Livro Fisiologia Vegetal UFSC
Livro Fisiologia Vegetal UFSC
Livro Fisiologia Vegetal UFSC
Fisiologia Vegetal
Maria Terezinha Silveira Paulilo
Ana Maria Viana
Áurea Maria Randi
Florianópolis, 2010.
Governo Federal Comissão Editorial Viviane Mara Woehl, Alexandre
Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Verzani Nogueira
Ministro de Educação Fernando Haddad
Secretário de Ensino a Distância Carlos Eduardo Projeto Gráfico Material impresso e on-line
Bielschowky Coordenação Prof. Haenz Gutierrez Quintana
Coordenador Nacional da Universidade Aberta do Equipe Henrique Eduardo Carneiro da Cunha, Juliana
Brasil Celso Costa Chuan Lu, Laís Barbosa, Ricardo Goulart Tredezini
Straioto
Universidade Federal de Santa Catarina
Reitor Alvaro Toubes Prata Equipe de Desenvolvimento de Materiais
Vice-Reitor Carlos Alberto Justo da Silva
Laboratório de Novas Tecnologias - LANTEC/CED
Secretário de Educação à Distância Cícero Barbosa
Coordenação Geral Andrea Lapa
Pró-Reitora de Ensino de Graduação Yara Maria
Coordenação Pedagógica Roseli Zen Cerny
Rauh Müller
Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão Débora Peres Material Impresso e Hipermídia
Menezes Coordenação Laura Martins Rodrigues,
Pró-Reitora de Pós-Graduação Maria Lúcia Camargo Thiago Rocha Oliveira
Pró-Reitor de Desenvolvimento Humano e Social Luiz Adaptação do Projeto Gráfico Laura Martins Rodrigues,
Henrique Vieira da Silva Thiago Rocha Oliveira
Pró-Reitor de Infra-Estrutura João Batista Furtuoso Diagramação Laura Martins Rodrigues
Pró-Reitor de Assuntos Estudantis Cláudio José Amante Ilustrações Jean Menezes, Amanda Cristina Woehl, João
Centro de Ciências da Educação Wilson Schmidt Antônio Amante Machado, Kallani Bonelli, Cristiane
Amaral, Maiara Ornellas Ariño, Liane Lanzarin, Grazielle
Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas
S. Xavier, Tarik Assis Pinto, Rafael Naravan Kienen
na Modalidade a Distância
Revisão gramatical Mirna Saidy
Diretora Unidade de Ensino Sonia Gonçalves Carobrez
Coordenadora de Curso Maria Márcia Imenes Ishida Design Instrucional
Coordenadora de Tutoria Zenilda Laurita Bouzon Coordenação Vanessa Gonzaga Nunes
Coordenação Pedagógica LANTEC/CED Design Instrucional Cristiane Felisbino Silva,
Coordenação de Ambiente Virtual Alice Cybis Pereira Marisa Campos Santana
Inclui referências
ISBN 978-85-61485-28-3
Apresentação........................................................................................ 9
1. Relações hídricas............................................................................13
1.1 Introdução....................................................................................................................15
1.2 Propriedades físico-químicas da água................................................................. 18
1.3 Movimentação da água........................................................................................... 21
1.4 O caminho da água pela planta............................................................................. 24
1.5 O processo da transpiração é estritamente dependente
da anatomia foliar................................................................................................... 27
1.6 Fatores ambientais que afetam a transpiração.................................................. 29
Resumo............................................................................................................................... 30
Referências........................................................................................................................ 31
2. Nutrição mineral............................................................................33
2.1 Introdução................................................................................................................... 35
2.2 Métodos de estudo em nutrição mineral............................................................ 35
2.3 Elementos essenciais................................................................................................ 36
2.4 Determinação da concentração crítica de um elemento
mineral no tecido vegetal..................................................................................... 38
2.5. Agentes quelantes................................................................................................... 39
2.6. Função dos nutrientes e sintomas de deficiência............................................. 41
2.6.1 Nitrogênio.......................................................................................................41
2.6.2 Fósforo.............................................................................................................42
2.6.3 Potássio ..........................................................................................................42
2.6.4 Enxofre.............................................................................................................43
2.6.5 Cálcio...............................................................................................................43
2.6.6 Magnésio....................................................................................................... 44
2.6.7 Ferro................................................................................................................ 44
2.6.8 Boro................................................................................................................. 44
2.6.9 Cobre................................................................................................................45
2.6.10 Zinco...............................................................................................................45
2.6.11 Manganês.................................................................................................... 46
2.6.12 Molibdênio................................................................................................... 46
2.6.13 Cloro.............................................................................................................. 46
2.6.14 Níquel............................................................................................................ 46
Resumo............................................................................................................................... 48
Referências........................................................................................................................ 48
5. Fotossíntese....................................................................................75
5.1 Introdução................................................................................................................... 77
5.2 A energia solar........................................................................................................... 78
5.3 O mecanismo da fotossíntese................................................................................ 80
5.4 Princípios básicos de captura de luz
pelos pigmentos fotossintetizantes.................................................................... 82
5.5 Fixação do carbono atmosférico pelo processo fotossintético...................... 85
Plantas C3.................................................................................................................85
Plantas C4.................................................................................................................85
Plantas CAM............................................................................................................ 88
5.6 Fotorrespiração.......................................................................................................... 89
5.7 Fatores que afetam a fotossíntese . ...................................................................... 90
Resumo............................................................................................................................... 92
Referências........................................................................................................................ 94
6. Transporte no floema....................................................................97
6.1 Introdução................................................................................................................... 99
6.2 Carregamento no floema........................................................................................ 99
6.3 Descarregamento do floema............................................................................... 102
6.4 Transporte de substâncias pelo floema............................................................. 102
Resumo.............................................................................................................................104
Referências...................................................................................................................... 105
9. Floração.........................................................................................151
9.1 Introdução................................................................................................................. 153
9.2 Indução da floração pelo fotoperíodo............................................................... 155
9.3 Indução da floração pela vernalização............................................................... 160
9.4 Hormônios envolvidos com floração.................................................................. 161
Resumo............................................................................................................................. 162
Referências......................................................................................................................164
Bibliografia recomendada...........................................................................................164
Este livro mostrará esse fascinante mundo dos processos vegetais, os quais
estão incluídos nos diversos capítulos que o compõe.
1.1 Introdução
A água é essencial à vida e é o principal constituinte dos seres
vivos. O vegetal necessita da água em todas as fases do seu cresci-
mento e do seu desenvolvimento, e seu conteúdo varia de acordo
com o tipo ou a idade do órgão vegetal. A água é o recurso mais
abundante, mas também o mais limitante; assim, tanto a distri-
buição das plantas como a produtividade agrícola são controladas
principalmente pela disponibilidade de água.
Sabe por que a água é essencial à vida das plantas? Porque a
água exerce inúmeras funções fisiológicas e ecológicas na planta.
Para que haja atividade metabólica normal, as células devem con-
ter pelo menos 65% de água.
Entre as principais funções fisiológicas da água para os vegetais,
temos o transporte de substâncias pelo vegetal. Nesse transporte,
uma proteína ou um nutriente vai da raiz às folhas ou vice-versa
levado pela água. É também a água que faz as células meristemá-
ticas (células embrionárias) crescerem de tamanho, pois é a for-
ça da água, quando a célula meristemática está túrgida (inchada),
que estica suas paredes celulares, aumentando o tamanho dessas
células (Figura 1.1). Já em células adultas, não meristemáticas, a
força da água nas paredes celulares de uma célula túrgida (Figura
1.2) permite que um tecido ou um órgão se sustente, como se
sustenta um balão de borracha cheio de água (Figura 1.3). Quan-
16 Fisiologia Vegetal
H2O
Parede
Membrana celular
plasmática Alongamento
da célula
XY + H2O → HY + XOH.
H
As inúmeras funções da água advêm de suas propriedades fí-
sico-químicas, as quais, por sua vez, advêm do fato da água ser − H O
uma molécula polar. A água é uma pequena molécula em forma
de V, com a densidade dos elétrons em torno do átomo de oxi-
gênio maior do que em torno dos átomos de hidrogênio (Figura Figura 1.6 – Forma aproxima-
da da molécula de água com
1.6). Essa diferença na densidade dos elétrons torna a água uma a distribuição das cargas.
Relações hídricas 19
Ponte de hidrogênio
Ponte de hidrogênio entre
Ligações do átomo de hidrogênio de uma molé- duas moléculas de água
cula de água com o átomo de oxigênio de outra
molécula de água formando amontoados (clus- δ−
δ+
ters) de moléculas de água de vários tamanhos (Fi- O δ−
gura 1.7). H
O
Calor latente
de vaporização
Figura 1.7 – Ponte de hidrogênio
É a quantidade de energia necessária para conver- entre duas moléculas de água.
ter um grama de um líquido em vapor, que no caso
da água é 44 Kjmol-1.
20 Fisiologia Vegetal
Tensão
Superficial
C Via transcelular
Figura 1.11 – Via apoplástica: entre as paredes das células (contornando externamente);
via simplástica: mediada pelos plasmodesmos (entre membranas); via transcelular:
através das membranas, isto é, pelas membranas plasmáticas e aquaporinas (difusão e
fluxo de massa microscópico = osmose). Ambas as vias permitem a passagem de água
pelo lado de dentro das células (internamente).
H2HO2O
Xilema
Umidade
A umidade é o conteúdo de água do ar, a qual, como descrita
anteriormente, pode ser expressa como umidade relativa (UR). A
umidade relativa é a razão da quantidade de água real do ar pela
máxima quantidade de água que pode ser retida pelo ar a uma
determinada temperatura. A umidade relativa é expressa normal-
mente como UR x 100, ou umidade relativa percentual. O poten-
cial de água na atmosfera, que é dado pelo potencial de pressão
(pressão que a atmosfera exerce sobre a entrada de mais vapor-
d’água nela) depende tanto da umidade relativa do ar como de sua
temperatura. Dessa forma, a umidade e a temperatura influenciam
a magnitude da diferença de potencial de água entre folha e atmos-
fera, a qual influencia a taxa de transpiração.
Temperatura
A temperatura afeta a taxa de transpiração devido ao seu efeito
no potencial de pressão da atmosfera. Com o aumento da tempe-
ratura, a atmosfera se expande, diminuindo o potencial de pressão
e, com isso, a pressão sobre a entrada de mais vapor-d’água para a
atmosfera diminui, aumentando o fluxo de saída de vapor-d’água
da folha para a atmosfera.
Alguns valores para o potencial hídrico (Ψw) em função da
umidade relativa (UR):
100% UR → Ψw = 0 MPa; 95% UR → Ψw = -6,9 MPa;
90% UR → Ψw = -14,2 MPa; 50% UR → Ψw = -93,5 MPa;
20% UR → Ψw = -217,1 MPa.
