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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

MARCOS VINÍCIUS SANTOS DE CARVALHO TERRA

ANÁLISE DO DISCURSO NA PERSPECTIVA DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO:


DIALOGICIDADE EPISTEMOLÓGICA DA ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO
COM FOUCAULT, PÊCHEUX E A SOCIOLINGUÍSTICA

Marília
2019
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

MARCOS VINÍCIUS SANTOS DE CARVALHO TERRA

ANÁLISE DO DISCURSO NA PERSPECTIVA DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO:


DIALOGICIDADE EPISTEMOLÓGICA DA ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO
COM FOUCAULT, PÊCHEUX E A SOCIOLINGUÍSTICA

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Ciência da
Informação da Faculdade de Filosofia e
Ciências da Universidade Estadual
Paulista – UNESP – Câmpus Marília,
como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Ciência da
Informação.

Orientadora: Profa. Dra. Deise Maria Antonio Sabbag

Área de concentração: Informação, Tecnologia e Conhecimento

Linha de Pesquisa: Produção e Organização da Informação

Marília
2019
Terra, Marcos Vinícius Santos de Carvalho
T323a
Análise do Discurso na perspectiva da Ciência da Informação : dialogicidade
epistemológica da Organização do Conhecimento com Foucault, Pêcheux e a
Sociolinguística / Marcos Vinícius Santos de Carvalho Terra. -- Marília, 2019
128 p. : il.

Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade


de Filosofia e Ciências, Marília
Orientadora: Deise Maria Antonio Sabbag

1. Análise do Discurso Francesa. 2. Ciência da Informação. 3. Organização


da Informação e do Conhecimento. 4. Epistemologia. 5. Interdisciplinaridade. I.
Título.

Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Faculdade de Filosofia e


Ciências, Marília. Dados fornecidos pelo autor(a).

Essa ficha não pode ser modificada.


MARCOS VINÍCIUS SANTOS DE CARVALHO TERRA

ANÁLISE DO DISCURSO NA PERSPECTIVA DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO:


DIALOGICIDADE EPISTEMOLÓGICA DA ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO
COM FOUCAULT, PÊCHEUX E A SOCIOLINGUÍSTICA

BANCA EXAMINADORA:

Profa. Dra. Deise Maria Antonio Sabbag


(Orientadora)
Universidade de São Paulo (USP) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto-SP
Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Faculdade de Filosofia e Ciências de
Marília-SP

Prof. Dr. Carlos Cândido de Almeida


(Membro titular)
Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Faculdade de Filosofia e Ciências
Marília-SP

Profa. Dra. Solange Puntel Mostafa


(Membro titular)
Universidade de São Paulo (USP) - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto-SP

Marília, 25 de fevereiro de 2019.


Aos meus queridos pais, Valdir de Carvalho
Terra (in memoriam) e Cármen Sílvia Santos
Cezário.
AGRADECIMENTOS

À Profa. Dra Deise Maria Antonio Sabbag, pela orientação repleta de afetos e por
apontar caminhos.

Ao Prof. Carlos Cândido de Almeida, pelo acolhimento na Universidade Estadual


Paulista e pelas inúmeras contribuições teóricas nesse percurso.

À Profa. Dra. Solange Puntel Mostafa, pelas leituras cuidadosas, cheias de potência.

Ao Rev. Daniel Fernando Santos Inácio e sua família, pelo acolhimento na cidade de
Marília e pelos conselhos precisos.

Ao Arquiteto do Universo, pela presença nessa travessia...


“O diálogo fora difícil, com alçapões e portas falsas
surgindo a cada passo, o mais pequeno deslize
poderia tê-lo arrastado a uma confissão completa se
não fosse estar o seu espírito atento aos múltiplos
sentidos das palavras que cautelosamente ia
pronunciando, sobretudo aquelas que parecem ter um
sentido só, com elas é que é preciso mais cuidado.
Ao contrário do que em geral se crê, sentido e
significado nunca foram a mesma coisa, o significado
fica-se logo por aí, é directo, literal, explícito, fechado
em si mesmo, unívoco, por assim dizer, ao passo que
o sentido não é capaz de permanecer quieto, fervilha
de sentidos segundos, terceiros e quartos, de
direcções irradiantes que se vão dividindo e
subdividindo em ramos e ramilhos, até se perderem
de vista, o sentido de cada palavra parece-se com
uma estrela quando se põe a projectar marés vivas
pelo espaço fora, ventos cósmicos, perturbações
magnéticas, aflições”
(SARAMAGO).
RESUMO

A realização de um intercâmbio de saberes e de conhecimentos é possível por meio


da interdisciplinaridade. Dessa forma, as áreas de interesse precisam de identidade,
a fim de que, mediante visões diferentes, ocorra a compreensão de um objeto
comum. Existe uma complexidade no campo informacional que pede uma rede de
cooperação científica. Sendo assim, são necessários enriquecimentos teóricos e
conceituais. Nesse horizonte, os estudos sobre linguagem e discurso devem ser
reconhecidos como indispensáveis na Ciência da Informação. Os trabalhos ligados
às vertentes francesas de Análise do Discurso, cuja fundamentação teórica está
alicerçada nos estudos de Michel Pêcheux, de Michel Foucault e da Sociolinguística,
auxiliam no entendimento de como as relações de poder são simbolizadas e
sustentadas no campo informacional. Destarte, esse trabalho investiga como os
estudos franceses sobre discurso estabelecem suas interações epistemológicas com
a Organização da Informação e do Conhecimento no contexto brasileiro. Expõe,
ademais, como a Teoria do Discurso colabora na interpretação dos processos
linguísticos, ideológicos e políticos que se manifestam nos modos de ordenar,
representar e disseminar a informação e o conhecimento. Desse modo, as formas
de organizar a informação não são neutras, pois estão inseridas em uma dimensão
ideológica. Elas são dependentes das condições de produção e dos anseios
interpretativos dos sujeitos envolvidos nos processos informacionais. As relações de
poder, portanto, devem ser consideradas nas pesquisas que tratam da Organização
da Informação e do Conhecimento, a qual é dependente dos sujeitos que com ela se
relacionam. Em torno da informação, há conflitos, interesses econômicos,
desigualdades, embates políticos. Por meio de pesquisa bibliográfica, ligada às
interações interdisciplinares entre da Análise do Discurso Francesa na Ciência da
Informação no Brasil, foi feito um levantamento dos principais trabalhos sobre o
mote ao longo dos anos, a fim de se ter uma compreensão das relações históricas
entre as duas áreas. Assim, os aspectos epistemológicos que permeiam a Teoria do
Discurso e o campo informacional revelam como a informação e o conhecimento
estão inseridos em embates políticos. Logo, o percurso teórico realizado até aqui
revela que a Análise do Discurso auxilia na compreensão das disputas de poder, das
relações de força e dos fenômenos ideológicos presentes na Organização da
Informação e do Conhecimento.
Palavras-Chave: Análise do Discurso Francesa; Ciência da Informação,
Organização da Informação e do Conhecimento; Epistemologia.
ABSTRACT

The realization of an exchange of knowledge and wisdom is possible through


interdisciplinarity. In this way, the areas of interest need identity, so that, through
different visions, the understanding of a common object occurs. There is a complexity
in the information field that calls for a network of scientific cooperation. Therefore,
theoretical and conceptual enrichment is necessary. Within this horizon, studies on
language and discourse must be recognized as indispensable in Information
Science. The works related to the French aspects of Discourse Analysis, whose
theoretical foundation is based on the studies of Michel Pêcheux, Michel Foucault
and Sociolinguistics, help in the understanding of how the relations of power are
symbolized and sustained in the informational field. Thus, this work investigates how
the French studies on discourse establish their epistemological interactions with the
Organization of Information and Knowledge in the Brazilian context. It also shows
how Discourse Theory contributes to the interpretation of the linguistic, ideological
and political processes that are manifested in the ways of ordering, representing and
disseminating information and knowledge. In this way, the ways of organizing
information are not neutral, since they are inserted in an ideological dimension. They
are dependent on the conditions of production and the interpretative longings of the
subjects involved in the informational processes. Power relations, therefore, must be
considered in research that deals with the Organization of Information and
Knowledge, which is dependent on the subjects that relate to it. Around the
information, there are conflicts, economic interests, inequalities, political conflicts.
Through a bibliographical research, linked to the interdisciplinary interactions
between the French Discourse Analysis in Information Science in Brazil, a survey
was made of the main works on the mote over the years, in order to have an
understanding of the historical relations between the areas. Thus the epistemological
aspects that permeate Discourse Theory and the informational field reveal how
information and knowledge are embedded in political clashes. Therefore, the
theoretical course carried out so far reveals that the Discourse Analysis helps to
understand the power disputes, the power relations and the ideological phenomena
present in the Organization of Information and Knowledge.
Keywords: French Discourse Analysis; Information Science, Information and
Knowledge Organization; Epistemology.
LISTA DE FIGURAS E QUADROS

Figura 1 – Total de trabalhos analisados...................................................................17

Quadro 1 - Pesquisas com apenas uma vertente e também pesquisas que


relacionam as vertentes de Análise do Discurso Francófona....................................17

Quadro 2 - Pesquisas com apenas uma vertente de Análise do Discurso


Francófona.................................................................................................................18

Figura 2 - Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD)..................19

Figura 3 - Percurso metodológico.............................................................................20

Quadro 3 - Momentos de produção do conhecimento segundo a perspectiva da


Epistemologia Crítica ….............................................................................................23

Quadro 4 - Pesquisas brasileiras sobre aspectos interdisciplinares entre as linhas


francesas de Análise do Discurso e a Organização da Informação e do
Conhecimento............................................................................................................65

Quadro 5 – Categorização temática das dissertações e teses que apresentam


relações interdisciplinares entre o campo informacional e as vertentes francófonas
de Análise do
Discurso......................................................................................................................70

Quadro 6 – Contribuições teóricas da Análise do Discurso para o campo


informacional............................................................................................................109
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 11
1.1 OBJETIVOS ................................................................................................................. 14
1.1.1 Objetivo Geral....................................................................................................... 14
1.1.2 Objetivos Específicos .......................................................................................... 14
1.2 Problema ...................................................................................................................... 15
1.3 Justificativa ................................................................................................................... 15
1.4 Percurso Metodológico ............................................................................................... 16
1.5 Epistemologia Crítica .................................................................................................. 21
1.6 Apresentação dos capítulos ...................................................................................... 25
2 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO E DO
CONHECIMENTO ................................................................................................................. 26
3 ANÁLISE DO DISCURSO FRANCESA: UM CAMPO HETEROGÊNEO ................. 34
3.1 A vertente pecheuxtiana de Análise do Discurso .................................................. 35
3.2 A vertente sociolinguística de Análise do Discurso ............................................... 38
3.3 A vertente foucaultiana de Análise do Discurso..................................................... 40
3.4 Aproximações e distanciamentos entre as vertentes francesas de Análise do
Discurso............................................................................................................................... 42
3.5 O Sujeito do Discurso ................................................................................................. 43
4 A ANÁLISE DO DISCURSO FRANCESA NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO :
INTERAÇÕES INTERDISCIPLINARES NO CONTEXTO BRASILEIRO ..................... 53
4.1 A vertente francesa de Análise Documental no contexto brasileiro em sua
relação com a Análise do Discurso................................................................................. 58
4.2 Análise do Discurso na Ciência da Informação e na Organização da Informação e do
Conhecimento: estudos das dissertações e teses brasileiras .............................................. 64
4.2.1 Estudos sobre a Epistemologia e a Historicidade da Ciência da Informação
.......................................................................................................................................... 71
4.2.2 Estudos Bibliométricos ........................................................................................ 77
4.2.3 Estudos Arquivísticos .......................................................................................... 81
4.2.4 Estudos sobre a leitura dos profissionais da informação .............................. 88
4.2.5 Estudos sobre Organização da Informação e do Conhecimento ................ 94
4.2.6 Estudos Metodológicos ..................................................................................... 100
4.2.7 Estudos sobre Representação da Informação e do Conhecimento .......... 103
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 116
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 119
11

1 INTRODUÇÃO

O trabalho “Análise do Discurso na perspectiva da Ciência da Informação:


dialogicidade epistemológica da Organização do Conhecimento com Foucault,
Pêcheux e a Sociolinguística” está inserido na área de concentração Informação,
Tecnologia e Conhecimento do Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação da Unesp/Marília, na linha de pesquisa Produção e Organização da
Informação.
O interesse em estudar as articulações e as relações dialógicas entre Análise
do Discurso e Organização do Conhecimento nasceu da disposição para pesquisar
aspectos da linguagem e das relações de poder na Ciência da Informação. O
empenho em trabalhar com a linguagem vem de uma formação anterior realizada no
curso de Letras, na Associação Faculdade de Ribeirão Preto, concluída no ano de
2012. Na oportunidade, foi realizada uma pesquisa de conclusão de curso, na área
de Literatura Brasileira sob a orientação do Prof. Dr. Alexandre de Melo Andrade.
Em 2013, ingressando no curso de Ciências da Informação e da
Documentação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, o
interesse pelos estudos no campo da linguagem permaneceu e encontrou abrigo
profícuo nas interações entre a Análise do Discurso pecheuxtiana e o campo
informacional. No período de 2013 a 2016, trabalhos foram desenvolvidos junto ao
E-l@dis (Laboratório Discursivo) sobre as questões informacionais e linguísticas da
Organização das Nações Unidas (ONU), que culminaram no trabalho de conclusão
de curso “O papel da Organização das Nações Unidas na Sociedade da Informação:
uma abordagem discursiva”, sob orientação da Profª. Drª. Lucília Maria Abrahão e
Sousa.
Com o intuito de dar continuidade aos estudos discursivos na Ciência da
Informação, a presente pesquisa tem como proposta investigar as interações
epistemológicas entre a Análise do Discurso Francesa e a Ciência da Informação no
Brasil, sobretudo no que se refere à Organização da Informação e do Conhecimento.
A Análise do Discurso surge na França na década de 1960. Entres os mais
influentes nomes do período, estão Michel Pêcheux e Michel Foucault. Salienta-se
que os teóricos desse contexto foram segmentados em diferentes grupos de
esquerda, conforme o posicionamento político de cada um. Outro fator determinante
12

para a segmentação dos teóricos foram as posições tomadas em torno da


Linguística. Sendo assim, os estudos discursivos têm diferentes desdobramentos.
Nesse horizonte, salienta-se que os estudos franceses sobre discurso são
caracterizados pela pluralidade de trabalhos.
As diferentes perspectivas discursivas, presentes nas pesquisas sobre
informação e conhecimento, revelam que as filiações teóricas podem produzir
diferentes sentidos sobre o posicionamento político dos agentes e também das
instituições de pesquisas. Desse modo, os trabalhos científicos interdisciplinares
entre Análise do Discurso Francófona e a Organização da Informação e do
Conhecimento possuem um viés político que deve ser considerado.
Destarte, os gestos de leituras referentes à presença das linhas francesas de
Análise do Discurso na Organização da Informação e do Conhecimento possibilitam
reflexões sobre as diferentes formas de envolvimento epistemológico entre os dois
campos do saber ao longo dos anos. Tais reflexões ajudam a pensar a teoria, a fim
de encontrar caminhos para um amadurecimento das interações científicas.
Enfatiza-se que não faz parte do objetivo deste trabalho investigar os fundamentos
da Análise do Discurso Francófona e da Ciência da Informação, mas sim refletir
sobre a dialogicidade entre as duas áreas no contexto brasileiro.
É relevante pontuar também que a Ciência da Informação se apresenta como
um campo teórico capaz de dialogar com outras áreas do conhecimento, visto que
seu objeto de estudo, a informação, está inserido em fenômenos complexos. Por
conseguinte, os estudos informacionais atraem pesquisadores com diferentes
características e enfoques. Nessas interações interdisciplinares, busca-se, portanto,
a investigação de questões tecnológicas, sociais e linguísticas em torno da
informação.
Diante desse cenário, torna-se oportuno conhecer as diferentes vertentes
francesas de Análise do Discurso inseridas na Ciência da Informação no Brasil, as
quais colaboram na interpretação dos processos ideológicos, linguísticos e políticos
que se manifestam nos modos de ordenar e representar a informação e o
conhecimento.
Pierre Bourdieu (2004a) assinala que o campo científico é o universo, no qual
estão inseridos agentes e instituições que produzem, reproduzem e difundem a
ciência. Trata-se de um campo de forças, de um campo de lutas, de um mundo
social que comporta relações de dominação. Os pontos de vista, as intervenções
13

científicas, os lugares de publicação, os temas escolhidos, os objetos de pesquisas


são comandados pela estrutura das relações objetivas entre os diferentes agentes.
Logo, é a posição que se ocupa nessa estrutura que determina o que pode e o que
não pode ser feito.
Falar de epistemologia, na visão de Japiassu (1977), é se engajar num
espaço polêmico e de conflitos. Embora pareça um termo antigo, surgiu a partir do
século XIX no vocabulário filosófico. Seu significado etimológico é discurso (logos)
sobre a ciência (episteme). Trata-se de uma disciplina cuja construção é lenta e
recente. Entende-se epistemologia, no sentido amplo do termo, como o estudo
metódico e também reflexivo do saber, no qual sua organização, sua formação, seu
desenvolvimento, seu funcionamento e seus produtos intelectuais são considerados.
É importante considerar que o conhecimento científico está inserido em
determinados contextos socioculturais. É, por conseguinte, tributário de fatores
ligados à religião, à política, à ideologia, à filosofia e à economia. A ciência tem seus
objetivos, seus agentes e seu modo de funcionamento condicionados a uma
sociedade determinada. Portanto, o conhecimento científico é também uma forma de
poder (JAPIASSU, 1977).
Não se pode esquecer que os conflitos intelectuais, conforme aponta
Bourdieu (2004a), são também conflitos de poder. Semelhantemente ao mundo
econômico, o mundo científico conhece relações de força, fenômenos de
concentração de capital e de poder, até mesmo de monopólio, além de relações
sociais de dominação, as quais implicam uma apropriação dos meios de produção e
de reprodução, ademais conhece lutas que refletem o controle dos meios de
produção e reprodução específicos.
Dessa forma, é possível, por meio da interdisciplinaridade, a realização de um
intercâmbio de saberes. As disciplinas envolvidas nesse processo possuem
identidades próprias e perspectivas diferentes, no entanto, diante da complexidade
no campo informacional, emerge a necessidade de colaboração científica para a
compreensão de um objeto comum. Em um horizonte cheio de desafios, busca-se a
compreensão dos elos entre a Análise do Discurso Francesa e o campo
informacional, isto é, o que existe no entremeio das teorias, como elas se
entrecruzam, como funcionam os seus movimentos interdisciplinares.

A palavra complexidade, de acordo com Morin (2015) está vinculada ao


14

incômodo, à incapacidade para definir de modo simples, para nomear de modo


claro, para ordenar ideias. O complexo não pode ser condensado numa palavra-
chave. Não pode, além disso, ser limitado a uma lei ou a uma ideia simples. Ele
exige competências, a fim de lidar, dialogar e negociar com o real. Busca, ademais,
articulações entre disciplinas que se encontram desmembradas devido ao
pensamento disjuntivo. Na complexidade, as verdades profundas, antagônicas são
complementares, sem deixarem de ser antagônicas. Assim, o pensamento
multidimensional é almejado.

1.1 OBJETIVOS

Para que a meta desta investigação fosse atingida, foram definidos os


seguintes objetivos:

1.1.1 Objetivo Geral

- Analisar, a partir de um olhar diacrônico, as relações epistemológicas entre as


linhas francesas de Análise do Discurso, Ciência da Informação e
Organização do Conhecimento no contexto brasileiro.

1.1.2 Objetivos Específicos

- Identificar as diferentes correntes de Análise do Discurso Francesa presentes


Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento.

- Investigar como a Ciência da Informação e a Organização do Conhecimento


no Brasil estabelecem sua dinâmica interdisciplinar com as correntes
francesas de Análise do Discurso.

- Construir uma crítica epistemológica acerca dos conceitos e dos avanços


conceituais oriundos dessas interações interdisciplinares.

- Mostrar as principais contribuições epistemológicas das vertentes francesas


de Análise do Discurso para o campo informacional no contexto brasileiro.
15

1.2 Problema

Os estudos interdisciplinares auxiliam na elucidação de fenômenos


complexos. Dessa forma, é importante uma reflexão sobre os avanços conceituais
que emergiram a partir da dialogicidade entre as vertentes francesas de Análise do
Discurso, a Ciência da Informação e a Organização do Conhecimento.
Por isso, é relevante identificar as pesquisas e os avanços teóricos que
surgiram da relação interdisciplinar entre essas áreas do conhecimento. Além disso,
se mostra pertinente uma análise crítica nesse espaço polêmico, no qual afloram
discussões que movimentam a epistemologia do campo informacional.
Acentua-se a necessidade de uma pesquisa que utilize a Análise do Discurso
com uma ênfase conceitual e não apenas quantitativa. É sabido que, no decorrer
dos anos, diferentes trabalhos foram realizados, a partir de cooperações científicas
entre Análise do Discurso e Ciência da Informação. Diante dessa realidade, a
seguinte questão norteará esse trabalho científico: como funciona a dinâmica
epistemológica entre Análise do Discurso Francófona, Ciência da Informação e
Organização do Conhecimento no Brasil?

1.3 Justificativa

Em um panorama repleto de instigações, os estudos francófonos sobre


discurso trouxeram inúmeras contribuições às pesquisas do campo informacional no
Brasil. Assim, há um lapso teórico que precisa ser resgatado nas interações entre a
Ciência da Informação, a Organização da Informação e do Conhecimento e as
vertentes francesas de Análise do Discurso, a saber, é mister resgatar algumas das
principais contribuições teóricas dessas relações interdisciplinares. Desse modo,
torna- se relevante recuperar trabalhos realizados sobre o assunto. Além do mais, é
necessário identificar os pesquisadores e as instituições que desenvolveram
pesquisas ligadas a essa temática, a fim de se ter uma visão panorâmica daquilo
que foi produzido no decorrer dos anos.
Mesmo que os desafios teóricos sejam muitos, o resgate desse lapso
auxiliará na compreensão dos processos linguísticos, ideológicos, sociais e políticos
16

inseridos nos processos informacionais em sua dialogicidade com a Análise do


Discurso. Existem vários percursos que poderão ser trilhados, os quais trarão
ganhos à produção científica da Ciência da Informação e da Organização da
Informação e do Conhecimento.
Ao se estudar a informação e seus complexos processos, é imprescindível se
mover para outros campos do conhecimento científico. Isto posto, emerge a
necessidade de edificar áreas interdisciplinares. Assim sendo, originárias do pós-
Guerra, Ciência da Informação e Análise do Discurso podem colaborar no
enfrentamento das complicações estabelecidas pela fragmentação do
conhecimento.

1.4 Percurso Metodológico

Para que os objetivos fossem atingidos, a literatura existente sobre o assunto


foi examinada. O levantamento bibliográfico foi decisivo, para que os estudos sobre
o tema proposto fossem identificados. Assim, o material encontrado foi organizado
conforme o autor, a instituição e o ano de publicação.
Por meio de pesquisa bibliográfica, ligada à história da Análise do Discurso
Francesa na Ciência da Informação, foi feito uma sondagem das dissertações e das
teses produzidas sobre o mote ao longo dos anos, a fim de se ter uma compreensão
das relações históricas entre as duas áreas. O conhecimento das diversas posições
sobre os modos de funcionamento das teorias do discurso numa relação
interdisciplinar com o campo informacional exige um estudo histórico, no qual os
trabalhos já feitos sejam lembrados com suas contribuições teóricas.
A fim de cumprir o objetivo de identificar as diferentes linhas de Análise do
Discurso Francesa na Organização da Informação e do Conhecimento no contexto
brasileiro, a partir de uma perspectiva exploratória e descritiva, foi feito um
levantamento bibliográfico, por meio da localização de teses e dissertações da
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD).
Assim, foram encontrados 22 trabalhos sobre o tema. Desses trabalhos, seis
utilizam apenas a Análise do Discurso pecheuxtiana; nenhuma pesquisa utiliza
apenas a vertente sociolinguística; e nove utilizam somente a vertente foucaultiana;
sete relacionam os trabalhos de Pêcheux e Foucault; e três relacionam os estudos
17

de Pêcheux, de Foucault e da Sociolinguística.

Figura 1 – Total de trabalhos analisados

7 (P.F)

3 6
(P.F.S) (P)
22
0 9
(S) (F)

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Quadro 1 - Pesquisas com apenas uma vertente e também pesquisas que


relacionam as vertentes de Análise do Discurso Francófona

Vertente Dissertação Tese Total

Foucault 6 10 16

Pêcheux 6 7 14

Sociolinguística 1 2 3

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).


18

Quadro 2 - Pesquisas com apenas uma vertente de Análise do Discurso


Francófona

Vertente Dissertação Tese Total

Foucault 6 10 16

Pêcheux 6 7 14

Sociolinguística 1 2 3

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

A busca na base foi feita por meio dos termos "Ciência da Informação" e
(and) "Análise do Discurso" em todos os campos. Realça-se que a tese da
professora Lídia Silva de Freitas e a dissertação de Pedro Aurelio Cerveira Cordeiro
não foram encontradas na biblioteca digital, todavia, visto que se tratam de trabalhos
relevantes para o estudo em questão, discutidos em disciplinas da Pós-Graduação
em Ciência da Informação da UNESP-Marília, entraram nas análises. É importante
pontuar também que a tese de Clarinda Lucas Rodrigues pode ser encontrada na
base pelos termos “Indexação” e (and) “Análise do Discurso” e a tese de Lídia
Alvarenga pelos termos “Análise do Discurso” e (and) “Michel Foucault”.
19

Figura 2 - Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD)

Fonte: BDTD (2018)

Vale ressaltar que o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e


Tecnologia (IBICT) é responsável pela coordenação e pelo desenvolvimento da
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, a qual integra os sistemas de
informação de teses e dissertações das instituições de ensino e pesquisa do Brasil.
O mote dos materiais encontrados está ligado às relações interdisciplinares entre a
Análise do Discurso Francesa e a Ciência da Informação.
Para alcançar o objetivo de investigar como a Ciência da Informação, no
contexto brasileiro, estabelece sua dinâmica interdisciplinar com Análise do Discurso
optou-se pela análise crítica de reflexão epistemológica. A Epistemologia Crítica, por
conseguinte, também foi utilizada para o cumprimento dos objetivos que visam
mostrar as principais contribuições epistemológicas das linhas francesas de Análise
do Discurso para o campo informacional e os avanços conceituais que afloraram
dessa interação. À vista disso, é mister destacar que não se trata de uma análise
20

bibliométrica, mas sim conceitual, com um olhar analítico para as ideias e para os
trabalhos.

Figura 3 - Percurso metodológico

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Destaca-se que as pesquisas selecionadas estão ligadas à presença teórico-


metodológica da Análise do Discurso na Organização da Informação do
Conhecimento. Além disso, também foram selecionados trabalhos cujo conteúdo
está relacionado à interação epistemológica entre os estudos franceses sobre
discurso e a Ciência da Informação.
Enquanto se constrói novos conhecimentos, se faz necessário uma reflexão
sobre conhecimentos desenvolvidos em momentos anteriores. Os estudos clássicos
e também os mais recentes da Análise do Discurso de matriz francesa e da
Organização da Informação e do Conhecimento, portanto, devem ser considerados,
com o objetivo de identificar o ponto de cruzamento entre as disciplinas. Realça-se
que o enfoque deste estudo está o universo dos significados e sentidos.
21

1.5 Epistemologia Crítica

Para Santos (2000, p.21), epistemologia é “disciplina, ou tema, ou perspectiva


de reflexão, cujo estatuto é duvidoso, quer em função do seu objeto, quer em função
do seu lugar específico nos saberes”. Para Japiassu (1979, p.27),

Devemos falar hoje de conhecimento-processo e não mais de


conhecimento-estado. Se nosso conhecimento se apresenta
em devir, só conhecemos realmente quando passamos de um
conhecimento menor a um conhecimento maior. A tarefa da
epistemologia consiste em conhecer este devir e em analisar
todas as etapas de sua estruturação, chegando sempre a um
conhecimento provisório, jamais acabado ou definitivo.

Para Francelin (2005, p. 105), o pensamento epistemológico é polêmico. Há


tipos de epistemologias que se diferenciam por diversos aspectos. Dessa forma, o
modo de abordagem, o contexto do objeto e do observador e as particularidades do
objeto, somadas à interpretação do observador, são os principais fatores que
condicionam os diferentes tipos de epistemologia.
Durante o processo de análise dos dados, foi utilizada a vertente crítica de
reflexão epistemológica. Para isso, foram retomados os estudos feitos por Hilton
Japiassu, Pierre Bourdieu e Boaventura de Sousa Santos. Por conseguinte, nessa
investigação científica, o processo interpretativo do material encontrado, pertinente
ao tema proposto, teve um enfoque crítico, a partir dos autores citados acima.
Na perspectiva de Japiassu (1979), a Epistemologia Crítica tem como objetivo
essencial o questionamento sobre a responsabilidade social dos pesquisadores.
Para o teórico, tal interrogação é uma das questões cruciais da cultura humana. A
vertente de Epistemologia Crítica, de acordo com Almeida (2009), apoiado em
Japiassu, Santos e Bourdieu, sustenta que uma ciência deve ser vista em suas
interações com a sociedade, com o impacto de seus conhecimentos e produtos, com
os sujeitos envolvidos e também com sua história.
Para Faria (2014, p.3), a Epistemologia Crítica é

[...] o estudo científico e filosófico do conhecimento que têm


por objeto o saber científico, técnico, cultural e filosófico de um
conjunto autônomo e crítico de práticas (ações) e saberes
conscientes baseados em instâncias integradas de mediação
(objeto↔sujeito), que sejam: (i) não dogmáticas ou absolutas,
22

mas flexíveis e coletivas, em que todo o objeto do


conhecimento pode ser matéria (princípio), instrumento (meio)
e produto ou forma (fim); (ii) sem conteúdos prévios, mas
construídas através da sistematização das suas relações, do
esclarecimento dos seus vínculos, da avaliação dos seus
resultados e aplicações; (iii) não hierarquizadas, em que o
objeto e o sujeito do conhecimento são mediados e
mediadores, em que a alternância e a polivalência do objeto e
do sujeito no que se refere à mediação é uma regra e não uma
exceção; (iv) baseadas no primado do real concreto sobre o
real pensado, com uma necessária integração dinâmica e
contraditória entre ambos.

