Notas Das Aulas - Estágio I (Diurno)

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Prof.

Estagiário-Docente: DAMIÃO BENILSON GOMES DE MELO Data: 04/07/24


Curso: Bacharelado em Direito
Departamento: Direito Privado – Centro de Ciências Jurídicas (UFPB)
Disciplina: Introdução ao Estudo do Direito II – Prof. Enoque Feitosa Aulas: 1-2

LEI COMO FONTE DO DIREITO

Antes de adentrarmos no estudo da lei como fonte do direito, precisamos relembrar algumas
ideias gerais acerca do que se entende por Direito.

Quando pensamos na palavra “direito”, automaticamente vem a ideia de “regra”. Não apenas. Os
romanos o chamavam de “jus” e “justitia” o sentido de justiça (a qualidade do direito).

Ferraz Júnior (2003, p. 94), nos diz que na ocorrência de um conflito, o jurista busca de imediato
os meios necessários para a resolução. Neste contexto, o direito é aquilo que se toma como
objetivo. Mas onde podemos encontrá-lo?

Ora, vivemos em uma sociedade juridicamente organizada. Portanto, o ponto de partida de todo
raciocínio jurídico deve ser a lei enquanto objeto do direito.

De maneira ampla, podemos dizer que “direito” possui três sentidos:

1. Regra de conduta obrigatória (direito objetivo)


2. Sistema de conhecimento jurídico (ciência do direito)
3. Faculdade ou poderes que uma pessoa tem para exigir algo de outrem (direito
subjetivo)

Enquanto regra, o objeto do direito é a conduta social e funciona como norma de


comportamento. Sua estrutura bilateral, atribui a uma parte uma prerrogativa (subjetivo) ou
competência (objetivo) e à outra, uma obrigação.

Ex.: A simples compra de produtos ou serviços (presencial ou e-commerce). Analisando os


sujeitos da relação, temos:

(i) Comprador (direito subjetivo — exigir a entrega da coisa);


(ii) Vendedor (obrigação — entregar a coisa);
(iii) Estado (competência — cobrar o tributo equivalente).

Neste sentido, vejamos o seguinte:

Estudo de caso:

(OAB/2023 – Adaptada)

Joana contratou Maria para fotografar a festa infantil de sua filha, Laura. No momento do contrato,
Maria exigiu um sinal equivalente a 20% do preço pactuado para o serviço. O restante do preço
seria pago após a festa, quando entregues as fotografias do evento. Acontece que Maria não
compareceu à festa de Laura, deixando de tirar as fotografias contratadas. Joana contratou, às
pressas, outro fotógrafo e conseguiu registrar o evento a seu gosto. Entretanto, teve de pagar
valores mais altos ao novo fotógrafo, o que lhe gerou prejuízos de ordem material.
Qual o direito de Joana?
Evidente que primeiro o jurista precisa buscar dentre as leis existentes no país aquela que melhor
de adequa ao caso concreto, pois ninguém está obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei (Art. 5º, II, CF/88) — Princípio da estrita legalidade

Encontrada a norma, analisa-se o tipo de obrigação, as consequências legais sobre o


descumprimento, os prejuízos decorrentes (materiais ou outros). Estes são apenas alguns
desdobramentos de análise, dentre outros.

Veja-se que o direito não se limita às normas bilaterais, pois também pode expressar as normas
de organização. Ex.: Os poderes do Estado e sua composição; Estatuto de uma sociedade
empresária; as normas de composição hierárquica...

Importa esclarecer que a característica do direito é a coercibilidade (possibilidade de emprego


da força para fazê-lo valer quando violado ou na ameaça de sua violação). Jhering nos diz que o
direito “é o conjunto de condições da vida social, asseguradas pelo Estado, mediante coerção
externa”.

No entanto, esse conceito não é pacífico na doutrina, até porque os jusnaturalistas entendem que
o direito natural, desprovido de coercibilidade, é tão válido quando aquele protegido pelo Estado.
Outros, dirão que a coercibilidade é acessória, visto que as normas podem ser cumpridas
voluntariamente, sem a necessidade de coerção. Assim, ela seria uma exceção na aplicação do
Direito.

