizado para prestação do mesmo (e.g., email, fórum, chat,
teleconferência, SMS, apoio face-a-face).

Linha orientadora específica 14: Deverá indicar-se se as intervenções em estudo


preveem o apoio por parte de outros elementos que não profissionais de saúde (e.g.,
assistentes de investigação, progenitores, professoras/es, técnicas/os). As características,
qualificações, papel a desempenhar, tipo de assistência prestada, sua frequência, carácter
anónimo ou não, assim como o canal/veículo utilizado para prestação desse apoio deverão
ser especificados. A metodologia implementada para supervisão destas/destes profissionais
deverá também ser clarificada.

Linha orientadora específica 15: As modalidades, frequência e duração das interações


entre as/os participantes e o programa de intervenção deverão ser discriminadas, assim
como as componentes (e.g., questionários, exercícios, planeamento de ações,
automonitorização, contacto com terapeutas, chats, fóruns, jogos) e funcionalidades (e.g.,
lembretes, emails, SMS) utilizadas para esse efeito. A opção por um determinado tipo de
interação em detrimento de outro deverá ser justificada/sustentada teórica e/ou
empiricamente.

Linha orientadora específica 16: O canal de comunicação utilizado no âmbito da


intervenção experimental deverá ser amplamente descrito e a sua seleção justificada.

Linha orientadora específica 17: As/Os investigadores deverão especificar se a


comunicação/interação entre as/os participantes e os elementos da equipa de investigação
que lhes prestam apoio é: síncrona – a comunicação ou apoio/suporte é imediata (e.g., chat
em tempo real), assíncrona – esta interação ocorre em diferido (e.g., email, fóruns) ou
ocorre aleatoriamente, de forma periódica ou a pedido da/o participante. O intervalo de
tempo ocorrido entre contactos deverá também ser especificado, quando relevante.

Linha orientadora específica 18: Sempre que se recorra à implementação de uma co-
intervenção, tal deve ser especificado.

Linha orientadora específica 19: A replicabilidade da intervenção deverá ser assegurada


através de uma completa descrição dos conteúdos e componentes da intervenção e
publicação de screenshots, demos, vídeo, algoritmos utilizados, entre outros.

30
Linha orientadora específica 20: O endereço URL da intervenção deverá ser publicado e
a intervenção deverá ser digitalmente arquivada em webcitation.org de modo a garantir a
preservação e acesso à mesma a longo prazo.

Variáveis em Estudo

Linha orientadora específica 21: As variáveis primárias e secundárias em análise, bem


como os instrumentos utilizados para sua monitorização e plano de avaliação/seguimento
deverão ser claramente definidos. Quando utilizados instrumentos psicométricos
online/computadorizados, deverá ser reportado se estes se encontram ou não validados
para administração via computador/dispositivos móveis.

Linha orientadora específica 22: Os dados de usabilidade e aceitabilidade do


programa/intervenção deverão ser comunicados e o modo como estes dados foram obtidos
caracterizado (e.g., através de email, formulários de avaliação, entrevistas, grupos focais).

Tamanho da Amostra

Linha orientadora específica 23: O tamanho e características da amostra, bem como a


metodologia utilizada para efetuar o cálculo amostral devem ser explicitados. O modo como
a taxa de atrição prevista influenciou o cálculo amostral deverá ser descrito.

Análise Estatística

Linha orientadora específica 24: Os métodos estatísticos utilizados para análise dos
dados experimentais deverão ser identificados, justificando-se a seleção efetuada. O modo
como a atrição e valores omissos foram tratados deverá ser especificado.

Aspetos Éticos

Linha orientadora específica 25: O procedimento de explicação e obtenção do


consentimento informado deverá ser descrito. Os procedimentos inerentes ao estudo,
potenciais riscos e benefícios, medidas de prevenção face aos potenciais riscos,
procedimentos a cumprir em caso de emergência e entidades a prestar apoio, sobretudo
quando se trate da prestação de serviços psicológicos mediados por TIC em modo open
access, em que o registo e identificação da/o participante não é solicitada, devem ser
detalhados. Nos casos em que se proceda ao registo das/os participantes, a estas/estes
deverá ser facultado um único nome de utilizador e senha de acesso que proteja a sua

31
privacidade. Em qualquer dos casos, as/os participantes deverão consentir em participar no
estudo e concordar com os termos e condições do mesmo.

