UNASUL e As Relações Colômbia e Venezuela

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 24

Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais

e-ISSN 2238-6912 | ISSN 2238-6262| v.5, n.10, Jul./Dez. 2016 | p.240-263

UNASUL À LUZ DE UM CONTRASTE: AS


RELAÇÕES COM VENEZUELA E COLÔMBIA
Fabio Luis Barbosa Dos Santos1

Introdução
O objetivo deste texto é examinar, em perspectiva comparada, a relação
dos governos recentes na Venezuela e na Colômbia com a União de Nações
Sul-Americanas (UNASUL). Desde a eleição de Hugo Chávez em 1998, a au-
todenominada “Revolução Bolivariana” na Venezuela é vista como o processo
de mudança mais radical dentre os países que constituíram a chamada onda
progressista na América do Sul, adensada a partir da posse de Lula da Silva
no Brasil e Nestor Kirchner na Argentina em 2003. Nestes mesmos anos, a
política colombiana sofreu uma inflexão de sentido contrário, acentuando a
proximidade deste país em relação aos Estados Unidos. Nos últimos anos do
século XX foi concebido o Plan Colombia, que levou à ruptura das negociações
de paz entre o Estado, sob a administração de Andrés Pastrana, e a insurgên-
cia. O enfoque militarista ao conflito interno se acentuou a partir da eleição
de Alvaro Uribe em 2002, que coincidiu com o ascenso da retórica da guerra
ao terror, na sequência dos ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados
Unidos.
Foi neste contexto, em que Colômbia e Venezuela se identificavam
com as polaridades da política sulamericana, que foi criada a UNASUL em
2008. Este texto reconstituirá alguns aspectos da política externa venezuelana
deste momento, salientando suas relações com a UNASUL e o Brasil, à luz
do seu projeto de integração regional. Em seguida, realizaremos uma análise
similar em relação à Colômbia, ressaltando a inflexão na política regional do
país decorrente da opção por negociações de paz feita pelo governo Santos. Ao
acompanhar a evolução da relação de Venezuela e Colômbia com a UNASUL,
em um período que coincidiu com as gestões do Partido dos Trabalhadores no

1 Professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Pau-


lo. Doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo, Brasil. E-mail: faboroso@
gmail.com

240
Fabio Luis Barbosa Dos Santos

Brasil, evidencia-se a orientação moderada desta instituição, que enfrentou a


hostilidade inicial do governo Uribe, mas tampouco endossou as pretensões
radicais do chavismo. No conjunto, o resultado desta análise indica uma sit-
uação paradoxal, uma vez que a organização simbólica da onda progressista
sulamericana parece ser mais importante, na atualidade, para consolidar a
paz na Colômbia sob Santos, do que para auxiliar a Venezuela a superar a
crise que ameaça a continuidade do bolivarianismo sob Maduro, o que é sug-
erido pelas expectativas contrastantes entre estes governos quanto ao papel da
UNASUL em relação aos desafios que enfrentam.
Embora a criação da UNASUL resulte da convergência de esforços de
diversos governos e não deva ser vista como mera extensão da política region-
al brasileira, a notável sintonia entre as posturas adotadas nestes anos iniciais
pela UNASUL e a orientação conciliatória da política externa praticada pelas
gestões petistas no Brasil, enseja uma reflexão sobre o alcance e os limites
desta orientação, em um momento em que o refluxo da onda progressista
regional convida a problematizar o seu legado.

Venezuela

Vista em perspectiva continental, a eleição de Hugo Chávez à presidên-


cia da Venezuela em 1998 remete a um padrão, em que a implementação da
agenda neoliberal provocou um agudo desgaste dos partidos convencionais,
abrindo espaço para a eleição de candidatos alternativos. Em alguns casos,
elegeram-se partidos historicamente identificados com a esquerda, como o
Frente Amplio no Uruguai e o Partido dos Trabalhadores no Brasil, enquanto
em outros, triunfaram novas figuras, vistas como alternativas à política preva-
lente, como Morales na Bolívia e Correa no Equador. Neste contexto, a singu-
laridade do processo venezuelano foi a determinação com que seu presidente
enfrentou os constrangimentos à mudança social, radicalizando progressiva-
mente a autodenominada “Revolução Bolivariana”, quando seus congêneres
frequentemente recuaram de seus propósitos originais, e se restringiram à
gestão do neoliberalismo (Webbe e Carr 2013).
Inicialmente, esta radicalização emergiu em resposta aos conflitos
decorrentes da intenção do governo de retomar o comando sobre o excedente
petroleiro. Foi fundamentalmente esta disputa, e não o processo constituinte,
que desencadeou a tentativa de golpe em abril de 2002, revertido pela con-
junção entre a reação popular e a ação de militares fiéis ao presidente. Nos
meses seguintes, a ofensiva oposicionista tomou a forma de um locaute, que
teve como eixo a interrupção das exportações de petróleo com a paralisação da

241
UNASUL à luz de um contraste: as relações com Venezuela e Colômbia

estatal PDVSA (Maringoni 2004).


Apesar do êxito em desestabilizar a economia, provocando uma que-
da de 27% no PIB do primeiro semestre de 2003, o saldo político do embate
inclinou a correlação de forças políticas decisivamente a favor do governo.
Determinado a reverter o sentido antinacional da política petroleira praticada
desde 1975, o governo realizou um expurgo na PDVSA, demitindo cerca de 18
mil funcionários de um total de 42 mil. Ao mesmo tempo, intensificaram-se
as políticas sociais, principalmente por meio das chamadas misiones, que re-
spondiam ao duplo ensejo de atender a demandas populares represadas e es-
timular bases orgânicas de apoio ao regime, em um processo que contou com
participação decisiva do exército, face aos entraves que a burocracia estatal
colocou na relação com o chavismo (Monedero 2013, 18).
No plano regional, os embates que resultaram em uma radicalização
inicial do chavismo coincidiram com o momento em que Lula da Silva assum-
iu a presidência do Brasil e Nestor Kirchner, o governo da Argentina, ambos
em 2003. Identificados com o rechaço popular ao neoliberalismo, estes chef-
es de Estado apontavam para uma nova era nas relações sulamericanas, sinali-
zando para o fortalecimento do vínculo entre os países da região, como uma
via para a soberania. Em particular, o novo governo brasileiro atuaria com
vigor nesta direção. O chanceler Celso Amorim anunciou que o compromis-
so com a integração regional estava balizado por uma “aguda consciência da
interdependência entre os destinos do Brasil e de nossos vizinhos sul-ameri-
canos” (Amorim 2004).
Neste contexto, o fracasso das negociações para implementar a Área
de Livre-Comércio das Américas, evidenciado na Cúpula das Américas em
Mar del Plata em 2005, foi interpretado como uma vitória dos governos pro-
gressistas contra os interesses dos Estados Unidos. Nos anos seguintes, a
onda progressista seria engrossada com a eleição de Tabare Vázquez no Uru-
guai (2005), Evo Morales na Bolívia (2006), Rafael Correa no Equador (2007)
e Fernando Lugo no Paraguai (2008). É no bojo deste potencial movimento
contrahegemônico na região, que foi constituída a UNASUL em 2008, organ-
ização que teve como primeiro Secretário-Geral justamente o então ex-presi-
dente argentino, Nestor Kirchner.
No entanto, esta narrativa pode ser problematizada quando vista do
ângulo do processo bolivariano e das relações deste país com as gestões pe-
tistas no Brasil. Kenneth Ramírez propõe analisar estas relações a partir de
três momentos distintos, descritos alternativamente como períodos de con-
vergência, entre 2005 e 2007; diferenciação, entre 2008 e 2013; e deste ano
em diante, a gestão da crise (Ramírez 2015).
O primeiro período, marcado por tentativas de construir consenso

242 Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais


v.5, n.10, Jul./Dez. 2016
Fabio Luis Barbosa Dos Santos

entre os países, se estendeu entre o fim da ALCA e a formação da UNASUL.


