Livro Fisiologia Vegetal UFSC

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Fisiologia Vegetal

Fisiologia Vegetal
Maria Terezinha Silveira Paulilo
Ana Maria Viana
Áurea Maria Randi

Florianópolis, 2010.
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prévia autorização, por escrito, da Universidade Federal de Santa Catarina.

P327f Paulilo, Maria Terezinha Silveira


Fisiologia vegetal / Maria Terezinha Silveira Paulilo, Ana Maria Viana,
Áurea Maria Randi. - Florianópolis : Biologia/EAD/UFSC, 2010.
182 p.: il., grafs., tabs., plantas

Inclui referências
ISBN 978-85-61485-28-3

1. Metabolismo. 2. Fisiologia vegetal. 3. Plantas – Desenvolvimento.


I. Viana, Ana Maria. II. Randi, Áurea Maria. III. Título.
CDU: 581.1

Catalogação na fonte elaborada na DECTI da Biblioteca Universitária da


Universidade Federal de Santa Catarina.
Sumário

Apresentação........................................................................................ 9

1. Relações hídricas............................................................................13
1.1 Introdução....................................................................................................................15
1.2 Propriedades físico-químicas da água................................................................. 18
1.3 Movimentação da água........................................................................................... 21
1.4 O caminho da água pela planta............................................................................. 24
1.5 O processo da transpiração é estritamente dependente
da anatomia foliar................................................................................................... 27
1.6 Fatores ambientais que afetam a transpiração.................................................. 29
Resumo............................................................................................................................... 30
Referências........................................................................................................................ 31

2. Nutrição mineral............................................................................33
2.1 Introdução................................................................................................................... 35
2.2 Métodos de estudo em nutrição mineral............................................................ 35
2.3 Elementos essenciais................................................................................................ 36
2.4 Determinação da concentração crítica de um elemento
mineral no tecido vegetal..................................................................................... 38
2.5. Agentes quelantes................................................................................................... 39
2.6. Função dos nutrientes e sintomas de deficiência............................................. 41
2.6.1 Nitrogênio.......................................................................................................41
2.6.2 Fósforo.............................................................................................................42
2.6.3 Potássio ..........................................................................................................42
2.6.4 Enxofre.............................................................................................................43
2.6.5 Cálcio...............................................................................................................43
2.6.6 Magnésio....................................................................................................... 44
2.6.7 Ferro................................................................................................................ 44
2.6.8 Boro................................................................................................................. 44
2.6.9 Cobre................................................................................................................45
2.6.10 Zinco...............................................................................................................45
2.6.11 Manganês.................................................................................................... 46
2.6.12 Molibdênio................................................................................................... 46
2.6.13 Cloro.............................................................................................................. 46
2.6.14 Níquel............................................................................................................ 46
Resumo............................................................................................................................... 48
Referências........................................................................................................................ 48

3. Assimilação e fixação biológica do nitrogênio...........................51


3.1 Introdução................................................................................................................... 53
3.2 Origem do nitrogênio das proteínas.................................................................... 53
3.3 Organismos que fazem a fixação biológica do nitrogênio............................. 55
3.4 Fixação simbiótica do nitrogênio em leguminosas.......................................... 55
3.5 Bioquímica da fixação do nitrogênio................................................................... 56
3.6 Destido da amônia formada a partir da fixação do nitrogênio...................... 58
3.7 Nitrogênio fixado nos nódulos.............................................................................. 58
3.8 Assimilação do nitrogênio em plantas que
não fazem associação simbiótica........................................................................ 60
Resumo............................................................................................................................... 61
Referências........................................................................................................................ 61

4. Absorção de nutrientes minerais pelas raízes de plantas.........63


4.1 Introdução................................................................................................................... 65
4.2 Mecanismos de absorção de nutrientes pelas raízes........................................ 66
4.3 Transporte e redistribuição dos nutrientes......................................................... 70
Resumo............................................................................................................................... 71
Referências........................................................................................................................ 72

5. Fotossíntese....................................................................................75
5.1 Introdução................................................................................................................... 77
5.2 A energia solar........................................................................................................... 78
5.3 O mecanismo da fotossíntese................................................................................ 80
5.4 Princípios básicos de captura de luz
pelos pigmentos fotossintetizantes.................................................................... 82
5.5 Fixação do carbono atmosférico pelo processo fotossintético...................... 85
Plantas C3.................................................................................................................85
Plantas C4.................................................................................................................85
Plantas CAM............................................................................................................ 88
5.6 Fotorrespiração.......................................................................................................... 89
5.7 Fatores que afetam a fotossíntese . ...................................................................... 90
Resumo............................................................................................................................... 92
Referências........................................................................................................................ 94

6. Transporte no floema....................................................................97
6.1 Introdução................................................................................................................... 99
6.2 Carregamento no floema........................................................................................ 99
6.3 Descarregamento do floema............................................................................... 102
6.4 Transporte de substâncias pelo floema............................................................. 102
Resumo.............................................................................................................................104
Referências...................................................................................................................... 105

7. Regulação do crescimento e do desenvolvimento..................107


7.1 Introdução................................................................................................................. 109
7.2 Mecanismo de ação dos hormônios....................................................................110
7.3 A descoberta dos cinco primeiros grupos de hormônios vegetais..............112
7.3.1 Auxinas..........................................................................................................112
7.3.2 Giberelinas....................................................................................................112
7.3.3 Citocininas....................................................................................................114
7.3.4 Etileno............................................................................................................114
7.3.5 Ácido abscísico.............................................................................................115
7.4 Locais de síntese e transporte de hormônios....................................................116
7.5 Principais efeitos fisiológicos de auxinas............................................................118
7.6 Principais efeitos fisiológicos de giberelinas..................................................... 122
7.7 Principais efeitos fisiológicos de citocininas...................................................... 123
7.8 Principais efeitos fisiológicos do etileno............................................................ 125
7.9 Principais efeitos fisiológicos do ácido abscísico.............................................. 128
Resumo ........................................................................................................................... 130
Referências...................................................................................................................... 131
Bibliografia recomendada........................................................................................... 132
8. Fotomorfogênese........................................................................135
8.1 Introdução................................................................................................................. 137
8.2 Os principais fotorreceptores............................................................................... 138
8.2.1 Os fitocromos...............................................................................................138
8.2.2 Pigmentos que absorvem luz azul..........................................................143
Resumo............................................................................................................................. 147
Referências...................................................................................................................... 148
Bibliografia recomendada.......................................................................................... 148

9. Floração.........................................................................................151
9.1 Introdução................................................................................................................. 153
9.2 Indução da floração pelo fotoperíodo............................................................... 155
9.3 Indução da floração pela vernalização............................................................... 160
9.4 Hormônios envolvidos com floração.................................................................. 161
Resumo............................................................................................................................. 162
Referências......................................................................................................................164
Bibliografia recomendada...........................................................................................164

10. Germinação de sementes.........................................................167


10.1 Introdução............................................................................................................... 169
10.2 Formação e estrutura das sementes................................................................ 169
10.3 Fatores necessários à germinação.................................................................... 173
10.4 Eventos metabólicos durante a germinação.................................................. 175
10.5 Dormência e controle da germinação............................................................. 177
10.5.1 Dormência imposta pelos tecidos
extraembrionários ou exógena................................................................178
10.5.2 Dormência do embrião ou endógena.................................................179
Resumo............................................................................................................................. 181
Referências...................................................................................................................... 182
Bibliografia recomendada........................................................................................... 182
Apresentação

O objetivo geral da Fisiologia Vegetal é o conhecimento dos processos re-


lacionados à vida das plantas. As plantas germinam, crescem, desenvolvem-
se, tornam-se adultas, reproduzem-se e morrem. Desde quando uma planta
começa a existir como zigoto, até a sua morte, o que pode ocorrer dentro de
um ano ou vários milênios, dependendo da espécie, vários processos ocorrem
dentro dela. Água e solutos movem-se através de caminhos especiais em vá-
rias direções dentro das plantas; milhares de reações químicas ocorrem dentro
de cada célula vegetal, transformando água, sais minerais, oxigênio e carbo-
no do ambiente em substâncias, tecidos e órgãos. Mudanças qualitativas no
crescimento vão ocorrendo, levando à formação de flores, frutos e sementes.
Um dos objetivos específicos da Fisiologia Vegetal é o estudo de todos estes
processos.

Como o ambiente exerce um papel fundamental sobre o funcionamento de


uma planta, modificando as respostas fisiológicas e mesmo influenciando di-
retamente o desenvolvimento, outro objetivo específico da Fisiologia Vegetal
é conhecer o efeito do ambiente como regulador e controlador dos processos
que ocorrem nas plantas.

Há uma tendência em considerar as plantas como algo inerte, passivo e


inativo. Entretanto, as plantas enfrentam os mesmos problemas que os ani-
mais em relação a como obter nutriente e água, como sobreviver em condi-
ções ambientais extremas e como garantir a reprodução e a sobrevivência da
próxima geração. O fato de as plantas produzirem seu próprio alimento (seres
autotróficos) e suas necessidades básicas – luz, gás carbônico, água e sais mi-
nerais – estarem por toda parte, condicionou sua evolução como organismos
sésseis, não havendo pressão seletiva para a mobilidade destes organismos,
como ocorreu com os animais, mas, assim como estes, as plantas estão sem-
pre monitorando seu ambiente e respondendo aos sinais ambientais.
Como para os animais, a luz é também um meio de informação para as
plantas, e estas contêm sensores ópticos (pigmentos) que percebem e respon-
dem à direção da luz, à sua cor (i.e., os comprimentos de onda nela contidos) e
à sua duração. As plantas são sensíveis ao toque, com algumas respostas tão
rápidas quanto os movimentos animais. Elas também respondem à direção
da gravidade e percebem mudanças de temperatura. Os sinais ambientais que
variam regularmente ao longo do ano - como duração do dia ou épocas chu-
vosa e seca – são também por elas percebidos, o que as possibilita sincronizar
seu ciclo de vida com os ciclos sazonais de seu ambiente. O estudo da fisiologia
das plantas permite observar todos estes aspectos.

Este livro mostrará esse fascinante mundo dos processos vegetais, os quais
estão incluídos nos diversos capítulos que o compõe.

Maria Terezinha Silveira Paulilo


Ana Maria Viana
Áurea Maria Randi
c a p í t u lo 1
c a p í t u lo 1
Relações hídricas
Neste capítulo, veremos as funções que a água exerce no
vegetal, suas propriedades físico-químicas importantes para
a vida do vegetal, como ela é absorvida pela planta e como é
transportada tanto de célula a célula como da raiz às folhas.
Relações hídricas 15

1.1 Introdução
A água é essencial à vida e é o principal constituinte dos seres
vivos. O vegetal necessita da água em todas as fases do seu cresci-
mento e do seu desenvolvimento, e seu conteúdo varia de acordo
com o tipo ou a idade do órgão vegetal. A água é o recurso mais
abundante, mas também o mais limitante; assim, tanto a distri-
buição das plantas como a produtividade agrícola são controladas
principalmente pela disponibilidade de água.
Sabe por que a água é essencial à vida das plantas? Porque a
água exerce inúmeras funções fisiológicas e ecológicas na planta.
Para que haja atividade metabólica normal, as células devem con-
ter pelo menos 65% de água.
Entre as principais funções fisiológicas da água para os vegetais,
temos o transporte de substâncias pelo vegetal. Nesse transporte,
uma proteína ou um nutriente vai da raiz às folhas ou vice-versa
levado pela água. É também a água que faz as células meristemá-
ticas (células embrionárias) crescerem de tamanho, pois é a for-
ça da água, quando a célula meristemática está túrgida (inchada),
que estica suas paredes celulares, aumentando o tamanho dessas
células (Figura 1.1). Já em células adultas, não meristemáticas, a
força da água nas paredes celulares de uma célula túrgida (Figura
1.2) permite que um tecido ou um órgão se sustente, como se
sustenta um balão de borracha cheio de água (Figura 1.3). Quan-
16 Fisiologia Vegetal

H2O

Parede
Membrana celular
plasmática Alongamento
da célula

Figura 1.1 – Células meristemáticas não alongadas (à esquerda) e alongadas devido à


turgidez celular (à direita).

do a temperatura aumenta no interior do vegetal, a água evapo-


ra, através das folhas, levando ao resfriamento vegetal. Quando
ocorre um frio ou calor repentino, a água atua como um isolante
térmico para as estruturas do vegetal. Essa capacidade isolante A água tem a capacidade
de absorver e conservar o
da água impede alterações repentinas da temperatura, evitando calor. Durante o dia, a água
um possível dano ao vegetal. Além disso, em certas células a entra- absorve parte do calor do
Sol e o conserva até a noite,
da e a saída da água também permitem que órgãos e organelas se devolvendo gradualmente o
movimentem, como as células estomáticas (Figura 1.4) e os folío- calor absorvido ao ambiente.
los de dormideira – Mimosa pudica L. (Figura 1.5).
Outra função da água é a estabilização das estruturas de mem-
branas e compostos. Um exemplo disso é o que ocorre com os
lipídios das membranas celulares. Os lipídios quando em meio
aquoso organizam-se formando estruturas de maneira a minimi-
zar o contato entre a cauda hidrofóbica do lipídio e o meio aquoso.

Os fosfolipídios da membrana plasmática estruturam-se em


duas camadas no meio aquoso, com a “cabeça” do fosfolipídio
voltada para o meio aquoso e a cauda hidrofóbica voltada para
a cauda hidrofóbica de outro fosfolipídio, formando a conhecida
estrutura bimolecular da membrana plasmática. Outro exemplo é
Relações hídricas 17

Meio Hipertônico Meio Hipotônico

Estado de plasmólise Estado de turgescência

Figura 1.2 – Célula vegetal cheia de água (túrgida), à direita, e


célula vegetal, murcha, à esquerda. As setas indicam a direção
da pressão da água sobre as paredes celulares.

Figura 1.3 – Plantas de tapete (Coleus sp) com


folhas que se autossustentam devido à turgidez
celular (à esquerda) e com folhas caídas por causa
do murchamento das células (à direita).

Células Vicia faba


Célula-guarda

Figura 1.4 – Movimento das Ostíolo


células estomáticas. Células- fechado
guarda afastadas umas das Ostíolo
outras (à esquerda) devido aberto
à turgidez celular e mais Célula
próximas (à direita) por causa do epidérmica
murchamento celular.

Figura 1.5 – Esquema de folíolos


de dormideira mostrando a
abertura dos folíolos (à esquerda)
devido à turgidez das células na
base dos folíolos e o fechamento
destes (à direita) por causa K+
do murchamento celular. K+
18 Fisiologia Vegetal

a manutenção da estrutura de proteínas. As proteínas estruturam-


se de maneira que o lado não polar (hidrofóbico) das cadeias de
aminoácidos minimize seu contato com a água. Dessa forma, no
interior da estrutura proteica ficam os lados não polares das ca-
deias de aminoácidos.

A água também é importante em reações químicas. Ela é fon-


te de hidrogênio para produzir energia química (NADPH e ATP)
durante o processo fotossintético. É também reagente básico nas
reações de hidrólise e de ionização (por exemplo: a quebra de pro-
teína em aminoácidos; a quebra de lipídios em ácidos graxos; a
hidrólise do amido). As reações de hidrólise são caracterizadas
pela dupla troca dos componentes da água com outro composto.
Exemplo:

XY + H2O → HY + XOH.

A formação do ácido cianídrico por hidrólise do cianeto de po-


tássio pode ser assim representada:

KCN + H2O → HCN + KOH.


Constante que mede a
capacidade de um líquido em
manter afastados (dissolver)
Outra função da água é dissolver substâncias porque possui os íons de um soluto quando
alta constante dielétrica. em solução.

1.2 Propriedades físico-químicas da água +

H
As inúmeras funções da água advêm de suas propriedades fí-
sico-químicas, as quais, por sua vez, advêm do fato da água ser − H O
uma molécula polar. A água é uma pequena molécula em forma
de V, com a densidade dos elétrons em torno do átomo de oxi-
gênio maior do que em torno dos átomos de hidrogênio (Figura Figura 1.6 – Forma aproxima-
da da molécula de água com
1.6). Essa diferença na densidade dos elétrons torna a água uma a distribuição das cargas.
Relações hídricas 19

molécula polar, isto é, um lado da molécula é mais negativo (o do


oxigênio) e o outro lado é mais positivo (o dos hidrogênios).
Devido a esta propriedade da água, a polaridade, as molécu-
las de água ligam-se através de pontes de hidrogênio. Outra pro-
priedade da água é o seu elevado calor latente de vaporização.
Isso porque as moléculas de água estão fortemente ligadas entre si.
Essa propriedade está relacionada com o resfriamento do vegetal,
pois quando a água evapora da superfície de uma planta, é retirada
alta quantidade de energia dessa superfície vegetal, resfriando-a. A
transpiração pode refrigerar a folha entre 10 a 15 graus em relação
ao ar circundante.
O alto calor específico é a terceira propriedade. No caso da
água, é necessária uma caloria para aquecer 1g de água em 1ºC,
nas condições normais de temperatura e pressão. Essa proprieda-
de confere à água a capacidade de impedir que o tecido vegetal
sofra mudanças bruscas de temperatura quando estas ocorrem no
ambiente, funcionando como um isolante térmico. Sua alta cons-
tante dielétrica confere-lhe a propriedade de dissolver substâncias
polares ou iônicas para formar soluções aquosas. Todas as reações

Molécula polar Calor específico


Molécula que possui uma assimetria de cargas, É a quantidade de energia requerida para 1g de
apresentando maior concentração de carga nega- uma substância elevar 1ºC.
tiva numa parte da molécula e maior concentração
de carga positiva no outro extremo.

Ponte de hidrogênio
Ponte de hidrogênio entre
Ligações do átomo de hidrogênio de uma molé- duas moléculas de água
cula de água com o átomo de oxigênio de outra
molécula de água formando amontoados (clus- δ−
δ+
ters) de moléculas de água de vários tamanhos (Fi- O δ−
gura 1.7). H
O
Calor latente
de vaporização
Figura 1.7 – Ponte de hidrogênio
É a quantidade de energia necessária para conver- entre duas moléculas de água.
ter um grama de um líquido em vapor, que no caso
da água é 44 Kjmol-1.
20 Fisiologia Vegetal

que ocorrem nos vegetais se dão


em soluções aquosas. A intera- Ar

ção entre as moléculas do solven-


te (água) e as do soluto é que pro-
move a dissolução da substância.
As propriedades de coesão,
tensão superficial, força tênsil
e adesão deram suporte à teoria
Superfície
que explica como a água sobe pela
planta, das raízes às folhas. A coe- Figura 1.8 – As forças de atração
são entre as moléculas de água é dada pelas pontes de hidrogênio, entre as moléculas de água
adjacente (setas internas) são
fazendo com que as moléculas fiquem ligadas entre si, questão já maiores que entre as moléculas
discutida no início deste tópico. Quando a água no estado líquido de água e ar (setas externas).
Essa diferença faz com que as
forma uma interface com o ar, devido à coesão entre as moléculas moléculas à superfície sejam
de água, as moléculas da interface são atraídas pelas moléculas da “puxadas” para o interior da
água líquida. Tensão superficial
fase líquida (Figura 1.8), formando uma força de tensão, chamada é a coesão das moléculas de
tensão superficial. A tensão superficial é a causa de a água for- água na interface ar-água.
mar gotas, suportar o peso de pequenos insetos ou objetos em sua
superfície.

Tensão superficial tros animais podem pousar em cima da água sem


afundar; c) a gota de água que se forma em uma
Na Física, a tensão superficial é um efeito que ocor-
torneira mantém sua forma devido à elasticidade
re na camada superficial de um líquido que leva a
na superfície da gota (Figura 1.9).
sua superfície a se comportar como uma membra-
na elástica. As moléculas que estão no interior do
líquido interagem com as demais em todas as di-
reções (em cima, embaixo, nos lados e nas diago-
nais), por isso a resultante das forças que atuam so-
bre cada molécula é praticamente nula. Já as molé-
culas que estão na superfície só interagem com as
moléculas que estão dentro do líquido porque não
há nada em cima. Dessa forma, cria-se a tensão su-
perficial. A tensão superficial está presente em si-
tuações interessantes: a) ao colocarmos cuidado-
samente uma moeda pequena sobre a superfície
da água, observamos que ela pode permanecer so-
Figura 1.9 – Exemplos de situações que
bre a película superficial sem afundar no líquido,
demonstram a tensão superficial da água.
apesar de ser muito mais densa que a água; b) vá-
rios insetos (como os mosquitos), aranhas ou ou-
Relações hídricas 21

A força tênsil, ou simplesmente tensão, também é resultado


das ligações entre moléculas de água por pontes de hidrogênio.
É definida como a capacidade de resistir a uma força de arraste
sem se quebrar, ou ainda, é a tensão máxima a que uma coluna de
qualquer material resiste sem se quebrar. A adesão é a propriedade
que a água tem de aderir-se a superfícies sólidas eletricamente car-
regadas, como paredes celulares. Estas quatro propriedades, coe-
são, tensão superficial, força tênsil e adesão, conferem à água outra
propriedade que é a capilaridade. A capilaridade é a ascensão da
água por tubos de diâmetros muito finos, chamados por essa razão
de tubos capilares (Figura 1.10).

Tensão
Superficial

Figura 1.10 – Ação Capilar resultante da


T adesão e tensão superficial. A adesão da
água nas paredes do recipiente faz uma
força para cima nas laterais do líquido
e resulta num menisco voltado para
cima. A tensão superficial atua para
manter a superfície intacta. Assim, em
vez de apenas as laterais moverem-se
para cima, a superfície toda do líquido é
levada para cima.

1.3 Movimentação da água


O reservatório de água para as plantas é na maioria dos casos o
solo, e a água movimenta-se deste para as raízes e, uma vez den-
tro da planta, movimenta-se de célula para célula, de tecido para
tecido e de órgão para órgão. Dessa maneira, no estudo das re-
lações hídricas nas plantas é importante conhecer o que governa
o movimento da água. O movimento de moléculas de qualquer
substância se dá através de dois processos conhecidos como fluxo
de massa e difusão.
O fluxo de massa pode ser definido como o movimento con-
Em resposta a um junto de partículas em resposta a um gradiente de pressão. Ocorre
gradiente de pressão.
quando forças externas são aplicadas às moléculas de uma subs-
tância e estas tendem a mover-se na mesma direção. Um exemplo
22 Fisiologia Vegetal

é a subida de água por um canudo dentro de um copo com água,


quando se aplica uma força de sucção na extremidade superior
desse canudo. O fato de sugar o líquido é, na verdade, um processo
que reduz a pressão na boca e, consequentemente, dentro do ca-
nudo. Assim, a pressão atmosférica exterior ao canudo passa a ser
maior que a interior, de maneira que passa a empurrar o líquido
até a nossa boca.
A difusão é o movimento de partículas de uma região para
outra adjacente, motivada por um gradiente de potencial quími- Em resposta a um gradiente
de potencial químico.
co originado, por exemplo, de diferenças de concentração dessas
partículas ao longo do espaço. Exemplos: difusão de moléculas de
perfume no ar; difusão de íons sódio na água. Quando a difusão
de água ocorre através de uma membrana permeável à água, mas
impermeável a solutos (membrana semipermeável), esse movi-
mento é chamado de osmose.
O movimento por fluxo de massa ou difusão só ocorre se o po-
tencial químico da água no local de origem for maior do que o
potencial químico da água no local de destino. Dessa forma, se a
água movimenta-se do solo para a raiz, é necessário que o poten-
cial químico da água seja maior no solo que na raiz. Para entender
o movimento da água, é necessário, portanto, que se entenda o que
é potencial químico da água.
O potencial químico (µ) de qualquer substância e, portanto,
também o da água, expressa a energia livre por mol de determi-
nada substância. A energia livre, por sua vez, é dada pela energia
cinética das moléculas da substância e mede a capacidade dessa
substância de realizar trabalho. No estudo de relações hídricas, en-
tretanto, o mais importante não é o potencial químico da água em
si, mas o gradiente de potencial químico que faz a água movimen-
tar-se de um local para outro. Diante disso, os fisiologistas vegetais
criaram o conceito de potencial de água, que é a diferença entre o
potencial químico da água num estado padrão e o potencial quí-
mico da água num estado que não o do estado padrão.
Por definição, o potencial da água pura, a zero de gravidade e à
pressão atmosferica, é igual a zero e é simbolizado pela letra grega
psi (Ψ) seguida de um w (inicial de água em inglês – water), Ψw.
Relações hídricas 23

A unidade mais utilizada para expressar o po-


Megapascal (MPa)
tencial de água é o megapascal (MPa), sendo
MPa = megapascal, unidade utilizada para ex-
1 MPa = 10 bares = 9,87 atm. Estas unidades,
pressar potencial hídrico.
MPa, bar e atm, são unidades que expressam
força de pressão. O potencial de água é depen-
MPa = N/mm2 (newton por milímetro quadrado) dente de vários fatores, chamados componen-
= l bf/pol2 (psi = libra força por polegada tes do potencial de água, como a concentração
quadrada)
da substância, a pressão nela exercida, o efeito
= mmHg (milímetro de mercúrio (torr)). da gravidade e o de forças elétricas existentes
no meio em que a água se encontra. Os com-
1 bar = 76,00617 centímetros de mercúrio ponentes do potencial de água são:
1 bar = 100 kPa = 100 000 Pa •• Potencial de soluto: Os solutos dissolvidos
1 bar = 1 000 000 dina por centímetro quadrado na água reduzem a energia livre da água, di-
minuindo o potencial de água. Esse efeito
1 atm = 101 325 Pa = 1,01325 bar dos solutos é chamado de potencial de so-
luto ou potencial osmótico e é simbolizado
≈ 1,033 at ≡ 101 325 Pa
por Ψл. O Ψл dentro do vacúolo de uma cé-
lula vegetal é da ordem de -0,1 a -0,3 MPa.
•• Potencial de pressão: A pressão exercida sobre a água é de-
nominada de potencial de pressão e é simbolizado por Ψp.
Quando as células estão cheias de água (túrgidas), as paredes
celulares exercem sobre a água que está dentro de uma célula
cheia de água uma pressão positiva. O Ψp também pode ter
valores negativos, como ocorre nos elementos de vaso do xi-
lema quando a planta está transpirando. A pressão negativa é
denominada de tensão.
•• Potencial mátrico ou matricial: Sólidos ou substâncias inso-
lúveis na água carregadas eletricamente, quando em contato
com esta, atraem moléculas de água e diminuem o potencial de
água. Quando a água está no solo ou dentro do vegetal, partí-
culas do solo ou de constituintes celulares com cargas elétricas
“prendem a água”, diminuindo sua capacidade de movimentar-
se. Esse potencial é simbolizado por Ψm.
•• Potencial gravitacional: A água no solo ou nos vegetais está
sujeita à pressão da gravidade, simbolizada por Ψg. Entretanto,
a importância do potencial gravitacional em raízes e folhas é
24 Fisiologia Vegetal

insignificante se comparado aos outros potenciais. Ele se torna


significativo para o movimento ascendente de água pelo xile-
ma em árvores muito altas. Em árvores de 100 metros de altura,
como as sequoias gigantes, é necessária uma força de 1,0 a 1,5
MPa para vencer a força de gravidade.

Dessa forma, a equação completa incluindo todos os compo-


nentes que podem influenciar o movimento de água é:
Ψw = Ψл + Ψp + Ψm + Ψg.

1.4 O caminho da água pela planta


O caminho da água pela planta pode ocorrer fora dos tecidos de
condução (transporte a curta distância) ou através dos tecidos de
condução (transporte a longa distância).
O transporte de água a curta distância dá-se, preferencialmen-
te, no sentido radial. Três caminhos são viáveis para a curta dis-
tância (Figura 1.11). Por um primeiro caminho, a via transcelular
ou transmembrana, as substâncias saem da célula, atravessam a
parede celular e entram em outra célula e assim por diante. Essa
rota requer repetidas passagens através da membrana celular. A
via transcelular é usada especialmente pela água, uma vez que,
graças às aquaporinas, as membranas são muito permeáveis à
água, porém, essa via não é a preferencial para solutos. Um segun- Poros encontrados na
membrana celular que são
do caminho é a via pelo simplasto e requer apenas uma passagem específicos para o transporte
pela membrana. Depois que a água entra na célula, caminha pelos de moléculas de água.
plasmosdesmos. Na maioria dos tecidos, as células se conectam
entre si pelos plasmosdesmos que conectam o citosol de uma cé-
lula e de outra. Este continuum citoplasmático, o simplasto, forma
um caminho contínuo para transporte de certas substâncias entre
células. Um terceiro caminho é a via através do apoplasto, o ca-
minho extracelular. A água e os solutos podem mover-se de um
órgão para outro sem entrar na célula. As paredes celulares tam-
bém conectam entre si, formando um segundo compartimento
contínuo, o apoplasto. A água e os minerais que vão pelo apoplas-
Relações hídricas 25

to são bloqueados pela suberina existente nas paredes celulares da


endoderme, as estrias de Caspary. Nesse trecho, água e sais mine-
rais atravessam a endoderme via membrana plasmática.

A Via apoplástica B Via simplástica

C Via transcelular

Figura 1.11 – Via apoplástica: entre as paredes das células (contornando externamente);
via simplástica: mediada pelos plasmodesmos (entre membranas); via transcelular:
através das membranas, isto é, pelas membranas plasmáticas e aquaporinas (difusão e
fluxo de massa microscópico = osmose). Ambas as vias permitem a passagem de água
pelo lado de dentro das células (internamente).

