Controle e Prevenção de Infecção Hospitalar - Aula 1

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CONTROLE E PREVENÇÃO

DE INFECÇÃO HOSPITALAR
Unidade 1
Infecções e a segurança
hospitalar
CEO

DAVID LIRA STEPHEN BARROS

DIRETORA EDITORIAL
ALESSANDRA FERREIRA

GERENTE EDITORIAL

LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS

PROJETO GRÁFICO

TIAGO DA ROCHA

AUTORIA

JULIANA APARECIDA PEREIRA MEDEIROS


Juliana Aparecida Pereira Medeiros
AUTORIA

Sou bacharela em Serviço Social (Ulbra) e especialista em


Qualidade em Saúde e Segurança do Paciente (ENSP/Fiocruz).
Possuo experiência técnico-profissional na área de Serviço Social
Hospitalar, Hotelaria Hospitalar e Segurança do Paciente. Sou
apaixonada pelo que faço e adoro compartilhar minha experiência
de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões, por isso,
fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de
autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você
nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
Unidade 1

4 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


ÍCONES
Unidade 1

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 5


Infecções hospitalares............................................................... 9
SUMÁRIO

Abordagem histórica e conceitual..................................................................... 9

Prevenção e controle de IRAS no Brasil ........................................................ 12

Foco na segurança............................................................................................. 16

Segurança nos serviços de saúde........................................... 20


A biossegurança no controle de IRAS ............................................................ 20

Conhecendo o ambiente .................................................................................. 24

Classificação dos ambientes............................................................................. 25

Conduta do profissional diante das IRAS....................................................... 27

Identificação dos riscos........................................................... 30


Classificação dos riscos..................................................................................... 30
Unidade 1

A cultura da segurança...................................................................................... 32

Padronização de procedimentos .................................................................... 35

Infecções relacionadas à assistência..................................... 40


As infecções humanas....................................................................................... 40

A resistência microbiana e a responsabilidade profissional: mecanismos,


impactos e riscos................................................................................................ 44

A microbiota humana......................................................................................... 47

6 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


Você sabia que a prevenção e o controle das infecções
hospitalares é uma grande preocupação mundial na atualidade?

APRESENTAÇÃO
Leis, pesquisas e ferramentas são empregadas com a finalidade
de manter a carga microbiana dentro dos limites de aceitação
preconizados pelos órgãos reguladores de Vigilância Sanitária,
que estabelecem padrões rigorosos para assegurar a higidez e a
manutenção da saúde dos pacientes. Quando essas diretrizes não
são seguidas corretamente, existe a possibilidade real da infecção
dos usuários por meio da disseminação de microrganismos
patogênicos e do desenvolvimento de doenças, aqui denominadas
infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS). As IRAS são
doenças infecciosas associadas ao cuidado em saúde, e, por isso,
cabe ao profissional se comportar de maneira preventiva quanto
à sua propagação, sempre pautado na cultura da segurança. Ao

Unidade 1
longo desta unidade letiva, você mergulhará neste universo e
compreenderá a importância deste tema!

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 7


Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo
é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências
OBJETIVOS

profissionais até o término desta etapa de estudos:

1. Explicar os conceitos e fundamentos referentes ao


controle e prevenção da infecção hospitalar.

2. Interpretar o histórico do estudo das IRAS e sua


importância.

3. Implementar a cultura da segurança nas organizações


de saúde.

4. Analisar as responsabilidades profissionais na


implantação da cultura da segurança.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


Unidade 1

conhecimento? Ao trabalho!

8 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


Infecções hospitalares
Ao término deste capítulo, você terá conhecido
o contexto histórico de prevenção às IRAS e
compreendido os conceitos-chave relacionados
OBJETIVO às infecções hospitalares e suas estratégias
de controle. Motivado para desenvolver esta
competência? Avante!

Abordagem histórica e conceitual


A qualidade e a segurança no cuidado prestado pelos
serviços de saúde é o foco das organizações de saúde na atualidade.
Nesse contexto, a questão das infecções relacionadas à assistência
à saúde (IRAS), anteriormente designadas minimamente como

Unidade 1
infecções hospitalares (IH), representa relevante problema de
saúde pública preocupando pacientes, profissionais, gestores e
órgãos sanitários (Oliveira; Silva; Lacerda, 2016).

As IRAS um desafio que ultrapassa as questões


puramente biológicas, penetrando no domínio
social. Elas refletem práticas e valores culturais
IMPORTANTE que impactam significativamente a segurança dos
pacientes que utilizam os serviços de saúde de
maneira abrangente.

No contexto histórico, o médico Ignaz Semmelweis,


renomado por seus pioneiros procedimentos antissépticos, fez
uma observação notável. Ele percebeu que as puérperas que eram
atendidas por estudantes de Medicina tinham taxas de morbidade
e mortalidade mais elevadas em comparação àquelas que eram
assistidas por parteiras. Esse fato o levou a suspeitar que alguma
diferença significativa em termos de segurança estava presente
entre essas duas categorias de profissionais (Cremesp, 2010).

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 9


Ignaz Semmelweis fez uma descoberta crucial
em torno de 1847 ao perceber a transmissão
cruzada de microrganismos por meio das mãos
ACESSE dos profissionais de saúde durante a assistência
médica. Sua observação e reconhecimento da
importância da lavagem das mãos como medida de
controle de infecções foram marcos significativos
na história da medicina e contribuíram para o
desenvolvimento dos procedimentos antissépticos
e para a melhoria da segurança dos pacientes
(Cremesp, 2010). Saiba mais, acesse o QR code.
Unidade 1

Ignaz Semmelweis, mesmo antes do desenvolvimento


da Microbiologia, deduziu por meio de observações cuidadosas
que a taxa de mortalidade elevada entre as puérperas estava
associada ao fato de os alunos de Medicina, ao contrário das
parteiras, frequentemente irem à sala de necropsia e manusearem
cadáveres antes de atenderem as mulheres. Ele intuiu que a falta
de lavagem das mãos entre essas atividades estava contribuindo
para a disseminação de agentes infecciosos e para as altas taxas
de mortalidade (Oliveira; Silva; Lacerda, 2016).

Essa descoberta desempenhou um papel fundamental


no avanço do controle e da prevenção de infecções hospitalares,
destacando-se como uma das medidas de controle mais essenciais
nesse contexto: o procedimento de higienização das mãos
(Cremesp, 2010).

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A lavagem de mãos é um dos seis protocolos
básicos de segurança do paciente preconizados
pela Portaria n.º 1377 de 9 de julho de 2013 (Brasil,
ACESSE 2013). Saiba mais, acesse o QR code.

Alguns anos mais tarde, em 1865, Florence Nightingale,


precursora da Enfermagem, implementou procedimentos

Unidade 1
fundamentais de segurança do paciente nos hospitais militares de
campanha ingleses durante a Guerra da Crimeia. Essas medidas
incluíam a lavagem das mãos, a higienização do ambiente, a
melhoria da alimentação e a individualização dos leitos dos
pacientes (Oliveira; Silva; Lacerda, 2016).
Imagem 1.1 – A lavagem de mãos é medida efetiva contra as IRAS

Fonte: Freepik

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 11


Florence Nightingale foi uma das primeiras a utilizar
dados estatísticos para acompanhar a incidência de infecções
hospitalares, influenciando os procedimentos atuais de avaliação
e controle. Essas contribuições foram fundamentais para o
desenvolvimento da gestão da qualidade em saúde.

