Texto 04 - República Romana - Cícero

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Texto 4 - A Organização Política na Roma antiga1

Profº Carlos Augusto da Silva Souza

Belém – PA
2024
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Texto preparado para fins didáticos, sendo proibida a reprodução, citação ou divulgação.
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Introdução
Além dos gregos, outra civilização importante na compreensão da atividade política foi representada pelos
romanos. Assim como a Grécia, Roma não era um país unificado (como a Itália moderna), mas um conjunto
de pequenas cidades (cidades-estados) que passaram a ocupar o centro das decisões políticas. A Civitas
(cidade na tradução latina de polis), era o centro da vida pública e coletiva. A Res publica (coisa pública) é
a tradução romana para ta politika (política), significando os negócios públicos dirigidos pelo governo ou a
administração pública.
O ponto fundamental do sucesso do Império Romano estava no profissionalismo do exército, sob o
comando dos ardilosos generais, responsáveis pela expansão do Império Romano por todo o Mediterrâneo,
quando Roma transforma-se de cidade-estado a Império e se estende por várias regiões da Europa, da
África e da Ásia.
Segundo a descrição da história antiga, nos primeiros tempos, a civitas romana pautava sua organização
em comunidades familiares, conhecidas como gentílicas. O regime gentílico se estruturava em torno dos
clãs, ou seja, grupos de pessoas unidos por laços de parentesco.
Roma foi inicialmente ocupada por povos que habitavam a região do Lácio, chamado de latinos, pequeno
povo de camponeses indo-europeus vindo da Ásia e do centro da Europa, nas proximidades de Roma.
Esses povos desenvolveram uma economia baseada na agricultura de subsistência e nas atividades
pastoris. Com o decorrer do tempo, além dos latinos, a região passou a ser habitada por outros povos,
como gregos e etruscos, estes últimos tiveram um papel importante no desenvolvimento econômico e na
história política de Roma, principalmente na fase monárquica.
Os Etruscos começaram a dominar a península itálica a partir do século IX a.C. Estes eram um povo
mercador e muito hábil nas artes e com considerável conhecimento de arquitetura e engenharia. Além
disso, possuíam fortes exércitos e uma magnífica frota naval, que lhes permitia controlar uma ampla rede
de comércio. Eles negociavam seus produtos desde a Península Ibérica e Gália até a Anatólia, o Levante
e o norte da África.
Os Etruscos inicialmente estavam concentrados na Etrúria, região da Península Itálica que atualmente
corresponde a Toscana. Ali fundaram cidades-estados com elevado desenvolvimento urbano e cultural e
voltadas para o comércio. Esse movimento comercial levou os etruscos a gradativamente expandir seus
domínios para outras áreas da Península Itálica.
Com a dominação etrusca em Roma, iniciou-se o processo de desagregação da antiga organização em
comunidades gentílicas. A expansão do comércio provocou o desenvolvimento das cidades e o aumento
do número de habitantes possibilitou maior diversificação cultural e étnica. Também houve transformações
importantes na forma de administrar a cidade e Roma foi desenvolvendo diversas inovações políticas como
a monarquia, inicialmente; posteriormente, a República e depois, o Império.
A sociedade romana sofreu forte influência da cultura grega e helenística. A influência grega se estabeleceu
em diversos segmentos da vida social: na arte e na arquitetura, na alimentação que ganhou requintes
orientais, as roupas passaram a ganhar enfeites; o uso de cosméticos por homens e mulheres, os escravos
gregos eram chamados de pedagogos, pois ensinavam para as famílias ricas a língua e a literatura grega,
o que influenciou na produção de uma filosofia com forte influência dos teóricos gregos.
Outra influência dos gregos foi na religião. Os romanos eram politeístas, e veneravam deuses semelhantes
aos dos gregos (embora com nomes diferentes). Os gregos também influenciavam, juntamente com os
etruscos, as primeiras formas de arte realizadas pelos romanos deste período.
Os patrícios constituíam a aristocracia romana. Descendentes das famílias mais antigas da cidade, eram
donos das maiores e melhores terras e os únicos a possuir direitos políticos. Essa classe formava a elite
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social e política romana. Os principais cargos políticos de destaque, durante muito tempo, só podiam ser
ocupados por patrícios.
Os plebeus (do latim plebem - multidão), constituíam a camada da população que não tinha ascendência
patrícia. Eram homens livres, podiam possuir terras, pagavam impostos e prestavam serviços militares. A
princípio, os plebeus não possuíam direitos políticos e nem civis. Boa parte das crises sociais da Roma
Antiga, bem como das tentativas de reforma, derivou da insatisfação dos plebeus.
Além desses dois grupos, havia ainda os clientes. Estes eram agregados dos patrícios e deles recebiam
estadia e proteção e ficavam devedor de favores, ficando refém de um pacto de honra que os obrigava a
servir o seu patrono sempre que este necessitasse. Em troca, ofereciam todo tipo de serviço, daí vem a
expressão moderna da análise política “clientelismo”, que expressa a relação de subordinação de um grupo
social a outro em troca de pequenos benefícios.
Na estrutura social romana, havia ainda os escravos e os proletários. Os primeiros eram considerados bens
de posse daqueles que os compravam ou os capturavam, além de serem desprovidos de qualquer
representatividade política ou direitos em meio à sociedade romana. Os escravos podiam ser tanto escravos
por dívidas quanto povos capturados e conquistados nas campanhas militares romanas.
Já os proletários, isto é, os proletari, recebiam essa denominação porque sua única expressividade social
consistia em gerar prole (filhos) – daí a origem do termo proletário. Eles compunham a parte da sociedade
que ficava sob o jugo do Estado e que, quase sempre, serviam para engrossar as fileiras mais frágeis do
exército romano.
No período monárquico Roma transformou-se em um grande centro urbano e começaram a surgir as
desigualdades sociais entre a população. A divisão do trabalho deu origem ao processo de apropriação
privada da terra por parte dos chefes das famílias gentílicas – os "pater". Os agregados em torno dos "pater"
mantinham seu nome e suas tradições, formando a aristocracia romana. É justamente em torno desta
aristocracia que as disputas pelo poder político começam a realizar grandes transformações na forma de
governar a civitas.
Organização Política da Roma Antiga
A história de Roma Antiga é fascinante em função da cultura desenvolvida e dos avanços conseguidos por
esta civilização. De uma pequena cidade, tornou-se um dos maiores impérios da antiguidade. Dos romanos,
herdamos uma série de características culturais. O direito romano, até os dias de hoje está presente na
cultura ocidental, assim como o latim, que deu origem a língua portuguesa, francesa, italiana e espanhola.
A fundação da cidade tem duas explicações. A primeira está ligada à uma tradição: Enéias, que participou
da guerra de Tróia, chega à Itália e fundou uma cidade – ALBA LONGA. Os gêmeos Rômulo e Remo,
descendentes de Eneias, foram abandonados no rio Tibre, mas, uma loba os amamentou. Foram recolhidos
por um pastor que os educa e, mais tarde fundaram a cidade de Roma2.
A história, porém, atesta que Roma provavelmente surgiu como uma fortificação militar por volta do século
VIII a.C. Sua formação social resulta da mistura de três povos que foram habitar a região da Península
Itálica: gregos, etruscos e italiotas.

