Apostila História Do Brasil Colônia
Apostila História Do Brasil Colônia
Apostila História Do Brasil Colônia
UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO
Para alguns historiadores do século XIX, a história do Brasil começou com a
descrição do meio geográfico, após os primeiros habitantes vistos e, então, o
Descobrimento pelos portugueses. Outros autores começaram com a história do
Brasil pelo próprio descobrimento como Pedro Alvarez Cabral, Pero Vaz de
Caminha, Vincente Yanez Pinzón, Américo Vespúcio.
Evidentemente que essas visões contêm doses de patriotismo nas
discussões sobre a primazia de navegadores portugueses ou espanhóis. Há uma
terceira visão histórica do Brasil, recusando-se esta última até a dominação romana
na Península ibérica. Esta visão diminui as presenças indígenas e africanas na
formação brasileira.
Atualmente tende para situar o Descobrimento do Brasil no vasto processo
da expansão europeia. Este processo é uma complexa trama de relação que se
estendia por toda a Europa, ocidental e central.
Após a idade média formou-se um novo mundo no qual o Brasil foi
incorporado a partir de 1500. O novo mundo foi resultado de uma gestação
multissecular, na qual tem início a história do Brasil.
Conforme anotações de Cotrim (2008), a conquista da América não foi um
fato instantâneo, nem terminou com os primeiros combates e vitória de portugueses
e espanhóis sobre os povos nativos. Foi um processo lento e contínuo, que durou
vários séculos. Mas as primeiras décadas da chegada europeia foram cruciais.
Grande parcela da população da América foi dizimada num curto período (cerca de
50 anos): algumas estimativas revelam que metade (outras, até dois terços) da
população teria sido exterminada. Por isso, esse episódio é considerado, em seu
conjunto, como um dos mais violentos da história da humanidade.
Sem desmerecer as ponderações de Cotrim, não nos ateremos a toda essa
violência que se traduz no extermínio lento e gradual dos indígenas, pois esse
primeiro período que estudaremos apresenta muitos outros pontos interessantes e
importantes.
Denomina-se Brasil Colônia, o período da história entre a chegada dos
primeiros portugueses, em 1500, e a independência, em 1822, quando o Brasil
estava sob domínio socioeconômico e político de Portugal.
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expansão do século XIII mobilizou também parte dos recursos agrícolas, a nobreza
senhorial também participou. A crise do século XIV e a peste negra atrapalharam a
expansão, acredita-se que essa doença tenha causado a morte de um terço da
população europeia. O ciclo de peste prejudicou o comércio, o povo se deslocou em
razão dos flagelos.
Gênova e Veneza entraram em guerra devido à decadência do ritmo
econômico, o que beneficiou Portugal, pois usou mão-de-obra genovesa nas
navegações pela costa africana.
A guerra dos Cem anos também contribuiu para a instabilidade da expansão
marítima. Houve a regressão feudal com a liberação da mão-de-obra. No século XIII,
chegou-se ao mundo pleno que viria a ser o padrão da modernidade ocidental. Maior
proximidade física entre as pessoas, maior circulação de bens e de ideias. Assim o
mundo pleno foi responsável por sustentar a economia durante a crise de século XV,
o reaquecimento da produção, inclusive de Portugal. Houve nesta época a falta de
numerário que seria revertido a partir de 1520, com a entrada em circulação do ouro
e da prata retirados da América pela Espanha.
A Europa desta época era dividida em comunidades estratificadas em
ordem, a primeira ordem era o clero que tinha como finalidade orientar a vida cristã
da comunidade e preparar-lhe o caminho da salvação eterna, na classificação
sociológica, pode-se falar em alto e baixo clero, os primeiros eram os dignitários das
Igrejas, eram estritamente ligados com a nobreza. O segundo era composto por uma
multidão de padres, freiras e curas de paróquias, em geral provinha do campesinato,
com pouca ou nenhuma instrução.
A nobreza era a segunda ordem, representava a espada, defendia os bons
cristãos contra os hereges e os tiranos. Ela se dividia em nobreza rural e nobreza
cortesã, ou mesmo entre uma nobreza de sangue, de espada, originada dos séculos
anteriores. Ou ainda alta nobreza, composta por príncipes aparentados da família
real, duques, marqueses e condes, a nobreza menor, de viscondes, barões e
castelões. O povo compunha a terceira ordem, representava mais de 90 por cento
da população compostos de burgueses, artesãos e camponeses.
