A Quadratura Da Parábola (Artigo Acadêmico)
A Quadratura Da Parábola (Artigo Acadêmico)
A Quadratura Da Parábola (Artigo Acadêmico)
Quadratura da Parábola:Uma
Abordagem Possível para o Ensino
de Somas Innitas. †
por
sob orientação do
Aprovado por:
Dezembro/2014
iii
Dedicatória
Inicio meus agradecimentos por Deus, por me amparar nas diculdades, por me
dá força para seguir sempre em frente, e por colocar no meu caminho pessoas tão
Ao meu orientador prof. Dr. Fagner Lemos de Santana, por está sempre
disponível, por todo apoio e também por ter me ajudado integralmente durante
todo o processo. Sem tal ajuda esse trabalho não teria a mesma qualidade.
Aos meus pais, José Paulo dos Santos e Gilvanda Marques dos Santos,
meu innito agradecimento. Sempre acreditaram em mim, e sempre me incentivaram
A minha irmã, Jâmiza, pois, ao seu modo, sempre se orgulhou de mim, e sempre
Não poderia esquecer dos demais colegas de PROFMAT: Antônio Roberto, Mar-
cio, Almir, Rosângela, Marco Lira, Marcelo, Roberto Fagner e Venício. Obrigado
pela atenção e pela força dadas através do companherismo, sempre que precisei.
v
signicativas para minha formação como matemático.
A minha lha Letícia e a minha esposa Kaline pela paciência, por terem aceito
se privar muitas vezes da minha companhia (pela compreensão que tiveram nos
momentos em que tive que car só) e por me impulsionarem a buscar vida nova a
cada dia.
Nenhum outro problema afetou tão profundamente o
David Hilbert
(1862-1943)
Resumo
do cálculo da área de um segmento de parábola que foi feito por Arquimedes. Para
isso, são necessárias considerações sobre sequências e séries, com os quais podemos
ensino básico.
viii
Abstract
This dissertation presents the quadrature of the parabola treaty, which deals with
For this, considerations on sequences and series are necessary, with which we can
introduce the idea of innite processes (or the concept of innity) for elementary
school students.
ix
Sumário
1 Introdução 1
3 Séries 12
3.1 Denições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
4 Método de Exaustão 19
4.1 Eudóxio e o método de exaustão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
5 Quadratura da Parábola 27
5.1 Conceitos Notáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
5.2 Parábolas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
x
5.4 Quadratura da Parábola e o Método de Exaustão . . . . . . . . . . . 40
Referências Bibliográcas 45
xi
Capítulo 1
Introdução
no estudo de dízimas periódicas. Com efeito, uma dízima como 0, 555 . . . nada mais
1 1 1
0, 555 · · · = 5 × 0, 111 · · · = 5 + + + ...
10 100 1000
1
1 1 1 10 5
=5 + 2 + 3 + ... = 5 1 = .
10 10 10 1 − 10 9
Sendo a segunda igualdade obtida da fórmula da soma dos termos de uma progressão
5
x = 0, 555 · · · ⇒ 10x = 5, 555 · · · = 5 + 0, 555 · · · = 5 + x ⇒ 9x = 5 ⇒ x =
9
No ensino médio volta-se a falar sobre somas innitas, sendo que agora, após
mula que permite calcular a soma de innitos termos de uma progressão geométrica
de soma innita não costuma perturbar o estudante que logo associa a adição com
quantidade nita de termos. Ao analisar os termos um a um, ele percebe que esses
1
vão cando menores e cada vez mais próximos de zero, o que leva a interpretar
que a soma desses termos a partir de uma certa quantidade não interfere muito no
resultado nal, que por sua vez, se aproxima cada vez mais de um número real.
uma soma de 3, 4, 5, . . . , 100 ou mais números, sem incorrer em erros. Por exemplo,
nos mesmos moldes das somas nitas, usando as propriedades das operações, pode
tes resultados:
a) S = (1 − 1) + (1 − 1) + (1 − 1) + (1 − 1) + · · · = 0
b) S = 1 + (−1 + 1) + (−1 + 1) + (−1 + 1) + · · · = 1
c) S = 1 − (1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + . . . ) ⇒ S = 1 − S ⇒ 2S = 1 ⇒ S = 1/2
Como decidir então o resultado? S = 0, 1 ou 1/2? Se o leitor tem uma compre-
ensão bem estabelecida sobre séries concluiria facilmente que nenhum dos resultados
poderia estar correto uma vez que essa soma trata-se de uma série divergente.