Conheça melhor a “mãe da Enfermagem moderna”


assistindo ao filme “Florence Nightingale” do
SAIBA MAIS diretor Norman Stone (2008).

Prevenção e controle de IRAS no


Brasil
Unidade 1

No Brasil, com o desenvolvimento da temática a partir


da década de 1980, a seguinte legislação específica foi publicada,
permanecendo em vigor desde então:

• Lei n.º 9431 de 6 de janeiro de 1997: dispõe sobre a


obrigatoriedade da manutenção de programa de
controle de infecções hospitalares (Brasil, 1997);

• Portaria n.º 2616 de 12 de maio de 1998: dispõe sobre


as ações obrigatórias para o controle de infecções
hospitalares (Brasil, 1998).

O primeiro programa de controle de infecção hospitalar


foi implantado nos EUA após um juiz responsabilizar
os profissionais de saúde e o hospital pela ocorrência
VOCÊ SABIA? de IRAS em pacientes. Essas ações legais destacaram a
importância da prevenção de infecções nos hospitais
e incentivaram a implementação de programas de
controle de infecção mais abrangentes e rigorosos.

12 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


A Portaria n.° 2.616/1998 apresenta os conceitos, os critérios
e o conjunto das ações que devem ser implantadas e cotidianamente
desenvolvidas, deliberada e sistematicamente, para a redução
máxima possível da incidência e da gravidade das infecções
relacionadas à prestação de serviços em serviços de saúde.

Nesse contexto, é importante que dois conceitos sejam


elucidados e diferenciados (Brasil, 1998):

• infecção comunitária (IC) é aquela constatada ou em


incubação no ato de admissão do paciente, desde que
não relacionada com internação anterior no mesmo
hospital;

• infecção hospitalar (IH) é aquela adquirida após a


admissão do paciente e que se manifeste durante a

Unidade 1
internação ou após a alta, quando puder ser relacionada
com a internação ou procedimentos hospitalares.

Posteriormente, para ampliar esse último tipo de infecção,


apresentou-se o conceito de IRAS, as infecções relacionadas à
assistência em saúde.

As IRAS são infecções transmitidas aos usuários


dos serviços de saúde em alguma das etapa dos
processos de assistência. As IRAS têm como
DEFINIÇÃO agentes etiológicos microrganismos patogênicos
ou até mesmo aqueles componentes da microbiota
natural humana (em situações específicas).

Normalmente, os microrganismos patogênicos são


transmitidos por meio de contaminação cruzada (Paula; Salge;
Palos, 2017) tendo como causa:

• as mãos dos profissionais de saúde – podem ser veículos


de transmissão de microrganismos de um paciente
para outro, se não forem higienizadas adequadamente.

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 13


A higienização das mãos é uma prática fundamental
para prevenir a disseminação de patógenos, e é por
isso que a higiene das mãos é enfatizada em ambientes
de assistência à saúde;

• deficiência na limpeza do ambiente – superfícies e


equipamentos em ambientes de cuidados de saúde
podem ser fontes de contaminação se não forem
devidamente limpos e desinfetados regularmente. Isso
inclui leitos, maçanetas, interruptores de luz e outros
objetos tocados frequentemente por pacientes e
profissionais de saúde;

• ineficiência no processamento de instrumentais,


artigos e roupas – equipamentos médicos,
Unidade 1

instrumentais cirúrgicos, roupas de cama e vestimentas


hospitalares podem ser fontes de contaminação se
não forem devidamente processados e esterilizados.
A esterilização adequada é essencial para garantir que
esses itens estejam livres de patógenos antes de serem
utilizados em pacientes.

Além dessas causas, a transmissão de microrganismos


patogênicos também pode ocorrer por outras vias, como a
transmissão de paciente para paciente, a partir de objetos
contaminados, pelo ar (aerossóis) e até mesmo por meio de
alimentos ou água contaminados em casos de infecções entéricas.

Para combater a contaminação cruzada e prevenir a


disseminação de infecções nos ambientes de assistência à
saúde, são necessárias práticas rigorosas de higiene, limpeza
e esterilização, bem como o uso apropriado de equipamentos
de proteção individual (EPI) pelos profissionais de saúde. A
conscientização sobre esses fatores e o treinamento adequado

14 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


desempenham um papel fundamental na prevenção de infecções
nos cuidados de saúde.

O conceito de IRAS estende a transmissão da


infecção a ambientes e condições não exclusivas
dos hospitais, como postos de saúde, serviços de
IMPORTANTE saúde e atendimento domiciliar.

Em termos epidemiológicos, estudos demonstram que


as três principais IRAS com maiores frequências nos serviços
hospitalares (local onde há monitoramento e acompanhamento
por meio de indicadores específicos) são:

• pneumonia – em sua grande parte relacionada à


ventilação mecânica;

Unidade 1
• infecção da corrente sanguínea (ICS) – associada ou
relacionada ao cateter;

• infecção do trato urinário (ITU) – relacionada ao uso de


sonda vesical (Anvisa, 2004).

Estes estudos epidemiológicos demonstram ainda que as


IRAS se relacionam diretamente à/ao:

• gravidade da doença que levou à internação hospitalar;

• execução de procedimentos invasivos;

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 15


• tempo de permanência em uso de dispositivos como
cateter vascular, sonda urinária e ventilação mecânica
(Anvisa, 2004).
Imagem 1.2 – A permanência hospitalar e o uso de cateteres facilitam a ocorrência de IRAS
Unidade 1

Fonte: Freepik

Foco na segurança
O cuidado é a contrapartida a ser oferecida pelo profissional
aos seus pacientes. Para que o cuidado dispensado seja eficaz,
é preciso orientar-se conforme padrões de ética profissional,
empregando uma boa técnica, respeitando boas práticas e tendo
em vista dois aspectos essenciais na sua atuação: a possibilidade
da ocorrência de eventos adversos e a busca permanente de
segurança do paciente.

16 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


Nesse contexto, os profissionais de saúde devem
adotar uma cultura individual e coletiva de modo a
não causar prejuízos à saúde daquele que está sob
IMPORTANTE seus cuidados e que contratou seu serviço direta
ou indiretamente.

A Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, criada


pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2004, propõe
investigações sob perspectivas diversas no intuito de fazer com
que a segurança do paciente seja proporcionada com maior
robustez, evitando-se, com isso, danos à sua saúde.

A abordagem proposta para o ciclo de investigação em


segurança do paciente parece seguir um modelo lógico para lidar com
eventos adversos e incidentes de segurança em contextos de cuidados

Unidade 1
de saúde. Vamos analisar brevemente cada uma das etapas:

1. Determinação do dano – o foco está na identificação


e documentação dos danos ou eventos adversos
que ocorreram. Isso pode incluir lesões a pacientes,
erros médicos, falhas em procedimentos ou qualquer
situação que tenha afetado negativamente a segurança
do paciente;

2. Compreensão das causas – após identificar o dano,


a próxima etapa é investigar as causas subjacentes.
Isso envolve a análise das circunstâncias que levaram
ao incidente, incluindo fatores humanos, sistemas de
trabalho, processos ou quaisquer outros elementos
que contribuíram para o ocorrido;

3. Identificação de soluções – uma vez que as causas


tenham sido identificadas, o próximo passo é encontrar
soluções para evitar que eventos similares ocorram
no futuro. Isso pode envolver a implementação de

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 17


novos protocolos, treinamento de pessoal, melhoria de
sistemas e processos, entre outras medidas corretivas;

4. Avaliação do impacto – a última etapa envolve a


avaliação das ações tomadas para determinar se
elas tiveram o impacto desejado na melhoria da
segurança do paciente. É importante acompanhar e
medir os resultados para garantir que as mudanças
implementadas sejam eficazes.