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Conforme a versão lendária da fundação de Roma, relatada em diversas obras literárias romanas, tais como a Ab Urbe condita
libri ("desde a fundação da Cidade"), de Tito Lívio, e a Eneida, do poeta Virgílio, relatam que a cidade teve como ponto de partida
a chegada de Enéias, príncipe troiano, filho de Vênus, fugindo de sua cidade natal, destruída pelos gregos, chegou ao Lácio e
se casou com a filha de um rei latino. Seus descendentes, Rômulo e Remo, filhos de Reia Sílvia, rainha da cidade de Alba Longa,
com o deus Marte, foram jogados por Amúlio, rei da cidade, no rio Tibre, mas foram salvos por uma loba que os amamentou,
tendo sido, em seguida, encontrados por camponeses. Conta ainda a lenda que, quando adultos, os dois irmãos voltaram a Alba
Longa, depuseram Amúlio e em seguida fundaram Roma, em 753 a.C. A data tradicional da fundação (21 de abril de 753 a.C.)
foi convencionada bem mais tarde por Públio Terêncio Varrão, atribuindo uma duração de 35 anos a cada uma das sete gerações
correspondentes aos sete mitológicos reis. Segundo a lenda, Rômulo matou o irmão e se transformou no primeiro rei de Roma.
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A principal característica da história romana foi a sua expansão territorial. Roma foi o grande império da
Antiguidade. A Roma Antiga conheceu 3 formas de governo: Monarquia, República e Império.
 Monarquia - de 753 a.C. à 509 a.C.
 República - de 509 a.C. à 27 a.C.
 Império - de 27 a.C. à 476 d.C.
Período Monárquico
Conta a lenda que após assassinar seu irmão gêmeo Remo, Rômulo demarcou os limites sagrados da
cidade com um arado, no monte Palatino, e deu origem a uma das civilizações mais importantes do mundo.
A documentação do período monárquico encontrada até hoje é muito precária, o que torna este período
menos conhecido que os períodos posteriores. A monarquia romana foi conhecida a partir dos relatos de
antigos historiadores do final da República Romana, muitas vezes distorcidos e que tende a engrandecer
os feitos dos reis. O mais conhecido destes relatos é apresentado nas obras do escritor Tito Livio (autor da
obra intitulada “Ab urbe condita” - "Desde a fundação da cidade"), onde tenta relatar a história de Roma
desde o momento da sua fundação em 753 a.C., até ao início do século I da Era Cristã. Também na obra
do poeta Virgílio, Eneida, encontram-se alguns relatos sobre os reis de Roma no período monárquico.
Os documentos desse período da história romana são insuficientes para comprovações, mas refutam boa
parte do que foi narrado pela tradição que traz aspectos obscuros e lendários. O que os historiadores
conseguiram afirmar é que Roma neste período já era uma cidade-estado desenvolvida, principalmente na
arquitetura e nas instituições públicas.
Além de Rômulo (753-717 a.C.), que foi o primeiro rei, sucederam o trono na Monarquia Romana, Numa
Pompílio (717-673 a.C.); Túlio Hostílio (673-642 a.C.); Anco Márcio (640–616 a.C.); Tarquínio Prisco (616–
579 a.C.); Sérvio Túlio (578–535 a.C.); e Tarquínio, o Soberbo (534–509 a.C.). Os três últimos reis eram de
origem etrusca. Apesar de haver contestação, a tese mais aceita é que o período monárquico atravessou
cerca de 243 anos da história romana.
Do ponto de vista da organização política, o desenvolvimento socioeconômico da civitas deu origem a uma
diversificação social que dividiu a sociedade em duas classes: os patrícios (grandes proprietários de terras)
e plebeus (comerciantes, artesãos e pequenos proprietários). Em razão da superioridade econômica dos
patrícios, estes foram ocupando gradativamente o poder político e passaram a colocar um representante
desta classe na administração da cidade. A maioria dos reis de Roma foram escolhidos pelos patrícios em
votação no senado romano.
Os reis acumulavam funções executivas, legislativas e judiciárias, além de funções religiosas. Apesar de
se constituir como uma monarquia absolutista, devido à forte pressão dos patrícios, o rei gradativamente
passou a ser auxiliado pelo Senado e pela Assembleia (ou Comício das cúrias - em latim, comitia curiata).
Estes dois órgãos foram as principais instituições que ofereciam alguma participação popular nas decisões
políticas de Roma no período monárquico. Apesar do Rei não dever obediência a estes órgãos, geralmente
restritos a aconselhar o rei e ratificar os decretos do rei, O rei, entretanto, para evitar crises constantemente
ouvia as deliberações derivadas do Senado.
Desta forma, neste período, o poder político em Roma passou a ser composto por três elementos: o Rei, o
Senado e o Povo, todos, constituído apenas por patrícios, provenientes das famílias mais ricas de Roma.
Devido a estratificação social baseada em clãs, o Senado Romano foi sendo formado a partir de um
conselho de anciões ocupado pelos chefes dos clãs que habitavam a cidade de Roma. Os clãs eram grupos

