ReinaldoVianadaCosta Revisada
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Data de Depósito:
Assinatura: _____________________
Aos meus pais, Salvador e Benedicta, por me ensinarem os primeiros passos dessa
jornada.
Ao meu professor e orientador Prof. Dr. Hermano de Souza Ribeiro, pela dedicação na
orientação desse trabalho e por todas as aulas que ministrou durante o curso.
À Coordenadora do PROFMAT do ICMC-USP Profa. Dra. Ires Dias, pelo apoio em todos
os momentos do curso.
A todos os professores e colegas do PROFMAT que, com seus ensinamentos e suas
experiências, acrescentaram muito à minha formação.
RESUMO
COSTA R. V. Dos números naturais aos números reais. 2018. 113 p. Dissertação (Mestrado em
Ciências – Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional) – Instituto de Ciências
Matemáticas e de Computação, Universidade de São Paulo, São Carlos – SP, 2018.
Este trabalho apresenta a construção dos conjuntos dos números naturais, inteiros, racionais
e reais, buscando contemplar uma mediação entre alunos e professores do ensino médio que
possa contribuir em uma abordagem facilitadora para o processo de ensino e aprendizagem.
A construção dos conjuntos numéricos é feita de modo progressivo, apresentando leis e
propriedades que definem cada um deles. Os capítulos apresentam teoremas que são
provados de modo que o leitor possa conseguir, efetivamente, estabelecer um elo entre a teoria
matemática e suas abstrações iniciais inerentes aos estudantes em formação.
COSTA R. V. From natural numbers to real numbers. 2018. 113 p. Dissertação (Mestrado em
Ciências – Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional) – Instituto de Ciências
Matemáticas e de Computação, Universidade de São Paulo, São Carlos – SP, 2018.
This work presents the construction of the sets of natural, integer, rational and real numbers,
aiming to contemplate a mediation between high school students and teachers that can
contribute to an easy approach to the teaching and learning processes. The construction of
the numerical sets is done progressively presenting laws and properties that define each one
of them. The chapters present theorems that are proven so that the reader can effectively
establish a link between mathematical theory and its initial abstractions inherent in the
students in formation.
Keywords: Numerical sets, Natural numbers, Peano axioms, Integer numbers, Rational
numbers, Real numbers, Dedekind cuts.
Sumário
Introdução .....................................................................................,.......... 17
1. O conjunto ℕ dos números naturais ....................................................... 21
1.1 Introdução ao conjunto dos números naturais ......................................... 21
1.2 Relação de ordem em ℕ ........................................................................... 23
1.3 Os Postulados de Peano ........................................................................... 26
1.4 Adição no conjunto ℕ dos números naturais ........................................... 27
1.5 Multiplicação no conjunto ℕ dos números naturais ................................. 30
1.6 Relação de ordem em ℕ ........................................................................... 34
1.7 Lei da tricotomia para conjunto ℕ dos números naturais ....................... 35
1.8 Construção do conjunto ℕ pelo axioma do infinito ................................ 37
1.9 Adição no conjunto ℕ via teorema da recursão ...................................... 46
1.10 Multiplicação no conjunto ℕ via teorema da recursão ........................... 48
1.11 Relação natural de ordem no conjunto ℕ = { 0 , 1 , 2 , ...} ...................... 51
1.12 Relação de divisibilidade no conjunto ℕ dos números naturais ............ 55
2 O conjunto ℤ dos números inteiros ........................................................... 59
2.1 Adição no conjunto ℤ dos números inteiros ............................................. 61
2.2 Multiplicação no conjunto ℤ dos números inteiros ................................. 63
2.3 Subtração no conjunto ℤ dos números inteiros ....................................... 66
2.4 Relação de divisibilidade no conjunto ℤ dos números inteiros ................ 67
2.5 Relação de ordem no conjunto ℤ dos números inteiros ........................... 67
2.6 Inclusão do conjunto ℕ ao conjunto ℤ .................................................... 71
2.7 Três princípios de indução matemática no conjunto ℤ ........................... 73
3. O conjunto ℚ dos números racionais ...................................................... 75
3.1 Adição no conjunto ℚ dos números racionais ........................................ 76
3.2 Multiplicação no conjunto ℚ dos números racionais .............................. 78
3.3 Subtração no conjunto ℚ dos números racionais .................................... 82
3.4 Divisão no conjunto ℚ dos números racionais ................................ 83
3.5 Relação de ordem no conjunto ℚ dos números racionais ......................... 84
3.6 Inclusão do conjunto dos inteiros ao conjunto dos números racionais .... 85
4. O conjunto ℝ dos números reais .............................................................. 91
4.1 Adição no conjunto ℝ dos números reais ................................................ 92
4.2 Relações de ordem em ℝ .......................................................................... 96
4.3 Multiplicação no conjunto ℝ dos números reais .................................... 97
4.4 Equação polinomial incompleta .............................................................. 108
4.5 Representação decimal dos números reais .............................................. 109
Referencias ....................................................................................................... 113
17
INTRODUÇÃO
Os números reais são construídos a partir do conjunto dos números racionais com a
definição dos cortes de Dedekind. Um número real é um conjunto de números racionais
diferente do vazio e do próprio conjunto dos números racionais com duas propriedades
adicionais: dado um elemento deste conjunto, todo número racional menor do que ele
pertence ao conjunto, e dado um elemento do conjunto, existe sempre um outro elemento do
mesmo conjunto que é o maior do que o elemento dado. São definidas as operações de adição,
multiplicação e subtração, assim como a relação de ordem total. O teorema do completamento
do conjunto dos números reais e uma breve digressão sobre a representação decimal infinita
de um número real finalizam o capítulo.
21
(2) Se n ∈ A então n + 1 ∈ A
Então A = ℕ .
O axioma da tricotomia é uma ferramenta adequada na demonstração da lei do
cancelamento da operação de adição.
Prova (a)
Pelo axioma da tricotomia, apenas uma e somente uma afirmação abaixo é verdadeira:
(1) Existe um número natural d tal que a = b + d
(2) Existe um número natural e tal que d = a + e
(3) a = b
No caso (1), a = b + d para algum número natural d. Da hipótese,
a+c=b+c
por substituição
(b+d)+c=b+c
(b+c)+d=b+c
pela associatividade e pela comutatividade da adição de números naturais
Então, b + c = b + c
(b+c)+d=b+c
o que contraria o axioma da tricotomia.
Como o caso (2) é análogo ao caso (1), resta a = b.
Os casos (b) e (c) são provados a partir do caso (a) utilizando a comutatividade da
adição de números naturais.
O axioma da tricotomia também é utilizado na demonstração da lei do cancelamento
da operação de multiplicação.
23
Prova (a)
Caso exista um número natural d tal que a = b + d, e pela hipótese de que ac = bc, por
substituição, segue que:
( b + d ) c = bc
e pela distributividade da multiplicação em relação a adição
bc + dc = bc
Então bc = bc
bc + dc = bc
o que contraria o axioma da tricotomia.
Como o caso em que b = a + d para algum número natural d é análogo, resta apenas o
caso a = b.
A prova de (b) é consequência lógica da prova de (a) pela comutatividade da
multiplicação de números naturais,
A relação de ordem natural ≤ no conjunto dos números naturais goza das seguintes
propriedades ( de verificação imediata)
(a) reflexiva: para cada número natural a , a ≤ a
(b) antissimétrica: dados os números naturais a e b, se a ≤ b e se b≤ a então a = b
(c) transitiva: dados os números naturais a , b, c, se a ≤ b e se b ≤ c então a ≤ c.
Prova (c)
Da hipótese c + a < c + b, existe um número natural d tal que
25
(c+a)+d=c+b
ou
c+(a+d)=c+b
pela associatividade da adição de números naturais e, então,
a+d=b
pela lei do cancelamento da operação de adição e que é a definição de a < b.
