Trabalho Final A.da Justiça

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ESCOLA SUPERIOR DE GOVERNAÇÃO

Licenciatura em Administração Pública


3º ano, Laboral

Administração da Justiça

Trabalho em grupo

Tema:

Sistema da Administração da Justiça no contexto da Constituição de 1990

Discentes:

Ana Benjamim Pedro José

Chidio dos Santos Francisco Sitoe

Edna Marcos Mahumane

Yure Jonas José

Docente:

Dr. António Patrício Daniel

Maputo, Agosto de 2023


Índice
I. Introdução ........................................................................................................................................... 3
1.1. Objectivos ............................................................................................................................................. 4
1.1.1. Objectivo geral .............................................................................................................................. 4
1.1.2. Objectivos específicos ............................................................................................................. 4
1.2. Metodologia ..................................................................................................................................... 4
1.3. Problematização .............................................................................................................................. 5
2. Constituição Moçambicana de 1990 no Sistema de Administração da justiça .................................. 6
2.1. Separação e Independência de Poderes, como pressupostos do Estado de Direito .................... 6
2.1.1. Estado de Direito ....................................................................................................................... 6
2.1.2. Principio de separação de poderes........................................................................................... 7
2.1.3. Poder judiciário ......................................................................................................................... 8
2.2. Organização do Sistema de Administração da justiça.................................................................. 9
2.3. Independência dos titulares da Administração da Justiça ......................................................... 10
2.4. Características da Administração da Justiça no contexto da Constituição de 1990 ................ 10
2.5 .Acesso à Justiça .............................................................................................................................. 11
2.6. Proteção dos Direitos Fundamentais ............................................................................................ 12
IV. Conclusão ............................................................................................................................................ 14
V. Referencias bibliográficas ................................................................................................................... 14

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I. Introdução

O presente trabalho versa em torno do tema: Sistema da Administração da Justiça no contexto da


Constituição de 1990. De antemão podemos conceituar, administração da justiça como sendo um
sistema no qual se fundamentam os mecanismos judiciais de solução de controvérsias entre
particulares e o Estado.

Posteriormente, a FRELIMO fez uma revisão da Constituição de 1975 e em 2 de novembro de


1990, a Assembleia Popular aprovou uma nova Lei-mãe, a Constituição da República de
Moçambique de 1990 (CRM/1990). A mesma entrou em vigor no dia 30 de novembro de 1990 e
introduziu muitas alterações que se refletiram em quase todas as esferas da sociedade
moçambicana (social, cultural, política, jurídica, etc.).

O novo texto constitucional de 1990, pela primeira vez na história de Moçambique, previa um
sistema político multipartidário e introduziu o Estado de Direito Democrático, alicerçado na
separação e interdependência dos poderes, pluralismo jurídico, promoção da justiça e paz social.

Essa constituição marcou uma ruptura radical com o passado, consagrando a transição de uma
economia centralizada para o capitalismo, de um sistema monopartidário para a democracia
multipartidária, e colocando o cidadão como figura central relativamente ao Estado.

A Constituição de 1990 definiu a República de Moçambique como um Estado independente,


soberano, unitário, democrático e de justiça social (Artigo. 1º). Estas reformas trouxeram em
Moçambique, uma série de mudanças políticas, econômicas, sociais e jurídicas. Houve uma
enorme expansão dos direitos, liberdades e garantias fundamentais individuais e coletivos

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1.1. Objectivos
1.1.1. Objectivo geral
 Compreender o Sistema da Administração da Justiça no contexto da Constituição de 1990

1.1.2. Objectivos específicos


 Descrever a Constituição Moçambicana de 1990
 Analisar o Sistema de administração da justiça a luz da CRM 1990;
 Identificar os aspectos chaves da organização e funcionamento da justiça a luz da CRM 1990.

1.2. Metodologia

Tomou-se como base metodológico deste relatório, a pesquisa de cunho bibliográfico. Buscando-
se obras específicas, análises documentais, socialização de conhecimentos e realização de leituras

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1.3. Problematização

A Constituição Moçambicana de 1990 estabelece um conjunto de princípios e diretrizes


fundamentais para o sistema de administração da justiça no país. No entanto, como esses princípios
são aplicados na prática e até que ponto eles garantem a justiça equitativa e o acesso à mesma para
todos os cidadãos. A independência dos juízes, a separação de poderes e o compromisso com a
proteção dos direitos fundamentais, embora presentes no texto constitucional, podem enfrentar
desafios na implementação, levantando questões sobre a eficácia real do sistema judiciário
moçambicano.