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de pessoas unidos por laços de parentesco, mas continham também escravos e clientes. Estes últimos
eram homens livres que viviam da prestação de serviços a esses clãs, obtendo deles proteção e abrigo.
Por ser a pessoa que detinha a maior autoridade dentro dos clãs, o ancião era o escolhido para ser seu
representante no Senado. A própria palavra Senado deriva da palavra latina senex, que tem o significado
de “velho”, ou mesmo de sênior.
Cabia ao Senado debater os assuntos públicos que interessava aos habitantes da cidade. Mesmo que
simbolicamente, o Senado impunha alguns limites ao poder do rei, podendo vetar ou aprovar as leis
apresentadas e propor novas leis e podia tomar decisões na ausência do rei. O Senado Romano era
formado por patrícios, representando os clãs mais ricos de Roma e era sempre ouvido pelo rei nos grandes
negócios do Estado.
O Senado era vitalício e detinha grande autoridade, mas não tinha grande poder legislativo. No entanto,
como os Senadores eram, todos eles, indivíduos muito influentes, o rei os consultava nas decisões mais
importantes, pois dificilmente conseguiria alguma coisa contra a vontade coletiva do Senado.
Além do senado, no decorrer do tempo, foram formadas as Assembleias ou Cúrias, formada por patrícios
em idade militar até os 45 anos. Alguns historiadores advogam que as Cúrias eram associações religiosas
onde os patrícios se organizavam de acordo com a força de seu clã. No decorrer do tempo estas Cúrias
passaram a realizar assembleias para orientar o rei sobre os assuntos de interesse dos patrícios.
Por esta razão, a Assembleia passou a representar o povo e sua função era ratificar as leis apresentadas
pelo rei e aprovadas pelo Senado. Com o desenvolvimento da monarquia, a Assembleia passou a ocupar
um espaço político e, semelhante ao senado, passou a se constituir como um órgão de deliberação de
assuntos que interessavam aos homens livres de Roma. Como apenas patrícios ocupavam tanto o senado
quanto a assembleia havia grande influência desta classe nas decisões governamentais.
Nos últimos anos do período monárquico a Assembleia passou a ter como função a ratificação das leis
propostas pelo rei e o Senado passou a atuar como conselho régio e escolhia novos reis. Os quatro
primeiros reis de Roma eram de origem latina, porém os últimos três reis do período monárquico foram de
origem etrusca, o que gerou grande insatisfação por parte dos patrícios.
O primeiro Rei de origem etrusca foi Tarquínio Prisco que chegou ao poder depois da morte de Anco Márcio.
Tarquínio Prisco era de uma família muito rica de Roma, que enriqueceu fazendo comércio entre Corinto e
as cidades do Mar Tirreno.
Tarquinio se tornou cidadão de Roma, após se casar com uma mulher local de família nobre e adotou o
nome Lucius Tarquinius. Depois da morte de Anco Márcio, Tarquínio Prisco dirigiu-se à Assembleia (Comitia
Curiata) e os convenceu que ele devia ser eleito rei em lugar dos filhos do falecido rei, que ainda eram
adolescentes. Com o apoio do povo, Tarquinio sucedeu a Anco Márcio e se tornou o quinto rei de Roma.
Com a ascenção ao poder de um etrusco, nesta fase, o senado perdeu parte do seu poder e o rei passou
a indicar seu sucessor, o que gerou grande insatisfação dos clãs, pois abriu espaço para a indicação de
novos reis de origem etrusca em detrimento de reis de origem latina.
Após a morte de Tarquinio quem vai sucede-lo, sem o consentimento do Senado é Servio Túlio, também
de origem etrusca. Conta a lenda que Sérvio Túlio era de origem humilde e fazia serviços domésticos para
Tarquínio Prisco. A esposa de Tarquínio, Tanaquil, previu a futura grandeza de Sérvio Túlio e por isso lhe
deu sua filha como esposa. Com a morte do marido, Tanaquil escondeu do povo romano a morte do marido,
dizendo que ele havia sido ferido, e que Sérvio Túlio seria o regente. Deu assim a este último a oportunidade
de apresentar-se como sucessor natural quando, três dias depois, ao restabelecer-se a calma, foi
comunicada a morte do rei.

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Apesar do grande descontentamento por parte dos patrícios Sérvio Túlio foi coroado rei e organizou o
exército e realizou uma importante reforma social no século VI a.C., ao dividir o povo romano em tribos,
segundo o domicílio, procurando enfraquecer os patrícios. Dividiu também a população em cinco classes,
de acordo com a renda de cada indivíduo
Com as reformas empreendidas pelo rei Sérvio Túlio, a plebe que não ocupava nenhum espaço político foi
favorecida, quando a riqueza de cada um, e não mais apenas as suas origens, passou a ser base para a
distinção entre as pessoas. Com isso, ganhavam o direito de voto os plebeus contribuintes, sendo por estes
entendidos aqueles que dispunham de meios para pagar impostos e que agora tinham direito de prestar
serviço militar.
Foi justamente o maior espaço de participação da plebe que gerou grande insatisfação nos patrícios e levou
a deposição do último rei de origem etrusca nesta fase da história romana.
Após a morte de Sérvio Túlio quem assume o trono é Lúcio Tarquínio, o Soberbo. A história relata que Lúcio
Tarquinio era Filho de Tarquínio Prisco, o quinto rei de roma, e desposou primeiro a filha mais velha de
Sérvio Túlio, Túlia Maior, depois a irmã desta, Túlia Menor, com cuja ajuda organizou o complô para matar
o sogro e ascender ao trono de Roma.
Na obra de Tito Lívio o assassinato de Sérvio Túlio é assim descrito. Tarquínio um dia apresentou-se ao
senado e sentou-se no trono, reivindicando-o para si. Túlio, advertido do fato, foi às pressas à Cúria Hostília.
Deu-se assim uma forte discussão entre os dois, que logo degenerou em luta entre as duas facções, ao fim
da qual o jovem Tarquínio, já fora da Cúria, feriu o rei. Sérvio, ferido, mas, não morto, foi atingido
mortalmente pela filha, atropelando-o com a carroça que guiava.
Após ser declarado rei, no governo, Tarquínio governou Roma de forma despótica e eliminou todos os que
eram partidários de Sérvio Túlio e confiscou os bens de famílias poderosas, recebendo o título pelo qual
ficou conhecido na história: "o Soberbo", isto é, o Orgulhoso, que equivalia em grego a "tirano".
Tarquínio foi deposto após seu filho, Sexto Tarquínio, estuprar Lucrécia, filha de um importante membro da
classe patrícia. Esse incidente parece ter sido usado como desculpa para a deposição de Tarquínio.
Segundo relatos, o rei etrusco desagradava à elite econômica romana ao conceder benefícios às camadas
mais pobres da população.
Com o apoio do exército e do senado, Tarqüínio, o Soberbo, foi expulso do poder em virtude de seu
despotismo e de não ouvir as deliberações oriundas da Assembléia ou do Senado. A expulsão de Tarquinio
se dá a partir de uma revolução liderada por patrícios e militares e surge a partir daí a fase caracterizada
por uma república oligárquica.
A República Romana
A instauração da República em Roma, se estabelece em 509 a.C., e sua principal característica é se opor
ao poder absoluto dos reis da fase anterior. A república romana produziu grandes transformações na
relação entre o exercício do poder político e o povo.
Apesar de inicialmente o período republicano mantivesse o fortalecimento do Senado (majoritariamente
pertencente à classe dos patrícios) e a exclusão dos plebeus da vida política romana, os plebeus começam
a se mobilizar e exigir maior participação nas decisões sobre a administração da cidade. Daí advém o nome
deste período, Res public, que significa coisa pública ou coisa do povo, ou seja, aquilo que pertence a
todos.
Após a deposição do último rei de Roma, o governo da cidade passou a ser liderada por um grupo de
pessoas chamadas magistrados que eram eleitos e substituem o rei na tarefa de administrar a cidade. O
exercício do poder executivo se subdividia em várias magistraturas.