É fundamental que os profissionais de saúde estejam


envolvidos nesse processo de investigação em segurança do
paciente, não apenas para proteger os pacientes, mas também
para proteger a si mesmos de responsabilização jurídica. Uma
abordagem proativa para melhorar a segurança do paciente pode
Unidade 1

reduzir a probabilidade de erros médicos e outros incidentes, o


que, por sua vez, pode reduzir a exposição a processos legais.

Além disso, o estabelecimento de uma cultura de


segurança do paciente é crucial para promover a transparência,
a aprendizagem contínua e a responsabilidade no ambiente de
cuidados de saúde. A segurança do paciente não é apenas um
imperativo ético, mas também uma necessidade legal e financeira
para instituições de saúde e profissionais individuais.

18 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


Neste capítulo, você viu como evoluiu
historicamente o conhecimento sobre as infecções
relacionadas à assistência gerando protocolos
RESUMINDO e tornando o cuidado realizado nos serviços de
saúde mais seguros. Aprendeu que a lavagem
de mãos é uma medida efetiva contra as IRAS
e que existe um protocolo específico para sua
correta execução. Além disso, viu que o Brasil
apresenta leis específicas relacionadas ao controle
das infecções hospitalares e a diferença entre
infecções comunitárias e infecções hospitalares.
Também estudou quais as principais formas de
contaminação em um ambiente hospitalar e que,
para que o cuidado seja eficaz, é necessária uma
busca permanente pela segurança do paciente.

Unidade 1

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 19


Segurança nos serviços de
saúde
Neste capítulo, você aprenderá sobre as práticas
de biossegurança em ambiente hospitalar, tanto
no que diz respeito aos equipamentos individuais
OBJETIVO (EPIs), quanto ao espaço físico dele, além de
conhecer qual a conduta dos profissionais de
saúde diante das IRAS. Preparado para avançar em
seus estudos? Vamos lá!

A biossegurança no controle de
IRAS
Unidade 1

O trabalho de todos aqueles que prestam serviços na área


da Saúde deve ser realizado seguindo cuidados básicos e diários
para evitar a ocorrência de doenças relacionadas à assistência
aos pacientes. Neste contexto, exploraremos os conceitos que
possibilitam a identificação dos riscos presentes no ambiente
de trabalho e a importância das boas práticas profissionais na
prevenção desses riscos, garantindo um ambiente de trabalho
seguro tanto para o paciente quanto para o profissional de saúde.

É inegável que a ênfase na segurança é uma premissa


fundamental na prestação de serviços de saúde. Portanto, é
imperativo que os profissionais construam conhecimento em
biossegurança para que possam enxergar o seu ambiente de
trabalho com a devida atenção à qualidade em biossegurança.

20 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


As boas práticas profissionais são normas e
medidas que devem ser rigorosamente seguidas
pelos profissionais da Saúde (em relação ao
DEFINIÇÃO ambiente físico, insumos, artigos, instrumentais
e a práxis profissional em si). Elas garantem uma
boa qualidade do serviço prestado, minimizando
os riscos inerentes à execução do mesmo, que
podem afetar o profissional e seus pacientes
(Anvisa, 2004).

Imagem 1.3 – Procedimentos invasivos como cirurgias são os que envolvem maiores riscos
de ocorrência de IRAS

Unidade 1

Fonte: Pixabay

A prestação de serviços em saúde abrange procedimentos


que envolvem algum grau de risco para os clientes e também para
o profissional executor. Até mesmo para aqueles procedimentos
que envolvem menor risco (não invasivos ou minimamente
invasivos), existe a exposição a agentes potencialmente prejudiciais
à saúde humana.

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 21


As normas sanitárias preconizadas devem ser
rigorosamente seguidas, estando sujeitos (o
estabelecimento, o profissional executor e
IMPORTANTE o responsável) às sanções da lei em caso de
descumprimento, podendo haver ajuizamento
de processos cível e criminal, dependendo da
gravidade do dano causado.

Imagem 1.4 – Todos os procedimentos em saúde envolvem risco de transmissão de IRAS


Unidade 1

Fonte: Freepik

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária


– Anvisa (Brasil, 2009), as ações básicas de biossegurança,
consideradas padrões mínimos a serem seguidos, são:

• usar jaleco, calçado fechado, calça comprida e óculos


de proteção;

• fazer limpeza permanente da área física do


estabelecimento;

22 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


• realizar criterioso procedimento de higienização das
mãos antes e após cada procedimento e/ou serviço
realizado;

• proceder a antissepsia adequada de artigos, materiais


e instrumentais utilizados na prática profissional;

• utilizar sempre luvas de procedimento descartáveis,


que devem ser trocadas a cada procedimento ou troca
de paciente;

• utilizar máscaras e tocas descartáveis;

• todos os artigos descartáveis, como seringas, agulhas,


e lâminas de bisturi e tricotomia, não devem ser
reutilizados e nem reprocessados;

Unidade 1
• instrumentais e artigos passíveis de reutilização devem
ser permanentemente limpos e esterilizados.

• trocar toalhas e lençóis (de uso exclusivo) a cada


atendimento de pacientes.

Essa limpeza consiste na lavagem com água


corrente e sabão e deve ser realizada antes da
desinfecção ou esterilização (com a utilização de
IMPORTANTE álcool 70%, estufas e autoclaves)

Existem também, em legislação específica, diretrizes


acerca das edificações e do ambiente físico dos estabelecimentos
que prestam serviços relacionados à saúde, de acordo com o tipo
e a complexidade dos procedimentos que praticam.

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 23


Conhecendo o ambiente
O ambiente físico de um serviço de saúde deve ser
devidamente planejado e elaborado de maneira a atender a
legislação pertinente sobre edificações dos estabelecimentos
assistenciais de saúde.

A elaboração de um projeto arquitetônico que


valorize as boas práticas de biossegurança é
o primeiro passo para a autorização legal de
IMPORTANTE funcionamento de um serviço de saúde.

O ambiente físico deverá contemplar espaços com


dimensões compatíveis com as atividades propostas, atendendo
Unidade 1

uma lógica de organização espacial e funcional e utilizando-se de


materiais (de construção e acabamento interno) que minimizem
os riscos de proliferação e transmissão de microrganismos (Anvisa,
2002, 2011).

As normas para cada estabelecimento são


encontradas nas resoluções da Anvisa, que
instituem regulamentações sobre a organização
IMPORTANTE estrutural, física e o bom funcionamento dos
serviços de saúde.

A RDC nº. 50 de 21 de fevereiro de 2002 é o documento


normativo que dispõe sobre o regulamento técnico para
planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos
físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde (Anvisa, 2002).

