Fichamento - O Lugar Da Afectividade Na Relação Pedagógica.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

DISCIPLINA DIDÁTICA GERAL – FET 021


PROFESSORA RESPONSÁVEL: ARYCIA GISELI

FICHAMENTO

REFERÊNCIA DO LIVRO, CAPÍTULO OU ARTIGO

AMADO, João; FREIRE Isabel; CARVALHO, Elsa; ANDRÉ, Maria João. O lugar da
afectividade na relação pedagógica: contributos para a formação de professores. Sísifo:
Revista de Ciências da Educação, Lisboa, n. 8, p. 75-86, jan./abr. 2009.

RESUMO DO LIVRO, CAPÍTULO OU ARTIGO


A relação pedagógica entre docentes e alunos muitas vezes se apresenta como um campo
negligenciado na formação inicial e contínua dos professores. Quando abordada, a questão
é frequentemente tratada de maneira desarticulada e sem fundamentação teórica sólida. As
necessidades formativas nesta área são notórias, revelando que muitos educadores
enfrentam, ao longo de suas trajetórias profissionais, obstáculos significativos no
relacionamento com os estudantes. Esses desafios impactam negativamente o desempenho
acadêmico dos alunos e o bem-estar profissional dos próprios docentes. A recente
conjuntura socioeconômica exige respostas inovadoras na formação docente,
especialmente em relação ao desenvolvimento curricular e a integração de novas
tecnologias. Entretanto, a dimensão relacional, que requer habilidades como criatividade,
autocontrole, trabalho em equipe e análise crítica das práticas educativas, é igualmente
crucial. Assim, é imperativo que a pesquisa acadêmica produza conhecimento relevante,
estabelecendo referenciais teóricos e metodológicos que orientem a formação profissional
dos educadores e aprimorem suas competências na construção de relações pedagógicas
eficazes. Os docentes frequentemente enfrentam dificuldades no que diz respeito às
relações pedagógicas, uma questão que ainda recebe pouca atenção tanto na formação
inicial quanto na contínua. A análise das necessidades formativas pauta-se, no entanto, em
sua relevância, especialmente diante do impacto negativo que essas dificuldades podem
exercer sobre o desempenho estudantil e o bem-estar dos professores. A realidade
contemporânea, ao exigir inovações em áreas como desenvolvimento curricular e
tecnologia, não deve negligenciar a importância das relações interpessoais na prática
docente. Para gerenciar essas dinâmicas, os professores necessitam desenvolver
habilidades de autogestão e trabalho colaborativo, além de métodos de observação e
análise crítica das situações educativas.

LISTA DE CITAÇÕES E COMENTÁRIOS


Citações Pág. Comentários
"É esta combinação de p. Esse trecho enfatiza a complexa
subjetividades que torna 77 responsabilidade do professor como mediador
fundamental a exigência de na
uma ética formação dos alunos, ressaltando a importância
que mantenha o professor de uma ética que transcenda o mero
alerta para a sua cumprimento de normas. A ideia de que o
responsabilidade como professor deve ser uma figura de autoridade
'mediador' na nos âmbitos cognitivo, moral e afetivo sugere
construção do 'itinerário' do que sua influência vai além do conteúdo
acadêmico, impactando a formação de valores e

aluno, enquanto autoridade a construção de um futuro mais justo.


