A Liturgia Da Palavra Nas Catequeses Do Papa Francisco
A Liturgia Da Palavra Nas Catequeses Do Papa Francisco
A Liturgia Da Palavra Nas Catequeses Do Papa Francisco
* Pe. Luciano da Costa Massullo é presbítero da Arquidiocese de Porto Alegre/RS. Formado em Teologia
pela PUCRS e Mestre em Liturgia pelo Instituto de Liturgia de Barcelona. Atualmente é professor de
liturgia e sacramentos na Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana em Porto Alegre.
Introdução
O Papa Francisco, no dia 08 de dezembro de 2017, deu início a uma série de catequeses sobre a Celebração
Eucarística. Foram 15 quartas-feiras, dedicadas a reflexão sobre o sentido dos principais ritos da Missa. Em
uma linguagem simples e direta, o Papa nos recordou a importância da missa na vida dos discípulos de
Jesus.
Como o próprio Papa Francisco nos diz, a finalidade desta série de catequeses é fazer que cresçamos no
grande dom, que Deus nos concedeu na Eucaristia. Se a Celebração Eucarística, às vezes, parece um
amontoado de ritos tediosos, certamente, parte desta impressão, se dá pela falta de compreensão do sentido
de cada um dos pequenos ritos que a constituem. É fundamental compreender bem o valor e o significado da
missa, a fim de viver cada vez mais plenamente a nossa relação com Deus.
A proposta apresentada pelo Papa ao longo dessas catequeses é a de responder perguntas simples, como:
Qual o objetivo da proclamação da Palavra de Deus? Qual o sentido das palavras pronunciadas na homilia?
No intuito de contribuir, para a adequada formação litúrgico-pastoral, proponho aqui, uma apresentação das
catequeses do Papa Francisco, no que diz respeito a Liturgia da Palavra.
A Palavra de Deus
Juntamente com a Liturgia Eucarística, constitui o centro da celebração. O documento conciliar Dei Verbum
recorda que a Igreja sempre venerou a Sagrada Escritura da mesma forma como venera o próprio Corpo de
Cristo, sendo que na Liturgia entrega aos fiéis o Pão da Vida, tanto da Mesa da Palavra, como da Mesa da
Eucaristia (CONCILIO VATICANO II: DEI VERBUM, N. 21).
Depois de termos refletido sobre os ritos de introdução, consideremos agora a Liturgia da Palavra, que é
uma parte constitutiva porque nos reunimos precisamente para ouvir aquilo que Deus fez e ainda tenciona
realizar por nós (PAPA FRANCISCO: AUDIÊNCIA GERAL DE 31 DE JANEIRO DE 2018).
Conforme o relato dos Atos dos Apóstolos sobre as primeiras comunidades cristãs, era costume, nas
reuniões, fazer memória das palavras e gestos de Jesus (AT 2, 41s.). Passados dois mil anos, a Igreja
continua reunindo-se para ouvir o Senhor e compreender seus ensinamentos, com a ajuda do Espírito Santo.
Deus continua falando-nos hoje, de modo especial, quando sua Palavra é proclamada na Liturgia. Desta
forma, compreendemos que o anúncio da Palavra de Deus é parte integrante da celebração do Mistério de
Cristo e não deve ser omitida em nenhuma celebração litúrgica (PAPA BENTO XVI: VERBUM DOMINI,
n.52). A Liturgia tem sua fonte na Sagradas Escrituras, dela se alimenta sempre, pois dela tudo adquire, de
modo que a celebração litúrgica encontra seu sentido pleno somente se for iluminada pela Palavra de Deus!
Cada um de nós, quando vai à Missa, tem o direito de receber abundantemente a Palavra de Deus bem lida,
bem proclamada e depois, bem explicada na homilia. É um direito! E quando a Palavra de Deus não é bem
lida, não é pregada com fervor pelo diácono, pelo sacerdote ou pelo bispo não se cumpre um direito dos
fiéis. Nós temos o direito de ouvir a Palavra de Deus. O Senhor fala para todos, Pastores e fiéis. Ele bate à
porta do coração de quantos participam na Missa, cada um na sua condição de vida, idade, situação. O
Senhor consola, chama, suscita rebentos de vida nova e reconciliada. E isto por meio da sua Palavra. A sua
Palavra bate ao coração e muda os corações! (PAPA FRANCISCO: AUDIÊNCIA GERAL DE 14 DE
FEVEREIRO DE 2018).