Além disso, considerando a diversidade geográfica, socioeconómica e cultural de Moçambique,


como a administração da justiça é adaptada para atender às necessidades de todas as regiões e
grupos da população. Barreiras estruturais, como a falta de recursos e infraestrutura em áreas
remotas, podem levar a desigualdades no acesso à justiça. Diante disso, é crucial investigar em
que medida a Constituição de 1990 responde a esses desafios e se medidas efectivas estão sendo
implementadas para garantir um sistema de administração da justiça verdadeiramente inclusivo e
acessível em Moçambique. Portanto é nestes moldes que levantamos a seguinte pergunta de
pesquisa.

Em que medida a Constituição Moçambicana de 1990 é eficaz na garantia da independência


dos juízes, na promoção da separação de poderes e no acesso equitativo à justiça para todos os
cidadãos, considerando os desafios estruturais e as desigualdades geográficas e
socioeconômicas do país?

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2. Constituição Moçambicana de 1990 no Sistema de Administração da justiça

A Constituição em questão reafirma, desenvolve e aprofunda os princípios fundamentais do Estado


moçambicano, consagrando assim o carácter soberano do Estado de Direito Democrático, baseado
no pluralismo de expressão, organização partidária e no respeito e garantia dos direitos e liberdades
fundamentais dos cidadãos.

Os princípios da reserva da função judicial para os tribunais e da independência dos juízes foram
posteriormente desenvolvidos, aprofundados e consolidados na revisão constitucional de 199, que
determinou a transição do Estado de Democracia Popular para o Estado de Direito Democrático.

O estado de Direito aparece, no final do século XVIII, associado á separação dos poderes
concebida como expediente de limitação dos mesmos com vista á garantia dos direitos e liberdades
do individuo.

2.1. Separação e Independência de Poderes, como pressupostos do Estado de Direito

2.1.1. Estado de Direito

Conforme observado por Gomes CANOTILHO, o conceito de Estado de Direito desempenha um


papel crucial no contexto do sistema administrativo judicial de 1990 em Moçambique. Este
princípio abrange dois aspetos fundamentais. Em primeiro lugar, o Estado de Direito representa
uma forma de organização política na qual as atividades estatais são delimitadas e reguladas pelo
Direito. Por outro lado, um Estado que não segue esse princípio, o que poderíamos chamar de
Estado de não Direito, surge quando o poder político se coloca acima das restrições legais, negando
aos indivíduos a esfera de liberdade que deveria ser salvaguardada pelo Direito.

Nesse contexto, um Estado de não Direito pode ser caracterizado por promulgar leis arbitrárias,
cruéis ou desumanas, onde o conceito de Direito é moldado pela vontade dos líderes, resultando
em injustiça flagrante e disparidade na aplicação das leis, como bem mencionou Marcello Caetano.

A interpretação apresentada salienta que o Estado de Direito transcende sua dimensão meramente
formal e assume um significado material de extrema importância. No contexto da Constituição
Moçambicana de 1990, essa compreensão é de relevância crítica para a relação entre o Estado e o
sistema administrativo de justiça. A base para essa relação é fundamentada em princípios-chave,
incluindo a separação de poderes, a independência do poder judiciário e a promoção da justiça e
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do bem comum. A Constituição delineia um quadro jurídico que busca garantir a equidade,
imparcialidade e acesso equitativo à justiça para todos os cidadãos.

A Constituição de 1990 de Moçambique incorpora os princípios do Estado de Direito e do sistema


administrativo da justiça de forma interligada. Esses princípios visam assegurar que o poder estatal
seja regulado pelo Direito e que a administração da justiça seja conduzida com independência,
equidade e com o propósito de alcançar uma ordem jurídica justa.

2.1.2. Principio de separação de poderes

No contexto da organização do sistema administrativo judicial de 1990 em Moçambique, o


princípio de separação de poderes desempenha um papel central. Esse princípio, amplamente
reconhecido e aceito, passou por evoluções significativas, especialmente com a transição do
Estado de Direito Liberal para o Estado social de direito. A compreensão da separação de poderes
agora se baseia no conceito de "Separação e interdependência de poderes", buscando alcançar um
equilíbrio entre os diversos poderes do Estado por meio de mecanismos de cooperação mútua.

De acordo com a visão de Blanco DE MORAIS, o princípio da separação de


poderes implica que cada órgão constitucional ao qual é atribuído o núcleo essencial de
uma função do Estado deve operar dentro dos limites de suas competências constitucionais.
Isso garante um modelo de divisão funcional das atividades públicas, promovendo a
descentralização e a responsabilidade jurídica e política no exercício dessas atividades.

