BIO SistVegII Cap1-3 WEB
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Florianópolis, 2010.
Governo Federal Comissão Editorial Viviane Mara Woehl, Alexandre
Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Verzani Nogueira, Milton Muniz
Ministro de Educação Fernando Haddad
Secretário de Ensino a Distância Carlos Eduardo Projeto Gráfico Material impresso e on-line
Bielschowky Coordenação Prof. Haenz Gutierrez Quintana
Coordenador Nacional da Universidade Aberta do Equipe Henrique Eduardo Carneiro da Cunha, Juliana
Brasil Celso Costa Chuan Lu, Laís Barbosa, Ricardo Goulart Tredezini
Straioto
Universidade Federal de Santa Catarina
Reitor Alvaro Toubes Prata Equipe de Desenvolvimento de Materiais
Vice-Reitor Carlos Alberto Justo da Silva
Laboratório de Novas Tecnologias - LANTEC/CED
Secretário de Educação à Distância Cícero Barbosa
Coordenação Geral Andrea Lapa
Pró-Reitora de Ensino de Graduação Yara Maria
Coordenação Pedagógica Roseli Zen Cerny
Rauh Müller
Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão Débora Peres Material Impresso e Hipermídia
Menezes Coordenação Laura Martins Rodrigues,
Pró-Reitora de Pós-Graduação Maria Lúcia Camargo Thiago Rocha Oliveira
Pró-Reitor de Desenvolvimento Humano e Social Luiz Adaptação do Projeto Gráfico Laura Martins Rodrigues,
Henrique Vieira da Silva Thiago Rocha Oliveira
Pró-Reitor de Infra-Estrutura João Batista Furtuoso Diagramação Karina Silveira
Pró-Reitor de Assuntos Estudantis Cláudio José Amante Ilustrações Amanda Cristina Woehl, Cristiane Amaral,
Centro de Ciências da Educação Wilson Schmidt Grazielle S. Xavier, Jean H. de O. Menezes, Liane
Lanzarin, Maiara Ornellas, Rafael Naravan Kienen.
Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas
Tratamento de Imagem Gabriel Nietsche, Maiara Ornellas
na Modalidade a Distância
Revisão gramatical Tony Roberson de Mello Rodrigues
Diretora Unidade de Ensino Sonia Gonçalves Carobrez
Coordenadora de Curso Maria Márcia Imenes Ishida Design Instrucional
Coordenadora de Tutoria Zenilda Laurita Bouzon Coordenação Vanessa Gonzaga Nunes
Coordenação Pedagógica LANTEC/CED Design Instrucional Vanessa Gonzaga Nunes
Coordenação de Ambiente Virtual Alice Cybis Pereira
Apresentação........................................................................................ 9
1 As plantas vasculares......................................................................13
1.1 Introdução....................................................................................................................15
1.2 Características gerais das Plantas Vasculares.......................................................17
1.2.1 As Pteridófitas.................................................................................................19
1.2.2 As Gimnospermas.........................................................................................23
1.2.3 As Angiospermas..........................................................................................29
1.3 Resumo........................................................................................................................ 32
1.4 Bibliografia Comentada........................................................................................... 32
1.5 Referências.................................................................................................................. 33
2 Sistemas de classificação...............................................................35
2.1 Introdução................................................................................................................... 37
2.2 Sistemas Artificiais ................................................................................................... 37
2.3 Sistemas Naturais...................................................................................................... 38
2.4 Sistemas Filogenéticos............................................................................................. 39
2.5 Resumo........................................................................................................................ 41
2.6 Bibliografia Comentada........................................................................................... 41
2.7 Referências.................................................................................................................. 42
4 Nomenclatura Botânica..................................................................61
4.1 Introdução................................................................................................................... 63
4.2 Principais Regras do Código de Nomenclatura.................................................. 64
4.3 Unidades de Classificação....................................................................................... 67
4.4 Resumo........................................................................................................................ 70
4.5 Bibliografia Comentada........................................................................................... 70
4.6 Referências.................................................................................................................. 71
Apêndice...........................................................................................125
Noções básicas de Morfologia Vegetal..................................................................... 127
Raiz ..........................................................................................................................127
Caule........................................................................................................................130
Folha........................................................................................................................134
Flor............................................................................................................................142
Androceu............................................................................................................... 146
Gineceu...................................................................................................................149
Inflorescências.......................................................................................................151
Fruto........................................................................................................................ 154
Semente..................................................................................................................159
Referências...................................................................................................................... 162
Apresentação
1.1 Introdução
Como você já aprendeu na Disciplina Sistemática Vegetal I,
os seres vivos são agrupados em cinco reinos: Protozoa, Plantae,
Animalia, Fungi e Chromista. Os indivíduos pertencentes ao reino
Plantae podem ser divididos, de uma maneira bem generalizada,
em dois grupos: plantas vasculares e plantas avasculares, conforme
apresentem ou não um tecido específico para a circulação da água
e dos elementos nutritivos: os vasos de condução, denominados de
xilema e floema.
