Livro Psicologia Educacional - Ed.2014
Livro Psicologia Educacional - Ed.2014
Livro Psicologia Educacional - Ed.2014
3 EDUCACIONAL
Nicia L.D. da Silveira
PSICOLOGIA EDUCACIONAL
PSICOLOGIA EDUCACIONAL:
Desenvolvimento e
Aprendizagem
Nicia L. D. da Silveira
Florianópolis, 2014.
Governo Federal Coordenação de Ambiente Virtual Michel Kramer
Presidenta da República Dilma Vana Rousseff Borges de Macedo
Ministro de Educação José Henrique Paim Comissão Editorial Viviane Mara Woehl, Alexandre
Diretor de Educação a Distância/CAPES João Carlos Teatini Verzani Nogueira, Milton Muniz
S007d
SILVEIRA, Nicia Luiza Duarte da.
Psicologia Educacional: desenvolvimento e aprendizagem / Nicia L. D. da
Silveira. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2014. 175
p. ilust.
inclui bibliografia.
ISBN 978-85-61485-15-3
1. Psicologia educacional 2. Psicologia da aprendizagem 3. Educação. I.
Título.
CDU 37.015.3
Catalogação na fonte elaborada na DECTI da Biblioteca Universitária da
Universidade Federal de Santa Catarina.
Sumário
3 Desenvolvimento e aprendizagem..............................................57
3.1 Aspectos gerais.......................................................................................................... 59
3.2 Fatores e influências no desenvolvimento humano......................................... 62
3.3 Os métodos de pesquisa mais utilizados
na Psicologia do Desenvolvimento....................................................................... 69
4 Contribuições sobre desenvolvimento e aprendizagem: a
Abordagem Ecológica, o Psicodrama
e a Psicanálise................................................................................75
4.1 A Abordagem Ecológica.......................................................................................... 77
4.2 A visão do Psicodrama............................................................................................. 81
4.3 Freud e a fundação da Psicanálise........................................................................ 85
4.4 As fases do desenvolvimento segundo a Psicanálise....................................... 88
4.5 Mecanismos de defesa............................................................................................. 90
4.6 Como a Psicanálise lida com a aprendizagem?.................................................. 91
Este livro visa contribuir para que você amplie sua percepção e seu reco-
nhecimento dos fenômenos psicológicos que nos atingem no dia-a-dia, bem
como dos princípios e das leis que os regem. O estudo da Psicologia Educacio-
nal pode facilitar a construção de um conhecimento teórico que o leve a lidar
de maneira mais adequada com as questões que se apresentam nos diversos
ambientes educacionais em que você atua e, em especial, nas interações que
envolvem o ensino/aprendizagem.
Temos como objetivo levá-lo a conhecer uma disciplina que poderá auxi-
liá-lo no seu trabalho cotidiano no que diz respeito às relações humanas no
interior da sala de aula, ao conhecimento do aluno, ao sujeito humano em
diferentes momentos do seu desenvolvimento, à relação ensino/aprendiza-
gem e às várias abordagens pedagógicas do ensino. Assim, é com satisfação
que apresentamos a disciplina de Psicologia Educacional: Desenvolvimento e
Aprendizagem, uma das disciplinas pedagógicas do currículo dos cursos de
formação de professores.
Com esses estudos buscaremos conhecer um pouco dos “clássicos” da Psi-
cologia e, ao fazê-lo, iremos reconhecer que ela mantém vivas discussões
internas, razão porque está constituída em diferentes escolas e abordagens
psicológicas, em que as diversas correntes podem ter foco em diferentes fenô-
menos. Por isso a importância de identificar as principais contribuições para o
estudo de desenvolvimento e da aprendizagem em cada abordagem.
Há que se aliar o estudo dos aspectos teóricos à observação da realidade
na perspectiva de articular o conteúdo tratado com a compreensão da reali-
dade vivida, de modo a delinear-se uma atuação mais adequada no contexto
educacional.
Nícia L. D. da Silveira
c a p í t u lo 1
A Psicologia: sua origem e
contribuições para torná-la
uma ciência. Sua evolução:
antes, durante e após as escolas
psicológicas
Neste capítulo, você irá conhecer a contribuição da Psico-
logia para a sua formação como educador e um pouco da
história da Psicologia como área do conhecimento; suas raí-
zes estão no pensamento antigo, mas sua constituição como
ciência é bem recente. Irá verificar que, uma vez reconhe-
cida como ciência, organizou-se sob a forma de diferentes
escolas e abordagens psicológicas desde fins do século XIX
até meados do século XX. Aqui buscaremos caracterizar as
principais escolas, como tratam a constituição dos sujeitos e
da sociedade, bem como os processos de desenvolvimento e
de aprendizagem.
A Psicologia: origem e contribuições. Sua evolução: antes, durante e após as escolas psicológicas 13
Este conhecimento nos mobiliza a pensar: com o que lida a Psicologia? Qual
é a importância dessa área do conhecimento para nossas vidas? Como este
conhecimento pode contribuir para o trabalho docente?
Essa história justifica o dito Ao lado desses marcos, é importante lembrar que a história da
de Hermann Ebbinghaus: Psicologia é antiga. Na busca de suas origens, verificamos que as
“A Psicologia tem uma
curta história e um longo
raízes da Psicologia infiltram-se no pensamento grego (e huma-
passado”(TELES, 1991, p. 8). no). Destacamos também nessa história as raízes que a levaram a
se construir como uma disciplina científica. O pensamento psico-
lógico se nutre em duas vertentes de pensamento, como desdobra-
mento dos questionamentos de duas áreas, a saber:
•• de um lado o pensamento filosófico, que cultiva várias per-
guntas, e entre outras, perguntas-chaves, como quem somos,
de onde viemos, para onde vamos; e
•• de outro lado, o pensamento biológico, em especial, na Fisiolo-
gia, que aborda questões como quais as relações entre o humor e o
John Broadus Watson pensamento, por que mudamos de humor quando sentimos fome.
Nasceu nos EUA. Entrou
para a universidade aos 16 Ao longo do seu desenvolvimento, a Psicologia vai oscilando
anos; recebeu o diploma entre essas duas vertentes e, de acordo com o momento histórico,
de mestre (com 21 anos),
ingressou na Universidade aproxima-se mais de uma ou outra, ou seja, recebe mais influências
de Chicago onde se doutorou ora da Filosofia ora da Biologia (FIGUEIREDO, 1991). Temos que
em Psicologia em 1903.
Foi professor de Psicologia
lembrar que, no passado, o conhecimento não era separado por
Experimental e Comparada. especialidades como é no nosso tempo, em que temos áreas bem
18 Psicologia Educacional
Quadro 1.1 − Síntese das principais contribuições das diversas áreas para o desenvolvimento da Psicologia
nasc./morte: data
NOME CONTRIBUIÇÃO
aproximada
FILOSOFIA
Tales Séc. IV a.C. Explicação naturalista; universo composto de água.
Sócrates c.* 460–299 a.C. Filósofo idealista; essencialmente anticientífico.
Universo composto de átomos; explicação reducionista de
Demócrito c. 470–370 a.C.
fenômenos complexos.
Platão c. 427–347 a.C. Abordagem Racionalista e primado da observação.
Métodos racionalistas e observacionais; sistema de
Aristóteles c. 387–322 a.C.
classificação na biologia; leis da memória associativa.
Roger Bacon c. 1214–1294 Ênfase sobre a livre observação empírica.
Francis Bacon 1561–1626 Novum Organum: deu apoio filosófico à ciência empírica.
Descartes 1596–1650 Interacionismo dualista: ação mecanicista do corpo.
Atividade como princípio básico; graus
Leibntz 1646–1716
de consciência; co-inventor do cálculo.
La Mettrie 1709–1751 Explicação mecanicista aplicada ao corpo do homem.
Importância de aptidões inatas no
Kant 1724–1804
ordenamento dos dados da experiência.
FÍSICA E ASTRONOMIA
Arquimedes c. 387–212 a.C. O primeiro físico experimental de renome.
