André F.P.Vale - Frações Burguesas e o Governo Bolsonaro
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RESUMO:
Este artigo analisa a relação entre as frações burguesas e o governo Bolsonaro durante a pandemia da Covid-
19, nos anos de 2020 e 2021. Analisamos os posicionamentos políticos das frações burguesas diante da
política econômica, da gestão da crise sanitária e da crise política. Através da análise de documentos das
associações empresariais e declarações dos agentes econômicos na imprensa, verificamos que a burguesia
esteve unida em torno das reformas neoliberais, mas dividida em relação ao negacionismo e ao movimento
golpista. Com isso, identificamos que as frações burguesas estavam mais ou menos alinhadas ao governo,
sendo representadas pela direita neofascista e pela direita tradicional, que dominaram a cena política
naquela conjuntura.
PALAVRAS-CHAVE: Frações burguesas; bloco no poder; governo Bolsonaro; Covid-19; neofascismo.
ABSTRACT:
This article analyzes the relationship between the bourgeois fractions and the Bolsonaro government during
the Covid-19 pandemic, in the years 2020 and 2021. We analyze the political positions of the bourgeois
fractions in the face of economic policy, the management of the health crisis and the political crisis. Through
the analysis of documents from business associations and statements by economic agents in the press, we
found that the bourgeoisie was united around neoliberal reforms, but divided in relation to denialism and
the coup movement. With this, we identified that the bourgeois fractions were more or less aligned with the
government, being represented by the neofascist right and the traditional right, which dominated the
political scene at that juncture.
KEYWORDS: Bourgeois fractions; bloc power; Bolsonaro government; Covid-19; neofascism.
RESUMEN:
Este artículo analiza la relación entre las fracciones burguesas y el gobierno Bolsonaro durante la pandemia
de la Covid-19, en los años 2020 y 2021. Analizamos las posiciones políticas de las fracciones burguesas
frente a la política económica, la gestión de la crisis sanitaria y la crisis política. A través del análisis de
documentos de gremios empresariales y declaraciones de agentes económicos en la prensa, encontramos
que la burguesía estaba unida en torno a las reformas neoliberales, pero dividida en relación al negacionismo
y al movimiento golpista. Con esto, identificamos que las fracciones burguesas estaban más o menos
alineadas con el gobierno, siendo representadas por la derecha neofascista y la derecha tradicional, que
dominaban el escenario político en esa coyuntura.
PALABRAS CLAVE: Fracciones burguesas; bloque en el poder; gobierno Bolsonaro; COVID-19;
neofascismo.
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INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é analisar a relação entre as frações burguesas e o governo
de Jair Bolsonaro, entendido como variante neofascista no Brasil, durante a pandemia da
Covid-19, nos anos de 2020 e 2021. Buscamos relacionar a política de Estado, sobretudo
as políticas econômica e a sanitária, com as classes e frações de classe que compõem o
governo e, de maneira mais ampla, o bloco no poder, que indica a “unidade contraditória
particular das classes ou frações de classe politicamente dominantes, em sua relação com
uma forma particular do Estado capitalista” (Poulantzas, 2019, p. 240/241).
A hipótese central é que houve uma relação de unidade e de conflito entre as
frações burguesas e o governo: unidade em torno de aspectos da política econômicaiii e
conflito em torno da política sanitária e do movimento golpista insuflado diretamente pelo
presidente. Estes conflitos foram manifestados na cena política pela direita neofascista e
pela direita tradicional e sua intensificação estabeleceu um quadro de crise política, mais
precisamente uma situação de instabilidade hegemônica, na medida em que o programa
neoliberal não obteve o consentimento das classes dominadas, induzindo a aliança das
frações burguesas com o movimento neofascista, que constitui uma força social e política
que elas não controlam.
O artigo está dividido em cinco partes. Na primeira, apresentamos a
caracterização do bolsonarismo como variante brasileira do neofascismo. Na segunda,
discorremos sobre o papel desempenhado pelas diferentes classes e frações de classes que
apoiam o governo. Na terceira, analisamos a política econômica e a hierarquia de poder
entre as frações burguesas. Na quarta, analisamos os posicionamentos das frações
burguesas ante a crise sanitária. E na quinta, analisamos os posicionamentos das frações
burguesas ante a crise política.