As plantas avasculares, conhecidas popularmente como mus-
gos, pertencem à Divisão Briophyta (Briófita), sendo plantas rela-
tivamente pequenas, ocorrentes principalmente em locais quentes
e úmidos das regiões tropicais e subtropicais, mas são encontradas,
também, em desertos relativamente secos, sobre pedras expostas
e, ainda, no alto de montanhas em que não há mais plantas vascu-
lares. Estas, por sua vez, são agrupadas em três grandes Divisões:
Pteridophyta (Pteridófitas), Gimnospermae (Gimnospermas) e
Angiospermae (Angiospermas).
Quanto à reprodução, todas as plantas podem apresentar, em
maior ou menor grau, um tipo de propagação denominado de re-
produção assexuada, que pode ocorrer por fragmentação de suas
partes ou por brotamento a partir de gemas (ou brotos) localiza-
das em seus ramos. Entretanto, a reprodução propriamente dita é
sexuada, ou seja, ocorre com a produção de gametas, masculino e
feminino, e sua posterior fusão através do processo denominado
16 Sistemática Vegetal II
Arquegônio
Com Oosfera (N)
Tétrades De
Esporos (N) Fecundação
Célula-mãe
De Esporos (2n)
Embrião
Esporângios
Esporófito
(2n)
Figura 1.1: Ciclo de vida generalizado de uma planta.
As plantas vasculares 17
1.2.1 As Pteridófitas
As pteridófitas constituem-se em um grupo de plantas vasculares
Em oposição ao termo também denominadas de criptógamas vasculares. O termo foi uti-
criptógamas, as demais lizado pela primeira vez por Lineu, para denominar uma das classes
plantas vasculares são
designadas como fane- do seu Sistema Sexual de classificação das plantas, indicando um
rógamas, ou esperma- grupo que não apresenta sistema de reprodução sexual aparente.
tófitas, termos que de-
Em termos evolutivos, trata-se de um grupo mais antigo, que
signam todas as plantas
com sementes. se formou antes das gimnospermas e Angiospermas, constituiu
grandes e extensas florestas do Período Carbonífero e é atualmen-
te representado por cerca de dez mil espécies de ervas terrestres e
epífitas aquáticas, epífitas e algumas lianas.
Plantas que se desenvolvem
sobre outras.
O grupo das pteridófitas, formado em sua maioria pelas plantas
denominadas comumente de samambaias e avencas, é caracteri-
lianas zado por não possuir flores, e a reprodução ocorre através da for-
Plantas trepadeiras.
mação de esporângios, estruturas geralmente localizadas na face
abaxial (inferior) das folhas, ou em folhas modificadas.
Os esporângios, quando maduros, produzem e eliminam espo-
ros, os quais, germinando, originam pequenas estruturas talosas,
denominadas prótalos, que são os gametófi-
tos, uma vez que neles irão se formar os game-
tas. Ocorrendo fecundação, o embrião irá se
desenvolver, formando uma nova planta adul-
ta: o esporófito.
Assim, uma característica própria das Pte-
ridófitas é a alternância de gerações bastante
diferenciada, sendo as gerações gametofítica
(o prótalo, haploide) e esporofítica (a planta
Figura 1.3: Gametófito germinado de uma avenca-estrela. adulta, diploide) totalmente independentes na
Observe o desenvolvimento do esporófito. Veja adiante
(na Figura 1.5) a ilustração do ciclo vital dessas plantas. maturidade.