O caminho da água a longa distância, através do xilema, pode


acontecer por pressão de raiz ou fluxo transpiratório. A pressão
de raiz ocorre preferencialmente à noite, quando a transpiração
é muito baixa ou zero, as células da raiz continuam a
absorver íons e criam um abaixamento de potencial de
água no cilindro central. Isso faz entrar água no cilin-
dro central que com o tempo vai empurrando a coluna
de água do xilema para cima. A pressão de raiz pode
levar à gutação (Figura 1.12), que é a saída de água lí-
quida da folha, através de aberturas especiais chamadas
de hidatódios. Na maioria das plantas, a pressão de raiz
não é o mecanismo prioritário para a subida da água,
Figura 1.12 – Gutação em folhas de tomate.
e algumas plantas nem mesmo geram pressão de raiz.
26 Fisiologia Vegetal

O caminho através do fluxo transpiratório foi explicado por


H. H. Dixon em 1914 e é conhecido como teoria de Dixon ou
mecanismo da coesão-tensão. Por essa teoria, que hoje é ampla- Segundo essa teoria, as
moléculas de água são
mente aceita, no xilema atua sobre a água uma pressão negativa transportadas nos organismos
(tensão), que movimenta a água a longa distância. A causa dessa vegetais através de finíssimos
capilares condutores de seiva
tensão é a evaporação da água contida nos espaços intercelulares bruta (xilema), mantendo-se
da folha. Essa água está disposta na forma de um filme de água que unidas por forças de coesão,
formando uma coluna líquida
acompanha as paredes celulares (Figura 1.13). Com a evaporação, contínua das raízes até as
o filme de água dos espaços intercelulares se retrai nos poros exis- folhas.
tentes nas paredes celulares devido à força de adesão da água às
paredes celulares. Na superfície do filme de água em contato com
o ar intracelular, forma-se uma tensão chamada tensão superfi-
cial. A tensão superficial é dada pela existência da força de coesão
entre as partículas de água abaixo da superfície do filme de água,
que confere à superfície da água certa solidez, como se fosse uma
película plástica. A adesão à parede e tensão superficial leva a su-
perfície do filme de água a formar um menisco, puxando a água
para cima por forças adesivas e coesivas. Quanto mais côncavo for
o menisco, mais negativa a pressão (tensão) no filme de água. A
tensão gerada pela adesão e tensão superficial diminui o potencial
de água, fazendo a água subir.
A coesão entre as moléculas de água torna possível que a colu-
na de água suba pelos vasos de xilema sem se quebrar. Quando a
força de tensão é muito alta, a colu-
na de água que corre pelos vasos de
xilema pode se quebrar, causando
a cavitação, que é o espaço preen-
chido por ar onde a coluna foi que- H2O
brada. O fluxo de água pelo xilema Menisco
pode alcançar 75 cm min.-1. Tensão

H2HO2O

Xilema

Figura 1.13 – Menisco formado na superfície H2O folha Transpiração


da água em contato com o ar quando esta Parede Celular
se encontra em espaços de diâmetro capilar, Citoplasma
como o espaço entre duas células. Coesão
H2O solo Vacúolo
Relações hídricas 27

1.5 O processo da transpiração é estritamente


dependente da anatomia foliar
A superfície externa de uma folha típica (epiderme) é coberta
por camadas de cera chamada cutícula, cujo principal componen-
te é a cutina. Uma vez que as ceras são hidrofóbicas, elas ofere-
cem resistências extremas à difusão tanto da água na forma líquida
como na forma de vapor. Assim, a cutícula serve para restringir a
evaporação da água da superfície externa das células epidérmicas
da folha e protegem tanto a epiderme como as células do mesófilo
da dissecação letal.
A epiderme possui células especiais que formam os estômatos,
estruturas capazes de movimento de abrir e fechar. Quando os es-
tômatos se abrem, formam uma abertura na epiderme, chamada
ostíolo, comunicando o interior da folha (mesófilo) com o meio
externo. Os estômatos são formados por duas células especializa-
das, chamadas células- guarda, as quais podem absorver e perder
Célula-guarda água, ficando mais túrgidas ou menos túr-
gidas e, com isso, controlar o tamanho da
abertura do ostíolo (Figura 1.14). Abaixo
Cloroplasto
do ostíolo, algumas células do mesófilo
Ostíolo perdem o arranjo característico e criam
Parede espessada
um espaço (câmara subestomática) inter-
Parede delgada
conectado com os espaços de ar intercelu-
lares. Esse espaço pode perfazer até 70%
do volume total da folha em alguns casos.
Célula Subsidiária
Os estômatos quando abertos permitem
a troca de dióxido de carbono, oxigênio e
vapor-d’água entre o espaço de ar interno
e a atmosfera vizinha da folha.

Figura 1.14 – Estômato visto de frente


H2O
(acima) e em corte transversal (abaixo).
CO2 H2O
CO2 Câmara
sub-estomática
28 Fisiologia Vegetal

As mudanças de turgescência das células-guarda são resultado


da entrada e saída de potássio e do nível de sacarose nessas células.
Os estômatos se abrem quando há acúmulo de potássio e sacaro-
se dentro das células-guarda. O fluxo de potássio está acoplado à
saída de próton hidrogênio (H+) para fora da célula-guarda. Isso
resulta numa diferença de potencial eletroquímico de um lado e
outro da membrana da célula-guarda, que ativa o transporte de
potássio via proteína de canal. O acúmulo de sacarose está relacio-
nado à degradação de amido, estimulada pela luz vermelha. Dessa
forma, dois sinais contribuem para a abertura estomática: recep-
tores de luz azul que estimulam a atividade da bomba de próton
hidrogênio, uma enzima chamada ATPase. Um segundo estímulo
é a degradação do amido à sacarose, estimulada pela luz vermelha.
O estômato pode continuar a abrir e fechar no escuro obedecendo
a um ritmo circadiano. Vários estresses ambientais podem causar
o fechamento estomático, como falta de água, que sinaliza a pro-
dução de um hormônio vegetal, o ácido abscísico (ABA), o qual
leva ao fechamento estomático.
A difusão do vapor-d’água através do ostíolo é conhecida como
transpiração estomática e é responsável por 90 a 95% da água per-
dida nas folhas. O restante, 5 a 10%, é perdido pela transpiração
cuticular. Embora a cutícula seja composta de ceras e outras subs-
tâncias que a tornam quase que impermeáveis à água, pequena
quantidade de vapor-d’água passa pela cutícula. A contribuição da
transpiração cuticular na perda de água pela folha varia conside-
ravelmente entre espécies. Pode variar algumas vezes em função
da espessura da cutícula. Cutícula mais espessa é característica de
plantas de sol ou de clima desértico, enquanto que cutícula mais
fina é característica de plantas que crescem em ambiente de som-
bra ou clima mais úmido. A transpiração cuticular pode tornar-se
mais significativa, principalmente para folhas com cutícula mais
fina, sob condições de seca quando a transpiração estomática é re-
duzida pelo fechamento dos estômatos.
Relações hídricas 29

1.6 Fatores ambientais que afetam a


transpiração

Umidade
A umidade é o conteúdo de água do ar, a qual, como descrita
anteriormente, pode ser expressa como umidade relativa (UR). A
umidade relativa é a razão da quantidade de água real do ar pela
máxima quantidade de água que pode ser retida pelo ar a uma
determinada temperatura. A umidade relativa é expressa normal-
mente como UR x 100, ou umidade relativa percentual. O poten-
cial de água na atmosfera, que é dado pelo potencial de pressão
(pressão que a atmosfera exerce sobre a entrada de mais vapor-
d’água nela) depende tanto da umidade relativa do ar como de sua
temperatura. Dessa forma, a umidade e a temperatura influenciam
a magnitude da diferença de potencial de água entre folha e atmos-
fera, a qual influencia a taxa de transpiração.

Temperatura
A temperatura afeta a taxa de transpiração devido ao seu efeito
no potencial de pressão da atmosfera. Com o aumento da tempe-
ratura, a atmosfera se expande, diminuindo o potencial de pressão
e, com isso, a pressão sobre a entrada de mais vapor-d’água para a
atmosfera diminui, aumentando o fluxo de saída de vapor-d’água
da folha para a atmosfera.
Alguns valores para o potencial hídrico (Ψw) em função da
umidade relativa (UR):
100% UR → Ψw = 0 MPa; 95% UR → Ψw = -6,9 MPa;
90% UR → Ψw = -14,2 MPa; 50% UR → Ψw = -93,5 MPa;
20% UR → Ψw = -217,1 MPa.

Vento
A velocidade do vento tem um efeito marcante na transpiração,
por modificar a velocidade da difusão das moléculas de água que
deixam a folha. Isso se dá devido à camada de ar adjacente à su-
perfície da folha, que é mais úmida que a camada de ar um pouco
30 Fisiologia Vegetal

mais distante da superfície da folha. Antes de alcançar o ar, as mo-


léculas de vapor-d’água que saem da folha precisam difundir-se
não só através da espessa camada epidérmica, mas também atra-
vés da camada adjacente de ar. O espessamento da camada de ar
adjacente traz maior dificuldade para a difusão do vapor-d’água e
consequentemente na taxa de transpiração. Com aumento na ve-
locidade do vento, a espessura da camada de ar adjacente decresce.

Resumo
A água é uma molécula polar, e a maioria de suas propriedades
físico-químicas se deve a esse fato. A água exerce funções fisioló-
gicas, tais como: transporte de substâncias pelo vegetal, expansão
de células meristemáticas, sustentação de tecidos ou órgãos, res-
friamento vegetal, isolamento térmico entre o vegetal e o ambiente,
movimento de organelas, estabilização da estrutura de membranas
e compostos orgânicos e participação em reações químicas. Outras
propriedades da água, como coesão, tensão superficial, força tênsil
e adesão, deram suporte à teoria do fluxo transpiratório de Dixon, a
qual explica como a água sobe pela planta, das raízes às folhas.
Para entender esse movimento da água, é necessário, também,
que se entenda o que é potencial químico da água. O potencial
químico da água expressa a energia livre por mol de água. No estu-
do de relações hídricas, os fisiologistas vegetais criaram o conceito
de potencial de água, que é a diferença entre o potencial químico
da água num estado padrão e o potencial químico da água num
estado que não o do estado padrão. O potencial de água é depen-
dente do potencial de soluto (Ψл), do potencial de pressão (Ψp),
do potencial mátrico (Ψm) e do potencial gravitacional (Ψg), ou
seja: Ψw = Ψл + Ψp + Ψm + Ψg.
Além da influência das propriedades físico-químicas, a água
possui vários caminhos a serem percorridos dentro da planta. O
caminho da água a curta distância pela planta pode ser via trans-
celular, pelo simplasto ou através do apoplasto. O caminho a longa
distância, através do xilema, pode se dar por pressão de raiz ou
fluxo transpiratório. A pressão de raiz ocorre preferencialmente
Relações hídricas 31

à noite, quando a transpiração é muito baixa ou zero. O caminho


através do fluxo transpiratório é conhecido como teoria de Dixon
ou mecanismo da coesão-tensão. Por essa teoria, no xilema atua
sobre a água uma pressão negativa (tensão) que movimenta a água
a longa distância. A causa dessa tensão é a evaporação da água
contida nos espaços intercelulares da folha. Com a evaporação, o
filme de água dos espaços intercelulares se retrai nos poros exis-
tentes nas paredes celulares devido à força de adesão da água nas
paredes celulares. Na superfície do filme de água em contato com
o ar intracelular, forma-se uma tensão chamada tensão superficial.
A adesão à parede e a tensão superficial leva a superfície do fil-
me de água a formar um menisco, puxando a água para cima por
forças adesivas e coesivas. A tensão gerada pela adesão e tensão
superficial diminui o potencial de água, fazendo a água subir. A
coesão entre as moléculas de água torna possível que a coluna de
água suba pelos vasos de xilema sem se quebrar.
Os estômatos também estão envolvidos no movimento da água
nas plantas. Os estômatos quando abertos permitem a troca de di-
óxido de carbono, oxigênio e vapor-d’água entre o espaço de ar
interno e a atmosfera vizinha da folha. Os estômatos se abrem pela
entrada de água nas células-guarda devido ao abaixamento do po-
tencial de água nessas células dado pelo acúmulo do íon potássio
(K+) e de sacarose. Vários estresses ambientais podem causar o fe-
chamento estomático, como falta de água, que sinaliza a produção
de um hormônio vegetal, o ácido abscísico (ABA), o qual leva ao
fechamento estomático. Vários fatores ambientais afetam a trans-
piração, como a umidade relativa do ar, a temperatura e os ventos.

Referências
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
c a p í t u lo 2
c a p í t u lo 2
Nutrição mineral
Neste capítulo, serão fornecidas informações sobre os mé-
todos utilizados para os estudos na área de nutrição mineral,
a conceituação do que são os elementos essenciais e a descri-
ção das funções e dos sintomas de deficiência que produzem
nas plantas.
Nutrição mineral 35

2.1 Introdução
As plantas são seres autotróficos e retiram da atmosfera o dió-
xido de carbono (CO2) e do solo água e nutrientes minerais. Com
esses elementos conseguem montar todas as moléculas orgânicas
que necessitam para o seu crescimento e desenvolvimento.
Para estudar os requisitos nutricionais das plantas, são usados
métodos de cultivo em que são utilizadas soluções nutritivas ou
substratos pobres em nutrientes, como areia lavada e vermicu-
lita. Apenas utilizando-se substratos pobres é possível manipular
o fornecimento dos diferentes elementos em concentrações que
podem induzir tanto a carência, no caso de estudos em que é o
objetivo conhecer o que a ausência de um determinado elemento
provoca na planta, até concentrações altas, no caso de estudos so-
bre o efeito tóxico que o elemento pode desencadear nos vegetais.

2.2 Métodos de estudo em nutrição mineral


Os principais métodos que envolvem a utilização de soluções
nutritivas são conhecidos como hidroponia (Figura 2.1). Através
Figura 2.1 – Sistema de cultura
hidropônica em vaso, em que dessa técnica a planta pode ser cultivada com suas raízes imersas
o sistema radicular das plantas em solução nutritiva em vasos desde que a referida solução seja
fica totalmente imerso na
solução nutritiva.
aerada, por exemplo, com o auxílio de uma bomba de aquário. A
aeração é necessária para que as células das raízes possam respirar
e ter energia para absorver os nutrientes, a anoxia inibe a respi-
Anoxia é a “ausência” de ração e os processos de absorção ativa de íons. O vaso contendo a
oxigênio, um agravante
da hipóxia. planta deve ser envolto em material opaco ou papel-alumínio para
bloquear a entrada de luz e reduzir a multiplicação de algas que
pode competir com as plantas pelos nutrientes.
36 Fisiologia Vegetal

Em outro método de hidroponia pode ser utilizada a técnica de


nutrição por uma camada muito fina de solução nutritiva, que
escorre, pela ação da gravidade, dentro de um tubo inclinado, que
permite a aeração da solução (Figura 2.2). Esse sistema é acopla-
do a uma bomba de pressão, que provoca a circulação da solução
nutritiva do reservatório para a parte mais alta da tubulação. A
solução então desce pela ação da gravidade e banha as raízes da
planta continuamente, permitindo aeração constante e a absorção
de nutrientes pelas raízes. É possível acoplar todo o sistema a um
relógio para que a bomba seja ligada em períodos determinados,
por exemplo, a cada 2-3 horas para economizar energia.

Figura 2.2 – Sistema de cultura


hidropônica através da técnica
de nutrição em que o sistema
radicular das plantas é banhado pela
solução de nutrientes em períodos
determinados.

A vantagem da hidroponia é que a fórmula da solução nutritiva


pode ser manipulada com precisão, tanto qualitativamente como
quantitativamente. A desvantagem é que o pH da solução deve ser
monitorado constantemente, pois este vai se alterando conforme
as plantas vão absorvendo os elementos minerais e pode chegar a
diminuir a eficiência de absorção dos íons pelas células da raiz. É
importante lembrar que, para que o mecanismo de absorção ati-
va de íons ocorra com eficiência, é necessário que o pH do meio
externo seja mantido em certa faixa ótima, que seja ligeiramente
ácida para favorecer a criação do gradiente eletroquímico neces-
sário para ativar os carregadores, como será discutido no capítulo
seguinte. As soluções nutritivas devem ser repostas regularmente
para manter o crescimento contínuo das plantas.

2.3 Elementos essenciais


Os elementos essenciais são aqueles que devem preencher os se-
guintes requisitos: a) na sua ausência a planta não completa o ciclo
de vida normal ou b) fazem parte de uma molécula da planta. Pelo
Nutrição mineral 37

primeiro critério, o elemento é essencial se uma planta não pro-


duz sementes viáveis na sua ausência. Pelo segundo critério, por
exemplo, um elemento como o magnésio faz parte da molécula de
clorofila ou pode ser um cofator de uma enzima. Em outros casos,
por exemplo, o potássio não faz parte de nenhuma molécula, mas
é imprescindível para manter o potencial osmótico das células e
está envolvido no mecanismo de abertura dos estômatos (Tabela
2.1). A maioria dos elementos preenche ambos os requisitos, mas
se preencher somente um deles já é considerado essencial.
Os elementos essenciais podem ser classificados como macro-
nutrientes e micronutrientes, dependendo da quantidade em que
são requeridos pelas plantas: os macronutrientes são requeridos
em grandes quantidades (acima de 10 mmol/kg de massa seca) e
fazem parte da estrutura das moléculas, enquanto que os micro-
nutrientes são requeridos em quantidades pequenas (abaixo de 30
mmol/kg de massa seca) e desempenham função de ativadores de
enzimas.
As concentrações de macronutrientes na planta variam de 30
a 60.000 mmol/kg de massa seca, enquanto que as de micronu-
trientes variam de 0,001 a 3 mmol/kg de massa seca. O carbono, o
hidrogênio e o oxigênio são fornecidos pelo dióxido de carbono e
água, enquanto que todos os demais são retirados pela planta do
solo na forma iônica.

Tabela 2.1 – Elementos químicos considerados essenciais para as plantas.


Macronutrientes Micronutrientes
% em % em
Elemento Símbolo Elemento Símbolo
matéria seca matéria seca
Carbono C 45 Cloro Cl 0,01
Oxigênio O 45 Ferro Fe 0,01
Hidrogênio H 6 Manganês Mn 0,005
Nitrogênio N 1,5 Boro B 0,002
Potássio K 1,0 Zinco Zn 0,002
Cálcio Ca 0,5 Cobre Cu 0,0006
Magnésio Mg 0,2 Molibdênio Mo 0,00001
Fósforo P 0,2 Níquel Ni --
Enxofre S 0,1
38 Fisiologia Vegetal

2.4 Determinação da concentração crítica de


um elemento mineral no tecido vegetal
Os elementos essenciais desempenham funções metabólicas nas
plantas e quando ausentes provocam nas plantas o aparecimento
de sintomas de deficiência.
A necessidade da planta por um certo elemento é determinada
pela concentração crítica. Para se determinar a concentração crí-
tica de um elemento no tecido vegetal de uma determinada plan-
ta, são feitos experimentos controlados. Nesses experimentos, são
fornecidas às plantas concentrações conhecidas crescentes do ele-
mento mineral e avaliados o crescimento (por exemplo, em altura,
número de folhas, massa fresca e massa seca) que provocam nas
plantas, assim como as concentrações do nutriente que a planta
acumula em seus tecidos. Com os dados das concentrações do nu-
triente no tecido e do crescimento provocado é possível construir
gráficos em que se observam: a faixa de deficiência, a concentra-
ção crítica e a faixa adequada (Figura 2.3).

Zona de Zona adequada Zona de


Crescimento ou produtividade

deficiência toxidez
(porcentagem do máximo)

100

50

0 Concentração crítica

Concentração do nutriente no tecido


(µmol/g peso seco)

Figura 2.3 – Gráfico que relaciona a concentração do nutriente no tecido vegetal com o
crescimento da planta, para a determinação da concentração crítica de um elemento no
tecido.

Na faixa de deficiência, pequenas variações na concentração do


nutriente no tecido induzem aumento significativo no crescimen-
to. Na faixa adequada, o crescimento já está chegando próximo
do ótimo. Nesta etapa, verifica-se que aumentos das concentrações
Nutrição mineral 39

de nutrientes no tecido não estão correlacionados com um cresci-


mento maior das plantas. O crescimento estabiliza e fica constante
a partir de certo ponto. A partir do ponto em que o crescimento
estabiliza não adianta fornecer mais nutrientes para a planta que
ela não irá mais responder crescendo. A concentração crítica do
nutriente no tecido é aquela em que o crescimento não é o ótimo
ainda, mas está 10% abaixo do máximo que a planta pode atingir.
A vantagem de se conhecer a concentração crítica de um deter-
minado elemento para uma espécie cultivada na agricultura é que
ela indica quando ainda é possível fornecer para a planta um pou-
co mais de nutriente para que ela atinja seu crescimento máximo.
Como essa quantidade pode ser calculada, o agricultor fornece à
planta exatamente a quantidade que ela precisa para atingir 100%
do crescimento e não é necessário aplicar quantidades exagera-
das de nutrientes no solo, que vão provocar problemas ambientais,
maiores custos e até sintomas de toxicidade nas plantas.

O nitrogênio, por exemplo, quando aplicado em demasia, pode


ser lavado do solo e carregado para lagos e rios, onde estimulará o
crescimento da vegetação aquática e ocasionará um subsequente
processo de eutrofização. Nesse processo, a degradação, pelos mi-
crorganismos, da grande quantidade de biomassa acumulada nos
ambientes aquáticos envolve grande consumo de oxigênio, o que
torna o ambiente pobre em oxigênio e inadequado para o cresci-
mento da fauna aquática, gerando a morte de peixes, por exemplo,
em larga escala. Portanto, a determinação da concentração crítica
de um elemento mineral no tecido vegetal torna racional a aplica-
ção dos nutrientes através da adubação.

2.5 Agentes quelantes


Muitas vezes, certos elementos minerais, como o ferro, tornam-
se insolúveis na água. Quando o solo apresenta pH neutro ou alca-
lino, esses elementos minerais formam óxidos insolúveis, que não
ficam disponíveis para serem absorvidos pelas plantas. Nesse caso,
a planta apresenta sintomas de deficiência em ferro, mas quando
se analisa o solo o ferro está presente. Esse problema de defici-
40 Fisiologia Vegetal

ência em ferro pode ser resolvido com aplicação de


agentes quelantes no solo ou sobre as folhas, através Agentes quelantes
de pulverização. Agentes quelantes são moléculas or-
gânicas que se ligam ao íon formando
O agente quelante sintético mais comum é o áci- um complexo estável chamado quela-
do etilenodiaminotetracético ou EDTA (Figura 2.4). to. Essa ligação diminui a possibilidade
Essa molécula não é específica e pode se ligar a ou- de formação de compostos insolúveis
que podem se precipitar na solução
tros cátions, como cobre, zinco, manganês e cálcio.
do solo (água, íons e cátions). Ao mes-
Os agentes quelantes naturais são produzidos e libe- mo tempo, o íon pode ser removido do
rados pelas raízes das plantas superiores: os de peso quelato e absorvido pelas plantas. Os
molecular alto são normalmente compostos fenóli- agentes quelantes podem ser sintéti-
cos ou naturais.
cos, como o ácido cafeico, e os de peso molecular bai-
xo, os fitosideróforos (por exemplo, os ácidos avênico
e mugineico).

O
A B
C
O CH2
O
C CH2
OOCH2C CH2COO O N
N CH2 CH2 N Fe CH2

OOCH2C CH2COO O N CH2


C CH2
Ácido etilenodiamino O O CH2
tetracético (EDTA) C

Figura 2.4 – Agente quelante sintético ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) na


fórmula original (A) e complexado com o átomo de Fe (B).

Dois modelos de solubilização e absorção do íon ferro pelas


plantas podem ocorrer. No primeiro modelo, a deficiência em
ferro faz com que a planta libere ácido cafeico pelas raízes, através
da ação da ATPase, que hidrolisa o ATP em ADP, fosfato inorgâni-
co, radicais hidroxila e prótons hidrogênio. Os prótons hidrogênio
são enviados para o exterior da célula e junto com eles saem as
moléculas de ácido cafeico, que se juntam ao ferro trivalente do
hidróxido de ferro (composto insolúvel que as plantas não podem
absorver). É formado o complexo (quelato) do cátion ferro triva-
lente com o referido agente quelante. O quelato é trazido até as
proximidades das células da raiz, onde o cátion ferro trivalente é
reduzido, por uma enzima redutase, a cátion ferro bivalente. Este
Nutrição mineral 41

é então absorvido pelas células da epiderme da raiz, e o agente


quelante liberado volta ao solo para capturar outro cátion de ferro
trivalente, presente no hidróxido de ferro insolúvel. No segundo
modelo, o cátion ferro trivalente, presente no hidróxido de ferro
insolúvel, é solubilizado pelos fitosideróforos, produzidos e elimi-
nados pelas células da raiz e todo o complexo ferro-fitosideróforo
é absorvido pelas células da raiz onde o cátion ferro será liberado.
Portanto, a principal diferença entre os dois modelos é que no pri-
meiro o quelato não penetra nas células e no segundo sim.

2.6 Função dos nutrientes e sintomas


de deficiência
2.6.1 Nitrogênio
O nitrogênio faz parte de moléculas de proteínas, ácidos nuclei-
cos, hormônios (algumas auxinas e citocininas) e clorofila. Muitas
das proteínas são enzimas, moléculas imprescindíveis para que
ocorram todas as reações químicas do metabolismo primário ce-
lular, como fotossíntese, via glicolítica, Ciclo de Krebs. Portanto, a
Processo em que ocorre
a degradação de vários deficiência em nitrogênio é caracterizada pela clorose (amareleci-
compostos nitrogenados mento) geral das folhas e baixas taxas de crescimento.
incluindo a clorofila, por isso
as folhas ficam amareladas. Pode também estimular a floração precoce e induzir o acúmulo
do pigmento antocianinas, produzindo cor avermelhada nos cau-
les, pecíolos e folhas mais velhas da planta. Uma das possíveis ex-
plicações para o acúmulo desses pigmentos é que os esqueletos de
carbono, na ausência de nitrogênio, não podem ser utilizados na
montagem das moléculas de aminoácidos ou de outros compostos
que necessitam do nitrogênio.
Os sintomas da deficiência em nitrogênio aparecem nas folhas
mais velhas da planta, pois como é um elemento de alta mobilidade
dentro do vegetal, assim que falta nitrogênio no solo, o elemento
Figura 2.5 – Folhas sai das folhas mais velhas. Essas folhas então entram em senescên-
amareladas pela deficiência
em nitrogênio. cia, e o nitrogênio se desloca para as partes mais jovens da planta
que estão em crescimento e apresentando demanda por esse nu-
triente. O excesso de nitrogênio estimula acentuado crescimento
da parte aérea da planta (folhas e ramos) e retarda a floração.
42 Fisiologia Vegetal

2.6.2 Fósforo
O fósforo está presente nas moléculas dos açúcares fosfatados
que participam da fotossíntese, nas moléculas dos nucleotídeos
do DNA e RNA, nos fosfolipídios presentes nas membranas, ATP,
ADP, fosfato inorgânico e ácidos orgânicos fosforilados.
Uma importante característica da deficiência em fósforo é o ver-
de intenso das folhas que podem se tornar malformadas e apresen-
tar manchas necróticas. Em alguns casos, pode haver acúmulo de
antocioaninas, e as folhas ficam com aspecto verde-avermelhado.
Como esse elemento é de alta mobilidade dentro da planta, ele se
desloca das partes mais velhas para as mais jovens, induzindo a
senescência rápida das folhas mais velhas. Os caules se apresentam
curtos, e a produção de frutos e sementes é reduzida.
O excesso de fósforo estimula o crescimento mais das raízes do
que da parte aérea, e em vários casos a aplicação de fertilizantes
fosfatados é utilizada durante o transplante de plantas para esti-
mular o estabelecimento de um sistema radicular forte.

2.6.3 Potássio
O potássio não parece fazer parte de nenhuma molécula no ve-
getal, mas é ativador de várias enzimas da fotossíntese e da respira-
ção, e a deficiência em potássio afeta a síntese de amido e de prote-
ínas. Está envolvido também nos mecanismos de osmorregulação,
pois o movimento do potássio para dentro e para fora da célula
resulta, respectivamente, na entrada de água nas células e na saída
de água das células, alterando a turgescência. Assim, por exem-
plo, a variação na turgescência das células-guarda é que determina
a abertura ou o fechamento dos estômatos e os movimentos das
plantas como o das folhas da dormideira. Também influencia os
movimentos de abertura e fechamento das folhas durante o ama-
nhecer e entardecer e as mudanças diárias na orientação das folhas
em relação ao Sol.
Na ausência de potássio, os estômatos não se abrem, impedindo
a entrada de carbono para a fotossíntese. Da mesma forma, com
os estômatos fechados, a corrente transpiratória que carrega todos
os elementos minerais do solo para as partes aéreas da planta fica
Nutrição mineral 43

prejudicada, o que pode comprometer toda a nutrição mineral do


vegetal.
Os sintomas da deficiência em potássio aparecem primeiro nas
folhas mais velhas por ser um elemento de alta mobilidade no ve-
getal e são caracterizados por clorose seguida de lesões necróticas
(manchas de tecido morto) nas margens das folhas. Nas monoco-
tiledôneas, como milho, as lesões necróticas começam nas pontas
das folhas mais velhas e progridem pelas margens até as células mais
jovens presentes na base das folhas. As plantas crescem pouco em
altura e são susceptíveis ao ataque por fungos que atacam as raízes.

2.6.4 Enxofre
O enxofre participa da estrutura dos aminoácidos cisteína e me-
tionina constituintes de várias proteínas. Faz parte da molécula
da coenzima A, importante na respiração e no metabolismo dos
ácidos graxos além de ser constituinte das vitaminas tiamina e
biotina.
A deficiência em enxofre produz clorose nas folhas inclusive
nos tecidos em volta dos feixes vasculares. A clorose é mais devido
à redução na síntese de proteínas, que interfere na produção de
complexos clorofila-proteínas estáveis que ligam as moléculas de
clorofila nas membranas do cloroplasto. O enxofre não se movi-
menta dentro da planta, por isso os sintomas de deficiência apare-
cem primeiro nas folhas mais jovens da planta.

2.6.5 Cálcio
O cálcio é mensageiro secundário nos mecanismos de ação hor-
monal e de respostas da planta a fatores ambientais, como a luz.
Além disso, é importante na divisão celular, pois está envolvido na
formação do fuso mitótico que orienta a deposição da lamela mé-
dia, além de fazer parte da própria lamela média como pectato de
cálcio. Também é necessário para a estabilização das membranas e
regula a atividade de numerosas enzimas.
Um sintoma característico da deficiência em cálcio é o apareci-
mento de folhas jovens deformadas (devido à divisão assimétrica
das células) e necróticas e morte dos meristemas. O crescimento
44 Fisiologia Vegetal

das raízes também é prejudicado por causa do enfraquecimento


da lamela média e, como o cálcio é um elemento relativamente
imóvel dentro da planta, os sintomas aparecem primeiro nas fo-
lhas mais jovens.

2.6.6 Magnésio
O magnésio desempenha várias funções importantes na planta
como integrante da unidade de porfirina da molécula de clorofila
e estabilizador da estrutura dos ribossomos. Também é ativador de
várias enzimas, como as enzimas da fotossíntese ribulosebifosfato
e a fosfoenolpiruvato carboxilase, e liga as moléculas de ATP aos
sítios ativos das enzimas. A deficiência em magnésio provoca clo-
rose nas folhas devido à degradação de clorofila nas regiões entre
as nervuras, pois os cloroplastos, nessa região, são menos sensíveis
à deficiência em magnésio e retêm a clorofila por mais tempo. É
um elemento bem móvel dentro da planta e se desloca das partes
mais velhas para as mais novas deixando as mais velhas cloróticas.