Astrônomo alexandrino, cuja concepção da Terra
Ptolomeu Século II–299
como centro do universo manteve-se por séculos.
Astrônomo polonês que colocou o sol no centro
Copérnico 1473–1543 do sistema solar; alterou a concepção que o
homem tinha de sua própria importância
Restabeleceu a observação como recurso final de
Galileu 1564–1642 toda investigação científica; realizou importantes
descobertas físicas e astronômicas.
Kepler 1571–1630 Descrição matemática das órbitas planetárias.
Co-inventor do cálculo; estabeleceu o padrão da
Newton 1642–1727 ciência moderna e da física clássica, com enorme
influência nos demais campos do conhecimento.
*C.: cerca de...
20 Psicologia Educacional
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
O pai da Medicina, um excelente observador;
Hipócrates c. 460–380 a.C.
concepção naturalista de homem.
Herófilo/
Século III a.C. Primeira inferência da distinção entre nervos sensórios e motores.
Eristrato
Galeno Século II Famoso físico e anatomista; realizou experimentos animais.
Vesálio 1514–1564 Primeiro tratado geral de anatomia humana.
Harvey 1578–1657 Demonstrou a circulação do sangue.
Van Primeiro microscópio eficaz na descoberta/identificação de
1632–723
Leeuwenhoek protozoários, bactérias, esperma humano.
Lineu 1707–1778 Sistema binomial de classificação biológica.
Darwin 1809–1882 A origem das espécies.
Astrônomo de Königsberg; elaborou equações pessoais
Bessel 1784–1816
e assim um problema para a Psicologia.
SURGIMENTO DA FISIOLOGIA MODERNA
Autor de tratado geral sobre fisiologia humana;
J. Muller 1801–1858
da doutrina “das energias específicas dos nervos”.
Bernard 1813–1878 Conceito de meio interno x externo; homeostase.
Eminente fisiólogo; primeira medição da velocidade
Helmholtz 1821–1894
do impulso neural; teorias da audição e visão.
SURGIMENTO DA PSICOLOGIA
Fisiologista pioneiro; formulou a lei
Weber 1795–1878
dR/R= C, uma lei psicológica válida.
Element der Psycholophysik marca o começo da
Fechner 1801–1887 Psicologia Experimental; modificou a lei de
Weber para a fórmula Weber-Fechner: S=C logR.
Trabalhos sobre energia, estatística, diferenças individuais;
Galton 1822–1911
equacionou vários problemas na Psicologia.
Fundador do primeiro laboratório psicológico na universidade
Wundt 1832–1920
de Leipzig e também do primeiro jornal de Psicologia.
Como Etologia, Psicologia considerando somente aquelas que foram mais marcantes. Essa
Ecológica, Psicodrama,
proposta foi adotada também aqui.
Construtivismo, Psicologia
Histórico-cultural, Abordagem Uma visão geral sobre as escolas, como podem ser caracteri-
Cognitiva-Comportamental,
Existencialismo, Abordagem zadas e mesmo como se sucederam em prestígio pode ser vista
Reichiana, Psicologia adiante no Quadro 1.2, que apresenta uma síntese das principais
Analítica de Yung etc.
Dentro da Psicanálise, por sua escolas desse período, realizada a partir do que foi proposto por
vez, existem subdivisões Llera (1994). No Quadro 1.2, apresentamos as escolas mais clássi-
como, por exemplo,
Psicologia do Ego, Psicanálise
cas. No entanto, elas se desdobram, e além disto há o surgimento
Lacaniana, entre outras. de novas correntes que não foram citadas.
Nesta disciplina focaremos nosso estudo nas abordagens beha-
viorista, cognitivista, histórico-cultural, psicanalista, ecológica e
psicodramática em razão das suas contribuições para os temas que
abordarmos na disciplina, tais como o desenvolvimento humano,
É a maneira como cada sujeito
percebe e compreende como o processo de aprendizagem, as interações em sala de aula etc.
as pessoas e a sociedade
chegam a ser o que são. Ao tratar com você as escolas psicológicas, iremos considerar os
Para Gramsci (1981), filósofo dois fenômenos que centralizam nosso estudo, desenvolvimento
italiano, todas as pessoas são
filósofas, já que pensam
e aprendizagem, e ao fazê-lo, temos como perspectiva explicitar
sobre essas questões. quais são suas concepções de homem e de mundo. Assim pensa-
mos em trazer para você um conhecimento mais contextualizado
e integrado, sendo assim mais significante, pois à medida que es-
tuda você poderá estabelecer relações com o processo educacional
Quadro 1.2 - Principais escolas: características e vigências
Escola Vigência Luminares Temática Método
Wundt Mente Experimentação
Estruturalismo 1880−1920
Titchner Consciência Introspecção
William James
Adaptação ao meio Introspecção
John Dewey
1900 Reações funcionais dos Observação
Funcionalismo Carr;
comportamentos Experimentação
Woodwort
Behaviorismo
Watson
ou teoria da 1915−1960 Comportamento Experimentação
Skinner
aprendizagem
Gestalt ou Werthemeir
Fenomenológico
Psicologia da Koffka Percepção
1915−1960 Observação
forma Koehler
Freud Motivação inconsciente
Associação de idéias
Psicanálise 1900−1950 Jung Sexualidade
Análise dos sonhos
Erikson Desajustes
24 Psicologia Educacional
Estruturalismo
Objeto: elementos da consciência, estados de consciência.
Método: analítico, introspectivo (denominado por Wundt de percepção in-
terior), experimentação.
Contribuição: Wundt, Titchner e importantes seguidores do estruturalismo
contribuíram para a constituição da Psicologia como ciência, separando-a
da Metafísica e da Filosofia.
Funcionalismo
Objeto: comportamentos e atividades mentais como adaptação.
Métodos: comparativo, introspecção e experimentação.
Contribuições: podem ser percebidas em diferentes áreas da Psicologia,
como a Psicologia Social, da Aprendizagem, das Organizações, Ergonomia,
Educacional e Clínica.
William James
(1842 − 1910) − psicólogo
dos EUA, um dos fundadores
O funcionalismo foi o primeiro sistema na Psicologia genuine
do funcionalismo. mente gerado nos Estados Unidos. Começou com Willian James
(1842−1910) por volta de 1900. Sua força deriva, em parte, da
oposição ao estruturalismo. Ele nunca teve uma posição sistemá-
tica altamente diferenciada. Assim, de acordo com Max e Hillix
(1993, p. 186), citando Woodworth (1948), o nome Psicologia
Funcional cabe a uma Psicologia que procura responder exata e
sistematicamente a “o que fazem os homens?” e “por que o fazem?”.
Portanto, nesses termos, o funcionalismo não morrerá enquanto
perguntarmos “o quê”, “como” e “por que”. O funcionalismo está
26 Psicologia Educacional
Behaviorismo
Objeto: comportamento.
Métodos: comparativo, observação, método experimental.
Contribuição: Contribuição: principalmente no processo educacional, pois
contribuiu com o destaque às contingências presentes no ambiente de en-
sino, a importância do feedback (retroalimentação, capacidade de reorga-
nizar a ação a partir de seus resultados) e do reforço, mas também cola-
borou com instrumentos de investigação para a Psicologia Animal e para
a própria Psicologia Clínica, gerando a terapia pelo método diretivo. Uma
obra de referência, entre outras, é o livro Walden Two do estudioso de Psi-
cologia do Comportamento B. F. Skinner.
Psicanálise
Objeto: os fenômenos da consciência/inconsciente, da personalidade nor-
mal e patológica.
Método: da livre associação, análise dos sonhos e de atos falhos.
Contribuição: está presente nas diferentes áreas da Psicologia, quais sejam:
do desenvolvimento, educacional, da personalidade, social, clínica e organi-
zacional. Ela inspirou os neopsicanalistas como: Erik Erikson, Henry Murray,
Gordon Allport, Lacan, Anna Freud, Karen Horney e outros. Os psicanalistas
de hoje utilizam os métodos criados por Freud em seu trabalho terapêutico.