Vento
A velocidade do vento tem um efeito marcante na transpiração,
por modificar a velocidade da difusão das moléculas de água que
deixam a folha. Isso se dá devido à camada de ar adjacente à su-
perfície da folha, que é mais úmida que a camada de ar um pouco
30 Fisiologia Vegetal
Resumo
A água é uma molécula polar, e a maioria de suas propriedades
físico-químicas se deve a esse fato. A água exerce funções fisioló-
gicas, tais como: transporte de substâncias pelo vegetal, expansão
de células meristemáticas, sustentação de tecidos ou órgãos, res-
friamento vegetal, isolamento térmico entre o vegetal e o ambiente,
movimento de organelas, estabilização da estrutura de membranas
e compostos orgânicos e participação em reações químicas. Outras
propriedades da água, como coesão, tensão superficial, força tênsil
e adesão, deram suporte à teoria do fluxo transpiratório de Dixon, a
qual explica como a água sobe pela planta, das raízes às folhas.
Para entender esse movimento da água, é necessário, também,
que se entenda o que é potencial químico da água. O potencial
químico da água expressa a energia livre por mol de água. No estu-
do de relações hídricas, os fisiologistas vegetais criaram o conceito
de potencial de água, que é a diferença entre o potencial químico
da água num estado padrão e o potencial químico da água num
estado que não o do estado padrão. O potencial de água é depen-
dente do potencial de soluto (Ψл), do potencial de pressão (Ψp),
do potencial mátrico (Ψm) e do potencial gravitacional (Ψg), ou
seja: Ψw = Ψл + Ψp + Ψm + Ψg.
Além da influência das propriedades físico-químicas, a água
possui vários caminhos a serem percorridos dentro da planta. O
caminho da água a curta distância pela planta pode ser via trans-
celular, pelo simplasto ou através do apoplasto. O caminho a longa
distância, através do xilema, pode se dar por pressão de raiz ou
fluxo transpiratório. A pressão de raiz ocorre preferencialmente
Relações hídricas 31
Referências
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
c a p í t u lo 2
c a p í t u lo 2
Nutrição mineral
Neste capítulo, serão fornecidas informações sobre os mé-
todos utilizados para os estudos na área de nutrição mineral,
a conceituação do que são os elementos essenciais e a descri-
ção das funções e dos sintomas de deficiência que produzem
nas plantas.
Nutrição mineral 35
2.1 Introdução
As plantas são seres autotróficos e retiram da atmosfera o dió-
xido de carbono (CO2) e do solo água e nutrientes minerais. Com
esses elementos conseguem montar todas as moléculas orgânicas
que necessitam para o seu crescimento e desenvolvimento.
Para estudar os requisitos nutricionais das plantas, são usados
métodos de cultivo em que são utilizadas soluções nutritivas ou
substratos pobres em nutrientes, como areia lavada e vermicu-
lita. Apenas utilizando-se substratos pobres é possível manipular
o fornecimento dos diferentes elementos em concentrações que
podem induzir tanto a carência, no caso de estudos em que é o
objetivo conhecer o que a ausência de um determinado elemento
provoca na planta, até concentrações altas, no caso de estudos so-
bre o efeito tóxico que o elemento pode desencadear nos vegetais.
deficiência toxidez
(porcentagem do máximo)
100
50
0 Concentração crítica
Figura 2.3 – Gráfico que relaciona a concentração do nutriente no tecido vegetal com o
crescimento da planta, para a determinação da concentração crítica de um elemento no
tecido.
O
A B
C
O CH2
O
C CH2
OOCH2C CH2COO O N
N CH2 CH2 N Fe CH2
2.6.2 Fósforo
O fósforo está presente nas moléculas dos açúcares fosfatados
que participam da fotossíntese, nas moléculas dos nucleotídeos
do DNA e RNA, nos fosfolipídios presentes nas membranas, ATP,
ADP, fosfato inorgânico e ácidos orgânicos fosforilados.
Uma importante característica da deficiência em fósforo é o ver-
de intenso das folhas que podem se tornar malformadas e apresen-
tar manchas necróticas. Em alguns casos, pode haver acúmulo de
antocioaninas, e as folhas ficam com aspecto verde-avermelhado.
Como esse elemento é de alta mobilidade dentro da planta, ele se
desloca das partes mais velhas para as mais jovens, induzindo a
senescência rápida das folhas mais velhas. Os caules se apresentam
curtos, e a produção de frutos e sementes é reduzida.
O excesso de fósforo estimula o crescimento mais das raízes do
que da parte aérea, e em vários casos a aplicação de fertilizantes
fosfatados é utilizada durante o transplante de plantas para esti-
mular o estabelecimento de um sistema radicular forte.
2.6.3 Potássio
O potássio não parece fazer parte de nenhuma molécula no ve-
getal, mas é ativador de várias enzimas da fotossíntese e da respira-
ção, e a deficiência em potássio afeta a síntese de amido e de prote-
ínas. Está envolvido também nos mecanismos de osmorregulação,
pois o movimento do potássio para dentro e para fora da célula
resulta, respectivamente, na entrada de água nas células e na saída
de água das células, alterando a turgescência. Assim, por exem-
plo, a variação na turgescência das células-guarda é que determina
a abertura ou o fechamento dos estômatos e os movimentos das
plantas como o das folhas da dormideira. Também influencia os
movimentos de abertura e fechamento das folhas durante o ama-
nhecer e entardecer e as mudanças diárias na orientação das folhas
em relação ao Sol.
Na ausência de potássio, os estômatos não se abrem, impedindo
a entrada de carbono para a fotossíntese. Da mesma forma, com
os estômatos fechados, a corrente transpiratória que carrega todos
os elementos minerais do solo para as partes aéreas da planta fica
Nutrição mineral 43
2.6.4 Enxofre
O enxofre participa da estrutura dos aminoácidos cisteína e me-
tionina constituintes de várias proteínas. Faz parte da molécula
da coenzima A, importante na respiração e no metabolismo dos
ácidos graxos além de ser constituinte das vitaminas tiamina e
biotina.
A deficiência em enxofre produz clorose nas folhas inclusive
nos tecidos em volta dos feixes vasculares. A clorose é mais devido
à redução na síntese de proteínas, que interfere na produção de
complexos clorofila-proteínas estáveis que ligam as moléculas de
clorofila nas membranas do cloroplasto. O enxofre não se movi-
menta dentro da planta, por isso os sintomas de deficiência apare-
cem primeiro nas folhas mais jovens da planta.
2.6.5 Cálcio
O cálcio é mensageiro secundário nos mecanismos de ação hor-
monal e de respostas da planta a fatores ambientais, como a luz.
Além disso, é importante na divisão celular, pois está envolvido na
formação do fuso mitótico que orienta a deposição da lamela mé-
dia, além de fazer parte da própria lamela média como pectato de
cálcio. Também é necessário para a estabilização das membranas e
regula a atividade de numerosas enzimas.
Um sintoma característico da deficiência em cálcio é o apareci-
mento de folhas jovens deformadas (devido à divisão assimétrica
das células) e necróticas e morte dos meristemas. O crescimento
44 Fisiologia Vegetal
2.6.6 Magnésio
O magnésio desempenha várias funções importantes na planta
como integrante da unidade de porfirina da molécula de clorofila
e estabilizador da estrutura dos ribossomos. Também é ativador de
várias enzimas, como as enzimas da fotossíntese ribulosebifosfato
e a fosfoenolpiruvato carboxilase, e liga as moléculas de ATP aos
sítios ativos das enzimas. A deficiência em magnésio provoca clo-
rose nas folhas devido à degradação de clorofila nas regiões entre
as nervuras, pois os cloroplastos, nessa região, são menos sensíveis
à deficiência em magnésio e retêm a clorofila por mais tempo. É
um elemento bem móvel dentro da planta e se desloca das partes
mais velhas para as mais novas deixando as mais velhas cloróticas.
2.6.7 Ferro
O ferro é parte do grupo catalítico de muitas enzimas que par-
ticipam em reações de redução na fotossíntese, fixação do nitro-
gênio e respiração. Durante a transferência de elétrons, o cátion
ferro trivalente é reduzido a cátion ferro divalente. Também faz
parte de várias enzimas oxidases, como a catalase e a peroxidase.
Parece ser importante na síntese de constituintes dos cloroplastos,
especialmente das proteínas transportadoras de elétrons.
A deficiência em ferro induz perda de clorofila e degeneração
do cloroplasto. A clorose aparece primeiro nas regiões entre as
nervuras das folhas jovens, mas pode atingir as nervuras, e as fo-
lhas podem se tornar brancas se a deficiência for muito acentuada.
O ferro apresenta baixa mobilidade dentro da planta, não saindo
das folhas mais velhas.
2.6.8 Boro
De todos os nutrientes, a função fisiológica e bioquímica do
boro é a menos entendida, pois não existem evidências sólidas do
Nutrição mineral 45
2.6.9 Cobre
Funciona como cofator de várias enzimas oxidativas, como a
plastocianina (carregadora de elétrons da fotossíntese), a citocro-
mo oxidase (a enzima oxidase final da respiração mitocondrial) e
a oxidase do ácido ascórbico.
A deficiência em cobre provoca baixo crescimento das plantas
além de folhas jovens deformadas e que caem precocemente, prin-
cipalmente em árvores de Citrus.
2.6.10 Zinco
O zinco é ativador de várias enzimas incluindo a álcool desi-
drogenase, que catalisa a reação de acetaldeído, etanol e anidrase
carbônica, que catalisa a hidratação do dióxido de carbono para
formar bicarbonato. Também há evidências indicando que o zinco
é requerido para a síntese do triptofano, precursor dos hormônios
da classe das auxinas. Por isso, um sintoma de deficiência em zinco
é o encurtamento dos internos da planta e folhas pequenas. Quan-
do o zinco é fornecido, ocorre um aumento no nível de auxinas
assim como um aumento no crescimento da planta.
46 Fisiologia Vegetal
2.6.11 Manganês
O manganês é requerido como cofator de numerosas enzimas,
como descarboxilases e desidrogenases, as quais participam do Ci-
clo de Krebs, e da enzima pertencente ao complexo que quebra a
molécula de água e libera oxigênio durante o processo fotossinté-
tico. A deficiência em manganês é caracterizada pelo aparecimen-
to de manchas verde-acinzentadas nas regiões basais das folhas
jovens de cereais. Pode causar clorose entre as nervuras das folhas
como também deformações em sementes de leguminosas.
