Cervicicetes

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P R O F .

C A R L O S E D U A R D O M A R T I N S

C E RV I C I T E S

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GINECOLOGIA Prof. Carlos Eduardo Martins| Cervicites 2

APRESENTAÇÃO:

PROF. CARLOS
EDUARDO MARTINS
Caro colega,

Meu nome é Carlos Eduardo e atualmente sou um dos


professores de ginecologia do time Estratégia. Apesar de hoje
estar do outro lado, não se engane, eu também já estive no seu
lugar, nesse momento de tanta ansiedade e indefinição.
Fui aluno da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo e prestei prova de Residência para Ginecologia e
Obstetrícia ao final do meu sexto ano de graduação. Lembro-me
como era difícil organizar os estudos sem um cronograma e sem
um material focado nas provas. Era obrigado a recorrer a resumos
de colegas e aos livros médicos, que muitas vezes não eram
muito práticos. Apesar da dificuldade, fui aprovado na Residência
Médica que tanto almejava no Hospital das Clínicas da FMUSP.
Também tenho pós-graduação em Preceptoria e Docência Médica
pelo Instituto Albert Einstein de Ensino e Pesquisa.
Por meio de minha experiência pessoal e profissional,
associada ao contato diário com candidatos e recém-aprovados
na prova de Residência, posso dizer que estudar por meio
de um material focado nas provas de Residência é a melhor
maneira de alcançar uma boa preparação. Uma boa base teórica
mesclada com exercícios que sedimentem o conteúdo facilita
muito o aprendizado. Aproveite este material desenvolvido com
muito cuidado pela nossa equipe de professores. Seu empenho
associado às ferramentas que estamos disponibilizando será o
caminho mais seguro rumo à tão sonhada vaga de Residência.

Um grande abraço e bons estudos!

Estratégia MED

@estrategiamed @estrategiamed

t.me/estrategiamed /estrategiamed
Estratégia
MED

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GINECOLOGIA Cervicites Estratégia
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SUMÁRIO

1.0 INTRODUÇÃO 4
2.0 CONCEITOS E DEFINIÇÕES 5
3.0 COMPLICAÇÕES E FATORES DE RISCO 6
4.0 QUADRO CLÍNICO 8
5.0 ETIOLOGIA 9
5 .1 CLAMÍDIA 9

5 .2 GONOCOCO 11

5 .3 OUTROS AGENTES ETIOLÓGICOS 12

6.0 DIAGNÓSTICO 14
7.0 TRATAMENTO 16
8.0 RASTREAMENTO E PREVENÇÃO 21
9.0 LISTA DE QUESTÕES 23
10.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 24
11.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 24

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CAPÍTULO

1.0 INTRODUÇÃO
As cervicites são infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), porém muitas vezes associado a conhecimentos sobre a doença
cujo desfecho impacta de maneira importante na ocorrência de inflamatória pélvica, sua principal complicação. Por meio da análise
complicações ginecológicas e materno-fetais. A interface do tema ampla de questões de provas de Residência Médica de todo o
com outras especialidades e com outras doenças ginecológicas faz país, encontramos que esses temas, em conjunto, correspondem a
com que seja um conteúdo frequente nas provas de Residência. quase 4% de todas as questões avaliadas.
Esse tema aparece de forma isolada em algumas questões,

TOP TEMAS EM GINECOLOGIA

RASTREAMENTO DE CÂNCER DE COLO UTERINO

PLANEJAMENTO FAMILIAR

VULVOVAGINITES

AMENORREIAS

CLIMATERIO

RASTREAMENTO DE CÂNCER DE MAMA

ENDOMETRIOSE

DIP / CERVICITES

SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS (SOP)

SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL

0,0% 1,0% 2,0% 3,0% 4,0% 5,0% 6,0% 7,0% 8,0% 9,0% 10,0%

Apesar de DIP e cervicites serem temas que se misturam nas questões, sabemos que as questões que abordam as cervicites de maneira
isolada são menos frequentes, como podemos ver no gráfico abaixo:

Divisão de temas

27%

DIP

Cervicites

73%

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É muito importante que você tenha conhecimento sobre Os agentes mais envolvidos na infecção são a Chlamydia
a relevância de cada tema nas provas para focar e otimizar seus trachomatis (CT) e a Neisseria gonorrhoeae (NG); porém, também
estudos. podem ser causadas por Trichomonas vaginalis, Herpes simplex
A prevalência exata das cervicites na população é algo difícil virus e Mycoplasma genitalium. Mais adiante, neste material,
de definir, pois os critérios diagnósticos variam de acordo com os abordaremos cada uma delas com detalhes.
estudos, além de ser uma infecção assintomática, na maioria das E então, vamos iniciar mais uma etapa no seu caminho até a
vezes, o que dificulta o levantamento de casos. Estima-se que elas tão sonhada vaga de Residência Médica? Venha comigo!!!
afetem 35% a 45% da população feminina.

CAPÍTULO

2.0 CONCEITOS E DEFINIÇÕES


O colo do útero é formado por dois epitélios diferentes: o escamoso, que reveste a região externa do colo (ectocérvice), e o colunar
ou glandular, que reveste a porção interna, adentrando o canal endocervical (endocérvice). Na fase reprodutiva da mulher, pode ocorrer a
formação de ectopia, que é a exposição do epitélio colunar na ectocérvice, expondo esse tecido mais frágil ao meio vaginal e favorecendo a
aquisição de doenças sexualmente transmissíveis. O epitélio colunar sofre um processo de transformação em epitélio escamoso pelo processo
de metaplasia escamosa (esse processo será explicado com detalhes no livro digital sobre rastreamento do câncer de colo uterino). A imagem
abaixo descreve os epitélios cervicais:

A cervicite ou endocervicite é a inflamação da mucosa (clamídia e gonococo) são desenvolvidos para o epitélio colunar.
endocervical (epitélio colunar do colo), geralmente de origem As principais causas não infecciosas para as cervicites são
infecciosa, podendo ser dividida em gonocócica (causada pela irritações mecânicas e químicas, como o uso de condom, diafragmas
Neisseria gonorrhoeae) e não gonocócica. Apesar da afecção mais ou espermicidas. Existem etiologias mais raras, como a doença de
comum ser da endocérvice, o epitélio escamoso (ectocérvice) Behçet ou líquen plano (acesse o livro digital sobre doenças da
também pode ser afetado, sobretudo nas infecções por herpes e vulva e da vagina para aprender mais sobre essas doenças).
por tricomonas. Os mecanismos patogênicos dos agentes principais

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CAI NA PROVA

(MS - Universidade Federal de Grandes Dourados - 2016) O principal reservatório do gonococo na mulher é
A) glândulas de Bartholin.
B) vagina.
C) ectocervice.
D) canal cervical.
E) endométrio.

COMENTÁRIO:

Alternativa A incorreta: as glândulas de Bartholin podem ser afetadas por infecções gonocócicas, mas não são o sítio mais frequente.
Alternativa B incorreta: o gonococo não está relacionado a vulvovaginites.
Alternativa C incorreta: os mecanismos de adesão do gonococo estão associados às células do epitélio colunar do colo, e não ao epitélio
escamoso da ectocérvice.
o gonococo apresenta mecanismos de adesão às células do epitélio colunar do canal endocervical, invadindo as
Alternativa D correta:
células e promovendo infecção, muitas vezes assintomática.
Alternativa E incorreta: o gonococo está menos envolvido com endometrite do que a infecção por clamídia.

CAPÍTULO

3.0 COMPLICAÇÕES E FATORES DE RISCO


Cerca de 70% dos casos de cervicite são assintomáticos, muito bem os conceitos da doença inflamatória pélvica. Acesse
sendo descobertos apenas por meio de testes diagnósticos. A nosso livro digital sobre esse tema e você entenderá tudo.
ausência de sintomas predispõe a ocorrência de complicações Além das complicações agudas, podem ocorrer complicações
advindas da ascensão dos agentes etiológicos para o trato genital tardias, como dor pélvica, infertilidade e gestação ectópica. O
superior, levando à doença inflamatória pélvica e suas possíveis fluxograma abaixo resume a fisiopatologia das complicações das
complicações agudas. Não fique preocupado se você não lembra cervicites:

FISIOPATOLOGIA
Salpingite/
Cervicite Endometrite Ooforite/Abscesso Peritonite
tubo ovariano

Complicações

Dor pélvica crônica - 20%


Infertilidade 12 - 15%
Gravidez ectópica - 6 a 10x

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CAI NA PROVA

(AL - PSU - 2020) Mulher, 40 anos de idade, foi atendida na Emergência por apresentar dor pélvica há um dia. Primípara com parto normal
há 4 anos. Refere ciclos menstruais regulares, última menstruação há oito dias. Método contraceptivo: coito interrompido. Também refere
aparecimento de secreção amarelada por via vaginal, há três dias. O quadro clínico apresentado pela paciente pode evoluir com as seguintes
sequelas:
A) Câncer de endométrio, hidrossalpinge, infertilidade.
B) Dor pélvica crônica, infertilidade, obstrução tubária.
C) Hidrossalpinge, hiperplasia endometrial, cisto ovariano.
D) Obstrução tubária, dismenorreia, insuficiência ovariana precoce.

COMENTÁRIO:

A paciente acima apresenta um quadro de leucorreia amarelada associada à dor pélvica, podendo representar uma cervicite ou
uma doença inflamatória pélvica. Para termos o diagnóstico de certeza, precisaríamos de mais detalhes, porém, independentemente do
diagnóstico, as complicações de ambas as doenças são as mesmas, conforme foi descrito no esquema acima.
Alternativa A incorreta: a cervicite não aumenta o risco para câncer de endométrio.
a cervicite está associada a todas as complicações descritas pela alternativa, como está explicitado pelo
Alternativa B correta:
fluxograma da teoria.
Alternativa C incorreta: a hiperplasia endometrial e a formação de cistos ovarianos não estão relacionadas ao antecedente de cervicite.
Alternativa D incorreta: a dismenorreia e a insuficiência ovariana prematura não estão associadas à cervicite.

Além das complicações já citadas, as cervicites estão neonatal, que ocorre durante a passagem pelo canal de parto. O
associadas a eventos adversos para gestantes e recém-nascidos e quadro clínico apresenta-se como uma conjuntivite purulenta que,
também predispõem a infecções por outras ISTs, como o HIV. Nas se não for tratada, pode evoluir para perfuração do globo ocular
gestantes, as cervicites estão associadas ao abortamento, rotura e cegueira. Pelo risco para o RN, realiza-se, obrigatoriamente, a
prematura de membranas ovulares, trabalho de parto prematuro, profilaxia com colírio de nitrato de prata.
corioamnionite, infecção puerperal, baixo peso ao nascer e Os principais fatores de risco para cervicites estão
infecção neonatal. Todas essas doenças serão abordadas com relacionados ao comportamento sexual de risco e estão resumidos
detalhes nos livros digitais de obstetrícia. abaixo:
A infecção no recém-nascido (RN) manifesta-se pela oftalmia

FATORES DE RISCO
Idade jovem
Baixo nível socioeconômico
Múltiplos parceiros
Antecedente de IST
Uso irregular de preservativos