Bobbio responde a essa questão dizendo que a observância espontânea do direito não pode ser
considerada como regra geral, pois a experiência nos ensina que a coerção é necessária para a
aplicação da lei, ainda que a coerção seja psicológica (medo da sanção).

Já Thomasius e Kant defendem que a coercibilidade é uma característica especifica do direito.


Entre os que negam a coercibilidade do direito, alegam que existem normas de direito
constitucional e administrativo que não possuem sanção (norma imperfeita), mas isso não
enfraquece o entendimento majoritário de que o ordenamento jurídico possui consequências
constrangedoras para quem ousar descumprir a lei.

direito sanção direito


objetivo subjetivo

Este é um critério válido para distinguir as normas jurídicas das normas morais ou das normas de
costume. Na hipótese de inobservância, poderá a norma ser aplicada coercitivamente pelo poder
competente.

Daí, chegamos à noção de direito positivo, que é o direito criado pelo Estado (legislador) ou
reconhecido por ele (normas de direito internacional). Então, o direito positivo é o direito vigente
aplicado coercitivamente pelo Estado e pelas organizações internacionais, na hipótese de
descumprimento. É o direito obrigatório para todos. A norma geral e abstrata, prescrita em lei, nos
precedentes ou nas decisões judiciais.

// FIM DA AULA //
Prof. Estagiário-Docente: DAMIÃO BENILSON GOMES DE MELO Data: 10/07/24
Curso: Bacharelado em Direito
Departamento: Direito Privado – Centro de Ciências Jurídicas (UFPB)
Disciplina: Introdução ao Estudo do Direito II Aulas: 3-4

LEI COMO FONTE DO DIREITO (CONTINUAÇÃO)

BREVE REVISÃO DA AULA ANTERIOR

Relembrando os conceitos preliminares, expostos na AULA 1, vimos que a palavra “direito” possui
inúmeras definições e aplicações, tanto na linguística quanto no mundo jurídico, mas, para a condução
das nossas aulas, usaremos “direito” no sentido de “regra, lei positivada pelo Estado”. Ou seja, falaremos
da lei geral e abstrata, válida para todos e exigidas mediante coerção e coação. No nosso passeio inicial
pela teoria do direito, também comentamos que a obra de Tércio Sampaio Ferraz Júnior, expoente
doutrinador, aborda o direito no aspecto da decidibilidade, quer dizer, o uso do direito para a resolução
de conflitos estabelecidos na sociedade (v. Ferraz Júnior, 2003, p. 94-113). Para tanto, o jurista faz uso
do direito que se encontra positivado na lei, dado que vivemos em uma sociedade juridicamente
organizada. Desta forma, ninguém pode abrir mão do comando legal (Art. 3º da Lei de Introdução às
Normas de Direito Brasileiro). Ademais, vimos que os três sentidos do direito são: regra (direito objetivo),
sistema (ciência jurídica) e faculdade de agir (direito subjetivo). Por meio de sua estrutura bilateral (de
prerrogativa ou de competência) é que se estabelece uma relação interindividual na qual, de um lado,
haverá um sujeito com o poder de agir (fazer o que está sendo imposto pela lei) e, de outro, um sujeito
com o poder subjetivo de exigir tal conduta. Não apenas, pois também existem normas com estrutura de
organização. Dito isto, chegamos na parte em que abordamos a coercibilidade como a principal
característica do direito, uma ideia defendida pela maioria dos doutrinadores (posição majoritária),
embora exista uma pequena parcela com ideias divergentes a este respeito.

Dizer que o direito está organizado de maneira dogmática, significa que a ciência do direito é
formada por teorias sobre o ordenamento jurídico vigente e suas e suas exigências práticas
(Ferraz Júnior, 2003, p. 83).

Essas teorias definem a ordem normativa estruturada pelo poder e monopólio da coerção estatal,
expressa pelas leis e legitimado por um processo social de legitimação.

O monopólio da coerção estatal se dá por uma ordem jurídica hierarquizada que se utiliza das
ferramentas e estruturas do Estado para tornar efetivos os direitos idealizados pelas fontes do
direito.

Essa ideia vem desde o século XIX (formação do Estado Moderno), quando o Estado assumiu a
função de garantidor da ordem pública e do direito, protegido ou reconhecido por ele (Estado de
Direito), através de normas e instituições que o jurista deve sistematizar e interpretar (ideia
difundida pelo positivismo jurídico).