Assim, um espaço físico adequado e o respeito às boas


práticas juntamente com a classificação e contenção dos riscos
desse ambiente são a chave para a prestação de serviços seguros
em saúde.

24 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


Para fins de enquadramento nas leis sanitárias e graus
distintos de adoção de medidas de precaução, os ambientes são
classificados em críticos, semicríticos e não críticos.
Imagem 1.5 – O ambiente físico dos hospitais deve seguir a legislação específica

Unidade 1
Fonte: Pixabay

Um passo fundamental para a escolha ideal das medidas e


ferramentas de contenção dos agentes de risco a ser implantada
pelos estabelecimentos e que representa a complexidade e o
grau de exposição naquele ambiente trata-se da determinação da
classificação dos ambientes.

Classificação dos ambientes


Ambientes críticos são os ambientes que apresentam
o maior risco de infecção, pois estão diretamente associados
a procedimentos invasivos que envolvem tecidos estéreis ou
sistemas corporais estéreis. Isso inclui salas de cirurgia, unidades de
terapia intensiva, salas de parto e unidades de isolamento. Devido

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 25


ao alto risco de transmissão de microrganismos patogênicos, é
necessária uma limpeza e desinfecção rigorosas, bem como o uso
de medidas de controle de infecção estritas (Anvisa, 2002).

Ambientes semicríticos em instituições de saúde


geralmente são destinados a pacientes com menor risco de
transmissão de doenças infecciosas e acomodam pacientes que
não estão envolvidos em procedimentos estéreis ou cirúrgicos.
Essas áreas podem incluir enfermarias, ambulatórios, clínicas
e outros locais onde os pacientes são tratados, observados ou
internados, mas com risco biológico e de transmissão de doenças
significativamente mais baixo em comparação com ambientes
críticos.

Ambientes não críticos são os ambientes que apresentam o


Unidade 1

menor risco de infecção, pois estão em contato apenas com a pele


intacta. Exemplos incluem áreas de recepção, corredores e salas
de espera. A limpeza e desinfecção nesses ambientes são menos
rigorosas em comparação com ambientes críticos e semicríticos,
mas medidas básicas de higiene e limpeza ainda são essenciais
para prevenir a propagação de microrganismos (Anvisa, 2002).

Essa classificação ajuda na formulação de diretrizes


específicas para cada tipo de ambiente, garantindo que as
medidas de controle de infecção sejam proporcionais ao risco de
transmissão de microrganismos. A compreensão e a aplicação
adequada dessas diretrizes são essenciais para garantir a
segurança do paciente e a prevenção de infecções nos ambientes
de cuidados de saúde.

De maneira análoga, a Anvisa (2000) classifica os artigos


utilizados nos procedimentos. Os artigos críticos são aqueles
utilizados em procedimentos invasivos onde existe elevado risco
de transmissão de infecções. Requer esterilização para uso, por
exemplo, instrumental cirúrgico e agulhas hipodérmicas.

26 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


Os artigos semicríticos entram em contato com a pele
não íntegra ou com mucosas e requerem desinfecção de alto
nível ou esterilização para uso, como equipamentos utilizados em
endoscopia.

Já os artigos não críticos são aqueles com baixo potencial


de desenvolvimento de infecções por entrarem em contato
somente com pele íntegra. Desse modo, preconiza-se somente
a lavagem com água e sabão ou desinfecção simples, com álcool
70% ou hipoclorito de sódio. Como exemplo, podemos citar as
toalhas, macas, paredes e pisos das salas.

Desse modo, os ambientes destinados à realização de


procedimentos em saúde podem ser classificados nos três níveis
de criticidade, dependendo da complexidade dos serviços que

Unidade 1
realiza e dos artigos que utiliza.

Para a manutenção de um ambiente sempre seguro,


os profissionais devem seguir rigorosamente as
referências técnicas para o funcionamento dos
IMPORTANTE serviços de saúde (Brasil, 2009).

Conduta do profissional diante


das IRAS
Em termos gerais, as boas práticas profissionais, enquanto
conjunto das normas e condutas ideais ao controle de qualidade
microbiológico, representam a melhor ferramenta na vivência
cotidiana do exercício profissional e que se mostram efetivas no
combate à transmissão de IRAS.

São requisitos fundamentais mínimos no controle de


microrganismos a correta higienização do ambiente e dos
instrumentais, bem como a esterilização daqueles que se fazem

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 27


necessário, acompanhado do procedimento sistemático de
lavagem das mãos, antes e depois da realização de procedimentos,
e o uso de luvas descartáveis.

A Portaria n.º 2616/1998 define a lavagem de mãos como


sendo a ferramenta mais importante na prevenção e no controle das
infecções relacionas à prestação de serviço em saúde (Brasil, 1998).

A fricção das mãos com sabão e o posterior enxague


em água corrente e abundante são responsáveis
pela redução considerável da carga microbiana
IMPORTANTE nas mãos do profissional, promovendo segurança
na realização da assistência à saúde (Brasil, 1998).

Ainda, substâncias como clorexidine e iodo podem estar


presentes nos detergentes, aumentando a eficiência da assepsia
Unidade 1

realizada. A aplicação de álcool sobre as mãos, após a lavagem e


antes de se calçar luvas de procedimento, também é prática usual
nos serviços de saúde.

A conduta do profissional deve sempre ser a de prevenção


da transmissão das doenças infectocontagiosas e isso se dá pela
aplicação dos seus conhecimentos sobre os métodos químicos e
físicos de controle de microrganismos no seu exercício profissional.

A negligência no seguimento das normas de


boas práticas acarretará o aumento do risco de
transmissão de IRAS, sendo o estabelecimento e
IMPORTANTE o profissional responsáveis e culpabilizados por
quaisquer danos à saúde dos clientes.

Devem-se seguir as boas práticas profissionais e as


normas de segurança microbiológica como forma de se manter
a higidez nos estabelecimentos, buscando a redução da carga
microbiológica, a destruição dos patógenos e impedindo a

28 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


resistência microbiana com e seus grandes riscos e impactos para
a saúde pública.

Como foi a experiência deste capítulo? Já está


sabendo tudo sobre biossegurança? Vamos,
agora, ao nosso resumo. Você aprendeu que os
RESUMINDO profissionais de saúde devem, sempre, priorizar
a sua segurança e a do paciente, adotando
cuidados básicos e diários para tal. Existem
normas sanitárias microbiológicas que norteiam
essas práticas e que devem ser cumpridas dentro
dos estabelecimentos de saúde. Entre as práticas
de biossegurança, temos as EPIs, que envolvem
equipamentos de uso pessoal, como jalecos,
óculos de proteção, máscara, luvas, entre outros, e
aquelas que se referem ao ambiente físico, como a

Unidade 1
higienização e assepsia dos instrumentos, paredes,
bancadas, chão etc. Além disso, existem legislações
específicas que se referem a diferentes processos
de biossegurança, de acordo com a classificação do
ambiente em questão, como críticos, semicríticos e
não críticos.

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 29


Identificação dos riscos
Neste capítulo, você será capaz de identificar e
classificar os riscos relacionados às IRAS, assim
como compreender conceitos importantes sobre a
OBJETIVO cultura de segurança e o processo de padronização
de procedimentos associados a ela. Motivado para
desenvolver esta competência? Vamos lá!

