André F.P.Vale - Frações Burguesas e o Governo Bolsonaro

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AS FRAÇÕES BURGUESAS E O GOVERNO BOLSONARO


DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19 (2020-2021)
Bourgeois fractions and the Bolsonaro government during the Covid-19
pandemic (2020-2021)
Fracciones burguesas y el gobierno de Bolsonaro durante la pandemia de
Covid-19 (2020-2021)

André Flores Penha Vallei


Octávio Fonseca Del Passoii

RESUMO:
Este artigo analisa a relação entre as frações burguesas e o governo Bolsonaro durante a pandemia da Covid-
19, nos anos de 2020 e 2021. Analisamos os posicionamentos políticos das frações burguesas diante da
política econômica, da gestão da crise sanitária e da crise política. Através da análise de documentos das
associações empresariais e declarações dos agentes econômicos na imprensa, verificamos que a burguesia
esteve unida em torno das reformas neoliberais, mas dividida em relação ao negacionismo e ao movimento
golpista. Com isso, identificamos que as frações burguesas estavam mais ou menos alinhadas ao governo,
sendo representadas pela direita neofascista e pela direita tradicional, que dominaram a cena política
naquela conjuntura.
PALAVRAS-CHAVE: Frações burguesas; bloco no poder; governo Bolsonaro; Covid-19; neofascismo.

ABSTRACT:
This article analyzes the relationship between the bourgeois fractions and the Bolsonaro government during
the Covid-19 pandemic, in the years 2020 and 2021. We analyze the political positions of the bourgeois
fractions in the face of economic policy, the management of the health crisis and the political crisis. Through
the analysis of documents from business associations and statements by economic agents in the press, we
found that the bourgeoisie was united around neoliberal reforms, but divided in relation to denialism and
the coup movement. With this, we identified that the bourgeois fractions were more or less aligned with the
government, being represented by the neofascist right and the traditional right, which dominated the
political scene at that juncture.
KEYWORDS: Bourgeois fractions; bloc power; Bolsonaro government; Covid-19; neofascism.

RESUMEN:
Este artículo analiza la relación entre las fracciones burguesas y el gobierno Bolsonaro durante la pandemia
de la Covid-19, en los años 2020 y 2021. Analizamos las posiciones políticas de las fracciones burguesas
frente a la política económica, la gestión de la crisis sanitaria y la crisis política. A través del análisis de
documentos de gremios empresariales y declaraciones de agentes económicos en la prensa, encontramos
que la burguesía estaba unida en torno a las reformas neoliberales, pero dividida en relación al negacionismo
y al movimiento golpista. Con esto, identificamos que las fracciones burguesas estaban más o menos
alineadas con el gobierno, siendo representadas por la derecha neofascista y la derecha tradicional, que
dominaban el escenario político en esa coyuntura.
PALABRAS CLAVE: Fracciones burguesas; bloque en el poder; gobierno Bolsonaro; COVID-19;
neofascismo.

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INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é analisar a relação entre as frações burguesas e o governo
de Jair Bolsonaro, entendido como variante neofascista no Brasil, durante a pandemia da
Covid-19, nos anos de 2020 e 2021. Buscamos relacionar a política de Estado, sobretudo
as políticas econômica e a sanitária, com as classes e frações de classe que compõem o
governo e, de maneira mais ampla, o bloco no poder, que indica a “unidade contraditória
particular das classes ou frações de classe politicamente dominantes, em sua relação com
uma forma particular do Estado capitalista” (Poulantzas, 2019, p. 240/241).
A hipótese central é que houve uma relação de unidade e de conflito entre as
frações burguesas e o governo: unidade em torno de aspectos da política econômicaiii e
conflito em torno da política sanitária e do movimento golpista insuflado diretamente pelo
presidente. Estes conflitos foram manifestados na cena política pela direita neofascista e
pela direita tradicional e sua intensificação estabeleceu um quadro de crise política, mais
precisamente uma situação de instabilidade hegemônica, na medida em que o programa
neoliberal não obteve o consentimento das classes dominadas, induzindo a aliança das
frações burguesas com o movimento neofascista, que constitui uma força social e política
que elas não controlam.
O artigo está dividido em cinco partes. Na primeira, apresentamos a
caracterização do bolsonarismo como variante brasileira do neofascismo. Na segunda,
discorremos sobre o papel desempenhado pelas diferentes classes e frações de classes que
apoiam o governo. Na terceira, analisamos a política econômica e a hierarquia de poder
entre as frações burguesas. Na quarta, analisamos os posicionamentos das frações
burguesas ante a crise sanitária. E na quinta, analisamos os posicionamentos das frações
burguesas ante a crise política.

BOLSONARISMO COMO VARIANTE DO NEOFASCISMO


A ascensão de movimentos de extrema-direita em escala global, no período
posterior à crise econômica de 2008, constitui um tema de maior relevância na conjuntura
atual. A chegada de alguns destes movimentos ao governo, em países como Hungria
(2010), Ucrânia (2014), Filipinas (2014), Estados Unidos (2016) e Bolívia (2019),
suscitam uma ampla gama de noções e adjetivos para a sua caracterização, que nem
sempre dispõem de potencial explicativo satisatório – como “conservadores”,
“ultraconservadores”, “autoritários” e “populistas de direita”. Ainda que se possa
reivindicar tais noções para uma primeira aproximação do problema, elas representam
um obstáculo para o conhecimento deste fenômeno, na medida em que não contribuem
para desvendar as suas bases sociais, a sua ideologia, os seus objetivos políticos e o tipo
de crise política que permite o seu desenvolvimento.

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De acordo com Boito Jr. (2020) e Melo (2020), a existência de um movimento


reacionário de massas, predominantemente das classes médias e da pequena-burguesia,
que visa a implantação de uma ditadura e a eliminação da esquerda da vida política
nacional, nos permite caracterizar o bolsonarismo como um fenômeno de tipo
neofascista. Diferentemente do fascismo clássico, o neofascismo não possui um partido
de massas, e estabelece vínculos frouxos de associação e de baixa organicidade com a sua
base social, como grupos e fóruns em redes sociais e aplicativos de mensagens. Por outro
lado, o bolsonarismo compartilha das circunstâncias históricas invariantes que
possibilitam a chegada do fascismo ao poder, sejam elas características de longa ou curta
duração. A normalização da violência e do autoritarismo corrobora a hipótese apresentada
por Gramsci e desenvolvida por Boito Jr. (2021), de que o fascismo tende a se desenvolver
em sociedades nas quais a violência é praticada regularmente e de maneira naturalizada,
como é o caso da formação brasileira.
Do ponto de vista conjuntural, a chegada do fascismo ao governo é sempre
resultante de um tipo específico de crise política, que, segundo Poulantzas (1978),
envolve uma combinação particular de contradições, incluindo: a) as sucessivas derrotas
políticas das classes trabalhadoras, que passam para uma situação defensiva prolongada;
b) a crise de hegemonia no bloco no poder, com a instabilidade política e a incapacidade
de uma das frações burguesas impor uma direção à política estatal; c) a crise de
representação partidária e a decadência dos partidos burgueses tradicionais; d) e a entrada
em cena de um movimento reacionário de massas das classes intermediárias do modo de
produção capitalista (pequena-burguesia e classes médias). Se trata, portanto, de uma
situação de crise em que as frações burguesas cooptam o movimento reacionário em
ascensão para estabelecer uma nova hegemonia política e implantar uma política
regressiva contra os trabalhadores, que se encontram incapacitados para construir uma
resistência de massas e interromper o processo de fascistização.
O esquema teórico apresentado por Poulantzas oferece uma abordagem do
fascismo como uma possibilidade histórica no capitalismo monopolista, isto é, nem como
um fenômeno datado e irrepetível, restrito à Europa das décadas de 1920 a 1940,
tampouco como um fenômeno inevitável (Martuscelli, 2021). Contrariando qualquer
hipótese teleológica a respeito do desenvolvimento do fascismo, Robert Paxton, em A
anatomia do fascismo (2007), enumera dezenas de movimentos fascistas existentes em
diferentes partes do mundo, na segunda metade do século XX, que não lograram
conquistar o governo e/ou implantar uma ditadura. Ou seja, a existência de um movimento
reacionário de massas não garante, por si só, a sua ascensão ao governo e o fechamento
do regime político. É a dinâmica dos conflitos de classes que determina os avanços e os
recuos deste movimento, sendo invariável para a sua chegada ao poder a existência de um
tipo de crise política que permite a este movimento se apresentar como uma resposta anti-
sistêmica (“contra tudo o que está aí”).