Percebemos assim que o professor deve tomar um certo cuidado ao trabalhar com
esse tema, pois, é o primeiro contato que o aluno tem com as ideias de convergência
2
Essa dissertação assim se justica como um agente provocador dessa temática,
pelas quais as somas innitas podem ser avaliadas e como foram encaradas ao longo
parece ser pouco conhecido nos dias de hoje, além de estender o conceito de adição
para uma innidade de números e denir o que signica tal soma. Chamaremos
3
Capítulo 2
Embora fundamental, esse conceito demorou mais de dois milênios para nal-
mente ser rigorosamente denido pelos matemáticos do século XIX. Nesse capítulo
será apresentada a noção de limite sob sua forma mais simples, o limite de uma
denição abaixo:
4
2.1. SEQUÊNCIA DE NÚMEROS REAIS
função x:N→R que a cada número natural n associa um número real xn = x(n),
chamado o n-ésimo termo da sequência.
seus termos. Por exemplo, a sequência (1, 1, . . . , 1, . . . ) não é o mesmo que o conjunto
{1}. Ou então: as sequências (0, 1, 0, 1, . . . ) e (0, 0, 1, 0, 0, 1, . . . ) são diferentes mas
o conjunto dos seus termos é o mesmo, igual a {0, 1}. O conjunto dos termos de
mente x n ≥ c) para todo n ∈ N. Diz-se que a sequência (xn ) é limitada quando ela
é limitada superiormente e inferiormente. Isto equivale a dizer que existe k>0 tal
que |xn | ≤ k para todo n ∈ N. Quando uma sequência não é limitada (inferiormente
mente porém não superiormente. Para vericar que esta sequência é ilimitada supe-
riormente, vamos usar a desigualdade de Bernoulli, a qual diz que (1 + x)n > 1+nx,
∀n ∈ N e ∀x > −1. A demonstração dessa desigualdade é feita por indução e pode
5
2.1. SEQUÊNCIA DE NÚMEROS REAIS
an < an+1 . Segue-se que a < an para todo n ∈ N. Logo (an ) é limitada inferiormente
por a.
1 2 n n
Exemplo 2.1.3 A sequência , ,..., ,..., é limitada pois an = =
2 3 n+1 n+1
1
1 é limitada inferiormente por 0 e superiormente por 1.
1+ n
Denição 2.1.2 (Sequência crescente) Uma sequência (xn ) será dita crescente
Denição 2.1.3 (Sequência decrescente) Uma sequência (xn ) será dita decres-
cente se xn+1 < xn para todo n ∈ N. Diremos que a sequência é não crescente, se
1 usamos aqui um fato fundamental sobre o conjunto dos números naturais, a saber, que N é
um conjunto ilimitado superiormente, ou seja, dado A ∈ R com A > 0 , existe n0 ∈ N tal que
n0 > A.
6
2.2. A IDEIA DE LIMITE DE UMA SEQUÊNCIA
número positivo an obtemos an+1 < an , o que nos leva a conlusão que cada termo da
todos os seus termos são positivos temos 0 < an < 1 para todo n. Consideremos
agora o caso −1 < a < 0. Então a sequência (an ) não é mais monótona (seus termos
são alternadamente positivos e negativos) mas ainda é limitada pois |an | = |a|n , com
0 < |a| < 1. O caso a = −1 é trivial; a sequência (an ) é (−1, 1, −1, 1, . . . ). Quando
a>1 Obtem-se uma sequência crescente. Finalmente, quando a < −1, a sequência
(an ) não é monótona (pois seus termos são alternadamente positivos e negativos) e
− 1019 , 1019
Consideremos, agora, um intervalo de centro zero e raio pequeno, digamos ,
1 1 1 1
que, convenhamos, é muito pequeno. Agora, como
230
= 1073741824
< 109
< 229
=
1 1
∈ − 1019 , 1019
536870912
, vemos que 30
2
. Na verdade, como para todo n ≥ 30 temos
1 1 1
∈ − 1019 , 1019 .
que
n
< 30 , então
n
2 2 2
Isso nos mostra que a partir de um certo valor de n, a saber, n = 30, todos os
− 1019 , 1019
termos da sequência pertencem ao intervalo .
Mostremos agora que o que armamos acima não é restrito ao intervalo escolhido
1 1
− 9 , 9 . De fato, escolha arbitrariamente um número real r > 0 e considere
10 10
1 1
o intervalo (−r, r). Existe um número natural n0 ≥ 1 tal que n0 > , logo < r.
r n0
7
2.2. A IDEIA DE LIMITE DE UMA SEQUÊNCIA
1 1
Como 2n0 > n0 , segue-se que
2n0
< n0
< r.
