A Sociobiodiversidade Das Unidades de Conservação
A Sociobiodiversidade Das Unidades de Conservação
A Sociobiodiversidade Das Unidades de Conservação
Resumo
O texto tem por objetivo analisar o processo de implementação das Reservas Extrativistas (RESEX) de Barra do
Pacuí e Buritizeiro como áreas protegidas no norte de Minas Gerais, e a compreensão das territorialidades que
vão se estabelecendo no lugar, a partir das práticas socioculturais e da experiência dos grupos humanos e
contribuindo com a valorização e manutenção da sociobiodiversidade do Cerrado brasileiro. A área de estudo
abrange a Comunidade Tradicional de Barra do Pacuí, no município de Ibiaí e Comunidade de Buritizeiro
localizada no município que recebe o mesmo nome, ambas situadas na região Norte de Minas Gerais. Quanto aos
caminhos metodológicos a pesquisa vem sendo desenvolvida no sentido de identificar as RESEX e RDS, bem
como as ações das populações tradicionais no uso e defesa do território. As informações primárias estão sendo
obtidas em campo. As secundárias a partir da leitura de bibliografias específicas sobre o tema pesquisado, além
de sites de órgãos governamentais vinculados ao meio ambiente, entidades de classe e movimentos sociais
envolvidos na criação das Unidades de Conservação.
Introdução
1
Este trabalho faz parte das discussões realizadas pelos pesquisadores vinculadas ao projeto de pesquisa:
Desenvolvimento Territorial e Sociobiodiversidade: perspectivas para o mundo do Cerrado/4611 - Programa de
Apoio à Pós-Graduação e à Pesquisa Científica e Tecnológica em Desenvolvimento Socioeconômico no Brasil
(PGPSE/CAPES). Orientado pelo Professor Titular do Instituto de Geografia da Universidade Federal de
Uberlândia-MG, e-mail: [email protected].
2
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia-MG, e-
mail: [email protected].
VIII Simpósio Internacional de Geografia Agrária e IX Simpósio Nacional de Geografia Agrária
GT 2 – Comunidades tradicionais na luta por territórios
ISSN: 1980-4555
Extrativistas são territórios voltados para o uso sustentável e conservação dos recursos
naturais renováveis pelas populações tradicionais que ali vivem. (BRASIL, 1990)
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) é um ambiente natural onde
residem os povos tradicionais que vivem da exploração dos recursos naturais da Unidade de
Conservação de Uso Sustentável.
Essas atividades de exploração desenvolvidas por esses povos tradicionais ultrapassam
gerações, cujos saberes e fazeres estão vinculados à natureza. Ao longo dos anos eles foram se
adaptando as condições de diversidade ecológica local e cumprem uma função importante na
proteção da natureza e na diversidade biológica. (Ministério do Meio Ambiente - MMA,
2014)
Desse modo, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável tem a finalidade de preservar
a natureza e concomitantemente garantir e oferecer as devidas condições para reprodução e
melhoria da qualidade de vida e exploração dos recursos naturais dos povos tradicionais. Cabe
destacar que a RDS é uma Unidade de Conservação de domínio público, e as propriedades
particulares que estão inseridas no seu entorno, quando houver necessidade precisam ser
desapropriadas de acordo com a disposição da legislação ambiental. (Ministério do Meio
Ambiente, 2014).
Com a implementação das RESEX, também cria-se uma etnociência da conservação, a
qual sofreu influência dos movimentos socioambientais nas décadas de 1970 e 1980, nos
países tropicais, que se mostravam preocupados com a conservação e a melhoria das
condições de vida das populações tradicionais, que dependiam dessas Unidades de
Conservação para existirem.
No Brasil a etnociência acompanhou o surgimento e o fortalecimento do Movimento
dos Povos Indígenas, dos Seringueiros, dos Quilombolas com propostas de áreas protegidas
como as RESEX (DIEGUES, 1999, p.11).
Assim sendo, o conceito de populações tradicionais surgiu na Convenção 169 da
Organização Internacional do Trabalho e também na Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988. A Convenção 169 da Organização Internacional do trabalho é criada em
substituição a Convenção 107 da mesma organização. Esta última foi assinada em 27 de
junho de 1957, na sua 40a Sessão da Conferência Geral.
A Convenção 169 diferentemente da 107 classificava os indígenas e os povos tribais
em um contexto de integração. Desse modo, na Convenção 169, o Estado tornou-se parceiro,
São áreas habitadas por povos tradicionais que vivem na/da natureza, e esses sujeitos
lutam junto aos movimentos sociais, a fim de garantir a sua permanência no lugar,
conservando seus saberes e fazeres tradicionais, que fazem parte dos seus modos de vida
locais.
Para Santos (2008, p.27) “é no jogo das “interações” humanas, das “sensibilidades” e
dos “sentidos” que criamos e reproduzimos os modos de vida.”
Essas comunidades são povoadas por agricultores familiares, camponeses, pescadores
artesanais, geraizeiros e vazanteiros, e existem por meio do que produzem nessas áreas,
porém, estão ameaçados pelos grandes produtores rurais, os quais são detentores do poder e
do capital. Os sujeitos se mantêm no local, e resistem e lutam por sua permanência, e eles
Com todos os problemas e lutas que encaram, e com poucos recursos econômicos para
que ocorra o desenvolvimento de atividades extrativistas, essas comunidades rurais,
desenvolvem alternativas de vida a partir da organização e do trabalho coletivo, por meio do
uso de frutos e plantas medicinais (espécies oriundas do Cerrado).
De acordo com Souza (2014):
A tradição no trabalho coletivo, na partilha e na reciprocidade, no estar na
comunidade, no viver e produzir seus alimentos, no conflito e no confronto com
costumes rurais e urbanos que transcorrem a vida de agora, os identificam como
homens e mulheres que tem a vida ligada a terra. (SOUZA, 2014, p.165).
Os povos tradicionais que vivem nas áreas de preservação ambiental lutam pela
preservação do meio ambiente, além do direito de plantar, pescar, cultivar e colher alimentos
presando pelas relações de convivência com suas famílias. Sendo assim, ao preservar o
território eles manifestam sua territorialidade e mantém o seus valores humanos, costumes,
modos de vida tradicionais das comunidades que vivem nos lugares.
Essas comunidades enfrentam diversas dificuldades, sobretudo do setor do
agronegócio, em sua maioria são atores que não respeitam e tão pouco consideram os direitos
dos povos que lutam pela sua ancestralidade e tradicionalidade (SANTOS, 2012, p.16).
Portanto, para que a cultura dos povos tradicionais permaneça na mesorregião do
Norte de Minas Gerais, é fundamental que as Unidades de Conservação de Uso Sustentável
(RESEX) sejam institucionalizadas, garantindo a valorização da sociobiodiversidade e
conservação dos bens naturais de forma sustentável, além dos meios de vida e os modos de
vida dessa população.
Considerações finais
Agradecimentos
Agradecemos a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
(FAPEMIG), pelo apoio financeiro ao grupo de pesquisa do Laboratório de Geografia
Cultural e Turismo (LAGECULT) do Instituto de Geografia da Universidade Federal de
Uberlândia-MG, garantindo nossa participação no Simpósio Internacional de Geografia
Agrária (SINGA), a ser realizado em Curitiba-PR.
BORGES, V.C.; ALMEIDA, M.G. O Cerrado brasileiro além da pecuária, soja e da cana-de-
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