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CAPÍTULO

4.0 QUADRO CLÍNICO


Como já foi explicado anteriormente, a maior parte das mucopurulenta e sangramento pós-relação sexual ou entre as
pacientes apresenta-se assintomática nas cervicites. Em cerca de menstruações. As pacientes podem apresentar também disúria,
30% dos casos podem surgir sintomas. A sintomatologia pode ser dispareunia e irritação vulvovaginal. Ao exame físico, pode ser
bastante variável, de acordo com o agente etiológico, porém alguns visualizado edema do colo uterino com exacerbação da ectopia e
sintomas são comuns a todas as cervicites. descarga mucopurulenta pelo orifício externo.
Os sintomas mais comuns são secreção vaginal

CAI NA PROVA

(PR - HOSPITAL SAN JULIAN HSJ - 2023) Paciente do sexo feminino, 17 anos, busca atendimento médico na unidade de saúde relatando
que há 7 dias notou surgimento de secreção vaginal espessa, amarelada, com odor desagradável. Refere eventualmente notar sangramento
pós-coito. Nega outros sinais ou sintomas, bem como quadros semelhantes anteriormente. Refere ter ciclos menstruais regulares. Não usa
preservativo nas relações sexuais e descreve ser monogâmica. Qual é a principal hipótese diagnóstica quanto à causa da secreção vaginal?

A) Candidíase vaginal.
B) Secreção vaginal fisiológica.
C) Cervicite.
D) Vaginose.
E) Sífilis primária.

COMENTÁRIOS:

A paciente apresenta um corrimento vaginal amarelado, associado à sangramento após relações sexuais. Além disso, tem um
comportamento sexual de risco ao não utilizar preservativo nas relações. Diante desse quadro, a primeira hipótese a ser pensada é de uma
cervicite.
Alternativa “a” incorreta, pois na candidíase há um corrimento branco e grumoso, associado a prurido e hiperemia da região vulvovaginal,
porém não há sangramentos associados.
Alternativa “b” incorreta, pois sangramentos não são considerados fisiológicos, quando ocorrem após a relação sexual.

Alternativa “c” correta, pois o quadro é compatível com cervicite.

Alternativa “d” incorreta, pois na vaginose há a presença de corrimento branco acinzentado com odor fétido e não há acometimento do
colo uterino ou sangramento.
Alternativa “e” incorreta, pois a manifestação da sífilis primária é através de úlcera genital.

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5.0 ETIOLOGIA
Apesar de haver a possibilidade de uma abordagem sindrômica para o diagnóstico e para o tratamento das cervicites, cada agente
etiológico está associado a diferentes manifestações clínicas e complicações, e esse conhecimento pode aparecer nas questões de provas de
Residência.

5.1 CLAMÍDIA

A Chlamydia trachomatis é uma bactéria Gram-negativa e Mais de 70% dos casos são assintomáticos, mas, quando há
intracelular obrigatória. Ela é responsável pela maior parte das manifestação clínica, os principais sintomas são: edema de colo,
cervicites e é considerada a IST bacteriana mais comum no mundo, hiperemia, mucorreia, acentuação da ectopia, dor à mobilização
superando a sífilis e a gonorreia. Diversas complicações decorrem do colo e sangramento pós-coito ou intermenstrual. Na cervicite
da infecção por clamídia e podem aparecer nas suas provas de por clamídia, não costuma haver secreção purulenta saindo pelo
Residência: trabalho de parto prematuro, endometrite puerperal, colo.
DIP, infertilidade, dor pélvica crônica, conjuntivite neonatal.

CAI NA PROVA

(SP - UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO - UNAERP - 2020) Mulher, 20 anos, G0, apresentando sangramento irregular e sinusorragia há 3
meses, vem para avaliação. Antecedentes: menarca aos 11 anos, sexarca aos 15 anos. Tabagista. Pela história clínica, em relação as I.S.T., qual
é o agente etiológico que precisaria ser investigado como causador destes sintomas?
A) Vírus herpes simples.
B) Haemophilus ducrey.
C) Treponema paliddum.
D) Clamídia trachomatys.
E) Klebsiella granullomatis.

COMENTÁRIO:

Incorreta alternativa A: o vírus herpes simples está mais associado a lesões genitais vesiculares múltiplas e dolorosas que ulceram e evoluem
para crostas, com posterior resolução, sem deixar cicatrizes. Quando ele afeta o colo uterino, em geral, também leva à formação de úlceras.
Incorreta alternativa B: Haemophilus ducreyi é o agente causador do cancro mole, que causa úlceras genitais múltiplas, dolorosas e de fundo
sujo.
Incorreta alternativa C: Treponema pallidum é o agente etiológico da sífilis. A sífilis primária causa úlcera única, indolor, de bordos elevados
e fundo limpo, associada com linfadenopatia inguinal indolor.

apesar de a infecção por clamídia, na maioria das vezes, ser assintomática, pode gerar cervicite com dor pélvica,
Correta alternativa D:
dispareunia e sinusorragia, além de poder ascender ao trato genital e gerar doença inflamatória pélvica.

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Incorreta alternativa E: o granuloma inguinal (ou donovanose) é uma doença ulcerativa genital causada pela bactéria gram-negativa
intracelular Klebsiella granulomatis (anteriormente conhecida como Calymmatobacterium granulomatis). Clinicamente, é caracterizada por
lesões ulcerativas levemente indolores nos genitais ou no períneo, sem linfadenopatia regional; granulomas subcutâneos também podem
ocorrer. As lesões são altamente vascularizadas e sangram.

A questão abaixo aborda o tratamento das cervicites que será estudado posteriormente, mas exige que o aluno tenha conhecimento
das manifestações clínicas das cervicites para chegar à resposta:

CAI NA PROVA

(SP - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP - 2018) Mulher de 19


anos de idade queixa-se de leucorreia e dor à penetração vaginal
profunda há 10 dias. É nuligesta, tem ciclos menstruais regulares
e faz uso eventual de preservativos. Não tem antecedentes
mórbidos relevantes. O exame especular está mostrado a seguir.
Considerando a principal hipótese diagnóstica, qual é o tratamento
por via oral em dose única para o caso?
A) Secnidal 1 g.
B) Ampicilina 1 g.
C) Metronidazol 1 g.
D) Azitromicina 1 g.