Resumo
Aprendemos neste capítulo que o termo Psicologia foi usa-
do pela primeira vez em 1590 por Gloclênio e popularizado por
A Psicologia: origem e contribuições. Sua evolução: antes, durante e após as escolas psicológicas 31
Referências
BOCK, Ana M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. Psicologias:
uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2000.
DELEUZE, G.; GATTARI, F. Mil Platôs: capitalismo e
esquizofrenia. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995, v. 4.
DORSCH, F.; HACKER, H.; STAPF, K. H. Dicionário de
Psicologia. Petrópolis: Vozes, 2001
FIGUEIREDO, L. C. M. Matrizes do pensamento psicológico.
Petrópolis: Vozes, 1991.
GRAMSCI, A. A função dos intelectuais na cultura. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.
32 Psicologia Educacional
Sugestão de leitura
ANDERY, M. A. (Org.). Para compreender a ciência: uma
perspectiva histórica. Rio de Janeiro; São Paulo: EDUC-Espaço
e Tempo, 2001.
CARVALHO, D. C. A Psicologia frente à educação e o trabalho
docente. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 7, n. 1, jan./jun., p.
51-60,2002.
CHALMERS, A. F. O que é ciência afinal? São Paulo: Brasiliense,
1976.
ECO, U. O Nome da Rosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984
FREUD, S. Cinco lições de Psicanálise. Rio de Janeiro: Imago,
1973.
JAMES, W. Pragmatismo. São Paulo: Abril Cultural, 1989.
A Psicologia: origem e contribuições. Sua evolução: antes, durante e após as escolas psicológicas 33
hoje em dia é praticamente impossível um sujeito vir a ter uma in- Você pode completar
serção social produtiva sem frequentar a escola. Os registros mais informações a respeito
seguindo as sugestões
antigos da escola estão na Grécia e, posteriormente, em Roma. No de leitura, como História da
presente texto não é possível acompanhar a história da institu- educação (MANACORDA, 1989).
cionalização da educação, nem as diversas formas assumidas no
processo educativo, como a tutoria, a preceptoria, a monitoria, já
defendida por Comenius (1592−1670), o pai da Didática, ou mes-
mo o sistema acadêmico, desenvolvido durante a Idade Média.
A escola se “universaliza” a partir de fins do século XIX e início
do XX (no Ocidente e nas nações ricas), período de grande in-
dustrialização e em que se constituíram muitas nações. A escola,
além de expandir o nível cultural das populações, contribuía nes-
ses movimentos, pois a questão da identidade nacional também
podia ser trabalhada pela e na escola. Ao lado disto, esse período
foi agitado por muitos renovadores do pensamento educacional,
que se contrapunham às formas tradicionais de ensino e realiza-
vam experimentos sobre novas formas de ensino, o que foi chama-
do na educação de Movimento da Escola Nova. Lourenço Filho
(1897−1970), um dos responsáveis no Brasil pela introdução da Procure mais informações
sobre esse autor.
Psicologia na discussão das questões educacionais, em seu livro
Introdução ao estudo da Escola Nova, publicado pela primeira vez
em 1929 e reeditado em 2002, apresenta esse movimento.
A preocupação com a educação tem a idade da civilização, e os
problemas no processo educativo já interessavam aos gregos. No
entanto, essas preocupações em relação aos aspectos psicológicos
aí envolvidos tornaram-se mais vivas a partir das publicações de
precursores do uso da Psicologia na Educação, como Luis de Vi-
ves 1538) e Jonh Lock (1689), o que pode se ver na Tabela 2.1. Ao
examiná-la, você poderá identificar exemplos de precursores e de
fundadores da Psicologia oriundos de diferentes áreas.
A valorização da educação como produto do iluminismo levou
à luta pela universalização da escola. Estando estabelecida a esco-
la e também, a Psicologia como uma disciplina geral, em desenvol-
vimento e em expansão, por que não empregar os conhecimentos
psicológicos para facilitar as atividades escolares? São nessas con-
dições que a Psicologia da Educação aparece e se expande. Assim,
essa área se constituiu historicamente a partir da contribuição de
vários protagonistas, alguns dos quais destacamos a seguir.
A contribuição da Psicologia para a Educação 39
Figura 2.1 - Três lógicas podem vigorar na Psicologia Educacional: como aplicação de uma (A) ou de várias teorias (B); como área
de competência própria, ou disciplina-ponte (C) (de acordo com COLL et al., 2000).
Resumo
Sobre a história da educação, estudamos que em sociedades
complexas a escola é necessária. O campo da Psicologia da Edu-
cação se esboça por volta de 1900, com os trabalhos de Claparède,
William James e outros, para tomar forma por volta de 1920, em
função dos novos conceitos, objetivos e necessidades da educa-
ção. A universalização da escola e a expansão da Psicologia levam
ao aparecimento da Psicologia da Educação, que se constituiu a
partir da contribuição de vários protagonistas e áreas, como a Psi-
cologia Diferencial, do Desenvolvimento e da Aprendizagem. Um
grande movimento intelectual, a Educação Nova ou Escola Nova,
que visava renovar a educação, prestigiou a Psicologia da Educa-
ção e serviu-se dela. Como disciplina-ponte, cabe a ela contribuir
com a formação do professor para o entendimento do processo
de educação e de ensino/aprendizagem, de como o processo de
desenvolvimento cria diferentes condições para a interação social,
do papel da sociedade no processo educativo, bem como do pro-
cesso de ajustamento social em todas as suas inter-relações. Como
A contribuição da Psicologia para a Educação 53
Referências
ANDALÓ, C. S. A. O papel do coordenador de grupos.
Psicologia USP, v. 12, p. 1-13, 2001.
BRANDÃO, C. R. O que é educação? São Paulo: Brasiliense,
1981.
COLL et al. Psicologia da Educação. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1997.
COLL SALVADOR et al. Psicologia do ensino. Porto Alegre:
Artes Médicas, 2000.
CORD, D. Significações das relações homens e tecnologia.
2004. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) −
Universidade Federal de Santa Catarina, 2004.
CUNHA, M. I. O bom professor e sua prática. Campinas:
Papirus, 1989.
CUNHA, M. V. da. A educação dos educadores: da escola nova à
escola de hoje. Campinas: Mercado de Letras, 1995.
DANIEL, L. S. Por uma psico-sociologia educacional: a
contribuição de João Roberto Moreira para o processo de
constituição científica da Pedagogia nos cursos de formação
de professores catarinenses nos anos de 1930 e 1940. 2003.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Ciências da
Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2003.
54 Pisicologia Educacional
Sugestão de leitura
AQUINO, J. Groppa. Autoridade e autonomia na escola:
alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1999.
______. Indisciplina na escola: o contraponto das escolas
democráticas. São Paulo: Moderna, 2006.
A contribuição da Psicologia para a Educação 55
Você se lembra de quando tinha dez anos? De como brincava, do que gos-
tava de fazer, com quem andava? E seus colegas desenvolveram as mesmas
habilidades que você? E, depois desse tempo, como você mudou ao entrar
na puberdade? Em sua opinião, quais as principais diferenças entre um ado-
lescente e um jovem adulto? E, se você comparar as mudanças que ocorrem
com um recém-nascido e uma criança maior, quais são as mais notáveis?