Prova (g)
Da hipótese ca < cb, segue a existência de um número natural d tal que
ca + d = cb
caso a = b , ca = ca
ca + d = ca ou ca < ca
o que contraria o axioma da tricotomia
caso a > b, existe um número e tal que
a=b+e
e da igualdade ca + d = cb por substituição
c ( b + c ) + d = cb
ou cb + (ce + d ) = cb
o que resulta que cb = cb
cb < cb
o que é contrária o axioma da tricotomia.
Resta apenas então a < b.
TEOREMA 1.2.3 Se a é um número natural, então não existe um número natural b tal que
a < b < a + 1.
Prova
Caso exista um número natural b tal que a < b < a + 1 , como a < b, existe um número
natural x tal que b = a + x e, como b < a + 1, existe um número y tal que a + 1 = b + y. Assim
a + x + y = a + 1. Pela lei do cancelamento da adição, x + y = 1 o que significa que x < 1. Isto
é uma contradição. Portanto, não existe um número natural b tal que a < b < a + 1.
26 O conjunto N dos números naturais
Definição 1.3.1
O número natural 2 é definido como o sucessor do número natural 1.
A operação de adição no conjunto dos números naturais é uma operação binária que
associa a cada par ordenado de números naturais o número natural soma dos números naturais
do par ordenado dado ( pelo teorema abaixo, a soma de dois números naturais é um número
natural).
Para cada número natural n, o número natural soma n + 1 das parcelas n e 1 nesta
ordem é definido como o número natural sucessor do número natural n, isto é,
n + 1 = n+
m + n+ = (m + n)+
Prova
m + n+ = ( m + n )+
28 O conjunto N dos números naturais
Prova do teorema
Fixado o número natural a, seja A = { n ∈ ℕ: a + n = n + a }
Então:
i) 1 ∈ A porque pelo lema 1 + a = a + 1.
ii) se n ∈ A por hipótese a + n = n + a e o objetivo é mostrar que n+ ∈ A.
a + n+ = a + ( n + 1) =
= (a + n ) + 1 = (associatividade da adição)
=(n+a)+1= ( hipótese de indução)
=n+(a+1)= ( associatividade da adição)
=n+(1+a)= ( lema)
= ( n + 1) + a = (associatividade da adição)
= n+ + a
30 O conjunto N dos números naturais
Para cada número natural n, o produto n ∙ 1dos fatores n e 1 nesta ordem é definido
igual a n, isto é,
n∙1=n .
Dados dois números naturais m e n, definido o número natural produto dos fatores m
e n nesta ordem, o produto m ∙ n+ dos fatores m e n+ é definido como o número natural soma
das parcelas: a primeira parcela é o produto dos fatores m e n nesta ordem e a segunda parcela
é o número natural m, isto é,
m ∙ n+ = m ∙ n + m .
Prova
m ∙ n+ = m ∙ n + m.
Prova
Para números naturais a e b, ab+ = a ( b + 1 ) = ab + a .
Prova (1)
Fixados os números naturais a e b, seja
A = { n ∈ ℕ : a( b + n ) = a ∙ b + na}.
Então:
(i) 1 ∈ A porque a( b + 1 ) = a ∙ b + a ∙ 1
pela propriedade distributiva restrita da operação de multiplicação em relação a operação de
adição para números naturais.
(ii) Se n ∈ A então, por hipótese,
a(b + n) = ab + na.
O objetivo é mostrar que n+ ∈ A.
a( b + n+) = a[b + (n + 1)]
= a[(b + n)+ 1] (associatividade da adição)
= a(b + n) + a (distributividade restrita)
= (ab + an) + a (hipótese de indução)
= ab + (na + a) (associatividade da adição)
= ab + a(n + 1) (distributividade restrita)
= ab + an+ .
Em conclusão, se n ∈ A, então n+ ∈ A e, pelo princípio da indução matemática,
A = ℕ e a prova de (1) está completa.
Prova (2)
Fixados os números naturais b e c, seja
B={ ( b + c )n = bn + cn }
Então
(i) 1 ∈ B porque ( b + c ) 1 = b + c
(ii) Se n ∈ B então, por hipótese,
( b + c )n = bn + cn
33
Prova
Fixado um número natural a, seja
A ={ n ∈ ℕ : an = na} .
Então
i) 1 ∈ A porque a ∙ 1 = 1 ∙ a = a.
ii) se n ∈ A então, por hipótese an = na.
O objetivo é mostrar que n+ ∈ A.
= an+ =
= a ( n + 1) = propriedade distributiva
= an + a∙1 = hipótese de indução
= an + a = propriedade distributiva
= na + a =
= (n + 1) a = propriedade distributiva
= n+∙a
A lei da tricotomia para o conjunto dos números naturais é demonstrada a partir dos
postulados de Peano através dos seguintes resultados.
Prova
Seja A ={ n ∈ ℕ : n+ ≠ n}
Então
i) 1 ∈ A, porque 1+ ≠ 1 (pelos postulados de Peano, 1 não é sucessor imediato de
número natural algum).
ii) Se n ∈ A então, pela definição do conjunto A , n+ ≠ n.
O objetivo é mostrar que n+ ∈ A. Caso n+ + 1 = (n + 1)+ = n + 1 = n+ então, pelos postulados
de Peano, n + 1 = n+ = n , o que contradiz a hipótese de n ∈ A . Portanto, se n ∈ A então n+ ∈
A e, pelo princípio da indução matemática, A = ℕ e o teorema está provado.
Prova
A ={ n ∈ ℕ : m + n ≠ n }.
Então
i) 1 ∈ A, porque m+ = m + 1 ≠ (1 pelos postulados de Peano, 1 não é sucessor imediato
de número natural algum).
ii) Se n ∈ A então, pela definição do conjunto A , m + n ≠ n.
O objetivo é mostrar que n+ ∈ A. Caso m + n+ = (m + n)+ = n+ então, pelos postulados de
Peano, m + n = n , o que contradiz a hipótese de n ∈ A . Portanto, se n ∈ A então n+ ∈ A
e, pelo princípio da indução matemática, A = ℕ e o teorema está provado.
Prova
Caso existam dois números naturais m e n cuja soma m + n = 1 , então 1 < n , pela
definição de desigualdade, o que contradiz o resultado de que 1 ≤ n para cada número
natural n. O teorema está provado.
Prova
Se a afirmação (1) é verdadeira, as afirmações (2) e (3) são falsas: de fato, caso exista
um número natural d tal que n = m + d ≠ m , o que mostra que a afirmação (2) é falsa; caso a
afirmação (3) é verdadeira, existe um número natural c tal que m = n + c , e por substituição,
n = n + (c + d), o que contradiz um dos teoremas anteriores. E assim a afirmação (3) é falsa.
Se a afirmação (3) é verdadeira, as afirmações (1) e (2) são falsas por analogia.
Se a afirmação (2) é verdadeira, as afirmações (1) e (3) são falsas: de fato, caso a
afirmação (1) é verdadeira existe um número natural d tal que n = m + d = m , o que contradiz
um dos teoremas anteriores e assim a afirmação (1) é falsa assim como a afirmação (3) por
analogia é falsa.
37
Axioma do infinito
Existe um conjunto X com as propriedades
(1) ∅ ∈ X
(2) se x ∈ X , então x ∪ {x} ∈ X.
38 O conjunto N dos números naturais
𝐧+ = 𝐧 ∪ {𝐧}
Em particular, pela definição,
𝟏 = 𝟎+
𝟐 = 𝟏+
𝟑 = 𝟐+
e assim por diante.
Prova
Se n é um número natural 𝐧+ = 𝐧 ∪ {𝐧} e então 𝒏 ∈ 𝒏+ enquanto que o número
natural zero é o conjunto vazio (que não possui elemento algum).
Prova
Por hipótese, A é um conjunto sucessor contido em ℕ = { 0 , 1 , 2 , …}. Logo, ℕ por
ser interseção de todos os conjuntos sucessores, ℕ ⊂ A.
Se A ⊂ ℕ e ℕ ⊂ A segue A = ℕ.