Esporos
(haploides)
Anterozóide
Prótalo
(gametófito haploide)
Esporângio Anterídio
Óvulo
Arquegônio
Esporófito
(diploide) Ovo ou zigoto
Rizoma
Divisão Pteridophyta
Classe 1 – Filicopsida
Subclasse – Polypodiidae
Gêneros (exemplos) – Ophioglossum, Anemia, Schizaea,
Dicksonia, Cyathea, Adiantum, Pteris, Acrostichum, Nephrolepsis
(samambaias e avencas terrestres); Azolla, Marsilea, Salvinia
(aquáticas).
Subclasse – Psilotidae
Gênero (único) – Psilotum.
Classe 2 – Equisetopsida
Gênero (único) – Equisetum.
Classe 3 – Lycopodiopsida
Gêneros - Lycopodium e Selaginella.
22 Sistemática Vegetal II
A B
Figura 1.8: a) Marsilea sp; b) Oxalis sp.
1.2.2 As Gimnospermas
Com cerca de 720 espécies, as gimnosper-
mas pertencem ao grupo das chamadas fane-
rógamas ou espermatófitas, pelo fato de que
seus embriões são protegidos pela semente,
que contém também reservas nutritivas capa-
zes de nutrir a planta jovem até que ela se torne
independente. O nome gimnosperma significa,
literalmente, semente nua, e diz respeito ao
Figura 1.11: Selaginella sp. fato de que nesse grupo de plantas vasculares
24 Sistemática Vegetal II
esporófilos
1.2.2.1 Caracteres Vegetativos Folhas modificadas que
produzem os esporos; em
As Gimnospermas são plantas lenhosas, arbóreas ou arbustivas oposição a trofófilos, que
quase sempre com folhas curtas e rígidas, em forma de agulhas, são folhas normais, em geral
verdes, fotossintetizadoras e
mostrando-se assim adaptadas a condições ambientais adversas. responsáveis pela nutrição da
Anatomicamente, o caule das gimnospermas apresenta os elemen- planta.
tos de condução denominados traqueídeos, diferentes dos vasos
que ocorrem nas Angiospermas.
Microsporócitos Meiose
Estróbilo feminino Mitose
Saco
embrionário
ou gametófito
Polinização feminino
Microesporófilo
Micrósporos
Estróbilo masculino ou cone Mitose
portador de pólen
Grão de pólen ou
Plântula
gametófito masculino
Escama seminífera
Fecundação Arquegônios
Poliembrionia
Esporófito diploide
Cone maduro feminino
Você sabia?
Os cotilédones são rudimentos de folhas, presen-
tes na porção superior do embrião. Nas coníferas
o embrião apresenta um número variado de coti-
lédones (geralmente de 6 a 8). Observe na figura
1.14, à direita, uma plântula (gametófito) de pinus
ainda com a proteção da testa da semente e, à es-
querda, os sete cotilédones.
Figura 1.14: Gametófitos germinados
(plântulas) de Pinus sp.
Saiba mais
Obtenha mais informa-
ções sobre espécies exóti-
cas invasoras em: <www.
gisp.org> e <www.insti-
tutohorus.org.br>.
A B
Você sabia?
Neste grupo encontra-se
a mais alta das espécies
de plantas vasculares, a
C D Sequoia sempervirens,
gimnosperma nativa da
América do Norte e que
chega a atingir até qua-
se 120 metros de altura
e mais de 10 metros de
diâmetro.
E F
Figura 1.19: Diversos tipos de cones (estróbilos) femininos: a) Pinus nigra; b) Pinus
virginiana; c) Pinus edulis; d) Pinus pinea; e masculinos: e) Pinus taeda; f) Araucaria
angustifolia.
