Culinaria Cultura e Identidade Na Fronte
Culinaria Cultura e Identidade Na Fronte
Culinaria Cultura e Identidade Na Fronte
RESUMO
A história da alimentação humana vai além da história sobre os alimentos, de sua produção,
distribuição, preparo e consumo, sob esses aspectos, a culinária pode ser considerada um elemento
cultural e de construção da identidade local. Assim sendo o presente artigo objetiva investigar qual
a relação entre a culinária, a cultura e a identidade na fronteira entre Brasil e Paraguai (Ponta Porã
e Pedro Juan Caballero). Para a consecução deste estudo optou-se pelos recursos técnicos de
pesquisa baseado em revisão bibliográfica documental, e método analítico descritivo, com
abordagem qualitativa, cuja coleta de informações foi realizada através livros e periódicos
impressos e digitais acerca do tema. Os resultados indicam que há relação entre os elementos –
culinária, cultura e identidade, que a culinária da região de fronteira é capaz de revelar a cultura e
representar os indivíduos atribuindo-lhes o senso de pertencimento/identidade.
ABSTRACT
The history of human food goes beyond the history of food, its production, distribution, preparation
and consumption, under these aspects, cooking can be considered a cultural element and
construction of local identity. Thus the present article aims to investigate the relationship between
culinary, culture and identity on the border between Brazil and Paraguay (Ponta Porã and Pedro
Juan Caballero). In order to achieve this study, we opted for the technical resources of research
based on bibliographic review, and a descriptive analytical method, with a qualitative approach,
whose collection of information was carried out through printed and digital books and periodicals
on the subject. The results indicate that there is a relationship between the elements - culinary,
culture and identity, that the cuisine of the frontier region is able to reveal the culture and represent
the individuals attributing to them the sense of belonging / identity.
1
Graduada em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí (1998), Mestre em Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília - UNB (2002) e Doutora em Economia do
Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (2011). Atualmente é
professora/pesquisadora da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Líder do Grupo de Pesquisa Turismo:
Planejamento, Gestão e Desenvolvimento/PLANGEDTur. É docente do Programa de Pós-graduação em
Desenvolvimento Regional e de Sistemas Produtivos - PPGDRS/ Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
(UEMS) - Brasil. E-mail:[email protected]
2
Administradora. Bolsista CAPES. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e de
Sistemas Produtivos - PPGDRS/ Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) - Brasil. E-mail:
[email protected].
UEMS – MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E DE SISTEMAS PRODUTIVOS – PONTA PORÃ/MS 23
Revista desenvolvimento, fronteiras e cidadania – vol.3 – n.2 – p.1-38 – OUTUBRO de 2019
INTRODUÇÃO
Dentre as cozinhas internacionais, o mundo elegeu a francesa como norteadora das demais
cozinhas presentes no mundo, a culinária francesa há muitos anos é considerada a melhor cozinha,
segundo Maciel (2001), tida como referência para ciência da culinária, uma identidade que foi
construída ao longo do tempo dentro e fora de suas fronteiras.
A culinária, a cultura alimentar presente nas Américas está fortemente relacionada com as
populações colonizadoras, as quais trouxeram consigo seus hábitos, suas necessidades, a
diversidade de alimentos, de temperos de suas preferências, suas receitas preferidas e suas crenças.
No que diz respeito à culinária brasileira, está é um resultado das influências portuguesa,
africana e a indígena, porém se faz necessário considerar as suas dimensões continentais, e a sua
multiplicidade cultural, advinda dos imigrantes italianos, alemães, japoneses, espanhóis, árabes,
suíços, sírios dentre outros.
A culinária pode ser considerada um elemento cultural. Cada país, região tem a sua
culinária própria, baseada em sua cultura local e nos ingredientes disponíveis, e os seus hábitos
alimentares consistem na mais básica das necessidades humanas.
Fagliari (2005, p.4) ressalta que cada povo possui uma “culinária permeada por hábitos
alimentares distintos, os quais refletem muitos aspectos da sociedade, como características
geográficas, climáticas, socioeconômicas e culturais”.
Todos os povos têm sua própria cultura, que nada mais é do que os seus costumes, a forma
como agem a partir de sua identidade, assim como as características do lugar em si. Segundo
DaMatta (1986), um dos significativos aspectos culturais que se pode destacar é a culinária. É
possível identificar um povo por aquilo que ele come.
Esta investigação justificou-se, pela frágil documentação bibliográfica própria que
apresente uma discussão sobre o assunto da culinária, especificamente na região de fronteira
Ante essas constatações e a necessidade de investigação sobre a temática, perguntase:
Existe relação entre a culinária, cultura e identidade na fronteira? Qual? Desta maneira, as próximas
linhas tem por objetivo geral investigar qual a relação entre a culinária, cultura e a identidade na
fronteira Brasil e Paraguai (Ponta Porã e Pedro Juan Caballero).
O capítulo a seguir inicia-se com uma breve apresentação sobre as distinções semânticas
entre os termos relacionados à gastronomia e a culinária.
