Tema 1 Emergência Da Filosofia
Tema 1 Emergência Da Filosofia
Tema 1 Emergência Da Filosofia
A ORIGEM DA FILOSOFIA
MITO E RAZÃO
O mito foi a primeira forma de ordenação da “confusão caótica do real”; a sua explicação era
dada com base na intervenção de seres sobrenaturais para justificar a natureza seja ela de ordem
física, social ou divina.
A mitologia recorre a respostas imaginárias, longe de verdadeiras hipóteses científicas,
a verdade não é válida e não tem coerência lógica em muitos casos. Já o pensamento racional,
ao procurar as últimas causas das coisas, obriga o homem a que as suas respostas sejam
rigorosas, coerentes, válidas e bem argumentadas. O mito não é rigoroso nas suas respostas,
enquanto a filosofia é.
O mito é uma fábula, fantasia ou faculdade imaginativa que ajudou a fornecer ao
homem várias ideias sobre os fenómenos do mundo primitivo.
Material de apoio de filosofia, Complexo Escolar Morro do Moco nª 2013, prof. MC Nzau, ano lectivo 2024/2025
despojado do sagrado. Daqui o ser humano atinge o momento em que se subtrai da esfera envolvente
e afectiva do mito e passa a pensar e agir segundo a razão (aparece a Filosofia). O pensamento
mitológico encara a natureza como um ser misterioso, sagrado, sujeita leis sobrenaturais e que só
alguns privilegiados (poetas, sacerdotes) por iluminação sobrenatural eram capazes de desvendar e
dar a conhecer os seus mistérios
Com o aparecimento da filosofia, inicia-se um tipo de conhecimento que visa buscar a
verdade. Enquanto na fase anterior ou mítica havia um conhecimento que visava à ordenação e
significação do mundo, neste buscava-se a essência e a verdade da realidade. Foi, pois, preciso
chegar às ciências experimentais modernas para que ocorresse o segundo salto significativo, o da
Revolução Industrial e o da revolução eletrónica ou Tecnológica dos nossos dias. O pensamento
racional encara a natureza como um conjunto de fenómenos físicos, capazes de serem conhecidos por
todos os seres racionais sem necessidade de recurso a qualquer entidade ou força sobrenatural. O
saber sobre a natureza estava assim ao alcance de todos por serem racionais.
O pensamento racional assenta nos seguintes pressupostos:
-A ideia de que a Natureza opera obedecendo a leis naturais que são necessários e universais.
-A ideia de que as leis necessárias e universais da Natureza podem ser plenamente conhecidas
pelo nosso pensamento, isto é, não são conhecimentos misteriosos e secretos, que precisariam ser
Material de apoio de filosofia, Complexo Escolar Morro do Moco nª 2013, prof. MC Nzau, ano lectivo 2024/2025
revelados por divindades, mas são conhecimentos que o pensamento humano, por sua própria força e
capacidade.
-Os factos sociais (a moral, a cultura, a política, a arte, a ciência, etc) e os problemas socias
não são resultados de seres sobrenaturais, mas fruto da vontade e das acções humanas.
O surgimento da filosofia como ciência pelo menos como certo modo de entender
racionalmente o universo, em toda a história do pensamento humano, é uma conquista específica dos
gregos. Tendo em conta a sua importância levanta - se certa discussão quanto ao modo do seu
surgimento: alguns teóricos dizem que esta forma racional e rigorosa de pensar atribuída aos gregos,
tem suas bases na filosofia oriental. Deste modo, os teóricos dividem-se em duas tendências: uma é
constituída pelos teóricos orientais que atribuem a origem da filosofia grega a uma imitação da
filosofia oriental, no séc. I. A.C., a outra é a tendência ocidental que sustenta que, pelo menos até ao
séc. VI a. C, nenhum outro povo pensou tão racionalmente como o povo da Grécia antiga.
