Cartilha Mariazinha 1

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Esta publicação é resultado de uma fotografia da comunidade colhida em setembro de 2013,

realizada com uma metodologia própria, criada a partir dos encontros e das visitas às comunidades,
somada à experiência do mapeamento cartográfico participativo socioambiental.
A autoria deste trabalho deve ser atribuída principalmente aos comunitários da Vila de Mariazinha,
jovens e adultos, que, estiveram presentes e voluntariamente prestaram seus depoimentos, com o
objetivo de levantar informações para construir coletivamente a Cartilha Prazer em Conhecer.
“Antigamente, quando não havia escola, todos ensinavam, aprendiam, trabalhavam e se amavam,
enfim, uma comunidade de aprendizagem livre, honesta, ética e, acima de tudo, cidadã.”
Essa foi a maneira escolhida para garantir a transmissão de conhecimentos que se fundam na orali-
dade e valorizam e difundem as riquezas do patrimônio material, cultural e imaginário dos povos tra-
dicionais da floresta, para as Escolas, para os movimentos sociais e ambientais e para quem, de um
modo em geral, se preocupa com os povos da floresta.
Uma construção coletiva, que tem como protagonistas os povos tradicionais da Gleba Nova Olinda, no
extremo do município de Santarém, mais especificamente a comunidade de Mariazinha no alto do Rio
Maró. Um povo dotado de uma cultura espontânea e peculiar, onde homens, mulheres, crianças foram
convidados a participar, respeitando o preceito que todos são professores e alunos o tempo todo.
Os dados gerais e sócios econômicos foram inseridos para enriquecer o conhecimento e fornecer
indicadores quantitativos para futuros diagnósticos.Enfim, mais um instrumento que luta pela
floresta em pé e que acredita que “debaixo da floresta da gente tem gente.”
“O mundo não é, o mundo está sendo”.
(Paulo Freire)
Respaldar as Unidades Territoriais ocupadas por comunida- As primeiras publicações foram da Reserva Extrativista Ta-
des tradicionais é um dos principais objetivos das atividades pajós-Arapiuns. Em um novo ciclo do trabalho, as publica-
do Projeto Saúde e Alegria na região amazônica. Entendendo ções retratam também as comunidades que vivem na área
o território como espaço marcado não apenas pelas dimen- do entorno da Resex, na Gleba Nova Olinda I, região do Rio
sões geográficas, mas também pelas relações humanas, eco- Maró, que após um período de conflitos pela posse da terra,
nômicas e culturais, o reconhecimento e a apropriação popu- passou recentemente por um processo de ordenamento fun-
lar dos territórios em que se vive é um dos passos fundamen- diário. A região hoje possui um mosaico de unidades territo-
tais para o exercício da cidadania. riais para a proteção das áreas das comunidades tradiciona-
Geralmente há pouca informação em linguagem simples dis- is, a criação de áreas de interesse ecológico e o planejamen-
ponível para uso público, sobre a realidade das comunidades to de longo prazo das áreas com potencial econômico, prin-
que vivem em Unidades de Conservação, assentamentos, flo- cipalmente o manejo florestal madeireiro.
restas. O conhecimento que está na “memória popular” so- Desta forma, a proposta desta publicação é a ampliação do
bre as comunidades que habitam esses territórios precisa ser conhecimento sobre esta região e seus moradores, contri-
valorizado e sistematizado para ajudar na compreensão das buindo para o exercício da cidadania e o aprimoramento da
formas de viver a vida na floresta, com seus atrativos, poten- capacidade de gestão das populações tradicionais sobre se-
ciais e desafios. us recursos, estimulando o seu desenvolvimento de forma
Por isso, no intuito de obter uma visão do conjunto da reali- sustentável.
dade territorial local, o Projeto Saúde e Alegria, em parceria Esta cartilha apresenta a comunidade de Mariazinha, locali-