2.6.7 Ferro
O ferro é parte do grupo catalítico de muitas enzimas que par-
ticipam em reações de redução na fotossíntese, fixação do nitro-
gênio e respiração. Durante a transferência de elétrons, o cátion
ferro trivalente é reduzido a cátion ferro divalente. Também faz
parte de várias enzimas oxidases, como a catalase e a peroxidase.
Parece ser importante na síntese de constituintes dos cloroplastos,
especialmente das proteínas transportadoras de elétrons.
A deficiência em ferro induz perda de clorofila e degeneração
do cloroplasto. A clorose aparece primeiro nas regiões entre as
nervuras das folhas jovens, mas pode atingir as nervuras, e as fo-
lhas podem se tornar brancas se a deficiência for muito acentuada.
O ferro apresenta baixa mobilidade dentro da planta, não saindo
das folhas mais velhas.

2.6.8 Boro
De todos os nutrientes, a função fisiológica e bioquímica do
boro é a menos entendida, pois não existem evidências sólidas do
Nutrição mineral 45

envolvimento do boro com enzimas específicas seja fazendo parte


da estrutura ou como ativador enzimático. O maior conteúdo de
borato é encontrado na parede celular, pois o borato forma ésters
estáveis com os sacarídeos que têm grupos hidroxila adjacentes.
As paredes primárias de células deficientes em boro apresentam
anormalidades na estrutura, indicando que o boro é requerido
para manutenção da integridade da parede celular.
A deficiência em boro causa inibição da divisão e alongamento
das células das raízes primária e secundária das plantas. A divisão
celular no ápice dos ramos e folhas jovens também é inibida, se-
guida por necrose do meristema. Estimula a germinação e alonga-
mento do tubo polínico. A deficiência em boro provoca sintomas
de internos curtos, e a planta fica com aspecto de planta “em rose-
ta”. Em órgãos de reserva, como a beterraba, ocorre um apodreci-
mento devido à morte das células nas regiões de crescimento.

2.6.9 Cobre
Funciona como cofator de várias enzimas oxidativas, como a
plastocianina (carregadora de elétrons da fotossíntese), a citocro-
mo oxidase (a enzima oxidase final da respiração mitocondrial) e
a oxidase do ácido ascórbico.
A deficiência em cobre provoca baixo crescimento das plantas
além de folhas jovens deformadas e que caem precocemente, prin-
cipalmente em árvores de Citrus.

2.6.10 Zinco
O zinco é ativador de várias enzimas incluindo a álcool desi-
drogenase, que catalisa a reação de acetaldeído, etanol e anidrase
carbônica, que catalisa a hidratação do dióxido de carbono para
formar bicarbonato. Também há evidências indicando que o zinco
é requerido para a síntese do triptofano, precursor dos hormônios
da classe das auxinas. Por isso, um sintoma de deficiência em zinco
é o encurtamento dos internos da planta e folhas pequenas. Quan-
do o zinco é fornecido, ocorre um aumento no nível de auxinas
assim como um aumento no crescimento da planta.
46 Fisiologia Vegetal

2.6.11 Manganês
O manganês é requerido como cofator de numerosas enzimas,
como descarboxilases e desidrogenases, as quais participam do Ci-
clo de Krebs, e da enzima pertencente ao complexo que quebra a
molécula de água e libera oxigênio durante o processo fotossinté-
tico. A deficiência em manganês é caracterizada pelo aparecimen-
to de manchas verde-acinzentadas nas regiões basais das folhas
jovens de cereais. Pode causar clorose entre as nervuras das folhas
como também deformações em sementes de leguminosas.

2.6.12 Molibdênio
É o micronutriente requerido em mais baixa quantidade pelas
plantas e está relacionado com o metabolismo do nitrogênio. A
Enzima presente nas plantas
enzima dinitrogenase, presente nos microrganismos fixadores de que catalisa a redução do
nitrogênio atmosférico, e a nitrato redutase contêm molibdênio. nitrato a nitrito, primeiro
passo do processo de
Quando os suprimentos de nitrogênio são adequados, a deficiência assimilação do nitrogênio do
em molibdênio resulta em folhas jovens retorcidas e deformadas. nitrato em aminoácidos.

2.6.13 Cloro
Elemento requerido nas reações de liberação do oxigênio du-
rante a fotossíntese, ao lado do manganês, sendo também neces-
sário para a divisão celular de folhas e ramos. É um dos solutos
que participa ativamente dos processos osmóticos do vacúolo. A
deficiência em cloro se expressa nas plantas através de crescimento
reduzido, murcha das pontas das folhas e clorose geral. A deficiên-
cia em cloro raramente é detectada, pois a água do mar contendo
os íons cloreto é carregada pelo vento, e esses íons são depositados
nos solos pelas chuvas.

2.6.14 Níquel
Parte integrante da molécula da enzima urease, responsável pela
degradação da ureia, que pode ser tóxica para a planta quando se
acumula dentro das células. A ureia é produzida quando os ure-
ídeos são quebrados. Os ureídeos são compostos nitrogenados,
como o ácido alantoico e a citrulina, presentes nas leguminosas.
Nutrição mineral 47

Podem também ser formados nos nódulos durante a fixação de


nitrogênio ou em folhas em senescência. Após a sua formação, os
ureídeos são transportados para as sementes em desenvolvimento
onde são armazenados. O níquel também é requerido pelas hidro-
genases, enzimas responsáveis pela captação do hidrogênio libe-
rado durante o processo de fixação do nitrogênio pelas bactérias
que se associam com as plantas. A deficiência em níquel leva ao
acúmulo de ureia nas folhas, ocasionando necrose dos ápices das
folhas ou uma possível redução da eficiência do processo de fixa-
ção do nitrogênio.
A Tabela 2.2 sumariza as funções e os sintomas de deficiência
dos nutrientes essenciais em plantas.

Tabela 2.2 – Funções e sintomas de deficiência dos nutrientes minerais em plantas


Elemento mineral Funções Sintomas de deficiência
Nitrogênio Faz parte das moléculas de proteínas, Folhas ficam amareladas.
ácidos nucleicos, hormônios (algumas
auxinas e citocininas) e clorofila.
Fósforo Faz parte das moléculas dos açúcares Verde intenso das folhas, que
fosfatados, nucleotídeos do DNA e RNA, podem se tornar malformadas e
fosfolipídeos, ATP, ADP, fosfato inorgânico apresentar manchas necróticas.
e ácidos orgânicos fosforilados.
Potássio Ativador de várias enzimas da fotossíntese Folhas mais velhas com clorose
e da respiração; a deficiência em potássio seguida de lesões necróticas.
afeta a síntese de amido e de proteínas.
Enxofre Faz parte da estrutura dos aminoácidos cisteína Clorose nas folhas, inclusive
e metionina, constituintes de várias proteínas. nos tecidos em volta dos
feixes vasculares.
Cálcio Mensageiro secundário nos mecanismos Folhas jovens deformadas e
de ação hormonal, envolvido na necróticas, morte dos meristemas.
formação do fuso mitótico que orienta
a deposição da lamela média.
Magnésio Integrante da molécula de clorofila, Clorose nas folhas nas
estabiliza a estrutura dos ribossomos, regiões entre as nervuras.
ativador de várias enzimas.
Ferro Parte do grupo catalítico de muitas enzimas Clorose nas regiões entre as
que participam em reações da fotossíntese, nervuras das folhas jovens, as
fixação do nitrogênio e respiração. folhas podem se tornar brancas se
a deficiência for muito acentuada.
Boro Função fisiológica e bioquímica do boro Necrose do meristema.
é a menos entendida, alongamento das
células das raízes primária e secundária,
metabolismo de ácidos nucleicos.
48 Fisiologia Vegetal

Elemento mineral Funções Sintomas de deficiência


Cobre Co-fator de várias enzimas oxidativas. Baixo crescimento das
plantas, folhas jovens
deformadas e que caem
precocemente, principalmente
em árvores de Citrus.
Zinco Ativador de várias enzimas, requerido Encurtamento dos internos da
para a síntese do triptofano, precursor planta e folhas pequenas.
das auxinas, grupo de hormônios que
controlam o crescimento das plantas.
Manganês Co-fator de numerosas enzimas como Manchas verde-acinzentadas
a descarboxilase e desidrogenases, faz nas regiões basais das folhas
parte do complexo liberador de oxigênio jovens de cereais, clorose entre
resultante da quebra de molécula da as nervuras das folhas.
água durante a fotossíntese.

Resumo
Os principais métodos que envolvem a utilização de soluções
nutritivas são conhecidos como hidroponia. Através dessa técnica
a planta pode ser cultivada com suas raízes imersas em solução
nutritiva em vasos, desde que a referida solução seja aerada, por
exemplo, com o auxílio de uma bomba de aquário. As soluções
nutritivas devem conter os elementos essenciais para as plantas.
Os elementos essenciais são aqueles em que na sua ausência as
plantas não completam o ciclo de vida. São agrupados em macro-
nutrientes e micronutrientes, dependendo da quantidade em que
são requeridos pelas plantas.

Referências
HOPKINS, W. J. Introduction to plant physiology. 2. ed. New
York: John Wiley & Sons, 1999.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
c a p í t u lo 3
c a p í t u lo 3
Assimilação e fixação biológica
do nitrogênio
Neste capítulo, iremos estudar a biologia e a bioquímica
dos sistemas de fixação biológica do nitrogênio e as vias de
assimilação dos íons amônio e nitrato pelas plantas que não
fazem associação simbiótica.
Assimilação e fixação biológica do nitrogênio 53

3.1 Introdução
O nitrogênio é um dos macronutrientes requeridos em gran-
des quantidades pelas plantas para a produção de proteínas, áci-
dos nucleicos, hormônios, clorofila e de vários outros compostos
importantes para o metabolismo celular. A atmosfera é rica (78%)
em dinitrogênio (N2), o nitrogênio que está na forma molecular,
mas as plantas não possuem enzimas capazes de converter esse
nitrogênio em moléculas orgânicas. Apenas os procariotos são ca-
pazes de efetuar tal processo; as plantas podem se beneficiar des-
se processo apenas quando estão em associação simbiótica com
tais organismos. As plantas que não fazem associações simbióticas
para fixar o nitrogênio absorvem o nitrogênio do solo na forma de
nitrato (NO3–) ou de íon amônio (NH4+). Mas o nitrato é facilmen-
te lixiviado do solo pelas águas da chuva e assim o nitrogênio, na
maioria dos casos, apresenta-se como fator limitante para o cres-
cimento das plantas.

3.2 Origem do nitrogênio das proteínas


O dinitrogênio presente na atmosfera pode ser incorporado ao
solo na forma de amônia, através da fixação biológica, pela fixação
industrial e pela fixação pela ação das descargas elétricas, na forma
de nitrato.
54 Fisiologia Vegetal

O nitrogênio do solo é absorvido pelos vegetais na forma de ni-


trato e incorporado em moléculas de aminoácidos e outras molé-
culas. Passa para os animais que se alimentam de plantas e retorna
para o solo através da decomposição dos organismos ou dos de-
jetos. Durante o processo de decomposição da biomassa animal e
vegetal por fungos e bactérias, ocorre o processo de amonificação
(mineralização), sendo a amônia (NH3) dos compostos nitrogena-
dos liberada para o solo. A amônia através do processo de nitrifi-
cação, conduzido pelas bactérias nitrificantes, pode ser convertida
em nitrito, pelas bactérias Nitrosomonas e Nitrococcus, e o nitrito
pode ser convertido em nitrato, pela Nitrobacter. O nitrato, por
sua vez, pode voltar à atmosfera através do processo de desnitri-
ficação realizado por certas bactérias presentes no solo, que redu-
zem o nitrato a dinitrogênio, aproximadamente 93-190 milhões de
toneladas por ano (Figura 3.1).

Fixação
Nitrogênio na atmosfera
N2

Plantas
Assimilação
Bactérias
desnitri-
ficantes
Bactérias fixadoras
de N2 nos nódulos Nitratos (NO3-)
de raízes de
Decompositores
leguminosas (fungos e bactérias
aeróbicas e anaeróbicas)
Bactérias
Amonificação Nitrificação nitrificantes
Amônia (NH3) Nitritos (NO2-)
Bactérias fixadoras
de N2 no solo Bactérias nitrificantes

Figura 3.1 – Ciclo do Nitrogênio.


Assimilação e fixação biológica do nitrogênio 55

3.3 Organismos que fazem a fixação biológica


do nitrogênio
Os procariotos − bactérias e cianobactérias − são os únicos or-
ganismos que contêm a enzima chamada dinitrogenase, capaz de
quebrar a ligação tripla do dinitrogênio que está na atmosfera e
catalisar a reação de redução do dinitrogênio para amônia.
Os procariotos fixadores de nitrogênio podem ser de vida livre
ou podem fazer associações simbióticas. Exemplos de procariotos
de vida livre são as bactérias fotossintetizantes e não fotossinteti-
zantes. As cianobactérias Anabaena e Nostoc são exemplos de bac-
térias com vida livre que podem fixar o dinitrogênio.
Os procariotos que se associam com plantas podem pertencer
a diferentes gêneros. Aqueles que se associam com diferentes ti-
pos de leguminosas são do gênero Rhizobium, Bradyrhizobium ou
Azorhizobium. Bactérias não filamentosas do gênero Frankia po-
dem se associar com plantas que não são leguminosas dos gêneros
Casuarina, Alnus e Myrica e com membros da família Rosaceae e
certas gramíneas tropicais. Os procariotos que se associam com
plantas podem formar nódulos nas raízes, onde se dá a fixação do
nitrogênio, ou podem permanecer nas células da planta sem que
os nódulos sejam formados.

3.4 Fixação simbiótica do nitrogênio em


leguminosas
Os nódulos em leguminosas são formados da seguinte manei-
ra: inicialmente as bactérias fixadoras percebem a liberação, pelas
raízes das plantas, de substâncias, como a homoserina (raízes de
ervilha) ou os flavonoides que exercem a função de atração das
bactérias para próximo das raízes. Em seguida, as bactérias se li-
gam à epiderme da raiz, mais precisamente aos pelos radiculares.
A membrana citoplasmática das células do pelo radicular sofre in-
vaginação e origina o canal de infecção, através do qual as bacté-
rias penetram e alcançam as células do córtex da raiz.
56 Fisiologia Vegetal

Uma vez alojadas nas células do córtex, as bactérias induzem


a produção de fito-hormônios pelas células da planta que indu-
zem a proliferação celular e formação do nódulo. Uma vez dentro
das células, as bactérias, que são flageladas, perdem os flagelos e
se diferenciam em células especializadas na fixação de nitrogênio,
funcionando como uma organela dentro da célula vegetal. Nesse
estágio, são chamadas de bacterioides.
A diferenciação em bacterioide é marcada por certos eventos,
como a síntese das enzimas e de outros fatores requeridos para a
fixação do nitrogênio. À medida que o nódulo envelhece, são esta-
belecidas conexões vasculares com o sistema vascular da raiz para
auxiliar na distribuição dos compostos nitrogenados resultantes
da fixação simbiótica do nitrogênio.

3.5 Bioquímica da fixação do nitrogênio


A fixação do nitrogênio é catalisada pela enzima dinitrogenase.
Essa enzima é formada por duas subunidades: uma ferroproteína
e uma molibdênio-ferroproteína.
A reação consiste na transformação do N2 (dinitrogênio) em
amônia (NH3). Para tal, é necessário que a ligação tripla do di-
nitrogênio seja quebrada e prótons hidrogênio e elétrons sejam
inseridos nos dois átomos de nitrogênio resultantes, para formar
as duas moléculas de amônia. Haverá, portanto, a necessidade de
um doador de prótons hidrogênio e de elétrons para o processo.
A reação para a redução do dinitrogênio ocorre segundo a equa-
ção a seguir. São necessários oito prótons, oito elétrons e dezesseis
ATPs para formar duas moléculas de amônia, hidrogênio, dezes-
seis ADPs e dezesseis fosfatos inorgânicos, provenientes da que-
bra dos ATPs.

8H+ + 8e– + N2 + 16 ATP → 2 NH3 + H2 + 16 ADP + 16 Pi


Assimilação e fixação biológica do nitrogênio 57

Os doadores de prótons hidrogênio e elétrons são as moléculas


de NADH produzidas pelo Ciclo de Krebs do bacterioide, e a fer-
redoxina faz essa transferência para a dinitrogenase. O átomo de
ferro oxidado da ferroproteína recebe os prótons e elétrons e se re-
duz, em seguida transfere os prótons e elétrons para os átomos de
ferromolibdênio oxidados, os quais se reduzem, transferindo, na
sequência, os prótons e elétrons para o dinitrogênio e produzindo
as moléculas de amônia e hidrogênio.
A redução biológica do nitrogênio depende de pelos menos 16
moléculas de ATP para cada molécula de dinitrogênio reduzida
(ver fórmula anterior). Todos esses ATPs são produzidos a par-
tir de moléculas de carboidratos produzidas pela fotossíntese das
plantas, que entram no bacterioide e são processadas através da
glicólise e do Ciclo de Krebs, gerando NADH, que será o doador
de prótons hidrogênio para a cadeia respiratória do bacterioide,
geradora de ATP (Figura 3.2).

Fotossintato
(da folha) H+ H+

Cadeia respiratória
Membrana do
Glicólise bacterioide
NAD+

NADH ATP ADP + Pi


H+

ATP
CAC N2 + 8H+
NAD+
fdred
8e-
2NH3
NADH Dinitrogenase Aminoácidos
+ H2
fdox

ADP + Pi Exportação
do nódulo

Figura 3.2 – Diagrama da fixação do nitrogênio, dentro do bacterioide, mostrando a relação com a fotossíntese
da planta e com a respiração do bacterioide.
58 Fisiologia Vegetal

3.6 Destino da amônia formada a partir da


fixação do nitrogênio
Como o pH fisiológico é ligeiramente ácido, existem prótons hi-
drogênio livres dentro do citoplasma da célula vegetal que se ligam
à molécula de amônia formando o íon amônio (NH4+). Esse íon é
extremamente tóxico para as plantas e precisa logo ser incorpo-
rado em uma molécula orgânica. Ocorre então a assimilação do
nitrogênio. Existem duas enzimas que são produzidas no citoplas-
ma das células infectadas das plantas que participam desse proces-
so: a glutamina sintetase (GS) e a glutamato sintase (GOGAT).
A enzima glutamina sintetase (GS) catalisa a reação do glu-
tamato com o íon amônio formando a molécula de glutamina,
utilizando para isso uma molécula de ATP. Em seguida, entra em
ação a glutamato sintase, que regenera o glutamato a partir de
outras moléculas de glutamina formadas na primeira reação. Das
moléculas de glutamina que sobram − são formadas várias molé-
culas de glutamina − parte delas pode ser exportada pelas células
e vão ser doadoras de nitrogênio para formar os aminoácidos e as
proteínas das plantas.
A regeneração das moléculas de glutamato que vão servir para
receber novos íons amônio necessita da glutamato sintase. Como
citado acima, essa enzima catalisa a reação da glutamina com o
alfa-cetoglutarato, originando duas moléculas de glutamato; essa
reação requer NADH. As moléculas de alfa-cetoglutarato e NADH
são geradas no Ciclo de Krebs das plantas e só podem ser produ-
zidas se a planta estiver produzindo carboidratos pela fotossíntese.
Dessa forma, apenas haverá esqueletos de carbono, em quantida-
de suficiente para montar as moléculas receptoras do íon amônio
(glutamato), se a planta estiver fazendo fotossíntese (Figura 3.3).

3.7 Nitrogênio fixado nos nódulos


A glutamina é a principal molécula orgânica exportada, mas
em leguminosas de regiões temperadas, como a ervilha, o ami-
noácido asparagina predomina. Já nas leguminosas de regiões
Assimilação e fixação biológica do nitrogênio 59

α- cetoglutarato
COOH
NAD+ NADH + H+
Figura 3.3 – Esquema da C O
assimilação do íon amônio em
glutamina pela glutamina sintetase CH2
(GS) e regeneração do glutamato GOGAT
CH2
pela glutamato sintase (GOGAT)
COOH
EXPORTAÇÃO

COOH COOH COOH COOH

CHNH2 CHNH2 CHNH2 CHNH2

CH2 CH2 CH2 CH2

CH2 CH2 CH2 CH2

COOH COOH CO NH2 CO NH2

2 moléculas 2 moléculas
de ácido glutâmico de glutamina
GS
2NH4+

2 ATP 2 ADP + Pi

O H tropicais, como a soja, são exportados predominantemente deri-


H2N C N
C O vados da ureia, denominados de ureídeos. A diferença entre essas
O C C
N N moléculas está no número de carbonos necessários para carregar
H H H
os nitrogênios: a molécula de glutamina tem 5 carbonos para car-
Alantoína
regar 2 nitrogênios; a asparagina tem 4 carbonos para carregar 2
nitrogênios; os ureídeos (alantoína e ácido alantoico) têm 4 carbo-
COO- O nos que carregam 4 nitrogênios, sendo carregadores mais eficien-
H
H 2N C N C N C NH2 tes (Figura 3.4).
H
O H
A asparagina é sintetizada através de duas etapas: na primeira,
Alantoato a enzima aspartato aminotransferase catalisa a reação do gluta-
Figura 3.4 – Estruturas
mato com o oxaloacetato, produzindo o alfa-cetoglutarato e as-
dos ureídeos utilizados no partato. Na segunda etapa, a enzima asparagina sintetase catalisa
transporte do nitrogênio
a reação da glutamina com o aspartato, produzindo asparagina e
assimilado pelas espécies que
fazem associação simbiótica. glutamato; nessa reação é usada uma molécula de ATP.
60 Fisiologia Vegetal

A fixação do nitrogênio em plantas noduladas corresponde a


50% do nitrogênio necessário a essas plantas. O restante do nitro-
gênio necessário é absorvido na forma de nitrato, e o nitrogênio é
assimilado nas folhas exatamente da mesma forma que em plantas
não noduladas, processo explicado no item a seguir.

3.8 Assimilação do nitrogênio em plantas que


não fazem associação simbiótica
Nesse caso, as células das raízes das plantas absorvem o nitrato
(NO3–) do solo, mas esse ânion não pode ser assimilado em mo-
lécula orgânica diretamente, sendo necessário ser transformado
em nitrito (NO2–) através da enzima nitrato redutase, presente no
citoplasma das células. Em seguida, o nitrito penetra nos plas-
tídeos das raízes ou nos cloroplastos das folhas, onde deve ser
rapidamente transformado em íon amônio (NH4+), pois o nitrito é
tóxico, através da enzima nitrito redutase.
As duas reações requerem doadores de prótons e elétrons para
se juntar com os átomos de oxigênio presentes nos cátions nitrato e
nitrito e removê-los das ligações com o átomo de nitrogênio. As li-
gações são então liberadas para inserir os prótons hidrogênio e elé-
trons para formar o íon amônio. Os principais doadores de prótons
e elétrons são o NADH e o NADPH. Quando existe pouco nitrato
no solo, a raiz dispõe de NADH e NADPH suficientes para fazer a
assimilação do nitrato em aminoácidos ou amidas, mas quando a
quantidade de nitrato no solo é muito alta, o NADH e o NADPH
da raiz passam a ser limitantes. Nesse caso, o nitrato é translocado
até o citoplasma das folhas, e o nitrito, uma vez formado, penetra
nos cloroplastos, onde se dará a transformação em íon amônio.
Essa reação é acoplada com o transporte de elétrons e prótons da
fase clara da fotossíntese, tendo como principal doador a água,
presente dentro do canal do tilacoide. A ferredoxina, nesse caso, é
a molécula presente nos cloroplastos que faz essa transferência de
prótons e elétrons para transformar o nitrito em íon amônio.
Em seguida, ocorre um processo semelhante ao que acontece
nos nódulos de plantas noduladas: o íon amônio (NH4+) é assi-
Assimilação e fixação biológica do nitrogênio 61

milado ao glutamato, formando glutamina através da atuação das


enzimas GS e GOGAT. Em plantas que não fazem associação sim-
biótica, a GS é encontrada no citoplasma das células das raízes e
no citoplasma e nos cloroplastos das células das folhas. A GOGAT
é uma enzima presente nos plastídeos das células das raízes e nos
cloroplastos das células das folhas. Ela utiliza como doadores de
prótons e elétrons para formar o glutamato, o NADH, quando pre-
sente nos plastídeos das raízes, e a ferredoxina, quando localizada
nos cloroplastos.

Resumo
Embora a atmosfera seja rica em nitrogênio, as plantas não po-
dem aproveitá-lo, exceto as que fazem associação simbiótica com
microrganismos. A fixação simbiótica do nitrogênio ocorre nos
nódulos formados nas raízes das plantas hospedeiras através da
ação da dinitrogenase, presente nas bactérias fixadoras. A função
da planta é fornecer moléculas de carboidratos produzidas na fo-
tossíntese aos bacterioides para que esses viabilizem, através do
seu próprio metabolismo, a conversão do nitrogênio em íon amô-
nio. Esse íon é rapidamente incorporado em amidas (glutamina ou
asparagina), que depois são exportadas pelas células e utilizadas
nas reações de formação dos aminoácidos. As plantas que não se
associam geralmente absorvem o nitrogênio do solo na forma de
nitrato, que então é transformado em íon amônio e depois incor-
porado em moléculas orgânicas.

Referências
HOPKINS, W. J. Introduction to plant physiology. 2. ed. New
York: John Wiley & Sons, 1999.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
K H+ I-
K+ K+ K+ I- I-
H+ I- I- I-
ATP ADP+ P
H+
H+
c a p í t u lo 4
c a p í t u lo 4
Absorção de nutrientes minerais
pelas raízes de plantas
Neste capítulo, veremos como os íons minerais entram em
contato com as raízes, como são por elas absorvidos e quais
as proteínas envolvidas neste processo.
Absorção de nutrientes minerais pelas raízes de plantas 65

4.1 Introdução
Para que os nutrientes presentes no solo possam alimentar a
planta, é necessário que haja o contato entre os nutrientes e a raiz
e que eles sejam absorvidos pelas raízes das plantas. Esse contato
pode se dar por três diferentes processos, os quais ocorrem simul-
taneamente: fluxo de massa, difusão e interceptação pela raiz
(Figura 4.1).

Vacúolo Faixa caspariana Xilema


Citoplasma

H₂PO₄

Difusão Simplástico

Ca²
Interceptação

Fluxo de massa

Córtex Endoderme Floema


Apoplástico
NO₃ Periciclo

Figura 4.1 – Contato do nutriente com a raiz e vias de entrada do nutriente no xilema.
66 Fisiologia Vegetal

No fluxo de massa, o contato entre o nutriente e a raiz se dá


quando o nutriente é carregado juntamente com a água (solução
do solo), que vai de um local de maior umidade (maior potencial
de água) para um local de menor potencial de água, nas proximi-
dades das raízes. No fluxo de massa, o nutriente dissolvido na fase
líquida é carregado pela massa líquida. A quantidade do nutriente
que pode atingir as raízes é proporcional ao volume de água absor-
vido e à concentração do nutriente na solução do solo.
Na difusão, o nutriente entra em contato com a raiz ao passar
de um local de maior concentração na solução do solo para outro
de menor concentração do mesmo nutriente, na mesma solução
do solo. A difusão é o movimento de um nutriente através da so-
lução do solo que está parada, obedecendo a um gradiente de con-
centração, ou seja, movimenta-se de locais de maior para menor
concentração do nutriente.
Na interceptação radicular, o contato se dá quando a raiz, ao cres-
cer, encontra o nutriente, ou seja, é a raiz que encontra o nutriente.
As micorrizas são como extensões do sistema radicular dos vege-
tais e podem aumentar o contato da solução com o sistema radicu- Associações de fungos com
as raízes de plantas.
lar, sendo importantes principalmente para o contato do fósforo.
O fluxo de massa é um processo importante para o contato de
N, Ca, Mg, S, B, Cu, Mn e Mo com a raiz; a difusão é importante
para que o P e o K entrem em contato com as raízes. Para o Fe
e Mn, os processos de fluxo de massa e difusão são igualmente
importantes.
Vamos, a seguir, estudar em detalhes os mecanismos de absor-
ção e transporte de nutrientes.

4.2 Mecanismos de absorção de nutrientes


pelas raízes
Após haver o contato entre os nutrientes da solução do solo e as
raízes, o nutriente precisa chegar até o xilema para ser transpor-
tado para as partes aéreas dos vegetais. Como os nutrientes estão
dissolvidos na água, a movimentação para dentro da planta segue
Absorção de nutrientes minerais pelas raízes de plantas 67

os mesmos caminhos descritos para a água. O caminho é percor-


rido, em parte, por via apoplástica e, em parte, por via simplástica,
como é mostrado na Figura 4.1.
Os elementos absorvidos inicialmente via apoplasto, para que
cheguem até o xilema, precisam passar por dentro das células até
atingirem a endoderme; ao ultrapassá-la, eles percorrem o ca-
minho simplástico. Isso ocorre porque as paredes das células da
endoderme possuem as estrias de Caspary ou faixa caspariana
Barreira presente nas interrompendo o caminho apoplástico. O caminho apoplástico
paredes das células da
endoderme pela deposição do nutriente se faz passivamente, isto é, sem gasto de energia, en-
de suberina, substância quanto que o caminho de entrada na célula através da membrana
impermeável à água.
plasmática (simplasto) necessita de energia do ATP, sendo deno-
minado ativo.
Embora não se conheça exatamente como se dá o processo de
absorção de nutrientes pelas membranas celulares em vegetais, foi
proposto um modelo para esse processo, o qual é detalhado a se-
guir. Os nutrientes minerais atravessam a membrana plasmática
(Figura 4.2), a qual tem uma constituição lipoproteica semelhante
à dos animais (recordar composição da membrana plasmática no
Capítulo 2, do livro Biologia celular).

Lipídios

Proteínas

Figura 4.2 – Esquema representando a membrana celular.


68 Fisiologia Vegetal

As proteínas que fazem parte da membrana plasmática vegetal


são de três tipos, proteínas de canal, proteínas transportadoras e
proteínas catalíticas, estas últimas também chamadas de bombas
(utilizam a energia do ATP para movimentar substâncias de um
lado a outro da membrana plasmática).

Nos vegetais são conhecidas bombas de hidrogênio e de cálcio,


sendo estas últimas localizadas principalmente na membrana dos
vacúolos. Os nutrientes minerais atravessam a membrana plasmá-
tica pelas proteínas de canal ou transportadoras. Para isso ocorrer,
é necessário que as proteínas catalíticas de hidrogênio bombeiem
o próton hidrogênio (H+) de dentro para fora da célula, o que cria
um gradiente de potencial eletroquímico entre os dois lados da
membrana e facilita a ação das proteínas de canal e transportado-
ras (Figura 4.3).