Prova
Por definição e por hipótese
𝐦+ = 𝐦 ∪ {𝐦} = 𝐧 ∪ {𝐧} = 𝐧+
Como 𝐦 ∈ 𝐦+ , 𝐦 ∈ 𝐧+ . Então ou
𝐦=𝐧
ou
m∈n
Números naturais são então conjuntos transitivos ( Um conjunto X é um conjunto
transitivo quando e somente quando para cada x ∈ X, {x} ⊂ X), pelo teorema a seguir.
Prova
Pelo princípio da indução matemática, seja A o subconjunto do conjunto dos números
naturais ℕ = { 𝟎 , 𝟏 , 𝟐 , … } constituído pela totalidade dos números naturais que são
conjuntos transitivos.
Então
(i) 0 ∈ A por vacuidade.
(ii) Hipótese de indução: Se 𝐧 ∈ A por hipótese, n é um conjunto transitivo.
O objetivo é mostrar que o sucessor imediato 𝐧+ de número natural n é um conjunto
transitivo.
𝐦 ∈ 𝐧+
Então pelo teorema anterior ou
𝐦∈𝐧
40 O conjunto N dos números naturais
ou
𝐦=𝐧
Se m = n, m é um conjunto transitivo pela hipótese de indução, porque n é um conjunto
transitivo.
Se m ∈ n então 𝐦 ⊂ 𝐧 porque n é um conjunto transitivo pela hipótese de indução e
assim:
m ⊂ n ⊂ 𝐧+
Em conclusão, se n ∈ A então 𝐧+ ∈ A.
Pelo princípio de indução matemática
A = ℕ = { 0 , 1 , 2 , ... }
e, portanto, todo número natural é um conjunto transitivo.
Prova
Por hipótese 𝐦+ = 𝐧+ .
Como
n ∈ 𝐧+ = 𝐧 ∪ 𝐧
𝐧 ∈ 𝐦+ = 𝐦 ∪ 𝐦
e assim ou
𝐧 ∈ 𝐦
ou
𝐧=𝐦
Analogamente
𝐦 ∈ 𝐧
ou
m=n
Na hipótese de que n ∈ m e m ∈ n, como m e n são conjuntos transitivos,
𝐧 ⊂ 𝐦
𝐦 ⊂ 𝐧
O que prova a igualdade entre os números naturais m e n.
41
Prova
Seja B = { n ∈ ℕ : n + 1 ∈ A} ⊂ ℕ = { 0 , 1 , 2 , ...},
Então B satisfaz as hipóteses do princípio de indução matemática.
(i) 0 ∈ B porque 0+1=1∈A.
(ii) Se n ∈ B por definição de B, n + 1 ∈ A e, pela hipótese (ii) sobre o conjunto
A, ( n + 1 ) + 1 ∈ A o que prova que n + 1 ∈ B, pela definição de B.
Então B = { 0 , 1 , 2 , ...} e A = { 1 , 2 , 3 , ... }.
Prova
Seja B = { n ∈ ℕ : n + 2 ∈ A} ⊂ ℕ = { 0 , 1 , 2 , ...}
Então B satisfaz as hipóteses do princípio da indução matemática.
(i) 0 ∈ B porque 0 + 2 = 2 ∈ A.
(ii) Se n ∈ B, então n + 1 ∈ B .
Então B = { 0 , 1 , 2 , ...} e A = { 2 , 3 , 4 , ...}.
Prova
Seja B = { n ∈ ℕ : 1 , 2 , 3 , ..., n ∈ A }.
Então B satisfaz as hipóteses do primeiro princípio da indução matemática.
(i) 1 ∈ B porque, por definição de B, 1 ∈ A.
(ii) Se n ∈ B, por definição de B, 1 , 2 , 3 , ... , n ∈ A e, pela hipótese (ii) do conjunto
A, n + 1 ∈ A. Como 1 , 2 , 3 , ... , n + 1 ∈ A, pela definição de B, n + 1 ∈ B.
Pelo primeiro princípio da indução matemática,
B = A = { 1 , 2 , 3, ...}.
Prova
A função F a ser construída definida em ℕ = { 0 , 1 , 2 , ...} com valores em X é um
subconjunto do produto cartesiano ℕ x X com as propriedades:
43
(1) (𝟎, x0 ) ∈ F.
(2) Para cada número natural n existe um elemento x ∈ X tal que
(𝐧, x) ∈ F .
(3) se ( 𝐧 , x1 ) ∈ F e se ( 𝐧 , x2 ) ∈ F , em que n é um número natural e x1 e x2
são elementos de X, então x1 = x2 .
(4) se ( n , x ) ∈ F então ( 𝐧+ , f(𝑥)) ∈ F.
Observação:
Seja f uma função injetora definida para todos os elementos de X com valores em X ,
de modo que x0 não é um elemento do conjunto de valores de f. Então a função F do teorema
da recursão também é injetora no sentido de que se m e n são números naturais com F(𝐦) =
F(𝐧), então, m = n.
Caso m = 0 e caso n = 0 não há o que provar e se n ≠ 0 é tal que F(n) = F(0) então n
é o sucessor imediato de um número natural k ou seja 𝐧 = 𝐤 + e
F(𝟎) = x0 = F(𝐧) = f(𝐤) = f[F(𝐤)]
o que é uma contradição pois x0 não é elemento do conjunto de valores de F
Conclusão: se F(n) = F(0) então n = 0.
Admitindo que para números naturais m e n F(𝐦+ ) = F(𝐧), se n = 0, F(𝐦+ ) = F(𝟎)
então 𝐦+ = 0, o que é uma contradição; se n ≠ 0, n é sucessor imediato de um número natural
k, ou seja n = k + e F(𝐦+ ) = F(𝐧) = F(𝐤 + ) = f[ F(𝐦)] = f[ F(𝐤)] e por f ser uma função
injetora, F(m) = F(k). Pela hipótese de indução: m = k e 𝐦+ = 𝐤 + = 𝐧 .
46 O conjunto N dos números naturais
Seja m um número natural e seja f a função sucessor imediato definida para todos os
valores naturais, ou seja, para todo número natural n, f(𝐧) = 𝐧+ .
m + 0 = Fm (0) = m
( m + n ) + k = m + ( n + k) .
m + n = n + m.
47
Prova de (a)
n+ = 1 + n
e 1 + n+ = (1 + n)+ = (n+)+,
Prova de (b)
0+n=n
e 0 + n+ = (0 + n)+ = n+,
Prova de (c)
Amn = { k ∈ ℕ : ( m + n ) + k = m + ( n + k) }.
( m + n ) + k = m + ( n + k)
o que demonstra que k+ ∈ Amn . Pelo princípio da indução matemática, Amn = ℕ e a prova
de (c) está completa.
Prova de (d)
m+n=n+m
= 1 + (n + m) = (item (a))
= n+ + m ( item (a))
𝐦𝐧+ = G𝐦 (𝐧) + 𝐦 = 𝐦𝐧 + 𝐦
c1) m( n + k) = ( mn + mk )
c2) ( n + k)m = nm + km
(mn)k = m(nk)
mn = nm
Prova de (a)
0n+ = 0n + 0 = 0n = 0
o que mostra que n+∈ A . Pelo princípio da indução matemática, A = ℕ e a prova está
completa.
Prova de (b)
1n+ = 1n + 1 = n + 1 = n+ ,
o que mostra que n+∈ A . Pelo princípio da indução matemática, A = ℕ e a prova de (b) está
completa.
Prova de (c1)
Amn = { k ∈ N : m( n + k) = mn + mk }
m( n + k) = mn + mk
= m( n + k) + m definição de multiplicação
= ( mn + mk ) + m definição de A
o que demonstra que k+ ∈ Amn . Pelo princípio da indução matemática, Amn = ℕ e a prova
de (c1) está completa.
A prova de c2 é análoga.
51
Prova de (d)
Então 0 ∈ Amn porque (mn)0 = 0 = m(n0) , lembrando que para cada número natural m ,
(mn)k = m(nk)
Prova de (e)
mn = nm
m = n ou m ∈ n.