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(Boito Jr., 2020), se apresentando abertamente na cena política durante a paralisação dos
caminhoneiros em 2018, quando a defesa da “intervenção militar” sobrepôs às
reivindicações corporativas daquele movimento (Valle e Martuscelli, 2018).
Nesse sentido, podemos caracterizar o bolsonarismo como uma variante do
neofascismo, como parte de um fenômeno global em contexto de crise da democracia
burguesa. O conceito de neofascismo oferece uma direção para a pesquisa histórica,
particularmente para a análise das diferentes crises sob o governo Bolsonaro, pois indica
que o movimento reacionário de massas constitui uma força social distinta, não um
instrumento passivo nas mãos das classes dominantes – o que enseja uma complexa
relação de unidade e conflito entre estas e o governo, repercutindo diretamente na cena
política, conforme pretendemos demonstrar a seguir. Para isso, faremos antes uma
apresentação sumária das bases sociais e da hierarquia de poder entre as classes
dominantes durante o governo Bolsonaro.
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militares de alta patente, que disputam com o bolsonarismo a baixa oficialidade das
Forças Armadas e de Segurança (Penido et al, 2020), se aliaram a ele para impedir o
retorno do PT ao governo em 2018, intimidando os ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF) na votação que concederia o habeas corpus e os direitos políticos para o
ex-presidente Lula, que se encontrava preso em Curitiba. Durante o período analisado, os
partidos de patronagem, popularmente denominados como “centrão”, que representam
interesses individuais diversos de pequenos e médios capitalistas (em alguns casos sendo
eles próprios os parlamentares), se aliançaram ao governo para barganhar cargos e
emendas parlamentares. Estas duas classes aliadas acumularam também a função de
classe detentora do aparelho de Estado: estima-se que cerca de 6 mil militares ocuparam
cargos de médio e alto escalão no governov e, ao longo de 2021, o “centrão” logrou
ampliar a sua participação em ministérios importantes dentro do governo, assumindo o
controle da Casa Civil, das Comunicações e da Saúde.
A relação entre as frações burguesas e o governo Bolsonaro foi marcada pela
unidade (aspecto principal) e pelo conflito (aspecto secundário). Grosso modo, as frações
burguesas se unificaram no apoio à política econômica neoliberal, mais especificamente
as reformas neoliberais contra os trabalhadores e as privatizações. Mas isso não eliminou
a existência de conflitos em torno de algumas definições de política econômica. O capital
internacional e a burguesia associada (particularmente as corretoras e fundos de
investimentos), frações da grande burguesia interna (industrial, agrária, bancária e
comercial), e grandes proprietários de terra (incluindo madeireiros e garimpeiros que
atuam à margem da lei), são as classes e frações de classe cujos interesses foram os mais
contemplados pela política estatal. Uma hipótese que trabalhamos é que, dentre estas
frações, seria possível verificar certa preponderância de interesses, sendo o grande capital
internacional e a burguesia associada priorizados em relação às demais – isto é, a fração
hegemônica no bloco no poder. Desenvolveremos esta hipótese na próxima seção, quando
analisarmos os aspectos principais da política econômica.
