Marcos Vinicio S

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

Programa de Pós-Graduação em Matemática


Mestrado Profissional - PROFMAT/CCT/UFCG

UMA CONTRIBUIÇÃO AO ENSINO DO CÁLCULO


DE RAÍZES QUADRADAS E CÚBICAS

Marcos Vinícius Aurelio de Lima

Trabalho de Conclusão de Curso

Orientador: Prof. Dr. Luiz Antônio da Silva Medeiros

Campina Grande - PB
Agosto/2013
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFCG.

L732c LIMA, Marcos Vinicius Aurelio de.

Uma contribuição ao ensino do cálculo de raízes quadradas e


cúbicas / Marcos Vinicius Aurelio de Lima. Campina Grande, 2013.
59 f.:il. color.
Trabalho de Conclusão de Curso ( Mestrado em Matemática) -
Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Ciências
e Tecnologia, 2013.
"Orientação: Prof. Dr. Luiz Antônio da Silva Medeiros".
Referências.
1. Raiz Quadrada. 2. Raiz Cúbica. 3. Métodos Iterativos.
I. Medeiros, Luiz Antônio da Silva. II. Título

CDU-511.14(043)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
Programa de Pós-Graduação em Matemática
Mestrado Profissional - PROFMAT/CCT/UFCG

Uma Contribuição ao Ensino do Cálculo de Raízes Quadradas e


Cúbicas

por

Marcos Vinicius Aurelio de Lima †

Trabalho Conclusão de Curso apresentado ao Corpo Do-


cente do Programa de Pós-Graduação em Matemática -
CCT - UFCG, na modalidade Mestrado Profissional, como
requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ma-
temática.

† Bolsista CAPES
Uma Contribuição ao Ensino do Cálculo de Raízes Quadradas e
Cúbicas

por

Marcos Vinicius Aurelio de Lima

Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao Corpo Docente do Programa de Pós-


Graduação em Matemática - CCT - UFCG, modalidade Mestrado Profissional, como requi-
sito parcial para obtenção do título de Mestre em Matemática.

Aprovado por:

Universidade Federal de Campina Grande


Centro de Ciências e Tecnologia
Unidade Acadêmica de Matemática
Curso de Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional

Agosto/2013
Dedicatória

A minha mãe, Helena Nunes, pelo


exemplo de vida, pelo incentivo
constante e por tudo que me ensi-
nou.

v
Agradecimentos
A Deus, por Sua infinita misericórdia e amor incondicional.

A Lucas e Matheus, meus filhos amados, pela compreensão e inspiração.

A Elizete, Eliete, Helena, Elizabeth ( In Memorian) e Eli, minhas irmãs queridas, pelo
carinho e apoio.

Aos professores Aldo Trajano e Fernando Luiz, pelo apoio e incentivo para essa em-
preitada.

A Soraya Martins, por está presente em todos os momentos dessa jornada, apoiando-
me e incentivando-me, e pela sua imensa contribuição.

Ao meu orientador, professor Luiz Antônio, pela paciência, dedicação, apoio e incen-
tivo, e pelas valorosas contribuições para engrandecimento do meu trabalho.

As professoras Débora Borges e Rosana Marques, que gentilmente participaram da


banca e apresentaram significativas contribuições para o enrequecimento deste trabalho.

Agradeço à Universidade Estadual da Paraíba pelo apoio e pela liberação parcial de


minha carga horária semanal para que eu pudesse me dedicar ao PROFMAT.

Agradeço à Universidade Federal de Campina Grande pelo oferecimento do curso.

Por fim, agradeço à Sociedade Brasileira da Matemática - SBM pelo oferecimento


deste Curso em Rede Nacional e à CAPES pela concessão da bolsa.

vi
Resumo
Neste trabalho elaboramos um resgate de métodos para o cálculo de raízes quadradas e
cúbicas de um número real que, embora sejam muito antigos, podem ser desconhecidos por
determinados professores de matemática. A fim de possibilitar a compreensão desses méto-
dos, procuramos justificar e explicar os métodos envolvivos, os quais, levados à sala de aula,
permitem ao aluno encontrar raízes exatas ou não, sem decorar resultados, de modo mais
significativo: utilizando operações aritméticas. Para tal, elaboramos uma atividades didática
pautada na utilização do conceito de sequências, com vistas à obter resultados de forma dinâ-
mica, favorecendo a compreensão do conceito de radiciação, mais especificamente as raízes
quadrada e cúbica.
Palavras Chaves: Raiz Quadrada. Raiz Cúbica. Métodos Iterativos.

vii
Abstract
In this work, we propose a rescue methods for calculating square and cube roots of a
real number which, although very old, may be unfamiliar to some of the math teachers. To
facilitate the understanding of these methods, we seek to justify and explain the procedures
involved. Such methods, allow the student, finding exact roots or not, results without decora-
ting, more significantly, through arithmetic operations. To this end, we developed a propost
of learning activities that allow the use of the term and closing sequences to obtain results
dynamically, promoting understanding the concept of root extraction, more specifically the
square root and cube root.
Keywords: Square root. Cubic root. Iteratives Methods.

viii
Lista de Figuras

1 ′
4.1 Iteração Linear com f (x) = (x + 1) 3 , f (x) < 0 e sequência convergente
para x0 = 0, 3. . . . . . . . (. . . . .) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

4.2 Iteração Linear com f (x) = 13 2x − x32 , f (x) > 0 e sequência convergente
para x0 = 0, 5. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.3 Sequência gerada pelo M.P.F não convergentente para f (x) = 0.05x2 + 2x −
5, x0 = 3, 68. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

5.1 funções g(x) = x e f (x) = 12 (x + ax ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47


5.2 funções g(x) = x, y = 23 x e f (x) = 13 (2x + xa2 ) . . . . . . . . . . . . . . . . 49

ix
Lista de Tabelas

2.1 Aproximações da π -ésima potência de dois. . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

3.1 Exemplo 3.1: Método de tentativa e erro para raízes quadradas . . . . . . . 18


3.2 Exemplo 3.2: Método de tentativa e erro para raízes quadradas . . . . . . . 19
3.3 Exemplo 3.3: Método de tentativa e erro para raízes quadradas . . . . . . . 19
3.4 Exemplo 3.4: Método de tentativa e erro para raízes cúbicas . . . . . . . . 20

x
Lista de Abreviaturas e Siglas
ABNT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Associação Brasileira de Normas Técnicas
SBM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sociedade Brasileira de Matemática
UAMAT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Unidade Acadêmica de Matemática

xi
Lista de Símbolos
N . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Conjunto dos números naturais
Z . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Conjunto dos números inteiros
Q . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Conjunto dos números racionais
R . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Conjunto dos números reais
R\Q . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Conjunto dos números irracionais
C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Conjunto dos números complexos

xii
Sumário

1 Introdução 3
1.1 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 Organização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

2 Potência de um número real 7


2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.2 Potência de um número real com expoente racional . . . . . . . . . . . . . 7
2.3 Potência de um número real com expoente irracional . . . . . . . . . . . . 14

3 Procedimentos Diretos para o Cálculo de Raízes Quadradas e Cúbicas 16


3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.2 Cálculo de Raízes Quadradas e Cúbicas nos Livros Didáticos . . . . . . . . 16
3.3 Método de Tentativa e Erro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.3.1 Cálculo de Raízes Quadradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.3.2 Cálculo de Raízes Cúbicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.4 Método da Fatoração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.4.1 Cálculo de Raízes Quadradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.4.2 Cálculo de Raízes Cúbicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.5 Método Chinês . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.6 Método de Heron . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.6.1 Cálculo da Raizes Quadradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.6.2 Dispositivo Prático para o Cálculo de Raízes Quadradas. . . . . . . 30
3.6.3 Cálculo de Raízes Cúbicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.6.4 Dipositivo Prático para o cálculo de Raízes Cúbicas . . . . . . . . . 33

4 Métodos Iterativos 35
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
4.2 Método do Ponto Fixo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
4.3 Método Babilônico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
4.4 Cálculo de Raízes Cúbicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.5 Método da Bissecção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

1
4.5.1 Cálculo de Raízes Quadradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

5 Atividades Propostas 44
5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
5.2 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
5.2.1 Atividade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
5.2.2 Atividade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
5.2.3 Atividade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
5.2.4 Atividade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
5.2.5 Atividade 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
5.2.6 Atividade 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
5.2.7 Atividade 7 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
5.2.8 Atividade 8 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
5.2.9 Atividade 9 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
5.2.10 Atividade 10 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
5.2.11 Atividade 11 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

6 Conclusão 53

Referências Bibliográficas 54

7 Apêndice 56

2
Capítulo 1

Introdução

Na antiguidade, muitos problemas de geometria envolvendo divisões de terras, estavam


relacionados à obtenção de uma raiz quadrada. De fato, atualmente tais problemas podem ser
modelados por equações do segundo grau do tipo ax2 + bx + c = 0, com a ̸= 0, cuja solução,
devido à Bháskara, envolve a raiz do discriminante

∆= b2 − 4ac.

Não obstante, o problema da quadratura do círculo de cerca de 2.000 a. C. (ver [2], pg.
245) que consiste em construir, com régua e compasso, um quadrado que tenha exatamente a
mesma área do círculo dado revela a necessidade de se obter a raiz quadrada de π . Ora, sendo

este um número irracional, a obtenção de π por um procedimento finito é impossível, uma

vez que π também é um número irracional, portanto possui uma representação decimal in-
finita e não periódica, assim como as raízes quadradas de números primos. Naquela época, já
estava clara a necessidade de se trabalhar com aproximações, ou pelo menos os matemáticos
daquele período se contentavam em obter estimativas aproximadas das raízes n−ésimas.
Com o passar do tempo, vários métodos para obtenção das raízes quadradas exatas ou
aproximadas foram surgindo. Atualmente, é possível encontrar a raiz n-ésima de quase todo
número usando uma calculadora, um computador ou até mesmo um celular. Isso por que não
se pode determinar exatamente as raízes quadradas de números irracionais. Pode-se ter, np
máximo, uma boa aproximação desta. Por outro lado, tanto as calculadoras quanto os com-
putadores mais modernos podem apresentar erros de arrendondamento ou truncamento que
surgem ao se tentar representar numeros decimais que não possuem representação binária
finita ([0], pg. 10).
Ao efetuarmos o cálculo √
1 + (10−6 )2 − 1
,
10−8
em uma calculadora convencional ou mesmo em calculadora científica CASIO HP f x −

3
82MS por exemplo, obtemos como resultado o valor igual a zero, isto é

1 + 10−12 − 1
= 0,
10−8

o que é obviamente um absurdo, uma vez que sendo 1 + 10−12 > 1.


O cálculo da raiz quadrada ou da raiz cúbica de um número real não é ou não deve
ser um problema que paralise um aluno do Ensino Médio da Educação Básica, principal-
mente se os envolvidos no processo de ensino aprendizagem estiverem usufruindo das novas
tecnologias de informação.
Tal situação desperta alguns questionamentos acerca do uso das Tecnologias de Infor-
mação (TI) e o cálculo das raízes n-ésimas de um número real:

1. A utilização de novas TI’s podem trazer dificuldades para o ensino?

2. Podemos incorporar à prática pedagógica um recurso didático simplesmente por conta


de sua importância utilitária?

3. Os alunos, ou até mesmo os professores, sabem interpretar os resultados dos cálculos


realizados por uma calculadora ou um computador?

A fim de refletir sobre o primeiro questionamento, Pais ([11], p. 43) afirma que a
condução da prática pedagógica requer do educador a disponibilidade de um espírito de
vigilância permanente ([11], pg. 43) e que a existência de condições para ocorrer a aquisição
do conhecimento não é condição suficiente para uma aprendizagem efetiva ([11], pg. 45).
Neste sentido, o professor não deve utilizar uma tecnologia como recurso didático
sem que tenha explorado as potencialidades e as limitações dos vários recursos que esta
tecnologia oferece. Borba e Penteado ([1], pg. 69) lembram que a opção por utilizar ou não
uma tecnologia deve ser feita pelo professor com base no seu próprio conhecimento. Isto é, o
professor deve estar aberto à experimentação e, principalmente, buscar e trocar informações
que maximizem o aproveitamento das novas tecnologias no ensino.
Com relação ao segundo questionamento, Pais ([11], pg. 103) enfatiza que a máquina
em si não é capaz de produzir qualquer inovação em termos de novos conhecimentos, corro-
borando com os PCN para o Ensino Médio (Parâmetros Curriculares Nacionais).