COMENTÁRIO EXTRACLASSE:

A teoria positivista buscou demarcar a norma jurídica com características próprias com o intuito de
distingui-la das demais prescrições existentes nas diversas ordens normativas que tinham por objetivo a
regulação da conduta humana. Houve assim uma distinção entre as normas morais e as normas
jurídicas, separando-se, então, da tradição jusnaturalista. O positivismo jurídico como sistema de
pensamento é o que norteia a compreensão do direito até os dias atuais. A positivação do Direito nasceu
da necessidade de se criar padrões normativos não atendidos por outras estruturas de pensamento,
como o jusnaturalismo.
O fenômeno social além de dinâmico, é complexo e exige do jurista um domínio teórico, técnico,
prático e argumentativo.

Considerando que o direito estabelece uma relação de poder na sociedade, Foucault nos diz que
ele [o poder] não está ali ou acolá, mas em constante movimento entre os indivíduos. Trata-se do
conceito clássico, em que o poder é visto como “dominação e imposição da vontade” de um
indivíduo sobre o outro.

Na concepção de Hannah Arendt, a violência não é a essência do poder, mas um instrumento do


poder. Neste caso, temos o poder no sentido de autoridade (poder executivo, legislativo e judiciário),
como instituição pública, um conceito que é diferente do poder enquanto potência e que só existe
em uma relação com duas ou mais pessoas.

Em linhas gerais, uma relação de poder como ato de dominação pode produzir servidão
(autoridade, subjugação) e resistência (força). Daí, chegamos ao seguinte questionamento: há
relação de poder nas relações jurídicas? “Poder” no sentido de “potência”, de imposição da
vontade, de uso da força (coação). Vimos que sim e exemplificamos com casos práticos para
ilustração do tema.

O direito positivo

É o direito criado pelo Estado (legislador) ou reconhecido por ele (normas de direito internacional)
para regulação das condutas. Quer dizer, é o direito obrigatório para todos (norma geral de
aplicação interindividual).

Trata-se da norma geral e abstrata, prescrita em lei, nos precedentes ou nas decisões judiciais.
Prescreve como e quando agir. Neste sentido, norma jurídica é a conduta exigida ou o modelo
imposto de organização social (Nader, 2014, p. 164).

Lei

Obviamente, o positivismo jurídico vale-se da lei como uma das formas de expressão das normas
jurídicas. Enquanto fonte do direito, podemos dizer que a lei é o objeto principal do direito positivo.
Em torno dela gravitam as demais fontes do direito.

// FIM DA AULA //
Prof. Estagiário-Docente: DAMIÃO BENILSON GOMES DE MELO Data: 11/07/24
Curso: Bacharelado em Direito
Departamento: Direito Privado – Centro de Ciências Jurídicas (UFPB)
Disciplina: Introdução ao Estudo do Direito II Aulas: 5-6

LEI COMO FONTE DO DIREITO (PARTE FINAL)

Lei

Conforme já comentamos, o positivismo jurídico vale-se da lei como uma das formas de
expressão das normas jurídicas. Enquanto fonte do direito, podemos dizer que a lei é o objeto
principal do direito positivo. Em torno dela gravitam as demais fontes do direito.
Princípios Gerais do Direito

Costumes LEI Jurisprudência


(sentido amplo)

Doutrina

O direito dogmaticamente organizado possui três pressupostos:

1. Pretensão de monopólio do Estado na produção de normas jurídicas


2. Importância das normas estatais com relação às não-estatais
3. Preponderância das normas jurídicas em relação às normas éticas

Instituto jurídico

É a reunião de normas jurídicas afins, que rege um tipo de relação social ou interesse e se
identifica pelo fim que procura realizar (Nader, 2014, p. 165). Ou seja, é um termo utilizado pelo
Direito para denotar que determinada situação, medida, condição ou fato é algo tão especial para
a vida em sociedade, que deve ser tratado como um “instituto jurídico”, de forma autônoma, e que
por isso merece um tratamento diferenciado.

Sua característica é a especialidade. Jhering chama-os de corpos jurídicos.