No contexto moçambicano, os órgãos de soberania são claramente definidos pela Constituição.


Estes incluem o presidente da República, a Assembleia da República, o conselho de ministros, os
tribunais e o conselho constitucional, conforme estabelecido no artigo 109 da Constituição.

Esses órgãos desempenham funções distintas, mas interdependentes, para garantir o


funcionamento equilibrado e justo do Estado. A separação de poderes é projetada para evitar
concentração excessiva de poder em um único órgão e para promover a responsabilidade e a
transparência em todas as esferas do governo e da administração da justiça e essa estrutura
contribui para a criação de um Estado de Direito sólido e um sistema administrativo de justiça
equitativo em Moçambique.

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2.1.3. Poder judiciário

No âmbito do sistema administrativo judicial de 1990 em Moçambique, o Poder Judiciário


desempenha um papel crucial, alinhado com o modelo de Estado adotado pela Constituição
Moçambicana de 1990.

 A constituição explana a qualificação dos tribunais como órgãos de soberania, conferindo-


lhes dignidade equivalente à do Presidente da República, da Assembleia da República e do
Governo, conforme estipulado no artigo 10.
 A constituição também estabelece objetivos claros para os tribunais, destacando sua
responsabilidade em garantir a legalidade, o respeito pelas leis e a proteção dos direitos e
liberdades dos cidadãos, bem como dos interesses jurídicos dos diversos órgãos e entidades
com existência legal, como explicitado no artigo 161, nº. 1.
 Os tribunais são dotados de funções duplas, de natureza tanto preventiva quanto repressiva.
Por um lado, têm a missão preventiva de educar os cidadãos sobre o cumprimento
voluntário das leis, visando a estabelecer uma convivência social justa e harmoniosa. Por
outro lado, possuem uma função repressiva, ou seja, penalizam a violação da legalidade e
tomam decisões em casos de conflito de acordo com a lei, como especificado no artigo
161, nº 3.

Essa abordagem multifacetada demonstra a abrangência das responsabilidades dos tribunais no


contexto moçambicano, indo além de simplesmente aplicar a lei. Eles também têm um papel
educativo na promoção de um ambiente de conformidade legal e são encarregados de assegurar a
justiça e a ordem social.

Assim, o Poder Judiciário, conforme delineado na Constituição de 1990, era fundamental para a
manutenção do Estado de Direito e para o funcionamento equitativo do sistema administrativo de
justiça em Moçambique. Sua qualificação como órgão de soberania e a clareza de seus objetivos
e funções refletiam o compromisso do país em garantir a proteção dos direitos dos cidadãos e a
administração justa da lei.

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2.2. Organização do Sistema de Administração da justiça

A Constituição de 1990 da República de Moçambique estabelece a organização do sistema de


justiça do país com as seguintes disposições:

 A função jurisdicional é exercida por meio do Tribunal Supremo e outros tribunais


estabelecidos por lei, conforme definido no (artigo 168, no seu nº 1).
 Os tribunais têm como principal objetivo assegurar e fortalecer a legalidade como um
instrumento para a estabilidade jurídica. Eles têm a responsabilidade de garantir o respeito
pelas leis, proteger os direitos e liberdades dos cidadãos e também salvaguardar os interesses
legais de diferentes órgãos e entidades com existência legal, conforme estipulado no (nº 1 do
artigo 161).
 É estabelecido que não é permitida a criação de tribunais exclusivamente destinados ao
julgamento de categorias específicas de crimes, exceto aqueles que estão expressamente
previstos na Constituição, de acordo com o (artigo 167, parágrafo 2).
 A composição, organização e funcionamento do Conselho Nacional de Defesa e Segurança
são definidos de acordo com as disposições da lei.
 Um princípio fundamental é destacado: a administração da justiça deve ser independente,
imparcial e livre de subordinação a qualquer poder político ou económico.

Nesse contexto, a Constituição delineia claramente a estrutura e os princípios que regem o sistema
de justiça em Moçambique. Estabelecendo a hierarquia dos tribunais, seus objetivos e
responsabilidades, além de reforçar a importância da independência e imparcialidade na
administração da justiça. A proibição de criar tribunais exclusivos para certas categorias de crimes
visa garantir um tratamento equitativo e justo perante a lei. O papel do Conselho Nacional de
Defesa e Segurança também é mencionado, demonstrando a abordagem completa da Constituição
em relação a justiça e a segurança no país.

