José Marcelo Botacin Campos
José Marcelo Botacin Campos
José Marcelo Botacin Campos
CRICIÚMA, 2020
JOSÉ MARCELO BOTACIN CAMPOS
CRICIÚMA, 2020
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Com início às 16h (dezesseis horas) do dia vinte e oito de julho de 2020 (dois mil e
vinte), realizou-se, via ferramenta digital Google Meet, o seminário formal de
apresentação dos resultados da dissertação de Mestrado de JOSÉ MARCELO
BOTACIN CAMPOS, sob a orientação da Profa. Dra. Cinara Ludvig Gonçalves
intitulada “AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO GESTACIONAL AO VALPROATO DE
SÓDIO COMBINADO A PRIVAÇÃO MATERNA EM UM MODELO ANIMAL DE
AUTISMO”. A dissertação foi examinada por uma banca examinadora constituída
pelos seguintes membros: Profa. Dra. Gislaine Zilli Réus (Universidade do Extremo
Sul Catarinense - UNESC) – Conceito final: Aprovado, Profa. Dra. Alexandra Ioppi
Zugno (Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC) – Conceito final:
Aprovado e Profa. Dra. Gislaine Tezza Rezin (Universidade do Sul da Santa Catarina
- UNISUL) – Conceito final: Aprovado. Com o resultado final: APROVADO, o aluno
finalizou seus estudos em nível de Mestrado, fazendo jus ao grau de MESTRE EM
CIÊNCIAS DA SAÚDE. Os trabalhos foram concluídos às 17h (dezessete horas), dos
quais eu, Fernanda Nunes Peruchi, Assistente Administrativo do Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Saúde da Universidade do Extremo Sul Catarinense –
UNESC lavrei a presente ata, que assino juntamente com o Prof. Dr. Felipe Dal Pizzol,
Coordenador do Programa. Criciúma, 28 (vinte e oito) de julho de 2020 (dois mil e
vinte).
Não poderia iniciar de modo diferente, que não fosse agradecer a Deus pela
saúde e por me ter permito fazer novos amigos e me tornar um profissional melhor. À
minha esposa Gilnara, que nos tempos difíceis sempre me apoiou, acreditou em mim
e em minhas ideias, e hoje faz parte do meu sucesso. A minha mãe, pois, no momento
que precisei ela me acolheu, me aconselhou e apoiou.
Agradeço as minhas amigas de estudo, que desde o começo, fizeram parte da
dura rotina de estudos, das apresentações dos trabalhos e viagens à Criciúma - SC.
Nos momentos em que estava difícil, sempre tínhamos uns aos outros para nos
socorrer. Obrigado Daine, Rovena, Lia e Rusilania pelo apoio, carinho e parceria nesta
jornada.
Agradeço também ao UNESC Colatina-ES, por ter me proporcionado a
oportunidade de aperfeiçoamento profissional através do programa MINTER,
certamente, estou mais capacitado e com olhares ampliados frente a tríade ensino-
pesquisa-extensão.
Agradeço a minha orientadora prof. Drª Cinara que me acolheu em seu grupo de
estudos, me orientou e conduziu meus estudos sobre sua sabedoria. Agradeço
também aos membros do grupo de estudos/laboratório pelo aprendizado e por ter me
ajudado com os experimentos.
Muitas pessoas fazem parte desta caminhada e não seria possível citar o nome
de todas, então, agradeço as falas, orientações dos amigos, coordenadores de curso
e família que diretamente contribuíram para a conclusão deste curso.
“Do lado de fora, olhando para dentro, você
nunca poderá entendê-lo. Do lado de dentro,
olhando para fora, você jamais conseguirá
explicá-lo. Isso é autismo.”
Autism Topics
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
2–
1O Oxigênio singlet
5-HT – Serotonina /Receptor 5-hidroxitriptamina (sigla do inglês)
BDNF – Fator neurotrófico derivado do cérebro (sigla do inglês)
CDC – Centros de Controle e Prevenção de Doenças (sigla do inglês)
CEUA – Comitê de Ética no Uso de Animais
CNVs - Variantes do Número de Cópias (sigla do inglês)
DCF – 2',7'-diclorofluoresceína
DCFH – Dicloroidrofluoresceína (sigla do inglês)
DCFH-DA – diacetato 2′,7′-diclorofluoresceína
DNA – Ácido desoxirribonucleico (sigla do inglês)
DNPH – 2,4-dinitrofenil-hidrazina
DPN – Dia pós-natal
DSM – Manual de Diagnóstico e Estatístico da Associação Americana de Psiquiatria
DTNB – Ácido 5,5'-ditio-bis- [2-nitrobenzóico] (sigla do inglês)
eNOS – Isoenzima óxido nítrico sintase endotelial (sigla do inglês)
ERN – Espécies reativas nitrogênio
ERO – Espécie Reativa de Oxigênio
FMR1 – Gene Retardo Mental frágil X 1(sigla do inglês)
GABA – Ácido gama-amino-butírico (sigla do inglês)
GABAA – Receptores do ácido γ-aminobutírico tipo A (sigla do inglês)
GABRB3 – Receptor beta3 do ácido gama-aminobutírico 3 (sigla do inglês)
GAD65 e GAD67 – Descarboxilase de ácido glutâmico (sigla do inglês)
GD – Dia gestacional
GPx – Glutationa peroxidase (sigla do inglês)
GR – Glutationa redutase (sigla do inglês)
GSH – Glutationa reduzida
GSSG – Glutationa oxidada (sigla do inglês)