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Nesse sentido, podemos verificar que o esquema proposto por Poulantzas


apresenta vantagens para a análise da crise brasileira recente, no período que compreende
desde o golpe parlamentar de 2016 até o atual governo de Jair Bolsonaro.
A defensiva das classes trabalhadoras é identificável em uma série consecutiva de
derrotas, desde a deposição do governo Dilma, em 2016, a prisão e o impedimento da
candidatura de Lula, em 2018, as reformas trabalhistas e da previdência, e o aumento do
desemprego, que repercutiram diretamente sobre as condições de organização e de luta
do movimento operário e popular. Neste período, houve queda significativa do número
de ocupações de terras (-78%) e de greves (-68,9%), sendo estas predominantemente
defensivasiv, o que refletiu também na fraca resistência ao golpe e às reformas neoliberais
de Temer e Bolsonaro.
A crise de hegemonia, por sua vez, está relacionada à ofensiva restauradora
neoliberal dirigida pelo capital internacional e pela burguesia associada, que culminou no
impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016. A implosão da frente política
neodesenvolvimentista, representada pelos governos do PT, deslocou a hegemonia
política das grandes empresas nacionais – as assim chamadas “campeãs nacionais” – e
deu lugar à unidade e a ofensiva do grande capital em torno das reformas neoliberais
contra os trabalhadores e as privatizações (Boito Jr., 2018).
A crise de representação e a decadência dos partidos tradicionais resultaram da
ação da Operação Lava Jato, que atingiu o conjunto do sistema partidário e deslocou
politicamente as classes médias, que se voltaram contra as suas representações políticas
– sobretudo o PSDB – nas eleições presidenciais em 2018. A adesão das frações
burguesas à candidatura de Bolsonaro só ocorreu nas vésperas da eleição, quando as
candidaturas de Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles se mostraram inviáveis e
Bolsonaro anunciou o financista Paulo Guedes, diretor da Bozano Investimentos, como
ministro da Economia em seu eventual governo. Tal manobra foi decisiva para que
Bolsonaro pudesse atenuar as desconfianças por parte do grande capital, particularmente
o capital financeiro, que possuía reservas quanto a sua trajetória parlamentar, marcada
pela defesa do nacionalismo econômico e pela oposição às privatizações durante os
governos neoliberais dos anos 1990 (Lacerda, 2020).
Por fim, o movimento reacionário de massas surgido das manifestações pró-
impeachment em 2015 e 2016. Desde esse período, a predominância de classe das
manifestações era da alta classe média, e, secundariamente, havia elementos da pequena-
burguesia, como caminhoneiros, lojistas e proprietários de terra (Cavalcante, 2020;
Firmino, s.d). Essas frações, desde então, já buscavam assumir para si novas
representações, como o Movimento Brasil Livre (MBL), o VemPraRua, e sobretudo a
Operação Lava Jato, através da figura do juiz Sérgio Moro. Após o golpe de 2016 e no
decorrer do mandato tampão de Michel Temer, esse movimento de massas desenvolveu
um aspecto dominantemente fascista, anti-esquerda e conservador no plano dos costumes

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(Boito Jr., 2020), se apresentando abertamente na cena política durante a paralisação dos
caminhoneiros em 2018, quando a defesa da “intervenção militar” sobrepôs às
reivindicações corporativas daquele movimento (Valle e Martuscelli, 2018).
Nesse sentido, podemos caracterizar o bolsonarismo como uma variante do
neofascismo, como parte de um fenômeno global em contexto de crise da democracia
burguesa. O conceito de neofascismo oferece uma direção para a pesquisa histórica,
particularmente para a análise das diferentes crises sob o governo Bolsonaro, pois indica
que o movimento reacionário de massas constitui uma força social distinta, não um
instrumento passivo nas mãos das classes dominantes – o que enseja uma complexa
relação de unidade e conflito entre estas e o governo, repercutindo diretamente na cena
política, conforme pretendemos demonstrar a seguir. Para isso, faremos antes uma
apresentação sumária das bases sociais e da hierarquia de poder entre as classes
dominantes durante o governo Bolsonaro.

AS BASES SOCIAIS DO GOVERNO BOLSONARO


Dentre as diferentes classes, frações de classes e grupos sociais que sustentaram o
governo Bolsonaro, é possível detectar variados graus de apoio e engajamento político,
assim como papéis distintos na relação entre cada uma destas com o governo: classes-
apoio, classes-aliadas, classe detentora e fração hegemônica (Poulantzas, 1977).
O chamado "núcleo duro” de apoiadores, ou a base de massas do governo
neofascista, isto é, a sua classe-apoio, foi formado por segmentos da alta classe média
(alto funcionalismo público, profissionais liberais e gerentes de grandes empresas), da
pequena-burguesia (fazendeiros, caminhoneiros, lojistas e comerciantes), e dos escalões
inferiores das forças armadas e de segurança (cabos, sargentos, majores e capitães). Além
do “núcleo duro” bolsonarista, outra importante reserva de apoio social foram os
evangélicos conservadores, em grande parte composto por trabalhadores manuais dos
centros urbanos, que constituem uma força social distinta, convergente com o
neofascismo no que refere ao conservadorismo nos costumes e na defesa da família
patriarcal, mas não necessariamente no fechamento do regime político. Estas foram as
forças principais do bolsonarismo, isto é, aquelas que disponibilizaram o maior
contingente numérico de apoiadores, que sustentaram um piso de popularidade de cerca
de 20% a 30% de “ótimo” e “bom” nas pesquisas de opinião, ou a mesma intenção de
voto nas pesquisas eleitorais.
Outra categoria importante é a das classes aliadas, que incluiu os militares do alto
escalão das Forças Armadas e os parlamentares do “centrão”. Diferentemente das classes-
apoio, as classes aliadas possuem maior capacidade de organização e de influência sobre
o processo decisório estatal, se mobilizando para a satisfação de seus interesses
corporativos e para a obtenção de vantagens individuais para os seus integrantes. Os

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militares de alta patente, que disputam com o bolsonarismo a baixa oficialidade das
Forças Armadas e de Segurança (Penido et al, 2020), se aliaram a ele para impedir o
retorno do PT ao governo em 2018, intimidando os ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF) na votação que concederia o habeas corpus e os direitos políticos para o
ex-presidente Lula, que se encontrava preso em Curitiba. Durante o período analisado, os
partidos de patronagem, popularmente denominados como “centrão”, que representam
interesses individuais diversos de pequenos e médios capitalistas (em alguns casos sendo
eles próprios os parlamentares), se aliançaram ao governo para barganhar cargos e
emendas parlamentares. Estas duas classes aliadas acumularam também a função de
classe detentora do aparelho de Estado: estima-se que cerca de 6 mil militares ocuparam
cargos de médio e alto escalão no governov e, ao longo de 2021, o “centrão” logrou
ampliar a sua participação em ministérios importantes dentro do governo, assumindo o
controle da Casa Civil, das Comunicações e da Saúde.
A relação entre as frações burguesas e o governo Bolsonaro foi marcada pela
unidade (aspecto principal) e pelo conflito (aspecto secundário). Grosso modo, as frações
burguesas se unificaram no apoio à política econômica neoliberal, mais especificamente
as reformas neoliberais contra os trabalhadores e as privatizações. Mas isso não eliminou
a existência de conflitos em torno de algumas definições de política econômica. O capital
internacional e a burguesia associada (particularmente as corretoras e fundos de
investimentos), frações da grande burguesia interna (industrial, agrária, bancária e
comercial), e grandes proprietários de terra (incluindo madeireiros e garimpeiros que
atuam à margem da lei), são as classes e frações de classe cujos interesses foram os mais
contemplados pela política estatal. Uma hipótese que trabalhamos é que, dentre estas
frações, seria possível verificar certa preponderância de interesses, sendo o grande capital
internacional e a burguesia associada priorizados em relação às demais – isto é, a fração
hegemônica no bloco no poder. Desenvolveremos esta hipótese na próxima seção, quando
analisarmos os aspectos principais da política econômica.
Antes, porém, cabe destacar as contradições que decorrem desta composição
heterogênea de forças. De acordo com Armando Boito Jr (2020), foram quatro os
conflitos principais: 1) entre a grande burguesia e o movimento neofascista, em torno das
prioridades da política estatal (reformas neoliberais vs pautas de costumes; hostilidades à
China; política ambiental predatória); 2) entre a cúpula e a base do bolsonarismo, com o
recuo nas pautas de costumes em prol do atendimento dos interesses da burguesia, como
demonstram as deserções de sua “base plebeia” (como o MBL, os youtubers Nando
Moura e Marcelo Brigadeiro, além de lideranças dos caminhoneiros); 3) entre o governo
e as instituições democráticas, através dos inquéritos das Fake News e das Milícias
Digitais no STF, do processo de anulação de chapa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
das manifestações golpistas contra o STF e o Congresso Nacional, dos motins das Polícias
Militares (PMs), e das ameaças do Alto Comando Militar; 4) e no interior da equipe

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governamental, envolvendo bolsonaristas, a burguesia e os militares, como nos episódios


de demissão dos ministros Sérgio Moro e Luiz Henrique Mandetta.
Os resultados obtidos em nossa investigação apresentam uma nova camada de
conflito, que se tornou a principal durante a conjuntura pandêmica, referente ao conteúdo
das medidas de contenção da crise sanitária. Antes, porém, passaremos pelo exame da
política econômica e da hierarquia de interesses no interior do bloco no poder.