A filosofia oriental é diferente da filosofia ocidental, porque a oriental é tendencialmente
religiosa (embora possa ter princípios racionais) ao passo que a filosofia ocidental é basicamente
3
racional, uma investigação constante das causas últimas de todas as coisas.
A filosofia oriental é todo pensamento filosófico nascente das culturas hinduístas e budistas,
do confucionismo e do taoismo, mais propriamente nos territórios da India e da China.
A filosofia hindu é a originária da Índia; ela nasce da necessidade de dar explicação do real- o
universo- o qual é composto por uma única substância. Esta filosofia é proveniente de uma doutrina
denominada Budismo, que se fundamenta nas quatro verdades que dão, assim, o sentido da vida,
nomeadamente:
-A essência do mundo é o sofrimento;
-A origem do sofrimento é o desejo, o apego às próprias necessidades, às próprias ideias, ao
que se julga ser a vida;
-A libertação do sofrimento é possível mediante o domínio dos desejos, dos apegos, até a
obtenção de sua extinção;
-Esta extinção dos desejos e do sofrimento é o que se chama de Nirvana.
A filosofia chinesa tem as suas bases fundamentadas na vida agrícola. O agricultor é um bom
observador da natureza, das estações do ano, do movimento dos astros, das posições do sol e das
surpresas que este poderá causar às plantações. Nesta filosofia existem duas doutrinas:
Material de apoio de filosofia, Complexo Escolar Morro do Moco nª 2013, prof. MC Nzau, ano lectivo 2024/2025
-O Confucionismo: é uma doutrina criada por Confúcio que se fundamenta na moral, política,
pedagogia e religião; é conhecido como ensinamento dos sábios.
-O Taoismo: é uma corrente filosófica e religiosa originária da China que enfatiza a vida em
harmonia com o Tao que significa caminho, via ou princípio. Também pode ser encontrado em outras
filosofias e religiões chinesas.
A filosofia oriental tem um senão, era mais intuitiva e menos conceptível, comparada com a
filosofia ocidental, e contribuía para uma inclinação virada para o fanatismo.
A filosofia (como ciência) maioritariamente estudada é a ocidental aquela que surge no
'século VI a.C. por intermédio de Tales de Mileto, numa das ilhas da Ásia Menor do império grego, a
jónia, a qual se estende por todo o mundo, de geração em geração.
Frutos de profundas transformações de carácter cultural e social, os homens da época
considerados sábios, sentiram a necessidade de substituir as explicações míticas por outro tipo de
explicação fundamentada de um modo racional.
Nasceu assim, a filosofia como tentativa de racionalizar a interpretação do homem e do
universo, das relações dos homens entre si e destes com a natureza. Se o mito se caracterizava por
oferecer respostas a todos os enigmas fundamentais capazes de inquietar o homem, a filosofia
caracterizou-se pela racionalidade do seu questionamento. 4
As cidades gregas possuíam uma característica que parece ter-se revelado decisivo para a
emergência da Filosofia. Nesta altura surge o primeiro pensamento, que é a verdadeira ruptura com a
concepção mítica do mundo: o problema da natureza. Qual é o princípio (arché) de todas as coisas, de
que são feitas todas elas? Como explicar as mudanças, movimentos e transformações que os seres
naturais revelam?
A filosofia antiga procurou o princípio originário, comum a todas as coisas, que subjaz à sua
enorme diversidade e que explique o devir ou as transformações que a experiência revela. Importa
dizer que a filosofia da Grécia Antiga comporta três períodos fundamentais que mais adianta
falaremos (cosmológico, antropológico e ontológico).
Desta maneira a filosofia torna-se a primeira ciência racional criada pelo homem para
facilitar a compreensão do mundo.
A história da filosofia divide, por isso, a filosofia em: Oriental e Ocidental.
Filosofia contemporânea
Pode definir - se o que é filosofia? Certamente que qualquer objecto ou conceito pode ser
definido. O que é complicado nas definições é conseguir que todos os teóricos e filósofos ou
cientistas façam e sigam a mesma definição, o que constituiria uma falta de espírito crítico e
progresso científico.