GST – Glutationa transferase (sigla do inglês)
H2O2 – Peróxido de hidrogênio
HNO2 – Ácido nitroso
HO• – Hidroxila
HPA – Hipotálamo-pituitária-adrenal
IFN-γ – Interferon-gama (sigla do inglês)
IL-12 – Interleucina 12
IL-1β – Interleucinas 1beta
IL-6 – Interleucina 6
iNOS – Isoenzima óxido nítrico sintase indutível (sigla do inglês)
IP – Intraperitoneal
MDA – Malondialdeído
MECP2 – Proteína 2 de ligação ao metil-CpG (sigla do inglês)
mtDNA – DNA mitocondrial
N2O3 – Óxido nitroso
NADPH – Fosfato de dinucleotídeo de adenina e nicotinamida reduzida (sigla do
inglês)
NG2-glia – Células precursoras de oligodendrócitos (sigla do inglês)
nNOS – Isoenzima óxido nítrico sintase neuronal (sigla do inglês)
NO – Óxido nítrico (sigla do inglês)
NO2- – Nitrito
NO2-. – Nitrito
NO3- – Nitrato
NOS – Óxido nítrico sintase (sigla do inglês)
O2 – Oxigênio molecular
O2•- – Superóxido
ONOO- – Peroxinitrito
OPCs – Células progenitoras de oligodendrócitos (sigla do inglês)
PM – Privação Materna
RO• – Alcoxila
ROO• – Peroxila
SAL – Salina
SC – Subcutânea
SH – Grupo Sulfidrila
SHANK3 – Gene SH3 e múltiplos domínios de repetição de anquirina 3 (sigla do
inglês)
SNC – Sistema Nervoso Central
SNP – Sistema Nervoso Periférico
SOD – Superóxido dismutase
TBARS – Substâncias Reativas ao Ácido Tiobarbitúrico
TEA – Transtorno do Espectro Autista
TNF-α – Fatores de Necrose Tumoral Alfa (sigla do inglês)
VO – Via oral
VPA – Ácido Valproico
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 19
1.1 Transtorno do Espectro Autista - TEA ............................................................. 19
1.3 Modelo animal de TEA por administração de Ácido Valproico (VPA) .............. 26
2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 38
2.1 Objetivo geral................................................................................................... 38
4 RESULTADOS....................................................................................................... 47
4.1 Avaliação Comportamental .............................................................................. 47
1 INTRODUÇÃO
O termo “autismo” foi utilizado pela primeira vez por Bleuler em 1911, para
denominar pacientes com perda do contato com a realidade o que dificultava ou
mesmo impossibilitava sua comunicação, adiante, a primeira descrição da síndrome
foi feita por Leo Kanner, em 1943 (Bernardi et al., 2012; Masi et al., 2017).
Em seu estudo, Kanner, estabeleceu uma distinção entre essa síndrome
(Autismo), e a da "esquizofrenia infantil" observando nas crianças avaliadas extrema
incapacidade de se relacionar com outras, mais tarde, Hans Asperger (1944) publicou
um trabalho intitulado de "psicopatia autista" apontando dificuldades com a
comunicação não verbal e habilidades sociais relacionadas ampliando os conceitos
sobre o transtorno (Masi et al., 2017). Atualmente, o termo transtorno do espectro do
autismo (TEA) é usado para explicar a diversidade de sintomas que caracterizam essa
neuropatologia (Bossu, Roux, 2019).
O TEA é um distúrbio complexo e geneticamente heterogêneo (Griesi-
Oliveira, Sertie, 2017), caracterizado por comprometimento das habilidades sociais e
de comunicação, além de comportamentos estereotipados e um repertório restrito de
interesses e atividades. (APA, 2013; Lai et al., 2014; Baxter et al., 2015; Gomes et al.,
2015, Bossu, Roux, 2019). A detecção do transtorno ocorre na primeira infância, antes
dos três anos de idade com alguns sintomas perceptíveis entre os 6 e os 18 meses
de idade (Bernardi et al., 2012; Lyall et al., 2017).
Atualmente, o TEA ocupa o terceiro lugar entre os transtornos de
desenvolvimento infantil mais comuns (Schlickmann, Fortunato, 2013), apresentando-
se em três graus de gravidade: leve, moderado e severo (Hadjkacem et al., 2016).
Segundo Ferreira e De Oliveira (2016), trata-se de um transtorno com grande
implicação na funcionalidade diária do indivíduo, necessitando de um direcionando no
tratamento para a intervenção educativa e comportamental, de forma individualizada,
e intensiva.
Desde a descrição da síndrome, muitos debates ocorreram e, como diagnóstico
médico para autismo infantil, são utilizados os critérios descritos no Manual de
Diagnóstico e Estatístico da Associação Americana de Psiquiatria (DSM) (Bernardi et
al., 2012; Masi et al., 2017). As orientações diagnósticas do autismo foram descritas
20
Figura 1: Correlação entre fatores contribuintes para o desenvolvimento do TEA. O esquema apresenta
os múltiplos fatores/eventos, pré-natais, genéticos e ambientais, e suas correlações enquanto
desencadeadores do TEA (adaptado). Fonte: Posar, Visconti (2017).