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Os magistrados se dividiam em dois grupos: ordinários e extraordinários
1) Os Ordinários - Cônsules, Pretores, Edis e Questores, não eram permanentes e eram eleitos anualmente.
Os Cônsules encarnavam o poder supremo da magistratura. Eram eleitos em número de dois e cada um
deles governando alternadamente um mês cada. Assim, enquanto um governava, o outro fiscalizava, tendo
contra o primeiro o direito de veto em caso de discordância.
O objetivo desta engenharia era pulverizar o Poder Executivo para as mãos de muitos, com mandatos
curtos, um ano, assim evitando que alguém pudesse ter um poder exacerbado nas mãos.
Os outros magistrados ordinários eram:
 questores - responsáveis pela administração das finanças;
 pretores - encarregados da administração da justiça;
OBS: Os pretores eram de dois tipos: o Pretor Urbano, que cuidava de questões envolvendo apenas
romanos na cidade e o Pretor Peregrino, que cuidava de questões de justiça no campo e aquelas
envolvendo estrangeiros.
 edis curis - cuidavam da fiscalização do comércio e do policiamento da cidade;
 Governadores das províncias, ou procônsules - encarregados de distribuir a justiça.
2) Os magistrados Extraordinários, como os censores, também eram temporários e somente eram
escolhidos quando havia necessidade. Eram responsáveis pelo recenseamento, que era realizado de 5 em
5 anos
Os censores também eram responsáveis, pelo Regimen Morum, o policiamento dos costumes. Eles podiam
devassar a vida de um indivíduo e denunciavam, nas Assembleias Públicas, maus exemplos e filosofias
não condizentes para um cidadão romano. Caso um acusado pelo censor tivesse sua culpa comprovada,
poderia, inclusive, perder por algum tempo seus direitos políticos.
No caso do senado o seu papel quase não se alterou, permanecendo como um órgão consultivo dos
cônsules. Os senadores eram vitalícios, mas indicados pelos próprios cônsules. Para alguns autores, a
vitaliciedade do senado frente a temporariedade do mandato dos cargos executivos levará este a possuir
uma autoridade permanente, sendo o centro do governo. A posição do senado levava a constantes crises.
Além dos magistrados e do Senado a organização política de Roma na República, após diversas rebeliões
passou a incorporar o povo nas decisões políticas.
O povo era composto por plebeus, que passaram a se reunir em Assembleias para votar e escolher seus
representantes nas decisões sobre a administração da república.
A plebe, nesta fase, teve uma conquista importante. Após sucessivas rebeliões, as diversas reivindicações
desta classe foram atendidas, a mais importante foi a criação do tribuno da plebe. Criado em 494 a.C.,
eram magistrados plebeus, invioláveis, sagrados (sacrosanti), com direito de veto contra as decisões a
serem tomadas. Podiam opor-se até mesmo às decisões dos cônsules e dos senadores. Tinham ao seu
dispor os mesmos recurso que os cônsules – direito de veto – podendo com este colocar em crise a
poderosa máquina do Estado romano. O tribuno da plebe não poderia ser acusado, preso, nem punido.
Tinham imunidades totais.
O plebiscito significa o voto da plebe e referia-se aquilo que a plebe deliberava por proposta de um
magistrado plebeu, aplicando-se, a princípio, unicamente à plebe, adquirindo, a partir da Lei Hortênsia, valor
de lei.

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A incorporação do povo na República Romana
A grande mudança na política romana durante a República vai ser a criação da constituição republicana,
as conquistas dos plebeus e a expansão territorial, marcada por guerras e a profissionalização do exército.
Os plebeus constituíam a imensa maioria da população romana, mas eram constantemente explorados
pelos patrícios, pagavam elevados impostos e eram excluídos dos benefícios derivados da administração
da cidade. Com o desenvolvimento da sociedade e o enriquecimento dos patrícios, os plebeus começaram
a se organizar para tentar superar a situação social em que viviam. Inúmeras rebeliões plebeias ocorreram
na República.
O fato de a sociedade romana estar em constante guerra com seus vizinhos levou os patrícios a
convocarem os plebeus para serem soldados de seus exércitos. Além disso, os impostos cobrados dos
plebeus aumentavam, garantindo a riqueza dos patrícios. Por outro lado, aumentava o endividamento de
muitos plebeus, o que acarretava a mudança de situação social, passando a serem escravos de seus
credores. Conscientes de sua importância militar e buscando superar a exclusão política e a exploração
econômica, os plebeus começaram se rebelar.
Uma das rebeliões mais conhecidas ocorreu em 494 a.C., onde os plebeus retiraram-se para o monte
Aventino, recusando-se a defender a cidade enquanto não fossem cedidos direitos políticos a eles. Sabendo
que não poderiam se defender sem a participação dos plebeus, os patrícios resolveram ceder à pressão e
criaram o Concilium Plebis, o Tribunato da Plebe, que possibilitou a criação de uma instituição política que
possibilitou maior participação política dos plebeus nas decisões que afetavam a vida da cidade.
O Concilium Plebis era formado por dois magistrados (tribunos) representantes dos plebeus, que tinham o
poder de vetar ou de se opor às decisões dos cônsules e do Senado que poderiam prejudicar a plebe. Caso
uma decisão fosse vetada, não poderia mais ser colocada em prática. Em 471 a.C., o número de
magistrados plebeus aumentou para dez. Sua função consistia também em receber as reclamações dos
plebeus que se sentissem injustiçados, o que fazia com que suas casas ficassem abertas aos que os
procuravam.
Mas as rebeliões plebeias não acabaram quando foi instituído o Concilium Plebis. Em 450 a.C., após novas
revoltas, os patrícios decidiram instituir a Lei das Doze Tábuas. Tal medida visava transformar em leis
escritas as leis que anteriormente eram transmitidas e conhecidas apenas oralmente. Era o primeiro código
de leis escritas em Roma e foi redigido por dez juristas, conhecidos como decênviros. A lei escrita dificultava
que os patrícios interpretassem as leis de acordo com suas conveniências, constituindo-se, assim, como
uma vitória para os plebeus.
Outra conquista dos plebeus com a Lei das Doze Tábuas foi o fim da escravidão por dívidas. Mas em vez
de fazer com que a vida dos plebeus melhorasse, as leis escritas acabaram favorecendo a República dos
patrícios, dos grandes proprietários de terras e dos grandes comerciantes, que continuaram a explorar os
plebeus.
Novas leis surgiram como consequência dos conflitos sociais entre patrícios e plebeus. Em 445 a.C., pela
Lei Canuleia, foi legalizado o casamento entre patrícios e plebeus. Em 367 a.C., com as Leis Licínias, foi
possibilitado aos plebeus a partilha das terras conquistadas, sendo ainda estabelecido que um dos cônsules
seria de origem plebeia.
Conseguiram ainda formar suas próprias assembleias, decidindo sobre os assuntos de seus interesses. A
partir de 287 a.C., as decisões das assembleias plebeias tornar-se-iam leis, dando origem ao termo
plebiscito.
Apesar de uma maior participação política e de uma menor distinção social, as diferenças econômicas,
entre ricos e pobres, e também as militares, entre os oficiais de alta patente e os soldados, mantiveram-se.
Aos poucos a camada mais rica dos plebeus, os nobilitas, passou a se assimilar à camada mais pobre dos

