Karvid - Cora Félix
Karvid - Cora Félix
Karvid - Cora Félix
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte dessa
obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meio eletrônico ou mecânico sem a
permissão do escrito do Autor e/ou Editor.
1ª Edição
Revisão
Nadja Moreno
Capa e Diagramação
Editorial Félix
NOTA DA AUTORA
Zygmunt Bauman
ATENÇÃO
[...]
Andavam há quase uma hora, ou pelo menos era isso que ela achava,
havia perdido a ideia do tempo, o frio enevoava a mente e Svenja já não
sabia o que era real e o que era fantasia da própria cabeça. Tinha escutado
risadas em volta, o som de botas correndo pelos cascalhos úmidos de
alguma floresta, galhos quebrando. Havia escutado gritos finos, pensou em
Theda e em como a irmã estaria e como os pais ficariam quando
descobrissem que havia sido levada. Os olhos ameaçaram fechar, o cansaço
inundando cada parte do corpo. O pescoço doía por causa da corrente
apertada, o saco de juta tinha um cheiro estranho que ela não conseguiu
identificar, e o frio – ah, este iria matá-la.
De repente a criatura parou. Svenja sabia disso porque a corrente
ficou mais larga e um silêncio súbito e peculiar a cercou. Olhou para os
próprios pés, já quase não os sentia mais, o que a fazia tropeçar em cada
pedra ou galho que havia pelo caminho. Escutava a respiração difícil, mas
ficou alerta quando viu cascos grandes pela fresta da juta. De repente, a
criatura arrancou o saco da sua cabeça e Svenja fechou os olhos quando a
juta machucou a pele.
Piscou algumas vezes e os olhos claros correram pelo local.
Procurava algo, pelo menos um sinal de onde estava para que se orientasse
quando tentasse fugir, mas tudo o que viu foram árvores e a imensidão clara
da neve. Engoliu em seco.
— O-o-onde estamos? — Seu queixo batia e as palavras eram
difíceis. — Para onde está me levando? — Lembrou-se das histórias e de
como as crianças que sobreviviam eram achadas em florestas mais ao
Norte.
A criatura sorriu, os dentes afiados aparecendo por entre os lábios
escuros.
— Se eu contasse a você, teria problemas, certo?
A voz ainda era gutural, mas Svenja conseguiu detectar um som mais
humano junto à pergunta e percebeu que estava alucinando.
— Eu… O frio. Vou morrer se não tiver abrigo.
A criatura não se mexeu, mas depois rosnou e começou a puxar a
corrente. Svenja não teve outra saída senão acompanhá-lo. Sabia que, caso
sucumbisse ao cansaço e caísse na neve, seria puxada até que não restasse
mais carne nos ossos. Andaram por bons metros, a paisagem de neve não
mudou, mas as árvores começaram a ficar menos espaçadas e logo os
troncos estavam mais próximos, os pés dela estavam úmidos e pôde
perceber que sangravam.
Engoliu em seco e olhou em volta. Conseguiria gritar? Teria forças
para isso? Antes que pudesse pensar em um plano de sobrevivência, algo
que pudesse fazer para pelo menos ter uma chance, sentiu o calor.
Como se tivesse entrado em uma banheira de água quente ou se o
vento do verão tivesse lutado contra a neve e achado o corpo dela. A lã da
sua roupa de dormir se aqueceu e o gelo que incrustava os fios do cabelo
derreteu. Os lábios pararam de bater e os pés começaram a sentir o chão que
pisava: úmido e macio. Svenja olhou para baixo e se surpreendeu ao ver a
terra escura com folhas verdes debaixo de uma neve tímida.
Sem conseguir acreditar, olhou para a criatura ao lado. Ele jogou o
saco de juta no chão, mas não a olhou nos olhos, apenas continuou
andando. Svenja o acompanhou, sentindo o conforto que o calor havia feito
em seu corpo. Não era uma mulher de crenças, apesar de ter passado a vida
inteira em um vilarejo que era regido por elas, mas precisou admitir que o
que sentia era… inacreditável.
— Como… — Ela arfou quando o viu.