POLÍTICA ECONÔMICA E HEGEMONIA NO BLOCO NO PODER


O aspecto dominante na relação entre as frações burguesas e o governo Bolsonaro
foi a unidade em torno das reformas neoliberais contra os trabalhadores e as privatizações.
Esta unidade não excluiu a persistência de conflitos secundários, que se apresentaram sob
a forma de resistências seletivas a determinados aspectos da política econômica
neoliberal. Esta relação de unidade e de conflito indica que a política econômica
implementada pelo governo Bolsonaro não atendeu de maneira igual a todos os interesses
no interior do bloco no poder, o que nos permite questionar se, no seu conjunto, esta
política concretizou os interesses de alguma fração burguesa em detrimento de outras,
configurando entre elas uma determinada hierarquia de poder, ou hegemonia política
(Poulantzas, 1977).
A política econômica e social implementada pelo governo Bolsonaro, assim como
nos governos neoliberais dos anos 1990 (Boito Jr., 1999; Saes, 2001), possuiu quatro
pilares fundamentais: 1) privatizações, 2) desregulamentações trabalhistas; 3)
desregulamentações financeiras, 4) e abertura econômica. A despeito de eventuais
queixas de empresários e economistas liberais na grande imprensa, acerca do ritmo de
implementação das reformas e das privatizações, é constatável tanto a realização destas
medidas pelo governo, como o apoio mais ou menos crítico das frações burguesas. De
acordo com Saes (2001), a caracterização da política governamental não obedece a um
princípio de identidade entre os princípios doutrinários e o conteúdo das medidas
efetivamente implementadas: o processo decisório estatal resulta de uma determinada
relação de forças, uma vez que enfrenta resistências de diferentes classes e frações de
classes, tendo o ritmo de aprofundamento e implementação do programa determinado
pelas condições socioeconômicas e políticas encontradas pelo governo. Ou seja, a política
econômica e social implementada pelo governo Bolsonaro, tanto em suas intenções como
em seus resultados, configura um neoliberalismo possível.
As privatizações, que foram alvo de críticas mesmo entre apoiadores do governo,
foram efetivamente implementadas. O Programa de Parcerias de Investimentos (PPI)
contabilizava, até setembro de 2021, 73 projetos concluídos de concessões e privatizações
no setor de infraestrutura e 162 projetos em andamento, abrangendo aeroportos, ferrovias,
portos, rodovias, campos de extração de óleo e gás natural, entre outros ramosvi. Além

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dos pacotes de infraestrutura, o governo Bolsonaro encaminhou a aprovação no


Congresso Nacional da Nova Lei do Gás e do Novo Marco do Saneamento, que
permitiram a privatização dos gasodutos e dos serviços de saneamento básico; e buscou
a privatização da Eletrobras e dos Correios, que foram objeto de intensa pressão dos
lobbies empresariais desde o golpe de 2016.
As desregulamentações promovidas pelo governo Bolsonaro foram medidas de
impacto relevante, que aprofundaram o modelo econômico neoliberal. Do ponto de vista
das desregulamentações trabalhistas, a medida mais importante foi a Reforma da
Previdência, que reduziu o orçamento público para política social e também os encargos
trabalhistas para o capital privado, além de ampliar o alcance dos fundos privados e
seguradoras. Outras medidas foram a Carteira de Trabalho Verde e Amarela, que reduziu
os encargos e benefícios dos trabalhadores do setor privado; a Lei de Liberdade
Econômica, que ampliou a jornada de trabalho para os finais de semanas e feriados; e os
programas de redução de jornadas e salários, e de suspensão de contratos de trabalho
durante a pandemia.
As desregulamentações financeiras tiveram na Autonomia do Banco Central a sua
principal medida, que reduziu ainda mais o poder da Presidência da República sobre o
órgão, reforçando a sua blindagem pelo capital financeiro, isto é, a sua autonomização
em relação às demais classes e frações de classe não-financeiras. A Nova Lei das
Agências Reguladoras foi outra medida importante, ao estabelecer os mecanismos de
compliance e os critérios de gestão exigidos pelos acionistas das empresas
concessionárias, baseados no princípio da maximização do valor acionário; e a lei do
Cadastro Positivo permitiu às instituições financeiras o acesso ao histórico de crédito dos
consumidores, violando a privacidade dos titulares dos dados.
Diversos setores da economia foram abertos para o capital internacional, como o
mercado de refino e gás natural, com as vendas de ativos da Petrobras; o setor aéreo, com
a aprovação do controle total (100%) do capital estrangeiro sobre as empresas aéreas
nacionais; o setor bancário, com a autorização ao Banco Central para a abertura ao capital
estrangeiro; além dos projetos de concessões e privatizações em infraestrutura,
anteriormente citados. A redução das alíquotas de importação de eletroeletrônicos,
máquinas e equipamentos industriais favoreceu as vendas dos fabricantes internacionais
no mercado brasileiro. A defesa do livre comércio entre o Brasil e as potências
imperialistas, e o esvaziamento das instituições multilaterais que organizaram a chamada
integração sul-sul durante os governos neodesenvolvimentistas também indicam uma
maior subordinação do Estado brasileiro no interior da cadeia imperialista.
O conjunto dessas medidas não atendeu por igual os interesses das frações
burguesas. Apesar de os dois primeiros pilares, as privatizações e as desregulamentações
trabalhistas, contarem com o apoio integral do bloco no poder, os dois últimos pilares, as
desregulamentações financeiras e a abertura econômica, constituíram verdadeiros pontos

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de conflito entre as frações burguesas. A unidade em torno das privatizações e das


desregulamentações trabalhistas, que viabilizou a aliança entre as frações burguesas após
o golpe de 2016 e que constituiu o seu programa mínimo para o apoio ao governo, isto é,
o seu denominador comum na conjuntura recente e atual, foi representada no plano
discursivo pela denúncia do “Custo Brasil”, que responsabiliza, além dos gargalos
logísticos, os encargos trabalhistas e previdenciários pela perda de competitividade das
empresas, para, assim, justificar o aumento da taxa de exploração através da redução do
custo de reprodução da força de trabalho.
Já os conflitos em torno das medidas de desregulamentação financeira e de
abertura econômica, ainda que secundários no período analisado, iluminam a teia
complexa de interesses e de posições relativas das frações burguesas com o governo
neofascista – o que nos permite identificar os interesses priorizados pela política
econômica. Por um lado, as medidas de desregulamentação financeira aprofundaram o
controle do capital financeiro sobre os instrumentos de política monetária, em particular
sobre a determinação da taxa de juros e da taxa de câmbio, o que representa um revés
para a indústria. Por outro lado, as medidas de abertura econômica impactaram
negativamente e de maneira ampla as empresas nacionais, tanto no aumento da
concorrência direta com o capital internacional, nos ramos atingidos pela intervenção do
governo, como de maneira indireta sobre a cadeia nacional de fornecimento e insumos,
aprofundando a tendência à desindustrialização.
Estes conflitos nos indicam que: 1) o capital industrial foi penalizado em relação
ao capital financeiro; 2) o capital nacional foi penalizado em relação ao capital
internacional. Cabe ressalvar que as medidas de desregulamentação financeira não
atingiram diretamente o capital industrial internacional, que se financia nos países de suas
matrizes, onde os juros costumam ser mais baixos, assim como não atingiram os grandes
bancos comerciais nacionais, que são largamente beneficiados por estas medidas
enquanto principais negociadores da dívida pública e controladores, em regime de
oligopólio, dos mercados de crédito e varejo bancário. No entanto, os bancos têm a sua
posição ameaçada pela abertura do sistema bancário, o que representa um preterimento
em relação aos interesses dos grandes bancos internacionais, que aspiram à retomada do
mercado brasileiro. De tal modo, podemos inferir que a política econômica neoliberal
prioriza os interesses do capital internacional, que não é penalizado por nenhum pilar
fundamental deste programa, constituindo, assim, a fração hegemônica no bloco no
poder. O exercício da hegemonia em condomínio pelo capital internacional, industrial e
financeiro, nos permite, ainda, medir a preponderância de uma de suas frações sobre a
outra, isto é, a existência, de um núcleo hegemônico no poder (Farias, 2009), que, devido
ao conteúdo e endereçamento da política econômica neoliberal à atração de investimentos
predominantemente em carteira, só pode ser preenchido pelo capital financeiro
internacional.

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Até aqui afirmamos que o aspecto dominante na relação entre as frações burguesas
e o governo foi a unidade em torno das reformas neoliberais contra os trabalhadores e as
privatizações, o que não eliminou a existência de conflitos secundários, alguns dos quais
já nos referimos, relacionados à política econômica: a desoneração de impostos sobre
importação, que opôs a burguesia industrial ao capital estrangeiro; a elevação da taxa
Selic, que opôs a burguesia industrial ao capital financeiro; a política ambiental
predatória, que opôs os produtores rurais às tradings do agronegócio; as desonerações à
indústria de automóveis, que opôs as montadoras ao capital financeiro; a política de
preços da Petrobras, que opôs as transportadoras e indústrias ao capital financeiro; e a
privatização da Eletrobras, que opôs setores da indústria ao capital financeiro vii. Tais
conflitos não dividiram as frações burguesas em torno de distintas estratégias de política
econômica, ao contrário, foi justamente o apoio à política econômica executada pela
equipe governamental o principal limite para a ação oposicionista dos partidos burgueses
tradicionais.
Conforme veremos a seguir, foram os conflitos relacionados à gestão da crise
sanitária e à questão democrática os principais pontos de fissura entre as frações
burguesas e o governo, o que explica a divisão política destas frações em campos distintos
e a luta por uma alternativa própria para as eleições de 2022 (a chamada “terceira via”).