O documento conciliar Sacrossanctum Concilium ao falar da presença de Cristo na Liturgia, lembra que ele
está presente em sua Palavra, pois quando se leem as Sagradas Escrituras é ele mesmo que fala
(INSTRUÇÃO GERAL DO MISSAL ROMANO, N. 7). Assim, o leitor, o salmista e aquele que proclama o
Evangelho, agem como ministro. Cristo fala por eles. Sua voz, expressão, entonação, olhar e todo o seu ser
estará a serviço da comunicação entre Deus e os seus.
As páginas da Bíblia deixam de ser um escrito, para se tornar Palavra viva, pronunciada por Deus. É Deus
quem, através da pessoa que lê, nos fala e nos interpela, a nós que ouvimos com fé. O Espírito «que falou
por meio dos profetas» (Credo), inspirando os autores sagrados, faz com que «a Palavra de Deus atue
realmente nos corações aquilo que faz ressoar aos ouvidos». (...) Às vezes, talvez, não entendemos bem
porque algumas leituras são um pouco difíceis. Mas Deus fala-nos igualmente de outro modo. [É preciso
estar] em silêncio e ouvir a Palavra de Deus. Não vos esqueçais disto. Na Missa, quando começam as
leituras, ouçamos a Palavra de Deus (PAPA FRANCISCO: AUDIÊNCIA GERAL DE 31 DE JANEIRO DE
2018).
O sentido predominante em toda a Liturgia da Palavra é o do diálogo que se estabelece entre Deus e o seu
povo. Deus fala ao povo pela Palavra proclamada, e o povo, por sua vez, responde a Deus pelo canto e pela
oração. É o diálogo nupcial entre o Esposo (Cristo) e a esposa (Igreja). Um fala, e o outro ouve. Não se trata
de uma conversa de amigos, de conhecidos, ou de uma troca de palavras como tantas que fazemos no dia a
dia, mas sim de um diálogo apaixonado. A assembleia reunida está desejosa de ouvir a Deus e deixar-se
transformar pela sua Palavra. Deus, por sua parte, está disposto a ouvir e acolher nosso desejo de
transformação. Para que o diálogo possa acontecer é necessário atenção e silêncio. Sem silêncio, não há
verdadeira escuta.
Em sua catequese, o Papa Francisco, chama a atenção para um fato muito recorrente em nossas assembleias
litúrgicas: a distração durante a Liturgia da Palavra.
E quantas vezes, enquanto se lê a Palavra de Deus, se comenta: “Olha aquele..., olha aquela... olha o
chapéu que ela tem: é ridículo...”. E começa-se a fazer comentários. Não é verdade? Devem-se fazer
comentários durante a leitura da Palavra de Deus? Não, porque se tu tagarelas com as pessoas não ouves
a Palavra de Deus. Quando se lê a Palavra de Deus na Bíblia — a primeira Leitura, a segunda, o Salmo
responsorial e o Evangelho — devemos ouvir, abrir o coração, pois é o próprio Deus que nos fala, e não
podemos pensar noutras coisas nem falar de outros assuntos (PAPA FRANCISCO, IDEM).
Se perguntássemos aos participantes de uma celebração eucarística, se todos creem na presença de Cristo em
sua Palavra proclamada, seguramente a resposta seria afirmativa. Contudo é fácil perceber que seguidamente
nos esquecemos dessa presença sacramental. Cesário, bispo de Arles no século VI, refletindo sobre a
presença de Jesus na Palavra, exortava sua comunidade:
Eu lhes pergunto, irmãos e irmãs, digam o que, na opinião de vocês, tem mais valor: a Palavra de Deus ou
o Corpo de Cristo? Se quiserem dar a verdadeira resposta, certamente deverão dizer que a Palavra de
Deus não vale menos que o Corpo de Cristo. E, por isso, todo cuidado que tomamos quando nos é dado o
Corpo de Cristo, para que nenhuma parte escape de nossas mãos e caia por terra, tomemos este mesmo
cuidado, para que a Palavra de Deus que nos é entregue, não morra em nosso coração enquanto ficamos
pensando em outras ou falando de outras coisas; pois aquela pessoa que escuta de maneira negligente a
Palavra de Deus, não será menos culpada do que aquela que, por negligência, permitir que caia por terra o
Corpo de Cristo (CESÁRIO DE ARLES, SERMÃO 78,2).