A criatura ainda era alta, mas o corpanzil encurvado estava se
esticando, como se estivesse alongando a coluna depois de décadas andando
daquela maneira. Os pelos escuros pareciam estar sendo sugados para
dentro do corpo e os passos de Svenja pararam para ela acompanhar o que
se passava em frente aos seus olhos, mas sentiu a corrente voltar a enforcá-
la e voltou a andar, os olhos claros não se desgrudando da criatura.
Pele pálida apareceu em meio à pelagem, os cascos se esticaram e
formaram pés humanos, as pernas animais foram substituídas por coxas
grossas cobertas pelo couro puído que antes encobria sua corcunda. O peito
estava nu, um colar com uma pedra escura descansava em sua pele e
brilhava com a claridade quase etérea do lugar onde estavam.
A garota desgrudou os olhos da criatura e abriu a boca para observar a
floresta ao redor. As árvores triviais de troncos escuros foram substituídas
por troncos claros salpicados com musgo amarelado, as copas cobertas de
neve ainda possuíam folhas, que tinham um leve tom arroxeado. A grama
que ela pisava tinha o mesmo tom habitual verde, mas era macia e quente.
Svenja parou para encarar os próprios pés, que haviam parado de doer e
sangrar, como se a grama os tivesse curado, um sorriso infantil percorreu os
lábios dela, mas a corrente apertou seu pescoço e Svenja lembrou-se da dor
que sentia ali.
Os olhos azuis voltaram-se para a criatura, mas o que viram não era a
besta que havia entrado no casebre. A altura havia diminuído, mas ela ainda
precisava inclinar o rosto para olhá-lo. As pernas torneadas pararam de dar
passos largos e ele voltou o corpo para ela. A postura era perfeita, a pedra
negra brilhou no peito dele e parecia chamá-la, como uma cantiga antiga de
infância que a deixava calma.
A cauda ricocheteou no ar quando ele estendeu o braço e gesticulou
para a floresta à frente, as mãos fortes que seguravam a corrente que a
puxava ainda possuíam garras, menores e escuras, mas letais.
— Bem-vinda a Uleadore.
A voz havia mudado, ainda era grosseira, mas altiva. Svenja engoliu
em seco. O rosto que a observava era sério e cruel, um traço do Krampus
que ela conhecia dos pesadelos de criança, os olhos amarelados a fitavam
com certa diversão enquanto ela o analisava e se perguntava se estava
enlouquecendo antes mesmo de tentar sobreviver àquilo. As orelhas eram
pontudas, os chifres permaneceram, longos e curvados. Um sorriso
percorreu os lábios agora humanos, Svenja conseguiu ver dentes normais,
mas as presas alongadas lhe diziam que, apesar de parecer menos bestial,
ele ainda era perigoso.
— Será um prazer hospedá-la.
II
Karvid observava a garota humana com certa diversão nas curvas dos
lábios. Parecia uma criaturinha assustada e surpresa, mas ele conseguia ver
certo fascínio pontuando as feições do rosto feminino. Sabia que, quando
tirasse o glamour e revelasse sua verdadeira forma, ela teria aquela reação.
Todos os humanos tinham.
Não que ele fizesse isso com muitos. O equilíbrio da floresta pedia
apenas uma visita humana por ano, e ele às vezes preferia continuar com
sua forma bestial mais conhecida, o meio animal que prendia crianças pelas
correntes e as enfiava no saco de juta. O que ele fazia com as crianças
variava muito de vilarejo para vilarejo, mas Karvid sempre se divertia com
as facetas das histórias.
Como os humanos tinham imaginação!
O medo era uma motivação para eles e alimentava cada vez mais as
histórias, que passavam de geração a geração, cada um dava o seu toque
especial, e o que os súditos de Karvid lhe diziam era de gargalhar.
Ele puxou com leveza a corrente para que a humana saísse do estado
de torpor e foi agraciado com olhos azuis banhados de medo, uma
combinação que apreciava muito.
— O-o-onde estou? — ela perguntou sem entender, provavelmente
estava achando que havia ficado louca. Era a reação mais comum.