A sociedade aspirava à nobreza, a riqueza servia de trampolim para a
nobreza. A compra de títulos nobiliários, cargos enobrecedores era desejo da
burguesia. A sociedade de ordens dos séculos XVIII, no início do século XIX, tinha
valores individualistas, espírito de pesquisa, a curiosidade pelo desconhecido, a
rebelião contra fórmulas tradicionais, posições hierárquicas e desigual.
A transição para a modernidade passou, também, pela transformação das
estruturas de poder. A relação soberana entre Estados começou a ser
doutrinariamente definida no século XVI, quando por isso mesmo, nasceu o direito
internacional público. A monarquia se centraliza, acontece a abertura de câmaras
municipais, em Portugal surgem os conselhos. Houve pressões e contrapressões do
clero, da nobreza e do povo. O poder real se enfraquece em todos os países com
guerras, crises econômicas e até a mentalidade feudal de alguns monarcas, que
fizeram concessões comprometedoras à centralização.
Nos países absolutistas foram desenvolvidos órgãos públicos, a cobrança de
impostos e a aplicação das leis deram tanto poder, como na França, a este
segmento que alguns autores o consideram, o quarto estado. A cobrança de tributos
reais gerou o tesouro público, o exército permanente ajudou na centralização e a
criação de uma legislação real contribuiu para definir a esfera do poder real. Sempre
houve tensão política entre agentes centralizadores do estado e a reação das forças
locais, tanto na Metrópole como no Brasil.
Em Portugal também existiu a concentração do poder real e neste processo
temos que considerar as duas regiões distintas no Portugal medieval: a do norte,
onde se instalou a dinastia Borgonha, e a do sul arduamente retomada dos
muçulmanos na luta multissecular da reconquista.
As terras do sul foram doadas aos nobres e clérigos quando ocorria a
Reconquista. Ocorreu a emigração de populações do norte, mesclando-se às
comunidades moçárabes, cristãs e judaicas existentes no sul. Criaram-se os
conselhos no norte e um sul reconquistado. O senhorio das regiões eram os
magistrados, muitas vezes era o próprio rei que impunha normas tributárias e
avocava a si a aplicação das leis.
Da mescla heterogênea de instituições de origem romana, germânica,
islâmica, e das próprias circunstâncias na guerra da Reconquista, nasceu o Reino
de Portugal. O rei ou a nobreza não dava regalias para o governo local aplicando a
terra nas primeiras décadas do século XVI, foi intensamente frequentada por
espanhóis e franceses. Sobre presença espanhola, sabemos que antes de Cabral
passaram pela costa brasileira Diego de Lepe e Vincente Pinzón. A presença
francesa foi igualmente precoce.
Sabemos também que Binot de Gonneville aqui esteve, em 1504,
carregando pau-brasil, mas ele relatou presença francesa antes. Na década de 1520
continuaram as incursões francesas, como as de Parmentier Roger, Verrazano e
outros. Devido a habilidade diplomática e dinheiro, práticas na nascente diplomacia
renascentista, o governo português conseguiu eliminar a ameaça estrangeira no
Brasil.
Através das sucessivas descobertas no século XV, os contatos
estabelecidos com diferentes povos se intensificaram. Houve a integração dos
diferentes universos-tempo.
O século XVI costuma ser associado à expansão econômica europeia, ao
estado absolutista, às lutas entre protestantes e católico, às guerras internacionais,
ao renascimento e ao humanismo.
A economia do século XVI foi aparentemente paradoxal, demonstrou enorme
dinamismo. Esse paradoxo era apenas aparente. A economia do capitalismo
comercial era responsável pelas trocas inter-regionais europeias, que ligavam o
mediterrâneo ao mar báltico. A Europa passou a ser eixo de comércio que
intercambiava ouro, prata, marfim, pau-brasil e açúcar. A estrutura da época sofreu
modificações importantes, “outros fatores”, em oposição às “persistências
medievais”. O aumento do investimento foi outro elemento importante de inovação
que deu maior lucro ao comerciante.