“ Não se trata de incorporar elemento de ciência contemporâneo sim-


plesmente por conta de sua importância utilitária. Trata-se, isso sim, de
prover os alunos condições para desenvolver uma visão de mundo atu-
alizada, que inclue uma compreensão mínima das técnicas e dos princí-
pios cientìficos em que se baseiam” (pg. 209)
Os PCN ([3]) ainda ressaltam que um Ensino Médio concebido para a universalização
da Educação Básica precisa desenvolver o saber matemático, científico e tecnológico como

4
condições da cidadania e não como prerrogativa de especialistas. Ao mesmo tempo, afirma
que é necessário a compreensão dos princípios científicos presentes nas tecnologias para
explicar o funcionamento do mundo, planejar, executar e avaliar as ações de intervenções e
julgamentos práticos da realidade.
De acordo com Borba e Penteado ([1]) os efeitos do uso de tecnologias no ensino estão
relacionados com a forma como ela é usada bem como com suas características intrínsecas,
sendo “preciso entender as relações que estão estabelecidas pelo software”. Portanto, é fun-
damental que os alunos sejam encorajados a interpretar e avaliar, com base em argumentos
matemáticos, os resultados da máquina e a desenvolver uma atitude crítica em relação a estes.
Para tal, é fundamental que o aluno tenha domínio dos conceitos teóricos e procedimentos
operacionais envolvidos.
Porém, em particular, alguns procedimentos para o cálculo de raiz quadrada e cúbica
não vêm sendo abordados no Ensino Fundamental. Geralmente, professores e alunos contam
apenas com métodos não muito eficientes para cálculo de raízes não exatas e para aquelas
onde o radicando é um número com grande quantidade de dígitos (algarismos). Observa-
mos que os alunos, no Ensino Médio, apenas memorizam os algorítmos sem entender sua
estrutura e dificilmente desenvolvem qualquer noção das relações entre os resultados e os
operandos.
Diante das reflexões acima expostas, sentimo-nos motivados para elaborar um texto
de resgate dos procedimentos para a obtenção das raízes quadrada e cúbica de um número
real, além de uma sequência de atividades didáticas que tem como objetivo justificar os
procedimentos para obtenção de raízes, estabelecendo uma base para a compreensão deste
conceito tão elementar e fundamental no âmbito das operações ariméticas.
Tais atividades buscam desenvolver, nos alunos, a capacidade de questionar processos
naturais e tecnológicos, identificar padrões, prever, interpretar e criticar resultados a partir
de experimentos e demonstrações, ao mesmo tempo em que tentamos evitar a memorização
indiscriminada de algoritmos,uma vez que essa prática pode trazer prejuízos ao aprendizado,
conforme estabelece os PCNEM ([3]).
A escolha do tema é então bastante natural, uma vez que ele interage com os princípios
tecnológicos e da formação do pensamento humano, utilizando-se desde o princípio da indu-
ção finita à análise de convergência de sequências de números reais, apresentando de forma
introdutória a idéia de aproximação.

1.1 Objetivos
Este trabalho tem como objetivos principais :

1. Estabelecer os procedimentos diretos e indiretos para o cálculo das raízes quadrada e


cúbica;

5
2. Apresentar uma proposta de atividades didáticas para o ensino das raízes quadradas
e cúbicas.

1.2 Organização
Tendo em vista à obtenção dos nossos objetivos, organizamos o texto em seis capítu-
los assim distribuídos: o Capítulo 1 apresenta uma breve introdução ao tema, destacando a
problematização e a correspondente motivação para a elaboração deste trabalho. O Capítulo
2 descreve o conceito e as propriedades de potência de números reais, incluindo a definição
e propriedades das raízes quadradas e cúbicas. No Capítulo 3 apresentamos uma análise
de livros didáticos sobre o tema e resgatamos procedimentos diretos para o cálculo das raí-
zes quadradas e cúbicas. O Capítulo 4 apresenta procedimentos indiretos para o cálculo de
aproximações de raízes quadradas ou cúbicas. O Capítulo 5 descreve as atividades didáticas
propostas com fundamentação, objetivos e sugestão de carga horária. E o último capítulo, 6,
trará as considerações finais e a conclusão do trabalho.

6
Capítulo 2

Potência de um número real

2.1 Introdução
Neste capítulo, apresentaremos a definição de potência de um número real e suas
propriedades operatórias, além das definições das raízes quadradas cúbicas de um número
real.

2.2 Potência de um número real com expoente racional


Para todo n ∈ N, a potência an , de base a e expoente n, é definida como o produto de
n fatores iguais a a. Mais precisamente, definimos indutivamente a n−ésima potência de um
número real pela seguinte definição:

Definição 2.1 Seja a um número real positivo. Defina,

a1 = a,
an+1 = a · an para cada n > 1, n ∈ N.

Uma consequência imediata da definição acima é o fato que em produto de potências


de números naturais de mesma base conserva-se a base e somam-se os expoentes.

Proposição 2.1 Para quaisquer m, n ∈ N tem-se am · an = am+n .

Demonstração. Observe que,

am an = a . . a} · a
| .{z | .{z
. . a} =
m vezes n vezes
| · a .{z
= a . . a · a} =
m+n vezes
m+n
= a .

7
Corolário 2.2 Para quaisquer m1 , m2 , . . . , mk ∈ N, tem-se

am1 am2 . . . amk = am1 +m2 +···+mk .

Em particular, considerando m1 = · · · = mk = m, no Corolário 2.2, obtemos o seguinte


resultado:
Corolário 2.3 Seja a um número real. Para quaisquer m, k ∈ N, vale

(am )k = amk .

Proposição 2.4 Sejam n ∈ N, a ∈ R e b ̸= 0. Então


( a )n an
= .
b bn
Demonstração. Por definição de potência de expoente natural, temos
n vezes
z }| { ( ) ( ) ( ) ( )
an a·a...a a a a a n
= = · . . . = .
bn |b · b{z. . . b} | b b{z b} b
n vezes n vezes

Proposição 2.5 Se a > 1 e n ∈ N, então an+1 > an . Isto é, se a > 1 então

1 < a < a2 < · · · < an < an+1 < . . . .

Por outro lado, se 0 < a < 1, então

1 > a > a2 > · · · > an > an+1 > . . . .

A Proposição 2.5 mostra que a sequência cujo n-ésimo termo é an é crescente quando
a > 1 e decrescente se 0 < a < 1. Para a = 1, esta sequência é constante, com todos os seus
termos iguais a 1.
Em vista de se tentar definir a potência an , quando n é um número inteiro (que pode ser
negativo ou zero), procuramos estender o conceito de potência de modo que sejam mantidas
as propriedades anteriormente verificadas para expoentes naturais. Pela Proposição 2.1 a
igualdade a0 · a1 = a0+1 deve ser válida, da qual se conclui que a0 · a = a, para qualquer
a ̸= 0. Por outro lado, dado qualquer n ∈ N, devemos ter a−n · an = a−n+n = a0 = 1, assim,
a−n = a1n . Estas observações motivam a definição a seguir.

Definição 2.2 Seja a um número real diferente de zero. Definimos:

1
a0 = 1 e a−n = .
an

8
Proposição 2.6 Para quaisquer m, n ∈ Z tem-se

am · an = am+n (2.1)

(an )m = amn (2.2)


Demonstração. Da Proposição 2.1 e do Corolário 2.3 segue que a tese é válida para m, n ∈ N.
Assim, Resta-nos verificar os casos em que m e n são inteiros não positivos. Dividiremos a
análise em casos:
Caso 1 Se m = 0, então
a0 · an = 1 · an = an = a0+n

e, desde que a ̸= 0 então, an ̸= 0. Assim,

(an )0 = 1 = a0 = a0·n ,

provando a tese.

Caso 2 O caso n = 0 é análogo ao Caso 1.

Caso 3 Suponha m, n < 0. Logo, −m, −n ∈ N. Utilizando a Definição 2.2 e a Proposição


2.4 obtemos,

1 1 1 1 1
am an = · = = = = am+n .
a−m a−n a−m a−n a(−m)+(−n) a−(m+n)
e
1 1m 1
(an )m = ( )m = = −n
a −n −n
(a ) m . . a−n}
a| .{z
m vezes
1 1 1
= = = = amn .
(−n) + (−n) · · · + (−n)
| {z } a(−n)m a−nm
a m vezes

Para se definir a potência de um número real positivo com exponte racional e ao mesmo
tempo manter as propriedades já definidas, deve-se exigir que para r = mn , com m ∈ Z e
n ∈ N, tenha-se

(ar )n = a r
. . a}r
| .{z
n vezes

{z· · · + }r
|r + r +
= a n vezes

= arn = am .

9
Diante disso, segue a definição abaixo.

Definição 2.3 Sejam m ∈ Z, n ∈ N, r = mn , com m ∈ Z, n ∈ N, e a ∈ R+ . A r−ésima potência


de a, denotado por ar , é o número real positivo cuja n-ésima potência é igual a am .

O sinal positivo do número a da definição acima é necessário para evitar ambiguidades.


3
Exemplo 2.1 1. 4 2 = 8 uma vez que 82 = 64 = 43 .
2
2. (8) 3 = 4 uma vez que 43 = 64 = (8)2 .
−1
3. (125) 3 = 1
5 uma vez que ( 51 )3 = 1
125 = (125)−1 .

Para representar a potenciação de expoentes racionais com base positiva, utilizamos o


símbolo da radiciação. Ou seja, escrevemos

n m
a
m
para representar a n .
A próxima proposição demonstra que a Definição 2.3 está bem posta, no sentido de que
a potenciação de um número real positivo com expoente racional independe da representação
na forma de fração desse número racional.

Proposição 2.7 Seja a ∈ R+ . Então, para cada p ∈ N tem-se


m mp
a n = a np .

Ou equivalentemente,

n m

a = np amp .

Demonstração. Seja b o número real positivo tal que b = a . Por definição, bn = am .
n m

Logo,
(bn ) p = (am ) p ⇔ bnp = amp .
mp √
Segue que (por definição), b = a np = np amp . 

Proposição 2.8 Para quaisquer r, s ∈ Q e a ∈ R+ tem-se

ar · as = ar+s .
m1 m2
Demonstração. Sejam r = mn11 , s = mn22 . Suponha que A = ar = a n1 e B = as = a n2 . Defina
C = A · B. Mostraremos que C = ar+s . Ora, por definição, temos

An1 = am1 , Bn2 = am2 . (2.3)

10
Assim,

Cn1 ·n2 = (A · B)n1 ·n2


= (An1 )n2 · (Bn2 )n1 = (am1 )n2 · (am2 )n1
= am1 n2 · am2 n1 = am1 n2 +m2 n1 ,

que implica,
m1 n2 +m2 n1 m1 m
+ n2
C=a n1 ·n2
= a n1 2 = ar+s .


As duas próximas proposições encerram a análise de crescimento de uma potência de
um número real positivo com expoente inteiro negativo e expoente racional.

Proposição 2.9 Sejam m, n ∈ Z− e a ∈ R+ .

(a) Se a > 1 e m < n, então am < an .

(b) Se 0 < a < 1 e m < n, então am > an .

Se m < n, então am > an .

Demonstração. Desde que m, n ∈ Z− então −m, −n ∈ Z+ . Além disso,

m < n ⇔ −m > −n.

Aplicando a Proposição 2.5 obtemos,

(a) Se a > 1, então

1 1
a−m > a−n ⇔ m
> n
⇔ an > am .
a a

(b) Se 0 < a < 1, então

1 1
a−m < a−n ⇔ m
< n ⇔ an < am .
a a

Proposição 2.10 Sejam r, s ∈ Q com r < s e a ∈ R+ .

(a) Se a > 1, então ar < as .

(b) Se 0 < a < 1, então ar > as .

11
Demonstração. Provemos inicialmente o item (a). Sejam r = mn11 e s = mn22 , com m1 , m2 ∈ Z,
e n1 , n2 ∈ N. O caso em r = 0 é trivial. Vejamos então quando r ̸= 0, assim m1 ̸= 0. Suponha
por contradição que r < s, a > 1 mas ar ≥ as . Colocando ar = b1 > 0 com bn11 = am1 e
as = b2 > 0 com bn22 = am2 temos,

b1 = ar ≥ as = b2 > 0 e m1 · n2 < m2 · n1 . (2.4)

Desde que b1 ≥ b2 > 0 e n1 · n2 ∈ N temos

(b1 )n1 ·n2 ≥ (b2 )n2 ·n1 .

Dividimos o restante da demonstração em casos:

Caso 1 Suponha m1 · m2 > 0. Logo, m1 e m2 possuem o mesmo sinal. Da Proposição 2.9,


item (a), da Proposição 2.5 e da desigualdade (2.4) segue que

a > 1 ⇒ am1 ·n2 < am2 ·n1 ⇒ (am1 )n2 < (am2 )n1
⇒ (bn11 )n2 < (bn22 )n1
⇒ (b1 )n1 ·n2 < (b2 )n2 ·n1 .

Logo, b1 < b2 , que é uma contradição. 

Caso 2 Suponha m1 · m2 < 0. Suponha sem perda de generalidade que m1 < 0 < m2 . Do fato
que a > 1 e m1 < 0 então, −m1 ∈ N, 1a < 1 e

1 1 1
0 < am1 = = ( )−m1 ≤ < 1. (2.5)
a−m1 a a
Portanto,

am1 < 1 ⇒ (am1 )n2 < 1 < am2 ≤ (am2 )n1 (2.6)
⇒ (bn11 )n2 < (bn22 )n1 (2.7)
⇒ (b1 )n1 ·n2 < (b2 )n2 ·n1 . (2.8)

A última desigualdade implica que b1 < b2 , uma contradição. 

1
Passamos a demonstrar o item (b). Ora, desde que 0 < a < 1 temos > 1. Logo, se
a
r < s resulta do item (a) que
( )r ( )s
1 1
< ⇒ ar > as .
a a

12
Obs. 2.1 A potenciação de um expoente racional r = mn envolvendo uma base negativa pode
não estar definida no conjunto dos números reais. Depende da paridade dos números m e n.
Ilustramos esse fato considerando a = −1. Se m é par então am/n = ((−1)m )1/n = 11/n = 1.
Se m é ímpar am/n não está definido. Com efeito, se existisse b > 0 tal que bn = am =
(−1)m , teríamos do lado esquerdo da última igualdade um número positivo, enquanto do
lado direito, para m ímpar, teríamos o número −1, número negativo, portanto, um absurdo.

Com vistas ao exposto e trazendo o tema à luz para o cálculo das raízes n-ésimas de
números reais positivos, podemos reescrever as propriedades acima com o uso do símbolo
da radiciação resumidos no Teorema 2.11 a seguir.

Teorema 2.11 Sejam a, b ∈ R+ , m ∈ Z e n ∈ N. Então,


√ √ √
(a) n a · b = n a · n b.
√ √
n
(b) n ab = √n a .
b

n n
(c) a = a.
√ √ √
(d) n (a · b)m = n am · n bm .

Finalizamos esta seção introdutória definindo as raízes quadradas e cúbicas que são
objetos de investigação deste trabalho.

Definição 2.4 Seja a ∈ R+ . Define-se a raiz quadrada de a, denotada por a, o número
real positivo b cujo quadrado é igual ao número a, isto é
√ 1
a = a 2 = b ⇔ b2 = a, com a, b > 0.