CRISE SANITÁRIA, NEGACIONISMO E FRAÇÕES BURGUESAS


A conjuntura pandêmica foi marcada pela polarização entre duas alas da direita:
a ala neofascista, ou bolsonarista, e a oposição de direita, ou direita tradicional. Outras
forças em presença na cena política, como os movimentos populares e os partidos de
esquerda, permaneceram à margem desta disputa. Isso porque, mesmo com a recuperação
dos direitos políticos de Lula, a maior liderança popular do país, a esquerda não conseguiu
retomar a sua capacidade de organização e de luta, predominando entre as suas correntes
a espera pelas eleições de 2022.
A polarização entre a direita neofascista e a direita tradicional exprime, ao
mesmo tempo, tanto uma contradição entre o neofascismo e a burguesia, como uma
contradição no seio das próprias frações burguesas, que se dividiram em relação ao
negacionismo do governo Bolsonaro. A atuação do governo durante a pandemia foi
marcada pelo incentivo ao descumprimento das recomendações sanitárias da Organização
Mundial da Saúde (OMS), pela ausência de produção em massa de testes e materiais de
higiene, pela omissão na compra das vacinas e pela não instalação prévia da infraestrutura
necessária para a vacinação acelerada, como a compra de seringas e demais insumos. A
estratégia de estimular a contaminação entre a população para atingir a chamada
“imunidade de rebanho”, quando sequer existia vacina desenvolvida, foi determinante
para que o Brasil se tornasse um dos países com maior número de mortes pela Covid-19
em todo o planeta.

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Verificamos, no que diz respeito às medidas de contenção da crise sanitária, que


as frações burguesas se dividiram entre apoiadores e opositores das medidas de
isolamento social. Este foi o conflito principal durante o ano de 2020, quando as vacinas
ainda não haviam sido desenvolvidas e o foco das medidas recaiam sobre a contenção do
vírus. No ano de 2021, com o desenvolvimento das vacinas, verificamos que as frações
burguesas pressionaram o governo pela compra de imunizantes e pela aceleração da
vacinação em massa, a fim de conter os prejuízos econômicos avolumados pela
pandemiaviii. Estas frações pressionaram pela permissão da compra de imunizantes pelas
empresas do setor privado, mas, de maneira homóloga à divisão entre negacionistas e
isolacionistas, se dividiram a respeito da estratégia de imunização coletiva: se as vacinas
deveriam ser destinadas ao SUS, ou se deveriam ser destinadas às próprias empresas para
a aplicação em seus funcionários, desrespeitando o Plano Nacional de Imunização.

Passamos para uma apresentação sumária dos posicionamentos das frações


burguesas, com o objetivo de desvendar mais precisamente os interesses por trás da
orientação negacionista do governo, e, de maneira mais ampla, aferir os variados graus
de apoio ao governo entre as frações burguesas, isto é, detectar quais delas apoiaram a
atuação do governo e quais delas estiveram representadas pela oposição de direita.

NEOFASCISMO E NEGACIONISMO
Ao longo da pandemia, o neofascismo mobilizou a sua base social pelo
descumprimento das medidas de isolamento social e pelo descrédito às vacinas, negando
a pandemia e as recomendações das autoridades sanitárias. De acordo com Boito Jr
(2020), o negacionismo é produto da ideologia fascista, mais precisamente da frustração
com a impossibilidade de realização de sua utopia reacionária restauradora, o que leva à
não-aceitação da realidade adversa e ao irracionalismo. A negação da existência do
coronavírus, ou a denúncia de uma suposta conspiração comunista promovida pelo
governo chinês, que teria difundido o “vírus do comunismo” ou “nanochips líquidos” nas
vacinas para atingir o controle social, foram teses amplamente divulgadas nas redes
sociais pelos intelectuais e propagandistas ligados ao bolsonarismo, como Olavo de
Carvalho e Allan dos Santos.
A estratégia negacionista contou com apoio ativo e o consentimento passivo de
parcelas importantes da sociedade brasileira (Cavalcante, 2021). O discurso negacionista
foi encampado especificamente pelo movimento neofascista, situado nas classes médias
e na pequena-burguesia. Além da atuação nas redes sociais, o movimento neofascista
realizou manifestações de rua contra as medidas de isolamento e contra a “conspiração
chinesa”, assim como influenciou os protestos de rua de lojistas e pequenos proprietários
afetados pelo fechamento do comércioix. Outra expressão do negacionismo durante esse
período foi a defesa de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento ou

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prevenção da Covid-19, como a hidroxicloroquina e a ivermectina, amplamente


incentivados por médicos e farmacêuticos bolsonaristas.
Por outro lado, o negacionismo encontrou o consentimento de parcela
significativa dos trabalhadores manuais informais e subempregados, que tiveram a sua
renda e o seu meio de sustento comprometidos pela pandemia. Uma vez desorganizados
e politicamente deseducados para reivindicar medidas protetivas, este amplo contingente
de trabalhadores assumiu o descumprimento das medidas de isolamento social como a
orientação mais factível para o sustento de suas famílias durante a pandemia. Além disso,
o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 durante o ano de 2020 contribuiu para
ampliar o apoio deste segmento ao governo do presidente Jair Bolsonaro, embora este
tenha sido reduzido significativamente com as rodadas posteriores do auxílio
emergencial, que reduziram os valores e a cobertura de beneficiáriosx.
No que refere às frações burguesas, verificamos que a burguesia industrial
representada pela Fiesp e pela CNI saiu em defesa do “isolamento vertical” proposto por
Jair Bolsonaro e manteve uma linha crítica às medidas restritivas impostas pelos governos
locais, em particular o governo de São Paulo, comandado pelo tucano João Dória xi. Ao
longo dos anos de 2020 e 2021, estas entidades e a Abimaq se posicionaram pela redução
e pela flexibilização das medidas de isolamento social, sempre apresentando-as como
obstáculos para a retomada da atividade econômicaxii. Além disso, estas entidades se
colocaram alinhadas à política econômica do governo, sobretudo a Fiesp, cujo presidente,
Paulo Skafxiii, chegou a ser nomeado como membro titular do Conselho da República.
Diante da pandemia, a burguesia industrial demandou ao governo programas de redução
de jornadas e salários e de suspensão de contratos de trabalho, no que foi prontamente
atendidaxiv.
A burguesia comercial varejista, representada pelo grupo Brasil 200, pela
Confederação Nacional do Comércio (CNC) e pela Federação do Comércio, Bens,
Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio), interveio ativamente na cena
política desde o início da pandemia, quando inúmeros empresários do setor do varejo,
redes de lanchonetes, e serviços em geral se posicionaram contra as medidas restritivas,
argumentando que os prejuízos provocados pelo fechamento do comércio seriam muito
maiores do que as mortes decorrentes do coronavírus. Mesmo quando a pandemia já
contabilizava centenas de milhares de mortos, esse discurso continuava presente entre os
empresários, que saíam a público para pressionar as prefeituras e governos estaduais toda
vez que estes decidiam aumentar as restrições sobre o funcionamento do comércio e a
circulação de pessoas. As entidades que representam o setor se pronunciaram em diversos
momentos nesse período para demandar a flexibilização do isolamento socialxv. Nas
palavras de Flávio Rocha, empresário da Riachuelo e presidente da associação Brasil 200,
“temos que olhar para o conjunto da sociedade e definir se queremos defender apenas a

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vida dos infectados ou se queremos defender todas as vidas - a dos doentes e a dos
sãos”xvi.
E os produtores rurais ligados às atividades de exportação, como os produtores de
soja e pecuaristas, representados pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária
do Brasil (CNA), pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), pelas federações
de agricultura e pecuária dos estados de Santa Catarina (Faesc), Minas Gerais (Faemg),
Paraná (Faep), Rio Grande do Sul (Farsul) e pela Associação dos Produtores de Soja e
Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), criticaram de maneira contundente as
medidas de isolamento social, reivindicando a sua exclusão destas medidas, alegando o
risco de desabastecimento das cidades e os prejuízos econômicos da não-realização das
colheitasxvii. Após obterem o reconhecimento do governo como atividades essenciais e
funcionarem normalmente durante a pandemia, estas entidades pouco voltaram a se
pronunciar a respeito da crise sanitária. As suas publicações, quando referentes à Covid-
19, se referiram mais à ações de solidariedade, como a entrega de cestas básicas e
máscaras para os produtores rurais, do que propriamente posicionamentos explícitos em
relação às medidas de contenção ao coronavírusxviii.

