Compartimentos Dos Líquidos Corporais

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Compartimentos do organismo

Anatomicamente, o corpo é dividido em três cavidades principais:


- tais cavidades são separadas umas das outras por ossos e tecidos e são revestidas por
membranas teciduais
1. cavidade craniana
2. cavidade torácica
3. cavidade abdominopélvica

Outros compartimentos:
- vasos sanguíneos e coração: formam um compartimento no sistema circulatório
- olhos: são esferas ocas divididas em dois compartimentos
- sacos pleurais
- pericárdio
- líquido cerebrospinal, que cria um compartimento dentro do qual se encontram o
encéfalo e a medula espinal
- todos os órgãos ocos também criam compartimentos dentro do corpo → obs: em
alguns órgãos, o lúmen é uma extensão do meio externo, e o material presente no
lúmen não é verdadeiramente parte do meio interno do corpo até atravessar a
parede do órgão. É o caso do trato digestório, por exemplo.

Funcionalmente, o corpo tem três compartimentos líquidos


1. LIC
2. LEC - plasma
3. LEC - líquido intersticial
Compartimentos intracelulares
- a células são subdivididas em dois compartimentos: citoplasma e núcleo
- cada organela é um compartimento

Homeostase: volume e composição dos compartimentos dos líquidos


corporais
- homeostase: é a manutenção da constância do volume e da composição dos
compartimentos dos líquidos corporais
- as células do corpo mantém seus volumes e composições mediante trocas com o
ambiente líquido que as circundam (líquido extracelular)
- o líquido extracelular também é chamado de “meio interno”

A água representa cerca de 60% do peso corporal


- isso varia de acordo com a quantidade de tecido adiposo do indivíduo → pois o
conteúdo de água do tecido adiposo é menor do que de outros tecidos, e por isso
quanto mais tecido adiposo, menor o percentual de água do peso corporal total
(isso ocorre pois gotas de gordura no tecido adiposo ocupam a maior parte do
volume da célula, substituindo a água)
- mulheres acabam possuindo menor % de água do que homens, porque possuem mais
tecido adiposo
- esse percentual também varia com a idade → recém-nascido esse percentual chega
a 75% e o conteúdo de água diminui a partir dos 60 anos
- a água corporal total é dividida entre dois compartimentos, os quais são divididos
pela membrana celular
- o LEC é subdividido em líquido intersticial e plasma → em algumas patologias,
pode haver acúmulo de líquido no chamado “terceiro espaço” (ex: ascite)

Movimento de água entre os compartimentos dos líquidos corporais


- a água de move entre LEC e LIC através das membranas plasmáticas das células e
se move entre plasma e interstício através dos capilares → as vias e forças motrizes
que levam o movimento de água é diferente nessas duas barreiras

Movimento de água entre LIC e LEC


-
- a água é a única molécula que se move de forma livre entre as células e o líquido
extracelular e, por isso, LIC e LEC alcançam um estado de equilíbrio osmótico (as
concentrações nos líquidos são iguais dos dois lados da membrana plasmática)
- porém, alguns solutos são mais concentrados em um dos compartimentos, e por isso
o corpo se encontra em um estado de desequilíbrio químico
- embora o corpo como um todo seja eletricamente neutro, alguns íons negativos extras
são encontrados no LIC, enquanto que seus íons positivos correspondentes estão
localizados no LEC, o que resulta em um estado de desequilíbrio elétrico
- desse modo, percebe-se que homeostasia não é o mesmo que equilíbrio, uma vez que
LEC e LIC estão em equilíbrio osmótico, mas não químico e elétrico

● Osmose e tonicidade
- um fator importante para a osmose é o número de partículas osmoticamente ativas
em um dado volume, e não o número de moléculas
- nesse sentido, deve-se considerar que algumas moléculas se dissociam em íons
quando se dissolvem na água → assim, o número de partículas nem sempre é o
mesmo que o número de moléculas (ex: uma molécula de glicose dissolvida em
água produz uma partícula, enquanto que um NaCl dissolvido produz duas
partículas/íons)
- a água move-se em osmose em resposta à concentração total de todas as partículas na
solução. Tais partículas podem ser íons, moléculas sem carga ou uma mistura de
ambas