Alta Concentração de Solutos

ATP

Baixa Concentração de Solutos

Mediada por Mediada por


canal transportador
Difusão Difusão Transporte Ativo
Simples Facilitada

Transporte Passivo

Figura 4.3 – Tipos de transporte de substâncias através da membrana plasmática.


Absorção de nutrientes minerais pelas raízes de plantas 69

As proteínas de canal são específicas para determinados tipos


Os determinantes da de nutrientes minerais (íons minerais). O canal pode ser aberto
especificidade são o diâmetro
do canal e as cargas elétricas
pelo estímulo da diferença de potencial eletroquímico criado pela
presentes no canal. bomba de prótons, embora outros estímulos, como luz, hormônios
e alteração de pH, possam também estimular a abertura do canal.
Uma vez aberto o canal da proteína, há a passagem de cátions, como
o K+, Ca2+, Mg2+, NH4+ e Na+, do meio extracelular para o intracelu-
lar através da membrana. O meio intracelular costuma ser negativo
devido ao bombeamento de H+ para fora da célula, levando a um
excesso de cargas negativas no citoplasma, as quais podem ser con-
trabalançadas pelas cargas positivas que entram. A passagem de
ânions através da membrana costuma ocorrer por meio das prote-
ínas transportadoras, as quais são específicas para determinados
ânions, especificidade que é dada pela composição do sítio ativo da
proteína. As proteínas transportadoras também podem transpor-
tar cátions quando as concentrações destes na solução do solo são
muito menores que as concentrações dentro da célula.

O funcionamento da proteína transportadora é explicado da


seguinte maneira: os prótons hidrogênio que foram bombeados
para fora da célula pela proteína tendem a voltar espontaneamente
para dentro da célula para equilibrar as cargas elétricas dentro da
célula. Isso se dá pela ligação do próton hidrogênio a uma proteí-
na transportadora. Essa ligação expõe o sítio ativo dessa proteína
para a ligação com cátions ou ânions. Enquanto o H+ vai atraves-
sando a membrana celular, o íon acoplado ao sítio ativo da prote-
Em alguns modelos de
ína também é transportado. Esse tipo de transporte é chamado de
transporte pela membrana, o
cotransporte envolve apenas cotransporte, e quando o H+ e o outro íon são transportados no
simporte, enquanto é o mesmo sentido, tem-se um simporte, e quando o H+ e o íon são
contratransporte que envolve
o antiporte. transportados em sentidos opostos, tem-se um antiporte. (Figura
4.4). Existem fortes evidências de cotransporte nas células de raí-
zes para os ânions cloreto, fosfato, nitrato e sulfato.

A passagem de nutrientes pelas proteínas de canal pode receber


Quando os nutrientes entram o nome de difusão facilitada. A difusão é facilitada pelo funciona-
na célula a favor de um
gradiente de concentração. mento da bomba de prótons que, ao colocar H+ para fora da célula,
permite o funcionamento das proteínas de canal.
70 Fisiologia Vegetal

Molécula transportada Íon Cotransportado

Membrana celular

Uniporte Simporte Antiporte Figura 4.4 – Esquema mostrando o transporte


Cotransporte do tipo simporte e do tipo antiporte.

4.3 Transporte e redistribuição dos nutrientes


Os íons que passam através da raiz e alcançam o xilema mo-
vem-se para cima em direção às folhas seguindo juntamente com
a água. Movimentando-se para cima no xilema, os íons chegam às
nervuras terminais das folhas, e a partir delas estão livres para se São canais responsáveis pela
conexão citoplasmática entre
mover em direção aos espaços formados pelas paredes das célu- células vizinhas, possibilitando
las do mesófilo (apoplasto). Para chegar novamente ao citoplasma a troca de moléculas de
informação, funcionais,
das células da folha, os íons necessitam outra vez passar através da estruturais ou ainda de
membrana plasmática, da forma já descrita. Depois de penetrar xenobióticos entre as células
em uma célula, os íons contidos no citoplasma podem passar de pertencentes a um mesmo
grupo. Ocorrem somente em
uma célula foliar para outra através dos plasmodesmos. células vegetais.

A solução formada pela água e sais minerais contida na luz do


xilema não é homogênea desde a raiz até as folhas. As células con-
dutoras de xilema (vasos e traqueídeos) possuem cargas negativas
que podem reter cátions, tais como Ca2+, Zn2+ e Mg2+, podendo
mesmo ficar aí imobilizados. Assim, existem substâncias quelan-
tes, as quais se ligam aos íons e os tornam solúveis, possibilitando
que estes sejam transportados para cima.
Há também movimento transversal de íons entre o xilema e o
floema, que pode ser muito intenso, como é o caso do K que possui
concentração quase similar na solução dos dois sistemas de con-
dução. No floema, os nutrientes minerais são redistribuídos pela
planta juntamente com os produtos fotossintetizados pela planta.
Absorção de nutrientes minerais pelas raízes de plantas 71

Resumo
Para que os nutrientes presentes no solo possam alimentar a
planta, é necessário que haja o contato entre os nutrientes e a raiz
e que eles sejam absorvidos pelas raízes das plantas. Esse contato
pode se dar por fluxo de massa, difusão e interceptação pela raiz.
Após haver o contato entre os nutrientes da solução do solo e as
raízes, o nutriente precisa chegar até o xilema para ser transporta-
do para a parte aérea dos vegetais. Como os nutrientes estão dis-
solvidos na água, a movimentação para dentro da planta segue os
mesmos caminhos descritos para a água. O caminho é percorrido
em parte por via apoplástica e em parte por via simplástica.
Os elementos absorvidos inicialmente via apoplasto, para que
cheguem até o xilema, precisam passar por dentro das células;
quando atingem a endoderme, percorrem o caminho simplásti-
co. Isso ocorre porque as paredes das células da endoderme apre-
sentam deposição de suberina, substância impermeável à água, a
qual forma uma barreira, denominada estrias de Caspary. O ca-
minho apoplástico do nutriente se faz passivamente, isto é, sem
gasto de energia, enquanto o caminho de entrada na célula através
da membrana plasmática (simplasto) necessita da energia do ATP,
sendo denominado ativo.
Pelo modelo proposto para absorção de nutrientes pelas mem-
branas celulares em vegetais, os nutrientes minerais atravessam a
membrana plasmática através de proteínas de canal ou transpor-
tadoras. Para ocorrer esse transporte, é necessário que as proteínas
catalíticas de hidrogênio bombeiem o próton hidrogênio (H+) de
dentro para fora da célula, o que cria um gradiente de potencial
eletroquímico entre os dois lados da membrana e facilita a ação
das proteínas de canal e transportadoras.
As proteínas de canal são específicas para determinados tipos de
nutrientes minerais (íons minerais), e os determinantes da especi-
ficidade são o diâmetro do canal e as cargas elétricas presentes no
canal. Uma vez aberto o canal da proteína, há a passagem de cá-
tions, como o K+, Ca2+, Mg2+, NH4+ e Na+, do meio extracelular para
o intracelular através da membrana. O meio intracelular costuma
72 Fisiologia Vegetal

ser negativo devido ao bombeamento de H+ para fora da célula,


levando a um excesso de cargas negativas no citoplasma, as quais
podem ser contrabalançadas pelas cargas positivas que entram. A
passagem de ânions através da membrana costuma se dar através
das proteínas transportadoras, as quais são específicas para deter-
minados ânions, especificidade que é dada pela composição do sí-
tio ativo da proteína. As proteínas transportadoras também podem
transportar cátions quando as concentrações destes na solução do
solo são muito menores que as concentrações dentro da célula.
A passagem de nutrientes pelas proteínas de canal pode receber
o nome de difusão facilitada quando os nutrientes entram na célu-
la a favor de um gradiente de concentração. A difusão é facilitada
pelo funcionamento da bomba de prótons que, ao colocar H+ para
fora da célula, permite o funcionamento das proteínas de canal.
Os íons que passam através da raiz e alcançam o xilema movem-
se em direção às folhas, seguindo juntamente com a água o cami-
nho apoplástico. Para chegar novamente ao citoplasma das células
da folha, os íons necessitam outra vez passar através da membrana
plasmática, da forma já descrita. Há também movimento transver-
sal de íons entre o xilema e o floema, que pode ser muito intenso,
como é o caso do K, que possui concentração quase similar na
solução dos dois sistemas de condução. No floema, os nutrientes
minerais são redistribuídos pela planta juntamente com os produ-
tos fotossintetizados pela planta.

Referências
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
c a p í t u lo 5
c a p í t u lo 5
Fotossíntese
Neste capítulo, veremos como o gás carbônico juntamente
com a energia da luz são transformados em energia química
e utilizados para formar açúcar nos vegetais. Veremos tam-
bém que fatores ambientais podem influenciar esse processo.
Fotossíntese 77

5.1 Introdução
A fotossíntese significa síntese pela luz e pode ser considera-
da como um dos processos biológicos mais importantes na Terra.
Por liberar oxigênio e consumir dióxido de carbono, a fotossínte-
se transformou o mundo no ambiente habitável que conhecemos
hoje. De uma forma direta ou indireta, a fotossíntese supre todas
as nossas necessidades alimentares e nos fornece um sem-número
de fibras e materiais de construção. A energia armazenada no pe-
tróleo, no gás natural, no carvão e na lenha, que são utilizados
como combustíveis em várias partes do mundo vieram a partir
do Sol via fotossíntese. Assim, a pesquisa científica da fotossíntese
possui uma importância vital. Se o homem conseguir entender e
controlar o processo fotossintético, será possível saber como au-
mentar a produtividade de alimentos, fibras, madeira e combustí-
vel, além de aproveitar melhor as áreas cultiváveis. Uma vez que a
fotossíntese afeta a composição atmosférica, o seu entendimento
é essencial para compreendermos como o Ciclo do CO2 e outros
gases, que causam o efeito estufa, afetam o clima global do planeta.
Todas as necessidades energéticas dos animais são fornecidas
pelos vegetais, seja diretamente ou através do consumo de animais
herbívoros. Os vegetais, por sua vez, obtêm a energia para sinte-
tizar os alimentos via fotossíntese. Embora as plantas retirem do
solo (nutrientes minerais e água) e do ar (gás carbônico) a maté-
ria-prima necessária para a fotossíntese, a energia necessária para
a realização do processo é fornecida pela luz solar. Entretanto, a
78 Fisiologia Vegetal

luz solar para ser utilizada deve ser convertida em outras formas
de energia. E é exatamente isso que ocorre na fotossíntese, as plan-
tas convertem a energia solar primeiramente em energia elétrica
e depois em energia química, a qual pode ser armazenada e utili-
zada posteriormente. Isso é um grande feito, pois o homem ainda
não descobriu como converter a energia solar em energia química.
Um dos processos mais importantes da fotossíntese é a utilização
da energia solar para converter o gás carbônico atmosférico em
carboidratos, cujo subproduto é o oxigênio. Posteriormente, se a
planta assim o necessitar, ela pode utilizar a energia armazenada
nos carboidratos para sintetizar outras moléculas.

5.2 A energia solar


Para entender melhor o processo da fotossíntese, é necessário
conhecer um pouco sobre a energia solar. O Sol emite energia na
forma de radiação eletromagnética, da qual apenas 40% chegam
à superfície terrestre, sendo o restante refletido ou absorvido pelo
oxigênio, ozônio, gás carbônico, água e poeira presentes acima da
camada atmosférica terrestre (Figura 5.1).

0.25

0.20 Irradiação solar extraterrestre


Irradiação solar ao nível do mar
Irradiância espectral (Å)

0.15 Irradiação (teórica) de um


O3 corpo negro a 5.900k
H2O
0.10 H2O, O2
H2O

0.05 H2O, CO2


H2O, CO2
0.00
0.0 0.3 0.6 0.9 1.2 1.5 1.8 2.1 2.4 2.7 3.0
Comprimento de onda (µm)

Figura 5.1 – Espectro solar. A curva acima representa a irradiância por unidade de
comprimento de onda. FONTE: Ciência Hoje.
Fotossíntese 79

Radiação eletromagnética
Radiação eletromagnética é a definição dada às Assim, o comprimento de onda (λ) de uma onda
ondas que se propagam no vácuo ou no ar com ve- eletromagnética é o que irá diferenciá-las. Existem
locidade de 300.000 km/s, ou seja, com a velocida- ondas eletromagnéticas com grandes comprimen-
de da luz (c), que também é uma radiação eletro- tos de onda, tais como: as ondas de rádio (AM e
magnética. Outra característica das ondas eletro- FM) e TV (UHF e VHF). Por outro lado, existem ra-
magnéticas é a capacidade de transportar energia diações com comprimento de onda bem pequeno,
e informações. tais como: radiação-X e radiação γ.
Como dito anteriormente, existem vários tipos de O fato de o comprimento de onda ser grande ou
radiação eletromagnética, então o que as difere? pequeno influi na sua frequência (ν), que é a varia-
ção da onda por segundo, ou seja, é a “velocidade”
O que diferencia uma radiação eletromagnética da
que a onda se propaga. Quanto menor for o com-
outra é o seu comprimento de onda. Mas o que é
primento de onda (λ), maior será a frequência (ν) e,
comprimento de onda?
quanto maior for o comprimento de onda (λ), me-
Comprimento de onda (λ) é a distância entre dois nor será a frequência (ν).
pontos máximos de uma onda. Observe:
Comprimento
de onda (λ)

A radiação eletromagnética solar consiste de raios cósmicos em


um extremo e ondas de rádio no outro extremo, entretanto, os or-
ganismos fotossintetizantes utilizam apenas uma pequena faixa de
toda a radiação eletromagnética emitida pelo Sol, chamada de ra-
diação visível ou luz (Figura 5.2). A luz é transmitida por ondas,
na forma de pacotes discretos de energia chamados fótons. A ener-
gia contida em cada fóton varia dependendo do comprimento de
onda e da velocidade da luz. Dessa forma, luz com comprimentos
de onda menores tem menor energia que luz com comprimentos
de onda maiores (a luz azul de 450 nm de comprimento de onda
tem menos energia que a luz vermelha de 650 nm de comprimento
de onda).
80 Fisiologia Vegetal

1m
10-5 nm 10-3 nm 1 nm 103 nm 106 nm (10-5 nm) 103 m

Raios gama Raios X UV Infravermelho Micro-ondas Ondas de rádio

Luz visível

400nm 450nm 500nm 550nm 600nm 650nm 700nm 750nm

Comprimento de onda aumenta


Energia aumenta

Figura 5.2 – Espectro de radiação eletromagnética emitida pelo Sol.

5.3 O mecanismo da fotossíntese


Todo o processo fotossintético ocorre numa Estroma Membranas
organela chamada cloroplasto (Figura 5.3). Na
fotossíntese, a planta usa a energia solar para se-
Grana
parar a molécula de água em dois átomos de hi-
drogênio e um de oxigênio (fotólise da água). O
Tilacoide
oxigênio difunde-se para a atmosfera, enquanto Lamela
os átomos de hidrogênio reduzem o gás carbôni-
co, formando açúcar. A série complexa de reações que culminam Figura 5.3 – Estrutura do
cloroplasto.
na difusão do oxigênio e formação de açúcar é separada em duas
fases, a etapa fotoquímica (fase clara), que ocorre nos tilacoides
dos cloroplastos, e a etapa química (fase escura), que ocorre no
estroma dos cloroplastos.
Na fase fotoquímica, os produtos finais são o ATP e o NADPH.
O hidrogênio do NADPH vem da fotólise da água, que ocorre no Ver detalhes no Capítulo 4
do livro Biologia celular.
lúmen dos tilacoides. Após a fotólise da água, o elétron do hidro-
gênio é repassado à clorofila (P680) do fotossistema II e caminha
por uma cadeia de transportadores de elétrons (plastoquinona,
citocromo bf e plastocianina) até chegar à clorofila (P700) do fo-
tossistema I. Do fotossistema I, o elétron é repassado ao NADP
Fotossíntese 81

com auxílio do transportador de elétrons ferredoxina e da enzima


NADP redutase, formando NADP–.
O próton hidrogênio (H+), por sua vez, atravessa a membrana
do tilacoide através de uma proteína transportadora, a ATP sinte-
tase, indo do lúmen do tilacoide ao estroma do cloroplasto para
se juntar, com auxílio da NADP redutase, ao NADP–. Enquanto
a ATP sintetase transporta H+, ela sintetiza ATP. A enzima ATP
sintetase é ativada pela diferença de potencial eletroquímico entre
o lado interno e externo da membrana do tilacoide. A diferença de
potencial eletroquímico entre o estroma do cloroplasto e o lúmen
do tilacoide é gerada pelo acúmulo de prótons H+ no lúmen do
tilacoide.
Parte desses prótons H+ é produzida pela fotólise de uma molé-
cula de água, que libera 2 H+ dentro do lúmen do tilacoide, e dois
elétrons, que percorrem os transportadores de elétrons dos fotos-
sistemas para reduzir o NADP. A outra parte dos prótons é produ-
zida pela reação de oxidação da plastoquinona. Essa molécula tem
a função de transferir dois elétrons ao complexo de citocromos e
ao mesmo tempo deposita 2 H+ no lúmen do tilacoide.
Como consequência, o pH do lúmen do tilacoide torna-se áci-
do (pH 5,0) e o do estroma do cloroplasto torna-se alcalino (pH
8,0). Essa diferença é causada pela alta concentração de prótons H+
resultantes da fotólise da água e do transporte de H+ do estroma
para o lúmen do tilacoide pela plastoquinona, que tem esta ação
enquanto transporta elétrons do fotossistema II para o citocromo
bf (ver detalhes na Figura 5.4).
O NADPH e o ATP são utilizados na segunda fase da fotossínte-
se, a fase química, em que o gás carbônico é reduzido a um açúcar,
o gliceraldeído 3-fosfato, através do Ciclo de Calvin-Benson. As
Ver detalhes no Capítulo 4 reações do Ciclo de Calvin-Benson são controladas por uma série
do livro Biologia celular.
de enzimas, algumas delas ativadas por luz. Por essa razão, embora
essa fase da fotossíntese seja chamada também de fase escura da
fotossíntese, ela não ocorre na ausência de luz. Uma das enzimas
ativadas pela luz é a ribulose bifosfato carboxilase-oxigenase (RU-
BISCO), que coloca o carbono do gás carbônico numa molécula
de ribulose 1,5-bifosfato.
82 Fisiologia Vegetal

Átomo de hidrogênio de
uma molécula de clorofila +

Estado excitado
+

Dissipação Transferência de excitação


Fluorescência Transferência
térmica (ressonância)

+ + + +

Átomo
oxidado
+
Calor Luz Figura 5.4 – A liberação da energia de um
fóton de luz absorvida pelos pigmentos
pode ocorrer das seguintes maneiras:
Transferência de excitação calor, fluorescência, ressonância ou
para molécula vizinha deslocamento de elétrons.

5.4 Princípios básicos de captura de luz pelos


pigmentos fotossintetizantes
A captação da luz é realizada por receptores de luz (pigmentos).
Em plantas, os pigmentos fotossintéticos são clorofilas e carote-
noides. As clorofilas refletem a luz verde, e os carotenoides refle-
tem as luzes amarela e laranja. Esses pigmentos estão associados a
proteínas que compõem dois dos complexos proteicos inseridos
nas membranas dos tilacoides dos cloroplastos: o fotossistema I e
o fotossistema II, formando uma antena coletora de luz ao redor
dos fotossistemas. As clorofilas absorvem luz principalmente na
faixa do azul e do vermelho, enquanto os carotenoides absorvem
luz na faixa do azul.
A luz chega na forma de fótons (pequenos pacotes de energia),
e quando um fóton colide com um átomo, provavelmente de hi-
drogênio, de um pigmento da antena coletora, um elétron deste
átomo é lançado a um orbital mais energético (mais distante do
Fotossíntese 83

núcleo). O elétron lançado volta ao seu orbital de origem, poden-


do liberar a energia recebida de três diferentes formas: a) de calor;
b) de radiação fluorescente; c) de ressonância (Figura 5.4). Nesse
último processo, a perda de energia consiste na transferência dessa
energia para uma molécula de pigmento adjacente, fazendo com
que um elétron dessa outra molécula seja lançado para um orbital
mais elevado (Figura 5.5).

Figura 5.5– Energia da


Moléculas ressonância de clorofila a
Energia clorofila e o fluxo de elétrons
de pigmentos
Luminosa ao longo da cadeia de
transportadores de elétrons,
culminando na formação de
ATP e NADPH.

Transferência
de energia
Clorofila a Transferência de energia
durante a fotossíntese.
Organização das moléculas
Receptor de pigmentos na membrana
de elétrons e−
dos tilacoides.

Transportador de e−

Transportador de e− Transportador de e−
P700
Transportador de e− Transportador de e−
H+
P680 Transportador de e− 2e- Transportador de e−
H2O
2e− Transportador de e−
Complexo
2H+ citocromo b6/f NADP++H+

Aceitador de e− NADPH
1/2O2
2e−
H+ P700
H+
H+
H+
ATP

Fotossistema II Fotossistema I

O fluxo de elétrons ao longo dos transportadores gera


energia para ocorrer a fosforilação do ADP em ATP.
84 Fisiologia Vegetal

Esse processo vai ocorrendo sucessivamente na antena de cada


fotossistema até a energia chegar a uma clorofila a especial deno-
minada P700, localizada no fotossistema I, e P680, localizada no
fotossistema II. Dessa forma, o sistema de coleta de fótons, deno-
minado de antena, canaliza a energia absorvida pelas 50 a 1.000
moléculas de clorofilas para o centro de reação (P700 e P680).
Nesse centro, ocorre a liberação de um elétron desses pigmentos, o
qual é transportado por uma cadeia de transportadores pela mem-
brana dos tilacoides, como comentado anteriormente (Figura 5.6).

H+

Estroma do cloroplasto Pi
H+ ATP
NADPH ADP
NADP
Ferredoxina —NADP+—REDUTASE

hν H+ hν
Citocromo e− FNR ATP
Fd sintetase
P680 P700
e− PQ b₆f
e−
FSII PQH₂ e− FSI

EQA Plastoquinona PC
Plastocianina
H+
H₂O O₂ H + H+

Enzima de quebra
da água
Lúmen do tilacoide

Figura 5.6 – Caminho dos elétrons do fotossistema II até o fotossistema I. Quando fótons de luz incidem
na antena coletora do fotossistema II, elétrons são ejetados pelo P680 e repassados à plastoquinona. A
plastoquinona (PQ) simultaneamente aceita os íons H+ e fica reduzida a PQH2, e, então, libera prótons H+ para
o interior do tilacoide (lúmen). Então, forma-se um gradiente eletroquímico e de pH de um lado e de outro da
membrana do tilacoide, gerando energia para a ativação da ATP sintetase e síntese de ATP. A PQH2 transfere os
elétrons para o citocromo bf, que os transfere para a plastocianina (PC) e esta para o fotossistema I, repondo
os elétrons perdidos pelo P700. O P700 perde elétrons quando fótons de luz colidem com a antena coletora
do fotossistema I e fazem o P700 ejetar elétrons que são capturados pela ferredoxina (Fd), a qual os transfere
para uma enzima que reduzirá o NADP (FNR). Enquanto isso, a ATP sintetase coloca prótons H+ no estroma, os
quais formarão NADPH e simultaneamente ATP. Os elétrons perdidos pelo P680 são repostos pelo hidrogênio
da água, que é quebrada em O2 e H pela enzima de quebra de água (EQA).
Fotossíntese 85

5.5 Fixação do carbono atmosférico pelo


processo fotossintético
Há três formas de fixação do gás carbônico atmosférico (CO2)
pelo processo fotossintético em plantas, dependendo do tipo de
planta. Essas formas foram denominadas C3, C4 e CAM, e as plan-
tas onde essas formas ocorrem foram denominadas de plantas C3,
plantas C4 e plantas CAM, respectivamente.

Plantas C3
O primeiro produto estável da fase bioquímica da fotossíntese
que contém o carbono do CO2 atmosférico é um composto forma-
do por três carbonos, o ácido 3-fosfoglicérico (3-PGA). Nas plan-
tas C3, o carbono do gás carbônico é fixado através do Ciclo de
Calvin-Benson, em que o carbono de uma molécula de CO2, atra-
vés de uma reação de carboxilação, catalizada pela enzima RUBIS-
CO (ribulose bifosfato carboxilase-oxigenase), é colocado em uma
molécula de cinco carbonos, a ribulose 1,5-bisfosfato (RUBP), for-
mando um composto instável de seis carbonos. Esse composto é
quebrado em duas moléculas de três carbonos, o ácido fosfoglicé-
rico (APG), e em cada molécula de APG é adicionado um fósforo
vindo do ATP e um hidrogênio vindo do NADPH, formando duas
moléculas de gliceraldeído-3-fosfato (PGald), o primeiro açúcar
da fotossíntese. Essa fase do Ciclo de Calvin-Benson é chamada
de fase de redução do carbono. Através de reações de regeneração,
novas moléculas de RUBP são formadas, numa fase do Ciclo de
Calvin-Benson chamada de regeneração (Figura 5.7). As plantas
C3 são a maioria das plantas fotossintetizantes do nosso planeta e
necessitam de boa disponibilidade de água e temperaturas amenas
para atingir as suas maiores taxas de fotossíntese (Tabela 5.1).

Plantas C4
O primeiro produto estável que contém o carbono do CO2 at-
mosférico é um composto com 4 carbonos, o ácido oxalacético.
Nessas plantas, o carbono atmosférico é incorporado numa mo-
lécula de ácido fosfoenol pirúvico, que possui 3 carbonos, através
86 Fisiologia Vegetal

Figura 5.7 – Ciclo fotossintético


6CO₂
em plantas C3, mostrando a
6H₂O
incorporação do carbono do
6
Ribulose 1,5-bifosfato CO2 atmosférico pela molécula
(RuBP) de ribulose bifosfato, através da
Carboxilação
Ácido 3-fosfoglicérico
enzima RUBISCO, formando duas
12
ADP (APG) moléculas de ácido fosfoglicérico
para cada carbono incorporado (fase
ATP
de carboxilação). As moléculas de
ATP
ácido fosfoglicérico são fosforiladas
6 Ribulose 5-fosfato
Ciclo de Calvin e reduzidas para dar origem ao
(RuP) ADP gliceraldeído fosfato (fase de
redução), o primeiro açúcar da
Re

H₂O

o
uçã
ge

fotossíntese. Assim, quando 6


ne

R ed
ra

10 PGAL CO2 são fixados, são geradas 12


ção

Glicose 2 PGAL Ácido 1,3-difosfoglicérico moléculas de gliceraldeído fosfato.


12
(ADPG) Duas moléculas de gliceraldeído
Gliceraldeído 3-fosfato fosfato são utilizadas para gerar uma
12
(PGAL) NADPH + H+ molécula de glicose, e o restante
NADP+ para regenerar a ribulose bifosfato
(fase de regeneração).

Tabela 5.1 – Características das plantas C3, C4 e CAM


Características C3 C4 CAM
Bainha vascular Células paliçádicas e vacúolos
Anatomia foliar Bainha kranz
não é distinta grandes no mesófilo
PEPcase (mesófilo) Noite – PEPcase
Enzimas de carboxilação RUBISCO no mesófilo
RUBISCO (Bainha V) Dia – RUBISCO
Taxas de fotossíntese *
Até 20 de 30 a 40 Baixa e variável
(μmol CO2 m–2 s–1 )
Saturação de fotossíntese Sim, com ½ a ¼
Não ** Sim
pela luz solar máxima da luz solar
Inibição da assimilação de
Sim Não Sim, no final da tarde
CO2 por 21% de O2 ***
Detecção de fotorrespiração Sim Apenas na BV No final da tarde
Temperatura ótima
15 - 25ºC 30 - 47ºC ~ 35ºC
para a fotossíntese
Produção de biomassa
22 ± 0.3 39 ± 17 Baixa e muito variável
ton/hectare/ano
Taxa de transpiração
450 - 950 250 - 350 180 - 125
(Gh2O/g aumento de massa seca)
Eficiência de uso de água 1- 3 g CO2/kg H2O 2 - 5 g CO2/kg H2O 6 - 30 g CO2/kg H2O

* A taxa de fotossínte é dada pela concentração de CO2 fixado por área por segundo.
** Em codições ambientais, as plantas C4 não mostram saturação das taxas de fotossíntese, que podem
ser aumentadas mais um pouco se fornecermos mais luminosidade a essas plantas.
*** O O2 atmosférico aumenta a fotorrespiração e reduz a assimilação de CO2.
Fotossíntese 87

da enzima fosfoenolpiruvato carboxilase (PEPcase), formando o


ácido oxalacético (AOA). O ácido oxalacético é rapidamente redu-
zido a ácido málico ou a ácido aspártico (dependendo da espécie
vegetal). Os ácidos málico ou aspártico são convertidos a ácido
pirúvico, liberando uma molécula de CO2. Esse ciclo de incorpo-
ração do gás carbônico atmosférico em plantas C4 é chamado de
Ciclo de Hatch e Slack. Após a liberação do CO2 pelo Ciclo de Ha-
tch e Slack, este penetra no Ciclo de Calvin-Benson, sendo incor-
porado pela enzima RUBISCO numa molécula de ribulose bifos-
fato, resultando em duas moléculas de ácido fosfoglicérico (PGA).
Dessa forma, toda planta C4 possui o Ciclo de Calvin-Benson
como as C3. As plantas C4 são principalmente gramíneas tropi-
cais, como o capim-colonião, o capim-elefante, o milho, o sorgo, a
cana-de-açúcar, mas há também dicotiledôneas, como o caruru, o
amendoim-bravo, a erva-de-santa-luzia e a erva-tostão.
A anatomia foliar de plantas C3 e C4 possui algumas diferenças
(Figura 5.8). Nestas últimas, a camada (bainha) de células paren-
quimáticas que envolvem os feixes vasculares possui cloroplastos.
Nas C3, a bainha parenquimática não possui cloroplastos. Esse
tipo de anatomia foliar é chamada anatomia kranz, pois a visão
da bainha vascular ao microscópio em cortes transversais dessas
folhas lembra uma coroa de flores (em alemão, kranz).