1.2.3 As Angiospermas
Angiosperma Constituindo-se de cerca de 235.000 espécies, as Angiospermas
Angeion (grego) - vaso compõem o maior grupo de plantas. São amplamente diversifica-
ou receptáculo; sperma -
semente, referindo-se à das no que se refere às suas estruturas vegetativas. Variam, quanto
estrutura da flor, que possui ao tamanho, desde espécies de Eucalyptus, com mais de 100 me-
uma urna (o ovário, que é
a porção basal, dilatada do
tros de altura, até pequenas plantas aquáticas do gênero Wolffia,
gineceu) para proteger as que não ultrapassam 1 mm. Algumas são trepadeiras e sobem a
sementes
grandes alturas, sobre as árvores das florestas tropicais, outras são
epífitas e crescem nas partes mais altas das árvores.
A principal característica das Angiospermas são as flores, que
Epífitas podem se apresentar isoladas ou reunidas em inflorescências (ca-
epi = sobre: fito = plan- chos, espigas etc.). Possuem uma haste denominada pedúnculo
ta; ou seja, são plantas ou pedicelo, cuja porção superior, alargada, é o receptáculo, no
que se desenvolvem so-
qual se inserem as demais peças florais: as sépalas e as pétalas,
bre outras. Não confunda
com parasitas, que tam- apêndices estéreis; os estames, estruturas de reprodução masculi-
bém se desenvolvem so- nas; e os carpelos, ou gineceu, conjunto das estruturas femininas.
bre outras plantas, po-
A partir dessa estrutura básica, as flores podem apresentar inú-
rém, parasitando-as, o
que não é o caso das epí- meras variações, que em geral refletem algum aspecto evolutivo ou
fitas. Exemplo de epífita: de adaptação aos diferentes ambientes, como você poderá ler no
orquídeas e bromélias; texto sobre evolução das Angiospermas (Capítulo 6).
exemplo de parasita: ci-
pó-chumbo, planta des- Flor de Angiosperma
provida de clorofila e que,
Pétala
portanto, suga a seiva da Estigma
planta hospedeira. Feminino
Estilete
Antera
Masculino
Filete
Sépala
Ovário
Receptáculo floral
Óvulo
Pedúnculo
O ciclo de vida de todas as plantas passa por duas fases distintas e alterna-
das: uma de crescimento vegetativo e outra de crescimento reprodutivo. En-
tretanto, tais fases são próprias e distintas em diferentes espécies, obede-
cendo tanto a especificidades de diferentes características fisiológicas, como
a de fatores externos e especialmente de ciclos circadianos, tais como dia/
noite, fases da lua, estações do ano etc. Assim, temos desde algumas palmei-
ras (Caryota spp) e as taquaras do gênero Merostachys - que crescem vege-
tativamente por 20, 30 anos e, após um único período de floração, encerram
seu ciclo vital - até os ipês, que florescem abundantemente ao final de cada
inverno, ou as pequenas violetas e outras tantas ervas ornamentais, com vá-
rias floradas anuais.
Estilete Gineceu
Ovário
Óvulo
Esporófito
Célula mãe
Antera do megásporo
Embrião
Testa Endosperma
da semente
Microesporângio (2n)
Endosperma (3n)
Fase Meiose
Embrião em
diploide
Desenvolvimento (2n)
Fase
Núcleo do
haplóide
endosperma (2n) Megásporo
Ovocélula funcional
Estigma Grãos de
fecundada pólen
Tubo
polínico
Estilete
Saco 2 - nucleado
Tubo
Fecundação
polínico
Saco 4 - nucleado
Saco
embrionário Saco 8 - nucleado
maduro
Figura 1.22: Ciclo de vida das Angiospermas.
32 Sistemática Vegetal II
1.3 Resumo
O reino Plantae inclui as briófitas e as plantas vasculares (pteri-
dófitas, gimnospermas e Angiospermas). As briófitas são as mais
simples, não apresentando tecidos diferenciados, e seu ciclo de
vida se caracteriza por um predomínio da geração gametofítica
(haplóide). As pteridófitas apresentam as fases gametofítica e es-
porofítica totalmente independentes uma da outra, sendo a game-
tofítica representada por uma estrutura em geral folhosa, deno-
minada prótalo, em cujo interior se desenvolvem os arquegônios
(que contêm os gametas femininos) e os anterídeos (que contêm os
gametas masculinos). A planta adulta é o esporófito, e nesse grupo
encontramos as samambaias e avencas, de valor ornamental. Nas
gimnospermas, que compõem o grupo dos pinheiros, surge a se-
mente, como forma de proteção do embrião (esporófito jovem), e
nas Angiospermas essa proteção torna-se ainda mais efetiva, pela
presença de mais um envoltório protetor (o fruto), além de inúme-
ras adaptações e grande diversidade de características, que fazem
desse grupo o maior e mais bem adaptado ao meio.