Segundo o dicionário infopédia da língua portuguesa (2018), gastronomia é a “arte de
cozinhar” com o objetivo de proporcionar o maior prazer aos que comem; conhecimento e
apreciação dos prazeres da mesa. Medeiros (2014) define como sendo uma arte ou ciência que
exige conhecimento e técnica de quem a executa e formação do paladar de quem a aprecia.
Ainda segundo a autora, a palavra “gastronomia” foi criada por Arquéstratus3 no século
IV a.C., pesquisador dos prazeres da mesa, a palavra têm sua origem do grego gaster (estômago)
e nomo (lei) - as leis do estômago. O termo ganhou notoriedade no século XVIII com Brillat-
3
Arquéstrato (em grego antigo: Ἀρχέστρατος; Gela, século IV a.C. — c. 330 a.C.) foi um poeta, gastrônomo, e
provavelmente cozinheiro grego de Gela ou Siracusa, na Sicília, que viveu em meados do século IV a.C. Wikipédia
(2018).
Savarin, tido como amante da boa mesa e apelidado como “O filósofo gourmet”, o qual dizia que
a gastronomia é estilo de vida, é a diferença entre o prazer de comer e o prazer da mesa4.
A respeito da culinária, é a “arte de cozinhar” ou “conjunto de pratos característicos de
determinada região”, conforme o dicionário infopédia da língua portuguesa (2018), Soares (2016,
p. 480) afirma que “remete-nos para produtos-ingredientes, utensílios e técnicas culinárias.”
Medeiros (2014) complementa a definição dizendo, que corresponde ao conjunto de utensílios,
ingredientes característicos da região, também diz respeito à forma de preparar os alimentos, com
práticas e técnicas específicas. Está associada ao dia a dia e para a cozinha caseira.
A partir deste ponto, cabe esclarecer que utilizamos neste trabalho o conceito de Culinária,
uma vez que o lócus da pesquisa envolve práticas e pratos característicos da região de fronteira,
que não utilizam de maior requinte em seu preparo, justificando assim a escolha do termo.
A história da alimentação abrange, portanto, mais do que a história dos alimentos, de sua
produção, distribuição, preparo e consumo. (CARNEIRO, 2003). Podemos iniciar o percurso
histórico sobre a alimentação, destacando que a alimentação é um tema que interessa a diversas
disciplinas: Antropologia - Claude Lévi-Strauss; Luis Câmara Cascudo; Gilberto Freyre; Maria
Eunice Maciel, da Sociologia - Claude Fischler; Carlos Alberto Dória, da História - Massimo
Montonari; Jean-Louis Flandrin, Henrique Soares Carneiro, dentre outros.
A história da humanidade está relacionada com o alimento. Deste modo Cascudo (1983,
p. 26) destaca que “o homem pré-histórico era onívoro, mas o proto-histórico e o contemporâneo
já não pertencem a essa classe generalizadora. Nem todos os animais e vegetais existentes na região
figuram na sua cozinha”.
No início os primeiros hominídeos tinham a necessidade de mudar constantemente seu
modo de vida para conseguir o seu alimento, é nesse período que o homem passa da fase de coletor
de raiz e sementes para caçador de animais.
4
Prazer de Comer - é a sensação atual e direta de uma necessidade que encontra satisfação; Prazer da Mesa - é a
sensação refletida que nasce das várias circunstâncias, dos fatos, do local, das coisas e das pessoas que estão
presentes à refeição. Medeiros (2014, p. 8)
alumínio, mas também receitas de culinária e sistemas sociais indicando como as pessoas de um
grupo devem proceder quando comem”.
A respeito disso DaMatta (1986, p.56) estabelece uma distinção entre comida e alimento,
em que "comida não é apenas uma substância alimentar mas é também um modo, um estilo e um
jeito de alimentar-se. E o jeito de comer define não só aquilo que é ingerido, como também aquele
que o ingere".
Assim, entende-se que a alimentação humana está repleta de cultura e deste modo é
possível pensar em hábitos alimentares como sistemas simbólicos os quais estão presentes e
atuantes no estabelecimento das relações entre o homem e a natureza.
Ainda segundo DaMatta (1986), um dos significativos aspectos culturais que se pode
destacar é a culinária. Pois é possível identificar um povo por aquilo que ele come, como afirma
Savarin (1995, p. 15) “Dize-me o que comes e te direi quem és”.
Aperfeiçoando o conceito de Brillat-Savarin, Bessis (1995, p.10) apud Maciel (2005, p.50)
assim afirma: “Dize-me o que comes e te direi qual deus adoras, sob qual latitude vives, de qual
cultura nascestes e em qual grupo social te incluis.”