Dessa forma, a pesquisa não se desenvolve de modo automático, direto e


simples. Ela apresenta momentos distintos, contudo integrados (FARIA, 2014).
Pando (2018) argumenta que a relação entre o sujeito e o seu objeto se mostra de
uma forma menos ingênua. Assim, a epistemologia apresenta uma possibilidade de
melhor entendimento no que se refere à realidade em que se dá o desenvolvimento
dos processos científicos numa perspectiva mais crítica.
Posto que o conhecimento científico se torna cada vez mais um poder, a
Epistemologia Crítica busca mostrar este poder que constituirá, nas sociedades
industrializadas, a significação real da ciência. Sendo assim, a significação da
ciência deverá ser buscada no poder que o saber confere atualmente,
independentemente das intenções dos pesquisadores (JAPIASSU, 1979, p.143).
Nos dizeres de Japiassu (1979, p.158),

Portanto, o papel da epistemologia crítica consiste em mostrar


que os cientistas precisam estar ativamente conscientes de
todas as implicações de seus produtos intelectuais. Ela se
interroga sobre as "visões do mundo" que estão implícitas na
atividade científica, tentando descobrir nela todos os
pressupostos e condicionamentos possíveis.

Segundo Faria (2014, p.14), existem três fases de produção do


conhecimento, a saber, a pré-sincrética, a sincrética e a sintética. Salienta-se que
não são três momentos sequenciais e lineares, pois se encontram em constante
movimento. A fase pré-sincrética é anterior à apreensão da totalidade cognoscível.
Desse modo, a realidade se mostra em elementos que estão distintos,
desconectados e confusos.
Por sua vez, a fase sincrética possibilita a elaboração da concepção da
totalidade cognoscível do objeto. Logo, os elementos antes espalhados são
23

integrados e associados de modo a permitir uma percepção do objeto, entretanto


ainda não viabiliza sua compreensão em movimento, isto é, a visão de totalidade da
estrutura ainda não é a da totalidade dinâmica do objeto (FARIA, 2014, p.14).
Por seu turno, a fase sintética é a que possibilita a elaboração da síntese do
objeto não apenas em sua totalidade cognoscível, mas também em seu movimento
e em seus paradoxos internos. Portanto, é o momento da apreensão do real
concreto como real pensado (FARIA, 2014, p.14).

Quadro 3 – Momentos de produção do conhecimento segundo a perspectiva


da Epistemologia Crítica

MOMENTO CARACTERIZAÇÃO
Também conhecida como fase pré-sincrética,
neste momento o sujeito não consegue
apreender a realidade em profundidade, visto
que os diversos elementos constitutivos do real
e suas relações aparecem de forma
desorganizada, ininteligível, confusa, disforme e
multifacetada. A aproximação precária pode ser
delineada a partir de duas formas: a) planejada
(ou intencional): é aquela em que o
pesquisador, tendo definido seu objeto de
estudo e seu campo empírico, dirige-se a ele
Momento da aproximação precária com intenção de conhecê-lo cientificamente, ou
seja, o sujeito pesquisador planeja sua relação
com o objeto ao conhecê-lo já como objeto
naquele campo. b) aproximação precária
circunstancial (ou casual): é aquela na qual o
sujeito tem um conhecimento anterior do objeto
e do campo empírico, porém não como objeto
do conhecimento. A definição do objeto e do
campo empírico, provavelmente, decorrerá do
fato do sujeito pesquisador pretender estudar o
que já conhece a partir de sua experiência
social. Em resumo, o real é a base da ciência
para a Epistemologia Crítica e a relação do
sujeito com o real é dialética.
A aproximação deliberadamente construída
corresponde ao momento em que o sujeito
pesquisador, já tendo conhecido seu objeto no
campo empírico, procura apropriar-se de
conceitos, análises e estudos já produzidos para
auxiliá-lo no aprofundamento de sua pesquisa
observando que existem fatos para os quais não
há ainda teoria consistente desenvolvida. Por
outro lado, conhecimento valorizado é aquele
em que o sujeito, tendo refletido sobre o objeto
que investiga e recorrido a teorias disponíveis
na literatura para melhor entendê-lo, volta ao
24

Momento da aproximação deliberadamente objeto, porém já não de maneira confusa e


construída e do conhecimento valorizado convencional. Esta volta já recorre a técnicas de
pesquisa e já há uma problematização
primariamente definida. O conhecimento é
valorizado através de uma percepção
elaborada. Ela é, portanto, aquela na qual o
sujeito pode conceituar, descrever, organizar,
classificar, enfim, pensar sobre o objeto e sobre
sua ação, elaborar seu conhecimento.
Resumidamente, a segunda fase do processo
científico, para a Epistemologia Crítica, é aquela
em que a relação dialética objeto↔sujeito é
intensa e persistente, de maneira que mais e
mais o objeto se revela ao sujeito e este mais e
mais dele se apropria, porém agora como objeto
relativamente elaborado e qualificado.
É um momento em que o conhecimento
produzido a partir do objeto recorre a métodos
científicos e a procedimentos de apreensão e
interpretação do real. Chama-se aqui de
conhecimento cientificamente apropriado,
portanto, aquele em que ocorre uma apreensão
científica do real, de forma que o objeto
elaborado ou apreendido transforma-se em
objeto teórico, em objeto construído segundo as
regras da ciência. Para tanto, há um percurso
que é necessário seguir e ao qual o sujeito deve
submeter sua ação, seu fazer. Este terceiro
momento não é, definitivamente, o da verdade
absoluta e inquestionável, o momento da tese
das teses, do último estágio do saber. É apenas
Momento da apropriação do objeto pelo um momento em que o pesquisador alcança o
pensamento e do conhecimento científico limite de sua compreensão e não o limite
definitivo do entendimento da realidade. A
produção do conhecimento, neste momento,
mostra que as certezas contêm suas próprias
dúvidas, que o que parece definitivo é apenas
provisório e que a totalidade cognoscível é a
superação da fragmentação encontrada no
primeiro momento e da estrutura formal
encontrada no segundo momento e não o saber
absoluto de todo o real. Em resumo, a
superação da tensão entre o conhecimento
precário e o conhecimento renovado e
valorizado, a negação entre o conhecimento
imediatamente sensível e o conhecimento
relativamente elaborado, resulta na apropriação
sintética definitiva (porém jamais final) do objeto
pelo sujeito. O pesquisador alcança o
conhecimento da essência, que lhe permite
elaborar os conceitos e organizar, enfim, a ideia
da totalidade cognoscível do objeto (do objeto
não fragmentado). Nesta fase, o pesquisador
retorna ao real qualitativamente enriquecido.

Fonte: Pando (2018), adaptado de Faria (2014).


25

1.6 Apresentação dos capítulos

No capítulo introdutório é apresentado o fio condutor da pesquisa, isto é, a


dinâmica epistemológica entre a Análise do Discurso Francesa e a Ciência da
Informação no Brasil, especialmente no que concerne à Organização da Informação
e do Conhecimento. Ademais, são apontados os objetivos e os aspectos
metodológicos.
O capítulo 2, com ênfase na interdisciplinaridade, trata de questões
epistemológicas referentes à Ciência da Informação e a Organização da Informação
e do Conhecimento. Assim, são apresentados aspectos sobre a interação do campo
informacional com outras áreas do conhecimento, como por exemplo, a
Biblioteconomia, a Linguística, as Ciências Sociais e a Ciência da Computação.
No capítulo 3, são apresentados os pontos de convergência e de divergência
existentes entre as vertentes de Análise do Discurso de matriz francesa. Entre as
principais correntes teóricas dos estudos francófonos sobre discurso, estão a linha
de Michel Pêcheux, a linha sociolinguística e a linha de Michel Foucault. Também
nesse capítulo, são discutidas questões sobre o sujeito do discurso na Análise do
Discurso Francesa e na Pragmática. Nessa perspectiva, são feitas considerações a
respeito da noção de sujeito em Morris, em Pêcheux e em Foucault.
O conteúdo do capítulo 4 é referente às principais pesquisas e contribuições
teóricas nascidas da relação entre Ciência da Informação, Organização do
Conhecimento e Análise do Discurso, a partir de um olhar crítico, com ênfase na
nas interações epistemológicas no contexto brasileiro.
No último capítulo, são feitas considerações finais sobre a pesquisa e
ponderações sobre as principais contribuições teóricas das correntes francófonas de
Análise do Discurso para a Ciência da Informação. Além disso, são apresentadas
possibilidades de pesquisas futuras.
26

2 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO


E DO CONHECIMENTO

Conforme os fluxos informacionais crescem e se tornam indispensáveis para


as atividades humanas, surge a necessidade de usufruir a informação, nos mais
variados lugares, de modo organizado, seguro e rápido. Dessa forma, caso não haja
uma organização, o excesso de informação pode significar desinformação. As
questões informacionais ganham destaque nos mais variados setores sociais.
Visto que as informações geradas se apresentam cada vez mais em grandes
volumes, torna-se urgente uma ciência desafiada a analisar, a organizar, a
recuperar, a disseminar e a entender os processos informacionais presentes na
sociedade. Além disso, uma área do conhecimento instigada a buscar uma
compreensão do contexto social referentes aos processos informacionais.

As questões informacionais se destacam nos mais variados setores sociais. A


informação é um elemento estratégico e relevante, para que haja desenvolvimento
cultural, social, científico, econômico e tecnológico. Segundo González de Gómez,
(2003, p.32), “a informação constitui-se a partir das formas culturais de
semantização de nossa experiência do mundo e seus desdobramentos em atos de
enunciação, de interpretação, de transmissão e de inscrição”.
Vale ressaltar que embora não seja o objetivo desse trabalho apresentar os
fundamentos do campo informacional, existem múltiplas perspectivas e abordagens
nessa área do conhecimento, as quais foram geradas pelas distinções culturais e
pelas constantes dissidências de grupos profissionais e campos de estudos. Assim
sendo, emergiram diferentes vertentes em Ciência da Informação. Entre elas, estão
as perspectivas estadunidense, europeia e russa (ORTEGA, 2004).
Segundo Ortega (2004, p.10), para quem a Ciência da Informação se
relaciona conceitual e historicamente com a Biblioteconomia e com a Documentação
:
Pode-se inferir que, a construção teórico-prática da Ciência da
Informação pela União Soviética, a partir dos anos 60, contou com
relativa clareza sobre a distinção entre os serviços de informação
científica e os trabalhos de estímulo à leitura, assim como, sobre os
métodos para a efetivação de cada um deles, a despeito do controle
socialista sobre a produção e uso de informação. Já nos Estados
Unidos e países europeus, houve um constante embate entre o
projeto da biblioteca pública e educativa e a Biblioteconomia
especializada (e a Documentação), desde o final do século XIX até a
27

metade do século XX. Apesar de este fenômeno ter ocorrido de


forma peculiar em cada país, nenhum obteve sucesso na
consolidação de uma conformação global da área.

Para Borko (1968), a Ciência da Informação é uma ciência interdisciplinar que


investiga as propriedades e o comportamento da informação, as forças que regem
os fluxos informacionais e os meios de processamento de informações para sua
usabilidade e recuperação. Ela, ademais, tem como meta oferecer um corpus
teórico, o qual está ligado à origem, à coleta, à organização, ao armazenamento, à
recuperação, à interpretação, à transmissão e à utilização da informação.
Conforme Saracevic (1996), a Ciência da Informação é interdisciplinar, além
de ser determinada pelo imperativo tecnológico e também participante ativa da
evolução da Sociedade da Informação. Para o autor, compreender os fenômenos
ligados à informação é uma tarefa hermética. Assim, uma única disciplina não é
suficiente para investigar o comportamento informativo humano e as formas, para
facilitar o acesso ao conhecimento, a partir de ferramentas tecnológicas. Logo,
nesse prisma, o enfoque interdisciplinar torna-se estratégico.
Para Lídia Alvarenga (1996), a Ciência da Informação é um campo
interdisciplinar cujo objeto de pesquisa é a informação. Assim, o estudo do
fenômeno da informação poder ser visto em diferentes aspectos. Além disso, tem
por fundamentação teórica princípios e métodos advindos de outros campos do
conhecimento, tais como, a Biblioteconomia, a Linguística, a Comunicação e a
Informática. Trata-se de um campo de conhecimento que envolve pessoas e
instituições. Portanto, a realidade também é observada sob elementos psicológicos,
sociológicos e administrativos, dentre outros.
A Ciência da Informação, na perspectiva de Mostafa (1996), é uma nova
configuração temática cujo nascimento se encontra no entremeio contraditório das
disciplinas sociais e tecnológicas e no espaço deixado por recortes, os quais foram
instituídos pela Biblioteconomia e outras ciências sociais. Para autora, além disso,
nasce ao lado de outras configurações como a do processamento automático de
dados, a análise de sistemas, a cibernética, a inteligência artificial, a pesquisa
operacional, a psicologia cognitivista, e todas as ciências novas que surgem a partir
de 1950.
Para González de Gómez (2000, p.2), a Ciência da Informação “surge no
horizonte de transformações das sociedades contemporâneas que passaram a
28

considerar o conhecimento, a comunicação, os sistemas de significado e os usos da


linguagem como objetos de pesquisa científica e domínios de intervenção
tecnológica”.
Galvão e Borges (2000) assinalam que a Ciência da Informação é
caracterizada pelo estudo da informação, pelo seu relacionamento com várias
ciências, por estar inserida no contexto da sociedade e da ciência pós-moderna.
Destarte, não se trata de uma ciência clássica, nem de uma ciência básica. É
relevante pontuar que, conforme Santos (2008), a ciência pós-moderna não segue
uma linha unidimensional. Seu estilo, por conseguinte, não é facilmente identificável,
pois adota uma configuração de estilos, a partir do critério e da imaginação do
pesquisador.
Capurro (2003), ao investigar questões que permeiam aspectos
epistemológicos da Ciência da Informação, faz menção a três paradigmas
predominantes nos estudos sobre informação, a saber, o físico, o cognitivo e social.
Na perspectiva do autor, a Biblioteconomia clássica e a computação digital são as
duas raízes da Ciência da Informação. Ressalta-se que, para o pesquisador, o
caráter tecnológico da área está ligado ao impacto da computação nos processos
informacionais.

Freire (2006, p.11), sob o prisma estadunidense, explica que:

[...] o registro oficial da denominação Ciência da Informação data do


início da década de 1960, a partir de eventos promovidos pelo
Georgia Institute of Technology, nos Estados Unidos, do qual
participaram também cientistas, escritores e filósofos estrangeiros e
onde foi discutida a criação de novas tecnologias de informação,
conseqüência natural do crescimento da produção científica e que
redundara na multiplicação dos periódicos científicos. Apesar da
ênfase na educação e treinamento profissionalizantes, a realização
de debates teóricos permitiu que se chegasse a uma primeira
definição do que seria a Ciência da Informação e mostra a percepção
da área pelos americanos.

Gomes (2017) também aponta a tecnologia como um dos aspectos mais


relevantes no surgimento e no desenvolvimento da Ciência da Informação. Em sua
análise histórica, a pesquisadora menciona que, nos Estados Unidos, bibliotecários
especializados e profissionais de outras áreas, como engenheiros, químicos e
especialistas em computação participaram das reuniões do Georgia Tech que trata
da nova área do conhecimento, isto é, a Ciência da Informação. Esses profissionais
29

buscavam, com o apoio das novas tecnologias de informação, soluções para as


dificuldades já enfrentadas pelas bibliotecas técnicas.
Diante do exposto, ver-se-á que a Ciência da Informação é conhecida por ser
uma ciência interdisciplinar, isto é, por estar aberta à cooperação científica e ao
diálogo com outras áreas do saber. Ademais, por ser uma ciência cuja informação é
seu objeto; por ser capaz de dialogar com disciplinas sociais; e por estar inserida no
contexto de novas tecnologias de informação e comunicação.
Embora a Ciência da Informação, na teoria, seja considerada interdisciplinar,
na prática, talvez, isso não ocorra de maneira efetiva e clara. Há muita resistência na
construção de diálogos verdadeiramente interdisciplinares, sobretudo, no que
concerne ao confronto entre a visão mais objetiva da informação, de um lado; e uma
visão mais subjetiva, do outro. É necessário sublinhar que embora existam teóricos,
dentro da Ciência da Informação, com uma visão mais quantitativa e objetiva da
informação, não se pode negligenciar o seu lado subjetivo e social, porquanto uma
perspectiva não exclui a outra.
Desse modo, circulam, no meio acadêmico, inúmeros discursos que procuram
definir a Ciência da Informação um campo do saber que já possui alguns aspectos
epistemológicos já bem estabelecidos e outros em construção. Essa nova área do
conhecimento, portanto, está consolidada como uma ciência voltada para os
processos informacionais, isto é, produção, organização, armazenamento,
disseminação e uso da informação.
Nota-se também que os estudos sobre do campo informacional se relacionam
com culturas. Assim, não se podem negligenciar os processos socioculturais,
linguísticos e semióticos, isto é, de identidade cultural, na Organização da
Informação e do Conhecimento. Nesse campo do saber, conforme Brascher e Café
(2008), informação e conhecimento são conceitos que estão inter-relacionados,
ainda que se ocupem de tarefas distintas. Logo, precisam ser pensados dentro de
um campo maior de articulações.
Para Almeida (2009), a Organização da Informação é um dos núcleos básicos
da Ciência da Informação. Trata-se de uma área de pesquisa, de ensino e de
atuação profissional. É um processo intermediário, ou seja, está entre a etapa de
produção e a etapa de utilização da informação. O sucesso da recuperação depende
da organização feita antecipadamente.
A Organização do Conhecimento, por sua vez, corresponde ao processo de
30

construção de modelos de representações de conhecimento, com a finalidade de


elaborar modelos de mundo via representação do conhecimento de um grupo
(BRASCHER; CAFÉ, 2008). Está vinculada, além disso, a crenças sobre ciência,
suposições ontológicas básicas e à importância de tal conhecimento para a
sociedade, além de considerar que o conhecimento possui objetivos e valores
diferentes em determinadas culturas e instituições. Precisa, ademais, refletir
perspectivas e teorias de maneira ampla (HJØRLAND, 2003).
A elaboração de resumos, catalogação, classificação, indexação,
estabelecimento de elos, descrição de documentos e seus atributos, características
e objetivos fazem parte da Organização da Informação. A Organização do
Conhecimento, por sua vez, objetiva a estrutura conceitual e a construção de
modelos de mundo (BRASCHER; CAFÉ, 2008). A Organização da Informação e do
Conhecimento envolve, por conseguinte, a descrição física de objetos informacionais
e a criação de conceitos.
Para Birger Hjørland (2008), a Organização do Conhecimento envolve
atividades ligadas à descrição, à indexação e à classificação de documentos, que
podem ser realizadas em bibliotecas e banco de dado e arquivos, por exemplo. O
pesquisador pondera que essas atividades podem ser feitas por diferentes
profissionais da informação, a saber, bibliotecários, arquivistas e outros
especialistas, bem como por algoritmos de computador.
Segundo o teórico, há, na Organização do Conhecimento, diferentes
perspectivas históricas e teóricas que se relacionam com diferentes visões de
conhecimento, cognição, linguagem e organização social. Sendo assim, os sistemas
de organização são inclinados para alguma posição filosófica. O conhecimento não
pode ser organizado por uma plataforma neutra (HJØRLAND,2008).
Para Sales (2015), a relação entre a Organização do Conhecimento e a
Ciência da Informação é um tema que apresenta diferentes perspectivas na
literatura da área. Sendo assim, não há um consenso sobre o assunto. Existe uma
tradição que insere a Organização do Conhecimento como parte integrante da
Ciência da Informação. Por outro lado, há estudos que preferem tratá-la como uma
área separada da Ciência da Informação.
No cenário brasileiro, o autor defende que, quanto a sua natureza, a
Organização do Conhecimento é um território científico com autonomia, ainda que
esteja em constante diálogo com o campo informacional. Desse modo, se apresenta
31

como um espaço emergente com seus próprios contornos epistemológicos (SALES,


20015). Em outros dizeres, a Organização do Conhecimento é autônoma, mas com
fortes interações com a Ciência da Informação.
Para Martins e Moraes (2015, p.6), “entre os agentes sociais que definem a
organização e representação do conhecimento, a linguagem encontra-se como
fenômeno multiforme, interdisciplinar e objeto indispensável para estudos em ORC”.
Em um primeiro momento, segundo os autores, a Biblioteconomia e a
Documentação sistematizaram os processos de classificação e impulsionaram a
Organização do Conhecimento. Depois, com o avanço das tecnologias de
informação e comunicação, a Organização e Representação do Conhecimento
tornou-se uma especialidade da Ciência da Informação.
Sendo assim, constitui-se como um campo de estudos teóricos e também
aplicados, que originou uma disciplina institucionalizada. Desse modo, “a
institucionalização da ORC reflete-se também no construto da CI, compreendendo
que a primeira é uma especialidade da segunda e sua constituição ocupa espaço
nuclear como disciplina científica da área” (MARTINS; MORAES, 2015, p.20).
Para Martins e Moraes (2015, p.20), a Organização e Representação do
Conhecimento evoluiu interagindo com outras áreas científicas por ser considerado
um campo de investigação independente, além de ter legitimidade como um
subcampo de uma ciência interdisciplinar. Em fase de consolidação, com avanços
teóricos e distintas influências teóricas, a Organização do Conhecimento cumpre um
papel nuclear na Ciência da Informação (MATOS; GUIMARÃES; GRÁCIO, 2015).
Hjørland (2008) menciona a importância da Linguística para Organização do
Conhecimento, campo cujas atividades de intermediação, em grande parte, estão
baseadas na linguagem. Almeida (2012) também aponta que a Organização da
Informação e Conhecimento no Brasil tem sido historicamente influenciada pela
teoria Linguística. Destarte, vale apontar que Linguística se apresenta como
indispensável no debate epistemológico da Organização do Conhecimento e
também da Análise do Discurso.
Salienta-se que nas teorias da representação e de classificação, presentes na
Ciência da Informação,

[...]se busca a construção de sistemas de representação cada vez


melhores, isto é, tem-se no horizonte a perspectiva de construção de
32

uma linguagem perfeita, sem erros, sem dubiedades, para a


localização dos itens informacionais, opera-se numa lógica da
univocidade de sentido. O que significa, na prática e mais uma vez,
ignorar a presença dos sujeitos, as dimensões semântica e
pragmática da informação (ARAÚJO, 2009, p. 201).

Ao fazer demarcações históricas e considerações teóricas sobre a


Organização do Conhecimento, Gomes (2017) aponta a classificação, em seus
aspectos práticos e teóricos, como uma das atividades mais importantes dentro da
área. O ato de classificar, segunda a pesquisadora, está presente na construção de
taxonomias, ontologias e outros serviços de organização de objetos digitais.
De acordo com Guimarães (2017,p. 90), na Organização do Conhecimento,
elementos foram se transformando ou se ressignificando, como por exemplo, o
enfoque linguístico e terminológico que abre espaço para abordagens mais
discursivas, além da crescente busca pela contextualização e pela dialogicidade, em
interações interdisciplinares e culturais. O autor também ressalta que o campo está
em busca de uma identidade, visto que a questão epistemológica permanece como
uma constante.
Dessa forma, crescem as atividades investigativas e a produção científica no
âmbito da Organização do Conhecimento (GUIMARÃES, 2017). Assim, a
“Organização do Conhecimento constitui um campo científico de configuração
interdisciplinar que vem buscando, ao longo do tempo, consolidar sua identidade
enquanto tal” (GUIMARÃES, 2017, p.92).
Em suma, a interdisciplinaridade é um assunto bem recorrente nas
discussões epistemológicas da Ciência da Informação e da Organização do
Conhecimento. Nesse sentido, verifica-se a existência de correntes teóricas que
apontam a Organização do Conhecimento como uma área independente da Ciência
da Informação, posição questionada por outras vertentes.
Acentua-se que não é interesse desse estudo se aprofundar nessa questão,
contudo é importante fazer esse apontamento. Sendo assim, trata-se de um assunto
importante para o universo epistemológico do campo informacional e que carece de
uma análise mais cuidadosa e aprofundada.
No próximo capítulo, serão destacados aspectos históricos e marcos teóricos
das correntes francófonas de Análise do Discurso que surgiram nos anos 1960.
33

Ademais, serão apresentados questões sobre a noção de sujeito do discurso na


Análise do Discurso Francesa e na Pragmática, teoria que polemiza a noção de
sujeito com as vertentes francesas.
34

3 ANÁLISE DO DISCURSO FRANCESA: UM CAMPO


HETEROGÊNEO

Na França, em meio aos acalorados embates políticos, efeito dos anos 60, os
adeptos da Análise de Discurso foram divididos entre diferentes grupos de esquerda.
As posições políticas e também as polêmicas ligadas ao papel da Linguística nessas
relações aumentaram as tensões, visto que a partir da posição althusseriana, a
linguagem não se apresenta mais como mero acessório do político e da ciência
(ORLANDI, 2003). Nesse cenário, Althusser estava cada vez mais comprometido
com o marxismo-leninismo (DOSSE, 1997).
Diante da necessidade de abandonar o marxismo oficial, dogmático e pós-
stalinista, com um passado dispendioso, Althusser tornou possível complexificar o
marxismo e, além disso, cruzar sua aventura com o das ciências sociais que
estavam em pleno andamento. O teórico ofereceu um grande desafio para uma
geração militante e engajada nos embates anticolonialistas, a saber, ressuscitar um
marxismo científico livre das escórias dos regimes que haviam governado em nome
do próprio marxismo (DOSSE, 1997, p.293-294).
Dessa forma, a Análise do Discurso Francesa tem se desdobrado em
diferentes ordens teóricas e metodológicas. É importante considerar também que há,
no campo científico, relações de força e poder, as quais atravessam as
classificações, diferenças e considerações desses desdobramentos. A ciência é
construída em diferentes lugares com uma força e as particularidades de cada
tradição (ORLANDI, 2003).
Acredita-se que, na década de 50, Harris, linguista estadunidense, foi o
primeiro a empregar o termo “Análise do Discurso”. Dessa forma, é importante frisar
que as correntes francesas da teoria do discurso, com tendência materialista, seriam
o contraponto dos trabalhos anglo-saxônicos sobre discurso que apresentam
interesse por proposições. Enfatiza-se que a linha anglo-saxônica foi influenciada
por correntes interacionistas e apresenta fundamentação linguística-pragmática
(MAINGUENEAU, 1997; ORLANDI, 2003).
Maingueneau (1997, p.15) aponta que:

Para avaliar a especificidade da "escola francesa da análise do


35

discurso", basta confrontá-la ao que, genericamente, é


entendido, nos Estados Unidos, como "análise do discurso":
uma disciplina dominada pelas correntes interacionistas e
etnometodológicas que toma como objeto essencial de estudo
a conversação ordinária.

Logo, trata-se de um campo heterogêneo. Há inúmeras linhas de Análise do


Discurso. Entre elas, encontra-se a Análise de Discurso de base enunciativa, cujo
principal teórico é o francês Dominique Maingueneau; e a Análise Dialógica do
Discurso, vinculada ao Círculo de Bakhtin. É relevante também citar a vertente de
Charaudeau, denominada por alguns como Análise Semiolinguística do Discurso.
Além dessas correntes, existe também a Análise Crítica do Discurso, a Análise
Sociopragmática do Discurso e a Análise Sociointeracional do Discurso (MACHADO
TEIXEIRA, 2014).
Visto que existem inúmeras perspectivas de trabalho, optou-se aqui pelas
vertentes francófonas de Análise do Discurso que afloraram nos anos 1960, período
no qual as pesquisas sobre Análise Documentária também ganharam força no
contexto francês. Essas vertentes são: a linha de Michel Pêcheux; a linha
sociolinguística, representada por Jean Dubois, Jean Baptiste Marcellesi, Bernard
Gardin e Louis Guespin, dentre outros; e a linha de Michel Foucault. Cada uma
apresenta sua especifidade, com pontos de aproximação e com pontos de
afastamento (GADET 2015; NARZETTI, 2010). Esses autores estão vinculados ao
surgimento da Análise do Discurso no contexto francês. Logo, são os principais
representantes de cada vertente.