Hoje, definir filosofia tornou-se um grande problema filosófico. Isto acontece por várias
razões:
Uma delas é o facto de que em filosofia se estudam diferentes tipos de objectos, o que leva ao
surgimento de várias correntes filosóficas e de várias ciências dentro da filosofia; logo, cada caso
estudado em filosofia é primeiro visto de uma perspectiva geral para depois ser visto em particular; a
outra resulta do facto de todos os filósofos não pensarem da mesma maneira.
Consoante o problema estudado por uma determinada corrente filosófica, assim será o ângulo
de formulação de uma definição de filosofia. Por outro lado, ela pode tornar-se num problema 5
Se a filosofia como ciência surge na Grécia antiga, então a palavra é também de origem grega.
Ela forma-se a partir da junção de dois termos diferentes da língua grega Filos que significa amor e
Sofia que significa sabedoria. Assim, filosofia significa amor à sabedoria, sendo o filósofo o amigo
da sabedoria. O filósofo deve ser aquele que investiga que ama a sabedoria. A invenção da palavra
Filosofia é atribuída ao filósofo e matemático Pitágoras de Samos (571-497 a.C.). Pitágoras teria
afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la
ou amá-la, tornando-se filósofos.
Entre outras definições de filosofia falemos sobre das dos filósofos que se seguem:
Aristóteles (384-322 a.C), que foi o primeiro a fazer pesquisa rigorosa e sistemática em torno
desta disciplina, diz que a filosofia estuda as causas últimas de todas as coisas; Para Platão, a
Material de apoio de filosofia, Complexo Escolar Morro do Moco nª 2013, prof. MC Nzau, ano lectivo 2024/2025
filosofia é o uso do saber em proveito do homem; Cícero (106-43 a.C), define a filosofia como o
estudo das causas humanas e divinas das coisas; Descartes (1596-1650 a.C), afirma que a filosofia
ensina a raciocinar bem; Hegel (1770-1831 a.C), define-a como o saber absoluto; Whitehead (1861-
1947 d.C), entende que o papel da filosofia é o de fornecer uma explicação orgânica do universo.
A definição que mais consensos reúne é a seguinte: A filosofia é a ciência dos porquês, isto é,
é uma reflexão racional sobre as causas últimas dos fenómenos humanos e sociais. A filosofia é um
saber que não contenta com meras explicações superficiais, pois procura sempre as causas mais
profundas da realidade estudada.
Outro elemento que atribui a um saber a categoria de ciência é o seu método. Define-se
método como um conjunto de procedimentos ou processos que permite a uma determinada ciência
descobrir, demonstrar, descrever e verificar a verdade ou conhecimento de um certo fenómeno.
Para a filosofia explicar os fenómenos humanos utiliza o método raciocinativo. Este método
é um conjunto de processos mentais que inclui as seguintes actividades:
1-É reflexivo – parte da auto-análise ou do autoconhecimento do pensamento;
Material de apoio de filosofia, Complexo Escolar Morro do Moco nª 2013, prof. MC Nzau, ano lectivo 2024/2025
Função da Filosofia
A Filosofia é um saber histórico-social que consiste no esforço sincero e na procura
inteligente de como solucionar os problemas de cada época e de cada sociedade. Assim sendo
podemos considerar as seguintes funções da Filosofia:
-Interrogar e investigar, para depois em conjunto com outras áreas do saber, poder resolver os
problemas não resolvidos.
-Fazer análise crítica dos conhecimentos e das práticas humanas a fim de perceber as suas
lacunas e falhas. 7
-A Filosofia procura a verdade pela verdade sem interesses práticos, pois o seu escopo é
libertar o homem dos preconceitos e ideologias sociais, políticos e culturais.
-A Filosofia também tem como objectivos a busca da dignidade humana, pois o homem deve
ser tratado como fim e não como mero um objecto de prazer, da produção ou do lucro.
-A criação de novos conceitos sobre o homem e o mundo, que contribuam para a elevação da
nossa racionalidade, sociabilidade e moralidade etc.