Assim, entende-se que a construção de identidades sociais/culturais, ora definida por Hall
(2015), a identidade na concepção sociológica, preenche o espaço entre o “interior” e o “exterior”,
conecta o mundo pessoal ao mundo social, pois é o resultado da internalização que as pessoas
fazem dos significados e valores de determinada cultura na qual o indivíduo encontra-se inserido,
deste modo transmitindo-lhes o sentimento de pertença a um espaço exterior.
Assim, elementos culturais como a comida podem ser transformados em marcas
indenitárias, apropriadas e utilizadas pelos grupos sociais como símbolos de uma identidade local,
como ocorre com a pizza e o macarrão que são rapidamente ligados à Itália, os fast foods que nos
remetem aos Estados Unidos, ao arroz com feijão alimentos considerados como sendo tipicamente
brasileiros, e por que não a chipa como um alimento típico que identifique a fronteira de Ponta
Porã-Ms(Brasil) e Pedro Juan Caballero no Paraguai.
Deste modo quando se fala em culinária é praticamente impossível dissocia-la da cultura,
uma vez que o alimento faz parte da formação do complexo processo de formação de identidade
de um povo. Para Montanari (2009, p. 11), “[...] exatamente como a linguagem, a cozinha contém
e expressa a cultura de quem a pratica, é depositária das tradições e das identidades de grupo [...]”.
Mintz (2001) afirma que os alimentos são indicadores de suas próprias histórias, nessas
histórias estão presentes os valores culturais, as representações das trocas das chipas 5 entre os
familiares e os visitantes, as práticas artesanais 6 de preparo, todos esses elementos auxiliam a
construção e a conservação dos grupos sociais.
Neste sentido, a culinária da fronteira entre Ponta Porã-Ms e Pedro Juan CaballeroPy, é
uma forte expressão de sua cultura. Gimenes (2006) corrobora ao dizer que a culinária típica é
carregada de simbologias locais, os quais incitam o paladar de quem é de fora.
Em se tratando de sabores, quando se fala em comida é possível visualizar a existência de
tradições, as quais foram e ainda são passadas de geração para geração, como a elaboração de
alguns alimentos típicos da região de fronteira: a chipa e a sopa paraguaia7.
Desta maneira Hall(2015), corrobora ao dizer que a identidade é definida historicamente
e é formada e transformada junto com a cultura e a sociedade. Por conseguinte, o sujeito tem uma
vasta gama de identidades que ele pode assumir dependendo das condições oferecidas a ele, e isto
se reforça nas palavras de Castells(2018) que entende, que para um determinado indivíduo ou ainda
um ator coletivo, pode haver identidades múltiplas, no entanto essa pluralidade é fonte de tensão e
contradição tanto na auto representação quanto na ação social.
A CULINÁRIA DE FRONTEIRA
5
Chipa – de origem paraguaia, é parecida (mas não igual) ao pão de queijo mineiro, cujos ingredientes são: fécula de
mandioca ou amido, gordura ou manteiga, anis, sal, ovos, queijo, leite.
6
Práticas artesanais – utilização do Tatakua – forno de barro típico paraguaio.
7
Sopa paraguaia – que não é sopa, mas uma espécie de bolo salgado que leva em sua receita ingredientes como farinha
de milho, cebola, banha de porco ou manteiga, leite, queijo e ovos. (GAROFALO, 2011)
A respeito da prática culinária na fronteira, está pode ser entendida como sendo, um
conjunto de aromas e sabores específicos de cultura da região, que é o resultado da interação das
pessoas com o seu contexto local, envolve diferentes dimensões, como a cultura, as sensações, as
emoções e as lembranças e ou memórias afetivas, despertadas tanto pelos atos de preparar como
de consumir alimento (MINTZ, 2001).
Embora a prática culinária seja universal, as maneiras de fazer e de saber fazer, são
diversas tendo em vista que todas as sociedades desenvolveram formas culturalmente
determinadas, próprias e reconhecidas de preparo de seus alimentos como observa (MACIEL,
2001).
A prática culinária exerce papel importante na vida de cada indivíduo. De modo mais
amplo, ela pode ser compreendida como um tipo de processamento para transformação do alimento
ou, de outro modo, a passagem do alimento da categoria de cru para o cozido, conforme
argumentam Garcia & Castro (2011).
Dentre as principais técnicas de preparo ou cocção descritas por Garofalo (2011)
encontramos o Mimói ou fervido; Ka`ê ou cozido/assado no Tatakua uma espécie de forno de barro
utilizado principalmente no preparo dos alimentos como a chipa e a sopa paraguaia; Chryry ou
frito; Mbichy cozido direto sobre as chamas; Hesy, assado ao ar livre. Entre os utensílios utilizados
temos: a cerâmica; Olla y pavas de hierro ou panela, chaleiras de ferro, utilizado para cozinhar os
alimentos; Ña’ẽ pyũ ou recipiente para torrar alimentos; Avatisoka ou pilão; Asador espécie de pá
de madeira com cabo longo para levar os alimentos ao Tatakua – forno, para o cozimento. (Figura
1).
Figura 1 – Tatakua (Forno de barro)
CONCLUSÃO
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