Osmolaridade: número de partículas osmoticamente ativas (íons ou moléculas intactas) por


litro de solução
- soluções isosmóticas: ambas contém o mesmo número de partículas de soluto por
unidade de volume
- solução hiperosmótica: é uma solução de osmolaridade maior que outra, ou seja,
possui mais partículas, é mais concentrada
- solução hiposmótica: é uma solução com menos partículas por unidade de volume do
que outra
- a osmolaridade é uma propriedade de cada solução, isto é, depende unicamente
do número de partículas por litro de solução, não dizendo respeito ao que as
partículas são ou como se comportam → por isso, para saber se a osmose vai
ocorrer entre duas soluções, é preciso saber as propriedades da membrana e dos
solutos de cada lado dela
- se a membrana for permeável apenas à água, e não aos solutos, então a água se
moverá por osmose da solução menos concentrada para a mais concentrada,
porém as membranas biológicas são seletivamente permeáveis, permitindo
também a passagem de alguns solutos → para predizer o movimento da água,
deve-se saber a tonicidade da solução

Osmolalidade: osmois por kg de água

Tonicidade: é o termo fisiológico usado para descrever uma solução e como esta afeta o
volume de uma célula caso esta célula seja colocada nessa solução até o equilíbrio
- solução hipotônica: a célula incha
- solução hipertônica: a célula murcha
- solução isotônica: célula não muda de tamanho
- a tonicidade de uma solução depende da concentração de solutos impermeantes

Diferença entre osmolaridade e tonicidade


- a osmolaridade descreve o número de partículas/volume, tendo unidades. Tonicidade
não tem unidades, é apenas um termo comparativo
- a osmolaridade sozinha não prevê o que acontece com a célula caso ela seja colocada
em uma solução, já a tonicidade sim

Solutos penetrantes: suas partículas podem atravessar a membrana celular


Solutos não penetrantes: partículas não passam pela membrana
- a tonicidade depende apenas da concentração de solutos não penetrantes
- a água sempre se moverá até que as concentrações de solutos não penetrantes na
célula e na solução sejam iguais

Como fazer os cálculos?

● sempre comece definindo as condições de partida: os volumes, os solutos e as


concentrações do corpo e da solução adicionada ou perdida
- assuma que todos os solutos intracelulares são não penetrantes
- inicialmente, LEC e LIC estão em equilíbrio osmótico → a osmolaridade total do
corpo é a mesma do LEC e do LIC
- sabendo o volume do corpo, calcula o volume do LEC (⅓) e do LIC (⅔)
- então, sabendo o volume e a osmolaridade, calcula a quantidade de soluto do LEC e
do LIC

Para saber o efeito da adição de uma solução ou perda de fluido:


- primeiro trabalhe com a coluna total do corpo, adicionando ou subtraindo solutos e
volume. Então calcula a nova osmolaridade do corpo, que se tornará também a
osmolalidade do LEC e do LIC
- depois, distribua os solutos não penetrantes para o compartimento apropriado →
NaCl permanece no LEC; glicose entra nas células
- por fim, sabendo os solutos e a concentração, calcula os novos volumes dos
compartimentos

Movimento de água entre LEC e LIC


- esse movimento, através das membranas celulares, é mediado por aquaporinas
expressas na membrana plasmática → a força motriz desse movimento é a
diferença de pressão osmótica

Movimento de água entre compartimento vascular e compartimento intersticial


- as forças motrizes que promovem a movimentação de água por meio da parede
capilar são as pressões hidrostática e oncótica (pressão osmótica gerada pelas
proteínas) → essas duas pressões são juntas chamadas de forças de Starling
- a pressão hidrostática resulta do bombeamento do coração e do efeito da
gravidade sobre a coluna de sangue nos vasos → a pressão hidrostática tenta fazer
o líquido sair
- pressão oncótica tende a “puxar” o líquido

● importância do sódio
- o Na+ (e seus ânions acompanhantes, como Cl- e HCO3-) possui alta
concentração no LEC quando comparado à outras moléculas e íons → desse
modo, o Na+ é o principal determinante da osmolaridade do LEC
- assim, para estimar aproximadamente a osmolaridade do LEC, pode-se multiplicar a
[Na+] sérica por dois

