Tema 1 Emergência Da Filosofia

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República de Angola

Governo da Província de Luanda


Administração Municipal do Belas
Direcção Municipal da Educação
Complexo Escolar Morro do Moco Nº 2013

MATERIAL DE APOIO DA DISCIPLINA DE FILOSOFIA


11ª Classe. Salas: 23, 24, 25, 26, 27 e 28

O Professor: Lubanzilanga M.C. Nzau

Ano lectivo 2024/2025


Material de apoio de filosofia, Complexo Escolar Morro do Moco nª 2013, prof. MC Nzau, ano lectivo 2024/2025

TEMA 1 – EMERGÊNCIA DA FILOSOFIA

A ORIGEM DA FILOSOFIA

A história da humanidade produziu vários acontecimentos, enquadrados


periodicamente em duas grandes eras do desenvolvimento humano, a saber: a era primitiva e
a era actual.
Na era primitiva o homem dependia directamente da natureza porque o seu
pensamento ainda não lhe permitia alterar o curso das coisas.
Com o decorrer do tempo e o desenvolvimento do cérebro do homem, várias foram as
tentativas de mudar o rumo dos acontecimentos. O homem pensava, mas o seu pensamento
era considerado mitológico, porque as respostas e hipóteses dadas sobre o mundo tinham a
predominação do mito.
Com as mudanças e leis da evolução, o homem descobriu existir dentro de si uma
forma diferente da mitologia, isto é, no século VI a. C. Esta nova forma de pensamento é o
racional fundamentada na razão que começa na Grécia antiga que gera a filosofia por
intermédio de Tales de Mileto. Assim, estamos em presença de duas formas básicas de
pensamento: O pensamento mitológico, utilizado na era primitiva através da imaginação e o 1
pensamento racional, utilizado na era actual ou pelo mundo moderno, que começa com a
filosofia.
Os dois tipos de pensamento diferem-se como explicam os fenómenos do mundo, na
sua fundamentação, justificação das respostas e hipóteses dadas.

MITO E RAZÃO

O mito foi a primeira forma de ordenação da “confusão caótica do real”; a sua explicação era
dada com base na intervenção de seres sobrenaturais para justificar a natureza seja ela de ordem
física, social ou divina.
A mitologia recorre a respostas imaginárias, longe de verdadeiras hipóteses científicas,
a verdade não é válida e não tem coerência lógica em muitos casos. Já o pensamento racional,
ao procurar as últimas causas das coisas, obriga o homem a que as suas respostas sejam
rigorosas, coerentes, válidas e bem argumentadas. O mito não é rigoroso nas suas respostas,
enquanto a filosofia é.
O mito é uma fábula, fantasia ou faculdade imaginativa que ajudou a fornecer ao
homem várias ideias sobre os fenómenos do mundo primitivo.
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Em todo o percurso mitológico, o mito desempenhou três funções fundamentais:


1- Função religiosa, em que o homem primitivo utilizava o mito para atribuir poderes,
capacidade e vida a vários seres animados e inanimados do Universo, ex: o fenómeno dos trovões
dizia-se ser fruto da fúria dos deuses;
2- Função social, em que o homem se servia do mito para estabelecer um conjunto de tabus,
que naquela altura tiveram certo carácter de norma social, e cujo fim era regular e fazer cumprir
certos costumes e tradições, para um enquadramento social do próprio homem, bem como para a
prevenção e evitar a desarmonia social;
3- Função filosófica, que consistia numa certa atitude de curiosidade para dar uma explicação
dos fenómenos à sua maneira. O mito representa o primeiro esforço do homem para dar respostas as
inquietações da vida, da sociedade e do mundo.
Tanto no nível das explicações e da organização do conhecimento como ao nível dos modelos
de vida e realização pessoal, a existência dos indivíduos estava, antes da civilização clássica,
inteiramente subordinada aos mitos. Porém, o ser humano não ficou inteiramente preso à consciência
mítica a encarar a realidade do universo; à medida que a consciência mítica foi degradando da sua
divindade, o pensamento racional do homem começou a ganhar terreno dando assim a possibilidade
de uma progressiva dessacralização do real. Assim, a natureza torna-se cada vez mais natural, 2

despojado do sagrado. Daqui o ser humano atinge o momento em que se subtrai da esfera envolvente
e afectiva do mito e passa a pensar e agir segundo a razão (aparece a Filosofia). O pensamento
mitológico encara a natureza como um ser misterioso, sagrado, sujeita leis sobrenaturais e que só
alguns privilegiados (poetas, sacerdotes) por iluminação sobrenatural eram capazes de desvendar e
dar a conhecer os seus mistérios
Com o aparecimento da filosofia, inicia-se um tipo de conhecimento que visa buscar a
verdade. Enquanto na fase anterior ou mítica havia um conhecimento que visava à ordenação e
significação do mundo, neste buscava-se a essência e a verdade da realidade. Foi, pois, preciso
chegar às ciências experimentais modernas para que ocorresse o segundo salto significativo, o da
Revolução Industrial e o da revolução eletrónica ou Tecnológica dos nossos dias. O pensamento
racional encara a natureza como um conjunto de fenómenos físicos, capazes de serem conhecidos por
todos os seres racionais sem necessidade de recurso a qualquer entidade ou força sobrenatural. O
saber sobre a natureza estava assim ao alcance de todos por serem racionais.
O pensamento racional assenta nos seguintes pressupostos:
-A ideia de que a Natureza opera obedecendo a leis naturais que são necessários e universais.
-A ideia de que as leis necessárias e universais da Natureza podem ser plenamente conhecidas
pelo nosso pensamento, isto é, não são conhecimentos misteriosos e secretos, que precisariam ser
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revelados por divindades, mas são conhecimentos que o pensamento humano, por sua própria força e
capacidade.
-Os factos sociais (a moral, a cultura, a política, a arte, a ciência, etc) e os problemas socias
não são resultados de seres sobrenaturais, mas fruto da vontade e das acções humanas.