com a Fundação Konrad Adenauer e Fundação Ford, vem rea- zada no Rio Maró, dentro de um Projeto Estadual de Assen-
lizando um trabalho de documentação e divulgação denomi- tamento Agroextrativistas – PEAEX. Elaborada a partir de in-
nado “PRAZER EM CONHECER”. formações coletadas em processos de mapeamento socio-
Trata-se de uma coleção de cartilhas que retratam as comuni- ambiental participativo, é um retrato atual da realidade des-
dades que vivem em Unidades de Conservação e Assenta- ta comunidade contada pelos seus próprios moradores.u-
mentos da região Oeste do Pará. Uma região tradicionalmen- larmente, os estudantes da rede pública de ensino.
te ocupada por populações de descendência indígena, que
ao longo do tempo se misturaram com migrantes e colonos
de diferentes origens e hoje vivem em comunidades que se
formaram a partir das antigas vilas de velhas missões e aldei-
as indígenas.
O processo de mapeamento participativo ao mesmo tempo
utiliza a “memória” da comunidade como principal subsídio,
como também associa técnicas de cartografia para que o co-
nhecimento dos comunitários sobre seu território possa se
tornar também um conhecimento sistematizado. Muitas ve-
zes os mapas cartográficos participativos oferecem uma con-
traposição à visão oficial de muitas organizações sobre deter-
minado território. Ao trabalharmos baseados no conheci-
mento que as populações têm de suas comunidades, corre-
mos menor risco de cometer equívocos de observação e diag-
nósticos da realidade local.
Nas visitas da nossa equipe à comunidade, complementa-
mos, revisamos e validamos os mapas e as informações. Pa-
ra essa abordagem, utilizamos o método ANDRAGÓGICO,
que valoriza as experiências e os conhecimentos anteriores
sobre os temas tratados, realiza análise conjunta dos conteú-
dos, verificando qual a representação que o grupo tem do coti-
diano, propiciando a oportunidade de falar-se a “mesma lín-
gua” e a seguir chegar a construir um novo conhecimento. Tra-
ta-se de um processo feito a partir da troca de experiências
com a contribuição de diversos atores do ELENCO SOCIAL en-
volvido.
A comunidade de Mariazinha, está situada no extremo Oeste O PEAEX Mariazinha faz parte da Gleba Nova Olinda I, locali-
do Estado do Pará dentro de um Projeto Estadual de Assenta- zada entre os municípios de Santarém, Aveiro e Juruti, entre
mento Agroextrativista - PEAEX que faz parte de um conjunto a margem esquerda do Rio Maró e margem direita do rio
de terras públicas estaduais com rica e abundante biodiversi- Aruã. Com 14 comunidades e cerca de 330 famílias e 1.304
dade de floresta tropical, ocupadas por diversas comunida- pessoas em uma área aproximada de 172 mil hectares.
des. Tais terras públicas estaduais, conhecidas como Glebas Devido aos conflitos fundiários com a presença de empre-
Mamurú, Nova Olinda I e II e Curumucuri, compreendem uma sas madeireiras na região, e à situação de insegurança das
área de cerca 1,3 milhões de hectares, delimitada ao sul pelo comunidades, uma parceria firmada entre o Projeto Saúde e
Parque Nacional da Amazônia, ao leste pela Resex Tapajós- Alegria, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém
Arapiuns e à oeste pela Terra Indígena Andira-Marau, com (STTR) e o Conselho Indígena do Tapajós/Arapiuns (CITA), re-
poucas vias de acesso terrestre e em sua maior parte, ainda sultou na realização de oficinas de mapeamento participati-
com alto grau de preservação. vo, que possibilitassem a geração de dados e mapas da área
a partir do conhecimento e da percepção territorial das co-
munidades tradicionais residentes.
Como consequência, em junho de 2007, o Instituto de Terras
do Pará (ITERPA) declarou considerar a Gleba Nova Olinda
como prioritária para o processo de regularização fundiária.
Desta forma, ganhou solidez o trabalho iniciado de assesso-
ria às comunidades, sobretudo no monitoramento das
ações do ITERPA, subsidiando todo o processo de discussão
do ordenamento da gleba.