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patrícios. Dessa forma, os Tribunos da Plebe acabaram se aproximando mais dos interesses dos patrícios
em detrimento dos interesses dos plebeus.

Decadência da República e início do Império


A decadência da República Romana se estabeleceu em função das guerras. Estas inicialmente renderam
muitos lucros aos romanos, principalmente pela oferta de mão-de-obra escrava conquistada como espólio
de guerra.
Os escravos passaram integrar cada vez mais os latifúndios dos patrícios, enfraquecendo o poder político
dos plebeus conquistado à duras penas. Com om enriquecimento dos patrícios muitos plebeus acabaram
perdendo suas terras, pois sem condições financeiras para comprar escravos, sofriam concorrência desleal
e tiveram que as vender por preços módicos para os aristocratas.
Os plebeus empobrecidos, sem grandes oportunidades de trabalho no campo, rumaram para os grandes
centros urbanos em busca de empregos e novas oportunidades. Esse êxodo rural, também marca o período
republicano, pois o inchaço das grandes cidades vai acarretar várias revoltas populares, tanto de plebeus
quanto de escravizados. Entre as revoltas de escravos mais conhecidas foi aquela liderada por Espártaco
em 73 a.C., que reuniu mais de quarenta mil ex-escravos. Essas revoltas eram combatidas pelo exército
romano que estava ficando cada vez mais poderoso, inclusive a cada batalha vencida os generais
passavam a serem ovacionados pelo povo.
Além de serem respeitados pelo povo os generais tinham grande apreço de seus soldados, que desde as
reformas de Mário em 111 a.C. eram profissionais. Cabia aos generais darem aos soldados que se
aposentassem um pedaço de terras, e isso ampliava a lealdade dos soldados com os generais. Muitos
generais passaram a lutar entre si em busca de poder e lealdade.
As disputas entre generais se transformaram em várias guerras civis por toda Roma ao longo do século I.
Uma das disputas mais conhecidas ocorreu em 49 a.C, onde o general Caio Júlio César, que tinha ganhado
muito prestígio por ter conquistado a Gália, é impedido pelo senado de comandar suas tropas. Não satisfeito
com a decisão tomada pelo senado, Júlio César se impõe e toma a cidade de Roma no mesmo ano. Esse
fato comprometeu diretamente os destinos da República romana, dando início ao período de transição para
o Império, o período dos generais. Em 49 a.C. Júlio César se autoproclama ditador perpétuo, ou seja,
pretendia governar Roma até o fim da sua existência. Acabou sendo assassinado em 44 a.C., a mando dos
senadores romanos, que acreditavam que poderiam ainda salvar a República.
A morte de Júlio César gerou mais crises internas na República que já dava seus últimos suspiros. Em 31
a.C Otávio, sobrinho e herdeiro de César, assume o controle e é nomeado o único general, inclusive este
ato foi aprovado pelo senado, que o nomearam de “principal”, e por isso Otávio ficou reconhecido como
Príncipe. No ano de 27 a.C Otávio recebe o título de Augusto (do latim “o venerável”), dando início ao
período do Império Romano, aquele governado por generais.
A Fase Imperial
Os romanos formaram um grande império que marcou a história política e militar da antiguidade. A mão-
de-obra escrava conseguida através das constantes guerras e o comércio com as regiões dominadas
figuraram entre os novos traços da fase imperial.
A fase Imperial é caracterizada pela centralização do poder nas mãos de um só governante. O longo período
das guerras civis, contribuiu para enfraquecer o Senado e fortalecer o exército.
A evolução militar foi excepcional ao longo da República e depois de conquistar toda a península Itálica, os
romanos passaram a exercer uma política de caráter expansionista, entrando em choque com Cartago,
importante colônia fenícia no norte da África que controlava o comércio marítimo no Mediterrâneo.

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O conflito entre Roma e Cartago (conhecido como Guerras Púnicas), inicia-se em 264 a.C., quando Roma
anexou a Sicília, e estende-se até o ano de 146 a.C. quando o exército romano destruiu Cartago.
Atraídos pelas riquezas do oriente, Roma conquista a Macedônia, a Grécia, o Egito e o Oriente Médio. A
parte ocidental da Europa, a Gália e a península Ibérica também foram conquistadas.
O período imperial romano é dividido em dois momentos: o Alto Império, marcado pelo apogeu de Roma e
pelo expansionismo territorial; e pelo Baixo Império, que representa a decadência e queda de Roma.

O ALTO IMPÉRIO é Formado pelas chamadas dinastias de ouro.


