Cartilha Mariazinha 1
Cartilha Mariazinha 1
Cartilha Mariazinha 1
realizada com uma metodologia própria, criada a partir dos encontros e das visitas às comunidades,
somada à experiência do mapeamento cartográfico participativo socioambiental.
A autoria deste trabalho deve ser atribuída principalmente aos comunitários da Vila de Mariazinha,
jovens e adultos, que, estiveram presentes e voluntariamente prestaram seus depoimentos, com o
objetivo de levantar informações para construir coletivamente a Cartilha Prazer em Conhecer.
“Antigamente, quando não havia escola, todos ensinavam, aprendiam, trabalhavam e se amavam,
enfim, uma comunidade de aprendizagem livre, honesta, ética e, acima de tudo, cidadã.”
Essa foi a maneira escolhida para garantir a transmissão de conhecimentos que se fundam na orali-
dade e valorizam e difundem as riquezas do patrimônio material, cultural e imaginário dos povos tra-
dicionais da floresta, para as Escolas, para os movimentos sociais e ambientais e para quem, de um
modo em geral, se preocupa com os povos da floresta.
Uma construção coletiva, que tem como protagonistas os povos tradicionais da Gleba Nova Olinda, no
extremo do município de Santarém, mais especificamente a comunidade de Mariazinha no alto do Rio
Maró. Um povo dotado de uma cultura espontânea e peculiar, onde homens, mulheres, crianças foram
convidados a participar, respeitando o preceito que todos são professores e alunos o tempo todo.
Os dados gerais e sócios econômicos foram inseridos para enriquecer o conhecimento e fornecer
indicadores quantitativos para futuros diagnósticos.Enfim, mais um instrumento que luta pela
floresta em pé e que acredita que “debaixo da floresta da gente tem gente.”
“O mundo não é, o mundo está sendo”.
(Paulo Freire)
Respaldar as Unidades Territoriais ocupadas por comunida- As primeiras publicações foram da Reserva Extrativista Ta-
des tradicionais é um dos principais objetivos das atividades pajós-Arapiuns. Em um novo ciclo do trabalho, as publica-
do Projeto Saúde e Alegria na região amazônica. Entendendo ções retratam também as comunidades que vivem na área
o território como espaço marcado não apenas pelas dimen- do entorno da Resex, na Gleba Nova Olinda I, região do Rio
sões geográficas, mas também pelas relações humanas, eco- Maró, que após um período de conflitos pela posse da terra,
nômicas e culturais, o reconhecimento e a apropriação popu- passou recentemente por um processo de ordenamento fun-
lar dos territórios em que se vive é um dos passos fundamen- diário. A região hoje possui um mosaico de unidades territo-
tais para o exercício da cidadania. riais para a proteção das áreas das comunidades tradiciona-
Geralmente há pouca informação em linguagem simples dis- is, a criação de áreas de interesse ecológico e o planejamen-
ponível para uso público, sobre a realidade das comunidades to de longo prazo das áreas com potencial econômico, prin-
que vivem em Unidades de Conservação, assentamentos, flo- cipalmente o manejo florestal madeireiro.
restas. O conhecimento que está na “memória popular” so- Desta forma, a proposta desta publicação é a ampliação do
bre as comunidades que habitam esses territórios precisa ser conhecimento sobre esta região e seus moradores, contri-
valorizado e sistematizado para ajudar na compreensão das buindo para o exercício da cidadania e o aprimoramento da
formas de viver a vida na floresta, com seus atrativos, poten- capacidade de gestão das populações tradicionais sobre se-
ciais e desafios. us recursos, estimulando o seu desenvolvimento de forma
Por isso, no intuito de obter uma visão do conjunto da reali- sustentável.
dade territorial local, o Projeto Saúde e Alegria, em parceria Esta cartilha apresenta a comunidade de Mariazinha, locali-
com a Fundação Konrad Adenauer e Fundação Ford, vem rea- zada no Rio Maró, dentro de um Projeto Estadual de Assen-
lizando um trabalho de documentação e divulgação denomi- tamento Agroextrativistas – PEAEX. Elaborada a partir de in-
nado “PRAZER EM CONHECER”. formações coletadas em processos de mapeamento socio-
Trata-se de uma coleção de cartilhas que retratam as comuni- ambiental participativo, é um retrato atual da realidade des-
dades que vivem em Unidades de Conservação e Assenta- ta comunidade contada pelos seus próprios moradores.u-
mentos da região Oeste do Pará. Uma região tradicionalmen- larmente, os estudantes da rede pública de ensino.
te ocupada por populações de descendência indígena, que
ao longo do tempo se misturaram com migrantes e colonos
de diferentes origens e hoje vivem em comunidades que se
formaram a partir das antigas vilas de velhas missões e aldei-
as indígenas.