Sucessivamente o Governo do Estado do Pará decretou limita-
ção administrativa provisória sob uma área de aproximadamen-
te 1,3 milhão de hectares, que envolve as quatro glebas, com o
objetivo de viabilizar as ações de Ordenamento Territorial.
O decreto, que veio ao encontro dos anseios das populações 2. Os Projetos Estaduais de Assentamento Agroextra-
locais, foi o resultado do desempenho do Grupo de Trabalho tivista (PEAEX) destinam-se a populações que ocu-
Mamuru-Arapiuns (ITERPA, SEMA, IDEFLOR), que buscando pam áreas dotadas de riquezas extrativas e prati-
exercer a gestão compartilhada com as comunidades, movi- cam prioritariamente a exploração sustentável dos
mentos sociais e empresários, se propôs a construir um mosa- recursos naturais voltadas para a subsistência
ico de usos para esse complexo de glebas, que possibilitasse (agricultura familiar de subsistência, outras ativi-
a proteção das comunidades tradicionais, a criação de áreas dades de baixo impacto ambiental e à criação de
de interesse ecológico e o planejamento de longo prazo das animais de pequeno porte). A área é considerada
áreas com potencial econômico. de domínio público com uso concedido às popula-
Durante o período de limitação administrativa provisória, fo- ções extrativistas. A destinação das áreas dá-se me-
ram realizados estudos e a identificação do uso mais adequa- diante uma concessão de direito real de uso, em re-
do das áreas. Em Agosto de 2009 o Governo do Pará deliberou gime de uso comum, associativo ou cooperativista
sobre a proposta que define um mosaico de usos para esse por prazo indeterminado.
complexo de glebas, com foco na proteção das comunidades Primeiro, foram criados pelo Governo do Estado:
tradicionais, de áreas de interesse ecológico e o planejamento • 3 PEAS (Projeto Estadual de Assentamento Susten-
de longo prazo das áreas com potencial econômico. tável) propostos: Aruã - Maró, Fé em Deus e Repar-
Ao longo do ano de 2010, as organizações sociais e territoria- timento.
is conseguiram colher os primeiros resultados de suas reivin- • 3 PEAEX do Alto Aruá, Mariazinha e Vista Alegre, to-
dicações com a implantação de dois tipos de modalidade es- dos pertencentes a Gleba Nova Olinda I no municí-
tadual de ordenamento fundiário: pio de Santarém.
1. Os Projetos Estaduais de Assentamento Sustentável Paralelamente ao processo de ordenamento fundiário esta-
(PEAS) abrangem as áreas trabalhadas em regime dual, a FUNAI realizou a identificação e demarcação da Terra
de economia familiar que utilizam racionalmente os Indígena do Maró (Gleba Nova Olinda I), que resultou numa
recursos naturais existentes. A destinação das áreas área de 42 mil hectares, hoje em processo de homologação
dá-se mediante um contrato de concessão de uso no Ministério da Justiça.
em regime individual, em nome da unidade familiar.
O contrato de concessão é intransferível e inegociá- Finalmente, atendendo as reivindicações de maior controle,
vel pelo prazo de dez anos ao término do qual pode- governança e usos sustentável das áreas de interesse eco-
rá ser expedido Título Definitivo de Propriedade. nômico, o Governo Estadual identificou as áreas de conces-
são florestal, que juntas somam mais de 173 mil hectares a
serem destinada para o manejo florestal.
A Comunidade de Mariazinha (Coordenadas geográficas: 21 Esta é a comunidade estruturada mais distante da sede do
M 0616680 / +4m UTM 9668989 ponto 108) está localizada no município de Santarém, distante cerca de 93 quilômetros
alto Rio Maró, afluente do Rio Arapiuns. Situada dentro de em linha reta da sede do município. Mas para chegar até Ma-
um PEAEX – Projeto Estadual de Assentamento Agroextrati- riazinha, é preciso percorrer cerca de 10 horas de viagem de
vista, na Gleba Nova Olinda I. Mariazinha dispõe de uma área lancha rápida, ou quase dois dias em barco de linha regio-
de 10.317,00 (dez mil trezentos e dezessete hectares). nal.

