Bible Study 1

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30 A VIDA DE ESDRAS

Esdras é conhecido de diversas maneiras: como sacerdote (Ed 10.10,16; Ne 8.2), como
escriba (Ed 7.6; Ne 12.36) e como um sacerdote e escriba (Ed 7.11,12,21; Ne 8.9;
12.26). O escriba no Antigo Testamento não era um mero copista, como nos tempos de
Jesus, mas um profundo estudante das leis e mandamentos de Deus. Esdras era
descendente de Arão, o primeiro sumo sacerdote de Israel (Ed 7.2-7). Era filho de
Seraías, que era neto de Hilquias, sumo sacerdote durante o reinado de Josias.
Aparentemente foi o autor do livro bíblico de Esdras, pois nos últimos quatro capítulos
desse livro, ele fala na primeira pessoa do singular. Nada se sabe sobre o começo da
sua vida.

Esdras ocupou uma posição de liderança no exílio, provavelmente, devido a sua


linhagem sacerdotal. O seu título de "escriba" pode significar que ele era secretário
oficial na corte persa, tendo servido como uma espécie de conselheiro do rei, em
questões pertinentes aos judeus cativos. Seu bom conceito perante a corte real é
comprovado pelo fato de Artaxerxes, o imperador persa, dar-lhe sua recomendação
pessoal (Ed 7.11-12).

Esdras liderou uma caravana de exilados da Babilônia para Israel, após o decreto do rei
Artaxerxes (Ed 7.1-12). Esse não era o primeiro grupo de exilados que voltavam a
Jerusalém. O primeiro foi liderado pelo príncipe Sesbazar (Ed 5.14-16), um segundo
retorno, por seu sobrinho, Zorobabel em 537 a.C. O retorno de Esdras foi um dos
últimos. A caravana de Esdras era composta de mil setecentos e cinquenta e quatro
homens judeus (Ed 8.1-14), contados com mulheres e crianças acredita-se que tenham
chegado ao cálculo de cinco mil pessoas. Esdras também levou consigo uma grande
oferta voluntária em ouro, prata e vasos de prata, para tal quantia haviam contribuído
outros judeus, o rei da Pérsia e seus conselheiros. Esdras também tinha a permissão
de valer-se do tesouro real na Palestina, sempre que para isso houvesse necessidade
(na época pós-exílio a Palestina foi por um tempo uma província persa). Também tinha
autoridade para nomear magistrados e juízes na Judeia. bem como para impor a sua
própria liderança (Ed 7.11-28). Suas credenciais foram endossadas pelos sete principais
membros da corte real da Pérsia (Ed 7.14). A Bíblia hebraica reproduz em aramaico o
documento real autorizando a missão de Esdras (Ed 7.11-26).

O grupo reuniu-se às margens do rio Aava, onde habitaram em tendas pelo espaço de
três dias, e dali partiram para Jerusalém (Ed 8.15). A viagem até Jerusalém durou cerca
de quatro meses. Foi uma jornada longa (1600 km) e perigosa, atravessando um
deserto cheio de perigos, como por exemplo, os salteadores. Chegando a Jerusalém
celebraram ao Senhor e Esdras transmitiu as incumbências do rei persa para os
governadores locais. Certamente a comunidade de Jerusalém era pobre e atrasada,
quando comparada com o grupo de judeus que regressaram da Babilônia. A chegada
de Esdras significou muito para a comunidade de Jerusalém, que enfrentava grandes
dificuldades. No entanto, há um problema de datas quando se refere ao ano exato em
que Esdras voltou com esse grupo de exilados a Jerusalém. Essa jornada aconteceu
"no sétimo ano do rei Artaxerxes" (Ed 7.7). mas Esdras não especificou se esse retorno
foi no sétimo ano do rei Artaxerxes Longimanus, conhecido como Artaxerxes 1 (458
a.C.), ou no sétimo ano do rei Artaxerxes Mnemon, conhecido como Artaxerxes II (397
a.C.). Embora, a primeira opção pareça ser a mais coerente, devido ao fato de Neemias
ter chegado a jerusalém em 444 a.C.. e provavelmente Esdras ter chegado primeiro que
Neemias em jerusalém. Sendo assim, o retorno de Esdras foi aproximadamente 80
anos após o edito de Ciro ter iniciado o movimento de retorno à Terra Santa.