A forma de associação surgida no século XVI, e que cresceria de
importância posteriormente, foram as companhias de comércio, que tenderam a
ofuscar os empreendimentos menores muitas vezes individuais ou familiares. A
técnica contábil também foi aprimorada, com a utilização da partida dobrada,
lançamento simultâneo do “deve” de uma conta e no “haver” de outra.
O campo europeu foi menos atingido pelas inovações. A expansão comercial
gerou, entretanto fatos importantes. Aumento da produção de cereais, pois na
AS GRANDES NAVEGAÇÕES
Até o século XV, pouco se sabia a respeito dos oceanos e da geografia da
Terra. As informações que os europeus possuíam eram imprecisas e povoadas de
lendas e histórias religiosas. Tais informações, em sua maioria, foram colhidas pelos
europeus dos gregos, que desde a Antiguidade viajavam pelos mares e contavam
aquilo que haviam visto em histórias fabulosas, cheias de mitos e seres
maravilhosos e monstruosos. Somavam-se às histórias transmitidas pelos gregos,
aquelas que os próprios europeus criaram, nas quais a religiosidade cristã estava
muito presente.
O que se sabia até então era que a Terra estava dividida em três partes
(Europa, Ásia e África), que estavam separadas por mares estreitos e pelos rios
Ganges, Eufrates, Tigre e Nilo, e, por fim, que ela era cercada por um único oceano,
cheio de perigos e habitado por monstros aterrorizantes.
Dessa forma, apesar de o oceano exercer fascínio sobre os europeus, eles
restringiam suas viagens marítimas a regiões que ficavam próximas ao litoral.
Contudo, não era apenas o medo que os europeus tinham do oceano que os
impedia de viajar por ele, havia também o problema de que eles não possuíam
instrumentos de navegação, nem embarcações que lhes dessem maior segurança
para se afastar do litoral.
Apesar do medo que o oceano provocava e das dificuldades técnicas de se
viajar por ele, nos fins do século XV, os europeus conseguiram desvendar seus
mistérios, movidos por questões econômicas, políticas, religiosas, e até mesmo pelo
fascínio que ele despertava. O que permitiu as grandes viagens marítimas, neste
período, foi o desenvolvimento dos instrumentos de navegação, a criação de
embarcações mais resistentes e modernas, os incentivos e investimentos financeiros
e também a disposição dos navegadores para viajar.
Instrumentos como a ampulheta, a balestilha, o astrolábio, a bússola, o
quadrante, entre outros, há muito tempo conhecidos no oriente, foram, nesse
período, bastante divulgados entre os europeus e aperfeiçoados por eles. A criação
da caravela pelos portugueses, foi outro importante fator que possibilitou as viagens
marítimas, pois ela era uma embarcação forte, que permitia enfrentar correntes e
tempestades do alto mar, era veloz e dotada de bom espaço para carregar a
tripulação e a carga.
Uma vez que os navegadores europeus contavam com equipamentos mais
seguros, com financiamentos e com motivações bastante fortes, eles partiram para
as grandes viagens que lhes revelaram um mundo bastante diferente daquele que a
geografia descrevia até então. Uma das principais motivações era chegar até as
Índias, pois corria pela Europa a notícia de que naquela região havia abundância de
ouro, marfim, pimenta e escravos, produtos que eram imensamente valorizados
precisavam ser salvos. Isto pode ser percebido, por exemplo, na Carta de Pero Vaz
de Caminha, na qual ele afirma ao rei português o seguinte: “[...] Porém, o melhor
fruto que dela [da terra descoberta] se pode tirar me parece que será salvar esta
gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar. [...]”
Assim, a partir das viagens iniciadas no século XV, a América passou a fazer
parte dos mapas europeus, bem como o restante dos lugares descobertos por eles,
as rotas marítimas passaram a ser mais seguras e precisas, e os instrumentos de
navegação aperfeiçoaram-se cada vez mais.