3.1 A vertente pecheuxtiana de Análise do Discurso

A vertente ligada a Michel Pêcheux está alicerçada em três domínios


disciplinares, a saber, a Linguística, de Saussure; o Materialismo Histórico, de Marx;
e a Psicanálise, de Freud. Pêcheux, em sua teoria, faz várias referências a Lacan e
a Althusser, sobretudo, no que tange ao inconsciente e à ideologia na constituição
do sujeito. Althusser, em sua releitura de Marx; Lacan, em releitura de Freud
(ORLANDI, 2005, 2007).
Graças ao seu artigo de 1964 "Freud e Lacan", Althusser contribuiu para que
a Psicanálise viesse à tona na vida intelectual francesa. A posição de Althusser
tornou possível abrir o Marxismo ao pensamento freudiano e pôr fim à separação
36

imposta pela rejeição stalinista à Psicanálise (DOSSE, 1997).


Com Althusser, o retorno a Freud assumiu a forma de um recurso a Lacan,
pois ambos estavam engajados em um empreendimento semelhante de elucidação
epistemológica e crítica ideológica. Os dois teóricos travavam uma guerra contra o
humanismo e o psicologismo em nome da ciência. Essa semelhança também foi
aparente em sua renovação de um tipo particular de leitura das obras básicas de
Marx e Freud (DOSSE, 1997).
A Análise do Discurso pecheuxtiana, portanto, é herdeira de três áreas do
conhecimento: Linguística, Marxismo e Psicanálise. A Linguística tem um objeto
próprio, isto é, a língua, a qual tem sua ordem própria. Destaca-se que a linguagem
não é transparente. A partir do Marxismo, entende-se que há um real da história. O
homem faz história, contudo esta não lhe é transparente também. A Psicanálise
contribui com deslocamento da noção de homem para a de sujeito, constituído na
relação com o simbólico, a saber, na história (ORLANDI, 2007).
Salienta-se que, nessa perspectiva discursiva, a língua é fato social, todavia
não é uma estrutura fechada em si mesma. É lugar de tensões. Ela está sujeita a
equívocos, isto é, falhas, lapsos, deslizamentos, mal-entendidos e ambiguidades. O
discurso é entendido, na visão de Pêcheux, como efeito de sentido entre locutores
(ORLANDI, 2007).
Um conceito muito importante na teoria do filósofo francês é o de formação
discursiva, descrito por Michel Pêcheux (1995,p. 160) como:

[…] aquilo que, numa formação ideológica dada, isto é, a partir de


uma posição dada numa conjuntura dada, determinada pelo estado
da luta de classes, determina o que pode e deve ser dito (articulado
sob a forma de uma arenga, de um sermão, de um panfleto, de uma
exposição, de um programa, etc.).

O sistema de língua é o mesmo para o materialista e para o idealista, para o


revolucionário e também para o reacionário, para aquele que possui determinado
conhecimento e para aquele que não possui tal conhecimento. No entanto, é
importante sublinhar que embora o sistema de língua seja o mesmo para esses
personagens, os discursos são diferentes. A língua se apresenta como a base
comum de processos discursivos diferenciados, que estão compreendidos nela na
medida em que os processos ideológicos simulam os processos científicos
(PÊCHEUX, 1995).
37

A concepção de ideologia, desenvolvida por Althusser, influencia a teoria de


Pêcheux. Para o teórico, a ideologia interpela os indivíduos como sujeitos. Na
perspectiva althusseriana, “só existe ideologia pelo sujeito e para sujeitos. Entenda-
se: só existe ideologia para sujeitos concretos, e esta destinação da ideologia só é
possível pelo sujeito: estenda-se, pela categoria de sujeito e pelo seu
funcionamento” (ALTHUSSER, 1980, p.93).
Ao retomar o filósofo marxista, Pêcheux (1995) argumenta que tomar as
ideologias como ideias e não como forças materiais e considerar que elas têm sua
origem nos sujeitos, quando na verdade elas constituem os indivíduos em sujeitos, é
um erro de dupla face.
Althusser, em seu livro Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado, discorre
sobre os fundamentos reais de uma teoria não-subjetivista do sujeito, como teoria
das condições ideológicas da reprodução/transformação das relações de produção:
a relação entre inconsciente e ideologia (PÊCHEUX, 1995).
Sob o ponto de vista da teoria de Pêcheux (1995, p.159 -160),

é a ideologia que, através do “hábito” e do “uso”, está designando, ao


mesmo tempo, o que é e o que deve ser, e isso, às vezes, por meio
de “desvios”linguisticamente marcados entre a constatação e a
norma e que funcionam como um dispositivo de “retomada do jogo”.
É a ideologia que fornece as evidências pelas quais todo mundo
sabe o que é um soldado, um operário, um patrão, uma fábrica, uma
greve, etc., evidências que fazem com que uma palavra ou um
enunciado queiram dizer o que realmente dizem e que mascaram,
assim, sob a transparência da linguagem, aquilo que chamaremos o
caráter material do sentido das palavras e dos enunciados.

Não existe, por conseguinte, neutralidade discursiva, mesmo diante do “uso


mais aparentemente cotidiano dos signos” (ORLANDI, 2007, p. 9). Na Análise do
Discurso, aspectos linguísticos, ideológicos e históricos se enlaçam. De acordo com
Orlandi (1994, p. 54), “é no discurso que se pode apreender a relação entre
linguagem e ideologia, tendo a noção de sujeito como mediadora: não há discurso
sem sujeito nem sujeito sem ideologia. O efeito ideológico elementar é o que institui
o sujeito (sempre já-lá)”.
Todo processo discursivo, segundo Pêcheux (1995, p. 92), se inscreve numa
relação ideológica de classes. Por conseguinte, “a relação com a linguagem não é
jamais inocente, não é uma relação com as evidências e poderá se situar face à
articulação do simbólico com o político” (ORLANDI,2007 p.95). A luta de classes é
38

um dos fios que conduzirá a Análise do Discurso vinculada a Pêcheux. O filósofo


francês nunca separou teoria de política. A teoria, para ele, deve intervir na luta
política, pensar o funcionamento e o papel das ideologias e da resistência
(GREGOLIN, 2004).

3.2 A vertente sociolinguística de Análise do Discurso

Surgiram, nos anos sessenta, novas questões em torno do estruturalismo.


Nesse horizonte, a Linguística desempenha um papel de liderança. O projeto
intelectual da sociolinguística é interdisciplinar em seus próprios fundamentos, uma
vez que representa o encontro de duas disciplinas, a saber, a Sociologia e a
Linguística (BOUTET, MAINGUENEAU, 2005).
Na França, as questões em torno do discurso foram centrais nas discussões
teóricas da Sociolinguística. Assim, os estudos sociolinguísticos versam sobre a
questão sociológica do lugar da linguagem nas sociedades e no processo social.
Além disso, tratam da variação linguística e da prática do uso social da linguagem
(ACHARD, 1986).
Dessa forma, a Sociolinguística e a Análise do Discurso desenvolvem-se num
espaço de práticas discursivas e linguísticas investidas pelas ciências da linguagem,
por meio de uma interação constitutiva com outros campos das ciências sociais e
humanas (BOUTET, MAINGUENEAU, 2005).
A vertente sociolinguística de Análise do Discurso, assim sendo, tem a
Linguística como seu solo epistemológico, no entanto uma Linguística ampliada,
renovada, a qual não deixa de fora de suas análises os aspectos sociais, os quais
não foram problematizados pela Linguística estruturalista. Na perspectiva de
Marcellesi e sua equipe, a Análise de Discurso faz parte do domínio particular da
Sociolinguística (NARZETTI, 2010; ORLANDI, 2003). É importante sublinhar que as
análises sociolinguísticas do discurso são marcadas por exames contrastivos e
comparativos que valorizam o discurso político (MARCELLESI, 1971).
A Sociolinguística é caracterizada por um diálogo interdisciplinar entre
Linguística e outras ciências sociais, especialmente, o marxismo (NARZETTI, 2010).
A vertente sociolinguística francesa contribui com o reaparecimento de discussões
39

sobre as relações entre a língua e o social. Para entendimento dessa linha teórica,
torna-se relevante, portanto, considerar os debates em torno do marxismo e da
política (GADET, 2015). Teóricos como Marcelessi e Gardin concederam um amplo
espaço à abordagem marxista da língua (CALVET, 2002).
Faz-se mister, ainda, enfatizar que a Análise do Discurso na França foi
introduzida por Jean Dubois como parte do ensino de Linguística na Universidade de
Nanterre. À medida que se desenvolve, centra-se nos problemas lexicológicos e na
noção de dicionário estrutural (ACHARD, 1986).
Muitos intelectuais do período eram militantes de esquerda. Jean Dubois, por
exemplo, era linguista e membro do Partido Comunista Francês, sendo responsável
por vários grupos dinâmicos de pesquisa que contavam com a participação de
membros linguistas (DOSSE, 1997).
É importante mencionar que ele também foi capaz de atrair especialistas de
outras disciplinas para a Linguística. Dubois incitou toda uma geração a procurar um
paralelo entre estruturas discursivas além das estruturas de classe e de vocabulário.
Nota-se que o Partido Comunista Francês ainda exercia uma influência política no
início dos anos sessenta. Assim, muitos intelectuais estavam ativos em suas fileiras
(DOSSE, 1997).
Segundo Courtine (2010), Dubois favorecia a Análise do Discurso
possivelmente por motivos políticos. Foi ele quem traduziu Harris na França. Posto
isso, ele desejava que a Linguística tratasse de questões ligadas ao discurso. Dessa
forma, nota-se que os teóricos da Análise do Discurso Francesa eram marxistas e
estavam inseridos em debates políticos.
No plano epistemológico, Dubois contribui de forma decisiva para inserir a
Análise do Discurso na Linguística. A partir de seus trabalhos sobre lexicologia
aplicados ao vocabulário social e político, demonstrou que era possível renovar os
métodos filológicos, baseando-se em abordagens linguísticas. Ao se abrir para o
discurso político, deu uma base metodológica para a Análise do Discurso. O
linguista também mostrou os limites de certo estruturalismo e promoveu o interesse
pelo estudo dos processos enunciativos ( MAINGUENEAU, 1996).
Sob a perspectiva da vertente sociolinguística, as palavras enunciado e
discurso, segundo Guespin (1971, p.10), tendem a se organizar em oposição. Para o
teórico, o enunciado é a sucessão de sentenças emitidas entre dois brancos
semânticos, duas pausas de comunicação. O discurso, por sua vez, é o enunciado
40

considerado da perspectiva do mecanismo discursivo que o condiciona. Portanto,


um olhar sobre um texto do ponto de sua estruturação em língua faz dele um
enunciado; um estudo linguístico das condições de produção deste texto fará dele
um discurso.

3.3 A vertente foucaultiana de Análise do Discurso

A vertente foucaultiana, por outro lado, não está situada na Linguística.


Embora trate do discurso, não realiza uma análise do sentido. A análise
arqueológica busca o fato do aparecimento histórico de um discurso. Vale ressaltar
que o estudo do saber, em Foucault, não está limitado à análise do discurso ou dos
regimes de enunciabilidade (NARZETTI, 2010). Para ele, “o discurso é algo
inteiramente diferente do lugar em que vêm se depositar e se superpor, como em
uma simples superfície de inscrição, objetos que teriam sido instaurados
anteriormente” (FOUCAULT, 2008, p.48).
Sob a ótica de Michel Foucault (2008, p.31),

A análise do campo discursivo é orientada de forma inteiramente


diferente; trata-se de compreender o enunciado na estreiteza e
singularidade de sua situação; de determinar as condições de sua
existência, de fixar seus limites da forma mais justa, de estabelecer
suas correlações com os outros enunciados a que pode estar ligado,
de mostrar que outras formas de enunciação exclui. Não se busca,
sob o que está manifesto, a conversa semi-silenciosa de um outro
discurso: deve-se mostrar por que não poderia ser outro, como exclui
qualquer outro, como ocupa, no meio dos outros e relacionado a
eles, um lugar que nenhum outro poderia ocupar. A questão
pertinente a uma tal análise poderia ser assim formulada: que
singular existência é esta que vem à tona no que se diz e em
nenhuma outra parte?

Os discursos, para Foucault (2008, p.55), são formados por signos; todavia o
que fazem é mais que usar esses signos para indicar coisas. É esse mais, por
conseguinte, que os coloca como irredutíveis à língua e ao ato da fala. É esse mais,
além disso, que deve aparecer e que é necessário descrever.
Na perspectiva foucaultiana, fazer aparecer o espaço em que se desenrolam
os acontecimentos discursivos não é tentar restituí-lo em um isolamento que nada
poderia superar; não é encerrá-lo em si mesmo; é tornar-se livre, a fim de descrever,
41

nele e fora dele, jogos de relações (FOCAULT, 2008, p.32).


Segundo o teórico (2008, p.55), “não se pode falar de qualquer coisa em
qualquer época; não é fácil dizer alguma coisa nova; não basta abrir os olhos,
prestar atenção, ou tomar consciência, para que novos objetos logo se iluminem e,
na superfície do solo, lancem sua primeira claridade”. Portanto, o discurso, nos
dizeres de Foucault (2008, 61),

[…] não é a manifestação, majestosamente desenvolvida, de um


sujeito que pensa, que conhece, e que o diz: é, ao contrário, um
conjunto em que podem ser determinadas a dispersão do sujeito e
sua descontinuidade em relação a si mesmo. É um espaço de
exterioridade em que se desenvolve uma rede de lugares distintos.

Foucault busca a compreensão da arqueogenealogia e da forma como se


constroem as relações históricas entre os saberes e os poderes, a partir de temas
diversificados (a loucura, o sistema prisional, a sexualidade). Ele trabalha em um
campo vasto; insere o discurso no interior de uma ordem, porém evita o termo
ideologia (SARGENTINI, 2006).
No dizeres de Michel Foucault (2008, p.43),

No caso em que se puder descrever, entre um certo número de


enunciados, semelhante sistema de dispersão, e no caso em que
entre os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas
temáticas, se puder definir uma regularidade (uma ordem,
correlações, posições e funcionamentos, transformações), diremos,
por convenção, que se trata de uma formação discursiva - evitando,
assim, palavras demasiado carregadas de condições e
consequências, inadequadas, aliás, para designar semelhante
dispersão, tais como "ciência", ou "ideologia", ou "teoria", ou
"domínio de objetividade"

Ainda que em Foucault não exista a noção althusseriana de aparelhos


ideológicos, o teórico não nega a existência de um Poder de Estado. Ele trata das
relações entre o discurso e seus poderes. Na verdade, ele mostra que existem, além
do poder do Estado, outros poderes, os quais possuem natureza e mecanismos
variados (GREGOLIN, 2006). Vale lembrar que, no início dos anos 50, Althusser
introduziu seu público, incluindo Foucault, em Marx. Foi ele quem apresentou
Foucault ao Partido Comunista Francês (DOSSE, 1997).
Na visão de Foucault, a análise das relações de poder não deve estar restrita
ao estudo de um conjunto de instituições, mesmo aquelas que se enquadram como
42

políticas. As relações de poder estão inscritas no conjunto da rede social. É


importante apontar que, conforme a linha foucaultiana, é impossível existir relação
de poder sem pontos de insubmissão, pois os sujeitos lutam. Destarte, nenhum
poder é pleno (GREGOLIN, 2006).

3.4 Aproximações e distanciamentos entre as vertentes francesas de


Análise do Discurso

Nas três linhas, discurso não se confunde com língua e fala, ainda que cada
uma apresente sua peculiaridade. Diante da pluralidade de estudos, é importante
marcar as semelhanças e dessemelhanças de cada linha (NARZETTI, 2010). As
diferenças teóricas entre Pêcheux e Foucault envolvem à maneira de se situarem
diante das propostas de Althusser. Em Foucault, faltam as categorias clássicas do
marxismo, sobretudo, ideologia e luta de classes. Há, por conseguinte, entre eles,
diferenças na leitura de Marx (GREGOLIN, 2006).
Pêcheux e a linha sociolinguística se aproximam pelo referencial marxista. As
duas linhas abordam questões referentes à luta de classes e à ideologia
(NARZETTI, 2010). Já Foucault não se preocupa em marcar posição como marxista.
Vale ressaltar que Foucault e Pêcheux não são adversários no que concerne a uma
teoria do discurso, porquanto suas propostas teóricas não se encontram em
oposição, mas em complementariedade (GREGOLIN, 2006).
O sentido das palavras, na perspectiva de Pêcheux, muda conforme a
posição na luta de classes daqueles que as utilizam. Já para Foucault, o sentido do
enunciado muda conforme as relações com outros enunciados são estabelecidas. O
autor de A arqueologia do Saber não trabalha com a relação entre linguagem,
ideologia e inconsciente, na figura do simbólico. Ele não se preocupa com teorização
de mecanismos da linguagem. Pêcheux, por seu turno, esteve mais ligado às
problemáticas da Linguística (GREGOLIN, 2006).
Desse modo, a diferença entre o conceito de discurso da linha foucaultiana
em relação as outras duas linhas está no fato de que o discurso não está
relacionado com as formações ideológicas. Foucault, portanto, recusa o conceito de
ideologia como algo pertinente para análise dos saberes.
Logo, realça-se que embora a linha de Pêcheux e a linha sociolinguística se
43

aproximem pela presença da luta de classes em suas teorias, apresentam visões


diferentes no que tange à Linguística. Para Marcellesi e seu grupo, a Análise do
Discurso está inserida na Linguística; para Pêcheux, está articulada entre a
Linguística, o Materialismo Histórico e a Psicanálise.

3.5 O Sujeito do Discurso

Análise do Discurso Francesa, na perspectiva de Pêcheux, considera uma


materialidade dupla, isto é, a da língua (estrutura) e da história (acontecimento).
Posto que o sujeito é afetado pelo inconsciente e constituído de ideologia, ele não é
totalmente livre, não é fonte única de sentido. Destarte,

[...] o sujeito do discurso coloca em fluxo palavras já ditas antes em


outro lugar, e que já tiveram seus usos sociais estabelecidos e
tensionados em diferentes momentos sócio-históricos. Existe assim
uma memória discursiva, uma memória do dizer que funda-se como
uma propriedade constitutiva da linguagem e do sujeito, apontando o
primado do interdiscurso em cada palavra atualizada. Em outros
termos, há o saber discursivo sobre o mundo que está latente na
linguagem, que sustenta o que é dito a partir do que já foi posto em
outros momentos e que lateja a cada nova (re)tomada de dizer
(MOSTAFA; AMORIN; SOUSA, 2014,p.16).

Na Análise do Discurso pecheuxtiana, o sujeito não é intencional. A ideologia


torna possível a relação palavra/coisa. Têm-se para isso as condições de base, a
língua e o processo, que é discursivo, no qual a ideologia torna possível a relação
entre o pensamento, a linguagem e o mundo, ou seja, reúne sujeito e sentido. O
sujeito, portanto, se constitui e o mundo se significa pela ideologia (ORLANDI, 2007,
p. 95-96).
Assim, ainda que a língua tenha sua ordem própria, ela é relativamente
autônoma. Diferentemente da Linguística, a Análise do Discurso reintroduz a noção
de sujeito e de situação na análise da linguagem. A história tem seu real afetado
pelo simbólico, isto é, os fatos reclamam sentidos. O sujeito de linguagem é
descentrado, porquanto é afetado pelo real da língua e também pelo real da história;
não possui o controle sobre o modo como elas o afetam. Logo, o sujeito discursivo
funciona pelo inconsciente e pela ideologia (ORLANDI, 2007).
O sujeito é incompleto, afetado pelo inconsciente e pela ideologia
(ORLANDI,2003). Os efeitos de sentido são dependentes daquele que enuncia e de
44

seu interlocutor. Devido ao efeito ideológico, o sujeito está condicionado a não poder
dizer qualquer coisa, de qualquer lugar, pois o contexto sócio-histórico o determina.
O sujeito, assinala Pêcheux (1995, p.163), se constitui pelo esquecimento daquilo
que o determina.
Para o filósofo francês,

o recalque inconsciente e o assujeitamento ideológico estão


materialmente ligados, sem estar confundidos, no interior do que se
poderia designar como o processo do Significante na interpelação e
na identificação, processo pelo qual se realiza o que chamamos as
condições ideológicas da reprodução/transformação das relações de
produção (PÊCHEUX, 1995, p.133).

O caráter comum das estruturas-funcionamentos denominadas como


ideologia e inconsciente é o de dissimular sua própria existência no interior mesmo
do seu funcionamento, a ponto de produzir um tecido de evidências subjetivas,
entende-se aqui este último adjetivo não como que afetam o sujeito, mas nas quais
se constitui o sujeito (PÊCHEUX,1995 p.152-153).
A condição da linguagem, assinala Orlandi (2007, p.52), é a incompletude.
Os sujeitos e os sentidos, em síntese, não estão completos, já feitos, constituídos
de maneira definitiva. Eles se constituem e funcionam a partir do modo de
entremeio, da relação, da falta, do movimento. Essa incompletude prova a abertura
do simbólico, porquanto a falta é o lugar do possível.
É importante pontuar que há uma tensão epistemológica envolvendo a
Análise do Discurso e a Pragmática no que tange a noção de sujeito. Segundo
Possenti (2003a, p.363), pesquisador brasileiro influenciado pelos trabalhos de
Dominique Maingueneau,

a pragmática é o verdadeiro Outro da AD. Por mais que também


combata as gramáticas formais e universais, que se afaste das
sociologias da linguagem e das semânticas lógicas, seu verdadeiro
adversário é a pragmática. O que é perfeitamente compreensível,
pois é a pragmática que disputa com a AD o mesmo espaço - o do
“sentido não-literal”.

Possivelmente, as divergências entre a Análise do Discurso e a Pragmática


estão concentradas nas questões do sujeito e do contexto (POSSENTI, 2003a). É
sabido que os debates vinculados à constituição do sujeito no campo da linguagem
45

envolvem acirradas discussões. Não há consenso no assunto, nem verdades


absolutas. Eni Orlandi (2007, p.95) aponta que:

À diferença do que pensa a Pragmática, asseveramos que o sujeito


discursivo não realiza apenas atos. Se, ao dizer, nos significamos e
significamos o próprio mundo, ao mesmo tempo, a realidade se
constitui nos sentidos que, enquanto sujeitos, praticamos. É
considerada dessa maneira que a linguagem é uma prática; não no
sentido de efetuar atos mas porque pratica sentidos, intervém no
real. Essa é a maneira mais forte de compreender a práxis simbólica.
O sentido é história, O sujeito do discurso se faz (se significa) na/pela
história. Assim, podemos compreender também que as palavras não
estão ligadas às coisas diretamente, nem são o reflexo de uma
evidência.

O termo pragmática, de acordo com Charles Morris (1985), foi cunhado por
referência ao termo pragmatismo. É plausível supor o significado permanente do
pragmatismo reside no fato de que ele tem dado uma atenção mais direta à relação
entre signos e seus usuários, bem como ter apreciado mais profundamente, mais do
que em momentos anteriores, a relevância dessa relação para a compreensão das
atividades intelectuais. O termo pragmática, na visão do autor, serve para sublinhar
a importância das realizações de Peirce, James, Dewey e Mead no campo da
semiótica. Ao mesmo tempo, pragmática, termo especificamente semiótico, requer a
sua própria formulação.
A semiótica de Charles Morris encontra-se fora das correntes estruturalistas
da semiótica do século XX. O teórico apresenta o estudo dos signos num quadro
interdisciplinar. Sua influência, nos anos 30 e 40, no desenvolvimento da história da
Semiótica foi decisiva (NÖTH, 1996).
Na perspectiva de Morris (1985), a semiótica possui dupla relação com as
ciências. Ela é ao mesmo tempo uma ciência entre as ciências e um instrumento das
ciências. Como ciência a importância da semiótica consiste no fato de ser uma etapa
na unificação da ciência, pois oferece fundamento a qualquer ciência especial de
signos, como a linguística, a lógica, a matemática, a retórica e a estética.
A semiótica fornece uma linguagem geral aplicável a qualquer espécie de
linguagem ou signo, e também se aplica à linguagem da ciência e aos signos
específicos que são utilizados na ciência. A teoria dos signos é um instrumento útil
para purificação, simplificação e sistematização da linguagem (MORRIS, 1985).
46

O processo em que algo funciona como um signo pode ser denominado de


semiose. A semiose possui três componentes: veículo sígnico, designatum e
interpretante. Veículo sígnico é aquilo que atua como um signo. Designatum, por sua
vez, é aquilo a que o signo se refere. Já o interpretante é o efeito sobre um
intérprete em virtude do qual a coisa em questão é um signo para esse intérprete. O
intérprete pode ser incluído como um quarto fator. Signo, designatum, interpretante e
intérprete, por conseguinte, são termos que se implicam uns aos outros, uma vez
que são apenas maneiras de se referir a aspectos do processo de semiose
(MORRIS, 1985).
A semiose possui três dimensões, a saber, Sintática, Semântica e
Pragmática. A Sintática estuda a relação entre um dado veículo do signo e outros
veículos do signo; a Semântica estuda as relações entre veículos do signo, e seus
designata; e a Pragmática estuda a relação entre os veículos do signo e seus
intérpretes (NÖTH, 1996).
Pragmática, portanto, é o ramo da semiótica que estuda a origem, os usos e
os efeitos dos signos (NÖTH, 1996). É importante considerar que Morris sofreu forte
influência do Pragmatismo clássico, visto que suas principais teses acompanham as
expectativas teóricas de seus fundadores, incluindo Peirce. A Pragmática, na
perspectiva do teórico estadunidense, trouxe várias contribuições que levantaram o
problema da linguagem a partir do ponto de vista do sujeito. Foi uma tentativa de
inserção do sujeito na teoria linguística (ALMEIDA, 2009).
Um signo linguístico, em termos pragmáticos, de acordo com o filósofo
estadunidense, é usado em combinação com outros signos por membros de um
grupo social; uma língua é um sistema social de signos que medeia as respostas
dos membros de uma comunidade entre si e o seu entorno. Compreender uma
língua, de acordo com o teórico, é empregar somente aquelas combinações e
transformações de signos que não são proibidas pelos usos do grupo social em
questão; é, além disso, denotar objetos e situações tal como fazem os membros
desse grupo, é ter, também, as expectativas que os outros têm no momento em que
certos veículos sígnicos são empregados, e é expressar os seus próprios estados
assim como os outros fazem. Em síntese, compreender uma língua ou usá-la
corretamente é seguir as regras de seu uso (sintáticas, semânticas, e pragmáticas)
na comunidade social (MORRIS,1985).
O estudo da relação dos signos com o contexto de uso, segundo Carlos Vogt
47

(1979), faz parte da investigação na dimensão pragmática da semiose. Considera-


se, portanto, que o emprego de uma frase é um fenômeno interindividual, a saber,
um acontecimento na história das relações entre vários indivíduos. Na visão do
pesquisador, é a situação em que o indivíduo se encontra em relação a outras
pessoas que autoriza ou permite que determinada frase seja utilizada. Cada frase
empregada decorre da intenção de produzir, nas pessoas, certo efeito.
Na Pragmática, o sujeito sabe o que se passa no momento em que participa
do evento discursivo. Ele apresenta intenções que deseja torná-las conhecidas e
busca concretizar objetivos. Detém conhecimentos em relação à língua e às
circunstâncias que envolvem sua utilização. É também capaz de realizar cálculos
sofisticados e relativamente conscientes. Possui, ademais, a capacidade de escolher
as formas mais adequadas, para que os efeitos que deseja sejam obtidos da melhor
maneira possível. O sujeito é capaz de selecionar fatores relevantes do contexto, a
fim de interpretar sequências linguísticas (POSSENTI, 1996).
Nota-se que a Análise do Discurso não associa texto e contexto, à
maneira de algumas teorias da coerência, da mesma forma que não associa
enunciados a contextos. A fim de superar as noções de contexto da visão
pragmaticista, o conceito de circunstâncias é substituído pelo conceito de condições
de produção na perspectiva discursiva (POSSENTI, 2003a).
O conceito de contexto está ligado a elementos externos aos textos. Ele
envolve a situação comunicativa, na qual o texto é produzido. O conceito é revisto,
pois para a teoria do discurso a exterioridade não se encontra fora do discurso, mas
é dele constitutiva. O contexto é englobado pela noção de condições de produção
(FERREIRA, 2001).
Possenti (1995, 2003b), ao tratar do embate epistemológico entre Análise do
Discurso Francesa e Pragmática, argumenta que embora não seja apenas o
inconsciente que funcione, ele não pode ser dispensado. Torna-se necessário,
portanto, separar o que o sujeito sabe daquilo que ele não sabe. A presença do
outro, para o autor, não apaga o eu totalmente, no entanto mostra que o eu não está
sozinho.
Torna-se relevante, diante da necessidade interdisciplinar, a criação de
pontes entre disciplinas que a princípio não dialogam. Salienta-se a necessidade
articulação entre pensamentos considerados dissonantes. Não se deve colocar um
ponto final nas possibilidades de diálogo entre as duas áreas. Não se trata de uma
48

questão fechada. Dialogar com o diferente é um desafio diante da complexidade.


Ainda que uma das principais diferenças entre as áreas esteja na forma de
compreensão do sujeito, de acordo com Possenti (1996, p.75),

se definirmos a pragmática pela sua via mais clássica, relembrando


Morris, falar da relevância de fatores pragmáticos será postular a
necessidade de levar em conta o papel do próprio falante na análise
de fatos da linguagem. De uma certa maneira, poder-se-ia dizer que
a AD faz a mesma coisa, e, por isso, ela nem deveria distinguir-se da
pragmática.