nos planos cognitivo, moral A chamada à verdade e à justiça implica que o
e afetivo. Uma educador deve promover não apenas o
responsabilidade que se
conhecimento, mas também a empatia e o
alarga para além da respeito pelas individualidades,
construção de cada rumo
particular e que atinge a fundamentais para a convivência em sociedade.
sociedade e o futuro. T al Essa visão holística da educação é
como se espera que ele essencial para a formação de cidadãos críticos
diga a e conscientes de suas
verdade (lógica, científica e responsabilidades sociais.
moral), também se espera
que ele tenha
comportamentos
e atitudes 'que relevam dos
seus valores cívicos, éticos
e morais' (Sêco, 1997, p.
73) e, consequentemente,
interaja com justiça, não se
limitando
ao respeito pela lei e pela
regra, mas com desvelo e o
reconhecimento do outro
(Amado, 2000)."
“Estas conclusões vieram p. Aqui vemos a importância de integrar aspectos
reforçar a ideia já defendida 78 afetivos e cognitivos no processo de
pelos pedagogos da Escola ensino-aprendizagem, uma ideia central na
Nova, de um indispensável abordagem da Escola Nova. A ênfase em
investimento nas condições condições afetivas favoráveis sugere que o
do ensino, incluindo ambiente emocional do aluno é tão crucial
condições quanto a qualidade técnica do ensino. O
afetivas favoráveis, para argumento de que a aprendizagem
que se verifique a significativa depende do prazer e do sucesso
aprendizagem de individual reflete uma visão holística da
conteúdos a par de uma
educação, onde o engajamento emocional
educação integral do aluno,
potencializa a assimilação de conteúdos. Assim,
contemplando
é essencial que educadores reconheçam a
conhecimentos, emoções,
interdependência entre
valores e
conhecimento e emoção, promovendo um
atitudes. Essas
ambiente onde os alunos se sintam
aprendizagens tornam se
facilitadas 'quando o valorizados e motivados, o que, por sua vez,
indivíduo trabalha com facilita a construção de aprendizagens
prazer e quando os seus duradouras e significativas. Essa perspectiva
esforços são coroados de não apenas enriquece a prática
êxito. Isto significa que o pedagógica, mas também contribui para a
êxito formação de indivíduos mais completos e
escolar depende tanto dos preparados para os desafios da sociedade.
aspectos intelectuais como
dos afetivos' (Neves &
Carvalho,
2006, p. 202). Dito de outro
modo, se as aprendizagens
escolares dependem de um
conjunto de exigências de
ordem técnica, assentes
num 'saber fazer' que o
avanço nos
conhecimentos e novas
tecnologias garante e
exige, não podem deixar
de assentar,
por outro lado, num
conjunto de características
afetivas identificáveis que
faça com que
os conteúdos toquem a
pessoa do aluno e ativem
'os mecanismos cognitivos
para trabalhar a informação
e para que a
aprendizagem significativa
se efetue’” (Gonçalves&
Alarcão, 2004, p. 6).

“Acresce a todos estes p. Esse trecho ressalta a importância das


aspecto da ordem do 'saber 79 características pessoais do professor na
fazer' e do profissionalismo, construção de um ambiente de aprendizagem
a eficaz. A disponibilidade, a capacidade
esfera das características de ouvir e a proximidade respeitosa são
pessoais do professor, em fundamentais para estabelecer uma relação de
que sobressaem a confiança entre educador e aluno. Além disso, a
disponibilidade ênfase na criação de um clima de
(capacidade de ouvir e bem-estar e humor sugere que um ambiente
entender sem deixar de ser positivo pode facilitar a aprendizagem,
crítico), a aproximação tornando-a mais prazerosa e engajante. Além
amistosa e disso, a ideia de que os alunos
respeitosa (por exemplo, reconhecem e ajustam seus comportamentos
cumprimentar e falar com o de acordo com o estilo de cada professor
aluno em contextos revela a dinâmica da sala de aula e a influência
exteriores à que a personalidade do educador
escola e à aula) e, muito exerce sobre os estudantes. Professores que
especialmente, a equilibram seriedade e humor tendem a
capacidade de criar um fomentar um ambiente onde os alunos se
clima de bem estar sentem à vontade para se expressar e
e de humor (onde o aluno aprender. Isso reforça a visão de que a
se possa rir e, ao mesmo educação não é apenas um processo técnico,
tempo, sinta incentivo para
mas também uma interação humana complexa,
trabalhar). A exigência de
onde as relações interpessoais são
que o professor seja capaz
de temperar a severidade cruciais para o sucesso do ensino. Essa
com abordagem pode, portanto, contribuir para uma
humor é reconhecida desde educação mais inclusiva e envolvente.
há muito (Dubberley, 1995).
Segundo Amado (2001, p.

345) os alunos,
conhecendo bem os seus
professores, elaboram uma
espécie de tipologia que
lhes permite regular os
próprios comportamentos
face ao estilo que
naqueles predomina: “há,
assim, a este respeito pelo
menos três tipos de
professores:
aqueles com quem se pode
brincar e abusar e não
dizem nada; aqueles com
quem se brinca mas não se
pode abusar; aqueles com
quem nunca se pode
brincar”.
Analisar a questão na pg. Por diante, temos a ideia de que sim, a
perspectiva da relação do 78-79 afetividade de alunos-professores é fundamental
professor para com os e esta deve ser evidenciada por todos,
alunos, implica dar conta do excluindo o favoritismo e prevalecendo a
modo como estes neutralidade. Os alunos tendem a ter mais
percebem a acção daquele simpatia com um docente que se ajusta a
no classe como um todo, e não somente alguns,
domínio do respeito seja por ver seus amigos como iguais ou por se
(incluindo a capacidade de verem capazes – também – de serem
os alcançados. O favoritismo também tende a criar
ideias de sedução , especialmente em classes
escutar), no plano da
competência (preocupação de anos finais: A este propósito Amado (2001,
pelas aprendizagens p. 404) verificou que, na fase da adolescência,
efectivas de cada um), no o aluno, quando o professor ultrapassa certos
plano limites nas manifestações verbais de carinho e
afeito para ele e a turma, interpreta essas
da justiça relacional e da
manifestações como uma estratégia de
gestão dos poderes
sedução, utilizada para “exercer um controlo
(ausência de favoritismos,
que aos seus olhos não é legítimo, constituindo
ausência de exclusão,
uma espécie de violência (ainda que simbólica)
partilha de decisões e de
inaceitável”.
iniciativas), e no plano
pessoal
(abertura aos interesses e
problemas do aluno,
cuidado e preocupação,
valorização da sua
liberdade e
sentimentos, etc.).
Neste campo, entre as
conclusões evidenciadas
pela investigação,
salientamos as que
demonstram
que, quanto mais os alunos
percepcionam a ausência
de favoritismo e a
neutralidade
por parte dos
professores, mais confiam
neles e lhes atribuem um
estatuto de autoridade
(Gouveia- Pereira, 2008).
Amado (2001, p. 402)
chama a atenção para o
fenómeno da reciprocidade
de sentimentos e de
comportamentos que “se
traduz numa relação directa
entre a ‘simpatia’ do
professor e a adesão
afectiva e comportamental
do aluno”, numa espécie
de “cau
salidade circular entre a
simpatia, o respeito mútuo
e os comportamentos
ajustados”.

