UNASUL e As Relações Colômbia e Venezuela
UNASUL e As Relações Colômbia e Venezuela
UNASUL e As Relações Colômbia e Venezuela
Introdução
O objetivo deste texto é examinar, em perspectiva comparada, a relação
dos governos recentes na Venezuela e na Colômbia com a União de Nações
Sul-Americanas (UNASUL). Desde a eleição de Hugo Chávez em 1998, a au-
todenominada “Revolução Bolivariana” na Venezuela é vista como o processo
de mudança mais radical dentre os países que constituíram a chamada onda
progressista na América do Sul, adensada a partir da posse de Lula da Silva
no Brasil e Nestor Kirchner na Argentina em 2003. Nestes mesmos anos, a
política colombiana sofreu uma inflexão de sentido contrário, acentuando a
proximidade deste país em relação aos Estados Unidos. Nos últimos anos do
século XX foi concebido o Plan Colombia, que levou à ruptura das negociações
de paz entre o Estado, sob a administração de Andrés Pastrana, e a insurgên-
cia. O enfoque militarista ao conflito interno se acentuou a partir da eleição
de Alvaro Uribe em 2002, que coincidiu com o ascenso da retórica da guerra
ao terror, na sequência dos ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados
Unidos.
Foi neste contexto, em que Colômbia e Venezuela se identificavam
com as polaridades da política sulamericana, que foi criada a UNASUL em
2008. Este texto reconstituirá alguns aspectos da política externa venezuelana
deste momento, salientando suas relações com a UNASUL e o Brasil, à luz
do seu projeto de integração regional. Em seguida, realizaremos uma análise
similar em relação à Colômbia, ressaltando a inflexão na política regional do
país decorrente da opção por negociações de paz feita pelo governo Santos. Ao
acompanhar a evolução da relação de Venezuela e Colômbia com a UNASUL,
em um período que coincidiu com as gestões do Partido dos Trabalhadores no
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Venezuela
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social e uma política exterior ‘ativa e altiva’ - como gostava de dizer o próprio
Lula” (Ramírez 2014). Diga-se de passagem, o contraponto entre o chavismo
e Lula não era novo: assistindo à manifestação anti-chavista em 2006, fui
abordado por vários venezuelanos que elogiavam ao brasileiro, em contraste
com o seu presidente.
Maduro não seguiu esta via, por diversos motivos. Principalmente,
defende as conquistas sociais do processo, e resiste às pressões por reforma
econômica por recear os custos sociais das alternativas que se vislumbram,
todas de corte antipopular e antinacional. Para dar um exemplo, o economista
baseado em Harvard, Ricardo Hausman, tem sido o porta-voz de uma via
sintetizada em dois movimentos: o calote aos chineses, que compraram in-
clusive o petróleo futuro venezuelano, e a reaproximação com os Estados Un-
idos e o FMI. As sugestões de Hausman incluem vender alimentos recebidos
pelo país de doações internacionais, para fazer caixa (Hausman 2016). Porém,
diante da acelerada degradação das condições cotidianas dos venezuelanos,
mesmo analistas simpáticos ao processo questionam se o desgaste político
subsequente não teria sido superior ao custo social de mudanças (Lander
2015).
Pois quando ocorreram as eleições parlamentares na Venezuela, em
6 de dezembro de 2015, a inflação era estimada em 150% segundo dados
não oficiais, já que o governo não divulgara cifras ao longo do ano. Os prob-
lemas de desabastecimento se agudizaram e o desajuste cambial, decolara:
no câmbio oficial o dólar era cotado a 6,30 bolívares, enquanto no mercado
paralelo, superava a marca de 800 bolívares por dólar. O Fundo Monetário
Internacional visualizava uma recessão em torno a 10% para o país no ano
(Ramos 2015).
Estas eleições foram cercadas de expectativa e tensão. Receava-se que
o governo perdesse a maioria parlamentar, sofrendo sua primeira derrota nas
urnas desde a consulta de 2006. Dependendo da magnitude do revés, abriria-
se o caminho para um referendo revogatório, que poderia abreviar o mandato
de Maduro.
Diante deste cenário a oposição subiu o tom, denunciando a possibil-
idade de fraude. O governo abriu então, negociações para a vinda de missões
internacionais que atestassem a lisura do processo. Rechaçando a participação
da OEA, amplamente identificada com os Estados Unidos, o governo vene-
zuelano apostou fichas em uma missão da UNASUL. No entanto, o processo
de negociação desencadeado foi turbulento, e muitos sentiram a participação
do Brasil como hostil.
Em linhas gerais, houve uma proposta verbal associada ao então
presidente do Tribunal Supremo Eleitoral brasileiro, Dias Toffoli, propondo
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Colômbia
2 O Plan Colombia foi um acordo concebido em 1999 entre as administrações Clinton e Pas-
trana, prevendo assessoria e recursos que converteram o país no terceiro receptor mundial de
ajuda estadunidense (depois de Israel e Egito), a pretexto de combater o narcotráfico. O plano
contribuiu para sepultar as negociações de paz com a insurgência então em andamento e po-
tenciou a militarização do estado colombiano (Oidhaco 2000).
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3 Jovens vestidos em uniformes de guerrilha e assassinados pelo exército com o objetivo de que
seus executores obtenham a recompensa governamental, estipulada em 2005 em cerca de U$
1.900 (Fundación Lazos de Dignidad 2014).
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Conclusão
REFERÊNCIAS
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ENTREVISTAS
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RESUMO
Este texto analisa a relação de Venezuela e Colômbia com a UNASUL desde a sua
criação em 2008, com o objetivo de explorar o alcance e os limites intrínsecos à uma
instituição regional que incorporou países com governos de orientação díspare em
seu momento original.
PALAVRAS-CHAVE
UNASUL; Venezuela; Colômbia.
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