Por definição, a raiz quadrada de zero é zero.



Definição 2.5 Seja a ∈ R. Define-se a raiz cúbica de a, denotada por 3
a, o número real b
cujo cubo é igual ao número a, isto é
√ 1
3
a = a 3 = b ⇔ b3 = a, com a, b ∈ R.

A completeza da reta real, que assegura ser a reta contínua sem ausência de “buracos",
garante que as definições na seção anterior estão bem postas e bem definidas, mesmo quando
a base a for um número irracional. Neste caso, podemos calcular a raiz quadrada (ou cúbica,
se for o caso) de a como o limite das raízes quadradas (cúbicas) dos termos de uma sequência
{an }n∈N de números racionais que convergem para a. Em termos da notação de limite,
√ √
a ̸∈ Q, a = lim an com {an }n∈N ⊂ Q e lim an = a.
n→∞ n→∞

13
O estudo de raízes de números irracionais - como limites de raízes de números racionais -
não é objeto deste trabalho. O leitor interessado pode consultar o livro Números e Funções
Reais do professor (Lima: 2012).Porém, o estudo de raízes de números irracionais será
abordado neste trabalho no Capítulo 4, no qual apresentamos alguns algoritmos iterativos
para a obtenção de aproximações de raízes reais, sejam elas racionais ou irracioinais, através
de limites de sequências de números reais estabelecidas apenas pelas operações elementares
de adição, subtração, multiplicação e divisão.

2.3 Potência de um número real com expoente irracional


Na seção anterior, definimos a potência de um número real com expoente racional
e algumas de suas propriedades. O caso em que o expoente é um número irracional foge
ao escopo deste trabalho, entretanto, apresentaremos a sua definição e ilustraremos o caso
com um exemplo, sem no entanto nos aprofundarmos. Assim, os leitores que manifestarem
interesse, podem consultar Lima (2012).
Definimos a potência de um número real positivo a com expoente irracional x como o
limite de potencias de a com expontes racionais rn que congervem para x. A completeza da
reta assegura ser este limite único. Em termos matemáticos, segue a definição.

Definição 2.6 Seja a ∈ R+ e x real arbitrário. Definimos ax ao limite L dado por

L = lim arn , (2.9)


n→∞

onde {rn }n∈N é qualquer sequência de números racionais convergindo para x.

Para ilustrar esta definição, considere o problema de calcular 2π com uma aproximação
com dez casas decimais. Desde que

π ≃ 3, 14159265358979323846264338327950288419716939937510581

é uma aproximação de π com 52 casas decimais, podemos utilizar a sequência {rn } de


números racionais, obtida a partir de π acresentando mais dígitos significativos em relação
ao termo anterior para estimar uma aproximação para 2π . A Tabela 2.1, obtida a apartir da
planilha eletrônica Excel, fornece na segunda coluna a aproximação da rn -ésima potência
de 2 com dezenove dígitos. Como se observa, 2r8 , 2r9 , e 2r10 concordam até a décima casa
decimal, sendo portanto
2π ≈ 8, 8249778270

com uma precisão até o décimo dígito significativo.

1 Fonte “http://pt.wikipedia.org/wiki/Pi”. Acesso em 26/07/2013.

14
n rn 2rn
1 3, 141500000000000000 8, 824411082479120000
2 3, 141590000000000000 8, 824961595059890000
3 3, 141592000000000000 8, 824973829062870000
4 3, 141592600000000000 8, 824977499267070000
5 3, 141592650000000000 8, 824977805117490000
6 3, 141592653000000000 8, 824977823468520000
7 3, 141592653500000000 8, 824977826527020000
8 3, 141592653580000000 8, 824977827016380000
9 3, 141592653589000000 8, 824977827071440000
10 3, 141592653589700000 8, 824977827075720000
.. .. ..
. . .

Tabela 2.1: Aproximações da π -ésima potência de dois.

15
Capítulo 3

Procedimentos Diretos para o Cálculo de


Raízes Quadradas e Cúbicas

3.1 Introdução
Neste capítulo, apresentamos algumas considerações sobre como o cálculo de raízes
quadradas e cúbicas aparecem nos livros didáticos e alguns procedimentos diretos para o cál-
culo das mesmas acompanhados de exemplos resolvidos ilustrando os métodos1 . A forma
como são geradas as estimativas definem os métodos, que descreveremos nas próximas se-
ções.

3.2 Cálculo de Raízes Quadradas e Cúbicas nos Livros Di-


dáticos
Apresentamos, a seguir, uma análise sobre o ensino de raízes quadradas e cúbicas, a
partir de dois livros didáticos adotados por escolas públicas de Campina Grande-PB no ano
de 2013.
O livro "A Conquista da Matemática”, 8o ano, de Giovanni Jr. e Castrucci lançado em
2009, em seu primeiro capítulo, na Seção 1 "Raiz Quadrada Exata de um Número Racional",
introduz o assunto através de um problema de cálculo da medida do lado de um quadrado
de área conhecida, em seguida, define número quadrado perfeito e inclui uma tabela com os
quadrados dos números naturais de 1 a 20 e dos dez primeiros múltiplos de 10. Ensina a
reconhecer um número quadrado perfeito por meio de figuras geométricas e só então passa
a ensinar o cálculo da raiz quadrada exata de um número racional, definindo-a da seguinte
forma: "Se um número representa um produto de dois fatores iguais não negativos, então
cada fator é a raiz quadrada desse número." Apresenta, por conseguinte, três exemplos de
1 Entende-se como procedimento direto todo algoritmo que gera uma solução em um número finito de
passos.

16
cálculo de raízes quadradas, dois deles de números naturais e um de número racional positivo
e propõe uma sequênciaque busca a repetição dos exemplos através do método de tentativa
e erro. Na Seção 2 "Raiz Quadrada Aproximada de um Número Racional", em seu primeiro
exemplo, utiliza-se do método de tentativas e erro com o auxílio de uma calculadora. No
segundo exemplo, aborda o cálculo apenas através do método de tentativa e erro, finalizando
o estudo de raízes quadradas com mais 3 atividades repetitivas. O livro não menciona cálculo
de raízes cúbicas.
O livro "Matemática, Compreensão e Prática", 8◦ ano, de Silveira e Marques, lan-
çado em 2008, em seu segundo capítulo na Seção 2 "Radiciação", precedido pelo estudo
da potenciação, define radiciação da seguinte forma: “Radiciação é a operação inversa da
potenciação. Dados a ∈ R e n ∈ N∗ , define-se

n
a = b ⇐⇒ bn = a,

sendo a o radicando, b a raiz e n o índice.”


O referido livro, além de apresentar alguns exemplos de cálculos de raízes com índices
pares e índices ímpares, faz a observação de que raiz de índice par de um número negativo
não tem valor real. Assim, ele escreve uma sequência dos doze primeiros quadrados perfeitos
naturais, comentando que eles têm como raízes os fatores que os originaram, mostrando que
a raiz quadrada de um número quadrado perfeito pode ser calculada através da decomposição
do mesmo em fatores primos, segue com exemplificações e propõe 6 atividades. O estudo
de raiz quadrada aproximada é introduzido através do método da tentativa e erro, e, para
finalizar o estudo de radiciação, oferece 10 questões.

Obs. 3.1 Os livros acima analisados, além de não fazerem referência ao cálculo de raí-
zes cúbicas, não trabalham outros métodos para o cálculo de raízes quadradas ou cúbicas
além do método de tentativa e erro e da decomposição em fatores primos e não mencionam
aproximações.

3.3 Método de Tentativa e Erro


Este método é o preferido pelos livros didáticos da Educação Básica ([5],[14]), pois o
processo utiliza-se da definição da raiz quadrada e é de fácil utilização, apesar de necessitar
de muitas iterações para a obtenção da raiz.

3.3.1 Cálculo de Raízes Quadradas


Seja a um número real positivo para o qual se deseja determinar sua raiz quadrada,
digamos r, isto é, desejamos encontrar a solução r da seguinte equação não linear

x2 = a, com x ∈ R e x > 0.

17
O método das tentativas consiste em determinar em cada passo o algarismo mais sig-
nificativo à esquerda da representação decimal da raiz quadrada do número a.
A escolha da nova aproximação do dígito depende de como o quadrado da aproximação
anterior da raiz se aproxima por falta ou por excesso do número a. Caso esta aproximação
ocorra por falta, adotamos um dígito maior àquele anteriormente testado, no caso em que
esta aproximação ocorra por excesso adotamos um dígito menor.
O método pode ser utilizado para o cálculo de raízes exatas ou raízes aproximadas.
No caso de raízes exatas, o método das aproximações termina em um número de passos
finito. Naturalmente, se a raiz quadrada do número a possui uma representação decimal
infinita, o processo que define o método das aproximações continua indefinidamente, porém,
ele fornece uma aproximação com a estimativa que se desejar.

Exemplo 3.1 Encontrando a raiz quadrada exata do número a = 1369, pelo método de
tentaviva e erro.

Dado que o número a possui quatro dígitos, a sua raiz terá dois dígitos. Separando o número
a = 1369 em classes de dois dígitos (no caso 13.69), concluimos que o primeiro dígito da sua
raiz é 3, pois seu quadrado não ultrapassa 13, enquanto o quadrado de 4 excede esse valor.
De fato, 32 = 9 e 42 = 16.
Para obter o segundo dígito, escolhemos um dígito qualquer, por exemplo 3, determi-
nando assim a primeira aproximação x1 = 33. Desde que, 332 = 1089 < 1369, definimos a
segunda aproximação x2 a partir de x1 acrescentando uma unidade no dígito que queremos
determinar, no caso o das unidades. Assim, x2 = 34. O processo segue conforme Tabela

3.1, fornecendo 1369 = 37.

k xk xk2 Comparação entre xk2 e n Conclusão


2 34 1156 1156 < 1369 Acrescenta-se 1 unidade
3 35 1225 1225 < 1369 Acrescenta-se 1 unidade
4 36 1296 1296 < 1369 Acrescenta-se 1 unidade
5 37 1369 1369 = 1369 x5 é a raiz de n.

Tabela 3.1: Exemplo 3.1: Método de tentativa e erro para raízes quadradas

18
Exemplo 3.2 Calculando a raiz quadrada de a = 74529.

Separando o número a em classes de dois algarismos, da direita para a esquerda, temos


a = 7.45.29, como o número tem três classes, a raiz quadrada tem três dígitos. O primeiro
dígito será 2, pois 22 = 4 e 32 = 9, logo 2002 = 70000, que é menor que 74529. Escolhendo
o segundo dígito, digamos 7, temos 2702 = 72900 < a ao passo que 2802 = 78400 > a. Por-
tanto, o segundo dígito da representação da raiz é 7. Para o terceiro dígito da raiz escolhamos
4. Como 2742 = 75076 > a, o dígito das unidades deve ser menor ou igual a 3. Desde que

2732 = a, temos a = 273
Vejamos agora a resolução na Tabela 3.2

k xk xk2 Comparação entre xk2 e n Conclusão


1 200 40000 40000 < 74529 procurar segundo dígito
2 270 72900 72900 < 74529 acrescenta-se 1 unidade
3 280 78400 78400 > 74529 é a tentativa anterior
4 274 75076 75076 > 74529 Procurar o terceiro dígito
5 273 74529 74529 = 74529 é a raiz de n.

Tabela 3.2: Exemplo 3.2: Método de tentativa e erro para raízes quadradas

Exemplo 3.3 Calculando a raiz quadrada de a = 12, 3201.

Para obtermos a raiz quadrada de a pelo método de tentativa e erro, podemos, inicialemente,
utilizar a relação
a = 12, 3201 = 123201 · 104 .

Logo,
√ √ √ √ √
a = 123201 · 10−4 = 123201 · 10−4 = 123201 · 10−2 .

Portanto, o cálculo de raiz quadrada de número decimal resume-se ao cálculo de raiz qua-
drada de número inteiro positivo. A Tabela 3.3 apresenta a resolução para o cálculo da raiz

quadrada de ā = 123201. Em consequência, obtemos a = 3, 51.

k xk xk2 Comparação entre xk2 e n Conclusão


1 300 90000 90000 < ā Procurar segundo dígito
3 350 122500 122500 < ā acrescenta-se 1 unidade
4 360 129600 129600 > ā é a tentativa anterior
6 352 123904 123904 > ā diminui-se 1 unidade
7 351 123201 123201 = ā é a raiz de n.

Tabela 3.3: Exemplo 3.3: Método de tentativa e erro para raízes quadradas

19
3.3.2 Cálculo de Raízes Cúbicas
O método das aproximações, utilizado para estimar a raiz quadrada de um número a
pode ser ligeiramente modificado e aplicado à obtenção de raíz n-ésima de um número real
a, com n ≥ 3 e n ∈ N. A única diferença reside no fato de que desejamos comparar a n-
ésima potência de aproximações com o valor de a, ao invés de compararmos o quadrado das
aproximações com o número a dado.
A seguir apresentamos um exemplo para o cálculo de raízes cúbicas.

Exemplo 3.4 Cálculo da raiz cúbica do número a = 13, 824.

Apresentamos a solução diretamente na Tabela 3.4 que segue.

k xk xk3 Comparação entre xk2 e a Conclusão


1 2, 0 8, 0 8, 0 < 13, 824 acrescenta-se 1 unidade
2 3, 0 27, 0 27, 0 > 13, 824 é a tentativa anterior
3 2, 1 9, 261 9, 261 < 13, 824 acrescentar 1 unidade decimal
4 2, 2 10, 648 10, 648 < 13, 824 acrescentar 1 unidade decimal
5 2, 3 12, 167 12, 167 < 13, 824 acrescentar 1 unidade decimal
6 2, 4 13, 824 13, 824 < 13, 824 é a raiz cúbica de a.