2.6.12 Molibdênio
É o micronutriente requerido em mais baixa quantidade pelas
plantas e está relacionado com o metabolismo do nitrogênio. A
Enzima presente nas plantas
enzima dinitrogenase, presente nos microrganismos fixadores de que catalisa a redução do
nitrogênio atmosférico, e a nitrato redutase contêm molibdênio. nitrato a nitrito, primeiro
passo do processo de
Quando os suprimentos de nitrogênio são adequados, a deficiência assimilação do nitrogênio do
em molibdênio resulta em folhas jovens retorcidas e deformadas. nitrato em aminoácidos.
2.6.13 Cloro
Elemento requerido nas reações de liberação do oxigênio du-
rante a fotossíntese, ao lado do manganês, sendo também neces-
sário para a divisão celular de folhas e ramos. É um dos solutos
que participa ativamente dos processos osmóticos do vacúolo. A
deficiência em cloro se expressa nas plantas através de crescimento
reduzido, murcha das pontas das folhas e clorose geral. A deficiên-
cia em cloro raramente é detectada, pois a água do mar contendo
os íons cloreto é carregada pelo vento, e esses íons são depositados
nos solos pelas chuvas.
2.6.14 Níquel
Parte integrante da molécula da enzima urease, responsável pela
degradação da ureia, que pode ser tóxica para a planta quando se
acumula dentro das células. A ureia é produzida quando os ure-
ídeos são quebrados. Os ureídeos são compostos nitrogenados,
como o ácido alantoico e a citrulina, presentes nas leguminosas.
Nutrição mineral 47
Resumo
Os principais métodos que envolvem a utilização de soluções
nutritivas são conhecidos como hidroponia. Através dessa técnica
a planta pode ser cultivada com suas raízes imersas em solução
nutritiva em vasos, desde que a referida solução seja aerada, por
exemplo, com o auxílio de uma bomba de aquário. As soluções
nutritivas devem conter os elementos essenciais para as plantas.
Os elementos essenciais são aqueles em que na sua ausência as
plantas não completam o ciclo de vida. São agrupados em macro-
nutrientes e micronutrientes, dependendo da quantidade em que
são requeridos pelas plantas.
Referências
HOPKINS, W. J. Introduction to plant physiology. 2. ed. New
York: John Wiley & Sons, 1999.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
c a p í t u lo 3
c a p í t u lo 3
Assimilação e fixação biológica
do nitrogênio
Neste capítulo, iremos estudar a biologia e a bioquímica
dos sistemas de fixação biológica do nitrogênio e as vias de
assimilação dos íons amônio e nitrato pelas plantas que não
fazem associação simbiótica.
Assimilação e fixação biológica do nitrogênio 53
3.1 Introdução
O nitrogênio é um dos macronutrientes requeridos em gran-
des quantidades pelas plantas para a produção de proteínas, áci-
dos nucleicos, hormônios, clorofila e de vários outros compostos
importantes para o metabolismo celular. A atmosfera é rica (78%)
em dinitrogênio (N2), o nitrogênio que está na forma molecular,
mas as plantas não possuem enzimas capazes de converter esse
nitrogênio em moléculas orgânicas. Apenas os procariotos são ca-
pazes de efetuar tal processo; as plantas podem se beneficiar des-
se processo apenas quando estão em associação simbiótica com
tais organismos. As plantas que não fazem associações simbióticas
para fixar o nitrogênio absorvem o nitrogênio do solo na forma de
nitrato (NO3–) ou de íon amônio (NH4+). Mas o nitrato é facilmen-
te lixiviado do solo pelas águas da chuva e assim o nitrogênio, na
maioria dos casos, apresenta-se como fator limitante para o cres-
cimento das plantas.
Fixação
Nitrogênio na atmosfera
N2
Plantas
Assimilação
Bactérias
desnitri-
ficantes
Bactérias fixadoras
de N2 nos nódulos Nitratos (NO3-)
de raízes de
Decompositores
leguminosas (fungos e bactérias
aeróbicas e anaeróbicas)
Bactérias
Amonificação Nitrificação nitrificantes
Amônia (NH3) Nitritos (NO2-)
Bactérias fixadoras
de N2 no solo Bactérias nitrificantes
Fotossintato
(da folha) H+ H+
Cadeia respiratória
Membrana do
Glicólise bacterioide
NAD+
ATP
CAC N2 + 8H+
NAD+
fdred
8e-
2NH3
NADH Dinitrogenase Aminoácidos
+ H2
fdox
ADP + Pi Exportação
do nódulo
Figura 3.2 – Diagrama da fixação do nitrogênio, dentro do bacterioide, mostrando a relação com a fotossíntese
da planta e com a respiração do bacterioide.
58 Fisiologia Vegetal
α- cetoglutarato
COOH
NAD+ NADH + H+
Figura 3.3 – Esquema da C O
assimilação do íon amônio em
glutamina pela glutamina sintetase CH2
(GS) e regeneração do glutamato GOGAT
CH2
pela glutamato sintase (GOGAT)
COOH
EXPORTAÇÃO
2 moléculas 2 moléculas
de ácido glutâmico de glutamina
GS
2NH4+
2 ATP 2 ADP + Pi
Resumo
Embora a atmosfera seja rica em nitrogênio, as plantas não po-
dem aproveitá-lo, exceto as que fazem associação simbiótica com
microrganismos. A fixação simbiótica do nitrogênio ocorre nos
nódulos formados nas raízes das plantas hospedeiras através da
ação da dinitrogenase, presente nas bactérias fixadoras. A função
da planta é fornecer moléculas de carboidratos produzidas na fo-
tossíntese aos bacterioides para que esses viabilizem, através do
seu próprio metabolismo, a conversão do nitrogênio em íon amô-
nio. Esse íon é rapidamente incorporado em amidas (glutamina ou
asparagina), que depois são exportadas pelas células e utilizadas
nas reações de formação dos aminoácidos. As plantas que não se
associam geralmente absorvem o nitrogênio do solo na forma de
nitrato, que então é transformado em íon amônio e depois incor-
porado em moléculas orgânicas.
Referências
HOPKINS, W. J. Introduction to plant physiology. 2. ed. New
York: John Wiley & Sons, 1999.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
K H+ I-
K+ K+ K+ I- I-
H+ I- I- I-
ATP ADP+ P
H+
H+
c a p í t u lo 4
c a p í t u lo 4
Absorção de nutrientes minerais
pelas raízes de plantas
Neste capítulo, veremos como os íons minerais entram em
contato com as raízes, como são por elas absorvidos e quais
as proteínas envolvidas neste processo.
Absorção de nutrientes minerais pelas raízes de plantas 65
4.1 Introdução
Para que os nutrientes presentes no solo possam alimentar a
planta, é necessário que haja o contato entre os nutrientes e a raiz
e que eles sejam absorvidos pelas raízes das plantas. Esse contato
pode se dar por três diferentes processos, os quais ocorrem simul-
taneamente: fluxo de massa, difusão e interceptação pela raiz
(Figura 4.1).
H₂PO₄
Difusão Simplástico
Ca²
Interceptação
Fluxo de massa
Figura 4.1 – Contato do nutriente com a raiz e vias de entrada do nutriente no xilema.
66 Fisiologia Vegetal
Lipídios
Proteínas
ATP
Transporte Passivo
Membrana celular
Resumo
Para que os nutrientes presentes no solo possam alimentar a
planta, é necessário que haja o contato entre os nutrientes e a raiz
e que eles sejam absorvidos pelas raízes das plantas. Esse contato
pode se dar por fluxo de massa, difusão e interceptação pela raiz.
Após haver o contato entre os nutrientes da solução do solo e as
raízes, o nutriente precisa chegar até o xilema para ser transporta-
do para a parte aérea dos vegetais. Como os nutrientes estão dis-
solvidos na água, a movimentação para dentro da planta segue os
mesmos caminhos descritos para a água. O caminho é percorrido
em parte por via apoplástica e em parte por via simplástica.
Os elementos absorvidos inicialmente via apoplasto, para que
cheguem até o xilema, precisam passar por dentro das células;
quando atingem a endoderme, percorrem o caminho simplásti-
co. Isso ocorre porque as paredes das células da endoderme apre-
sentam deposição de suberina, substância impermeável à água, a
qual forma uma barreira, denominada estrias de Caspary. O ca-
minho apoplástico do nutriente se faz passivamente, isto é, sem
gasto de energia, enquanto o caminho de entrada na célula através
da membrana plasmática (simplasto) necessita da energia do ATP,
sendo denominado ativo.
Pelo modelo proposto para absorção de nutrientes pelas mem-
branas celulares em vegetais, os nutrientes minerais atravessam a
membrana plasmática através de proteínas de canal ou transpor-
tadoras. Para ocorrer esse transporte, é necessário que as proteínas
catalíticas de hidrogênio bombeiem o próton hidrogênio (H+) de
dentro para fora da célula, o que cria um gradiente de potencial
eletroquímico entre os dois lados da membrana e facilita a ação
das proteínas de canal e transportadoras.
As proteínas de canal são específicas para determinados tipos de
nutrientes minerais (íons minerais), e os determinantes da especi-
ficidade são o diâmetro do canal e as cargas elétricas presentes no
canal. Uma vez aberto o canal da proteína, há a passagem de cá-
tions, como o K+, Ca2+, Mg2+, NH4+ e Na+, do meio extracelular para
o intracelular através da membrana. O meio intracelular costuma
72 Fisiologia Vegetal
Referências
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
c a p í t u lo 5
c a p í t u lo 5
Fotossíntese
Neste capítulo, veremos como o gás carbônico juntamente
com a energia da luz são transformados em energia química
e utilizados para formar açúcar nos vegetais. Veremos tam-
bém que fatores ambientais podem influenciar esse processo.
Fotossíntese 77
5.1 Introdução
A fotossíntese significa síntese pela luz e pode ser considera-
da como um dos processos biológicos mais importantes na Terra.
Por liberar oxigênio e consumir dióxido de carbono, a fotossínte-
se transformou o mundo no ambiente habitável que conhecemos
hoje. De uma forma direta ou indireta, a fotossíntese supre todas
as nossas necessidades alimentares e nos fornece um sem-número
de fibras e materiais de construção. A energia armazenada no pe-
tróleo, no gás natural, no carvão e na lenha, que são utilizados
como combustíveis em várias partes do mundo vieram a partir
do Sol via fotossíntese. Assim, a pesquisa científica da fotossíntese
possui uma importância vital. Se o homem conseguir entender e
controlar o processo fotossintético, será possível saber como au-
mentar a produtividade de alimentos, fibras, madeira e combustí-
vel, além de aproveitar melhor as áreas cultiváveis. Uma vez que a
fotossíntese afeta a composição atmosférica, o seu entendimento
é essencial para compreendermos como o Ciclo do CO2 e outros
gases, que causam o efeito estufa, afetam o clima global do planeta.
