Luis Cláudio Figueiredo

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O TEMPO NA PESQUISA DOS PROCESSOS DE SINGULARIZAO. Lus Claudio M. Figueiredo.

A relao analtica, e o que acontece nela, est tanto dentro do Tempo quanto alm do Tempo. Est tambm fora do Tempo. (King, 1996) Apresentao preliminar A pesquisa dos modos e processos de subjetivao e de-subjetivao tem sido um dos meus interesses centrais nos ltimos 20 anos de vida acadmica e profissional. A partir do final da dcada de 80 meus trabalhos puderam se articular com os de outros colegas da PUC-SP. Formamos, ento, dentro do Programa de Ps Graduao em Psicologia Clnica um Ncleo de Pesquisas da Subjetividade. Desde 1993 comeamos, com a ajuda de nossos alunos, a publicar a revista Cadernos de Subjetividade. O termo subjetividade, seja como nome do Ncleo, seja no nome da Revista, no deixava nenhum de ns plenamente satisfeito, como nos relembra Alfredo Naffah (1995) e atualmente uma parte deste Ncleo, na qual me incluo, est organizado em um Ncleo de Pesquisas dos Processos de Singularizao, o que amplia o alcance da nossa temtica para darmos conta de fenmenos que, a rigor, implicam em processos de de-subjetivao. Na verdade, todos ns, por caminhos bastantes diferentes, vnhamos questionando em seu conjunto o que na modernidade se instalou como campo filosfico hegemnico, vale dizer, o campo das filosofias do sujeito ou filosofias da conscincia. Contudo, insistindo na diferena entre subjetividade, entendida como morada ou campo de experincias, em contraposio a uma de suas figuras histricas - a de sujeito e, mais ainda, a de sujeito individual - o termo ainda era o que mais se aproximava daquilo que nos podia unir. Talvez tivesse sido um pouco mais apropriado falarmos desde o incio em pesquisas da subjetivao, embora isto ainda fosse insuficiente para nos referirmos ao conjunto do que nos interessa pesquisar (o que inclui de-composies e des-alojamentos). De qualquer forma, como subjetivao implica necessariamente uma referncia a processos, evitaramos ao menos qualquer possibilidade de substantivar nossos objetos. Havendo adotado, porm, o termo subjetividade, colocava-se para ns, permanentemente, a necessidade de nos precavermos contra qualquer tendncia a substancializar esta noo. Neste momento, conviria anunciar que o presente trabalho representa uma das maneiras pelas quais, entre ns, a de-substancializao da subjetividade foi e est sendo operada. Uma caracterstica do Ncleo de Pesquisas da Subjetividade e dos Cadernos de Subjetividade, tal como foram concebidos, era a permanente interface da clnica - em especial, mas no exclusivamente, da clnica psicanaltica - com as diversas reas de saber nas quais as questes da subjetivao e da de-subjetivao so decisivas - a histria, a antropologia, a lingustica, a teoria da literatura, a crtica de arte e algumas importantes vertentes da filosofia contempornea. Bergson, Deleuze, Nietzsche e Heidegger foram estudados e trazidos de variadas formas para o nosso convvio e para os nossos trabalhos ao longo dos anos (3). Mais recentemente, Lvinas e Derrida tm estado igualmente em foco em nossas aulas e nas Dissertaes e Teses que orientamos. As questes Os estudos e pesquisas por ns realizados dedicam-se, prioritariamente, aos processos de subjetivao/de-subjetivao singularizantes em contextos scio-culturais especficos particularmente os da Idade Moderna e os da modernidade tardia no Ocidente e no Brasil - e aos processos de singularizao implicados e acionados na clnica psicanaltica. A grande questo, porm, a de pensarmos os cruzamentos destas duas linhas de pesquisa, o que nos conduz tanto a uma clnica do social como a interpretaes scio-culturais da clnica psicanaltica. Certos velhos temas da filosofia ocidental, retomados pelos filsofos acima mencionados, como o da realidade, o da verdade, o da conscincia e o do tempo, ao lado de outros temas que

receberam maiores atenes em perodos mais recentes, como o da linguagem, os da interpretao e da criao, tm sido uma preocupao constante em nossas elaboraes, sendo que estas preocupaes, muitas vezes explicitadas em alguns textos, sempre comparecem como pano de fundo e condio de possibilidade de todos os trabalhos. Dificilmente conseguiramos enveredar pelas trilhas de pesquisa dos processos de singularizao sem o retorno a estas questes filosficas. O que pretendo delinear neste trabalho uma apresentao resumida de um dos campos problemticos em que as meditaes filosficas de Martin Heidegger, Emmanuel Lvinas e Jacques Derrida propiciam melhores horizontes para tratar dos meus temas. O problema a que dedicarei os prximos pargrafos : como conceber o tempo e a realidade para que se possam pensar as questes dos processos de subjetivao/de-subjetivao singularizantes, muito especialmente tal como se do na contemporaneidade e na clnica psicanaltica? Desde uma conferncia proferida em 1924 (O Conceito de Tempo) e, principalmente, passando por seu seminrio de 1925 sobre o conceito de tempo que resultou no tratado de 1927, considerado uma das grandes obras de toda a filosofia