A dinâmica proposta pela celebração litúrgica, constitui em si mesma, a melhor e mais perfeita Leitura
Orante da Palavra de Deus. Nela, a Palavra é proclamada e ouvida, explicada e refletida pela homilia,
transformada em oração nas Preces dos Fiéis (que sempre deveriam estar inspiradas na Palavra proclamada)
e encontram seu sentido mais pleno na Mesa da Eucaristia, que realiza o que antes fora anunciado. Desse
modo, para favorecer este encontro com Deus, o Papa nos recorda dos cuidados necessários para com a
celebração da Liturgia da Palavra:
(...) compreende-se por que são proibidas algumas escolhas subjetivas, como a omissão de leituras ou a sua
substituição com textos não bíblicos. Ouvi dizer que alguém, quando há uma notícia, lê o jornal, porque é a
manchete do dia. Não! A Palavra de Deus é a Palavra de Deus! Depois podemos ler o jornal. Mas ali lê-se
a Palavra de Deus. É o Senhor que nos fala. Substituir aquela Palavra com outras empobrece e
compromete o diálogo entre Deus e o seu povo em oração. Ao contrário, [exige-se] a dignidade do ambão e
o uso do Lecionário, a disponibilidade de bons leitores e salmistas. Mas é preciso procurar bons leitores,
que saibam ler, e não aqueles que leem [deturpando as palavras] e não se entende nada. É assim. Bons
leitores! Devem preparar-se e ensaiar antes da Missa, para ler bem. E isto cria um clima de silêncio
receptivo.
Como garantir o diálogo entre Deus e seu povo quando descuidamos dos sistemas de sons de nossas
igrejas? Quando escolhemos os leitores poucos minutos antes da missa, sem nenhum preparo? Quando
proclamamos os textos de um folheto ou jornalzinho qualquer? Quando improvisamos uma melodia para o
Salmo alguns minutos antes da celebração? Quando trocamos ou omitimos os textos bíblicos? Pois é, parece
que ainda estamos bastante longe do que a Liturgia propõe.
Por outro lado, pensemos no quanto nos deixamos transformar, ou não, pela Palavra de Deus. De nada
serviria uma celebração bonita ao redor da Palavra, com todos os ritos bem executados, se não estivéssemos
dispostos a permitir que essa Palavra transforme nossas vidas, nosso modo de pensar, agir e reagir diante do
mundo em que vivemos e das pessoas que nos cercam. Uma comunidade que se reúne todos os domingos
para ouvir a Palavra de Deus é uma comunidade que, semana após semana, caminha em direção à santidade.
É uma comunidade que vive, cada dia, mais próxima do Reino dos Céus, sem divisões, ciúmes, intrigas,
fofocas e competição. Afinal, tua Palavra é assim, não passa por mim, sem deixar um sinal!
Sem dúvida, não é suficiente escutar com os ouvidos, sem acolher no coração a semente da Palavra divina,
permitindo que ela produza frutos. (...) A ação do Espírito, que torna eficaz a resposta, tem necessidade de
corações que se deixem modelar e cultivar, de modo que quanto é ouvido na Missa passe para a vida de
todos os dias, (...). A Palavra de Deus percorre um caminho dentro de nós. Escutamo-la com os ouvidos e
ela passa para o coração; não permanece nos ouvidos, mas deve chegar ao coração; e do coração às mãos,
às boas obras. Eis o percurso da Palavra de Deus: dos ouvidos ao coração e às mãos. Aprendamos estas
coisas (PAPA FRANCISCO, IDEM).