a) Júlio-Claúdios ( 14 - 68 )
b) Flávios ( 69 - 96 )
c) Antoninos ( 96 -192)
d) Severos (193-235).
A partir do ano de 235, inicia-se um período de crises em virtude do enorme custo para a manutenção do
exército. Os gastos militares minavam as finanças do Estado, que era obrigado a aumentar os impostos.
Esta política provoca tumultos e revoltas nas províncias.
A crise militar acarreta o fim do expansionismo romano, contribuindo para diminuir a entrada de mão-de-
obra escrava em Roma.
A chamada crise do escravismo para alguns historiadores está na raiz da queda de Roma.
Dois nomes sobressaíram durante o Império Romano: Júlio César e Augusto.
Após vários conflitos, Júlio César tornou-se ditador (com o apoio do Senado) e apoiado pelo exército e pela
plebe urbana, começou a acumular títulos concedidos pelo Senado. Tornou-se Pontífice Máximo e passou
a ser: Ditador Perpétuo (podia reformar a Constituição), Censor vitalício (podia escolher senadores) e
Cônsul Vitalício, além de comandar o exército em Roma e nas províncias.
Tantos poderes lhe davam vários privilégios: sua estátua foi colocada nos templos e ele passou a ser
venerado como um deus (Júpiter Julius).
Com tanto poder nas mãos, começou a realizar várias reformas e conquistou enorme apoio popular.
- Acabou com as guerras civis
- Construiu obras publicas
- Reorganizou as finanças
- Obrigou proprietários a empregar homens livres
- Promoveu a fundação de colônias
- Reformou o calendário dando seu nome ao sétimo mês
- Introduziu o ano bissexto
- Estendeu cidadania romana aos habitantes das províncias
- Nomeava os governadores e os fiscalizava para evitar que espoliassem as províncias
Em compensação, os ricos (que se sentiram prejudicados) começaram a conspirar.
No dia 15 de março de 44 a.C., Julio César foi assassinado. Seu sucessor (Otávio), recebeu o título de
Augusto, que significava “Escolhido dos Deuses”. O governo de Augusto marcou o início de um longo
período de calma e prosperidade.
Principais medidas tomadas por Augusto:
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- Profissionalizou o exército
- Criou o correio
- Magistrados e senadores tiveram seus poderes reduzidos
- Criou o conselho do imperador (que se tornou mais importante que o senado)
- Criou novos cargos
- Os cidadãos começaram a ter direitos proporcionais aos seus bens. Surgiu assim três ordens sociais:
Senatorial (tinham privilégios políticos), Equestre (podiam exercer alguns cargos públicos) e Inferior (não
tinham nenhum direito).
- Encorajou a formação de famílias numerosas e a volta da população ao campo,
- Mandou punir as mulheres adúlteras,
- Estimulou o culto aos deuses tradicionais (Apolo, Vênus, César, etc),
- Combateu a introdução de práticas religiosas estrangeiras,
- Passou a sustentar escritores e poetas sem recursos (Virgílio autor de “Eneida”, Tito Lívio, Horácio),
Quando chegou a hora de deixar um sucessor, Augusto nomeou Tibério (um de seus principais
colaboradores).
A História Romana vivia o seu melhor período. A cidade de Roma tornou-se o centro de um império que
crescia e se estendia pela Europa, Ásia e África.
Após a morte de Augusto, houve quatro dinastias de Imperadores:
Dinastia Julio-Claudiana (14-68): Tibério executou os planos deixados por Augusto. Porém, foi acusado da
morte do general Germanicus e teve o povo e o Senado contra ele. Sua morte (78 anos) foi comemorada
nas ruas de Roma. Seus sucessores foram Calígula (filho de Germanicus), Cláudio (tio de Calígula) e Nero.
Essa dinastia caracterizou-se pelos constantes conflitos entre o Senado e os imperadores
Dinastia dos Flávios (69-96): neste período, os romanos dominaram a Palestina e houve a dispersão
(diáspora) do povo judeu.
Dinastia dos Antoninos (96-192): marcou o apogeu do Império Romano. Dentre os imperadores dessa
dinastia, podemos citar: Marco Aurélio (que cultivava os ideais de justiça e bondade) e Cômodo que por ser
corrupto, acabou sendo assassinado em uma das conspirações que enfrentou.
Dinastia dos Severos (193-235): várias crises internas e pressões externas exercidas pelos bárbaros (os
povos que ficavam além das fronteiras) pronunciaram o fim do Império Romano, a partir do século III da era
cristã.

O BAIXO IMPÉRIO: A crise e a queda de Roma


Chamamos de Baixo Império o período final do Império Romano do Ocidente, caracterizado por sua
decadência e queda, em 453, em meio às invasões dos povos germânicos. A denominação vem
principalmente da obra de mesmo nome escrita por Edward Gibbon no séc. XVIII, que aponta o cristianismo
e as incursões dos “bárbaros” como o motivo do fim do Império e a entrada da Europa na chamada “Idade
das Trevas” medieval.
Apesar da existência de diversas explicações sobre a crise do Império, a origem mais remota dessa crise
está diretamente ligada à combinação entre a estrutura econômica de Roma e sua incapacidade de dar
sequência à saga de conquistas, única forma capaz de manter os domínios.

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A origem da crise de Roma está diretamente ligada à combinação entre a estrutura econômica do Império
e sua incapacidade de dar sequência à saga de conquistas, única forma capaz de manter os domínios de
Roma.
Com a crise do Império, a partir do ano 235, Roma começou a ser governado pelos imperadores-soldados,
cuja principal preocupação era combater as invasões e reduzir as tensões internas que dificultavam a
governabilidade do vasto império.
Toda a riqueza do Império Romano advinha do uso da mão-de-obra escrava, conseguida pela expansão
territorial. A fonte de abastecimento de escravos para o império era o afluxo de prisioneiros de guerra
estrangeiros. As péssimas condições de vida, o alto índice de mortalidade, a baixa expectativa média de
vida, além do pequeno índice de natalidade dos escravos, pelo fato de que o número de mulheres escravas
era sempre mais baixo, geravam um crescimento vegetativo negativo, o que impedia a expansão das
atividades econômicas para fins comerciais.
Além disso, os excessivos gastos militares começaram a minar as finanças do estado romano. A partir do
século III, como forma de conter os excessivos gastos militares, Roma cessou suas conquistas territoriais,
acarretando uma diminuição no número de escravos e, consequentemente, uma expressiva queda na
produção agrícola.
Como resultado desta crise econômica o Estado romano passa a aumentar, de forma sistemática, os
impostos. O aumento dos impostos reflete em um aumento no preço das mercadorias, gerando um
processo inflacionário, o que contribui para aumentar as tensões sociais.
Além disso, as fronteiras do Império Romano começam a serem invadidas pelos chamados povos bárbaros,
trazendo um clima de insegurança e pânico a todos.
Consequências da crise imperial
ÊXODO URBANO: refere-se a saída da população urbana para o campo, fugindo da crise econômica e dos
bárbaros. No campo, esta população tinha uma oportunidade de trabalho pois, em virtude da diminuição do
número de escravos, os grandes proprietários passam a necessitar de força de trabalho.
O COLONATO: como solução para a falta de força de trabalho e de uma forte onda inflacionária,
desenvolve-se no campo o regime de colonato, onde os grandes proprietários arrendam lotes de terras para
os camponeses que, em troca, trabalhavam e produziam para o grande proprietário. O colono passa a ser
um homem preso à terra. A economia passa a ser autossuficiente.
INFLAÇÃO: com a queda da produção agrícola, o Estado tem sua arrecadação de impostos diminuída e,
em contrapartida, um aumento das despesas com a manutenção do exército para a defesa das fronteiras
dos ataques bárbaros. Na falta de dinheiro, o Estado passa a exercer uma política emissionista (emissão
de moeda) provocando uma desvalorização do dinheiro. Sem dinheiro, o Estado inicia a sua falência.
CRISE MILITAR: sem recursos para manter o exército, o Estado romano passa a recrutar mercenários para
defender as suas fronteiras, que em troca do serviço prestado recebiam terras. No campo, a ausência militar
e a necessidade de garantir a propriedade, leva o grande proprietário a contratar mercenários para a defesa
da terra, criando um exército pessoal.
O CRISTIANISMO: um outro elemento que contribuiu para a crise de Roma foi a difusão da religião cristã.
O fortalecimento do cristianismo ocorria, simultaneamente, com o enfraquecimento de Roma. Os cristãos
não aceitavam as instituições romanas, ligadas ao paganismo; não reconheciam a divindade do imperador
e não aceitavam a escravidão.