O rio é bastante sinuoso, cheio de curvas, o que faz da via-


gem, embora demorada, uma oportunidade ímpar para apre-
ciar as belas paisagens, como o espelho negro das águas
que reflete o verde da floresta como um quadro produzido
por um artista inspirado na poesia da natureza.
ÁREA DE ATUAÇÃO PROJETO SAÚDE E ALEGRIA
A Comunidade de Mariazinha foi fundada no dia 22 de setem- O nome da comunidade
bro de 1982. Consta nas narrativas populares que os primei-
ros moradores foram Olgarino dos Santos Fernandes, Adenil O nome da comunidade se deu devido ao sumiço de uma me-
Cardoso, Raimundo Cardoso, Júlia Guimarães e Dona Dica Car- nininha. Dona Júlia Guimarães relata que "é porque no tem-
doso. O primeiro presidente da comunidade foi o senhor Da- po dos seringueiros, meu pai contava que tinha uma família
másio Matos. que veio morava ali no campo. Eles tinham uma menina que
chamava Mariazinha. E aí eles foram pro mato, extrair serin-
Mas antes desses, foi seu Alberico Pereira o primeiro mora-
ga. Um dia ela ficou menstruada e eles não levaram ela pra
dor de Mariazinha, como conta sua filha, dona Júlia Guima-
mata, ficou sozinha em casa. Quando a mãe dela chegou,
rães: “Meu pai era de Cametá, veio de lá com meu avô (...) Na-
ela não estava mais. As pessoas procuraram muito ela. Apa-
quele tempo andava em qualquer paragem e não tinha pro-
receu até onde estava o rastro por onde tinha andado nesse
blema. Ai ele começou a andar com o pai dele e veio pra esse
campo aí que era bonito, era areia. Mas tinha uma parte em
mato. O primeiro morador foi ele. Nós chegamos a morar na
que as pegadas dela sumiram. Pensaram que poderia ser al-
cachoeira do Maró. Eu vim de lá jovem, quando meu pai se mu-
gum bicho que comeu, onça, essas coisas. Mas apareceu
dou pra cá... Naquele tempo morava um homem aí pra cima
um tal sacaca (curandeiro) chamado Mirandolino que rezou
que chamavam de Bala. Ele dizia que tudo aqui era dele. Vo-
e disse que ela tinha se encantado. Até hoje o mistério per-
cês sabem né, o tempo que eles cultivavam seringa e caça-
manece. Aí, por isso, a comunidade se chama Mariazinha.
vam gato maracajá... A intenção do meu pai era chegar no Ma-
Ela sumiu mas o nome dela ficou na comunidade".
muru, porque tinha parentes lá. Mais era muito longe pra ficar
andando com meus irmãozinhos pequenos. Aí o papai disse:
sim minha filha nós não vamos mais pro Mamuru. Vamos pa-
rar aqui com teus irmãos porque a gente não pode andar com
essas crianças. Ele fez um rocinha aqui neste lugar.
• População
A comunidade de Mariazinha tem 26 Famílias, que estão distri- com a Empresa Madeireira Mundo Verde, a Associação Co-
buídas em dois núcleos, um na margem esquerda do Rio Maro- munitária conseguiu adquirir dois barcos comunitários,
zinho, numa parte chamada Aracati, e outro na margem direita B/M M. Oliveira e B/M Aracati, que fazem linha para Santa-
onde encontra-se a sede da comunidade. Esta é a comunidade rém uma vez por mês com custo mínimo para os passagei-
estruturada mais distante da sede do município de Santarém. ros. Não se paga a passagem, cada associado contribui com
R$ 100,00 por mês. Atualmente são ao todo 23 associados.
• Organização Comunitária
Internamente Mariazinha funciona por meio de um conselho • Energia
comunitário, composto por uma diretoria e um presidente da A energia utilizada na comunidade é produzida por dois mo-
comunidade, que atualmente é o senhor Francimaro. Juridi- tores/geradores, um instalado no núcleo da margem direita
camente todos os moradores estão organizados na Associa- e outro no núcleo da margem esquerda. Tem energia todas
ção de Moradores e Trabalhadores Rurais Agroextrativistas as noites, em média de 3 a 4 horas e cada família paga uma
da Comunidade de Mariazinha - Alto Rio Maró - ACOAMAM, taxa de R$ 10,00 (dez reais) por mês.
cujo Presidente é Ezequiel Ferreira (Seu Moreno). • Economia
• Transporte Existem na comunidade quatro aposentados de um total
A comunidade de Mariainha sempre sofreu com o isolamen- de 26 famílias, sendo ainda que a maioria tem bolsa-família
to. Quando o rio está cheio os barcos podem chegar até o por- e nenhuma tem bolsa-verde. A economia da comunidade gi-
to da comunidade, mas na época da vazante, fica mais dificil, ra em torno da agricultura familiar. A maioria das pessoas