Os problemas filosóficos têm a sua origem numa atitude mental de curiosidade, interesse pelo
saber e procura da verdade.
A atitude filosófica é aquela que não deixa os problemas encerrarem-se numa formulação
limitada e que os conduz tão longe quanto possível. A atitude filosófica decorre do quotidiano e pode
assumir diversidade de aspectos ou caracaterísticas:
A primeira característica da atitude filosófica é negativa, isto é, um dizer não ao senso
comum, aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às ideias da experiência quotidiana, ao que
“todo mundo diz e pensa”, portanto, um não ao estabelecido como certo, verdadeiro e inquestionável.
Material de apoio de filosofia, Complexo Escolar Morro do Moco nª 2013, prof. MC Nzau, ano lectivo 2024/2025
condicionantes do seu agir, da sua profissão que o homem impõe, com vista a alcançar, deste modo, a
verdade sobre a realidade a sua volta. Em suma, em filosofia a negação, interrogação e dúvida
metódica são condições fundamentais para a busca do saber.
Já a atitude natural é aquela que se centra na resolução de problemas práticos, que se guia
pelo senso comum, tendo em vista resolver certas necessidades imediatas ou interesses concretos. É
dogmática, conformista e simplista.
Marx Plank diz que o homem, por mais que seja o progresso do conhecimento científico é
sempre uma criança admirada estando pronto para as novas surpresas.
Para Platão, Aristóteles, Sócrates, a filosofia nasce da admiração como falamos no item sobre
a atitude filosófica.
Para Descartes a filosofia nasce da dúvida. Karl Jaspers afirma que as questões filosóficas
dizem respeito ao ser, que não pode ser objecto das ciências não está estruturada de maneira que as
coisas são.
A filosofia é uma disciplina única que responde questões como: O que é a verdade? Quem é o
9
homem? Qual é o lugar do homem no mundo?
As questões são filosóficas pela forma como são colocadas e pelo seu conteúdo (radicalidade,
historicidade, universalidade, racionalidade e autonomia).
Todo homem, diz Aristóteles, está naturalmente desejoso de saber, isto é, o desejo de saber é
inato; esse desejo já manifesta na criança pelos “porquês” e os “comos” que ela não cessa de
formular; é ele o princípio das ciências, cujo fim primeiro não será fornecer ao homem os meios de
agir sobre a natureza, mas antes, satisfazer sua natural curiosidade.
As questões filosóficas procuram perceber os factos, os conceitos e as acções do ponto de
vista do seu significado, de suas relações ou conexões e das causas de sua existência, isto é, o que
são, como são e porque são?
DIVISÕES DA FILOSOFIA
A filosofia como a “mãe” das ciências, porque todas as outras formas do saber emanaram
dela, desvaneceu-se para dar lugar a especilaidades filosóficas, que sem deixarem de se relacionarem,
são relativamente autónomas. A filosofia é dividida em:
Material de apoio de filosofia, Complexo Escolar Morro do Moco nª 2013, prof. MC Nzau, ano lectivo 2024/2025
dos fenómenos (objectos de estudo) e no método raciocinativo para conhecerem as suas causas e
efeitos: origem e fim, composição e decomposição, sua utilidade social, etc.
O conhecimento científico é aprofundado através de princípios racionais; sem “razão” não se
faz ciência; se a ciência fosse apenas um mero sentimento, então, diríamos mesmo que até os
irracionais podem fazer ciência porque possuem os órgaão dos sentidos, na verdade auxiliares
importantes no processo da formação do conhecimento, mas insuficientes, pois, somente o método da
reflexão, baseado na razão, cria as bases para a experiência científica.
Nas ciências, o uso da atitude filosófica é indispensável, à medida que esta, parte da
ignorância para a procura do conhecimento. Nela se inicia o esforço científico.
A filosofia distingue-se das outras ciências por um tipo de conhecimento geral, racional,
radical, abstracto, como resultado das suas características específicas, ou sinais exclusivos ou ainda
particularidades a um objecto.