1 1
Na verdade, como para todo n > n0 tem-se que
2n
< 2n0
, obtemos que para todo
1
n > n0 , 2n
< r.
Vemos, portanto, que a partir de um certo valor n0 de n, todos os termos da
sequência pertencem ao intervalo (−r, r). Como o número r>0 pode ser escolhido
arbitrariamente, vemos que não importa o quão pequeno ele seja, sempre existirá,
sequência pertencerão ao intervalo (−r, r). É nesse sentido que entendemos que os
1
Figura 2.1: Dois números da sequência
2n
Denição 2.2.1 (Limite de uma sequência) Sejam (xn ) uma sequência de nú-
meros reais e l um número real. Dizemos que (xn ) converge para l, ou é convergente,
e escreve-se lim xn = l, quando para qualquer intervalo aberto I contendo l (por
n→∞
menor que ele seja) é possível encontrar um número natural n0 , de modo que xn ∈ I
para todo n > n0 .
Observação 2.2.1 Quando não existir um número l para o qual (xn ) convirja,
note que, o intervalo I, contendo o número real l, pode ser tomado da forma (l −
r, l + r), onde r é um número real positivo. Portanto, dizer que xn converge para l ,
isto é, que lim xn = l, é o mesmo que dizer que para todo número real r > 0, existe
n→∞
um número natural n0 tal que para todo n > n0 tem-se que xn ∈ (l − r, l + r).
8
2.2. A IDEIA DE LIMITE DE UMA SEQUÊNCIA
sucientemente grande.
É intuitivo o fato de uma sequência (xn ) não poder convergir para dois números
reais l1 e l2 distintos, pois, se este fosse o caso, poderíamos achar dois intervalos
1
Exemplo 2.2.1 Mostre que lim xn = 0, onde xn = .
n
Solução
1
Dado r>0 arbitrário, podemos obter n0 ∈ N tal que n0 > . Então n > n0 ⇒
r
1 1 1 1
< < r, ou seja, n > n0 ⇒ − 0 < r.
Concluímos assim que lim =0
n n0 n n→∞ n
2n − 1
Exemplo 2.2.2 Mostre que lim xn = 0, onde xn = .
n
Solução
Primeiro vamos reescrever a sequência.
2n − 1 2n 1 1
xn = = − =2−
n n n n
9
2.2. A IDEIA DE LIMITE DE UMA SEQUÊNCIA
1
dado r >0 arbitário, podemos obter um n0 ∈ N tal que n0 > . Isso nos leva a
r
concluir que:
1 1 1 1
n0 > ⇒ < r ⇒ − > −r ⇒ 2 − >2−r
r n0 n0 n0
1 1 1 1
Como n > n0 ⇒ < ⇒− >− e consequentemente:
n n0 n n0
1 1
2− >2− >2−r
n n0
.
1 1
Sabendo que n > 0, temos que 2− <2 e 2−r <2− < 2, por m, r > 0,
n n0
1
então 2 < 2+r e 2−r < 2− < 2 + r, logo xn ∈ (2 − r, 2) ⊂ (2 − r, 2 + r), e
n0
podemos concluir que |xn | < 2 + r, ou seja |xn − 2| < r.
1
r > 0, como > 1, as potências de 1/a formam uma sequência crescente ilimitada
a n
1 1 1 1
superiormente. Logo existe n0 ∈ N tal que n > n0 ⇒ > , ou seja , n >
a r a r
n n n
, isto é, a < r . Assim, n > n0 ⇒ |a − 0| < r , o que mostra ser lim a = 0.
n→∞
Limites possuem propriedades operatórias que tornam o seu cálculo mais fá-
cil. Na realidade, teremos poucas vezes que recorrer à denição para calcular um
determinado limite, bastando para isto utilizar as propriedades operatórias que esta-
beleceremos e alguns poucos limites fundamentais, esses, sim, na maioria das vezes,
poder de cálculo.
10
2.2. A IDEIA DE LIMITE DE UMA SEQUÊNCIA
A proposição 2.2.2 estabelece a aditividade dos limites: para somar dois limites
que existem, podemos somar as duas sequências e calcular apenas o limite desta
grande e o mesmo ocorre com yn , então a soma xn +yn pode ser tornada tão próxima
de l+k quanto queiramos também. Uma propriedade análoga vale para a diferença
entre limites.As próximas proposições (2.2.3, 2.2.4 e 2.2.5) exploram o mesmo tipo
em [9].
xn lim xn l
yn 6= 0, para todo n ∈ N, e k 6= 0, então Se lim = n→∞ = .
n→∞ yn lim yn k
n→∞
11
Capítulo 3
Séries
No estudo das somas de séries, em particular, a soma dos innitos termos de uma
razão entre −1 e 1.