O processo de mapeamento participativo ao mesmo tempo
utiliza a “memória” da comunidade como principal subsídio,
como também associa técnicas de cartografia para que o co-
nhecimento dos comunitários sobre seu território possa se
tornar também um conhecimento sistematizado. Muitas ve-
zes os mapas cartográficos participativos oferecem uma con-
traposição à visão oficial de muitas organizações sobre deter-
minado território. Ao trabalharmos baseados no conheci-
mento que as populações têm de suas comunidades, corre-
mos menor risco de cometer equívocos de observação e diag-
nósticos da realidade local.
Nas visitas da nossa equipe à comunidade, complementa-
mos, revisamos e validamos os mapas e as informações. Pa-
ra essa abordagem, utilizamos o método ANDRAGÓGICO,
que valoriza as experiências e os conhecimentos anteriores
sobre os temas tratados, realiza análise conjunta dos conteú-
dos, verificando qual a representação que o grupo tem do coti-
diano, propiciando a oportunidade de falar-se a “mesma lín-
gua” e a seguir chegar a construir um novo conhecimento. Tra-
ta-se de um processo feito a partir da troca de experiências
com a contribuição de diversos atores do ELENCO SOCIAL en-
volvido.
A comunidade de Mariazinha, está situada no extremo Oeste O PEAEX Mariazinha faz parte da Gleba Nova Olinda I, locali-
do Estado do Pará dentro de um Projeto Estadual de Assenta- zada entre os municípios de Santarém, Aveiro e Juruti, entre
mento Agroextrativista - PEAEX que faz parte de um conjunto a margem esquerda do Rio Maró e margem direita do rio
de terras públicas estaduais com rica e abundante biodiversi- Aruã. Com 14 comunidades e cerca de 330 famílias e 1.304
dade de floresta tropical, ocupadas por diversas comunida- pessoas em uma área aproximada de 172 mil hectares.
des. Tais terras públicas estaduais, conhecidas como Glebas Devido aos conflitos fundiários com a presença de empre-
Mamurú, Nova Olinda I e II e Curumucuri, compreendem uma sas madeireiras na região, e à situação de insegurança das
área de cerca 1,3 milhões de hectares, delimitada ao sul pelo comunidades, uma parceria firmada entre o Projeto Saúde e
Parque Nacional da Amazônia, ao leste pela Resex Tapajós- Alegria, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém
Arapiuns e à oeste pela Terra Indígena Andira-Marau, com (STTR) e o Conselho Indígena do Tapajós/Arapiuns (CITA), re-
poucas vias de acesso terrestre e em sua maior parte, ainda sultou na realização de oficinas de mapeamento participati-
com alto grau de preservação. vo, que possibilitassem a geração de dados e mapas da área
a partir do conhecimento e da percepção territorial das co-
munidades tradicionais residentes.
Como consequência, em junho de 2007, o Instituto de Terras
do Pará (ITERPA) declarou considerar a Gleba Nova Olinda
como prioritária para o processo de regularização fundiária.
Desta forma, ganhou solidez o trabalho iniciado de assesso-
ria às comunidades, sobretudo no monitoramento das
ações do ITERPA, subsidiando todo o processo de discussão
do ordenamento da gleba.
Sucessivamente o Governo do Estado do Pará decretou limita-
ção administrativa provisória sob uma área de aproximadamen-
te 1,3 milhão de hectares, que envolve as quatro glebas, com o
objetivo de viabilizar as ações de Ordenamento Territorial.