cada casa uma visita de duas horas a cada quinze dias (SYLVA;
LUNT, 1994). Uma questão em que seria interessante usar esse
tipo de estudo seria a respeito dos efeitos da separação dos pais
sobre crianças, iniciando-se aos 4 e indo até os 15 anos;
•• estudos transversais − toma-se um período para verificar al-
terações (como poderia ser o de 4 a 6 anos), que pode ser com-
parado com outro (como o de 7 a 9), ou um assunto (como,
por exemplo, resolver problemas). Assim, Piaget entrevistou
centenas de crianças, de 3 a 12 anos de idade, para descobrir
como elas pensavam acerca de coisas tão diversas quanto os
fenômenos naturais (o sol, a lua, as criaturas vivas) e a moral
(SYLVA; LUNT, 1994);
•• estudos transculturais − o tema estudado é acompanhado
em diferentes culturas. Como apontam Sylva e Lunt (1994),
Ainsworth, que estava interessada no relacionamento entre
mães e bebês do povo ganda, em Uganda, África oriental, rea-
lizou um estudo transcultural, pois ela quis comparar o “com-
portamento de apego” de duas culturas, de Ganda e dos EUA;
•• estudo de caso − no qual um evento que acontece ao acaso, por
isto também às vezes único, é aproveitado para se obterem co-
nhecimentos. Um exemplo: Ana Freud e Sophie Dann (1951)
estudaram seis órfãos resgatados de um campo de concentra-
ção na Monróvia depois da Segunda Guerra Mundial (SYLVA;
LUNT, 1994);
•• correlação − de acordo com Sylva e Lunt (1994), Michel Rut-
ter (1972) estudou um grande número de meninos de 9 a 12
anos de idade, residentes na ilha de Witgh e em Londres. En-
tre os meninos que haviam sido separados de sua mãe, muitos
pareciam bem ajustados ao adentrarem a adolescência. Por
meio de um estudo de correlação, investiga-se se havia asso-
ciação entre duas medidas: no exemplo acima, comparando
a incidência de comportamento antissocial em meninos com
separações devido a doenças físicas e à discórdia em família
e/ou a problemas psiquiátricos. Ele verificou que alguns tipos
de separação estão associados a distúrbios posteriores, como
é o caso dessas últimas; e
Desenvolvimento e aprendizagem 71
Resumo
Neste capítulo, trabalhamos as questões referentes aos processos
de desenvolvimento e de aprendizagem, procurando uma dife-
renciação em relação à maneira mais tradicional com que os dois
fenômenos são olhados, isto é, como sendo processos que ocorrem
separadamente. Ao contrário, dentro da concepção de interação,
entende-se que aprendizagem e desenvolvimento estão juntos du-
rante a vida dos sujeitos, um embasando o outro, num constante
movimento de interdependência. Relacionar as mudanças psicoló-
gicas observadas às experiências vividas pelo sujeito é importante
para não confundir a aprendizagem com outros aspectos do desen-
volvimento, bem como para excluir outros fenômenos que ocorrem
na vida real, mas que não estão sendo estudados no momento. O
genoma humano está sendo estudado ainda. Algumas das caracte-
rísticas genéticas que têm sido bastante estudadas são aquelas que
causam problemas graves para o ser humano, tanto em termos de
desenvolvimento como de aprendizagem. Sobre a aprendizagem,
vemos que ela ocorre em qualquer lugar, a qualquer momento, ao
longo da ontogênese, ou seja, da vida do sujeito e, portanto, não
só na escola. Existem várias teorias sobre desenvolvimento, e isto
acontece igualmente em relação à aprendizagem, e nenhuma dessas
teorias dá conta de explicações completas sobre esses fenômenos.
O ser humano é dotado de grande plasticidade cerebral, a qual lhe
capacita lidar com o que o cerca, desenvolver-se e aprender ao longo
de sua vida. Ao reconhecer a dupla determinação, genética e am-
biental, na constituição do ser humano, está-se assumindo uma po-
sição interacionista. Hoje em dia se reconhece que tendências são
herdadas, mas também que herança não é destino, ou seja, muito
cabe ao ambiente e ao compromisso com a prevenção e, sobretudo,
com a criação de ambientes adequados ao desenvolvimento dos se-
res humanos. As influências a que estamos sujeitos podem ser nor-
mativas (etárias e históricas) e não normativas. Dois aspectos que
Desenvolvimento e aprendizagem 73
Referências
COLE, M.; COLE, S. R. O desenvolvimento da criança e do
adolescente. Porto Alegre: Artemed, 2004.
ENDERLE, C. Psicologia do Desenvolvimento. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1990.
PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W. Desenvolvimento humano. Porto
Alegre: Artes Médicas, 2000.
SYLVA, K.; LUNT, I. Introdução ao desenvolvimento da
criança. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
WOOLFOLK, A. Psicologia da Educação. Porto Alegre: Artes
Médicas, 2000.
Sugestão de leitura
COLL, C. J; PALÁCIOS, J.; MARCHESI, A. (Org.). Desenvolvi-
mento psicológico e educação: Psicologia da Educação. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1996. v. 1-3.
MONTAGU, A. Tocar. O significado humano da pele. São Paulo:
Summus, 1988.
MOURA, M. L. D. de (Org.). O bebê do século XXI e a Psicologia
em desenvolvimento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
SYLVA, K.; LUNT, I. Introdução ao desenvolvimento da criança.
São Paulo: Martins Fontes, 1994.
c a p í t u lo 4
Contribuições sobre
desenvolvimento e
aprendizagem: a Abordagem
Ecológica, o Psicodrama
e a Psicanálise
Neste capítulo, procuramos identificar características da
Abordagem Ecológica, do Psicodrama e da Psicanálise que per-
mitam reconhecê-las entre aquelas contribuições teóricas da
Psicologia importantes para a educação, bem como identificar
o aporte que trazem para entender desenvolvimento e aprendi-
zagem e para orientação na atuação.
Contribuições sobre desenvolvimento e aprendizagem 77
Figura 4.1 – A Abordagem Ecológica olha as crianças no contexto formado pelos vários
ambientes em que habita no seu cotidiano (microssistema), relacionados entre si de
vários modos (mesossistema), ligados a instituições nas quais as crianças não estão
diretamente, mas das quais recebem influências (exossistema). Todos esses sistemas
são organizados em termos das crenças e das ideologias dominantes na cultura
(macrossistema). (Figura baseada em COLE; COLE, 2004, p. 41)
80 Pisicologia Educacional
Figura 4.2 – O estudante na sala de aula: contexto onde está inserido e onde se dá sua ação
CONSCIENTE
PRÉ-CONSCIENTE
INCONSCIENTE
aproximadamente 18 meses)
Fase Oral (do nascimento até
A zona de erotização é a boca, onde a libido está localizada. O prazer do bebê é sugar o seio materno.
Nesta fase, o bebê começa a experimentar tensão psicológica quando sente fome e o alimento não
vem. Há desconforto, e esse é expresso no choro. A fome para o lactante é algo terrível, pois a criança
não diferencia inicialmente o mundo de si mesma. Quando a mãe chega para dar de mamar, o prazer é
imenso, pois alivia a tensão. À medida que a relação com a mãe é adequada, estabelece-se uma relação
de confiança entre ambas. Diante da fome, ela pode aguardar algum tempo, sem crise, pois sabe que
o alimento virá. Forma-se o rudimento de uma organização temporal: um “agora” com fome pode ser
suportado, pois há um “depois” com alimento. Começam a ser estabelecidas correlações entre o desejo
e a realidade. O Ego começa a se estruturar: a criança, que inicialmente operava pelo princípio do prazer
(Id), começa a se diferenciar do mundo e a se mobilizar para que a realidade possa satisfazer o seu desejo.
Fase Anal (de 1 ano e meio a
2 anos, até aprox.. 4)
Nesta fase, a libido está localizada na região anal. O prazer da criança se dá ao expelir ou reter as fezes.
A criança descobre que as fezes são o seu primeiro produto e fica fascinada; daí brincar com as fezes.
O impulso para o prazer está ligado à redução de tensão após a evacuação, que segue em oposição às
normas sociais. É nesse período do desenvolvimento que é solicitado à criança o controle de seus impulsos
naturais, pelo uso da privada, o que gera conflito na criança. Algumas crianças utilizam o controle dos
esfíncteres para controlar e/ou atacar as pessoas que as cercam, e isso pode ser observado em crianças
que evacuam logo após sair do toalete e naquelas que deixam de evacuar por longos períodos
Fase Fálica (de 4 a 6 anos)
A libido está concentrada nos órgãos genitais. Neste período da vida a criança descobre o seu sexo e
passa a manipular-se para obter prazer. É nesta fase que ocorre o Complexo de Édipo no menino e o
Complexo de Electra na menina. Esses complexos ocorrem quando o objeto de desejo do menino é
a mãe, e o pai passa a ser um rival, que rouba o amor da mãe; e na menina, o objeto de amor é o pai,
e a mãe torna-se a rival. Segundo a Psicanálise, é nesse momento que se realiza a escolha de objeto
sexual. Em ambos os casos, meninos e meninas podem sair, respectivamente, do Complexo de Édipo e
de Electra, ocorrendo a estruturação definitiva do Superego. Cabe lembrar que, ao nascer, o indivíduo
opera somente pelo Id. No primeiro ano de vida, ocorre a formação do Ego, o qual, por volta dos três
anos, já está totalmente estruturado. O Superego estará construído quando ocorrer o tabu do incesto.