Acredita-se que o aluno sozinho seja capaz de construir múltiplas relações en-
dada, nada garante que o aluno estabeleça alguma signicação para ideias isoladas
O professor precisa alertar seu aluno para o cuidado ao operar com somas de par-
celas innitas, mostrando que elas tanto podem convergir para um resultado como
12
3.1. DEFINIÇÕES
3.1 Denições
Denição 3.1.1 Dada uma sucessão de números reais (an )nN , chama-se série de
+∞
P
a1 + a2 + a3 + · · · + an + · · · = an
n=1
Em resumo, uma série é uma soma s = a1 +a2 +· · ·+an +. . . com um número in-
nito de parcelas. Para que isso faça sentido, poremos s = lim (a1 + a2 + · · · + an ).
n→∞
Como todo limite, este pode existir ou não. Por isso há séries convergentes e séries
seção. Naturalmente, não podemos somar um a um, os innitos termos de uma série,
o que podemos fazer é somar cada vez mais parcelas, avaliando se ao acrescentar
S1 = a1
S 2 = a1 + a2
S3 = a1 + a2 + a3
...
13
3.3. SOMA DOS TERMOS DE UMA SÉRIE GEOMÉTRICA
n
X
Sn = a1 + a2 + a3 + · · · + an = Sn−1 + an = ak
k=1
soma da série. Em linguagem mais formal temos que dado r > 0, existe um índice
N tal que, para n > N , é verdade que |S − Sn | < r. Em outras palavras, S é a soma
Observação 3.2.1 Quando uma série admite uma soma S, essa é classicada como
convergente. Caso contrário, se o lim (Sn ) não existe ou é innito a série é diver-
n→∞
gente.
celas. As somas Sn são nitas, já que n é nito. Elas são valores aproximados do
que chamamos soma da série. O que a denição diz é que o erro que se comete ao
tomar Sn no lugar de S pode ser feito tão pequeno quanto queriamos, desde de que
série geométrica.
14
3.4. NOÇÃO INTUITIVA DE SÉRIES CONVERGENTES
a (rn − 1)
rSn − Sn = arn − a ⇒ Sn (r − 1) = a (rn − 1) ⇒ Sn =
(r − 1)
Se 0 < r < 1, temos que lim rn = 0 (exemplo 2.2.3), logo concluímos que:
x→∞
∞
X a (rn − 1) a
arn−1 = lim =
x→∞ (r − 1) 1−r
n=1
PN 1 1
lim SN = lim n
= lim 1 − N = 1
N →+∞ N →+∞ n=1 2 x→+∞ 2
1 1 1 1 1 1 1
+ + + · · · + 100 + 101 + · · · + 1000 + 1001 + . . .
2 4 8 2 2 2 2
não obtemos uma quantidade innita como poderíamos pensar. Obtemos sim-
+∞
P 1
=1
n=1 2n
15
3.5. SÉRIE HARMÔNICA
Este resultado não é assim tão espantoso. É verdade que estamos num certo sentido
que essas parcelas são cada vez menores. Aliás, este resultado é muito fácil de
com grande parte dos raciocínios deste tipo em matemática). Vamos analisar o caso
∞
X 1 1 1 1 1
= 1 + + + + ··· + + ...
n=1
n 2 3 4 n
Como as parcelas (positivas) a serem somadas são cada vez menores e tendendo
a 0,
a intuição nos levaria a acreditar que tal série seria convergente, o que não é
P2n 1 1 1 1 1
verdade. Considere apenas as somas parciais: S2n = = 1+ + + + +
k
k=1 2 3 4 5
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
+ . . . n−1 + . . . n . E note que: + > + = ; + + + >
6
2 2 3 4 4 4 2 5 6 7 8
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
+ + + = ; . . . ; n−1 + n−1 + ··· + n > n + ··· + n =
8 8 8 8 2 2 +1 2 +2 2 2 2
1 1 1 1 1 1 n
, Assim: S2n > 1 + + + +···+ = 1+n e como 1 + não é limitada
2 2 2 2 2 2 2
superiormente, então S2n também não é e, portanto, Sn não é limitada e, sendo
assim, diverge.