Antes, porém, cabe destacar as contradições que decorrem desta composição
heterogênea de forças. De acordo com Armando Boito Jr (2020), foram quatro os
conflitos principais: 1) entre a grande burguesia e o movimento neofascista, em torno das
prioridades da política estatal (reformas neoliberais vs pautas de costumes; hostilidades à
China; política ambiental predatória); 2) entre a cúpula e a base do bolsonarismo, com o
recuo nas pautas de costumes em prol do atendimento dos interesses da burguesia, como
demonstram as deserções de sua “base plebeia” (como o MBL, os youtubers Nando
Moura e Marcelo Brigadeiro, além de lideranças dos caminhoneiros); 3) entre o governo
e as instituições democráticas, através dos inquéritos das Fake News e das Milícias
Digitais no STF, do processo de anulação de chapa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
das manifestações golpistas contra o STF e o Congresso Nacional, dos motins das Polícias
Militares (PMs), e das ameaças do Alto Comando Militar; 4) e no interior da equipe
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Até aqui afirmamos que o aspecto dominante na relação entre as frações burguesas
e o governo foi a unidade em torno das reformas neoliberais contra os trabalhadores e as
privatizações, o que não eliminou a existência de conflitos secundários, alguns dos quais
já nos referimos, relacionados à política econômica: a desoneração de impostos sobre
importação, que opôs a burguesia industrial ao capital estrangeiro; a elevação da taxa
Selic, que opôs a burguesia industrial ao capital financeiro; a política ambiental
predatória, que opôs os produtores rurais às tradings do agronegócio; as desonerações à
indústria de automóveis, que opôs as montadoras ao capital financeiro; a política de
preços da Petrobras, que opôs as transportadoras e indústrias ao capital financeiro; e a
privatização da Eletrobras, que opôs setores da indústria ao capital financeiro vii. Tais
conflitos não dividiram as frações burguesas em torno de distintas estratégias de política
econômica, ao contrário, foi justamente o apoio à política econômica executada pela
equipe governamental o principal limite para a ação oposicionista dos partidos burgueses
tradicionais.
Conforme veremos a seguir, foram os conflitos relacionados à gestão da crise
sanitária e à questão democrática os principais pontos de fissura entre as frações
burguesas e o governo, o que explica a divisão política destas frações em campos distintos
e a luta por uma alternativa própria para as eleições de 2022 (a chamada “terceira via”).
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NEOFASCISMO E NEGACIONISMO
Ao longo da pandemia, o neofascismo mobilizou a sua base social pelo
descumprimento das medidas de isolamento social e pelo descrédito às vacinas, negando
a pandemia e as recomendações das autoridades sanitárias. De acordo com Boito Jr
(2020), o negacionismo é produto da ideologia fascista, mais precisamente da frustração
com a impossibilidade de realização de sua utopia reacionária restauradora, o que leva à
não-aceitação da realidade adversa e ao irracionalismo. A negação da existência do
coronavírus, ou a denúncia de uma suposta conspiração comunista promovida pelo
governo chinês, que teria difundido o “vírus do comunismo” ou “nanochips líquidos” nas
vacinas para atingir o controle social, foram teses amplamente divulgadas nas redes
sociais pelos intelectuais e propagandistas ligados ao bolsonarismo, como Olavo de
Carvalho e Allan dos Santos.
A estratégia negacionista contou com apoio ativo e o consentimento passivo de
parcelas importantes da sociedade brasileira (Cavalcante, 2021). O discurso negacionista
foi encampado especificamente pelo movimento neofascista, situado nas classes médias
e na pequena-burguesia. Além da atuação nas redes sociais, o movimento neofascista
realizou manifestações de rua contra as medidas de isolamento e contra a “conspiração
chinesa”, assim como influenciou os protestos de rua de lojistas e pequenos proprietários
afetados pelo fechamento do comércioix. Outra expressão do negacionismo durante esse
período foi a defesa de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento ou
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vida dos infectados ou se queremos defender todas as vidas - a dos doentes e a dos
sãos”xvi.
E os produtores rurais ligados às atividades de exportação, como os produtores de
soja e pecuaristas, representados pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária
do Brasil (CNA), pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), pelas federações
de agricultura e pecuária dos estados de Santa Catarina (Faesc), Minas Gerais (Faemg),
Paraná (Faep), Rio Grande do Sul (Farsul) e pela Associação dos Produtores de Soja e
Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), criticaram de maneira contundente as
medidas de isolamento social, reivindicando a sua exclusão destas medidas, alegando o
risco de desabastecimento das cidades e os prejuízos econômicos da não-realização das
colheitasxvii. Após obterem o reconhecimento do governo como atividades essenciais e
funcionarem normalmente durante a pandemia, estas entidades pouco voltaram a se
pronunciar a respeito da crise sanitária. As suas publicações, quando referentes à Covid-
19, se referiram mais à ações de solidariedade, como a entrega de cestas básicas e
máscaras para os produtores rurais, do que propriamente posicionamentos explícitos em
relação às medidas de contenção ao coronavírusxviii.