 Tribunal supremo: é o órgão mais alto órgão judicial com jurisdição em todo território
nacional, é composto por juízes profissionais e juízes eleitos, em números a ser
estabelecido por lei (artigo 168, nº 2 e artigo 170, nº 1”.
 Tribunal Administrativo: é responsável pelo controlo da legalidade dos actos
administrativos e a fiscalização da legalidade das despesas públicas (artigo 173, nº 1)

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 Conselho Constitucional: é um órgão de competência especializada no domínio das
questões jurídico-constitucionais. (art.º 180)
 Tribunais Militares, Aduaneiros, Fiscais, Marítimos e do Trabalho- a competência,
organização, composição e funcionamento dos tribunais são estabelecidos por lei (artigo
175).

A Constituição de 1990 de Moçambique estabelece uma estrutura sólida para o sistema de


justiça do país, destacando a importância da legalidade, independência e imparcialidade na
busca por uma administração justa e equitativa da lei.

2.3. Independência dos titulares da Administração da Justiça

A Independência dos juízes pode ser entendida como a faculdade que o juiz tem de exercer a Sua
função à partir da análise objectiva dos factos submetidos a seu julgamento, de acordo com seu
entendimento da regra de direito, livre de qualquer influência externa, pressão, ameaça ou
interferência directa ou indirecta, seja qual for a origem ou motivo. (Canan, 2015).

A Constituição de 1990 da República de Moçambique estabelece a independência dos titulares da


administração da justiça. Os juízes são independentes e estão sujeitos apenas à Constituição e à
lei, devendo exercer as suas funções com imparcialidade e integridade. Além disso, a Constituição
prevê a existência do Conselho Superior da Magistratura Judicial, que é responsável pela gestão e
disciplina dos magistrados judiciais, e cuja composição, organização e funcionamento são
regulados por lei

Conforme previsto no capítulo VI, secção I, artigo 164, no seu nº 1 da Constituição da Republica
de Moçambique de 1990, no exercício das suas funções, os juízes são independentes e apenas
devem obediência à lei.

2.4. Características da Administração da Justiça no contexto da Constituição de 1990

A Constituição de 1990 da República de Moçambique estabelece várias características da


administração da justiça no país, a saber:

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 Independência dos titulares da administração da justiça: os juízes são independentes e
estão sujeitos apenas à Constituição e à lei, devendo exercer as suas funções com
imparcialidade e integridade.
 Objetivo dos tribunais: garantir e reforçar a legalidade como instrumento da estabilidade
jurídica, garantir o respeito pelas leis, assegurar os direitos e liberdades dos cidadãos, assim
como os interesses jurídicos dos diferentes órgãos e entidades com existência legal.
 Educação dos cidadãos: os tribunais educam os cidadãos no cumprimento voluntário e
consciente das leis, estabelecendo uma justa e harmoniosa convivência social.
 Organização territorial: a República de Moçambique organiza-se territorialmente em
províncias, distritos, postos administrativos e localidades.
 Controlo da legalidade dos actos administrativos: o Tribunal Administrativo é
responsável pelo controlo da legalidade dos actos administrativos e pela fiscalização da
legalidade das despesas públicas.
 Competências do Tribunal Administrativo: julgar as ações que tenham por objeto litígios
emergentes das relações jurídicas administrativas; julgar os recursos contenciosos
interpostos das decisões dos órgãos do Estado, dos seus respetivos titulares e agentes;
apreciar as contas do Estado; exercer as demais competências atribuídas por lei.
 As liberdades individuais de foro político e civil, expressas de forma clara no surgimento da
imprensa independente, dos partidos políticos e do exercício livre da advocacia, culminando
na realização das primeiras eleições multipartidárias em 1994, são dimensões importantes a
considerar no novo sistema político.

2.5 .Acesso à Justiça

Com relação ao acesso à justiça, a Constituição de 1990 da República de Moçambique estabelece


que o Estado garante o acesso dos cidadãos aos tribunais e garante aos arguidos o direito de defesa
e o direito a assistência e patrocínio judiciário. Além disso, o Estado providencia para que a justiça
não seja negada por insuficiência de recursos. Portanto, a Constituição de Moçambique reconhece
o direito dos cidadãos de terem acesso à justiça e estabelece medidas para garantir que esse acesso
seja efetivo e não seja negado por falta de recursos.

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Apesar dos princípios constitucionais que enfatizavam o acesso à justiça para todos, a realidade
era marcada por desigualdades. A falta de infraestrutura em áreas rurais e remotas, aliada à falta
de conscientização sobre os direitos legais, muitas vezes dificultava o acesso à justiça para grupos
marginalizados e economicamente desfavorecidos.