COMENTÁRIO:

O quadro clínico apresentado sugere uma cervicite, uma vez que a paciente apresenta corrimento vaginal associado à dispareunia.
Pela imagem apresentada, pode-se inferir que se trata de uma infecção por Chlamydia trachomatis, pois o colo encontra-se edemaciado,
hiperemiado, com mucorreia e friável. A cervicite por clamídia também pode ser assintomática. Nos casos de cervicite por Neisseria
gonorrhoeae, a secreção costuma ser purulenta. No caso de uma cervicite por Trichomonas vaginalis, o corrimento é amarelo-esverdeado,
acompanhado de ardência e com o chamado colo “em framboesa” devido à colpite.
Alternativa A incorreta: secnidazol é utilizado para tratar tricomoníase.
Alternativa B incorreta: ampicilina é um tratamento alternativo para gonorreia em gestantes.
Alternativa C incorreta: metronidazol poderia ser utilizado para tratar vaginose bacteriana ou tricomoníase.

trata-se de uma cervicite por clamídia, e o tratamento de escolha é a azitromicina 1g, em dose única, ou
Alternativa D correta:
doxiciclina 100mg, 2 vezes ao dia, por 7 dias, ou amoxicilina 500mg, 3 vezes ao dia, por 7 dias.

Prof. Carlos Eduardo Martins | Curso Extensivo | 2024 10

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5.2 GONOCOCO

A infecção por Neisseria gonorrhoeae apresenta uma apresentar um quadro mais exuberante e sintomático do que as
prevalência bem menor do que a infecção por clamídia. O demais. Em razão do quadro clínico e das complicações, a cervicite
gonococo é uma bactéria diplococo Gram-negativa, não flagelada, por gonococo costuma ser mais abordada nas provas.
encapsulada, intracelular e anaeróbia facultativa. A importância As principais manifestações clínicas são: secreção purulenta
do diagnóstico dessa doença reside nas complicações associadas, ou mucopurulenta endocervical, sangramento endocervical,
como: infertilidade, gestação ectópica, DIP, trabalho de parto edema cervical; também podem haver outras manifestações, como
prematuro, oftalmia neonatal e artrite gonocócica. disúria e bartolinite, que é a infecção das glândulas de Bartholin
Devido ao processo inflamatório ocasionado em resposta (todas as informações sobre essa doença estão no livro de doenças
à infecção gonocócica, a cervicite por esse agente costuma da vulva e da vagina).

CAI NA PROVA

(TÍTULO DE ESPECIALISTA EM GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (TEGO) - 2022) Paciente


de 21 anos de idade refere que, após tratamento de infecção urinária, apresentou
dor articular em joelho, tornozelo direito e ombro esquerdo. Ao exame, temperatura
38,3 °C e normotensa. Exame especular na imagem a seguir. Dor à mobilização do
colo do útero, Também apresenta dor ao movimento passivo do ombro esquerdo e
tornozelo direito.

Assinale a alternativa que apresenta o diagnóstico e o tratamento, respectivamente.

A) Artrite reumatoide e corticosteroide.


B) Infecção urinária não curada e nitrofurantoína.
C) Infecção gonocócica e ceftriaxone.
D) Donovanose complicada e penicilina.

COMENTÁRIOS:

No caso dessa paciente houve a presença de sintomas urinários, que foram tratados como uma cistite, porém devia se tratar de uma
uretrite por gonococo. Após o quadro a paciente desenvolveu um quadro de artrite, associado à febre e acometimento do colo uterino,
falando a favor de uma infecção gonocócica disseminada.
A maioria dos pacientes com infecção gonocócica disseminada (IGD) não relata nenhum sintoma até o surgimento da doença, nega
sintomas geniturinários, anorretais ou faríngeos, embora a infecção gonocócica nesses sítios seja identificada em 70 a 80% deles ou em seus
parceiros sexuais.
Alternativa “a” incorreta, pois nesse caso, a história aponta para um acometimento articular decorrente de uma infecção gonocócica não
tratada adequadamente.
Alternativa “b” incorreta, pois conforme explicado na introdução, o quadro sugere que os sintomas urinários eram decorrentes de uma
uretrite e não de uma cistite.

Prof. Carlos Eduardo Martins | Curso Extensivo | 2024 11

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pois o quadro é característico de uma infecção gonocócica disseminada e o tratamento deve ser feito com:
Alternativa “c” correta,
Ceftriaxona 1g IM ou IV /dia por, ao menos, sete dias MAIS Azitromicina 500mg, dois comprimidos, VO,
dose única.

Alternativa “d” incorreta, pois a donovanose está associada ao surgimento de úlceras genitais.

5 .3 OUTROS AGENTES ETIOLÓGICOS

Os micoplasmas e os ureaplasmas são bactérias que


podem produzir infecção no trato urogenital. As cervicites por
esses agentes caracterizam-se por sintomas inespecíficos, como
dispareunia, disúria, polaciúria e infecção urinária; o corrimento
vaginal costuma ser incaracterístico.
Já a cervicite por Herpes virus simplex pode estar associada
a sintomas sistêmicos, como febre, mialgia e adenopatia.
A manifestação cervical pode apresentar-se por meio da
formação de vesículas, que estouram e geram a formação de
um exsudato. A infecção por Trichomonas vaginalis costuma
ser abordada nas provas como diagnóstico diferencial das
vulvovaginites infecciosas, mas também é uma causa de cervicite.
Sua manifestação clínica característica é a chamada colpite ou “colo
em framboesa” (vide imagem ao lado), com presença de sufusões
hemorrágicas no colo uterino.