Classificação dos riscos


A exposição à qual se relaciona a transmissão das IRAS é
aquela que tem como fonte de contaminação os microrganismos
patogênicos: o risco biológico.
Unidade 1

Imagem 1.6 – Símbolo padronizado para o risco biológico

Fonte: Freepik

Os agentes de risco presentes nos serviços de saúde são


aqueles fatores ou seres vivos que possam vir a potencialmente
causar danos aos seres humanos por exposição aguda ou crônica.
Esses danos ao organismo humano são ocasionados pelo contato
com os agentes e podem acometer clientes e profissionais. Podem
ser classificados em químicos, físicos, biológicos e ergonômicos.

30 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


Essa classificação é importante em razão do estudo dos
fatores que influenciam na saúde de pacientes e profissionais
de saúde e dos mecanismos de contenção na tentativa de
tornar o ambiente o mais salutar possível. Atualmente, graças
à disseminação das doenças infectocontagiosas a pacientes e
profissionais, há muita ênfase aos agentes do risco biológico.

Na categoria dos riscos biológicos, englobamos os seres


vivos ou substâncias oriundas deles que representam ameaça
ao organismo humano. Consideram-se como agentes de risco
biológico bactérias, vírus, fungos, protozoários, parasitos, bem
como toxinas de origem biológica.

O profissional de saúde deve atentar-se para


o risco biológico contido em seu ambiente de

Unidade 1
trabalho e em suas atividades cotidianas e auxiliar
IMPORTANTE na implantação coletiva da cultura da segurança
na sua organização.

Imagem 1.7 – A cultura da segurança deve ser seguida por toda a equipe multidisciplinar em
saúde

Fonte: Freepik

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 31


Para que se torne possível alcançar esse objetivo, são
convencionadas normas de biossegurança, cujo escopo está em
garantir que haja segurança na manipulação de determinados
materiais, como é o caso do material biológico.

Por material biológico entende-se sangue,


secreções e excreções como urina, leite materno,
DEFINIÇÃO saliva, entre outros fluidos corporais.

Pressupõe-se que o referido material abriga


microrganismos, e, desta forma, todos os equipamentos e
ambientes que tenham tido algum contato com ele também serão
considerados presumidamente contaminados.
Unidade 1

É por isso que a rotina laboral de profissionais do campo


da saúde precisa estar vinculada à consciência da importância
de proteger-se e proteger os seus pacientes em todo ato
de manipulação de materiais, artigos e ambientes com os
mencionados fluidos corporais.

A cultura da segurança
De acordo com Oppermann e Pires (2003), essa proteção
consiste em cuidados e equipamentos capazes de impedir a
contaminação tanto dos profissionais de saúde quanto dos
pacientes e do ambiente laboral.

Denomina-se de precauções padrão ao conjunto


desses cuidados e equipamentos.
DEFINIÇÃO

32 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


Entre os cuidados destacam-se:

• lavagem de mãos (para bloquear a transmissão de


germes) sempre antes e depois do início de uma
atividade. Observe-se que o uso de luvas não obstrui
o ingresso e aderência de microrganismos na pele; por
isso, a necessidade de lavar-se rotineiramente as mãos
no exercício das atividades;

• manipulação de instrumentos e materiais que, se


estiverem com sangue, fluidos corporais etc., devem
ser manuseados de modo a evitar transferência de
microrganismos para outros pacientes, para roupas e
para o ambiente.

Unidade 1
Instrumentos que podem ser reutilizados devem
antes estar esterilizados. Os descartáveis devem
IMPORTANTE ser descartados em local apropriado;

• manipulação de materiais cortantes e de punção, como


agulhas, ensejam cuidado do profissional para não se
cortar;

• roupas de uso no paciente devem ser transportadas em


sacos plásticos e, se tais vestimentas forem reutilizáveis,
devem ir para lavanderia do serviço de saúde, a fim de
garantir a desinfecção;

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 33


Imagem 1.8 – O instrumental cirúrgico precisa ser esterilizado para uso seguro
Unidade 1

Fonte: Pixabay

• ambiente e equipamentos também devem ter rotinas


de limpeza e desinfecção;

• vacinação obrigatória dos profissionais de saúde contra


hepatite B e tétano.

Também é de suma importância que você saiba quais são


os equipamentos de proteção individual (EPI): máscaras, óculos
de proteção ou escudo facial; protetor respiratório; avental e
gorro (se forem reutilizáveis e lavados em casa, deve haver prévia
desinfecção, por 30 minutos em solução de hipoclorito de sódio
a 0,02%) e calçados fechados ou impermeáveis; luvas devem
ser trocadas após contato com material biológico, mesmo entre
procedimentos em um só paciente, uma vez que podem concentrar
microrganismos. É preciso lavar as mãos após retirá-las.

34 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


É preconizado que todos os procedimentos
realizados em um estabelecimento de saúde sejam
descritos em um instrutivo denominado Manual
IMPORTANTE de Normas e Rotinas, que ser disponível e de fácil
acesso a todos os seus profissionais.

Esse manual é um compêndio de todos os procedimentos


operacionais padrão (POPs), em que há o passo a passo das
atividades executadas no cotidiano profissional, com a sua
descrição, orientações metodológicas e técnicas, recomendações
e legislação aplicada.

O Manual de Normas e Rotinas, além de orientar os


serviços profissionais, é obrigatório segundo a legislação sanitária
que rege o funcionamento dos serviços de saúde.

Unidade 1
Padronização de procedimentos
Para fins sanitários, o procedimento operacional padrão é
definido como o “conjunto de normas de operação padronizadas e
de conhecimento para aplicação por todos os membros do grupo
– equipe de trabalho” (Bahia, 2001). Vejamos o que isso significa
na prática:

• normas de operação padronizadas – os POPs são


criados para estabelecer diretrizes e procedimentos
específicos que devem ser seguidos ao executar tarefas
ou atividades em um ambiente de trabalho. Essas
normas garantem que as práticas sejam consistentes e
uniformes em toda a equipe, promovendo a qualidade
e a segurança;

• conhecimento para aplicação – os POPs são


fundamentados em conhecimento e melhores práticas
estabelecidos. Eles fornecem orientações claras e

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 35


instruções detalhadas para que os membros da equipe
saibam como realizar uma tarefa ou procedimento de
maneira adequada e segura;

• similitude na execução das atividades – o objetivo dos


POPs é garantir que todas as pessoas em uma equipe
executem as mesmas atividades de forma semelhante.
O emprego de uma metodologia comum possibilita a
padronização e uniformização do desempenho das
atividades de setores diversos dentro de uma unidade,
proporcionando qualidade e segurança;

• padronização e uniformização – a padronização por


meio de POPs é importante para evitar variações
não controladas na execução de tarefas. Isso é
Unidade 1

especialmente relevante em ambientes de saúde,


onde pequenos erros ou inconsistências podem ter
consequências significativas para a segurança e o bem-
estar dos pacientes.

• qualidade e segurança – ao seguir os POPs, os


profissionais podem manter um alto padrão de
qualidade nos serviços prestados e, ao mesmo tempo,
garantir a segurança dos pacientes e de si mesmos.
Os POPs muitas vezes incluem diretrizes específicas
para a prevenção de erros, a higiene e a segurança no
trabalho.