Xilema Epiderme

Cloroplasto

Células da
bainha vascular Floema

Células do
mesófilo
Epiderme

Figura 5.8 – Corte transversal de folhas de planta C4 evidenciando a bainha vascular com cloroplastos (à esquerda). Corte
transversal de uma folha de planta C3, evidenciando a bainha vascular (BV) sem cloroplastos (à direita).
88 Fisiologia Vegetal

Nas plantas C4, a RUBISCO é confi-


nada às células da bainha vascular, por- CO2
tanto o Ciclo de Calvin-Benson ocorre
apenas nessas células. Esse aspecto é
muito importante para a produtividade
das plantas C4, pois a liberação do CO2
pelo Ciclo de Hatch e Slack também
ocorre na bainha vascular. Esse fato
ocasiona a concentração de uma grande
quantidade de CO2 onde está localizada
a RUBISCO, aumentando a afinidade
desta pelo CO2 e, assim, aumentando a Ácido Fosfoenol
Oxaloacético piruvato (PEP)

Célula do mesófilo
formação de açúcar (Figura 5.9). Como
NADPH + H+ AMP + 2P
a primeira enzima tem uma afinidade
muito alta pelo CO2 atmosférico, essas Ácido
NADP ATP
Ácido
plantas são mais eficientes no aprovei- Málico Pirúvico
tamento de água que as plantas C3, pois
podem fixar CO2 com os estômatos
Ácido Ácido
parcialmente fechados e assim econo- Pirúvico

Célula da bainha
Málico
mizam água. Elas apresentam maiores NADP
CO2
taxas de fotossíntese que plantas C3. A
NADPH + H+ PGA (fosfoglicerato)
enzima PEPcase funciona em altas tem- RuBP Ciclo
de
peraturas e essas plantas apresentam as Calvin Hidrato de
mais altas taxas de fotossíntese entre 30 Carbono
(hexose)
a 47ºC (Tabela 5.1).
Figura 5.9 – Metabolismo de plantas C4.
Plantas CAM
As plantas CAM (sigla em inglês) ou MAC (Metabolismo Ácido
das Crassuláceas, sigla em português) apresentam o metabolismo Receberam esse nome por
terem sido primeiro descritas
ácido das crassuláceas. Nessas plantas, o gás carbônico atmosféri-
nesta família de plantas.
co, à semelhança do que ocorre em plantas C4, também é captura-
do pela enzima PEPcase e o carbono colocado numa molécula de
ácido fosfoenol pirúvico, formando ácido oxalacético. Além das
crassuláceas, espécies de outras famílias também podem apresen-
tar metabolismo CAM. São espécies suculentas de deserto ou de
habitats sujeitos a secas periódicas. As plantas do tipo CAM fe-
cham os estômatos durante o dia e os abrem durante a noite, esto-
Fotossíntese 89

cando neste período o CO2 absorvido na forma de ácido málico.


Durante o dia, o ácido málico é descarboxilado, transformando-se
em ácido pirúvico, e o CO2 liberado é incorporado ao Ciclo de
Calvin-Benson ou Ciclo C3 pela enzima RUBISCO, que funciona
somente durante o dia. Dessa forma, essas plantas não transpiram
durante o dia e armazenam água, já que vivem em ambientes com
limitações de água. Essas plantas são as mais eficientes no aprovei-
tamento da água para o seu crescimento (Figura 5.10; Tabela 5.1).

5.6 Fotorrespiração
A pesquisa científica em fotossíntese mostrou-nos que o proces-
so fotossintético é relativamente ineficiente. Por exemplo, a eficiên-
Figura 5.10 – Metabolismo de cia de ganho de carbono em um campo de milho durante a época
plantas CAM.

ESCURO (Noite) LUZ (Dia)


Descarboxilação do
Assimilação do CO CO2 CO2 malato armazenado CO2 CO2
atmosférico através CO2 e refixação do CO CO2
dos estômatos: CO2 CO2
acidificação noturna CO2 CO2
CO2 CO2
CO2 CO2
CO2 CO2

Células Células
epidérmicas epidérmicas

Os estômatos abertos Os estômatos fechados


permitem a entrada de impedem a entrada de
CO2 e a saída de H2O CO2 e a saída de H2O

HCO3− PEP Pi
carboxilase
Malato
PEP Oxalacetato CO2
NADH Ácido
NAD* málico
Triose fosfato
Ácido
Malato Piruvato málico
Amido Ciclo de
Calvin
Plastos Vacúolo Plastos Amido Vacúolo

Célula do mesófilo Célula do mesófilo


90 Fisiologia Vegetal

de crescimento é apenas de 1 a 2% da energia solar incidente. Cloroplasto


Nos campos não cultivados, a eficiência é de apenas 0,2%. A
cana-de-açúcar possui uma eficiência de 8%. A maior fonte
de perda da energia solar pelos vegetais é a fotorrespiração.
Ribulose
A fotorrespiração é decorrente da função da enzima RU- 1,5 difosfato
O2
BISCO como oxigenase que leva à perda de CO2. Como essa RuBP
carboxilase
enzima só é ativa na presença da luz, essa perda de CO2 pela
fotorrespiração só ocorre durante o dia.
Ácido glicólico
Na presença da luz, a RUBISCO pode funcionar como car-
boxilase e oxigenase. Neste último caso, ela promove a incor-
poração do oxigênio numa molécula de ribulose bifosfato, le-
vando à formação de uma molécula de dois carbonos, o ácido
fosfoglicólico, e uma molécula de três carbonos, o ácido fos-
Peroxissoma
foglicérico. Este último é utilizado no Ciclo de Calvin-Ben-
son, mas o ácido fosfoglicólico é rapidamente convertido em Ácido glicólico
O2
ácido glioxílico e este, em glicina. Duas moléculas de glicina
se unem para formar uma molécula de serina, nas mitocôn-
Peróxido de
drias, liberando um CO2 (Figura 5.11). O CO2 e o O2 molecu- H2O2 hidrogênio
Glicina
lares competem pelo sítio ativo da RUBISCO. Em condições
atmosféricas normais (0,036% de CO2 e 21% de O2) e sob tem- ½O2
H2O
peraturas moderadas (20-25ºC), a proporção entre as funções
carboxilase e oxigenase é de cerca de 3:1. A fotorrespiração
pode ocasionar uma diminuição na assimilação líquida de
carbono de 20 a 50% nas plantas C3; nas C4, a diminuição 2 glicinas
não ocorre ou é muito baixa, pois a fotorrespiração acontece
somente nas células da bainha perivascular, e o CO2 liberado Serina + CO2 + NH4+

por esse processo é novamente fixado pela própria RUBISCO


Mitocôndria
ou então pela PEPcase do mesófilo foliar, fato que explica as
altas taxas de fotossíntese em plantas C4 que podem ser o do-
Figura 5.11 – Reações da fotorrespiração.
bro das taxas encontradas em plantas C3.

5.7 Fatores que afetam a fotossíntese


A fotossíntese é afetada por vários fatores, tais como a intensi-
dade luminosa, a temperatura e a concentração de gás carbônico
no ar. Por exemplo: em uma planta mantida em um ambiente com
Fotossíntese 91

temperatura e concentração de CO2 constantes, a quantidade de


fotossíntese realizada passa a depender exclusivamente da lumi-
nosidade. Entretanto, na natureza, os fatores analisados estão to-
dos presentes ao mesmo tempo no ambiente, e os componentes
limitantes podem ser dois ou mais concomitantemente. O que se
procura analisar, nas condições naturais, é qual delas influi de ma-
neira mais decisiva como fator limitante da fotossíntese.

Temperatura
Qualquer temperatura abaixo ou acima da ótima resulta em
condição limitante para as reações de fotossíntese. Abaixo da tem-
peratura ótima a energia cinética das moléculas reagentes (CO2,
H2O) é insuficiente para conseguir o rendimento químico. Acima
da temperatura ótima as enzimas vão se desnaturando, podendo
até parar as reações (Figura 5.12).

Concentração de CO2
No ar atmosférico, há uma mistura de gases composta por 78%
de dinitrogênio (N2); 21% de oxigênio (O2) e 0,036% de dióxido de
carbono (CO2). Entretanto, como pode ser visto na Figura 5.13, a
concentração ótima para a fotossíntese é de 0,2% de CO2, já que
acima dessa concentração a taxa de fotossíntese é estabilizada. En-
tão, na natureza há menos gás carbônico do que seria possível às
plantas utilizarem. Por isso, se diz que em condições naturais o gás
carbônico é limitante para a fotossíntese. A construção do gráfico
do efeito do gás carbônico na fotossíntese só foi possível em con-
Taxa de Fotossíntese

Taxa de Fotossíntese

10 20 30 40 °C 0,1 0,2 0,3 0,4 % de CO2


Temperatura

Figura 5.12 – Efeito da temperatura na Figura 5.13 – Efeito do gás carbônico na


taxa fotossintética. taxa fotossintética.
92 Fisiologia Vegetal

dições experimentais de laboratório, em que pode ser elevada a


concentração de gás carbônico acima daquela que ocorre no am-
biente natural.
A concentração do CO2 no ar atmosférico exerce contribuição
importante para a temperatura ambiente. Os estudiosos estimam
que se essa concentração chegar em torno de 0,05% o calor será su-
ficiente para descongelar uma parcela das calotas polares, fazendo
subir o nível dos mares, o que provocaria inundações catastróficas.

Intensidade luminosa
À medida que a intensidade de luz vai aumentando, a
taxa de fotossíntese vai aumentando até que essa taxa não

Taxa de fotossíntese
aumenta mais. É nesse ponto que ocorre a saturação de luz saturação de luz
na fotossíntese (Figura. 5.14). Acima dessa intensidade
ótima já não haverá mais melhoria na taxa de rendimento.
Abaixo dessa intensidade, ou seja, do ponto de saturação
de luz, a quantidade de luz é insuficiente para uma fotos- Intensidade de luz
síntese ótima.
Figura 5.14 – Efeito da intensidade de luz
na taxa fotossintética.

Resumo
No processo fotossintético, as plantas convertem a energia solar
em energia química, a qual pode ser armazenada e utilizada pos-
teriormente. Isso ocorre nos cloroplastos em duas etapas, a fototo-
química e a química. A etapa fotoquímica ocorre nas membranas
internas do cloroplasto, chamadas tilacoides. Nesses tilacoides,
existem quatro complexos proteicos, o fotossistema I, o fotossis-
tema II, o citocromo bf e a ATP sintetase. Nos fotossistemas estão
as antenas coletoras de luz, compostas pelos pigmentos clorofilas e
carotenoides, e no centro de cada fotossistema está o centro de re-
ação, onde se localizam as clorofilas do tipo a, P700 (fotossistema
I) e P680 (fotossistema II). Na fase fotoquímica, os produtos finais
são o ATP e o NADPH. O hidrogênio do NADPH vem da fotólise
da água, a qual libera prótons H+, elétrons e oxigênio. Os elétrons
caminham por uma cadeia de transportadores de elétrons para re-
duzir o NADP, e o próton H+ se junta ao NADP reduzido depois de
Fotossíntese 93

passar do lúmen do tilacoide para o estroma do cloroplasto através


da enzima transportadora ATP sintetase. Enquanto a ATP sinteta-
se transporta o H+ ela sintetiza um ATP. O NADPH e o ATP são
utilizados na segunda fase da fotossíntese, a fase química, em que
o gás carbônico é reduzido a um açúcar, o gliceraldeído 3-fosfato,
através do Ciclo de Calvin-Benson. Nesse ciclo, uma molécula de
CO2, através de uma reação de carboxilação, catalizada pela enzi-
ma RUBISCO, é colocada em uma molécula de cinco carbonos,
a ribulose 1,5-bifosfato (RUBP), formando um composto instável
de seis carbonos. Esse composto é quebrado em duas moléculas de
três carbonos, o ácido fosfoglicérico (APG), e em cada molécula
de APG é adicionado um fósforo vindo do ATP e um hidrogênio
vindo do NADPH, formando duas moléculas de gliceraldeído-3-
fosfato (PGald), o primeiro açúcar da fotossíntese. Há três formas
de fixação de gás carbônico atmosférico (CO2) pelo processo fo-
tossintético em plantas, dependendo do tipo de planta. Essas for-
mas foram denominadas C3, C4 e CAM.
A maior fonte de perda da energia solar pelos vegetais é a fotor-
respiração, que é decorrente da função da enzima RUBISCO como
oxigenase que leva à perda de CO2. Como essa enzima só é ativa na
presença da luz, essa perda de CO2 pela fotorrespiração só ocorre
durante o dia.
A fotossíntese é afetada por vários fatores, tais como a intensi-
dade luminosa, a temperatura e a concentração de gás carbônico
no ar. Por exemplo: em uma planta mantida em um ambiente com
temperatura e concentração de CO2 constantes, a quantidade de
fotossíntese realizada passa a depender exclusivamente da lumi-
nosidade. Entretanto, na natureza, os fatores analisados estão to-
dos presentes ao mesmo tempo no ambiente, e os componentes
limitantes podem ser dois ou mais concomitantemente. O que se
procura analisar, nas condições naturais, é qual delas influi de ma-
neira mais decisiva como fator limitante da fotossíntese.
94 Fisiologia Vegetal

Referências
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
c a p í t u lo 6
c a p í t u lo 6
Transporte no floema
Neste capítulo, veremos como ocorre o carregamento e o
descarregamento de substâncias no floema para serem por
ele transportadas e a principal teoria que explica como se dá
o transporte dessas substâncias pelo floema.
Transporte no floema 99

6.1 Introdução
O floema transporta diversos tipos de substâncias, mas o prin-
cipal soluto transportado é a sacarose. A concentração de sacarose
transportada varia entre 0,3 a 0,9 M. Além da sacarose, o floema
transloca outros açúcares não redutores (pois são menos reativos),
tais como: rafinose (sacarose + galactose), estaquiose (sacarose + 2
galactoses) e verbascose (sacarose + 3 galactoses). Açúcares cujos
grupos aldeído e cetonas foram reduzidos a álcool (manitol, sorbi-
tol) também são translocados.
O floema também é um importante transportador de nitrogê-
nio. O nitrogênio ocorre no floema na forma de aminoácidos (glu-
tamato e aspartato) e aminas (glutamina, asparagina), mas nunca
na forma de nitrato. Proteínas essenciais para o funcionamento ce-
lular (tiorredoxina, quinases, ubiquitina, chaperonas) também são
translocadas. Além do nitrato, o floema também não transporta os
íons cálcio (Ca2+), sulfato (SO42–) e férrico (Fe3+), mas transporta
muitos nutrientes minerais, como os íons magnésio (Mg2+), fosfa-
to (PO43–), cloro (Cl–) e potássio (K+).

6.2 Carregamento no floema


A anatomia do floema é importante para entender como se dá
o carregamento de substâncias a serem por ele transportadas. As
principais células que compõem o floema são os elementos de tubo
100 Fisiologia Vegetal

crivado e as células companheiras, mas


ainda existem células parenquimáticas
e, em alguns casos, fibras, esclereídeos e
lactíferos. Os elementos de tubo crivado Proteína-P
sempre vêm acompanhados de uma ou citoplasmática
mais células companheiras (Figura 6.1),
e esse fato é importante para o carrega- Retículo
mento de substâncias no floema. endoplasmático
Plastídeo
Os açúcares oriundos da fotossíntese modificado
devem migrar das células do mesófilo
Plasmodesmo
para a vizinhança dos tubos crivados, nas ramificado
nervuras terminais das folhas e entrar Membrana
plasmática
no complexo célula companheira-tubo Vacúolo
crivado. Para entrar nesse complexo, as
substâncias podem vir caminhando cé- Célula
lula a célula, através dos plasmodesmos, companheira

via simplástica, ou podem vir por entre


Parede celular
as células e penetrarem no complexo primária
por transporte ativo, via apoplástica (Fi- Núcleo
gura 6.2).
Em plantas com via apoplástica, a Placa crivada
sacarose do apoplasto entra no com-
plexo célula companheira-tubo crivado Mitocôndria

através de uma proteína transportadora


Figura 6.1 – Esquema
localizada na membrana plasmática do complexo, a qual coloca evidenciando célula do
sacarose para dentro enquanto faz o mesmo com prótons hidrogê- elemento de tubo crivado e de
uma célula companheira.
nio (Figura 6.3). Para isso, há a necessidade da proteína catalítica
ATPase de hidrogênio para manter a atividade da proteína trans-
portadora (ver no Capítulo 4 o transporte pela membrana do tipo
simporte).
Uma questão interessante é o porquê da existência de dois ti-
pos de carregamento (simplástico e apoplástico). Sabemos que o
carregamento simplástico é mais comum em árvores e arbustos da
região tropical úmida. Por outro lado, o carregamento apoplásti-
co predomina em plantas herbáceas de regiões temperadas e zonas
áridas. Uma das hipóteses para explicar a existência de tipos dife-
rentes de carregamento seria uma adaptação à temperatura e à seca.
Transporte no floema 101

Carregamento simplástico e apoplástico Sistema


vascular
Rota apoplástica

Plasmodesmo Elemento
Células seiva
companheiras
Carregamento
ativo

Rota simplástica

Célula do parênquima
do floema
Célula da bainha vascular
Célula mesofílica Membrana plasmática

Figura 6.2 – Caminho de substâncias pela via


apoplástica (substâncias caminham por fora
das células) e simplástica (substâncias passam
de célula a célula via plasmodesmos).

H+-ATPase

ATP

H+ H+

ADP + Pi

Carregador simporte
da sacarose

Figura 6.3 – Carregamento de sacarose das H+ H+


células do mesófilo para o complexo célula
companheira-elemento de tubo crivado. Para
o exterior do complexo a bomba de prótons Sacarose Sacarose
(ATPase) bombeia H+ para fora da célula. A
proteína transportadora traz o H+ para dentro
do complexo e ao mesmo tempo transporta Alta concentração Baixa concentração
sacarose para dentro do complexo por simporte. de H+ de H+
102 Fisiologia Vegetal

6.3 Descarregamento do floema


O descarregamento de compostos que ocorre nos drenos pode
ser do tipo simplástico ou apoplástico. A ocorrência de descarre- Regiões de metabolismo ou
armazenamento. Exemplos de
gamento simplástico ou apoplástico varia de acordo com a espécie drenos são raízes, tubérculos,
vegetal, o tipo de tecido ou órgão e a fase de desenvolvimento. frutos em desenvolvimento,
folhas imaturas e ápices que
No descarregamento apoplástico, pode haver necessidade de gasto têm de importar carboidratos
de energia para que os assimilados atravessem membranas, sendo para um desenvolvimento
normal.
necessárias a atuação de uma proteína transportadora e a presença
de ATPases para manter um gradiente de prótons hidrogênio (H+)
para que a proteína transportadora possa funcionar.

6.4 Transporte de substâncias pelo floema


O transporte pelo floema é feito sempre no sentido da fonte
para o dreno, e os drenos mais “fortes” recebem mais nutrientes.
As fontes normalmente são órgãos fotossintetizantes, como as fo-
lhas. Como exemplos de drenos, temos: tecidos vegetativos que
estão em crescimento (ápices radiculares e folhas jovens); tecidos
de armazenamento (raízes e caules) na fase em que estão impor-
tando; unidades de reprodução e dispersão (frutos e sementes).
Na região da fonte, o floema é carregado com açúcares de maneira
que o potencial de água no floema fica mais baixo que nas células
do mesófilo ao redor. Esse fato faz com que água das células do
mesófilo penetre nas células do floema devido a uma diferença de
potencial de água (ver no Capítulo 1 o que determina a movimen-
tação de água). Na região do dreno, os açúcares saem do floema, e
esse fato leva a um aumento do potencial de água nesta região do
floema, fazendo com que a água saia do floema para o mesófilo.
A alteração no potencial de água da região de fonte e dreno cria
um gradiente de pressão entre a região da fonte e a região do dre-
no do floema (Figura 6.4). Esse gradiente de pressão existente é o
princípio que norteia a teoria de transporte no floema por fluxo de
pressão, proposta por Münch em 1926 (Figura 6.5).
Transporte no floema 103

Xilema Floema

Célula Fonte
companheira (célula folha)
Água

Sacarose

Elementos de tubo crivado


Figura 6.4 – Transporte de substâncias pelo
floema. Na região da fonte, a sacarose sai do
mesófilo e penetra na célula companheira e
desta no elemento do tubo crivado. O aumento
de sacarose no elemento de tubo crivado
provoca a entrada de água nesta célula. Na
região do dreno, a sacarose sai do elemento do
tubo crivado, diminuindo a concentração desta
e provocando a saída de água. A diferença de
pressão de turgescência entre os elementos do Água
floema na região da fonte e do dreno provoca a
movimentação da água e com ela as substâncias Célula Dreno
dentro do elemento de tubo crivado. companheira (célula da raiz)

Recipiente A Recipiente B

Figura 6.5 – Demonstração da teoria


de Münch. O recipiente A representa a
porção do floema localizada na região Solução
da fonte de síntese de produtos da Solução diluída
fotossíntese e o recipiente B, a porção concentrada
do floema localizada na região de
dreno, de utilização dos compostos
da fotossíntese. A água entrando
na região da fonte empurra as
substâncias para a região do dreno.
104 Fisiologia Vegetal

Os fatores que definem a força do dreno são:


a) Proximidade: Normalmente as fontes translocam nutrientes
para os drenos que estão mais próximos delas. Uma consequ-
ência prática disso é que folhas que sombreiam outras folhas
mais próximas dos drenos de interesse devem ser eliminadas.
Isso ocorre em videira, onde as folhas próximas aos cachos são
as responsáveis pela qualidade dos frutos. Como critério geral,
as folhas da porção superior da planta costumam translocar nu-
trientes para as folhas novas e caules em crescimento, e as folhas
da porção basal tendem a exportar para o sistema radicular.
b) Desenvolvimento: Durante a fase vegetativa, os maiores dre-
nos são raízes e ápices caulinares. Na fase reprodutiva, os frutos
se tornam dominantes.
c) Conexão vascular: Fontes translocam assimilados preferen-
cialmente para drenos com os quais elas têm conexão vascular
direta.

Resumo
O floema transporta diversos tipos de substâncias, mas o prin-
cipal soluto transportado é a sacarose. Outras substâncias translo-
cadas são os açúcares rafinose, estaquiose e verbascose, açúcares
álcoois, como manitol e sorbitol. O nitrogênio é transportado, na
forma de aminoácidos (glutamato e aspartato), aminas (glutami-
na, asparagina) e proteínas essenciais para o funcionamento ce-
lular (tiorredoxina, quinases, ubiquitina, chaperonas). Muitos nu-
trientes minerais, como os íons magnésio (Mg2+), fosfato (PO43-),
cloro (Cl-) e potássio (K+), também são transportados.
Os elementos de tubo crivado sempre vêm acompanhados de
uma ou mais células companheiras, e esse fato é importante para
o carregamento de substâncias no floema. Os açúcares devem mi-
grar das células do mesófilo até o complexo célula companheira-
tubo crivado. Para entrar nesse complexo, as substâncias podem
vir caminhando célula a célula, através dos plasmodesmos (via
simplástica) ou podem vir por entre as células e penetrarem no
complexo por transporte ativo (via apoplástica).
Transporte no floema 105

Em plantas com via apoplástica, a sacarose do apoplasto entra


no complexo célula companheira-tubo crivado através de uma
proteína transportadora e, para isso, há a necessidade de gasto de
ATP através da proteína catalítica ATPase de hidrogênio. O des-
carregamento dos compostos na região dos drenos pode ser do
tipo simplástico ou apoplástico, à semelhança do que ocorre no
carregamento do floema.
O transporte pelo floema é feito sempre no sentido da fonte para
o dreno. O transporte de materiais no floema tem sido explicado
pela teoria do fluxo de massa, proposta por Münch em 1926. Essa
teoria considera que os movimentos se devem à existência de um
gradiente de concentração de sacarose, ou seja, uma diferença de
concentração de sacarose que se estabelece entre um órgão produ-
tor de açúcar, onde o seu nível é alto, e um local de consumo desse
mesmo açúcar, onde sua utilização é alta. A glicose elaborada nos
órgãos fotossintetizantes, como as folhas, é convertida em sacaro-
se e transferida do mesófilo para os elementos dos tubos crivados
(ou crivosos) por transporte ativo, com a ajuda das células compa-
nheiras e parenquimatosas. O aumento de concentração de açúcar
no floema causa a entrada de água, vinda do xilema e das células
vizinhas, o que causa o transporte da seiva elaborada através das
placas crivosas (ou crivadas), para uma região de pressão menor.
Nos locais de consumo, a sacarose é retirada. A saída dos açúcares
torna as células do floema com potencial de água aumentado, e a
água tem tendência a sair para as células vizinhas.

Referências
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
c a p í t u lo 7
c a p í t u lo 7
Regulação do crescimento e do
desenvolvimento
Neste capítulo, estudaremos os principais mecanismos de
ação e as principais funções dos hormônios vegetais, os men-
sageiros químicos primários, no controle das respostas de
crescimento e desenvolvimento das plantas.
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 109

7.1 Introdução
As sementes contêm as futuras plantas. O embrião é considerado
uma planta em miniatura. Vamos considerar que o primeiro pro-
cesso da vida de uma planta seja a germinação da semente. Esta vai
inicialmente originar uma planta jovem ou plântula. Essa plântula
que recém emergiu segue seu destino, ou seja, crescerá, produzirá
flores e sementes, suas folhas entrarão em senescência e finalmente
morrerá. Há espécies que podem viver durante séculos e outras
que morrem após florescerem. Essas são as etapas de crescimento
e desenvolvimento que constituem o ciclo de vida da planta.
O ciclo completo de vida de uma planta envolve uma série de
eventos, geneticamente programados, mas altamente controlados
por fatores ambientais ou exógenos e fatores intrínsecos ou endó-
genos. Por sua vez, os próprios fatores exógenos podem alterar a
síntese e os níveis de fatores endógenos.
Durante o ciclo de vida da planta, seus meristemas sofrerão di-
visão celular e produzirão novas células: estas sofrerão processos
de alongamento e diferenciação celular. Esses eventos ocorrem de-
vido à expressão de determinados genes, síntese de enzimas espe-
cíficas e sua ativação e estão sempre ocorrendo na organogênese
(formação de órgãos vegetais), no crescimento dos órgãos vege-
tais, na sua senescência (envelhecimento) e na sua morte.
Os principais fatores exógenos que controlam o ciclo de vida
de uma planta são: luz, temperaturas, água e nutrição mineral. Os
110 Fisiologia Vegetal

fatores endógenos que regulam o ciclo de vida de uma planta são


os hormônios vegetais ou fitormônios, também conhecidos como
mensageiros primários.
Hormônios vegetais ou fitormônios são substâncias produzidas
pelas plantas, que geralmente em baixas concentrações causam
respostas fisiológicas. Já os reguladores de crescimento são subs-
tâncias sintéticas que atuam como um hormônio.
São efetivos em quantidades extremamente pequenas. São com-
postos orgânicos produzidos em uma parte da planta podendo
agir no próprio local de síntese ou podendo ser transportados para
outra, onde irão induzir respostas fisiológicas. Em concentrações
baixas, promovem, inibem ou modificam qualitativamente o cres-
cimento. Seu estudo é muito complexo, pois seus efeitos se sobre-
põem, podendo ser antagônicos, sinergísticos e variáveis confor-
me a concentração do hormônio. Atualmente, os estudos sobre a
ação dos hormônios vegetais utilizam técnicas de biologia celular e
molecular, bem como o uso de plantas mutantes. A planta que tem
sido mais usada como planta modelo para a pesquisa em Biologia
Vegetal é a Arabidopsis thaliana (L.) Heynh, apresentada na capa
deste capítulo. É uma dicotiledônea anual que pertence à família
Brassicaceae e se encontra distribuída por vários continentes, prin-
cipalmente nas regiões temperadas do Hemisfério Norte.

7.2 Mecanismo de ação dos hormônios


Os hormônios são considerados sinais endógenos. Os sinais
precisam ser percebidos e transformados nas células pela seguinte
sequência de eventos:
a) O hormônio deve estar presente em quantidades suficientes
nas células;
b) Deve ser reconhecido e ligado firmemente aos receptores pro-
teicos presentes na membrana plasmática das células alvos, que
são as que respondem ao hormônio;
c) Após a formação do complexo hormônio-proteína receptora,
ocorrerá amplificação da mensagem do hormônio.
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 111

A amplificação ocorre pela formação, liberação ou ativação de


diversas substâncias conhecidas como mensageiros secundários.
Um dos efeitos de amplificação é a ativação de determinados genes,
por exemplo, a ativação do gene que codifica a enzima α-amilase,
responsável pela hidrólise de amido na camada de aleurona de ce-
reais. Outra função importante dos hormônios vegetais é a ativa-
ção do ciclo celular através da expressão de genes que codificam
enzimas imprescindíveis para a mudança das fases do ciclo celular.
Os principais mensageiros secundários são: AMP cíclico
(cAMP), diacilglicerol (DAG), inositol fosfato (IP3) e o íon Ca+2
(Figura 7.1). Sua síntese ou liberação segue os seguintes eventos:
a) Complexo hormônio-receptor ativa a enzima fosfolipase C
(PLC);
b) PLC hidrolisa o fosfolipídio de membrana celular, fosfotidil
inositol-bifosfato (PIP2), que produz inositol-trifosfato (IP3) e
diacilglicerol (DAG);
c) O IP3 é solúvel em água e estimula a liberação de Ca2+ vacuolar;
d) Aumentos de Ca2+ no citosol ativam várias enzimas.

Espaço externo
PIP2 DAG

PLC
P P
P Resposta celular
P P
Citosol IP3 P Ca2+

Canal de Ca2+ IP3


Vacúolo

Ca2+

Figura 7.1 – Formação e atuação de mensageiros secundários. (Modificada


de TAIZ; ZEIGER, 2008)
112 Fisiologia Vegetal

7.3 A descoberta dos cinco primeiros grupos de


hormônios vegetais O
CH2 C OH
Os cinco grupos de hormônios primeiramente descobertos fo-
N
ram: auxinas, giberelinas, citocininas, etileno e ácido abscísico (Fi- H
AIA

gura 7.2).
Atualmente, sabemos que existem outras substâncias que tam- HOCH2 H
bém atuam no controle do desenvolvimento e do crescimento ve- C C
getal, mas que não serão abordadas neste capítulo. CH3 CH2 NH
N
N
Zeatina
7.3.1 Auxinas N N
H
O grupo das auxinas foi o primeiro grupo de hormônios vege-
O
tais a ser descoberto. No final do século XIX, Charles Darwin ob-
servou respostas de fotomorfogênese em coleóptilos de plântulas CO OH
HO
de gramíneas em resposta à iluminação lateral. Essas estruturas CH3 COOH CH2
se curvavam em direção à luz. Estudos mostraram que havia uma
Ácido giberélico (GA3)
substância produzida pelos ápices de coleóptilos que se difundia
em blocos de ágar (Figura 7.3).
A substância recebeu o nome de auxina, por Fritz Went (1926,
OH
Holanda), e é originada de uma palavra de origem grega auxein, O COOH
que significa “crescer” ou “aumentar”. Em 1946, foi isolado e carac-
ABA — Ácido abscísico (C15)
terizado quimicamente o ácido indolil-3-acético (AIA), a auxina
natural mais ativa de plantas cujo precursor é o aminoácido trip-
tofano. Existem também muitas auxinas sintéticas, por exemplo: CH2 = CH2
AIB – ácido indol-butírico; ANA – ácido naftaleno acético; 2,4-D
Etileno
– ácido 2,4 diclorofenóxi-acético.
Figura 7.2 – Estruturas químicas
dos principais hormônios
7.3.2 Giberelinas vegetais.