pois o Rio Maró tem algumas pequenas cachoeiras que difi- trabalha na lavoura, principalmente com a produção de man-
cultam a navegação. Nessa época é preciso se deslocar de ca- dioca. Pratica-se também, a caça e a pesca para consumo,
noa ou rabeta até a comunidade de Repartimento para pegar embora a fauna esteja cada vez mais escassa devido à des-
os barcos. Quando a comunidade não tinha embarcação pró- florestação e consequente perda de habitat. Em 2011, os co-
pria, pegava os barcos de linha para fazer o trajeto até Santa- munitários negociaram com a empresa madeireira Mundo
rém. O custo por passageiro é de R$ 60,00 de Repartimento a Verde, o manejo de 1.000 (mil hectares), tendo a empresa di-
Santarém totalizando R$ 120,00 ida e volta. Isso sem levar reito de somente retirar a madeira. O valor está estimado em
em conta o valor pago por cada volume e mercadoria levado. torno de R$ 900.000 (novecentos mil reais). Parte desse re-
Hoje com o provento da exploração de madeira negociada curso já foi repassada para a comunidade via Associação Co-
munitária ACOAMAM, e o restante do recurso será repassado gestantes vão para dar à luz nos hospitais de Santarém. Do-
conforme a extração da madeira. na Júlia, a senhora mais veterana da comunidade prepara os
Os comunitários não sabem dizer se o valor obtido foi um remédios caseiros, mantendo a tradição familiar do cultivo
bom ou um mal negocio, têm pouca noção sobre o valor da de várias espécies de ervas medicinais, bastante procura-
madeira, mas acreditam que a venda de parte do patrimônio das pelos comunitários. Ela fazia partos, mas não tem feito
natural deles foi uma via obrigatória. Ou seja, foi a única for- ultimamente. "Puxava" as mulheres gestantes para a crian-
ma para adquirirem alguns bens hoje disponíveis para eles. ça ficar na posição normal para o nascimento.
Foi com a venda dessa madeira que conseguiram a compra Remedios caseiros: para "baques" e machucados se faz fric-
dos dois barcos, facilitando o transporte das pessoas e dos ção com óleo de sa andiroba e copaíba. O pai de Doma Júlia
produtos para a cidade e para outras comunidades. Com os cuidava de picada de cobra com peão branco. O chá de para-
proventos da venda da madeira, cada família também foi be- cari, rinchão, vassourinha, jandicá, melhoral, parigório, ca-
neficiada com um motor rabeta. Atualmente estão sendo nela, carmelita, erva-cidreira, cumaruzinho também são mu-
pressionados pela Empresa DINIZIA para que a comunidade ito usados na comunidade para diversos tipos de doenças.
negocie com eles a exploração de mais uma área (1.000 mil • Educação
hectare). Nas reuniões foi relatado que representantes da
Mariazinha dispõe da Escola Municipal de Ensino Fundamen-
L.N. Guerra visitaram a comunidade apresentando os planos
tal Nossa Senhora de Nazaré que possui da 1ª a 9ª série, com
da empresa, inclusive a possibilidade de trabalhar pra ela.
83 alunos, tendo sete funcionários ao todo, sendo cinco pro-
• Saúde fessores e duas merendeiras. Terminado o último ano e sem
O atendimento de saúde na comunidade é um problema, pois maiores condições, a maioria dos alunos para definitivamente
o Posto de Saúde mais próximo fica na comunidade de Prai- os estudos. Apenas alguns conseguem continuar os estudos
nha (Resex), distante a quatro horas de rabeta de Mariazinha, em Santarém. A merenda e o uniforme também são recebi-
e na maioria das vezes não tem remédios. Mais de cinco pes- dos. E essa escola pertence ao pólo da comunidade Fé em De-
soas expressaram a frase “Só Deus é que acompanha a nossa us, tendo como diretora a senhora Edilena. Um dos prédios da
situação.” Gripe, febre, diarreia, vômito são as doenças que escola foi doado pela Igreja da Paz. O hino da escola foi escrito
mais atacam a comunidade, o resto “Deus cura”. As mulheres pela professora Valdirene, mas ainda não foi reconhecido.
fazem o pré natal no posto de saúde de Prainha, mas as crian- • Religião
ças nascem na própria comunidade, graça ao trabalho de du-
Os comunitários participam de duas igrejas evangélicas: A
as parteiras tradicionais. Só nos casos mais complicados as
Igreja da Paz e a Igreja Assembléia de Deus.
• Esporte e Lazer
Existe na comunidade o time Mariazinha Esporte Clube, mas 2 – Construir uma micro hidrelétrica, aproveitando a que-