Adoção
Poder familiar
Naturalização
Hipoteca
Alienação fiduciária de bens móveis Exemplos de alguns de institutos jurídicos
Progressão de Regime existentes no Direito moderno. Nada impede
que novos institutos possar ser formados no
Livramento condicional
tempo.
Incentivos fiscais e benefícios
Contratos
Casamento
Propriedade
Teoria da Norma

Tudo que estudamos até aqui é o direito como norma (sentido de lei como regra), ou seja, o direito
objetivo ou em sentido objetivo. Objetivo porque está expresso nas leis, nos precedentes ou nas
decisões judiciais. É algo que “deve ser” na sociedade, conforme teorizado por Kelsen (1999, p.
14-15). Estamos falando do conjunto de normas obrigatórias nacional ou internacional que
compõem o sistema jurídico como um todo.

Alguns exemplos:

Códigos de Processo, Código Civil, Código Penal ou qualquer de suas regras.

Neste sentido, as regras jurídicas, quando unificadas, se constituem como um todo orgânico,
capaz de reger diversas matérias jurídicas. Essas matérias que compreendem as relações
jurídicas são chamadas de instituições jurídicas.

As instituições jurídicas são aquelas reguladas pelo direito, diferentemente das instituições sociais
(a família, por exemplo). Imperioso dizer que as instituições jurídicas seguem as mesmas regras
do direito: bilateralidade, coercibilidade, generalidade e sanção, isto porque, apesar de
conceitos autônomos, eles integram e fazem parte do corpo da lei. Outra classificação possível
trazida por alguns autores é: bilateralidade, coercibilidade, generalidade, abstratividade e
imperatividade. Essas são as duas maneiras diferentes de classificar as regras impostas sobre
as normas jurídicas.

O direito positivo compõe a ordem jurídica.

Hart nos diz que aquilo que “[...] as leis são fontes de Direito, não partes do próprio Direito; o
direito constitucional é apenas a moral positiva” (Hart, O Conceito de Direito, 2007, p. 06).

Direito

Lei

Em nossas exposições deixamos claro que a relação do sujeito com o objeto é,


consequentemente, expressa pela linguagem. E isso ocorre de maneira dinâmica, assim como a
própria existência da ciência jurídica. O olhar debruçado sobre um fato pode ter inúmeras
interpretações, a depender do sujeito cognoscente (intérprete).

Para tanto, exsurge a ideia de significado, significante e significação (Jacques Lacan). Ou


seja, o que um objeto representa para um sujeito varia de acordo com a própria relação do sujeito
com o objeto. É certo que qualquer pessoa com o mínimo de instrução saberá identificar as regras
que impõem ou proíbem certos comportamentos. Isso faz parte do conhecimento médio do
mundo.
A diferença entre uma pessoa comum e um jurista está no fato deste ter conhecimento técnico,
obtido por meio científico. Daí, percebe-se que a relação do sujeito com o objeto, expresso pela
linguagem, passa por uma variação que é dinâmica. Ao descrever o mesmo fato pela linguagem
jurídica, partiremos de diferentes interpretações

Sujeito Objeto

Linguagem

Significa dizer que uma pessoa comum irá entender o que é direito de uma forma completamente
distinta de quem estuda a ciência do direito. E até mesmo entre os juristas a interpretação poderá
encontrar meios e mecanismos diferentes para atingir o mesmo objetivo.

Para tanto, exsurge a ideia de significante (elemento tangível, perceptível pela língua escrita ou
falada. Ex: mesa, caneta, lápis etc. Ao ler ou ouvir o som dessas palavras, imediatamente cada
um de nós teremos uma imagem construída na mente acerca da representação do objeto),
significado (é a representação no mundo sensível, ou seja, a imagem física do objeto que
imaginamos, dentro das várias hipóteses possíveis de existência. Ex: mesa de madeira, mesa
pequena, mesa alta, mesa baixa, mesa de bar etc.) e significação (é a explicação, o conceito que
construímos para definir a representação do objeto que pensamos e o seu uso no mundo real. Ex:
caneta para quadro branco; caneta de tinta esferográfica para escrever no caderno, etc.).