Especificidade da Filosofia
A filosofia como amor a sabedoria, isto é, como pesquisa desinteressada, sistematizada surgiu
no séc. VI a.C. nas colónias gregas da Ásia Menor, concretamente em Mileto e nas Cidades-estado da
grande Grécia, quando os primeiros pensadores, na tentativa de superarem os conhecimentos
adquiridos pelos povos do Oriente e não só, começaram a interpretar a natureza no seu aspecto
cosmológico, mediante o uso da razão (logos).
Portanto, o advento da filosofia na Grécia Antiga, marca efectivamente a passagem do
pensamento mítico para o pensamento racional, inaugurando assim, um novo modo de reflexão
concernente à compreensão das causas últimas que explicam a existência do universo e do próprio
homem.
Entre as condições que contribuíram para o surgimento da filosofia grega, podemos destacar
as seguintes:
Viagens marítimas: Por meio dessas os gregos descobriram que não existiam seres
mitológicos e deuses em outras regiões, como propunha a mitologia. Tais regiões eram habitadas por
outros seres humanos. Também puderam descobrir que os mares não eram habitados por monstros e
outros seres.
12
Invenção do calendário: Por meio dessa invenção os gregos puderam calcular o tempo das
estações do ano, determinando quando e como ocorriam as alterações no clima e do dia, percebendo
que o tempo sofria modificações naturalmente e não por forças divinas.
Invenção da moeda: Por meio dessa invenção os gregos determinaram uma forma de realizar
trocas abstractas e não mais troca por outras mercadorias.
Surgimento da vida urbana: Graças a tal surgimento os gregos puderam melhorar suas
condições financeiras, diminuindo o prestígio centralizado em algumas famílias apenas, assim
puderam buscar o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes e técnicas, tais fatos favoreceram o
surgimento da Filosofia.
Invenção da escrita alfabética: Por meio dessa invenção os gregos puderam também ampliar
sua capacidade de generalização, pois diferente de outras formas de escrita, a escrita alfabética é
independente, podendo ser distribuída de forma a exprimir diferentes ideias.
Invenção da política: Por meio dessa invenção foi possível introduzir novos conhecimentos.
A lei tornou-se colectiva, surgiu um espaço público próprio para os discursos e o estímulo para que
todos os gregos pudessem discutir e transmitir suas ideias relacionadas à política.
Os primórdios da filosofia são dominados basicamente pelo estudo da Natureza. Por isso
observa - se o surgimento interligado de vários princípios naturais que geram a filosofia da natureza
e, consequentemente, as ciências da natureza. É a fase em que a investigação filosófica se propõe
compreender e explicar a origem e fim do cosmo organizado e não o caos, os seus elementos, a sua
estrutura, composição e decomposição, os cuidados a ter com o mundo e seus princípios.
A filosofia grega segue uma ordem de investigação baseada em períodos conhecidos como
«períodos de estudo e de evolução da filosofia grega» que enquadra - se em três períodos de uma
intensa investigação.
líquido, garantindo assim a continuidade do ciclo. Nesse eterno movimento, aos poucos novas formas
de vida e evolução iriam se desenvolvendo, originando todas as coisas existentes.
Lançando um olhar crítico, tornam-se evidentes as lacunas neste raciocínio. Por exemplo, o
que dá início a este movimento e o que o mantém? Como um único elemento, a água, poderia se
transformar em outra coisa?
Essas falhas, que aos olhos científicos de hoje são evidentes, eram vistas de outra forma na
época. Vale lembrar que quando as ideias de Tales foram criadas, os pensamentos racional e
filosófico ainda eram bastante povoados por elementos mágicos e mitológicos. Portanto, para um
grego antigo, a ideia de que uma coisa simples como a água pudesse se transformar em outra coisa
não era absurda.
O grande mérito de Tales, na verdade, não foi a sua explicação aquática da realidade: foi o
facto de que, pela primeira vez na história, o homem buscava uma explicação totalmente racional
para o seu mundo, deixando de lado a interferência dos deuses.