Talvez seja importante considerar a hipótese de que as ideias de sujeito


intencional e sujeito não intencional são duas verdades que se integram. Da mesma
forma, os sujeitos individual e social não são excludentes, mas sim complementares.
Ainda que a Análise do Discurso Francesa e a Pragmática disputem espaços no
campo do saber, o qual também é um campo de poder, é possível uma negociação
teórica, a fim de se refletir sobre a questão do sujeito na linguagem.
Michel Foucault também traz importantes contribuições para a noção de
sujeito. Em seus estudos, seu objetivo foi criar uma história dos diferentes modos
pelos quais os seres humanos se tornam sujeitos em nossa cultura. O sujeito é o
tema geral de sua pesquisa, embora o teórico tenha se envolvido bastante com as
questões ligadas ao poder. Para ele, o sujeito humano é colocado em relações de
produção e de significação e também em complexas relações de poder. Assim, a fim
de se compreender o que são as relações de poder, na visão do teórico francês,
talvez fosse necessário investigar as formas de resistência e as tentativas de
dissociar estas relações (Foucault, 2005).
Para ele, falar de sujeito é tratar de "modos de subjetivação". Assim, o autor
traz reflexões sobre como o ser humano se transforma em sujeito. É importante
mencionar que não se trata do sujeito psicológico. Na perspectiva foucaultiana,
subjetivação e subjetividade não são processos ou estados "da alma" da experiência
particular de cada pessoa. As concepções foucaultianas de sujeito do discurso e de
subjetividade apresentam aspectos bem específicos (FISCHER, 1999).
Foucault aponta que existem dois significados para a palavra sujeito, a saber:
sujeito a alguém por meio do controle e da dependência; e sujeito amarrado à sua
própria identidade pela consciência ou pelo conhecimento si. Ambos sugerem uma
forma de poder que subjuga e assujeita (FOUCAULT, 1995, p.235).
49

A partir de sua perspectiva teórica, em geral, pode se dizer que há três tipos
de lutas: contra as formas de dominação (étnica, social e religiosa); contra as formas
de exploração, as quais separam os indivíduos daquilo que eles produzem; ou
contra aquilo que liga o indivíduo a si mesmo e, desta forma, o submete a outros
(lutas contra a sujeição, contra as formas de subjetivação e submissão). Na história,
muitos exemplos podem ser encontrados destes três tipos de lutas sociais, isoladas
umas das outras ou em conjunto; todavia, mesmo quando estão misturadas, uma
delas, quase sempre, se sobressai (FOUCAULT, 1995, p.235).
Pode-se dizer que todos os tipos de sujeição consistem em fenômenos
derivados, os quais são consequências de outros processos econômicos e sociais,
isto é, o poder de produção, a luta de classes e as estruturas ideológicas que
determinam a forma da subjetividade. Os mecanismos de sujeição não podem ser
estudados de modo independente das suas relações com os mecanismos de
exploração e dominação. Eles, desse modo, mantêm relações complexas e
circulares com outras formas (FOUCAULT, 1995, p.235).
As relações de poder se exercem por meio da produção e do intercâmbio de
signos. Além disso, não são dissociáveis das atividades finalizadas, sejam aquelas
que permitem o exercício do poder, como por exemplo, as técnicas de
adestramento, os processos de dominação e as maneiras como a obediência é
obtida; ou aquelas que recorrem às relações de poder com o objetivo de
desenvolver seu potencial, a saber, a divisão do trabalho e a hierarquia das tarefas
(FOUCAULT, p. 241).
O exercício do poder é um modo de ação de alguns sobre outros. Logo,
existe o poder exercido por “uns” sobre outros. O poder só existe em ato, embora
caia num campo de possibilidades dispersas, o qual se apoia sobre estruturas
permanentes. Isso significa que o poder não é um tipo de consentimento. Em si, não
é uma renúncia à liberdade, transferência de direitos, poder de todos e de cada um
delegado a alguns. A relação de poder pode ser o efeito de um consentimento
permanente ou prévio, contudo não é por natureza a manifestação de um consenso
(FOUCAULT, 1995, p. 242-243).
Para Foucault (1995, p. 243),

De fato, aquilo que define uma relação de poder é um modo de ação


que não age direta e imediatamente sobre os outros, mas que age
sobre sua própria ação. Uma ação sobre a ação, sobre ações
50

eventuais, ou atuais, futuras ou presentes. Uma relação de violência


age sobre um corpo, sobre as coisas; ela força, ela submete, ela
quebra, ela destrói; ela fecha todas as possibilidades; não tem,
portanto, junto de si, outro polo senão aquele da passividade; e, se
encontra uma resistência, a única escolha é tentar reduzi-la. Uma
relação de poder, ao contrário, se articula sobre dois elementos que
lhe são indispensáveis por ser exatamente uma relação de poder:
que “o outro”(aquele sobre o qual ela se exerce) seja inteiramente
reconhecido e mantido até o fim como o sujeito de ação; e que se
abra, diante da relação de poder, todo um campo de respostas,
reações, invenções possíveis.

Para o teórico, a relação de poder e a insubmissão da liberdade não podem


ser separadas. Ao relatar que o sujeito ocupa certo lugar na ordem do discurso e
não é dono livre de seus atos discursivos, o autor não está negando que,
individualmente, as pessoas se percebam como únicas (FOUCAULT, 1995;
FISCHER, 1999).

O poder só se exerce sobre “sujeitos livres”, enquanto "livres" -


entendendo-se por isso sujeitos individuais ou coletivos que têm
diante de si um campo de possibilidade onde diversas condutas,
diversas reações e diversos modos de comportamento podem
acontecer. Não há relação de poder onde as determinações estão
saturadas - a escravidão não é uma relação de poder, pois o homem
está acorrentado (trata-se então de uma relação física de coação) -
mas apenas quando ele pode se deslocar e, no limite, escapar. Não
há, portanto, um confronto entre poder e liberdade, numa relação de
exclusão (onde o poder se exerce, a liberdade desaparece); mas um
jogo muito mais complexo: neste jogo, a liberdade aparecerá como
condição de existência do poder (ao mesmo tempo sua precondição,
uma vez que é necessário que haja liberdade para que o poder se
exerça, e também seu suporte permanente, uma vez que se ela se
abstraísse inteiramente do poder que sobre ela se exerce, por isso
mesmo desapareceria, e deveria buscar um substituto na coerção
pura e simples da violência); porém, ela aparece também como
aquilo que só poderá se opor a um exercício de poder que tende,
enfim, a determiná-la inteiramente (FOUCAULT, 1995, p. 244).

Ainda que as relações de poder estejam enraizadas no tecido social, isso não
quer dizer que exista um princípio de poder, primário e fundamental, que domine a
sociedade até os mínimos detalhes. Há formas distintas de poder. Os modos de
governo dos homens são múltiplos numa sociedade. Eles se sobrepõem, se cruzam,
se limitam, se anulam e, às vezes, se reforçam (FOUCAULT,1995, p. 247).
O teórico francês mostrou, em seus estudos, como os processos de
51

subjetivação se mostram diversos em diferentes contextos, produzindo estilos de


vida peculiares. Em sua obra, manteve um olhar crítico em direção a diversas formas
de sujeição do homem, presentes nos campos institucionais, nas técnicas, nos
procedimentos, nas estratégias, nos discursos e nas arquiteturas ao longo dos anos
(FISCHER, 1999).
A cada momento, a relação de poder pode ser convertida e se transformar em
um embate entre adversários. Além disso, as relações de adversidade, em uma
sociedade, levam ao estabelecimento de mecanismos de poder. Essa instabilidade
permite que os mesmos processos, os mesmos eventos e as mesmas
transformações sejam decifrados tanto dentro de uma história de lutas como na
história das relações e dos dispositivos de poder. A dominação, nessa perspectiva, é
uma estrutura global de poder. Sendo assim, suas ramificações e suas
consequências são, em certas circunstâncias, encontradas até mesmo no enredo
mais tênue da sociedade. Ademais, a dominação é uma situação estratégica mais
ou menos adquirida e solidificada em um confronto de longo alcance histórico entre
adversários (FOUCAULT, 1995).
Indivíduos diferentes, para Foucault, podem ocupar o lugar de sujeito de um
mesmo discurso, isto é, o ponto de origem do discurso não estaria em sujeitos
individuais. Desse modo, o sujeito do enunciado pode ser ocupado por diferentes
indivíduos. Para ele, ademais, o poder se faz presente tanto no lado de quem
exerce o poder, como no lado daquele sobre o qual o poder é exercido. Nos dois
lados existem agentes e lugares para respostas, reações e efeitos. Por conseguinte,
na sociedade ocidental, as estratégias de poder estão cada vez mais sofisticadas e
complexas (FISCHER, 1999).
Diante do exposto, observar-se-á uma tensão sobre a noção de sujeito no
debate epistemológico. De um lado, há perspectivas que apresentam um sujeito
com autonomia; do outro, linhas que consideram o sujeito preso a imposições
exteriores. Essa questão merece um olhar cuidadoso, visto a necessidade de
encontrar um equilíbrio nessas posições. Dessa forma, os trabalhos de Pêcheux e
Foucault podem contribuir de maneira considerável para a discussão no campo
informacional.
O capítulo a seguir tratará das principais pesquisas e contribuições teóricas
nascidas da relação entre Ciência da Informação, Organização do Conhecimento e
Análise do Discurso, a partir de uma perspectiva crítica. Dessa forma, não se trata
52

de uma análise bibliométrica, mas conceitual, com ênfase nas ideias e nos
trabalhos.
53

4 A ANÁLISE DO DISCURSO FRANCESA NA CIÊNCIA DA


INFORMAÇÃO : INTERAÇÕES INTERDISCIPLINARES NO
CONTEXTO BRASILEIRO

Nos dizeres Mostafa (1996, p.5),

uma área fundante para a Ciência da Informação é o tratamento da


linguagem, pouco desenvolvido pela biblioteconomia e de difícil
desenvolvimento também pelos cientistas da informação, porque
envolve aprofundar dispositivos desenvolvidos em outras áreas,
como a lingüística, a qual, outra vez, como disciplina, também
remodela seus espaços de conhecimento, aprofundando áreas
(áreas de concentração) cujo resultado é a fundação ou a
configuração de novas disciplinas. Por exemplo, a análise de
discurso é uma disciplina constituída, na visão de alguns dos seus
analistas, no entremeio entre a lingüística e as ciências sociais. As
áreas de concentração são, pois, áreas de contradição. É no ponto
onde a concentração está sendo exigida que está a contradição - é o
lugar de novas ciências e de novas revistas.

O pluralismo epistemológico e o estabelecimento de um campo


interdisciplinar, na visão de Souza (2012), são referências das condições
epistemológicas gerais da Ciência da Informação. Para ele, as relações
interdisciplinares estão fundamentadas em três elementos, os quais constituem as
condições de produção do seu domínio epistemológico. O primeiro é a dedicação de
pesquisadores que atuam em diversas áreas na solução de problemas
informacionais. O segundo é a consequente convergência dessas áreas em volta
dos referidos problemas. Por último, a complexidade do objeto de estudo.
A poliepistemologia da Ciência da Informação é motivo de grandes polêmicas
e debates, todavia é um assunto tratado por González de Gómez (2000,p.4) :

Em primeiro lugar, a metodologia da Ciência da Informação deve dar


conta de seu caráter poliepistemológico -antes que interdisciplinar ou
multidisciplinar: Com efeito, além de tratar-se de um termo flutuante
que, tal como o de ‘democracia’, produz diferentes efeitos de sentido
em diferentes contextos, “informação” designa um fenômeno,
processo ou construção vinculado a diversas “camadas” ou “estratos”
de realização. Formam parte desses estratos a linguagem, com seus
níveis sintáticos, semânticos e pragmáticos e suas plurais formas de
expressão - sonoras, imagéticas, textuais, digitais/analógicas-; os
sistemas sociais de inscrição de significados – a imprensa e o papel,
os meios audiovisuais, o software e o hardware, as infra-estruturas
das redes de comunicação remota; os sujeitos e organizações que
54

geram e usam informações em suas práticas e interações


comunicativas.

Acredita-se que, por meio da interdisciplinaridade, é possível a realização de


um intercâmbio de saberes e de conhecimentos. Contudo, vale ressaltar que isso
deveria ser algo mais concreto. Não é suficiente a apropriação de termos, conceitos
e métodos de outras áreas para a Ciência da Informação, pois isso não é sinônimo
de que realmente ocorra uma relação dialógica. É mister que as disciplinas
envolvidas tenham uma identidade estabelecida, para que, por meio de visões
diferentes, se chegue à compreensão de um objeto comum (CARVALHO; CRIPA,
2013, p.248).
É oportuno apontar também que:

a interdisciplinaridade é assumida como espaço logicamente


estabilizado, no discurso da ciência da informação; no entanto, uma
questão não dita expressamente nas discussões sobre a
interdisciplinaridade, em particular, e a integração disciplinar, de
forma ampla, diz respeito ao campo de lutas e forças que as
constituem, com toda a carga de determinações sociais, políticas,
econômicas e, notadamente, ideológicas (SOUZA; DIAS, 2011,
p.65).

Na perspectiva de Almeida Júnior (2009), ainda que sejam procuradas, a


imparcialidade e a neutralidade não se realizam no campo informacional. A
informação apresenta significados e concepções que extrapolam o aparente. Ela
não se revela desnuda de interesses econômicos, políticos e culturais, porquanto
está imersa em ideologias.
Museus, bibliotecas, arquivos e centros de documentação, de acordo com
Romão (2012), podem ser considerados como lugares de dizeres autorizados. As
posições-sujeito que esses lugares inscrevem são passíveis de reflexão. A camada
imaginária de legitimidade aponta para uma direção que se apresenta como
verdadeira e, simultaneamente, silencia outros modos de dizer. Instala-se, por
conseguinte, uma voz institucionalizada, a qual determina o que pode e deve ser
guardado, arquivado, mostrado e exposto, deixado de lado, a partir do efeito
ideológico de evidência, sentidos tidos como indesejáveis.
De acordo com Freire e Aquino (2000), há um sujeito que produz informação.
Essa relação entre sujeito e informação produz sentido. O entendimento da
55

informação como produtora de efeitos de sentido dependerá do lugar em que o


sujeito está situado, do lugar onde ele fala, de onde as relações são estabelecidas e
das condições de produção. A construção da informação, nesse prisma, é
relacional, a saber, dependerá do lugar em que os sujeitos estiverem instaurados. A
informação é, portanto, um conceito plural e complexo.
Logo, nos dizeres de Romão (2012, p.80-81), há “sempre algo que é deixado
de fora para que o arquivo seja estruturado, o que me permite dizer, em
consonância com a teoria discursiva, que cada arquivo há muitos outros calados a
latejarem no vir a ser”. Em um horizonte repleto de desafios, o estudo dos processos
discursivos tem trazido e poderá trazer inúmeras contribuições ao campo
informacional. Ainda que o desafio intelectual seja grande, a presença teórico-
metodológica da Análise do Discurso no campo informacional ajudará a entender os
processos linguísticos, ideológicos, sociais e políticos tão presentes na organização
e na disseminação da informação. Há diversos caminhos que poderão ser
percorridos, os quais trarão benefícios à produção científica da Ciência da
Informação.
No campo da informação, segundo Souza (2012, p.13), os discursos sobre a
interdisciplinaridade, levando em conta as diversas formações discursivas e os
interdiscursos, produzem uma série de efeitos de sentido em vários espaços
epistemológicos, desde a constituição de seu objeto de estudo até a compreensão
mais ampla do processo do campo disciplinar.
Engana-se quem pensa que o jogo político e ideológico está distante da
forma como o conhecimento é representado e organizado. A informação não é
neutra, pois está também numa dimensão discursiva. Logo, a Organização do
Conhecimento, é afetada pelas disputas de poder. Ainda que a interdisciplinaridade
seja repleta de paradoxos, não se pode fugir dela. Quando se estuda a informação,
é necessário percorrer por outros campos do conhecimento científico. Torna-se
necessário, portanto, a edificação de áreas interdisciplinares. Nessa linha de
raciocínio, oriundas do pós-Guerra, Ciência da Informação e Análise do Discurso
podem contribuir para enfrentamento das dificuldades geradas pela fragmentação do
conhecimento. Podem, além disso, contribuir para uma compreensão mais profunda
da informação e seus processos.
Os profissionais da informação trabalham com guarda, organização,
recuperação e disseminação da informação. Nesse cenário, é importante ressaltar o
56

papel social e também político daqueles que trabalham com os fluxos


informacionais. Entender o contexto em que as informações são produzidas e
utilizadas se torna um fator decisivo numa sociedade marcada pelas desigualdades
sociais, econômicas e linguísticas. Não se pode negar que “o trabalho com a
informação também reclama a compreensão e a interpretação de documentos e
dados que sozinhos pouco dizem, mas que precisam ser pensados dentro de um
campo maior de articulações” (MOSTAFA; AMORIN; SOUSA, 2014, p.17).
A ação da informação, segundo González de Gómez (2000), se dá em três
dimensões: semântico-discursiva, metainformacional e infraestrutural. Na dimensão
semântico-discursiva, observar-se-ão as condições daquilo que é informado, a partir
de pontes com o universo prático-discursivo relacionado a sua semântica ou
conteúdo. Na primeira dimensão, o conhecimento antropológico-linguístico é
essencial. Na dimensão metainformacional, é necessário conhecimento
organizacional, pois regras de sua interpretação e distribuição são estabelecidas.
Além disso, ocorre a especificação do contexto, no qual a informação está inserida.
Na última dimensão, que exige conhecimento técnico e tecnológico, chamada
infraestrutural, acontece a disponibilização de um valor ou conteúdo, por meio de
sua inscrição, tratamento, armazenagem e transmissão.
A informação como objeto científico está inserida numa dimensão semântico-
discursiva. Ademais, se envolve nos aspectos linguísticos, culturais, econômicos,
políticos, tecnológicos, sociais e históricos presentes nas relações humanas. Assim,
o campo informacional é tão complexo que pede uma rede científica de cooperação,
na qual todos os aspectos citados sejam considerados, possibilitando assim, que o
estudo da informação agregue valor à sociedade.
Nesse horizonte, a Análise do Discurso de matriz francesa, se apresenta
como uma disciplina capaz de dialogar com Ciência da Informação, a fim de que
exista um aprofundamento na relação discurso/informação, porquanto o estrato
semântico-discursivo da informação não pode ser ignorado. Torna-se, por
conseguinte, fundamental responder as seguintes perguntas, considerando a
relação informação/discurso: Qual informação é produzida? Por quem foi produzida?
Para quem foi produzida? Como foi produzida? Por que foi produzida? Onde foi
produzida? Em que língua foi produzida? Quando foi produzida?· Quais os efeitos
de sentido gerados ?
Desse modo, em torno dos modos de ordenar e representar o conhecimento,
57

existem conflitos, interesses econômicos, injustiças sociais e embates políticos. Sob


a luz da Análise do Discurso de matriz francesa, é importante considerar esses
aspectos, porquanto a esfera ideológica está presente no modo como o
conhecimento é tratado. As instituições responsáveis pela guarda de documentos
relevantes para sociedade são lugares de disputa de poder. Por conseguinte, a
Teoria do Discurso Francesa coopera na interpretação dos processos linguísticos,
ideológicos e políticos que se manifestam nas formas de ordenar, representar e
disseminar a informação e o conhecimento.
Nessa perspectiva interdisciplinar, Capurro (2003) assinala que Michel
Foucault influenciou a reflexão filosófica da Ciência da Informação. Bernd Frohmann
(2008), ao tratar da importância de conciliar estudos sobre o fenômeno da
informação com pesquisas sobre práticas sociais e públicas, aponta a necessidade
de se ater a questões ligadas à materialidade da informação. O pesquisador
argumenta que estudar documentação é analisar as consequências e os efeitos da
materialidade. Para isso, recorre ao trabalho de Foucault.
Frohmann (2008) explica que os estudos sobre enunciado de Foucault são
muito úteis, para pensar as relações entre documentos e materialidade da
informação. Assim, a partir de um olhar foucaultiano, o pesquisador canadense
assinala que a documentação apresenta um poder constitutivo diferente de sua
função comunicativa. Aponta também que o interesse de Foucault é a
documentação como um meio capaz de transmitir poder gerativo e formativo. Logo,
o foco do teórico francês não está na documentação como um meio de
comunicação.
Frohmann (2008) aponta que:

[...] existe um caminho direto a partir da análise do discurso de


Foucault (a análise dos enunciados) para o estudo da materialidade
da informação. O conceito de ligação é a documentação. Práticas
documentárias institucionais lhe dão peso, massa, inércia e
estabilidade que materializa a informação de forma tal que ela possa
configurar profundamente a vida social.

Para o autor canadense, as investigações sobre materialização da


informação, por meio da documentação, auxiliam na compreensão do caráter
público e social da informação e na identificação dos campos de força, os quais
configuram características públicas e sociais da informação (FROHMANN, 2008).
58

4.1 A vertente francesa de Análise Documental no contexto brasileiro em


sua relação com a Análise do Discurso

A vertente francesa de Análise Documental tem em Jean-Claude Gardin um


dos seus principais teóricos. Ele foi um dos primeiros pesquisadores a argumentar
que a atividade de representação documentária está inserida no universo da
linguagem. Por conseguinte, os estudos da área visam à representação do conteúdo
informacional do documento, a fim de facilitar sua consulta (VOGEL, 2009;
ALMEIDA, 2011).
Os estudos de Gardin despontam na França dos anos 1960, mesmo período
em que emerge a Análise do Discurso no país. Vale ressaltar que o teórico recebeu
críticas de Pêcheux. Segundo Achard (1986), contra o positivismo latente da
abordagem dominante na psicologia social experimental, Pêcheux defende a
intervenção da materialidade discursiva global e sua ancoragem na dimensão da
Linguística. O filósofo francófono também lutou em outra frente, a saber, contra o
positivismo operacional da Análise de Conteúdo, semiotizado ou informatizado,
proposta por autores como Jean-Claude Gardin.
Em solo brasileiro, a Análise Documental de matriz francesa foi disseminada e
institucionalizada pelos trabalhos e esforços de Johanna Smit, orientanda de
doutorado de Gardin, com a criação do Grupo Temma nos anos 80, na Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, (GUIMARÃES; SALES 2010;
ALMEIDA, 2011).
O Grupo Temma é formado, em sua maioria, por pesquisadores da
Universidade de São Paulo e alguns pesquisadores da Universidade Estadual
Paulista de Marília. Suas pesquisas estão voltadas para a construção de
conhecimentos relacionados à Análise Documentária e Organização da Informação
(VOGEL, 2009). Assim, a vertente gardiniana de Análise Documental se enraizou
em terras brasileiras e passou a influenciar os estudos sobre documentação no país.
A Análise Documentária, de acordo com Cunha (1987), é um conjunto de
procedimentos realizados com o objetivo de expressar o conteúdo de documentos, a
fim de facilitar a recuperação da informação. Para Guimarães e Sales ( 2010, p.7),

análise documental, é por natureza um conjunto de procedimentos


que envolve os processos de análise, síntese e representação, cujo
objeto são os conteúdos documentais, os quais, devidamente
organizados, geram produtos como catálogos, notações
59

classificatórias, índices e resumos. Os objetivos da ADC estão


diretamente ligados à representação do conteúdo documental e à
recuperação da informação.

A área concentra estudos sobre processos de descrição de conteúdos


presentes em documentos, para sua recuperação posteriormente (ALMEIDA, 2011).
Para Gardin (1974, p.121), a Análise Documental trata de textos oriundos do
discurso científico. Sendo assim, divide a literatura entre a científica e as demais
categorias de texto, posição que precisa ser revista, de acordo com Almeida (2011),
diante da necessidade de dar notoriedade a outras categorias.
Gardin (1974), ao definir a Análise do Documento, apresenta um ponto de
vista processual, como a extração dos sentidos inseridos nos documentos,
sobretudo, os escritos. Os procedimentos metodológicos da análise de documentos
se reduzem às operações empíricas, com o objetivo de atribuir a um texto uma ou
mais palavras-chave, destinadas à recuperação de um documento sobre um tema
proposto.
Trata-se de uma operação semântica, porquanto o texto original é conduzido
para uma representação. Almeida (2011) argumenta que, para Gardin, caso os
benefícios de um sistema de organização e recuperação da informação alcancem
uma grande quantidade de pessoas, poderá trazer proveito para coletividade.
A Análise Documental, alocada na Organização da Informação e do
Conhecimento, apresenta três categorias gerais presentes nos temas de pesquisa
da análise de conteúdo dos documentos, a saber, processos, produtos e
instrumentos. Inclui, além disso, aspectos temáticos da informação, além de dividir
espaços com atividades e produtos da forma (ALMEIDA, 2011).
É importante mencionar que a Análise Documental se relaciona
interdisciplinarmente com a Linguística. Para Guimarães e Sales (2010), ao lado da
Lógica, a Linguística é primordial, na relação de interface com o campo
informacional, para os estudos de análise de documentos. Para os autores, na
Ciência da Informação, as disciplinas de matriz Lógico-Linguística estão em um
espaço nuclear, no que tange à interdisciplinaridade na reflexão teórico-conceitual
da Análise Documental.
Segundo Vogel (2009), na perspectiva francesa, as linguagens documentárias
são linguagens artificiais, constituídas por um léxico; possuem regras de
combinação; promovem a representação da informação e a comunicação entre
60

sistema e usuários. Elas se referem a uma forma restrita de se conceber como


linguagem, porquanto o mecanismo de execução ou a fala - em oposição a sistema
ou língua - na teoria da linguística estrutural, não está presente nas linguagens
documentárias. Ademais, as linguagens documentárias apresentam um caráter de
redução semântica promovido aos termos técnicos por ela organizados, isto é, a
evolução natural dos significados das palavras precisa ser interrompida, para se
chegar a um bom termo, no que tange ao objetivo da linguagem documentária. A
comunicação ou a mediação da informação é um outro aspecto fundante da
linguagem documentária. Assim, seu objetivo é promover a relação entre o sistema
de informação e os usuários.
Sendo assim,

a análise documental insere-se no universo epistemológico da


organização da informação refletindo uma visão de mundo que
centra sua ênfase em dois eixos: o documento, a partir de uma
concepção otletiana e os procedimentos lógico-linguísticos a partir de
uma concepção gardiniana. Nesse contexto a análise documental
convive com a catalogação de assunto, e a indexação, que
respectivamente centram suas ênfases aos produtos e aos
instrumentos de organização da informação (GUIMARÃES; SALES,
2010, p.10).

Ainda que trabalhe de uma forma empírico-pragmática, o analista da


documentação deve considerar algumas variáveis, sobretudo, as do discurso,
realizadas por meio de uma língua dada e que compreende sua organização interna
e a relação linguagem e ideologia (CUNHA, 1987, p. 38).
Cunha (1987, p.52), ao levantar questões sobre linguagem e ideologia na
Análise Documentária, assinala que:

[...]que o leitor/bibliotecário/analista da documentação tem sempre


uma visão ideológica, sobrepondo-a a linguagem/ideologia do
texto/discurso a analisar. Essa sobreposição se manifesta pela opção
"ideológica" que faz em relação ao uso ou descarte de determinados
conceitos/palavras-chave, mesmo quando se reporta as regras de
objetividade e neutralidade aconselhadas pelos manuais e pela ética
profissional vigente.