**A identificação das três síndromes listadas refere-se a alta prevalência entre indivíduos com TEA.
Fonte: Adaptado de Griesi-Oliveira, Sertie (2017).
No estudo de Betancur (2011), pode-se encontrar a lista ampla com 100 genes
descritos correlacionados ao TEA. No estudo de Varghese et al. (2017), pode-se
encontrar uma revisão ampla apresentando as variáveis que corroboram para o
desenvolvimento do TEA, os intervenientes neuropatológicos e o uso de modelos
animais correspondentes às diferentes frentes de pesquisas de cunho epigenético e
ambiental.
Ao acompanhar o esquema do quadro (Figura 3), identifica-se da 1ª a 20ª
semana de gestação, como “períodos mais críticos” por envolver três estágios
importantes do SNC: a neurogênese, a migração neuronal e a maturação neuronal.
Fica evidenciado que, se neste período, qualquer agente pode causar injúria ao SNC,
o indivíduo terá seu neurodesenvolvimento comprometido. Períodos de maior risco na
gravidez têm resultados variáveis, mas tendem a se reunir na primeira metade da
gravidez (Lyall et al., 2014).
26
Com o avanço das ciências e dos protocolos de pesquisas, diversos estudos têm
utilizado modelos animais para melhor compreender as causas e consequências do
autismo, e para isto, os modelos animais devem ser qualificados em critérios como: I)
constructo - verifica o grau de similaridade entre os mecanismos subjacentes aos
modelos animais e a doença humana; II) face – verifica se o aspecto fenomenológico
observado em animais é semelhante ao observado em pacientes; III) validade
preditiva – avalia se o modelo animal demonstra resposta similar à que os humanos
27
limiar de estresse, que quando excedido, ocasiona o aumento temporário desse limiar
e leva o corpo/cérebro a responder fisiologicamente diferente à cada situação, neste
sentido, parafraseando Seyle (1976), o estresse pode ser definido como “resposta
inespecífica do corpo a qualquer exigência feita a ele, ou seja, a taxa na qual se vive
a qualquer momento”.
Para identificar e compreender os efeitos de eventos estressores ocorridos nos
primeiros dias e nas primeiras semanas de vida de roedores, as pesquisas têm feito
uso do modelo de Privação Materna (PM). De acordo com Silva (2017), a PM é um
modelo de estudos utilizado para induzir comportamentos depressivos em roedores e
também para estudar os efeitos de estresse precoce e seu impacto no
desenvolvimento.
A PM ou separação materna foi introduzida em 1956, por Levine et al., e desde
então, os estudos têm demonstrado que este tipo de privação produz efeitos
neuroendócrinos e comportamentais relativamente consistentes e identificáveis no
animal adulto (Lehmann, Feldon, 2000). A compreensão dos efeitos fisiológicos e das
mudanças comportamentais a partir de estudos com roedores submetidos à PM
podem contribuir para o maior entendimento dos distúrbios psiquiátricos e auxiliar na
indicação de tratamentos mais efetivos (Ignácio et al., 2017).
A PM neonatal é um evento estressante, de caráter ambiental, capaz de
desencadear alterações estruturais e neurobiológicas no desenvolvimento do SNC
durante a diferenciação celular migratória e proliferativa (Czarnabay et al., 2019). Para
induzir tais alterações, o protocolo de PM consiste em separar a mãe da ninhada
durante 3h por dia, do dia pós-natal 1 (DPN 1) ao 10 (DPN 10), e desta forma, não
requer a manipulação dos filhotes (Réus et al., 2017; Giridharan et al. 2019).
Boku et al. (2015), identificaram que a PM, altera fenótipos comportamentais
relacionados a distúrbios neuropsiquiátricos. Ménard et al. (2017), descreveu em seu
trabalho que o acometimento a eventos adversos nas fases iniciais do
desenvolvimento de roedores, promovem alterações em diversos circuitos neurais que
persistem na idade adulta e que o estresse precipita eventos inflamatórios no SNC.
No estudo de Réus et al. (2017), os resultados mostraram que eventos estressantes
“críticos”, no início da vida induzem alterações no comportamento que persistem na
idade adulta; estimulam a inflamação e o dano oxidativo no SNC e Sistema Nervoso
Periférico (SNP).
31
Figura 4: Estresse por privação materna e alterações fisiológicas. O eixo HPA interage com outros
processos fisiológicos, como ativação epigenética levando a alterações na expressão de moléculas
envolvidas em funções específicas. Outra correlação se dá aos fatores de transcrição promovido pelo
aumento da produção de glicorticóides, isso potencializa a ativação imunológica e eleva a expressão
de interleucinas inflamatórias no plasma e em regiões cerebrais responsável pelas emoções e
comportamento (sistema límbico). Ademais, os efeitos inflamatórios crônicos e alterações metabólicas
advindos de falhas em processos mitocondriais elevam a produção de espécies reativas de oxigênio
(ERO) aumentando os efeitos negativos e danos ao cérebro (adaptado). Fonte: Ignácio et al. (2017).
todas as células (Dimou e Gallo, 2015). Ainda no mesmo estudo, os autores Dimou e
Gallo (2015), descrevem a relação sináptica entre neurônio-glia como indefinida,
porém, essa sinalização mediada por neurotransmissores entre neurônios e NG2-glia
parecem modular o desenvolvimento dessas células da glia.