Na década de 20 do século XX, pesquisadores japoneses estavam


intrigados com uma doença que ocorria nos arrozais. Essa doença
causava um crescimento anormal das plantas que tombavam na
água, e havia perda dos grãos. A doença era chamada de “doença
da planta boba” ou bakanae. Eles descobriram que as plantas esta-
vam infectadas pelo fungo Giberella fujikuroi, que produzia subs-
tâncias capazes de estimular o crescimento das plantas. Essas subs-
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 113

Charles Darvin (1880) Luz Luz Luz Luz


A partir dos experimentos de
Coleóptilo fototropismo em coleóptilos, Darwin
(alpiste) concluiu, em 1880, que um estímulo
de crescimento é produzido no ápice
do coleóptilo e transmitido para a
zona de crescimento.

Boysen (1911) Luz Luz Luz


Gelatina

Em 1911, P. Boysen-Jensen descobriu


Coleóptilo
que o estímulo do crescimento
passava pela gelatina, mas não
através de barreiras impermeáveis
à água, como a mica.

Páal (1919) Luz

Em 1919, A. Páal forneceu


evidências que o estímulo promotor
de crescimento produzido no
ápice do coleóptilo era de
natureza química.

Went (1928) Luz


Em 1926, F.W. Went demonstrou
que a substância ativa em promover
o crescimento pode se difundir
em cubos de gelatina. Ele descobriu
ainda, um ensaio de curvatura
Bloco de de coleóptilo para a análise
ágar quantitativa de auxina.

Figura 7.3 – Fototropismo em coleóptilos.

tâncias foram chamadas de giberelinas. Na década de 30 do mesmo


século, foram extraídos cristais impuros de substâncias, que foram
chamadas de giberelinas A e B. Nos anos 50, dois laboratórios in-
dependentes, no Reino Unido e nos EUA, isolaram o ácido giberé-
lico (GA3). Há mais de 125 giberelinas já isoladas. Estas recebem a
denominação de GA e um número que segue a ordem cronológica
de sua descoberta. As giberelinas são moléculas que têm uma es-
trutura básica chamada de ent-giberelano. Elas podem ter 19 ou 20
carbonos, e a mais ativa nas plantas parece ser GA1.
114 Fisiologia Vegetal

7.3.3 Citocininas
Na década de 50 do século passado, um grupo de pesquisado-
res liderados pelo Dr. Folke Skoog, da Universidade de Winscon-
sin (EUA), trabalhava com métodos de propagação vegetativa de
plantas. Eles procuravam substâncias que fossem capazes de pro-
mover a divisão celular em células de medula caulinar de fumo.
Um pouco antes, na década de 40, J. van Overbeek observou que o
endosperma líquido de coco é rico em substâncias que promovem
a divisão celular. Skoog e seus colaboradores verificaram e confir-
maram os resultados de Haberlandt, que observou que células de
medula de fumo cresciam mais rapidamente quando se colocava
um pedaço de tecido vascular sobre a medula. Em 1955, Carlos
Miller, um colaborador de Skoog, conseguiu isolar uma substân-
cia, que foi chamada de cinetina, a partir de bases nitrogenadas do
esperma do peixe arenque. Essa substância foi identificada como
6-furfurilaminopurina (primeira citocinina sintética a ser produ-
zida). Usando meio básico de cultura (sacarose, íons, vitaminas
e aminoácidos) acrescido de diferentes substâncias, observaram
que DNA envelhecido acrescido de AIA apresentava a melhor res-
posta na indução da divisão celular. Eles concluíram que um pro-
duto de degradação do DNA deveria ser o fator que promovia a
divisão celular.
Na década de 60, essas substâncias foram denominadas de ci-
tocininas por Skoog e colaboradoes. Letham, em 1973, isolou de
sementes jovens de milho a zeatina (primeira citocinina natural) e
demonstrou, em 1974, que ela era também encontrada em endos-
perma de coco.
Quimicamente, as citocininas naturais são sintetizadas a partir
da base púrica adenina, que ocorre nas moléculas de DNA. Cine-
tina (6-furfurilaminopurina), 6-benziladenina (6-BA) e derivados
da ureia são citocininas sintéticas.

7.3.4 Etileno
O etileno é um hormônio gasoso. É um hidrocarboneto gasoso
insaturado. No início da civilização egípcia, o povo fazia incisões
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 115

em figos e verificava que esse procedimento acelerava sua matura-


ção. Em 1858, na Filadélfia (EUA), os pesquisadores verificaram
que o gás utilizado para os lampiões de iluminação causava se-
nescência e abscisão de folhas de árvores da vizinhança. No Ar-
quipélago de Açores, em 1893, os pesquisadores verificaram que a
fumaça produzida pela queima da serragem causava floração em
abacaxizeiro e mangueiras. E, em 1935, na Inglaterra, o cientis-
ta Gane conseguiu provar quimicamente que plantas produziam
etileno.
O etileno é notoriamente conhecido como sendo a substância
produzida pelos frutos que induz seu amadurecimento. Também
é produzido quando as plantas são submetidas a situações de
estresse.

7.3.5 Ácido abscísico


Nos anos 60 do século XX, pesquisadores norte-americanos li-
derados por Addicott estudavam as causas da queda (abscisão) de
frutos de algodão e cristalizaram uma substância que chamaram
de abscisina II, que causava abscisão desses frutos.
Na mesma época, Wareing e colaboradores extraíram uma
substância, que denominaram de dormina, em gemas de bordo
(Acer pseudoplatanus) mantidas em condições fotoperiódicas de
dias curtos que apresentavam dormência (ausência de crescimen-
to) em resposta à sazonalidade.
As pesquisas posteriores indicaram que abscisina II e dormina
eram a mesma substância que, em 1967, durante a 6ª Conferência
Internacional de Substâncias de Crescimento Vegetal, realizada
em Otawa, no Canadá, recebeu o nome de ácido abscísico (ABA).
Na época de sua descoberta, as funções desse hormônio esta-
vam mais relacionadas aos processos de abscisão e dormência de
gemas, mas atualmente sabemos que a abscisão é muito mais in-
fluenciada pelos aumentos nos níveis de etileno e que o ABA pode
apresentar um papel de coadjuvante nesse processo. Quimicamen-
te o ABA é um ácido de 15 carbonos.
116 Fisiologia Vegetal

7.4 Locais de síntese e transporte de


hormônios

Auxinas
As auxinas são sintetizadas em meristemas apicais, folhas jo-
vens, embriões de sementes, frutos jovens e muito pouco em ápices O transporte de auxinas é
predominantemente basípeto,
de raízes. Um dos precursores é o aminoácido triptofano. O trans- ou seja, ocorre dos meristemas
porte de auxinas pode ser de célula a célula e também via floema. apicais para as regiões mais
basais dos coleóptilos e caules
Parece ser predominantemente basípeto, mas através de células da planta.
parenquimáticas adjacentes às bainhas vasculares (Figura 7.4).

Giberelinas
As giberelinas são sintetizadas em tecidos jovens da parte aérea
das plantas e também em sementes em desenvolvimento. O pre-
cursor de sua síntese é o ácido mevalônico. Podem ser transporta-
das tanto pelo xilema como pelo floema.

Ápice Fluxo líquido


Bloco doador (direção Membrana
(AIA marcado) basípeta) plasmática
Extremidade
apical Proteína
transportadora AIA
Seção de AIA
Hipocótilo
isolada Parede celular
Bloco receptor
AIA AIA AIA
(sem AIA)
Extremidade
basal Bloco receptor
(sem AIA)
AIA

Parede celular

Bloco doador Inibição do fluxo


(AIA marcado) (direção
acrópeta) Células parenquimáticas
Plântula
A B

Figura 7.4 – O transporte basípeto de auxinas. O AIA é transportado dos ápices para as bases de coleóptilos e caules, por
difusão, na parte apical da célula e com o auxílio de proteínas transportadoras, na parte basal da célula. (Extraída RAVEN;
EVERT; EICHHORN, 2007)
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 117

Citocininas
As citocininas são sintetizadas principalmente em ápices de ra-
ízes, embriões de sementes em desenvolvimento, ápices caulinares
e folhas jovens. Seu transporte na planta é feito via xilema, no sen-
tido raiz-parte aérea e de folhas velhas, senescentes. As citocini-
nas são transportadas para as partes jovens e em crescimento pelo
floema.

Etileno
O etileno pode ser produzido em todas as partes da planta, mas
os mais altos níveis são produzidos em tecidos meristemáticos e
regiões nodais. Determinadas etapas da vida da planta, como a
queda de folhas, processo conhecido como abscisão foliar, produ-
zem altos níveis de etileno. Os processos de senescência de folhas,
flores e o amadurecimento de frutos estão intimamente relacio-
nados com altos níveis de etileno. Há uma grande interação entre
auxinas e etileno. A síntese de auxinas é promovida pelo etileno.
O transporte de etileno é feito por difusão, a partir do local de
síntese.

Ácido abscísico
O ácido abscísico (ABA) é sintetizado a partir do metabolismo
do carotenoide zeaxantina. É um hormônio cuja síntese aumenta
muito em plantas submetidas ao estresse hídrico. Todas as célu-
las vivas, desde o ápice caulinar ao ápice radicular, são capazes de
sintetizar esse ácido em determinadas circunstâncias. Ele pode ser
detectado em seivas de xilema, floema e em nectários. Em plantas
crescendo em condições de boa disponibilidade de água no am-
biente, os níveis de ABA nos tecidos vegetais são baixos, poden-
do haver poucos nanogramas por grama de tecido fresco. Porém,
quando plantas e sementes em desenvolvimento são submetidas
ao estresse hídrico, os níveis sobem para microgramas por grama
de tecido fresco. O ABA é a única forma natural e ativa, não exis-
tem moléculas análogas sintéticas. Seu transporte é feito das folhas
para as raízes via floema; de raízes à parte aérea via xilema; entre
células parenquimáticas.
118 Fisiologia Vegetal

7.5 Principais efeitos fisiológicos de auxinas

Alongamento celular
As auxinas estimulam o alongamento celular (crescimento em
altura). Causam diminuição do pH do lado externo das paredes
pela ativação de H+ ATPases da membrana celular ou síntese de
novas H+ ATPases. Esta é chamada de hipótese do crescimento
ácido. O baixo pH nas paredes celulares ativa hidrolases de polis-
sacarídeos de parede celular, como celulases, hemicelulases, gluca-
nases e pectinases, que causam o amolecimento de polissacarídeos
que compõem a parede celular. Os polímeros de polissacarídeos se
desprendem e deslizam uns sobre os outros. O pH ácido ativa tam-
bém proteínas expansinas, que quebram pontes de H+ entre micro-
fibrilas de celulose e hemicelulose, tornando as paredes celulares
mais maleáveis e flexíveis. O pH ácido induz o aumento de absor-
ção de água e de solutos, principalmente K+ (Figuras 7.5 e 7.6).

Ativação de divisão celular


Estimulam a divisão celular nos meristemas apicais e no câmbio
vascular. Induzem a diferenciação de tecidos vasculares junto às ci-
tocininas. As auxinas, giberelinas e citocininas ativam a expressão
e síntese de proteínas quinases dependentes de proteínas ciclinas
necessárias para mudanças de fases do ciclo celular (Figura 7.7).

Enraizamento de estacas e diferenciação de raízes em cultura


de tecidos
Estimulam o enraizamento de estacas caulinares e foliares e a
diferenciação de raízes em experimentos de cultura de tecidos (ver
efeito de citocininas).

Dominância apical
Outro processo controlado pelas auxinas é a dominância apical
de caules e ramos, em que a síntese intensa de auxinas no me-
ristema apical caulinar impede o crescimento das gemas axilares.
Quanto mais distantes as gemas axilares estiverem do ápice, me-
nor é sua inibição. Ocorre um bloqueio da divisão celular e alon-
gamento celular nas gemas axilares (Figura 7.8).
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 119

AIA + H+

+
ATP H+
ATP

AIA ATP H+
Hipótese de Ativação
+

ATP H+
Hipótese de Síntese
Figura 7.5 – Hipótese da ativação RNAm
de ATPases de membranas e ATP
de síntese de novas ATPases. Núcleo ATPase
(Extraída de KERBAUY, 2004 e H+
RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2007) Expa ATP
nsin
as +
H+

Auxinas
Giberelinas
Citocininas

Auxinas Expansinas ( ) Hemicelulose


(AIA)
Quinases dependentes
de ciclinas

Mudança de G1
para S

M
G1
G2
Microfibrilas Glucanases ou
de celulose XET ( )
S

Giberelinas

Figura 7.6 – Atuação de auxinas e giberelinas no Figura 7.7 – A função das auxinas,
afrouxamento das paredes celulares e no alongamento giberelinas e citocininas na
celular. (Extraída de KERBAUY, 2004) ativação do ciclo celular.
120 Fisiologia Vegetal

Ápice caulinar
Ápice caulinar
(fonte de auxina)
removido
Gemas axilares
inibidas por Gemas axilares
A auxina B não mais inibidas

Gemas axilares em
desenvolvimento

Figura 7.8 – Dominância apical em Coleus. (Extraída de RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2007)

Fototropismo e geotropismo
As auxinas são responsáveis pelas respostas de fototropismo,
curvatura de coleóptilos e caules causada quando esses órgãos re-
cebem luz aplicada lateralmente (ver Figura 7.2). Os ápices absor-
vem a luz por meio de receptores denominados de fototropinas.
Esses receptores alteram o transporte de auxinas de modo a con-
centrá-las em maior quantidade no lado mais sombreado, onde
desencadearão maior crescimento celular e consequentemente a
curvatura do órgão em direção à luz.
As auxinas estão também envolvidas nas respostas de geotropis-
mo ou gravitropismo. Nessas respostas, quando as raízes são colo-
cadas na posição vertical, após algumas horas, se curvam em dire-
ção ao solo. A gravidade é percebida pela coifa da raiz, que contém
células especiais denominadas estatocitos. Essas células contêm
amiloplastos móveis, os estatolitos. A sedimentação dos estatolitos
em direção ao solo produz um aumento da concentração de AIA
onde há sedimentação dos estatolitos devido à pressão mecânica
sobre o retículo endoplasmático das células. Nesse caso, ao con-
trário do que ocorre em coleóptilos e caules, aumentos nos níveis
de AIA causam redução de crescimento nas células das raízes que
apresentam sensibilidade aos maiores níveis de AIA (Figura 7.9).
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 121

A remoção da coifa da
A Orientação vertical
raiz vertical estimula um Estatocisto
pequeno crescimento
por alongamento.

Raiz

A remoção da metade da Estatolito


Coifa coifa leva à curvatura da raiz
da posição vertical para o lado Ápice Pressão
Raiz-controle com a em que a coifa foi mantida da raiz uniforme
coifa, verticalmente sobre o RE
orientada.

B Orientação horizontal

A remoção da coifa de uma Ápice


raiz na posição horizontal da raiz
Raiz-controle com coifa,
anula a resposta à gravidade,
orientada horizontalmente
enquanto estimula um
exibe curvatura gravitrópica
pequeno crescimento Pressão
normal.
desigual
sobre o RE

Figura 7.9 – A importância da coifa no geotropismo. (Extraída de TAIZ; ZEIGER, 2008)

Crescimento de frutos
As auxinas promovem o desenvolvimento do receptáculo floral
dos frutos do morango. Os aquênios de morango, que são os frutos
verdadeiros, são fontes de auxinas, assim como o grão de pólen
durante a polinização fornece auxinas para o desenvolvimento de
frutos. Se todos os aquênios forem removidos,
o receptáculo não se desenvolve (Figura 7.10).

Figura 7.10 – Os aquênios de morango produzem AIA, que induz


o crescimento do pseudofruto. (Extraída de TAIZ; ZEIGER, 2008)
Sementes
Desenvolvimento Sementes
removidas e
normal removidas
aplicação de AIA
122 Fisiologia Vegetal

7.6 Principais efeitos fisiológicos de giberelinas

Alongamento celular
As giberelinas agem juntamente com as auxinas no alongamen-
to celular ativando a enzima XET (xiloglucano endo-transglico-
silase), uma das responsáveis pela hidrólise de xiloglucano, um
tipo de hemicelulose de paredes celulares. Isso permite que novas
terminações de polissacarídeos se unam aos já existentes para au-
mentar seu comprimento e facilitar o deslizamento dos polissaca-
rídeos de parede (ver Figura 7.5).

Ativação de divisão celular e crescimento de caules na floração


As giberelinas promovem aumento da mitose nos meristemas su-
bapicais de plantas em roseta, cujo caule não se desenvolve na fase
vegetativa da planta, por exemplo, o repolho, a alface. Quando essas
plantas são expostas a fotoperíodos longos ou dias longos, também
ocorre ativação da divisão celular nos meristemas subapicais dessas
plantas, surgindo um caule floral também conhecido como escapo
floral. As giberelinas ativam o ciclo celular pelo aumento da expres-
são de genes que codificam proteínas ciclinas mitóticas e proteínas
quinases dependentes de ciclinas (ver Figura 7.6).

Crescimento de frutos
Giberelinas produzidas nas sementes induzem o crescimento de
frutos, como uvas e maçãs.

Mobilização de amido e germinação


As giberelinas participam da mobilização de substâncias de reser-
vas em endospermas de cereais e dessa forma atuam no processo de
germinação de sementes. As cariopses de cereais apresentam uma
camada especial de células que reveste o endosperma constituído
principalmente de amido. Essas células sintetizam enzimas hidrolí-
ticas, que migram para o endosperma para hidrolisar o amido. Os
embriões dessas cariopses produzem as giberelinas, que durante a
entrada de água na cariopse (embebição) migram para a camada de
aleurona e induzem a expressão de gene da α-amilase. A α-amilase
hidrolisa cadeias de amido em oligossacarídeos (Figura 7.11).
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 123

Coleóptilo
Figura 7.11 – Síntese de enzimas
hidrolíticas induzidas pelas
giberelinas em cariopses de cereais.
(Extraída de KERBAUY, 2004)

Camada de aleurona
Endosperma amiláceo

GA
3 2
Enzimas GA 1
4 hidrolíticas 1
Solutos no 5
endosperma

Testa-pericarpo Escutelo

7.7 Principais efeitos fisiológicos de citocininas

Ativação de divisão celular


Em métodos de propagação vegetativa por meio de cultura de
tecidos, as citocininas são necessárias, juntamente com as auxinas,
para ativar o ciclo celular. Essa ativação permite a formação de um
calo, que é uma estrutura esbranquiçada formada por células não
diferenciadas. Em Arabidopsis thaliana, citocininas estimulam a
expressão do gene de uma ciclina D3 ou δ3, importante para mu-
dar o ciclo celular da fase G1 para S (ver Figura 7.6).

Diferenciação de gemas foliares em cultura de tecido


As citocininas induzem a formação de gemas foliares em calos
obtidos em cultura de tecido (Figura 7.12).
O balanço adequado entre os níveis de auxinas e citocininas per-
mite a formação de plântulas a partir dos calos formados. Quando
a relação auxina/citocinina é alta, prevalece a formação de raízes.
124 Fisiologia Vegetal

As concentrações usadas para as A B C


duas classes de hormônios são
diferentes. Nas plantas, as citoci-
ninas produzidas nas raízes são
conduzidas até a parte aérea pelo D
E
xilema e induzem crescimento e
diferenciação de ramos. Já as au- F
xinas produzidas pelas folhas jo-
vens são conduzidas até as raízes,
onde induzem seu crescimento e
Figura 7.12 – Modelo de cultura
ramificação.
de tecidos vegetais. a) explante
foliar; b) disco foliar; c) cultivo
Retardamento de senescência de folhas de discos foliares em meio de
cultura; d) indução da formação
As citocininas retardam o processo de envelhecimento foliar, de calos e plântulas em meio
conhecido como senescência foliar. Quando folhas ou partes de de cultura; e) transferência
de plântulas para recipientes
folhas são tratadas com citocininas, permanecem verdes por mais isolados; f) aclimatação das
tempo, pois esses hormônios retardam os processos de degrada- plântulas em vasos com solo.
ção das clorofilas e também de enzimas fotossintéticas, bem como
de DNA e RNA, o que faz a folha permanecer verde por mais tem-
po. As citocininas também drenam substâncias de reserva para o
local tratado, mantendo o vigor da folha (Figura 7.13). Citocininas
(retardam) e etileno (promovem) são antagonistas nesse processo.

PLÂNTULA A PLÂNTULA B PLÂNTULA C

• Esquerdo tratado com água. • Esquerdo tratado com cinetina. • Esquerdo não tratado.
• Direito tratado com aminoácido • Direito tratado com aminoácido • Direito tratado com aminoácido
14
C e cinetina. 14
C e água. 14
C e cinetina.
• Radioatividade concentrada no • Esquerdo concentrou radioativi- • Radioatividade concentrada no
lado direito (pontilhado preto). dade e tornou-se dreno. lado direito (pontilhado preto).

Aa 14C Aa 14C Aa 14C


A B C

H2O Cinetina Cinetina H2O H2O Cinetina

Figura 7.13 – Efeito de cinetina (citocinina sintética 50 mM) no movimento de aminoácidos em plântulas de pepino.
(Extraída de TAIZ; ZEIGER, 2008)
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 125

Quebra de dominância apical


As citocininas têm papel oposto ao das auxinas e induzem o
brotamento de gemas axilares quando aplicadas exogenamente ou
quando é feita uma poda mecânica nas plantas, por exemplo, nas
lavouras de fumo e de erva-mate.

Crescimento de frutos
As citocininas também participam do crescimento de alguns
frutos, por exemplo, a maçã. A aplicação de mistura de citocini-
nas com giberelinas (® PROMALIN) pode aumentar o tamanho do
fruto e também alongar o fruto.

7.8 Principais efeitos fisiológicos do etileno

Resposta tríplice em plântulas


Uma resposta típica que ocorre em plântulas crescendo quando
recebem etileno é a chamada resposta tríplice. Nessas plantas, que
crescem no escuro e na presença de etileno, é possível observar:
redução de alongamento de caule, pois o etileno inibe o alonga-
mento celular; crescimento lateral e intumescimento de caules ou
hipocótilos, pois o etileno promove o crescimento celular lateral;
gancho plumular (ver item 7.8.2). O crescimento horizontal é
anormal, reforçando as paredes celulares, e as plantas tornam-se
curtas e largas.

Formação de gancho plumular


Plântulas de dicotiledôneas que germinaram no escuro apresen-
tam um gancho plumular. O gancho plumular é uma curvatura
do hipocótilo, formada para proteger a plúmula (primeiras folhas)
contra o atrito das partículas do solo. Há um crescimento assimé-
trico induzido por etileno. No escuro, o AIA se acumula no lado
inferior e promove síntese de etileno, que causa inibição de cresci-
mento no lado inferior. O lado superior cresce mais, pois o etileno
inibe o alongamento celular (Figura 7.14).
126 Fisiologia Vegetal

Resposta tríplice

+ Síntese de etileno

AIA AdoMet +
Sintase AIA
+ do ACC
Planta mutante
AIA ACC
Oxidase
Etileno do ACC
Etileno
Alongamento
celular inibido

Gancho plumular

Figura 7.14 – Formação de gancho plumular induzida pelo etileno. AdoMet = adenosil metionina; ACC = ácido
1-aminociclopropano 1-carboxílico, precursor de etileno. Resposta tríplice de plantas de Arabidopsis thaliana crescendo no
escuro na presença de etileno (10 partes por milhão). É possível observar redução de alongamento de caule, crescimento
lateral, intumescimento de caules ou hipocótilos e gancho plumular. O crescimento horizontal é anormal, reforçando as paredes
celulares, e as plantas tornam-se curtas e largas. (Adaptada de KERBAUY, 2004 e TAIZ; ZEIGER, 2008)

Abscisão e senescência foliar


Uma folha adulta é mantida viva na planta quando seus níveis
de auxinas estão altos. Essa é chamada de fase de manutenção. Na
fase de indução da abscisão, o nível de auxinas foliares diminui
e o de etileno aumenta. O etileno induz a expressão de genes de
enzimas hidrolíticas de paredes celulares que irão hidrolisá-las,
causando seu amolecimento, separação foliar e abscisão (queda)
da folha. Antes da abscisão, o etileno induz a síntese de enzimas
que degradam clorofilas, proteínas, RNA e DNA foliares. O etileno
também induz a senescência de flores (Figura 7.15).

Amadurecimento de frutos
É um tipo especial de senescência que se caracteriza por uma
série de transformações sofridas pelo fruto. Primeiramente, o fru-
to começa a produzir mais etileno e, a seguir, nos chamados frutos
climatéricos, haverá um abrupto aumento da respiração do fruto
(Tabela 7.1).
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 127

Auxina Separação da camada


Auxina
digerida
Amarelecido

Etileno

Fase de manutenção da folha Fase de indução da queda Fase de queda


O alto nível de auxina na folha A diminução da auxina na folha Síntese de enzimas que hidrolisam
reduz a sensibilidade da zona aumenta a produção de etileno e a os polissacarídeos da parede
de abscisão ao etileno e evita a sensibilidade da zona de abscisão, celular, resultando na separação
queda da folha. que desencadeia a fase de queda. das células e na abscisão da folha.

Figura 7.15 – Funções do etileno e das auxinas na abscisão e senescência foliar. (Adaptada de TAIZ; ZEIGER, 2008)

Tabela 7.1 – Tipos de frutos quanto à presença de picos de produção de CO2


(climatério respiratório)
Não climatéricos Climatéricos
• Abacaxi • Abacate
• Cereja • Ameixa
• Citros • Azeitona
• Feijão-de-corda • Banana
• Melancia • Caqui
• Morango • Figo
• Pimenta-doce • Maçã
• Uva • Manga
• Melão
• Pera
• Pêssego
• Querimólia
• Tomate

O etileno induz a síntese de diversas enzimas hidrolíticas que


destroem clorofilas, degradam paredes celulares e hidrolisam ami-
do. Ocorrem a síntese de antocianinas e carotenoides e a dimi-
nuição de ácidos orgânicos e compostos fenólicos. O fruto muda
de cor, fica mais macio, mais aromático e mais doce, pois haverá
aumento da síntese de açúcares solúveis. Em tomates longa vida, a
expressão de genes de ACC oxidase (ver Figura 7.13) foi bloquea-
128 Fisiologia Vegetal

da pela versão antisenso de seu mRNA e, portanto, esses tomates


não produzem etileno, mas podem amadurecer se expostos a ou-
tros frutos que produzem etileno.

7.9 Principais efeitos fisiológicos do ácido


abscísico

Fechamento de estômatos durante estresse hídrico


Os estômatos têm sua abertura controlada pela luz, que ativa as
enzimas ATPases de membranas celulares de células-guarda, per-
mitindo assim o transporte de íons para dentro dessas células. O
aumento dos íons K+ e Cl– causa uma redução do potencial hídrico
das células-guarda, a entrada de água pela osmose e a abertura do
poro estomático. Quando há escassez de água no ambiente, as raí-
zes sinalizam e haverá aumento de ABA foliar. O potencial hídrico
diminui com a perda de água no solo, e a resistência estomática
aumenta, tornando os estômatos mais fechados (Figura 7.16).

K+ Ca2+ K+
ABA A-

Pré-despolarização
Receptor Membrana celular
de célula-guarda
Ativação de canais Inibição de canais
Ativação de canais
de efluxo de K+ de influxo de K+
de efluxo de ânions

Citosol Ca2+

Estômato
Células-guarda

Figura 7.16 – Modo de ação do ABA em células-guarda de estômatos de folhas submetidas a estresse hídrico.
(Adaptada de KERBAUY, 2004)
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 129

Os estômatos fecham pela ativação de canais de entrada ou in-


fluxo de íons Ca2+ e pela liberação de íons K+ e Cl– para fora das
células-guarda, pois ocorre ativação de canais de efluxo, ou saída
desses íons. A perda de solutos pelas células-guarda gera um au-
mento do seu potencial hídrico e a saída de água em direção às
células adjacentes ou subsidiárias.

Desenvolvimento e dormência de sementes


O ABA participa do desenvolvimento de sementes, pois induz
a síntese de proteínas de reserva em sementes durante o seu de-
senvolvimento. Nas sementes, ocorrem picos de ABA ao final de
embriogênese e início da maturação. O ABA presente nas semen-
tes no final da embriogênese evita que elas germinem dentro dos
frutos, fenômeno conhecido como viviparidade. Esse fenômeno é
indesejável tanto sob aspecto ecológico como econômico, já que as
sementes precisam ser dispersas antes da germinação. Nesse caso,
as sementes exibirão uma dormência, que é um bloqueio da sua
germinação. Em sementes dormentes, a saída da dormência está
associada à redução da taxa ABA/GA, o que ocorre no ambiente
(Figura 7.17).

Megagametófito
Eixo embrionário
16
A
Conteúdo de ABA

12 a
a
mg g-1

8
Estágios de b
desenvolvimento:
4 b b b b b
1) Torpedo 0
B
Conteúdo de proteínas

2) Pré-cotiledonar a a
27
2) Cotiledonar ab
b
4) Maduro 18
mg g-1

c c
9 d
d
0
1 2 3 4
Estágio do desenvolvimento

Figura 7.17 – Síntese de ABA e proteínas em sementes de Araucaria angustifolia (Bert.)


O. Kuntze (Araucariarceae) em desenvolvimento. (Adaptada de SILVEIRA et al., 2008)
130 Fisiologia Vegetal

Resumo
O ciclo de vida de uma planta compreende a germinação da
semente, o crescimento vegetativo, a floração, a frutificação, a se-
nescência de órgãos ou de toda a planta e a morte de órgãos ou de
toda a planta. Esses processos são controlados pelos hormônios
vegetais, os mensageiros primários. Os primeiros hormônios a se-
rem descobertos foram as auxinas, as giberelinas, as citocininas, o
etileno e o ácido abscísico. Para atuar, um hormônio geralmente é
produzido em células meristemáticas e pode ser conduzido a ou-
tras partes da planta, de célula a célula, via xilema ou floema. No
local de ação, o hormônio liga-se a uma proteína receptora e induz
a formação e liberação de substâncias chamadas de mensageiros
secundários. A Tabela 7.2 apresenta um resumo das principais
funções dos hormônios vegetais.