Em Jerusalém, Esdras ficou horrorizado, ao saber que muitos sa-cerdotes, levitas e


líderes civis tinham-se casado com mulheres pagãs (Ed 9). Essas uniões mistas haviam
corrompido a vida moral e religiosa da nação. Em seu desgosto, Esdras chorou
humildemente diante do Senhor e conduziu toda a comunidade ao arrependimento (Ed
9 a 10). Muitos judeus divorciaram-se de suas esposas pagãs e foram reintegrados no
serviço do Senhor. Alguns judeus, no entanto, recusaram-se a acompanhar essa
reforma, mas o livro de Esdras termina com uma longa lista dos israelitas, entre eles
sacerdotes e levitas, que concordaram em divorciar-se de suas esposas idólatras e
fizeram sacrifícios de expiação por sua transgressão de casar-se com elas.

E importante notar que a exigência de Esdras quanto ao divórcio não era motivada por
questões raciais. Os exemplos de Zipora (Ex 2.21,22), Raabe (Js 6.25) e Rute (Rt 1.4)
deixam claro que a união mista com estrangeiros não era terminantemente proibida no
Antigo Testamento. A questão em pauta nos dias de Esdras era o casamento inter-
religioso, e não inter-racial. A mesma proibição aparece também no Novo Testamento
(2Co 6.14 a 7.1).

Depois disso, a história de Esdras volta a ser contada apenas alguns anos depois em
Neemias 8 e 9. Nessa época, a corte persa havia enviado Neemias a Jerusalém para
ser governador judeu, ele administraria a então província palestina da Judeia. Neemias
restaurou as muralhas de Jerusalém e aumentou sua população trazendo gente das
cidades menores e das aldeias da Judeia.

Era chegado o tempo de Esdras estabelecer com mais firmeza a lei religiosa, como
base na vida diária. Ele havia trazido da Babilônia as escrituras codificadas em um rolo
da lei. No primeiro dia do sétimo mês - um dia tradicional de convocação que os judeus
ainda celebram como Rosh Hashanah, o Ano Novo judaico - Esdras e toda a
comunidade reuniram-se na praça junto à porta das águas, e Esdras, sobre um estrado
de madeira, e na presença do governador Neemias, leu alto para todos os judeus o livro
sagrado, e todos choraram de emoção. Ele lhes disse que não deviam chorar, mas sim
ir comer, beber e alegrar seus corações "pois hoje é um dia consagrado ao nosso
Senhor. Não vos aflijais, a alegria do Senhor é a vossa fortaleza" (Ne 8.10).

No dia seguinte Esdras continuou o estudo da lei junto com os levitas e os chefes das
famílias. Quando se leu que "os filhos de Israel deveriam morar em tendas durante a
festa do sétimo mês" (Ne 8.14). foi decidido imediatamente reviver a festa dos
tabernáculos, para rememorarem o tempo em que seus antepassados foram tirados do
Egito por Moisés e vagaram durante 40 anos no deserto (no ciclo do ano agrícola, essa
época era a ocasião do festival da colheita do outono). De todas as cidades da Judeia,
os homens saíram para recolher ramos de oliveira, pinheiro, murta e palmeira para
montar as tendas nos terraços, nos pátios e nas praças públicas. A festa durou sete
dias e no oitavo dia foi realizada outra assembleia solene. Duas semanas mais tarde,
em outra assembleia em Jerusalém, os israelitas vestiram pano de saco e, com a
cabeça coberta de pó em sinal de luto, "confessaram seus pecados" (Ne 9.2).

Esdras consolidou o código religioso e legal da ainda pequena comunidade judaica de


Jerusalém e, dessa forma, lançou as bases para o posterior desenvolvimento do
judaísmo como credo e como forma de vida.

Ao contrário do que muitos pensam, a forte ligação entre a prática judaica e a


obediência à lei depois do exio, não existia antes da época de Esdras. O conceito da
grande alegria dos judeus de estudarem a Torá, no período que se dá após o exilio até
a epoca de Cristo, é fruto do trabalho de Esdras.