DIREITA TRADICIONAL E ISOLACIONISMO


Durante o período da pandemia, a direita tradicional se manteve alinhada às
recomendações da OMS e do Ministério da Saúde sob o comando de Luiz Henrique
Mandetta e, depois, Nelson Teich. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia
(DEM), foi a público em diferentes ocasiões para defender as medidas de contenção à
Covid-19. Os governadores João Dória (PSDB-SP), Helder Barbalho (MDB-PA),
Eduardo Leite (PSDB-RS), e até mesmo o governador de Goiás, o conservador Ronaldo
Caiado (DEM), enfrentaram as pressões negacionistas para adotar, em diferentes níveis
de intensidade, e não sem contradições, medidas de fechamento do comércio,
adiantamento de feriados estaduais, e toques de recolher.
O capital bancário e o capital financeiro endossaram a defesa das medidas de
isolamento social e a vacinação em massa. Os bancos comerciais, nacionais e
estrangeiros, apoiaram publicamente as recomendações das autoridades sanitárias desde
o início da pandemia, defendendo-as como a maneira mais eficaz de antecipar a
normalização da atividade econômicaxix. Em diversas ocasiões, os dirigentes das
principais instituições financeiras, incluindo as corretoras e fundos de investimentos,
foram a público criticar o negacionismo e a demora do governo na compra das vacinas.
Uma das manifestações mais importantes aconteceu em 21 março de 2021, com a
divulgação de uma carta aberta ao governo assinada por 500 economistas e executivos do
setor financeiro, demandando a implementação de medidas de distanciamento social e
vacinação em massaxx. Em momentos críticos de prevalecimento da orientação

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negacionista, como na ocasião das exonerações dos ministros Mandetta e Teich, o capital
financeiro associado reagiu negativamente, desvalorizando os ativos financeirosxxi.
O capital estrangeiro internalizado nos setores de telecomunicações e automotivo
também defendeu publicamente as medidas de isolamento social e a vacinação acelerada.
Grandes empresas de telefonia, como a Claro, Nextel, Vivo, Oi, Tim e Algar,
aproveitaram a crise sanitária para expandir os seus negócios, diante do aumento da
demanda por internetxxii. Segundo os dados do SindiTeleBrasil, houve aumento de 40%
do fluxo de dados na internet durante a pandemiaxxiii. Por outro lado, as montadoras
estrangeiras, representadas pela Anfavea, defenderam as medidas de isolamento e
vacinação em massa, e foram enfáticas nas críticas ao governoxxiv. Diante da saída de
montadoras para países vizinhos, como a Argentina, a Anfavea fez reiteradas críticas e
culpou a gestão errática da pandemia e a escalada autoritária do governoxxv.
A indústria de alimentos e o setor de supermercados, que viram subir o consumo
doméstico e os serviços de delivery, também foram importantes apoiadoras das medidas
de isolamento social e da vacinação acelerada. Grandes frigoríficos e a Associação
Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) se posicionaram publicamente favoráveis às
medidasxxvi, assim como as grandes redes de supermercados e as entidades do setor, como
as Associações Brasileira e Paulista de Supermercados (Abras e Apas), que viram crescer
as compras virtuais neste períodoxxvii. As grandes redes de varejo, Magazine Luiza, Lojas
Renner e Leroy Merlin, que expandiram as suas plataformas de vendas online durante a
pandemia, tiveram algum protagonismo nas iniciativas empresariais relacionadas à
vacinação em massaxxviii. No mesmo sentido, entidades estaduais de produtores rurais
voltados ao mercado interno, como as federações estaduais de agricultura e pecuária dos
estados de São Paulo (Faesp), Mato Grosso (Famato), Mato Grosso do Sul (Famasul) e
Goiás (Faeg), reivindicaram a essencialidade e a importância do setor para o suprimento
das cidades e para a garantia do isolamento socialxxix.
O grande capital da construção civilxxx também saiu em defesa do isolamento
social. Tanto o grande capital imobiliário, como foi o caso da empresa MRV, quanto o
grande capital da infraestrutura, representados pela Associação Brasileira da
Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB), defenderam as medidas de contenção da
pandemia propagandeando o setor como única saída para o crescimento no pós-pandemia,
demandando mais investimentos do Estado em infraestrutura, mais ação dos bancos
multilaterais e mais parcerias público-privadas. O discurso do setor da construção civil
ainda trazia as reformas neoliberais como meio mais inteligente para contornar a crise do
que o ajuste fiscal feito apenas por meio de corte de investimentosxxxi.

Setores progressistas e liberais-conservadores das classes médias também


aderiram à defesa das medidas restritivas, assim como setores sindicalizados das classes
trabalhadoras.

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No caso das classes médias, de acordo com as pesquisas de opinião divulgadas


neste período e com os panelaços ocorridos em bairros e regiões onde Jair Bolsonaro
havia vencido nas eleições de 2018, o bolsonarismo perdeu apoio nestes segmentos,
particularmente na alta classe média, com a queda significativa da aprovação do governo
na faixa de renda acima de 10 salários mínimosxxxii. As representações liberais-
conservadoras das classes médias, como o Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua!, se
posicionaram a favor das medidas de isolamento social e assumiram a bandeira do
impeachment de Bolsonaroxxxiii. A saída do ex-juiz Sérgio Moro do governo também
indicou o rompimento desta parcela “lava-jatista” das classes médias, que havia apoiado
Bolsonaro em 2018, tendo inclusive realizado manifestações de apoio a Moro e contrárias
a Bolsonaro, na ocasião de sua saída do governo, entre abril e maio de 2020xxxiv.

A omissão do governo na negociação das vacinas provocou críticas e a


mobilização de importantes frações burguesas, que passaram a negociar diretamente com
governos de outros países e com as grandes farmacêuticas estrangeiras pela compra de
imunizantes, como o caso do movimento “Unidos Pela Vacina”, liderado pela empresária
Luiza Trajano. No entanto, no que se refere ao Projeto de Lei 948/2021, que flexibilizou
a compra de vacinas pelo setor privado, não foi possível constatar um amplo consenso
em sua defesa. Outra medida que não contou com amplo apoio entre as classes
dominantes foi o chamado “tratamento preventivo”, ou “tratamento precoce”, com o uso
de medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus, que foi apresentado
pelo presidente Jair Bolsonaro como alternativa à vacinação acelerada.

A CRISE POLÍTICA
A crise que envolveu o governo Bolsonaro durante o período analisado foi uma
situação de condensação dos conflitos de classe em momento de reprodução social e deve
ser observada na luta interna do bloco no poder, nas alianças na cena política e nas suas
contradições e nos conflitos entre instituições de Estado. Caracterizamos como uma crise
de representatividade aguda, já que ela elevou de patamar a crise de representatividade
criada pela Operação Lava Jato. Esse novo patamar foi alcançado devido às ações levadas
a cabo pelo presidente a fim de minar o sistema democrático e poderia ter transformado
a crise de representatividade em uma crise do regime político, uma vez que a crise oscilou
entre um polo alimentado por conflitos em torno da política sanitária, que teria como
principais atores o movimento neofascista, as frações burguesas e seus representantes na
cena política, e um polo nutrido pelos conflitos em torno da pauta democrática, que se
expressou principalmente nos conflitos entre os ramos Executivo e Judiciário do aparelho
de Estado.
No primeiro caso, o Senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP) utilizou como
justificativa a gravíssima situação sanitária que o estado do Amazonas alcançou por conta

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do número de internações e mortes por Covid-19 e apresentou um requerimento para a


instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) a fim de investigar as ações
e as omissões do Governo Federal e as irregularidades cometidas com a verba destinada
ao combate à pandemia. Os principais pontos levantados foram que o Governo Federal
se opôs às medidas de distanciamento social e ao uso obrigatório de máscaras, e que ele
causou atraso proposital na compra de vacinas, além de ter divulgado tratamentos
ineficazes contra o vírus e comprado medicamentos sem comprovação científica. Apesar
das evidências dos crimes cometidos, a CPI da Covid, como ficou conhecida, não foi
consensual e após ser protocolada na Câmara dos Deputados, em 13 de abril de 2021, só
foi oficialmente instalada no Senado Federal em 27 de abril, após determinação do STF.
É possível estabelecer um lastro entre o desacordo dos partidos na cena política e
a posição das frações de classe sobre a instalação da CPI. No geral, o discurso dos que
foram contrários foi o de que haveria grande risco que o desgaste que ela causaria ao
governo recairia sobre as reformas neoliberais pendentes no Congresso. O capital
financeiro, por exemplo, demonstrou preocupação com o risco de impeachment
afirmando que a consequência direta seria a paralisação das reformasxxxv. As burguesias
industrial e comercial saíram em defesa do governo e os produtores rurais fizeram
mobilizações de rua a favor de Bolsonaroxxxvi. O apoio direto das frações burguesas à CPI
foi nulo, tendo sido mais explícito em parcelas da baixa e alta classe média e dos
trabalhadores organizados. Esses setores populares desempenharam papel importante
porque serviram de contraponto à iniciativa de Bolsonaro de manter sua base no exército,
PM’s, clubes de tiro e de motocicletas mobilizados em defesa do governoxxxvii.
Os embates mais importantes se deram no polo da disputa entre as instituições,
com destaque para aqueles entre o Poder Executivo, o STF e o Poder Legislativo. A ênfase
é não apenas pela dimensão dos conflitos que, por meio dos inquéritos do STF e dos
ataques à Cortexxxviii desferidos pela militância bolsonarista, se deram em tons agressivos
e resultaram em prisões. Mas sobretudo porque foi como resultado desses conflitos que,
nas mobilizações golpistas organizadas pelo presidente no feriado de 7 de setembro de
2021, foi pactuado entre a direita tradicional e os neofascistas que ambos os lados iriam
recuar e não haveria nem tentativa de golpe e nem de impeachment. As manifestações
marcadas para o Dia da Independência, com ataques ao STF e ao Congresso Nacional, e
com apelos às Forças Armadas para o fechamento do regime político, contaram com o
apoio e com o financiamento de produtores rurais organizados na Aprosoja, Farsul, Faesc,
entre outros sindicatos de menor portexxxix; e também contaram com o apoio de frações
regionais da burguesia industrial organizadas na Fiemg, Fiesc e Fiergsxl.
Por outro lado, importantes segmentos do grande capital se posicionaram
abertamente contrários à escalada golpista. Durante o mês de agosto, quando o
bolsonarismo iniciava as convocatórias para as manifestações de 7 de setembro, um
coletivo de grandes capitalistas, intelectuais e lideranças da direita tradicional lançaram