Contudo, essa nova tecnologia de navegação e o conhecimento das rotas
não significaram o fim do perigo de se navegar em alto-mar, uma vez que muitos
acidentes, desvios de rota, naufrágios, entre outros, ainda continuaram ocorrendo. O
conhecimento da geografia terrestre e de seus oceanos não significou o
desaparecimento das ideias que desde muito tempo faziam parte do cotidiano
europeu. As fábulas sobre terras povoadas por monstros e criaturas maravilhosas,
sobre a existência de um paraíso na terra, entre outros, permaneceram ainda por
muito tempo na mentalidade dos europeus.
De todo modo, apesar da persistência dos mitos, os europeus
desenvolveram uma tecnologia de navegação bastante eficaz, que, somada a outros
fatores, permitiu que eles partissem para grandes viagens, que lhes revelaram um
mundo novo, diferente daquele que eles conheciam. Permitiu, ainda, a concretização
de muitos dos objetivos políticos, econômicos e religiosos por meio da conquista de
terras que se localizavam fora da Europa.
Podemos concluir que a formação de Portugal estava ligada às lutas de
reconquista da Península Ibérica, tais lutas ocorreram dentro das características do
feudalismo. A dinastia de Avis que foi o auge de D. João no poder, representou a
vitória de um começo do nacionalismo, subiu ao trono para reinar dois séculos 1385-
1580.
O Grupo Mercantil, embora não tivesse força para mudar a sociedade
portuguesa na época de Avis, conseguiu, temporariamente competir com a nobreza
então titulada. Entre os fatores que possibilitaram tal competição, destacam-se: a
situação geográfica de Portugal. A guerra contra os mouros obrigava o governo a
O Governo Geral pode ser definido como primeiro esboço do poder público
no Brasil. O Marquês de Pombal, sabendo da carência de gente para administrar a
colônia, se valeu de brasileiros. O centralismo político já tinha ultrapassado a fase de
experiências para se tornar um projeto mais amplo.
Os primeiros Governadores Gerais foram encarregados de tarefas
administrativas e militares por um prazo de 3 anos.
Bandeirismo
A questão do bandeirismo evidencia as dificuldades das comunidades
afastadas do centro exportador dominante, o nordeste açucareiro. Os paulistas
viram-se compelidos a buscar meios de enriquecimento. Disto resultaram as
bandeiras – empresas móveis, misto de aventureirismo épico, e oportunismo
empresarial.
As bandeiras representaram um importante fator na configuração das
fronteiras, pois dirigiram-se rumo às áreas desabitadas do interior, pelas quais os
espanhóis não haviam se interessado, voltados como estavam para a mineração
andina.
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Os Quilombos
Foi em Alagoas, na serra da Barriga, que se formou Palmares, o quilombo
mais famoso, em fins do século XVI, início do século XVII, por volta de 1600.
Palmares congregou várias aldeias, chegou a agrupar 20.000 pessoas, em
27.000km2, incluindo índios, mulatos e até mulheres brancas (capturadas em
incursões), atraiu também muitos marginalizados. Sua capital, o mocambo dos
macacos, agrupou aproximadamente 5.000 pessoas, incluindo o Rei do Quilombo,
Zumbi dos Palmares.
Nesta época, a busca pela liberdade, a fuga pelas matas impenetráveis, e a
não aceitação da condição servil, caracterizou o primeiro passo para a formação dos
quilombos. Sua estrutura política era de “monarquia despótica” e centralizada de
forma eletiva, visto o perigo da diversidade cultural existente nos quilombos. Seus
reis foram respectivamente, Ganga Zumba e Zumbi.
A formação de quilombos foi uma atitude próspera que muito atraiu os que
não aceitavam o caráter antiprodutivo latifundiário. Devido à diversidade cultural,
quanto à língua, adotaram-se heranças lusitanas, os costumes africanos tiveram a
sua continuidade, naquilo que não influenciaria a administração do quilombo. No
aspecto econômico, Palmares evoluiu da coleta e do ataque à fazenda e aldeias,
para uma economia de base coletivista e não monetária.