Todas as necessidades energéticas dos animais são fornecidas
pelos vegetais, seja diretamente ou através do consumo de animais
herbívoros. Os vegetais, por sua vez, obtêm a energia para sinte-
tizar os alimentos via fotossíntese. Embora as plantas retirem do
solo (nutrientes minerais e água) e do ar (gás carbônico) a maté-
ria-prima necessária para a fotossíntese, a energia necessária para
a realização do processo é fornecida pela luz solar. Entretanto, a
78 Fisiologia Vegetal
luz solar para ser utilizada deve ser convertida em outras formas
de energia. E é exatamente isso que ocorre na fotossíntese, as plan-
tas convertem a energia solar primeiramente em energia elétrica
e depois em energia química, a qual pode ser armazenada e utili-
zada posteriormente. Isso é um grande feito, pois o homem ainda
não descobriu como converter a energia solar em energia química.
Um dos processos mais importantes da fotossíntese é a utilização
da energia solar para converter o gás carbônico atmosférico em
carboidratos, cujo subproduto é o oxigênio. Posteriormente, se a
planta assim o necessitar, ela pode utilizar a energia armazenada
nos carboidratos para sintetizar outras moléculas.
0.25
Figura 5.1 – Espectro solar. A curva acima representa a irradiância por unidade de
comprimento de onda. FONTE: Ciência Hoje.
Fotossíntese 79
Radiação eletromagnética
Radiação eletromagnética é a definição dada às Assim, o comprimento de onda (λ) de uma onda
ondas que se propagam no vácuo ou no ar com ve- eletromagnética é o que irá diferenciá-las. Existem
locidade de 300.000 km/s, ou seja, com a velocida- ondas eletromagnéticas com grandes comprimen-
de da luz (c), que também é uma radiação eletro- tos de onda, tais como: as ondas de rádio (AM e
magnética. Outra característica das ondas eletro- FM) e TV (UHF e VHF). Por outro lado, existem ra-
magnéticas é a capacidade de transportar energia diações com comprimento de onda bem pequeno,
e informações. tais como: radiação-X e radiação γ.
Como dito anteriormente, existem vários tipos de O fato de o comprimento de onda ser grande ou
radiação eletromagnética, então o que as difere? pequeno influi na sua frequência (ν), que é a varia-
ção da onda por segundo, ou seja, é a “velocidade”
O que diferencia uma radiação eletromagnética da
que a onda se propaga. Quanto menor for o com-
outra é o seu comprimento de onda. Mas o que é
primento de onda (λ), maior será a frequência (ν) e,
comprimento de onda?
quanto maior for o comprimento de onda (λ), me-
Comprimento de onda (λ) é a distância entre dois nor será a frequência (ν).
pontos máximos de uma onda. Observe:
Comprimento
de onda (λ)
1m
10-5 nm 10-3 nm 1 nm 103 nm 106 nm (10-5 nm) 103 m
Luz visível
Átomo de hidrogênio de
uma molécula de clorofila +
Estado excitado
+
+ + + +
Átomo
oxidado
+
Calor Luz Figura 5.4 – A liberação da energia de um
fóton de luz absorvida pelos pigmentos
pode ocorrer das seguintes maneiras:
Transferência de excitação calor, fluorescência, ressonância ou
para molécula vizinha deslocamento de elétrons.
Transferência
de energia
Clorofila a Transferência de energia
durante a fotossíntese.
Organização das moléculas
Receptor de pigmentos na membrana
de elétrons e−
dos tilacoides.
Transportador de e−
Transportador de e− Transportador de e−
P700
Transportador de e− Transportador de e−
H+
P680 Transportador de e− 2e- Transportador de e−
H2O
2e− Transportador de e−
Complexo
2H+ citocromo b6/f NADP++H+
Aceitador de e− NADPH
1/2O2
2e−
H+ P700
H+
H+
H+
ATP
Fotossistema II Fotossistema I
H+
Estroma do cloroplasto Pi
H+ ATP
NADPH ADP
NADP
Ferredoxina —NADP+—REDUTASE
hν H+ hν
Citocromo e− FNR ATP
Fd sintetase
P680 P700
e− PQ b₆f
e−
FSII PQH₂ e− FSI
EQA Plastoquinona PC
Plastocianina
H+
H₂O O₂ H + H+
Enzima de quebra
da água
Lúmen do tilacoide
Figura 5.6 – Caminho dos elétrons do fotossistema II até o fotossistema I. Quando fótons de luz incidem
na antena coletora do fotossistema II, elétrons são ejetados pelo P680 e repassados à plastoquinona. A
plastoquinona (PQ) simultaneamente aceita os íons H+ e fica reduzida a PQH2, e, então, libera prótons H+ para
o interior do tilacoide (lúmen). Então, forma-se um gradiente eletroquímico e de pH de um lado e de outro da
membrana do tilacoide, gerando energia para a ativação da ATP sintetase e síntese de ATP. A PQH2 transfere os
elétrons para o citocromo bf, que os transfere para a plastocianina (PC) e esta para o fotossistema I, repondo
os elétrons perdidos pelo P700. O P700 perde elétrons quando fótons de luz colidem com a antena coletora
do fotossistema I e fazem o P700 ejetar elétrons que são capturados pela ferredoxina (Fd), a qual os transfere
para uma enzima que reduzirá o NADP (FNR). Enquanto isso, a ATP sintetase coloca prótons H+ no estroma, os
quais formarão NADPH e simultaneamente ATP. Os elétrons perdidos pelo P680 são repostos pelo hidrogênio
da água, que é quebrada em O2 e H pela enzima de quebra de água (EQA).
Fotossíntese 85
Plantas C3
O primeiro produto estável da fase bioquímica da fotossíntese
que contém o carbono do CO2 atmosférico é um composto forma-
do por três carbonos, o ácido 3-fosfoglicérico (3-PGA). Nas plan-
tas C3, o carbono do gás carbônico é fixado através do Ciclo de
Calvin-Benson, em que o carbono de uma molécula de CO2, atra-
vés de uma reação de carboxilação, catalizada pela enzima RUBIS-
CO (ribulose bifosfato carboxilase-oxigenase), é colocado em uma
molécula de cinco carbonos, a ribulose 1,5-bisfosfato (RUBP), for-
mando um composto instável de seis carbonos. Esse composto é
quebrado em duas moléculas de três carbonos, o ácido fosfoglicé-
rico (APG), e em cada molécula de APG é adicionado um fósforo
vindo do ATP e um hidrogênio vindo do NADPH, formando duas
moléculas de gliceraldeído-3-fosfato (PGald), o primeiro açúcar
da fotossíntese. Essa fase do Ciclo de Calvin-Benson é chamada
de fase de redução do carbono. Através de reações de regeneração,
novas moléculas de RUBP são formadas, numa fase do Ciclo de
Calvin-Benson chamada de regeneração (Figura 5.7). As plantas
C3 são a maioria das plantas fotossintetizantes do nosso planeta e
necessitam de boa disponibilidade de água e temperaturas amenas
para atingir as suas maiores taxas de fotossíntese (Tabela 5.1).
Plantas C4
O primeiro produto estável que contém o carbono do CO2 at-
mosférico é um composto com 4 carbonos, o ácido oxalacético.
Nessas plantas, o carbono atmosférico é incorporado numa mo-
lécula de ácido fosfoenol pirúvico, que possui 3 carbonos, através
86 Fisiologia Vegetal
H₂O
o
uçã
ge
R ed
ra
* A taxa de fotossínte é dada pela concentração de CO2 fixado por área por segundo.
** Em codições ambientais, as plantas C4 não mostram saturação das taxas de fotossíntese, que podem
ser aumentadas mais um pouco se fornecermos mais luminosidade a essas plantas.
*** O O2 atmosférico aumenta a fotorrespiração e reduz a assimilação de CO2.
Fotossíntese 87
Xilema Epiderme
Cloroplasto
Células da
bainha vascular Floema
Células do
mesófilo
Epiderme
Figura 5.8 – Corte transversal de folhas de planta C4 evidenciando a bainha vascular com cloroplastos (à esquerda). Corte
transversal de uma folha de planta C3, evidenciando a bainha vascular (BV) sem cloroplastos (à direita).
88 Fisiologia Vegetal
Célula do mesófilo
formação de açúcar (Figura 5.9). Como
NADPH + H+ AMP + 2P
a primeira enzima tem uma afinidade
muito alta pelo CO2 atmosférico, essas Ácido
NADP ATP
Ácido
plantas são mais eficientes no aprovei- Málico Pirúvico
tamento de água que as plantas C3, pois
podem fixar CO2 com os estômatos
Ácido Ácido
parcialmente fechados e assim econo- Pirúvico
Célula da bainha
Málico
mizam água. Elas apresentam maiores NADP
CO2
taxas de fotossíntese que plantas C3. A
NADPH + H+ PGA (fosfoglicerato)
enzima PEPcase funciona em altas tem- RuBP Ciclo
de
peraturas e essas plantas apresentam as Calvin Hidrato de
mais altas taxas de fotossíntese entre 30 Carbono
(hexose)
a 47ºC (Tabela 5.1).
Figura 5.9 – Metabolismo de plantas C4.
Plantas CAM
As plantas CAM (sigla em inglês) ou MAC (Metabolismo Ácido
das Crassuláceas, sigla em português) apresentam o metabolismo Receberam esse nome por
terem sido primeiro descritas
ácido das crassuláceas. Nessas plantas, o gás carbônico atmosféri-
nesta família de plantas.
co, à semelhança do que ocorre em plantas C4, também é captura-
do pela enzima PEPcase e o carbono colocado numa molécula de
ácido fosfoenol pirúvico, formando ácido oxalacético. Além das
crassuláceas, espécies de outras famílias também podem apresen-
tar metabolismo CAM. São espécies suculentas de deserto ou de
habitats sujeitos a secas periódicas. As plantas do tipo CAM fe-
cham os estômatos durante o dia e os abrem durante a noite, esto-
Fotossíntese 89
5.6 Fotorrespiração
A pesquisa científica em fotossíntese mostrou-nos que o proces-
so fotossintético é relativamente ineficiente. Por exemplo, a eficiên-
Figura 5.10 – Metabolismo de cia de ganho de carbono em um campo de milho durante a época
plantas CAM.
Células Células
epidérmicas epidérmicas
HCO3− PEP Pi
carboxilase
Malato
PEP Oxalacetato CO2
NADH Ácido
NAD* málico
Triose fosfato
Ácido
Malato Piruvato málico
Amido Ciclo de
Calvin
Plastos Vacúolo Plastos Amido Vacúolo
Temperatura
Qualquer temperatura abaixo ou acima da ótima resulta em
condição limitante para as reações de fotossíntese. Abaixo da tem-
peratura ótima a energia cinética das moléculas reagentes (CO2,
H2O) é insuficiente para conseguir o rendimento químico. Acima
da temperatura ótima as enzimas vão se desnaturando, podendo
até parar as reações (Figura 5.12).