Tales pode ser tido também como o pai da filosofia unitarista — que busca a explicação de
todas as coisas a partir de um único princípio (no caso dele, a água) — e que teria seu maior expoente
na figura de Heráclito de Éfeso.
A partir de sua teoria, diversos filósofos pré-socráticos buscaram seus próprios caminhos para 14
explicar a physis. Tales, Anaximandro e Anaxímenes formaram o trio da chamada Escola de Mileto e
ficaram conhecidos como os physiologoi (estudiosos da physis). Era o início da filosofia e do esforço
humano em compreender o espectáculo da existência a partir da racionalidade.
Assim, o que tem geração ou início tem também fim. E a mudança dos seres não pode em si e
por si mesmos se determinar. Logo, a solução encontrada por Anaximandro de um princípio sem
limites, sem fim e sem determinação, era o ápeiron
seres existentes. Por esta razão tudo está sujeito a medida e em todas as coisas o número está
presente.
Os Sofistas
Foram um grupo de filósofos dentre os quais destacam-se Protágoras e Górgias. São
pensadores que dedicaram a sua atenção no estudo da linguagem. Os sofistas se interessavam com a
arte de bem falar e argumentar a fim de convencer o adversário independente de estarmos a verdade
ou a mentira, pois o mais importante para eles era convencer o adversário.
-A linguagem é um elemento importante nas relações socias, pois através dela podemos
apaziguar as pessoas ou causar conflitos. Ela tem o poder de convencer, entristecer, enfurecer,
Material de apoio de filosofia, Complexo Escolar Morro do Moco nª 2013, prof. MC Nzau, ano lectivo 2024/2025
amedrontar, mentir, educar, transmitir conhecimentos, etc. daí a necessidade de prestarmos muita
atenção na sua utilização.
-Tudo é relativo e nada é absoluto. Até a verdade é relativa. Isto quer dizer que tudo varia em
função das circunstâncias, de cada sociedade e do ponto de vista de cada um.
-Pelo facto de tudo ser relativo cada um deve gozar a liberdade de aceitar ou negar uma ideia
sem coação ou imposição, pois cada tem os seus interesses.
-Só sei que nada sei. Esta frase de Sócrates leva-nos a reconhecer a nossa ignorância e
incentiva o homem a uma investigação constante e a procura de verdade. Ao mesmo tempo procura
tornar o sábio humildade e não arrogante ou vaidoso em função do que sabe. Por mais que saibamos
há muito ainda por descobrir.
-O método Socrático do Conhecimento: a ironia e a maiêutica. Sócrates também se
interessou com o método para alcançar a verdade. A ironia é um método interrogativo que consiste
em colocar uma serie de perguntas ao interlocutor a fim de que este prove a solidez do que sabe ou
reconheça a sua ignorância. Através de perguntas descobre-se verdade ou falsidade do que pensamos.
A maiêutica é por sua vez o complemento da ironia pois através do reconhecimento da
ignorância somos levados a reconstruir as nossas ideias e a formular um conhecimento sólido e
verdadeiro. O interlocutor abandona os seus pré-conceitos e a relatividade das opiniões alheias que
Material de apoio de filosofia, Complexo Escolar Morro do Moco nª 2013, prof. MC Nzau, ano lectivo 2024/2025
coordenavam um modo de ver e agir e passa a pensar ou a refletir por si mesmo. A ironia permite a
destruição dos pensamentos falsos e a maiêutica a reconstrução dos pensamentos verdadeiros.
A Política de Platão
Platão na sua concepção defendia um regime chamado Sofocracia: o poder ou governo dos
sábios. Só quando os sábios que conhecem verdadeiramente as necessidades humanas e o
funcionamento do mundo governam uma sociedade é que haverá justiça, bem-estar e fim dos
problemas sociais. Os ignorantes e aqueles que vivem no obscurantismo por não conhecerem a
verdade e a justiça não devem ser governantes.