16
3.6. HISTÓRIA DO XADREZ
1
Como cada parcela entre parênteses é maior ou igual a , temos que a soma de
2
1
todas as parcelas pode ser minorada por uma innidade de parcelas iguais a , que
2
tem soma innita. Por isso é importante conhecer formalmente o conceito de séries
criado com o objetivo de curar a depressão de um rei. Esse teria cado tão encantado
com o jogo que ofereceu ao inventor a recompensa que ele quisesse. O inventor
assim sucessivamente, dobrando a quantidade de grãos até a casa 64. Lenda ou não,
progressões geométricas.
1 + 2 + 22 + 23 + 24 + · · · + 263
Em [4] é sugerido uma resposta a tal pedido: seria oferecido ao inventor do jogo
uma oferta ainda mais generosa. No lugar de um tabuleiro com 64 casas, seria
oferecido um tabuleiro com um número innito de casas. Assim a nova dívida seria:
Esse pagamento seria feito da seguinte forma: O que lhe havia sido proposto seria
17
3.6. HISTÓRIA DO XADREZ
Desde que o inventor desse como troco o que havia sido conbinado inicialmente.
Intuitivamente essa operação não teria problema uma vez que o valor (D ) da dívida
= −1 + (2 − 2) + 22 − 22 + 23 − 23 + 24 − 24 + . . .
⇒ D = −1
todas as demais parcelas (innitas) são canceladas. No nal das contas, o pobre
criador do xadrez acabou ainda devendo um grão (−1) de trigo ao rei. É claro que tal
artifício não faz justiça à sagacidade original da história. O problema dessa solução é
estender, sem maiores cuidados, para somas innitas, processos sabidamente válidos
Um fato curioso é que esse problema foi apresentado a minha turma de mes-
trado (Profmat) e nenhum dos meus colegas percebeu alguma coisa errada com as
18
Capítulo 4
Método de Exaustão
por ter na sua base a teoria das proporções apresentada por Eudóxio de Cnido (408-
355 a. C.) e por Arquimedes de Siracusa (287-212 a.C.) ter sido o matemático que
que deitava por terra a teoria das proporções dos pitagóricos. Arquimedes aplicou
gravidade.
las, Arquimedes nunca considerou que as somas tivessem uma innidade de termos.
Para poder denir uma soma de uma série innita seria necessário desenvolver o
conceito de número real que os gregos não possuíam. Não é, pois, correto falar
19
4.1. EUDÓXIO E O MÉTODO DE EXAUSTÃO
a c
Denição 4.1.1 Sejam dadas quatro grandezas a, b, c e d e suas razões e .
a c m b d
Temos que = se, para toda fração , acontece um dos seguintes casos:
b d n
m a m c
• Ou < e < , isto é, a fração é menor que ambas;
n b n d
m a m c
• Ou = e = isto é, a fração é igual a ambas;
n b n d
m a m c
• Ou > e > isto é, a fração é maior que ambas.
n b n d
a c a c
Ou seja, se = não podemos ter uma fração que esteja entre e .
b d b d
Usando esta ideia e o fato de que o conjunto dos naturais não é limitado superi-
Teorema 4.1.1 Dado um número real a > 0 existe um inteiro n0 > 0 tal que
1
< a.
n0
1 1
ter
n
=a e assim
n+1
< a. Suponhamos então, por absurdo, que estes dois casos
1
não possam acontecer. Então
n
>a para todo número inteiro positivo n. Teremos
1
que n< ; ∀n ∈ N ou seja, o conjunto dos naturais é limitado superiormente, o que
a
1
é um absurdo. Logo, existe n0 tal que < a.
n0
20
4.1. EUDÓXIO E O MÉTODO DE EXAUSTÃO
a
Demonstração: Dado o número , pelo teorema 4.1.1, existe um número
b
1 a
natural n0 tal que < , o que nos leva concluir que n0 a > b
n0 b
de forma equivalente como segue: Dados dois números reais positivos a e b existe
b
um número natural n tal que <a
n
são desiguais, é possível achar um múltiplo de qualquer uma delas que seja maior
que a outra. Essa ideia serviu de norte para a demonstração do metodo de Exaustão.
Teorema 4.1.3 Dadas duas grandezas distintas, se da maior se subtrai mais que
sua metade, e do restante mais que sua metade, e assim por diante, acabará sobrando
suponha, sem perda de generalidade, que a > b. De acordo com o teorema 4.1.2
Existe um número natural n, tal que nb > a. Nestas condições tomemos as grandezas
21
4.1. EUDÓXIO E O MÉTODO DE EXAUSTÃO
1
menos que metade de nb), restam-nos duas grandezas a1 < a e (n − 1)b, tais que
2
(n − 1)b > a1 .