A invasão holandesa a Pernambuco (1630-1654) acelerou as fugas de
escravos pelo “afrouxamento geral”, no controle sobre estes. A introdução holandesa
de novas técnicas de tortura (muito desumanas), gerou ainda mais revolta entre os
negros. Os holandeses opuseram-se ao quilombo, mas foram rechaçados
ferozmente por duas vezes, expulsos os holandeses, os portugueses retomaram a
luta anti-Palmares. Os lusitanos viam Palmares não só como “algo fora do comum”,
mas também como um “caso de polícia”, queriam reaver sua propriedade (os
negros), e colocá-los novamente nas lavouras. Os lusos depararam-se com uma
eficaz tática de guerrilha, que, de defensiva, passou a ofensiva. A primeira tentativa
As invasões
Em 1580, com o objetivo de unificar a Península Ibérica, Felipe II, rei da
Espanha, incorpora pacificamente o reino Português, tornando-se o mais poderoso
monarca europeu. Felipe II era um campeão do reacionarismo católico-feudal. Era
apoiado pelo clero português que queria preservar seus privilégios. O seu reinado
era legítimo e perfeitamente dentro dos conceitos. A Europa aceitava, dentro das
teorias políticas feudais, a presença de outros reis, formando (pelo grau de
parentesco), uma “grande família”.
O conceito de “domínio espanhol” é um tanto errado, pois apenas o rei da
Espanha passou a ser o mesmo de Portugal, as nações se mantiveram separadas
havendo apenas um vice-rei em Lisboa.
A principal consequência da união ibérica para o Brasil foi o incentivo à
penetração pelo interior, pois o Tratado de Tordesilhas, que dividia terras entre
passaram pelo Camorim, por Jacarepaguá, pelo Engenho Novo e pelo Engenho
Velho dos Padres da Companhia de Jesus, descansando neste último.
No dia seguinte prosseguiram pela região do Mangue, alcançando a falda do
morro de Santa Teresa (depois rua de Mata-Cavalos, atual rua do Riachuelo), até ao
morro de Santo Antônio, que contornaram até à Lagoa do Boqueirão. Pela rua da
Ajuda (atual Melvin Jones) e de São José, alcançaram o Largo do Carmo (atual
Praça XV de Novembro), onde encontraram a resistência dos habitantes em armas,
tendo se destacado a ação dos estudantes do Colégio dos Jesuítas, liderados por
Bento do Amaral da Silva, que desceram o morro do Castelo.
Nesta escaramuça, afirma-se que os franceses perderam 400 homens.
Duclerc, que os comandava, foi detido em prisão domiciliar à atual rua da Quitanda,
vindo a ser assassinado em condições misteriosas por um grupo de encapuzados,
alguns meses mais tarde, a 18 de março de 1711, alguns autores supondo que por
questões passionais.
A população da cidade festejou entusiasticamente a vitória durante vários
dias. Infelizmente, as autoridades coloniais superestimaram a capacidade do
sistema defensivo da barra, difundindo-se a crença generalizada de que, após
tamanha derrota, corsário algum voltaria tentar forçá-la, o que se mostrou
dramaticamente incorreto.
servil não estimulava ninguém a produzir, o negro mostrou por todos os meios o
quanto aquela situação não lhe servia. Reagiu sempre que, e como pôde, fugindo,
assassinando e rebelando-se.
Ciclo da cana-de-açúcar
Período da história econômica do Brasil em que a cultura açucareira era a
principal atividade produtiva da Colônia, isto é, o açúcar constituía o ciclo, pois é ele
que atraía mais os fatores de produção.
O Brasil havia concentrado o produto conjuntural procurado, acarretando a
um modelo mercantilista mais sofisticado, pois tratava-se da exportação de um
produto industrializado, requerendo com isso maiores aplicações de capitais,
refletindo na importação de escravos e criação de gado, ocupação territorial e
organização político-administrativa.
O açúcar dominou na economia brasileira durante 150 anos. As primeiras
mudas de cana-de-açúcar foram trazidas da ilha da Madeira, em 1502, e em
meados do século XVI, as plantações canavieiras se estendiam por grandes
extensões no litoral brasileiro, concentrando-se, sobretudo, em Pernambuco e na
Bahia. Na metade do século XVII, o Brasil era o maior produtor mundial de açúcar,
mas gradativamente perdeu essa posição para as concorrentes mundiais,
particularmente as Antilhas. Embora nunca tenha desaparecido no Brasil colonial, a
cultura canavieira foi substituída no século XVIII como principal fonte de renda da
Colônia pela atividade mineradora que deu origem ao Ciclo do Ouro.