O surgimento da Filosofia como Ciência

O surgimento da filosofia como ciência pelo menos como certo modo de entender
racionalmente o universo, em toda a história do pensamento humano, é uma conquista específica dos
gregos. Tendo em conta a sua importância levanta - se certa discussão quanto ao modo do seu
surgimento: alguns teóricos dizem que esta forma racional e rigorosa de pensar atribuída aos gregos,
tem suas bases na filosofia oriental. Deste modo, os teóricos dividem-se em duas tendências: uma é
constituída pelos teóricos orientais que atribuem a origem da filosofia grega a uma imitação da
filosofia oriental, no séc. I. A.C., a outra é a tendência ocidental que sustenta que, pelo menos até ao
séc. VI a. C, nenhum outro povo pensou tão racionalmente como o povo da Grécia antiga.
A filosofia oriental é diferente da filosofia ocidental, porque a oriental é tendencialmente
religiosa (embora possa ter princípios racionais) ao passo que a filosofia ocidental é basicamente
3
racional, uma investigação constante das causas últimas de todas as coisas.
A filosofia oriental é todo pensamento filosófico nascente das culturas hinduístas e budistas,
do confucionismo e do taoismo, mais propriamente nos territórios da India e da China.
A filosofia hindu é a originária da Índia; ela nasce da necessidade de dar explicação do real- o
universo- o qual é composto por uma única substância. Esta filosofia é proveniente de uma doutrina
denominada Budismo, que se fundamenta nas quatro verdades que dão, assim, o sentido da vida,
nomeadamente:
-A essência do mundo é o sofrimento;
-A origem do sofrimento é o desejo, o apego às próprias necessidades, às próprias ideias, ao
que se julga ser a vida;
-A libertação do sofrimento é possível mediante o domínio dos desejos, dos apegos, até a
obtenção de sua extinção;
-Esta extinção dos desejos e do sofrimento é o que se chama de Nirvana.
A filosofia chinesa tem as suas bases fundamentadas na vida agrícola. O agricultor é um bom
observador da natureza, das estações do ano, do movimento dos astros, das posições do sol e das
surpresas que este poderá causar às plantações. Nesta filosofia existem duas doutrinas:
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-O Confucionismo: é uma doutrina criada por Confúcio que se fundamenta na moral, política,
pedagogia e religião; é conhecido como ensinamento dos sábios.
-O Taoismo: é uma corrente filosófica e religiosa originária da China que enfatiza a vida em
harmonia com o Tao que significa caminho, via ou princípio. Também pode ser encontrado em outras
filosofias e religiões chinesas.
A filosofia oriental tem um senão, era mais intuitiva e menos conceptível, comparada com a
filosofia ocidental, e contribuía para uma inclinação virada para o fanatismo.
A filosofia (como ciência) maioritariamente estudada é a ocidental aquela que surge no
'século VI a.C. por intermédio de Tales de Mileto, numa das ilhas da Ásia Menor do império grego, a
jónia, a qual se estende por todo o mundo, de geração em geração.
Frutos de profundas transformações de carácter cultural e social, os homens da época
considerados sábios, sentiram a necessidade de substituir as explicações míticas por outro tipo de
explicação fundamentada de um modo racional.
Nasceu assim, a filosofia como tentativa de racionalizar a interpretação do homem e do
universo, das relações dos homens entre si e destes com a natureza. Se o mito se caracterizava por
oferecer respostas a todos os enigmas fundamentais capazes de inquietar o homem, a filosofia
caracterizou-se pela racionalidade do seu questionamento. 4

As cidades gregas possuíam uma característica que parece ter-se revelado decisivo para a
emergência da Filosofia. Nesta altura surge o primeiro pensamento, que é a verdadeira ruptura com a
concepção mítica do mundo: o problema da natureza. Qual é o princípio (arché) de todas as coisas, de
que são feitas todas elas? Como explicar as mudanças, movimentos e transformações que os seres
naturais revelam?
A filosofia antiga procurou o princípio originário, comum a todas as coisas, que subjaz à sua
enorme diversidade e que explique o devir ou as transformações que a experiência revela. Importa
dizer que a filosofia da Grécia Antiga comporta três períodos fundamentais que mais adianta
falaremos (cosmológico, antropológico e ontológico).
Desta maneira a filosofia torna-se a primeira ciência racional criada pelo homem para
facilitar a compreensão do mundo.
A história da filosofia divide, por isso, a filosofia em: Oriental e Ocidental.

Filosofia indiana Filosofia grega


Oriental Filosofia chinesa Ocidental Filosofia patrística
Filosofia egípcia Filosofia moderna
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Filosofia contemporânea

O QUE É A FILOSOFIA? AS DIVERSAS MANEIRAS DE DEFINIR A FILOSOFIA

Pode definir - se o que é filosofia? Certamente que qualquer objecto ou conceito pode ser
definido. O que é complicado nas definições é conseguir que todos os teóricos e filósofos ou
cientistas façam e sigam a mesma definição, o que constituiria uma falta de espírito crítico e
progresso científico.
Hoje, definir filosofia tornou-se um grande problema filosófico. Isto acontece por várias
razões:
Uma delas é o facto de que em filosofia se estudam diferentes tipos de objectos, o que leva ao
surgimento de várias correntes filosóficas e de várias ciências dentro da filosofia; logo, cada caso
estudado em filosofia é primeiro visto de uma perspectiva geral para depois ser visto em particular; a
outra resulta do facto de todos os filósofos não pensarem da mesma maneira.
Consoante o problema estudado por uma determinada corrente filosófica, assim será o ângulo
de formulação de uma definição de filosofia. Por outro lado, ela pode tornar-se num problema 5

filosófico, na medida em que está sujeita a um questionamento constante.


As frequentes perguntas sobre o que é a filosofia geram novas respostas, julgadas
insuficientes para corresponder àquilo que dizem ser, e estas respostas voltam a suscitar novas
perguntas, mantendo - se num ciclo vicioso interminável de perguntas e respostas.

Definição Etimológica da Palavra Filosofia.

Se a filosofia como ciência surge na Grécia antiga, então a palavra é também de origem grega.
Ela forma-se a partir da junção de dois termos diferentes da língua grega Filos que significa amor e
Sofia que significa sabedoria. Assim, filosofia significa amor à sabedoria, sendo o filósofo o amigo
da sabedoria. O filósofo deve ser aquele que investiga que ama a sabedoria. A invenção da palavra
Filosofia é atribuída ao filósofo e matemático Pitágoras de Samos (571-497 a.C.). Pitágoras teria
afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la
ou amá-la, tornando-se filósofos.
Entre outras definições de filosofia falemos sobre das dos filósofos que se seguem:
Aristóteles (384-322 a.C), que foi o primeiro a fazer pesquisa rigorosa e sistemática em torno
desta disciplina, diz que a filosofia estuda as causas últimas de todas as coisas; Para Platão, a
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filosofia é o uso do saber em proveito do homem; Cícero (106-43 a.C), define a filosofia como o
estudo das causas humanas e divinas das coisas; Descartes (1596-1650 a.C), afirma que a filosofia
ensina a raciocinar bem; Hegel (1770-1831 a.C), define-a como o saber absoluto; Whitehead (1861-
1947 d.C), entende que o papel da filosofia é o de fornecer uma explicação orgânica do universo.
A definição que mais consensos reúne é a seguinte: A filosofia é a ciência dos porquês, isto é,
é uma reflexão racional sobre as causas últimas dos fenómenos humanos e sociais. A filosofia é um
saber que não contenta com meras explicações superficiais, pois procura sempre as causas mais
profundas da realidade estudada.