Se, por um processo idêntico ao anterior, de a1 retirarmos mais do que sua metade
e de(n−1)b retirarmos novamente b (que é menos que metade de (n−1)b ) caremos
1
com duas grandezas a2 < a1 e (n − 2)b, tais que (n − 2)b > a2 .
2
Ao m de (n − 2) passos, obtemos uma grandeza an−2 tal que 2b > an−2 . Se
de an−2 retirarmos mais que sua metade e de 2b retirar b sobra uma grandeza an−1
tal que b > an−1 (pois a 2b retirou-se exatamente a metade). Assim, ao m de
(n − 1) passos, obtém-se uma grandeza an−1 menor do que b, a menor das grandezas
inicialmente dadas, o que prova o princípio de Eudoxo-Arquimedes.
Para darmos uma pálida ideia do que é o método de exaustão, nome dado no
22
4.2. VOLUME DA PIRÂMIDE PELO MÉTODO DE EXAUSTÃO
Seja ABCD uma pirâmide de base triangular. Vamos construir dois prismas
vértice B.
1
Observe que a área do triângulo ∆F BG equivale a da área do triângulo ∆CBD
4
1 1
(
2
da base vezes
2
da altura ), cuja área chamaremos de S.
1 1 1
Vprisma1 = S h = Sh
4 2 8
lado CD.
base igual a metade da área do triângulo ∆ABC e sua altura é igual a metade
da altura da pirâmide.
23
4.2. VOLUME DA PIRÂMIDE PELO MÉTODO DE EXAUSTÃO
1 1 1 1
Vprisma2 = S h = Sh
2 2 2 8
1 1 1
V1 = Sh + Sh = Sh.
8 8 4
Chamamos essa etapa de V1 pois, vamos repetir esse processo sucessivamente,
Perceba que ao fazer tal construção surgem duas pirâmides menores, AIEH e
24
4.2. VOLUME DA PIRÂMIDE PELO MÉTODO DE EXAUSTÃO
que AIEH é congruente a pirâmide IBF G e esta por sua vez está contida no prisma
IEHBF G (prisma 1). De modo análogo EF CJ é congruente a HGJD e esta por
1 1 1 1 4 1
V2 = Sh + Sh + Sh + Sh = Sh = Sh.
64 64 64 64 64 16
n teremos:
n
1
Vn = Sh
4
sendo que em cada etapa o número de prismas formados será o dobro do número de
prismas da etapa anterior. Como o volume dos prismas construidos em cada etapa
é maior do que o volume das pirâmides resultantes de cada uma dessas, podemos
fazer a diferença entre o volume da pirâmide ABCD e a soma dos volumes dos
de exaustão.
25
4.2. VOLUME DA PIRÂMIDE PELO MÉTODO DE EXAUSTÃO
∞
n
P 1 1 1 1 1 1
Vpirâmide = Sh = Sh + Sh + Sh + · · · = 1−4 1 Sh = Sh
n=1 4 4 4 4 4 3
Perceba que mesmo para uma pirâmide com outras bases podemos utilizar a mesma
fórmula, uma vez que podemos seccionar em várias pirâmides de base triangular.
1 1 1 1
Vpirâmide = S1 h + S2 h + S3 h + · · · + Sn h
3 3 3 3
1
Vpirâmide = (S1 + S2 + S3 + · · · + Sn ) h
|3 {z }
S
1
Vpirâmide = Sh
3
26
Capítulo 5
Quadratura da Parábola
de parábola, região delimitada por um arco de parábola e pelo segmento que une as
O que ele provou foi que a área do segmento de parábola AB assim denido é
27
5.1. CONCEITOS NOTÁVEIS
com a reta paralela ao eixo passando pelo ponto M, médio de AB (note que, em
três pontos:
do texto.
28
5.1. CONCEITOS NOTÁVEIS
e que MP é um lado comum aos triângulos ∆AM P e ∆BM P , logo, pelo caso de
mento.
um lado comum aos triângulos ∆AM E e ∆BM E . Pelo caso de congruência LLL esses
retos, uma vez que são congruentes e adjacentes suplementares. Assim a reta EM
é perpendicular ao segmento AB passando pelo seu ponto médio. Pela unicidade
mediatriz m de AB .