Em decorrência disso, a economia canavieira moldou no Brasil uma
sociedade que correspondia aos objetivos de sua produção: os engenhos se
localizavam em latifúndios e a mão-de-obra empregada, o escravo negro, se tornaria
a base da economia brasileira até o final do século XIX. Praticamente existia uma
camada social intermediária entre o senhor e o escravo, o que configurava uma
sociedade tipicamente patriarcal.
Condicionamentos Internos:
Terras propícias, em grande quantidade (extensas) clima adequado, matas
próximas (lenha para as fornalhas), água corrente desembocando para o mar,
cursos d'água (para o transporte, energia para os engenhos de água). Canaviais
bastante duráveis.
Mão-de-obra:
Colonos brancos – escassos, pois tinham espírito mercantilista, desapego à
terra, em face dessa dificuldade, o povoamento foi compulsório, através de
degredados ou fugitivos da justiça.
Índios – embora fosse uma solução escravista, não funcionou, porque os
índios não se adaptavam ao trabalho sedentário no engenho ou nas culturas,
resistência do índio à escravidão e à invasão de suas terras, os jesuítas foram
contrários à escravidão dos índios, assim como o poder real proibiu essa prática.
Escravos negros – foi a base da força de trabalho a partir de 1549,
justificando-se porque o negro tinha nível cultural superior ao índio, possuía
conhecimentos de agricultura, mineração e artesanato, habilidoso e resistente. A
escravidão provocou desincentivo ao investimento e à renovação tecnológica,
criação de uma jornada de trabalho sem recompensa, refletindo em certo desprezo
pelo trabalho manual.
Tecnologia:
Rudimentar no desflorestamento e na produção, somente enxada e foice
como instrumento de trabalho básico.
Capital:
Capital de giro, fundamental, pois o açúcar exigia investimentos em
escravos, investimentos de trabalho, construção de máquinas, compras de bois,
compra de lenha, e pagamento de salários a trabalhadores especializados.
Políticas Econômicas:
Fundação das Capitanias Hereditárias, em relação à mão-de-obra e capitais,
isenção de impostos dos engenhos novos. Em face das dificuldades financeiras dos
engenhos, foi proibida a execução dos donos dos engenhos e lavradores até certo
limite ou a de sequestrar escravos e bois em serviço permanente, os cobres e
penhorar as moendas.
Regime Agrário:
Concessão de Sesmarias (concessão a um empresário capitalista com
vistas à monocultura para a exportação) com carência de 388 anos, com obrigação
de pagar o dízimo à Coroa, e no tempo dos donatários o redízimo para estes, com
isto, marginalizando os colonos menos abastados, enfraquecendo o setor agrícola
local.
Regime Fiscal:
Além da intermediação compulsória em Lisboa, no comércio exterior, o
imposto básico era o dízimo, 10% ad-valorem, pagável in natura. Em 1534, foi criada
a pensão paga pelos engenhos aos donatários (que reclamavam também o
redízimo).
Vintena, 5% sobre a quantidade produzida (1631 a 1650). Impostos
excepcionais, subsídio de 300 réis por caixa de açúcar, para a formação da
infantaria, 5% (vintena) para o dote da princesa Catarina, rainha da Inglaterra.
Transportes:
Como Portugal não tinha navios suficientes, os de bandeira estrangeira eram
os mais beneficiados.
Finanças Públicas:
Até a primeira metade do século XVIII, o Brasil não representava fonte de
renda importante.
Empresa Produtora:
O engenho era o conjunto industrial em que se preparava o açúcar, a
unidade completa englobava as terras e seus ocupantes. Os engenhos se fixavam
perto do mar (transporte) da mata (lenha) e dos rios, quando possível.
Reflexos:
Produção de gado, para tração, alimento, matéria-prima para o artesanato.
O ciclo da mineração
Período da história do Brasil Colônia entre o final do século XVII e o final do
século XVIII, em que a extração de ouro e diamantes teve decisiva importância
econômica. Cerca de 213 das lavras se concentravam em Minas Gerais, com o
restante distribuído entre Goiás, Mato Grosso e Bahia.