Os processos microgliais são altamente ativos, examinando continuamente o
microambiente do parênquima, ainda que, no estado de repouso (Morrens et al., 2012;
Yang, Zhou, 2019). A Micróglia é a célula imune inata residente e a mais móvel no
SNC, semelhante aos macrófagos do sangue periférico e, quando ativadas,
aumentam a expressão gênica inflamatória secretando citocinas IL-1β, TNF, IL-6, IL-
12 e IFN-γ; mudam de forma; assumem perfil fagocítico e se movem em direção a
regiões de lesão (Haroon et al., 2017).
Os astrócitos são células multiramificadas em formato de estrela, cuja morfologia
e funções mudam variando a especialização e diferenciação em resposta a demandas
fisiológicas e patológicas (Haroon et al., 2017). São células que se encontram em
íntimo contato com as células do SNC, como os neurônios, oligodendrócitos e com
outros astrócitos. Além disso, controlam o metabolismo dos neurônios, participam da
captação e liberação de diversos neurotransmissores, atuam na manutenção dos
níveis iônicos do meio extracelular, participam da formação da barreira
hematoencefálica, entre outras funções essenciais para a homeostase do SNC (Silva,
2017; Yang, Zhou, 2019).
Tal discussão é importante, pois alterações na funcionalidade destas células
levam ao comprometimento do funcionamento cerebral, instalação e ou agravo de
patologias. Contudo, as respostas imunológicas no SNC são reguladas pela micróglia
e astrócitos, os quais desempenham papéis inflamatórios e anti-inflamatórios (Silva,
2017). Porém, a neuroinflamação não é uma resposta simples, diferentes sinais
inflamatórios por infecção, dano mecânico, metabólitos tóxicos ou autoimunidade
promovem uma variabilidade ampla de respostas e adaptações (Yang, Zhou, 2019).
Haroon et al. (2017), verificaram que a ativação das células imunes no cérebro
produz um efeito excitotóxico, podendo conduzir à disfunção sináptica, à morte, a
deficiências comportamentais e cognitivas. Evidências atuais sobre a fisiologia glial
no SNC, tanto em desenvolvimento quanto maduro, sugerem que alterações nas
funções das células glias contribuem para o desenvolvimento de neuropatologias
(Bronzuoli et al., 2018).
35
Figura 6: Produção de ERO e efeitos patológicos provocado pelo desequilíbrio redox nas células.
A produção de ERO é inerente ao processo de produção de energia. A manutenção da homeostase
redox é feita por sistemas enzimáticos especializados que promovem a remoção destas substâncias.
Porém, quando há produção excessiva ou remoção inadequada o resultado é cúmulo de radicais livres
na célula. Esse acúmulo conduz a lesão de lipídios (por peroxidação), proteínas e DNA, resultando em
lesão celular (Adaptado). Fonte: Kumar et al., Robins-Patologia Básica, ed. 9. 2013. Pág. 15.
2 OBJETIVOS
3 MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas 12 ratas Wistar fêmeas adultas (60 dias/400g) e 6 machos para
acasalamento, provenientes do Biotério Central da UNESC. As fêmeas foram
colocadas ao final de um período de vigília em caixas contendo machos (3
animais/gaiola – 2 fêmeas/macho), com condição controlada de temperatura (22 ±
1ºC) e luminosidade (ciclo claro/escuro de 12 horas, fase clara das 7h às 19h), e com
acesso ad libitum a alimento e água. As fêmeas com conteúdo seminal positivo
(matrizes) foram divididas em dois grupos ficando alocadas em caixas individuais
durante o restante do período gestacional.
No décimo segundo dia de gestação, as matrizes foram divididas em dois grupos
(6 cada), onde receberam 600mg/kg de VPA (grupo VPA-expostos) ou salina (grupo
SAL-expostos), via intraperitoneal.
Após o nascimento, as proles das matrizes VPA-expostos (6 matrizes) e SAL-
expostos (6 matrizes) foram subdivididos em dois grupos cada - I) “privação materna”
e II) “sem-privação materna” - compondo 4 subgrupos para a realização do
experimento:
• Grupo 1: SAL-expostos + não privados (n=12);
• Grupo 2: SAL- expostos + privação materna (n=12);
• Grupo 3: VPA-expostos + não privados (n=12);
• Grupo 4: VPA-expostos + privação materna (n=12).
40
Figura 8: Representação esquemática do desenho experimental modelo animal murino de TEA: VPA
+ PM. Divisão dos grupos de estudo; protocolo de privação materna (PM), testes comportamentais e
análise molecular.
interagir com outro rato desconhecido do mesmo sexo em uma caixa de acrílico (60 x
60 x 30mcm). A análise consistiu na quantificação do tempo de interação do modelo
experimental abrangendo os episódios de grooming, cheirar, seguir, chutar, socar,
montar ou permitir a monta. Os ratos foram pareados e inseridos na área de testes
por 10 minutos.
4 RESULTADOS
A B C
20 25 600
T e m p o T o ta l E n c o n tro s
N ú m e r o d e E n c o n tr o s
20
L a t ê n c ia ( s e g .)