OBJECTO, MÉTODO E FUNÇÃO DA FILOSOFIA

Objecto de Estudo da Filosofia


O objecto de estudo de uma ciência é o problema ou assunto de que procura conhecer e
descobrir os seus mistérios. O objecto é aquilo que uma ciência se dedica a investigar.
Para a filosofia não é suficiente constatar ou comprovar dados de factos reunir experiências.
Ela deve ir mais além das experiências, para encontrar a causa ou causas eis o uso da razão. Este é o
carácter que confere cientificidade à Filosofia.
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Em suma, o objecto de estudo da filosofia é o homem no mundo. O homem como ser
racional, social, cultural, artístico, etc. Ao contrário dos demais ramos do saber, a filosofia não se
prende numa única matéria em relação ao homem, pois é mais abrangente. Como afirmou um
filósofo: Nada do que é humano é estranho á filosofia.
O homem constitui-se como objecto de estudo da filosofia, por ser o único ser vivente capaz
de compreender tudo o que estiver ao seu redor, transformar o seu meio para o seu próprio benefício.
É importante realçar que ao longo dos tempos, isto é, desde a a sua origem até a modernidade ela
estudava três elementos: Deus, homem e natureza. Actualmente com o desenvolvimento do saber
científico a Filosofia dedica-se essencialmente ao estudo do homem

Método de Estudo da Filosofia

Outro elemento que atribui a um saber a categoria de ciência é o seu método. Define-se
método como um conjunto de procedimentos ou processos que permite a uma determinada ciência
descobrir, demonstrar, descrever e verificar a verdade ou conhecimento de um certo fenómeno.
Para a filosofia explicar os fenómenos humanos utiliza o método raciocinativo. Este método
é um conjunto de processos mentais que inclui as seguintes actividades:
1-É reflexivo – parte da auto-análise ou do autoconhecimento do pensamento;
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2-É crítico – investiga os fundamentos e as condições necessárias da possibilidade do


conhecimento verdadeiro, da ação ética, da criação artística e da atividade política.
3-É analítico: isto é, separa, dissocia e decompões os conceitos, as informações, os factos e
os paradigmas sociais, políticos, culturais, etc. para melhor compreendê-los.
4-É sintético: reúne, associa, conclui e infere novos conceitos, informações e paradigmas a
partir daquilo que foi analisado.
5-É interpretativo – busca as formas da linguagem e as significações ou os sentidos dos
objetos, dos fatos, das práticas e das instituições, suas origens e transformações.

Função da Filosofia
A Filosofia é um saber histórico-social que consiste no esforço sincero e na procura
inteligente de como solucionar os problemas de cada época e de cada sociedade. Assim sendo
podemos considerar as seguintes funções da Filosofia:
-Interrogar e investigar, para depois em conjunto com outras áreas do saber, poder resolver os
problemas não resolvidos.
-Fazer análise crítica dos conhecimentos e das práticas humanas a fim de perceber as suas
lacunas e falhas. 7

-A Filosofia procura a verdade pela verdade sem interesses práticos, pois o seu escopo é
libertar o homem dos preconceitos e ideologias sociais, políticos e culturais.
-A Filosofia também tem como objectivos a busca da dignidade humana, pois o homem deve
ser tratado como fim e não como mero um objecto de prazer, da produção ou do lucro.
-A criação de novos conceitos sobre o homem e o mundo, que contribuam para a elevação da
nossa racionalidade, sociabilidade e moralidade etc.

ATITUDE FILOSÓFICA VERSUS ATITUDE NATURAL

Os problemas filosóficos têm a sua origem numa atitude mental de curiosidade, interesse pelo
saber e procura da verdade.
A atitude filosófica é aquela que não deixa os problemas encerrarem-se numa formulação
limitada e que os conduz tão longe quanto possível. A atitude filosófica decorre do quotidiano e pode
assumir diversidade de aspectos ou caracaterísticas:
A primeira característica da atitude filosófica é negativa, isto é, um dizer não ao senso
comum, aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às ideias da experiência quotidiana, ao que
“todo mundo diz e pensa”, portanto, um não ao estabelecido como certo, verdadeiro e inquestionável.
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A segunda característica da atitude filosófica é interrogativa, isto é, uma interrogação sobre o