A pesquisadora também argumenta que :

Na realidade, negar o componente ideologia em análise de texto para


61

fins documentais e não colocar em questão o papel do indivíduo no


processo de produção/consumo e tradução do todo/conteúdo para o
todo/conceito/palavra-chave. Ao mesmo tempo, e negar que a
linguagem, quer do autor/produtor do texto/discurso, quer da
linguagem documentária, são aquisições, construções e instrumentos
elaborados respectivamente por uma sociedade e para um grupo
social, que pode ser o mesmo do produtor ou não, refletindo, em
ambos os casos, o pensamento e os interesses dominantes
(CUNHA, 1987, p.53)

Ao longo dos anos, diversos pesquisadores vêm estabelecendo diálogos


interdisciplinares entre os estudos sobre discurso e a Ciência da Informação,
especialmente em aspectos vinculados à Análise Documentária. Assim, Cunha,
Kobashi e Amaro (1987) propõem a aplicação de uma metodologia de Análise do
Discurso, objetivando a recuperação da informação. Acreditam, além disso, que a
teoria do discurso possa oferecer subsídios para a aplicação de metodologias que
permitam avançar na automação da Análise Documentária.
Nair Yumiko Kobashi (1996), em um trabalho que trata de aspectos ligados à
organização e à representação de informações documentárias, explica que a Análise
Documentária é um campo do conhecimento que opera com textos e, por
conseguinte, com a linguagem. Desse modo, se aproxima de teorias como a Análise
do Discurso. Sublinha-se que a pesquisadora realça as peculiaridades da Análise
Documentária em relação aos estudos do discurso, bem como de outras disciplinas
que trabalham com análise de textos. Para ela, não se deve transferir conceitos
entre as duas teorias mecanicamente.
Clarinda Rodrigues Lucas (1997), por seu turno, aponta que materialidade da
língua é muitas vezes subestimada pelos teóricos da indexação. Os profissionais da
informação, na visão da autora, têm como meta a organização da informação e do
conhecimento, para isso utilizam técnicas e métodos que visam o controle
terminológico. Vale ressaltar, porém, que nesse processo as condições de produção
e as tensões da polissemia estão presentes. Desse modo, o processo de
interpretação não é neutro. Ademais, a indexação é feita dentro de uma referência
institucional. Por conseguinte, atende a interesses. Lucas (1997), sob a luz da
Análise do Discurso, explica que um mesmo documento pode ser indexado de
diferentes formas, de acordo com o interesse de grupos específicos. Quando as
condições de produção não são consideradas, a contradição entre as diversas
formações discursivas, as quais ali se entrecruzam, fica apagada.
Diante do exposto, é importante pontuar que Kobashi (1996) e Lucas (1997)
62

apresentam olhares diferentes sobre as relações dialógicas entre a Análise do


Discurso Francesa e a Análise Documentária. De maneira oposta a Kobashi, Lucas
assinala que nas questões documentárias o movimento de interpretação não deve
ser apagado, dado que o sujeito é afetado por seu contexto sócio-histórico. A
pesquisadora, ademais, questiona a visão de Kobashi, pois, segundo ela, reduz a
leitura do profissional da informação a métodos de tratamento de textos.
Alvarenga (1998), pesquisadora que também trabalha com as questões
discursivas na Ciência da Informação, por seu turno, ressalta as relações entre a
arqueologia do saber e a bibliometria. Na visão da autora, trata-se de duas
disciplinas que apresentam um objeto comum, isto é, os discursos formadores de um
campo de conhecimento. A literatura que formula uma área do saber, desse modo, é
polifônica, dispersa, descontínua, intertextual e dependente de estratégias
persuasivas e pragmáticas, as quais dependem das posições de poder ocupadas
por aqueles que as produzem.
Em sua pesquisa, Válio (2003) busca analisar as formações discursivas que
estão inseridas nas produções científicas da Ciência da Informação. Além disso,
descreve os discursos sobre terminologia. Já Oliveira (2003) traz, a partir da Análise
do Discurso Francófona, a problematização das relações entre memória, identidade
e documento.
Pereira (2007), por sua vez, objetiva aproximar alguns conceitos de Análise
Documentária com a Análise do Discurso, dando ênfase a aspectos ideológicos em
análise de textos para fins documentais. O foco da pesquisadora está na descrição
dos discursos sobre Terminologias em Ciência da Informação, especialmente em
Gestão da Informação.
Ferrarezi e Romão (2007, p.154) assinalam que “os documentos materializam
um ou mais discursos, carregando em suas linhas toda uma rede de memória que
suscita muito mais do que uma leitura literal do texto”. Sob a perspectiva da teoria do
discurso, de acordo com as pesquisadoras,

[...] podemos pensar que os documentos, além de serem uma


escolha ideológica - em que alguns sentidos são naturalizados como
dominantes, devendo ser lembrados e institucionalizados, e outros
são censurados, devendo ser esquecidos e apagados - são também,
como os monumentos, portadores de uma herança: a memória
discursiva de que eles são constituídos e que os sustenta, permitindo
a sua significação (FERRAREZI; ROMÃO, 2007, p.156).
63

Sob a luz da Análise do Discurso pecheuxtiana, Ferrarezi e Romão (2007)


criticam os princípios de imparcialidade e autenticidade atribuídos aos documentos,
dado que sua produção é sempre regulada e constituída por mecanismos
ideológicos.
Gaspar e Reis (2010) afirmam que não há como fugir da subjetividade,
quando se indexa assuntos e temas. Ao fazer seu trabalho, o profissional da
informação produz sentidos, logo, sua leitura não é neutra. Para as pesquisadoras, a
partir de interações entre o campo discursivo e o campo informacional, é possível
pensar novos modos de ler, analisar, classificar, organizar e disponibilizar a
informação. Os fundamentos teóricos da Análise do Discurso foucaultina, sobretudo
as noções de “enunciado” e de “materialidades discursivas”, portanto, ajudariam no
processo de análise de textos na Ciência da Informação.
Desse modo, evidencia-se, conforme os estudos feitos por Freitas (2010), a
crescente utilização da Análise do Discurso Francesa nas pesquisas sobre
informação. Segundo a autora, os estudos sobre discurso, por meio de
conceituações de memória e arquivo, tocam em muitos objetos da Ciência da
Informação.
Posto que a Ciência da Informação tem como um dos seus objetivos a análise
de conteúdos documentais e textos que constituirão os acervos das instituições de
patrimônio cultural, Gaspar, Ferraz e Canato (2011) apontam o uso da Análise do
Discurso Francesa como um ferramental teórico, metodológico e analítico para
analisar revistas em quadrinhos. Ademais, Lima, Moreira e Moraes (2016) defendem
que é possível afirmar que há relações teórico-conceituais entre a Linguística
Documentária e a Análise do Discurso de matriz francesa.
Moraes, Lima e Caprioli (2016) apontam para Análise do Discurso como uma
metodologia a ser utilizada em estudos teóricos sobre Organização e Representação
da Informação. Discutem, além disso, sobre a interdisciplinaridade, a fim de
fortalecer as bases para o estabelecimento da relação entre a Teoria do Discurso e
a Ciência da Informação.
Castanha, Lima e Martínez-Ávila (2017) avaliam a Análise do Discurso nos
estudos do campo informacional no Brasil, sob a perspectiva da análise bibliométrica
das comunidades discursivas, nas quais os pesquisadores brasileiros estão
inseridos. Eles objetivam o entendimento do comportamento científico das
64

comunidades discursivas que utilizam a Análise do Discurso Francófona nos estudos


brasileiros de Ciência da Informação.
Na perspectiva de Terra, Almeida e Sabbag (2019),
[…] considera-se que a Análise Documentária refere-se ao
núcleo das práticas de Organização da Informação e com
contribuições também ao campo da Organização do
Conhecimento, por esta razão, a linha francesa não poderia
deixar de ser conceituada quando a intenção é explicar as
atividades, os métodos e as técnicas relacionadas a tal área.
De maneira muito objetiva, a Ciência da Informação, dada sua
configuração no Brasil, não poderia ser explicada sem o
recurso da Organização da Informação e do Conhecimento, e
esta não se torna explícita sem a menção à Análise
Documentária.

Os autores exploram a relação dialógica que pode ser estabelecida entre a


Análise do Discurso na Organização da Informação e Conhecimento no âmbito
brasileiro. Nesse sentido, fazem um estudo analítico sobre as questões
interdisciplinares, tendo como foco a Análise Documentária (TERRA; ALMEIDA;
SABBAG, 2019).

4.2 Análise do Discurso na Ciência da Informação e na Organização da


Informação e do Conhecimento: estudos das dissertações e teses brasileiras

O conhecimento mais aprofundado dos objetos de estudo exige uma


compreensão interdisciplinar que dê conta das configurações, dos arranjos, das
perspectivas múltiplas presentes na ciência. Nesse prisma, a interdisciplinaridade é
sensível à complexidade, à articulação, ao gosto pela colaboração, pela cooperação,
pelo trabalho comum (POMBO, 2005).
Embora as interações interdisciplinares sejam repletas de paradoxos, são
urgentes e inevitáveis. Logo, de acordo com Mostafa (1996, p.1-2 ),

é impossível deixar de recortar. E em recortando deixamos sempre


pedaços para trás. É a comunidade científica (e apenas ela) quem
define onde fazer os cortes e como encaminhar métodos de estudar
os pedaços recortados do real. Ao cortar pedaços, geram-se
contradições. Tanto no interior dos pedaços recortados, quanto na
relação dos recortes, entre si. Pois sempre é possível recortar
pedaços de quaisquer tamanhos. Os espaços que sobram entre os
cortes (espaços que a partir de agora podemos entender como
espaços contraditórios) são espaços interdisciplinares. São espaços
contraditórios por natureza, isto é, por nascimento. A
65

interdisciplinaridade não é um a priori a que aspiram os homens de


boa vontade. Ela não é um ato de boa vontade dos espíritos
cosmopolitas. A interdisciplinaridade é a contradição inevitável
gerada pela hiper-racionalização a que chegou a ciência moderna.

Ao longo dos anos, vários estudos foram realizados, a partir das interações
epistemológicas entre o campo discursivo e o campo informacional. Esses trabalhos
foram analisados sob o prisma da vertente crítica epistemológica. As pesquisas
recuperadas foram organizadas no quadro a seguir:

Quadro 4 – Pesquisas brasileiras sobre aspectos interdisciplinares entre as linhas


francesas de Análise do Discurso e a Organização da Informação e do
Conhecimento

AUTOR TÍTULO INSTITUIÇÃO TIPOLOGIA ANO

Clarinda Indexação: gesto Universidade


Rodrigues de leitura do Estadual de Tese 1996
Lucas bibliotecário Campinas

A
institucionalização
da pesquisa
educacional no
Universidade
Lídia Brasil: estudo
Federal de
Alvarenga bibliométrico dos
Minas Gerais Tese 1996
artigos publicados
na Revista
Brasileira de
Estudos
Pedagógicos –
1944-74
Museu, informação
e comunicação: o Universidade
Luísa Maria
processo de Federal do Rio
Gomes de
construção do de Janeiro
Mattos
discurso (Convênio Dissertação 1999
Rocha
museográfico e CNPq / IBICT)
suas estratégias
66

A arte rupestre no
Brasil: questões de Universidade
Carlos
transferência e Federal do Rio
Xavier de
representação da de Janeiro Tese 2001
Azevedo
informação como (Convênio
Netto
caminho para CNPq / IBICT)
interpretação
Na Teia dos
Sentidos: análise
Lídia Silva Universidade
do discurso da
de Freitas de São Paulo
Ciência da Tese 2001
Informação sobre a
atual condição da
Informação
Pedro Análise do discurso
Universidade
Aurelio e Ciência da
Federal do Rio 2004
Cerveira Informação: ensaio
de Janeiro Dissertação
Cordeiro sobre uma
(Convênio
possibilidade
CNPq / IBICT)
metodológica
Ciência da
informação em
Universidade
perspectiva
Nanci Federal do Rio
histórica: Lydia de
Elizabeth de Janeiro Tese 2004
Queiroz Sambaquy
Oddone (Convênio
e o aporte da
CNPq / IBICT)
Documentação
(Brasil, 1930-1970)
Pela reconstrução
epistemológica do
Marcia direito à Universidade
Heloisa informação: um Federal do Rio
Tavares de estudo de Janeiro Tese 2004
Figueredo metainformacional (Convênio
Lima da \"opinio juris\" CNPq / IBICT)
brasileira
contemporânea
Terezinha Bases de saber:
arqueologia da Universidade
de Fatima
informação sobre Federal de Tese 2008
Carvalho
transgênicos Minas Gerais
de Souza
A biblioteca escolar
Ludmila Universidade
nas teias do Dissertação 2010
Ferrarezi de São Paulo
discurso eletrônico
Thiago A construção Universidade
Henrique discursiva em Estadual Dissertação 2010
Bragato arquivística: uma Paulista
67

Barros análise do percurso


histórico e
conceitual da
disciplina por meio
dos conceitos de
classificação e
descrição

A epistemologia
interdisciplinar na
Edivanio Universidade
Ciência da
Duarte de Federal de 2011
Informação: dos
Souza Minas Gerais Tese
indícios aos efeitos
de sentido na
consolidação do
campo disciplinar
Dos modelos
classificatórios Universidade
Lívia de
tradicionais na Federal de São 2012
Lima Reis
ciência da Carlos Dissertação
informação à
folksonomia: um
enfoque discursivo
Análise
foucaultiana na
Flávia Universidade
organização de
Vieira da Federal de São
documentos na
Silva Carlos Dissertação 2013
web
Santos

Análise conceitual
e cognitiva: Modac
– um modelo
dinâmico para
Hildenise Universidade
auxiliar à
Ferreira Federal da Tese 2014
construção de
Novo Bahia
Sistemas de
Organização do
Conhecimento
(SOC)
Thiago A representação da
Henrique informação
Universidade
Bragato Arquivística: uma
Estadual Tese
Barros análise do discurso
Paulista 2014
teórico e
institucional a partir
68

dos contextos
espanhol,
canadense e
brasileiro
Biblioteca para
quem não sabe
ler?: a quebra de
paradigma sobre
leitura, leitores,
Rachel usuários de Universidade
Polycarpo bibliotecas e o Federal Dissertação 2014
da Silva papel do Fluminense
bibliotecário escolar
na educação
infantil

Bias na
representação de
assunto: uma
Suellen Universidade
discussão de
Oliveira Estadual Tese 2014
oposições binárias
Milani Paulista
nos functional
requirements for
subject authority
Arquivo, verdade e
o processo de
transição
democrática no
Brasil: o legado da
Aluf Alba Universidade
Comissão Nacional Tese 2017
Vilar Elias de Brasília
da Verdade para
ampliação da
discussão
epistemológica
arquivística

A
Institucionalização
cognitiva e social
da Ciência da
Larissa de
Informação no Universidade
Mello Lima
Brasil: uma análise Estadual Dissertação 2017
discursiva com Paulista
base nos anais do
gt1 ENANCIB em
sua primeira
década
69

A lei brasileira de
acesso à
informação: uma
análise da sua
Dirlene construção, do
Universidade
Santos contexto nacional
de Brasília
Barros ao contexto político Tese 2017
oligárquico do
estado do
Maranhão (2009-
2014)

Análise do discurso
literário: proposta
Mariana da de metodologia no Universidade
Silva processo de Estadual Dissertação 2018
Caprioli análise documental Paulista
de textos narrativos
de ficção

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

As dissertações e teses foram categorizadas em grupos, a saber, Estudos


sobre a Epistemologia e a Historicidade da Ciência da Informação, Estudos
Bibliométricos, Estudos Arquivísticos, Estudos sobre a leitura dos profissionais da
informação, Estudos sobre Organização da Informação e do Conhecimento, Estudos
Metodológicos e Estudos sobre Representação da Informação e do Conhecimento.
70

Quadro 5 – Categorização temática das dissertações e teses que apresentam


relações interdisciplinares entre o campo informacional e as vertentes francófonas
de Análise do Discurso

Autores Estudos sobre a Estudos Estudos Estudos Estudos sobre Estudos Estudos sobre
Epistemologia e Bibliométricos Arquivísticos sobre a Organização da Metodológicos Representação
a Historicidade leitura dos Informação e do da Informação
da Ciência da profissionais Conhecimento e do
Informação da Conhecimento
informação
Aluf Alba
Vilar Elias
Carlos
Xavier de
Azevedo
Netto
Clarinda
Rodrigues
Lucas
Dirlene
Santos
Barros
Edivânio X
Duarte de
Souza
Flávia Vieira
da Silva
Santos
Hildenise
Ferreira
Novo
Larissa de
Mello Lima
Lídia
Alvarenga
Lídia Silva
de Freitas
Lívia de
Lima Reis
Ludmila
Ferrarezi
Luisa Maria
Gomes de
Mattos
Rocha
Márcia
Heloísa
Tavares de
Figueredo
Lima
Mariana da
Silva
Caprioli
Nanci
Elizabeth
Oddone
Pedro
Aurélio
Cerveira
Cordeiro
Rachel
Polycarpo
da Silva
Suellen
Oliveira
Milani
71

Terezinha
de Fátima
Carvalho de
Souza
Thiago
Henrique
Bragato
Barros

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

4.2.1 Estudos sobre a Epistemologia e a Historicidade da Ciência da


Informação

Lídia Silva de Freitas (2001), em sua tese apresentada à Escola de


Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo, analisa o papel social,
econômico, político e cultural da informação. Segundo a autora, as noções sobre o
papel sociocultural da informação, sobre a ideia de democratização de saberes,
sobre produção e usos culturais e sobre o elo entre informação, poder, ética e
cidadania fazem parte das práticas culturais dos profissionais da informação. Trata-
se, portanto, de um estudo que suscita questões epistemológicas. Ademais, se
utiliza de análises históricas e discursivas.
No cenário das políticas neoliberais, Freitas (2001) traz reflexões a respeito
da teia de sentidos presentes nos enlaces epistemológicos da Ciência da
Informação. Assim, seu objeto de estudo é o discurso da Ciência da Informação no
Brasil. Sua pesquisa sobre a produção de evidências no discurso está enlaçada na
análise do processo histórico de hegemonização de sentidos. Segundo a
pesquisadora, há uma ilusão discursiva, na qual os enunciadores acreditam que
controlam de modo consciente as possibilidades significativas de seus discursos.
Em seu trabalho, uma das principais questões levantadas é a compatibilidade
entre um efetivo desenvolvimento socioeconômico e os ideais do Neoliberalismo.
Desse modo, a pesquisadora expõe uma tendência à elisão dos aspectos culturais
ligados à informação. Em contrapartida, denuncia uma valorização de aspectos
econômicos.
Ao apresentar a Teoria do Discurso, a pesquisadora aponta o linguista Dubois
e o filósofo Pêcheux como pioneiros da Análise do Discurso na França. Além disso,
discorre sobre as contribuições da arqueologia foucaultiana nos fundamentos da
72

Análise do Discurso. Freitas (2001) considera proveitosas as contribuições da


Análise do Discurso no debate epistemológico.
Na ótica da autora, discursos da Ciência da Informação referem-se aos
sentidos que circulam em suas instâncias de produção e disseminação textual, isto
é, nos centros de ensino e pesquisa, nos periódicos da área e nos encontros
técnico-científicos. Assim sendo, Freitas (2001) discorre sobre os sentidos
dominantes presentes na Ciência da Informação. Ademais, aponta que existem
discursividades que são excluídas dos textos.
Em seu percurso científico, a pesquisadora assinala a UNESCO como o
órgão da ONU que concentra grande parte dos debates sobre informação. Dentro do
órgão, uma das principais divergências se encontra nos sentidos presentes na visão
sobre informação. Há uma perspectiva na qual a informação é vista como
mercadoria, propriedade privada. Existem também aqueles que a consideram como
bem social, produto cultural da humanidade. A relação entre informação e
desenvolvimento econômico estava entre as principais pautas da UNESCO nos
anos oitenta (FREITAS, 2001).
Desse modo, no campo informacional, de um lado, há sentidos apagados,
silenciados e recobertos. Do outro, há os sentidos vigentes. A Ciência da
Informação, de acordo com os estudos de Freitas (2001), está em processo de
reconfiguração discursiva. No nível de autoria, há noções que não são mais
discutidas. Assim, existem silenciamentos no nível do sujeito. Aspectos políticos e
sociais, em uma perspectiva humanística, são negligenciados.
No campo informacional, o discurso dominante apresenta duas vertentes: a
vertente de inteligência competitiva e a vertente voltada para implantação da
sociedade da informação. Assim, há, no campo informacional, uma corrente
favorável à privatização dos sentidos que silencia aspectos socializantes e
reformistas na área (FREITAS, 2001).
Em meados dos anos 80, Freitas (2001) expõe que era notada, nas
formações discursivas, a subordinação dos profissionais da informação ao capital no
campo cultural e político. A área tende, discursivamente e em suas práticas, à
subordinação econômica ao capital. Acredita-se que tal tendência trará visibilidade
social para área. Na visão da pesquisadora, um engano. Ela defende que tal posição
possa obscurecer o seu reconhecimento cultural.
Bourdieu (2004b) ao fazer uma análise sociológica da ciência, argumenta que
73

as pressões da economia são cada vez maiores, sobretudo, quando os produtos da


investigação são altamente rentáveis. Salienta-se que os interesses econômicos e
as seduções midiáticas, somados a outros fatores externos e internos, são ameaças
à ciência, a qual acaba subordinada ao imperativo do lucro.
Por conseguinte, a pesquisadora aponta para os sentidos socializantes da
informação e seus apagamentos. Denuncia, além disso, a hegemonização dos
projetos dos países centrais do capitalismo para informação. Mostra também os
aspectos epistemológicos que permeiam os atuais discursos da Ciência da
Informação no Brasil e no mundo. Assim, existe uma hegemonização do discurso
capitalista.
Destarte, os estudos discursivos de Freitas (2001) contribuem com o debate
epistemológico da área, mostrando a tensão entre uma perspectiva neoliberal e uma
perspectiva socializante da informação. A Análise do Discurso, utilizada como
metodologia, nesse sentido, auxiliou na clarificação de como os interesses
econômicos interferem na epistemologia da Ciência da Informação.
Edivanio Duarte de Souza (2011) também traz importantes contribuições para
a epistemologia do campo informacional. Em sua tese apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Ciência da Informação da Escola de Ciência da Informação da
Universidade Federal de Minas Gerais, ele analisa os efeitos de sentido da
epistemologia interdisciplinar e suas implicações no campo informacional. Na
literatura, a interdisciplinaridade se apresenta como um dos principais fundamentais
da Ciência da Informação, todavia, segundo o autor, há poucos estudos
desenvolvidos sobre o tema.
As tensões, as disputas e as negociações que estão presentes no campo de
lutas e forças muitas vezes são desconsideradas. Nesse cenário, salienta-se que a
carga de determinações sociais, políticas, econômicas e histórico-ideológicas torna-
se apagada, visto que a interdisciplinaridade é considerada um espaço já
estabilizado. Durante seu percurso de investigação científica, o pesquisador
observou que o discurso interdisciplinar é a base de discussões e definições teórico-
conceituais da Ciência da Informação (SOUZA, 2011).
Souza (2011) mapeou a produção científica brasileira ligada ao discurso da
interdisciplinaridade. A partir desse mapeamento, ele construiu um corpus do
discurso interdisciplinar da Ciência da Informação. Ademais, identificou os
elementos que evidenciam a formação do discurso interdisciplinar e analisou as
74

estratégias discursivas na constituição dos sentidos nos estudos mapeados.


O pesquisador assinala que existe uma grande quantidade de desafios
epistemológicos, institucionais, psicossociológicos e culturais para uma interação
interdisciplinar nos mais diferentes domínios do conhecimento. Souza (2011)
argumenta que existe uma forte presença interdiscursiva da política neoliberal e do
processo de globalização da economia ao refletir sobre o discurso interdisciplinar da
Ciência da Informação.
Para ele, há na área um discurso generalista, integrador e homogeneizador.
O discurso interdisciplinar, segundo o pesquisador, também se organiza no domínio
da tecnologia da informação com os mais variados enfoques. Há uma rede
discursiva que vincula o início da Ciência da Informação a buscas por soluções
tecnológicas, a fim de resolver problemas informacionais. Assim, a tecnologia da
informação se apresenta como suporte, processo e produto de investidas
interdisciplinares, por se tratar de um ambiente no qual informações, pesquisadores
e conhecimentos estão interligados (SOUZA, 2011)
O progresso da Ciência da Informação se dá nas reflexões e construções
sobre a informação e suas tecnologias feitas por pesquisadores de várias áreas do
conhecimento. Concomitantemente, esse é também um dos seus maiores desafios,
visto que se trata de um processo complexo. Fundamentado nos gestos de leitura
pecheuxtianos, o pesquisador assinala que há um pluralismo na produção científica
da Ciência da Informação, contudo a interdisciplinaridade é superficialmente tratada
e pouco discutida (SOUZA, 2011).
Nota-se que existe uma convergência entre os trabalhos de Freitas (2001) e
Souza (2011), na medida em que os dois teóricos discorrem sobre a presença
neoliberal no discurso da Ciência da Informação. Ao utilizarem a Análise do Discurso
em suas pesquisas, os dois autores citados fazem emergir um embate político na
epistemologia do campo informacional, a saber, de um lado, os estudos sobre
discurso que se alinham a um posicionamento de esquerda; do outro, as pesquisas
sobre informação que atendem aos interesses do mercado.
Quanto a institucionalização das diretrizes epistemológicas do campo
informacional, é relevante apontar aspectos da dissertação de Larissa de Mello Lima
(2017), apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da
Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista. A autora
examina os trabalhos presentes nos anais da primeira década do Grupo de Trabalho
75

Sobre Estudos Históricos e Epistemológicos (GT1) do Encontro Nacional de


Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB). Dessa forma, fundamentada nos
estudos franceses sobre discurso, faz um delineamento discursivo da
institucionalização cognitiva e social da área.
Trata-se de um olhar discursivo que mostra como a perspectiva
epistemológica vem sendo tratada na área. Lima (2017) argumenta que a Análise do
Discurso é um método que pode oferecer suporte, a fim de situar a
institucionalização da Ciência da Informação. Ademais, expõe sobre a importância
das instituições como instâncias de validação científica. Para ela, os periódicos
científicos ganharam relevância como canais de comunicação, visto que promoviam
o encontro entre as formações discursivas da área.
Nesse horizonte, de acordo com a hipótese levantada pela pesquisadora, a
partir do momento que as esferas do poder científico passam a valorizar a agilidade
na troca de informações entre os pares da comunidade científica, os anais também
passaram a ganhar destaque. Ela aponta que os anais de eventos têm se
institucionalizado, por meio das sociedades científicas, no país e no exterior nos
últimos vinte anos. Sendo assim, a pesquisadora coloca os anais de eventos em um
nível de igualdade com os periódicos (LIMA, 2017).
Em sua investigação científica, a pesquisadora expõe que houve um
tratamento periférico em relação à epistemologia, possivelmente devido à recente
institucionalização da Ciência da Informação no país. Salienta-se que a autora faz
uma sistematização das formações discursivas e ideológicas das teorias presentes
nos estudos epistemológicos da Ciência da Informação no contexto brasileiro (LIMA,
2017).
Lima (2017) assinalou três formações discursivas presentes na discussão
epistemológica da Ciência da Informação: a primeira formada pela Teoria da
Epistemologia Social; a segunda formada pela Teoria da Sociedade da Informação
como sinônimo da Teoria da Sociedade do Conhecimento; e a terceira formada pela
Teoria Geral dos Sistemas, pela Teoria dos Sistemas Cognitivos, pela Teoria da
Ideologia da Tecnoestrutura, pela Teoria do Ator-Rede e pela Teoria do Caos.
Entende-se a institucionalização social, sob a ótica de Lima (2017), como as
engrenagens que permitem essas formações discursivas se relacionarem. Assim
sendo, a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da
Informação (ANCIB), enquanto órgão, legitima as tendências de pesquisa na área,
76

posto que se relaciona com os programas de pós-graduação responsáveis pela


organização do ENANCIB.
A pesquisa de Lima (2017) contribui com a intersecção entre a Linguística e a
Ciência da Informação, sobretudo no que concerne às questões sobre discurso,
Análise Documentária e Organização do Conhecimento. Por conseguinte, seu
trabalho, a partir dos estudos franceses de Análise do Discurso, traz reflexões
teórico-metodológicas sobre conceitos fundamentais para Ciência da Informação.
Salienta-se também que, nesse percurso teórico, a Análise do Discurso auxiliou na
compreensão do papel da ANCIB e do ENANCIB na legitimação das tendências de
pesquisa na área.
Em sua tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, mantido
por meio de convênio com a Escola de Comunicação da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Nanci Elizabeth Oddone (2004) resgata as contribuições de Lydia de
Queiroz Sambaquy para a Biblioteconomia.
A pesquisadora busca, ademais, reconstituir o contexto entre 1930 e 1970, no
Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, no qual as atividades especializadas da
Biblioteconomia, enquanto campo profissional, foram desenvolvidas. Nesse
percurso, aponta uma estreita proximidade entre a Biblioteconomia e a Ciência da
Informação (ODDONE, 2004).
Assim, seus estudos estão ligados à historicidade da Ciência da Informação.
Ela, mostra dessa forma, o rompimento das práticas que não se mostravam mais
eficazes no atendimento das necessidades bibliográficas e documentais de uma
sociedade marcada pela tecnologia e de uma comunidade científica internacional em
um significativo processo de crescimento (ODDONE, 2004).
Dado que as novas tecnologias e as novas terminologias passaram a se
infiltrar no cotidiano dos profissionais da informação, Oddone (2004) traz reflexões
sobre a opção pela Ciência da Informação, na década de 1970, feita pelos
bibliotecários do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD). Acentua-
se que para a pesquisadora, a emergência da Ciência da Informação no Brasil se
deu em um espaço, no qual um outro domínio já se encontrava estabelecido.
Lydia de Queiroz Sambaquy dirigiu o IBBD desde sua fundação. Ela foi
presidente do IBBD por onze anos. Além disso, seu nome estava associado à
renovação das técnicas biblioteconômicas brasileiras na década de 1940. A
77

pesquisadora observou, porém, que havia na literatura pouco material que tratasse
dessas questões. Dessa forma, sua trajetória profissional, necessitaria de uma
investigação mais detalhada. Assim, o objetivo principal da pesquisa é a
recuperação de eventos históricos que marcaram o percurso profissional de
Sambaquy (ODDONE, 2004).
Oddone (2004), em seu percurso metodológico, optou pela abordagem
genealógica de Foucault, que investiga as forças presentes na constituição de um
determinado fenômeno.Dessa forma, trata-se de um trabalho de investigação
documental, a fim de fazer emergir as forças dispersas. Ressalta-se que a
pesquisadora também utilizou o método Ator-Rede de Bruno Latour. Nesse
horizonte, os discursos se apresentam como passíveis de várias leituras.
Foucault, ao observar os enunciados no espaço de sua dispersão e de sua
descontinuidade, emprega a noção de rede, a fim de pormenorizar o locus, no qual o
jogo de relações e de rupturas, que configura uma determinada formação discursiva,
se apresenta (ODDONE, 2004).
Oddone (2004) pondera que as abordagens de Latour e Foucault se
aproximam em termos operacionais, a saber, na descrição minuciosa dos atores,
dos eventos e dos documentos, na expectativa de deixar emergir uma rede de
forças. A pesquisadora argumenta que na perspectiva de Foucault o enunciado tem
a necessidade de ter uma existência material.
A Análise do Discurso Francófona, nos estudos de Oddone (2004), traz
subsídios para o entendimento da historicidade do campo informacional,
recuperando marcos históricos e compreendendo como a área é entendida em sua
perspectiva histórica pelos seus profissionais e pelas suas instituições.