15
400
(s e g .)
15 *
10
10
200
5
5
0 0 0
le
A
A
M
le
le
A
A
A
A
M
M
P
P
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P
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P
tr
V
V
tr
tr
V
V
V
+
n
+
n
n
M
o
M
o
o
C
C
P
No DPN 28, foi avaliada a atividade locomotora espontânea dos ratos machos
jovens e os dados estão apresentados na figura 10. Foram registrados os dados
referentes a velocidade de locomoção (A), distância percorrida na caixa (B) e o registro
de movimento ambulatório (C), com propósito de verificar a hiperatividade e
movimentos estereotipados. Os dados coletados e analisados não demonstraram
diferenças estatísticas significativas entre os grupos PM, VPA e VPA+PM em relação
ao grupo controle.
A B C
20 20000 100
V e lo c id a d e (m m /s )
M o v .A m b u la tó r io
80
D is tâ n c ia ( m m )
15 15000
60
10 10000
40
5 5000
20
0 0 0
le M A M
le
le
A
A
M
M
M
M
ro P P P
P
P
o
P
P
P
t V +
tr
tr
V
V
+
+
n A
A
A
n
n
o P
o
o
P
P
C V
C
C
V
V
Figura 10: Efeito da exposição pré-natal ao VPA e PM pós-natal, no comportamento locomotor dos
animais testados. Para avaliar a locomoção foi utilizada a gaiola de atividade, onde os animais foram
testados individualmente durante 10 minutos (n=12 animais/grupo). Os dados coletados estão
representados nas figuras: (A) velocidade (mm/s) – representa a velocidade de deslocamento do
animal, (B) distância (mm/s) – representa a distância total percorrida pelo animal e (C) movimento
ambulatório – representa o deslocamento. Dados expressos como média ± desvio padrão da média
(DPM). As análises estatísticas foram realizadas através da análise de variância ANOVA de uma via,
seguido do teste de post hoc de Tukey.
A P ré -fro n ta l (M ) B C ó rte x (M ) C C e r e b e lo ( M )
6 1 .5 3 **
* *
( U F lu o r e s c ê n c ia /m g
( U F lu o r e s c ê n c ia /m g
( U F lu o r e s c ê n c ia /m g
4 1 .0 2
p r o t e ín a )
p r o t e ín a )
p r o t e ín a )
DCF
DCF
DCF
2 0 .5 1
0 0 .0 0
le M A M
le
le
M
M
M
M
A
A
o P P P
tr
o
P
P
+
P
V
tr
tr
+
+
n A
V
V
A
A
n
o P
o
o
P
C V P
C
C
V
Figura 11: Efeito da exposição pré-natal ao VPA e PM pós-natal, na concentração de DCF, no cérebro
em região Pré-frontal (A), Córtex (B) e Cerebelo (C) de animais expostos ao VPA (pré-natal) e a PM
(pós-natal) (n=5-6 animais/grupo). Dados expressos como média ± desvio padrão da média (DPM). As
análises estatísticas foram realizadas através da análise de variância ANOVA de uma via, seguido do
teste de post hoc de Tukey, *P < 0,05, **P < 0,01.
A P ré -fro n ta l (M ) B C ó rte x (M ) C C e r e b e lo ( M )
0 .1 0 0 .2 5 0 .1 0
** **
( n m o l/m g /p r o te ín a )
( n m o l/m g /p r o te ín a )
( n m o l/m g /p r o te ín a )
0 .0 8 * 0 .2 0 0 .0 8
*
C a r b o n il
C a r b o n il
C a r b o n il
0 .0 6 0 .1 5 0 .0 6
0 .0 4 0 .1 0 0 .0 4
0 .0 2 0 .0 5 0 .0 2
0 .0 0 0 .0 0 0 .0 0
le M A M
le
le
M
M
M
M
A
A
o P P P
tr
o
P
P
P
+ P
P
V
tr
tr
+
+
n
V
V
A
A
n
n
o P
o
o
P
P
C V
C
C
V
V
Figura 12: Efeito da exposição pré-natal ao VPA e PM pós-natal, na concentração de Carbonil no
cérebro em região Pré-frontal (A), Córtex (B) e Cerebelo (C) dos animais testados (n=5-6
animais/grupo). A oxidação de proteínas foi determinada mediante a quantificação de proteínas
carboniladas. Dados expressos como média ± desvio padrão da média (DPM). As análises estatísticas
foram realizadas através da análise de variância ANOVA de uma via, seguido do teste de post hoc de
Tukey, *P < 0,05, **P < 0,01.
A P ré -fro n ta l (M ) B C ó rte x (M ) C C e r e b e lo ( M )
( n m o l T N B /m g d e p r o te ín a )
( n m o l T N B /m g d e p r o te ín a )
( n m o l T N B /m g d e p r o te ín a )
5 2 .5 2 .0
*
#
4 2 .0
1 .5
S u lfid r ila
S u lfid r ila
S u lfid r ila
3 1 .5
1 .0
2 1 .0
0 .5
1 0 .5
0 0 .0 0 .0
le
le
M
M
M
M
le
M
M
A
A
o P P
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P
P
tr
P
+
tr
tr
V
+
V
V
n A
A
n
A
n
o P
P
C V
V
Figura 13: Efeito da exposição pré-natal ao VPA e PM pós-natal, na concentração de Sulfidrila (SH)
no cérebro em região Pré-frontal (A), Córtex (B) e Cerebelo (C) dos animais testados (n=5-6
animais/grupo). A oxidação de grupamentos Sulfidrilas (dano proteico) foi determinada mediante a
quantificação do teor de tiol total ligado às proteínas. As análises estatísticas foram realizadas através
da análise de variância ANOVA de uma via, seguido do teste de post hoc de Tukey, *P < 0,05, quando
comparados com ao grupo controle; # P < 0,05 quando comparados aos grupos PM e VPA.