No plano interno, foram anos em que o processo bolivariano testemunhou
uma radicalização ideológica, que se expressa na incorporação de uma retóri-
ca anti-imperialista em 2003, conducente à proposição de um socialismo bo-
livariano ventilado desde 2004, que alguns descreverão como “socialismo do
século XXI” (Dietrich 2005). Esta orientação contrahegemônica ganhará novo
vigor com a proposição do Estado Comunal a partir de 2006.
Esta última proposta apontava para o ensejo de enraizar o processo
em bases populares, para além do aparato estatal, do exército e do próprio
Chávez. Por este motivo, o vice-ministro do Poder Popular para as Comunas
e os Movimentos Sociais, Alexis Toledo, dizia que seu ministério “tinha que
ter uma existência finita” (Toledo 2014). No entanto, este movimento não foi
consensual entre a própria base chavista, uma vez que a descentralização do
poder estatal contradizia a racionalidade inerente ao centralismo militar, mas
também contrariava o interesse de muitos quadros do bolivarianismo, que
agora eram parte do poder estatal (Figueroa 2015). É essa fissura, que eviden-
cia as tensões entre o fortalecimento do Estado e a democracia popular, que
sempre acompanharam o chavismo, que explica o único revés eleitoral vivido
por seu líder máximo: a derrota na consulta popular de 2006, que pretendia
aprofundar o movimento nesta segunda direção.
No plano internacional floresceu uma política alternativa, enfatizan-
do a integração regional como parte de uma estratégia orientada à multipo-
laridade, sinalizada com o lançamento da ALBA em 2004 (originalmente
“Alternativa Bolivariana para as Américas”) em contraposição à ALCA, a
constituição da Petrocaribe em 2005, o ingresso no Mercosul em 2006, con-
sumado em 2012, além de relações adensadas com países como China, Irã,
Rússia e Bielo-Rússia. Embora superficialmente a ALBA pareça convergir
com a “aguda consciência da interdependência entre os destinos do Brasil
e de nossos vizinhos sul-americanos” descrita por Amorim, o maior país do
sub-continente nunca cogitou aderir à iniciativa. Houve dois motivos funda-
mentais para isso, um econômico e outro político.
Do ponto de vista substantivo, a ALBA sinalizava para uma integração
que não se restringia à dimensão comercial, envolvendo os campos da edu-
cação, saúde, cultura, comunicação, entre outros (Aponte, Amézquita 2015).
O intercâmbio de petróleo venezuelano pela atuação de médicos cubanos e
a criação do canal de televisão Telesur, ainda que não diretamente vincula-
dos à ALBA, são emblemáticos desta intenção. No campo da economia, pro-
punha-se ideias inovadoras, como um sistema único de compensação region-
al (SUCRE), que visava mitigar a dependência regional de moeda forte; ou
a formação de empresas de investimento conjunto, como a Petrocaribe. A

243
UNASUL à luz de um contraste: as relações com Venezuela e Colômbia

singularidade da iniciativa foi sintetizada nas seguintes linhas: “Alba optou


pela lógica da cooperação comercial, o intercâmbio solidário e a complemen-
tariedade econômica entre as diferentes estruturas produtivas nacionais como
princípios gerais da sua filosofia, em um esforço por estender a solidariedade
revolucionária pelo continente” (Cerezal, Simarro, Soler 2013, 152).
Em última análise, ao propor uma integração de escopo latino-amer-
icano (e não sul-americano) que transcendia a dimensão mercantil, a ALBA
sinalizava para a construção de um projeto político alternativo no continente.
Não por acaso, Cuba é o país que se somou de imediato à Venezuela, sub-
screvendo a declaração original do bloco em dezembro de 2004 (Espinosa:
2013, 303).
No entanto, esta lógica não encontrou ressonância no projeto bra-
sileiro, em que o ensejo de um mundo multipolar não se traduziu em rad-
icalização política. O substrato econômico da política de integração regional
petista foi a estratégia de apoiar a internacionalização de grandes empresas
de capital nacional ou sediadas no país, entendidas como vetor do desenvolvi-
mento capitalista nacional: é a política das “campeãs nacionais”. Este apoio se
materializou principalmente por meio de uma diplomacia empresarial, prat-
icada pelo Itamaraty, e pela política de crédito do Banco Nacional de Desen-
volvimento Econômico e Social (BNDES). Em linhas gerais, a racionalidade
petista entende que a internacionalização de corporações brasileiras serviria
de alicerce material para projetar regionalmente a influência do país, modifi-
cando seu padrão de inserção internacional. Em uma palavra, faria do Brasil
um global player.
Sob este prisma, a ALBA foi de escasso interesse econômico ao Brasil,
porque não trazia negócios suficientemente atrativos consigo (Cerezal 2015).
Já no plano político, a iniciativa foi interpretada como um projeto que respon-
dia a interesses venezuelanos, e não latino-americanos. Mais ainda, o protago-
nismo deste país foi visto como concorrente à projeção almejada pelo Brasil, a
despeito da empatia pessoal entre Chávez e Lula (Ramírez 2015; Ramos 2015).
Encarada por este prisma, a criação da UNASUL acordada em 2007
não deve ser vista como o apogeu de uma convergência política entre gover-
nos identificados com a onda progressista no sub-continente, mas pode ser
interpretada como uma entre diversas iniciativas brasileiras que limitaram o
alcance geopolítico da ALBA. Como resultado, foram neutralizadas, na práti-
ca, as pretensões contrahegemônicas venezuelanas. Neste diapasão, Ramírez
opina que, do ponto de vista brasileiro, na realidade a Venezuela chavista
sempre foi uma “pedra no sapato” (Ramírez 2015).
Foi assim que a racionalidade política inerente à UNASUL, tal como
a diplomacia brasileira defendeu, é oposta à ALBA, na medida em que está

244 Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais


v.5, n.10, Jul./Dez. 2016
Fabio Luis Barbosa Dos Santos

pautada pelo mínimo denominador comum possível de ser acordado entre os


países. Evidentemente, o alcance de uma organização que reúne países com
políticas díspares, como era o caso de Venezuela e Colômbia no momento
original da UNASUL, será limitado. Esta restrição é reforçada pela modal-
idade de decisão adotada, que precisa ser consensual, respondendo a uma
exigência colombiana que limita ulteriormente a capacidade de inovação da
entidade. Diante desta realidade, a atuação da UNASUL tende a se restring-
ir ao âmbito político (Sanahuja 2012), e mais especificamente, à solução de
problemas dos países integrantes que tenham implicações regionais, como
analisaremos adiante no caso colombiano.
O desinteresse brasileiro limitou o alcance da ALBA aos países an-
dinos comandados por presidentes progressistas, Bolívia e Equador, além de
Cuba, Nicarágua e algumas ilhas caribenhas: Antígua e Barbuda, Dominica,
Granada, São Cristóvão e Nevis, Santa Lucia, São Vicente e as Granadinas.
No entanto, o caráter inovador da iniciativa foi consideravelmente restrito, e
frequentemente, se resumiu a uma diplomacia petroleira, em que o forneci-
mento de petróleo a preços baixos trazia a expectativa de posições simpáticas
à Venezuela em organismos internacionais. Assim, durante a crise detonada
pela expulsão de colombianos da Venezuela em agosto de 2015 e que levou
ao fechamento da fronteira, a proposta colombiana para que a OEA medi-
asse uma reunião entre os países, contrária ao interesse venezuelano, foi der-
rotada por um voto. Por outro lado, a política realizada pela Venezuela por
meio da ALBA e da Petrocaribe ressente-se de reciprocidade. Em meio à crise
econômica que atravessa desde 2013, o país se viu constrangido a vender, com
substantivo desconto, dívidas a receber de Jamaica e República Dominicana
(Cerezal 2015). Mesmo o engajamento da Bolívia comandada por Morales na
ALBA tem sido instrumental, fundamentalmente atraída por recursos vene-
zuelanos, que agora escasseiam (Villegas 2015).
É nesta perspectiva que se entende o segundo momento das relações
recentes entre Brasil e Venezuela, marcado pelo empenho em moderar o po-
tencial radical do processo bolivariano, visando neutralizar sua projeção re-
gional. Como consequência desta dinâmica, não foi o Brasil que se aproxi-
mou da ALBA, mas foi Chávez quem aderiu ao Mercosul, organização cuja
orientação frequentemente criticara, taxando-a como neoliberal. Ao mesmo
tempo, os bolivarianos resignaram-se a aceitar a perspectiva brasileira sobre
a UNASUL como uma organização regional guarda-chuva, de caráter emi-
nentemente político, que se impôs ao ensejo de uma integração regional an-
ti-neoliberal ambicionada por seu líder (Sanahuja 2012). Em ambos casos, a
Venezuela aceitou os limitados benefícios que estas iniciativas lhe ofereciam
como contrapeso à virulência estadunidense, em um contexto mundial desfa-