4.2.2 Estudos Bibliométricos

Em sua tese, apresentada à Faculdade de Educação da Universidade Federal


de Minas Gerais, Lídia Alvarenga (1996) contribui com o avanço do contexto teórico
e epistemológico da Ciência da Informação. Possibilita, ademais, uma descrição do
processo de institucionalização da pesquisa que oferece suporte à Ciência da
Educação no período que antecede a implantação dos Cursos de Pós-Graduação
78

em Educação em solo brasileiro. Há em sua pesquisa elementos da Arqueologia do


Saber e da Ciência da Informação. A Análise do Discurso aparece em sua pesquisa
por se constituir em um referencial teórico para a descrição da evolução de campos
de conhecimento.
Dentro da Ciência da Informação, há um subcampo, intitulado de Bibliometria,
responsável pelos estudos de citações no discurso que constituem um campo
científico. O trabalho da pesquisadora é constituído de um estudo bibliométrico de
artigos, de 1944 a 1974, vinculados à Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, INEP. Sublinha-se que,
desde seu surgimento, no século XVII, em quase todas as áreas científicas, os
periódicos se destacam como meio de comunicação formal mais destacado
(ALVARENGA, 1996).
Desse modo, autora utiliza conceitos e princípios presentes na Arqueologia
do Saber de Foucault. De acordo com a autora, o teórico francês aponta para a
importância da relação existente entre o trabalho de um autor com pesquisas de
outros autores. Admite-se a intersubjetividade como elemento da atividade da
produção e da interpretação do discurso. Aceita-se, ademais, a existência de
relações e contratos sociais na própria linguagem. Desse modo, nenhum texto seria
obra de apenas um indivíduo, porquanto há um entrelaçamento de experiências e
ideologias que fazem supor a presença do outro. Logo, todo texto se relaciona com
outros textos, ora em conformidade, ora em oposição (ALVARENGA, 1996).
Existem questões, na obra foucaultiana, que podem ser consideradas muito
relevantes à problemática da análise de citações. Por conseguinte, trazem um
enriquecimento teórico para os estudos bibliométricos. Há, além disso, em seus
estudos, um destaque para as relações entre discursos. Tais relações são marcadas
pela intertextualidade. Destarte, esse comportamento aproxima seu pensamento da
Ciência da Informação, sobretudo no que se refere às citações. No processo de
avaliação ou análise de um campo discursivo, as condições de produção, portanto,
seriam determinantes (ALVARENGA, 1996).
Assim, por meio de citações, é possível identificar as relações semânticas
entre o artigo de um autor e os documentos citados. Dessa forma, o ato de citar
implica fatores psicológicos, sociológicos, políticos e históricos, além de outros tipos
de influências. A análise de citações faz parte do instrumental metodológico da
bibliometria. Trata-se de uma das formas de deduzir o impacto das produções
79

científicas nas comunidades acadêmicas (ALVARENGA, 1996).


Diante dessas questões, vale ressaltar que alguns pesquisadores emprestam
“as qualidades científicas daqueles dos quais dependem para sua carreira e que
podem assegurar-se assim de clientelas dóceis e de todo o cortejo de citações de
complacência e de homenagens acadêmicas” (BOURDIEU, 2004a, p.39).
As citações possibilitam analisar as influências, isto é, quem são os autores
que contribuem efetivamente para o desenvolvimento científico. Desse modo, os
princípios presentes na Arqueologia do Saber, colaborariam no estudo das
condições de produção dos discursos que formam um campo discursivo. Assim, se
estabeleceria a relação fundamental do dado com seu contexto (ALVARENGA,
1996).
Na visão de Alvarenga (1996), a partir da intertextualidade, marcada pelas
relações entre artigos, e da interpretação de princípios ligados à pragmática,
pressupõe-se que os autores não são agentes pessoais autônomos no processo de
produção de conhecimentos, pois atuam conforme interesses ideológicos e de
poder. Por conseguinte, ver-se-á que há sistemas de exclusão, nos quais só falam
os enunciadores autorizados.
Diante do poder inerente à produção do conhecimento, se deduz que as
condições de produção e comunicação dos discursos estão ligadas aos sistemas de
exclusão. Assim, nas várias áreas do saber, determinados campos de poderes
podem refletir na produção de conhecimento. Isso pode ser percebido na rede de
pesquisadores e de instituições que são criadas (ALVARENGA, 1996).
Durante sua pesquisa, em diversas ocasiões, Alvarenga (1996) utilizou
princípios presentes na Arqueologia do Saber como fundamento no seu estudo
bibliométrico, a saber, na delimitação da pesquisa; no recorte do campo discursivo;
no momento de levantamento dos elementos contidos nesse universo; na análise e
na leitura dos elementos discursivos.
Diante do exposto, o discurso, como prática social e força ilocutória, estaria
vinculado a um jogo de relacionamentos e de poderes. Ele traz consigo as marcas
do poder e também do empréstimo de ideias. Por conseguinte, a fim de que exista
um dizer competente, pressupõe-se a cumplicidade no que se refere à legitimação
de interesses. Assim, o ato de citar está inserido em relações de poder, as quais,
muitas vezes, atendem e preservam os interesses da ciência capitalista, além de
desrespeitar princípios éticos. É sabido, portanto, que os documentos são produções
80

humanas. Destarte, precisam ser analisados de modo crítico, pois não são neutros
(ALVARENGA, 1996).
Márcia Heloísa Tavares de Figueredo Lima (2004), em sua tese apresentada
ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do convênio UFRJ/ECO-
CNPq/IBICT, também traz contribuições para os estudos bibliométricos, enfatizando
o caráter poliepistêmico da Ciência da Informação. É importante pontuar que sua
pesquisa apresenta um enforque epistemológico. Realça-se que a autora procura
estabelecer um vínculo entre os direitos humanos e o direito à informação.
A pesquisadora fez um percurso teórico no intuito de verificar como o direito à
informação é tratado no país pelos estudiosos do Direito. Assim, traz reflexões sobre
o direito à informação, a partir da literatura especializada do campo jurídico. Além
disso, propõe uma reconstrução teórica do conceito de direito à informação (LIMA,
2004).
Lima (2004) objetivou a reconstrução de argumentações teóricas sobre a
identificação de estruturas discursivas expressivas presentes no estatuto
contemporâneo brasileiro do direito à informação. A pesquisadora se deteve no
exame dos enunciados de autores brasileiros. Assim, o corpus para análise foi
construído por meio de pesquisa documental. Destarte, os recortes discursivos
foram retirados de um arquivo. Para isso, examinou textos publicados por revistas
jurídicas.
Em seu percurso metodológico, Lima (2004) utiliza a Bibliometria e a
perspectiva foucaultiana de análise de enunciados. Posto que a Bibliometria se
relaciona com métodos quantitativos aplicados à análise de informação, a
pesquisadora traz reflexões sobre as possibilidades conciliadores dos métodos
bibliométricos e arqueológicos. Destarte, em sua perspectiva metodológica, os
estudos bibliométricos podem fornecer subsídios concretos e sistematizados para os
estudos arqueológicos. Assim, há entre esses campos uma relação de
complementaridade.
Visto que a informação é um objeto poliepistêmico e vários campos
disciplinares disputam sua autoridade, a Ciência da Informação não dever furtar a
visão que outras disciplinas apresentam sobre a informação. Nesse percurso, a
pesquisadora constatou que o discurso autorizado sobre o direito à informação está
ligado aos bens materiais e imateriais disponíveis no mercado. Dessa forma, as
enunciações contemporâneas brasileiras sobre informação privilegiam o mercado e
81

não a informação pública para a vida na polis (LIMA, 2004).


Metodologicamente, em sua tese, Lima (2004) se inspira nas análises
foucaultianas, para interrogar discursos publicados sobre domínios temáticos como
os direitos, a informação e o direito à informação. A pesquisadora trabalha com os
conceito de enunciado, discurso, formação discursiva e apropriação discursiva de
Foucault. Ademais, aponta para aspectos da arqueologia foucaultiana sobre o solo
epistêmico da área de Direito. Segundo ela, há no ciclo genealógico um caráter
documentário. Por conseguinte, o trabalho de Foucault pode oferecer relevantes
aportes para concepção geral dos estudos bibliométricos, a fim de auxiliar na
interpretação de resultados dos estudos desse universo.
As pesquisas de Alvarenga (1996) e Lima (2004) assinalam para uma
articulação entre estudos bibliométricos e arqueologia de Foucault. Nesse cenário,
verifica-se que ambos os trabalhos revelam que os enunciados estão privilegiando
pontos vinculados ao mercado e ao sistema capitalista. Realça-se também que a
Análise do Discurso Francófona se apresenta como uma metodologia capaz de
auxiliar na interpretação e na análise de dados de modo crítico, problematizando os
resultados.

4.2.3 Estudos Arquivísticos

Em sua dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência


da Informação da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual
Paulista de Marília, ao discutir conceitos fundamentais da organização arquivística,
Thiago Henrique Bragato Barros (2010) assinala que a Análise do Discurso é uma
disciplina que contém atributos teórico-metodológicos capazes de contribuir para o
crescimento da Arquivística.
Além disso, durante sua investigação científica, expõe que a Arquivística é
um produto do conhecimento historicamente construído. Dessa forma, o contexto de
produção conceitual reflete nas diferentes vertentes de pensamento e nas escolhas
metodológicas. Outro aspecto tratado pelo pesquisador é a carência bibliográfica da
Arquivística em nível nacional e internacional (BARROS, 2010)
Ainda que muitos a considerem autônoma, na perspectiva de Barros (2010), a
Análise do Discurso é um desdobramento teórico da Linguística, posição semelhante
82

daquela adotada pelos teóricos da vertente sociolinguística dos estudos sobre


discurso. Sublinha-se que o pesquisador, durante sua fundamentação teórica, faz
referência aos trabalhos de Dubois.
A Teoria do Discurso se interessa pelo além-texto, influenciada pela
Sociologia, História e Filosofia. Logo, trata-se de uma disciplina que mantém
relações interdisciplinares com outras áreas por ter um objeto complexo. Desse
modo, as contribuições da Análise do Discurso à organização dos arquivos seriam
no entendimento da construção das formações linguísticas e na preocupação do
contexto, no qual os textos são produzidos. O autor argumenta que o documento é
parte de um processo científico e burocrático inserido num campo ideológico.
Ademais, aponta a presença de um sujeito que interfere na organização documental
(BARROS, 2010).
Assim, o arquivo, em seus estudos, é apresentado como uma instituição
reguladora e legitimadora de poder. Os profissionais que, nesse cenário, trabalham
nessas instituições são responsáveis por essas atividades reguladoras e
legitimadoras. O sentido é construído pelo sujeito. Soma-se a isso o fato das
instituições regularem e também fundamentarem as práticas sociais, as quais estão
permeadas pela ideologia. Logo, os sujeitos, ao se submeterem à língua e à
ideologia, são assujeitados (BARROS, 2010).
A fim de se construir um quadro teórico dos principais fundamentos da
Arquivística, Barros (2010) se alicerçou em seis manuais da área produzidos em
épocas e contextos diferentes, a fim de trazer reflexões conceituais da história da
disciplina. Neles, o pesquisador buscou os conceitos de descrição e classificação e
suas implicações teóricas para prática e teoria arquivística. Vale ressaltar que são os
manuais mais referenciados e citados da área.
Sob o prisma da Análise do Discurso, Barros (2010) buscou identificar os
sujeitos que enunciam e os lugares nos quais os conceitos são enunciados na
Arquivística. O pesquisador também identificou as tradições Arquivísticas presentes
nos países dos manuais trabalhados em sua investigação científica. Objetivou, além
disso, a compreensão do papel da Arquivística para a organização dos Arquivos e
sua construção conceitual.
Barros (2014), em sua tese também apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação da Faculdade de Filosofia e Ciências da
Universidade Estadual Paulista, sob a luz das teorias de Pêcheux e Foucault, faz um
83

estudo histórico discursivo das teorias e práticas arquivísticas, a fim de buscar em


sua episteme as relações de poder/saber. Nesse estudo, objetiva a compreensão de
como a Arquivística é entendida em seu universo histórico-conceitual pelos teóricos
e pelas instituições da área. Ademais, investiga o percurso teórico da Arquivística, a
fim de contribuir com a construção epistemológica da área.
O pesquisador compreende a Arquivística como uma instância significativa.
Ele aponta que houve uma profunda mudança na forma do arquivista atuar nos
últimos anos. Desse modo, as instituições mudaram a forma de produzir e organizar
os documentos com as novas tecnologias. Assim, uma vez que o sentido e o
significado dos documentos mudam, passarão a ter novos valores no tempo
(BARROS, 2014).
A Arquivística procura responder questões ligadas à ordem técnica e
metodológica. Ademais, organizar, disponibilizar e preservar documentos jurídico-
administrativos dentro de instituições públicas e privadas. Salienta-se que História e
Arquivística são atividades prático-científicas que sempre dialogaram (BARROS,
2014).
Barros (2014) expõe que o percurso histórico e os pressupostos técnicos do
universo arquivístico partem de posições institucionais inseridas em relações
político-ideológicas e enunciadas por sujeitos específicos. Assim, como um espaço
discursivo nunca terminado, a Arquivística é suscetível a transformações e a
apagamentos cujo efeito vem da ação ideológica e da naturalização de relações
teóricas e práticas.
Nos estudos franceses sobre discurso, especialmente nos trabalhos de
Michel Pêcheux, a ideologia ocupa um papel fundamental. O sentido é concebido
por um vínculo entre poder, saber e linguagem. Assim, os sujeitos não são senhores
de seus discursos. Eles são assujeitados pela ideologia. Há uma instância político-
discursiva no campo da linguagem. Portanto, não há neutralidade nos acervos
arquivísticos. Eles podem passar por ressignificações, reinterpretações,
deslocamentos e apagamentos. Nesse cenário, o arquivista é ator responsável pela
organização, descrição e avaliação dos documentos (BARROS, 2014).
Em sua tese, Barros (2014) traz reflexões epistemológicas da Arquivística no
contexto espanhol, canadense e brasileiro. Ele argumenta que para que haja uma
compreensão do momento atual, é necessária a compreensão do percurso teórico
da área. Sendo assim, ele busca a historicidade do discurso arquivístico.
84

O pesquisador argumenta que a trajetória histórica da Arquivística, na


Espanha, revela a relação entre o contexto estatal e o aparelho ideológico que
estabelece as condições para a teoria e a prática arquivística existam. Assim, a
Espanha ajudou na consolidação da área como uma prática profissional que trata
tecnicamente da organização de arquivos. Desse modo, o discurso, presente na
Arquivística espanhola, se vincula às questões de cunho metodológico e técnico
(BARROS, 2014).
No Canadá, a relação entre historiadores e arquivistas foi muito importante no
início da formação dos arquivos. A historiografia e o estabelecimento de arquivos
estão muito ligados no contexto canadense. Na atualidade, o Canadá é um lugar
fértil para ideias inovadoras em arquivos. O país possui métodos e princípios que
são referência para o universo arquivístico (BARROS, 2014).
No Brasil, o desenvolvimento teórico da Arquivística ganhou força nos últimos
anos, mas em relação aos países da Europa e da América do Norte, a Arquivística
se desenvolveu tardiamente. Uma das grandes barreiras da área no contexto
brasileiro é a falta de políticas e incentivos voltados para gestão e custódia dos
documentos de arquivo (BARROS, 2014).
Barros aponta que a contextualização histórica não é uma prática comum nos
estudos teórico-epistemológicos da área, sobretudo em Língua Portuguesa. Por
meio de uma ação interpretativa de percurso, o pesquisador faz uma descrição da
estrutura discursiva arquivística. Sendo assim, ele assinala que as ligações
disciplinares acontecem conforme as condições políticas e ideológicas das
sociedades, nas quais as instituições surgiram e estão alocadas. Por conseguinte,
os arquivos são instituições que além de regular, legitimam a constituição de
identidade e de memória. Além disso, registram a atuação do poder. Barros (2014),
a partir das considerações teóricas de Althusser, aponta os arquivos como aparelhos
ideológicos do Estado.
A Análise do Discurso pode contribuir com as discussões sobre as posições
ideológicas em dada conjuntura presentes na Arquivística e nas instituições
responsáveis pela organização de documentos de arquivos. Posto que, no espaço
discursivo, é possível outros olhares e análises. Logo, pesquisas de ordem
epistemológica são necessárias para Arquivística (BARROS, 2014).
Ainda sobre as contribuições da Análise do Discurso para os estudos
arquivísticos, Aluf Alba Vilar Elias (2017), em sua tese apresentada ao do Programa
85

de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília, trata de


questões ligadas ao arquivo e sua relação com o processo de justiça de transição
democrática no Brasil. Para isso, teve como foco as ações empreendidas pela
Comissão Nacional da Verdade (CNV) e o uso dos arquivos.
Em sua pesquisa, a Análise do Discurso Francesa foi utilizada para
identificação e análise do relatório final da CNV. Nesse sentido, Elias (2017) procura
demarcar as contribuições da discussão para o campo epistemológico arquivístico. A
autora aponta para demora da implantação da CNV no país, posto que se trata de
uma ação importante para o processo de justiça transicional.
Logo, os arquivos, seja como instituição ou como conjuntos documentais,
estão inseridos em fatores políticos. É sabido que durante o período ditatorial no
Brasil houve abusos cometidos pelo Estado. Nesse horizonte, a Comissão Nacional
da Verdade pressupõe os arquivos como um instrumental que objetiva reparar tais
abusos (ELIAS, 2017).
Segundo a pesquisadora, a Análise do Discurso se apresenta como um
dispositivo para investigação de processos de produção de sentidos, dado que os
sujeitos são afetados pela linguagem e pela história. Em sua análise, Elias (2017)
focou em três termos, a saber, arquivo, verdade e justiça.
Em seu percurso teórico, a autora faz pensar a relação epistemológica e
histórica do campo arquivístico com a verdade e qual o legado da CNV para a
discussão epistemológica na Arquivística. Assim, visto que o documento se
apresenta como instrumento que legitima o fato ou as formas de verdade, os
discursos, produzidos pelos e por meio dos arquivos, precisam ser reconhecidos em
sua complexidade (ELIAS, 2017).
Segundo a autora, a partir do pensamento de Foucault e suas reflexões sobre
o poder e os seus instrumentos em diferentes contextos sociais, torna-se evidente e
análoga a questão do arquivo numa perspectiva de assegurar a materialidade de um
discurso e a constituição de certo poder.
A pesquisadora também mobiliza aspectos teóricos de Pêcheux. Segundo
Elias (2017), com o arquivo se inscrevendo numa relação de dominação, o teórico
francês aponta para uma divisão social do trabalho que determina quem trabalha na
produção de leituras originais, fazendo interpretações que constroem atos políticos;
e quem atua na preparação e na manutenção da documentação em gestos
anônimos.
86

Nesse horizonte, A Análise do Discurso permitiu à pesquisadora observar o


atravessamento de duas formações discursivas entre o discurso e a prática da CNV.
De um lado, uma formação que coloca o documento arquivo em um regime de
verdade, isto é, empresta ao arquivo um sentido de prova documental. Do outro,
uma formação que trata o documento como um indício, valorizando testemunhos
orais e as redes de informação que incluem também os documentos de arquivos
(ELIAS, 2017).
Destarte, os documentos de arquivos podem se apresentar como possíveis
instauradores de “verdades” obscuras ou criminosas, mas, por outro lado, podem
contribuir com o direito ao exercício do perdão. E mais, podem oferecer recursos
para que haja a libertação de lembranças traumáticas, ressignificando as narrativas
históricas. A pesquisadora também assinala que os arquivos passam, na
contemporaneidade, a se localizar nas demandas sociais correspondentes aos
processos identitários, de inclusão e nos processos de justiça social (ELIAS, 2017).
Dirlene Santos Barros (2017), por seu turno, em sua tese também
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da
Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília, analisa a Lei de
Acesso à Informação (LAI), na perspectiva de sua construção no contexto brasileiro,
com ênfase no contexto político oligárquico do Maranhão entre 2009 e 2014.
A partir da Análise do Discurso pecheuxtiana, a pesquisadora destacou duas
categorias nos discursos políticos e midiáticos, a saber, publicidade e silêncio. Ela
argumenta que no Maranhão a LAI não teve espaço na mídia, porquanto se
apresentava como uma ameaça à manutenção do poder oligárquico da região
(BARROS, 2017).
A lei de Acesso à Informação foi sancionada no Brasil pela presidenta Dilma
Rousseff em 18 de novembro de 2011. Salienta-se que a promulgação da Lei no
país se deu tardiamente. Ao trazer reflexões sobre a LAI, no contexto político e
informacional, a pesquisadora defende o direito à informação como pressuposto
para o conhecimento e a atuação dos cidadãos nos debates e nas tomadas de
decisões políticas (BARROS, 2017).
A partir das discussões sobre política, mídia, poder, sociedade civil e
dominação no contexto maranhense, feitas por Dirlene Barros (2017), ver-se-á que a
configuração política oligárquica maranhense possivelmente influenciou o
comportamento da bancada do estado no Congresso Nacional. Ademais, é
87

responsável pela quase ausência de divulgação da LAI pela mídia local.


Assim, a pesquisadora busca o entendimento das relações de poder
presentes no campo político e informacional do Maranhão. Além disso, descreve e
analisa o processo de implementação da Lei de Acesso à Informação no Brasil,
identificando seus principais atores. Descreve também o contexto político do
Maranhão entre 2009 e 2014 e analisa as ações de informação do grupo Sarney,
visto que oligarquia Sarney controla diversos meios de comunicação na região.
Entende-se oligarquia como o governo de poucos, os quais administram o bem
público para seu próprio benefício (BARROS, 2017).
O cidadão, de acordo com a visão de Barros (2017), deve ter acesso às
informações, sem impedimentos, por meio da Internet. A cidadania digital oferece
alternativas às pessoas menos favorecidas, trazendo facilidades para uma atuação
política. Por conseguinte, as tecnologias de informação e comunicação assumem
um caráter social. Para a pesquisadora, o estudo do fenômeno informação não é
concebido fora do sujeito. A informação se comunica, se forma, se expande por
meio do sujeito, o qual, num processo dialético com o meio, intensifica os processos
informacionais.
A busca pela transparência pública é uma prática inserida nas sociedades
democráticas.Para pesquisadora, é dever dos governantes dar publicidade a suas
ações no que se refere à administração pública. Além disso, disponibilizar
informações de interesse da população, a fim de que sejam disseminadas
(BARROS, 2017).
Nesse contexto, a gestão documental demanda estrutura física, recursos
humanos e também financeiros. Ela deve ser implantada, para que as informações
solicitadas sejam disponibilizadas de modo prático e eficiente. Sendo assim, a
transparência das informações governamentais é um fator decisivo para boa
governança. Ao tornar mais transparente o aparelho estatal, por meio da
transparência ativa, o cidadão terá uma participação maior no controle social
(BARROS, 2017).
É importante que o cidadão participe das tomadas de decisão do Estado.
Desse modo, a gestão pública seria legitimada, facilitando sua qualidade e
eficiência. Assim, a desorganização dos arquivos se apresenta com um dos grandes
desafios para o fornecimento imediato da informação e a para implementação da LAI
(BARROS, 2017).
88

O uso das tecnologias de informação e comunicação facilita a transparência


ativa, porquanto amplia a quantidade de informações divulgadas. Ademais, ajuda na
manutenção da atualização das informações de modo mais rápido. Dessa forma,
ocorre a diminuição no uso de recursos financeiros e humanos, visto que as
informações de interesse coletivo podem ser usadas por vários cidadãos
simultaneamente em lugares diversos (BARROS, 2017).
A pesquisadora, por meio da Análise do Discurso, analisa os discursos sobre
a LAI. Dessa forma, observa que a história do Maranhão é marcada por graves
problemas de ordem social, política e econômica, resultado da péssima
administração de oligarquias que ficaram à frente do poder local. Salienta-se que a
família Sarney atua em diversas esferas, no que concerne as tomadas de decisão
da região. Roseane Sarney, durante seu governo, influenciou a manutenção da
cultura do sigilo da Lei de Acesso à Informação no Maranhão (BARROS, 2017).
Há uma luta constante pela manutenção do poder político e informacional.
Embora as tecnologias de informação e comunicação representem novas maneiras
de transcender o uso da informação, o Maranhão acaba impossibilitado de uma
contra ação devido suas baixas condições sociais e tecnológicas (BARROS, 2017).
Por conseguinte, a pesquisadora fez uma análise dos discursos proferidos
pela bancada federal e a mídia do Maranhão durante o processo de debate e de
divulgação da LAI. Barros (2017) queria analisar até que ponto a oligarquia Sarney
influenciou os discursos durante a gestão de Roseane Sarney entre 2009 e 2014.
Realça-se que eleito governador do Maranhão em 2014, Flávio Dino representou o
rompimento da oligarquia Sarney.
Logo, nota-se, nos trabalhos de Elias (2017) e Barros (2017), ambos
desenvolvidos na Universidade de Brasília e sob orientação da professora Georgete
Medleg Rodrigues, análises discursivas de documentos de cunho político e de forte
interesse nacional. As autoras problematizam aspectos ligados ao arquivo em sua
relação com o campo político.

4.2.4 Estudos sobre a leitura dos profissionais da informação

Clarinda Rodrigues Lucas (1996), em sua tese de doutorado, defendida no


Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, sob
89

orientação da professora Eni Puccinelli Orlandi, parte da verificação do imaginário


que cerca a figura dos profissionais de Biblioteconomia. O bibliotecário era visto
como o guardião dos pergaminhos. Hoje é o indexador de documentos em bases
digitais. Na perspectiva da pesquisadora, o bibliotecário é o responsável pela
organização da memória.
Segundo Lucas (1996), a organização da informação e a recuperação do
sentido dos textos estão entre as finalidades da Biblioteconomia e dos estudos sobre
informação. Assim, os profissionais da informação através de catálogos e descritores
tentam dirigir o olhar do leitor. Para autora, ler é muito mais que decifrar códigos,
visto que há diferentes sujeitos e diferentes modos de leitura.
Desse modo, o bibliotecário faz o papel de intérprete dos textos que indexa.
Lucas (1996) sinaliza criticamente a busca pela desambiguização dos enunciados,
das palavras. Segundo a autora, os profissionais da informação objetivam a
organização da informação e do conhecimento e o controle terminológico por meio
de linguagens documentárias, a saber, tesauros, terminologias, listas de cabeçalhos.
Nesse contexto, espera-se do indexador uma leitura neutra e objetiva. Há uma
tentativa em reduzir a subjetividade do sujeito que lê. Logo, idealiza-se uma
linguagem homogeneizada e interpretável pelas máquinas.
Diante desse cenário, a pesquisadora aponta que o trabalho de indexação
não é neutro quanto à interpretação. Por conseguinte, não espelha com exatidão o
conteúdo de uma obra, pois nesse processo, diferentes leituras são expostas ou
silenciadas. Os descritores são resultados de um jogo de poder inserido na
linguagem. O controle terminológico, portanto, está ligado a mecanismos de controle
dos sentidos, visto que alguns sentidos são legitimados por determinada
comunidade (LUCAS, 1996).
Há um sentido dominante que se institucionaliza, conforme as condições de
produção. Destarte, não considerar as condições de produção do discurso é apagar
a contradição entre as diversas formações discursivas que se entrecruzam. Assim,
os profissionais da informação são sujeitos com ideologias e subjetividades. Trata-se
de agentes que controlam e disciplinam os acontecimentos (LUCAS, 1996).
Sublinha-se que na terminologia de uma área, há o controle de vocabulário,
portanto, há relações de poder e a institucionalização de sentidos. Desse modo, as
pessoas que trabalham com informação são afetadas pelo complexo das formações
discursivas historicamente determinadas. Portanto, os indexadores reproduzem os
90

sentidos já estabilizados nas linguagens documentárias (LUCAS, 1996).