CAI NA PROVA

(FSP - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP - 2017) Mulher de 25 anos, nuligesta em uso de
contraceptivo oral combinado. Refere que há 7 dias começou quadro de mialgia inespecífica,
cefaleia e febre não medida, controlada com paracetamol. Há 4 dias dor pélvica e corrimento
vaginal mucossanguinolento intenso. Ao exame clínico apresenta-se em regular estado geral; FC
80 bpm; FR 80 ipm; PA 120/70 mmHg; temperatura axilar 37,2°C. Ausculta pulmonar e cardíaca
normais, presença de linfonodos inguinais palpáveis, móveis, fibroelásticos e dolorosos. Órgãos
genitais externos sem alterações. Exame especular (Conforme imagem do caderno de questões).
A principal hipótese diagnóstica é:
A) Behçet.
B) Tricomoníase.
C) Clamídia.
D) Herpes simples.

Prof. Carlos Eduardo Martins | Curso Extensivo | 2024 12

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COMENTÁRIO:

Trata-se de uma questão bastante complexa para prova de R1, pois apresenta uma manifestação mais incomum da infecção por herpes
vírus, mais comumente associada a quadros de primoinfecção.
Alternativa A incorreta: pois a doença de Behçet está associada a manifestações vulvares, não cervicais. O quadro, geralmente, acomete
crianças ou mulheres jovens, após um quadro de mal-estar inespecífico ou estado gripal. Os critérios diagnósticos incluem: úlcera oral
recorrente, úlcera genital recorrente, uveíte ou retinite, eritema nodoso e teste de patergia positivo (formação de pústula ou pápula após o
estímulo cutâneo com agulha).
Alternativa B incorreta: a tricomoníase geralmente não tem quadro sistêmico associado e apresenta-se com corrimento amarelo-esverdeado
profuso, ardência genital, disúria e dispareunia. No colo, em geral, surge o aspecto “em framboesa”, com aspecto tigroide ao uso de iodo
(colpite).
Alternativa C incorreta: a clamídia geralmente apresenta-se de maneira oligossintomática, com poucos sinais sistêmicos e, quando presentes,
associados ao quadro de doença inflamatória pélvica aguda. As manifestações cervicais estão associadas à mucorreia, sangramento e ectopia.

os casos de herpes simples, sobretudo na primoinfecção, apresentam sintomas sistêmicos, como febre,
Alternativa D correta:
adenopatia e piora de estado geral. O vírus pode manifestar-se em lesões vulvares (mais comum), mas também
pode acometer o colo uterino, gerando lesões ulcerosas e vesículas, associadas a corrimentos exsudativos não purulentos. Acreditamos que
a maneira mais fácil de resolver essa questão seria por exclusão, porém, pelo fato de a manifestação herpética não ser tão frequente no colo
uterino, a questão torna-se muito difícil.

Uma observação importante é que pelo fato de os agentes etiológicos das cervicites serem comuns aos das
uretrites, algumas questões apresentam pacientes com sintomatologia de ambas as doenças.

CAI NA PROVA

(PR - Hospital Angelina Caron – 2015) Paciente com vida sexual ativa apresenta corrimento purulento cervical e uretral, acompanhado de
disúria. Qual a etiologia provável?
A) Estreptocócica/anaeróbica.
B) Tuberculosa/clamídica.
C) Estafilocócica/sifilítica.
D) Gonocócica/clamídica.
E) HPV/sifilítica.

COMENTÁRIO:

Alternativa A incorreta: apesar de os Streptococcus do grupo B colonizarem a região anogenital, não estão envolvidos com a ocorrência de
cervicites e uretrites.

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Alternativa B incorreta: o Mycobacterium tuberculosis não está envolvido com quadros de cervicite e uretrite.
Alternativa C incorreta: em sua manifestação primária, a sífilis causa úlcera genital, e não cervicites ou uretrites.
como foi citado anteriormente, esses são os agentes mais envolvidos com cervicites e uretrites, com o
Alternativa D correta:
micoplasma.

Alternativa E incorreta: o HPV no colo uterino está associado à patogênese do câncer de colo do útero, mas não se manifesta com cervicites.

CAPÍTULO

6.0 DIAGNÓSTICO
Como já foi citado, em geral, as cervicites são assintomáticas. de escolha para todos os casos, sintomáticos e assintomáticos. O
Apenas em cerca de 30% dos casos, é possível realizar o diagnóstico diagnóstico pode ser feito por um método chamado NAAT (nucleic
pelo quadro clínico. Apesar disso, não é possível confirmar o agente acid amplification test), que também pode ser chamado de PCR
etiológico pelas manifestações clínicas, havendo necessidade de (Polymerase Chain Reaction) ou pela captura híbrida, que é menos
propedêutica complementar. Muitas vezes, pela indisponibilidade sensível que o NAAT.
ou pelo alto custo dos testes, é utilizada uma abordagem sindrômica Na mulher, diferentemente do homem, a coloração pelo
de tratamento e uma busca ativa de parceiros que devem ser método de Gram tem uma sensibilidade de apenas 30%. A
avaliados e tratados. cervicite gonocócica pode ser diagnosticada pela cultura do
Segundo o Ministério da Saúde, em seu Protocolo de 2020: gonococo em meio seletivo (Thayer-Martin modificado), a partir
“o diagnóstico laboratorial da cervicite causada por C. trachomatis de amostras endocervicais; já a clamídia pode ser identificada no
e N. gonorrhoeae pode ser feito pela detecção do material genético meio de cultura de McCoy.
dos agentes infecciosos por biologia molecular.” Esse método é o

A imunofluorescência direta é um teste menos empregado, pois exige microscópio e profissionais bem treinados,
além de a sensibilidade ser baixa. Os principais métodos diagnósticos estão descritos na tabela abaixo:

Testes diagnósticos
Técnicas de biologia molecular – testes mais sensíveis do que a cultura para detecção de clamídia e gonococo
Cultura em meio de McCoy – considerado o teste de referência para detecção de clamídia, porém é raramente utilizado
atualmente
Cultura em meio de Thayer-Martin – diagnóstico definitivo de infecção por gonococo
Bacterioscopia da secreção endocervical com coloração de Gram – busca por diplococos Gram- negativos --> sensibilidade
inferior a 50%
Imunofluorescência direta – uso de anticorpos marcados para identificar componentes da membrana externa da clamídia
Métodos enzimáticos (ELISA) – apresentam sensibilidade maior do que as técnicas de biologia molecular e de cultura, mas
são caros e pouco disponíveis
Detecção de anticorpos – não é usada em diagnóstico de infecções superficiais

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GINECOLOGIA Cervicites Estratégia
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CAI NA PROVA

(SP - Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto – 2020) Paciente de 25 anos de idade, sexualmente ativa, refere corrimento vaginal
aumentado e sangramento ao coito há cerca de um mês. Ao exame, observa-se conteúdo vaginal amarelado, sem odor, em grande quantidade.
O colo do útero apresenta área de ectopia sangrante 1 cm ao redor do orifício externo. Qual exame subsidiário está indicado e qual o agente
etiológico em relação ao resultado?
A) Exame de secreção vaginal, se diplococos gram negativos intracelulares, o agente é gonococo.
B) Colposcopia com biópsia, se coilocitose, o agente é tricomonas.
C) Cultura de secreção vaginal, se hifas e esporos, o agente é candida albicans.
D) Pcr de secreção endocervical, se cariomegalia, o agente é hpv.

COMENTÁRIO:

a bacterioscopia da secreção cervical com identificação de diplococos Gram-negativos permite diagnosticar


Alternativa A correta:
infecção gonocócica, apesar de apresentar sensibilidade inferior a 50%. Vale salientar que deveria ser coletada
secreção cervical, e não vaginal.

Alternativa B incorreta: o quadro é compatível com cervicite, em que a colposcopia não tem papel diagnóstico. Além disso, a coilocitose é
uma alteração característica das infecções por HPV.
Alternativa C incorreta: a cultura, nesse caso, deve ser da secreção cervical, e não vaginal. Além disso, a candidíase não leva a quadros de
cervicite, e sim de vulvovaginites.
Alternativa D incorreta: o PCR de secreção endocervical pode ser empregado para diagnóstico de HPV, porém não tem relação com o quadro
da paciente. Além disso, a cariomegalia não pode ser observada em um exame de PCR, apenas em um exame citológico. O PCR apenas
identifica a presença do DNA do microrganismo.

Apesar de não haver muitas questões sobre os testes diagnósticos para cervicites, como os agentes etiológicos envolvidos podem
acometer, também, o trato urinário e gastrintestinal, fique atento, pois existem questões de outras áreas que podem cobrar esse conhecimento.
O Ministério da Saúde em seu protocolo orienta como realizar a investigação de uma paciente com sintomas sugestivos de cervicite:

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MED

As cervicites são frequentemente assintomáticas.


Os fatores associados à prevalência da cervicites
são:
Queixa de corrimento vaginal, sangramento intermenstrual ou - Mulheres sexualmente ativas com idade inferior
pós-coito, dispareunia, disúria e dor pélvica crônica a 25 anos
- Novas ou múltiplas parcerias sexuais
- Parcerias com IST
Anamnese, toque e exame especular - História prévia ou presença de outra IST
- Uso irregular de preservativo

Muco cervical turvo ou amarelado e friabilidade cervical, edema cervical e


Sim sangramento ao toque da espátula ou swab, dor à mobilização do colo uterino? Não

Coleta de material Coleta de material Corrimento vaginal


para investigar C. para microscopia a Sim
confirmado?
trachomatis e N. frescob
gonorrhoeaea

Não
Tratar vaginose
Tratar gonorreia e bacteriana,
clamídia tricomoníase e/ou
Provável causa
Investigar DIP candidíase, conforme
fisiológica
achadoc

Avaliar se o exame preventivo de


câncer de colo do útero está em dia

a
Podem ser utilizados kits de biologia molecular que detectam mais patógenos simultaneamente, incluindo Mycoplasma genitalium.
b
Lembrar que, mesmo nos casos que apresentam colo e muco cervical normal, Chlamydia trachomatis e Mycoplasma genitalium podem estar presentes e provas de biologia molecular, se
disponíveis, devem ser utilizadas para afastar essa possibilidade (principalmente em mulheres jovens).
c
Quando a microscopia a fresco não estiver disponível, instituir tratamento imediato de vaginose bacteriana, tricomoníase e/ou candidíase, conforme avaliação clínica. Se realizada coleta
para microscopia por coloração de Gram, considerar o resultado para manejo do caso.

PCDT IST 2022 - MInistério da Saúde

CAPÍTULO

7.0 TRATAMENTO
O tratamento deve visar ao patógeno envolvido na infecção, porém isso nem sempre é possível e devemos cobrir os agentes mais
comuns. Há um MNEMÔNICO para guardarmos o tratamento para cada um dos agentes etiológicos da cervicite:

G C
O L
N AZITROMICINA
O M
CEFTRIAXONE Í
O DOXICICLINA
C I
O A

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MED

Todos os parceiros devem ser tratados com o mesmo esquema terapêutico

Abaixo, segue um quadro com o tratamento preconizado pelo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às
Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (Ministério da Saúde, 2022):

CONDIÇÃO CLÍNICA TRATAMENTO

Infecção anogenital não


Ceftriaxona 500mg, IM, dose única
complicada e da faringe
MAIS
(uretra, colo do útero e
Azitromicina 500mg, dois comprimidos, VO, dose única
reto)