Resultados

Linha orientadora específica 26: Os dados sociodemográficos e clínicos das/os


participantes; o número de participantes alocadas/os a cada braço de tratamento; a
descrição das/os participantes excluídos após inclusão no estudo e razões subjacentes ao
término da participação no estudo (um diagrama de atrição poderá ser incluído); o número
de participantes incluído em cada análise; e os resultados referentes às variáveis primárias
e secundárias deverão ser alvo de apresentação e interpretação.

Segurança e Armazenamento de Dados de Investigação

Linha orientadora específica 27: O website, o software, e o processo de armazenamento


e transmissão de dados deverão operar sob a forma encriptada, sendo essencial que se
utilize um protocolo de criptografia de ponta a ponta. O modo e período durante o qual os
dados serão utilizados e armazenados deverá ser descrito e do conhecimento das/os
participantes. Os direitos e responsabilidades das/os participantes deverão ser listados,
assim como quaisquer fragilidades que a intervenção em estudo possa apresentar. Caso
seja utilizado um serviço de email ou outro procedimento de comunicação síncrono ou
assíncrono externo, i.e., que não esteja integrado numa plataforma eletrónica que cumpra
os requisitos de segurança e privacidade de dados previamente enumerados, as/os
participantes deverão ser informadas/os de que este serviço não cumpre todos os requisitos
de segurança.

Linha orientadora específica 28: Os estudos neste domínio deverão operar em


observância com a legislação nacional e internacional aplicável e que se encontre em vigor
aquando da sua realização.

Avaliação de Programas de Intervenção Experimental

Linha orientadora específica 29: A avaliação de intervenções mediadas por TIC poderá
ser efetuada por via de análise quantitativa ou qualitativa. Recomenda-se a realização de
ensaios clínicos/estudos clínicos aleatorizados com intervenção quando a avaliação de
resultados ou indicadores clínicos seja priorizada.

Linha orientadora específica 30: A padronização de instrumentos de medida é desejável


de modo a poder garantir-se a comparabilidade entre estudos. A administração
computadorizada de testes psicológicos deverá ser ou estar validada.

32
Linha orientadora específica 31: Aquando do relato da eficácia das intervenções, as/os
investigadores deverão descrever: o tamanho e características da amostra; a metodologia
utilizada para cálculo amostral, alocação e ocultação, quando aplicável; os braços do
estudo/grupos experimental e de controlo; as propriedades psicométricas dos instrumentos
de medida utilizados; os procedimentos de recolha de dados; o cronograma de
avaliações/seguimento das/os participantes; e o tipo de análise estatística efetuada,
especificando se esta é efetuada por protocolo ou pelo método de intenção de tratar.
Informação relativa à adesão à intervenção, causas da não-adesão, taxas de atrição em
cada um dos momentos do estudo e os métodos de análise utilizados para enquadrar
dropouts/participantes que sejam prematuramente descontinuados da intervenção deverá
ser facultada, quando apropriado. Os resultados do estudo e suas conclusões devem
também ser reportados.

Linha orientadora específica 32: Os estudos que reportem dados acerca da efetividade
das intervenções em contexto real deverão detalhar: o tamanho e características da
amostra; os instrumentos de medida aplicados; os planos de avaliação/seguimento das/os
participantes e a adesão das/os participantes à intervenção. O perfil das/os utilizadoras/es
que beneficiam da intervenção e os efeitos da intervenção passíveis de generalização
deverão ser descritos.

Linha orientadora específica 33: Os estudos analisem o custo-efetividade das


intervenções deverão, para além dos aspetos supramencionados, incluir informação relativa
à possibilidade de disseminação do programa.

Discussão e Conclusões

Linha orientadora 34: As limitações inerentes ao estudo, as potenciais fontes de viés,


imprecisões e, se relevante, a multiplicidade de análises efetuadas, deverão ser descritas.
Na investigação em eHealth os vieses de seleção e resultantes da potencial não utilização
da intervenção por parte de algumas/alguns participantes assumem especial destaque e
deverão ser alvo de discussão.