- Na+ → fica efetivamente restrito ao LEC pela Na+/K+ ATPase

Efeito da adição de solução salina ao líquido extracelular

● se uma solução salina isotônica for adicionada ao LEC, a osmolaridade desse


líquido não vai ser alterada → logo, o principal efeito é o aumento do volume do
LEC
- além disso, o sódio e o cloreto permanecerão no LEC, pois as membranas celulares
se comportam como se fossem impermeáveis ao cloreto de sódio

● se uma solução hipertônica for adicionada ao LEC, a osmolaridade extracelular


vai aumentar → o efeito será a saída da água do LIC para o LEC
- praticamente todo o cloreto de sódio adicionado irá permanecer no LEC e o líquido
sairá das células em direção ao LEC até atingir o equilíbrio osmótico
- efeito resultante: aumento do volume do LEC (maior que o volume de líquido
adicionado), redução do volume intracelular e aumento da osmolaridade em ambos
os compartimentos

● se uma solução hipotônica for adicionada ao LEC, a osmolaridade desse líquido


irá diminuir → parte da água do LEC irá se difundir para dentro das células até
atingir o equilíbrio osmótico
- efeito resultante: o volume de ambos LEC e LIC irá aumentar, mas o volume
intracelular sofre maior aumento

➢ em resumo: em um problema de desidratação celular, a solução IV apropriada é


hipotôncia. Se o problema requer que o líquido permaneça no líquido extracelular
(ex: para repor sangue perdido) usa-se solução IV isotônica

Cálculo das mudanças de líquidos e osmolaridades após infusão de solução salina

1º passo → calcular as condições iniciais de volume, concentração e miliosmóis totais de


cada compartimento
- para isso, admite-se que o volume do LEC é de 20% do peso corporal e o volume
do LIC seja de 40% do peso corporal → assim, calcula-se isso sabendo o peso do
indivíduo
- o enunciado geralmente dá a osmolaridade inicial

2º passo → calcular o total de miliosmóis adicionado ao LEC


- para isso, é preciso saber o peso molecular da substância adicionada, para
encontrar quantos mols da substância foram adicionados → para calcular os
osmóis, é preciso levar em conta quantas partículas osmoticamente ativas essa
substância gera
3º passo → calcular o efeito instantâneo da adição dos osmóis e do volume ao LEC →
calcula a nova concentração do LEC → isso permite saber se o LEC será isotônico,
hipertônico ou hipotônico em relação ao LIC

4º passo → calcular os volumes e as concentrações encontrados alguns minutos após


atingir o equilíbrio osmótico
- com o equilíbrio, a concentração no LIC e no LEC serão iguais → essa
concentração pode ser calculada dividindo-se o total de miliosmóis no organismo
pelo volume total
- assumindo que não ocorra movimento de cloreto de sódio para dentro ou para fora
das células, todos os miliosmóis de cloreto de sódio ficam no LEC
- a partir da concentração e dos miliosmóis, calcula-se o volume do LEC e do LIC

Glicose e outras soluções administradas com propósitos nutritivos


- glicose e outras substâncias nutritivas, quando administradas, têm as concentrações
de suas substâncias osmoticamente ativas em geral ajustadas a valores próximos da
isotonicidade, e sua administração é feita de forma lenta o suficiente a fim de não
perturbar o equilíbrio osmótico dos líquidos corporais
- esses nutrientes são metabolizados pelo organismo, restando então um excesso de
água → os rins excretam esse líquido na forma de urina → portanto, o resultado
final é somente a adição dos nutrientes ao organismo
- para tratar desidratação, geralmente emprega-se uma solução de glicose a 5%, que
é praticamente isosmótica → por ser isosmótica, a solução pode ser infundida por
via intravenosa sem ingurgitar as hemácias, o que ocorreria com a infusão de
água pura
- a glicose da solução é rapidamente transportada para as células e metabolizada →
assim, há redução da osmolaridade do LEC, o que auxilia a corrigir o aumento
dessa osmolaridade causado pela desidratação
- a glicose é um soluto incomum → no primeiro momento, ela vai para o LEC, mas
ao longo do tempo toda ela entra na célula. Ao entrar na célula, a glicose é
fosforilada em glicose-6-fosfato e não pode deixar a célula novamente → assim, a
glicose permanece na célula, aumentando a quantidade de solutos não penetrantes
intracelulares

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