245
UNASUL à luz de um contraste: as relações com Venezuela e Colômbia

vorável a projetos alternativos ao neoliberalismo, quanto mais de inspiração


socialista.
Um segundo marco desta diferenciação da estratégia brasileira em
relação à Venezuela está relacionado à proposição de uma “nova arquitetu-
ra financeira regional”, que circulava naquele momento. A criação do CO-
SIPLAN como organismo da UNASUL em 2009, ao qual se subordinava a
IIRSA, alimentou a expectativa de inverter a racionalidade original da cartei-
ra de projetos associada à iniciativa, referida ao regionalismo aberto. Sob a
égide da UNASUL, pretendeu-se conceder-lhe um sentido diverso, referido
ao regionalismo desenvolvimentista, entendido como uma modalidade de in-
tegração que promoveria “a integração física entre os interiores dos países,
passo fundamental para a integração de cadeias produtivas de fornecedores
e produtores relacionados, objetivando a formação de economias de escala e
a própria integração das sociedades sul-americanas” (Desidera Neto, Teixeira
2012, 32).
Em termos econômicos, este desafio implicava em minimizar o pa-
pel das instituições multilaterais que conceberam a iniciativa, o Banco In-
teramericano de Desenvolvimento (BID), a Corporação Andina de Fomento
(CAF) e o Fondo Financiero para el Desarrollo de la Cuenca del Plata (FONPLA-
TA). Isso porque a lógica estritamente mercantil que baliza estas instituições
impedia o investimento em obras relevantes para a integração regional, mas
pouco rentáveis. Esta presença deveria ser contrabalanceada com a atuação
de outros organismos financiadores, notadamente o Banco Nacional de De-
senvolvimento Econômico e Social (BNDES). Simultaneamente, emergiram
propostas na direção de uma nova arquitetura financeira regional, orientada
a reduzir a dependência da região em relação às instituições financeiras in-
ternacionais. Foi neste contexto que se criou o Banco do Sul em 2009, com
a adesão formal de Argentina, Bolívia, Brasil, Equador, Paraguai, Uruguai e
Venezuela (Aponte García 2015).
Porém, a proposição desta nova arquitetura financeira tem sido blo-
queada desde então, pelo próprio Brasil. Neste país, prevalecem objeções do
Banco Central e do Ministério da Fazenda em utilizar as reservas internac-
ionais para financiar o investimento, enquanto continua-se a receber juros
de 1% em títulos do tesouro estadunidense, ainda que na outra ponta desta
engenharia financeira se paguem os juros mais altos do mundo (Barros 2015).
Embora um dos principais proponentes da nova arquitetura, o economista
equatoriano Pedro Paes, minimize esta questão, argumentando que o aporte
de reservas internacionais seria precedido de numerosas medidas que não
implicam ônus desta natureza aos países (Paes 2015), prevalece a percepção
de que o motivo para o Banco do Sul não ter decolado é político: a instituição

246 Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais


v.5, n.10, Jul./Dez. 2016
Fabio Luis Barbosa Dos Santos

prevê igual poder de voto para os países, independentemente do aporte que


realizem, em um modelo diferente daquele do FMI. Este arranjo não interes-
saria à pretendida liderança brasileira, o que evidencia as motivações de poder
subjacentes ao discurso de integração regional (Acosta 2015).
Comentando esta situação, o representante brasileiro em reuniões da
IIRSA opinou que o problema do Banco do Sul seria que a Venezuela queria
dinheiro para investir em educação e projetos sociais a fundo perdido (Par-
kinson 2015). Ainda, segundo Ramírez, o chanceler Celso Amorim teria dito
que não gosta de “prato-feito”, sugerindo que o banco teria sido concebido à
revelia do interesse brasileiro (Ramírez 2015).
A partir da posse de Dilma Roussef em 2011, esta diferenciação entre
as políticas de Brasil e Venezuela, teria se acelerado. Este movimento foi mo-
tivado também por questões pessoais, como o menor interesse da presidente
por política internacional, e mesmo por seu suposto desconforto em relação
aos antecedentes de Chávez e ao protagonismo da instituição militar em seu
governo (Ramos 2015).
No entanto, a crise que se aguçou a partir da morte de Chávez em
março de 2013, seguida pela eleição de Nicolás Maduro por estreita margem,
causou outra inflexão na relação das gestões petistas com o bolivarianismo.
A atuação brasileira, sempre de sentido moderador, pressionou a partir de
então por uma reforma do regime. Foi neste diapasão que Lula escreveu uma
carta, entregue por Marco Aurelio García um ano após a morte de Chávez,
aconselhando Maduro a aceitar seu papel como reformista do legado chav-
ista, em lugar de pretender ser um segundo Chávez (Ramírez 2015). Segun-
do declarou Lula, no contexto em que a UNASUL se oferecia para mediar o
diálogo com a oposição: “Maduro deveria tentar diminuir o debate político
para se dedicar inteiramente a governar, estabelecer uma política de coalisão,
construir um programa mínimo e diminuir a tensão (...) a Venezuela deveria
ter um pacto de cinco anos, para trabalhar contra os apagões, lutar contra a
inflação e ser autosuficiente na produção de alimentos” (Lula 2014).
Naquele momento, o governo enfrentava problemas de abastecimen-
to, uma inflação ascendente (60% em 2013) e um desajuste cambial, expresso
em uma notável disparidade entre as diferentes bandas cambiais praticadas,
e o preço do dólar no mercado paralelo - todos problemas que se agudizariam
nos anos seguintes. Retrospectivamente, as vulnerabilidades da proposta lu-
lista recomendada a Maduro, envolvendo uma política de coalisão, pacto social
e a diminuição das tensões, ficaram evidentes na evolução da própria situação
brasileira. Mas naquela circunstância, críticos moderados ao regime ressoar-
am os conselhos do líder brasileiro: “Este modelo pode resumir-se como uma
democracia vibrante e sem polarização, economia competitiva com inclusão

247
UNASUL à luz de um contraste: as relações com Venezuela e Colômbia

social e uma política exterior ‘ativa e altiva’ - como gostava de dizer o próprio
Lula” (Ramírez 2014). Diga-se de passagem, o contraponto entre o chavismo
e Lula não era novo: assistindo à manifestação anti-chavista em 2006, fui
abordado por vários venezuelanos que elogiavam ao brasileiro, em contraste
com o seu presidente.
Maduro não seguiu esta via, por diversos motivos. Principalmente,
defende as conquistas sociais do processo, e resiste às pressões por reforma
econômica por recear os custos sociais das alternativas que se vislumbram,
todas de corte antipopular e antinacional. Para dar um exemplo, o economista
baseado em Harvard, Ricardo Hausman, tem sido o porta-voz de uma via
sintetizada em dois movimentos: o calote aos chineses, que compraram in-
clusive o petróleo futuro venezuelano, e a reaproximação com os Estados Un-
idos e o FMI. As sugestões de Hausman incluem vender alimentos recebidos
pelo país de doações internacionais, para fazer caixa (Hausman 2016). Porém,
diante da acelerada degradação das condições cotidianas dos venezuelanos,
mesmo analistas simpáticos ao processo questionam se o desgaste político
subsequente não teria sido superior ao custo social de mudanças (Lander
2015).
Pois quando ocorreram as eleições parlamentares na Venezuela, em
6 de dezembro de 2015, a inflação era estimada em 150% segundo dados
não oficiais, já que o governo não divulgara cifras ao longo do ano. Os prob-
lemas de desabastecimento se agudizaram e o desajuste cambial, decolara:
no câmbio oficial o dólar era cotado a 6,30 bolívares, enquanto no mercado
paralelo, superava a marca de 800 bolívares por dólar. O Fundo Monetário
Internacional visualizava uma recessão em torno a 10% para o país no ano
(Ramos 2015).
Estas eleições foram cercadas de expectativa e tensão. Receava-se que
o governo perdesse a maioria parlamentar, sofrendo sua primeira derrota nas
urnas desde a consulta de 2006. Dependendo da magnitude do revés, abriria-
se o caminho para um referendo revogatório, que poderia abreviar o mandato
de Maduro.
Diante deste cenário a oposição subiu o tom, denunciando a possibil-
idade de fraude. O governo abriu então, negociações para a vinda de missões
internacionais que atestassem a lisura do processo. Rechaçando a participação
da OEA, amplamente identificada com os Estados Unidos, o governo vene-
zuelano apostou fichas em uma missão da UNASUL. No entanto, o processo
de negociação desencadeado foi turbulento, e muitos sentiram a participação
do Brasil como hostil.
Em linhas gerais, houve uma proposta verbal associada ao então
presidente do Tribunal Supremo Eleitoral brasileiro, Dias Toffoli, propondo