Em resumo, os Procedimentos Operacionais Padrão


desempenham um papel fundamental na promoção da qualidade
e segurança nos serviços prestados em uma variedade de setores,
incluindo a área da saúde. Eles fornecem uma base sólida para
a padronização e uniformização de práticas, garantindo que as
atividades sejam realizadas de maneira consistente e segura,
independentemente de quem as execute na equipe.

36 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


O treinamento é indispensável para que se alcance
a uniformidade na execução do procedimento
operacional padrão, cuja confecção deve ficar a
IMPORTANTE cargo de técnicos que possuem conhecimento
sobre a metodologia empregada e sobre aquilo
que se passa no cotidiano do setor.

Os protocolos, por sua vez, são documentos normativos


que desempenham um papel fundamental na padronização e
na garantia da qualidade e segurança na prestação de serviços
em diversos setores, incluindo a área da saúde. Os protocolos
orientam a confecção dos POP e dos Manuais de Normas e Rotinas
por reunirem a legislação e a bibliografia atualizada com relação
aos temas sobre os quais versam.

Unidade 1
Vamos destacar alguns pontos importantes sobre os
protocolos:

• critérios e padronização – os protocolos estabelecem


critérios específicos que devem ser seguidos ao realizar
atividades ou procedimentos. Eles são projetados para
garantir que as práticas sejam padronizadas, ou seja,
que sejam executadas da mesma maneira em todas as
situações e por todos os membros da equipe;

• abrangência – os protocolos podem abranger uma


ampla gama de atividades, desde a recepção de
clientes ou pacientes até a realização de procedimentos
complexos e invasivos. Eles são usados para orientar a
execução de tarefas e garantir que elas sejam realizadas
de maneira consistente e de acordo com os padrões
estabelecidos;

• qualidade e segurança – a principal finalidade dos


protocolos é garantir a qualidade e a segurança
na prestação de serviços. Eles incluem diretrizes e

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 37


instruções detalhadas que ajudam a evitar erros,
minimizar riscos e assegurar que os pacientes e clientes
recebam cuidados de alta qualidade;

• normas e melhores práticas – os protocolos são


fundamentados em normas e melhores práticas
estabelecidas. Eles refletem o conhecimento atual e as
diretrizes relevantes para uma determinada área ou
procedimento, garantindo que a prática seja baseada
em evidências e em informações atualizadas;

• treinamento e padronização – os protocolos também


desempenham um papel importante no treinamento
de novos profissionais e na atualização contínua da
equipe. Eles fornecem um guia claro para a realização
Unidade 1

de tarefas e procedimentos e ajudam a manter um


padrão elevado de competência e desempenho.

Dessa forma, os protocolos são ferramentas essenciais


para a padronização e a melhoria da qualidade e segurança na
prestação de serviços. Eles são particularmente importantes na
área da saúde, onde erros podem ter sérias consequências para
os pacientes. A criação, implementação e revisão contínua de
protocolos são práticas fundamentais para garantir a excelência
na assistência médica e em outros setores.

38 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


E, então? Já sabe tudo sobre as IRAS? É hora de
resumirmos o que aprendemos neste capítulo. Os
ambientes hospitalares apresentam risco biológico,
RESUMINDO em razão da presença de microrganismos que
podem causar danos aos seres humanos. Como
riscos biológicos englobamos os seres vivos ou
substâncias provenientes deles que representam
ameaça ao organismo humano. A cultura de
segurança consiste em cuidados e equipamentos
capazes de impedir a contaminação tanto dos
profissionais quanto dos pacientes e do ambiente
laboral. Cabe ao profissional manter a higidez
do seu ambiente e dos materiais utilizados na
práxis, com a adoção das práticas como assepsia
de bancadas, esterilização de instrumentais e
lavagem de mãos, tonando assim o seu trabalho

Unidade 1
seguro do ponto de vista microbiológico.

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 39


Infecções relacionadas à
assistência
Ao término deste capítulo, você será capaz de
compreender as principais infecções relacionadas
à assistência à saúde, os agentes causadores
OBJETIVO delas, como ocorre o processo de resistência
biológica e qual é o papel do profissional de saúde
diante disso. Motivado para desenvolver esta
competência? Vamos lá!

As infecções humanas
As IRAS podem ser causadas por diversos microrganismos,
Unidade 1

pertencentes a diferentes reinos dos seres vivos, e podem ser


transmitidas de várias formas durante a prestação de cuidados
nos serviços de saúde. Além de representarem um risco para a
saúde dos pacientes, elas também resultam em um aumento na
permanência hospitalar e em custos adicionais significativos de
tratamento.

Como mencionado, as IRAS podem ser causadas por vários


agentes etiológicos, com foco especial em bactérias, fungos e vírus.
As infecções bacterianas podem ser adquiridas em ambientes de
assistência à saúde e se somam às infecções fúngicas e virais como
as principais ocorrências. As bactérias causam essas infecções
quando se multiplicam no corpo humano, podendo afetar uma
variedade de tecidos. Os sintomas, a complexidade e a gravidade
dessas infecções dependem do órgão afetado.

40 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


A instalação desse tipo de infecção ocorre quando há
exposição ao microrganismo e subsequente multiplicação no
organismo humano. É importante observar que as bactérias
presentes normalmente no solo, na água, no ar e até mesmo
no corpo humano não costumam causar doenças, a menos que
ocorram situações especiais, como quando elas se instalam em
órgãos críticos, como cérebro, medula e ossos. Por outro lado,
as bactérias patogênicas são aquelas que causam infecções
bacterianas em seres humanos.

As infecções cerebrais são condições raras, graves


e podem evoluir rapidamente para óbito. Um
exemplo é a meningite, uma infecção das meninges,
IMPORTANTE membranas de revestimento do cérebro.

Unidade 1
Os principais grupos de bactérias causadoras de
infecções em humanos são aquelas dos gêneros Mycobacterium
(tuberculose e hanseníase), Streptococcus (pneumonia), Clostridium
(tétano), Leptospira (leptospirose), Treponema (sífilis), Salmonella
(salmonelose) Escherichia (diarreia e infecção urinária), entre
outros (Tortora; Funke; Case, 2012).

Os sintomas das infecções bacterianas vão


depender do local da infecção, podendo ser
restritas (como dor, coceira, calor, vermelhidão,
IMPORTANTE inchaço e presença de pus) ou possuírem efeitos
sistêmicos (como febre, calafrios e náuseas),
podendo evoluir naturalmente para a cura ou
mesmo para a morte se não devidamente tratadas.

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 41


Figura 1.9: Os microrganismos são os causadores das IRAS
Unidade 1

Fonte: Pixabay

As IRAS causadas por fungos tiveram importância


aumentada nos últimos anos pela sua frequência elevada e pelas
altas taxas de morbidade e mortalidade (Nakamura; Caldeira;
Avila, 2013).

O desenvolvimento das infecções fúngicas costuma


estar relacionado a uma situação de deficiência do sistema
imunológico da pessoa acometida, sendo os portadores do vírus
HIV, por exemplo, um grupo de risco importante para as micoses
sistêmicas.

Além de novas espécies fúngicas as infecções oportunistas


mais prevalentes são (Nakamura; Caldeira; Avila, 2013):

• candidíase (Candida albicans e diversas espécies de


Candida);

42 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


• aspergilose (Aspergillus fumigatus e outras espécies do
gênero Aspergillus);

• criptococose (Cryptococcus neoformans);

• mucormicoses (Rhizopus oryzae).