Biologia Vegetal
Raven, P. H.; Evert, R. F.; Eichhorn, S. E.
Neste livro você encontra uma visão bastante abrangente das
características, diferenças e inter-relações entre os diferentes gru-
pos vegetais. Muito bem ilustrado, apresenta fotos, esquemas dos
ciclos de vida, bem como inúmeros quadros com interessantes co-
mentários sobre os temas abordados em cada capítulo.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia Vegetal. 5ª ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996.
As plantas vasculares 33
1.5 Referências
2.1 Introdução
As primeiras classificações tinham um fim prático, baseando-se
no habitus ou aspecto geral da planta. Entre os estudiosos mais anti-
gos que se preocuparam com a classificação das plantas, destaca-se
o discípulo de Aristóteles, Theoprasthus (370 aC.), o pai da Botânica,
que classificou os vegetais em árvores, arbustos, subarbustos e ervas.
Albertus Magnus (1193-1280) é considerado o primeiro a reconhecer
as diferenças entre Monocotiledôneas e Dicotiledôneas, com base na
estrutura do caule, aceitando, em outros pontos, a classificação de
Theoprasthus. Posteriormente, já na idade média, surgiram os Her-
Figura 2.1a Otto Brunfels. balistas, em geral interessados particularmente nas propriedades
medicinais das plantas, informando sobre suas aplicações e supostas
virtudes. Otto Brunfels (1464-1534), em sua obra Herbarum, apre-
senta descrições e ilustrações de plantas, iniciando uma terminologia
científica e certa ordenação das plantas em grupos semelhantes.
Apesar de não haver conceituações precisas, alguns grupos na-
turais já eram reconhecidos, como Cogumelos, Musgos, Conífe-
ras, Umbelíferas, entre outros, sendo estas denominações ainda
hoje utilizadas.
Índices de similaridade
são calculados através de equações matemáticas, a partir de listas com o
maior número possível de características. Assim, programas computadori-
zados refinados agrupam organismos similares, enquanto organismos di-
ferentes são colocados em grupos diferentes. Cada grupo ou clado inclui
todos os descendentes de um ancestral comum, e os diagramas usados
para representar esses grupos são chamados cladogramas, sendo a análise
filogenética, feita dessa forma, denominada cladística.
Sistemas de classificação 41
2.5 Resumo
A identificação das plantas constitui-se em um passo inicial
para o seu arranjo em grupos. Em decorrência do arranjo coerente
das entidades taxonômicas, seguindo uma determinada sequência
hierárquica, teremos outro tipo de trabalho botânico: a criação de
um Sistema de Classificação. Inicialmente, o objetivo da Classifi-
cação era organizar as plantas em categorias – ou táxons. Poste-
riormente, passou-se a respeitar as relações evolutivas, em uma
organização mais natural.
Assim, o significado da Sistemática Vegetal, ao longo do tempo,
evoluiu de uma disciplina restrita à arte de classificar as espécies,
para uma disciplina extremamente vasta, cobrindo praticamen-
te todos os campos da Biologia Comparada. Hoje, não considera
os seres vivos como um mosaico de espécies justapostas, mas sim
como uma rede filogenética tecida pela evolução e, portanto, dota-
da de uma dimensão histórica. Essa visão é registrada através dos
sistemas filogenéticos de classificação, os quais agrupam as plantas
utilizando critérios não apenas morfológicos, mas também dados
paleontológicos, anatômicos, bioquímicos e citogenéticos.
2.7 Referências
AMARAL, L. DA G.; SILVA FILHO, F. A. Ecologia vegetal e Bo-
tânica. Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância/UFSC,
2001.