ele não têm jogado muito ultimamente. A comunidade há vári- da d'água que tem no igarapé da Mariazinha. A comu-
os anos parou de realizar festas dançantes devido às muitas nidade possui um igarapé com uma cachoeira de apro-
brigas geradas em função do abuso de álcool. E a escola nor- ximadamente um a dois metros de queda d'água, um
malmente festeja várias datas comemorativas como o dia dos bom volume de água a cerca de 2 Km da comunidade.
pais, dia das mães, 7 de setembro e algumas festividades fol- Todos foram unanimes em afirmar que a instalação de
clóricas. Há poucos movimentos com danças, pois a maioria é uma turbina teria a capacidade de abastecer toda a co-
evangélica. munidade de energia.
• Anseios e Prioridades 3– Construir um micro sistema de abastecimento de
água, ou dois, sendo um em cada núcleo.
Entre as demandas apresentadas, está a assistência técnica
para incentivar projetos ligados à agricultura familiar, criação 4 – Meio de comunicação (Telefonia, Rádio Amador)
de peixes, viveiros ou plantação de verduras. Além disso, en- 5– Transporte rápido (Lancha) - Transporte de emergên-
tre os anseios e prioridades da comunidade estão: cia.
1 – Abrir uma estrada até o igarapé do cachimbo, distancia 6– Educação: construção de um prédio escolar dentro
de cerca de 8 km e prosseguir até Cachoeira do Aruã, en- dos padrões.
torno de mais 70 km. 7– Mini fábrica de farinha, pois Mariazinha tem tradição
de produzir uma boa farinha.
Coisas que eu vi nesse rio. Lenda contada pelo senhor Luís
Gervano Cunha Gama (Sanfona): "A gente parava num local
chamado Tabocal e aí eu foi num outro braço aqui do rio Maro-
zinho chamado Arara, levar um pessoal lá junto com um cole-
ga meu chamado Valdir Preto. Esse Valdir Preto sempre teve
gente que não acreditava nele, diziam que ele conta mentira.
Mas nesse dia eu tava junto com ele. Quando nós chegamos
num lugar chamado Albino, onde o meu cunhado Rosivaldo
tomava conta, o nosso motor estourou. Saíram os parafusos,
caíram tudo dentro do casco da canoa. Aí emprestamos o mo-
tor dele. e quando continuamos a viagem, descendo o rio,
perto da boca do Arara pra pegar o Marozinho, já estava meio
escurecendo? Nós entramos numa curva, e quando nós vara-
mos no rio, apareceu uma maresia muito grande na nossa
frente, parecia que era uma lancha que passou na nossa fren- Do que a gente gosta de brincar?
te, mas não vimos nada de lancha. Eu joguei a rabeta no ru- As crianças da comunidade gostam de brincar de pira-pega,
mo da terra, que o casco foi parar lá em cima da terra mesmo. cantiga de roda, futebol, queimada, e principalmente pular
Nós fruamos lá em cima pensando que o bicho ia atrás de n'água.
nós. Ai eu contando pra um senhor que já é mais idoso, o Bizo-
Cantiga da comunidade
la, ele disse que só podia ser um sucuriju, porque outra coisa
nãomídia ser, e gente também não era”. Seria a falada cobra Vou dividir o boi com um amigo meu, vou dividir o boi com
grande? um amigo meu, a parte da frente vai pra boa gente, a parte
de trás vai pro bom rapaz, e o chifre enrolado vai pra quem
está sentado.
Hino da escola Nossa Senhora de Nazaré
Escola Nossa Senhora de Nazaré és humilde,
Mas conduz o ensino a quem quiser.
As crianças que em ti confiam,
Te seguirão por demonstrar
Essa capacidade de formar cidadãos.
Nossa escola ainda não é padrão,
Mas tens um imenso coração,
Nunca faz diferença de raça e de cor,
O importante é que ela educa com ardor.
Veja como sou feliz,
Honro minha pátria e meu país.
Somos brasileiros, não renunciamos jamais,
Só queremos que os direitos sejam iguais.
Nossa escola ainda não é padrão, Nossa escola ainda não é padrão,
Mas tens um imenso coração, Mas tens um imenso coração,
Nunca faz diferença de raça e de cor, Nunca faz diferença de raça e de cor,
O importante é que ela educa com ardor. O importante é que ela educa com ardor
Ensinar é um gesto de amor, Vamos dar as mãos
É o compromisso que devemos ter, Às futuras gerações,
Transformando iletrado em escritor Para que todas garantam
E também em leitor. Uma boa educação.
Nossa escola ainda não é padrão,
Mas tens um imenso coração,
Nunca faz diferença de raça e de cor,
O importante é que ela educa com ardor.
Autora:
Professora Valdirene Nascimento Sousa
“Estamos distantes de todos e de tudo,
por isso é bom receber visitas e boas no cias”