Concentração de CO2
No ar atmosférico, há uma mistura de gases composta por 78%
de dinitrogênio (N2); 21% de oxigênio (O2) e 0,036% de dióxido de
carbono (CO2). Entretanto, como pode ser visto na Figura 5.13, a
concentração ótima para a fotossíntese é de 0,2% de CO2, já que
acima dessa concentração a taxa de fotossíntese é estabilizada. En-
tão, na natureza há menos gás carbônico do que seria possível às
plantas utilizarem. Por isso, se diz que em condições naturais o gás
carbônico é limitante para a fotossíntese. A construção do gráfico
do efeito do gás carbônico na fotossíntese só foi possível em con-
Taxa de Fotossíntese
Taxa de Fotossíntese
Intensidade luminosa
À medida que a intensidade de luz vai aumentando, a
taxa de fotossíntese vai aumentando até que essa taxa não
Taxa de fotossíntese
aumenta mais. É nesse ponto que ocorre a saturação de luz saturação de luz
na fotossíntese (Figura. 5.14). Acima dessa intensidade
ótima já não haverá mais melhoria na taxa de rendimento.
Abaixo dessa intensidade, ou seja, do ponto de saturação
de luz, a quantidade de luz é insuficiente para uma fotos- Intensidade de luz
síntese ótima.
Figura 5.14 – Efeito da intensidade de luz
na taxa fotossintética.
Resumo
No processo fotossintético, as plantas convertem a energia solar
em energia química, a qual pode ser armazenada e utilizada pos-
teriormente. Isso ocorre nos cloroplastos em duas etapas, a fototo-
química e a química. A etapa fotoquímica ocorre nas membranas
internas do cloroplasto, chamadas tilacoides. Nesses tilacoides,
existem quatro complexos proteicos, o fotossistema I, o fotossis-
tema II, o citocromo bf e a ATP sintetase. Nos fotossistemas estão
as antenas coletoras de luz, compostas pelos pigmentos clorofilas e
carotenoides, e no centro de cada fotossistema está o centro de re-
ação, onde se localizam as clorofilas do tipo a, P700 (fotossistema
I) e P680 (fotossistema II). Na fase fotoquímica, os produtos finais
são o ATP e o NADPH. O hidrogênio do NADPH vem da fotólise
da água, a qual libera prótons H+, elétrons e oxigênio. Os elétrons
caminham por uma cadeia de transportadores de elétrons para re-
duzir o NADP, e o próton H+ se junta ao NADP reduzido depois de
Fotossíntese 93
Referências
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
c a p í t u lo 6
c a p í t u lo 6
Transporte no floema
Neste capítulo, veremos como ocorre o carregamento e o
descarregamento de substâncias no floema para serem por
ele transportadas e a principal teoria que explica como se dá
o transporte dessas substâncias pelo floema.
Transporte no floema 99
6.1 Introdução
O floema transporta diversos tipos de substâncias, mas o prin-
cipal soluto transportado é a sacarose. A concentração de sacarose
transportada varia entre 0,3 a 0,9 M. Além da sacarose, o floema
transloca outros açúcares não redutores (pois são menos reativos),
tais como: rafinose (sacarose + galactose), estaquiose (sacarose + 2
galactoses) e verbascose (sacarose + 3 galactoses). Açúcares cujos
grupos aldeído e cetonas foram reduzidos a álcool (manitol, sorbi-
tol) também são translocados.
O floema também é um importante transportador de nitrogê-
nio. O nitrogênio ocorre no floema na forma de aminoácidos (glu-
tamato e aspartato) e aminas (glutamina, asparagina), mas nunca
na forma de nitrato. Proteínas essenciais para o funcionamento ce-
lular (tiorredoxina, quinases, ubiquitina, chaperonas) também são
translocadas. Além do nitrato, o floema também não transporta os
íons cálcio (Ca2+), sulfato (SO42–) e férrico (Fe3+), mas transporta
muitos nutrientes minerais, como os íons magnésio (Mg2+), fosfa-
to (PO43–), cloro (Cl–) e potássio (K+).
Plasmodesmo Elemento
Células seiva
companheiras
Carregamento
ativo
Rota simplástica
Célula do parênquima
do floema
Célula da bainha vascular
Célula mesofílica Membrana plasmática
H+-ATPase
ATP
H+ H+
ADP + Pi
Carregador simporte
da sacarose
Xilema Floema
Célula Fonte
companheira (célula folha)
Água
Sacarose
Recipiente A Recipiente B
Resumo
O floema transporta diversos tipos de substâncias, mas o prin-
cipal soluto transportado é a sacarose. Outras substâncias translo-
cadas são os açúcares rafinose, estaquiose e verbascose, açúcares
álcoois, como manitol e sorbitol. O nitrogênio é transportado, na
forma de aminoácidos (glutamato e aspartato), aminas (glutami-
na, asparagina) e proteínas essenciais para o funcionamento ce-
lular (tiorredoxina, quinases, ubiquitina, chaperonas). Muitos nu-
trientes minerais, como os íons magnésio (Mg2+), fosfato (PO43-),
cloro (Cl-) e potássio (K+), também são transportados.
Os elementos de tubo crivado sempre vêm acompanhados de
uma ou mais células companheiras, e esse fato é importante para
o carregamento de substâncias no floema. Os açúcares devem mi-
grar das células do mesófilo até o complexo célula companheira-
tubo crivado. Para entrar nesse complexo, as substâncias podem
vir caminhando célula a célula, através dos plasmodesmos (via
simplástica) ou podem vir por entre as células e penetrarem no
complexo por transporte ativo (via apoplástica).
Transporte no floema 105
Referências
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
c a p í t u lo 7
c a p í t u lo 7
Regulação do crescimento e do
desenvolvimento
Neste capítulo, estudaremos os principais mecanismos de
ação e as principais funções dos hormônios vegetais, os men-
sageiros químicos primários, no controle das respostas de
crescimento e desenvolvimento das plantas.
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 109
7.1 Introdução
As sementes contêm as futuras plantas. O embrião é considerado
uma planta em miniatura. Vamos considerar que o primeiro pro-
cesso da vida de uma planta seja a germinação da semente. Esta vai
inicialmente originar uma planta jovem ou plântula. Essa plântula
que recém emergiu segue seu destino, ou seja, crescerá, produzirá
flores e sementes, suas folhas entrarão em senescência e finalmente
morrerá. Há espécies que podem viver durante séculos e outras
que morrem após florescerem. Essas são as etapas de crescimento
e desenvolvimento que constituem o ciclo de vida da planta.
O ciclo completo de vida de uma planta envolve uma série de
eventos, geneticamente programados, mas altamente controlados
por fatores ambientais ou exógenos e fatores intrínsecos ou endó-
genos. Por sua vez, os próprios fatores exógenos podem alterar a
síntese e os níveis de fatores endógenos.
Durante o ciclo de vida da planta, seus meristemas sofrerão di-
visão celular e produzirão novas células: estas sofrerão processos
de alongamento e diferenciação celular. Esses eventos ocorrem de-
vido à expressão de determinados genes, síntese de enzimas espe-
cíficas e sua ativação e estão sempre ocorrendo na organogênese
(formação de órgãos vegetais), no crescimento dos órgãos vege-
tais, na sua senescência (envelhecimento) e na sua morte.
Os principais fatores exógenos que controlam o ciclo de vida
de uma planta são: luz, temperaturas, água e nutrição mineral. Os
110 Fisiologia Vegetal
Espaço externo
PIP2 DAG
PLC
P P
P Resposta celular
P P
Citosol IP3 P Ca2+
Ca2+
gura 7.2).
Atualmente, sabemos que existem outras substâncias que tam- HOCH2 H
bém atuam no controle do desenvolvimento e do crescimento ve- C C
getal, mas que não serão abordadas neste capítulo. CH3 CH2 NH
N
N
Zeatina
7.3.1 Auxinas N N
H
O grupo das auxinas foi o primeiro grupo de hormônios vege-
O
tais a ser descoberto. No final do século XIX, Charles Darwin ob-
servou respostas de fotomorfogênese em coleóptilos de plântulas CO OH
HO
de gramíneas em resposta à iluminação lateral. Essas estruturas CH3 COOH CH2
se curvavam em direção à luz. Estudos mostraram que havia uma
Ácido giberélico (GA3)
substância produzida pelos ápices de coleóptilos que se difundia
em blocos de ágar (Figura 7.3).
A substância recebeu o nome de auxina, por Fritz Went (1926,
OH
Holanda), e é originada de uma palavra de origem grega auxein, O COOH
que significa “crescer” ou “aumentar”. Em 1946, foi isolado e carac-
ABA — Ácido abscísico (C15)
terizado quimicamente o ácido indolil-3-acético (AIA), a auxina
natural mais ativa de plantas cujo precursor é o aminoácido trip-
tofano. Existem também muitas auxinas sintéticas, por exemplo: CH2 = CH2
AIB – ácido indol-butírico; ANA – ácido naftaleno acético; 2,4-D
Etileno
– ácido 2,4 diclorofenóxi-acético.
Figura 7.2 – Estruturas químicas
dos principais hormônios
7.3.2 Giberelinas vegetais.
7.3.3 Citocininas
Na década de 50 do século passado, um grupo de pesquisado-
res liderados pelo Dr. Folke Skoog, da Universidade de Winscon-
sin (EUA), trabalhava com métodos de propagação vegetativa de
plantas. Eles procuravam substâncias que fossem capazes de pro-
mover a divisão celular em células de medula caulinar de fumo.
Um pouco antes, na década de 40, J. van Overbeek observou que o
endosperma líquido de coco é rico em substâncias que promovem
a divisão celular. Skoog e seus colaboradores verificaram e confir-
maram os resultados de Haberlandt, que observou que células de
medula de fumo cresciam mais rapidamente quando se colocava
um pedaço de tecido vascular sobre a medula. Em 1955, Carlos
Miller, um colaborador de Skoog, conseguiu isolar uma substân-
cia, que foi chamada de cinetina, a partir de bases nitrogenadas do
esperma do peixe arenque. Essa substância foi identificada como
6-furfurilaminopurina (primeira citocinina sintética a ser produ-
zida). Usando meio básico de cultura (sacarose, íons, vitaminas
e aminoácidos) acrescido de diferentes substâncias, observaram
que DNA envelhecido acrescido de AIA apresentava a melhor res-
posta na indução da divisão celular. Eles concluíram que um pro-
duto de degradação do DNA deveria ser o fator que promovia a
divisão celular.