— Uleadore. — Karvid voltou a dizer e se aproximou, a humana se
encolheu, mas ele apenas retirou a corrente do pescoço delgado e agora
machucado. — Você está no meu reino.
Ela passou a mão no pescoço onde a corrente estava, e os dedos
estremeceram quando sentiram a pele arder.
— Não se preocupe com isso. — Ele tentou acalmá-la. — A floresta
irá curá-la.
[...]
Ela comeu tudo o que haviam ofertado. Svenja não era tola em negar
comida, mesmo que a daquele lugar parecesse diferente aos olhos. Com a
situação em que sua família estava, na qual às vezes precisavam escolher
entre comprar lenha ou legumes já murchos para a sopa, um prato como o
que ela havia devorado era raro e, Svenja pensou com tristeza, uma honra.
Há bons meses não comia carne. A daquele mundo tinha um gosto
natural, mesmo que ela estivesse esperado algo diferente. Não sabia quais
animais poderia encontrar na floresta. A bebida era forte, Svenja sentiu a
mente flutuar depois de dois goles, mas o corpo pareceu abraçar aquela
sensação como uma criança se apega a um cobertor quente em uma noite
gelada. Um conforto, ela deduziu. A taça estava vazia ao lado do prato
também vazio e, com isso, o cansaço veio.
O quarto estava silencioso. A pequena fada não havia voltado e
Svenja tentou de todos os modos abrir as portas e as janelas, mas não
obteve êxito. Sua fuga frustrada a fez explorar o ambiente, abriu várias
gavetas para descobrir objetos estranhos e roupas que nunca havia visto nas
vilas humanas. Vestidos e mais vestidos de tecidos diversos, alguns ásperos
e outros sedosos ao toque. Svenja era uma mulher que nunca havia tido um
vestido daqueles, e precisou fechar as gavetas para conter a vontade de
experimentar a roupa.
Andou até a janela e observou o jardim que era cultivado no pátio
fora do castelo. Era belo como apenas uma cidadela mágica poderia abrigar.
As copas violeta contrastavam com o céu escuro. A neve que ainda insistia
em cair derretia antes de chegar ao solo ou às pétalas roxas. Svenja sabia
que a neve ainda ia cair por bons meses. Engoliu em seco. Aquilo
dificultaria sua fuga.
Ela se jogou na cama enorme e, depois de relutar, enfiou-se debaixo
do cobertor de pele clara. O aroma de flores que parecia fazer parte do
castelo, junto do cheiro de madeira da lareira, fez com que ela se sentisse
estranhamente calma. Depois, a solidão veio. Pensou em como estaria
Theda e como os pais ficariam ao saber que Svenja havia se sacrificado pela
irmã. Sentiu falta da cama que dividia com ela, mesmo que essa fosse bem
menor e mais dura com a palha escassa. A sopa rala da mãe parecia ser
melhor que o jantar suntuoso que havia devorado em minutos. Fechou os
olhos e sentiu uma lágrima descer pela bochecha e encontrar o algodão
macio do travesseiro.
Depois, sua mente desvaneceu, e ela caiu na inconsciência.
[...]
[...]
Svenja não fazia ideia de como ele sabia seu nome, mas, pelos deuses,
a voz daquela besta o pronunciado fez com que arrepios percorressem o seu
corpo, arrepios que aumentaram quando ele deslizou os dedos pelas pernas
desnudas dela, as unhas afiadas e escuras fazendo com que Svenja tivesse
uma vontade enorme de senti-las por todo o corpo. Ele subiu o toque e o
coração da garota quase saiu pela boca.
— Tocá-la onde estou tocando é considerado imoralidade para os
humanos?
As unhas arranharam com leveza a carne interna das coxas. Sim, era
imoral. Svenja nunca havia sentido um toque masculino ali. Os garotos que
havia beijado nem mesmo tinham descido as mãos. Ela engoliu em seco.
— Acredita que homens e mulheres precisam conter os próprios
desejos?