248 Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais


v.5, n.10, Jul./Dez. 2016
Fabio Luis Barbosa Dos Santos

uma missão de observadores da UNASUL chefiada por Nelson Jobim. Esta


proposta não foi bem recebida na Venezuela. Isto porque Toffoli recebera re-
centemente figuras destacadas da oposição anticonstitucional, que prega a
destituição imediata e se necessário, violenta de Maduro - conhecida como
la salida. É o caso das esposas de Leopoldo Lopez e Antonio Ledezma, então
presos. Ainda, suspeitava-se que o próprio Jobim era antipático ao processo
bolivariano (Constant 2015; Urbina 2015).
Segundo o coordenador nacional da Venezuela na UNASUL, Elvis
Urbina, a presidência pró-tempore da entidade, que naquele momento era
exercida pelo Uruguai, transmitiu a solicitação venezuelana por mais nomes,
como sendo um veto a Jobim (Urbina 2015). Em reação, Toffoli declarou que o
TSE não participaria de qualquer missão eleitoral na Venezuela, o que colocou
o país em uma difícil situação, pois contava com esta presença para avalizar o
pleito diante da comunidade internacional. A impotência do governo petista
para reverter esta situação causou profundo mal-estar entre os bolivarianos,
referendando a sensação de que o vizinho sul-americano abandonava a Ven-
ezuela. Ao mesmo tempo, negociadores venezuelanos estranhavam as du-
ras condições propostas pela UNASUL, que na sua visão, impunha cláusulas
excepcionais em relação ao direito internacional e ao direito interamericano
(Constant 2015).
No conjunto, prevaleceu a sensação de que a crise política brasileira
acentuou o afastamento do governo petista em relação ao processo bolivariano,
em um momento em que o governo Dilma fazia crescentes concessões aos
setores conservadores, na expectativa de solidificar o seu mandato. Simultan-
eamente, Cuba reagiu à crise venezuelana acelerando a reaproximação com
os Estados Unidos. Inclusive, Ramírez aventa a hipótese de que as sanções
à Venezuela tenham sido usadas como moeda de troca com os republicanos
estadunidenses, diante do acercamento a Cuba (Ramírez 2015).
Ao final, a UNASUL enviou uma missão de última hora, chefiada
pelo ex-presidente dominicano Leonel Férnandez. Esta missão apenas endos-
sou o que o Instituto Carter já observara em todos os pleitos anteriores: as
eleições na Venezuela estão entre as mais confiáveis no mundo. A acachap-
ante derrota do bolivarianismo, que elegeu menos de um terço dos parlamen-
tares, atestou este fato.
No entanto, as dificuldades vividas na relação com a UNASUL e so-
bretudo com o Brasil, em um momento crucial para o processo bolivariano,
deixaram um gosto amargo. Como disse um diplomata deste país, é na difi-
culdade que se conhece os amigos. A eleição de Macri naquele mesmo mês
de dezembro, seguida da provável deposição de Dilma Roussef, indicam que
esta solidão tende a aumentar.

249
UNASUL à luz de um contraste: as relações com Venezuela e Colômbia

Colômbia

Quando foi constituída a UNASUL em 2008, Alvaro Uribe estava em


seu segundo mandato consecutivo como presidente da Colômbia. Neste país,
assim como no Peru sob Fujimori, o combate às guerrilhas já extintas em
outras partes, serviu como pretexto para regimes de exceção, que condenaram
as forças de esquerda a uma posição defensiva, que tendia ao isolamento. Nos
últimos vinte anos, Colômbia e Peru compuseram com o Chile, ainda marca-
do pelo legado da ditadura, um grupo de países genericamente identificados
com um contraponto à onda progressista na América do Sul.
Porém, mais do que um governo desinteressado pela integração su-
lamericana, a Colômbia sob Uribe foi vista como uma ameaça à segurança e à
estabilidade regional por sua íntima associação com os Estados Unidos, insu-
flada pela retórica da guerra ao terror, incorporada no combate à insurgência.
Na realidade, a ascensão política de Uribe estava identificada com as relações
promíscuas entre narcotráfico, paramilitarismo e a política colombiana, con-
hecidas no país como “parapolítica” (Cepeda, Uribe 2014).
Sua primeira eleição em 2002 se alimentou do fracasso das nego-
ciações de paz entabuladas pelo conservador Andrés Pastrana, na zona de-
smilitarizada conhecida como “el Caguán”. Para além dos entraves históricos
a uma saída democrática para o conflito, registrou-se naquele momento o em-
penho do paramilitarismo em sabotar as negociações, expressando um setor
da sociedade que se opõe a qualquer entendimento. Ao mesmo tempo, as
transnacionais que pagavam taxas às guerrilhas, canalizaram recursos mui-
to mais substantivos aos lobbies estadunidenses em favor de um encaminha-
mento militar do conflito. Afinal, a ambivalência do governo neste processo
de negociação, em que as conversações não implicaram em uma trégua mil-
itar, se evidenciou na adoção do Plan Colombia, em um momento em que os
diálogos ainda estavam em curso2.
Em sintonia com o clima de “guerra ao terror” que seguiu aos aten-
tados de 11/9 de 2001, Uribe declarou estado de sítio quatro dias depois de
empossado, ao mesmo tempo em que negou o estatuto político da insurgên-
cia, implicitamente reconhecido por governos anteriores. Ao categorizar as
guerrilhas como organizações terroristas, o governo negou as raízes políticas
do conflito, assentando as bases para uma criminalização generalizada do

2 O Plan Colombia foi um acordo concebido em 1999 entre as administrações Clinton e Pas-
trana, prevendo assessoria e recursos que converteram o país no terceiro receptor mundial de
ajuda estadunidense (depois de Israel e Egito), a pretexto de combater o narcotráfico. O plano
contribuiu para sepultar as negociações de paz com a insurgência então em andamento e po-
tenciou a militarização do estado colombiano (Oidhaco 2000).

250 Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais


v.5, n.10, Jul./Dez. 2016
Fabio Luis Barbosa Dos Santos

protesto social (Estrada Álvarez 2014).


O projeto político liderado por Uribe instrumentalizou a violência de
classe por meio de uma ideologia do interesse nacional, expressa na noção
de “seguridad democratica” . Mais além de envenenar o ambiente político por
meio de um discurso que criminalizava a oposição popular, ostensivamente
replicado pela grande imprensa, pretendeu-se consolidar as bases subjetivas
mas também objetivas de um projeto de poder. Em outras palavras, o bloco
uribista se propôs a disputar a hegemonia sobre o país, por meio de um pro-
jeto que envolve a organização política de um setor diversificado e poderoso
da sociedade colombiana, que faz da violência um meio de vida e da guerra,
um negócio:

Amparados em um discurso de autodefesa com o qual pretenderam le-


gitimar-se, os paramilitares e seus gestores envolveram a população mais
pobre na guerra oferecendo a possibilidade de ascensão social em um con-
texto adverso, criando um regime de terror e de cumplicidade que, dis-
tante de limitar-se à luta contrainsurgente, lhes permitiu conquistar terras,
prefeituras, governos, vagas no congresso, controlar e silenciar a crítica,
influenciar e participar na atividade econômica e buscar, segundo propus-
eram os que assinaram o célebre Pacto de Ralito, ‘a refundação da pátria’.
(Cepeda; Uribe 2014 76).