Na década de 60, essas substâncias foram denominadas de ci-
tocininas por Skoog e colaboradoes. Letham, em 1973, isolou de
sementes jovens de milho a zeatina (primeira citocinina natural) e
demonstrou, em 1974, que ela era também encontrada em endos-
perma de coco.
Quimicamente, as citocininas naturais são sintetizadas a partir
da base púrica adenina, que ocorre nas moléculas de DNA. Cine-
tina (6-furfurilaminopurina), 6-benziladenina (6-BA) e derivados
da ureia são citocininas sintéticas.
7.3.4 Etileno
O etileno é um hormônio gasoso. É um hidrocarboneto gasoso
insaturado. No início da civilização egípcia, o povo fazia incisões
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 115
Auxinas
As auxinas são sintetizadas em meristemas apicais, folhas jo-
vens, embriões de sementes, frutos jovens e muito pouco em ápices O transporte de auxinas é
predominantemente basípeto,
de raízes. Um dos precursores é o aminoácido triptofano. O trans- ou seja, ocorre dos meristemas
porte de auxinas pode ser de célula a célula e também via floema. apicais para as regiões mais
basais dos coleóptilos e caules
Parece ser predominantemente basípeto, mas através de células da planta.
parenquimáticas adjacentes às bainhas vasculares (Figura 7.4).
Giberelinas
As giberelinas são sintetizadas em tecidos jovens da parte aérea
das plantas e também em sementes em desenvolvimento. O pre-
cursor de sua síntese é o ácido mevalônico. Podem ser transporta-
das tanto pelo xilema como pelo floema.
Parede celular
Figura 7.4 – O transporte basípeto de auxinas. O AIA é transportado dos ápices para as bases de coleóptilos e caules, por
difusão, na parte apical da célula e com o auxílio de proteínas transportadoras, na parte basal da célula. (Extraída RAVEN;
EVERT; EICHHORN, 2007)
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 117
Citocininas
As citocininas são sintetizadas principalmente em ápices de ra-
ízes, embriões de sementes em desenvolvimento, ápices caulinares
e folhas jovens. Seu transporte na planta é feito via xilema, no sen-
tido raiz-parte aérea e de folhas velhas, senescentes. As citocini-
nas são transportadas para as partes jovens e em crescimento pelo
floema.
Etileno
O etileno pode ser produzido em todas as partes da planta, mas
os mais altos níveis são produzidos em tecidos meristemáticos e
regiões nodais. Determinadas etapas da vida da planta, como a
queda de folhas, processo conhecido como abscisão foliar, produ-
zem altos níveis de etileno. Os processos de senescência de folhas,
flores e o amadurecimento de frutos estão intimamente relacio-
nados com altos níveis de etileno. Há uma grande interação entre
auxinas e etileno. A síntese de auxinas é promovida pelo etileno.
O transporte de etileno é feito por difusão, a partir do local de
síntese.
Ácido abscísico
O ácido abscísico (ABA) é sintetizado a partir do metabolismo
do carotenoide zeaxantina. É um hormônio cuja síntese aumenta
muito em plantas submetidas ao estresse hídrico. Todas as célu-
las vivas, desde o ápice caulinar ao ápice radicular, são capazes de
sintetizar esse ácido em determinadas circunstâncias. Ele pode ser
detectado em seivas de xilema, floema e em nectários. Em plantas
crescendo em condições de boa disponibilidade de água no am-
biente, os níveis de ABA nos tecidos vegetais são baixos, poden-
do haver poucos nanogramas por grama de tecido fresco. Porém,
quando plantas e sementes em desenvolvimento são submetidas
ao estresse hídrico, os níveis sobem para microgramas por grama
de tecido fresco. O ABA é a única forma natural e ativa, não exis-
tem moléculas análogas sintéticas. Seu transporte é feito das folhas
para as raízes via floema; de raízes à parte aérea via xilema; entre
células parenquimáticas.
118 Fisiologia Vegetal
Alongamento celular
As auxinas estimulam o alongamento celular (crescimento em
altura). Causam diminuição do pH do lado externo das paredes
pela ativação de H+ ATPases da membrana celular ou síntese de
novas H+ ATPases. Esta é chamada de hipótese do crescimento
ácido. O baixo pH nas paredes celulares ativa hidrolases de polis-
sacarídeos de parede celular, como celulases, hemicelulases, gluca-
nases e pectinases, que causam o amolecimento de polissacarídeos
que compõem a parede celular. Os polímeros de polissacarídeos se
desprendem e deslizam uns sobre os outros. O pH ácido ativa tam-
bém proteínas expansinas, que quebram pontes de H+ entre micro-
fibrilas de celulose e hemicelulose, tornando as paredes celulares
mais maleáveis e flexíveis. O pH ácido induz o aumento de absor-
ção de água e de solutos, principalmente K+ (Figuras 7.5 e 7.6).
Dominância apical
Outro processo controlado pelas auxinas é a dominância apical
de caules e ramos, em que a síntese intensa de auxinas no me-
ristema apical caulinar impede o crescimento das gemas axilares.
Quanto mais distantes as gemas axilares estiverem do ápice, me-
nor é sua inibição. Ocorre um bloqueio da divisão celular e alon-
gamento celular nas gemas axilares (Figura 7.8).
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 119
AIA + H+
+
ATP H+
ATP
AIA ATP H+
Hipótese de Ativação
+
ATP H+
Hipótese de Síntese
Figura 7.5 – Hipótese da ativação RNAm
de ATPases de membranas e ATP
de síntese de novas ATPases. Núcleo ATPase
(Extraída de KERBAUY, 2004 e H+
RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2007) Expa ATP
nsin
as +
H+
Auxinas
Giberelinas
Citocininas
Mudança de G1
para S
M
G1
G2
Microfibrilas Glucanases ou
de celulose XET ( )
S
Giberelinas
Figura 7.6 – Atuação de auxinas e giberelinas no Figura 7.7 – A função das auxinas,
afrouxamento das paredes celulares e no alongamento giberelinas e citocininas na
celular. (Extraída de KERBAUY, 2004) ativação do ciclo celular.
120 Fisiologia Vegetal
Ápice caulinar
Ápice caulinar
(fonte de auxina)
removido
Gemas axilares
inibidas por Gemas axilares
A auxina B não mais inibidas
Gemas axilares em
desenvolvimento
Figura 7.8 – Dominância apical em Coleus. (Extraída de RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2007)
Fototropismo e geotropismo
As auxinas são responsáveis pelas respostas de fototropismo,
curvatura de coleóptilos e caules causada quando esses órgãos re-
cebem luz aplicada lateralmente (ver Figura 7.2). Os ápices absor-
vem a luz por meio de receptores denominados de fototropinas.
Esses receptores alteram o transporte de auxinas de modo a con-
centrá-las em maior quantidade no lado mais sombreado, onde
desencadearão maior crescimento celular e consequentemente a
curvatura do órgão em direção à luz.
As auxinas estão também envolvidas nas respostas de geotropis-
mo ou gravitropismo. Nessas respostas, quando as raízes são colo-
cadas na posição vertical, após algumas horas, se curvam em dire-
ção ao solo. A gravidade é percebida pela coifa da raiz, que contém
células especiais denominadas estatocitos. Essas células contêm
amiloplastos móveis, os estatolitos. A sedimentação dos estatolitos
em direção ao solo produz um aumento da concentração de AIA
onde há sedimentação dos estatolitos devido à pressão mecânica
sobre o retículo endoplasmático das células. Nesse caso, ao con-
trário do que ocorre em coleóptilos e caules, aumentos nos níveis
de AIA causam redução de crescimento nas células das raízes que
apresentam sensibilidade aos maiores níveis de AIA (Figura 7.9).
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 121
A remoção da coifa da
A Orientação vertical
raiz vertical estimula um Estatocisto
pequeno crescimento
por alongamento.
Raiz
B Orientação horizontal
Crescimento de frutos
As auxinas promovem o desenvolvimento do receptáculo floral
dos frutos do morango. Os aquênios de morango, que são os frutos
verdadeiros, são fontes de auxinas, assim como o grão de pólen
durante a polinização fornece auxinas para o desenvolvimento de
frutos. Se todos os aquênios forem removidos,
o receptáculo não se desenvolve (Figura 7.10).
Alongamento celular
As giberelinas agem juntamente com as auxinas no alongamen-
to celular ativando a enzima XET (xiloglucano endo-transglico-
silase), uma das responsáveis pela hidrólise de xiloglucano, um
tipo de hemicelulose de paredes celulares. Isso permite que novas
terminações de polissacarídeos se unam aos já existentes para au-
mentar seu comprimento e facilitar o deslizamento dos polissaca-
rídeos de parede (ver Figura 7.5).
Crescimento de frutos
Giberelinas produzidas nas sementes induzem o crescimento de
frutos, como uvas e maçãs.
Coleóptilo
Figura 7.11 – Síntese de enzimas
hidrolíticas induzidas pelas
giberelinas em cariopses de cereais.
(Extraída de KERBAUY, 2004)
Camada de aleurona
Endosperma amiláceo
GA
3 2
Enzimas GA 1
4 hidrolíticas 1
Solutos no 5
endosperma
Testa-pericarpo Escutelo
• Esquerdo tratado com água. • Esquerdo tratado com cinetina. • Esquerdo não tratado.
• Direito tratado com aminoácido • Direito tratado com aminoácido • Direito tratado com aminoácido
14
C e cinetina. 14
C e água. 14
C e cinetina.
• Radioatividade concentrada no • Esquerdo concentrou radioativi- • Radioatividade concentrada no
lado direito (pontilhado preto). dade e tornou-se dreno. lado direito (pontilhado preto).
Figura 7.13 – Efeito de cinetina (citocinina sintética 50 mM) no movimento de aminoácidos em plântulas de pepino.
(Extraída de TAIZ; ZEIGER, 2008)
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 125
Crescimento de frutos
As citocininas também participam do crescimento de alguns
frutos, por exemplo, a maçã. A aplicação de mistura de citocini-
nas com giberelinas (® PROMALIN) pode aumentar o tamanho do
fruto e também alongar o fruto.