ocidental - Ser e Tempo - a questo da temporalidade e da historicidade ocupou um lugar proeminente no pensamento de Heidegger ([1924] 1983, [1925] 1985, [1927] 1989). Vale lembrar que uma de suas ltimas palestras - seguida de um seminrio em seis aulas - data de 1962 e tem como ttulo exatamente Tempo e Ser (Heidegger, [1962] 1990). Ou seja, pelo menos 40 anos de meditao acerca do tempo. Da mesma forma, toda a obra de Lvinas ([1961] 1971, 1974, 1993) e a de Derrida ([1967] 1995) tematizam ou atravessam as questes das temporalidades e da temporalizao. claro que no poderia pretender no curto espao de um artigo tratar destes temas em detalhe, acompanhando seus desdobramentos nas obras destes trs pensadores (4). Decidi, ento, por uma apresentao com o mnimo de erudio e com o mnimo de referncias. Meu objetivo ser o de, primeiramente, colocar a questo para logo, e um tanto dogmaticamente, expor o que poderia ser seu equacionamento a partir das tradies heideggeriana, levinasiana e derridiana que, contudo, no sero elas mesmas expostas nem sistematicamente, nem em suas diferenas, em muitos aspectos, bastante profundas. No entanto, o sentido deste texto ficaria obscuro caso no tentasse mostrar ao final, mesmo que resumidamente, algumas das possveis incidncias destas meditaes filosficas em momentos decisivos das pesquisas dos processos de subjetivao/de-subjetivao singularizantes. Ser a isto dedicada a ltima parte deste pequeno trabalho. A herana Faz parte da nossa milenria herana intelectual atribuir ao que verdadeiramente , ao que nos aparece como indiscutivelmente sendo, uma presena plena: o que foi... j no ; o que ser... no ainda; ao que parece, ser implicaria em manter-se na plenitude de uma presena estvel e constante, manter-se numa identidade e numa pura coincidncia consigo mesmo, como a das idias platnicas, a de Deus na tradio crist e a do sujeito transcendental na Idade Moderna (5). Esta a velha lio da metafsica em que, independentemente de sermos filsofos e termos lido os gregos, os medievais e os modernos, vivemos todos sem nos darmos conta e sem nenhuma ponta de dvida. esta a essncia do que muitos denominam platonismo. No entanto, o que hoje para ns pertence ao senso comum e no parece exigir nem permitir qualquer discusso - parece to evidente que o que e o que no no - vem merecendo uma ateno muito concentrada e problematizadora entre alguns filsofos contemporneos, a comear por Bergson. De diversas maneiras e por diferentes caminhos vem sendo encaminhada a crtica e a superao do que a partir de um destes filsofos - Martin Heidegger - pde ser chamado de metafsica da presena, termo que veio a ser retomado com finalidades cada vez mais polmicas por Lvinas e Derrida . De acordo com esta compreenso fundamental do que verdadeiramente como sendo numa presena plena e sem brechas, o passado e o futuro seriam, ou bem inexistentes ou bem, na melhor das hipteses, apenas modos derivados e inferiores de ser. Da se formam as grandes interrogaes acerca da natureza do tempo, tais como j as encontramos em Aristteles (Fsica, Livro VI, 1986) e vamos reencontrar em santo Agostinho (Confisses, Livro XI, [396] 1987). Nos dois autores, em que pese uma diferena bsica entre a interpretao objetivista em Aristteles - o

tempo a medida do movimento - e a interpretao subjetivista no bispo de Hipona - o tempo um fenmeno da alma que se distende - o tempo parece equilibrar-se numa posio instvel entre ser e no-ser, constituindo-se, nas palavras de Aristteles, de partes inexistentes (que j ou ainda no so, passado e futuro), partes estas divididas e reunidas pelo que nem parte do tempo , o instante, o presente em sua efemeridade esvanescente. Na verdade, o tempo como trnsito, passagem e diferenciao introduziria um elemento nocivo a ser evitado por quem deseja manter-se no ser: se ser ser-agora, a plenitude mxima seria alcanada pelo que, fora do tempo, sempre-agora, pelo que eterno. Chame-se este eterno por qualquer nome, o certo de que se trata sempre de alguma figura da divindade ou a ela assemelhada e que representa o ente supremo, como fundamento de todos os entes, razo pela qual a toda esta tradio filosfica Heidegger denomina de onto-teo-logia (6). Nada muda essencialmente quando passado e futuro so mitificados, tornando-se, ou bem a origem plena, ou bem o fim totalizante da histria. Ou seja, os historicismos no esto necessariamente imunes metafsica da presena com sua valorizao da permanncia e da eternidade. No primeiro caso, o da mitificao das origens, a passagem do tempo concebida ou experimentada como um processo de degradao, queda e/ou afastamento da origem e, por isso, necessrio interromper esta passagem e reiniciar o tempo para reinstalar o ser na sua mxima potncia. Seria esta a funo do retorno s origens, tal como pensadas nas narrativas mticas, retorno promovido pelos rituais e pelas festas que assinalam e instituem a ciclicidade do tempo nas civilizaes fechadas. Mesmo fora do pensamento mtico, porm, uma historiografia que conceba o trabalho do historiador (ou do bigrafo) como a busca de um passado