Assim como existem medicamentos antibacterianos


para o tratamento de infecções bacterianas, também existem
medicamentos antifúngicos para combater doenças fúngicas.
Ambos estão disponíveis em várias formas farmacêuticas,
incluindo opções para uso oral, como comprimidos, cápsulas e
soluções orais, bem como formas tópicas, como pomadas, cremes,
soluções tópicas, colírios e xampus. Para infecções sistêmicas mais
graves, há medicamentos antifúngicos de uso injetável.

Unidade 1
Quando se trata de infecções virais, há uma grande
preocupação devido ao alto risco de transmissão do HIV/AIDS
e das hepatites (B, C e D) por meio de instrumentos cortantes
e perfurantes geralmente usados em procedimentos médicos.
Embora também existam medicamentos antivirais disponíveis,
o tratamento de viroses é frequentemente mais desafiador. Em
alguns casos, como o HIV/AIDS e as hepatites virais (A, B, C, D e
E), não existe uma cura definitiva, apenas o controle da viremia,
que é a quantidade de vírus no sangue. Consequentemente, essas
doenças podem se tornar crônicas, levando a danos irreversíveis
e, em alguns casos, à morte do paciente.

O HIV ataca o sistema imunológico do hospedeiro,


tornando-o suscetível a infecções bacterianas e fúngicas. Por
outro lado, as hepatites virais (com destaque para as formas B e
C, que são mais agressivas) têm como alvo as células do fígado e
podem evoluir para cirrose e, em casos mais graves, levar à morte.
O Quadro 1 apresenta as formas de transmissão das hepatites
virais.

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 43


Quadro 1.1 — Meios de transmissão e agentes causadores das hepatites virais

Tipos de Agentes causadores Transmissão


hepatite
Hepatite A Vírus HAV Ingestão de material fecal em
alimentos e água contaminados
Hepatite B Vírus HBV Contato com sangue, sêmen
e outros fluidos corporais de
pessoas infectadas
Hepatite C Vírus HCV Contato com sangue infectado
Hepatite D Vírus HDV Contato com sangue infectado
Hepatite E Vírus HEV Ingestão de material fecal em
alimentos e água contaminados
Fonte: Tortora, Funke e Case (2012).

Dessa forma, sempre existirá o risco potencial de


transmissão das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS)
Unidade 1

quando os pacientes são expostos a procedimentos. Portanto, é


essencial que os profissionais tenham um conhecimento sólido
para adotar uma abordagem consciente na prevenção das IRAS.

A resistência microbiana e a
responsabilidade profissional:
mecanismos, impactos e riscos
A resistência microbiana é fonte de centenas de estudos
que buscam elucidar os mecanismos dessa resistência e
desenvolver drogas antimicrobianas, com o intuito de erradicar os
microrganismos no ambiente de saúde.

De acordo com Trabulsi (2008), os microrganismos podem


desenvolver resistência aos antimicrobianos anteriormente
efetivos na sua destruição. Essa resistência adquirida pode
decorrer de mutações genéticas ocorridas no material genético
dos microrganismos e está intimamente relacionada ao uso
indiscriminado dos antimicrobianos.

44 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


A exposição excessiva das espécies à antimicrobianos
e o uso irracional de antibióticos favorecem a seleção
dessas cepas resistentes e abala os profissionais da
IMPORTANTE saúde, em razão da dificuldade do tratamento das
infecções que causam.

Com relação à resistência microbiana:


existem relatos frequentes de patógenos que
são resistentes a quase todos os antibióticos
disponíveis. Certas populações de patógenos
que causam a tuberculose são agora resistentes
a quase todas as drogas anteriormente efetivas.
Em alguns casos, a medicina dispõe atualmente
de poucas armas efetivas para o tratamento das

Unidade 1
doenças causadas por esses patógenos, muito
menos do que era disponível há um século.
(Tortora; Funke; Case, 2012, p. 553)

Para compreender a dinâmica das mutações e da


resistência, é fundamental ter um entendimento dos mecanismos
de patogenicidade microbiana. Esses mecanismos são os meios
pelos quais os microrganismos, tanto patogênicos quanto aqueles da
microbiota humana, causam doenças em seres humanos e, da mesma
forma, como desenvolvem resistência ao tratamento com antibióticos.

A patogenicidade é compreendida como sendo a


capacidade de um microrganismo se multiplicar em
um organismo vivo causando doença. O seu poder
DEFINIÇÃO de patogenicidade é denominado de virulência.

A forma pela qual os microrganismos entram no organismo,


dando origem a doenças subsequentes, é conhecida como porta de
entrada. Esses microrganismos têm várias portas de entrada nos
organismos vivos, embora muitas vezes tenham uma via preferencial

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 45


ou mesmo obrigatória para a patogenicidade. As vias principais de
penetração no organismo estão apresentadas no quadro a seguir.
Quadro 1.2 - Principais vias de penetração dos microrganismos patogênicos nos organismos
vivos

Porta de entrada Mecanismos de penetração

Trato respiratório Inalação de partículas e gotículas

Trato gastrintestinal Ingestão de alimentos e água

Trato geniturinário Penetração pelas membranas mucosas do trato


geniturinário

Pele Penetração por meio da pele intacta (folículos pilosos


e dutos sudoríparos) ou feridas

Olhos Penetração por meio das membranas que revestem o


olho ocular e as pálpebras
Unidade 1

Via parenteral Inoculação por meio de picadas de insetos, injeções e


ferimentos

Fonte: Tortora, Funke e Case (2012).

É importante destacar que, mesmo após a penetração e


aderência dos microrganismos nas células do organismo humano,
o desenvolvimento da doença só ocorrerá se a multiplicação
do patógeno conseguir superar os mecanismos de defesa
imunológica do hospedeiro. Nesse caso, a doença se estabelecerá,
causando danos aos tecidos, e será necessária a administração de
antibióticos específicos para tratar as espécies patogênicas.

De acordo com a Anvisa (2000, p. 30):


por serem doenças transmissíveis, as IRAS
apresentam uma cadeia epidemiológica que
pode ser definida a partir de seus seis elos:
agente infectante; reservatórios ou fontes;
vias de eliminação; transmissão; penetração; e
hospedeiro susceptível. A cadeia epidemiológica
das infecções hospitalares será descrita de
acordo com os seus elos.

46 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


Entender a cadeia epidemiológica das IRAS é fundamental
para a prevenção e controle dessas infecções em ambiente
hospitalar, permitindo a identificação e intervenção em cada elo
para reduzir o risco de disseminação das infecções nos hospitais.

A microbiota humana
Além dos microrganismos patogênicos presentes nos
doentes e que podem ser transmitidos às pessoas saudáveis
(geralmente encontrados na microbiota de nosocômios), nos
organismos vivos existe uma flora naturalmente presente que
pode, em situações específicas, ser responsável por doenças. A esse
conjunto de microrganismos dá-se o nome de microbiota humana.

O nosso organismo é colonizado, em distintos sítios

Unidade 1
anatômicos, por bactérias e fungos que compõem uma microbiota
numerosa, diversa e complexa, estimada em cem trilhões de
células microbianas, o que representa dez vezes o número das
células humanas do corpo (Tortora; Funke; Case, 2012).