Linha orientadora específica 35: A possibilidade de generalização dos resultados deverá


ser analisada, particularmente, se os resultados obtidos são válidos em contexto de vida
real e na população em geral. Deverá discutir-se se alguma das componentes e
funcionalidades da intervenção teria, necessariamente, de ser diferente fora do contexto de
investigação (e.g., lembretes, maior envolvimento humano, sessões de formação) e qual o
impacto que a omissão desses elementos teria na utilização, adoção e resultados da
intervenção.

33
34
ANEXO B - Linhas de Orientação Específicas para a
Intervenção em Situações de Crise

Gestão de crise psicológica em eHealth

Linha orientadora específica 1. Ao oferecer serviços de psicologia mediados por TIC a


clientes em risco, as/os psicólogas/os devem assegurar mecanismos a utilizar em situações
de crise e que devem constar de um plano, elaborado antecipadamente. O mesmo se aplica
aos serviços a clientes que, não estando em risco, podem vir a ter situações de crise no
decurso dos serviços oferecidos (e.g., terapia com pessoas que podem ver agravados os
seus sintomas e/ou ter ideação suicida).

Linha orientadora específica 2. Os mecanismos a implementar para lidar com situações


de crise devem ser definidos de antemão e passam pelos seguintes aspetos: (a) definir a
situação de crise em causa; (b) pedir à/ao cliente para facultar contactos alternativos (e.g.
contacto telefónico); c) conhecer os recursos familiares e institucionais (e.g., outras/os
profissionais de saúde mental, serviços locais) do local de residência da/o cliente; (d)
encaminhar as pessoas em situações de crise para serviços de saúde na sua zona de
residência; (e) estabelecer um acordo prévio com a/o cliente de como lidar com possíveis
crises; (f) informar a/o cliente da possível perda de anonimato/confidencialidade numa
situação de crise; (g) consultar colegas experientes na utilização de TIC com vista à
obtenção de indicações de como lidar com a situação de crise.

Linha orientadora específica 3. Quando confrontadas/os com uma situação de crise, as/os
psicólogas/os devem, se possível, manter a comunicação com a/o cliente com vista à
obtenção de informações que ajudem a resolver a crise.

Linha orientadora específica 4. Situações em que o serviço mediado por TIC é


interrompido podem ser consideradas de crise e incluídas naquelas em que os mecanismos
previstos sejam implementados. As/Os psicólogas/os podem, por exemplo, combinar com
a/o cliente estabelecer um contacto telefónico após 5 minutos da interrupção e não insistir
caso a pessoa não responda. Se a/o psicóloga/o considerar que a pessoa pode estar em
risco, deve ativar os mecanismos inicialmente contemplados.

35
Confidencialidade e crise

Linha orientadora específica 6. Do ponto de vista da gestão de situações de risco, as/os


psicólogas/os devem conhecer, sempre que possível, a identidade e a localização da/o
cliente.

Linha orientadora específica 7. Os mecanismos para lidar com situações de crise podem
implicar a perda de anonimato e/ou confidencialidade da/o cliente. As/Os psicólogas/os
asseguram-se que a informação facultada a terceiros é a necessária para lidar com a crise,
não facultando outro tipo de informações.

Referenciação em situações de crise

Linha orientadora específica 8. Situações em que a/o cliente que usufrui de serviços de
psicologia mediados por TIC se possa encontrar em risco devem ser referidos para os
serviços competentes da residência geográfica da pessoa. As/Os psicólogas/os devem
conhecer de antemão quais os recursos disponíveis.

Linha orientadora específica 9. Quando as situações de crise são recorrentes com


uma/um cliente, a/o psicóloga/o deve avaliar o benefício de continuar o serviço mediado por
TIC. Nestas situações, pode ser mais adequado o encaminhamento para serviços
presenciais.

36
ANEXO C - Resumo de Conteúdo das LOPP*
*Este resumo de informação não substitui a consulta das LOPP e serve somente para
a identificação de categorias de conteúdo.

Linha de orientação global


Independentemente da ferramenta ou do contexto de interação utilizado para a intervenção
psicológica, a/o psicóloga/o deverá orientar o seu trabalho pelos mesmos princípios éticos e
respeitar as mesmas normas deontológicas e legais a que está vinculada/o numa
intervenção face-a-face. A natureza do contexto ou ferramenta de intervenção não altera a
necessidade de cumprimento dos princípios éticos e normas deontológicas da profissão.