que são as coisas, as ideias, os factos, as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. É
também uma interrogação sobre o porquê disso tudo e de nós, e uma interrogação sobre como tudo
isso é assim e não de outra maneira.
A terceira característica é a dúvida, pois o filósofo duvida da evidencia e do parecer das
coisas, pois nem tudo o que parece é. Dai que as informações, os factos, as acções e os conceitos
devem ser bem analisados antes de serem aceites.
A quarta característca é a insatisfação, pois a filosofia revela-se uma desilusão para quem
quiser encontrar nela respostas imediatas para as suas inquietações. O que o aprendiz encontra na
filsofia são perguntas, problemas i incitaments para que não confie em nenhuma autoridade exterior à
sua razão, para que duvide das aparências e do senso comum. A única receita que os filósofos dão é
que faça da procura do saber um mokdo de vida. Não se satisfaça cm nenhuma conclusão, queira
saber mais e sempre mais.
Platão situou a origem da filosofia no espanto e Aristóteles na admiração. Bertrand Russel
fazia incidir o valor da filosofia numa atitude de incerteza que apelasse à reflexão crítica, à
interrogação constante, para evitar ser homem que caminha pela vida fora acorrentado à preconceitos.
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Mas não só o "espanto", a "admiração" ou a "dúvida”, constituem atitudes filosóficas. A
"angústia" do sentimento de estar perdido no mundo, a consciência de ser "contingente" e "finito", a
experiência de que Karl Jaspers chamou "situações - limites" (a culpa, a incomunicação, o
sofrimento, a morte) estão na raiz do filosofar.
No entanto, o espírito da filosofia é contrário à intolerância, ao dogmatismo, ao conformismo.
Por isso, a atitude filosófica faz desaparecer o "dogmatismo arrogante dos que nunca percorreram a
região da dúvida libertadora", cria a exigência de rigor naqueles que procuram sempre as
considerações mais cómodas, as que mais agradam, ou que estão na moda.
Aquele para quem tudo resulta muito natural, muito fácil de entender, muito óbvio, nunca
poderá ser filósofo. Pois o filósofo caracteriza-se pela constante interrogação, pelo espírito crítico que
não o deixa confiar nas aparências, nas conclusões simplistas ou na mera repetição de afirmações,
pelo “movimento incessante que leva do saber à ignorância, da ignorância ao saber, e, certo repouso
neste movimento”. Por isso, os problemas filosóficos se distinguem dos problemas de outros saberes.
Na filosofia, os problemas, uma vez surgidos, não desaparecem, enquanto na ciência, na política ou
na religião os problemas são ultrapassados palas soluções encontradas.
Por tanto, a filosofia visa à procura da verdade e não a sua posse; a filosofia é por excelência
um saber interrogante, porque permanentemente, formula questões que tendem superar os limites
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condicionantes do seu agir, da sua profissão que o homem impõe, com vista a alcançar, deste modo, a
verdade sobre a realidade a sua volta. Em suma, em filosofia a negação, interrogação e dúvida
metódica são condições fundamentais para a busca do saber.
Já a atitude natural é aquela que se centra na resolução de problemas práticos, que se guia
pelo senso comum, tendo em vista resolver certas necessidades imediatas ou interesses concretos. É
dogmática, conformista e simplista.

NATUREZA DAS QUESTÕES FILOSÓFICAS

Marx Plank diz que o homem, por mais que seja o progresso do conhecimento científico é
sempre uma criança admirada estando pronto para as novas surpresas.
Para Platão, Aristóteles, Sócrates, a filosofia nasce da admiração como falamos no item sobre
a atitude filosófica.
Para Descartes a filosofia nasce da dúvida. Karl Jaspers afirma que as questões filosóficas
dizem respeito ao ser, que não pode ser objecto das ciências não está estruturada de maneira que as
coisas são.
A filosofia é uma disciplina única que responde questões como: O que é a verdade? Quem é o
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homem? Qual é o lugar do homem no mundo?
As questões são filosóficas pela forma como são colocadas e pelo seu conteúdo (radicalidade,
historicidade, universalidade, racionalidade e autonomia).
Todo homem, diz Aristóteles, está naturalmente desejoso de saber, isto é, o desejo de saber é
inato; esse desejo já manifesta na criança pelos “porquês” e os “comos” que ela não cessa de
formular; é ele o princípio das ciências, cujo fim primeiro não será fornecer ao homem os meios de
agir sobre a natureza, mas antes, satisfazer sua natural curiosidade.
As questões filosóficas procuram perceber os factos, os conceitos e as acções do ponto de
vista do seu significado, de suas relações ou conexões e das causas de sua existência, isto é, o que
são, como são e porque são?

DIVISÕES DA FILOSOFIA

A filosofia como a “mãe” das ciências, porque todas as outras formas do saber emanaram
dela, desvaneceu-se para dar lugar a especilaidades filosóficas, que sem deixarem de se relacionarem,
são relativamente autónomas. A filosofia é dividida em:
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1-Lógica: É a parte da Filosofia que estuda as operações da inteligência, equanto sujeitas à


distinção do verdadeiro e do falso;
2-Teoria do Conhecimento/Gonoseologia: É a parte da filosofia que estuda os problemas da
origem, natureza e limites da faculdade de conhecer, ou seja, trata da teoria das condições, da
essência e limites do conhecimento;
3-Ética: É a parte da filsofia cujas reflexões recaem sobre as questões do bem e do mal;
4-Estética: É a parte da filosofia, que trata do estudo da natureza quanto à apreensão do belo
e condições da sua expressão em obras de arte;
5-Metafísica: É a parte da Filosofia que retrata o mundo supra sensível, por métodos
exclusivamente racionais. Subdivide-se em:
a) -Metafísica Geral/Ontologia: que estuda o Ser, suas categorias e relações fundamentais:
substância, acidente, essência-existência, forma-matéria, ser-devir;
b) -Metafísica Especial: que estuda as regiões ou modos do Ser. E compreende:
-Cosmologia: que estuda a concepção do espaço e do tempo; estuda também a natureza da
matéria e da vida;
-Psicologia racional: que tem a ver com o estudo da alma, problema da sua natureza e
destino; 10

-Teologia ou Teodiceia: é a parte da Filosofia que se revê nos pçroblemas da existência e


natureza de Deus, das relações do mundo e do homem com Deus.
6-Antropologia: Tem como objectivo fundamental conhecer a natureza do homem, no
sentido racional.

RELAÇÃO DA FILOSOFIA COM OUTROS SABERES

A pluralidade de ciências que, em conjunto, harmonizam o conhecimento científico torna


indispensável a relação de uma com as outras. O surgimento da filosofia, como ciência primeira
“mãe”, que no decurso do seu progresso foi gerando outras dentro de si, estabelece que, a partir dos
séculos XVII-XVIII, se observa o início acentuado do processo de autonomização de muitas ciências.
Antes, isto é, na Grécia antiga, todo e qualquer saber: Matemática, Física, Música, Geometria, etc.
eram chamadas filosofia.
A relação entre a filosofia e as ciências aclara-se nos elementos que se seguem: o
conhecimento, a verdade, a atitude filosófica, a utilidade das coisas e a determinação dos princípios
que regem certo fenómeno, os objectos de estudo das ciências autónomas já investigados pela
filosofia. Analisando o percurso da filosofia e das ciências se pode verificar que se cruzam no estudo
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dos fenómenos (objectos de estudo) e no método raciocinativo para conhecerem as suas causas e
efeitos: origem e fim, composição e decomposição, sua utilidade social, etc.
O conhecimento científico é aprofundado através de princípios racionais; sem “razão” não se
faz ciência; se a ciência fosse apenas um mero sentimento, então, diríamos mesmo que até os
irracionais podem fazer ciência porque possuem os órgaão dos sentidos, na verdade auxiliares
importantes no processo da formação do conhecimento, mas insuficientes, pois, somente o método da
reflexão, baseado na razão, cria as bases para a experiência científica.
Nas ciências, o uso da atitude filosófica é indispensável, à medida que esta, parte da
ignorância para a procura do conhecimento. Nela se inicia o esforço científico.
A filosofia distingue-se das outras ciências por um tipo de conhecimento geral, racional,
radical, abstracto, como resultado das suas características específicas, ou sinais exclusivos ou ainda
particularidades a um objecto.