𝐑 ≤ = {(𝐦, 𝐧): 𝐦 ≤ 𝐧 }
Em todos os casos, m ≤ p.
Prova
vezes porque n é um conjunto finito, está provado que se 𝐦 ≤ 𝐧 então existe um único número
natural d tal que n = m + d.
Prova
(a) Se m = n então m + p = n + p e mp = np
Prova
Prova
Prova
Para cada enumeração do conjunto dos números naturais existe uma relação de ordem
total no conjunto dos números naturais associada à enumeração dada, no sentido que m < n
tem o significado de que m precede n na enumeração considerada. Por exemplo na
enumeração 2 , 4 , 6 , 8 , ... , 0 , .... , 11 , 9 , 7 , 5 , 3 , 1 , o número natural 8 é menor do que o
número natural 3.
Prova
55
B = { 𝐧 ∈ ℕ = { 𝟎 , 𝟏 , 𝟐 , … }: 𝐧 ≤ 𝐚 ∀ 𝐚 ∈ A}
Os números naturais primos são os números naturais p cujos únicos divisores são 1 e
p. Os números naturais primos são os átomos na relação de divisibilidade devido ao teorema
fundamental da aritmética abaixo.
Prova
A demonstração do teorema fundamental da aritmética é baseada no princípio da
indução matemática completa.
Seja A o subconjunto dos números naturais n de modo que n + 1 é produto de números
naturais primos não necessariamente distintos.
Então
(i) 1 ∈ A porque 1 + 1 = 2 é um número natural primo.
(ii) se 1 , 2 , ... , n ∈ A então n + 1 ∈ A porque ou n + 2 é um número primo e a
demonstração está completa ou n + 2 é um número composto no sentido de que existem
números naturais a e b com
n + 2 = ab
e com
a , b ∈ { 2 , 3 , ... , n + 1}
Pela hipótese de indução, a e b são produtos de números naturais primos não
necessariamente distintos e n + 2 = ab , então também é produto de números naturais primos
não necessariamente distintos.
57
Prova
Admitindo-se que, para cada número natural l ∈ { 1 , 2 , 3 , ... } lm < n , o
subconjunto A do conjunto dos números naturais constituído pela totalidade dos
números naturais k tal que k > lm é não vazio pois n ∈ A e, pelo princípio da boa
ordenação, admite um mínimo n0 ∈ A e de n0 > lm para cada número natural e segue
que n0 > m e que n0 – m ∉ A .
O que significa que existe um número natural l0 tal que n0 – m < l0m ou
n0 < (l0 + 1), o que é uma contradição ( n0 > lm para cada número natural l ). Portanto,
existe um número natural k tal que km ≥ n e existe um número natural k + 1 tal que
(k + 1)m > km ≥ n.
58 O conjunto N dos números naturais
59
R= {((a , b) , (c , d)) : a , b , c , d ∈ ℕ : a + d = b + c } ⊂ ( ℕ x ℕ ) x ( ℕ x ℕ ).
0 = { (n , m ) ∈ ℕ x ℕ : (( n , m ) , ( 0 , 0 )) ∈ R }
= { (n , m ) ∈ ℕ x ℕ : n + 0 = m + 0 }
= {( n , n ) : n ∈ ℕ }
= { ( 0 , 0 ) , ( 1 , 1 ) , ( 2 , 2 ) , ( 3 , 3 ) , ... }.
1 = { (n , m ) ∈ ℕ x ℕ : (( n , m ) , ( 1 , 0 )) ∈ R }
60 O conjunto Z dos números inteiros
= { (n , m ) ∈ ℕ x ℕ : n + 0 = m + 1 }
= {( n + 1, n ) : n ∈ ℕ }
= { ( 1 , 0 ) ; ( 2 , 1 ) ; ( 3 , 2 ) ; ( 4 , 3 ) , ... }
– 1= { (n , m ) ∈ ℕ x ℕ : (( n , m ) , ( 0 , 1 )) ∈ R }
= { (n , m ) ∈ ℕ x ℕ : n + 1 = m + 0 }
= {( n , n + 1 ) : n ∈ ℕ }
= { ( 0 , 1 ) ; ( 1 , 2 ) ; ( 2 , 3 ) ; ( 3 , 4 ) , ... }
2 = { (n , m ) ∈ ℕ x ℕ : (( n , m ) , ( 2 , 0 )) ∈ R }
= { (n , m ) ∈ ℕ x ℕ : n + 0 = m + 2 }
= {( n + 2, n ) : n ∈ ℕ }
= { ( 2 , 0 ) ; ( 3 , 1 ) ; ( 4 , 2 ) ; ( 5 , 3 ) , ... }.
– 2 = { (n , m ) ∈ ℕ x ℕ : (( n , m ) , ( 0 , 2 )) ∈ R }
= { (n , m ) ∈ ℕ x ℕ : n + 2 = m + 0 }
= {( n , n + 2 ) : n ∈ ℕ }
= { ( 0 , 2 ) ; ( 1 , 3 ) ; ( 2 , 4 ) ; ( 3 , 5 ) , ... }.
( a1 + a2 , b1 + b2 ) , ( c1 + c2 , d1 + d2 ) ∈ R
( a1 + a2 ) + ( d1 + d2 ) = ( b1 + b2 , c1 + c2 )
(( a1 , b1) , ( c1 , d1 )) ∈ R , ou equivalentemente a1 + d1 = b1 + c1
ou
(( a2 , b2) , ( c2 , d2 )) ∈ R , ou equivalentemente a2 + d2 = b2 + c2 .
Dados dois números inteiros m1 e m2 que são classes de equivalência segundo R, cujos
representantes são os pares ordenados de números naturais ( a1 , b1 ) e ( a2 , b2 )
respectivamente, o número inteiro m1 ∙ m2 produto dos fatores inteiros m1 e m2 é a classe de
equivalência segundo R cujo representante é o par ordenado de números naturais:
{( a1 , b1 ) ; ( c1 , d1 )} ∈ R , isto é, a1 + d1 = b1 + c1
e como
{( a2 , b2 ) ; ( c2 , d2 )} ∈ R , isto é, a2 + d2 = b2 + c2
logo
{( a1a2 + b1b2 , a1b2 + b1a2 ) ; ( c1c2 + d1d2 , c1d2 + d1c2 )}
são elementos de R, pois
a1a2 + b1b2 + c1d2 + d1c2 = a1b2 + b1a2 + c1c2 + d1d2
em vista de que:
( a1 + d1 ) ( a2 + d2 ) = ( b1 + c1 ) ( b2 + c2 )
( a1 + d1 ) ( b2 + c2 ) = a1 + b2 + a1 + c2 .
( a1 + b2 , a2 + b1 )
{( a1 , b1 ) ; ( c1 , d1 )} ∈ R , isto é, a1 + d1 = b1 + c1
e como
{( a2 , b2 ) ; ( c2 , d2 )} ∈ R, isto é, a2 + d2 = b2 + c2
logo
{( a1 + b2 , a2 + b1 ) ; ( c1 + d2 , c2 + d1 )} ∈ R
visto que
( a1 + b2 ) + ( c2 + d1 ) = ( a2 + b1 ) + ( c1 + d2 )
n = mp
O número inteiro m é menor do que o número inteiro n indicado pela notação m < n
ou o número inteiro n é maior do que o número inteiro m indicado pela notação n > m quando
e somente quando existe um número inteiro p pertencente ao subconjunto ℙ tal que:
n=m+p
R≤ = { ( m , n ) ∈ ℤ x ℤ : m ≤ n }
De fato, R≤ é uma relação binária de ordem total no conjunto ℤ dos números inteiros
pois satisfaz as propriedades reflexiva, antissimétrica e transitiva.
O conjunto ℤ dos números inteiros é união disjunta do conjunto ℙ , do conjunto
unitário cujo único elemento é o número inteiro zero e do conjunto – ℙ em que
–ℙ={n∈ℤ:–n∈ℙ}
Dados dois números inteiros m e n , uma e somente uma das afirmações é verdadeira:
(1) m = n (2) m < n (3) m > n.