Ceftriaxona 1g IM ou IV /dia por, ao menos, sete dias


Infecção gonocócica
MAIS
disseminada
Azitromicina 500mg, dois comprimidos, VO, dose única

Conjuntivite gonocócica no
Ceftriaxona 1g, IM, dose única
adulto

Azitromicina 500mg, dois comprimidos, VO, dose única


OU
Doxiciclina 100mg, VO, duas vezes ao dia, por sete dias (exceto gestantes)
Infecção por clamídia

Obs.: na gestação, deve ser coletado teste de controle após três semanas do fim do
tratamento, para confirmação do êxito terapêutico

Nota:

1. Em março/2017, o Ministério da Saúde lançou uma norma técnica recomendando ceftriaxona


500mg IM em substituição ao ciprofloxacino em todo o território nacional, considerando o alto
índice de resistência. Algumas questões mais antigas podem apresentar o tratamento com uso
de ciprofloxacino 500mg VO em dose única em vez do ceftriaxona.

2. Na indisponibilidade de ceftriaxona, poderá ser utilizada outra cefalosporina de terceira


geração no tratamento de infecção pelo gonococo, como a cefotaxima 1.000mg IM, dose única.

Fonte: Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (Ministério da Saúde).

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CAI NA PROVA

(RJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ - 2023) Pode-se afirmar, em relação ao tratamento da cervicite causada por
Chlamydia Trachomatis, que é recomendado pelo Ministério da Saúde o uso de:

A) tetraciclina 500mg, 4 comprimidos ao dia por 7 dias.


B) doxiciclina 100mg, 1 comprimido ao dia por 14 dias.
C) azitromicina 500mg, 2 comprimidos, dose única.
D) eritromicina 500mg, 4 comprimidos ao dia por 7 dias.

COMENTÁRIOS:

Conforme foi descrito acima, o Ministério da Saúde recomenda duas opções de antibiótico para o tratamento da infecção por Clamídia:
doxiciclina e azitromicina.
Alternativas “a” e “d” incorretas, pois não fazem parte da recomendação do Ministério da Saúde.
Alternativa “b” incorreta, pois a posologia recomendada é de 1 comprimido de 12 em 12 horas por 7 dias.

Alternativa “c” correta, pois essa é a recomendação do Ministério da Saúde.

Tratamento recomendado para cervicite, uretrite e infecção retal por gonococo (segundo CDC 2021)

Regime recomendado:
• Ceftriaxona 500 mg, IM, dose única (para pacientes com menos de 150 kg). Para pacientes com mais de 150 kg deve
ser empregado 1g por via IM em dose única.

Alternativos:
• Gentamicina 240mg IM em dose única
MAIS
Azitromicina 2g VO em dose única
OU
• Cefexime 800mg VO em dose única

OBS. 1: o tratamento para clamídia deve ser considerado se a possibilidade de infecção por esse agente não for excluída.
O tratamento recomendado para clamídia é: doxiciclina 100 mg, 12/12 horas, por 7 dias.

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MED

Tratamento recomendado para cervicite, uretrite e infecção retal por clamídia (segundo CDC 2021)

Regimes recomendados:
• Doxiciclina 100 mg, VO, 12/12h, por 7 dias.

Alternativa:
• Azitromicina 1g VO em dose única

OBS. 1: o tratamento para gonococo deve ser considerado se a prevalência da gonorreia for alta na população avaliada.

Em geral, o regime terapêutico mais cobrado pelas provas de Residência é o do Ministério da Saúde, com
o uso de ceftriaxona e de azitromicina em dose única. Porém, é importante atentar-se para a bibliografia da
prova que você prestará.

CAI NA PROVA

(SP - HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS - HSL - 2023) Paciente de 20 anos de idade, nuligesta, refere dor e sangramento ao coito há cerca de 2 meses.
Não faz uso de métodos contraceptivos hormonais, mas refere coito interrompido. Sua última menstruação ocorreu há 15 dias. Ao exame
ginecológico, observa-se conteúdo vaginal, amarelo, sem odor. O colo uterino apresenta aspecto inflamatório, facilmente sangrante, JEC −3 e
muco endocervical com aspecto purulento. Nesse momento, indica-se

A) prescrever doxaciclina.
B) prescrever itraconazol.
C) realizar cirurgia de alta frequência com exérese de zona 1.
D) cauterizar o colo com ácido acético.
E) biopsiar a JEC e o canal endocervical.

COMENTÁRIOS:

O quadro da paciente é muito sugestivo de cervicite, pois apresenta dor e sangramento após a relação sexual, além de uma secreção
cervical de aspecto purulento e um colo friável. Além disso, ela tem comportamento sexual de risco por não usar preservativos.

pois o tratamento deve visar ao patógeno envolvido na cervicite, porém isso nem sempre é possível e
Alternativa “a” correta,
devemos cobrir os agentes mais comuns. Vale lembrar que nesse caso, tratar apenas com doxiciclina está
equivocado, pois não haveria cobertura para gonococo.

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Alternativa “b” incorreta, pois o itraconazol é empregado no tratamento da candidíase que não está associada ao acometimento do colo.
Alternativa “c” incorreta, pois a paciente não tem indicação de tratamento excisional, pois o quadro é infeccioso e não uma lesão
precursora do câncer de colo uterino.
Alternativa “d” incorreta, pois o ácido acético não é uma substância empregada para cauterização, além de nçao haver essa indicação.
Alternativa “e” incorreta, pois a paciente não tem indicação de biópsia do colo uterino e sim de tratamento com antibioticoterapia.