Por meio de um diálogo interdisciplinar entre Biblioteconomia e a Análise do
Discurso, Lucas (1996) questiona o discurso que descreve a leitura do bibliotecário
como neutra e apolítica. Critica, além disso, a leitura rápida na indexação, a qual
visa a produtividade sem a reflexão e pode comprometer a interpretação. Para a
pesquisadora, não é possível que uma metodologia possa disciplinar, administrar e
conter os diversos fatores sobre os quais a Análise Documentária se sujeita.
No contexto da museologia, Luísa Maria Gomes de Mattos Rocha (1999),
também aponta para importância de leituras que sejam mais plurais. Em sua
dissertação de mestrado, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência
da Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Convênio CNPq / IBICT-
UFRJ / ECO), a pesquisadora faz uma reflexão sobre o processo de construção do
discurso museográfico e suas estratégias expositivas com ênfase no processo
informacional. Assim, conforme sua perspectiva, as atividades técnicas e científicas
contêm as marcas de um discurso histórico, social e culturalmente determinado.
A partir de seu arcabouço conceitual, a pesquisadora trabalha a exposição
como um vetor de produção de sentidos. O indivíduo, na relação sujeito-objeto,
produz significados. Ademais, em sua investigação científica, ela traz reflexões
sobre como história e memória se movimentam juntas na construção do saber
histórico. Assim, a exposição nos museus está inserida nesse processo de fusão
(ROCHA, 1999).
Rocha (1999) explica que as representações estão inseridas em um sistema
simbólico partilhado por sujeitos sociais, os quais lhe dão significados e sentidos.
Nesse horizonte, a museologia tem a tarefa de representar e organizar certo
conhecimento. Em seu trabalho, a autora argumenta que na integração do objeto ao
acervo de um museu ocorre o controle de significado, privilegiando a classe
dominante.
A organização e representação do conhecimento permitem a interlocução
entre objeto e usuário. Dessa forma, existe a possibilidade de variadas leituras e
significações em relação à singularidade humana e aos diversos objetivos
conceituais dos campos disciplinares do saber. Salienta-se que conforme os
atributos que lhe são dados, um mesmo objeto pode ser associado a diversos
grupos e segmentos distintos. Logo, a partir da potencialidade do objeto de propiciar
variadas leituras e interpretações, podem surgir diferentes classificações (ROCHA,
91

1999).
Rocha (1999) assinala que a análise do documento clama por interações
interdisciplinares. O significado histórico, muitas vezes, é tido como uma verdade
única. Não se pode esquecer que há um aspecto contextual e subjetivo no
conhecimento histórico. Historiadores e museólogos utilizam um repertório pessoal
na construção de seus objetos de análise. O museu possui um poder legitimador, a
ponto de ser considerado durante muitos anos como inquestionável.
Dessa forma, não se pode perder de vista que o museu está inserido numa
ordem social e cultural de uma sociedade. Ademais, passa por mudanças e
transformações em suas necessidades e valores. O objeto sofre alterações físicas,
devido à ação do tempo, além de enfrentar mudanças em seu uso como
representação social de um determinado contexto (ROCHA, 1999).
O museu está inserido na ordem sociocultural de uma sociedade. Nessa
instituição, diferentes padrões classificatórios são utilizados na representação do
acervo e na seleção dos objetos expostos. Tais padrões refletem a dinâmica da
sociedade e também do sujeito. Para a pesquisadora, o padrão classificatório
procede de relações socioculturais. Dessa forma, o sujeito, alocado num grupo
social, possui um determinado padrão de classificação (ROCHA, 1999).
É importante problematizar as questões em torno dos critérios de
classificação dos museus. Em muitos momentos, prioriza-se um determinado código,
partilhado por um segmento social privilegiado, deixando de lado um discurso mais
democrático e aberto a múltiplas leituras. A exposição, portanto, se revela como uma
teia de significados possíveis (ROCHA, 1999).
Os museus se apresentam como instâncias de legitimação do discurso ou de
uma verdade científica. Os museus históricos, por exemplo, valorizam a perspectiva
cronológica. Neles, muitas vezes, os fatos se apresentam de forma linear, por meio
de objetos pessoais de uma elite política que não expressa as complexidades das
relações socioculturais. As relações comunicacionais entre o museu e o público têm
um aspecto intencional que se reflete na política cultural da direção da instituição.
Sendo assim, não há neutralidade nessa relação (ROCHA, 1999)
O enfoque discursivo assinala que o significado de um objeto ou de uma
exposição é construído por um sujeito, alocado num contexto histórico e
sociocultural, por meio de um processo de interlocução que pede a negociação de
subjetividades em cenário contextualizador (ROCHA, 1999).
92

A pesquisadora trouxe reflexões sobre questões museológicas, a saber, a


especificidade da informação museológica, a autoridade, a multiplicidade
interpretativa e a institucionalização da verdade. Além disso, levantou discussões
sobre a importância de estratégias museográficas que considerem o sujeito, os
múltiplos sentidos e democratização da informação, além de romper com o discurso
autoritário (ROCHA, 1999).
Em sua dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, por sua vez,
Ludmila Ferrarezi (2010), mediante uma interface entre Ciência da Informação,
Análise do Discurso e Educação, traz reflexões sobre a biblioteca escolar. A
pesquisadora analisa discursivamente os movimentos do sujeito e dos sentidos em
páginas eletrônicas sobre biblioteca escolar. Destarte, seu objeto de pesquisa são
os discursos sobre a biblioteca escolar materializados na Internet.
Segundo Ferrarezi (2010), a biblioteca escolar passa a ser discursivizada e
naturalizada como um espaço fechado ao múltiplo e com limitações, no que tange os
diversos recursos e atividades que poderia oferecer. Dessa maneira, a partir dos
pressupostos da Análise do Discurso pecheuxtiana, a autora busca compreender
como a historicidade e a memória discursiva sustentam sentidos sobre o que é a
biblioteca escolar.
De acordo com a analista do discurso, a biblioteca escolar enfrenta vários
problemas, a saber, o silêncio e o pouco reconhecimento. Diante desses desafios,
tornam-se relevantes estudos que procurem pensá-la de maneira crítica,
considerando uma abordagem mais polissêmica e interativa (FERRAREZI, 2010).
Em sua investigação científica, Ferrarezi (2010) leva em consideração o
político. Ademais, objetiva dar voz a sujeitos que foram silenciados. Nota-se também
que a pesquisadora concebe a materialidade virtual como um espaço de disputas e
inserido na luta de classes. Assim, a rede eletrônica é um espaço político de
conflitos pelo dizer.
Há sentidos que são vistos pelos sujeitos como os únicos que podem ser
enunciados, enquanto outros acabam apagados. Ferrarezi ( 2010) assinala que isso
se dá pelas vias do assujeitamento e do esquecimento. Existem sentidos
dominantes que normatizam o que e como a biblioteca escolar dever ser. Nessa
ótica, muitos outros acabam silenciados.
Dado que na biblioteca escolar diferentes sentidos são gerados, é possível
93

que um bibliotecário enuncie a partir do lugar de organizador de acervo ou de


mediador de leituras, dentre várias outras possibilidades. Dessa forma, o sujeito-
bibliotecário está inserido em um lugar de poder (FERRAREZI, 2010).
É importante mencionar que pesquisadora defende que o assujeitamento
teorizado por Pêcheux não é radical, isto é, há um espaço para o sujeito resistir.
Ferrarezi ( 2010) também aponta que a presença de sentidos mais plurais podem
indiciar um desejo por transformações nas práticas realizadas nas unidades de
informação escolares. Por conseguinte, é importante que emerjam sentidos além do
dominante.
Em sua dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência
da Informação da Universidade Federal Fluminense, Rachel Polycarpo da Silva
(2014), tendo como base sua experiência profissional na Biblioteca Flor de Papel,
também analisou questões ligadas ao conceito de leitura no contexto da biblioteca
escolar e da Educação Infantil.
A autora se apoiou nos estudos pecheuxtianos de Análise do Discurso para
trabalhar o conceito de leitura. Segundo Silva (2014), as análises conceituais e as
interpretações de dados revelam que o conceito de leitura é mais amplo do que a
ideia de leitura inserida nos discursos da Biblioteconomia e da Ciência da
Informação.
Nesse sentido a Análise do Discurso ofereceu a pesquisadora um referencial
teórico e epistemológico para compreender como a biblioteca escolar e o
bibliotecário podem auxiliar na educação leitora e no entendimento da biblioteca
como um espaço que pode ser utilizado por crianças. Assim, a autora traz
considerações sobre o papel do bibliotecário na formação de leitores, assinalando
que a biblioteca escolar é um espaço propício para a formação de leitores desde a
Educação Infantil (SILVA, 2014).
A Análise do Discurso auxiliou a autora em sua busca pela compreensão do
desenvolvimento do discurso sobre o conceito de leitura na biblioteca escolar
presentes nas áreas de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Dessa forma, a
fim de ilustrar as condições de produção do discurso institucional e as formações
sociais que influenciaram nas transformações da concepção de leitura, Silva (2014)
incorporou em sua pesquisa fatos históricos da Biblioteconomia e da Ciência da
informação.
A pesquisadora argumenta que embora haja um aumento de pesquisas sobre
94

leitura e sua relação com a biblioteca no âmbito da Biblioteconomia e da Ciência da


Informação, os estudos ainda tratam pouco a respeito do ato de ler e suas
influências para o uso da informação pelos leitores. Segundo Silva (2014), a leitura
pode ser entendida como um processo que envolve a interação do sujeito com sua
realidade, resultando em compreensão. Nessa ótica, a leitura é um processo
comunicativo mais amplo e independente de codificação e decodificação do registro
escrito.
Lucas (1996), Rocha (1999), Ferrarezi (2010) e Silva (2014) compartilham da
ideia de que há sentidos dominantes presentes nos padrões de classificação. Por
conseguinte, surge a necessidade de abertura para sentidos que sejam mais
abrangentes, atendendo a complexidade da sociedade. Mesmo que Lucas (1996),
Ferrarezi (2010) e Silva (2014) utilizem os estudos de Pêcheux e Orlandi na
Biblioteconomia, enquanto Rocha (1999) se fundamenta em Foucualt na
Museologia, chegam a conclusões parecidas, isto é, a importância da negociação de
subjetividades e de leituras que sejam mais plurais por parte dos profissionais da
informação. Elas assinalam para um conceito de leitura que esteja aberto à
polissemia e que admita múltiplas interpretações. Destarte, as autoras
problematizam a noção de leitura e a busca pelo controle dos sentidos no campo
informacional.

4.2.5 Estudos sobre Organização da Informação e do Conhecimento

Terezinha de Fátima Carvalho de Souza (2008), em sua tese apresentada ao


Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de
Minas Gerais, trouxe reflexões sobre como a Ciência da Informação pode contribuir
com a compreensão de temas complexos que envolvam a ciência, a política, a
economia e a legislação numa perspectiva multidisciplinar e interdisciplinar. Em sua
pesquisa, especificamente, a autora se baseou em discussões ligadas ao tema
“alimentos geneticamente modificados”.
A produção da ciência e dos saberes encontra na Ciência da Informação um
lugar privilegiado para a organização e o tratamento das informações, a partir da
criação de repositórios informacionais. Assim, a pesquisadora propõe a criação de
um repositório de informações, o qual denomina de base de saber, a fim de auxiliar
na compreensão do processo de formação do discurso sobre transgênicos. Para
95

isso, se fundamentou nos estudos arqueológicos do discurso de Foucault (Souza,


2008).
Segundo Souza (2008), a ciência isoladamente não consegue explicar a
realidade complexa dos transgênicos. Dessa forma, a construção de bases de saber
sobre esse tema, incluindo o conhecimento científico e os saberes econômicos,
políticos e legais, poderá auxiliar na compreensão dessa realidade, além de
viabilizar subsídios para tomada de decisões.
Nesses processos que exigem um alto grau de complexidade, tratar apenas
de aspectos científicos torna as questões relevantes fragmentadas e prejudica a
tomada de decisão. Sendo assim, em seu percurso teórico, a pesquisadora
problematiza o tratamento do conhecimento científico como instaurador da verdade
e provedor de parâmetro para compreensão da realidade. Para ela, portanto, tratar o
conhecimento científico como hegemônico é insuficiente (Souza, 2008).
A realidade social se apresenta com um elevado grau de complexidade. Logo,
são necessários estudos que articulem o conhecimento científico produzido com
aspectos econômicos, políticos e legais. Segunda a pesquisadora, apenas a
identificação temática não é suficiente para a recuperação da informação adequada,
no que concerne as questões multidisciplinares, interdisciplinares e complexas.
Dessa forma, os estudos arqueológicos do discurso poderiam enriquecer o
entendimento de bases de saberes (Souza, 2008).
Souza (2008) teve como intenção desenvolver um exercício metodológico
capaz de explicitar a possibilidade de se estabelecer uma base de saber em
temáticas complexas como os transgênicos por meio da Análise do Discurso. Assim,
surge seu conceito de arqueologia da informação.
Nesse sentido, a teoria foucaultiana auxiliaria na explicitação de determinado
conteúdo organizado e registrado. Em Foucault, a pesquisadora encontrou
evidências para explicitar a percepção de que apenas o conhecimento científico não
é capaz de dar suporte para tomada de decisão. Nesse sentido, as relações
econômicas, políticas, legais e sociais também devem ser consideradas. Portanto, a,
pesquisadora propõe a produção de repositórios informacionais, chamados de bases
de saber, os quais devem reunir não somente o conhecimento científico, mas
também saberes econômicos, políticos e legais.
Por seu turno, ao tratar dos modelos de organização e classificação da
informação, em sua dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
96

Linguística da Universidade Federal de São Carlos, Lívia de Lima Reis (2012)


prioriza um modo mais dialógico de organização, isto é, a folksonomia. Esse
instrumento de organizar e classificar informações funciona como um instrumento de
auxílio que, na utilização de linguagens documentárias, considera o sujeito e o
contexto de uso da informação. Além disso, permite que uma pessoa atribua tags,
isto é, palavras escolhidas para representar conteúdos online.
A folksonomia é considerada como uma prática social e colaborativa de
organização do conhecimento encontrado na Internet. Trata-se também de uma
garantia da linguagem utilizada por usuários em suas buscas por informações. Nela,
os sujeitos escolhem e manipulam as formas lexicais, conforme o contexto de uso
da linguagem e a significação que o sujeito atribui ao conteúdo a ser representado.
Sublinha-se que os sujeitos apresentam contextos sociais e pontos de vista
diferentes. Em seu estudo, a pesquisadora investiga os modelos de organização e
classificação das informações, a partir da contribuição teórica de Foucault,
especialmente, no que tange à relação poder-saber (REIS, 2012).
De acordo com Reis (2012), sob a luz do pensamento de Foucault, o
conhecimento não surge de modo neutro. Ele é regido por regras de formação que
permitem circular determinados discursos e não outros. Esses discursos estão
ligados à episteme de um momento histórico, o qual valida e legitima aquilo que é
dito. Assim, o método genealógico foucaultiano encontra-se centrado nas relações
entre discurso e poder. Além disso, analisa como determinado discurso se forma de
maneira efetiva, se reorganiza internamente, sofre críticas e se replica através de
forças, as quais o interpelam externamente.
Desse modo, a pesquisadora explica que os saberes se modificam em meio
aos poderes e às resistências. Foucault, na fase genealógica de sua pesquisa, se
voltou para compreensão das relações de poder presentes em instituições como
prisão, escola e hospital. O teórico descortinou como os procedimentos disciplinares
que objetivavam o controle do corpo e da mente geravam saberes sobre indivíduos
(REIS, 2012).
O método arqueológico de Foucault, por seu turno, contribui na compreensão
de como as epistemes de diferentes períodos configuram discursos e práticas que
influenciam a organização do conhecimento em cada época. Assim, para que uma
ideia seja considerada verdade, deve estar vinculada à episteme de um determinado
período (REIS, 2012).
97

A partir da teoria de Foucault, a pesquisadora explica que o Estado moderno


se caracteriza pelo uso de tecnologias do poder disciplinar, a fim de controlar e
tornar a população mais produtiva. Tal poder é exercido a partir do aparato técnico
das instituições. Ele age sobre as pessoas de modo geral e particular. Logo, o poder
está inserido nos mais variados ambientes e opera nas diversas relações entre os
indivíduos (REIS, 2012).
Existem relações de poder e formas de resistências nos vários campos da
ação humana. O poder circula em espaços de liberdade. Destarte, o poder também
circula por meio de uma nova forma na prática da folksonomia. Vale lembrar que
embora os sistemas ideológicos institucionalizados estejam enredados no contexto
diário dos sujeitos, eles podem modificá-los por meio de atitudes éticas responsivas.
Dessa forma, essas modificações não são feitas por apenas um sujeito, mas sim por
indivíduos que se estejam organizados socialmente (REIS, 2012).
Realça-se que o poder não é sempre negativo, isto é, sempre reprime, limita e
castiga; porquanto, através de seus procedimentos, pretende-se uma atuação
produtiva por parte dos indivíduos. Vale ressaltar, por exemplo, que o capitalismo
não teria o mesmo resultado, caso utilizasse apenas técnicas repressivas (REIS,
2012).
Ninguém está livre das relações de força. O poder não é propriedade de
alguém. Além disso, não pode ser localizado em lugares específicos, pois se define
em termos de relação. Por conseguinte, há relações de poder em pontos diferentes
da sociedade. Trata-se da microfísica do poder (REIS, 2012).
Assim, existe o conflito entre sistemas ideológicos que se inclinam para um
fechamento de sentidos e outros que tendem para os múltiplos sentidos, a fim de
classificar algo. Sublinha-se que Lucas (1996), Rocha (1999), Ferrarezi (2010) e
Silva (2014), como já foi apontado, também assinalam para essa questão. Há, por
exemplo, tags mais previsíveis e outras mais criativas. Assim, os sujeitos, apoiados
em poderes que circulam por instituições sociais, atuam como instâncias que
controlam os discursos, de acordo com o lugar no qual estão inseridos. Nesse
cenário, o poder não se encontra na figura de uma autoridade única, mas se
dispersa entre os usuários da web (REIS, 2012).
As tags são formas específicas de enunciados, constituídas por palavras
simples ou compostas, até mesmo por frases. Entre suas principais funções está a
organização colaborativa e personalizada dos conteúdos onlines. Ainda que
98

classificação social sofra coerções ideológicas, por meio dela, também, é possível a
criatividade (REIS, 2012).
A pesquisadora defende que a Internet possibilita diversas formas de
resistência aos sistemas ideológicos institucionalizados, porquanto possibilita o ato
criativo, ainda que suas ferramentas não sejam gratuitas e livres das relações de
poder. Dessa forma, não se deve fugir dos embates ideológicos, dos diversos pontos
de vista, dos diferentes grupos culturais, visto que tais embates envolvem tipos de
poder e de resistência (REIS, 2012).
As relações de poder, na visão de Reis (2012), na Era da Informação, estão
assumindo uma configuração mais dinâmica e fluida, visto que as noções de
colaboração em redes sociais estão presentes nos diversos campos das atividades
humanas. Diante da exposição online da privacidade, uma forma de resistência seria
os sujeitos se tornarem os próprios controladores dos discursos, para que exponham
informações de seus interesses. Assim, os pontos de resistência não podem ser
localizados com facilidade.
Hoje, há a valorização da criatividade e do compartilhamento de saberes. É
possível, por meio da compreensão ativa e do exercício da liberdade, exteriorizar
pontos de vistas, analisar atos e enunciados de outros e até mesmo adquirir uma
identidade em meio ao conflito entre poder e resistência. Na atribuição das tags, por
exemplo, os sujeitos podem negociar sentidos. Para isso, há fóruns de discussão
que estão disponibilizados em sites (REIS, 2012).
Por conseguinte, o gesto classificatório não é neutro, pois envolve vários
processos ideológicos e valorativos de compreensão. Há no controle terminológico
uma tendência para fechar espaços para interpretação. Ademais, a tecnologia do
poder disciplinar, associada a nova forma de poder, registra e guarda informações,
além de rastrear o comportamento dos indivíduos. Dessa forma, ainda que a
folksonomia favoreça a criatividade dos sujeitos ao classificar conteúdo, não se
encontra livre das forças de poder coercitivas. Nesse horizonte, o poder adquire
novas configurações (REIS, 2012).
Com enfoque nas novas ferramentas da web, Flávia Vieira da Silva Santos
(2013) trouxe reflexões sobre o tratamento da informação, objetivando a análise, a
representação e a recuperação de documentos em sua dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade
Federal de São Carlos.
99

A pesquisadora objetivou a compreensão de aspectos ligados à teoria de


Foucault, a fim de realizar uma análise discursiva em textos da web, visando a
organização de acervos. Assim, a autora aplicou princípios teóricos de Foucault em
um corpus de cunho artístico. Os textos foram encontrados na web a partir do
enunciado “morte de Paul McCartney”(SANTOS, 2013).
Santos (2013) analisa o tema “morte de Paul McCartney”, a partir de
princípios da Análise do Discurso. Ela assinala que existe uma lacuna em relação à
organização de documentos artísticos no universo da web. Dessa forma, argumenta
que os princípios de análise foucaultiana podem auxiliar os profissionais da
informação na análise e na organização desses documentos.
Acentua-se que a pesquisadora aplica conceitos foucaultianos em
materialidades ligadas ao enunciado “morte de Paul McCartney” na web. Os
princípios escolhidos, trazidos da teoria arqueológica de Foucault, para pesquisa
foram: Ciência e Saber, Comentário e Arquivo. Ele propõe uma organização de
arquivo, a partir dos documentos de sua análise, para buscar as relações entre eles
(SANTOS, 2013).
Devido ao surgimento dos meios digitais na web, campos como a
Biblioteconomia, Arquivologia e a Documentação estão reavaliando critérios e
parâmetros que direcionam suas práticas.O surgimento da Ciência da Informação
provocou mudanças nas técnicas de organização da informação. Hoje, a informação
armazenada em ambientes digitais pode ser disseminada independentemente de
sua localização física (SANTOS, 2013).
Nesse contexto, a Ciência da Informação e a Ciência da Computação,
segundo a pesquisadora, caminham para uniformização na representação dos
dados. O objetivo dessa padronização é o surgimento de bases de dados que
operem com mais eficiência e ofereçam aos usuários resultados de busca de modo
diversificado (SANTOS, 2013).
A web disponibiliza em suas práticas várias fontes de informação, entretanto
estão espalhadas. Sendo assim, precisam ser organizadas. Santos (2013) assinala
que é possível inserir os resultados analíticos, advindos da teoria foucaultiana, em
modelos computacionais. Para ela, há princípios, práticas e padrões de linguagem
computacionais que, além de estruturar os dados resultantes de análises feitas,
podem servir de modelo.
Portanto, nesse horizonte, padrões computacionais são indispensáveis, a fim
100

de que os dados sejam processados e compartilhados. Novas maneiras de


descrição dos dados e da estruturação de registros bibliográficos são necessárias,
visto que o ambiente web gera novas demandas com suas especificidades. Desse
modo, a Organização da Informação tem um papel primordial para que ocorra a
recuperação da informação de modo eficiente (SANTOS, 2013).
Na visão da pesquisadora, a análise de um arquivo discursivo, conforme a
proposta de Foucault, e os recursos computacionais proporcionariam a integração
de dados presentes em arquivos, bibliotecas, museus e o conteúdo presente na
web. Dessa forma, em ambientes virtuais, o uso das informações seria facilitado
(SANTOS, 2013).
Santos (2013) reuniu documentos sobre a morte de Paul McCarrney, a fim de
gerar um arquivo discursivo. Ao buscar materiais sobre um mesmo assunto e fazer
uma análise discursiva das informações encontradas, estabeleceu relações
enunciativas. Dessa forma, os documentos encontrados, a partir da proposta
focaultiana, formaram um arquivo enunciativo.
A análise discursiva facilita o agrupamento dos documentos e auxilia na
compreensão das relações existentes entre eles. Nesse cenário, a Análise do
Discurso contribui com a análise de documentos no âmbito da web. Diante da
necessidade de novas maneiras de análise de documento na web, Santos (2013)
defende que é possível, mediante a análise discursiva, agrupar e relacionar
documentos, considerando materialidades textuais com diferentes características.

4.2.6 Estudos Metodológicos

Pedro Aurelio Cerveira Cordeiro (2004), em sua dissertação, apresentada à


Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, propôs uma
interação entre a Análise do Discurso de matriz francesa e a Ciência da Informação.
Assim, a partir dessa interação, sugere um novo método analítico à Ciência da
Informação.
O fio condutor de sua pesquisa foi a verificação da Análise do Discurso como
uma alternativa metodológica aplicável à Ciência da Informação. Para o autor, em
suas ações de recontextualização, as instâncias ideológicas e de poder, ao lado da
informação, deveriam ser de interesse da Ciência da Informação (CORDEIRO,
101

2004).
Cordeiro (2004) aponta que são poucos os estudos teóricos sobre a Análise
do Discurso como metodologia presentes nas práticas da Ciência da Informação.
Ademais, aponta que as duas áreas do conhecimento científico despertam
polêmicas devido às origens de seus objetos de estudo, a saber, o discurso e a
informação.
Sendo assim, seu trabalho prepara o campo científico para novos estudos
que envolvam a metodologia da Análise do Discurso e os estudos sobre informação.
Segundo a hipótese de Cordeiro (2004), a Ciência da Informação é considerada
como um campo do conhecimento a procura de sua própria epistemologia.
Desse modo, possibilita agregação e afirmação científica de disciplinas que
caminham em direção a um mesmo ponto. A partir do pós-Guerra, segundo o
pesquisador, Análise do Discurso e Ciência da Informação trilham por caminhos
parecidos. Ademais, apresentam crises semelhantes e transitam por vários espaços
epistemológicos, isto é, passam pelos paradigmas físico, cognitivo e social. Sobre
isso, é importante mencionar que Cordeiro (2004) faz referência a Rafael Capurro
(2003). O filósofo uruguaio, ao assinalar questões epistemológicas presentes na
Ciência da Informação, argumenta que a área percorre pelos três paradigmas.
Cordeiro (2004) considera, em seu trabalho, os fatos sociais da Ciência da
Informação, sobretudo, aqueles relacionados às instâncias semântico-discursivas da
informação. Os estudos sobre informação passam a olhar o sujeito. Nesse cenário, a
Análise do Discurso como método auxiliaria a problematizar as questões de
interpretação. Destarte, o pesquisador faz interpelações epistêmicas referentes à
relação significado/informação.
Trazendo também contribuições para os estudos metodológicos em Ciência
da Informação, em sua dissertação de Mestrado para o Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista, Mariana
da Silva Caprioli (2018) propôs elementos, a fim de realizar uma experiência
metodológica com a Análise do Discurso, para decodificar formações discursivas
que cooperassem com o processo de análise documental de textos narrativos
ficcionais. Os textos escolhidos pela pesquisadora foram do autor curitibano Dalton
Trevisan.
A autora argumenta que a Análise do Discurso se apresenta como uma
metodologia viável para análise de textos literários. De acordo com Caprioli (2018),
102

os textos narrativos ficcionais podem ser representados com mais eficiência, caso
sejam analisados discursivamente. Dessa forma, possibilitaria uma melhor
recuperação e uso dos documentos.
A preocupação com a recuperação de textos narrativos surgiu na Ciência da
Informação na década 1980, devido, principalmente, a dificuldade de representar o
conteúdo temático. A pesquisadora aponta que os textos narrativos de ficção não
possuem uma metodologia específica para ser representado em unidades de
informação. Desse modo, esses textos acabam sendo representados de acordo com
as regras aplicadas aos textos científicos (CAPRIOLI, 2018).
Segundo a autora, há inconsistências no processo de recuperação da
informação em obras literárias nas unidades de informação. Logo, existe a
necessidade de uma metodologia que decodifique as formações discursivas nos
discursos literários. Sendo assim, propõe a observação da contribuição da
materialidade discursiva na recuperação da informação de textos narrativos
ficcionais (CAPRIOLI, 2018).
Sob a luz dos pressupostos teóricos de Pêcheux, Caprioli (2018) argumenta
que a formação discursiva é construída pela relação de sentido entre posições
ideológicas, que se encontram inseridas em um processo sócio-histórico, no qual os
sentidos e as palavras são produzidos. Ver-se-á que as palavras não têm sentido
nelas mesmas, mas sim derivam o sentido do meio em que estão inseridas, estando
diretamente relacionada à Formação Ideológica.
Em seu percurso teórico, a pesquisadora também considera a noção de
poder de Foucault. Nessa perspectiva, o poder está ligado ao direito e à verdade.
Salienta-se que Carioli faz uma articulação com o conceito de Regime de
Informação, que trata de regras do uso da informação em uma dada sociedade e um
dado contexto (CAPRIOLI, 2018).
Visto que Análise do Discurso Francesa se preocupa com o contexto no qual
os documentos foram criados, se torna uma metodologia viável para análise de
textos literários. Caprioli (2018) defende que Análise do Discurso Literário, inspirada
nos trabalhos de Maingueneau e baseada nos conceitos da Análise do Discurso,
serve como auxílio no que concerne a análise para representação em unidades de
informação. Além disso, defende que esse tipo de análise pode beneficiar o trabalho
dos profissionais da informação, tornando a representação do texto mais adequada
e a recuperação mais eficiente, pois, na análise discursiva, o contexto e as
103

circunstâncias em que a obra foi produzida são considerados. Logo, as políticas de


indexação têm o poder de restringir as representações. Diante desse fato, os textos
literários precisam de uma melhor representação.
Destarte, os trabalhos de Cordeiro (2004) e Caprioli (2018) assinalam para
uso da Análise do Discurso Francófona como uma metodologia capaz de auxiliar em
questões interpretativas, tão importantes para recuperação da informação. Vale
ressaltar que os estudos sobre discursos oferecem subsídios para as peculiaridades
dos textos literários.