Tabela 3.4: Exemplo 3.4: Método de tentativa e erro para raízes cúbicas

3.4 Método da Fatoração


O método da fatoração baseia-se no Teorema Fundamental da Aritmética, dado a se-
guir.

Teorema 3.1 "Todo número natural maior do que 1 ou é primo ou se escreve de modo único
(a menos da ordem dos fatores) como um produto de números primos."

Demonstração. A demonstração deste Teorema pode ser encontrada em ([6]) e utiliza a


segunda forma do Princípio de Indução. No que segue, apresentamos a sua demonstração
incluindo os detalhes.
Se n = 2, o resultado é obviamente verificado. Suponhamos o resultado válido para
todo número natural menor do que n e vamos provar que vale para n. Se o número n é
primo, nada temos a demonstrar. Suponhamos, então, que n seja composto. Assim existem

20
números naturais n1 e n2 tais que n = n1 n2 , com 1 < n1 < n e 1 < n2 < n. Pela hipótese de
indução, temos que existem números primos p1 , . . . , pr e q1 , . . . , qs tais que n1 = p1 . . . pr e
n1 = q1 . . . qs . Portanto, n = p1 . . . pr · q1 . . . qs .
Vamos agora provar a unicidade da escrita do número natural n > 1, como produto de
fatores primos. Suponha que n = p1 . . . pr = q1 . . . qs , onde os pi e os q j são números primos.
Como p1 |q1 . . . qs temos que p1 = q j para algum j, que, após reordenamento de q1 , ..., qs ,
podemos supor que seja q1 . Portanto,

p2 . . . pr = q2 . . . qs .

Como p2 . . . pr < n, a hipótese de indução acarreta que r = s e os pi e qi são iguais aos


pares. 
Esse método é utilizado no cálculo de raízes exatas de números inteiros ou decimais,
seja ela uma raiz quadrada ou cúbica.

3.4.1 Cálculo de Raízes Quadradas


Seja a um número real positivo para o qual se deseja calcular a sua raiz quadrada. Inici-
almente, decompõe-se a em potências de fatores primos. Note que. Se a é um número
quadrado perfeito, então os expoentes de seus fatores primos são todos pares. Nesse caso, a
sua raiz quadrada é o número real r que possui os mesmos fatores primos do número a com
expoentes iguais a um meio dos expoentes de a, ou seja,

a = (p1 )α (p2 )β . . . (pk )θ ,

com pi , primo, i = 1, 2, 3, . . . , k e α , β , . . . , θ números pares.


Assim,
√ α β θ
a = (p1 ) 2 (p2 ) 2 . . . (pk ) 2 .

O Método da Fatoração não é um método adequado para o cálculo de raízes de nú-


meros relativamente grandes ou com grande quantidade de casas decimais. No método da
fatoração, é necessário encontrar todos os divisores do número a dado, contando com suas
multiplicidades. Assim, se considerarmos

β
a = pα1 · p2

com p1 e p2 números primos distintos relativamente grandes, então, a decomposição de a


como produto de fatores primos torna-se impraticável algébrica e computacionalmente.

Exemplo 3.5 Calculando a raiz quadrada do número a = 44100 pelo método da fatoração.

21
Decompondo a em fatores primos, obtemos

44100 = 22 · 32 · 52 · 72 .

Calculando agora a sua raiz quadrada,

√ 2 2 2 2
44100 = 2 2 · 3 2 · 5 2 · 7 2

⇒ 44100 = 2 · 3 · 5 · 7 = 210.

No caso dos números racionais com representação decimal finita, podemos proceder
de duas formas distintas:

i) Escrever o número real a como uma fração irredutível de dois números reais inteiros,
e decompor separadamente o numerador e o denominador dessa fração.

Exemplo 3.6 Calcule 2, 25.

Para encontrar a raiz quadrada de 2, 25, escreva-o como uma fração irredutível,

225 9
2, 25 = = .
100 4

Calcular a raiz quadrada de 2, 25 é equivalente a calcular a raiz quadrada de 49 . Assim,


temos √ √
√ 9 9 32
2
3
2, 25 = =√ = 2 = .
4 4 22 2

ii) Escreve-se a representação decimal do número real a como sendo o produto de um


número inteiro e uma potência de 10 e tenta-se decompor cada um de seus fatores.

Exemplo 3.7 Calculando 1, 5876.

Reescrevendo 1, 5876 como um produto de um número inteiro por uma potência de


10, temos 1, 5876 = 15876 × (10)−4 , e decompondo os seus fatores, obtemos

1, 5876 = 22 · 34 · 72 · 2−4 · 5−4 .

Daí segue que,


√ 2 4 2 −4 −4
1, 5876 = 2 2 · 3 2 · 7 2 · 2 2 ·5 2

= 2 · 32 · 7 · 2−2 · 5−2
= 126 · 10−2 = 1, 26.

22

Logo, 1, 5876 = 1, 26.

3.4.2 Cálculo de Raízes Cúbicas


Seja a um número real para o qual se deseja calcular a sua raiz cúbica. Inicialmente,
decompõe-se a em potências de fatores primos distintos. Note que. Se a é um número cubo
perfeito. Então os expoentes de seus fatores são todos múltiplos de 3. Nesse caso, a sua raiz
cúbica é o número real r que possui os mesmos fatores primos do número a com expoentes
iguais a um terço dos expoentes de a, ou seja,

a = (p1 )α · (p2 )β · · · · · (pk )θ ,

com p1 , p2 , . . . , pk primos distintos e α , β , . . . , θ múltiplos de 3. Assim,


√ α β θ
3
a = (p1 ) 3 · (p3 ) 3 · · · · · (pk ) 3 .

Exemplo 3.8 Calculando a raiz cúbica do número 59319, usando o método proposto.

Decompondo 59319 em fatores primos, obtemos

59319 = 33 · 133 .
√ 3 3
Assim, 3
59319 = 3 3 · 13 3 = 3 · 13 = 39. Isto é,

59319 = 39.

Exemplo 3.9 Calculando a raiz cúbica de 33, 076161.

Reescrevendo 33, 076161 como 33.076.161 × 10−6 e decompondo-o cada fator em fatores
primos, obtemos
33, 076161 = 33 · 1073 · 2−6 · 5−6 .

Elevando cada membro da igualdade acima a um terço e aplicando as propriedades da po-


tenciação, teremos
√ 3 −6 −6
3
33, 076161 = 3 3 · 2 3 ·5 3

= 3 · 107 · 10−2 · 5−2 = 3, 21.



3
Logo, 33, 076161 = 3, 21.

23
3.5 Método Chinês
O método Chinês é utilizado apenas para obtenção da raiz quadrada de um número
natural quadrado perfeito e baseia-se no fato de que todo número quadrado perfeito pode ser
escrito como soma de n inteiros ímpares. Mais precisamente, para cada número natural n,
temos

1 + 3 + 5 + · · · + (2n − 1) = n2 . (3.1)

A igualdade (3.1), válida para todo número inteiro positivo, pode ser demonstrada pelo
Princípio de Indução. Uma demonstração dessa igualdade encontra-se no Apêndice .
A igualdade pode ser reescrita por:

(((n2 − 1) − 3) − · · · − (2n − 1)) = 0 (3.2)

que é o algorítmo do método chinês.


Do exposto acima, para verificar se um número é ou não quadrado perfeito, subtrai-se
dele a sucessão de números ímpares (1, 3, 5, 7, 9, · · · ). Se uma das diferenças for zero ou
um número negativo, o algorítmo para. Caso em uma dessas subtrações obtem-se o zero
como resultado, conclui-se que o número em questão é um quadrado perfeito e o número de
subtrações realizadas é a sua raiz quadrada. Caso não se obtenha zero em nenhuma dessas
subtrações, e sim um número negativo, conclui-se que o número não possui raiz quadrada
exata, inviabilizando o uso do método para o cálculo de sua raiz quadrada.

Exemplo 3.10 Segue abaixo o cálculo da raiz quadrada do número 36, através do método
chinês.

36 − 1 = 35 =⇒ 36 = 1 + 35
35 − 3 = 32 =⇒ 35 = 3 + 32 =⇒ 36 = 1 + 3 + 32
32 − 5 = 27 =⇒ 32 = 5 = 27 =⇒ 36 = 1 + 3 + 5 + 27
27 − 7 = 20 =⇒ 27 = 7 + 20 =⇒ 36 = 1 + 3 + 5 + 7 + 20
20 − 9 = 11 =⇒ 20 = 9 + 11 =⇒ 36 = 1 + 3 + 5 + 7 + 9 + 11
11 − 11 = 0 =⇒ 11 = 11 + 0 =⇒ 36 = 1 + 3 + 5 + 7 + 9 + 11.

Note que obtivemos zero como resultado na última subtração, logo 36 tem raiz qua-
drada exata. Como foram efetuadas 6 subtrações, assim

36 = 6.

Exemplo 3.11 Cálculo da raiz quadrada do número 85:

24
Aplicando o Método Chinês, temos

85 − 1 = 84 =⇒ 85 = 1 + 84 =⇒ 85 = 1 + 84
84 − 3 = 81 =⇒ 84 = 3 + 81 =⇒ 85 = 1 + 3 + 81
81 − 5 = 76 =⇒ 81 = 5 + 76 =⇒ 85 = 1 + 3 + 5 + 76
76 − 7 = 69 =⇒ 76 = 7 + 69 =⇒ 85 = 1 + 3 + 5 + 7 + 69
69 − 9 = 60 =⇒ 69 = 9 + 60 =⇒ 85 = 1 + 3 + 5 + 7 + 9 + 60
60 − 11 = 49 =⇒ 60 = 11 + 49 =⇒ 85 = 1 + 3 + 5 + 7 + 9 + 11 + 49
49 − 13 = 36 =⇒ 49 = 13 + 36 =⇒ 85 = 1 + 3 + 5 + 7 + 9 + 11 + 13 + 36
36 − 15 = 21 =⇒ 36 = 15 + 21 =⇒ 85 = 1 + 3 + 5 + 7 + 9 + 11 + 13 + 15 + 21
21 − 17 = 4 =⇒ 21 = 17 + 4 =⇒ 85 = 1 + 3 + 5 + 7 + 9 + 11 + 13 + 15 + 17 + 4
4 − 19 = −15 =⇒ 4 = 19 + (−15) =⇒ 85 = 1 + 3 + 5 + 7 + 9 + 11 + 13 + 15 + 17 + 19 + (−5),

em nenhuma das etapas obtivemos zero como resultado, e sim um número negativo, logo, o
número 85 não tem raiz quadrada exata, e sua raiz quadrada aproximada está entre 9 e 10.

25
3.6 Método de Heron
O Método de Heron baseia-se no desenvolvimento do quadrado ou do cubo da soma
de dois termos. No procedimento para a obtenção da raiz quadrada ou cúbica de um número
real positivo, desenvolve-se o produto notável e calcula-se, inicialmente, o algarismo mais
significativo da raiz quadrada ou cúbica, e sucessivamente os próximos algarismos até o
algarismo das unidades, finalizando assim o processo e obtendo-se o resultado desejado. O
método também permite calcular a raiz quadrada ou cúbica de números decimais quadrados
perfeitos, pois os mesmos podem ser escritos como o quociente de um número inteiro por um
potência de 10 ou como o produto de um número inteiro por uma potência de 10, calculando-
se separadamente as suas raízes e, posteriormente, o seu quociente ou produto, conforme o
caso.

3.6.1 Cálculo da Raizes Quadradas


Mostremos para números cuja raiz quadrada tem unidade das dezenas diferente de
zero. Seja a um número natural, quadrado perfeito, do qual desejamos calcular a sua raiz
quadrada. Escrevemos
a = (k + u)2 ,

onde k é um múltiplo de 10, cujo quadrado mais se aproxima de a por falta e u é um número
natural (dígito) compreendido entre 0 e 9, podendo incluisive assumir os valores 0 e 9.
Dessa forma, temos a = (k + u)2 = k2 + 2ku + u2 . Como k é um múltiplo de 10, segue
que k = 10d com 0 < d ≤ 9, ou seja, a = (10d + u)2 . Logo,

a = (10d + u)2 = (10d)2 + 2 · (10d) · u + u2 .

Segue, por definição, que



a = 10d + u. (3.3)

Note que d é o algarismo mais significativo de a. Devemos encontrar agora o algarismo
das unidades u da raiz quadrada de a. Elevando ambos os membros da igualdade (3.3) e
reagrupando apropriadamente, obtemos

a − (10d)2 = 2 · (10d) · u + u2 = (2 · (10d) + u) · u. (3.4)

Uma primeira tentativa para encontrar o algarismo das unidades pode ser com o auxílio
do Algoritmo da Divisão de Euclides. Dividindo-se a − (10d)2 por 2 · (10d), obtemos um
número, cuja parte inteira chamaremos de λ . Assim, podemos escrever

a − (10d)2 = 2 · (10d) · λ + r, com 0 ≤ r < λ . (3.5)

26
Das igualdades (3.4) e (3.5), concluímos que

2 · (10d) · λ + r = 2 · (10d) · u + u2 . (3.6)

Se r = λ 2 , da igualdade (3.6) segue que u = λ . Se r < λ 2 , definindo λ ′ = λ − 1, temos

a − (10d)2 = 2 · (10d) · λ + r
= 2 · (10d) · (λ ′ + 1) + r
= 2 · (10d) · λ ′ + (2 · (10d) + r).

Fazendo 2 · (10d) + r = r′ , obtemos

a − (10d)2 = 2 · (10d) · λ ′ + r′ . (3.7)

Das igualdades (3.4) e (3.7), concluímos que

2 · (10d) · λ ′ + r′ = 2 · (10d) · u + u2 .

Se r′ = (λ ′ )2 , de (3.7) concluímos que λ ′ = u. Se r′ < (λ ′ )2 , define-se λ ′′ = λ ′ −1 e procede-


se analogamente ao procedimento anterior para λ ′ , sucessivamente, até que se encontre al-
gum u = λ tal que r = (λ )2 em (3.6).