Fase de Latência (por
volta dos 6 anos até
a puberdade)
A libido não se localiza em uma região específica do corpo. Os interesses das crianças podem então
voltar-se para o seu desenvolvimento social e intelectual. No início deste período, a maioria delas
ingressa na escola e pode canalizar sua energia para as solicitações que essa escola faz. Este período
vai até o início da puberdade, quando a sexualidade ressurge.
(ocorre após a
Fase Genital
puberdade)
Nesta fase, o objeto erotizado não está no próprio corpo do indivíduo, mas em um objeto externo –
o outro. Chegar a esta fase representa atingir o desenvolvimento emocional pleno do ser humano,
em que esse é capaz de assumir responsabilidades sociais, de realizações, de amar plenamente e de
mediar a busca do prazer.
90 Pisicologia Educacional
Resumo
As idéias da Abordagem Ecológica de Bronfenbrenner ajudam-
-nos a entender melhor as inter-relações dos diferentes contextos
em que o sujeito está inserido, pois elas vêem o sujeito como o cen-
tro de um ambiente (com o qual interage). Esse ambiente é com-
posto de várias estruturas superpostas (ou figuras concêntricas),
indo da mais próxima – o microssistema – representando o coti-
diano, como a casa, a escola e o trabalho, passando por outras mais
92 Pisicologia Educacional
Referências
Sugestão de leitura
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abordagens. São Paulo: Avercamp, 2004, cap. 1: A contribuição da
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RAPPAPORT, C. R. Teorias da personalidade em Freud, Reich
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Contribuições sobre desenvolvimento e aprendizagem 95
A possibilidade de integrar
informações e experiências
em sistemas ou categorias
mentais; um processo
Figura 5.1 – O processo de equilibração contínuo de arranjar os
processos de pensamento em
estruturas psicológicas que
Piaget constatou também que o homem possui a capacidade servem para compreender e
de organização. Por exemplo: uma criança, para pegar um obje- interagir com o mundo.
to, primeiro olha e depois pega. Quando ela consegue organizar,
ela coordena os dois movimentos: olha e pega ao mesmo tempo.
Como Piaget buscava entender a construção do conhecimento no
ser humano (RAPPAPORT, et al, 1981), ele elaborou uma teoria,
a epistemologia genética. Assim, ele dividiu o desenvolvimento Epistemologia
Epistemologia É a área
humano de acordo com as mudanças nas formas de pensar, que da Filosofia que estuda o
ocorrem à medida que o indivíduo constrói novas estruturas men- conhecimento, de onde se
tais para enfrentar os desafios. Essa divisão se constitui em quatro origina e como pode
ser confirmado.
estágios ou estádios (em que alguns deles podem, por sua vez, ser
subdivididos). Veja no Quadro 5.1 como se sucedem. Genética
Da palavra gênese, que
•• Período sensório-motor (entre 0 e 2 anos) – este período re- significa origem; aqui não
cebe esse nome porque, de acordo com a visão de Piaget, nele significa herança, uso mais
comum do termo para nós.
a criança conhece o mundo por meio dos sistemas senso-
riais. Durante os dois primeiros anos de vida o bebê conhece Epistemologia Genética
A expressão epistemologia
o mundo vendo, tocando, cheirando, provando, manipulando genética refere-se à ênfase na
e confiando em seus sistemas sensoriais e motores. A criança construção do conhecimento
descobre que determinadas ações levam a resultados específi- ao longo do desenvolvimento
(ou gênese).
cos, como sacudir os pés faz com que os cobertores sejam re-
tiradosde cima do corpo. Para o bebê, o que não está no seu
Contribuições sobre desenvolvimento e aprendizagem 103
campo visual não existe. Isto porque ele não tem noção de per-
manência do objeto. Gradualmente o bebê adquire essa noção
e compreende que o objeto existe mesmo quando não está no
seu campo visual. Nesse estágio, o bebê também descobre ou-
tras habilidades, como fazer novos usos para velhos objetos,
por exemplo, como jogar a colher da comida no chão inúmeras
vezes para que o adulto pegue. Outra habilidade que a crian-
ça adquire é a imitação: a criança pode imitar alguém que vê
dançando na televisão ao ouvir a mesma música, e isto indica
que a criança já faz um quadro mental da situação percebida.
A imitação diferenciada sugere que a criança já consegue fazer
representações mentais simples. Entretanto, nesse período o
pensamento da criança está ligado à ação.
•• Período pré-operacional (de 2 a 7 anos) – pode ser subdividi-
do em Simbólico − dos 2 aos 4 anos e Intuitivo − dos 4 aos 7
anos. O início deste período é marcado pelo aparecimento da
linguagem, do desenho, da imitação, da dramatização etc. O
sujeito pode criar imagens mentais na ausência do objeto ou da
ação; é o período da fantasia, do jogo simbólico, de faz-de-con-
ta: uma vassoura pode virar um cavalo, a boneca vira o filhi-
nho. Outra característica do estágio é o animismo, pois a
Abstrato
Que não é palpável, mas é
criança “dá alma” aos objetos. Ela já resolve problemas concre-
possível no plano mental. tos, mas tem dificuldades de compreender os abstratos. A
criança neste período pode indicar facilmente qual é a maior
de três bolas, mas não consegue lidar com o mesmo problema
na versão abstrata: se A é maior que B e B é maior que C, qual
é a maior? Não saberá responder. A criança consegue trabalhar
com símbolos e palavras que representam o ambiente. Conse-
gue entender conceitos simples, como, por exemplo, “Totó, Rex
e Duque são cachorros”. E faz classificações simples como se-
parar figuras geométricas por cor. Caso lhe sejam dados cinco
cachorros e dez gatos de brinquedo, ela separa os gatos dos ca-
chorros. Mas se lhe for perguntado se há mais gatos ou ani-
mais, a criança fica perplexa. Não consegue perceber itens
individuais pertencendo a duas classes. À medida que a criança
se desenvolve dentro do estágio pré-operatório, entra no perí-
odo intuitivo e na “idade dos porquês”, pois pergunta o tempo
104 Pisicologia Educacional
Figura 5.2 – Situação inicial em A.1: uma fileira de bolinhas organizada paralelamente à
outra; e na sequência A.2 as mesmas duas fileiras, em que uma delas tem as bolinhas mais
espaçadas entre si; em B.1) duas porções de massinha de modelar formando bolinhas e
em B.2 uma dessas porções é alongada formando uma cobrinha; C.1) um líquido vertido
de uma vasilha curta e larga passando em C.2 para outra longa e fina. No estágio pré-
operacional as crianças respondem que, nos objetos mais “alongados”, como em A2, B2 e
C2, a quantidade é maior.
Resumo
Para Piaget, a adaptação nos humanos é realizada pela inteli-
gência, ou seja, pela capacidade de construir conhecimentos, o que
ocorre à medida que o organismo se desenvolve e interage com o
seu meio ambiente. Buscando entender como acontece essa cons-
trução do conhecimento, ele elaborou uma teoria, a epistemologia
genética. De acordo com ela, as estruturas mentais ou esquemas
vão se construindo ao longo do desenvolvimento ou ontogênese.