A P ré -fro n ta l (M ) B C ó rte x (M ) C C e r e b e lo ( M )
5 10 10
*
( m o l/m g /p r o te ín a )
( m o l/m g /p r o te ín a )
( m o l/m g /p r o te ín a )
4 8 8
6
N it r it o
3 6
N it r it o
N it r it o
**
** **
2 4 4
1 2 2
0 0 0
le
M
M
le
le
M
M
M
M
A
A
A
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P
P
o
P
P
P
P
P
P
tr
+
tr
tr
+
+
V
V
V
A
n
A
A
n
n
o
P
o
o
P
P
C
V
C
C
V
Figura 14: Efeito da exposição pré-natal ao VPA e PM pós-natal, na concentração de nitrito (NO2-) no
cérebro em região Pré-frontal (A), Córtex (B) e Cerebelo (C) dos animais testados (n=5-6
animais/grupo). O estresse oxidativo induzido pelo óxido nítrico (NO), foi estimado
espectrofotometricamente mediante a quantificação da produção de nitrito (NO 2-). Dados expressos
como média ± desvio padrão da média (DPM). As análises estatísticas foram realizadas através da
análise de variância ANOVA de uma via, seguido do teste de post hoc de Tukey, *P < 0,05, **P < 0,01.
52
A P ré -fro n ta l (M ) B C ó rte x (M ) C C e r e b e lo ( M )
0 .6 0 .1 5 0 .2 5
( M /m g d e p r o t e ín a )
( M /m g d e p r o t e ín a )
( M /m g d e p r o t e ín a )
C o n te ú d o d e G S H
C o n te ú d o d e G S H
C o n te ú d o d e G S H
0 .2 0
* *
0 .4 0 .1 0 *
0 .1 5
*
0 .1 0
0 .2 0 .0 5
0 .0 5
0 .0 0 .0 0 0 .0 0
le M A M
le
le
M
M
M
M
A
o P P P
tr
o
P
P
+
P
V
tr
tr
+
n
V
A
A
A
n
o P
o
o
P
C V
C
C
V
A P ré -fro n ta l (M ) B C ó rte x (M ) C C e r e b e lo ( M )
0 .6 0 .6 0 .4
( U /m g d e p r o t e ín a )
( U /m g d e p r o t e ín a )
( U /m g d e p r o t e ín a )
A tiv id a d e d e S O D
A tiv id a d e d e S O D
A tiv id a d e d e S O D
0 .3
0 .4 0 .4 *
0 .2
0 .2 0 .2
0 .1
0 .0 0 .0 0 .0
le M A M
le
le
M
M
M
M
A
A
o P P P
tr
o
P
P
P
+
P
P
V
tr
tr
+
+
n
V
V
A
A
A
n
o P
o
o
P
P
C V
C
C
V
V
Figura 16: Efeito da exposição pré-natal ao VPA e PM pós-natal, na concentração de Superóxido
Dismutase (SOD), no cérebro em região Pré-frontal (A), Córtex (B) e Cerebelo (C) dos animais testados
(n=5-6 animais/grupo).A atividade da SOD foi avaliada medindo a inibição da autoxidação da adrenalina
com absorbância a 480 nm. Dados expressos como média ± desvio padrão da média (DPM). As
análises estatísticas foram realizadas através da análise de variância ANOVA de uma via, seguido do
teste de post hoc de Tukey, *P< 0,05.
54
5 DISCUSSÃO
processo de conversão ocorre em nível mitocondrial (Chen et al., 2010; Rastogi et al.,
2010). Observou-se que a concentração de DCF para o grupo VPA apresentou
aumento estatístico em relação ao grupo controle, no córtex posterior. Já no cerebelo
houve um aumento significativo no grupo PM e VPA+PM quando comparados ao
controle. No pré-frontal, não foram registradas alterações significativas para este
parâmetro. Os dados demonstram presença de ERO aumentada nas regiões
avaliadas, em reposta às injúrias acometidas ao cérebro.
A presença de ERO sugere prejuízo na atividade neurofisiológica da região
acometida. Os achados de aumento de radicais livres, como neste estudo, foram
descritos no estudo de Bu et al. (2017), no qual foi detectado aumento significativo de
espécies reativas intracelulares de oxigênio; ERO mitocondrial e apoptose induzida
pelo estresse oxidativo mitocondrial, em células linfoblásticas de pacientes com TEA.