Obs. 3.2 A igualdade (3.4) mostra que para encontrar a unidade u, devemos dobrar o al-
garismo das dezenas d e multiplicá-lo por 10. A unidade u será o algarismo que somado
ao resultado anterior e multiplicado por ele mesmo é igual à diferença a − (10d)2 . Como
2 · (10d) é um multiplo de dez, o resultado da soma 2 · (10d) + u equivale a dobrar o alga-
rismo d e posicionar o algarismo u à sua direita. Portanto, a unidade u será o número que
acrescentado ao lado direito do dobro do algarismo das dezenas d e multiplicado por
ele (u) mesmo mais aproxima, por falta, da diferença a − (10d)2 .

Para exemplificar, vamos calcular as raízes quadradas de 625, 1024 e 1444.



Exemplo 3.12 Calcule 625.

Observe que, se 625 = (10d + u)2 então,

625 = (10d)2 + 2 · (10d) · u + u2 ,

ou ainda,

625 − (10d)2 = 2 · (10d) · u + u2 .

27
Sabe-se que 10d é um número cujo quadrado mais se aproxima, por falta, de 625. Logo,
10d = 20, ou seja, d = 2. Consequentemente,

625 − 202 = 2 · (10 · 2) · u + u2 ⇒


225 = 40u + u2 .

Dividindo-se 225 por 40, obtemos o número 5 (cinco) como parte inteira, (225 = 40 · 5 + 25)
ou seja,
225 = 40 · 5 + 25 = 40 · 5 + 52 .

Portanto, λ = 5 e a raiz quadrada de 625 tem algarismo das dezenas 2 e algarismo das
unidades 5, ou melhor,

625 = 2 · 10 + 5 = 25.

Exemplo 3.13 Encontre a raiz de 1024.

Desde que 1024 tem quadro algarismos, ele deve ser o quadrado de um número formado por,
no máximo, dois algarismos. Então, escrevendo

1024 = (10d + u)2 ,

percebemos que d = 30, por ser o múltiplo de 10, cujo quadrado mais se aproxima de 1024.
Para encontrar o algarismo das unidades, utilizamos a igualdade

124 = 1024 − (10d)2 = 1024 − (30)2 = (2 · 30 + u) · u.

Dividindo-se 124 por 60, obtemos 124 = 60 · 2 + 4 = 60 · 2 + 22 , portanto, a raiz quadrada de


1024 tem algarismo das dezenas 3 e algarismo das unidades 2, ou seja,

1024 = 30 + 2 = 32.

Exemplo 3.14 Encontre a raiz de 1444.

Note que o múltiplo de 10, cujo quadrado mais se aproxima de 1444, por falta, é 30. Logo,

544 = 1444 − 900 = (2 · 30 + u) · u.

Dividindo-se 544 por 60, obtemos 544 = 60 · 9 + 4 = 60 · 9 + 22 ̸= 60 · 9 + 92 . Isto mostra


que nove não é o algarismo das unidades procurado. Seguindo o algoritmo apresentado,
escolhe-se um número menor que 9, ou seja, 8, e verifica-se que

544 = 60 · 8 + 64 = 60 · 8 + 82 ,

28
de onde segue que a raiz quadrada de 1444 tem algarismo das dezenas 3 e algarismo das
unidades 8, isto é,

1444 = 30 + 8 = 38.

O processo acima é válido para números cujas raízes quadradas consistem em três ou
mais algarismos. Mostremos para números cuja raiz quadrada tem unidade das centenas
diferente de zero, os demais seguem de forma análoga.
Seja a um número real positivo, quadrado perfeito, cuja representação da sua raiz

quadrada na base dez seja a = cdu, ou seja, a = (cdu)2 . Assim,

a = (cdu)2 = (100c + du)2


= (100c)2 + 2 · (100c) · (10d + u) + (10d + u)2 .

De onde,

a − (100c)2 = 2 · (100c) · (10d) + 2 · (100c) · u + (10d)2 + 2 · (10d) · u + u2


= [2 · (100c) + (10d)] · (10d) + 2 · (100c) · u + 2 · (10d) · u + u2
= [(2c)d0] · (d0) + 2 · (100c) · u + 2 · (10d) · u + u2

Na última igualdade, o termo (2c)d0 representa o número cujo algarismo das centenas é 2c,
das dezenas é d e possui o zero como unidade. Percebemos também que, para encontrar o
algarismo das dezenas, procuramos o algarismo d que posicionado à direita do dobro de c
e multiplicado por ele mesmo, mais aproxima, por falta, da diferença a − (100c)2 . Supondo
já termos encontrado "os algarismos"das centenas e das dezenas, precisamos determinar a
unidade u. Para tanto, observe que:

a − (100c)2 − [2 · (100c) + (10d)] · (10d) = 2 · (100c) · u + 2 · (10d) · u + u2


= [2 · (100c + 10d) + u] · u.

Portanto, para encontrar a unidade u, seguimos os mesmos passos anteriores.

Exemplo 3.15 Encontre a raiz de 12544.

Note que o múltiplo de 100, cujo quadrado mais se aproxima de 12544, por falta, é 100.
Logo, c = 1, e temos

2544 = 12544 − (100)2 = [2 · (100c) + (10d)] · (10d) + 2 · (100c) · u + 2 · (10d) · u + u2 .

29
Observe que,

d = 1 ⇒ [2 · (100c) + (10d)] · (10d) = [210] · 10 = 2, 100


d = 2 ⇒ [2 · (100c) + (10d)] · (10d) = [220] · 20 = 4, 400.

Assim, o dígito das dezenas admissível corresponde a d = 1. Para encontrar o algarismo das
unidades, observe que

444 = [12544 − (100)2 ] − 2100 = [2 · (100c + 10d) + u] · u.

Dividindo-se 444 por 2·110 obtemos 444 = 220·2+4 = 220·2+22 , de onde segue que a raiz
quadrada de 12544 tem algarismo das centenas 1, das dezenas 1 e algarismo das unidades 2,
isto é,

12544 = 112.

3.6.2 Dispositivo Prático para o Cálculo de Raízes Quadradas.

O cálculo de raízes quadradas pode ser realizado através da sequência de procedi-


mentos a seguir. A mesma será chamada de Dispositivo Prático para o Cálculo de Raízes
Quadradas e tem como base o método de Heron. O número de classes indicará quantos
algarismos compõem a raiz quadrada.
Apresentamos, a seguir, os passos do algoritmo acompanhado de um exemplo para
ilustração.

I. Para se calcular a raiz quadrada de um número, separa-se o número em classes de dois


algarismos, da direita para a esquerda.

Escrevemos o número 12544 separado em classes de dois algarismos, isto é, 1.25.44.

II. Acha-se o maior quadrado perfeito contido na primeira classe da esquerda, e escreve-se
a sua raiz ao lado direito do número, em forma de divisor. Subtrai-se o quadrado do
algarismo encontrado da primeira classe e o resto junto com a segunda classe formará
o novo dividendo.


1.25.44 1
1 − 12 = 0
025

30
III. Duplica-se a raiz achada e multiplica-se por 10, e o produto será o primeiro divisor
auxiliar. Divide-se o dividendo pelo divisor auxiliar, e o quociente será um candidato
a segundo algarismo da raiz. Adiciona-se esse segundo algarismo da raiz ao divisor
auxiliar, a soma será o divisor completo.


1.25.44 11
2 · 1 · 10 = 20
025 025 ÷ 20 = 1 · 20 + 5
20 + 1 = 21

IV. Multiplica-se o divisor completo pelo último algarismo da raiz encontrado, e o produto
subtrai-se do novo dividendo. Baixa-se a classe seguinte ao lado do resto, formando o
novo número.


1.25.44 11
21 · 1 = 21
025 − 21 = 4 025 ÷ 20 = 1 · 20 + 5
444

V. Repete-se os passos III e IV até à última classe.


1.25.44 112
21 · 1 = 21
444 444 ÷ (11 · 2 · 10) = 2
(220 + 2) · 2 = 444
444 − 444 = 0

3.6.3 Cálculo de Raízes Cúbicas


Mostremos o caso do número cuja raiz cúbica tem algarismo das dezenas diferente de
zero. O procedimento para o cálculo de raízes cúbicas é análogo ao utilizado no cálculo de
raízes quadradas.
Seja a um número natural, cubo perfeito, do qual desejamos calcular a sua raiz cúbica.
Sendo a um cubo perfeito, então a = (k + u)3 , onde k é um múltiplo de 10 cujo cubo mais se
aproxima de a por falta e u é um número natural compreendido entre 0 e 9, podendo inclusive
assumir os valores 0 e 9. Dessa forma,

a = (k + u)3 = k3 + 3 · k2 · u + 3 · k · u2 + u3 , (3.8)

31
como k é um múltiplo de 10, existe 1 < d 6 9, d ∈ N tal que k = 10 · d.
Substituindo k = 10d em (3.8), obtemos

a = k3 + 3 · k2 · u + 3 · k · u2 + u3 =⇒
a = (10d)3 + 3 · (10d)2 · u + 3 · (10d) · u2 + u3 =⇒
a − (10d)3 = 3 · (10d)2 · u + 3 · (10d) · u2 + u3 .

Note que d é o algarismo das dezenas da raiz cúbica de a. Devemos encontrar agora o
algarismo das unidades. Portanto, utilizamos a identidade

a − (10d)3 = {3 · (10d) · [(10d) + u] + u2 } · u. (3.9)

Observe que o resultado da adição (10d) + u tem o mesmo efeito que colocar o alga-
rismo u ao lado direito do algarismo d. Portanto a identidade (3.9) mostra que para encontrar-
mos o próximo algarismo significativo, no caso acima, o das unidades, devemos encontrar o
maior algarismo u que substituindo no espaço destacado abaixo

{3 · (10d) · [du] + u2 } · u, (3.10)

não exceda a diferença a − (10d)3 .


Dessa forma, os procedimentos para se obter o próximo algarismo significativo da
representação da raiz cúbica de um número real consiste em seguir os seguintes passos:

Algoritmo 3.1

I. Adiciona o candidato u que se deseja encontrar ao lado do(s) dígito(s) anteriormente de-
terminando, equivalente a efetuar a adição

(10 · d) + u.

II. Multiplica-se o resultado do Item I anterior pelo triplo do(s) dígito(s) anteriormente de-
terminando e depois por dez.

III. O resultado do Item II deve ser somado ao quadrado do candidato e o resultado das
operações multiplicado pelo próprio candidato u.

IV. O dígito requerido será o candidato obtido pelos passos I-III que mais se aproximar da
diferença a − (10d)3 por falta.

Exemplo 3.16 Para exemplificar o algoritmo acima vamos calcular a raiz cúbica de 1728.

32
Desde que 1728 possui menos de seis dígitos na sua representação na base dez, a representa-
ção da sua raiz cúbica possui apenas dois dígitos. Considere então, o problema de encontrar
d e u tais que
1728 = (10 · d + u)3 .

Note que o múltiplo de 10, cujo cubo mais se aproxima de 1728, por falta, é 10. Assim, d = 1
e

1728 − 103 = 3 · (10d)2 · u + 3 · (10d) · u2 + u3


= 3 · (10d)2 · u + 3 · (10d) · u2 + u3 ,

que implica,

728 = 3 · (10d)2 · u + 3 · (10d) · u2 + u3 .

Dividindo-se 728 por 3 · 102 , obtemos um candidato para u, a saber u = 2. Desde que d = 1
então,

u = 1 ⇒ {3 · (10 · 1) · [11] + 12 } · 1 = 331


u = 2 ⇒ {3 · (10 · 1) · [12] + 22 } · 2 = 728.

Ou seja,

728 = 3 · (10 · 1)2 · 2 + 3 · (10 · 1) · 22 + 23 .

Portanto, u = 2 corresponde ao algarismo das unidades da raiz cúbica de 1728.

3.6.4 Dipositivo Prático para o cálculo de Raízes Cúbicas

O cálculo de raízes cúbicas pode ser realizado através da sequência de procedimentos


a seguir. A mesma será chamada de Dispositivo Prático para o Cálculo de Raízes Cúbicas
que utiliza como princípio o Algoritmo 3.1 da Seção 3.6.3. Ilustraremos com um exemplo
para melhor entendimento.
I. Para se calcular a raiz cúbica de um número, divide-se o número em classes de três alga-
rismos. O número de classes indicará quantos algarismos compõem a raiz cúbica.

Escrevemos o número 1815848 separado em classes de três algarismos, na forma

1.815.848.

II. Acha-se o maior cubo perfeito contido na primeira classe da esquerda, e escreve-se a sua

33
raiz ao lado direito do número, em forma de divisor. Subtrai-se o cubo perfeito da
primeira classe e o resto junto com a segunda classe formará o novo dividendo.


3
1.815.848 1
1 − 13 = 0
0815

Logo, o algarismo das centenas é c = 1.

III. Calcula-se o quadrado da raiz encontrada e multiplica-se por 300 (c2 · 300 = 300), e
o produto será o primeiro divisor auxiliar. Divide-se o dividendo (815) pelo divisor
auxiliar (300), e a parte inteira do quociente (2) será o primeiro candidato a segundo
algarismo da raiz. Monta-se a operação auxiliar a partir da expressão dada em (3.10)
com o candidato. No caso em que este exceda a diferença dada no Item II, consi-
deramos como próximo candidato o algarismo imediatamente anterior ao candidato
testado.

3
1.815.848 1
815 u = 2 ⇒ {3 · (10 · 1) · [12] + 22 } · 2 = 728
u = 3 ⇒ {3 · (10 · 1) · [13] + 32 } · 3 = 1.197 > 815

Logo, o algarismo das dezenas é d = 2.