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negacionista, como na ocasião das exonerações dos ministros Mandetta e Teich, o capital
financeiro associado reagiu negativamente, desvalorizando os ativos financeirosxxi.
O capital estrangeiro internalizado nos setores de telecomunicações e automotivo
também defendeu publicamente as medidas de isolamento social e a vacinação acelerada.
Grandes empresas de telefonia, como a Claro, Nextel, Vivo, Oi, Tim e Algar,
aproveitaram a crise sanitária para expandir os seus negócios, diante do aumento da
demanda por internetxxii. Segundo os dados do SindiTeleBrasil, houve aumento de 40%
do fluxo de dados na internet durante a pandemiaxxiii. Por outro lado, as montadoras
estrangeiras, representadas pela Anfavea, defenderam as medidas de isolamento e
vacinação em massa, e foram enfáticas nas críticas ao governoxxiv. Diante da saída de
montadoras para países vizinhos, como a Argentina, a Anfavea fez reiteradas críticas e
culpou a gestão errática da pandemia e a escalada autoritária do governoxxv.
A indústria de alimentos e o setor de supermercados, que viram subir o consumo
doméstico e os serviços de delivery, também foram importantes apoiadoras das medidas
de isolamento social e da vacinação acelerada. Grandes frigoríficos e a Associação
Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) se posicionaram publicamente favoráveis às
medidasxxvi, assim como as grandes redes de supermercados e as entidades do setor, como
as Associações Brasileira e Paulista de Supermercados (Abras e Apas), que viram crescer
as compras virtuais neste períodoxxvii. As grandes redes de varejo, Magazine Luiza, Lojas
Renner e Leroy Merlin, que expandiram as suas plataformas de vendas online durante a
pandemia, tiveram algum protagonismo nas iniciativas empresariais relacionadas à
vacinação em massaxxviii. No mesmo sentido, entidades estaduais de produtores rurais
voltados ao mercado interno, como as federações estaduais de agricultura e pecuária dos
estados de São Paulo (Faesp), Mato Grosso (Famato), Mato Grosso do Sul (Famasul) e
Goiás (Faeg), reivindicaram a essencialidade e a importância do setor para o suprimento
das cidades e para a garantia do isolamento socialxxix.
O grande capital da construção civilxxx também saiu em defesa do isolamento
social. Tanto o grande capital imobiliário, como foi o caso da empresa MRV, quanto o
grande capital da infraestrutura, representados pela Associação Brasileira da
Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB), defenderam as medidas de contenção da
pandemia propagandeando o setor como única saída para o crescimento no pós-pandemia,
demandando mais investimentos do Estado em infraestrutura, mais ação dos bancos
multilaterais e mais parcerias público-privadas. O discurso do setor da construção civil
ainda trazia as reformas neoliberais como meio mais inteligente para contornar a crise do
que o ajuste fiscal feito apenas por meio de corte de investimentosxxxi.
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A CRISE POLÍTICA
A crise que envolveu o governo Bolsonaro durante o período analisado foi uma
situação de condensação dos conflitos de classe em momento de reprodução social e deve
ser observada na luta interna do bloco no poder, nas alianças na cena política e nas suas
contradições e nos conflitos entre instituições de Estado. Caracterizamos como uma crise
de representatividade aguda, já que ela elevou de patamar a crise de representatividade
criada pela Operação Lava Jato. Esse novo patamar foi alcançado devido às ações levadas
a cabo pelo presidente a fim de minar o sistema democrático e poderia ter transformado
a crise de representatividade em uma crise do regime político, uma vez que a crise oscilou
entre um polo alimentado por conflitos em torno da política sanitária, que teria como
principais atores o movimento neofascista, as frações burguesas e seus representantes na
cena política, e um polo nutrido pelos conflitos em torno da pauta democrática, que se
expressou principalmente nos conflitos entre os ramos Executivo e Judiciário do aparelho
de Estado.