29
5.1. CONCEITOS NOTÁVEIS
Teorema 5.1.1 (Base Média) Se por M , ponto médio de AB num triângulo ∆ABC ,
traçamos uma reta r paralela ao lado BC , esta encontra o lado AC , necesariamente,
5.5 abaixo.
30
5.1. CONCEITOS NOTÁVEIS
DN
bC são opostos pelo vértice. Pelo caso de congruência ALA os triângulos ∆AM N
e ∆CDN são congruentes logo AN = N C . Assim N é o ponto médio de AC .
Corolário 5.1.1 O segmento que une os pontos médios de dois lados de um triân-
gulo é paralelo ao terceiro lado, e sua medida é igual à metade da medida do terceiro
lado.
Teorema 5.1.2 A reta que passa pelo ponto médio de um dos lados não-paralelos
de um trapézio e é paralela as suas bases passa pelo ponto médio do outro lado não
-paralelo.
31
5.2. PARÁBOLAS
ALA que eles são congruentes o que nos leva a concluir que M2 é ponto médio de
BC .
5.2 Parábolas
Para calcular a área de um segmento parabólico Arquimedes demonstrou impor-
32
5.2. PARÁBOLAS
eixo;.
de um ponto xo (foco) e de uma reta (diretriz). Observe que uma parábola separa
os demais pontos do plano em duas regiões: uma, onde cada ponto tem distância ao
a parábola [5]. Lembramos que uma reta r é tangente a uma parábola em um ponto
projeção ortogonal a reta diretriz, ligue esse ponto ao foco da parábola. A reta que
passa pelo ponto P e pelo ponto médio do segmento que possui como extremidades
33
5.2. PARÁBOLAS
pelo ponto P e pelo ponto médio do segmento segmento F D. Temos que t é tangente
ângulo DPbF .
ângulos DPbM e FM
cP são retos, pois são congruentes e adjacentes suplementares,
logo a reta t é mediatriz do lado F D e bissetriz do ângulo DPbF . Basta agora provar
que t é tangente a parábola no ponto P, ou seja, todos os demais pontos dessa reta
são exteriores a parábola. Para isso, tomemos agora Q um ponto qualquer da reta
34
5.2. PARÁBOLAS
tangente à parábola em P.
ponto de interseção entre as retas tangentes à parábola passando por esses pontos.
A reta que passa pelo ponto O e é paralela ao eixo da parábola passa pelo ponto
médio do segmento AB .
Demonstração:
35
5.3. TRIÂNGULOS DE ARQUIMEDES
forma, a reta r que passa pelo ponto médio M1 do segmento A1 F e pelo ponto A
é tangente a parábola no ponto A segundo a proposição 5.2.1. Da mesma forma a
reta s que passa pelo ponto médio M2 do segmento B1 F e pelo ponto B é tangente
concluir que t também é mediatriz do triângulo ∆A1 B1 F , passando pelo ponto médio
M3 do segmento A1 B1 . Perceba ainda que AA1 B1 B é um trapézio, logo pelo teorema
5.1.2, t passa pelo ponto médio M do segmento AB .
dratura da parábola. Eles são originados a partir do segmento de reta que delimita
o segmento parabólico e pelo ponto de interseção das retas tangentes aos extremos
desse segmento. Arquimedes percebeu que esses triângulos poderiam ser subdividi-
∞
n
P 1 1 1 1
=1+ + + + ...