Prova
Dados os números inteiros m e n , ou m – n = 0 ou m – n ∈ – ℙ ou m – n ∈ ℙ .
Se m – n = 0 então m = n .
Se m – n ∈ – ℙ então por definição m < n.
Se m – n ∈ ℙ então por definição m > n.
69
A relação de ordem total R≤ sobre o conjunto dos números inteiros é uma relação
binária R≤ sobre ℤ com as propriedades: reflexiva, antissimétrica e transitiva, e é definida
também da seguinte maneira:
Sejam m, n ∈ ℤ e ( a , b ) e ( c , d ) ∈ ℕ x ℕ, representantes de m e n respectivamente,
tomados em suas respectivas classes de equivalência. Por definição,
( m , n ) ∈ R≤ ou m R≤ n quando e somente quando a + d ≤ b + c.
Prova de (i)
A prova de (i) é obtida adicionando – p a ambos os membros da equação
m+p=n+p
Prova de (ii)
Sem perda de generalidade, admitindo que m < n, duas situações ocorrem: ou p > 0
ou p < 0. Caso p > 0 e m < n segue que mp < np . Caso p < 0 e m < n segue que mp > np.
Por hipótese mp = np e pela lei da tricotomia para o conjunto dos números inteiros m = n.
Prova
Prova de (i)
71
Prova de (ii)
(– m) (– n) + m ( – n) = ( – m + m )( – n) = 0(– n) = 0 = mn + m(– n) e, pela lei do
cancelamento no conjunto dos números inteiros para a operação de adição,
(– m) (– n) = mn .
A identificação entre o número natural n e o número inteiro j(n) e o fato de que a soma
de dois números naturais m e n é identificado como a soma dos números inteiros j(m) e j(n)
pela propriedade (1) da função j e além disso o fato de que o produto de dois números naturais
m e n é identificado como o produto dos números inteiros j(m) e j(n) pela propriedade (2) da
função j faz com que o conjunto ℕ dos números naturais seja considerado um subconjunto do
conjunto ℤ dos números inteiros o que não é verdadeiro, já que { j(n): n ∈ ℕ } ⊂ ℤ.
72 O conjunto Z dos números inteiros
R = { (( a , b ) , ( c , d )) ∈ ℤ x ℤ* : ad = bc } ⊂ ( ℤ x ℤ* ) x ( ℤ x ℤ* )
em que a operação de multiplicação envolvida é referente a números inteiros.
O número racional zero indicado pelo símbolo 0 é a classe de equivalência segundo R
do elemento
( 0 , 1 ) ∈ ℤ x ℤ* ,
ou seja:
0 = { ( 0 , 1 ) , ( 0 , – 1 ) , ( 0 , 2 ) , ( 0 , – 2 ) , ( 0 , 3 ) , ( 0 , – 3 ) , ... }
p
Dados os números inteiros p e q com q ≠ 0 , o número racional é definido como a
q
Dados dois números racionais m1 e m2, que são classes de equivalência segundo R,
cujos representantes são respectivamente os pares ordenados de números inteiros ( a1 , b1 ) e
( a2 , b2 ) com b1 e b2 diferentes do número inteiro 0, o número racional m1 + m2 soma das
parcelas m1 e m2 é definido como a classe de equivalência segundo R do par ordenado de
números inteiros:
( a1b2 + a2b1 , b1b2 )
segue que:
( a1b2 + a2b1 ) d1d2 = b1b2 ( c1d2 + c2d1 )
ou equivalentemente:
{ ( a1b2 + a2b1 , b1b2 ) , ( c1d2 + c2d1 , d1d2 ) } ∈ R
e que os pares ordenados de números inteiros
( a1b2 + a2b1 , b1b2 ) e ( c1d2 + c2d1 , d1d2 )
são representantes segundo R do mesmo número racional.
ordenados de números inteiros são iguais pelas propriedades das operações de adição e de
multiplicação de números inteiros.
A prova da comutatividade da operação de adição de números racionais está completa.
{( a1 , b1 ) , ( c1 , d1 )} ∈ R
a1d1 = b1c1
e como:
{( a2 , b2 ) , ( c2 , d2 )} ∈ R
a2d2 = b2c2
o que implica que ( pela multiplicação membro a membro)
a1a2d1d2 = b1b2c1c2
e que equivale colocar que:
{( a1a2 , b1b2 ) = ( c1c2 , d1d2 )} ∈ R
com:
b1b2 ≠ 0 d1d2 ≠ 0
e que os pares ordenados de números inteiros:
( a1a2 , b1b2 ) e ( c1c2 , d1d2 )
são representantes da mesma classe de equivalência segundo R e consequentemente do
mesmo número racional.
m ∙ 0 = 0.
m ∙ 1 = m.
Prova
Sejam os pares ordenados de números inteiros ( a1 , b1), ( a2 , b2) e ( a3 , b3) com b1 , b2
e b3 números inteiros não nulos, representantes dos números racionais m1 , m2 e m3
respectivamente. Então um dos representantes dos números racionais m1m2 e m2m3 são
respectivamente os pares ordenados dos números inteiros (a1a2 , b1b2) e (a2a3 , b2b3) e um dos
representantes dos números racionais ( m1m2 )m3 e m1(m2m3) são respectivamente os pares
ordenados dos números inteiros
( ( a1a2 )a3 , (b1b2)b3 ) e ( a1(a2a3) , b1(b2b3))
e estes pares ordenados de números inteiros são iguais pela associatividade da operação de
multiplicação de números inteiros.
A prova da associatividade da operação de multiplicação de números racionais está
completa.
81
segundo R do número racional produto dos fatores racionais mm-1 e é também um dos
representantes segundo R do número racional 1. Portanto, segue que mm-1 = 1.
Dados dois números racionais m1 e m2, os quais são classes de equivalência segundo
R cujos representantes são definidos pelas classes de equivalência segundo R dos pares
ordenados de números inteiros ( a1 , b1 ) e ( a2 , b2 ) com b1 e b2 diferentes do número inteiro
0, o número racional m1 – m2 diferença dos números racionais m1 e m2 é a classe de
equivalência segundo R do par ordenado de números inteiros:
83
Dados dois números racionais m1 e m2, em que m2 é um número racional não nulo, os
quais são classes de equivalência segundo R com representantes definidos pelos pares
ordenados de números inteiros ( a1 , b1 ) e ( a2 , b2 ) com b1 ≠ 0, com b2 ≠ 0, a2 ≠ 0, o número
racional quociente resultado da divisão do número racional m1 pelo número racional m2 ≠ 0,
𝐦𝟏
indicado pelo símbolo com m2 ≠ 0, é o número que é a classe de equivalência segundo R
𝐦𝟐
𝐦𝟏
O número racional quociente com m2 ≠ 0 resultado da divisão do número racional
𝐦𝟐
R≤ = { ( m , n ) ∈ ℚ x ℚ : m ≤ n }
De fato, R≤ é uma relação binária de ordem total no conjunto ℚ dos números racionais
pois satisfaz as propriedades reflexiva, antissimétrica e transitiva além de ser válida a lei da
tricotomia para números racionais.
O conjunto ℚ dos números racionais é união disjunta do conjunto ℙ , do conjunto
unitário cujo único elemento é o número racional zero e do conjunto – ℙ em que
–ℙ ={n∈ℚ:–n∈ℙ}
TEOREMA 3.6.1 Para cada número natural p primo não existe número racional m tal que
m2 = mm = p e não existe número racional m tal que m3 = mm2 = p , e assim por diante.
Dados dois números racionais m e n , uma e somente uma das afirmações é verdadeira:
(1) m = n (2) m < n (3) m > n.
Prova
Dados os números racionais m e n , ou m – n = 0 ou m – n ∈ – ℙ ou m – n ∈ ℙ .
Se m – n = 0 então m = n .
Se m – n ∈ – ℙ então por definição m < n.
Se m – n ∈ ℙ então por definição m > n.