O decreto, que veio ao encontro dos anseios das populações 2. Os Projetos Estaduais de Assentamento Agroextra-
locais, foi o resultado do desempenho do Grupo de Trabalho tivista (PEAEX) destinam-se a populações que ocu-
Mamuru-Arapiuns (ITERPA, SEMA, IDEFLOR), que buscando pam áreas dotadas de riquezas extrativas e prati-
exercer a gestão compartilhada com as comunidades, movi- cam prioritariamente a exploração sustentável dos
mentos sociais e empresários, se propôs a construir um mosa- recursos naturais voltadas para a subsistência
ico de usos para esse complexo de glebas, que possibilitasse (agricultura familiar de subsistência, outras ativi-
a proteção das comunidades tradicionais, a criação de áreas dades de baixo impacto ambiental e à criação de
de interesse ecológico e o planejamento de longo prazo das animais de pequeno porte). A área é considerada
áreas com potencial econômico. de domínio público com uso concedido às popula-
Durante o período de limitação administrativa provisória, fo- ções extrativistas. A destinação das áreas dá-se me-
ram realizados estudos e a identificação do uso mais adequa- diante uma concessão de direito real de uso, em re-
do das áreas. Em Agosto de 2009 o Governo do Pará deliberou gime de uso comum, associativo ou cooperativista
sobre a proposta que define um mosaico de usos para esse por prazo indeterminado.
complexo de glebas, com foco na proteção das comunidades Primeiro, foram criados pelo Governo do Estado:
tradicionais, de áreas de interesse ecológico e o planejamento • 3 PEAS (Projeto Estadual de Assentamento Susten-
de longo prazo das áreas com potencial econômico. tável) propostos: Aruã - Maró, Fé em Deus e Repar-
Ao longo do ano de 2010, as organizações sociais e territoria- timento.
is conseguiram colher os primeiros resultados de suas reivin- • 3 PEAEX do Alto Aruá, Mariazinha e Vista Alegre, to-
dicações com a implantação de dois tipos de modalidade es- dos pertencentes a Gleba Nova Olinda I no municí-
tadual de ordenamento fundiário: pio de Santarém.
1. Os Projetos Estaduais de Assentamento Sustentável Paralelamente ao processo de ordenamento fundiário esta-
(PEAS) abrangem as áreas trabalhadas em regime dual, a FUNAI realizou a identificação e demarcação da Terra
de economia familiar que utilizam racionalmente os Indígena do Maró (Gleba Nova Olinda I), que resultou numa
recursos naturais existentes. A destinação das áreas área de 42 mil hectares, hoje em processo de homologação
dá-se mediante um contrato de concessão de uso no Ministério da Justiça.
em regime individual, em nome da unidade familiar.
O contrato de concessão é intransferível e inegociá- Finalmente, atendendo as reivindicações de maior controle,
vel pelo prazo de dez anos ao término do qual pode- governança e usos sustentável das áreas de interesse eco-
rá ser expedido Título Definitivo de Propriedade. nômico, o Governo Estadual identificou as áreas de conces-
são florestal, que juntas somam mais de 173 mil hectares a
serem destinada para o manejo florestal.
A Comunidade de Mariazinha (Coordenadas geográficas: 21 Esta é a comunidade estruturada mais distante da sede do
M 0616680 / +4m UTM 9668989 ponto 108) está localizada no município de Santarém, distante cerca de 93 quilômetros
alto Rio Maró, afluente do Rio Arapiuns. Situada dentro de em linha reta da sede do município. Mas para chegar até Ma-
um PEAEX – Projeto Estadual de Assentamento Agroextrati- riazinha, é preciso percorrer cerca de 10 horas de viagem de
vista, na Gleba Nova Olinda I. Mariazinha dispõe de uma área lancha rápida, ou quase dois dias em barco de linha regio-
de 10.317,00 (dez mil trezentos e dezessete hectares). nal.
“alguns que moram aqui não sabem muito bem da história daqui...(a car lha) é
bom pra poder ficar mais a par do que aconteceu e acontece”
Ezequiel Marques
“Lugar calmo, não tem bagunça, perturbação de mosquito. Ninguém mexe nas
coisas dos outros”
Luís Gervano
“Eu gosto de lá porque é uma paragem fria que aparece comida, caça, peixe. É
veado, co a, todo po de caça”
Dona Júlia
Paragem: Localidade
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