Isto se dá através de etapas ou estágios, que são quatro: período
sensório-motor (entre 0 e 2 anos); período pré-operacional (de
114 Pisicologia Educacional
Referências
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116 Pisicologia Educacional
Sugestão de leitura
CARRAHER, T. N.; CARRAHER, D.; SCHLIEMANN, A. D. Na
vida dez, na escola zero: os contextos culturais da aprendizagem
da Matemática. São Paulo: Cortez, 1988.
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ZABALA, A. Construtivismo em sala de aula. São Paulo:
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DUARTE, N. A escola de Vygotsky e a educação escolar:
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GARNIER, C.; BEDNARZ, N. Após Vygotsky e Piaget. Porto
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GOULART, I. S. Piaget: experiências básicas para utilização pelo
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deduções da teoria de Piaget. In: ______. A criança e o número.
Campinas: Papirus, 1984, Apêndice: p. 103-144.
Contribuições sobre desenvolvimento e aprendizagem 117
Quadro 6.1 - Principais aspectos do desenvolvimento nos oito períodos do ciclo de vida
Período/Faixa Etária Principais Aspectos do Desenvolvimento
Pré-Natal Formação da estrutura e dos órgãos corporais básicos.
Da concepção até o O crescimento físico é o mais rápido de todos os períodos.
nascimento Grande vulnerabilidade às influências ambientais.
O recém-nascido é dependente, porém competente; todos os sentidos
funcionam ao nascimento.
O crescimento físico e o desenvolvimento das habilidades motoras são rápidos.
Primeira Infância ou A capacidade de aprender e a de lembrar estão presentes mesmo nas primeiras
Bebê: do nascimento semanas de vida.
até 2,5 a 3 anos A compreensão e a fala se desenvolvem rapidamente; a autoconsciência se
desenvolve no segundo ano.
O apego aos pais e a outros se forma aproximadamente no final do primeiro
ano de vida; o interesse por outras crianças aumenta.
Força e habilidades motoras simples e complexas aumentam.
A imaturidade cognitiva leva a muitas idéias ilógicas acerca do mundo; há
comportamento “egocêntrico”, mas a compreensão da perspectiva dos outros
Segunda Infância ou aumenta.
Pré-Escolar: de 2,5−3 As brincadeiras, a criatividade e a imaginação tornam-se mais elaboradas; jogos
a 6 anos sociodramáticos.
Independência, autocontrole e cuidado próprio aumentam; a família ainda
é o núcleo da vida, embora a relação com outras crianças comece a se tornar
importante.
126 Pisicologia Educacional
Na visão de Piaget, a criança antes dos 6-7 anos está na fase pré-
operatória, não realiza as operações concretas (menos ainda as
formais), logo não tem a conservação de substância, de volume...
Nem a reversibilidade de pensamento. A partir dos 6-7 anos, do-
minaria as operações concretas: passa a trabalhar de modo mais
amplo que na fase anterior, mas seu processamento se dá apenas
na presença dos objetos concretos, visto que sua capacidade de
abstração seria limitada. Ainda de acordo com a teoria de Piaget, a
partir dos 11 ou 12 anos, ou seja, no fim desse período aqui consi-
derado, o sujeito entraria no período das operações formais, pas-
sando ao raciocínio semelhante ao do adulto, processando sobre
eventos ausentes, ou seja, é capaz de abstrair, construindo hipóte-
ses a partir de elementos que lhe sejam fornecidos.
ele tem sobre seu corpo é diferente de como ele é de fato, de quem
ele é naquele momento. O mapa do corpo do adolescente não
Sua representação muda tão rápido quanto o próprio corpo. Nosso corpo está repre-
no córtex cerebral.
sentado no córtex do cérebro, em duas regiões: o córtex motor,
que responde pelos movimentos; e o córtex sensorial, que respon-
de pela percepção das sensações. O hábito de ficar horas em frente
ao espelho que muitos adolescentes têm talvez seja um reflexo des-
sas alterações vividas e, quem sabe, uma forma de ajudar a ajustar
a autoimagem ao que se é de fato?
desinteresse por aquilo de que se gostava (os brinquedos de crian- Será por isto que é preciso
ça) e diminua a sensibilidade a estímulos. ouvir música tão alta?
Resumo
Como disciplina científica, a Psicologia do Desenvolvimento
tem em torno de 100 anos. No século XIX o avanço fundamen-
tal foi liberar as crianças dos trabalhos pesados. Já no século XX
estabelece-se definitivamente a concepção da infância como pe-
ríodo claramente diferenciado, e, sobretudo surge o conceito de
adolescência. No século XX, até o final dos anos 70 do século
XX, os dois modelos explicativos mais influentes na Psicologia
eram o inatista e o empirista. Reagindo contra limitações des-
ses modelos, surge a proposta do Modelo do Ciclo Vital ou de
Desenvolvimento: o ciclo de vida e seus períodos 135
Referências
BOCK, Ana M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. Psicologias:
uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999.
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COLE, M.; COLE, S. R. O desenvolvimento da criança e do
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HERCULANO-HOUZEL, S. O cérebro em transformação. Rio
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adulto e do idoso. Coimbra: Quarteto, 2001.
OZELA, S. Adolescência: uma perspectiva crítica. In: CONTINI,
Desenvolvimento: o ciclo de vida e seus períodos 137
Sugestão de leitura
BECKER, D. O que é Adolescência. São Paulo: Brasiliense, 1986.
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REVISTA MENTE&CÉREBRO. A mente do bebê. São Paulo:
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ROGOFF, B. A natureza cultural do desenvolvimento humano.
Porto Alegre: ArtMed, 2005.
c a p í t u lo 7
Aprendizagem em foco: sua
importância. Algumas de suas
múltiplas formas. Aprendizagens
por associação e a visão
behaviorista
Neste capítulo, trataremos dos processos de aprendizagem,
ressaltando sua importância na sobrevivência e nas relações
humanas, e de como isto extrapola o espaço da escola. E tam-
bém, ocorrendo numa variedade de contextos, as formas de
aprendizagem podem variar. Identificaremos algumas dessas
formas de aprendizagem, como empatia, imitação, habitua-
ção, aprendizagem social, condicionamentos respondente e
operante. Retomando o fio da história da Psicologia, aponta-
mos a contribuição do behaviorismo para o seu estudo.
Aprendizagem: sua importância. Aprendizagem por assoc. e a visão behaviorista 141
associando
Sn (estímulo Rc (resposta
neutro) condicionada)
Resumo
Uma maneira simples de definir aprendizagem é: a aquisição
de conhecimento, de habilidades motoras e mudanças de com-
portamento e que resulta da exposição a circunstâncias, situações
ou experiências. Portanto, acontece como produto de determina-
das influências ambientais. Sobre o fenômeno da aprendizagem,
reitera-se que várias teorias buscam explicá-lo e nenhuma delas
obtém êxito completo na compreensão do que se passa. Assim, te-
mos lidado com algumas dessas teorias na busca de uma visão mais
abrangente. O empirismo coloca a aprendizagem como o fenômeno
central, pensando o sujeito humano como uma tábula rasa. Na Psi-
cologia essa posição é defendida pelo Behaviorismo. Para essa teo-
ria, nascida no começo do século XX, ao estudar aprendizagem já
se está estudando desenvolvimento. Ela postula que se pode expli-
car comportamento descrevendo a relação entre as características
do ambiente, que são os estímulos, e as respostas, que são caracte-
rísticas do comportamento. Todas as atividades humanas tornam-
-se, assim, zonas de aprendizagem potencial ligadas fortemente às
propriedades dos estímulos que as suscitam. A aprendizagem por
associação, que é uma das formas mais comuns de aprender, já ha-
via sido apontada por Aristóteles. Sua versão moderna, sob o olhar
da Ciência, remete ao fenômeno dos condicionamentos. Existem
duas formas de condicionamento: 1) respondente − também cha-
mado de reflexo, simples, clássico, de Pavlov, ou ainda tipo I. A
apresentação dos dois estímulos ao mesmo tempo, a saber, o estí-
mulo incondicionado (estimula a resposta reflexa: motora, glan-
dular ou emocional), concomitante ao estímulo neutro, faz com
que este fique contaminado das propriedades do primeiro e provo-
que a resposta; 2) operante − também chamado de instrumental,
de Skinner ou tipo II. Um comportamento operante é realizado por
Aprendizagem: sua importância. Aprendizagem por assoc. e a visão behaviorista 159
Referências
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160 Pisicologia Educacional
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PFROMM NETO, S. Psicologia da Aprendizagem e do Ensino.