Ele subiu um pouco o toque, ínfimo, mas acendeu algo em Svenja que
ela nunca havia sentido. A garota separou os lábios e tomou coragem para
observá-lo. Foi a atitude mais tola que podia ter tomado. Quanto mais
olhava para Karvid, mas ele se tornava belo. Aquilo era possível?
— Continue lendo para mim, garota.
Ela quase não acreditou no pedido, abriu a boca para retrucar, mas
sentiu o dedo dele passar com leveza pelo seu sexo e a fechou sem
acreditar. Suas mãos ainda estavam amarradas, mas ela tentou se
desvencilhar do toque, não por não o desejar, mas porque parecia estar
perdendo a sanidade toda vez que sentia as unhas afiadas dele deslizarem
com lentidão na entrada da sua intimidade.
— Eu… Eu não posso. — Ela não conseguia.
— Continue.
— Companheiros devem cumprir os deveres nupciais ao compartilhar
o elo sagrado… — A pressão do dedo dele aumentou e Svenja respirou
fundo. — A mulher não tem autoridade sobre o próprio corpo, apenas o
companheiro.
— Hmm… Eu gostei dessa parte.
Ele a empurrou para a cama, puxou as mãos atadas dela para cima e
jogou o livro para o lado. Svenja tentou se desvencilhar, mas o corpo dele a
prensou no colchão e ela sentiu a excitação de Karvid. Ela não era pura.
Bom, não pelos olhos do Breviário. Svenja já havia sentido aquilo em
alguns garotos, até mesmo já tinha enfiado a mão em incontáveis calças
para arrancar gemidos inocentes dos coitados, mas não aquilo.
Karvid a observou com atenção e Svenja ficou presa nos olhos
amarelos. Desviou-os para os lábios grossos e sentiu o coração dar um pulo
quando ele sorriu e mostrou as presas.
— Diga-me, Svenja… O que deseja nesse momento?
— Eu… C-como?
— Preciso saber o que deseja para que eu vá além — Karvid
sussurrou, as unhas afiadas faziam círculos nos pulsos doloridos dela, mas
as cordas ainda a prendiam e ele a mantinha com os braços suspensos.
— Me solte…
As unhas dele fincaram na carne da sua coxa e Svenja fechou os
olhos, os lábios abriram e um gemido incontido escapou.
— Esse não é o seu desejo, Svenja… — A mão dele pressionou a
coxa e a forçou a abrir, um dedo deslizando pela sua entrada. Ela sabia que
estava úmida apenas com aquele toque. — Quer ser beijada? Já
experimentou beijar um monstro?
Ele se aproximou e, ao ver que ela não recuaria, tocou os lábios dela.
Svenja deixou outro gemido escapar e dessa vez não fez muita questão de
disfarçá-lo. Ele tinha gosto de natureza selvagem, o aroma de flores e neve
caindo sobre grama úmida exalava da pele pálida, a pedra escura do cordão
escapou e descansou entre os seios dela, uma intimidade estranha nasceu
ali, a sensibilidade dela aflorou e Svenja abriu as pernas em um convite. O
dedo de Karvid entrou, deslizou com facilidade e tocou um lugar que
ninguém nunca havia sequer pensado em tocar.
A língua dele pediu permissão, acariciou os lábios de Svenja e ela
cedeu àquilo também. Já havia beijado garotos, mas beijar uma criatura
como ele era diferente. A língua dele era quente e aveludada, as presas
mordiscavam o lábio inferior da garota enquanto o dedo trabalhava entre as
suas pernas, para dentro, para fora, para dentro, para fora… Tocavam o
ponto sensível e acariciavam ali como uma reverência. Ele se afastou
brevemente e o hálito quente bateu no rosto dela quando ele fez a pergunta.
— Você vai me deixar tocá-la? — As presas voltaram a mordiscar o
lábio dela. — Me deixe mostrar o que um monstro como eu consegue fazer
com um corpo frágil como o seu.