Linhas de orientação

Conhecimento e Competência
As/Os psicólogas/os asseguram-se que possuem as competências necessárias a nível
científico, técnico, ético, legal e cultural para a provisão segura de serviços de psicologia
mediados por TIC, designadamente através de treino e formação específica, bem como da
contínua monitorização através de atividades de supervisão.

Identificação da/o Psicóloga/o e da/o Cliente


As/Os psicólogas/os fornecem informação que assegura à/ao cliente a sua competência
para o exercício desta modalidade de serviços. Além disso, a identificação clara da/o cliente
que pretende aceder a serviços de psicologia mediados por TIC deve ser considerada a boa
prática.

Integridade e Limites da Relação


As/Os psicólogas/os reconhecem a necessidade de manter uma relação profissional com
as/os suas/seus clientes (considerando o setting terapêutico como variável relacional) e
estão conscientes do potencial para quebras na integridade da relação, no contexto de
serviços de psicologia mediados por TIC.

Consentimento Informado
As/Os psicólogas/os reconhecem que o uso de meios digitais no contacto com a/o cliente
acarreta riscos específicos adicionais que deverão ser considerados na obtenção do
consentimento livre e informado. Este consentimento deverá compreender informação clara

37
e compreensível pela/o cliente, tendo em conta a natureza dos dados que poderão ser
registados de modo digital.

Confidencialidade e Segurança no Registo e Transmissão de Dados


As/Os psicólogas/os asseguram-se que possuem o conhecimento informático necessário
para a provisão segura e responsável de serviços de psicologia mediados por TIC.
Informam as/os suas/seus clientes acerca dos limites de confidencialidade, mecanismos de
segurança e potenciais problemas decorrentes do uso de tecnologia, e certificam-se que,
tanto elas/eles, como as/os suas/seus clientes, adotam os procedimentos de segurança
necessários para impedir o acesso a informações confidenciais.

Aspetos Legais e de Jurisdição


As/Os psicólogas/os devem considerar que, para além da legislação aplicável à prestação
de serviços de psicologia em geral, a prestação desses serviços mediada por TIC pode
envolver enquadramentos jurídicos específicos, decorrentes, por exemplo, de diferentes
jurisdições ou de questões associadas à segurança e proteção de dados.

Avaliação Psicológica
As/Os psicólogas/os devem reconhecer as limitações associadas a processos de avaliação
psicológica conduzidos através das TIC e implementá-los apenas quando as condições
mínimas estiverem asseguradas, cruzando diferentes instrumentos formais e informais, de
forma a garantir processos de avaliação rigorosos, transparentes e fidedignos, que estejam
de acordo com os princípios elencados no Código Deontológico da OPP.

Investigação
As/Os psicólogas/os que desenvolvam ou participem em projetos de investigação no âmbito
da Psicologia e eHealth, independentemente de estes se centrarem na análise qualitativa
ou quantitativa dos dados ou recorrem a big data, devem assegurar a qualidade,
comparabilidade e generalização dos resultados obtidos, garantir que os requisitos éticos
aplicáveis são cumpridos e obedecer às normas de relato específicas para estudos desta
natureza.

Intervenção em crise
As/Os psicólogas/os devem identificar potenciais situações de risco e estabelecer,
antecipadamente, os mecanismos a implementar para lidar com estas. Em situações de
crise, crises recorrentes e/ou catástrofe as/os psicólogas/os devem avaliar a exequibilidade
da utilização de serviços de psicologia mediados por TIC.

38
Intervenção com populações específicas
Os/As psicólogas/os que trabalhem com pessoas que procuram asilo e refugiadas devem
reconhecer o potencial das TIC na sua prática, de forma isolada ou combinada com
sessões presenciais, incluindo ultrapassar limitações como a barreira da língua ou a
dificuldade de acesso aos serviços no formato tradicional. Devem ter a consciência que,
nestas situações, continuam a aplicar-se os mesmos princípios éticos e as recomendações
contidas nas presentes LOPP.

Desenvolvimento de ferramentas digitais de intervenção


As/Os psicólogas/os devem conhecer potenciais impactos das aplicações e outras
ferramentas digitais na saúde mental e ter consciência que somente podem ser
consideradas ferramentas de intervenção psicológica aquelas que apresentem evidências
de eficácia obtidas através de métodos técnicos e científicos.

39
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