São Paulo: EPU/Edusp, 1990.
c a p í t u lo 8
Aprendizagem nas Abordagens
Cognitivistas e na Teoria do
Processamento de Informação
Neste capítulo, trataremos das abordagens cognitivistas, as
quais têm como característica comum colocar o conhecimen-
to como fenômeno fundamental para a ocorrência da apren-
dizagem. Serão apontadas as contribuições da Gestalt, da
Teoria de Aprendizagem Verbal Significativa de Ausubel, do
método da descoberta de Bruner, bem como buscaremos rela-
cionar entre si os autores estudados. Trataremos também da
Teoria do Processamento de Informação e suas contribuições
para o processo de aprendizagem, que considera a entrada
da informação através dos sentidos, mediada por fenômenos
como a atenção, bem como pelos conhecimentos anteriores
(incluindo atitudes e valores), como ela é processada e pode
levar ao armazenamento (memória) do conhecimento e à
possibilidade da sua recuperação.
Aprendizagem nas Abordagens Cognitivistas 163
A B C
Figura 8.2 − A metáfora do andaime mostra que é necessário apoio para a aprendizagem
e que as condições propostas como instrumentos podem ser ou não adequadas levando-
se em conta o momento da construção. Em A, o apoio está abaixo; em B o apoio está
adequado à ação, e em C está acima do ponto necessário.
170 Pisicologia Educacional
Figura 8.3 − Ambientes de ensino vistos por meio da metáfora do andaime: do ensino mais
“apoiado”, à esquerda, ao mais autônomo, à direita
Aprendizagem nas Abordagens Cognitivistas 171
Figura 8.4 − A informação percebida é codificada na memória sensorial (breve), de onde pode ir para a memória de trabalho
para uso posterior. Pode ser processada até a memória permanente e, sendo ativada, retornará à memória de trabalho. Esses
processos de controle executivo guiam o fluxo de informação.
Figura 8.5 − A informação pode ser mantida ativada na memória de trabalho ou transferida para a memória de longo prazo, e sofre
interferência na sua entrada ou declínio, como ocorre inclusive pela falta de uso
• a definição de hipotenusa
• horário de biblioteca
• as linhas do poema Ou isto ou
• regras de gramática
aquilo, de Cecília Meireles
Processual
• como resolver uma equação de
• como usar o computador redução
• como fotografar • como modelar um vaso no trono
do oleiro
Condicional
• quando usar a fórmula para
• quando passar os olhos calcular volume
• quando ler e quando anotar • quando correr para a rede num
jogo de tênis
Resumo
Vimos neste capítulo que a Abordagem Cognitivista é antiga
visto que as discussões sobre a natureza do conhecimento, sobre
o valor da razão e os conteúdos da mente remontam pelo menos
aos filósofos gregos. Ela procura entender a aprendizagem como
um processo de modificação do conhecimento, em vez de mudan-
ça só do comportamento (em um sentido externo e observável),
e reconhecer a importância que os processos mentais têm nesse
desenvolvimento. A teoria de Ausubel, da aprendizagem signifi-
cativa, considera que o ponto de partida é o conhecimento que o
aluno já tem: nisto se constituem os inclusores. Os organizadores
prévios são materiais introdutórios que se apresentam antes do
novo material de aprendizagem para criar e/ou mobilizar os inclu-
sores pertinentes e que, por um lado, devem apresentar um nível
182 Pisicologia Educacional
Referências
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GAONAC’H, D.; GOLDER, C. Profession Enseignant. Paris:
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Sugestão de leitura
ARMSTRONG, T.; GARDNER, H. Inteligências múltiplas na
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COLL, C. et al. Os conteúdos na reforma. Porto Alegre: Artes
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MEIRIEU, Philippe. Aprender... sim, mas como? Porto Alegre:
Artes Médicas, 1998.
MIZUKAMI, M. G. N. Ensino: as abordagens do processo. São
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REVISTA MENTE&CÉREBRO. Segredos da memória. São
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c a p í t u lo 9
Sucesso ou fracasso escolar: a
Psicologia pode contribuir
para o sucesso?
O objetivo deste capítulo é estudar um pouco sobre o su-
cesso e o fracasso escolar no sistema educacional brasileiro e
suas razões, bem como de que forma a Psicologia pode con-
tribuir para reverter esse quadro.
Sucesso ou fracasso escolar: a Psicologia pode contribuir para o sucesso? 187
•• repetência;
•• evasão;
•• atraso escolar;
•• analfabetismo;
•• analfabetismo funcional;
•• analfabetismo científico; e
•• analfabetismo matemático etc.
Além desses eventos, pode-se incluir os maus e bons resultados
em provas e exames de avaliação nacionais, internacionais etc.,
como SAEB, SAEM, ENEM, Programa Internacional de Avaliação
de Alunos (Pisa), entre outros. Olhando mais de perto cada um
desses eventos, podemos iniciar indagando o que leva à repetên-
cia e à evasão escolar?
Vendo as estatísticas (INEP, IBGE etc), pode-se verificar que re-
petência e evasão escolar se distribuem desigualmente pelas regi-
ões brasileiras (mais no Norte e Nordeste do que no Sul, Sudeste
etc.) e também desigualmente ao longo da vida escolar: é maior
especialmente nas 1as em que há um choque maior entre a cultu-
ra dos estudantes e da escola, e/ou 5a série, em que há um novo
choque cultural, agora entre a própria cultura escolar do Ensino
Fundamental (EF) de 1ª à 4ª, série ou Fundamental Menor, e o
Fundamental Maior – de 5ª à 8ª séries. Os índices de repetência
e evasão nas 1a e 5a séries são críticas no Ensino Fundamental e
maiores do que nas demais séries. Você é capaz de dizer por quais
razões essas séries são as mais críticas? Por essas estatísticas pode-
mos inferir o que se passa no Ensino Médio? Confira esses índices
com os dados do último Censo escolar.
Para esclarecer o fenômeno da repetência, Rosa Torres (2000)
trata dos fatores que são internos à escola (parte do microcosmo),
bem como dos externos a ela, incluindo aí as características do sis-
tema educacional, da organização social e/ou comunidade, ou seja,
do macrocosmo, e aponta que, embora a repetência ocorra pratica-
mente em qualquer escola do mundo, nos estudos realizados, paí-
ses não desenvolvidos e pobres têm taxas maiores de repetência, e
essa é maior nas populações carentes (como as rurais em relação às
Sucesso ou fracasso escolar: a Psicologia pode contribuir para o sucesso? 189
urbanas). Isto pode ser visto no Quadro 9.1. Entre as camadas so-
ciais populares pouco escolarizadas há maior incidência de repe-
tência – é a questão do círculo vicioso: pais analfabetos ou pouco
escolarizados, pais que não valorizam a escola, que não podem aju-
dar seus filhos em seus afazeres escolares, que preterem a escola em
relação aos outros afazeres necessários à sobrevivência, todos con-
tribuem para maior repetência. Isto aliado ao fato de que os profes-
sores dessas regiões também são geralmente despreparados para
lidar com essas populações e também são os piores classificados
que se sujeitam a trabalhar com elas e a percorrer maiores distân-
cias em relação aos centros urbanos. Raramente há alguém dessa
população que consegue romper esse ciclo vicioso e escolarizar-se
ou assumir um papel de membro atuante na comunidade.
sem que seja retido. Mas também devem-se incluir outras ações,
como discutir e entender melhor sobre os processos de avaliação,
concluindo por estabelecer-se como padrão que:
1. as regras das avaliações sejam claras e conhecidas pelos sujeitos
envolvidos;
2. tenham uma periodicidade adequada;
3. haja garantia de sistemas de recuperação e de dependência;
4. todos os elementos envolvidos no processo de ensino/aprendi-
zagem, e não só os alunos, sejam avaliados; e
5. seu papel formativo e diagnóstico seja predominante em rela-
ção ao classificatório e excludente, entre outras características.