Especificidade da Filosofia

Entre a especificidade da filosofia, podemos distinguir as seguintes:


Racionalidade: quer dizerm que a filosofia produz o conhecimento racional, o qual a razão
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alcança a partir dos seus princípios lógicos, diferentes do conhecimento empírico que vem da
experiência dos casos;
Universalidade: quer dizer que procura elaborar uma visão, um conhecimento geral do
homem no mundo, ao contrário das ciências particulares, cujo tipo de conhecimento é direccionado
sobre um fenómeno concreto que só ela estuda;
Radicalidade: quer dizer que a filosofia estuda as últimas causas ou os princípios primeiros
dos factos humanos, enquanto as ciências autónomas estudam as regras dos fenómenos; a filosofia
preocupa-se com as coisas naquilo que as ordena em comum e as ciências procuram aquilo que
ordena cada fenómeno em particular;
Autonomia: Quer dizer, a reflexão filosófica deve ser exercida de modo independente, de
forma crítica, livre, detectar o negativo e apontar o positivo;
Historicidade: quer dizer que qualquer coisa pode ser explicada através da sua origem, ou
seja, através da descoberta da sua origem. Assim, nada pode escapar ao relativismo da história. Ela
refere-se à faculdade dos acontecimentos históricos. Sendo a vida uma realidade histórica, quer os
filósofos quer o seu pensamento, quer as suas obras deverão ser compreendidas e inseridas no seu
tempo e na mentalidade da sua sociedade.
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Condições que Contribuiram para o Surgimento da Filosofia Grega

A filosofia como amor a sabedoria, isto é, como pesquisa desinteressada, sistematizada surgiu
no séc. VI a.C. nas colónias gregas da Ásia Menor, concretamente em Mileto e nas Cidades-estado da
grande Grécia, quando os primeiros pensadores, na tentativa de superarem os conhecimentos
adquiridos pelos povos do Oriente e não só, começaram a interpretar a natureza no seu aspecto
cosmológico, mediante o uso da razão (logos).
Portanto, o advento da filosofia na Grécia Antiga, marca efectivamente a passagem do
pensamento mítico para o pensamento racional, inaugurando assim, um novo modo de reflexão
concernente à compreensão das causas últimas que explicam a existência do universo e do próprio
homem.
Entre as condições que contribuíram para o surgimento da filosofia grega, podemos destacar
as seguintes:
Viagens marítimas: Por meio dessas os gregos descobriram que não existiam seres
mitológicos e deuses em outras regiões, como propunha a mitologia. Tais regiões eram habitadas por
outros seres humanos. Também puderam descobrir que os mares não eram habitados por monstros e
outros seres.
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Invenção do calendário: Por meio dessa invenção os gregos puderam calcular o tempo das
estações do ano, determinando quando e como ocorriam as alterações no clima e do dia, percebendo
que o tempo sofria modificações naturalmente e não por forças divinas.
Invenção da moeda: Por meio dessa invenção os gregos determinaram uma forma de realizar
trocas abstractas e não mais troca por outras mercadorias.
Surgimento da vida urbana: Graças a tal surgimento os gregos puderam melhorar suas
condições financeiras, diminuindo o prestígio centralizado em algumas famílias apenas, assim
puderam buscar o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes e técnicas, tais fatos favoreceram o
surgimento da Filosofia.
Invenção da escrita alfabética: Por meio dessa invenção os gregos puderam também ampliar
sua capacidade de generalização, pois diferente de outras formas de escrita, a escrita alfabética é
independente, podendo ser distribuída de forma a exprimir diferentes ideias.
Invenção da política: Por meio dessa invenção foi possível introduzir novos conhecimentos.
A lei tornou-se colectiva, surgiu um espaço público próprio para os discursos e o estímulo para que
todos os gregos pudessem discutir e transmitir suas ideias relacionadas à política.

A Evolução da Filosofia: A Originalidade dos Gregos


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Os primórdios da filosofia são dominados basicamente pelo estudo da Natureza. Por isso
observa - se o surgimento interligado de vários princípios naturais que geram a filosofia da natureza
e, consequentemente, as ciências da natureza. É a fase em que a investigação filosófica se propõe
compreender e explicar a origem e fim do cosmo organizado e não o caos, os seus elementos, a sua
estrutura, composição e decomposição, os cuidados a ter com o mundo e seus princípios.
A filosofia grega segue uma ordem de investigação baseada em períodos conhecidos como
«períodos de estudo e de evolução da filosofia grega» que enquadra - se em três períodos de uma
intensa investigação.

PERÍODO NATURALISTA (OS PRÉ-SOCRÁTICOS).

No período naturalista os filósofos centravam a sua atenção no estudo da natureza. As


principais ideias deste período são:
-É uma explicação racional e sistemática sobre a origem, ordem e transformação da Natureza,
da qual os seres humanos fazem parte, de modo que, ao explicar a Natureza, a Filosofia também
explica a origem e as mudanças dos seres humanos.
-Afirma que não existe criação do mundo, isto é, nega que o mundo tenha surgido do nada
13
(como é o caso, por exemplo, na religião judaico-cristã, na qual Deus cria o mundo do nada). Por isso
diz: “Nada vem do nada e nada volta ao nada”. Isto significa: a) que o mundo, ou a Natureza, é
eterno; b) que no mundo, ou na Natureza, tudo se transforma em outra coisa sem jamais desaparecer,
embora a forma particular que uma coisa possua desapareça com ela, mas não sua matéria.
-O fundo eterno, perene, imortal e imperecível de onde tudo brota e para onde tudo retorna é
o elemento primordial da Natureza e chama-se physis (em grego, physis vem de um verbo que
significa fazer surgir, fazer brotar, fazer nascer, produzir). A physis é a Natureza eterna e em perene
transformação.
-A natureza opera mudança quantitativa e qualitativa dos seres.