No primeiro caso, o Senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP) utilizou como
justificativa a gravíssima situação sanitária que o estado do Amazonas alcançou por conta
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados deste trabalho corroboram a hipótese de que as frações burguesas
mantiveram uma relação de unidade e conflito com o governo neofascista. Verificamos
que a unidade foi o aspecto principal em seus posicionamentos em relação à política
econômica, sobretudo as privatizações e as reformas neoliberais contra os trabalhadores,
embora tenham persistido conflitos secundários que não lograram dividir as frações em
torno de estratégias distintas de política econômica. Por outro lado, houve conflitos em
relação ao negacionismo da pandemia e às manifestações golpistas incentivadas por
Bolsonaro, o que ensejou a formação de uma oposição burguesa, representada pela direita
tradicional.
Foi possível constatar um padrão entre as frações que se alinharam e as que se
opuseram à orientação do governo frente à crise sanitária e à questão democrática. Os
proprietários de terra foram aqueles que se posicionaram mais alinhados ao negacionismo
e às manifestações golpistas do bolsonarismo, seguidos por frações regionais da burguesia
industrial e da burguesia comercial varejista. Por outro lado, os principais setores do
grande capital, sobretudo os grandes bancos nacionais e o capital financeiro associado,
mas também as tradings do agronegócio, setores da grande indústria e do grande
comércio, exerceram papel ativo e dirigente nas iniciativas em defesa das medidas de
isolamento social, da compra de vacinas e contrárias à escalada golpista. Estes resultados
indicam que, apesar de a política econômica priorizar o grande capital em detrimento do
pequeno e do médio, sobretudo o capital financeiro internacional, essas frações se
afastaram do governo à medida que o negacionismo e o golpismo apresentaram risco de
perda de controle sobre a política econômica do governo neofascista. Tal afastamento não
resultou em uma posição antagônica, que sustentasse a abertura de um processo de
impeachment, justamente por conta do atendimento de seus interesses na economia.
Contudo, tal afastamento incentivou a formação de uma “terceira via” ao bolsonarismo e
ao lulismo para as eleições presidenciais de 2022.
Com estes resultados temos uma indicação das bases sociais que ofereceram
caução às representações políticas que polarizaram a conjuntura analisada e àquelas que
disputarão as eleições em 2022, restando dúvida sobre a posição da burguesia associada,
sobretudo o capital financeiro, diante do cenário de afunilamento entre as candidaturas de
Lula e Bolsonaro: se oferecerão apoio crítico ao primeiro, ou se aliarão novamente ao
segundo, visando garantir a continuidade do neoliberalismo ortodoxo. O
desenvolvimento destes conflitos e o realinhamento de classes deverão ser analisados
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https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/573001/noticia.html?sequence=1&isAllowed=y;
4) Abimaq:
http://abimaq.org.br/COMUNICACOES/2021/PROJETOS/INFORMAQ/ED251/Informaq_251.pdf
xv Disponível em: 1) CNC: https://www.istoedinheiro.com.br/bolsonaro-comparte-video-em-que-
dirigente-da-cnc-diz-que-estados-fazem-chantagem/; 2) http://www.fecomercio-
ms.com.br/flexibilizacao-da-quarenta-reduziu-perdas-do-comercio-em-r-914-bilhoes/; 3) Brasil 200:
https://valor.globo.com/politica/noticia/2021/04/07/em-jantar-com-empresrios-bolsonaro-critica-
medidas-restritivas-covid-19.ghtml; 4) Fecomercio-SP: https://valorinveste.globo.com/mercados/brasil-
e-politica/noticia/2020/05/27/sp-precisa-anunciar-reabertura-controlada-do-varejo-logo-diz-
fecomercio.ghtml
xvi Disponível em: https://forbes.com.br/colunas/2020/05/flavio-rocha-a-licao-da-ilha-de-pascoa-para-