n=0 4 4 16 64
tangentes se cruzam, trace uma paralela ao eixo. Segundo o Teorema 5.2.1, esta
36
5.3. TRIÂNGULOS DE ARQUIMEDES
5.2.1 esta cortará o segmento AP em seu ponto médio k. De acordo com o Teorema
5.1.1, a paralela à base do triângulo ∆AP M que passa pelo ponto médio de AP passa,
0
também, pelo ponto médio do segmento AM , ou seja, M é ponto médio de AM . Da
mesma forma, traçando por D uma paralela ao eixo, essa interceptará o segmento
00
BP no seu ponto médio L, e o segmento MB no seu ponto médio M . Como o
0
segmento CM 0 é paralelo a base do triângulo ∆AOM e passa por M , ponto médio
médio de OB . Concluindo que a reta CD, ou seja u, passa pelos pontos médios dos
37
5.3. TRIÂNGULOS DE ARQUIMEDES
38
5.3. TRIÂNGULOS DE ARQUIMEDES
interno ao triângulo ∆P BD , temos que a soma das suas áreas equivale a metade da
Acabamos por provar que a soma das áreas dos triângulos ∆AP 0 P e ∆P P 00 B é um
39
5.4. QUADRATURA DA PARÁBOLA E O MÉTODO DE EXAUSTÃO
mos áreas equivalentes a 1/4 das áreas agregadas na etapa anterior. O que nos leva
mais da metade da área do segmento. Como isso se repete em cada etapa, o Teorema
a diferença entre a área do segmento e a soma das áreas dos sucessivos triângulos
∞ n
1 1 1 X 1
Aseg = S0 + S0 + 2 S0 + 3 S0 + · · · = S0
4 4 4 n=0
4
S n = S 0 + a1 + a2 + a3 + · · · + an
40
5.5. MÉTODO DE DUPLA REDUÇÃO AO ABSURDO
Como já sabemos, a área dos triângulos removidos em cada etapa somam 1/4 do
total das áreas dos triângulos removidos na etapa imediatamente anterior, ou seja:
an−1
an = , ou 4an = an−1
4
Para lidar com Sn , Arquimedes provou que se a ela adicionarmos 1/3 do último
termo an obtemos o número 4S0 /3, independente de n. Isso se faz notando que:
an 4an an−1
an + = =
3 3 3
Então,
an an
Sn + = (S0 + a1 + a2 + a3 + · · · + an−1 ) + an +
3 a an−13
n
Sn + = (S0 + a1 + a2 + a3 + · · · + an−1 ) +
3 3
Isto é,
an an−1
Sn + = Sn−1 +
3 3
an an−1 an−2 S0
Sn + = Sn−1 + = Sn−2 + = · · · = S0 +
3 3 3 3
isto é:
an S0 4
Sn + = S0 + = S0
3 3 3
Estamos agora prontos para terminar a demonstração com a dupla redução ao
41
5.5. MÉTODO DE DUPLA REDUÇÃO AO ABSURDO
4S0 4S0
hipótese 2: Suponha agora que Aseg < . Assim, dados S0 e − Aseg , dois
3 3
S0 4S0
números reais positivos, Pelo Teorema 4.1.1 existe um n tal que < − Aseg ,
4n 3
S0 4S0
ou seja, existe um n an = n é menor
tal que do que − Aseg .
4 3
an 4S0 4S0 an
como já sabemos Sn + = , então − Sn = . Portanto podemos
3 3 3 3
facilmente concluir que:
42
Conclusão
de Cristo, sem ter ainda sequer uma linguagem algébrica simbólica [1], mas, foram
limitados pela falta de conhecimento sobre o innito. Assim como os gregos, mui-
métricas, conteúdos estes que já fazem parte da base curricular do Ensino Médio,
percebemos que ainda é possível modicar o enfoque que hoje é dado a esses assun-
pode servir como uma ferramenta motivadora, além de dar uma nova forma de ver
e entender a matemática.
postos no trabalho conseguimos mostrar como se deu a evolução nos processos uti-
lizados para trabalhar com somas innitas, além de sinalizarmos para o cuidado
quando lidamos com essas somas. Caso divergente, alguns resultados não podem ser
obtidos utilizando operações que naturalmente dariam certo para uma quantidade
nita de parcelas a somar (olhar a Seção 3.6). Fazendo isso, além de desmisticar
que a Matemática é uma ciência pronta e acabada, ou seja, que ela está em constante
43
5.5. MÉTODO DE DUPLA REDUÇÃO AO ABSURDO
sobre limites e séries para que assim ele possa conduzir o seu aluno a ter uma
concepção intuitiva correta sobre esses tópicos, permitindo que esse possa fugir de
44
Referências Bibliográcas
http://www.sapientia.pucsp.br//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1311 >
01 nov. 1988.
[5] Dorrie, H.;100 Great Problems of Elementary Mathematics, Their History and
Solution. Dover,1965.
[6] Garbi,Gilberto; A rainha das ciências, 3 e.d. Editora livraria da física, São
Paulo, 2006.
[7] Iezzi, G.; Murakami, C.; Machado, N.J. Fundamentos de matemática elementar.
Vol. 8 (Limites, Derivadas, Noções de Integral). 5a ed. São Paulo, Atual Editora,
1993.
45
Referências Bibliográficas
[8] Ifrah, G. Os Números: A História de uma grande invenção, p.333,7 ed. São
[9] Lima, Ellon Lages; Análise Real volume 1,8 e.d. IMPA, p. 37 - 45, Rio de
Janeiro, 2006.
dle/123456789/506/2011_00401_PEDRO_JOL_PARANHOS.pdf ?sequence=1>
46