JUDD, W. S.; CAMPBELL, C. S.; KELLOGG, E. A.; STEVENS, P. F.
Plant Systematics. A phylogenetic approach. Sunderland, Mas-
sachussets: Sinauer Associates, Inc., 1999.
c a p í t u lo 3
c a p í t u lo 3
Instrumentos, Métodos e Técnicas
em Sistemática Vegetal
Neste Capítulo iremos tratar dos princípios básicos que di-
recionam os estudos sistemáticos em Botânica e as normas e
métodos associados a esse estudo. Você aprenderá a como co-
letar plantas adequadamente para formar uma coleção botâ-
nica, que servirão de base para todos os estudos posteriores.
A organização destas coleções em Herbários, bem como sua
manutenção, são fundamentais para que sirvam de testemu-
nhos de sua ocorrência, bem como de características dos am-
bientes em que as coleções foram coletadas.
Instrumentos, métodos e técnicas em Sistemática Vegetal 47
3.1 Introdução
Até o início do século XX, a Taxonomia prevalecia como ciência
Você já sabe botânica, dedicando-se mais especificamente ao reconhecimento
que a Sistemática tem e denominação da grande quantidade de plantas desconhecidas,
o objetivo de inventariar encontradas especialmente nas regiões tropicais, durante o início
e descrever a diversida- da expansão colonial européia. Logo em seguida, entretanto, ce-
de das plantas, através da
sua organização em gru- deu lugar aos estudos moleculares, celulares e fisiológicos, o que
pos, com base em suas fez com que fosse vista como disciplina de menor importância ou
semelhanças, diferenças “fora de moda”. Atualmente, entretanto, a drástica degradação am-
e relações evolutivas, e biental vem demonstrando o pouco que ainda sabemos sobre a
que ela inclui a Taxono-
mia, que trata da descri-
diversidade dos vegetais. Esse conhecimento é essencial no esforço
ção e classificação, com para se recompor desertos e áreas degradadas, produzir culturas
suas normas e princípios, resistentes, encontrar novas fontes de energia, alimentação, medi-
e a Filogenia, que bus- camentos e outros materiais utilizáveis. Para tanto, muitas discipli-
ca estabelecer as relações
nas estão envolvidas, incluindo ecologia e conservação, fisiologia,
evolutivas.
farmacologia, bioquímica, etnobotânica, agronomia, tecnologia
de materiais, e muitas outras. Constantemente, e cada vez com
maior urgência, são formuladas questões como as seguintes, sobre
as plantas, as quais cabe ao taxonomista responder:
•• Como podem ser reconhecidas? (identificação);
•• De que modo devem ser denominadas, para que as informações
sobre elas sejam isentas de ambiguidades? (nomenclatura);
•• Quais suas relações de parentesco? Que outras plantas
têm propriedades similares ou compatibilidade genética?
(classificação);
48 Sistemática Vegetal II
Palavra do Professor
Use adequadamente os termos identificação e classificação: Identifica-
ção - consiste em fazer a indicação do nome de qualquer material botâni-
co, após ser verificada sua equivalência com outro conhecido e já previa-
mente denominado. É o que iremos fazer em nossas aulas práticas! Clas-
sificação - é o agrupamento dos vegetais, e sua ordenação nas diferentes
categorias hierárquicas, segundo as afinidades naturais ou graus de paren-
tesco. Tratando-se de material novo para a Ciência, por conseguinte ain-
da não designado cientificamente, deve receber denominação própria, ser
descrito e ser publicado em órgão especializado de ampla circulação entre
os Botânicos, de modo a observar as normas de Nomenclatura Botânica.
3.3 Herbário
Denomina-se Herbário uma coleção de amostras vegetais as
quais, após terem sido adequadamente coletadas, prensadas e desi-
dratadas, são mantidas em instalações apropriadas para a conser-
vação, segundo a sequência de uma dada classificação, podendo
ser utilizadas como referência ou para outros estudos científicos.