a-epoca-de-confinamentos/
xvii Disponível em: 1) Faesc: https://www.noticiasagricolas.com.br/videos/agronegocio/255651-governo-
de-sc-flexibiliza-regras-para-o-isolamento-social-medida-e-considerada-acertada-pela-
faesc.html#.XpORD25FzIU; 2) Faemg: https://www.otempo.com.br/coronavirus/industria-e-agricultura-
querem-que-funcionarios-saudaveis-voltem-a-trabalhar-1.2317497; 3) Faep:
https://www.folhadelondrina.com.br/economia/setor-produtivo-do-parana-pede-retomada-de-
atividades-economicas-2986217e.html; 4) Farsul: www.farsul.org.br/destaque/entidades-empresariais-
lancam-manifesto-pela-reativacao-economica,353452.jhtml; 5) Aprosoja-MT:
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/03/isolamento-por-coronavirus-pode-atrapalhar-safra-
de-milho-de-mt-diz-associacao.shtml; 6) Abrafrigo:
http://www.abrafrigo.com.br/index.php/2020/03/27/clipping-da-abrafrigo-no-1204-de-27-de-marco-
de-2020/
xviii Exceção deve ser feita à Faesc, que em conjunto com outras entidades patronais de Santa Catarina
aderiu à defesa do “tratamento precoce” defendido pelo Governo Federal. Disponível em:
http://noticom.com.br/fiesc-facisc-fcdl-e-faesc-defendem-o-tratamento-precoce-em-sc/
xix Disponível em: 1) Bradesco: http://https//www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/04/bradesco-ve-
queda-de-ate-4-no-pib-e-atritos-demais-no-governo.shtml; 2) Itaú Unibanco:
https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/04/03/mesquita-pior-cenario-para-economia-e-
suspender-isolamento-sem-ouvir-autoridades-de-saude.ghtml; 3) Santander:
https://www.terra.com.br/economia/isolamento-se-provou-importante-diz-presidente-do-santander-
brasil,30a2b75b36b2d335106644149bc8f34cfqi12w9z.html;
xx Disponível em: https://www.poder360.com.br/economia/carta-de-economistas-por-combate-a-
pandemia-passa-de-1-500-assinaturas/
xxi Disponivel em: 1) https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-variavel/bolsas-e-
indices/noticia/2020/04/06/possivel-demissao-de-mandetta-freia-disparada-do-ibovespa.ghtml; 2)
https://br.investing.com/news/stock-market-news/ibovespa-cai-e-dolar-sobe-apos-pedido-de-
demissao-de-teich-do-ministerio-da-saude-747193
xxii Disponível em: https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-
variavel/empresas/noticia/2020/03/20/claro-nextel-vivo-oi-tim-e-algar-se-unem-para-manter-conexo-
de-internet.ghtml
© Rev. Práxis e Heg Popular Marília, SP v.6 n.9 p. 21-45 dez/2021 eISSN 2526-1843
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indicado-ao-stf-e-reeleicao-de-maia-e-alcolumbre.html; 4)
https://www.facebook.com/vemprarua.net/posts/1997768220404516; 5) Movimento pró-impeachment
de Bolsonaro: https://congressoemfoco.uol.com.br/governo/mbl-e-vem-pra-rua-reforcam-oposicao-a-
bolsonaro-ele-enganou-todo-mundo/
xxxiv Disponível em: 1) https://oglobo.globo.com/brasil/apoiadores-de-bolsonaro-moro-fazem-ato-em-
frente-pf-em-curitiba-24407040; 2)
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2020/05/02/interna_politica,850638/manif
estantes-a-favor-de-moro-e-pro-bolsonaro-entram-em-confronto.shtml
xxxv Ver: https://www.infomoney.com.br/mercados/cpi-da-covid-trava-reformas-e-embaralha-
discussao-sobre-orcamento-de-2021/
xxxvi Ver: https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,sindicatos-rurais-convocam-atos-pro-bolsonaro-
e-contra-stf,70003701846
xxxvii Essa tática de Bolsonaro em manter sua base mobilizada a partir de setores temáticos é semelhante
a algo que ele tentou fazer no início do seu governo através do que foi chamado de “coalizão por bancada
setorial”. Ver: 1) https://oglobo.globo.com/politica/artigo-uma-coalizao-para-chamar-de-sua-23257009 ;
2) https://www.infomoney.com.br/politica/bolsonaro-promete-nova-politica-e-possivel-um-governo-
sem-toma-la-da-ca/ ;
xxxviii Ver: http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=445860&ori=1 .