A PROCLAMAÇÃO DO EVANGELHO
O ponto alto da Liturgia da Palavra é, sem dúvida, a proclamação do Evangelho. É, inclusive, a partir do
Evangelho que são escolhidos os outros textos bíblicos proclamados na Liturgia dominical, de modo
especial, no Tempo Comum, com exceção da Segunda Leitura, que, via de regra, não se conecta com os
demais textos.
Nos tempos fortes da Liturgia, isto é, nos ciclos do Natal e da Páscoa, a escolha do Evangelho se dá a partir
da espiritualidade própria de cada Tempo. Nos domingos do Tempo Comum, ou seja, na celebração da
Páscoa semanal, o texto do Evangelho segue os acontecimentos da vida de Jesus, suas ações e palavras,
conduzidas, cada ano, por um dos evangelistas que possuem uma grande sintonia entre si (sinóticos):
Mateus, Marcos e Lucas.
Do mesmo modo que os mistérios de Cristo iluminam toda a revelação bíblica, assim, na Liturgia da
Palavra, o Evangelho constitui a luz para compreender o sentido dos textos bíblicos que o precedem, tanto
do Antigo como do Novo Testamento (PAPA FRANCISCO: AUDIÊNCIA GERAL DE 07 DE FEVEREIRO
de 2018).
A Primeira Leitura, quase sempre extraída do Antigo Testamento, apresenta uma imagem (figura, contexto,
exemplo) daquilo que no Evangelho, será apresentado por Cristo na perfeição. É, o que na teologia
chamamos de Leitura Tipológica. O Antigo Testamento anuncia de modo imperfeito o que se realiza em
Cristo, no Novo Testamento. O Salmo, por sua vez, é resposta à Primeira Leitura. Portanto a chave de leitura
da Liturgia da Palavra dominical será sempre a proclamação do Evangelho, para a qual deve ser reservada
toda a atenção (INSTRUÇÃO GERAL DO MISSAL ROMANO, N. 60).
A proposta ritual para a proclamação do Evangelho cuidou de cercar de ações e gestos que destacam sua
importância diante dos outros textos proclamados. A Liturgia propõe que o Evangeliário (livro que contém
somente os textos dos evangelhos proclamados) seja conduzido na procissão de entrada e depositado sobre o
altar. Sua proclamação está reservada ao ministro ordenado. Assim como a assembleia e o altar, o
Evangelho é incensado antes da proclamação. Há um anúncio solene precedido por um canto aclamativo. A
escuta é feita de pé e todos traçam o Sinal-da-Cruz sobre si. Ao final, o ministro beija o livro em sinal de
veneração (INTRODUÇÃO AO LECIONÁRIO, N. 17-18).
(...) na Missa não lemos o Evangelho para saber o que aconteceu, mas ouvimos o Evangelho para tomar
consciência do que fez e disse Jesus outrora; e aquela Palavra é viva, a Palavra de Jesus que está no
Evangelho é viva e chega ao meu coração. Por isso, ouvir o Evangelho é muito importante, com o coração
aberto, porque é Palavra viva (PAPA FRANCISCO: IDEM).
Estes sinais querem nos indicar que, toda a atenção deve ser dada à proclamação do Evangelho. Nele, Cristo
se manifesta plenamente é se dá como alimento ao seu povo reunido para escutá-lo. O que vem antes é uma
preparação para a escuta e a compreensão do Evangelho; o que vem depois, a homilia, é desdobramento e
consequência: aderimos ao que foi proclamado pela Profissão de Fé e pedimos a Deus que realize o que foi
anunciado pelas preces da assembleia.
(...)Porque a Boa Notícia, a Palavra de Deus entra pelos ouvidos, vai ao coração e chega às mãos para
fazer boas obras (IDEM).
A HOMILIA
A homilia é um tema importante em nossas assembleias dominicais e, por isso mereceu especial atenção do
Papa em suas catequeses sobre a Celebração Eucarística. Embora não seja um elemento novo, somente no
contexto do Concílio Vaticano II, a homilia voltou a fazer parte integrante da celebração litúrgica
(CONCÍLIO VATICANO II: SACROSANCTUM CONCILIUM, N. 7).