87
Prova de (vi)
m = m + 0 = m + ( p + ( – p )) = (m + p) + ( – p ) < ( n + p ) + ( – p ) = n (pela hipótese
e pelo item (i)).
Prova de (vii)
Admitindo n < m e como p > 0 , np < mp pelo item (iv) o que contradiz a hipótese
mp < np. Admitindo m = n segue que mp = np o que contradiz a hipótese mp < np. Pela lei
da tricotomia para o conjunto dos números racionais resta a alternativa m < n.
Prova
A prova de (i) é obtida adicionando – p a ambos os membros da equação
m+p=n+p
e a prova de (ii) é resultado da multiplicação pelo elemento inverso de p em ambos os
membros da igualdade (ii).
88 O conjunto Q dos números racionais
Prova
Prova
Para cada numero racional não nulo m com ( 0 , m ) ∈ R , ( 0 , m-1 ) ∈ R. De fato, se
( m-1 , 0 ) ∈ R então ( 1 , 0 ) = ( mm-1 , m0 ) ∈ R , o que é uma contradição à propriedade (3).
Está demonstrado que: para cada número racional não nulo m,
(0 , m ) ∈ R se e somente se ( 0 , m-1 ) ∈ R.
Na sequencia é demonstrado que para cada número racional não nulo m
(0 , m ) ∈ R se e somente se m ∈ ℙ
89
O número real menos um, indicado pelo símbolo – 1, é definido como o conjunto :
– 1 = { x ∈ ℚ : x < – 1} .
𝟓
O número real cinco terços, indicado pelo símbolo , é definido como o conjunto :
𝟑
𝟓 𝟓
={x∈ℚ:x< }.
𝟑 𝟑
𝟑
O número real menos três sétimos, indicado pelo símbolo – , é definido como o
𝟕
conjunto :
𝟑 𝟑
– = { x ∈ ℚ : x < – }.
𝟕 𝟕
De agora em diante os números reais serão indicados pelas letras do alfabeto grego:
α , β , ... , ὡ.
92 O conjunto R dos números reais
A operação de adição no conjunto ℝ dos números reais associa a cada par ordenado
(α , β ) de números reais α e β , o número real soma α + β dos números reais α e β nesta ordem
definido como:
α + β = { x ∈ ℚ : ( ∃ y ∈ α ) ( ∃ z ∈ β ) : ( x = y + z )}
ii) α + β ≠ ℚ .
Como α ≠ ℚ e β ≠ ℚ , existem números racionais a e b com a ∉ α , b ∉ β ; além disso,
se y ∈ α , então y < a ( se a < y e y ∈ α então a ∈ α ) e se z ∈ β , então z < b ( se b < z e
z ∈ β , então b ∈ β ) e, portanto, ( y + z ) < ( a + b ). O que foi provado é que:
∀y∈α ∀z∈β ( y + z ) < ( a + b)
Então ( a + b ) não é um elemento de α + β , ( se a + b é um elemento de α + β
existem y ∈ α e z ∈ β tais que ( a + b ) = ( y + z ) , o que contraria a última desigualdade).
Para cada número real α, a soma de α com o número real zero é igual a α.
Prova α + 0 ⊂ α
x = x₁ + ( x – x₁ )
( x – x₁ ) ∈ 0
Assim temos
x∈α+0
94 O conjunto R dos números reais
portanto
x ⊂ α + 0.
Logo
α= α+0 .
LEMA 4.1.1:
Seja α um número real e seja x um número racional positivo. Então existem números
racionais y e z com y ∈ α e z ∉ α em que z não é o menor elemento de ℚ – α tal que
x = z – y.
Prova do lema:
Caso x ∈ α:
Se todos os números racionais x, 2x, 3x, 4x, ... são elementos de α então todo número
racional w também é elemento de α pela propriedade arquimediana dos números racionais:
w < nx para algum número natural n. Pelo princípio da boa ordenação dos números naturais
aplicado ao conjunto não vazio
A = { n ∈ N: nx ∉ α}
existe o número natural m, elemento mínimo de A , tal que mx ∉ α e (m – 1)x ∉ α , pois
m ≥ 2.
Por definição z = mx ∉ α e y = (m – 1)x ∈ α, z – y = x. Na hipótese de z ser o menor elemento
de ℚ – α , existe um número racional t de modo que t > y e t ∈ α ; por definição w = z + t – y
e logo w – t = z – y = x , com w ∉ α e t ∈ α .
Caso x ∉ α:
O conjunto ℙ dos números reais estritamente maiores do que o número real zero.
ℙ={α∈ℝ:α>0}
i) 0 ⊂ α + (– α)
Seja x um número racional pertencente ao número real 0, então x < 0 e – x > 0.
De acordo com o lema abaixo, existe um número racional y ∈ α e um número racional
z ∉ α, em que z não é o menor elemento de ℚ – α tal que z – y = – x ou x = y + ( – z) com
y ∈ α e – z ∈ – α . A prova da inclusão está completa.
ii) α + (– α) ⊂ 0
96 O conjunto R dos números reais
Prova:
A existência de um número racional estritamente positivo x tal que x ∈ α implica que
todo número racional estritamente negativo é um elemento de α pela definição de um número
real e neste caso 0 ⊂ α e α ∈ ℙ .
A negação da existência de um número racional estritamente positivo x tal que x ∈
α conduz a duas possibilidades mutuamente exclusivas. A primeira possibilidade é a de que
todos os números racionais estritamente negativos são elementos de α e neste caso:
α = 0. A segunda possibilidade é a de que existe um número racional estritamente negativo x,
tal que x ∉ α e, sem perda de generalidade, x não é elemento mínimo de ℚ – α ( caso contrário,
considere 𝑥⁄2 > x ); assim, – x ∈ – α e – x > 0 o que implica que 0 ⊂ – α e – α ∈ ℙ.
αβ = { x ∈ ℚ : x ≤ 0 } ∪ { x ∈ ℚ : ( ∃ y ∈ α : y > 0 ) ( ∃ z ∈ β : z > 0 ) x = yz } αβ ∈ ℙ
Se α e β são números reais com α > 0 e β > 0 então αβ é um número real com αβ > 0.
Prova:
i) αβ ≠ ∅
αβ ≠ ∅ pois contém { x ∈ ℚ : x ≤ 0 }
ii) αβ ≠ ℚ
Se x ∉ α e y ∉ β, então ∀u∈α x>u ( caso u ∈ α e x < u , x ∈ α )
∀v∈β)(y>v) ( caso v ∈ β e y < v , y ∈ β )
∀ u ∈ α , com u > 0
∀ v ∈ β , com v > 0 xy > uv.
Portanto, xy ∉ αβ , ou seja , αβ ≠ ℚ
Caso exista u positivo pertencente α e caso exista v positivo pertencente a β, tal que
xy = uv, então xy ∈ αβ. Mas o que foi provado é que para qualquer u positivo pertencente a
α e qualquer v positivo pertencente a β , temos xy > uv.
iii) x ∈ αβ e seja um número racional u > 0 tal que u < x ( caso u > 0 , u ∈ αβ ). Logo
x > 0 com x ∈ αβ
implica na existência de números racionais y ∈ α , com y > 0 e z ∈ β , com z > 0 tais que:
x = yz
e uma vez que:
0<u<x
u
0< <1
𝑥
u
y<y.