Tales de Mileto (624-546 a.C)


Tales inaugurou na filosofia a corrente dos pensadores “físicos”: filósofos que buscavam
entender e explicar a origem da physis (matéria) — palavra grega traduzida como natureza, mas cujo
significado engloba também a ideia de origem, movimento e transformação de todas as coisas.
Segundo Tales, a origem de todas as coisas estava no elemento água: quando densa,
transformar-se-ia em terra; quando aquecida, viraria vapor que, ao se resfriar, retornaria ao estado
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líquido, garantindo assim a continuidade do ciclo. Nesse eterno movimento, aos poucos novas formas
de vida e evolução iriam se desenvolvendo, originando todas as coisas existentes.
Lançando um olhar crítico, tornam-se evidentes as lacunas neste raciocínio. Por exemplo, o
que dá início a este movimento e o que o mantém? Como um único elemento, a água, poderia se
transformar em outra coisa?
Essas falhas, que aos olhos científicos de hoje são evidentes, eram vistas de outra forma na
época. Vale lembrar que quando as ideias de Tales foram criadas, os pensamentos racional e
filosófico ainda eram bastante povoados por elementos mágicos e mitológicos. Portanto, para um
grego antigo, a ideia de que uma coisa simples como a água pudesse se transformar em outra coisa
não era absurda.
O grande mérito de Tales, na verdade, não foi a sua explicação aquática da realidade: foi o
facto de que, pela primeira vez na história, o homem buscava uma explicação totalmente racional
para o seu mundo, deixando de lado a interferência dos deuses.
Tales pode ser tido também como o pai da filosofia unitarista — que busca a explicação de
todas as coisas a partir de um único princípio (no caso dele, a água) — e que teria seu maior expoente
na figura de Heráclito de Éfeso.
A partir de sua teoria, diversos filósofos pré-socráticos buscaram seus próprios caminhos para 14

explicar a physis. Tales, Anaximandro e Anaxímenes formaram o trio da chamada Escola de Mileto e
ficaram conhecidos como os physiologoi (estudiosos da physis). Era o início da filosofia e do esforço
humano em compreender o espectáculo da existência a partir da racionalidade.

Anaximandro de Mileto (610-547 a. C)


Foi discípulo de Tales. Porém, em suas investigações, não encontrou em nenhum elemento
físico este princípio, mas no que chamou de ÁPEIRON.
Segundo Anaximandro, é a partir da transformação de cada coisa no seu contrário, isto é, da
mudança entre pares de opostos da realidade, que podemos perceber que elas estão imersas em um
turbilhão infinito, ilimitado, indeterminado, mas que determina e limita todos os seres. A este
turbilhão original denominou ápeiron.
Para o nosso filósofo, pares de contrários são, por exemplo, quente-frio e seco-húmido. Isto
quer dizer que em cada coisa somente um de cada par pode existir, não podendo, pois, coexistirem
em um mesmo objeto, o quente e o frio. Por isso percebemos a ordem nesta determinação. Mas se
nenhuma predomina eternamente (pois uma só existe quando a outra não está presente) é porque
devem ser determinadas por algo extrínseco (fora) a elas, algo ilimitado, mas que as limita,
o ápeiron (ilimitado, indefinido, indestrutível, indeterminado).
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Assim, o que tem geração ou início tem também fim. E a mudança dos seres não pode em si e
por si mesmos se determinar. Logo, a solução encontrada por Anaximandro de um princípio sem
limites, sem fim e sem determinação, era o ápeiron

Anaxímenes (546-528 a.C)


Foi discípulo de Anaximandro e discordou do seu mestre, pois acreditava ser o AR o princípio
que originava todas as coisas no universo. Conforme seu pensamento, por um processo de
condensação, o AR se transformava em objetos líquidos e sólidos (pedras, metais, terra, água e etc.).
E por outro processo, a rarefação, o AR se transformava em gases, ventos, oxigênio e fogo.
O filósofo também pensou ser a alma feita de ar, observando que o vivente respira (refrigera o
corpo) enquanto o morto não o faz.

Heráclito (530-470 a.C)


Foi um pensador que se interessou com a mudança e a transformação da natureza. Para este
filosofo tudo flui ou muda. A mudança é a verdadeira essência das coisas. A natureza é um conjunto
de forças opostas tal como o dia e a noite, o quente e o frio, o seco e o húmido, masculino e o
feminino, o bem e o mal, etc. Estes contrários são a realidade das coisas e é através de um que 15

podemos compreender o outro. Pensar o mundo como unidimensional e estático é um absurdo na


visão deste pensador. Este pensamento de Heráclito que defende a mudança e oposição das coisas
recebe o nome de dialéctica.

Parménides (530-460 a.C)


Parménides dedicou a sua atenção na dicotomia ser e não-ser (o nada). Ele defende a ideia de
que o nada ou não-ser não existe. Somente o ser existe e origina todas as coisas. Assim sendo, conclui
que o não-ser (o nada) é inexistente e as coisas existentes originaram-se do ser, isto é, de algo
existente, pois do nada se tira nada e não provém nada. Parménides rebate que as coisas vieram do
nada e considera um absurdo defender ou sustentar esta ideia.

Pitágoras (571-496 a.C)


Pitágoras tem uma concepção matemática da natureza. Na sua visão tudo procede do número
(o uno) através de um processo de união e separação constante. Todas as coisas para existirem
precisam do peso certo e do tamanho certo, isto é, da quantidade certa. Um ser sem medida é
impensável. É através do número que foi possível estabelecer a medida, a ordem e a harmonia dos
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seres existentes. Por esta razão tudo está sujeito a medida e em todas as coisas o número está
presente.

Demócrito (460-360 a.C)


Interessou essencialmente com a constituição da matéria. Defendeu a ideia de que a matéria é
resultado da união de um conjunto de partículas pequenas, finas e indivisíveis chamadas átomos. Os
átomos são dinâmicos, pois estão em constante movimento unindo-se e separando-se. A união é
resultado da atracção dos átomos para o centro e quando esta ocorre originam-se os corpos, ao
contrário quando estes separam-se dirigindo-se para o exterior surge a destruição.
PERÍODO ANTROPOLÓGICO OU SOCRÁTICO

O período antropológico centrou a sua investigação no estudo do homem. Em função das


contradições a que haviam chegado os primeiros filósofos naturalistas Sócrates e os sofistas
defenderam a necessidade de a filosofia virar-se para a compreensão do homem e da sociedade
deixando para lá a preocupação com a natureza.

As principais ideias defendidas são:


-Compreender a natureza do homem em todas as suas dimensões como ser social, político, 16

moral, religioso, etc.