Resposta tríplice
+ Síntese de etileno
AIA AdoMet +
Sintase AIA
+ do ACC
Planta mutante
AIA ACC
Oxidase
Etileno do ACC
Etileno
Alongamento
celular inibido
Gancho plumular
Figura 7.14 – Formação de gancho plumular induzida pelo etileno. AdoMet = adenosil metionina; ACC = ácido
1-aminociclopropano 1-carboxílico, precursor de etileno. Resposta tríplice de plantas de Arabidopsis thaliana crescendo no
escuro na presença de etileno (10 partes por milhão). É possível observar redução de alongamento de caule, crescimento
lateral, intumescimento de caules ou hipocótilos e gancho plumular. O crescimento horizontal é anormal, reforçando as paredes
celulares, e as plantas tornam-se curtas e largas. (Adaptada de KERBAUY, 2004 e TAIZ; ZEIGER, 2008)
Amadurecimento de frutos
É um tipo especial de senescência que se caracteriza por uma
série de transformações sofridas pelo fruto. Primeiramente, o fru-
to começa a produzir mais etileno e, a seguir, nos chamados frutos
climatéricos, haverá um abrupto aumento da respiração do fruto
(Tabela 7.1).
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 127
Etileno
Figura 7.15 – Funções do etileno e das auxinas na abscisão e senescência foliar. (Adaptada de TAIZ; ZEIGER, 2008)
K+ Ca2+ K+
ABA A-
Pré-despolarização
Receptor Membrana celular
de célula-guarda
Ativação de canais Inibição de canais
Ativação de canais
de efluxo de K+ de influxo de K+
de efluxo de ânions
Citosol Ca2+
Estômato
Células-guarda
Figura 7.16 – Modo de ação do ABA em células-guarda de estômatos de folhas submetidas a estresse hídrico.
(Adaptada de KERBAUY, 2004)
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 129
Megagametófito
Eixo embrionário
16
A
Conteúdo de ABA
12 a
a
mg g-1
8
Estágios de b
desenvolvimento:
4 b b b b b
1) Torpedo 0
B
Conteúdo de proteínas
2) Pré-cotiledonar a a
27
2) Cotiledonar ab
b
4) Maduro 18
mg g-1
c c
9 d
d
0
1 2 3 4
Estágio do desenvolvimento
Resumo
O ciclo de vida de uma planta compreende a germinação da
semente, o crescimento vegetativo, a floração, a frutificação, a se-
nescência de órgãos ou de toda a planta e a morte de órgãos ou de
toda a planta. Esses processos são controlados pelos hormônios
vegetais, os mensageiros primários. Os primeiros hormônios a se-
rem descobertos foram as auxinas, as giberelinas, as citocininas, o
etileno e o ácido abscísico. Para atuar, um hormônio geralmente é
produzido em células meristemáticas e pode ser conduzido a ou-
tras partes da planta, de célula a célula, via xilema ou floema. No
local de ação, o hormônio liga-se a uma proteína receptora e induz
a formação e liberação de substâncias chamadas de mensageiros
secundários. A Tabela 7.2 apresenta um resumo das principais
funções dos hormônios vegetais.
Germinação
promovem inibe
de sementes
Fechamento
estomático por promove
estresse hídrico
Promovem em
Floração algumas plantas
em roseta
Formação de calos em
promovem
cultura de tecido
Fototropismo promovem
Senescência foliar inibem promove
Síntese de proteínas de
promove
reserva em sementes
Referências
ARTECA, R.N. Plant growth substances: principles and
applications. Chapmam & Hall. 1995. 332 p.
BEWLEY, J. D.; BLACK, M. Seeds: physiology of development
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DAVIES, J. P. Plant hormones: physiology, biochemistry and
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FERREIRA, A. G.; BORGHETTI, F. Germinação: do básico ao
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FOSKETT, D. E. Plant growth and development: a molecular
approach. Academic, 1994. 580p.
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
LANG, G. A. Plant dormancy: physiology, biochemistry and
molecular biology. CAB International, 1996. 386 p.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
132 Fisiologia Vegetal
Bibliografia recomendada
FERREIRA, A. G.; BORGHETTI, F. Germinação: do básico ao
aplicado. Porto Alegre: Artmed, 2004. 323 p.
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
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7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
c a p í t u lo 8
c a p í t u lo 8
Fotomorfogênese
Neste capítulo, estudaremos os efeitos das luzes azul, ver-
melha e vermelho longo, a sua percepção pelos receptores
criptocromos, fototropinas, zeaxantinas e fitocromos, bem
como a percepção do ambiente pela planta e as suas respostas
a essas qualidades de luz.
Fotomorfogênese 137
8.1 Introdução
A luz é um sinal ambiental que induz mudanças de forma em
plântulas que cresceram no escuro e que são depois iluminadas.
As respostas induzidas pela luz são chamadas de respostas de fo-
tomorfogênese. A luz induz alterações nos padrões de expressão
gênica que causam alterações de forma, altura e coloração das
plantas.
Por exemplo, plântulas de feijão e milho cujas sementes germi-
naram no escuro são estioladas, ou seja, são alongadas, não exi-
bem clorofilas nem antocianinas, as folhas não se expandem e, no
caso das plântulas de feijão, o hipocótilo forma o gancho plumular.
Quando as sementes germinam na luz, as plântulas são mais curtas,
as folhas se expandem, ocorre síntese de clorofila e antocianinas e,
no caso do feijão, o gancho plumular já desenrolou (Figura 8.1).
Quando plântulas que cresceram no escuro são transferidas
para a luz, ocorre o processo de desestiolamento, que se caracte-
riza: pela redução do crescimento de seus caules em altura; pela
ativação da síntese de clorofilas e antocianinas; pela ativação da
síntese de enzimas da fotossíntese, como a RUBISCO; pela expan-
são e pelo crescimento foliar.
Essas respostas dependem da qualidade da luz, da intensidade
e duração da luminosidade. Outro exemplo é a floração, que pode
ser controlada pelo comprimento do dia ou fotoperíodo.
138 Fisiologia Vegetal
Plantas que crescem na luz apresentam Plantas que crescem no escuro não
folhas expandidas e verdes, não apresentam expansão foliar, não contêm
apresentam gancho plumular ou clorofila e não apresentam gancho plumular
gancho apical. ou gancho apical.
8.2.1 Os fitocromos
Nos anos 30 do século XX, o pesquisador norte-americano Flint
e seus colaboradores observaram que sementes de alface apresen-
tavam alto percentual de germinação quando irradiadas com luz
vermelha (V – 650 a 680 nm), mas não germinavam ou germina-
vam muito pouco quando mantidas no escuro ou irradiadas com
vermelho longo (VE – 710 a 740 nm) (Figura 8.2).
Fotomorfogênese 139
Escuro V V Ve
Absorbância
0,6
azul, portanto, pigmentos ligados às
Fv
proteínas. Os fitocromos também são 0,4
capazes de absorver a luz azul, mas em Fve
H H
O
O O
A NH O A
D
NH HN S-polipeptídeo D
HN S-polipeptídeo
15 5 15 5
N HN N HN
C B C B
10 10
COO COO COO COO
Fv Fve
Luz V
Fv Fve Destruição
VE Transdução de sinal
Fotomorfogênese
Reversão no escuro
Figura 8.4 – As formas do fitocromo e a reversão do fitocromo pela luz V e pelo VE.
A A, V, VE
• Germinação de sementes
• Indução de florescimento
• Desenvolvimento de cloroplastos
Crescimento do hipocótilo
Reversão no escuro Destruição
A, V • Germinação de sementes
B
Núcleo • Expansão de cotilédones
VE • Desenvolvimento de cloroplastos
• Indução de florescimento
Germinação de Reversão no escuro • Crescimento do hipocótilo
sementes
Inibição Promoção
Figura 8.5 – Principais funções dos tipos A e B (C, D, E) dos fitocromos. (Adaptada de KERBAUY, 2004)
escuro luz
Fotoperiodismo
Fototropismo Desestiolamento Floração
Criptocromo
Flavina dinucleotídeo
NH 2 COOH
H3C OH
H CH3 H CH3 H H H H H
H3C CH3
C C C C C C C C C
C C C C C C C C C
H3C CH3
H H H H H CH3 H CH3 H
HO CH3
Zeaxantina
Figura 8.8 – Estrutura da zeaxantina, um
carotenoide do grupo das xantofilas.
(Adaptada de TAIZ; ZEIGER, 2008)
Fotomorfogênese 145
Coleóptilos de milho
B Mutantes
Luz azul
Deficientes em fototropinas
Fototropismo em plântulas de Arabidopsis
1,2
Ativo na inibição
1,0
do alongamento
Eficiência quântica relativa
do hipocótilo Hipocótilo
0,8
UV-A Azul
Desestiolamento
0,6
Luz V ou Azul
0,4
Figura 8.10 – Efeito da luz
azul e da luz vermelha no
0,2 desestiolamento de plântulas
658 nm
ou inibição de crescimento de
hipocótilos. (Adaptada de TAIZ;
320 400 500 600 ZEIGER, 2008)
Comprimento da onda (nm)
Tipo selvagem
2.8
npq 1 (mutante
sem zeaxatina)
2.4
WT cry1 cry2
2.0
50 100 150
Luz vermalha de fundo (μmol m-2s-1)
Resumo
As respostas induzidas pela luz são chamadas de respostas de
fotomorfogênese. Essas respostas dependem da qualidade da luz,
da intensidade e duração da luminosidade. Os principais fotorre-
ceptores são os fitocromos, os criptocromos, as fototropinas e a ze-
axantinas. Esses fotorreceptores são considerados cromoproteínas,
pois possuem um cromóforo que absorve luz, ligado a uma prote-
ína que tem ação enzimática. Os fitocromos absorvem principal-
mente a luz vermelha e o comprimento de onda vermelho longo e
participam de respostas, como o desestiolamento, a germinação de
sementes e a floração (ver Capítulo 9). Os criptocromos absorvem
luz UV-A e luz azul e também participam das respostas de deses-
tiolamento. As fototropinas absorvem luz azul e estão envolvidas
com respostas de fototropismo, e a zeaxantina, um carotenoide do
sistema de antenas dos cloroplastos de células-guarda, participa do
mecanismo de abertura estomática absorvendo luz azul.
148 Fisiologia Vegetal
Referências
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
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Cell, p. 207-225, 2002. Supplement.
MAO, J. et al. A role for Arabidopsis cryptochromes and COP1 in
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34, p. 12270-12275, 23 ago. 2005.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
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KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
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7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
c a p í t u lo 9
c a p í t u lo 9
Floração
Neste capítulo serão estudados os principais sinais endóge-
nos e exógenos envolvidos com a indução da floração, prin-
cipalmente o fotoperiodismo e a vernalização, bem como a
influência dos hormônios na floração.
Floração 153
9.1 Introdução
A floração é um dos eventos fisiológicos mais complexos da
vida das plantas. Embora as pesquisas em Biologia Vegetal tenham
avançado muito nas últimas décadas, esse complicado processo
está longe de ser desvendado.
A floração pode ocorrer em poucas semanas após a germinação
das sementes nas plantas não perenes (monocárpicas), que apre-
sentam um ciclo de vida curto e florescem apenas uma vez na vida.