Essa microbiota humana pode ser dividida em microbiota


residente (normal ou autóctone) e microbiota transitória (transiente
ou alóctone) (Trabulsi, 2008). A microbiota residente é formada por
aqueles microrganismos que colonizam o organismo hospedeiro
estabelecendo uma residência relativamente permanente, não
causando doenças nesse.

Esses microrganismos são importantes na


manutenção da saúde humana por participarem de
processos de imunidade, digestão e criarem uma
IMPORTANTE barreira efetiva contra microrganismos patogênicos.
Porém, se introduzidos em sítios estéreis do
organismo (como cérebro e medula espinhal) podem
desenvolver infecções graves (Trabulsi, 2008).

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 47


No quadro a seguir, podemos observar os principais
microrganismos presentes na microbiota normal do ser humano.
Quadro 1.3 – Microrganismos da microbiota humana

Sítio no organismo Microrganismos


humano

Pele Staphylococcus
Malassezia
Corynebacterium
Micrococcus
Propionibacterium
Pityrosporum

Trato respiratório Branhamella


Corynebacterium
Streptococcus
Staphylococcus
Unidade 1

Hemophilus
Neisseria

Cavidade oral Neisseria


Lactobacillus
Streptococcus
Actinomyces
Fusibacterium

Trato digestivo Lactobacillus


Enterococcus
Proteus
Escherichia coli
Klebsiela
Enterobacter
Citrobacter

Trato urogenital Streptococcus


Candida
Lactobacillus
Enterobacter
Mycobacterium

Fonte: Trabulsi (2008).

48 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


Já a microbiota transitória é composta por microrganismos
patogênicos ou potencialmente patogênicos, podendo produzir
doenças humanas. Esses microrganismos costumam estar
presentes na microbiota nosocomial, ou seja, presentes em
ambientes nos quais se realiza prestação de serviços em saúde
pelo fluxo de doentes nesses locais. Deve-se prezar pela busca da
destruição desses organismos para que os ambientes não sejam
fontes das IRAS (Trabulsi, 2008; Tortora; Funke; Case, 2012).

Após instalada a infecção, deve-se procurar


atendimento médico para o correto tratamento
com o antibiótico ideal. Sabe-se, porém, que
IMPORTANTE alguns microrganismos desenvolveram resistência
às drogas antimicrobianas disponíveis atualmente,
o que representa sempre uma preocupação. A

Unidade 1
resistência microbiana desafia os pesquisadores
da saúde por representar um risco de
impossibilidade de tratamento de infecções com
os antibióticos disponíveis, levando a um alto risco
de complicações e morte.

De acordo com Tortora, Funke e Case (2012):


Considera-se o microrganismo resistente a um
determinado antibiótico quando esse possui a
capacidade de se multiplicar em sua presença,
mesmo em concentrações mais altas que
aquelas utilizadas com finalidade terapêutica.
A resistência trata-se de um fenômeno natural
dos microrganismos, que se dá pela mutação
de genes e sua posterior reprodução nas
células filhas, que tem contribuição relevante
do uso indiscriminado de antibióticos.

Em outras palavras, a resistência microbiana é um


fenômeno natural dos microrganismos, que se adaptam e
respondem aos estímulos do ambiente. Os microrganismos

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 49


frequentemente empregam diversas estratégias para evitar serem
mortos pela ação dos antibióticos. A ação combinada desses
mecanismos acaba resultando em um significativo aumento da
resistência aos antibióticos.

As mutações são uma resposta dos microrganismos como


uma forma de adaptação ao ambiente. Esse mecanismo ocorre
com frequência e contribui para o desenvolvimento da resistência
microbiana aos medicamentos, ao mesmo tempo que cria
obstáculos para a produção de vacinas eficazes. Para minimizar
o risco, é essencial compreender os mecanismos por trás da
resistência microbiana.

De acordo com a Anvisa (Brasil, 2017, p. 1),


Unidade 1

a resistência a determinado antimicrobiano


pode constituir uma propriedade intrínseca de
uma espécie bacteriana ou uma capacidade
adquirida. Para adquirir resistência, a bactéria
deve alterar seu DNA, material genético, que
ocorre de duas formas: indução de mutação
no DNA nativo; introdução de um DNA
estranho - genes de resistência - que podem
ser transferidos entre gêneros ou espécies
diferentes de bactérias.

Em razão do risco de resistência desses microrganismos


às drogas antimicrobianas, seu uso clínico é controlado no país
sendo sua venda restrita e somente sob prescrição médica.

Tortora, Funke e Case (2012) afirmam que as drogas


antimicrobianas podem funcionar de cinco modos distintos:

• inibição da síntese de parede celular;

• inibição da síntese de proteínas;

• inibição da síntese de ácidos nucléicos;

50 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


• dano à membrana plasmática;

• inibição da síntese de metabólitos essenciais.


Imagem 1.10 – As bactérias resistentes representam grande preocupação para
pesquisadores e profissionais as saúde

Unidade 1
Fonte: Freepik

A resistência representa a inibição, por meio de mutações


genéticas do microrganismo, da ação das drogas antibióticas em
algum desses mecanismos.

São exemplos de patógenos multirresistentes responsáveis


por IRAS e que representam grande preocupação por parte da
comunidade científica internacional (Cunha, 2014):

• Staphylococcus spp. resistentes ou com sensibilidade


intermediária à vancomicina (VISA/VRSA) e meticilina
(MRSA);

• Enterococcus spp. resistente aos glicopeptídeos;

• Enterobactérias resistentes a carbapenêmicos;

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 51


• Escherichia coli;

• Klebsiella spp.;

• Enterobacter spp.;

• Proteus spp.;

• Citrobacter spp.;

• Pseudomonas aeruginosa;

• Acinetobacter baumannii.

Esses patógenos desenvolveram resistência a múltiplos


antibióticos, o que torna o tratamento de infecções causadas por
eles mais desafiador e potencialmente perigoso. O controle e
prevenção de infecções hospitalares envolvendo esses patógenos
Unidade 1

são de extrema importância para garantir a segurança dos


pacientes e a eficácia do tratamento médico.

52 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


Neste capítulo, você aprendeu que os profissionais
de saúde devem se preocupar em aderir às boas
práticas, visando a segurança do paciente, uma
RESUMINDO vez que bactérias, fungos e vírus estão sempre
à espreita, buscando uma oportunidade de
penetrar no organismo humano e causar IRAS.
Considerando que os microrganismos patogênicos
estão se tornando cada vez mais resistentes aos
medicamentos antimicrobianos disponíveis, uma
infecção pode resultar em complicações graves e
até mesmo levar à morte, devido à impossibilidade
de tratamento. Isso é particularmente evidente
nas infecções causadas pelas “superbactérias”,
que são comumente encontradas em ambientes
hospitalares. No entanto, é importante notar que em
nosso organismo, existe também uma microbiota

Unidade 1
natural, um conjunto de microrganismos que
contribui para o funcionamento normal do corpo.
Em situações específicas de imunodepressão e em
áreas estéreis do corpo, esses microrganismos
podem desenvolver infecções.

CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 53


AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂCIA SANITÁRIA. Curso básico de
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54 CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR


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CONTROLE E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR 55

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