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As autoridades romanas iniciam uma política de perseguição sistemática aos cristãos, considerando-os
culpados por todas as calamidades que ocorriam. No entanto, quanto mais os cristãos eram perseguidos e
torturados, maior o número de adeptos.
Reformas do Baixo Império
Procurando evitar o colapso político-administrativo do Império, alguns imperadores empreenderam algumas
reformas.
DIOCLECIANO: dividiu o poder imperial em quatro partes (tetrarquia) procurando aumentar a eficiência
administrativa ao descentralizar a organização do Estado; reintroduziu o serviço militar obrigatório;
incentivou o regime de colonato; editou a lei do Preço Máximo, para combater a inflação; ampliou a
perseguição aos cristãos.
Com Diocleciano, o Império foi dividido em dois: O Império Romano do Oriente, governado por ele mesmo,
e o Império Romano do Ocidente, governado por Maximiniano. Cada um deles era ajudado por um
imperador subalterno – o César. Diocleciano acreditava que essa estrutura de poder (Tetrarquia) poderia
aumentar a eficiência do Estado e facilitava a defesa do território, mas essa medida, aumentou as tensões
internas e as disputas pelo poder aumentaram. Diocleciano tomou várias medidas para controlar a inflação
e acalmar a revolta do povo.
Seu sucessor, Constantino, procurou tomar medidas para evitar as crises políticas e econômicas. Para isso,
legalizou o cristianismo, tornando-a a religião oficial do Império. Com o Édito de Milão publicado (313), o
cristianismo passou a ser oficialmente uma religião unificada com o estado e seu objetivo era, além de
conter as revoltas populares, incrementar as finanças do estado. O pagão, de perseguidor passa a ser
perseguido, e seus bens (maiores que os do cristão) são confiscados pelo Estado, constituindo assim, uma
forma de aumentar o erário estatal.
Além disso, Constantino fundou Bizâncio (futura Constantinopla), para onde transferiu a sede do governo,
além de ter abolido o sistema de tetrarquia.
O sucessor de Constantino, Teodósio continuou o conjunto de reformas, onde a mais importante foi a
divisão do Império romano em duas partes:
 Império Romano Ocidental – Capital Roma
 Império Romano Oriental – Capital Bizâncio
A partir do século IV a pressão dos bárbaros sobre as fronteiras de Roma aumenta. Uma imensa onda de
tribos - fugindo dos Hunos inicia a penetração na parte ocidental de Roma.
Por conta da fraqueza interna, Roma foi saqueada e dominada no ano de 476 por Odoacro, que se declarou
rei da Itália. Esta data é considerada o ponto final da história romana com a queda do Império Romano do
Ocidente. Quanto ao lado oriental de Roma, este sobrevive até o ano de 1453 com o nome de Império
Bizantino.

A Filosofia política de Cícero e a República Romana


Marco Túlio Cícero (106 a.C. a 43 a.C.) foi o mais expressivo filósofo Romano. Viveu no período
republicano e apresentou aos Romanos as escolas da filosofia grega e criou um vocabulário filosófico em
Latim, distinguindo-se como um linguista, tradutor, orador eloquente e advogado de sucesso. Seus
trabalhos mais importantes são; “De re publica" (Da República) e “De Legibus" (Das Leis).
Cícero pode ser considerado um autor eclético, no sentido de que evitava assumir a verdade absoluta de
uma doutrina filosófica, condenando as outras que lhe eram opostas. Como um admirador dos
neoacadêmicos, ele preferia considerar os vários pontos de vista sobre o mesmo assunto, para confrontá-
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los e corrigi-los de seus excessos, a fim de produzir uma síntese construída a partir de seu próprio
julgamento.
No campo político, combinou concepções de diferentes procedências, produzindo uma teoria política que,
se não foi original, teve a força e o vigor necessários para influenciar o pensamento republicano até a
modernidade. Depois de uma intensa atividade pública – serviu a República romana como questor, edil,
pretor e cônsul – e de uma vasta produção literária e filosófica, que inclui as mais belas páginas da retórica
latina, Cícero dedicou-se à reflexão política quando se encontrava no exílio e já se anunciava o fim da
República. No seu diálogo presente no livro Da república, discurso proferido em 51 a.C., em particular nos
livros I e II, é possível reconhecer os princípios norteadores do ideário republicano clássico.
Cicero também teve participação na sistematização do direito latino, baseado em leis antigas e costumes.
Dos livros de Cícero, seis sobre retórica sobreviveram, assim como partes de oito livros sobre filosofia. Dos
seus discursos, oitenta e oito foram registrados, mas apenas cinquenta e oito sobreviveram. É considerado
como sendo uma das mentes mais versáteis da Roma antiga. Sua obra derivada de sua experiência como
político, magistrado e orador romano, surgiu no final do período Republicano. Ele aproveitou seus exílios e
períodos de otium para refletir sobre as instituições e costumes romanos, a partir de seu ponto de vista de
homem novo aristocrata, publicando inúmeras obras. Sua família não era muito antiga nos negócios
públicos, mas ele aprendeu desde cedo que se quisesse ascender no cursus honorum senatorial, precisaria
conhecer e aceitar as antigas tradições, e entre elas, destacavam-se as leis romanas. Cícero foi mais um
defensor público do que um jurista, mas sem dúvida um grande defensor das leis tradicionais.
Cícero nasceu em 106 a.C. na cidade de Arpino. Como sua família pertencia à ordem equestre, para poder
ascender à ordem senatorial, além de conquistar o censo necessário, ele e seu irmão, Quinto, tiveram
acesso a uma cuidadosa educação, da qual fazia parte o estudo das leis e da jurisprudência. Foi Questor
na Sicília em 76 a.C. e Edil Curul em 70 a.C. Chegou ao Consulado, mas foi exilado em 58 a.C. Anistiado
por Júlio César, Cícero voltou a Roma e durante a Ditadura de César, ele produziu várias de suas obras.
Foi morto pelos soldados de Marco Antônio em 43 a.C., ao defender os direitos de Otávio Augusto após o
assassinato de César.
A partir de uma influência das obras de Platão, Cícero criou sua obra Da República, entre os anos de 54 e
52 a.C., na qual ele defendeu o modo republicano adotado em Roma, onde os aristocratas mais educados,
ricos detinham todo o poder político. Como um complemento a esta obra, Cícero escreveu entre 51 e 43
a.C. a obra De Legibus (cuja tradução pode ser Das Leis ou Sobre as Leis), na qual ele apresentou sua
noção de lei e justificativas para algumas leis existentes e praticadas em Roma. Infelizmente, dos cinco
livros compostos e publicados após a sua morte, somente os três primeiros chegaram até nós.
Diferindo do idealismo platônico, que criou leis ideais para uma República imaginária, Cícero propôs para
a sua República real leis práticas, positivas e de inspiração racional. Quase todas as leis citadas em seu
livro já eram conhecidas e postas em prática na Roma Republicana. Portanto, Cícero não propôs uma nova
legislação, mas sim defendeu abertamente o que já existia, justificando sua importância e necessidade
frente ao contexto econômico, social e político de sua época.
Na obra, composta em forma de diálogo, Cícero recebe, em sua propriedade em Arpino, seu irmão Quinto
e seu amigo Ático, e aproveita um só dia de passeio pelos campos e jardins para discutir com eles sua
noção de lei e as leis que ele acreditava mais importantes para manterem a religião e o poder dos
magistrados em Roma, frente às mudanças que tinham sido impostas pela conquista de tantos povos e
territórios novos.
É necessário lembrar que Cícero compôs De Legibus no momento em que Roma sentia o impacto de se
transformar de uma cidade-Estado em uma Cosmopólis, ou seja, de uma pequena cidade independente
para o centro de um extenso Império territorial, que tinha que ser gerenciado para ser mantido. Com o
aparecimento do ius gentium, ou seja, de leis para controlarem os conflitos e manterem a ordem entre os