As cerimônias de Esdras foram, de fato, a instituição da religião judaica como seria até
a destruição do templo em 70 d.C. Depois de Esdras terminar o seu trabalho, Israel não
mais seria apenas um grupo de pessoas unidas por uma residência comum ou devoção
comum ao Senhor. Agora significava que os judeus eram um povo marcado
principalmente pela adesão à Torá - os cinco primeiros livros da Bíblia - que continham
a história da formação do povo judeu e a lei de Moisés. Os exilados tinham feito um
longo caminho rumo à redefinição de Israel, pois mesmo sem seus ritos no templo os
israelitas ainda tinham os mandamentos da lei. Mas, foi apenas no tempo de Esdras
que a religião do judaísmo ficou firmemente vinculada à obediência a lei.

Há muitas características em Esdras que se assemelham as características de


Neemias. Ambos demonstraram notáveis qualidades de liderança, energia ilimitada, fé
intensa e anseios espirituais semelhantes.

Há razões para crer, segundo o que alguns historiadores sugerem, que originalmente
Esdras e Neemias formavam um único livro, em continuação cronológica aos livros das
Crônicas. É assim que ele aparece nas Bíblias gregas e latinas. Os dois últimos
versículos de 2Crônicas são idênticos aos dois primeiros de Esdras, o que leva alguns a
pensar que Esdras também tivesse escrito as Crônicas. No entanto, Esdras e Neemias
foram posteriormente divididos em dois livros na Bíblia hebraica e, por conseguinte, nas
versões protestantes. Essa divisão acaba não sendo satisfatória, pois a parte mais
importante do trabalho de Esdras - a leitura do livro da lei e as reformas religiosas que
se seguiram - encontram-se nos capítulos 8, 9 e 10 do livro de Neemias.

A história de Esdras também é recontada nos livros apócrifos de 1 e 2 Esdras. O


primeiro é em essência, a tradução grega do livro de Esdras com alguns acréscimos da
tradição oral. O segundo parece ter sido tirado da primeira versão do (agora perdido)
único volume hebraico de Esdras-Neemias.

Há uma forte tradição de que Baruque, que foi escrevente e copista de Jeremias em
Jerusalém, tenha sido professor de Esdras durante o exílio na Babilônia. O estilo dos
livros de Jeremias, Lamentações, Esdras e Neemias e os livros apócrifos de Esdras são
semelhantes o bastante em suas características de linguagem para sustentar esse
argumento.

Infelizmente, as circunstâncias da morte de Esdras não são conhecidas. Não há um


consenso sobre o lugar onde ele morreu. Flávio Josefo informa-nos que ele faleceu
pouco depois da celebração da festa dos tabernáculos. Sua missão estava terminada, e
não havia razão para queixas ou lamentos. Josefo ainda afirma que ele foi sepultado
em Jerusalém.
Alguns cronistas têm dito que Esdras morreu no ano em que Alexandre, o Grande,
chegou diante de Jerusalém. Presumivelmente, naquele mesmo ano morreram os
profetas Ageu, Zacarias e Malaquias, disso resultando que a profecia escrita havia se
encerrado. No entanto, outra tradição assevera que Esdras retornou a Babilônia, onde
faleceu, com a idade de cento e vinte anos. Há uma declaração do Talmude que afirma
que Esdras morreu em Zamzumu, uma cidade à beira do rio Tigre, quando estava de
caminho de jerusalém para Susã, a fim de consultar o rei Artaxerxes sobre certos
acontecimentos em jerusalém. Portanto, as informações tradicionais parecem não se
harmonizarem-se umas com as outras. Por muito tempo, um certo túmulo, cerca de
trinta e dois quilômetros da junção dos rios Tigre e Eufrates, era exibido como o
sepulcro de Esdras. Não há como julgar o valor histórico dessas diversas tradições. O
que podemos afirmar é que em vida, Esdras foi um homem fiel a Deus e aos seus
mandamentos, tornando-se assim, sem dúvidas, um dos personagens mais importantes
dentro da tradição judaica.

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