As repetências contribuem para produzir dois fenômenos no-
vos entre aqueles que estamos examinando: a evasão e o atraso
escolar. Pensando então um pouco sobre a evasão: o aluno que é
reprovado pode ser desestimulado a continuar na escola. Princi-
palmente quando ocorre multirepetência – o mesmo aluno é re-
provado várias vezes na mesma série ou em diferentes séries. Com
a repetência ele pode ter o atraso escolar: sua idade é maior que
a idade média da série cursada. Essa defasagem de idade atua so-
bre o sujeito na escola, empurrando-o também para fora dela: sua
adaptação ao grupo fica difícil, seus interesses e motivações muitas
vezes ficam muito distintos dos colegas, como ocorre com um jo-
vem de 15 anos na segunda série, por exemplo.
O que discutimos sobre repetência já nos ajuda a entender a eva-
são: a repetência contribui para a evasão; ambas têm causas comuns,
como as pressões do sistema social geral, os aspectos internos à es-
cola, as relações de sala de aula etc. O aluno que não tem material
para fazer a tarefa ou preparar a prova; ou que está sem uniforme
(muitas vezes a diretora que manda embora); aquele aluno cuja
família precisa que ele trabalhe, oque geralmente faz com que ele
passe para o período noturno − em que quase sempre ocorre o pior
atendimento escolar ou há o abandono de imediato a escola. Sobre
a menina que engravida, temos o número ou as estatísticas de ado-
lescentes grávidas no nosso País? De quantas abandonam a escola?
Assim, o aluno recebe o diploma de reprovado e/ou evadido, e esses
Sucesso ou fracasso escolar: a Psicologia pode contribuir para o sucesso? 191
Por outro lado, será que todo aluno se adapta a qualquer turma
ou grupo de colegas? E também a qualquer sala de aula? E o aluno
se dá bem em todas as disciplinas? Ou se relaciona bem com todos
os professores? E o sucesso ocorre independentemente de qual seja
a metodologia de ensino em uso?
Nas considerações sobre as possibilidades de sucesso/fracas-
so escolar há que considerar esses aspectos da ambiência da(s)
pessoa(s) do aluno(s). Não só o(s) aluno(s) em si, mas a relação
entre ele(s) e o seu entorno, que incluem desde aspectos físicos –
as condições de espaço, conforto térmico, iluminação, tamanho
das carteiras, número de alunos na sala − até quanto o professor
falta ao trabalho, como organiza a lição de casa, enfim... Cada um
desses aspectos que compõem essa ambiência são também trata-
dos pela Psicologia. Sobre alguns deles já pudemos aqui neste tex-
to abrir janelas para que você fique atento a suas contribuições.
Vamos aproveitar para ver outros aspectos.
Levando em conta pesquisas que relacionam as orientações pe-
dagógicas e as metodologias decorrentes utilizadas pelos professo-
res e o sucesso/fracasso escolar, podemos contribuir com alguns
relatos de modo a situar o problema. Em O fracasso escolar e a
busca de soluções alternativas, Mamede-Neves (1993) relata um
trabalho realizado com alunos repetentes de primeira série dividi-
dos em grupos em que cada um deles foi submetido a procedi-
mentos e atividades por diferentes orientações psicopedagógicas, a
saber: a) grupo A − privilegiando a autonomia na construção de
identidade e criatividade; b) grupo B − privilegiando a atividade
196 Pisicologia Educacional
para ser professor ou mesmo que já está na sala de aula: será que
isto só ocorre na Matemática? Os conteúdos que são tratados no
ensino são questões que se relacionam ao que os alunos vivem?
Parte-se da experiência de vida dos alunos, da realidade local e/
ou das questões prementes da região para tratar dos conteúdos es-
pecíficos de cada disciplina? Os conteúdos escolares têm alguma
Resultam do uso do método
descritivo, portanto, sem ressonância para a vida dos alunos?
intervenção sobre o fenômeno
estudado. A etnografia foi Autores que tratam das características da escola e de como é
usada inicialmente pela gerado o fracasso escolar no Brasil mostram uma gama de as-
Antropologia para descrever
culturas de diversos povos. pectos importantes. Por meio de estudos etnográficos, pode-se
ver como é o dia-a-dia da escola e a atuação do professor, como
esse desconsidera os conhecimentos anteriores do aluno, usa o
tempo em sala de aula mais para instaurar a “disciplina” do que
propriamente lidar com os conhecimentos que são necessários
ao aluno, a existência de muitos preconceitos interferindo na
relação dos professores com os alunos. Entre esses, Dorneles
(1987), por exemplo, tomando uma escola fundamental para
observar, descreve como a metodologia dominante é a da cópia
da lousa, da fala única – a de professora − e como a experiên-
cia dos alunos não é um ponto de partida, resultando em que
a lição principal que resulta na escola é especialmente sobre
controle social. Algo semelhante é observado e descrito por Lia
Freitas (1991), que mostra como a escola atua no sentido de
reprovar e excluir grande parte dos alunos que pertencem às
classes menos favorecidas, de modo que a escola acaba por pro-
duzir, em vez do conhecimento e da promoção social daqueles
que a frequentam, a sua exclusão, e neste sentido então a igno-
rância é produzida na escola quando essa dá o diploma de exclu-
ído a uma porcentagem considerável de crianças e jovens. Para
a autora, a escola, para dar o diploma de “aprovado, promovido,
diplomado e assim incluído”, necessariamente e ao mesmo tem-
po, está dando o de “reprovado, rebaixado, excluído”: essa é a
lógica da avaliação classificatória (quantitativa). Ao lado desses
aspectos que destacam a forma de funcionamento interno da
escola, as autoras (todos nós) também destacam: o desprestígio
social do professor, os baixos salários que recebem, o desca-
so em relação à estrutura da escola e a materiais didáticos, de
198 Pisicologia Educacional
Resumo
O que pode ser considerado como fracasso ou insucesso na
escola? Todos os eventos que ocorrem em contraposição aos ob-
jetivos declarados da escola de levar o conhecimento à população
e construir sujeitos capazes de usar esse conhecimento em benefí-
cio próprio e da comunidade, incluindo: repetência, evasão, atra-
so escolar, analfabetismo, analfabetismo funcional, analfabetismo
científico e matemático, maus resultados em provas e exames de
avaliação nacionais, internacionais etc., que se distribuem desi-
gualmente pelas regiões e também desigualmente ao longo da vida
escolar. Na busca para esclarecer esse fenômeno, aponta-se para
fatores internos à escola (parte do microcosmo), bem como dos
externos a ela, como as características do sistema educacional, da
organização social e/ou comunidade, ou seja, do macrocosmo. As-
sim, mudanças para reduzir o fracasso podem incluir alterações
nas relações dentro de sala de aula, dentro da escola, do sistema
escolar e, além deste, na sociedade. As possibilidades de solução
exigem que todas as questões enfrentadas sejam discutidas por
todos os envolvidos, professores, alunos, comunidade escolar. As
propostas capazes de reverter o fracasso em sucesso escolar devem
incluir investimento na formação inicial e na formação continu-
ada de professores, formação de professores de modo integrado
com a prática, melhores salários, melhora de toda a estrutura da
escola desde a estrutura física à funcional, adequação dos currí-
culos aos interesses da comunidade, bolsas para crianças/famílias
mais pobres, como a bolsa-escola etc. O psicólogo escolar/educa-
cional deve ser um agente diretamente envolvido no dia-a-dia com
a educação e participando dentro da escola com os demais agentes
para favorecer o sucesso escolar.
Sucesso ou fracasso escolar: a Psicologia pode contribuir para o sucesso? 205
Referências
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Sugestão de leitura
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NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A.; BOURDIEU, Pierre. Escritos
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A Psicologia recebe este nome a partir de psique, termo
Psicologia Educacional
ISBN 978-85-61485-14-6