Como era de se esperar, a ação militar desencadeada sob a


égide do Plan Colombia se concentrou nas áreas sob influência da guerril-
ha, preservando intocadas as regiões dominadas pelo narcotráfico e o par-
amilitarismo, que serviram de pretexto para o plano. A partir de 2004, foi
implementado na esteira do plano original, o chamado Plan Patriota, que
contribuiu para regionalizar o conflito. O ápice desta tendência ocorreu em
março de 2008, quando foi bombardeada uma base das Forças Armadas Rev-
olucionárias da Colômbia (FARC) em território equatoriano, matando vinte e
cinco guerrilheiros - dentre eles Raúl Reyes, uma das principais lideranças da
organização. Esta ação colombiana provocou a ruptura das relações diplomáti-
cas com o Equador, enquanto a Venezuela chamou para consultas todo o seu
corpo diplomático em Bogotá.
Neste momento, o mal-estar gerado pela ação unilateral co-
lombiana propiciou uma oportunidade para o Brasil avançar com a proposta da
criação de um Conselho de Segurança Sul-Americano, vinculado à UNASUL,
o que se consumou nos meses seguintes. Inicialmente, a Colômbia resistiu
em incorporar-se à iniciativa. Por outro lado, a Venezuela pretendeu dar con-
teúdo concreto ao conselho, nomeando o que seriam, na sua perspectiva, os
riscos e ameaças à segurança regional: a ativação da quarta frota estaduni-

251
UNASUL à luz de um contraste: as relações com Venezuela e Colômbia

dense, as bases militares deste país na região, o narcotráfico e outras formas


de delinquência organizada, guerras de quarta geração, entre outros. Porém,
prevaleceu a proposta brasileira, que pretendia fazer do conselho um forum
de diálogo e coordenação de políticas. Como resultado, a Colômbia anunciou
sua adesão à proposta ainda em julho de 2008 (Comini 2015).
No entanto, os desconfortos derivados das políticas adotadas
por Uribe recrudesceram nos meses seguintes, com a divulgação de um acor-
do prevendo a cessão de sete bases militares em território colombiano para
uso dos Estados Unidos. Em um encontro de chefes de Estado da recém cri-
ada UNASUL em Bariloche, em agosto de 2009, Chávez leu um documento
aprovado pelo Pentágono havia cinco meses, em que se ressaltava o interesse
do país pela base de Palenquero, na Colômbia. Esta reunião e as seguintes
foram marcadas por tensas negociações, em que se exigiu que o país publici-
zasse os termos deste acordo, dando garantias por escrito de que este apoio
estrangeiro não seria utilizado para atentar contra os países vizinhos. Houve
quem interpretasse a intransigência colombiana a este respeito, frequente-
mente secundada pelo peruano Alan García, como uma tentativa de romper
a própria UNASUL (Bruzzone, apud Luzzani, 382). Ao final, as tensões de
dissiparam: a Colômbia publicou o acordo, que previa inclusive imunidade
jurídica ao pessoal estadunidense, mas não deu as garantias escritas que se
esperava.
No conjunto, a postura dissonante de Uribe em contraste com a maio-
ria dos países sulamericanos, explica a entrada reticente e tardia da Colômbia
na UNASUL, assim como a sua hesitação em aderir ao Conselho de Segu-
rança da entidade. Na realidade, o país tinha escasso interesse na organização,
além de recear que esta fosse instrumentalizada pelo governo venezuelano
- ou pelo “castrochavismo”, como costuma dizer Uribe. Diante deste quadro,
é plausível que o ingresso colombiano na UNASUL tenha sido pautado por
uma motivação fundamentalmente negativa: a preocupação em não se isolar
(Betancourt Vélez 2015).
Na prática, o governo Uribe radicalizou um princípio histórico da
política exterior colombiana conhecido como Respice Polum (olhar ao norte),
baseada na premissa de alinhamento aos Estados Unidos (Pastrana, Vera:
2012). Esta orientação se confundiu, sob Uribe, com uma identificação com
a gestão Bush, a tal ponto que o presidente colombiano publicizou seu apoio
à McCain na disputa contra Obama, rompendo no processo o consenso que
havia nos Estados Unidos em relação à Colômbia. Como decorrência, já a
partir de 2008 quando os democratas obtiveram maioria no congresso, os
aportes ao Plan Colombia diminuíram, ao mesmo tempo em que emergiam
condições relacionadas à direitos humanos e à questão ambiental, além da

252 Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais


v.5, n.10, Jul./Dez. 2016
Fabio Luis Barbosa Dos Santos

cobrança de investigação sobre os falsos positivos3 (Pastrana 2015). Além da


proximidade com os Estados Unidos, Uribe privilegiou relações com países
que classificavam os grupos insurgentes como terroristas - o que não é o caso
do Brasil. O país cultivou laços estreitos com Israel, principalmente no campo
da segurança, e é até hoje o único país da região que não reconhece o Estado
palestino (De Currea-Lugo 2013).
Neste quadro, a despeito da adesão à UNASUL, as relações
com a Venezuela permaneceram tensas até o final do governo Uribe. Enquan-
to Chávez reivindicava o reconhecimento do estatuto beligerante das FARC,
Uribe denunciou, em julho de 2009, que o governo venezuelano fornecera
armas ao grupo insurgente. Chávez alegou que as referidas armas tinham
sido compradas da Suécia nos anos 1980 e teriam sido tomadas pelas FARC
em um assalto a um posto naval venezuelano em 1995. Disse ainda que o
equipamento estava imprestável e acusou o governo colombiano de má fé.
No início de 2010, Uribe voltou à carga, acusando o país vizinho em uma
Assembleia da OEA, de acobertar acampamentos das FARC. As relações en-
tre os países atingiram seu ponto mais baixo, levando à ruptura de relações
diplomáticas no momento em que Uribe encerrava o seu mandato.
As tentativas de Uribe de concorrer a um terceiro termo presidencial
foram bloqueadas, mas o presidente elegeu como seu sucessor Juan Manual
Santos, ex-Secretário de Defesa do governo. Político proveniente de uma lin-
hagem tradicional das classes dominantes do país, Santos venceu o pleito em
2010 com um discurso de continuidade em relação ao governo anterior. De
fato, não se observaram mudanças substantivas na política econômica ou nos
programas sociais, e a criminalização dos movimentos populares, prosseguiu.
Não obstante, Santos fez uma leitura política diferente sobre a situação
colombiana, que o levou a se afastar de Uribe. O novo presidente entendeu
que as FARC tinham se debilitado consideravelmente nos anos anteriores,
e que o contexto era favorável para pautar a paz. Esta percepção correspon-
dia ao interesse de segmentos das classes dominantes, cujos negócios seriam
favorecidos por um ambiente de paz, em oposição àqueles que sustentam
Uribe, e prosperam em meio à guerra (Alarcón 2014).
Esta leitura teve duas consequências principais: no plano interno, a
opção de reabrir o diálogo com as FARC em Havana a partir de 2012, provocou
um distanciamento em relação à Uribe, que logo se transformou em oposição.
De fato, nas eleições presidenciais seguintes em 2014, o segundo turno entre
Santos e o candidato uribista, Oscar Iván Zuluaga, transformou-se em um

3 Jovens vestidos em uniformes de guerrilha e assassinados pelo exército com o objetivo de que
seus executores obtenham a recompensa governamental, estipulada em 2005 em cerca de U$
1.900 (Fundación Lazos de Dignidad 2014).

253
UNASUL à luz de um contraste: as relações com Venezuela e Colômbia

plebiscito sobre a continuidade ou não dos processos de paz.