As proteínas são abundantes e reagem rapidamente com muitos oxidantes, elas
são altamente suscetíveis e são os principais alvos de danos oxidativos (Hawkins,
Davies, 2019). Com aumento do estresse oxidativo, a ERO no interior da célula pode
provocar a carbonilação de proteínas, através de modificações de cadeias laterais de
aminoácidos formando grupamentos carbonil como aldeídos e cetonas, por sua vez,
as proteínas podem ser danificadas e suas estruturas sofrerem fragmentação,
degradação, e consequentemente, perder e/ou alterar suas funções fisiológicas
(Fernandes, 2017). Os biomarcadores utilizados para avaliação de oxidação incluem
alterações no conteúdo de proteínas carbonilas, nitrotirosinas, produtos finais de
glicação e alterações no teor de proteínas e tiol (Aksenov, Markesbery, 2001). No
presente projeto, para verificar alterações e dano oxidativo a proteínas, realizou-se a
quantificação dos compostos carbonílicos e sulfidrílicos no córtex pré-frontal, córtex
posterior e cerebelo de animais expostos a VPA (pré-natal) e/ou PM (pós-natal).
De acordo com as análises bioquímicas, na região do córtex pré-frontal, os níveis
de proteínas carboniladas apresentaram-se elevadas em todos os grupos PM; VPA e
VPA+PM, comparados ao grupo controle. Já no córtex posterior, apenas os animais
expostos ao protocolo VPA+PM confirmaram elevação da proteína carbonil quando
comparados ao grupo controle. No cerebelo, não foram registradas alterações
significativas. Os grupos demonstraram carbonilação de proteínas por ação de ERO,
ademais, o grupo que sugere maior dano/prejuízo é o grupo VPA+PM, que
estatisticamente, em diferentes regiões cerebrais, apresentou elevada concentração
da proteína carbonil.
59
Os grupos tióis, representados pelo radical sulfidrila (-SH), podem estar ligados
a proteínas ou a compostos de baixo peso molecular e quando o estresse redox está
elevado, podem ser oxidados. Utilizando o corante de Ellman (DTNB), os grupos tióis
absorvem a luz e podem ser quantificados (Aksenov, Markesbery, 2001). Analisando
os dados do presente projeto, mais uma vez, a exposição de animais ao protocolo
VPA+PM mostrou-se mais prejudicial ao SNC, onde houve um aumento significativo
nos níveis de sulfidrila para este grupo no córtex pré-frontal quando comparados ao
grupo controle. No cerebelo, este grupo também foi significativamente mais afetado
que o grupo exposto a PM e a VPA, isoladamente. No córtex posterior não foram
registradas alterações.
O óxido nítrico (NO) é um importante neuromodulador com capacidade
potencializadora, atuando na memória e no aprendizado, regulando a atividade do
BDNF (Tripathi et al., 2020). O NO possui três isoformas descritas pela ciência, a
endotelial (eNOS) e neuronal (nNOS), sendo expressos constitutivamente, e a (iNOS)
uma enzima induzível pode ser encontrada em células imunes ativadas, como
macrófagos (Flora Filho, Zilberstein, 2000; Sweeten et al., 2004; Tripathi et al., 2020).
As isoformas (nNOS e eNOS) estão envolvidas em processos homeostáticos como
neurotransmissão podendo também ter ações endócrinas, autócrinas e parácrinas;
ademais a eNOS e a iNOS estão envolvidas em várias patologias do SNC (Flora
Filho, Zilberstein, 2000; Sweeten et al., 2004).
Nas amostras da região do córtex pré-frontal, o grupo exposto ao VPA+PM
demonstrou aumento significativo nos níveis de nitrito, comparado ao controle. Por
outro lado, as amostras do cerebelo, apresentam menor concentração de NO para os
grupos PM; VPA e VPA+PM, em comparação ao grupo controle. Os dados
demonstram alterações no metabolismo do NO dependente da área cerebral.
A expressão da NOS é estimulada devido resposta inflamatória levando a
superprodução de NO, e nesta condição, pode ser convertido em espécies reativas
como peroxinitrito (ONOO-) e dióxido de nitrogênio (NO2), conduzindo à oxidação de
diversas classes de lipídeos (O'Donnell, Freeman, 2001). Sweeten et al. (2004),
concluíram em seu estudo que a produção de NO é alta em crianças com autismo e
este fato pode estar associado à regulação positiva do iNOS mediada por IFN-γ, em
consequência, a produção de NO anormalmente aumentada no cérebro pode
interromper as conexões sinápticas, o neurodesenvolvimento normal do cérebro e,
possivelmente contribuir para a fisiopatologia subjacente do autismo.
60
dietética, dos quais se destacam as vitaminas (A, C, E), minerais e polifenóis (Barbosa
et al., 2010; Hawkins e Davies, 2019).
A L-γ-glutamil-L-cisteinil-glicina (GSH - glutationa reduzida), é o tiol (-SH) mais
abundante no meio intracelular presente na maioria das células, desta forma, torna-
se um dos agentes importantes do sistema de defesa antioxidante (El-Ansary, Al Dera,
2016). As enzimas envolvidas neste sistema são a glutationa redutase (GR)
catalisando a troca SH / S ± S que contribui para a proteção das proteínas tiol;
glutationa peroxidase (GPx); glutationa transferases (GST), que usa GSH para
desintoxicar peróxidos e produtos contendo peróxido de carbonila; gama-
glutamilcisteína sintetase; e glicose-6-fosfato desidrogenase, que controla as
principais etapas do metabolismo do GSH (Aksenov e Markesbery, 2001; Santos,
2009; Barbosa et al., 2010; Hawkins, Davies, 2019).