IV. Substrai-se o dividendo obtido no Passo III pelo resultado da operação auxiliar e junto
com a terceira classe formará o novo dividendo.
√3
1.815.848 1
815 d = 2 ⇒ {3 · (10 · 1) · [12] + 22 } · 2 = 728
815 − 728 = 87
87.848

V. Repete-se os passos II - IV até à última classe.


3
1.815.848 12
(12)2 = 144
300 · 144 = 43200
87.848
87.848 ÷ 43200 ≈ 2
u = 2 ⇒ {3 · (10 · 12) · [122] + 22 } · 2 = 87848
87.848 − 87848 = 0


3
Logo, o algarismo das unidades é u = 2, e 1815848 = 122.

34
Capítulo 4

Métodos Iterativos

4.1 Introdução
Nesse capítulo, apresentamos alguns métodos de aproximação para o cálculo de raízes
quadradas ou cúbicas, que podem ser implementadas numa planilha eletrônica ou em uma
linguagem computacional, à qual gera um arquivo executável que rode em ambientes com-
putacionais para simulações numéricas, tais como o Octave e o Scilab (softwares livres) ou
o Matlab.
Os métodos iterativos permitem efetuar o cálculo de raízes quadradas ou cúbicas apro-
ximadas através do uso de uma fórmula (de recorrência), propiciando uma rápida aproxima-
ção com poucas iterações e permite a utilização de softwares para as aproximações desejadas.
Alguns métodos iterativos aqui apresentados para o cálculo de raízes quadradas ou
cúbicas provêm do Método do Ponto Fixo. Iniciaremos o capítulo com uma seção dedicada
a esse método, mesmo não o utilizando para tratar de convergência das sequências definidas
por ele. Sua apresentação objetiva apenas motivar a definição dos dois primeiros métodos
que se seguem e a sua interpretação geométrica ajuda a entender como as sequências são
definidas.

4.2 Método do Ponto Fixo


Considere o problema de encontrar uma solução r da equação

F(x) = 0, (4.1)

onde F é uma função contínua em um intervalo [a, b] contendo r.


O Método do Ponto Fixo (M.P.F) consiste em transformar a equação (4.1) em uma
equação equivalente
x = f (x), (4.2)

35
onde f é chamada de “função de iteração”. A partir de uma primeira aproximação x0 ,
define-se
x1 = f (x0 ), x2 = f (x1 ), x3 = f (x2 ), x4 = f (x3 ), . . .

gerando uma sequência {xn }n=0,1,2,... definida iterativamente pela fórmula

xn+1 = f (xn ). (4.3)

Sob certas condições sobre a função f , pode-se provar que a sequência definida pela
fórmula de recorrência (4.3) converge para um ponto fixo de f (r = f (r)) e, portanto, para
uma raiz da equação (4.2).
As condições suficientes que asseguram a convergência do Método do Ponto Fixo estão
contidas no Teorema 4.1 abaixo, cuja demonstração foge ao escopo deste trabalho. Entre-
tanto, leitores interessados podem consultar ([13], p.p. 58) e ([0], p.p. 133).

Teorema 4.1 Seja r ∈ [a, b] ⊂ R uma raiz da equação f (x) = x, onde f é contínua em

[a, b] e diferenciável em (a, b). Se | f (x)| ≤ k < 1 para cada x ∈ (a, b) então, a sequência
{xn }n=0,1,2,3,... definida por (4.3), com x0 ∈ (a, b), converge para r.

O Teorema acima mostra que devemos escolher a função de iteração com critério, bem
como a aproximação inicial x0 . Uma escolha que não cumpre as condições do Teorema 4.1
pode gerar uma sequência que não converge para a raiz r. Por outro lado, exigir que x0 esteja
contido no intervalo para o qual se verificam as condições do Teorema 4.1 para a função f
implica construir a sequência {xn }n=0,1,2,3,... , definida por (4.3), que permanecerá em (a, b)
e, portanto, as condições do Teorema se verificarão para todos os seus termos. Com efeito,
se r for uma raiz exata da equação f (x) = x. Assim, f (r) = r e para qualquer k ∈ N, tem-se

xk+1 − r = f (xk ) − f (r). (4.4)

Sendo f contínua e diferenciável em (a, b), do Teorema do Valor Intermediário, se xk ∈


(a, b), existe yk entre xk e r tal que

f (xk ) − f (r) = f (yk )(xk − r). (4.5)

De (4.4) e (4.5), e da hipótese sobre a derivada de f , resulta


′ ′
|xk+1 − r| = | f (xk ) − f (r)| = | f (yk )(xk − r)| ≤ | f (yk )| · |(xk − r)| < b − a,

que implica dizer que xk+1 ∈ (a, b).


Do ponto de vista geométrico, o método M.P.F. consiste em, a partir de um ponto A0
de coordenadas (x0 , f (x0 )), construir uma linha poligonal

A0 B1 ∪ A1 B2 ∪ A2 B3 ∪ · · · ∪ An Bn+1 ∪ . . . ,

36
cujos segmentos Ai Bi+1 , i = 0, 1, 2, . . . , são, alternadamente, paralelos aos eixos coordena-
dos, sendo os pontos Ai′ s pertencentes à curva de equação y = f (x), enquanto os pontos Bi′ s
pertencem à reta y = x.
As Figuras 4.1 e 4.2 ilustram o M.P.F para sequências convergentes. A Figura 4.3 ilus-
tra um caso em que o método gera uma sequência não convergente pela escolha inapropriada
da função de iteração.

Figura 4.1: Iteração Linear com f (x) = Figura


( 4.2:) Iteração Linear com f (x) =
′ ′
3 2x − x2 , f (x) > 0 e sequência con-
1 1 3
(x + 1) 3 , f (x) < 0 e sequência conver-
gente para x0 = 0, 3. vergente para x0 = 0, 5.

Figura 4.3: Sequência gerada pelo M.P.F não convergentente para f (x) = 0.05x2 + 2x −
5, x0 = 3, 68.

O Método do Ponto Fixo pode ser aplicado para determinar a raiz n-ésima de um
número real. Com efeito, utilizando as equivalências

a a 1( a )
xn = a ⇔ x = ⇔ nx − (n − 1)x = ⇔x= (n − 1)x + n−1 , (4.6)
xn−1 xn−1 n x
transformamos o problema de encontrar a raiz da equação xn = a no problema de determinar
a raiz da equação x = f (x), com

1( a )
f (x) = (n − 1)x + n−1 . (4.7)
n x

37
Como ( )
′ 1 a(n − 1) √
f (x) = (n − 1) − < 1, ∀x > n
a,
n xn
segue que f é uma opção admissível para ser uma função de iteração.
Para o Método Babilônico, introduzido na Seção 4.3 adiante, que estabelece uma
sequência para o cálculo da raiz quadrada de um número real positivo, adotamos a fun-
ção de iteração dada em (4.7) com n = 2. A mesma função de iteração estabece a sequência
definida na Seção 4.4 para o cálculo de raízes cúbicas.

4.3 Método Babilônico


Para a demonstração do Teorema 4.4 precisamos da Proposição 4.2 e do Lema 4.3
abaixo. A demonstração do Lema 4.3 encontra-se em PATERLINE [12], assim como a
demonstração do Teorema 4.4, a qual reproduziremos com detalhes.

Proposição 4.2 Seja a ∈ Z. Se a2 é par, então a é par.

Demonstração. De fato, se a fosse ímpar, a = 2q + 1, para q inteiro, então a2 = (2q + 1)2 =


4q2 + 4q + 1 = 2(2q2 + 2q) + 1 = 2t + 1, sendo t inteiro, logo a2 é ímpar. Portanto, se a2 é
par, então a é par.

(p+q)
Lema 4.3 Sejam a, p, q ∈ R+ tais que a = pq. Fazendo c = 2 . Valem as seguintes
propriedades:
√ √ √
i) Se p = a (ou se q = a), então c = a;

ii) Se p < q, então p < a < c < q;
√ √
iii) Se p < q, então 0 < c − a < 12 (q − a).

Teorema 4.4 Seja a ∈ R+ . A sequência (ak )k>0 , definida por


{
a0 > 0
ak = 1 a
2 (ak−1 + ak−1 ), k>1

converge para n.

Demonstração.
Notemos que a1 é a média aritmética de a0 e a/a0 , e que a0 (a/a0 ) = a. Notemos ainda
que a2 é a média aritmética de a1 e a/a1 , e que a1 (a/a1 ) = a, e assim por diante. Estamos
na posição de aplicar o Lema 4.3 para cada k ≥ 1, com p = ak−1 e q = a/ak−1 ou vice-versa,
e c = ak .
√ √ √
Se a0 ̸= 0, examinamos os casos a0 < a e a0 > a. Suponhamos primeiro a0 < a.

Aplicando o Lema 4.3 com p = a0 e q = aa0 temos a < q, portanto p < q. Pela parte ii) do

38

Lema 4.3 vem a < a1 . Aplicando agora o Lema 4.3 com p = a/a1 e q = a1 , temos
√ √
a < a1 ⇒ p < a ⇒ p < q.

Novamente da parte ii) do Lema 4.3 segue a < a2 . Aplicando a parte iii) do Lema 4.3 vem
que

√ 1 √
0 < a2 − a < (a1 − a).
2
a
Repetindo o argumento para p = a2 e q = a2 segue que

√ √ 1 √ 1 √
a < a3 e 0 < a3 − a < (a2 − a) < 2 (a1 − a).
2 2

Procedendo indutivamente temos a < ak para todo k ≥ 1 e

√ 1 √
0 < ak − a < k−1 (a1 − a), ∀ k ≥ 2. (4.8)
2

1
Por outro lado 2k−1 tende para zero quando k tende para o infinito e o valor a1 − a

está fixo, segue da relação (4.8) que ak − a tende a zero, quando se toma valores de k cada

vez maiores. Isto significa que ak se aproxima de a tanto quanto desejarmos, conforme
queríamos demonstrar. 

Obs. 4.1 A definição da sequência definida no Teorema 4.4 para n = 2, pode ser entendida
a partir do método do ponto fixo e das seguintes implicações:

x ̸= 0, x2 = a ⇒ x = a/x ⇒ 2x − x = a/x ⇒ 2x = x + a/x ⇒ x = 1/2(x + a/x).

Conforme discutido na Seção 4.2, equação (4.7).

Exemplo 4.1 Usando o Método do Ponto Fixo, vamos encontrar a raiz quadrada do número
2, com aproximação de quatro casas decimais.

Tomando a0 = 1, temos
(1+ 2 )
a1 = 2 1 = 32 = 1, 5000000
( 32 + 23 )
2 17
a2 = 2 = 12 = 1, 4166666,
( 17 2
12 + 17 )
12 577
a3 = 2 = 408 = 1, 414215686,
( 577 2
408 + 577 )
408
a4 = 2 = 1, 41423562.

Note que as quatro primeiras casas decimais de a3 são iguais as de a4 , assim 2≈
1, 4142 com aproximação até a quarta casa decimal.

39
4.4 Cálculo de Raízes Cúbicas

3
Sejam a > 0 um número real e x0 uma aproximação de a, por excesso, isto é:

x03 > a ⇐⇒ x0 > 3
a.

Definindo a sequência

1 a
xk+1 = (2xk + 2 ), k = 0, 1, 2, 3, . . . (4.9)
3 xk

e considerando a desigualdade entre a média geométrica e a média aritmética entre os núme-


ros xk , xk e xak , para cada valor k ∈ N, temos que
√ √
xk+1 = 13 (xk + xk + xa2 ) ≥ 3 xk · xk · xa2 = 3 a,
k k
√ √
ou seja, cada aproximação xk é uma aproximação por excesso de 3
a. Como xk ≥ 3 a > 0
para todo k = 0, 1, 2, 3, ... temos que
√3
xk2 ≥ a2 =⇒
1 1 −2
2
≤ √3 2
= a 3 =⇒
xk a
a −2 1 √
2
≤ a 3 · a = a 3 = 3 a.
xk

Assim,

a
xk2
≤ 3
a ≤ xk , ∀k = 0, 1, 2, ...

Considere para cada k = 0, 1, 2, ..., o intervalo Ik = [ xa2 , xk ]. Observe que Ik+1 ⊂ Ik , ∀k ∈ N, e


√ k
além disso 3 a ∈ Ik , ∀k. Isto é:

a
x02
< a
x12
< a
x22
< ··· < a
xk2
· ·· < 3
a < · · · < xk < · · · < x2 < x1 < x0 .

a
De fato, como xk3 > a =⇒ xk > xk2
então,

xk+1 = 13 (2xk + xa2 ) < 13 (2xk + xk ) = xk .


k

Isto é,

3
a < · · · < xk+1 < xk < · · · < x3 < x2 < x1 .

Por outro lado,


2 1 1
0 < xk+1 < xk =⇒ xk+1 < xk2 =⇒ 2
xk+1
> xk2
,

40
a a
como estamos supondo a > 0, temos 2
xk+1
> xk2
.. Portanto,

a
x02
< a
x12
< a
x22
< ··· < a
xk2
< 2
a
xk+1
< ··· < 3
a.

Afirmação 4.1 Para cada k ∈ N o comprimento l(Ik+1 ) do k + 1-ésimo intervalo Ik+1 =


a
[ xk+1 , xk+1 ] é menor ou igual a dois terços do comprimento do k-ésimo intervalo Ik = [ xak , xk ].