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um manifesto em defesa da democracia e da realização das eleições em 2022, intitulado


“Eleições serão respeitadas”. Dentre os signatários constavam executivos e empresários,
como Luiza Trajano (Magazine Luiza), Roberto e Maria Alice Setúbal (Itaú Unibanco),
Pedro Parente (BRF), Armínio Fraga (Gávea Investimentos), Daniel Leichsenring e Luis
Stuhlberger (Verde Asset), Pedro Passos (Natura), Horácio Lafer Piva (Klabin), entre
outrosxli. Outro importante manifesto neste período, em defesa da democracia e da
estabilidade política, foi lançado pelas entidades empresariais das tradings do
agronegócio, entre elas a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e a Associação
Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove)xlii.
Nas vésperas do 7 de setembro, os grandes bancos comerciais nacionais,
organizados na Federação Brasileira de Bancos (Febraban), divulgaram um manifesto em
apoio à democracia, que foi circulado entre centenas de associações empresariais para a
angariação de assinaturas, sendo recebido como um ataque pelo bolsonarismo e seus
aliadosxliii. A Fiesp, que não havia se manifestado favorável às manifestações golpistas,
apesar de apoiar o governo, interveio sobre a iniciativa dos bancos para moderar o
conteúdo do manifesto e frear as articulações oposicionistas, buscando adiar a sua
publicação para depois do 7 de setembro, com o objetivo de anular a sua eficácia
políticaxliv. Do mesmo modo, a Firjan, que também não havia se posicionado a favor das
manifestações golpistas, recusou assinar o manifesto dos bancos devido ao seu tom crítico
ao governoxlv. Diante do impasse conflagrado entre estas entidades, o manifesto foi
vazado para a grande imprensa e a Febraban reafirmou publicamente o seu conteúdo, de
maneira separada e crítica à manobra da Fiespxlvi.
O posicionamento e o protagonismo dos grandes bancos comerciais nacionais na
oposição burguesa se deve, para além dos conflitos com o neofascismo, aos sucessivos
ataques do governo contra o setor. Em particular o decreto presidencial nº 10.029, que
transferiu a prerrogativa da abertura do sistema bancário ao capital estrangeiro para o
Banco Central, um centro de poder do capital financeiro associado. Tal medida retirou do
poder eleito a capacidade de decisão sobre a matéria, que antes era pertencente à
Presidência da República. A intenção de desnacionalizar o sistema bancário também foi
vocalizada em diferentes ocasiões pelo ministro Paulo Guedes, que atacou o oligopólio
dos bancos nacionais e a Febraban, acusando-a como “casa de lobby” e de ter
instrumentalizado o manifesto em defesa da democracia para prejudicar o governoxlvii.
O capital financeiro associado também se opôs às manifestações golpistas e
intensificou a defesa da “terceira via" para as eleições de 2022, distanciando-se cada vez
mais do governo Bolsonaro. Além da desvalorização dos ativos financeiros no dia
seguinte às manifestaçõesxlviii, foram muitas as queixas contra a instabilidade políticaxlix.
A escalada autoritária foi encarada como uma ameaça à continuidade da política
neoliberal, na medida em que indicaria um risco de autonomização do governo em relação
aos interesses da burguesia, o que levou alguns financistas a defender abertamente o

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impeachmentl. A oposição destes setores ofereceu caução à contraofensiva da direita


tradicional através da ação do ministro do STF, Alexandre de Moraes, que determinou o
bloqueio das contas da Aprosoja, após denúncia de financiamento dos protestos pela
entidade, e a prisão de organizadores das manifestações em Brasília - que posteriormente
seria revogada como consequência do acordo entre a oposição de direita e o
bolsonarismoli. Isso porque, em 9 de setembro, Bolsonaro divulgou uma “Declaração à
Nação”, anunciando o recuo e o compromisso com uma trégua. A “Declaração” foi
redigida por ninguém menos que o ex-presidente Michel Temer, que desembarcou em
Brasília como representante do grande capital para resolver a crise.
Apesar de ter sido o principal dique de contenção do golpismo, através dos
inquéritos das Fake News e das Milícias Digitais, e dos pedidos de prisão de lideranças
bolsonaristas que fizeram ameaças à Cortelii, verificamos uma atitude conciliatória do
STF e da direita tradicional com o neofascismo, na medida em que anistiaram os crimes
cometidos pelo presidente e seus aliados em diferentes ocasiões: 1) nas manifestações
pelo fechamento do STF e do Congresso Nacional em abril e maio de 2020, quando não
processaram o presidente pela participação nos protestos; 2) no julgamento de cassação
da chapa Bolsonaro-Mourão no TSE, em 2021, quando julgaram como improcedentes as
ações referentes ao disparo de fake news nas eleições de 2018; 3) na CPI da Covid, em
2021, quando recusaram a tipificação do crime de genocídio e não encaminharam
processo de impeachment contra o presidente, mesmo com a comprovação de crimes de
responsabilidade; 4) e nas manifestações do 7 de setembro, quando hesitaram em apoiar
o impeachment, cedendo ao recuo do movimento golpista.
As reformas neoliberais e a retaguarda militar do governo explicam a atitude
conciliatória da oposição de direita com o bolsonarismo, na medida em que as reformas
atenderam aos interesses econômicos do grande capital e os militares apresentaram uma
constante ameaça ao regime político, levando a oposição a optar pelo caminho da via
eleitoral como o principal para derrotar o neofascismo. Nesse sentido, a estratégia da
oposição burguesa foi baseada em um duplo-movimento, que consistiu na tentativa de
construção de uma “terceira via” ao lulismo e ao bolsonarismo, ao mesmo tempo em que,
de maneira pragmática, passou a pressionar a candidatura do ex-presidente Lula para
arrancar compromissos, em particular a preservação das reformas neoliberais no caso de
uma eventual volta do PT ao governo.
Por fim, é importante considerar que, devido à sua força eleitoral, a candidatura
de Lula detém o potencial de provocar deslocamentos importantes entre as classes
dominantes, levando a um realinhamento de classes nas eleições de 2022, através da
reaproximação da grande burguesia interna e das classes trabalhadoras em torno de uma
mesma frente política. Por outro lado, a mobilização do bolsonarismo contra as urnas
eletrônicas e a tutela militar sobre o processo eleitoral tornam o horizonte mais nebuloso:
a persistência do movimento reacionário de massas e a militarização do Poder Executivo

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trazem incertezas quanto ao resultado das eleições e à posse de um novo mandatário; e


também apresentam custos elevados para uma solução pacífica de um provável conflito,
como no caso de uma possível anistia aos crimes cometidos pelo bolsonarismo e seus
aliados - o que poderia permitir a sua reorganização e novas ameaças à democracia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados deste trabalho corroboram a hipótese de que as frações burguesas
mantiveram uma relação de unidade e conflito com o governo neofascista. Verificamos
que a unidade foi o aspecto principal em seus posicionamentos em relação à política
econômica, sobretudo as privatizações e as reformas neoliberais contra os trabalhadores,
embora tenham persistido conflitos secundários que não lograram dividir as frações em
torno de estratégias distintas de política econômica. Por outro lado, houve conflitos em
relação ao negacionismo da pandemia e às manifestações golpistas incentivadas por
Bolsonaro, o que ensejou a formação de uma oposição burguesa, representada pela direita
tradicional.
Foi possível constatar um padrão entre as frações que se alinharam e as que se
opuseram à orientação do governo frente à crise sanitária e à questão democrática. Os
proprietários de terra foram aqueles que se posicionaram mais alinhados ao negacionismo
e às manifestações golpistas do bolsonarismo, seguidos por frações regionais da burguesia
industrial e da burguesia comercial varejista. Por outro lado, os principais setores do
grande capital, sobretudo os grandes bancos nacionais e o capital financeiro associado,
mas também as tradings do agronegócio, setores da grande indústria e do grande
comércio, exerceram papel ativo e dirigente nas iniciativas em defesa das medidas de
isolamento social, da compra de vacinas e contrárias à escalada golpista. Estes resultados
indicam que, apesar de a política econômica priorizar o grande capital em detrimento do
pequeno e do médio, sobretudo o capital financeiro internacional, essas frações se
afastaram do governo à medida que o negacionismo e o golpismo apresentaram risco de
perda de controle sobre a política econômica do governo neofascista. Tal afastamento não
resultou em uma posição antagônica, que sustentasse a abertura de um processo de
impeachment, justamente por conta do atendimento de seus interesses na economia.
Contudo, tal afastamento incentivou a formação de uma “terceira via” ao bolsonarismo e
ao lulismo para as eleições presidenciais de 2022.
Com estes resultados temos uma indicação das bases sociais que ofereceram
caução às representações políticas que polarizaram a conjuntura analisada e àquelas que
disputarão as eleições em 2022, restando dúvida sobre a posição da burguesia associada,
sobretudo o capital financeiro, diante do cenário de afunilamento entre as candidaturas de
Lula e Bolsonaro: se oferecerão apoio crítico ao primeiro, ou se aliarão novamente ao
segundo, visando garantir a continuidade do neoliberalismo ortodoxo. O
desenvolvimento destes conflitos e o realinhamento de classes deverão ser analisados

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sistematicamente durante o ano eleitoral, uma vez que o tensionamento em relação ao


regime democrático permanece.