A exploração do ouro determinou um rápido crescimento da população
brasileira e uma interiorização. A importação de escravos africanos triplicou com
relação aos séculos anteriores. Surgiram cidades ricas em Minas Gerais e se
estreitaram os laços entre várias regiões da colônia. O ouro brasileiro favoreceu o
esplendor da corte de D. João V e as iniciativas econômicas do Marquês de Pombal,
mais fluiu, em uma maior parte, para a Inglaterra, estimulando a Revolução
Condicionamentos Externos:
Moeda universalmente aceita, de procura ilimitada. Os diamantes seria uma
mercadoria a ser vendida.
Condicionamentos Internos:
Dependia de mobilizar fatores de produção.
Recursos naturais:
Encontrados à flor da terra (ouro e diamantes), elasticidade territorial (o ciclo
acaba com o esgotamento do aluvião).
Tecnologia:
Rudimentar, apesar das tentativas de Portugal.
Capital:
Reduzido, pois era uma atividade primária (extensiva).
Mão-de-obra:
Em grande parte escravagista, escravos sob supervisão de feitores,
mineradores individuais.
Tributação:
Basicamente era o quinto (20% sobre a produção), entre outros tipos de
fisco, em 1750, quando o quinto não atingia o mínimo de 100 arrobas, era feita a
derrama (arrecadação compulsória) com isto a produção começou a diminuir.
Inflação:
Um dos resultados mais imediatos e visíveis do afluxo de ouro na região
mineira foi a alta brutal dos preços, sendo o seu auge em 1703.
Lavras e faisqueiras:
A exploração aurífera no Brasil se estruturou em duas modalidades de
extração: as lavras e as faisqueiras.
As lavras eram grandes unidades de extração formadas por importantes
jazidas. Esses estabelecimentos auríferos exigiam, para sua exploração, um grande
número de escravos e um volume de capital razoável.
As faisqueiras eram unidades menores onde a extração do ouro era feita
por garimpeiros que trabalhavam sozinhos ou com um pequeno número de
escravos. Seus componentes usavam técnicas e equipamentos inferiores aos,
geralmente, utilizados nas lavras.
Na Segunda metade do século XVIII, o predomínio de faisqueiras sobre o
número de lavras é explicado pelo declínio das grandes minas e a predominância do
ouro de aluvião, encontrado nas areias e nos cascalhos dos rios e dos riachos.
Havia faisqueiras tão pequenas que eram exploradas por um único
faiscador. E havia casos em que o dono de uma faisqueira enviava um ou alguns
negros de sua propriedade para extrair ouro, em troca de uma porcentagem do
metal encontrado. Isto, teoricamente, possibilitava a alguns negros a compra da
liberdade.
O Nativismo
O século XVIII, além da mineração, também foi marcado pelos diversos
sintomas de descontentamento em relação à política metropolitana, os “movimentos
nativistas”. Não se deve, no entanto, levar este termo ao pé da letra, visto que os
primeiros movimentos visavam corrigir injustiças, exatamente apelando ao poder
absoluto do rei.
A cultura brasileira não foi aquela erudita, das tradições e convicções
ocidentais, era a “cultura espúria”, produzia coisas de valor. As elites prestaram-se
historicamente às exigências coloniais. Porém um país sem matizes nacionais
válidas, que apresentara uma condição submissa na sua política e economia,
também não condicionaria a produção de cultura. A colônia dependia de outras
estruturas econômicas, a elite funcionava como um elo de ligação entre o
colonizador e o colonizado, sua cultura formou-se basicamente a partir dos
princípios religiosos ocidentais.
No século XVI foram as construções de taipa de pilão, no século XVII, o
Barroco com suas voltagens religiosas, manifestou-se através de duas escolas, a
Benedita e a Franciscana. A “missão holandesa” deixou expressivas desenvolturas
culturais: como a pintura e a admiração às belezas e paisagens litorâneas.
O barroco brasileiro
Era um trabalho artístico, executado por gente da terra, mestiços, com
matéria-prima local. A arte sacra era o mercado de trabalho e era sinônimo de
pompa e riqueza. O barroco era o estilo das formas dramáticas, grandiosas e
opulentas, voltadas à decoração. Exprimiu as incertezas de uma época que oscilava
entre velhos e novos valores. Era o marketing da contrarreforma, com toda grandeza
artística extasiando e arrebatando fiéis à Igreja Católica.