Uma segunda consequência importante, foi que a busca da paz mo-
tivou uma mudança na política externa de Santos. Porque entendeu-se que,
para atingir este objetivo, a cooperação regional seria valiosa, senão necessária
- ainda que isso não significasse qualquer distanciamento em relação aos Es-
tados Unidos. Como consequência a política exterior colombiana, sem de-
sprezar a OEA - um forum panamericano onde historicamente os Estados Un-
idos exercem influência dominante - , passou a valorizar o papel da UNASUL.
De imediato, o novo presidente buscou, com êxito, distensionar as
relações com Venezuela e Equador, como premissa para melhorar as relações
com outros países da região. No plano simbólico, a nova orientação se expres-
sou no compartilhamento do mandato da Secretaria Geral da UNASUL entre
Colômbia e Venezuela, seguindo a morte de Kirchner no final de 2010. Quan-
do este mandato compartilhado expirou em 2014, outro colombiano assumiu
o posto mais alto da organização, o ex-presidente Ernesto Samper. Segundo o
pesquisador Ronal Rodríguez, uma das consequências desta movimentação
foi que se fechou um cerco internacional às FARC, levando inclusive Chávez
a pressionar a organização a se sentar à mesa de negociação (Rodríguez 2015).
Outra decorrência deste processo conduzido por Santos, é que a
UNASUL foi deixando de ser uma organização associada ao chavismo pela
grande imprensa colombiana, e pela opinião pública deste país. Nas palavras
de Londoño, as desconfianças em relação à UNASUL se esvaziaram (Londoño
2015).
Porém, a crise desencadeada pela expulsão de colombianos do ter-
ritório venezuelano em agosto de 2015, explicitou a sensibilidade do tema.
Confrontado com a expansão do paramilitarismo em seu país, em parte pro-
tagonizado por colombianos, o governo venezuelano tomou naquele momen-
to a polêmica decisão de deportar 1.532 colombianos, segundo dados da Or-
ganização das Nações Unidas (ONU), e decretou o fechamento da fronteira
entre os países. No conjunto, a ação provocou o retorno de ao menos 18.377
cidadãos ao seu país de origem, por receio dos desdobramentos da situação,
que foi descrita pelo Estado colombiano como uma “crise humanitária” (Jara
2015).
Analisei esta crise em outro texto (Santos 2015). Aqui, importa sali-
entar que um twitter de Samper simpático à situação venezuelana, desatou
virulentas críticas à sua conduta e à própria UNASUL. O texto do twitter dizia
o seguinte: “Há um ano denunciamos o perigo da intromissão de paramili-
tares colombianos na Venezuela. Hoje se confirma que é uma realidade” (El
Universal 2015).

254 Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais


v.5, n.10, Jul./Dez. 2016
Fabio Luis Barbosa Dos Santos

Esta declaração foi interpretada pela grande mídia no país como um


endosso à versão venezuelana da crise. A expectativa de que Samper tomasse
o partido dos colombianos, incompatível com o seu papel, lastreou um inten-
so ataque midiático ao Secretário Geral e à organização como um todo. Vozes
mais exaltadas, como o também ex-presidente do país e ex-Secretário Geral da
OEA, Cesar Gavíria, propuseram a retirada do país da UNASUL. Enquanto
isso, setores uribistas instigaram o chauvinismo, acusando o governo ven-
ezuelano de proceder “como fez Hitler contra os judeus”, afirmando que “a
ditadura castrochavista da Venezuela está dedicada a incitar o ódio contra o
povo colombiano” (BBC 2015).
O saldo da polêmica, no rastro do que foi descrito por uma diplomata
colombiana como o “desafortunado twitter” de Samper, foi que esvaziou-se
o cacife político da UNASUL para interceder na crise (Jara 2015). Por outro
lado, como visto anteriormente, a Venezuela neutralizou a demanda colom-
biana na OEA. Afinal, a crise foi encaminhada de modo bilateral, a partir da
mediação do chanceler equatoriano Ricardo Patiño.
Apesar das ameaças histriônicas feitas neste contexto, frequente-
mente para consumo interno, é improvável que a Colômbia ou qualquer país
da região, tenha interesse em abandonar a UNASUL neste momento. Pois
como comentou o Diretor de Assuntos Políticos e Defesa da organização, o
diplomata boliviano Mauricio Dorfler, um país nunca sabe quando precisará
dela (Dorfler 2015).
Em particular, o compromisso do governo Santos com a entidade está
amparado em uma visão sóbria e pragmática sobre o seu papel. De maneira
geral, a UNASUL é vista pelos colombianos como um espaço propício para
encaminhar problemas internacionais dos Estados membros, e em particular,
aqueles de escopo regional (Londoño 2015; Jaramillo 2015). Nesta perspectiva,
deve se afirmar como um mecanismo de intermediação e solução política de
conflitos (Pastrana 2015), ao mesmo tempo em que serve como um espaço
para consolidar posições regionais conjuntas (Jara 2015). Como se vê, este
enfoque aponta para um papel eminentemente político da organização.
No caso específico da Colômbia, projeta-se um papel central para a
UNASUL no chamado pós-conflito, ou seja, o período que se abrirá com a
assinatura e aprovação popular dos acordos de paz, caso os esforços do atual
governo sejam exitosos. Pois como disse Londoño, os acordos não são a paz,
embora a paz passe pelos acordos (Londoño 2015). No momento, a situação
caminha para um rápido desenlace, pois com a autorização da Corte Con-
stitucional referendada em julho, o governo pretende realizar um plebiscito
sobre a paz ainda em setembro de 2016.
A UNASUL pode servir, em conjunto com a Organização das Nações

255
UNASUL à luz de um contraste: as relações com Venezuela e Colômbia

Unidas (ONU), como fiadora do processo em diversos aspectos. Do ponto de


vista dos insurgentes, há notória insegurança em relação ao respeito pelas
garantias democráticas, que devem viabilizar a sua reintegração social e parit-
icipação política. É importante lembrar que o país tem precedentes nefastos
neste campo. Nos anos 1980, os acordos de la Uribe assinados com as FARC
deram origem à União Patriótica, que rapidamente se converteu na terceira
força política nacional. Este ascenso desencadeou uma extraordinária onda re-
pressiva: entre 1988 e 1995, contabilizaram-se 6.177 assassinatos políticos no
país além de 10.556 assassinatos de motivações presumidas como políticas.
Os mortos incluem quase todos os políticos eleitos pela UP entre senadores,
deputados, prefeitos e vereadores, além de dois candidatos à presidência,
Jaime Pardo Leal e Bernardo Jaramillo (Giraldo 1996).
Por outro lado, esta temática é um dos aspectos mais criticados pe-
los contrários aos acordos, que consideram os guerrilheiros como criminosos
que não podem ficar impunes. Nesta perspectiva, os acordos são interpreta-
dos como uma vitória da esquerda, e uma humilhação para o país.
Em ambos extremos há opositores à paz, embora com poder de ação
muito diferentes. Do lado das FARC, há indícios de que a direção da organ-
ização tem controle limitado sobre suas próprias bases. Isso explica ações
como a emboscada que matou onze soldados em abril de 2015, ameaçando
a continuidade das conversações em Havana: trata-se de um setor das FARC
contrário aos acordos. Por outro lado, no início de 2014 a revista Semana
divulgou a operação Andrômeda, revelando um esquema de espionagem ile-
gal realizada pelo exército, interceptando comunicações, inclusive dos delega-
dos do governo em Havana. Assim, além das modificações no mando militar
operadas sob Santos, o governo conta com operações de contra-inteligência
deste tipo, que incluem os serviços de uma agência britânica, para manter
os militares na linha (Betancourt Vélez 2015). Pois se os insurgentes se re-
cordam do genocídio da UP, do lado do Estado há clareza de que os militares
bloquearam o processo de paz sob Bettancourt nos anos oitenta.
Na hipótese de que a paz prevaleça, a UNASUL pode ser protagon-
ista em diversos tópicos relacionados à desmobilização, como a fiscalização
e guarda das armas entregues; assegurar que os desmobilizados não sejam
perseguidos; e também deve ter um papel importante em questões relacio-
nadas à refugiados e à imigração (Rodríguez: 2015). Pois como decorrência
da violência no campo, estima-se que o país produziu 5 milhões de refugia-
dos internos e cerca de 9 milhões de refugiados econômicos, números que
só se comparam ao Congo. Entre 1998 e 2008, aproximadamente 760.000
famílias foram expulsas, deixando para trás cerca de 5.5 milhões de hectares
de terra (Centro Nacional 2013).