Como podemos perceber, o que um objeto representa para um sujeito varia de acordo com a
própria relação do deste com o objeto. Logo, quando alguém nos conta um fato, até que a nossa
mente possa processar todas as informações possíveis, iremos construir diversas imagens acerca
do ocorrido até alcançarmos uma ideia concreta da situação. E isso é algo de varia de pessoa
para pessoa, pois cada um possui suas próprias experiências e as utilizará no momento em que
for preciso interpretar algo.

Dessa forma, imaginemos, por exemplo, uma caneta.

Há, pelo menos três ideias sobre isto:

1. A caneta pensada quando se ouve a palavra “caneta” — significante;


2. A caneta representada fisicamente (“a caneta que você pensou e idealizou de acordo
com a forma e o formato em que foi pensada) — significado
3. A caneta no mundo cognoscível (dentre os vários tipos existentes, como é que se usa a
caneta que foi pensada por você) — significação.

Neste sentido, percebe-se que a relação entre sujeito (destinatário da norma) e objeto (a norma)
que é expressa pela ciência do direito, funciona como linguagem descritiva para a compreensão
do direito positivo (linguagem prescritiva).

Kelsen (1999, p. 03) nos diz que o que transforma um fato natural (extraído do mundo sensível,
real) em fato jurídico não é a sua causalidade (no sentido de causa e efeito. Quer dizer, se A
respira, é sinal de que A está vivo — relação de causa e efeito), mas o sentido objetivo ligado a
ele e a significação que ele possui (o que o mesmo fato representa no mundo jurídico. Ou seja: Se
A é golpeado por um objeto pontiagudo no pescoço e tem a sua respiração prejudicada, já não
estamos mais diante de um fato natural, mas de um fato jurídico — tentativa de homicídio).
Estrutura lógica da norma jurídica: a concepção de Kelsen

Kelsen desenvolveu uma estrutura com duplo juízo hipotético. Essa estrutura está representada
pelas seguintes ideias:

Norma primária: “Dado Ft, deve ser P” (Para a ocorrência de um fato temporal, haverá um dever
de prestação (dever-ser) a ser observado pelo sujeito da relação jurídica). Ex: Se uma pessoa se
torna pai, logicamente, terá o dever de assistência para com o filho(a).

Norma secundária: “Dado ñP, deve ser S” (Na ocorrência do descumprimento da prestação, do
dever-ser, deverá ser aplicada a sanção contra o sujeito infrator da norma). Ex: Se a pessoa deixa
de prestar assistência ao filho(a), deverá pagar uma pensão alimentícia.

Legenda:

Ft = fato temporal
P = prestação
ñP = não prestação
S = sanção

Assim, as normas primárias estabelecem o “dever-ser” no sentido objetivo do que se pode ou


não fazer, as condutas permitidas ou proibidas, são normas que determinam as condutas
juridicamente devidas na sociedade. Já as normas secundárias, são as normas que preveem as
consequências sancionadoras para o caso de afronta ao que está disciplinado, estatuído, previsto
na norma jurídica primária. Assim, as normas secundárias regulam a aplicação das normas
primárias.

Kelsen (1999, p. 04) faz uma distinção entre proposição normativa (1) e norma jurídica (2).
Enquanto a primeira diz respeito ao juízo hipotético que enuncia algo que, sob certas condições
ou pressupostos fixados, devem ocorrer certas consequências, a segunda está relacionada aos
mandamentos, comandos e os imperativos de conduta.

A relação entre sujeito (destinatário da norma) e objeto (a norma) é expressa pela ciência do
direito, que funciona como linguagem descritiva para a compreensão do direito positivo
(linguagem prescritiva).

Ciência do Direito > Sujeito cognoscente > Objeto


linguagem intérprete linguagem
descritiva prescritiva

EXPERIÊNCIA JURÍDICA E DIREITO OBJETIVO

O direito objetivo e o direito positivo não se confundem. Há uma relação de gênero e espécie.
• Direito objetivamente existente são as normas estatais e não-estatais.
• Direito positivo é a norma produzida pelo Estado para ordenar a vida social e a experiência
jurídica legitimada
Ler: Capítulo IV, 3, da Teoria Pura do Direito para ampliar a visão sobre direito subjetivo

// FIM DA AULA //
Prof. Estagiário-Docente: DAMIÃO BENILSON GOMES DE MELO Data: 17/07/24
Curso: Bacharelado em Direito
Departamento: Direito Privado – Centro de Ciências Jurídicas (UFPB)
Disciplina: Introdução ao Estudo do Direito II Aulas: 7-8

EXPERIÊNCIA JURÍDICA E DIREITO OBJETIVO (CONTINUAÇÃO)

O direito lida com a realidade através das palavras. Ou seja, tanto ser quanto o dever-ser são
expressos pelo campo linguístico. Dito isto, podemos facilmente compreender que o direito é uma
ciência performativa, porque na sua aplicação há uma “performance” que é descrita pela linguagem.