4.2.7 Estudos sobre Representação da Informação e do Conhecimento

Em sua tese de doutorado, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em


Ciência da Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de
Comunicação, em convênio com o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e
Tecnologia, Carlos Xavier de Azevedo Netto (2001) discorre sobre os modos de
representação da Arte Rupestre. Além disso, o pesquisador busca investigar a
possibilidade de estabelecer relações interpretativas por meio das representações
criadas.
O estudo de Azevedo Netto (2001) visa a investigação do potencial de
transferência de informação de conceitos da Arte Rupestre, definidos para a
Arqueologia desenvolvida no Brasil, sistematizando métodos de interpretação de
representações rupestres. Nesse sentido, é importante destacar que a Arqueologia
trata de dados cuja natureza envolve aspectos culturais, sociais, ambientais e
bioantropológicos. Além disso, busca o resgate do passado cultural da humanidade
e entende as formas construídas e adaptadas para uma perpetuação.
Assim, os dados arqueológicos são remanescentes da cultura material de um
determinado povo, pois representam comportamentos passados. As manifestações
rupestres estariam ligadas à percepção e à representação de grupos indígenas.
Logo, os conceitos de Arte Rupestre são considerados como uma forma de
representação do universo.
Segundo o pesquisador, há uma necessidade de criação de mecanismos que
sintetizem os dados observados e que, concomitantemente, transfiram a informação
que foi obtida. Desse modo, emergem mecanismos tradicionais de representação da
104

Arte Rupestre e suas unidades de classificação. Destarte, a Arte Rupestre passa a


ser considerada como registro informacional de origem pré-histórica, dentro de um
contexto sociocultural, que se encontra olvidado no tempo (AZEVEDO NETTO,
2001).
Na perspectiva de Azevedo Netto (2001), com o surgimento da “New
Archaeology”, a representação passa a ocupar uma posição privilegiada no
pensamento arqueológico. Desse modo, a mera descrição dos artefatos dá lugar
para a constatação de que os objetos arqueológicos decorrem de comportamentos
humanos.
Nesse horizonte, em seus estudos, o pesquisador investiga métodos de
definição e de estruturação de conceitos como estruturas teóricas que orientem o
ato de representar. Salienta-se que no campo informacional, a representação é
vista, inicialmente, como a forma do homem estabelecer vínculos consigo mesmo e
o com aquilo que se encontra em seu entorno. Dessa forma, obteve a categorização
de conceitos analíticos, sintéticos e interpretativos. Assim, em seu percurso
investigativo, foram destacados os problemas de sinonímia e de polissemia
encontrados (AZEVEDO NETTO, 2001).
Desse modo, a identificação de uma categoria de conceitos cuja natureza é
interpretativa, possibilita que interpretações, com base nos mecanismos de
representação constituídos, sejam tecidas. Por meio das interpretações dos
universos simbólicos, representados na Arte Rupestre, é possível formular
aproximações que auxiliem a compreensão do comportamento humano no passado,
visto que se tratam de representações mentais de determinados grupos (AZEVEDO
NETTO, 2001).
A Arte Rupestre é uma manifestação que contém informações que podem ser
recuperadas, visto que nela há uma organização. Acentua-se que é no processo de
recuperação informacional que a esfera interpretativa se faz mais presente,
porquanto é no processo de recuperação da informação que existe a necessidade
de correlação de aspectos objetivos do registro rupestre com suas formas de
correlação que permitem um processo de construção de significados. Logo, a
interpretação se relaciona com a recuperação da informação (AZEVEDO NETTO,
2001).
As leituras da Arqueologia dependem da maneira como os artefatos se
relacionam entre si no espaço e no tempo e também do contexto nos quais estão
105

inseridos. Vale lembrar que os mesmos artefatos podem apresentar em contextos


diferentes outros significados. Assim, o ato de interpretar envolve construção e
atribuição de juízo de valor (AZEVEDO NETTO, 2001).
Azevedo Netto (2001) argumenta que os sistemas de representação
construídos pelos arqueólogos brasileiros mantêm uma relação estrita com as
construções discursivas desses pesquisadores. Nesse sentido, a análise das
representações da Arte Rupestre brasileira pode dialogar com a Análise de
Discurso, posto que Foucault analisa a construção das estruturas discursivas.
A Arte Rupestre, bem como seus sistemas de representação enquanto
estruturas discursivas, é formada por estruturas simbólicas. Por conseguinte, é
nessa ordem que o discurso arqueológico se apresenta sobre a Arte Rupestre. De
acordo com o pesquisador, as noções de representação e de classificação são
institucionalizadas no discurso das ciências, no contexto da modernidade, como
formas de explanação das diretrizes constitutivas do mundo real (AZEVEDO
NETTO, 2001).
Assim, os princípios de classificação e de representação adquirem uma
grande relevância no âmbito desses discursos. Na Ciência da Informação, a noção
de representação se aproxima da noção de classificação, já que ambos os conceitos
estão voltados para os modos de organização da informação e do
conhecimento.(AZEVEDO NETTO, 2001).
Acentua-se que o pesquisador trata a interpretação também sobre o prisma
da Semiótica. Azevedo Netto (2001), desse modo, tem na Semiótica de Peirce e na
Análise do Discurso de Foucault seus pilares epistemológicos. O autor defende que
a Semiótica trata do fenômeno sígnico de modo mais completo, a saber, não se
limita aos signos linguísticos. Assim, a teoria de Peirce é a base teórica para
trabalhar a representação e o significado da Arte Rupestre.
Foucault, por sua vez, ao retomar o discurso como em sua propriedade de
acontecimento, quebra a supremacia e atenção do significante. O pesquisador
mobiliza quatro princípios que devem ser considerados no discurso presentes na
teoria de Michel Foucault. São eles: inversão, descontinuidade, especificidade,
exterioridade. Tais princípios permitem que se tenha um modo regulador para
análise do discurso (AZEVEDO NETTO, 2001).
O pesquisador conclui que a principal barreira para o maior desenvolvimento
dos estudos de Arte Rupestre no Brasil está no estabelecimento de elos entre os
106

diferentes marcos teóricos que tratam do tema, a fim de seus conceitos possam ser
disseminados, de tal modo que as comparações gerem possibilidades interpretativas
com um alcance maior. Desse modo, existe a necessidade de um esforço teórico e
metodológico, para que haja uma reorganização das estruturas representativas da
Arte Rupestre. Além disso, é importante minimizar os problemas de cunho conceitual
e terminológico (AZEVEDO NETTO, 2001).
Por seu lado, Hildenise Ferreira Novo (2014), em sua tese apresentada ao
Curso de Doutorado Multi-institucional e Multidisciplinar em Difusão do
Conhecimento da Universidade Federal da Bahia, apresenta para organização do
conhecimento uma proposta de Modelo Dinâmico de Análise Conceitual (Modac),
objetivando contribuir na construção de Sistemas de Organização do Conhecimento.
O modelo se baseia em Análise Cognitiva e em Análise do Discurso Representativo
do domínio meio ambiente, a partir de subáreas e especialidades das Geociências.
A pesquisadora utilizou a Análise do Discurso Representativo de Foucault,
buscando analisar a enunciação discursiva de textos. Novo (2014) se preocupa em
compreender como o sujeito processa e usa dinâmica e cognitivamente a
informação, para elaborar mecanismos de análise conceitual que possibilitem um
modelo dinâmico, a fim de auxiliar na construção de Sistemas de Organização e
Representação do Conhecimento.
Segundo a pesquisadora, a Linguística, a Análise Cognitiva e a Análise do
Discurso colaboraram com a base epistemológica de sua pesquisa. A autora utilizou
concepções foucaultianas para pensar na interpretação das redes conceituais, a
saber, rastrear as palavras para além de um ato de escrita, entendendo as questões
de pluralidade ligadas pelo sentido, pela semântica, que podem ser ditas em outros
espaços, pois dialogam com outros contextos. A autora aponta que no processo de
organização do conhecimento, os processos de interpretação são necessários na
criação de novos conceitos (NOVO, 2014).
De acordo com Novo (2014), o sujeito ressignifica a informação e lhe atribui
sentido para sua utilização. Nesse horizonte, os profissionais da informação e do
conhecimento precisam entender a importância da ressignificação, por meio de
processos técnicos ligados ao trabalho de representação. Além disso, aliados às
tecnologias, devem mediar as possibilidades de informação. Assim, para que sejam
feitas análises conceituais, é mister a compreensão do domínio do conhecimento e
de seus usuários.
107

Na ótica da pesquisadora, a classificação é um processo mental, que ordena


as coisas a partir da percepção do indivíduo, atribuindo a elas sentidos. Sendo
assim, Novo (2014) objetivou a construção de um modelo dinâmico de análise
conceitual, para auxiliar na construção de Sistemas de Organização do
Conhecimento, sobretudo, de taxonomias e de ontologias de domínios para
ambiente inter ou multidisciplinares. Em seu processo metodológico, a autora utilizou
a Análise do Discurso, a partir das concepções foucaultianas para os processos de
representação.
Suellen Oliveira Milani (2014), também oferecendo contribuições para
Representação da Informação e do Conhecimento, em sua tese apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Faculdade de Filosofia e
Ciências da Universidade Estadual Paulista, a partir de uma discussão crítica no
campo da Organização da Informação, propõe uma reflexão sobre o fenômeno bias.
Em seu trajeto metodológico, a pesquisadora utiliza a Análise do Discurso de
Foucault, a partir da releitura de Frohamann.
Segundo a pesquisadora, há dois contextos de biases: um negativo e outro
positivo. No contexto negativo, diversas características são omitidas,
desprivilegiando grupos e temas. Já no positivo, as especificidades de determinadas
comunidades usuárias são garantidas (MILANI, 2014).
Milani (2014) também aponta que de um lado existe a crença da suposta
imparcialidade do bibliotecário, questão bem presente na pesquisa de Lucas (1996);
e do outro a necessidade do profissional da informação fazer julgamentos de valor,
para que comunidades usuárias específicas sejam melhor representadas.
Na visão da autora, durante muitos anos, acreditou-se que a representação
de assunto fosse um processo imparcial. No contexto brasileiro, o Grupo TEMMA, na
década de oitenta, já alertava a necessidade do reconhecimento de que não há
neutralidade no profissional indexador e da necessidade de se desenvolver
procedimentos de análise e representação de assunto que possam minimizar os
efeitos dessa parcialidade (MILANI, 2014).
Nessa perspectiva, a autora pensa formas de diálogos entre uma
representação de assuntos sem neutralidade e a necessidade de suprir as
demandas de comunidades de usuários com suas diversidades. Para ela, os
processos de representação de assunto devem atuar de tal modo que a comunidade
usuária seja representada nos catálogos, nos índices, nos resumos e nas notações
108

de classificação. Ademais, os usuários não devem ser afastados das bibliotecas e


dos sistemas de informação devido à falta de representação ao se depararem com
as biases (MILANI, 2014).
A pesquisadora utiliza a Análise do Discurso foucaultiana como metodologia,
posto que seu interesse é entender as relações de poder construídas na
representação de assunto. Sob a luz da abordagem genealógica de Foucault, a
pesquisadora trouxe discussões sobre o modo pelo qual as instituições e os
posicionamentos epistemológicos da Organização da Informação tratam os seus
objetos e suas ideias (MILANI, 2014).
Para a autora, na Organização da Informação, os usuários não devem ser
considerados como grupos homogêneos. Assim, a área poderá minimizar os
problemas das biases no contexto de cada cultura. Em seu percurso profissional, o
bibliotecário encontrará uma enorme diversidade de assuntos e discursos. Isso
exigirá dele reflexões éticas em vários momentos, visto que fará uma leitura desses
discursos. Assim sendo, a representação de assuntos se relaciona com os
posicionamentos políticos dos bibliotecários (MILANI, 2014).
O profissional da informação deve procurar compreender as comunidades de
usuários e seus dilemas sociais e observar como essas questões se apresentam
nas unidades de informação. Assim, é importante pensar como as relações de poder
se manifestam na prática bibliotecária, posto que, no acesso à informação, os
usuários devem ter seus contextos específicos respeitados. Nesse cenário, é
relevante que as vozes excluídas sejam identificadas, a fim de atraí-las para o
contexto da biblioteca. Portanto, os usuários devem interagir com a biblioteca
(MILANI, 2014).
Os instrumentos de representação de assunto refletem a cultura dominante
de uma sociedade. Dessa forma, desempenham um papel-chave nas bibliotecas. No
contexto negativo, um instrumento de representação de assunto contendo bias,
podem veicular preconceitos. No contexto positivo, podem garantir as
especificidades das comunidades usuárias por meio da representação de assunto.
Por conseguinte, a autora busca contextualizar o fenômeno das biases e auxiliar na
atenuação de seus efeitos (MILANI, 2014).
109

Quadro 6 – Contribuições teóricas da Análise do Discurso para o campo


informacional

D/T UNIVERSIDADE AUTOR PÊCHEUX SOCIOLÍNGUÍSTICA FOUCAULT TEMAS QUESTÕES

T X Biblioteconomia Crítica a leitura


rápida, neutra e
Bibliotecários objetiva do
indexador.
Profissão do
Bibliotecário Defende a
interação entre a
Indexação Ciência da
Informação e a
Clarinda
Leitura Análise do
UNICAMP Rodrigues
Documentária Discurso.
Lucas
Linguagem Assinala que o
Documentária controle
terminológico está
ligado a
mecanismos de
controle dos
sentidos.

T X Bibliometria Aponta que o ato


de citar está
Análise de envolvido em
Citações relações poder.

Intertextualidade Utiliza a
Arqueologia do
Saber para
fundamentar seu
Lídia
UFMG estudo
Alvarenga
bibliométrico.

Argumenta que
todo texto se
relaciona com
outros textos, ora
em conformidade,
ora em oposição

X Museologia Apresenta o
D museu como um
Sujeito poder legitimador.

Classificação Retrata o museu


Informação como um
Luisa museológica legitimador de
Maria discurso.
UFRJ/IBICT Gomes de
Mattos Defende a criação
Rocha de estratégias
museográficas
que considerem o
sujeito, os
múltiplos sentidos
ea
democratização.
T X Arte Rupestre Defende que os
sistemas de
Arqueologia representação
construídos pelos
Semiótica arqueólogos
brasileiros
Interpretação mantêm uma
relação estrita
Carlos
Estruturas com as
Xavier de
UFRJ/IBICT discursivas construções
Azevedo
discursivas
Netto
desses
pesquisadores.

Assinala que a
análise das
representações da
Arte Rupestre
brasileira pode
110

dialogar com a
Análise de
Discurso, posto
que Foucault
analisa a
construção das
estruturas
discursivas.
T X X X Informação Discorre sobre as
Sociocultural contribuições da
Análise do
Epistemologia Discurso no
debate
Ciência da epistemológico.
Informação
Lídia Silva
USP/ECA Aponta princípios
de Freitas
Neoliberalismo dominantes da
Ciência da
Informação.

Problematiza a
Luta social pelos
sentidos.
D X Análise do Sugere a Análise
Discurso do Discurso como
metodologia para
Método a Ciência da
Analítico Informação.
Pedro
Aurélio
UFRJ /IBICT Ciência da Assinala que a
Cerveira
Informação Análise do
Cordeiro
Discurso como
método auxilia na
problematização
das questões de
interpretação.
T X Ciência da Utiliza abordagem
Informação genealógica de
Foucault para
Biblioteconomia investigação
documental, a fim
Documentação de fazer emergir
Nanci
as forças
Elizabeth
UFRJ /IBICT Lydia de dispersas.
Oddone
Queiroz
Sambaquy Adota princípios
da história
Historicidade da genealógica.
Ciência da
Informação

T X X Análise de Traz reflexões


Enunciados sobre as
possibilidades
Bibliometria conciliadores dos
Márcia
métodos
Heloísa
Direito bibliométricos e
Tavares
arqueológicos.
UFRJ /IBICT de
Direito à
Figueredo
Informação Utiliza a
Lima
perspectiva
foucaultiana de
análise de
enunciados

T X Transgênicos Desenvolve um
exercício
Bases do saber metodológico
capaz de explicitar
Arqueologia da a possibilidade de
Informação se estabelecer
uma base de
saber em
temáticas
complexas como
UFMG/ ECI Terezinha os transgênicos
de Fátima por meio da
Carvalho Análise do
de Souza Discurso.

Apresenta
evidências em
Foucault para
explicitar a
percepção de que
apenas o
111

conhecimento
científico não é
capaz de dar
suporte para
tomada de
decisão.
D X Biblioteca Trata a
Escolar materialidade
virtual como um
Análise do palco de disputas.
Discurso
Argumenta que há
Internet sentidos
dominantes que
Sujeitos- normatizam o que
bibliotecários e como a
biblioteca escolar
deve ser.
Ludmila
Ferrarezi Apresenta o
FFCLRP- USP
sujeito-
bibliotecário
inserido em um
lugar de poder.

Analisa
discursivamente
os movimentos do
sujeito e dos
sentidos em
páginas
eletrônicas sobre
biblioteca escolar.

D X X X Análise do Defende a
Discurso Análise do
Discurso como um
Arquivística desdobramento da
Linguística.
Formação
discursiva Apresenta o
arquivo como uma
instituição
reguladora e
legitimadora de
poder.

Usa a Análise do
Discurso como
método para
identificar os
Thiago
sujeitos que
Henrique
FFC/UNESP enunciam e os
Bragato
lugares que os
Barros
conceitos são
enunciados na
Arquivística.
Faz uma
aproximação
conceitual dos
trabalhos de
Foucault com os
de Pêcheux.

Considera as
contribuições de
Foucault para
Análise do
Discurso como
periféricas.

T X Epistemologia Questiona o fato


Interdisciplinar de que a
interdisciplinaridad
Campo e seja
Informacional considerada um
espaço
Edivânio Neoliberalismo estabilizado.
UFMG Duarte de
Souza Globalização da Mapeia a
Economia produção
científica brasileira
Tecnologia da ligada ao discurso
Informação da
interdisciplinaridad
e na Ciência da
112

Informação.
D X Folksonomia Assinala que
existe o conflito
Linguagens entre sistemas
Documentárias ideológicos que se
inclinam para um
Sujeito fechamento de
sentidos e outros
Contexto Social que tendem para
os múltiplos
Tags sentidos, a fim de
classificar algo.
Lívia de Organização do
UFSCar
Lima Reis Conhecimento
Tecnologia

Poder
Disciplinar

Classificação

Neutralidade

Representação
Temática
D Organização de Assinala que
X Documentos princípios da
análise
Ciência e Saber foucaultiana
podem auxiliar os
Comentário profissionais da
informação na
Arquivo análise e na
organização de
Flávia
Integração de documentos.
Vieira da
UFSCar dados
Silva
Aplica princípios
Santos
Arquivo teóricos de
enunciativo Foucault em um
corpus de cunho
artístico.

Faz análise
discursiva em
textos da web.

T X Análise do Utiliza concepções


Discurso foucaultianas para
Representativo pensar na
interpretação das
Modelo redes conceituais.
Dinâmico de
Análise Fez uso da
Hildenise Conceitual Análise do
Ferreira Discurso
UFBA
Novo Sistemas de Representativo de
Organização do Foucault,
Conhecimento objetivando de
analisar a
enunciação
discursiva de
textos.

T X X X Arquivística Faz um estudo


histórico
Epistemologia discursivo das
teorias e práticas
Ideologia arquivísticas, a fim
de buscar em sua
episteme as
relações de
poder/saber.
Thiago
Henrique
Apresenta a
UNESP Bragato
Arquivística como
Barros
uma instância
significativa.

Expõe que os
arquivos são
instituições que,
além de regular,
legitimam a
constituição de
identidade e de
113

memória

Argumenta que
Análise do
Discurso pode
contribuir com as
discussões sobre
as posições
ideológicas em
dada conjuntura
presentes na
Arquivística e nas
instituições
responsáveis pela
organização de
documentos de
arquivos.

Questiona a
neutralidade que o
discurso do
gênero científico
tenta se prender.

D UFF Rachel X Leitura Utiliza os estudos


Polycarpo pecheuxtianos de
da Silva Biblioteca Análise do
Escolar Discurso para
problematizar o
Bibliotecário conceito de
leitura.
Educação
Infantil Entende a leitura
como um
processo que
envolve a
interação do
sujeito com sua
realidade,
resultando em
compreensão.
Nessa ótica, a
leitura é um
processo
comunicativo mais
amplo e
independente de
codificação e
decodificação do
registro escrito.

Utiliza a Análise
do Discurso um
referencial teórico
e epistemológico
para compreender
como a biblioteca
escolar e o
bibliotecário
podem auxiliar na
educação leitora e
no entendimento
da biblioteca como
um espaço que
pode ser utilizado
por crianças.

T UNESP/FFC Suellen X Bias Aponta que os


Oliveira instrumentos de
Milani Representação representação de
de assunto assunto refletem a
cultura dominante
Bibliotecário de uma
sociedade.
Relações de
Poder Reflete como as
relações de poder
Cultura se manifestam na
prática
bibliotecária, visto
que, no acesso à
informação, os
usuários devem
114

ter seus contextos


específicos
respeitados.

Utiliza a Análise
do Discurso
foucaultiana, a
partir da releitura
de Frohamann,
em sua
abordagem
genealógica,
como
metodologia,
posto que seu
interesse é
entender as
relações de poder
construídas na
representação de
assunto.

T UnB Aluf Alba X X Epistemologia Assinala que os


Vilar Elias documentos de
Arquivística arquivos podem
se apresentar
Comissão da como possíveis
Verdade instauradores de
“verdades”
Verdade obscuras ou
criminosas, mas,
Justiça de por outro lado,
Transição podem contribuir
com o direito ao
exercício do
perdão.

Argumenta que os
documentos
podem oferecer
recursos para que
haja a libertação
de lembranças
traumáticas,
ressignificando as
narrativas
históricas.

Versa que os
arquivos passam,
na atualidade, a
se localizar nas
demandas sociais
correspondentes
aos processos
identitários, de
inclusão e nos
processos de
justiça social.

D UNESP Larissa de X X Ciência da Argumenta que a


Mello Lima Informação Análise do
Discurso é um
Anais de método que pode
eventos oferecer suporte,
para situar a
ENANCIB institucionalização
da Ciência da
Epistemologia Informação.

Traz reflexões
teórico-
metodológicas
sobre conceitos
fundamentais para
Ciência da
Informação.

Discorre sobre
como a Análise do
Discurso pode
auxiliar na
compreensão do
papel da ANCIB e
do ENANCIB na
115

legitimação das
tendências de
pesquisa na
Ciência da
Informação.

Faz uma
sistematização
das formações
discursivas e
ideológicas das
teorias presentes
nos estudos
epistemológicos
da Ciência da
Informação no
contexto
brasileiro.
UnB Dirlene X Lei de Acesso à Aponta que o
Santos Informação estudo do
Barros fenômeno
Publicidade informação não é
concebido fora do
Silêncio sujeito.

Direito à Assinala que há


informação uma luta
constante pela
Contexto manutenção do
político do poder político e
Maranhão informacional.

Gestão Realiza uma


documental análise dos
discursos
proferidos pela
bancada federal e
a mídia do
Maranhão durante
o processo de
debate e de
divulgação da LAI.

D UNESP Mariana X X Análise Realiza uma


da Silva Documental experiência
Caprioli metodológica com
Análise do a Análise do
Discurso Discurso para
decodificar
Análise do formações
Discurso discursivas que
Literário cooperem com o
processo de
Formação análise
Discursiva documental de
textos narrativos
Formação ficcionais.
Ideológica
Argumenta que a
Regime de Formação
Informação Discursiva é
construída pela
Textos relação de sentido
Narrativos entre posições
Ficcionais ideológicas, que
se encontrem
inseridas em um
processo sócio-
histórico no qual
os sentidos e as
palavras são
produzidos.

Serão realizadas, no último capítulo, observações finais sobre a pesquisa e


reflexões sobre as questões teóricas centrais presentes nas relações
epistemológicas entre as correntes francófonas de Análise do Discurso, a Ciência da
Informação e a Organização do Conhecimento.
116

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, é importante o reconhecimento de que há diferentes


vertentes francesas de Análise do Discurso inseridas na Ciência da Informação.
Nessa investigação científica, optou-se por analisar as interações interdisciplinares
entre as vertentes francófonas que emergiram nos anos 1960, mesmo ano que
afloraram os estudos sobre Análise Documentária na França. As linhas escolhidas
estão ligadas a Pêcheux, a Foucault e à Sociolinguística. Durante o percurso
analítico, verificou-se que os trabalhos de Pêcheux e Foucault são mais utilizados no
campo informacional do que a vertente sociolinguística de Análise do Discurso.
Os trabalhos interdisciplinares, com ênfase no discurso, na Organização da
Informação e do Conhecimento apontam que os processos em torno da informação
não são neutros e apolíticos. Nesse sentido, as vertentes francófonas de Análise do
Discurso, especialmente os estudos de Pêcheux e da vertente sociolinguística,
trouxeram uma visão marxista dos modos de ordenar e classificar a informação,
identificando os museus, bibliotecas e arquivos como aparelhos ideológicos do
Estado. Nessa abordagem marxista dos aspectos linguísticos, a linguagem se
apresenta como um campo de tensões e de disputas de poder.
No cenário epistemológico da Ciência da Informação, a Análise do Discurso
contribuiu com reflexões sobre a tensão em torno dos sentidos presentes na área,
isto é, de um lado, uma tendência de ligar as pesquisas em informação ao discurso
neoliberal; do outro, a busca por discursos mais humanísticos e sociais. Destarte, as
pesquisas realizadas revelaram que os discursos ligados ao mercado são bem
presentes na epistemologia da área. Além disso, os estudos sobre discurso
ofereceram subsídios para a identificação de órgãos que oferecem legitimidade às
tendências das pesquisas informacionais e na clarificação de aspectos ligados à
historicidade da área.
A Bibliometria também recebeu importantes contribuições da Análise do
Discurso, sobretudo, dos estudos foucaultianos. Os trabalhos analisados apontam
que há relações de poder nas citações. Nesse sentido, a Análise do Discurso se
apresenta como uma metodologia capaz de contribuir criticamente com a
interpretação e com a análise de dados.
Nota-se também que uma das grandes contribuições conceituais da Análise
117

do Discurso para a Ciência da Informação e para Organização do Conhecimento é o


conceito de leitura. Os trabalhos interdisciplinares, envolvendo os pensamentos de
Pêcheux e de Foucault, no campo informacional, problematizam a questão do
controle de sentidos nas linguagens documentárias. As pesquisas, nesse aspecto,
indicam a necessidade de abertura dos sentidos, para que as demandas culturais
sejam atendidas, a partir de leituras que sejam mais plurais. Dessa forma, os
padrões de classificação não devem ficar presos aos sentidos dominantes que
normatizam as unidades de informação.
Nos estudos arquivísticos, em sua relação com a Teoria do Discurso, o
arquivo é visto como uma instituição legitimadora de poder. Vale destacar também
que as demandas sociais e o interesse pelas questões identitárias e de inclusão
passam a ganhar espaço na Arquivística. Acentua-se também que os trabalhos
sobre discurso também são utilizados no processo de leitura de documentos com
viés político e que são destaques no cenário nacional.
Diante das análises realizadas, foi observado que a Análise do Discurso
também auxiliou na explicitação de conteúdos e na organização de informações.
Nesse horizonte, a teoria facilitou o processo de agrupamentos e o entendimento
das relações existentes entre documentos.
Faz-se mister também enfatizar o papel da Análise do Discurso Francesa
como uma alternativa metodológica para Ciência da Informação, problematizando os
aspectos de interpretação para recuperação da informação. Destaque-se o seu uso
para análise de textos específicos como, por exemplo, os literários.
As pesquisas também mostraram a possibilidade de se utilizar a Análise do
Discurso foucaultiana como metodologia, para facilitar a compreensão das relações
de poder construídas na representação de assunto. Nesse horizonte, dada a
possibilidade da representação de assunto refletir apenas elementos da cultura
dominante, os profissionais da informação precisam entender as comunidades de
usuários e suas demandas sociais específicas.
Ver-se-á também que o campo informacional é afetado pelas questões
ligadas ao sujeito. Nessa perspectiva, como indicação para pesquisas futuras, a
Ciência da Informação e a Organização do Conhecimento requerem uma
aproximação de disciplinas que tratem das relações entre linguagem e sujeito,
porquanto não é cabível o isolamento teórico diante de temáticas com múltiplas
perspectivas. A partir de um olhar interdisciplinar, ver-se-á que Organização do
118

Conhecimento está enlaçada nos embates teóricos sobre a noção do sujeito.


Assim sendo, torna-se oportuno pensar nos modos de assujeitamento do
indivíduo. A informação e o conhecimento são produzidos, organizados,
disseminados e utilizados por sujeitos. A Análise do Discurso Francesa e também a
Pragmática, nesse horizonte, se apresentam como disciplinas capazes de contribuir
com essa linha de pesquisa sobre a informação, a fim de pensar os elos entre
sujeito, linguagem e informação.
Nessa perspectiva, as formas de organização e representação da informação
e do conhecimento, por conseguinte, dependerão do lugar em que o sujeito está
instaurado, do contexto nos quais as relações são estabelecidas e de suas
condições de produção. O percurso empreendido até aqui, sob a luz dos estudos
interdisciplinares entre Ciência da Informação e as vertentes francesas de Análise
do Discurso, indica que falar dos modos de organizar informação e conhecimento é
falar também de sujeito, de linguagem e de relações de poder.
Além disso, salienta-se que, em torno dos modos de ordenar e representar o
conhecimento,existem conflitos, interesses econômicos, injustiças sociais e embates
políticos. Sob a luz das vertentes francófonas de Análise do Discurso, é possível
considerar esses aspectos, porquanto a esfera ideológica e as relações de poder
estão presentes no modo como o conhecimento é tratado.
Logo, as instituições responsáveis pela guarda de documentos relevantes
para sociedade são lugares de tensões e interesses. Por conseguinte, as correntes
francófonas de Análise do Discurso cooperam com a interpretação dos processos
linguísticos, ideológicos e políticos que se manifestam nas formas de ordenar,
representar e disseminar a informação e o conhecimento.
119

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