Tabela 7.2 – Principais efeitos dos hormônios vegetais


Ácido
Efeitos Auxinas Giberelinas Citocininas Etileno
abscísico
Abscisão foliar inibem promove
Alongamento celular promovem promovem inibe
Amadurecimento
promove
de frutos
Ativação da
promovem promovem promovem
divisão celular
Crescimento de frutos promovem promovem promovem
Diferenciação de
promovem
gemas caulinares
Diferenciação de raízes promovem promove
Diferenciação de
promovem promovem
tecidos vasculares
Dominância apical promovem inibem
Dormência
promove
de sementes
Enraizamento
promovem promove
de estacas
Geotropismo promovem
Regulação do crescimento e do desenvolvimento 131

Germinação
promovem inibe
de sementes
Fechamento
estomático por promove
estresse hídrico
Promovem em
Floração algumas plantas
em roseta
Formação de calos em
promovem
cultura de tecido
Fototropismo promovem
Senescência foliar inibem promove
Síntese de proteínas de
promove
reserva em sementes

Referências
ARTECA, R.N. Plant growth substances: principles and
applications. Chapmam & Hall. 1995. 332 p.
BEWLEY, J. D.; BLACK, M. Seeds: physiology of development
and germination. Plenum Press, 1994. 445 p.
DAVIES, J. P. Plant hormones: physiology, biochemistry and
molecular biology. 2. ed. Kluwer Academic Publishers, 1995.
833 p.
FERREIRA, A. G.; BORGHETTI, F. Germinação: do básico ao
aplicado. Porto Alegre: Artmed, 2004. 323 p.
FOSKETT, D. E. Plant growth and development: a molecular
approach. Academic, 1994. 580p.
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
LANG, G. A. Plant dormancy: physiology, biochemistry and
molecular biology. CAB International, 1996. 386 p.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
132 Fisiologia Vegetal

SILVEIRA, V. et al. Endogenous abscisic acid and protein


contents during seed development of Araucaria angustifolia.
Biologia Plantarum, Praga, v. 52, p. 202-104, 2008.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.

Bibliografia recomendada
FERREIRA, A. G.; BORGHETTI, F. Germinação: do básico ao
aplicado. Porto Alegre: Artmed, 2004. 323 p.
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
c a p í t u lo 8
c a p í t u lo 8
Fotomorfogênese
Neste capítulo, estudaremos os efeitos das luzes azul, ver-
melha e vermelho longo, a sua percepção pelos receptores
criptocromos, fototropinas, zeaxantinas e fitocromos, bem
como a percepção do ambiente pela planta e as suas respostas
a essas qualidades de luz.
Fotomorfogênese 137

8.1 Introdução
A luz é um sinal ambiental que induz mudanças de forma em
plântulas que cresceram no escuro e que são depois iluminadas.
As respostas induzidas pela luz são chamadas de respostas de fo-
tomorfogênese. A luz induz alterações nos padrões de expressão
gênica que causam alterações de forma, altura e coloração das
plantas.
Por exemplo, plântulas de feijão e milho cujas sementes germi-
naram no escuro são estioladas, ou seja, são alongadas, não exi-
bem clorofilas nem antocianinas, as folhas não se expandem e, no
caso das plântulas de feijão, o hipocótilo forma o gancho plumular.
Quando as sementes germinam na luz, as plântulas são mais curtas,
as folhas se expandem, ocorre síntese de clorofila e antocianinas e,
no caso do feijão, o gancho plumular já desenrolou (Figura 8.1).
Quando plântulas que cresceram no escuro são transferidas
para a luz, ocorre o processo de desestiolamento, que se caracte-
riza: pela redução do crescimento de seus caules em altura; pela
ativação da síntese de clorofilas e antocianinas; pela ativação da
síntese de enzimas da fotossíntese, como a RUBISCO; pela expan-
são e pelo crescimento foliar.
Essas respostas dependem da qualidade da luz, da intensidade
e duração da luminosidade. Outro exemplo é a floração, que pode
ser controlada pelo comprimento do dia ou fotoperíodo.
138 Fisiologia Vegetal

Plantas que crescem na luz apresentam Plantas que crescem no escuro não
folhas expandidas e verdes, não apresentam expansão foliar, não contêm
apresentam gancho plumular ou clorofila e não apresentam gancho plumular
gancho apical. ou gancho apical.

A) Plântula de milho B) Plântula de feijão A) Plântula de milho


B) Plântula de feijão

COM LUZ SEM LUZ

Figura 8.1 – Respostas de fotomorfogênese em plantas de milho e feijão.

Essas respostas são mediadas pelos pigmentos fitocromos, fo-


totropinas e criptocromos, que absorvem luz azul e vermelha. As
plantas são capazes de perceber variações sazonais, comprimento
do dia, quantidade e qualidade da luz pela absorção luminosa atra-
vés desses pigmentos.

8.2 Os principais fotorreceptores

8.2.1 Os fitocromos
Nos anos 30 do século XX, o pesquisador norte-americano Flint
e seus colaboradores observaram que sementes de alface apresen-
tavam alto percentual de germinação quando irradiadas com luz
vermelha (V – 650 a 680 nm), mas não germinavam ou germina-
vam muito pouco quando mantidas no escuro ou irradiadas com
vermelho longo (VE – 710 a 740 nm) (Figura 8.2).
Fotomorfogênese 139

Observaram também que o efeito positivo da luz vermelha so-


bre a germinação das sementes de alface era anulado pela exposi-
ção subsequente ao vermelho longo. Mais tarde, Borthwick e seus
colaboradores confirmaram esses resultados (Tabela 8.1).

Irradiação Germinação (%)


V 70
V,VE 6
V,VE,V 74
V,VE,V,VE 6
V,VE,V,VE,V 76
V,VE,V,VE,V,VE 7

Tabela 8.1 – Fotorreversibilidade V-VE da germinação de sementes de alface em


temperatura de 20ºC. (BORTHWICK et al., 1954)

A luz influencia também as respostas de alongamento (estio-


lamento) e inibição de alongamento (desestiolamento) de caules,
floração de plantas sensíveis ao comprimento do dia (fotoperío-
do), expansão de folhas, síntese de clorofilas e de antocianinas.

Escuro V V Ve

Reversão de efeito de luz V (660 nm)


por VE (730 nm) e VE por V em
Figura 8.2 – Efeito
sementes
de luz vermelha e
de alface, sensíveis à luz.
comprimento de
O último tratamento determina a
onda vermelho longo
resposta.
na germinação de
sementes de alface.
(Adaptada de TAIZ;
ZEIGER, 2008) V = Vermelho
V Ve V V Ve V Ve Ve= Vermelho escuro
140 Fisiologia Vegetal

A luz vermelha e o comprimento de 1,0


onda vermelho longo são absorvidos 660
pelos fitocromos. Bioquimicamente, os 0,8
730
fitocromos são cromoproteínas de cor

Absorbância
0,6
azul, portanto, pigmentos ligados às
Fv
proteínas. Os fitocromos também são 0,4
capazes de absorver a luz azul, mas em Fve

proporção menor do que a absorção de 0,2

luz vermelha e de vermelho longo. 0


400 500
300 600 700 800
Os fitocromos são compostos pelo
Comprimento de onda (nm)
cromóforo, que absorve luz, e por uma
proteína. O cromóforo é um tetrapir- Figura 8.3 – Absorção de luz pelo
rol linear de cadeia aberta, que sofre uma isomerização cis-trans fitocromo vermelho (Fv) e pelo
fitocromo vermelho longo (Fve).
quando absorve luz vermelha (650-680 nm) e que retorna à forma
cis quando absorve vermelho longo (710-740 nm). A proteína tem
ação enzimática, e sabemos que os fitocromos penetram nos nú-
cleos celulares e induzem a expressão de genes.
As formas do fitocromo em função de sua absorção luminosa
são: Fv ou Pr = fitocromo vermelho, cuja máxima absorção de luz
é 660 nm; Fve ou Pfr = fitocromo vermelho extremo, cuja máxima
absorção é 730 nm (Figura 8.3).
Os fitocromos são sintetizados no escuro, na forma Fv. Essa
forma absorve maiores quantidades de fótons de luz V (650-680
nm) e sofre uma isomerização, transformando-se na forma Fve,
que absorve maiores quantidades de fótons de VE (710-740 nm) e
transforma-se novamente em Fv.
A forma fisiologicamente ativa dos fitocromos é a forma Fve,
responsável pelas respostas fisiológicas (Figura 8.4).
A maioria dessas respostas é mediada pela expressão de genes
específicos. Durante a noite, ocorre uma lenta transformação da
forma Fve para a forma Fv dos fitocromos. A molécula de Fve, que
é estável, pode ser destruída durante a noite.
Há dois tipos de fitocromos nas plantas: I ou A; II ou B, C, D,
E. Suas proteínas apresentam características estruturais diferentes,
mas o cromóforo é sempre igual. Esses fitocromos respondem aos
níveis diferentes de luz, principalmente ao amanhecer e ao anoi-
Fotomorfogênese 141

H H
O
O O
A NH O A
D
NH HN S-polipeptídeo D
HN S-polipeptídeo
15 5 15 5
N HN N HN
C B C B

10 10
COO COO COO COO

Fv Fve

Luz V

Fv Fve Destruição

VE Transdução de sinal

Fotomorfogênese
Reversão no escuro

Figura 8.4 – As formas do fitocromo e a reversão do fitocromo pela luz V e pelo VE.

tecer, mas também aos níveis de luz do sub-bosque de florestas.


Portanto, por meio desses pigmentos, as plantas podem perceber
o horário do dia e o local onde se encontram.
O Fve A é instável na luz vermelha de média ou alta intensi-
dade. Atua em processos em que há grande sombreamento, como
o solo do sub-bosque de florestas ou nas primeiras horas do dia,
quando os níveis de luz são bastante baixos. Fve B, C, D, E são está-
veis na luz vermelha e atuam em processos em que há menor som-
breamento, lampejos de luz solar ou luz solar direta (Figura 8.5).
Um exemplo típico de resposta mediada pela luz é a germinação
de sementes fotoblásticas positivas (ver Figura 8.2). Essas sementes
necessitam da luz solar para germinar. A luz solar (branca) é com-
posta por todos os comprimentos de onda. Os fitocromos nessas
sementes são sintetizados na forma Fv durante o desenvolvimento.
Ao serem embebidas em água, na presença de luz, as moléculas de
142 Fisiologia Vegetal

A A, V, VE
• Germinação de sementes
• Indução de florescimento
• Desenvolvimento de cloroplastos

Crescimento do hipocótilo
Reversão no escuro Destruição

A, V • Germinação de sementes
B
Núcleo • Expansão de cotilédones
VE • Desenvolvimento de cloroplastos

• Indução de florescimento
Germinação de Reversão no escuro • Crescimento do hipocótilo
sementes

Inibição Promoção

Figura 8.5 – Principais funções dos tipos A e B (C, D, E) dos fitocromos. (Adaptada de KERBAUY, 2004)

fitocromos se hidratam e absorvem principalmente a luz V, que vai


transformar algumas moléculas de Fv em Fve, induzindo o pro-
cesso de germinação. Em condições experimentais de laboratório,
quando as sementes são embebidas em água e irradiadas com luz
V, ocorre a mesma reação. Quando irradiadas com VE, o Fv não
se transforma em níveis suficientes de Fve e, por isso, não ocorre
germinação. Quando mantidas no escuro, também não ocorrerá
transformação de Fv em Fve, e a germinação não ocorrerá.
As sementes fotoblásticas negativas são aquelas que germinam
na ausência de luz ou sob luz de baixa intensidade. Essas sementes
durante seu desenvolvimento já produzem certa quantia de molé-
culas de Fve, sendo capazes de germinar na ausência de luz. Quan-
do embebidas em água, na presença de luz solar ou luz branca, as
moléculas de Fve absorvem preferencialmente o VE, que as trans-
forma em Fv e inibe a germinação das sementes.
Por outro lado, sementes embebidas em água e irradiadas com
luz vermelha manterão os níveis adequados de Fve já existentes
nas sementes e elas germinam. Quando irradiadas com vermelho
Fotomorfogênese 143

extremo, os fitocromos Fve existentes reverterão para Fv e não


ocorrerá a germinação.
Não é necessário que todas as moléculas de fitocromo Fv mu-
dem para a forma Fve para induzir as respostas de germinação,
pois isso não é possível na natureza. Basta que um percentual das
moléculas esteja na forma ativa Fve.

8.2.2 Pigmentos que absorvem luz azul


Os criptocromos são pigmentos que absorvem as radiações
UV-A (320 a 400 nm) e azul (400 a 500 nm) e que participam de
resposta de desestiolamento e de floração (ver Capítulo 9) (Figu-
ra 8.6).

Fototropinas Criptocromos Fitocromos

escuro luz
Fotoperiodismo
Fototropismo Desestiolamento Floração

Figura 8.6 – As principais funções de fototropinas, criptocromos e fitocromos.


(Adaptada de LIN, 2002)

Os criptocromos são flavoproteínas formadas por proteínas


ligadas à FAD (flavina adenina dinucleotídeo) e são conhecidos
como CRY. Podem ser de dois tipos: CRY I e CRY II.
As fototropinas são flavoproteínas com atividade de enzima
quinase ligadas a FMN (mononucleotídeos de flavina) e partici-
144 Fisiologia Vegetal

pam principalmente das respostas de fototropismo mediadas pelas


auxinas.
A zeaxantina é um carotenoide do sistema de antenas dos cloro-
plastos das células-guarda de estômatos que tem atuação na absor-
ção da luz azul no movimento estomático junto aos criptocromos
e fototropinas (Figuras 8.7 e 8.8).
No fototropismo, a absorção de luz azul por um dos lados da
planta causa sua curvatura lateral, pois ocorre um transporte la-
teral de AIA (auxina), causando maior crescimento do lado mais
sombreado. As fototropinas são os pigmentos que absorvem a luz
azul nesse processo e que induzem o transporte lateral de AIA (ver
Capítulo 7) (Figura 8.9).

Figura 8.7 – Características das


Fototropina
moléculas de fototropinas e
criptocromos. (Adaptada de
Flavina mononucleotídeo LIN, 2002)
NH 2 Kinase COOH

Criptocromo

Flavina dinucleotídeo

NH 2 COOH

DQXVP E/D STAES

H3C OH
H CH3 H CH3 H H H H H
H3C CH3
C C C C C C C C C
C C C C C C C C C
H3C CH3
H H H H H CH3 H CH3 H
HO CH3

Zeaxantina
Figura 8.8 – Estrutura da zeaxantina, um
carotenoide do grupo das xantofilas.
(Adaptada de TAIZ; ZEIGER, 2008)
Fotomorfogênese 145

• Luz azul causa curvatura lateral.


A Tipo selvagem
• Curvatura causada por transporte
lateral de auxinas.
• Fototropinas são receptores de luz azul.

Coleóptilos de milho

B Mutantes

Luz azul

Deficientes em fototropinas
Fototropismo em plântulas de Arabidopsis

Figura 8.9 – Fototropismo em milho e em Arabidopsis. Mutantes de Arabidopsis deficientes em


fototropinas não apresentam fototropismo. (Adaptada de TAIZ; ZEIGER, 2008)

O desestiolamento ocorre quando plântulas que germinaram


no escuro passam a receber luz solar. Luz vermelha ou luz azul
desencadeiam essas respostas. As plântulas que eram estioladas
passam a ter redução do crescimento do caule em altura, expansão
de lâmina foliar, síntese de clorofilas e enzimas necessárias à fotos-
síntese (Figura 8.10).
Essa resposta pode ocorrer pela absorção da luz azul pelos crip-
tocromos ou pela absorção de luz V pelos fitocromos. Algumas
respostas de fotomorfogênese podem ser desencadeadas por mais
de um fotorreceptor. Isso sempre garante à planta uma adaptação
ao seu ambiente e o melhor aproveitamento da qualidade da luz
disponível.
No mecanismo de abertura estomática, a luz azul absorvida pela
zeaxantina, presente nos tilacoides dos cloroplastos das células-
guarda, ativa as H+ATPases das membranas celulares dessas células.
146 Fisiologia Vegetal

1,2

Ativo na inibição
1,0
do alongamento
Eficiência quântica relativa

do hipocótilo Hipocótilo
0,8
UV-A Azul
Desestiolamento
0,6

Luz V ou Azul
0,4
Figura 8.10 – Efeito da luz
azul e da luz vermelha no
0,2 desestiolamento de plântulas
658 nm
ou inibição de crescimento de
hipocótilos. (Adaptada de TAIZ;
320 400 500 600 ZEIGER, 2008)
Comprimento da onda (nm)

Essas enzimas bombeiam prótons H+ para fora das célu-


ψπ, ψos, ψs ou simplesmente π são
las, propiciando a abertura de proteínas canais de íons símbolos utilizados para fazer refe-
K+ e Cl- nas primeiras horas da manhã para dentro das rência ao potencial osmótico de uma
células-guarda. Isso causa redução de ψπ (o potencial solução, que é originado pela presen-
ça de solutos nessa solução. Quan-
osmótico fica mais negativo) das células-guarda e entra-
to maior a concentração dos solutos
da de água. Durante o dia, a luz vermelha induz a fotos- e menor o número de moléculas de
síntese nos cloroplastos das células-guarda, que passam água, mais negativo fica esse poten-
a sintetizar sacarose, a qual contribui para a redução de cial e consequentemente mais nega-
ψπ. A sacarose aumenta lentamente pela manhã e tor- tivo será o potencial hídrico.

na-se dominante em relação ao K+ durante o dia.


Estudos realizados com plantas mutantes de Arabidopsis tha-
A superexpressão de um
liana L. comprovam que a luz azul pode também ser absorvida gene induz ao aumento
pelos crioptocromos e fototropinas que agem juntamente com as da síntese de proteínas
codificadas por esse gene. Os
zeaxantinas no processo de abertura dos estômatos. Plantas mu-
criptocromos e fototropinas
tantes que não contêm zeaxantinas, criptocromos ou fototropinas são moléculas formadas por
apresentaram menores aberturas estomáticas quando comparadas um cromóforo e uma proteína.
A superexpressão de genes
às plantas selvagens e plantas que produzem níveis maiores desses que codificam esses receptores
fotorreceptores. Ou seja, uma superexpressão dessas moléculas fa- de luz aumenta a síntese das
proteínas que constituem
vorece uma abertura estomática muito maior do que a abertura esses receptores.
estomática de plantas selvagens (Figura 8.11).
Fotomorfogênese 147

Abertura estomática (μm)

Tipo selvagem
2.8
npq 1 (mutante
sem zeaxatina)
2.4
WT cry1 cry2

2.0

50 100 150
Luz vermalha de fundo (μmol m-2s-1)

WT - selvagem. cry1 cry2 phot1 phot2 cry1 cry2


cry1 - deficiente em criptocromo I. phot1 phot2
cry1 cry2 - deficiente em criptocromo I e II.
CRY1-ovx - superexpressão de criptocromo I.
CRY2-ovx - supeexpressão de criptocromo II.
phot1 phot2 - deficiente em fototropinas.
CRY1-ovx CRY2-ovx

Figura 8.11 – Abertura estomática em plantas selvagens e mutantes de Arabidopsis thaliana.


(Adaptada de MAO et al., 2005)

Resumo
As respostas induzidas pela luz são chamadas de respostas de
fotomorfogênese. Essas respostas dependem da qualidade da luz,
da intensidade e duração da luminosidade. Os principais fotorre-
ceptores são os fitocromos, os criptocromos, as fototropinas e a ze-
axantinas. Esses fotorreceptores são considerados cromoproteínas,
pois possuem um cromóforo que absorve luz, ligado a uma prote-
ína que tem ação enzimática. Os fitocromos absorvem principal-
mente a luz vermelha e o comprimento de onda vermelho longo e
participam de respostas, como o desestiolamento, a germinação de
sementes e a floração (ver Capítulo 9). Os criptocromos absorvem
luz UV-A e luz azul e também participam das respostas de deses-
tiolamento. As fototropinas absorvem luz azul e estão envolvidas
com respostas de fototropismo, e a zeaxantina, um carotenoide do
sistema de antenas dos cloroplastos de células-guarda, participa do
mecanismo de abertura estomática absorvendo luz azul.
148 Fisiologia Vegetal

Referências
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
LIN, C. Blue light receptors and signal transduction. The Plant
Cell, p. 207-225, 2002. Supplement.
MAO, J. et al. A role for Arabidopsis cryptochromes and COP1 in
the regulation of stomatal opening. PNAS, Washington, v. 102, n.
34, p. 12270-12275, 23 ago. 2005.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.

Bibliografia recomendada
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
c a p í t u lo 9
c a p í t u lo 9
Floração
Neste capítulo serão estudados os principais sinais endóge-
nos e exógenos envolvidos com a indução da floração, prin-
cipalmente o fotoperiodismo e a vernalização, bem como a
influência dos hormônios na floração.
Floração 153

9.1 Introdução
A floração é um dos eventos fisiológicos mais complexos da
vida das plantas. Embora as pesquisas em Biologia Vegetal tenham
avançado muito nas últimas décadas, esse complicado processo
está longe de ser desvendado.
A floração pode ocorrer em poucas semanas após a germinação
das sementes nas plantas não perenes (monocárpicas), que apre-
sentam um ciclo de vida curto e florescem apenas uma vez na vida.
Por outro lado, a floração pode ocorrer muitos anos após a ger-
minação da semente, após a planta completar sua fase juvenil ou
período de juvenilidade e estar madura e apta para o florescimen-
to. É o que acontece com diversas espécies arbóreas (Tabela 9.1).

Tabela 9.1 – Comprimento do período juvenil em


algumas espécies lenhosas
Espécie Comprimento do período juvenil
Carvalho 25-30 anos
Faia 30-40 anos
Hera 5-10 anos
Maçã 4-8 anos
Plátano 15-20 anos
Rosa 20-30 dias
Sequoia 5-15 anos
Uva 1 ano
154 Fisiologia Vegetal

A idade e o tamanho da planta são fatores intrínsecos (internos)


que podem controlar a floração, sem que a planta necessite de si-
nais especiais do seu ambiente, como fotoperíodo, temperaturas
adequadas e outros. Esse mecanismo é conhecido como mecanis-
mo autônomo. Nesse caso, basta à planta atingir certo tamanho ou
idade para estar preparada para florescer.
Durante a floração e a formação de sementes e de frutos, a
planta precisará intensificar a sua fotossíntese para produzir as
substâncias de reserva que serão armazenadas tanto em sementes
como em frutos. Para isso, ela precisa de uma quantidade de folhas
fotossinteticamente ativas que estejam aptas a fornecer as reser-
vas suficientes para iniciar seu florescimento e possam concluir
essa importante etapa de seu ciclo de vida produzindo sementes e
frutos.
A floração pode ser controlada também por sinais ambientais,
como o fotoperíodo (comprimento do dia) ou tratamentos de bai-
xas temperaturas (vernalização). Também nesses casos a planta
precisará estar madura fisiologicamente para ser capaz de perce-
ber esses importantes sinais ambientais e responder a eles produ-
zindo flores, sementes e frutos.
Os mecanismos autônomos e as respostas aos sinais ambientais
ativam mais de 80 genes envolvidos com a floração. Esses genes
codificam enzimas envolvidas com mitose, meiose, síntese de hor-
mônios vegetais, diferenciação de meristemas apicais em meriste-
mas florais, síntese de pigmentos coloridos e substâncias voláteis
aromáticas.
Como a floração é um evento que ocorre em determinados pe-
ríodos da vida da planta, a meiose, responsável pela formação de
grãos de pólen e oosferas, não estará acontecendo sempre na vida
de uma planta, mas somente nessa fase. Então, devem existir genes
que se expressam apenas nesses períodos e que dependem de me-
canismos autônomos ou de sinais ambientais para se expressarem.
Neste capítulo, estudaremos principalmente o fotoperiodismo,
a vernalização e a função de alguns hormônios na floração.
O fotoperiodismo e a vernalização são os mais importantes me-
canismos de resposta ao ambiente para a floração. A vernalização
Floração 155

é a resposta de floração após o embrião da semente ou os meris-


temas apicais receberem baixas temperaturas no ambiente. A ra-
diação e a disponibilidade de água são sinais ambientais também
importantes.
O fotoperiodismo é a resposta ao comprimento do dia. As plan-
tas medem o fotoperíodo (comprimento do dia) por meio de re-
lógios biológicos, marcapassos endógenos ou osciladores endó-
genos. As plantas possuem ritmos metabólicos que acompanham
a duração do dia e da noite. Esses ritmos são chamados de ritmos
circadianos.
Os fotorreceptores de luz medem a qualidade e a quantidade
da luz e podem induzir a floração. Atualmente, sabemos que os
fitocromos e os criptocromos participam da indução da floração.

9.2 Indução da floração pelo fotoperíodo


O fotoperiodismo é a percepção da duração do dia pelas plan-
tas. Os fitocromos e os criptocromos (ver Capítulo 8) estão en-
volvidos na percepção do fotoperíodo. Na verdade, a duração da
noite é mais importante do que a do dia para a floração.
Os pesquisadores norte-americanos Garner e Allard, na déca-
da de 20 do século XX, propuseram a existência de categorias de
plantas quanto à percepção de fotoperíodo (Figura 9.1).

24 h

Fotoperíodo
crítico

A Planta de dia curto B Planta de dia longo

Figura 9.1 – Plantas de dias curtos e plantas de dias longos e o fotoperíodo crítico.
156 Fisiologia Vegetal

Plantas de dias longos (PDL) São plantas de dias curtos: Glycine max (soja), Cry-
santhemum morifolium, Kalanchoe blossfeldiana,
As plantas de dias longos são aquelas que flores-
Zea mays (só algumas variedades), Helianthus an-
cem quando recebem um número mínimo de ho-
nus, Gossypium hirsutum.
ras de luz (fotoperíodo crítico) ou horas de luz aci-
ma do número mínimo a cada ciclo de 24 horas. Florescem no início da primavera ou do outono.
Como exemplo, citaremos algumas espécies de in-
São plantas de dias longos: Avena sativa, Nicotiana
teresse agronômico que florescem apenas durante
sylvestris, Raphanus sativus.
o outono: crisântemos, café, bico-de-papagaio (Eu-
Florescem principalmente no verão. Como exem- phorbia spp), morangos, prímulas.
plo, citaremos algumas espécies de interesse agro-
Plantas de dias neutros (PDN)
nômico que florescem na primavera e no verão: es-
pinafre, algumas batatas, certas variedades de tri- As plantas de dias neutros são indiferentes ao foto-
go, alface, aveia, cravo, ervilha. período e não precisam de tratamentos fotoperió-
dicos especiais.
Plantas de dias curtos (PDC)
As plantas de dias curtos são aquelas que flores-
cem quando recebem um número máximo de ho-
ras de luz (fotoperíodo crítico) ou horas de luz abai-
xo do número máximo a cada ciclo de 24 horas.

O fotoperíodo crítico é o número máximo de horas de luz para


induzir floração em PDC e o número mínimo de horas de luz
para induzir floração em PDL (Figura 9.2).

Tratamento de luz Resposta de florescimento

Luz Escuro PDC PDL

Florescimento Vegetativa

Vegetativa Florescimento

Vegetativa Florescimento

Vegetativa Florescimento

Vegetativa Florescimento

Florescimento Vegetativa
24 h

Figura 9.2 – Efeito de lampejos de luz no período noturno em plantas de dias curtos e
plantas de dias longos. (Adaptada de TAIZ; ZEIGER, 2008)
Floração 157

O fotoperíodo crítico de Xanthium strumarium (carrapicho –


PDC) é de 15 horas de luz, ou seja, essa planta floresce quando re-
cebe no máximo 15 horas de luz e no mínimo 8,3 horas de escuro
ou mais e tem ciclo indutivo único, o que significa que basta ela
receber uma única vez esse tratamento luminoso para que esteja
induzida a florescer. O Hyocyamus niger (PDL) floresce quando
recebe mais do que 11 horas de luz. O fotoperíodo crítico e núme-
ro de ciclos indutivos variam conforme a espécie, e a percepção
fotoperiódica é feita pelas folhas adultas mais basais.
Os pesquisadores também observaram que quando as plantas
de dias curtos recebiam lampejos de luz durante seu período no-
turno, sua floração era inibida. Se as plantas de dias longos rece-
bessem tratamentos luminosos mais longos durante seu período
noturno, elas continuavam a florescer (ver Figura 9.2). A luz ver-
melha (1h) aplicada no meio do período noturno em PDL induzia
sua floração, mas VE inibia. Já a luz vermelha (poucos minutos)
aplicada no meio do período noturno em PDC inibia sua floração,
mas o VE não inibia.
No século passado, o cientista russo Mikhail Khristoforovich
Chailakhyan (1901-1991) trabalhou intensamente com floração
durante aproximadamente 60 anos, com Chrysanthemum (PDC)
e outras plantas, e chegou a várias conclusões.
Ele concluiu que o fotoperíodo é percebido pelas folhas basais
adultas e que as plantas respondem ao fotoperíodo produzindo es-
tímulos florais de natureza hormonal. Ele concluiu também que os
estímulos florais são transportados para o meristema apical, que se
transforma de vegetativo em floral, e que uma única folha ou ape-
nas partes da folha são capazes de perceber o fotoperíodo e induzir
floração em Xanthium strumarium L. Asteraceae, (PDC), mas em
outras espécies são necessários vários pares de folhas.
Observou que as plantas necessitam de ciclos de fotoperíodos
adequados, mas que algumas requerem apenas um ciclo (ou um
dia), como Xanthium strumarium (PDC). Chailakhyan observou
que as substâncias endógenas produzidas pela planta para a indu-
ção de floração podem ser transferidas de uma planta para outra
por enxertia (Figura 9.3).
158 Fisiologia Vegetal

Inflorescência
masculina

Figura 9.3 – Enxertia de ápice


induzido de Xanthium strumarium
Planta de
L. para planta não induzida.
Xanthium
(Adaptada de TAIZ; ZEIGER, 2008)
induzida

Atualmente sabemos que os fitocromos e os criptocromos são


os pigmentos que estão envolvidos com a percepção do fotope-
riodismo para a floração. Ainda não são conhecidas exatamente
todas as funções desses pigmentos, mas existem dados obtidos a
partir de plantas mutantes de Arabidopsis thaliana L. e arroz que
mostram o envolvimento desses pigmentos na floração.
Sabemos que a luz vermelha transforma parte das moléculas de
fitocromos da forma Fv (fitocromo vermelho) para a forma Fve
(fitocromo vermelho longo) (ver Capítulo 8). Isso acontece ao lon-
go do dia, quando as plantas estão recebendo a luz solar. Então,
ao final do dia, há certa quantia de fitocromos na forma ativa Fve,
em folhas de plantas que estão percebendo o fotoperíodo para a
floração.
Durante a noite, parte das moléculas de Fve se transforma len-
tamente em Fv e parte é destruída, havendo então um decréscimo
dessa forma de fitocromo no período noturno.
As plantas parecem, na verdade, medirem o período noturno,
ou seja, distinguem se a sua noite é mais longa ou mais curta. As
plantas de dias curtos não podem receber lampejos de luz durante
a noite, na época em que estão recebendo fotoperíodo indutivo
de floração, pois sua floração será inibida ou retardada. Aparente-
mente, essas plantas devem manter níveis muito baixos de fitocro-
Floração 159

mos Fve durante a noite, pois quanto maior for a duração da noite,
maior número de moléculas desse fitocromo será transformado ou
destruído.
No entanto, as plantas de dias longos florescem se receberem
tratamentos luminosos de uma hora ou mais durante seu período
noturno, o que vai manter mais elevados seus níveis de Fve.
Mas nos dois casos, níveis altos de fitocromo B inibem a flora-
ção, pois esse fitocromo reprime a expressão de genes indutores de
floração. Já o fitocromo A parece promover a floração. É impor-
tante ressaltar que esses mecanismos são altamente complexos e
que existe também a atuação de outros pigmentos fotorreceptores,
como os criptocromos atuando nessas respostas.
Recentemente, pesquisadores trabalhando com expressão de
genes e indução floral em Arabidopsis thaliana e arroz observaram
interações entre fitocromo A, fitocromo B e criptocromo na ativa-
ção dos genes da floração CO, PFT1 e FT na floração. O fitocromo
A e o criptocromo ativam o gene CO (CONSTANS). Esse gene
codifica uma proteína fator de transcrição que ativa o gene FT que
promove a floração. O fitocromo B bloqueia a expressão do gene
PFT1, que por sua vez produz proteínas que ativam a expressão
de gene CO (CERDAN; CHORY, 2003; HAYAMA; COUPLAND,
2004) (Figura 9.4).
Além disso, os ritmos circadianos também atuam no controle
dessas respostas, existindo genes que se expressam somente à noite
e outros somente de dia. Portanto, esse
assunto aqui é tratado de forma super-
Fitocromo B ficial e simples. Outras informações
podem ser obtidas em livros-textos
mais especializados e também em pes-
Fitocromo A
quisas bibliográficas sobre o assunto.
CO PFT 1
Criptocromo

FT Figura 9.4 – A interação entre fitocromos


A e B, criptocromos e alguns genes
necessários à floração. (Adaptada de
Planta vegetativa Planta florida CERDAN; CHORY, 2003)
160 Fisiologia Vegetal

9.3 Indução da floração pela vernalização


Em muitas plantas originadas em regiões de climas temperados,
a floração é induzida pelas baixas temperaturas do inverno. A per-
cepção das baixas temperaturas é conhecida como vernalização,
que, segundo propôs Lysenko em 1928, significa um comporta-
mento correspondente à primavera (Figura 9.5).