Svenja estava sem fôlego, mas um rubor tomou as bochechas quando
ela apenas fechou os olhos e assentiu, derrotada. Escutou a risada e de
repente o peso do corpo dele diminuiu. Ela esperou, ainda de olhos
fechados. A boca atrevida desceu pelo corpo dela, a língua quente
circulando o umbigo, as mãos fortes acharam o tecido frágil da roupa de
dormir e rasgaram como se fosse algodão envelhecido, o corpo dela foi
revelado e Svenja sentiu os olhos felinos dele sobre cada pedaço de pele.
— Olhe para mim, Svenja. Quero vê-la se derramar na minha boca
quando eu começar.
Svenja franziu o cenho e, com relutância, abriu os olhos. Ele estava
mais abaixo, entre as pernas dela e ela se perguntou o que ele fazia ali,
quando o viu sorrir e abaixar a cabeça. Ela arregalou os olhos quando
entendeu, mas foi tarde demais quando a língua mergulhou no sexo úmido.
Svenja gritou dessa vez, tentando de toda forma abaixar os braços, mas
alguma magia os mantinha presos acima do corpo e ela sentia a corda
machucá-la enquanto ele fazia o trabalho primoroso entre as suas pernas.
Os chifres raspavam na pele das coxas, as pontas mais afiadas enviavam
arrepios pelo corpo feminino. Svenja nunca havia experimentado aquilo, era
insano, era errado, mas era delicioso e irresistível, e ela se perguntou como
as palavras do Breviário descreveriam aquilo, para depois descobrir que não
queria saber sobre Breviário nenhum.
O dedo dele entrou, a língua acariciou e os lábios sugaram, Svenja
achou que ia enlouquecer, mas quando o corpo pedia por algum tipo de
libertação, de fôlego, o toque sumiu e ela ficou ali, deitada e sem fôlego,
uma fina camada de suor no corpo. Olhou para ele, confusa e, de certa
maneira, irritada. Descobriu a besta sorrindo para ela e percebeu o que ele
estava fazendo.
— Você já viu um homem nu? — Karvid perguntou e tirou a blusa
que usava. Ela já havia visto o torso dele, mas os contornos do corpo
pareciam ainda mais exuberantes sob a claridade da lareira.
Ela assentiu com a cabeça, já havia visto alguns homens nus. Em
livros de anatomia que algumas curandeiras usavam. Eram proibidos, mas
as amigas de Svenja uma vez surrupiaram da biblioteca real para folheá-los
e ficaram surpresas quando encontraram as páginas com as imagens. Havia
também os rapazes que tomavam banhos nos lagos das vilas. Ele ainda
estava se despindo. A calça desceu pelas coxas grossas e Svenja não
conseguiu conter a surpresa quando os olhos correram por todo o corpo. O
sorriso não deixava o rosto de Karvid e Svenja não sabia se o odiava ou se
aquilo a excitava mais.
— Se parecem comigo? — A pergunta foi divertida.
E ela sabia o motivo. Não, não se pareciam em nada com a criatura
que ela via. Svenja não precisava conhecer o corpo de um homem para
saber que o dele se encaixava no padrão de anatomia perfeita. O tipo de
anatomia que as mulheres evitavam, mas sucumbiam. As coxas grossas não
possuíam pelo algum, nem mesmo o peitoral, nem mesmo… Ela observou o
que ele havia revelado e engoliu em seco. Depois, subiu os olhos e
observou o rosto. Os olhos, antes amarelos, agora estavam escuros como a
noite, as presas pareciam ter esticado alguns centímetros e os chifres…
pelos céus, os chifres a aterrorizavam, mas Svenja queria tocá-los. Ah,
como queria.
Karvid se juntou a ela na cama e Svenja abriu as pernas para recebê-
lo. Os dedos dele correram pela cintura delicada, as unhas a acariciando no
processo. Ela fechou os olhos e se remexeu, ele pareceu ler o desejo dela.
— Se eu a soltar, promete se comportar?
Ela assentiu e ele voltou a sorrir.
A pressão das cordas sumiu e os braços dela caíram ao lado do corpo.
Svenja não conseguiu se conter em abraçá-lo e puxá-lo para si. A risada de
Karvid tocou a pele do rosto dela quando ele percebeu o que ela queria.
— Coisinha impaciente. — O dedo dele correu pelo sexo úmido e
túrgido. — Vamos acabar com as palavras sacras deste Breviário que você
segue.