Durante muito séculos, ela esteve completamente separada da celebração, tanto na forma como no conteúdo.
O sermão, como era costume chamar a homilia, estava focado em pregações sobre temas que pouco ou nada
se relacionavam com a Palavra de Deus e, menos ainda, com a vida da assembleia.
O Concílio buscou devolver a homilia à Liturgia, por isso, postulou que essa fosse encarada como parte dela,
inspirada na Palavra proclamada ou nos textos das orações propostas pelo Missal (INSTRUÇÃO GERAL
DO MISSAL ROMANO, N. 65).
Sabemos que o caminho percorrido até agora foi muito importante e grandes progressos foram feitos. As
tentativas de ajudar os pregadores (homiliastas) a prepararem e fazerem uma boa homilia, multiplicam-se
em todos os âmbitos, tanto na formação seminarística como nas inúmeras publicações de roteiros
homiléticos de autores renomados, incluindo biblistas, liturgistas e outros, e também, nas inúmeras
iniciativas das conferências episcopais
O que é a homilia? É «um retomar este diálogo que já está estabelecido entre o Senhor e o seu povo», para
que seja posta em prática na vida. A autêntica exegese do Evangelho é a nossa vida santa! A Palavra do
Senhor termina a sua corrida fazendo-se carne em nós, traduzindo-se em obras, como aconteceu em Maria
e nos Santos. Recordai aquilo que eu disse na última vez, a Palavra do Senhor entra pelos ouvidos, chega
ao coração e vai às mãos, às boas obras. E também a homilia segue a Palavra do Senhor, fazendo inclusive
este percurso para nos ajudar, a fim de que a Palavra do Senhor chegue às mãos, passando pelo coração.
(PAPA FRANCISCO: AUDIÊNCIA GERAL DE 14 DE FEVEREIRO DE 2018).
De um lado está o homiliasta, que a cada domingo deve proferir uma homilia à sua assembleia, sem ser
repetitivo e, ao mesmo tempo, capaz de falar de forma simples para que possa ser entendido por um público
tão diverso. Por outro lado, está a assembleia, sedenta da Palavra de Deus, mas nem sempre disposta a
escutar e, muitas vezes, com alguns preconceitos em relação ao pregador.
Em sua catequese, retomando o que já fora dito na Evangelii Gaudium, o Papa propõe algumas pistas
importantes a respeito da homilia. O pontífice começa recordando que ela é uma resposta à Palavra que foi
proclamada. Por isso, deve estar intensamente relacionada com ela. A homilia, por ser parte da Liturgia, não
pode desconsiderar a Palavra de Deus, esta é sua fonte primeira de inspiração. Depois, é preciso relacionar
essa palavra com a vida da comunidade. A Palavra deve encarnar-se e assumir o rosto daquela assembleia e
trazer luzes à sua vida. É preciso transformar-se em boa-nova, capaz de encher de esperança quem a ouve.
Seria possível fazer isso se o pregador não conhecesse a assembleia que tem diante dele? Penso, recordando
o que disse Francisco que somente o pastor que tem o cheiro das ovelhas, conseguirá ter sua voz
reconhecida por elas.
Quem profere a homilia deve cumprir bem o seu ministério — aquele que prega, sacerdote, diácono ou
bispo — oferecendo um serviço real a todos aqueles que participam na Missa, mas também quantos o
ouvem, devem desempenhar a sua parte. Antes de tudo, prestando a devida atenção, ou seja, assumindo as
justas disposições interiores, sem pretensões subjetivas, consciente de que cada pregador tem qualidades e
limites. Se às vezes há motivos para se entediar, porque a homilia é longa, ou não está centrada, ou é
incompreensível, outras vezes, ao contrário, o obstáculo é o preconceito. E quem pronuncia a homilia deve
estar consciente de que não faz algo próprio, mas prega dando voz a Jesus, prega a Palavra de Jesus. E a
homilia deve ser bem preparada, deve ser breve, breve! (PAPA FRANCISCO: IDEM).
Como o próprio nome indica, homilia é uma conversa amigável, familiar, conversa entre irmãos buscando
juntos a compreensão da Palavra de Deus para encorajar, animar, exortar, corrigir, educar, consolar e para
alegrar o coração.