𝑥
98 O conjunto R dos números reais
u u
Como y ∈ α implica que y ∈ α e como u = ( y ) z e z ∈ β , u ∈ αβ
𝑥 𝑥
iv) Seja x ∈ αβ. Caso x ≤ 0, existem números racionais y ∈ α , com y > 0 e z ∈ β , com
z>0e
z = xy ∈ αβ
z>x
Caso x > 0 , existem números racionais y ∈ α com y > 0 e z ∈ β com z > 0 tais que :
x = yz
e, além disso, existem números racionais y1 ∈ α com y1 > y e z1 ∈ β com z1 > z , tais que
x = yz < y1z1
e
y1z1 ∈ αβ
|α| = { α se α ≥ 0
– α se α < 0
0 𝑠𝑒 α = 0
A operação binária interna da multiplicação definida sobre o conjunto ℝ dos números reais é
comutativa e associativa, ou seja:
∀α∈ℝ ∀β∈ℝ ∀γ∈ℝ
αβ = βα
(αβ) γ = α ( βγ )
99
1º caso
Seja α um número real com α > 0. Então α ∙ 1 ⊂ α. Para provar que α ⊂ α ∙ 1, seja x
∈ α com x > 0 ( se x ≤ 0 , x ∈ α ∙ 1 pela própria definição de α ∙ 1) e existe um número
x x x
racional x1 ∈ α com x < x1 e assim x = x1 ( ) com o < < 1 ∈ℚ
x1 x1 x1
x
x1 ∈ α ∈ 1x∈α∙1
x1
2º caso α < 0
α ∙ 1 = – (|α| ∙ |1|) = – |α| = α
3º caso α = 0 ( trivial)
A definição do elemento inverso α−1 de um número real α > 0 é a seguinte:
1 1
α−1 = { x ∈ ℚ : x ≤ 0 } ∪ { x ∈ ℚ : x > 0 : ∉ α, não é o elemento mínimo de ℚ – α }
x x
Prova: Se α é um número real e se α > 0 , então 𝛂−𝟏 é um número real e 𝛂−𝟏 > 0.
i) α ≠ ∅ , pois contém { x ∈ ℚ : x ≤ 0 }
ii) α ≠ ℚ , pois como α > 0 existe um número racional x com x > 0 e x ∈ α ; assim
1 1 1 −1
∉ α−1 ( se ∈ α−1 então ( ) =x∉α)
x x x
iii) Seja x ∈ α−1 e seja um número real y com y < x ; caso y ≤ 0 , y ∈ α−1.
1
Caso y > 0 , então 0 < y < x e por definição ∉ α
x
1 1 1
> e ∉ α
y x y
100 O conjunto R dos números reais
1 1 1 1 1 1 1
( caso ∈ α, ∈ α pois 0 < < e não é elemento mínimo de ℚ – α , pois < ).
y x x y y x y
Portanto: y ∈ α−1
Se x ≤ 0, existe um número racional y ∈ α−1 com y > x, já que α−1 contém pelo
menos um número racional estritamente positivo.
y ∈ α.
ii)1α ⊂ α
Seja z um número racional tal que z > 0 e z ∈ 1α . Então existem um número racional
x > 0 tal que x ∈ 1 e um número racional y > 0 tal que y ∈ α com z = xy < y. Portanto, z ∈ α ,
pois z < y.
i) α ∙ α−1 ⊂ 1
Seja α ∈ ℝ e considere um número racional x tal que: x > 0 e x ∈ α .
Além disso, considere um número racional y tal que y > 0 y ∈ α−1
1 1 1 1
o que implica que ∉ α e que > x . ( caso < x , como x ∈ α , ∈α )
y y y y
α ∙ α−1 ⊂ 1
ii) 1 ⊂ α ∙ α−1
Seja x ∈ 1. Como x ≤ 0, x ∈ α ∙ α−1
Como 0 < x < 1 e, de acordo com o lema anterior, existem números racionais positivos:
z 1
y > 0 e z > 0, tais que y ∈ α e z ∉ α, tais que: = e ainda podemos assumir que z não é o
y x
é um elemento de α ( β + γ ) e a inclusão
αβ + αγ ⊂ α ( β + γ )
está demonstrada.
Caso 2b: β + γ ≤ 0
α |β| = α (– β) = α [(– β – γ) + γ] = α (|β + γ| + γ ) = α |β + γ| + αγ
pelo caso 1 e de outra maneira
α ( β + γ ) = – α |β + γ| = – α|β| + αγ = αβ + αγ
Os demais casos a considerar são análogos
Prova:
Seja β = { x ∈ ℚ : ( ∃ α ∈ A ) ( x ∈ α ) }
A prova de que β é um número real é demonstrada em quatro passos.
iii) Seja um número racional x ∈ β e seja um número racional y < x ; por definição de
β , existe um número real α ∈ A com x ∈ α e a hipótese de que y < x implica em y ∈ α e,
portanto, y ∈ β.
COROLÁRIO: Seja A um subconjunto não vazio do conjunto dos números reais limitado
inferiormente. Então existe o número real ínfimo do conjunto A.
Prova:
Como A é subconjunto do conjunto dos números reais limitado inferiormente, o
subconjunto dos números reais:
–A={–α:α∈A}
é um subconjunto não vazio limitado superiormente e o supremo de – A é o ínfimo do conjunto
A.
Prova:
Admitindo que não exista número natural n tal que nα ≥ β , isto é, para cada número
natural n , nα < β , então
A = { nα : n = 1 , 2 , 3 , ... }
é um subconjunto não vazio do conjunto dos números reais limitado superiormente por β e
que admite como supremo de A um número real β e, em particular, 0 < α < β. Além disso, β
– α não é um limitante superior do subconjunto A, o que significa que existe um número
natural m tal que mα > β – α ou β < (m + 1)α n com (m + 1)α ∈ A , o que é uma contradição.
Portanto, existe um número natural n e existe um número natural (n + 1), tais que
nα ≥ β e (n + 1)α > nα ≥ β .
Prova:
Sejam α e β dois números reais com α < β ou β – α > 0. Existe um número natural n
tal que n(β – α) > 1 pela propriedade arquimediana dos números reais ou 1 + nα < nβ e
novamente pela propriedade arquimediana dos números reais existe um número natural l tal
que l = l ∙ 1 > α e existe um número natural k tal que k = k ∙ 1 > – lα ou – k < lα .
Assim, l e n são números naturais tais que – k < nα < l
Existe um número inteiro m tal que m – 1 ≤ α < m ou m ≤ nα + 1 e assim nα < m ≤
nα + 1 < nβ, portanto,
m
α< <β
n
106 O conjunto R dos números reais
Dados os números reais α e β com α < β , existe um número racional q tal que
α < q < β e existe um número real não racional γ com α < γ < β .
Prova:
Caso: β > 0
Sejam α e β dois números reais tais que γ = β – α > 0. Pela propriedade arquimediana
1
dos números reais, existe um número natural m1 tal que m1 = m1 ∙ 1 > e existe um número
γ
2
natural m2 tal que m2 = m2 ∙ 1 > .
β
1 2 1
O número natural m = m1 + m2 é tal que m > em> >
γ β β
Pela propriedade arquimediana dos números reais, existe um número natural k tal que
1 1 1
k ≥ β , pois, β > 2 > .
m m m
1
O conjunto A = { l ∈ { 3 , 4 , ...} : l ≥ β }é um subconjunto do conjunto dos números
m
naturais não vazio (k ∈ A) e, pelo princípio da boa ordenação dos números naturais, A admite
1
um mínimo n ∈ A e assim n m ≥ β e como n – 1 é um número natural maior do que dois e
𝑛−1
α< <β.
m
Caso β > 0
107
Sejam α e β dois números reais tais que β > 0 e γ = β – α > 0. Pela propriedade
1
arquimediana dos números reais, existe um número natural m1 tal que m1 γ > e existe um
√2
2
número natural m2 tal que m2 √2 > .
β
2 2 √2
O número natural m = m1 + m2 é tal que m√2 > ou β > = .
β 𝑚 √2 𝑚
Pela propriedade arquimediana dos números reais existe um número natural k tal que
√2
k ≥ β e k ≥ 2 o que garante que o subconjunto A do conjunto dos números naturais
𝑚
√2
A = { l ∈ { 2 , 3 , ...} : l ≥ β }é não vazio e pelo princípio da boa ordenação dos números
𝑚
naturais, A tem um mínimo n ∈ A, ou seja, n ∈ { 2 , 3 , 4 , ... }
√2
n ≥β
𝑚
e
√2
(n – 1) <β
𝑚
√2
Se (n – 1) ≤ α então
𝑚
√2
γ = β – α ≤ β – (n – 1)
𝑚
𝑛 √2 √2 √2
β– + ≤ ,
𝑚 𝑚 𝑚
𝑛 √2 √2
visto que β – ≤ 0 , o que é uma contradição pois γ >
𝑚 𝑚
√2
Então q = (n – 1) é tal que
𝑚
α<q<β.