Temperatura alta Temperatura baixa

sementes

Sem frutos Com frutos

Não vernalizada Vernalizada

Não vernalizada Vernalizada


Árvore de região
temperada

Figura 9.5 – O efeito da vernalização em plantas anuais e perenes.

A vernalização é percebida pelos meristemas apicais do eixo


embrionário de sementes ou pelos meristemas apicais caulinares
de plantas perenes. A ausência de vernalização causa atraso na flo-
ração de plantas em roseta, que não alongam seus caules e não
desenvolvem um eixo ou escapo floral. As temperaturas eficientes
para induzir a floração estão entre zero até 10ºC, com temperatu-
ras ótimas entre 1 e 7ºC. Para indução de floração, a planta precisa
receber várias semanas de exposição às baixas temperaturas.
A vernalização está relacionada também ao fotoperíodo especí-
fico, principalmente aos dias longos. Por exemplo, a vernalização
Floração 161

seguida por dias longos induz floração no início do verão em trigo


de inverno e Hyoscyamus niger. Em outros casos, a vernalização
de meristemas pode induzir floração mesmo sem a planta receber
fotoperíodos indutivos.
Em geral, as plantas anuais são vernalizadas quando plântulas,
enquanto as plantas bianuais são vernalizadas após a primeira es-
tação de crescimento.
Como exemplos de espécies que precisam passar por um perí-
odo de frio antes da ocorrência do florescimento, podem ser cita-
das: alface, beterraba, ervilha, espinafre, repolho, salsão. Acredi-
ta-se que podem ser vernalizados apenas os tecidos que possuem
células em divisão.
Estudos realizados com Arabidopsis thaliana mostram que em
plantas não vernalizadas ocorre expressão de um gene denomi-
nado de FLC (lócus C de florescimento). Esse gene retarda o flo-
rescimento, e as plantas precisam crescer vegetativamente por um
tempo bem mais longo e adquirir um elevado número de folhas
para florescer. Em plantas vernalizadas, o RNA mensageiro desse
gene não foi observado, e as plantas florescem bem mais cedo.

9.4 Hormônios envolvidos com floração


Chailakhyan (1901-1991) propôs a existência do florígeno ou
hormônio de floração que seria constituído de giberelinas e ante-
sinas. As antesinas nunca foram isoladas e purificadas. Mas é bem
conhecido o fato de que as giberelinas podem substituir a necessi-
dade de indução fotoperiódica em algumas plantas de dias longos,
cuja floração é acompanhada pelo alongamento de caule floral, em
plantas que na fase vegetativa são rosetas, como alface e repolho
(ver Capítulo 7). Em plantas de espinafre (Spinacia oleracea) foram
observados aumentos de cinco vezes nos níveis de GA1 em plan-
tas mantidas em dias longos. O etileno comprovadamente é capaz
de induzir a floração em abacaxizeiro. As citocininas aumentam a
atividade mitótica, mas não induzem a floração de mostarda (Si-
napis alba), que é uma planta de dia longo. Nas plantas de mostar-
162 Fisiologia Vegetal

da também foram verificados aumentos nos níveis de poliaminas,


uma nova classe de hormônios vegetais.
Existe interação entre giberelinas e vernalização. As giberelinas
aplicadas exogenamente podem substituir os tratamentos de ver-
nalização em alface, cenoura, nabo, mostarda, rabanete e repolho
e acelerar o florescimento dessas plantas.
Sem dúvida, existe uma interação entre fotoperiodismo, fitocro-
mos, criptocromos, vernalização e a biossíntese de hormônios ve-
getais, que por sua vez podem estar envolvidos com a ativação ou
repressão de genes envolvidos com floração (Figura 9.6).

Resumo
Uma planta para estar apta para florescer precisa passar por um
período de desenvolvimento vegetativo conhecido como período
juvenil, que é altamente variável. Após esse período, a planta acha-
se apta a florescer desde que esteja se desenvolvendo em condi-
ções de boa disponibilidade de água, nutrição e luz para realizar a
fotossíntese. Algumas plantas vão florescer sem a necessidade de
estímulos ambientais. Essas plantas florescem por mecanismos au-
tônomos. Outras só irão florescer se receberem estímulos ambien-
tais específicos, como o fotoperíodo adequado ou a vernalização.
O fotoperíodo é percebido pelo sistema de fitocromos e cripto-
cromos, por mecanismos que ainda não são bem conhecidos. A
vernalização é percebida pelos meristemas apicais de embriões de
sementes ou caules. Esses mecanismos atuam por meio da repres-
são de genes inibidores e da indução de genes indutores da flora-
ção. Os hormônios vegetais participam da promoção da floração.
As giberelinas promovem a floração em plantas fotoperiódicas de
dias longos (PDL) ou de plantas que necessitam de vernalização.
Número Temperatura Sacarose Giberelinas
de folhas baixa
Luz

Fotoperiodismo Receptor de GA

Vermelha Vermelha- Azul


distante
Vernalização
Rota Rota da Rota das
autônoma energia giberelinas
PHYB PHYA CRY1 CRY2

GENES DO RELÓGIO ?
LOCUS C DO FLORESCIMENTO ?

Inibe o “Florígeno”
florescimento (floema)

GENES DE
CONSTANS ÓRGÃOS FLORAIS

Indução
Inibição
Floração

Figura 9.6 – Interação entre luz, fitocromos, criptocromos, mecanismos autônomos, vernalização, sacarose e giberelinas na indução
de genes envolvidos com a formação de órgãos florais. (Adaptada de TAIZ; ZEIGER, 2008)
163
164 Fisiologia Vegetal

Referências
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quality. Nature, 423, p. 881-885, 2003.
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KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
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Physiology, 123, 39-50, 2000.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.

Bibliografia recomendada
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 856 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 820 p.
c a p í t u lo 1 0
c a p í t u lo 1 0
Germinação de sementes
Neste capítulo, estudaremos a estrutura das sementes, os
fatores necessários à germinação, os principais eventos meta-
bólicos durante a germinação e os mecanismos de dormência
em sementes.
Germinação de sementes 169

10.1 Introdução
A germinação de sementes é o processo pelo qual essas unida-
des de dispersão, que são geralmente dispersas da planta-mãe com
baixa ou nenhuma atividade metabólica, retomam seu metabolis-
mo quando recebem as condições ideais. Durante esse processo,
os embriões se desenvolvem e dão origem a uma pequena planta
ou plântula. Para entendermos um pouco sobre a germinação de
sementes, é importante conhecermos um pouco de sua estrutura,
Figura 10.1 – Estrutura de dos requisitos necessários à germinação e dos mecanismos de dor-
sementes de dicotiledôneas e
mência e controle da germinação.
monocotiledôneas.

Tegumento Endosperma
10.2 Formação e estrutura das
Gêmula
Cotilédone sementes
Caulículo As sementes são geralmente formadas por
um embrião, pelo endosperma ou perisperma e
Radícula
pelo tegumento, testa ou casca.
O embrião é formado pela raiz embrionária,
Tegumento
hipocótilo (ou caulículo) ligado a um ou mais
cotilédones e ápice com as primeiras folhas ver-
Cotilédone
dadeiras (plúmula ou gêmula). O endosperma
ou perisperma é um tecido extraembrionário
Plúmula que pode estar presente ou ausente e possuir
Caulículo muitas ou poucas substâncias de reserva (Figu-
Radícula
ra 10.1).
170 Fisiologia Vegetal

O tegumento, a testa ou a casca são sinônimos para o tecido que


reveste a semente.
O ovário de uma flor é formado pela parede, tegumentos, chala-
za, funículo, micrópila e óvulos. Os óvulos ou sacos embrionários
são formados por oito células: três células antípodas, dois núcle-
os polares, uma célula-ovo (oosfera) e duas células sinérgides. Os
grãos de pólen germinados são formados pelo tubo polínico, dois
núcleos espermáticos e um núcleo vegetativo (Figura 10.2).
O embrião é formado pela fertilização do óvulo com o primei-
ro núcleo espermático ou núcleo germinativo do tubo polínico.
O endosperma é formado pela fusão de dois núcleos polares com
o segundo núcleo espermático polínico. O perisperma (quando
presente) é formado pelo envelope do nucelo, e a testa ou casca é
formada por um ou ambos os tegumentos do óvulo. Esse processo
é chamado de dupla fecundação. O embrião será diploide (2n) e o

Antera Grão de
pólen
Estigma

Estilete Filete Núcleos germinativos


Pistilo ou espermáticos
Óvulo Núcleo
Ovário
vegetativo
Pétala

Tubo
Receptáculo polínico
Sépala

Antípodas
Núcleos
Nucelo polares

Núcleo
Oosfera
Saco embrionário
Tegumentos
Sinérgides
Micrópila

Óvulo

Figura 10.2 – Partes de uma flor, grão de pólen germinado, óvulo e saco embrionário.
Germinação de sementes 171

Figura 10.3 – A fecundação da oosfera e dos


Antípodas
núcleos polares e semente de dicotiledônea
Núcleos polares em desenvolvimento.

Sinergídes
Oosfera
Pericarpo
Tegumentos

Núcleos germinativos Tubo polínico Figura 10.4 – Embriogênese de


ou espermáticos Eixo embrionário Arabidopsis thaliana.
e cotilédones

C
B cot sm
A
pd
ut hc
ult
ac lt
llt
bc hy
rt
su

2 Células Globular Coração


Plântula

endosperma, triploide (3n). O ácido abscísico contribui para o


desenvolvimento das sementes, pois induz a síntese de proteí-
nas de reservas em endospermas e cotilédones, como visto no
Mesocarpo Capítulo 7 (Figuras 10.3 e 10.4).
A parede do ovário vai formar o fruto. Ela desenvolve-se em
pericarpo, o qual é formado por três camadas: exocarpo (ou
Endocarpo epicarpo), mesocarpo e endocarpo (Figura 10.5). Alguns fru-
tos, como a banana (Musa acuminata Colla, Musaceae) e o aba-
caxi (Ananas comosus (L.) Merr, Bromeliaceae) podem formar-
se sem fecundação prévia e, portanto, nesse caso, não possuem
Epicarpo
sementes. São chamados frutos partenocárpicos. O desenvolvi-
Figura 10.5 – O abacate (Persea mento da parede do ovário que origina o fruto é controlado pe-
americana Mill, Lauraceae) é um
exemplo de fruto tipo baga que las auxinas, giberelinas e citocininas produzidas pelo embrião
apresenta apenas uma semente. em desenvolvimento, e a maturação do fruto é induzida pelo
172 Fisiologia Vegetal

etileno, como vimos no Capítulo 7. Por outro lado, a presença de


ácido abscísico nas sementes impede que elas germinem dentro
dos frutos, processo conhecido como viviparidade. Esse processo
é indesejável, tanto do ponto de vista ecológico quanto agrícola.
Ecologicamente as plântulas formadas dessa maneira não sobre-
vivem, e do ponto de vista agrícola a produção de grãos, como o
trigo, para a fabricação de farinha, é perdida.
Quanto às partes da semente que armazenam as reservas, estas
podem ser endospérmicas, quando as substâncias de reserva estão
principalmente no endosperma ou no perisperma, por exemplo,
as sementes de mamona, ou cotiledonares, quando as substâncias
de reserva estão principalmente nos cotilédones, por exemplo, o
feijão.
As principais substâncias de reserva da maioria das plantas cul-
tivadas são os carboidratos. Nas sementes, predominam amido,
hemiceluloses celulares, celulose e pectinas de paredes, dissaca-
rídeos e oligossacarídeos da série rafinose que iniciam a respira-
ção celular e encontram-se solúveis nos citoplasmas das células do
embrião. As gorduras e os óleos são também importantes fontes de
substâncias de reserva, principalmente os triacilglicerois ou trigli-
cérides (óleos), fosfolipídios, glicolipídios e esterois.
As sementes de cereais, como milho, trigo, aveia, centeio, arroz
e sorgo, constituem a primeira fonte mundial de proteínas vege-
tais, e as sementes de leguminosas são as segundas fontes.
A Tabela 10.1 mostra a distribuição das substâncias de reserva
em cariopses de milho. A Tabela 10.2 apresenta os percentuais de
substâncias de reserva para algumas importantes sementes utili-
zadas como alimentos ou para a produção de óleos alimentícios.

Tabela 10.1 – Distribuição das substâncias de reserva do milho (%)


Endosperma e
Reservas Grão inteiro Embrião e escutelo
camada de aleurona
Amido 74 88 9
Óleos 4 <1 31
Proteínas 8 7 19
Germinação de sementes 173

Tabela 10.2 – Composição de proteínas, óleos e carboidratos em


algumas espécies cultivadas – Composição média (%)
Proteínas Óleos Carboidratos Órgão de reserva
Centeio 12 3 76 Endosperma
Milho 10 5 80 Endosperma
Cereais Aveia 13 8 66 Endosperma
Cevada 12 2 76 Endosperma
Trigo 12 2 75
Fava 23 1 56 Cotilédone
Leguminosas

Ervilha 25 6 52 Cotilédone
Amendoim 31 48 12 Cotilédone
Soja 37 17 26 Cotilédone
Outras

Canola
21 48 19 Cotilédone
(Brassica napus)

10.3 Fatores necessários à germinação


Quanto à posição dos cotilédones logo após a emergência das
plântulas, a germinação pode ser classificada como: epígea, quan-
do os cotilédones emergem do solo, por exemplo, feijão; hipógea,
quando os cotilédones permanecem subterrâneos, por exemplo,
milho (Figura 10.6).
Os três fatores indispensáveis para a germinação das sementes
são: água, oxigênio e temperaturas amenas (25ºC).

Quando a germinação inicia?


A germinação inicia com a absorção de água pelas sementes,
processo conhecido como embebição. Finaliza com o início do
alongamento do eixo embrionário, geralmente radícula.
Uma semente viva, que não está em processo germinativo, é
chamada de quiescente, está em repouso e sua atividade metabó-
lica é muito baixa.
Sementes que são dispersas apresentando um baixo teor de
água (de 5 a 15%) são chamadas de sementes ortodoxas. Exem-
plos: milho, feijão e a maioria das espécies cultivadas.
174 Fisiologia Vegetal

Figura 10.6 – Germinação epígea


Germinação epígea Germinação hipógea (feijão) e hipógea (milho).

Por outro lado, a grande maioria das sementes das florestas


tropicais é dispersa, apresentando um elevado teor de água e um
metabolismo ativo. Essas sementes são chamadas de sementes re-
calcitrantes. Exemplos: Cocus nucifera (coco), Theobrama cacau
(cacau), Rhizofora mangle, Coffea arábica (café), Hevea brasiliensis
(seringueira).
Sementes viáveis quando não germinam em condições favorá-
veis (água, O2 e temperaturas apropriadas) estão dormentes.
Germinabilidade é o termo utilizado para expressar a germina-
ção de sementes, que geralmente é expressa em porcentagem, que
deve ser determinada a intervalos regulares de tempo ou diaria-
mente. Se a semente germinar em poucos dias, a contagem de ger-
minação deve ser feita diariamente, mas se a germinação for de-
morada, podem ser feitas contagens em intervalos regulares, por
exemplo, a cada dois dias, uma vez por semana ou outro intervalo.
Os resultados devem ser transformados em porcentagens e podem
ser expressos na forma de curvas de germinação, que geralmente
são sigmoides (em forma de S) (Figura 10.7).
Germinação de sementes 175

100

80

Germinação (%)
60

40

20

0
0 4 8 12 16 20
Figura 10.7 – Modelo de
curva de germinação. Dias de cultivo

10.4 Eventos metabólicos durante a


germinação
A germinação inclui uma série de eventos, geralmente a hidra-
tação de proteínas, carboidratos e ácidos nucleicos, alterações de
estruturas celulares, ativação de respiração, síntese de macromolé-
culas e alongamento celular.
A hidrólise de substâncias de reservas na plântula é considera-
da como um processo pós-germinativo, ou seja, um processo que
ocorre na plântula que já emergiu.
A absorção de água pelas sementes é a etapa inicial da germi-
nação. O oxigênio necessário ao metabolismo é absorvido, junta-
mente com a água, na qual se acha diluído. As sementes ortodoxas
absorvem um volume de água equivalente a duas ou três vezes o
seu peso seco. As curvas de absorção de água e de oxigênio são
trifásicas, e a absorção da água depende do potencial hídrico da
semente: ψ = ψp + ψp + ψm, onde ψ é o potencial hídrico da
semente; ψp é o potencial de soluto, gerado pelas micromolécu-
las e sais solúveis; ψp é o potencial de pressão, pressão de turgor,
ou pressão de turgescência, gerada pela água pela pressão da água
presente nas sementes; ψm é o potencial matricial, gerado pelas
macromoléculas, como carboidratos, proteínas e ácidos nucleicos,
que estão extremamente desidratadas nas sementes quiescentes.
Na fase I, o ψm é muito negativo, e o ψ da semente ortodoxa
está ao redor de –100 MPa. Nessa fase, a embebição é consequên-
176 Fisiologia Vegetal

cia das forças matriciais geradas pelas macromoléculas que estão


extremamente desidratadas. A absorção da água independe de a
semente ser viável ou não, dormente ou não, caso não haja restri-
ção à entrada de água pelo tegumento da semente.
Na fase II ou lag phase, a embebição das sementes está concluí-
da, e o ψ das sementes não excede –1 a –1,5 MPa. Nessa fase, even-
tos metabólicos preparam a emergência da radícula de sementes
não dormentes ou dormentes.
A fase III ocorre somente em sementes não dormentes e vivas,
pois depende do metabolismo ativo. Ocorre alongamento de ra-
dícula pelo aumento da absorção de água devido à diminuição de
ψos das células da radícula. Isso acontece, pois começa a ocorrer
hidrólise de substâncias de reserva, gerando micromoléculas so-
lúveis, que atraem água por osmose. Esse evento é considerado
como pós-germinativo.
A Figura 10.8 mostra os principais eventos do metabolismo que
ocorrem durante as três fases da embebição das sementes.
As temperaturas ótimas para a germinação estão entre 20 e 30ºC,
pois são ideais para a ativação de enzimas hidrolíticas de reservas
e enzimas do metabolismo celular (Tabela 10.3). As temperatu-
ras ótimas são aquelas que permitem as maiores porcentagens de
germinação, no menor intervalo de tempo. Entretanto, sementes
podem germinar em temperaturas abaixo ou acima das ótimas,
porém a germinação será mais lenta.

Tabela 10.3 – Temperaturas máximas e mínimas para a germinação de


alguns cultivares e variedades das espécies
Temperatura ºC
Espécie Família Nome vulgar
Mínima Máxima
Allium porrum L. Liliaceae Alho-poró 7 23
Apium graveolum (cv. Golden) Umbelliferae Salsão 10 15
Brassica oleracea L. Cruciferae Repolho 4 42
Dolichos biflorus L. Fabaceae Feijão-fradinho 6 42
Gypsophila perfoliata L. Caryophyllaceae Gypsophila 2 40
Lychnis flos-cuculi L. Caryophyllaceae 9 35
Lycopersicon esculentum L. Solanaceae Tomate 12 36
Silene gallica L. Caryophyllaceae Silene 2 32
Germinação de sementes 177

Figura 10.8 – Curva de


absorção de água e oxigênio Fase I Fase II Fase III
e principais eventos celulares
durante a embebição. Absorção Intervalo de preparação Germinação
de água Ativação metabólica Crescimento

80
ψπ
Conteúdo de água

9
(%) peso fresco

ψπ
60 ψm
8
6 7 ψ π =ψ p
5
4
3
40
2

20 1
Tolerante Intolerante
à dessecação à dessecação

Tempo de embebição

1 Ativação de respiração e acúmulo de ATP.


2 Síntese de mRNA e reparo de DNA.
3 Ativação de polissomos.
4 Síntese de proteínas a partir de novos mRNAs.
5 Síntese e duplicação de DNA.
6 Início de degradação de reservas.
7 Alongamento da radícula pela entrada de água.
8 Protrusão da radícula.
9 Mitose = formação de novas células para crescimento da plântula.

10.5 Dormência e controle da germinação


A dormência de sementes é um bloqueio da germinação produ-
zido pela própria semente. Esse bloqueio é benéfico, pois permite
que sementes germinem em épocas e locais apropriados. As se-
mentes dormentes necessitam de tratamentos especiais indutores
da germinação, como luz, temperaturas alternadas ou temperatu-
ras baixas, escarificações e lixiviações.
178 Fisiologia Vegetal

As dormências podem ser divididas em: dormência imposta pe-


los tecidos extraembrionários ou exógena; dormência do embrião
ou endógena.

10.5.1 Dormência imposta pelos tecidos


extraembrionários ou exógena
A dormência exógena é caracterizada por um bloqueio da ger-
minação imposto pelo endosperma, pericarpo e órgãos extraflo-
rais que funcionam como barreira física, mecânica ou química,
impedindo a emergência do embrião (Figura 10.9).

Cutícula cerosa e subcutícula


de suberina

Macroesclereídeos com
Testa lignina e taninos

Osteosclereídeos

Endosperma
Células de aleurona

Figura 10.9 – Esquema de corte de testa de semente com dormência exógena.

Nessa categoria de dormência, embriões isolados conseguem


germinar em meios de cultura.
Esse tipo de dormência gera:
a) Dificuldade na absorção de água, pois os tegumentos são extre-
mamente duros e impermeáveis.
b) Resistência mecânica, que se caracteriza pelos endospermas
serem rígidos e dificultarem a perfuração dos tegumentos pela
radícula.
c) Dificuldade em absorver oxigênio, pelos mesmos motivos.
d) Dificuldade na liberação de inibidores de germinação presen-
tes nos tegumentos, que impedem a germinação da semente.
Germinação de sementes 179

No ambiente, essa dormência pode ser quebrada ou eli-


minada pela infestação das sementes pelos microrganis-
mos do solo, pela abrasão das sementes pelas partículas
do solo, pelas altas temperaturas (queimadas) que podem
chamuscar e perfurar as testas duras, pela lixiviação du-
rante chuvas prolongadas, que pode eliminar inibidores
presentes nas testas, e também pela passagem pelo tra-
Figura 10.10 – À esquerda, semente de to digestivo de animais, como aves, mamíferos e alguns
garapuvu escarificada mecanicamente répteis.
com lixa grossa após uma semana de
semeadura; à direita, semente intacta. Em laboratório, as sementes podem ser escarificadas:
(Fotografia feita no Laboratório de
Fisiologia Vegetal do Departamento de
quimicamente, pela imersão em ácido sulfúrico concen-
Botânica da UFSC). trado (H2SO4); mecanicamente, pela abrasão da testa das
sementes em lixa grossa; ou termicamente, pela imersão
rápida em água fervente e imediatamente em água fria (Fi-
gura 10.10).

10.5.2 Dormência do embrião ou endógena


No caso das sementes que possuem dormência endógena, algu-
mas não possuem o embrião completamente desenvolvido duran-
te sua dispersão, podendo apresentar o embrião no estádio globu-
lar ou um pouco mais desenvolvido (ver Figura 10.4).
Um outro tipo de dormência endógena é a presença de inibido-
res de germinação nos cotilédones, sendo o ABA (ácido abscísico)
o mais comum em sementes. Essas sementes dormentes teriam in-
capacidade de transcrever genes necessários à germinação devido
à repressão de certos mRNA.
Nas sementes que apresentam a dormência endógena, alguns
fatores ambientais podem eliminá-la, como um período em que a
semente deve permanecer em repouso num ambiente seco, relati-
vamente quente e bem oxigenado, durante o qual ela completa sua
maturação. Esse tratamento é conhecido como pós-maturação.
As sementes, que geralmente apresentam entre 18 a 20% de umi-
dade, secam lentamente e perdem a dormência após poucos dias,
semanas ou muitos meses (Tabela 10.4).
Algumas espécies originadas de regiões de climas temperados
necessitam passar um período em que devem estar hidratadas, ge-
180 Fisiologia Vegetal

ralmente cobertas por pequena camada de solo ou estrato e man-


tidas em baixas temperaturas (1-10ºC), durante algumas semanas.
Esse tratamento é conhecido como estratificação. Durante esse
tratamento, a semente desenvolve a capacidade para sintetizar gi-
berelinas, como já foi observado para as sementes de avelã, que
devem permanecer por 42 dias a 5ºC e posteriormente em tempe-
ratura acima de 20ºC (Tabela 10.5).
Outras espécies necessitam perceber as temperaturas alternan-
tes no campo. Durante o dia, as temperaturas podem ser bastan-
te altas e durante a noite, bem mais baixas. Essa oscilação causa
alterações no metabolismo das sementes, ainda não muito bem
compreendidas, mas que levam à germinação.
Existem sementes que necessitam de luz ou de escuro para ger-
minar. Essas sementes exibem fotoblastismo. A germinação des-
sas sementes é controlada pela luz, que é absorvida pelos fitocro-
mos (ver Capítulo 8).
As que necessitam de luz são chamadas de sementes fotoblásti-
cas positivas. Esse mecanismo é comum em sementes de pequeno
porte que possuem um pequeno acúmulo de substâncias de re-
serva. As plântulas necessitam iniciar os processos de fotossínte-
se rapidamente após a emergência dos cotilédones, pois possuem
poucas substâncias de reserva e, portanto, as sementes não podem
germinar cobertas pelo solo, pois as plântulas morreriam rapida-
mente. Como exemplo, temos espécies do gênero Miconia (Melas-
tomataceae) e muitas espécies consideradas como ervas daninhas:
Bidens pilosa L. (Asteraceae), conhecida como picão-preto; Stevia
rebaudiana Bert. (Asteraceae), planta da qual se extraí o esteviosí-
deo; diversas espécies de Phyllanthus (Euphorbiaceae), conhecidas
como quebra-pedra.
Outras espécies necessitam de escuro ou pouca luz e são co-
nhecidas como sementes fotoblásticas negativas. Como exemplo,
temos as sementes de maxixe (Cucumis anguria L.), uma cucurbi-
tácea utilizada na alimentação.
Outras sementes podem ter sua dormência eliminada pela lava-
gem em água corrente, que remove inibidores químicos de cotilé-
dones. O inibidor de germinação mais comum é o ácido abscísico
Germinação de sementes 181

(ABA), e os promotores de germinação mais comuns são as gibe-


relinas (GAs), as citocininas e o etileno.

Tabela 10.4 – Efeito da temperatura na pós-maturação de


sementes de arroz (Oriza sativa L., Poaceae)
Tempo para perder 50%
Temperatura (ºC)
da dormência (dias)
27 50
32 30
37 15
42 8
47 5

Tabela 10.5 – Aumento da capacidade de sintetizar giberelinas


após tratamento de estratificação de sementes de avelã
(Corylus avellana L., Betulaceae)
Tratamento Conteúdo de GA (nmol/semente)
GA1 GA9
Controle 1,02 < 0,01
42 dias em 5ºC 0,12 <0,01
42 dias em 5ºC e 8 dias em 20ºC 4,92 3,06

Resumo
As sementes são geralmente formadas por um embrião, pelo en-
dosperma ou perisperma e pelo tegumento, testa ou casca. Para que
uma semente germine, são necessários água, oxigênio e temperatu-
ras amenas. Esses requisitos são necessários para ativar o metabolis-
mo celular dos embriões das sementes e iniciar a hidrólise das subs-
tâncias de reserva. Uma semente é chamada de quiescente quando
é dispersa da planta-mãe e está apta para germinar se receber água,
oxigênio e temperaturas adequadas. Uma semente que ao ser dis-
persa da planta-mãe recebe esses tratamentos, mas não consegue
germinar deve estar dormente. As sementes podem apresentar dor-
mência exógena ou dormência endógena. As dormências podem ser
quebradas ou sobrepujadas por tratamentos, como a escarificação
(dormência exógena) e a pós-maturação (dormência endógena).
182 Fisiologia Vegetal

Referências
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FERREIRA, A. G.; BORGHETTI, F. Germinação: do básico ao
aplicado. Porto Alegre: Artmed, 2004. 323p.
KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. 452 p.

Bibliografia recomendada
FERREIRA, A. G.; BORGHETTI, F. Germinação: do básico ao
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KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara
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