original que d conta do presente, passado do qual o presente possa ser extrado, compartilha os mesmos pressupostos da metafsica da presena em qualquer das suas verses. A narrativa, mtica ou histrica, receberia, como veremos adiante, a incumbncia de trazer presena o que, mesmo j no sendo presente, permanece como uma espcie de presente em outro lugar, presente em outro momento, um presente agora aqui ausente mas ainda assim (re)-a-presentvel (7). No segundo caso, o do futuro mitificado, a passagem do tempo a aproximao lenta e anunciada do ser no seu apogeu, na sua plena presena. Todas as doutrinas religiosas acerca do advento da plena presena do messias e acerca do final dos tempos e da salvao definitiva das almas, finalmente postas em sossego na presena plena de Deus - tais como as encontramos na tradio crist pertencem, obviamente, ao mesmo campo metafsico. A fenomenologia do esprito hegeliana e a filosofia da histria de Hegel presidida pela razo dialtica o exemplo mximo desta pretensa reconsiderao do tempo que, muito ao contrrio, apenas repete dissimuladamente nos quadros de uma modernidade que j no pode desvencilhar-se facilmente da histria, a mesma metafsica da presena (8). Vale lembrar, ainda, que as ressonncias crists e hegelianas naquele marxismo otimista e progressista, que tanto marcou os estudos sociais e histricos no sculo XX, vieram a se constituir em um dos mais fortes basties da velha e da nova metafsica da presena no pensamento contemporneo. Na verdade, seja na utopia nostlgica de uma origem perdida, seja na utopia messinica de uma totalizao ou completude prometida, a crena bsica permanece a mesma: houve ou haver um perfeito agora como residncia privilegiada do ser. por isso que as duas orientaes podem se reunir numa experincia circular e cclica do tempo: o que j foi plenamente, plenamente retornar. As incidncias da herana no campo dos saberes e a questo da temporalidade Embora j tenhamos antecipado algumas idias sobre a incidncia da tradio metafsica herdada no campo dos saberes, tratarei aqui de explicit-la um pouco mais detidamente. De acordo com a metafsica da presena, caberia s cincias - em particular s cincias da modernidade - tornar as presenas-ausentes acessveis e atuais mediante as representaes, vale dizer, os sistemas conceituais tericos: as representaes trariam de volta presena - nas narrativas

histricas cientficas (reconstrutivas) - o que j foi (j era); de outro lado e principalmente, as representaes atrairiam nossa presena - pelo clculo - tanto o que necessariamente j foi como o que ainda no plenamente, mas vir necessariamente a ser daqui a pouco. Todas estas operaes representacionais, rememorativas ou antecipadoras, tm como pressuposta a metafsica da presena e uma de suas consequncias: a concepo do tempo como linear, contnuo, unidirecional, recupervel e previsvel. O tempo seria, assim, o desdobramento homogneo de um sempre-mesmo processo e, nesta medida, poderia ser vasculhado e resgatado a qualquer momento deste processo. Os sistemas de representao da modernidade seriam, deste modo, os dispositivos estratgicos de conjurao do tempo e de colocao de todas as coisas passadas, presentes ou futuras disposio do sujeito, ou seja, na sua presena. Tal foi a linha dominante de desenvolvimento cientfico na Idade Moderna que nesta medida apenas colocava um novo e potente equipamento disposio das consideraes agostinianas sobre o tempo e a narrativa. A maneira de Santo Agostinho conceber o presente como um presente estendido, formado e assegurado pela memria presente do passado e pela esperana presente do futuro, ambas articuladas narrativamente viso presente do presente, confirmada e aprofundada com os imensos dispositivos representacionais que a cincia moderna parecia estar colocando a servio dos homens para as mais perfeitas operaes de reconstituio do passado (csmico, geolgico, paleontolgico, etc.) e previso do futuro. As frmulas matemticas do clculo teriam ainda sobre as narrativas histricas a inestimvel vantagem de se subtrairem completamente a qualquer temporalidade: se as narrativas renem no presente estendido presente, passado e futuro elas, de qualquer maneira, desdobram-se no tempo, ou seja, tm a sua prpria temporalidade sendo em si mesmas fenmenos intra-temporais; j as frmulas do clculo condensam na sua suposta instantaneidade todos os momentos do mundo e parecem assim realizar a proeza quase divina de trazer de uma s vez - num piscar de olhos - todos os fatos ao presente infinito e atemporal dela mesma. A famosa bravata de Laplace, vangloriando-se de que, dadas as informaes necessrias acerca de um dado momento na histria csmica, seria capaz de reconstruir todo o seu passado e antecipar todo o seu futuro, exemplar do alcance e da profundidade da confiana moderna no presente estendido, a mais bem sucedida realizao da humanidade temporal na imitao da divina eternidade (9). Algumas vezes, contudo, a Idade Moderna - geralmente e com justia concebida como a poca urea dos dispositivos representacionais (10) - viu gestar-se nela mesma a frustrao das