Demonstração. Seja k ∈ N, k > 1. Temos


( )
a a 1 a a
l(Ik ) = xk − 2 ≤ xk − 2 = 2xk−1 + 2 − 2
xk xk−1 3 xk−1 xk−1
( ) ( )
1 2a 2 a
= 2xk−1 − 2 = xk−1 − 2
3 xk−1 3 xk−1
2
= l(Ik−1 ).
3


Da Afirmação 4.1, mostra-se a partir do Princípio de Indução Finita que
Afirmação 4.2 Para cada k ∈ N, vale a relação
( )k
2
l(Ik ) ≤ l(I0 ). (4.10)
3

De fato, da Afirmação 4.1


( )1
2
l(I1 ) ≤ l(I0 ) =⇒
3
( )1 ( )2
2 2
l(I2 ) ≤ l(I1 ) ≤ l(I0 ) =⇒
3 3
( )1 ( )3
2 2
l(I3 ) ≤ l(I2 ) ≤ l(I0 ) =⇒
3 3
..
.
( 2 )k
Suponha por hipótese de indução que l(Ik ) ≤ 3 l(I0 ). Assim,
( )1 ( ) ( )k
2 2 2
l(Ik+1 ) ≤ l(Ik ) ≤ · l(I0 ) =⇒
3 3 3
( )k+1
2
l(Ik+1 ) ≤ l(I0 ).
3

Mostramos, pelo Princípio de Indução finita, que


( )n
2
l(In ) ≤ l(I0 ), ∀n ∈ N.
3

41

A Afirmação 4.2 diz que os comprimentos dos intervalos Ik ficam cada vez menores
quanto maior for o número de iteração k. Ou seja, quando k tende para o infinito o compri-

mento do intervalor Ik tende a zero. E desde que 3 a ∈ Ik , ∀k ∈ N, segue que o ponto médio

do intervalo Ik se aproxima de 3 a tanto quanto desejarmos. Matematicamente,
( )
1 a √
3
lim + xk = a.
k→∞ 2 xk2

Para analisar a convergência à luz da sequência definida em (4.9) observe que, sendo

xk , a ∈ Ik , então
3

√ 2
|xk − 3 a| < l(Ik ) < ( )k l(I0 ). (4.11)
3
Ou seja, quanto mais iterações forem realizadas mais próximo as aproximições xk ficam de
√3
a, tanto quanto desejarmos!
A desigualdade (4.11) também fornece uma estimativa para o erro entre a aproximação

xk e a raiz cúbica de a. Com efeito, definindo o erro ek = |xk − 3 a|, se desejarmos uma
aproximação com um erro menor do que ε , basta impormos

2
ek ≤ ( )k l(I0 ) ≤ ε .
3
e resolvendo a inequação para k, obter uma estimativa para o número de iterações necessárias

log(ε ) − log(l(I0 ))
k≤ .
log( 23 )

4.5 Método da Bissecção


O Método da Bissecção baseia-se no Teorema 4.5 (Teorema do valor Intermediário)
cuja demonstração pode ser encontrada na grande maioria dos livros de Cálculo diferencial
e Integral I.

Teorema 4.5 "Se f : [a, b] → R é contínua tal que f (a) f (b) < 0, então existe r ∈ (a, b) tal
que f (r) = 0."

O Método consiste em escolher uma sequência infinita de intervalos encaixados, de


comprimentos cada vez menores, de modo que todos eles contenham a raiz desejada.
Para o cálculo da raiz n−ésima de um número a ∈ R+ , considera-se a função polino-
mial auxiliar f (x) = xn − a, que é contínua em todo intervalo fechado [a, b] ⊂ R, e portanto
satisfaz as hipóteses do Teorema do Valor Intermediário. A seguir, encontra-se um intervalo
[a0 , b0 ] ⊂ R+ para o qual o sinal da função f alterna nos extremos desse intervalo. Compara-
se o sinal dos extremos com o sinal da função f no ponto médio do intervalo [ak , bk ] e
considera-se a parte menor do intervalo formado por um dos extremos e do ponto médio

42
computado que contêm a raiz n−ésima de f . O Processo segue até se obter a raiz como
ponto médio de algum dos subintervalos ou até o comprimento de um subintervalos restar
tão pequeno quanto se desejar. No último caso, obtém-se uma estimativa para raiz n−ésima
com um erro pré-estabelecido.
Apesar da velocidade de convergência do Método da Bisecção ser bastante lenta, ele
pode ser aplicado para obter uma aproximação para qualquer raiz n−ésima de um número
real positivo com qualquer estimativa definida.

4.5.1 Cálculo de Raízes Quadradas


√ ak +bk
Tomando um intervalo [a0 , b0 ], contendo a, define-se a sequência xk = 2 para
k = 0, 1, 2, ... e

{
ak+1 = xk e bk+1 = bk se xk2 < a,
bk+1 = xk e ak+1 = ak se xk2 > a.

Desta forma, constroi-se uma sequência de intervalos Ik = [ak , bk ] contendo a tal que

1 1
l(Ik ) = bk − ak = n
l(I0 ) = n (b0 − a0 ). (4.12)
2 2
A igualdade (4.12) afirma que o comprimento l(Ik ) do k−ésimo intervalo tende a zero quando

k tende para infinito. Portanto, ak +b
2
k
tende para a, quando k tende ao infinito.

Exemplo 4.2 A tabela abaixo ilustra o cálculo de 2 usando o método da bissecção.
ak +bk
k ak bk xk = 2 xk2 Análises
0 1 3 2 4 a1 = a0 e b1 = x0
1 1 2 1.5 2.25 a2 = a0 e b2 = x1
2 1 1.5 1.25 1.5625 a3 = x2 e b3 = b2
3 1.25 1.5 1, 375 1, 890625 a4 = x3 e b4 = b2
4 1, 375 1.5 1, 4375 2, 06640625 a5 = a4 e b5 = x4
5 1, 375 1, 4375 1, 40625 1, 97753906 a6 = x5 e b6 = b5

43
Capítulo 5

Atividades Propostas

5.1 Introdução
Neste capítulo, propusemos uma sequência de atividades que visam fixar os procedi-
mentos envolvidos em cada método de forma prática, através de exercícios. As sete primeiras
atividades têm por objetivo a fixação dos procedimentos e as demais são de aplicações prá-
ticas. Não apresentamos exemplos referentes aos métodos das tentativas e da fatoração por
estarem presentes na maioria dos livros didáticos. As atividaddes são destinadas a alunos do
1◦ ano do Ensino Médio e devem ser apresentadas em forma de projeto. Esse conjunto de
atividades poderá ser aplicado em 20 aulas de 45 minutos.

5.2 Atividades
5.2.1 Atividade 1
Complete a Tabela seguinte.

Números Representação como soma de ímpares consecutivos Total de parcelas


1 1 1
4 1+3 2
9 1+3+5 3
16 1+3+5+7
25 5
36
49
64

De acordo com os dados da tabela, responda:


1. Qual a relação entre a 1a coluna e a 3a coluna, ou seja, qual a relação entre o número
e o total da parcelas ímpares da sua representação?

44
2. Existe algum padrão na tabela ?

3. Os números da 1a coluna da tabela são quadrados perfeitos?

4. Qual a relação existente entre a soma de ímpares que representam um número qua-
drado perfeito e sua raiz quadrada?

5. Será que o mesmo ocorre com os números 2, 5 e 14? O que você conclui?

6. Sugira uma expressão para o cálculo da soma dos primeiros k números ímpares.

7. Qual é a raiz quadrada de 25? E de 81? E de 121? E de 225?

Método Abordado: Método Chinês

Objetivo: Os métodos comumente apresentados para obtenção de raízes quadradas de nú-


meros quadrados perfeitos, recaem sempre em divisões, usando o procedimento de
fatoração, ou multiplicações, através do procedimento de tentativa. O objetivo dessa
atividade é levar o aluno a perceber que existe um recurso para cálculo de raízes qua-
dradas, de números quadrados perfeitos, que recai em adições.

Orientação: Posteriormente, a demonstração matemática é feita pelo professor respeitando


o nível de escolaridade dos alunos.

5.2.2 Atividade 2
Com o número 676. Realize os seguintes passos.

1. Escreva-o como classes de dois algarismos, da direita para a esquerda.


6.76.

2. Encontre o número cujo quadrado mais se aproxima da classe à esquerda, por falta.
Reserve esse número.
A classe à esquerda é o número 6. O número cujo quadrado mais se aproxima de 6 é
2, ou seja, 22 = 4. 2 é o número reservado

3. Subtraia o quadrado desse número do grupo mais a esquerda.


6 − 4 = 2.

4. Escreva o resultado dessa subtração e ao seu lado o grupo seguinte.


276.

5. Divida o número obtido no Passo 4 por 20 vezes o número reservado no Passo 2.(divisão
com resto).
276 ÷ (20 · 2) = 6 com resto 36.

45
6. Some o resultado da divisão com 20 vezes o número reservado no Passo 2.
20 · 2 + 6 = 46.

7. Multiplique os resultados obtidos nos Passos 5 e 6 e subtraia o número obtido no Passo


4, verifique se o resultado obtido é zero.
46 · 6 = 276 =⇒ 276 − 276 = 0.

8. Se o resultado obtido for zero, escreva o número formado pelos algarismos obtidos nos
Passos 2 e 5, nessa ordem e eleve-o ao quadrado. Passe para o último questionamento.
26 =⇒ 262 = 676.

9. Se o resultado obtido no Passo 7 for diferente de zero, então subtraia 1 do número


obtido no Passo 5 e, com esse a número faça o procedimento dado no Passo 7;

10. Se o resultado obtido foi zero, escreva o número formado pelos algarismos obtidos nos
Passos 2 e 9, nessa ordem.

11. Há alguma relação entre a raiz quadrada de 676 e o número obtido no Passo 8 ou nos
Passos 2 e 9?

Sim, temos 676 = 26.

Apresentamos agora a solução organizada em uma Tabela.



6.76 26
2
2 =4
6−4 = 2
276
276 ÷ (20 · 2) = 6, com resto 36
(20 · 2 + 6) · 6 = 276
276 − 276 = 0

Método Abordado: Método de Heron (Algoritmo)

Objetivo: Apresentar, por etapas, o algoritmo para o cálculo de raízes quadradas, levando
os alunos à relacionarem o resultado obtido com a raiz quadrada do número por ele es-
colhido. Esse método é particularmente importante quando trabalhamos com números
relativamente grandes.

Orientação: Para validar o algoritmo, o professor deve certificar-se de que os alunos domi-
nam o sistema de numeração de números reais na base 10 e que já viram os principais
produtos notáveis. A descoberta da validação do método pelos alunos com apenas
estes dois conteúdos matemáticos deve despertar interesse e afastar o discurso do em-
prego indicriminado da "fórmula".

46
5.2.3 Atividade 3
Calcule a raiz quadrada do número 1296 utilizando a sequência de comandos da ativi-
dade anterior.
Espera-se que o aluno resolva com tranquilidade a questão

Método Abordado: Método de Heron

Objetivo: Praticar e fixar os procedimentos do método.

Orientação: Oriente e auxilie o aluno a sistematizar as etapas do método em uma tabela,


desse modo facilitará a compreensão e visualização.

5.2.4 Atividade 4
Execute os seguintes comandos no Software Geogebra.

1. Crie um seletor a positivo.

2. Construa os gráficos de g(x) = x e f (x) = 12 (x + ax ); para x > 0.

3. Marque o ponto A(x′ , y′ ) de intersecção dos gráficos.

Observe o gráfico construído na Figura 5.1.

Figura 5.1: funções g(x) = x e f (x) = 12 (x + ax )

1. Varie o valor de a e observe o ponto A = (x′ , y′ ).

2. Faça uma tabela relacionando alguns valores de x′ com (x′ )2 .

47
x′ 1 2, 5 3 4, 5 5 6, 5 7
(x′ )2 1 6, 25 9 20, 25 25 42, 25 49

3. Qual é a relação existente entre (x′ )2 e a?


(x′ )2 é igual a a.

4. Se variarmos o valor de ”a”, a relação permanece?


A relação permanecerá

5. Resolva a equação x = 12 (x + ax ) para x e compare com suas conclusões.


x = 12 (x + ax ) =⇒ 2x = (x + ax ) =⇒ 2x − x = a
x =⇒

x = ax =⇒ x2 = a =⇒ x = a
Após as comparações, observamos que a abscissa do ponto A é a raiz quadrada do
número a.

Método Abordado: Método Iterativo Babilônico

Objetivo: Levar o aluno a relacionar a raiz quadrada de um número a com a representação


gráfica das expressões apresentadas. Mostrar que podemos encontrar a raiz do número
a pela intersecção do gráfico de y = x com y = 12 (x + ax ). Estimular a aprendizagem dos
alunos pelo uso de recursos computacionais. Interpretar resultados a partir da análise
de gráficos e reconhecer a importância da aproximação inicial.

Orientação: Posteriormente comprovar matematicamente, respeitando o nível de ensino


dos alunos.

5.2.5 Atividade 5
Construa uma planilha eletrônica de acordo com a tabela abaixo. Após a planilha
pronta, escolha valores positivos distintos para o número a, escolha um valor para x1 e utilize
a planilha para calcular os demais valores. Com o auxílio de uma calculadora, calcule o valor

de a.

n xn xn+1 = φ (x) = 12 (xn + xan ) ∆n = xn+1 − xn |xn+1
2 − a| xn+1 − a
1 x1
2 x2
3 x3
.. .. .. .. .. ..
. . . . . .
n xn

48
Abrir uma discussão com os alunos, questionando a respeito das observações feitas por eles.

Concluir a discussão afirmando que xn se torna tão próximo de a quanto maior for o índice
n.

Método Abordado: Método Iterativo Babilônico

Objetivo: Levar o aluno a calcular a raiz quadrada de um número através de aproximações


sucessivas. Estimular a aprendizagem dos alunos com o uso de recursos computacio-
nais. Interpretar resultados a partir da análise de tabelas.

Orientação: A Posteriori, comprovar matematicamente, respeitando o nível de ensino dos


alunos.

5.2.6 Atividade 6
Execute o seguinte comando no Software Geogebra.

1. Crie um seletor a positivo.

2. Construa os gráficos de g(x) = x e f (x) = 13 (2x + xa2 ) para x > 0;

3. Marque o ponto A(x′ , y′ ) de intersecção dos gráficos.

Observe o gráfico construído na Figura 5.2.