A dimensão afectiva na pg. 79 Portanto, o comportamento do professor


gestão do currículo está perante ao aluno não deve ser apenas
associada a categorias do utilizando o método tradicional, com a Escola
comportamento verbal e Nova, temos como resultado diferente
não verbal do professor; enquanto metodologias e ferramentas
falamos de posturas não diferentes são utilizadas. Dentre essas
ferramentas, a humanização, apoio na
verbais, tais como a
resolução de problemas e a não
proximidade (deslocações
marginalização. Contudo, os alunos tendem a
do professor para junto dos
ficar mais receptivos e abertos em relação às
alunos numa atitude de suas dificuldades dentro e fora de sala,
ajuda) e a receptividade abrangendo também suas relações e posição
(traduzida no esforço por na sociedade.
olhar e ouvir o aluno). Já as
categorias da comunicação
verbal do professor,
positivamente avaliadas,
são múltiplas, salientando
se verbalizações de
incentivo, ajuda, feedback e
elogio. Trata- se de
comportamentos docentes
que, segundo uma síntese
apoiada em diversos
autores (Amado, 2001;
Freire,
1990, 2001; Gonçalves &
Alarcão, 2004; Leite & Ta
gliaferro, 2005; Leite &
Tassoni, 2002):
Segundo a autora (André, pg. 79 Neste trecho, evidencia a importância da
2007, p. 134), alguns formação dos professores e seu bem-estar
dos critérios de avaliação socioeconômico. O desenvolvimento do docente

utilizados pelos alunos em irá variar não apenas pela formação acadêmica
relação aos docentes mas também por suas vivências e necessidades
poderão ser sistematizados sociais, se o docente não se sente bem e age
da de forma hostil, dificilmente irá conseguir
seguinte forma: os alunos alcançar seus alunos de forma positiva. A
valorizam positivamente os relação do docente perante a sociedade irá se
professores em função das adequar na influência do aluno, não somente
suas “técnicas de ensino”, seu nível acadêmico, mas também seus
ou seja, os que ajudam e costumes, pois o papel do docente é também,
explicam bem, variam preparar pessoas que irão colaborar na
o ensino e permitem maior educação, mesmo que posteriormente.
liberdade; a preferência foi
também para professores
carinhosos,
bem humorados,
amistosos e
compreensivos; a firmeza
e controlo são atitudes
muito enaltecidas, contudo,
a excessiva severidade ou
a brandura são vistas de
uma forma negativa; a
justiça ou a injustiça nas ati
tudes, ou o tratamento
diferencial de alguns
alunos, são critérios
igualmente utilizados para
a avaliarem os seus
professores.
zagem e num clima de
convivência saudável.

CONSIDERAÇÕES
Podemos concluir com alguma segurança que a afetividade desempenha um papel central
na relação pedagógica, pois cria as condições necessárias para um aprendizado significativo
e duradouro. Quando os educadores cultivam um ambiente afetivo, baseado em confiança,
empatia e respeito, os alunos se sentem mais seguros para se expressar, explorar ideias e
enfrentar desafios. Essa conexão emocional não apenas facilita a assimilação de conteúdos,
mas também contribui para o desenvolvimento integral do aluno, promovendo habilidades
sociais e emocionais que são essenciais na vida. Portanto, reconhecer e valorizar a
afetividade na educação é fundamental para formar cidadãos críticos e conscientes, prontos
para interagir de maneira positiva com o mundo ao seu redor. A relação pedagógica, assim,
transcende a simples transmissão de conhecimento, tornando-se um espaço de crescimento
mútuo e de construção de valores.

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