A Psicologia de Platão
Material de apoio de filosofia, Complexo Escolar Morro do Moco nª 2013, prof. MC Nzau, ano lectivo 2024/2025
Sendo idealista Platão dividiu o homem em duas partes: alma e corpo. A alma sendo do
mundo das ideias é mais importante do que o corpo. Deste modo, Platão despreza o corpo e se dedica
ao estudo da alma. A alma é eterna e imortal.
Segundo ele a alma tem três características: a racionalidade, a sensibilidade e a
concupiscência.
Racionalidade: é através da alma que podemos conhecer as coisas e alcançar a sabedoria.
Sensibilidade: através dela percebemos as sensações e produzimos sentimentos.
Concupiscência: através dela que temos paixões e apetites ou desejos e procuram ser
satisfeitos através do corpo.
Este período tem como principal nome o filósofo Aristóteles de Estagira, discípulo de Platão.
Neste período procurou-se organizar e coordenar todo o saber existente desde os filósofos naturalistas
aos filósofos antropológicos. Passados quase quatro séculos de Filosofia, Aristóteles apresenta, nesse
período, uma verdadeira enciclopédia de todo o saber que foi produzido e acumulado pelos gregos
em todos os ramos do pensamento e da prática considerando essa totalidade de saberes como sendo a 19
Filosofia. Esta, portanto, não é um saber específico sobre algum assunto, mas uma forma de conhecer
todas as coisas, possuindo procedimentos diferentes para cada campo de coisas que conhece.
conclusão ou oferecer dados favoráveis a uma conclusão o que não significa apenas a afirmação de
um determinado ponto de vista, nem uma discussão. Os argumentos são de certa forma uma tentativa
de sustentar determinado ponto de vista com razão de ser, o que demonstra que eles são essenciais na
actividade filosófica.
Os argumentos não devem ser vagos, conter ambiguidades e metáforas. Uma frase ambígua é
aquela que contém mais de uma proposição e pode ser entendida de forma a levar à confusão.
As ideias em filosofia só são compreendidas se forem apresentadas de uma forma clara e
precisa, de modo a evitar que sejam demasiadas vagas. No caso das metáforas, por sua vez, devem
ser bem entendidas, para não criar confusão na sua compreensão.
Para discutir ideias em filosofia temos de concentrar a atenção nos aspectos argumentativos
dos textos e discursos. Para clarificar e facilitar a discussão de argumentos, é costume escrevê-los de
uma forma simples: duas premissas e uma conclusão a chamada forma canónica ou, de uma forma
mais complexa, onde premissas e conclusão se apresentam de forma tão ordenada e evidente.
Ex: Todo o angolano é inteligente-1ª premissa
Hango é um angolano-2ª premissa
Logo, o Hango é inteligente-conclusão.
21
BIBLIOGRAFIA
1- LAU, Rafael Lando, O Rosto da Filosofia: Introdução à Filosofia 11 ͣ Classe, Texto Editores, Lda
2005.
2-ALEMIDA, Aires. TEIXEIRA, Célia. MURCHO, Desidério. MATEUS, Paula. GALVÂO, Pedro,
A Arte de Pensar-Filosofia 10º ano, Vol. 1, Didáctica editora, 7ª Edição, Lisboa, 2012.
3- CHAUI, Marilena, Convite à Filosofia, 5 ͣ Edição, Editora Ática, São Paulo 1995.
4-MANUEL, Joaquim Edgar de J. KAPARACATE, Pacheco. SEGUNDA, Luciano, Filosofia 11ª
Classe do 2º ciclo do ensino Secundário, Editora da Letras, Maianga, Luanda-Angola, 2015.
5- MONDIN, Battista, Introdução à Filosofia, Problemas, Sistemas, Autores, Obras, 16 ͣ Edição, São
Paulo, 2006.
6- MONDIN, Battista, Curso de Filosofia, Volume 1,15 ͣ Edição, São Paulo, 2008