O tratamento das cervicites na gestação é fundamental, devido às complicações obstétricas e neonatais associadas ao caso. Algumas
especificidades devem ser observadas nessa população. O quadro abaixo resume as opções terapêuticas:

Tratamento recomendado para cervicite na gestação (CDC 2021)

Clamídia
Regime recomendado:
• Azitromicina 1g em dose única

Regimes alternativos:
• Amoxicilina 500mg, 8/8h, por sete dias

Gonorreia
• Ceftriaxona 500mg, IM, dose única

CAI NA PROVA

(SP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP - 2022) Mulher de 30 anos, assintomática, retorna para buscar resultado do exame
citopatológico do colo do útero, cujo resultado é “sugestivo de Chlamydia sp”. Assinale a alternativa correta.

A) A infecção por clamidia está incluída como um resultado no Sistema de Bethesda.


B) O tratamento pode ser instituído, independentemente dos sintomas.
C) O papanicolaou é capaz de detectar infecção por clamídia somente em pacientes sintomáticas.
D) O diagnóstico de infecção por clamídia depende de teste molecular.

COMENTÁRIOS:

Alternativa “a” incorreta, pois a infecção por clamídia não faz parte da nomenclatura de Bethesda que é empregada para descrever as
lesões HPV induzidas no colo.

pois a Clamídia está associada a uma série de complicações e por isso deve ser tratada independente de
Alternativa “b” correta,
sintomas.

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Alternativa “c” incorreta, pois apesar de não ser frequente a detecção de clamídia no papanicolau, ela pode ocorrer como no caso dessa
paciente que está assintomática.
Alternativa “d” incorreta, pois apesar do Ministério da Saúde dizer em seu manual: “o diagnóstico laboratorial da cervicite causada por C.
trachomatis e N. gonorrhoeae pode ser feito pela detecção do material genético dos agentes infecciosos por biologia molecular.” Existem
outros métodos que podem detectar a Clamídia, como sorologias, cultura e imunofluorescência.

CAPÍTULO

8.0 RASTREAMENTO E PREVENÇÃO


O Ministério da Saúde recomenda o rastreamento de Clamídia e Gonococo em situações específicas:
• gestantes com menos de 30 anos na primeira consulta de pré-natal
• pessoas com diagnóstico de IST (no momento do diagnóstico)
• pessoas vivendo com HIV (no momento do diagnóstico)
• pessoas com prática sexual anal receptiva (semestralmente)
• vítimas de violência sexual (primeiro atendimento e após 4 a 6 semanas)
• pessoas em uso de PrEP (semestralmente)
• pessoas com indicação de PEP (primeiro atendimento e após 4 a 6 semanas)

No restante das pessoas, o rastreamento deve ser individualizado de acordo com os fatores de risco.
Já o CDC recomenda o screening em todas as mulheres com menos de 25 anos e com vida sexual ativa e em mulheres com mais de
25 anos e com fatores de risco para infecção (parceiro novo, múltiplos parceiros, parceiro que tem relações sexuais com outras pessoas,
parceiro com diagnóstico de outra IST).
O objetivo do rastreamento nessas populações é reduzir o risco de complicações associadas às cervicites, além de testar e tratar
parceiros. Os programas de rastreamento demonstram reduzir a incidência de doença inflamatória pélvica, a complicação mais comum da
cervicite. O rastreamento deve ser realizado com testes moleculares (NAATs)
Vale ressaltar algumas recomendações específicas e com poucas chances de caírem nas provas:

• Na gestação, deve ser realizado rastreamento conforme a recomendação para não gestantes, devendo repetir-se o teste no
terceiro trimestre.
• Homens que fazem sexo com homem devem ser rastreados anualmente para gonorreia na uretra, reto e faringe.
• Pacientes com sintomas persistentes devem ser testados para suscetibilidade antimicrobiana do gonococo.

As recomendações de rastreamento pelo CDC estão resumidas na tabela abaixo:

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Clamídia e gonococo

• Abaixo de 25 anos e sexualmente ativas


Mulheres • Acima de 25 anos, sexualmente ativas e com fatores de risco associados
• Retestar três meses após o final do tratamento

• Seguir a recomendação para não grávidas, quanto à faixa etária


Mulheres • Retestar no terceiro trimestre:
grávidas • Se positivo, realizar teste de cura em três a quatro semanas (para clamídia)
• Após o tratamento, retestar em três meses (para ambas as infecções)

HIV
• Em pacientes com vida sexual ativa, testar no primeiro exame de HIV e após, anualmente
positivo

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Lembrando que você pode estudar online ou imprimir as listas sempre que quiser.

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CAPÍTULO

10.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


1. Tratado de ginecologia Febrasgo / editores Cesar Eduardo Fernandes, Marcos Felipe Silva de Sá; coordenação Agnaldo Lopes da Silva Filho
[et al.]. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
2. HOFFMAN, Barbara L. et al. Ginecologia de Williams. Artmed Editora, 2014.
3. Centers for Disease Control and Prevention. "2015 Sexually transmitted diseases treatment guidelines (2015).
4. Brasil, et al. "Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção integral às pessoas com infecções sexualmente transmissíveis." (2015).
5. Berek, Jonathan S. Berek & Novak's gynecology. Lippincott Williams & Wilkins, 2019.

CAPÍTULO

11.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS


Já está sabendo tudo sobre cervicites? Espero que sim, mas, se ainda está inseguro quanto ao tema, fique tranquilo. O conteúdo é
bem extenso e abrange tudo o que cai nas provas de Residência, por isso é difícil guardar tanta informação em uma única leitura. Aproveite
que você tem acesso ilimitado ao livro digital e volte a ele sempre que precisar, seja para ajudá-lo na resolução de exercícios ou para revisar
a matéria.
Se surgirem mais dúvidas sobre o tema deste livro ou sobre algo referente a outros conteúdos, não hesite em entrar em nosso fórum
de dúvidas e enviar sua questão. Estamos atentos e responderemos brevemente.
Mantenha seu foco nos estudos, pois o objetivo está próximo. Vejo você nas videoaulas ou no próximo livro digital.
Grande abraço.

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