Se q fosse um número irracional, isto é, não racional,
𝑚𝑞 𝑚
√2 = =( )q seria um número racional produto de fatores racionais.
𝑛−1 𝑛−1
Caso β < 0
Basta aplicar o caso anterior aos números reais – α e – β , em que – α e – β são números
reais positivos.
108 O conjunto R dos números reais
O caso α = 0 e β > 0 é interessante porque basta considerar o número natural n tal que
1
nβ > 1 ou 0 < < β cuja existência é assegurada pela propriedade arquimediana dos números
n
reais.
Para cada número natural n ∈ { 1 , 2 , 3 , ... }e para cada número real α, a equação xn
= α tem solução real.
Para n = 1 , a equação é x = α .
Para n = 2 , 3 , ... , seja α > 1 , isto é , existe β > 0 tal que α = 1 + β e seja A =
{ x ∈ ℝ : x > 0 , xn ≤ α = 1 + β }
Então 1 ∈ A e se x > α então xn > α n = ( 1 + β )n > 1 + nβ > 1 + β = α e assim x ∉ A ; logo
para cada x ∈ A , x ≤ α.
Pelo teorema do completamento do conjunto dos números reais, existe γ ∈ ℝ tal que γ
= sup A.
Caso γ n < α , α – γn > 0 e pela propriedade arquimediana do conjunto dos números
reais, existe um número natural m ∈ { 1 , 2, 3 , ...., } tal que
m( α – γn ) ≥ ( 1 + γ )n – γn
ou equivalentemente
( 1 + γ )𝑛 – γ𝑛
α – γn ≥
m
e então
1 n 1 𝑛 1 𝑛
(γ+ ) = γn + ( 𝑛1 ) γn – 1 + ... + (
𝑛
) ( )
m m 𝑚
1 n n 1 n–1
= γn +
m
[( 1 ) γn – 1 + . . . + ( n ) (m) ]
γ
= γn + ( 1 + )n – γn ≤ γn + α – γn = α
m
1 1
o que mostra que γ + ∈Aeγ< γ+ , o que é uma contradição porque γ é o número real
m m
supremo do conjunto A .
109
1
Existe um número real δ ∈ A tal que γ – < δ ≤ γ , lembrando que 1∈ A e γ ≥ 1 e, então,
m
δn=
1 𝑛 𝑛 1 𝑛 1 𝑛 –1 𝑛
δ > (δ −
n
) = γ – ( 1 ) γn – 1 + ( 2 ) 2 γn – 2 + ... + ( )
n
(𝑛)
𝑚 n 𝑛 𝑛
1 n n 1 n–1
> γn –
n
[( 1 ) γn – 1 + . . . + ( n ) (n) ]
1
= γn – [ ( 1 + γ )n - γn ] ≥ γn + α – γn = α
n
Pela lei da tricotomia para o conjunto dos números reais resta apenas a possibilidade
γn = α .
1
Caso α ∈ ℝ é tal que 0 < α < 1 , a equação xn = > 1 é considerada.
α
1º passo
Seja a0 o maior número pertencente a { 0 , 1 , 2 , ... } tal que a0 < α .
Se a0 = α o processo termina.
Se a0 < α segue o 2º passo
2º passo
Seja a1 o maior número pertencente a { 0 , 1 , 2 , ... } tal que
110 O conjunto R dos números reais
a1
a0 + ≤α
10
Então a1 ∈ { 0 , 1 , 2 , ... , 9 } porque se a1 ≥ 10 , então
a1
a0 + ≥ a 0 + a1 ≥ a 0 ,
10
o que contraria o fato de a1 ser o maior número inteiro com a propriedade de que
a1
a0 + < α.
10
a1
Se a0 + = α o processo termina.
10
a1
Se a0 + < α segue o 3º passo.
10
3º passo
Seja a2 o maior número pertencente a { 0 , 1 , 2 , ... }, tal que
a1 a2
a0 + + ≤α
10 102
Então a2 ∈ { 0 , 1 , 2 , ... , 9 } porque se a2 ≥ 10 , então
a1 a2 a1 + a2
a0 + + ≥ a0 +
10 102 10
o que contraria o fato de a2 ser o maior número inteiro com a propriedade de que
a1 a2
a0 + + ≤ α. .
10 102
a1 a2
Se a0 + + = α o processo termina.
10 102
a1
Se a0 + < α segue o próximo passo.
10
Caso o processo continue indefinidamente, seja o conjunto
a1 a2 an
A = { q n = a0 + + + ... + : n ∈ { 0 , 1 , 2 , ... } }
10 102 10n
de números racionais que é um conjunto limitado superiormente pelo número real α. Pelo
teorema do completamento dos números reais, o conjunto A admite como supremo o número
real β. Abaixo segue a demonstração da igualdade entre α e β .
Caso β < α , α – β > 0 e existe um número natural m tal que
1
0< <α–β
10𝑚
e
1 a1 a2 am + 1 1
qm + = a0 + + + ... + ≤β+ <α,
10m 10 102 10m 10m
111
o que contraria a propriedade maximal de am . Então β ≥ α mas β não pode ser maior do que
α ( que é um limitante superior de A)
Conclusão β = α .
Na construção da sequência dos dígitos a1 , a2 , ... pertencentes a { 0 , 1 , ... , 9 } não
ocorre que, a partir de um certo número natural N,
an = 9 n = N+1 , N+2 , ...
Porque caso an = 9 para cada número natural n > N ,
α = β é a soma do número racional q N com o supremo do conjunto
9 9
S={ + ... + : n = N+1 , N+2 , ... }
10𝑛 + 1 10𝑛
1 9 9 1 1
que é igual a porque + ... + = –
10𝑁 10𝑛 + 1 10𝑛 10𝑁 10𝑛
9 1
[ 1 + ... + ]
10𝑛 + 1 10𝑛 − 𝑁
1 10𝑁
1−
9 10 − 𝑁
𝑛 10 − 102
𝑛
10𝑛 + 1 1 = 9 ,
1 − 10 10
ou seja
1 a1 a2 aN + 1
α = β = qN + = a0 + + + ... + ≤α,
10N 10 102 10N
o que contraria a propriedade maximal de aN .
Prova
Se x ∈ E e x < 1, então como 1 ∈ E, o lema está provado neste caso.
Se x ∈ E e x > 1, então de x2 < 2 → 2 – x2 > 0 e
2 – 𝑥2
r= >0 2 – x2 < 2x + 1 → 2 < (x + 1)2
2x + 1
112 O conjunto R dos números reais
2 – 𝑥2
e existe um número racional q tal que 0 < q < 1 e q < . Assim,
2x + 1
2 – 𝑥2
q<
2x + q
2xq + q2 < 2 – x2
( x + q )2 < 2
o que mostra que x < x + q
x + q ∈ ℚ e ( x + q )2 < 2 .
Como consequência, está demonstrado que
√2 = { x ∈ ℚ : x ≤ 0 } ∪ { x ∈ ℚ : x > 0 x2 < 2 }
√5 = { x ∈ ℚ : x ≤ 0 } ∪ { x ∈ ℚ : x > 0 x2 < 5 }
√7 = { x ∈ ℚ : x ≤ 0 } ∪ { x ∈ ℚ : x > 0 x2 < 7 }.
113
Referências
MILIES, C.P.; COELHO, S.P. Números : Uma introdução à Matemática.: São Paulo,
Edusp, 2003
MONTEIRO, L.H.J. : Elementos de Álgebra : Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico S.A., 1969
EISENBERG, M.: Axiomatic theory of sets and classes : New York, Holt, Rinehart and
Winston, 1971.
DODGE, C. W.: Sets, Logic & Numbers : Boston, Prindle, Weber & Schmidt, Inc, 1969.