-Aperfeiçoar a natureza moral do homem a fim de torná-lo melhor e útil para sociedade.
-Perceber o valor da linguagem e sua influência nas relações socias e no pensamento do homem.
-Reconhecimento do homem como ser racional, isto é, procurar saber até que ponto o homem
pode produzir um conhecimento verdadeiro.
-Educar o homem para uma convivência democrática e para a cidadania visto que nesta fase a
democracia estava a ganhar corpo na Grécia.

Os Sofistas
Foram um grupo de filósofos dentre os quais destacam-se Protágoras e Górgias. São
pensadores que dedicaram a sua atenção no estudo da linguagem. Os sofistas se interessavam com a
arte de bem falar e argumentar a fim de convencer o adversário independente de estarmos a verdade
ou a mentira, pois o mais importante para eles era convencer o adversário.

As principais ideias dos sofistas:

-A linguagem é um elemento importante nas relações socias, pois através dela podemos
apaziguar as pessoas ou causar conflitos. Ela tem o poder de convencer, entristecer, enfurecer,
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amedrontar, mentir, educar, transmitir conhecimentos, etc. daí a necessidade de prestarmos muita
atenção na sua utilização.
-Tudo é relativo e nada é absoluto. Até a verdade é relativa. Isto quer dizer que tudo varia em
função das circunstâncias, de cada sociedade e do ponto de vista de cada um.
-Pelo facto de tudo ser relativo cada um deve gozar a liberdade de aceitar ou negar uma ideia
sem coação ou imposição, pois cada tem os seus interesses.

Sócrates (469-399 a.C)


Sócrates é considerado o pensador mais sistemático em relação aos demais que abordamos até
aqui. Ele inicia a Filosofia propriamente dita pois começa a levantar questões no campo da ética, do
método ideal para o conhecimento e inaugura aquilo que podemos chamar a atitude filosófica.

Os principais ensinamentos de Sócrates:


Conheça-te a ti próprio. Sócrates propunha que, antes de querer conhecer a Natureza e antes
de querer persuadir os outros, cada um deveria, primeiro e antes de tudo, conhecer-se a si mesmo. A
17
expressão “conhece-te a ti mesmo” que estava gravada no pórtico do templo de Apolo, patrono grego
da sabedoria, tornou-se a divisa de Sócrates. Por fazer do autoconhecimento ou do conhecimento que
os homens têm de si mesmos a condição de todos os outros conhecimentos verdadeiros, é que se diz
que o período socrático é antropológico, isto é, voltado para o conhecimento do homem,
particularmente de seu espírito e de sua capacidade para conhecer a verdade.

-Só sei que nada sei. Esta frase de Sócrates leva-nos a reconhecer a nossa ignorância e
incentiva o homem a uma investigação constante e a procura de verdade. Ao mesmo tempo procura
tornar o sábio humildade e não arrogante ou vaidoso em função do que sabe. Por mais que saibamos
há muito ainda por descobrir.
-O método Socrático do Conhecimento: a ironia e a maiêutica. Sócrates também se
interessou com o método para alcançar a verdade. A ironia é um método interrogativo que consiste
em colocar uma serie de perguntas ao interlocutor a fim de que este prove a solidez do que sabe ou
reconheça a sua ignorância. Através de perguntas descobre-se verdade ou falsidade do que pensamos.
A maiêutica é por sua vez o complemento da ironia pois através do reconhecimento da
ignorância somos levados a reconstruir as nossas ideias e a formular um conhecimento sólido e
verdadeiro. O interlocutor abandona os seus pré-conceitos e a relatividade das opiniões alheias que
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coordenavam um modo de ver e agir e passa a pensar ou a refletir por si mesmo. A ironia permite a
destruição dos pensamentos falsos e a maiêutica a reconstrução dos pensamentos verdadeiros.

Platão (429-347 a.C)


Platão foi discípulo de Sócrates e tal como o seu mestre interessou-se com o conhecimento
verdadeiro das coisas. Platão distinguiu duas formas de conhecimento: sensível que nos vem dos
sentidos e intelectual que nos vem do pensamento. Segundo ele o conhecimento intelectual está
acima do primeiro.

A Teoria das ideias


Platão era idealista. Idealista é aquele que defende que as ideias são mais importantes que a
matéria, pois é através das ideias que a matéria existe. Ao contrário do materialismo que defende que
a matéria é mais importante do que as ideias e estas só existem em função da matéria.
Assim sendo, na sua teoria das ideias Platão divide a realidade em dois mundos: o mundo das
ideias e o mundo material. O mundo das ideias é superior ao material. Nesse mundo é que
encontramos os seres perfeitos; a verdade, a justiça e a beleza, mas nele só conseguimos entrar 18

mediante um esforço racional.


O mundo material ou sensível é um mundo de seres imperfeitos e incompletos, que estão
sempre se transformando, como se fossem cópias defeituosas que procuram imitar sua forma ideal,
perfeita e universal.
Um aspecto fundamental do pensamento platónico é sua teoria das ideias, através da qual
Platão procura explicar como se desenvolve o conhecimento humano. Segundo ele, o processo do
conhecimento se desenvolve por meio da passagem progressiva do mundo das ilusões e das
aparências para o mundo das ideias e das essências.

A Política de Platão
Platão na sua concepção defendia um regime chamado Sofocracia: o poder ou governo dos
sábios. Só quando os sábios que conhecem verdadeiramente as necessidades humanas e o
funcionamento do mundo governam uma sociedade é que haverá justiça, bem-estar e fim dos
problemas sociais. Os ignorantes e aqueles que vivem no obscurantismo por não conhecerem a
verdade e a justiça não devem ser governantes.

A Psicologia de Platão
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Sendo idealista Platão dividiu o homem em duas partes: alma e corpo. A alma sendo do
mundo das ideias é mais importante do que o corpo. Deste modo, Platão despreza o corpo e se dedica
ao estudo da alma. A alma é eterna e imortal.
Segundo ele a alma tem três características: a racionalidade, a sensibilidade e a
concupiscência.
Racionalidade: é através da alma que podemos conhecer as coisas e alcançar a sabedoria.
Sensibilidade: através dela percebemos as sensações e produzimos sentimentos.
Concupiscência: através dela que temos paixões e apetites ou desejos e procuram ser
satisfeitos através do corpo.