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i Mestre e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Unicamp. E-mail:


[email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3907-4915
ii Mestre e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Unicamp. E-mail:
[email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6348-5365
iii Unidade em torno das reformas neoliberais que visam as privatizações e as que se voltam contra os
trabalhadores, não havendo consenso sobre uma maior abertura econômica.
iv Disponível em: 1) DIEESE, Balanço das greves. Disponível em:
https://www.dieese.org.br/sitio/buscaDirigida?tipoBusca=tipo&valorBusca=balan%E7o+das+greves ; 2)
DATALUTA, Relatório DATALUTA Brasil. Disponível em:
https://www.fct.unesp.br/#!/pesquisa/dataluta/periodicos-dataluta/relatório-dataluta/brasil/
v Ver: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/numero-de-militares-em-cargos-civis-cresce-e-passa-de-6-
mil-no-governo-bolsonaro/
vi Disponível em: https://www.ppi.gov.br/projetos1#/s/Em andamento/u//e//m//r/
vii A objeção da burguesia industrial representada pela Fiesp à privatização da Eletrobras não representa
uma contestação geral à política de privatizações. Trata-se de uma crítica aos termos específicos desta
privatização, que, segundo a entidade, encareceriam o custo da energia para a indústria. Ver:
https://www.poder360.com.br/economia/fiesp-e-firjan-fazem-ressalvas-a-aprovacao-da-mp-da-
eletrobras/
viii O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2020 registrou queda de 4,1% (Agência IBGE, 2021).
ix Assim como no fascismo clássico, a pequena-burguesia foi a principal atingida pela política econômica
do governo Bolsonaro. A ausência de políticas de proteção aos micro e pequenos empresários durante a
pandemia, representada pela fala do ministro Paulo Guedes na reunião ministerial de 22 de abril de 2020,
de que o governo deveria socorrer as grandes empresas em detrimento das pequenas e médias, não
foram suficientes para desmobilizar o apoio do bolsonarismo nestes estratos.
x Disponível em: https://www.poder360.com.br/poderdata/58-dos-beneficiarios-do-auxilio-
emergencial-desaprovam-governo-bolsonaro/
xi Disponível em: www.ciesp.com.br/wp-content/uploads/2021/03/20210322_140935-
20210322_143040.mp3
xii Disponível em: 1) CNI: https://www.cnnbrasil.com.br/business/2020/05/11/estado-deve-entrar-forte-
na-economia-para-saida-da-crise-diz-gerente-da-cni; 2) http://www.usinagem-brasil.com.br/16036-cni-
2a-onda-compromete-crescimento-da-industria/pa-1/; 3) Fiesp:

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https://www.camara.leg.br/noticias/669462-presidente-da-fiesp-defende-retomada-das-atividades-
economicas-com-responsabilidade/; 4)
Abimaq:https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/05/07/indstria-quer-estratgia-para-liberar-regies-
sadias-do-isolamento-diz-abimaq.ghtml
xiii Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2021/07/06/com-eleicao-
de-josue-gomes-da-silva-fiesp-muda-de-comando-apos-17-anos.htm
xiv Disponível em: 1) CNI: https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/leis-e-normas/cni-lanca-
agenda-legislativa-com-14-projetos-prioritarios/; 2) Fiesp:
https://www.poder360.com.br/opiniao/economia/nao-tem-milagre-a-dura-agenda-para-a-retomada-
do-crescimento-por-paulo-skaf/; 3)
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/573001/noticia.html?sequence=1&isAllowed=y;
4) Abimaq:
http://abimaq.org.br/COMUNICACOES/2021/PROJETOS/INFORMAQ/ED251/Informaq_251.pdf
xv Disponível em: 1) CNC: https://www.istoedinheiro.com.br/bolsonaro-comparte-video-em-que-
dirigente-da-cnc-diz-que-estados-fazem-chantagem/; 2) http://www.fecomercio-
ms.com.br/flexibilizacao-da-quarenta-reduziu-perdas-do-comercio-em-r-914-bilhoes/; 3) Brasil 200:
https://valor.globo.com/politica/noticia/2021/04/07/em-jantar-com-empresrios-bolsonaro-critica-
medidas-restritivas-covid-19.ghtml; 4) Fecomercio-SP: https://valorinveste.globo.com/mercados/brasil-
e-politica/noticia/2020/05/27/sp-precisa-anunciar-reabertura-controlada-do-varejo-logo-diz-
fecomercio.ghtml
xvi Disponível em: https://forbes.com.br/colunas/2020/05/flavio-rocha-a-licao-da-ilha-de-pascoa-para-
a-epoca-de-confinamentos/
xvii Disponível em: 1) Faesc: https://www.noticiasagricolas.com.br/videos/agronegocio/255651-governo-
de-sc-flexibiliza-regras-para-o-isolamento-social-medida-e-considerada-acertada-pela-
faesc.html#.XpORD25FzIU; 2) Faemg: https://www.otempo.com.br/coronavirus/industria-e-agricultura-
querem-que-funcionarios-saudaveis-voltem-a-trabalhar-1.2317497; 3) Faep:
https://www.folhadelondrina.com.br/economia/setor-produtivo-do-parana-pede-retomada-de-
atividades-economicas-2986217e.html; 4) Farsul: www.farsul.org.br/destaque/entidades-empresariais-
lancam-manifesto-pela-reativacao-economica,353452.jhtml; 5) Aprosoja-MT:
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/03/isolamento-por-coronavirus-pode-atrapalhar-safra-
de-milho-de-mt-diz-associacao.shtml; 6) Abrafrigo:
http://www.abrafrigo.com.br/index.php/2020/03/27/clipping-da-abrafrigo-no-1204-de-27-de-marco-
de-2020/
xviii Exceção deve ser feita à Faesc, que em conjunto com outras entidades patronais de Santa Catarina
aderiu à defesa do “tratamento precoce” defendido pelo Governo Federal. Disponível em:
http://noticom.com.br/fiesc-facisc-fcdl-e-faesc-defendem-o-tratamento-precoce-em-sc/
xix Disponível em: 1) Bradesco: http://https//www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/04/bradesco-ve-
queda-de-ate-4-no-pib-e-atritos-demais-no-governo.shtml; 2) Itaú Unibanco:
https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/04/03/mesquita-pior-cenario-para-economia-e-
suspender-isolamento-sem-ouvir-autoridades-de-saude.ghtml; 3) Santander:
https://www.terra.com.br/economia/isolamento-se-provou-importante-diz-presidente-do-santander-
brasil,30a2b75b36b2d335106644149bc8f34cfqi12w9z.html;
xx Disponível em: https://www.poder360.com.br/economia/carta-de-economistas-por-combate-a-
pandemia-passa-de-1-500-assinaturas/
xxi Disponivel em: 1) https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-variavel/bolsas-e-
indices/noticia/2020/04/06/possivel-demissao-de-mandetta-freia-disparada-do-ibovespa.ghtml; 2)
https://br.investing.com/news/stock-market-news/ibovespa-cai-e-dolar-sobe-apos-pedido-de-
demissao-de-teich-do-ministerio-da-saude-747193
xxii Disponível em: https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-
variavel/empresas/noticia/2020/03/20/claro-nextel-vivo-oi-tim-e-algar-se-unem-para-manter-conexo-
de-internet.ghtml
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xxiii Disponível em: https://www.folhadelondrina.com.br/economia/isolamento-social-eleva-trafego-de-