256 Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais


v.5, n.10, Jul./Dez. 2016
Fabio Luis Barbosa Dos Santos

Além destas questões, diversos analistas entendem que, com o des-


manche da guerrilha, o narcotráfico recrudescerá (Pastrana 2015; Londoño
2015). Indica-se que em algumas regiões, particularmente no sul do país, a
guerrilha se vinculou de tal modo ao narcotráfico que é difícil traçar uma
linha que as separe das bandas criminales (bacrim). Outros apontam que a
guerrilha se tornou um meio de vida para muitos jovens, e esperam que
haverá uma migração em direção às bacrim, como aconteceu quando grupos
paramilitares foram desmobilizados sob Uribe. Em resumo, entendem que o
principal entrave à paz deixará de ser político, para se tornar criminal.
Deste ponto de vista, um enfrentamento eficaz ao narcotráfico exigirá
a colaboração regional. Aceitando como premissa o fracasso de estratégias
militaristas baseadas na repressão e na fumigação dos cultivos, na qual se
inscreve o Plan Colombia, existe a compreensão de que será necessário mod-
ificar a abordagem prevalente ao problema do narcotráfico. Neste sentido, a
UNASUL pode oferecer uma referência inovadora, uma vez que já aprovou em
2015 uma posição conjunta, com adesão colombiana, apontando para um en-
foque alternativo. Em oposição à racionalidade de militarização do combate às
drogas, defende-se uma abordagem que separe traficantes de consumidores,
apontando para a discriminalização do consumo, o rechaço ao proibicionismo
absoluto e a prioridade aos direitos humanos (Nascone 2015). A legalização
da produção, venda e consumo da maconha no Uruguai, o consumo da folha
de coca na Bolívia, a descriminalização dos usuários de drogas no Equador e
a regulação do uso medicinal da maconha no Chile, são algumas experiências
evocadas nesta direção. Simultaneamente, serão necessárias políticas agrárias
para incentivar os camponeses a cultivos alternativos à coca, o que será um
desafio particular no cenário colombiano, onde os tratados de livre-comércio
tem exposto a agricultura local a concorrência internacional, muitas vezes
subsidiada (Pismel, Chagas 2014).
A convergência entre a busca pela paz na Colômbia e um papel pro-
tagonista para a Unasul, tem sido expressa de forma significativa em inter-
venções do seu secretário geral, Ernesto Samper. Apesar da sua presidência
controversa nos anos 1990, que coincidiu com o auge do narcotráfico no país,
Samper tem se colocado como um intransigente defensor do processo. Mais
do que isso, ao defender um enfoque “holístico” da paz (Samper 2015), sua
posição se aproxima de leituras da esquerda, em que a paz não se confunde
com a ausência de conflito armado, mas é entendida como um processo que
exige mudanças sociais, culturais e econômicas.
Em suma, o governo Santos conta com a UNASUL para construir a
paz, e a UNASUL pode encontrar na situação colombiana, uma oportunidade
para afirmar o seu papel.

257
UNASUL à luz de um contraste: as relações com Venezuela e Colômbia

Conclusão

Embora uma leitura superficial sugira que a criação da UNASUL fos-


se afinada aos desígnios contrahegemônicos identificados com o bolivarianis-
mo venezuelano, em oposição à orientação pró estadunidense prevalente na
Colômbia, nossa pesquisa matiza esta leitura. Ao acompanhar a evolução da
relação destes países com a UNASUL, em um período que coincidiu com as
gestões do Partido dos Trabalhadores no Brasil, observa-se que a UNASUL
constrangeu o extremismo à direita, identificado com Uribe, mas também foi
contrária ao radicalismo à esquerda, encarnado pelo chavismo. O resultado
desta análise indica um paradoxo, na medida em que a organização que sim-
boliza o legado da onda progressista sul-americana revela-se, na atualidade,
importante para o país que se mostrou mais hostil à integração, enquanto
parece de escassa eficácia para apoiar o processo que mais investiu nesta di-
reção. A opção do governo Santos pela negociação política como via para paci-
ficar o país ensejou uma valorização inédita do papel da UNASUL, referida
a uma necessária cooperação regional em um cenário de pós-conflito. Ainda
que não se possa dizer que o processo de paz colombiano seja uma agenda
da direita - pelo contrário, é apoiado pela maior parte das forças progressistas
do país - há poucas dúvidas de que a sua implementação sob um governo
conservador em todos os demais aspectos, sinaliza para uma paz nos mar-
cos do neoliberalismo, e não para a mudança social. Enquanto isso, o apro-
fundamento das dificuldades internas do governo Maduro na Venezuela tem
correspondido a uma sensação de crescente isolamento regional. Neste país,
a UNASUL tem mostrado poucos instrumentos, além da mediação política,
para mitigar as dificuldades enfrentadas pelo processo bolivariano, onde si-
naliza-se para uma restauração da ordem neoliberal.
A orientação moderada da UNASUL refletiu, em certa medida, as
posições prevalentes da diplomacia brasileira durante as gestões petistas.
Porém, em um momento em que a chamada onda progressista reflui na
América do Sul, as ambiguidades desta aposta pela moderação se evidenciam
não somente no plano doméstico, onde um ex-aliado assumiu a presidência
no bojo de um processo espúrio, mas também em perspectiva regional, onde
a UNASUL se vislumbra mais útil ao governo que almeja uma mudança con-
servadora, do que para aquele que gostaria de conservar a mudança.
Alguns observaram com amargura que o prosseguimento do proces-
so de impeachment no Brasil foi aprovado pelo parlamento em 17 de abril de
2016, data que os movimentos do campo celebram como o dia da luta pela
terra, em memória do massacre de Eldorado dos Carajás. Mas poucos lem-
braram que este também é o dia em que foi batizada a UNASUL, na cúpula

258 Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais


v.5, n.10, Jul./Dez. 2016
Fabio Luis Barbosa Dos Santos

energética da ilha de Margarita na Venezuela em 2007. Em 2014, a data foi


consagrada como o dia da “União das Nações Sulamericanas”. Resta observar
que tipo de união será possível para o subcontinente e quem se beneficiará
dela, daqui por diante.

REFERÊNCIAS

Amorim, Celso. 2004. ‘Conceitos e estratégias da diplomacia do governo


Lula’. DEP- Diplomacia, Estratégia e Política. 1(1): 41-48.
Aponte García, Maribel. 2015. ‘La teorización del nuevo regionalismo es-
tratégico en el ALBA-TCP’. Em:____.; Amézquita Puntiel, Glora. El
ALBA-TCP. Origen y fruto del nuevo regionalismo latinoamericano y car-
ibeño. Buenos Aires: CLACSO.
______; Amézquita Puntiel, Glora. 2015. El ALBA-TCP. Origen y fruto del nue-
vo regionalismo latinoamericano y caribeño. Buenos Aires: CLACSO.
BBC. 2015. Qué se dice de la crisis de la frontera entre Venezuela y Colom-
bia en Caracas y Bogotá? 25/08/2015. Acesso em 21/9/2015.<http://
www.bbc.com/mundo/noticias/2015/08/150825_america_latina_
venezuela_colombia_ambos_lados_fronteras_amv>.
Centro Nacional de Memoria Historica. 2013. Basta Ya! Colombia: memorias de
guerra y dignidade. Resúmen. Bogotá: Imprensa Nacional.
Cepeda, Iván; Uribe, Alirio. 2014. Por las sendas de El Ubérrimo. Bogotá: Edi-
ciones B.
Cerezal, Manuel; Simarro, Ricardo Molero; Soler, Alberto Montero. 2013. ‘El
SUCRE: orígenes, funcionamiento y perspectivas de futuro para la
integración latinoamericana’. Em: Martins, Carlos Eduardo. Los retos
de la integración y América del Sur. Buenos Aires: CLACSO, 2013.
Comini, Nicolás. 2015. ‘El origen del consejo de defensa suramericano.
Modelos en pugna desde una perpectiva argentina. Revista de Estu-
dios en Seguridad Internacional’. Acesso em 22 de Julho de 2016.
<http://www.seguridadinternacional.es/revista/?q=content/el-ori-
gen-del-consejo-de-defensa-suramericano-modelos-en-pugna-des-
de-una-perspectiva>.
Currea-Lugo, Víctor. ‘Colombia y el Estado palestino’. Em: Jost, Stefan (ed.).
Colombia: una potencia en desarrollo? Escenarios y desafíos para su políti-
ca exterior. Bogotá: Konrad Adenauer, 2a ed.
Desidera Neto, Walter; Teixeira, Rodrigo. 2012. “La recuperación del Desarrol-