grandes expectativas nos poderes re-presentadores das representaes; como se algo e, quem sabe, o mais importante, tivesse ficado de fora do campo representacional. Esta desconfiana e este mal-estar o que se expressa, por exemplo, em todos os movimentos romnticos que, embora tenham-se consolidado no sculo XIX, j desde meados do XVIII at os dias de hoje so ingredientes decisivos de nossa configurao cultural, seja nas suas vertentes conservadoras e passadistas, seja nas suas vertentes revolucionrias. Em todos os Romantismos e pr-romantismos (a comear por Rousseau, como o demonstram as anlises magistrais de Derrida na Gramatologia, [1967] 1973) se procura, para alm do representacional - no multifacetado sentido de representaes conceituais, representaes polticas e representaes de si - uma experincia autntica de vivncia e de restaurao do vivido, uma autenticidade sempre ameaada de corrupo. Ora, o que continua comandando todas estas operaes de renegao das mediaes representacionais em prol de um i-mediato retorno ao vivido (11) a velha metafsica da presena e seus pressupostos: basicamente, a crena no agora plenamente significativo e anterior ao tempo como passagem, trnsito e diferenciao. No preciso, creio eu, assinalar como uma boa parte do universo psi est completamente impregnada por esta verso romantizada da metafsica da presena, o que, por outro lado, no um privilgio seu, pois isso verdadeiro tanto para todos os movimentos de contracultura - em que os discursos e prticas psi sempre encontraram excelente acolhida -, como para a chamada cultura do narcisismo em que as psicologias, igualmente, esto muito bem implantadas. Em ambas as variantes da contemporaneidade busca-se, embora de formas distintas, uma coincidncia do si consigo mesmo, uma auto-coincidncia sem mediaes nem disperses nem restos, busca-se a

agoridade de uma existncia sem lembranas nem promessas para a qual os pressupostos da metafsica da presena soam como naturalmente inteligveis e cabem como uma luva. Novos rumos para a pesquisa da singularizao: a crtica da conscincia reflexiva e o descentramento do sujeito Fazer a crtica e superar a metafsica da presena implica em pr em questo os supostos privilgios do presente e isso se d, primeiramente, mostrando (como o fizeram Heidegger, Lvinas e Derrida por trajetos distintos e progressivamente mais radicais) que cada presente est nele mesmo fraturado, como cada simples e plena presena nada tem de plena nem de simples: traos e vestgios, de um lado, antecipaes, de outro, fazem de cada presena uma heterogeneidade, ou seja, fazem de cada presente algo diferente de si mesmo, fazem de cada identidade uma composio heterognea de alteridades constitutivas. Se estas questes ocuparam e ocupam filsofos do porte de Heidegger, Lvinas e Derrida e incidem vigorosamente sobre todo o campo cultural da atualidade, elas me parecem ainda mais fecundas e decisivas quando lanam seus raios sobre o campo das pesquisas dos processos de subjetivao/desubjetivao singularizantes. Aonde quer que se trate de focalizar estes processos - ou seja, os processos de constituio e destituio dos campos singulares da experincia humana - a velha metafsica da presena o principal obstculo a ser demolido. De uma certa forma e intuitivamente, os melhores textos biogrficos e memorialsticos conseguem, ao menos, reconhecer os problemas: preciso contar a histria de uma vida sem dar a impresso de que se est diante de uma sucesso linear, unidirecional e necessria de momentos, cada um deles sendo tomado como um simples e plenamente significativo agora disponvel para uma percepo e/ou para uma rememorao plenamente significativa. preciso garantir nesta histria lugares para acasos e imprevisveis, lugares para rupturas, lugares para saltos adiante, para retornos e ressignificaes e tambm lugares para lacunas insuperveis. preciso evitar a tentao de fazer da existncia de algum um processo meramente aditivo ou subtrativo de atributos que se agregariam ou descartariam de uma substncia permanente e, no fundo, impermevel: o si-mesmo do biografado entendido como identidade. preciso, enfim, de-substancializar completamente a subjetividade e, como veremos adiante, caminhar para uma nova compreenso de experincia. Lembro-me, a propsito, de Gethe, em suas memrias (Poesia e Verdade, [1812] 1986) dizendo que no poderia concentrar nas pginas dedicadas infncia tudo de importante sobre o perodo porque algumas dimenses da infncia s merecem e admitem ser narradas quando se fala da idade adulta e se contam acontecimentos que no decorrem naturalmente do passado at ali rememorado. Em outras palavras, h uma dimenso genuna do infantil cujo sentido se constitui apenas na posterioridade da infncia. Algumas dimenses deste infantil, de se supor, talvez to ou mais importantes quanto s que fazem sentido no s-depois, jamais podero ser narradas. Em suma: assim como h acontecimentos imprevisveis se olhados desde uma infncia bem contada, haver fatos de um passado absolutamente irrecuperveis. Como se pode perceber, o que est em jogo nesta questo a prpria idia de uma