A carência de profissionais legais, como advogados e juízes, também impactava a qualidade do


acesso à justiça. A falta de especialização e recursos humanos limitados muitas vezes comprometia
a capacidade do sistema judiciário de lidar com uma ampla gama de casos, desde os mais simples
até os mais complexos. Esses desafios resultavam em uma percepção de inacessibilidade e
ineficiência por parte da população, minando a confiança nas instituições jurídicas do país.
Portanto, embora a Constituição de 1990 tenha estabelecido as bases para um sistema judiciário
equitativo e acessível, o período até 2004 revelou a necessidade de ações mais concretas para
superar as barreiras estruturais e garantir um verdadeiro acesso à justiça para todos os cidadãos
moçambicanos.

2.6. Proteção dos Direitos Fundamentais

Com relação à proteção dos direitos fundamentais, a Constituição de 1990 da República de


Moçambique estabelece que as liberdades e os direitos fundamentais são conquistas do povo
moçambicano na sua luta pela construção de uma sociedade de justiça social, onde a igualdade dos
cidadãos e o imperativo da lei são os pilares da democracia. Alguns dos direitos fundamentais
protegidos pela Constituição incluem:

 Direito à vida, à integridade física e moral, à liberdade, à segurança e à propriedade;

 Direito à igualdade perante a lei e à não discriminação por motivos de raça, cor, etnia, género,
religião, opinião política, origem social ou qualquer outra forma de discriminação;

 Direito à liberdade de expressão, de imprensa, de reunião e de associação.

Ao proteger os cidadãos contra práticas cruéis, desumanas ou degradantes, a Constituição


demonstrou a importância de um sistema judiciário e administrativo que respeitasse os princípios
éticos e os valores humanos fundamentais. Além disso, essa característica constitucional fortaleceu
a confiança da sociedade no Estado e em suas instituições, reforçando a crença de que os direitos
individuais seriam garantidos e preservados, mesmo nas situações mais desafiadoras.

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Portanto, a inviolabilidade dos direitos individuais consagrada na Constituição de 1990 refletiu o
compromisso de Moçambique em construir uma sociedade justa, equitativa e respeitadora dos
direitos humanos, ao garantir que nenhum cidadão fosse sujeito a tratamento cruel, desumano ou
degradante, mesmo nas circunstâncias mais adversas.

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IV. Conclusão
A Constituição de Moçambique de 1990 representa um marco significativo na história do país,
delineando princípios fundamentais que moldaram o sistema de administração da justiça e
reforçaram a busca por um Estado de Direito Democrático.

A trajectória de implementação da Constituição revela que, embora tenha havido avanços em


direção a uma administração judiciária mais independente e acessível, também houve obstáculos.
A falta de recursos, especialmente em áreas remotas, e a necessidade de fortalecer a capacitação e
especialização dos profissionais jurídicos demonstraram ser desafios persistentes. Além disso, a
transição política e social do país desde a aprovação da Constituição levanta questionamentos
sobre a adaptação dos princípios estabelecidos às mudanças dinâmicas do ambiente sociopolítico.

À medida que consideramos o papel da Constituição de 1990 no contexto actual, é importante


refletir sobre como as lições do passado podem informar o desenvolvimento contínuo do sistema
de administração da justiça. Investigações mais aprofundadas são necessárias para avaliar o
impacto real da Constituição no acesso à justiça, especialmente para grupos marginalizados, e para
entender como as limitações históricas podem ter influenciado a aplicação de seus princípios.

A medida que Moçambique avança, é fundamental revisitar esta Constituição e avaliar as


estratégias necessárias para fortalecer ainda mais o sistema judiciário, garantindo a realização dos
ideais de justiça e igualdade que a Constituição de 1990 buscou estabelecer.

A Constituição de 1990 introduziu mudanças profundas na organização do Estado em geral, as


quais se reflectiram no próprio sistema da administração da justiça, erigindo alguns princípios
estruturantes

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V. Referencias bibliográficas
Constituição da Republica de Moçambique de 1990, publicada no BR n. º44, I Série, Suplemento
de Sexta-feira, 02.11.1990.

Caetano, M. Estado que decreta leis arbitrarias, in Conference proferidas. Editora Martins

Canotilho, J.J.G. Estado de Direito. Lisboa: Gradiva, 1999

Canotilho, J.J.G. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Lisboa: Almedina, 1999.

Mazula. B. A construção da democracia em Africa: O caso de Moçambique. Maputo. 2000

Morais, J.B.D, Princípios de separação de poder0.es. In Estudos de Direito Público. Editora


Jurídica

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