dados-na-internet-2984936e.html
xxiv Disponível em: 1)
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2020/05/08/internas_economia,852778/
para-anfavea-ha-politicos-que-ainda-nao-perceberam-gravidade-da-situa.shtml; 2)
https://autoesporte.globo.com/mercado/noticia/2021/03/falta-de-materia-prima-preocupa-mais-que-
lockdown-e-industria-automotiva-so-ve-solucao-com-vacinacao-em-massa.ghtml; 3)
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/04/tem-gente-em-brasilia-pensando-apenas-na-eleicao-
de-2022-diz-presidente-da-anfavea.shtml
xxv Disponível em: 1) https://jovempan.com.br/programas/jornal-da-manha/anfavea-rebate-bolsonaro-
e-diz-que-setor-automotivo-precisa-de-competitividade.html; 2)
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/04/07/ambiente-politico-do-brasil-assusta-matrizes-
diz-presidente-da-anfavea.ghtml;
xxvi Disponível em: 1) Aurora: https://www.radiocoracao.com.br/farol/radiocoracao/blog/noticias-
regionais/agroindustrias-mantem-funcionarios-mesmo-durante-crise-motivada-pelo-
coronavirus/79015; 2) ABIA: https://mais.opovo.com.br/jornal/economia/2020/04/17/industria-de-
alimentos-descarta-desabastecimento-durante-o-periodo-de-quarentena.html; 3) BRFoods:
https://www.facebook.com/wearebrf/photos/nesse-momento-de-isolamento-e-distanciamento-social-
algumas-pessoas-continuam-tr/2621795951281222/; 4) GTFoods: https://avicultura.info/pt-br/gtfoods-
covid-19-isolamento-producao/
xxvii Disponível em: 1) https://www.abras.com.br/clipping/noticias-abras/70361/nota-oficial-abras---
covid-19; 2) https://portalapas.org.br/webinar-especial-esclarece-duvidas-dos-supermercadistas-sobre-
o-coronavirus/; 3) https://portalapas.org.br/nota-oficial-coronavirus-supermercados-empenhados-no-
combate-ao-covid-19/
xxviii Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/04/01/coronavirus-empresas-
publicidade-isolamento-social-covid-19.htm
xxix Disponível em: 1) Faesp: https://www.eaemaq.com.br/feiras/faesp-e-senar-sp-orientam-a-
realizacao-de-feiras-seguras/; 2) Famato:
https://sistemafamato.org.br/portal/famato/noticia_completa.php?codNoticia=238841; 3) Famasul:
http://www.ms.gov.br/protegidos-e-produtivos-produtores-rurais-de-ms-reforcam-protocolo-sanitario-
e-mantem-atividades-no-campo/; 4) Faeg: https://sistemafaeg.com.br/faeg/noticias/uniao-e-
acao/governo-de-goias-divulga-medidas-que-contemplam-o-setor-agropecuario
xxx O pequeno e médio capital da indústria da construção civil parece ter aderido ao discurso da
prioridade da economia. A APEMEC, por exemplo, fez publicação defendendo que o setor deveria seguir
o trabalho com dedicação e segurança. Ver: http://www.apemec.com.br/coronavirus-construcao-
civil/coronavirus-construcao-civil-seguindo-sem-parar-com-dedicacao-e-seguranca/ .
xxxiDisponível em: 1) https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/03/25/fundador-da-mrv-defende-
que-nao-e-hora-de-brasil-passar-por-isolamento-vertical.ghtml ; 2)
https://www.abdib.org.br/2020/03/26/entenda-se-precisamos-de-um-plano-marshall/ ; 3)
https://www.abdib.org.br/2021/04/27/ajuste-fiscal-exagerado-mantem-pais-na-decada-destruida-
escreve-venilton-tadini/ ; 4) https://www.abdib.org.br/2020/04/21/iluminacao-publica-para-sair-da-
crise/ .
xxxii Disponível em: 1) https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/01/crise-derruba-popularidade-de-
bolsonaro-aponta-datafolha.shtml; 2) https://www.poder360.com.br/poderdata/desaprovacao-ao-
trabalho-de-bolsonaro-atinge-recorde-e-vai-a-52-diz-poderdata/; 3)
https://www.poder360.com.br/poderdata/56-rejeitam-governo-bolsonaro-taxa-parece-ter-atingido-o-
pico/
xxxiii Disponível em: 1) MBL: https://www.facebook.com/mblivre/photos/s%C3%A3o-paulo-est%C3%A1-
dando-o-exemplo-no-isolamento-social/1984219868368813/; 2)
https://revistaforum.com.br/politica/mbl-coloca-carros-de-som-nas-ruas-para-incentivar-panelacos-
contra-bolsonaro/#; 3) VPR: https://jovempan.com.br/noticias/vem-pra-rua-organiza-protesto-contra-
© Rev. Práxis e Heg Popular Marília, SP v.6 n.9 p. 21-45 dez/2021 eISSN 2526-1843

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indicado-ao-stf-e-reeleicao-de-maia-e-alcolumbre.html; 4)
https://www.facebook.com/vemprarua.net/posts/1997768220404516; 5) Movimento pró-impeachment
de Bolsonaro: https://congressoemfoco.uol.com.br/governo/mbl-e-vem-pra-rua-reforcam-oposicao-a-
bolsonaro-ele-enganou-todo-mundo/
xxxiv Disponível em: 1) https://oglobo.globo.com/brasil/apoiadores-de-bolsonaro-moro-fazem-ato-em-
frente-pf-em-curitiba-24407040; 2)
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2020/05/02/interna_politica,850638/manif
estantes-a-favor-de-moro-e-pro-bolsonaro-entram-em-confronto.shtml
xxxv Ver: https://www.infomoney.com.br/mercados/cpi-da-covid-trava-reformas-e-embaralha-
discussao-sobre-orcamento-de-2021/
xxxvi Ver: https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,sindicatos-rurais-convocam-atos-pro-bolsonaro-
e-contra-stf,70003701846
xxxvii Essa tática de Bolsonaro em manter sua base mobilizada a partir de setores temáticos é semelhante
a algo que ele tentou fazer no início do seu governo através do que foi chamado de “coalizão por bancada
setorial”. Ver: 1) https://oglobo.globo.com/politica/artigo-uma-coalizao-para-chamar-de-sua-23257009 ;
2) https://www.infomoney.com.br/politica/bolsonaro-promete-nova-politica-e-possivel-um-governo-
sem-toma-la-da-ca/ ;
xxxviii Ver: http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=445860&ori=1 .
xxxix Ver: 1) Aprosoja: https://www.rdnews.com.br/executivo/aprosoja-apoia-manifestacao-de-7-de-
setembro-mas-nega-seu-financiamento/149043; 2) Farsul:
https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/agronegocio/296960-farsul-emite-carta-aberta-em-
defesa-da-democracia-e-apoio-ao-7-de-setembro.html#.YgV1G5bMLrc; 3) Faesc:
http://sistemafaesc.com.br/Noticias/Detalhe/18887; 4) Sindicatos de menor porte:
https://www.cbnmaringa.com.br/noticia/sistema-faep-se-posiciona-sobre-manifestacoes-no-dia-7-de-
setembro
xl Ver: 1) Fiemg: https://www7.fiemg.com.br/noticias/detalhe/manifesto-pela-liberdade; 2) Fiesc:
https://fiesc.com.br/pt-br/imprensa/fiesc-defende-manifestacoes-pacificas-e-democraticas; 3) Fiergs:
https://sinduscom.org.br/fiergs-reitera-posicao-por-manifestacoes-ordeiras-e-pacificas-em-7-de-
setembro;
xli Ver: https://www.eleicaoserespeita.org/
xlii Ver: https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/08/4946734-entidades-ligadas-ao-
agronegocio-divulgam-manifesto-em-defesa-da-democracia.html
xliii Ver: 1) https://www.poder360.com.br/economia/manifesto-por-pacificacao-politica-faz-bb-e-caixa-
ameacarem-deixar-febraban/; 2) https://valor.globo.com/opiniao/noticia/2021/09/01/governo-se-
mobiliza-contra-um-manifesto-de-conciliacao.ghtml
xliv Ver: https://www.poder360.com.br/economia/manifesto-da-fiesp-com-apoio-da-febraban-teve-
200-adesoes-em-1-dia/
xlv Ver: https://blogs.oglobo.globo.com/merval-pereira/post/fora-do-tom.html
xlvi Ver: https://portal.febraban.org.br/noticia/3680/pt-br/
xlvii Ver: https://exame.com/economia/guedes-diz-que-febraban-e-que-teria-sugerido-tom-critico-em-
manifesto/
xlviii Ver: https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/09/08/empresas-perdem-r-1953-bilhoes-em-
valor-de-mercado-nesta-quarta-feira-com-declaracoes-golpistas-de-bolsonaro.ghtml
xlix Ver: 1) https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/09/08/crise-institucional-ameaa-
investimentos-e-crdito-dizem-fontes.ghtml; 2)
https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/09/09/crise-politica-eleva-premio-de-risco-e-preocupa-
investidor.ghtml; 3) https://valor.globo.com/politica/noticia/2021/09/03/pais-so-cresce-com-
estabilidade-diz-fabio-barbosa.ghtml; 4) https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/09/09/piora-do-
cenario-politico-vai-pesar-sobre-economia-diz-mendonca-de-barros.ghtml; 5)
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l Ver: https://valor.globo.com/opiniao/coluna/basta.ghtml
li Ver: 1) https://www.poder360.com.br/brasil/moraes-determina-bloqueio-de-contas-da-aprosoja-para-
rastrear-apoio-a-atos/; 2) https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/09/pf-prende-bolsonarista-em-
sc-que-publicou-ameaca-a-moraes-do-stf.shtml; 3) https://www.cnnbrasil.com.br/politica/alexandre-de-
moraes-revoga-prisao-de-organizador-de-atos-de-7-de-setembro/
lii Como a militante Sara Geromini, o deputado federal Daniel Silveira e o blogueiro Allan dos Santos.

Recebido em 6 de junho de 2022


Aceito em 13 de junho de 2022
Editado em junho de 2022

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