Seus artistas eram vistos como meros oficiais mecânicos especializados,
pois no século XVIII, especialmente em Minas Gerais, eram muitos. Eram tarefas
mais livres, frutificando o aumento de artistas como: arquitetos, escultores, pintores e
entalhadores.
Para a metrópole, não interessava uma valorização da arte, pois estas
poderiam minar as bases da dominação colonial.
As rebeliões nativas
A crise do capitalismo comercial e as contradições no interior da Colônia
geraram a crise do colonialismo a partir da segunda metade do século XVIII. Com a
Revolução Industrial, tornou-se ultrapassado o mercantilismo. Portugal, não se
adequando aos novos tempos, procurou separar a crise ampliando a exploração ao
Brasil. Tal atitude estimularia as rebeliões nativistas e as rebeliões de liberação
nacional.
Do século XV ao XVII, o capitalismo comercial serviu para acumular capitais
e ampliar os mercados consumidores, através da política econômica mercantilista
baseada no metalismo, numa balança comercial favorável e na intervenção do
Estado na economia com o propósito de organizá-la. O colonialismo surgiu como a
maneira mais fácil de as potências europeias garantirem uma balança comercial
favorável. O pacto colonial formalizou-as entre colônias e metrópoles em benefício
das últimas.
Na segunda metade do século XVIII, no entanto, o capitalismo comercial já
havia cumprido sua função: abundantes riquezas concentravam-se nos centros
europeus, ao mesmo tempo que se processava a integração econômica dos países
mundiais. Os sinais da superação do capitalismo comercial afloravam.
Maranhão, não tinham recursos para comprar escravos negros. Por isso, o trabalho
indígena era indispensável nos engenhos de açúcar do Rio de Janeiro, que contava,
na época, com aproximadamente dois mil habitantes. Também os índios eram
necessários na Baixada Santista, onde, no início do século XVII, havia cerca de
catorze engenhos.
O envolvimento de Portugal, ao lado da Inglaterra, nas guerras que esse
país promoveu contra outras nações europeias, comprometeu também o Brasil. Foi
o caso da guerra de Sucessão da Espanha (1701- 1713), em que os Ingleses
lutaram contra a união dos reinos da França e Espanha.
Em represália ao apoio dado por Portugal à Inglaterra, os franceses atacam
duas vezes o Rio de Janeiro, principal porto por onde escoava o ouro de Minas
Gerais.
Nessa época, crescia o número de portugueses que deixavam Portugal e
vinham para o Brasil movidos pela possibilidade de se enriquecer com a mineração.
Os recém-chegados tinham de disputar com os mineradores brasileiros, já
estabelecidos, uma mina ou terreno onde pudessem explorar o ouro. Além disso, os
imigrantes, apesar de portugueses, não estavam isentos do pagamento dos pesados
tributos exigidos pela Coroa.
Essas dificuldades tornavam a situação nas minas cada dia mais tensa e
foram o motivo para a eclosão de algumas revoltas, como a guerra dos Emboabas e
a revolta de Filipe dos Santos.
REFERÊNCIAS
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COTRIM, Gilberto. História global: Brasil e geral. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Ed. Cia das Letras, 2007.
GOMES, Laurentino. 1808 – A fuga da Família Real para o Brasil. São Paulo:
Editora Planeta, 2007.
KOSHIBA, Luis; PEREIRA, Denise M. F. História do Brasil. São Paulo: Atual, 1996.
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1991.
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(Vol. 1 - A Economia Açucareira). Recife: Parque Histórico Nacional dos Guararapes,
1981.
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Brasiliense, 1988.
TUFANO, Douglas. A carta de Pero Vaz de Caminha (edição ilustrada). São Paulo:
Moderna, 1999.
REFERÊNCIAS BÁSICAS
COTRIM, Gilberto. História global: Brasil e geral. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Ed. Cia das Letras, 2007.
REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES
PRADO JUNIOR, Caio. Evolução política do Brasil: Colônia e Império. São Paulo:
Brasiliense, 1988.