“alguns que moram aqui não sabem muito bem da história daqui...(a car lha) é
bom pra poder ficar mais a par do que aconteceu e acontece”
Ezequiel Marques

“Lugar calmo, não tem bagunça, perturbação de mosquito. Ninguém mexe nas
coisas dos outros”
Luís Gervano

“Lugar tranquilo, calmo, não tem violência”


Gilvanice

“Eu gosto de lá porque é uma paragem fria que aparece comida, caça, peixe. É
veado, co a, todo po de caça”
Dona Júlia
Paragem: Localidade

Fricção: esfregar os dedos na pele

Sacaca: pessoa com sabedoria para uso de ervas


medicinais e poder espiritual

Curandeiro: pessoas com dom da cura através da


espiritualidade

Rabeta: canoa com motor

Marozinho: pequeno rio afluente do rio Maró

EQUIPE PROJETO GRÁFICO E FOTOS


Tiberio Alloggio / Magnólio de Oliveira / DIREÇÃO DE ARTE Acervo PSA e fotógrafos colaboradores
Carlos Dombroski | Fábio Pena | Natanael Fernanda Sarmento
Designer Assistente IMPRESSÂO
de Sousa
Débora Alberti Gráfica Brasil

DIAGRAMAÇÂO TIRAGEM
Edinelson Nunes 500 Exemplares

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