Um herbário constitui-se em um importante banco de informa-
Você sabia? ções para estudos taxonômicos e florísticos. Um espécime desco-
O herbário do Museu nhecido pode ser comparado com uma amostra já identificada no
Nacional do Rio de Ja- herbário, e assim ser identificado por comparação. Muitos herbá-
neiro é o maior e o mais rios executam serviços de identificação e informações, bem como
antigo herbário do Bra-
pesquisa e ensino, atendendo não só estudos taxonômicos como,
sil, com cerca de 500 mil
exsicatas. também, quaisquer outros estudos científicos, tais como Fitogeo-
grafia, Ecologia, Botânica Econômica, Botânica Florestal etc.
A organização de um herbário consta de quatro fases
exsicata
nome dado às amostras secas fundamentais:
de plantas, que constituem
as coleções dos herbários. 1. Formação e enriquecimento da coleção (coletas, doações,
permutas);
2. Processamento (etiquetagem, identificação, montagem das
exsicatas);
3. Manutenção (cuidados que incluem a parte física, como insta-
lações e fumigações, e a parte científica, como a atualização nas
identificações);
curador 4. Administração (feita por um Curador Geral e pessoal de apoio
denominação dada ao
botânico responsável pela administrativo).
administração do herbário.
A B1
B2 C1
C2 D
E1 E2
Figura 3.1. Etapas para preparação de uma exsicata: A. material para coleta e preparação da exsicata; B. coleta:
B1. de material herbáceo;B2. de material arbóreo; c: organização do material na prensC1. material herbáceo;C2.
material arbóreo; D: amarração do material prensado; E. secagem em estufa: E1. aspecto geral de uma estufa; E2.
diversas prensas secando;
Instrumentos, métodos e técnicas em Sistemática Vegetal 53
F G
H1 H2
I J
F. análise e identificação do material em laboratório; G. exsicata pronta (as anotações de campo foram transferidas
para a ficha que acompanha a exsicata); H. Fitoteca: H1. armários e H2. caixas onde as exsicatas são depositadas; I.
organização das exsicatas nos armários; J. aspecto geral da Fitoteca.
Herbários oficiais
São arrolados em uma publicação internacional, denominada Index Her-
bariorum, na qual constam, além da sigla oficial, também o nome e o en-
dereço da instituição à qual o herbário pertence, o nome do curador e ou-
tras informações. Atualmente constam desse catálogo 3.382 herbários, de
168 países, e 10.475 especialistas a eles associados.
Veja alguns herbários do Brasil com suas respectivas siglas
oficiais:
3.5 Resumo
Os estudos sistemáticos envolvem a utilização de espécimes a
serem analisados e comparados, tornando-se assim imprescindí-
vel o domínio de técnicas adequadas de coleta e preservação das
amostras. Devem incluir, necessariamente, a proteção ao ambiente
em que tais coletas são efetuadas e a manutenção das mesmas em
locais adequados – os Herbários. Essas coleções são importantes
fontes de informações sobre variabilidade morfológica das popu-
lações, sua distribuição geográfica, épocas de floração e frutifica-
ção; igualmente, pequenas porções podem ser removidas (com
permissão) para estudos palinológicos, de anatomia, de micro-
morfologia e/ou de DNA. A identificação correta das plantas não
pode prescindir de vasta bibliografia que inclui chaves de identifi-
cação, manuais e floras.
3.7 Referências
BARROSO, G. M. Sistemática de Angiospermas do Brasil. Rio
de Janeiro: LCT; São Paulo: EDUSP, 1978. v.1.
BEZERRA, P.; FERNANDES. A. Fundamentos de taxonomia
vegetal. Fortaleza: Ed. Universidade Federal do Ceará; Brasília:
PROED, 1984. 100p.
FORMAN, L.; BRIDSON, D. (Ed.) The herbarium handbook.
Kew: Royal Botanical Garden, 1989.
JUDD, W. S.; CAMPBELL, C. S.; KELLOGG, E. A.; STEVENS, P. F.
Plant Systematics. A phylogenetic approach. Sunderland, Mas-
sachussets: Sinauer Associates, Inc., 1999.
LOT, A.; CHIANG, F. (Comp.) Manual de herbario. Administra-
ción y manejo de colecciones, técnicas de recolección y prepa-
ración de ejemplares botánicos. México: Consejo Nacional de la
Flora de México, 1986.