Com um empurrão, ele a invadiu. Svenja gritou. De dor, de prazer.
Ela não soube ao certo. Achou que estava sendo rasgada, partida em dois.
Ele a espichou, tomou o que era mais puro dela, roubou sua honra e não
parecia disposto a entregá-la de volta, mesmo que destruída.
Depois de um tempo, ele começou a se mexer.
[...]
Karvid precisou ser sincero, aquela humana era quente como o verão
e macia como o algodão mais caro de Uleadore. Nunca havia
experimentado uma como ela: pura, apertada e vulnerável. Sempre se
deitava com mulheres da sua espécie, humanas eram frágeis e ele tendia a
ser um pouco violento em suas preferências, não gostava de ser refreado e
não saciar os próprios desejos. Precisavam ser enfeitiçadas depois, não se
lembravam do que houve, e Karvid era um homem que gostava de marcar a
sua presa. Qual a diversão em não ver a companhia voltar para a cama dele
e implorar por mais?
Mas Svenja… Ela parecia diferente. Seu cristal sentiu isso quando
tocou o corpo dela. A sensibilidade dela aflorou para a magia da espécie
dele. E o corpo dela era tão receptivo… Ele era ainda grande para ela, mas
o sexo dela o recebeu como se ele sempre tivesse entrado ali e ele precisou
controlar a vontade de morder o pescoço delicado e deixar uma marca
eterna.
Sem pensar duas vezes, afastou o quadril e a invadiu de novo. Ela
aguentaria, aquela coisinha pequena e frágil, aguentaria tudo dele.
[...]
A energia do sobrenatural está mudando. E o reino humano sente a vibração. Atman está alerta
com a maldade que corrói o coração dos homens e com a movimentação dos inimigos. O submundo,
há muito dormente, espreita e aguarda uma oportunidade para corromper.
Arsene Lefevre, um vampiro que carrega um sangue único, passa boa parte do tempo entre as
pernas de mulheres e enfiando as presas em pescoços alheios, mas uma decisão do seu mestre faz
com que o destino dele seja mudado.
Já Lymena é vista como uma bruxa que possui um poder dormente e sente o peso de carregar em
breve a Coroa Vermelha para liderar o Coven. Com a mente responsável e centrada em sua ascensão,
está disposta a abdicar de tudo para se dedicar à realeza bruxa. Mas o caminho cruzado com Arsene
faz a determinação dela falhar.
A luz suportará iluminar as trevas? Ou a escuridão conseguirá abocanhar a bondade no mundo?
Merik possuía os olhos mais negros que Alys um dia tinha visto em um
rosto humano. O cabelo era levemente ondulado e estava penteado para trás
em fios arrumados, o que deixava o rosto sem defeitos à mostra. Vestia-se
todo de preto e a palidez da pele ficava mais acentuada por causa das cores
escolhidas. O couro do gibão possuía um pequeno broche prateado, com
uma insígnia que ela não reconheceu, o único tom claro além da pele e do
anel que usava
Por mais que Alys já tivesse visitado vários lugares por todo o reino —
até mesmo na corte, acompanhada da tia —, aquele homem era bem
diferente dos que ela estava acostumada a ver. Era muito belo, mas gritava a
ela que representava o perigo do qual Alys fugia quando entrou naquela
taberna.
CORA FÉLIX
Ilustradora, escritora e pesquisadora de criaturas fantásticas, Cora Félix
iniciou sua vida literária por meio das fanfictions (histórias de fãs), até
começar a produzir livros autorais. Estabeleceu carreira no campo erótico,
mas por ser apaixonada por vilões, passou a se dedicar à escrita de ficção
fantástica — hoje, tem foco exclusivo para a construção de livros
fantásticos e sobrenaturais. Autora de “Sinestesia”, distopia erótica e “O
Domador de Bruxas”, marcou sua estreia na fantasia adulta e recorde de
vendas na Bienal do Livro de 2022, Cora já foi listada entre as autoras mais
vendidas da Amazon, chegando à 5ª posição.