Figura 5.2: funções g(x) = x, y = 23 x e f (x) = 13 (2x + xa2 )

1. Varie o valor de a e observe o ponto A = (x′ , y′ ).

49
2. Faça uma tabela relacionando alguns valores de x′ e (x′ )3 .

x′ 1 2, 5 3 4, 5 5 6, 5 7
(x′ )3 1 15, 625 27 91, 125 125 274, 625 343

3. Qual é a relação existente entre (x′ )3 e a?


(x′ )3 é igual a a.

4. Se variarmos o valor de ”a”, a relação permanece?


A relação permanecerá.

5. Resolva a equação x = 13 (2x + xa2 ) para x e compare com suas conclusões.


x = 13 (2x + xa2 ) =⇒ 3x = (2x + xa2 ) =⇒ 3x − 2x = a
x2
=⇒

x = xa2 =⇒ x3 = a =⇒ x = 3 a.
Após as comparações, observamos que a abscissa do ponto A é a raiz cúbica do número
a.

Método Abordado: Método Iterativo Babilônico

Objetivo: Levar o aluno a relacionar a raiz cúbica de um número a com a representação


gráfica das expressões apresentadas. Mostrar que podemos encontrar a raiz do número
a pela intersecção do gráfico de y = x com y = 13 (2x + xa2 ). Estimular a aprendizagem
dos alunos pelo uso de recursos computacionais. Interpretar resultados a partir da
análise de gráficos e reconhecer a importância da escolha da aproximação inicial.

Orientação: A posteriori, comprovar matematicamente, respeitando o nível de ensino dos


alunos.

5.2.7 Atividade 7
Construa uma planilha eletrônica de acordo com a tabela abaixo. Após a planilha
pronta, escolha valores positivos distintos para o número a, escolha um valor para x1 e utilize
a planilha para calcular os demais valores. Com o auxílio de uma calculadora, calcule o valor

de 3 a.

n xn xn+1 = φ (x) = 13 (2xn + xa2 ) ∆n = xn+1 − xn |xn+1
3 − a| xn+1 − 3 a
n
1 x1
2 x2
3 x3
.. .. .. .. .. ..
. . . . . .
n xn

50
Abrir uma discussão com os alunos, questionando a respeito das observações feitas por eles.

Concluir a discussão afirmando que xn se torna tão próximo de 3 a quanto maior for o índice
n.

Método Abordado: Método Iterativo Babilônico

Objetivo: Levar o aluno a calcular a raiz cúbica de um número através de aproximações


sucessivas. Estimular a aprendizagem dos alunos pelo uso de recursos computacionais.
Interpretar resultados a partir da análise de Tabelas.

Orientação: A posteriori, comprovar matematicamente, respeitando o nível de ensino dos


alunos.

As próximas atividades objetivam relacionar o tema à problemas práticos ou geomé-


tricos, fazendo uso de quaisquer dos métodos anteriormente estabelecidos no texto. De pre-
ferência, o professor deve escolher um dos métodos citados para resolver os problemas ine-
rentes à utilização de calculadoras, planilhas eletrônicas ou mesmo do geogebra. No último
caso, deve-se utilizar a solução gráfica. Neste ponto, ressaltamos a necessidade do professor
conhecer os comandos do geogebra que permitem operar com o número de casas décimas
desejados. Um bom treino permitirá levantar os problemas técnicos inerentes da utilização
do software que podem surgir durante as aplicações.

5.2.8 Atividade 8
Determinar, com aproximação exata em pelo menos três casas decimais, o compri-
mento do lado do quadrado de área 1, 5cm2 .

5.2.9 Atividade 9
Junto a um pátio da escola, encontra-se uma zona de merendas com 500m2 de área e
com a forma de um quadrado. É necessário vedar com redes dos três lados do quadrado que
separam a referida zona do estacionamento envolvente. Determinar o número de metros de
tela necessários para o efeito.

5.2.10 Atividade 10
Uma sala quadrada tem área de 164m2 e colocou-se um tapete quadrado de 12, 25m2
encostado a um dos cantos, como ilustra a Figura 5.2.10. Determinar a distância x do tapete
à parede oposta.

51
5.2.11 Atividade 11
Determinar, com aproximação exata de três casas decimais, o comprimento da aresta
do cubo com volume de 200m3 .

52
Capítulo 6

Conclusão

Consideramos que a ausência da abordagem de procedimentos diretos e indiretos, para


cálculo de raízes quadradas e cúbicas, numa sequência de ensino ou proposta didática, pode
acarretar em prejuízo ao desenvolvimento do pensamento conceitual de raiz quadrada e cú-
bica. Limitando, por exemplo, a raiz quadrada à busca de um número que fora elevado à
segunda potência, com base no princípio multiplicativo. Isto posto, não é dada ao aluno a
oportunidade de elaborar pensamento matemático em que um quadrado perfeito e, por ex-
tensão, a sua raiz possam estar relacionados por ideias aditivas, subtrativas ou geométricas.
A proposta apresentada neste trabalho, lança mão de ideias e pensamentos humanos histori-
camente produzidos e constitui a generalização da raiz quadrada como um conceito amplo
formado sobre os sistemas de cálculos, utilizando de processos que tratam de aproximações
sucessivas e o uso de tecnologias para facilitar o entendimento da essência do cálculo. O
aluno de posse desse conhecimento não é um dependente de tecnologias para tais cálculos,
podendo também interpretar com mais propriedade, resultados obtidos em calculadora, com-
putador e outros. Esperamos que este trabalho colabore com o professor de matemática, seja
em sua formação ou em sua prática docente.

53
Referências Bibliográficas

[0] BARROSO, Leônidas Conceição; BARROSO, Magali Maria de Araújo; CAMPOS


FILHO, Frederico Ferreira; CARVALHO, Márcio Luiz Bunte de; MAIA, Miriam Lou-
renço. Cálculo Numérico, 2a ed.-São Paulo: Harbas, 1987.

[1] BORBA, M. Carvalho; PENTEADO, M. Penteado. Informática e Educação Matemá-


tica, 5o Ed.-Belo Horizonte: Ed. Autêntica, 2012.

[2] CONTADOR, P. R. M. Matemática, uma Breve História, Vol. I - 3a Ed.-São Paulo:


Editora Livraria da Física, 2008

[3] BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Pa-


râmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. - Brasília: Ministério da Educação,
1999, pp. 203–273.

[4] FILHO, E. A. Teoria Elementar dos Números, NOBEL, 1981.

[5] GIOVANNI JR, José Ruy; CASTRUCCI, Benedivto. A conquista da Matemática, 8◦


ano, Edição Renovada-São Paulo: FTD, 2009.

[6] HEFEZ, Abramo. Elementos de Aritmética, 2o Ed.-Rio de Janeiro: SBM, 2011.

[7] GIRALDO, Victor; CAETANO, Paulo; MATTOS, Francisco. Recursos Computacio-


nais no Ensino de Matemática, SBM, 2012.

[8] LIMA, E. L. Análise Real. Volume 1, Rio de Janeiro: IMPA, 1995.

[9] LIMA, E. L. Números e Funções Reais : Coleções PROFMAT. Rio de Janeiro: Socie-
dade Brasileira de Matemática, 2012.

[10] MILIES, C. P; COELHO, S. P. Números Uma Introdução à Matemática. 3 Ed. 2 reimpr.


- São Paulo; Editora da universidade de São Paulo, 2006.

[11] PAIS, L. Carlos.Educação Escolar e as Tecnologias da Informática, 1o Ed., 3o reimp.-


Belo Horizonte: Ed. Autêntica, 2010.

54
[12] PATERLINE, R. R. Aritmetica dos Números Reais Departamento de Matemática, UFS-
Car. Disponivel em ‘‘ http://www.dm.ufscar.br/profs/ptlini/ ”. Acessado em feveveiro
de 2013.

[13] RUGGIERO, M. A. G; LOPES, V. L R. Cálculo Numérico Aspectos Teóricos e Com-


putacionais. 2o Ed. São Paulo: MAKRON Books, 1996.

[14] SILVEIRA, Ênio; MARQUES, Cláudio. Matemática: Compreensão e prática, 8◦ ano,


1o Ed.-São Paulo: Moderna, 2008.

[15] http://arquivoescolar.org/bitstream/arquivo-e/191/1/paterlini_reais_

55
Capítulo 7

Apêndice

O Princípio de Indução Finita (P.I.F) é um resultado que permite demonstrar que uma
sentença aberta no conjunto dos números naturais é válida para cada número natural.
Nesse Apêndice, apresentamos algumas definições e resultados que estão relacionados
ao (P.I.F.), destacando a fórmula que permite definir o Método Chinês para o cálculo de
raízes quadradas.

Definição 7.1 Uma sentença aberta p(n) no conjunto dos números naturais na variável n
é uma afirmação que depende de n e ao substituirmos n por um número natural torna-se
verdadeira ou falsa, assumindo apenas um e apenas um desses resultados lógicos.

São exemplos de sentenças abertas no conjunto dos números naturais na variável n :

1.
p(n) : n2 + n + 41 é primo. (7.1)

2.
n(n + 1)
p(n) : 1 + 2 + 3 + · · · + n = (7.2)
2
3.
n(n + 1)(2n + 1)
p(n) : 12 + 22 + · · · + n2 = (7.3)
6
4.
p(n) : (1 + x)n ≥ 1 + n · x, x > −1. (7.4)

Observando a sentença aberta no Exemplo 7.1, vemos que

P(1) : 43 é primo, é verdade (7.5)


P(2) : 47 é primo, é verdade (7.6)
P(3) : 53 é primo, é verdade. (7.7)
(7.8)

56
Entretanto, P(41) : 412 + 41 + 41 = 41 · 43 é primo, é falsa. Isso mostra que a verificação
de que uma sentença aberta é válida para cada número natural n não pode ser inferida pela
verificação de um número qualquer de casos particulares. E, sendo impossível verificar todos
os casos particulares, precisamos do Princípio de Indução Finita para termos certeza de que
tal sentença é válida para todos os números naturais.
A seguir, apresentamos o Princípio de Indução Finita como axioma. Leitores interessa-
dos em se aprofundar mais sobre o tema ou ver outras formulações do P.I.F podem consultar
([4],p.p. 31–45), ([10],p.p. 24–35) e ([6], p.p. 14–23).

Axioma 7.1 Princípio da Indução Finita. Seja p(n) uma sentença aberta no conjunto dos
números naturais na variável n. Se

a) p(1) é verdade.

b) p(k) é verdade implica que p(k + 1) é verdade.

Então, p(n) é verdade para todo número n natural.

Podemos reformular o P.I.F. fazendo uso da linguagem de conjuntos como segue:

Axioma 7.2 Seja S um subconjunto não vazio do conjunto do números naturais N. Se

a) 1 ∈ S.

b) k ∈ S ⇒ k + 1 ∈ S.

Então, S = N.

Exemplo 7.1 Mostre que a identidade

n(n + 1)
1+2+···+n = (7.9)
2
é válida para cada número natural n.

Solução. Para fazer uso do Princípio de Indução Finita, precisamos verificar as duas hipóte-
ses (a-b) do Axioma 7.1. Defina a seguinte setenção aberta em n :

n(n + 1)
p(n) : 1 + 2 + · · · + n = (7.10)
2
Inicialmente, observe que para n = 1 a fórmula acima fornece

1(1 + 1)
1= ,
2

57
que é claramente verdadeira. Logo, p(1) é verdade. Para verificar a hipótese b, suponha que
p(k) é verdadeira para k ∈ N, isto é:

k(k + 1)
1+2+···+k = . (7.11)
2
Assim,

1 + 2 + · · · + k + (k + 1) = [1 + 2 + · · · + k] + (k + 1) (7.12)
n(n + 1)
= [ ] + (k + 1) (7.13)
2
(n + 1)(n + 2)
= , (7.14)
2
(7.15)

que significa dizer que p(k + 1) é verdade. Portanto, aplicando o Princípio de Indução Finita
conclui-se que p(n) é válida para cada número natural n.
O próximo exemplo apresenta a identidade que é utilizada para definir o Método Chi-
nês para o cálculo de raízes exatas de números naturais.

Exemplo 7.2 Mostre que a identidade

1 + 3 + · · · + (2n − 1) = n2 (7.16)

é válida para cada número natural n.

Solução. Novamente, para fazer uso do Princípio de Indução Finita, precisamos verificar as
duas hipóteses (a-b) do Axioma 7.1. Para isto, defina

n(n + 1)
p(n) : 1 + 2 + · · · + n = . (7.17)
2
Note que para n = 1 a fórmula acima fornece

1 = 12 ,

que é claramente verdadeira. Logo, p(1) é verdade. Para verificar a hipótese b, suponha que
p(k) é verdadeira para k ∈ N, isto é:

1 + 3 + · · · + (2k − 1) = k2 . (7.18)

58
Assim,

1 + 3 + · · · + (2k − 1) + (2k + 1) = [1 + 3 + · · · + (2k − 1)] + (2k + 1) (7.19)


= [k2 ] + (k + 1) (7.20)
= (k + 1)2 , (7.21)

que significa dizer que p(k + 1) é verdade. Portanto, aplicando o Princípio de Indução Finita
conclui-se que p(n) é válida para cada número natural n.
Para finalizar, deixamos algumas identidades para serem verificadas com o Princípio
de Indução Finita.

EXERCÍCIOS
Utilize o Princípio da Indução Finita para provar no conjunto dos números naturais,
cada sentença aberta abaixo.

1. 1
1·2
1
+ 2·3 + · · · + n·(n+1)
1
= n
n+1 , ∀n ≥ 1.

1−xn+1
2. 1 + x + x2 + · · · + xn = 1−x , ∀n ≥ 1ex > −1.

3. 2n > n, ∀n ≥ 1.

4. 13 + 23 + · · · + n3 = [ n(n+1)
2 ] , ∀n ≥ 1.
2

( ) ( ) ( )
5. 1 − 12 + 1 − 31 + . . . 1 − n+1 1 1
= n+1 , ∀n ≥ 1.
n(n−3)
6. O número de lados de um polígono convexo de n lados é 2 .

59

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