origem qual se poderiam reconduzir as cadeias de futuros acontecimentos. De forma ainda mais radical, o que est em jogo a prpria possibilidade de pensarmos a experincia como algo simples, fundante e elementar, como algo que se pode conter, por exemplo, no conceito de percepo. Ora, se de acordo com a metafsica da presena o que , no presente, a forma superior do ser seria a da absoluta coincidncia do presente consigo mesmo, ou seja, a presena-a-si-da-presena. Esta a essncia da conscincia reflexiva, da representao que cada um de ns tem de si mesmo: penso, logo existo. Toda a tendncia dominante da filosofia ocidental moderna o desdobramento deste tema: o sujeito reflexivo - perceptivo, auto-perceptivo e auto-narrativo - seria a forma superior e o fundamento de tudo que verdadeiramente . A isto poderamos chamar de cartesianismo. De outra parte, o que Gethe sugere nas suas memrias a necessidade de romper com o primado da conscincia reflexiva para escrever uma histria de vida, admitindo que h, em cada presente muito que escapa para frente e para trs, abrindo espaos para o irrepresentvel: o passado

irrecupervel e o futuro imprevisvel - incidindo ambos no agora, abrindo o espao e dando o tempo para o presente mas, no mesmo ato, fraturando-o - no se submetem fora e ao controle das representaes porque no podem mais ser concebidos como contidos em uma presentao perceptiva unvoca ou numa narrativa integrada e completa. Mas preciso ir adiante e afirmar que em nenhum momento houve [como origem], h [como atualidade], ou haver [como totalizao], um agora que em sua plenitude possa ser vivido, revivido ou ante-vivido numa pura autenticidade. A experincia elementar e bsica da ordem da fico; toda experincia construda ou, melhor dizendo, toda experincia em construo. Isto significa, porm, em consequncia e em contrapartida, que toda experincia implica, igualmente, em destruio, em perdas de formas e figuras e, portanto, em luto. E ainda h o que no se perde nem se cria, repetindo-se cegamente na experincia. Ou seja: a temporalidade da existncia no diz respeito apenas sua formatividade - o que est bem assentado nas teorias construtivistas do self que procuram dar conta dos processos de subjetivao. preciso, igualmente, acentuar tanto os momentos desconstrutivos implicados na experincia, as perdas e ausncias a que uma experincia nos submete, ou seja, os processos de-subjetivantes que nos levam para alm da ontologia, como os elementos resistentes que escapam aos processos de transformao e de historicizao. Assim sendo, se, como havamos anteriormente afirmado, no h como representar as ausncias inerentes ao presente trazendo-as simplesmente presena, no h, tambm, qualquer esperana de intuir o presente sem alguma mediao - numa percepo unvoca, por exemplo - pela simples razo de que o presente constitui-se de e como diferena de si - perda, resgate e antecipao - ou seja, internamente mediado sem que este processo rume e se conclua numa sntese definitiva e englobante. Melhor dizendo: o presente no tem internamente nada a no ser os seus outros, o que uma maneira de afirmar que, a rigor, o presente no possui qualquer interior e que ele existe apenas numa cadeia infinita e instvel dos vestgios, resistncias e remisses que o significam, ressignificam e destituem de significao. Seus signos no lhe so externos, como representaes duplicantes e meramente adicionais de um dado presena, mas, ao contrrio, o constituem. Ou seja, a cada momento o que se d, deu ou dar como agora est necessariamente atravessado por vazios, aberto aos irrepresentveis, e, de outro lado, estruturado indispensavelmente pelos signos - que s significam na cadeia de suas diferenas - no tendo jamais um sentido fechado e definido que se esgote nele mesmo e possa ser plenamente a matria de uma vivncia ou de uma intuio imediata. Por isso, se a conscincia reflexiva no assegura a coincidncia da presena consigo mesma, necessrio tambm reconhecer que nenhuma intuio imediata da vida, nenhuma percepo, nenhuma empatia ou revivncia realiza a proeza de garantir a presena a si da presena. claro que a noo de inconsciente da psicanlise consolida uma intuio como a de Gethe e nos desafia a repensar tudo que supomos saber sobre a existncia humana. preciso, porm, acentuar a diferena entre a noo psicanaltica de inconsciente e a sua via de conhecimento - a interpretao analtica - das noes e procedimentos aparentados, oriundos dos movimentos romnticos. O inconsciente dos romnticos faz parte de uma crtica ao imprio das representaes e da razo, mas pertence sem dvida ao campo da metafsica da presena; ele seria inclusive, tanto na sua ao como no conhecimento que propicia e requer, a figura mais plena e imediata da presena. O inconsciente psicanaltico, ao revs, postula e exige uma impossibilidade de presena plena, a impossibilidade de um vivido auto-suficiente, de um agora plenamente significativo, de uma evidncia aberta qualquer intuio e neste sentido que Ricoeur (1978) pde dizer que a psicanlise uma anti-fenomenologia (12). O inconsciente psicanaltico no veio absolutamente para