xxxix Ver: 1) Aprosoja: https://www.rdnews.com.br/executivo/aprosoja-apoia-manifestacao-de-7-de-
setembro-mas-nega-seu-financiamento/149043; 2) Farsul:
https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/agronegocio/296960-farsul-emite-carta-aberta-em-
defesa-da-democracia-e-apoio-ao-7-de-setembro.html#.YgV1G5bMLrc; 3) Faesc:
http://sistemafaesc.com.br/Noticias/Detalhe/18887; 4) Sindicatos de menor porte:
https://www.cbnmaringa.com.br/noticia/sistema-faep-se-posiciona-sobre-manifestacoes-no-dia-7-de-
setembro
xl Ver: 1) Fiemg: https://www7.fiemg.com.br/noticias/detalhe/manifesto-pela-liberdade; 2) Fiesc:
https://fiesc.com.br/pt-br/imprensa/fiesc-defende-manifestacoes-pacificas-e-democraticas; 3) Fiergs:
https://sinduscom.org.br/fiergs-reitera-posicao-por-manifestacoes-ordeiras-e-pacificas-em-7-de-
setembro;
xli Ver: https://www.eleicaoserespeita.org/
xlii Ver: https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/08/4946734-entidades-ligadas-ao-
agronegocio-divulgam-manifesto-em-defesa-da-democracia.html
xliii Ver: 1) https://www.poder360.com.br/economia/manifesto-por-pacificacao-politica-faz-bb-e-caixa-
ameacarem-deixar-febraban/; 2) https://valor.globo.com/opiniao/noticia/2021/09/01/governo-se-
mobiliza-contra-um-manifesto-de-conciliacao.ghtml
xliv Ver: https://www.poder360.com.br/economia/manifesto-da-fiesp-com-apoio-da-febraban-teve-
200-adesoes-em-1-dia/
xlv Ver: https://blogs.oglobo.globo.com/merval-pereira/post/fora-do-tom.html
xlvi Ver: https://portal.febraban.org.br/noticia/3680/pt-br/
xlvii Ver: https://exame.com/economia/guedes-diz-que-febraban-e-que-teria-sugerido-tom-critico-em-
manifesto/
xlviii Ver: https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/09/08/empresas-perdem-r-1953-bilhoes-em-
valor-de-mercado-nesta-quarta-feira-com-declaracoes-golpistas-de-bolsonaro.ghtml
xlix Ver: 1) https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/09/08/crise-institucional-ameaa-
investimentos-e-crdito-dizem-fontes.ghtml; 2)
https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/09/09/crise-politica-eleva-premio-de-risco-e-preocupa-
investidor.ghtml; 3) https://valor.globo.com/politica/noticia/2021/09/03/pais-so-cresce-com-
estabilidade-diz-fabio-barbosa.ghtml; 4) https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/09/09/piora-do-
cenario-politico-vai-pesar-sobre-economia-diz-mendonca-de-barros.ghtml; 5)
https://www.cnnbrasil.com.br/business/mercado-teme-ameacas-institucionais-mas-ainda-hesita-sobre-
impeachment/
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https://doi.org/10.36311/2526-1843.2021.v6n9.p21-45
l Ver: https://valor.globo.com/opiniao/coluna/basta.ghtml
li Ver: 1) https://www.poder360.com.br/brasil/moraes-determina-bloqueio-de-contas-da-aprosoja-para-
rastrear-apoio-a-atos/; 2) https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/09/pf-prende-bolsonarista-em-
sc-que-publicou-ameaca-a-moraes-do-stf.shtml; 3) https://www.cnnbrasil.com.br/politica/alexandre-de-
moraes-revoga-prisao-de-organizador-de-atos-de-7-de-setembro/
lii Como a militante Sara Geromini, o deputado federal Daniel Silveira e o blogueiro Allan dos Santos.
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