259
UNASUL à luz de um contraste: as relações com Venezuela e Colômbia

lismo en el Regionalismo Latinoamericano”. In:_______. Perspectivas


para la integración de América Latina. Brasília: CAF; IPEA.
Dietrich, Heinz. 2005. Hugo Chávez y el socialismo del siglo XXI. Buenos Aires:
Nuestra América.
El Universal. 2015. ‘César Gaviria plantea que Colombia salga de Unasur por
postura de Samper’ 26/8/2015. Acesso em 20 de Setembro de 2015
.<http://www.eluniversal.com/nacional-y-politica/150826/cesar-ga-
viria-plantea-que-colombia-salga-de-unasur-por-postura-de-samp>.
Espinosa, Eugenio. 2013. ‘Teoría y practica de la integración regional: una
visión desde el sur: el Alba’. Em: Martins, Carlos Eduardo. Los retos de
la integración y América del Sur. Buenos Aires: CLACSO.
Giraldo, Javier. 1996. Colombia: the genocidal democracy. Monroe: Common
Courage Press.
Hausman, Ricardo. 2016. ‘De que se trata el proyecto sobre Venezue-
la que está haciendo Harvard?’ Disponível em: http://prodavinci.
com/2016/06/27/actualidad/de-que-se-trata-el-proyecto-sobre-vene-
zuela-que-esta-haciendo-la-universidad-de-harvard-por-ricardo-haus-
mann/. Acesso em 22/7/2016.
Lula da Silva, Luis Inácio. 2014. ‘Oposição e governo iniciam diálogo na Ven-
ezuela com a mediação da Unasul’. Acesso em 22 de Julho de 2016.
<http://oglobo.globo.com/mundo/oposicao-governo-iniciam-dialog-
os-na-venezuela-com-mediacao-da-unasul-1-12127392>.
Luzzani, Telma. 2012. Territorios vigilados. Como opera la red de bases militares
norteamericanas en Sudamérica. Buenos Aires: Debate.
Maringoni, Gilberto. 2004. A Venezuela que se inventa. São Paulo: Perseu
Abramo.
Monedero, Juan Carlos. 2013. ‘Venezuela y la reinvención de la política: el
desafio del socialismo en nuevos escenarios’. Em: Observatorio Social
de América Latina, N. 33. Buenos Aires: CLACSO, 15-37.
OIDHACO- Oficina Internacional de Derechos Humanos Acción Colombia .
Plan Colombia : Una estrategia sin solución. Madrid, 2000. Acesso em
7 de Setembro de 2013 <http://www.derechos.org/nizkor/colombia/doc/
oidhaco2.html>
Pastrana, Eduardo; Vera, Diego. 2013. ‘De Uribe a Santos: continuidad o nue-
va orientación de la política exterior colombiana?’. Em: Jost, Stefan
(ed.). Colombia: una potencia en desarrollo? Escenarios y desafíos para su
política exterior. Bogotá: Konrad Adenauer, 2a ed..
Pismel, Matheus Lobo; Chagas, Rodrigo Simões. 2014. Colômbia: movimentos

260 Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais


v.5, n.10, Jul./Dez. 2016
Fabio Luis Barbosa Dos Santos

pela paz. Florianópolis: Insular.


Ramírez, Kenneth. 2014. ‘El consejo de Lula’ Acesso em 22 de Julho de 2016
http://covri.com.ve/index.php/2014/04/15/el-consejo-de-lula-por-
kenneth-ramirez/.
Samper, Ernensto. 2015. Conferência na VII Congresso do CLACSO, Me-
dellín, 17/11/2015.
Sanahuja, José Antonio. 2012. ‘Regionalismo post-liberal y multilateralis-
mo en Sudamérica: El caso de UNASUR’. In: SERBIN, Andrés;
MARTÍNEZ, Laneydi; RAMANZINI JÚNIOR, Haroldo; El regional-
ismo “post–liberal” en América Latina y el Caribe: Nuevos actores, nuevos
temas, nuevos desafíos. Anuario de la Integración Regional de América
Latina y el Gran Caribe 2012. Buenos Aires: Coordinadora Regional
de Investigaciones Económicas y Sociales.
Santos, Fabio Luis Barbosa dos. 2015 ‘Colômbia e Venezuela: tensão nas fron-
teiras e o papel da UNASUL’. Conjuntura Austral, 6: 36-47.
Webber, Jeffery; Carr, Barry. 2013. The new Latin American left. Cracks in the
Empire. Lanham: Rowman & Littlefield Publishers, Inc.

ENTREVISTAS

Acosta, Alberto. 2015. Ex-presidente da Assembleia Constituinte no Equador


e ex-ministro do governo Correa. Quito, setembro.
Barros, Pedro Silva. 2015. Diretor de Assuntos Econômicos da UNASUL. Qui-
to, setembro.
Betancourt Vélez, Ricardo. 2015. Professor da Pontifícia Univeridade Javeria-
na. Bogotá, novembro.
Cerezal, Manuel. 2015. Assessor do Banco Central da Venezuela, pesquisador
da Universidade Bolivariana da Venezuela. Caracas, novembro.
Constant Rosales, Hector. 2015. Diplomata e professor da Universidade Cen-
tral da Venezuela. Caracas, novembro.
Dorfler, Mauricio. 2015. Diretor de Assuntos Políticos e Defesa da UNASUL.
Quito, setembro.
Estrada Álvarez, Jairo. 2014. Professor da Universidade Nacional da Colôm-
bia. Bogotá, julho.
Figueroa, Amilcar. 2015. Dirigente do Partido Socialista Unido da Venezuela
(PSUV). Caracas, novembro.
Fundación Lazos de Dignidad. 2014. Bogotá, julho.

261
UNASUL à luz de um contraste: as relações com Venezuela e Colômbia

Jara, Luz Estela. 2015. Diplomata, delegada da Colômbia na UNASUL. Quito,


setembro.
Jaramillo, Mauricio. 2015. Assessor da Secretaria Geral da UNASUL. Quito,
setembro.
Lander, Edgardo. 2015. Sociólogo. Medellín, novembro.
Londoño, Julio. 2015. Diplomata e militar, ex-ministro das Relações Exteri-
ores da Colômbia (1986-1990), embaixador em Cuba (1998-2010). Bogotá,
novembro.
Nascone, Mariano. 2015. Diretor de Assuntos Sociais da UNASUL. Quito,
setembro.
Paes, Pedro. 2015. Economista, um dos idealizadores de uma ´nova arquitetu-
ra financeira’. Quito, setembro.
Parkinson de Castro, João Carlos. 2015. Coordenação-Geral de Assuntos
Econômicos da América do Sul. Montevidéu, dezembro.
Pastrana Buelvas, Eduardo. 2015. Professor da Pontifícia Univeridade Javeri-
ana. Bogotá, novembro.
Pietro Alarcón. 2014. Advogado, professor da PUC. São Paulo, maio.
Ramírez, Kenneth. 2015. Diretor do Consejo Venezolano de Relaciones Inter-
nacionales. Caracas, novembro.
Ramos, Felippe. 2015. Missão do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA) na Venezuela. Caracas, novembro.
Rodríguez, Ronal. 2015. Diretor do Observatório da Venezuela, Universidade
do Rosário. Bogotá, novembro.
Toledo, Alexis. 2014. Vice-Ministro do Poder Popular para as Comunas e os
Movimentos Sociais. Caracas, agosto.
Urbina, Elvis. 2015. Coordenador nacional da Venezuela no COSIPLAN.
Montevidéu, dezembro.
Villegas, Pablo. 2015. Pesquisador do CEDIB. La Paz, julho.

262 Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais


v.5, n.10, Jul./Dez. 2016
Fabio Luis Barbosa Dos Santos

RESUMO
Este texto analisa a relação de Venezuela e Colômbia com a UNASUL desde a sua
criação em 2008, com o objetivo de explorar o alcance e os limites intrínsecos à uma
instituição regional que incorporou países com governos de orientação díspare em
seu momento original.

PALAVRAS-CHAVE
UNASUL; Venezuela; Colômbia.

Recebido em 23 de Agosto de 2016.


Aceito em 11 de Dezembro de 2016.

263

Você também pode gostar