ocupar um lugar central, para assumir uma posio de origem da histria ou de fundamento da experincia (funcionando como um texto subliminar que organizasse dos bastidores os jogos da conscincia), mas, ao contrrio, para destituir a subjetividade de qualquer centro e de qualquer originariedade, problematizando em definitivo a prpria noo de experincia. O inconsciente no como um texto escondido de ns mas presente alhures; o inconsciente psicanaltico no se presta ao jogo da presena e da ausncia; diz-se o inconsciente designando o que jamais se d em presena, ou seja, marcas, rastros e pegadas do que por ali passou deixando suas passadas e que exigem e impem o trabalho, sempre realizado a posteriori, de constituio do sentido (13). Trabalho que, mesmo na repetio, produz singularidades e que, mesmo na secundariedade da marca,

original. Assim que o conceito psicanaltico de Nachtrglichkeit (posterioridade), afirmando a constituio - e as re-constituies - do passado no s depois deve ser expandido para dar conta da prpria dinmica constitutiva da suposta vivncia presente, apontando ento, insistentemente, para a necessidade de uma outra concepo de tempo e para a considerao do que ultrapassa a questo ontolgica (o que ?), inadequada para conter o que, como pura exigncia e apelo de sentido (Freud, [1899] 1976), apenas na posteridade vem a ser. Vale assinalar que, recentemente, Andr Green em um livro exclusivamente dedicado ao tempo em psicanlise e que recebeu o ttulo altamente sugestivo de Le Temps clat (2000), sem fazer referncias explicitas aos autores da desconstruo da metafsica da presena (14) e mantendo-se estritamente no campo da teoria e da clnica da psicanlise, elaborou o conceito de hterochronie para se referir justamente a este clatement do tempo que a psicanlise produz, pressupe e requer e que, no meu entender, pode encontrar uma interlocuo privilegiada com os filsofos com que tenho trabalhado. Contemporneo, extemporneo e con(tra)temporneo: acerca das nossas subjetividades Estas consideraes, que se impem a qualquer tentativa de estudar os processos de subjetivao/desubjetivao singularizantes e, em particular, o que se passa nas experincias da clnica psicanaltica, parecem ainda mais urgentes quando se trata de focalizar as subjetividades contemporneas. Em diversos trabalhos - particularmente no livro A Inveno do psicolgico. Quatro sculos de subjetivao (1500-1900) (Figueiredo, [1992] 2002), mas tambm no artigo sobre Foucault e Heidegger que apresentei no Simpsio sobre o pensamento de Michel Foucault (Figueiredo, 1995) venho desenvolvendo uma anlise das subjetividades modernas e contemporneas que as mostra melhor dizendo, nos mostra - como essencialmente divididos entre trs eixos ticos, o do Liberalismo, o do Romantismo e o das Disciplinas. Cada um de ns assim constitudo e habitado, simultaneamente, por trs diferentes modos de estabelecer contato consigo mesmo, com sua mente, com seu corpo, com sua histria e com todos os demais sujeitos, objetos, tarefas, ideais, etc. Muito resumidamente eu diria que enquanto a tica liberal nos exige uma constituio subjetiva marcada pela soberania da vontade e da conscincia, vale dizer, pela autonomia, a tica romntica nos empurra na direo da singularidade, da espontaneidade, da impulsividade, enquanto a tica disciplinar nos impe a obedincia e a funcionalidade. Embora cada uma destas ticas comporte uma determinada nfase temporal, as trs so presididas pela metafsica da presena: o sujeito autnomo/soberano, o singular/impulsivo e o funcional/disciplinado so trs figuras alternativas da identidade auto-coincidente. No posso aqui mostrar como estes trs eixos axiolgicos e normativos, que correspondem a trs modos de subjetivao, se articulam de forma auto-contraditria, excluindo-se e, ao mesmo tempo, engendrando-se uns aos outros, o que j fiz nos textos mencionados. O que quero acentuar que nas condies atuais de vida em que os processos de subjetivao desdobram-se simultaneamente nestas trs direes, colocam-se desafios intransponveis para um conceito pr-crtico de experincia e para a noo de tempo que lhe est associada, exigindo efetivamente a considerao da heterocronia de que nos fala Andr Green. Conforme Walter Benjamin nos ensinou em seus trabalhos sobre a narratividade ([1936] 1985), a experincia no sentido tradicional do termo (em alemo Erfahrung), aquela experincia que pode ser acumulada e transmitida de pais para filhos, aquela que a sabedoria de quem muito viu e viveu e que pode ser contada em momentos privilegiados - a experincia do velho na hora da morte, a do arteso que muito praticou e agora forma seus discpulos, a do viajante que retorna de uma longa ausncia - estas experincias modelares desaparecem quando se estilhaam os quadros e os processos sociais que estabilizavam as existncias de grupos e indivduos e proporcionavam as condies bsicas das narrativas e dos conselhos (15). Narrativas e conselhos dados de viva voz e que por isso tinham a autoridade de uma presena plena e viva, sendo tanto expresses como, antes de tudo, constitutivas da experincia.