Por outro lado, a floração pode ocorrer muitos anos após a ger-
minação da semente, após a planta completar sua fase juvenil ou
período de juvenilidade e estar madura e apta para o florescimen-
to. É o que acontece com diversas espécies arbóreas (Tabela 9.1).
24 h
Fotoperíodo
crítico
Figura 9.1 – Plantas de dias curtos e plantas de dias longos e o fotoperíodo crítico.
156 Fisiologia Vegetal
Plantas de dias longos (PDL) São plantas de dias curtos: Glycine max (soja), Cry-
santhemum morifolium, Kalanchoe blossfeldiana,
As plantas de dias longos são aquelas que flores-
Zea mays (só algumas variedades), Helianthus an-
cem quando recebem um número mínimo de ho-
nus, Gossypium hirsutum.
ras de luz (fotoperíodo crítico) ou horas de luz aci-
ma do número mínimo a cada ciclo de 24 horas. Florescem no início da primavera ou do outono.
Como exemplo, citaremos algumas espécies de in-
São plantas de dias longos: Avena sativa, Nicotiana
teresse agronômico que florescem apenas durante
sylvestris, Raphanus sativus.
o outono: crisântemos, café, bico-de-papagaio (Eu-
Florescem principalmente no verão. Como exem- phorbia spp), morangos, prímulas.
plo, citaremos algumas espécies de interesse agro-
Plantas de dias neutros (PDN)
nômico que florescem na primavera e no verão: es-
pinafre, algumas batatas, certas variedades de tri- As plantas de dias neutros são indiferentes ao foto-
go, alface, aveia, cravo, ervilha. período e não precisam de tratamentos fotoperió-
dicos especiais.
Plantas de dias curtos (PDC)
As plantas de dias curtos são aquelas que flores-
cem quando recebem um número máximo de ho-
ras de luz (fotoperíodo crítico) ou horas de luz abai-
xo do número máximo a cada ciclo de 24 horas.
Florescimento Vegetativa
Vegetativa Florescimento
Vegetativa Florescimento
Vegetativa Florescimento
Vegetativa Florescimento
Florescimento Vegetativa
24 h
Figura 9.2 – Efeito de lampejos de luz no período noturno em plantas de dias curtos e
plantas de dias longos. (Adaptada de TAIZ; ZEIGER, 2008)
Floração 157
Inflorescência
masculina
mos Fve durante a noite, pois quanto maior for a duração da noite,
maior número de moléculas desse fitocromo será transformado ou
destruído.
No entanto, as plantas de dias longos florescem se receberem
tratamentos luminosos de uma hora ou mais durante seu período
noturno, o que vai manter mais elevados seus níveis de Fve.
Mas nos dois casos, níveis altos de fitocromo B inibem a flora-
ção, pois esse fitocromo reprime a expressão de genes indutores de
floração. Já o fitocromo A parece promover a floração. É impor-
tante ressaltar que esses mecanismos são altamente complexos e
que existe também a atuação de outros pigmentos fotorreceptores,
como os criptocromos atuando nessas respostas.
Recentemente, pesquisadores trabalhando com expressão de
genes e indução floral em Arabidopsis thaliana e arroz observaram
interações entre fitocromo A, fitocromo B e criptocromo na ativa-
ção dos genes da floração CO, PFT1 e FT na floração. O fitocromo
A e o criptocromo ativam o gene CO (CONSTANS). Esse gene
codifica uma proteína fator de transcrição que ativa o gene FT que
promove a floração. O fitocromo B bloqueia a expressão do gene
PFT1, que por sua vez produz proteínas que ativam a expressão
de gene CO (CERDAN; CHORY, 2003; HAYAMA; COUPLAND,
2004) (Figura 9.4).
Além disso, os ritmos circadianos também atuam no controle
dessas respostas, existindo genes que se expressam somente à noite
e outros somente de dia. Portanto, esse
assunto aqui é tratado de forma super-
Fitocromo B ficial e simples. Outras informações
podem ser obtidas em livros-textos
mais especializados e também em pes-
Fitocromo A
quisas bibliográficas sobre o assunto.
CO PFT 1
Criptocromo
sementes
Resumo
Uma planta para estar apta para florescer precisa passar por um
período de desenvolvimento vegetativo conhecido como período
juvenil, que é altamente variável. Após esse período, a planta acha-
se apta a florescer desde que esteja se desenvolvendo em condi-
ções de boa disponibilidade de água, nutrição e luz para realizar a
fotossíntese. Algumas plantas vão florescer sem a necessidade de
estímulos ambientais. Essas plantas florescem por mecanismos au-
tônomos. Outras só irão florescer se receberem estímulos ambien-
tais específicos, como o fotoperíodo adequado ou a vernalização.
O fotoperíodo é percebido pelo sistema de fitocromos e cripto-
cromos, por mecanismos que ainda não são bem conhecidos. A
vernalização é percebida pelos meristemas apicais de embriões de
sementes ou caules. Esses mecanismos atuam por meio da repres-
são de genes inibidores e da indução de genes indutores da flora-
ção. Os hormônios vegetais participam da promoção da floração.
As giberelinas promovem a floração em plantas fotoperiódicas de
dias longos (PDL) ou de plantas que necessitam de vernalização.
Número Temperatura Sacarose Giberelinas
de folhas baixa
Luz
Fotoperiodismo Receptor de GA
GENES DO RELÓGIO ?
LOCUS C DO FLORESCIMENTO ?
Inibe o “Florígeno”
florescimento (floema)
GENES DE
CONSTANS ÓRGÃOS FLORAIS
Indução
Inibição
Floração
Figura 9.6 – Interação entre luz, fitocromos, criptocromos, mecanismos autônomos, vernalização, sacarose e giberelinas na indução
de genes envolvidos com a formação de órgãos florais. (Adaptada de TAIZ; ZEIGER, 2008)
163
164 Fisiologia Vegetal
Referências
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Plant Physiology, 135, 677-684. 2004.
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
LIN, C. Photoreceptors and regulation of flowering time. Plant
Physiology, 123, 39-50, 2000.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
Bibliografia recomendada
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
c a p í t u lo 1 0
c a p í t u lo 1 0
Germinação de sementes
Neste capítulo, estudaremos a estrutura das sementes, os
fatores necessários à germinação, os principais eventos meta-
bólicos durante a germinação e os mecanismos de dormência
em sementes.
Germinação de sementes 169
10.1 Introdução
A germinação de sementes é o processo pelo qual essas unida-
des de dispersão, que são geralmente dispersas da planta-mãe com
baixa ou nenhuma atividade metabólica, retomam seu metabolis-
mo quando recebem as condições ideais. Durante esse processo,
os embriões se desenvolvem e dão origem a uma pequena planta
ou plântula. Para entendermos um pouco sobre a germinação de
sementes, é importante conhecermos um pouco de sua estrutura,
Figura 10.1 – Estrutura de dos requisitos necessários à germinação e dos mecanismos de dor-
sementes de dicotiledôneas e
mência e controle da germinação.
monocotiledôneas.
Tegumento Endosperma
10.2 Formação e estrutura das
Gêmula
Cotilédone sementes
Caulículo As sementes são geralmente formadas por
um embrião, pelo endosperma ou perisperma e
Radícula
pelo tegumento, testa ou casca.
O embrião é formado pela raiz embrionária,
Tegumento
hipocótilo (ou caulículo) ligado a um ou mais
cotilédones e ápice com as primeiras folhas ver-
Cotilédone
dadeiras (plúmula ou gêmula). O endosperma
ou perisperma é um tecido extraembrionário
Plúmula que pode estar presente ou ausente e possuir
Caulículo muitas ou poucas substâncias de reserva (Figu-
Radícula
ra 10.1).
170 Fisiologia Vegetal
Antera Grão de
pólen
Estigma
Tubo
Receptáculo polínico
Sépala
Antípodas
Núcleos
Nucelo polares
Núcleo
Oosfera
Saco embrionário
Tegumentos
Sinérgides
Micrópila
Óvulo
Figura 10.2 – Partes de uma flor, grão de pólen germinado, óvulo e saco embrionário.
Germinação de sementes 171
Sinergídes
Oosfera
Pericarpo
Tegumentos
C
B cot sm
A
pd
ut hc
ult
ac lt
llt
bc hy
rt
su
Ervilha 25 6 52 Cotilédone
Amendoim 31 48 12 Cotilédone
Soja 37 17 26 Cotilédone
Outras
Canola
21 48 19 Cotilédone
(Brassica napus)
100
80
Germinação (%)
60
40
20
0
0 4 8 12 16 20
Figura 10.7 – Modelo de
curva de germinação. Dias de cultivo
80
ψπ
Conteúdo de água
9
(%) peso fresco
ψπ
60 ψm
8
6 7 ψ π =ψ p
5
4
3
40
2
20 1
Tolerante Intolerante
à dessecação à dessecação
Tempo de embebição
Macroesclereídeos com
Testa lignina e taninos
Osteosclereídeos
Endosperma
Células de aleurona
Resumo
As sementes são geralmente formadas por um embrião, pelo en-
dosperma ou perisperma e pelo tegumento, testa ou casca. Para que
uma semente germine, são necessários água, oxigênio e temperatu-
ras amenas. Esses requisitos são necessários para ativar o metabolis-
mo celular dos embriões das sementes e iniciar a hidrólise das subs-
tâncias de reserva. Uma semente é chamada de quiescente quando
é dispersa da planta-mãe e está apta para germinar se receber água,
oxigênio e temperaturas adequadas. Uma semente que ao ser dis-
persa da planta-mãe recebe esses tratamentos, mas não consegue
germinar deve estar dormente. As sementes podem apresentar dor-
mência exógena ou dormência endógena. As dormências podem ser
quebradas ou sobrepujadas por tratamentos, como a escarificação
(dormência exógena) e a pós-maturação (dormência endógena).
182 Fisiologia Vegetal
Referências
BASKIN, C. C.; BASKIN, J. M. Seeds: ecology, biogeography and
evolution of dormancy and germination. San Diego: Academic
Press, 1998. 666 p.
BEWLEY, J. D. Seed germination and dormancy. The Plant Cell,
v. 9, 1997, p. 1055-1066.
BEWLEY, J. D.; BLACK, M. Seeds: physiology of development
and germination. Plenum Press, 1994. 445 p.
FERREIRA, A. G.; BORGHETTI, F. Germinação: do básico ao
aplicado. Porto Alegre: Artmed, 2004. 323p.
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
Bibliografia recomendada
FERREIRA, A. G.; BORGHETTI, F. Germinação: do básico ao
aplicado. Porto Alegre: Artmed, 2004. 323p.
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.