O PERÍODO SISTEMÁTICO (ARISTÓTELES)

Este período tem como principal nome o filósofo Aristóteles de Estagira, discípulo de Platão.
Neste período procurou-se organizar e coordenar todo o saber existente desde os filósofos naturalistas
aos filósofos antropológicos. Passados quase quatro séculos de Filosofia, Aristóteles apresenta, nesse
período, uma verdadeira enciclopédia de todo o saber que foi produzido e acumulado pelos gregos
em todos os ramos do pensamento e da prática considerando essa totalidade de saberes como sendo a 19

Filosofia. Esta, portanto, não é um saber específico sobre algum assunto, mas uma forma de conhecer
todas as coisas, possuindo procedimentos diferentes para cada campo de coisas que conhece.

Este período consistiu no seguinte:


-Divisão da filosofia em duas partes: a filosofia natural e a filosofia social
-Direcionou cada um dos ramos para o seu objecto de estudo: a filosofia natural que tinha
como objecto de estudo a natureza e a filosofia social que tinha como objecto de estudo o homem e a
sociedade.
-A criação de métodos que permitissem a cada ramo do saber o estatuto científico.
A lógica de Aristóteles
Aristóteles entendeu que todo saber que adquirisse o estatuto de ciência devia pautar-se na
lógica. Ele é fundador da lógica. Aristóteles afirma que, antes de um conhecimento constituir seu
objeto e seu campo próprios, seus procedimentos próprios de aquisição e exposição, de demonstração
e de prova, deve, primeiro, conhecer as leis gerais que governam o pensamento, independentemente
do conteúdo que possa vir a ter. a lógica é o instrumento do conhecimento em qualquer campo do
saber. Ela garante a validade, a verdade e a coerência das ideias e do pensamento. Evita que o
conhecimento seja contraditório.
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A Ética e Política de Aristóteles


Aristóteles considerou como fim último da vida humana a felicidade. Todo o homem aspira a
felicidade e esta, por sua vez, está ligada ao bem, à justiça e a verdade. Para alcançar este anseio de
ser feliz a ética e a política são indispensáveis.
A ética deve promover a felicidade individual levando os indivíduos a desenvolver na sua
alma as virtudes tais como a coragem, a justiça, a sabedoria, a bondade, a honestidade, etc.
A política deve promover o bem-estar económico, social, cultural, etc. dentro do estado. O
homem é um animal político, pois nasceu para viver com os outros e precisa dos outros, portanto, a
política deve promover este bem-estar colectivo.
Aristóteles entende que a Ética e a Política são inseparáveis pois devem caminhar juntas. Um
governante, por exemplo deve possuir as virtudes éticas tal como os cidadãos governados. O estado
deve apoiar-se nas virtudes éticas para garantir a felicidade completa dos homens.

DIMENSÃO DIRCURSIVA DA TRABALHO FILOSÓFICO: A FILOSOFIA E A


ARGUMENTAÇÃO 20

Na filosofia ao contrário da matemática, não dispomos de métodos formais de prova. E


porque a filosofia não se ocupa de problemas empíricos, não podemos também recorrer a métodos
empíricos para testar as nossas respostas aos problemas filosóficos. Por estes motivos, se dá uma
grande atenção a um conjunto de instrumentos lógicos ou linguísticos, que nos permitem discutir
avaliar com rigor os problemas, teorias e argumentos da filosofia. A esses instrumentos dá-se o nome
de dimensão discursiva do trabalho filosófico.
O trabalho filosófico só é discursivo por se apoiar em juízos e raciocínios. Entende-se por
juízo o acto de pensamento susceptível de ser verdadeiro ou falso. Todo o juízo envolve uma
assercão (afirmativa ou negativa). A expressão verbal do juízo chama-se proposição. Raciocinar é
julgar com razão, ou seja, é uma reflexão que nos leva a chegar a uma conclusão.
Pensar filosoficamente é construir enunciados, argumentos, definir conceitos e relacionar
juízos usando a linguagem. Neste sentido, a actividade filosófica faz-se por intermédio da linguagem.
Para a filosofia, em que os problemas são, em grande medida, conceptuais, as suas respostas
implicam sempre a argumentação, que são discursos claros e rigorosos.
O argumento não significa apenas expor as ideias, para que tenhamos razão sobre
determinado assunto. Argumentar, quer dizer oferecer um conjunto de razões a favor de uma
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conclusão ou oferecer dados favoráveis a uma conclusão o que não significa apenas a afirmação de
um determinado ponto de vista, nem uma discussão. Os argumentos são de certa forma uma tentativa
de sustentar determinado ponto de vista com razão de ser, o que demonstra que eles são essenciais na
actividade filosófica.
Os argumentos não devem ser vagos, conter ambiguidades e metáforas. Uma frase ambígua é
aquela que contém mais de uma proposição e pode ser entendida de forma a levar à confusão.
As ideias em filosofia só são compreendidas se forem apresentadas de uma forma clara e
precisa, de modo a evitar que sejam demasiadas vagas. No caso das metáforas, por sua vez, devem
ser bem entendidas, para não criar confusão na sua compreensão.
Para discutir ideias em filosofia temos de concentrar a atenção nos aspectos argumentativos
dos textos e discursos. Para clarificar e facilitar a discussão de argumentos, é costume escrevê-los de
uma forma simples: duas premissas e uma conclusão a chamada forma canónica ou, de uma forma
mais complexa, onde premissas e conclusão se apresentam de forma tão ordenada e evidente.
Ex: Todo o angolano é inteligente-1ª premissa
Hango é um angolano-2ª premissa
Logo, o Hango é inteligente-conclusão.
21

BIBLIOGRAFIA

1- LAU, Rafael Lando, O Rosto da Filosofia: Introdução à Filosofia 11 ͣ Classe, Texto Editores, Lda
2005.
2-ALEMIDA, Aires. TEIXEIRA, Célia. MURCHO, Desidério. MATEUS, Paula. GALVÂO, Pedro,
A Arte de Pensar-Filosofia 10º ano, Vol. 1, Didáctica editora, 7ª Edição, Lisboa, 2012.
3- CHAUI, Marilena, Convite à Filosofia, 5 ͣ Edição, Editora Ática, São Paulo 1995.
4-MANUEL, Joaquim Edgar de J. KAPARACATE, Pacheco. SEGUNDA, Luciano, Filosofia 11ª
Classe do 2º ciclo do ensino Secundário, Editora da Letras, Maianga, Luanda-Angola, 2015.
5- MONDIN, Battista, Introdução à Filosofia, Problemas, Sistemas, Autores, Obras, 16 ͣ Edição, São
Paulo, 2006.
6- MONDIN, Battista, Curso de Filosofia, Volume 1,15 ͣ Edição, São Paulo, 2008

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