Foi tambm Benjamin ([1933] 1985, [1936] 1985) que viu que a quebra deste mundo intra e intergeracional compartilhado lanou o homem da modernidade tardia numa valorizao das vivncias (em alemo Erlebnis), ntimas e dificilmente compartilhveis mas, ao menos, supostamente, ricas de sentido, intensas em termos afetivos e autnticamente verdadeiras. A existncia poderia ser ento pensada como uma sucesso destas vivncias significativas. Vale aqui recordar que a valorizao da intimidade como espao privilegiado da presena-a-si na modernidade tardia foi muito bem identificada por autores como Richard Sennett (1978) e Anthony Giddens (1990, 1991, 1992). No plano literrio, uma narrativa que incorporasse e expressasse estas vivncias ntimas com toda a sua autenticidade foi o desafio a que teve de responder a lrica e a fico entre os meados dos sculos XIX e XX. Ora, a questo que se coloca Benjamin e que pode ser retomada no quadro da anlise em curso o da precariedade crescente de toda e qualquer narratividade, em outras palavras, a precariedade da experincia nos dois sentidos acima aludidos e a problematizao crescente de todas as modalidades do contar. O emudecimento dos poli-traumatizados pelas guerras foi a base das consideraes benjaminianas. A impossibilidade de falar sobre e a partir da experincia de uma forma simples, contudo, vai muito alm destas situaes extremas. A obra de Marcel Proust uma das mais ricas respostas a estas novas condies de problematizao radical da experincia. A disperso da subjetividade, sua auto-contradio insolvel, sua opacidade irredutvel e suas bizarras temporalidades (heterocrnicas) retiraram tambm da vivncia ntima e, mais ainda, da sucesso de vivncias, a unidade mnima de sentido, a identidade consigo mesma que possibilitaria a elas serem ditas e intudas. Nesta medida, no se deve atribuir ao acaso o fato de que nestas mesmas condies scio-culturais em que a experincia tendia a se desintegrar, pudessem ter-se constitudo tanto as filosofias que rompem com a metafsica da presena, como uma forma de lidar com isto - que por falta de termo melhor ainda chamamos de experincia - como a psicanlise. A psicanlise nasce e impe-se quando nem as formas tradicionais de narratividade, nem as intuies introspectivas e seus correlatos literrios - mesmo os mais complexos, como os da obra proustiana encontram material suficientemente bom para operar. Conforme nos interpela Jeanne-Marie Gagnebin: ...como descrever esta atividade narradora que salvaria o passado, mas saberia resistir tentao de preencher suas faltas e de sufocar seus silncios? Qual seria a narrao salvadora que preservaria, no obstante, a irredutibilidade do passado, que saberia deix-lo inacabado, assim como, igualmente, saberia respeitar a imprevisibilidade do presente? (Gagnebin, 1994: 72) Estas questes que se colocam literatura ficcional contempornea incidem de forma to ou mais incisiva na prtica psicanaltica e encontram expresso radical nas filosofias que investem contra a metafsica da presena. Efetivamente, para pensar e enfrentar esta simultaneidade auto-contraditria era indispensvel romper com a metafsica da presena e com sua aposta na unidade e na identidade simples dos seres, assumindo a heterocronia. Em outras palavras: creio que para pensar o contemporneo seja necessrio, em primeirssimo lugar, pr em questo a prpria noo de contemporaneidade (16). Alis, sem irmos muito fundo, basta olhar em torno e reparar na incidncia macia e desconcertante das ondas nostlgicas aliadas aos mais descabelados propsitos futuristas na nossa configurao cultural para descobrirmos o que h de extemporneo e mesmo de contratemporneo naquilo que chamamos de contemporneo. No difcil, igualmente, reconhecer a impossibilidade de aplicarmos categoricamente certos atributos temporais a qualquer fenmeno scio-cultural: o que passa como revolucionrio ao mesmo tempo conservador, o que passa como ruptura ao mesmo tempo continuidade e retorno, etc. Foi por isso que decidi recorrer ao conceito de diferana (ou diferncia, segundo alguns tradutores), proposto por Jacques Derrida, para pensar o princpio de heterogeneidade que habita nossas subjetividades ex-contra-temporneas (Figueiredo, 1995a). Liberalismos, Romantismos e Disciplinas so, cada um deles, os diferendos dos outros, ou seja, extemporneos e contratemporneos aos demais e apenas neste jogo temporal complexo - em que o passado pode vir depois do futuro - eles podem ser considerados.

Gostaria, ainda, de acrescentar que ao tentar complementar minhas pesquisas sobre os modos excontra-temporneos de subjetivao ocidental com estudos sobre as subjetividades brasileiras deparei-me, novamente, com a necessidade de romper com a metafsica da presena. No novidade para os estudiosos da cultura brasileira a questo das duplicidades. Em linhas nem sempre coincidentes e concordantes autores como Srgio Buarque de Hollanda, Roberto Da Matta, Antnio Cndido, Roberto Schwarz e muitos outros vem tratando de pensar como se repartem e se articulam nas subjetividades brasileiras cdigos modernos e marcados pelo individualismo em suas mltiplas verses (cdigos eles mesmos, como se viu acima, complexos e contraditrios) e cdigos prmodernos e relacionais de conduta. Foi no contexto destas questes que, partindo de uma sugesto de Schwarz, tenho me dedicado elaborao do conceito de impropriedade como algo constitutivo de nossas subjetividades. Parece-me que a impropriedade no o que nos aflige e assola e no devemos dar ao termo qualquer sentido de privao e deficincia. A impropriedade deve ser entendida como um dos nossos modos de ser/no ser: ser como impropriedade. No meu artigo Para Ingls Ver (1995b) e, mais ainda, no texto A lei dura, mas... Para uma clnica do legalismo