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cidadãos romanos e os peregrinos, os estrangeiros, as leis romanas tradicionais se viram afetadas pela
necessidade de serem adaptadas aos novos tempos e Cícero queria garantir a permanência de algumas
delas, para que a República como forma de governo também pudesse ser mantida.
A lei romana para Cícero era natural e comum a todos os homens, por isso deveria ser levada a todos,
através da constituição. Neste aspecto, para Cícero, a lei não era uma simples convenção dos homens,
mas uma exigência racional de se seguir o modelo da natureza. Antes de conhecerem as leis, os homens
tinham que conhecer a eles mesmos e a sua relação com o meio natural que os cercava, no qual as
divindades se manifestavam e indicavam os melhores caminhos para as ações humanas. Para Cícero, era
a natureza que proporcionava aos homens a faculdade de distinguir o bem do mal, o honesto do desonesto.
Agir bem, honestamente e com justiça era agir de acordo com a natureza, de acordo com a vontade das
divindades. O homem, pelo conhecimento de si mesmo, alcançaria a visão das divindades, e os legisladores
deveriam colocar esta visão em prática através da lei. Com isso, produzir-se-ia leis justas que transformaria
o mundo numa grande comunidade onde deveria reinar a fraternidade. Tratava-se de uma concepção que
passa a defender a lei como valor universal, não apenas para os cidadãos romanos, mais procurava
justificar a conquista de novos territórios e, por intermédio da lei levar a civilização aos povos conquistados.
Para Cícero, o homem, como único animal cauto, sagaz, complexo, aguçado, dotado de memória, de razão
e de prudência, teria recebido do deus supremo (Júpiter) uma existência ímpar, durante a qual ele tinha
acesso a uma razão e um pensamento que o levavam à sabedoria. E a sabedoria maior era conseguir
distinguir o mal do bem e fazer leis para que esta distinção permanecesse sempre presente. O homem
buscava a virtude, pois a virtude era, para Cícero, a Natureza realizada no homem. Não haveria nenhum
homem incapaz de alcançar a virtude, já que esta era conforme à natureza. Era dever dos homens perceber
que haviam nascido para a justiça e que o Direito não se baseava em convenções, mas sim na Natureza.
Deste modo, os homens que receberam a razão da Natureza também receberam a Lei, que nada mais
seria que a justa razão no campo das concessões e das proibições. Seguindo esta linha de pensamento
que vincula a Natureza, a razão e a lei, Cícero concluiu que o estabelecimento da lei gerava um progresso
moral que resultaria na ciência do bem-viver. Por isso, a lei se constituía num elemento fundamental para
se consolidar os Estados, estabilizar as cidades, sanar os problemas dos povos
Durante a segunda metade do século I a.C., marcada pelas guerras civis e pela ditadura de Júlio César,
Cícero patrocinou um retorno ao governo republicano tradicional. Contudo, a sua carreira como estadista
foi marcada por inconsistências e uma tendência para mudar a sua posição em resposta a mudanças no
clima político. A sua indecisão pode ser atribuída à sua personalidade sensível e impressionável: era
propenso a reagir de modo exagerado sempre que havia mudanças políticas e privadas. "Oxalá que ele
pudesse aguentar a prosperidade com mais autocontrole e a adversidade com mais firmeza!" escreveu C.
Asínio Pólio, um estadista e historiador Romano seu contemporâneo
Cícero foi declarado um pagão justo pela Igreja católica, e por essa razão muitos dos seus trabalhos foram
preservados. Santo Agostinho e outros citavam os seus trabalhos "De re publica" (Da República) e "De
Legibus" (Das Leis), devido a essas citações é que se podem recriar diversos de seus trabalhos usando os
fragmentos que restam. Cícero também articulou um conceito abstrato de direitos, baseado em lei antiga e
costume. Dos livros de Cícero, seis sobre retórica sobreviveram, assim como partes de oito livros sobre
filosofia. Dos seus discursos, oitenta e oito foram registrados, mas apenas cinquenta e oito sobreviveram.
Seu livro De Natura Deorum, que discute teologia, foi considerado, por Voltaire, possivelmente o melhor
livro de toda a Antiguidade
Em conclusão, no que respeita ao estudo da política, os escritores romanos pouco acrescentaram ao que
se encontra na obra de Aristóteles. Sua importância advém do fato de que lhes coube transmitir à cultura
ocidental a inovação introduzida na Grécia na consideração do tema, que consiste em tê-la tornado objeto
de meditação, destinada a responder à pergunta acerca da melhor forma de governo.

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