Homilia é ação sacramental: pelas palavras humanas, de modo ministerial, Deus se faz presente, nos atinge
com sua Palavra e nos transforma. Por isso, na dinâmica da Liturgia da Palavra a homilia continua o diálogo
entre Deus e seu povo. É Teofania (lugar da manifestação de Deus). Consiste, como missão do pregador,
ajudar que a Palavra de Deus possa chegar verdadeiramente ao coração dos fiéis a fim de orientar suas vidas.
Mas é preciso lembrar, que os fiéis são chamados a colaborar com o homiliasta. Primeiro com a atenção
devida, escutando sem prevenções ou preconceitos, sabendo respeitar os limites do pregador que têm diante
de si. Nem todos os bispos, padres e diáconos são iguais. Alguns possuem mais facilidade para a
comunicação que outros, mas todos são chamados ao exercício desse ministério, apesar de suas limitações. É
preciso dizer, também, que a comunidade pode ajudar partilhando com o pregador suas impressões, sem
falsos elogios, mas com caridade e sinceridade.
Num mundo tão apressado como o nosso, não podemos imaginar que as pessoas estão dispostas a ouvir
como outrora. Tudo é muito rápido hoje. As informações são dadas de forma apressada. Não se pode abusar
do tempo. Quando se prepara bem, se pode dizer em pouco tempo o que se quer. Quando não se prepara, se
diz em muito tempo, o que não se quer! Preparar bem, significa estudar, ler e refletir, mas, também rezar.
Talvez uma pergunta a se fazer é: O que o Senhor quer que eu diga?
Por isso, por favor, que a homilia seja curta, mas bem preparada. E como se prepara uma homilia, caros
sacerdotes, diáconos, bispos? Como se prepara? Com a oração, com o estudo da Palavra de Deus e
fazendo uma síntese clara e breve, não deve superar 10 minutos, por favor!
(IDEM).
Terminada a homilia, recomenda-se um tempo de silêncio para que a assembleia possa digerir a Palavra
ouvida e elucidada na homilia.
CONCLUSÃO
O Concílio Vaticano II, através de seus documentos, nos deixa claro que a celebração eucarística é composta
de duas mesas, a da Palavra e a da Eucaristia. Preparar estas mesas e oferecê-las à assembleia é dever da
Igreja, e por isso, responsabilidade dos pastores e das equipes de liturgia. A Liturgia terá sentido na medida
que alimentar a vida e a fé daqueles que dela se aproximam, por isso, é tão importante cuidar ritualidade.
Embora, o modo de celebrarmos a Eucaristia seja o de um banquete festivo, pois a celebramos no contexto
de uma ceia judaica, o motivo ou o fato celebrado continua sendo a entrega de Jesus. A forma da celebração
deve estar em sintonia com o seu conteúdo. Quero dizer com isso, que, por mais festivas que sejam nossas
celebrações, e é bom que sejam assim, a maneira de celebrarmos deve nos conduzir sempre para o encontro
com o Cristo e favorecer o diálogo entre Deus e o humano. Celebrações que chamam mais atenção para o
esteticismo, para o barulho, para as aptidões comunicativas de quem preside, ou, para as apresentações
musicais dos cantores, acaba por distrair a assembleia e prejudicar esse encontro-diálogo. Corre-se o risco de
fazer das celebrações um evento puramente humano e desprovido do sagrado.
Referências bibliográficas
CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada liturgia.
São Paulo: Paulinas, 2011.
CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Dei Verbum Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina.
São Paulo: Paulinas, 2011.
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Liturgia em Mutirão: subsídios para formação.
Brasilia: Edições CNBB, 2007.
PAPA BENTO XVI. Exortação Apostólica Pós-sinodal sobre a Palavra de Deus na Vida e na Missão da
Igreja. São Paulo: Paulinas, 2010.
PAPA FRANCISCO. Audiência Geral: Vaticano, 2017. Disponível
em: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2017.index.html
PAPA FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium sobre o anúncio do Evangelho no mundo
atual – Documentos Pontifícios 17. Brasília: Edições CNBB, 2013.