e da transgresso (1996), tentei pensar alguma coisa da ordem da nossa ex-contra-temporaneidade: a ciso constitutiva, e no acidental, entre nossos discursos e nossas prticas, entre nossas crenas e nossos investimentos nos aparatos discursivos, acadmicos, legais, etc. e nossas realidades e aes. No o caso agora de expor a lgica destas impropriedades, apenas gostaria de assinalar o quanto a elaborao deste conceito tributria da destruio da metafsica da presena. Sem esta destruio eu jamais seria capaz de conceber um ente que traga a no coincidncia inscrita no seu modo de ser. Enfim, para encerrar, quero apenas reafirmar que julgo indispensvel uma nova ontologia, isto , uma nova compreenso do que a realidade e, indo mais longe, um passo para alm da ontologia na direo de uma nova noo de tempo, para que, livres da metafsica da presena, possamos dar aos processos de subjetivao/de-subjetivo singularizantes, em especial aos que ns prprios vivemos, alguma - sempre precria - visibilidade. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS Aristotle. (1986). The Physics, Book I-IV. Boston: Harvard University Press. Agostinho, S. (396/1987). Confisses. So Paulo: Ed. Nova Cultura. Benjamin, W. (1933/1985). Experincia e pobreza. Em Obras Ecolhidas I. So Paulo: Brasiliense, p.114-119. ___________ (1936/1985). O narrador. Consideraes sobre a obra de Nicolai Leskov. Em Obras Ecolhidas I. So Paulo: Brasiliense, p.197-221. Costa, J. F. e cols. (1994). Redescries da psicanlise. Rio de Janeiro: Relume Dumar. Coutinho, A. R. (1995). A questo da subjetividade: justificativa de uma abordagem transdisciplinar baseada na pragmtica. Cadernos de Subjetividade, 3, 315-340. Derrida, J. (1967/1995). Freud e a cena da escritura. Em Escritura e diferena. So Paulo: Perspectiva, p.179-226. ________ (1967a/1973) Gramatologia. So Paulo: Perspectiva. ________ (1972/1991). A diferena. Em Margens da Filosofia. Campinas: Papirus, p.33-64. Figueiredo, L. C. (1992/2002). A inveno do psicolgico. Quatro sculos de subjetivao (15001900). So Paulo: Escuta. _____________ (1995). Os Lugares das Psicologias. Revisitando as psicologias. Da epistemologia tica dos discursos e prticas psicolgicos. Petrpolis: Vozes/Educ. _____________ (1995a). Foucault e Heidegger. A tica e as formas histricas do habitar e do no-habitar. Tempo Social, 1995a, 7, 139-149. _____________ (1995b). Para ingls ver. Cadernos de Subjetividade, 1995b, 3, 355-364. ____________ (1996). A lei dura, mas... Para uma clnica do legalismo e da transgresso. Sociedade e Estado, 1996, 11, 57-74. ____________ (1997). O interesse de Lvinas para a psicanlise: Desinteresse do rosto. Cadernos de Subjetividade, 1997, 5, 39-52. Freud, S. (1899/1976). Sobre los recuerdos encobridores. Em Obras Completas III. Buenos Aires: Amorrortu, p.291-316.

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7- em santo Agostinho que encontramos as bases para esta considerao do tempo articulado narratividade: a memria presente dos fatos passados, a viso presente dos fatos presentes e a antecipao presente dos fatos futuros esto costuradas umas s outras formando o presente estendido e dando alma sua distenso mediante as artes da narrativa histrica e biogrfica (Lloyd, 1993). 8- A dissimulao corre por conta de uma dialtica que s admite a contradio na condio de, antecipadamente, saber que pode resolv-la numa sntese que supera resgatando/conservando em si os contrrios e, assim, subsumindo o tempo dos processos na lgica de um sistema. Trata-se da famosa Aufhebung hegeliana que reaparece no messianismo marxista. 9- Convm, de certo, assinalar que as cincias contemporneas - a nova fsica e a nova biologia - j no esto comprometidas com esta posio e tanto exigem como sugerem, elas mesmas, novas perspectivas para pensar o tempo. 10- Estes dispositivos representacionais impuseram-se em todos os redutos da experincia, desde a dimenso poltica da vida social at as dimenses tica e esttica da modernidade. Devemos, portanto, no contexto desta discusso, dar ao conceito de representao o seu maior alcance e abrangncia. 11- Termos como empatia, intuio e participao fazem parte do arsenal romntico de resgate do vivido em sua suposta imediaticidade. Em todos eles ressoa o velho termo de extrao religiosa comunho. 12- Esta discusso est baseada em textos de Derrida, entre os quais e principalmente "A diferena ([1972] 1991). 13- Sugiro, entre muitos outros possveis o texto de Freud sobre as Lembranas Encobridoras ([1899] 1976) para que se veja em detalhe a hiptese freudiana acerca da constituio do sentido como resposta ao apelo ou exigncia feitos pelas marcas mnmicas. 14- Mas sabemos que ele no ignora a obra, por exemplo, de Derrida, pois foi justamente para um Seminrio de Green que Derrida preparou um dos seus mais importantes textos sobre a psicanlise: Freud e a cena da escritura ([1967] 1995). 15- Para toda esta digresso me vali do texto de Jeanne-Marie Gagnebin No contar mais? (Gagnebin, 1994). 16- Devemos renunciar, inclusive, a uma noo de poca ou de idade ainda comprometida com a metafsica da presena e com suas noes acrticas de simultaneidade e de contemporaneidade. Mostrar, por exemplo, como a Idade Moderna gera seus prprios refugos, seus prprios dejetos, dos quais nascem desafios ao mesmo tempo insuperveis e inevitveis - como o caso da prpria psicanlise - foi o que tentei no captulo Os lugares das psicologias (Figueiredo, 1995). Penso que em Jamais Fomos Modernos, Bruno Latour ([1991] 1994) desenvolveu uma argumentao convergente, embora partindo de outras bases e lhe dando um maior alcance. FIGUEIREDO, L.C. O Tempo na pesquisa dos processos de singularizao. Psicologia Clnica. Rio de
Janeiro.

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