Com relação a quantificação dos níveis de glutationa, presente no
homogeneizado cerebral dos animais testados neste estudo, na região do córtex pré-
frontal do grupo PM, houve diminuição dos níveis de GSH, em relação ao grupo
controle. No córtex posterior, a diminuição dos níveis de GSH, foram apresentados
pelos grupos expostos à PM e VPA+PM. Já no cerebelo, a ocorrência da diminuição
de GSH foi apresentado pelo grupo VPA. Os três protocolos (PM, VPA ou VPA+PM)
foram capazes de desencadear, em diferentes áreas cerebrais, a diminuição dos
níveis de GSH. Corroborando com nossos achados, outros estudos com modelo de
exposição VPA também relataram diminuição dos níveis de GSH (Hegazy et al. 2015,
Kuamr et al., 2016)
Conforme Barreiros et al. (2006), o controle redox pela glutationa ocorre através
da GSH reduzindo o H2O2 à H2O em presença de GPx, e posterirormente é
regenerada a GSH. Deste modo, os dados apresentados nos gráficos, na avaliação
da glutationa, indicam que há redução de sua atividade levando o meio intracelular ao
estresse oxidativo. Corroborando a esta observação, segundo Waligóra et al. (2019),
o cérebro tem capacidade limitada para desintoxicar a ERO por falta de potencial para
a produção de glutationa pelos neurônios, deste modo, os neurônios ficam vulneráveis
ao estresse oxidativo e, se as alterações neurológicas provocadas pelo estresse
oxidativo, ocorrerem nos estágios iniciais do desenvolvimento do tecido cerebral,
poderão levar a distúrbios do espectro do autismo.
De fato, crianças com autismo apresentam menor razão redox de GSH para
glutationa oxidada, consistente com o estresse oxidativo (Mabunga et al., 2015).
62
Waligóra et al. (2019), discutem ainda que a menor concentração da forma reduzida
de glutationa também pode explicar a possibilidade de infecções recorrentes,
inflamação do tecido nervoso e capacidade reduzida de remover substâncias tóxicas
do corpo em pacientes com TEA.
Outra proteína antioxidante é a superóxido dismutase (SOD), uma enzima
importante para a proteção das células contra os danos oxidativos, catalisando a
conversão do radical aniônico superóxido em peróxido de hidrogênio (que é altamente
tóxico para as células), em oxigênio molecular e água através da catalase (Barreiros
et al., 2006; Perry et al., 2010; Stryer et al., 2014). Devido a isto, é uma importante
defesa antioxidante para a maioria das células expostas ao oxigênio.
Até momento, três isoformas de SOD estão descritas em mamíferos: a
citoplasmática (SOD-1) Cu/Zn-SOD (Cobre-zinco-SOD); a mitocondrial (SOD2) de
Mn-SOD (Manganês-SOD), e a extracelular (SOD3) Cu/Zn-SOD (Cobre-zinco-SOD),
todas, as quais, requerem metal catalítico (Cu ou Mn) para sua ativação (Perry et al.,
2010; Fukai, Ushio-Fukai, 2011). A enzima SOD catalisa a dismutação dos radicais
superóxido (O2·-) em oxigênio molecular (O2) e peróxido de hidrogênio (H2O2) (Perry
et al., 2010). Neste estudo, na avaliação da atividade da SOD no homogeneizado
cerebral, o grupo exposto ao VPA+PM apresentou diminuição significativa no
cerebelo, comparado do controle. Em conjunto com os achados anteriores pode-se
observar que a maior produção de ERO é acompanhado de uma menor capacidade
de reciclagem, configurando desbalanço redox. Com a atividade da SOD e da GSH
diminuídas a homeostase do estado redox fica comprometido e o cérebro exposto a
danos por radicais livres.
Em pesquisa recente, foram verificadas diferenças nas concentrações das
enzimas SOD, GPx e CAT em amostras de sangue em crianças com TEA, indicando
capacidade reduzida de neutralizar H2O2, radical aniônico superóxido e hidróxidos
orgânicos (Waligóra et al., 2019).
Os achados neste estudo indicam que a aplicação do protocolo de VPA
administrado no DG12 e associado a PM do DPN 1-10, provocaram alterações mais
significativas em diversos parâmetros em ratos machos jovens. Sugere-se que as
alterações provocadas pelo VPA durante a gestação, com a PM aplicada no período
crítico de neurodesenvolvimento produziu-se efeitos que se prolongam na vida e
sugerem poder perdurar pela vida toda. Numa visão geral, propõe-se a tabela 2.
63
DCF- 2',7'-diclorofluoresceína; PC- Proteína Carbonil; SH- Sulfidrila; NO- Óxido nítrico; GSH- Glutationa
reduzida; SOD- superóxido dismutase. Resultados dos grupos em comparação ao G1: Controle.
↓- Representa diminuição do parâmetro avaliado (p<0,05); ↑- Representa aumento do parâmetro
avaliado (p<0,05); ↑↑- Representa aumento do parâmetro avaliado (p<0,01); ↓↓- Representa diminuição
do parâmetro avaliado (p<0,01); # - não diferiu do controle, mas apresenta-se alterado em relação ao
grupo PM e grupo VPA.
6 CONCLUSÃO
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ANEXO A