COMENTÁRIO EXTRACLASSE:

Um dos sentidos possíveis na tradição filosófica do termo “ser” refere-se à natureza comum do ser humano.
Esta é a visão adotada por Kelsen na formulação da Teoria Pura do Direito, portanto, é a que interessa a
ciência jurídica. Já o dualismo observado na formulação do dever-ser, concepção desenvolvida por Kelsen, se
refere àquilo que se espera do comportamento social das pessoas em uma sociedade dogmaticamente
organizada sob o poder imperativo da norma.

Essa ideia que compõe o conceito de enunciado performativo (performative utterance) foi
elaborado pelo filósofo britânico J. L. Austin (1911-1960) para descrever certos atos da fala ou da
linguagem. Esses atos se realizam de duas formas:

a. pela constatação, relatos ou descrições


b. pela ação comunicativa (ordens, advertências, garantias)

COMENTÁRIO EXTRACLASSE:

Austin é um filósofo que trouxe relevantes contribuições para a linguística. Até aqui, acredito
que nenhum de nós tenhamos qualquer dúvida acerca do necessário estudo dos aspectos
descritivos da ciência do direito. Como ocorre a descrição do direito? Evidentemente, pelo uso da
linguagem. No nosso caso, juristas que somos, resta refiro-me à linguagem jurídica, construída a
duras penas pelas disciplinas propedêuticas.
A construção da linguagem parte de pressupostos linguísticos. Estes, se realizam pelos atos da
fala ou da escrita. Assim, o ato de descrever um fato, na visão de Austin, pode ocorrer de duas
formas: (i) pela constatação, relato ou descrições do próprio fato; ou, ainda, (ii) pela ação
comunicativa, que são as ordens, advertências e garantias, por exemplo, que regulam ou
comandam a descrição do fato.
De igual forma, é o que acontece no campo jurídico, pois a ciência do direito usa da linguagem
para expressar os dogmas expressos pela teoria do direito. Usamos a linguagem jurídica para
descrever o direito e para interpretar as prescrições da norma. Por isso dizemos que a teoria do
direito é descritiva. Já ciência do direito ocorre entre descrição e prescrição (ou seja, entre a teoria
e a lei).

SISTEMAS JURÍDICOS

Os sistemas jurídicos são:

▪ Common law (direito dos precedentes): está ligado à produção judicante.


▪ Civil law: está ligado à lei como fonte primária do direito

Em ambos os sistemas, o juiz deve fundamentar as decisões com base na lei. A diferença é que o
primeiro acontece pelo direito costumeiro, enquanto o segundo se dá pela vontade do legislador
(mens legis), sem vincular o juiz à jurisprudência.
CARACTERÍSTICAS DO DIREITO MODERNO

Proibição do non-liquet: O juiz não pode deixar de decidir e nem decidir sem a utilização de
fundamentos jurídicos. Para todo e qualquer problema jurídico, haverá uma fundamentação.
Diferentemente do que acontecia no passado, na época do Direito Romano.

Basta lembrar do fatídico episódio do julgamento de Cristo e Barrabás, guardadas as devidas


proporções religiosas (não é o objetivo discuti-las). Qual foi a reação de Pôncio Pilatos naquele
dia? Ele lavou as mãos! Um ato simbólico para expressar que aquele caso seria julgado pelo
povo, sem qualquer participação dele. Trazendo o exemplo para os dias atuais, hoje em dia não
se admite que um juiz “lave as mãos” para deixar de decidir um caso concreto. Todas as decisões
obrigatoriamente deverão ter fundamento legal, seja para acatar ou rejeitar os fundamentos
alegados pelas partes do processo.

Inegabilidade dos pontos de partida: a lei é a fonte principal das decisões. Logo, como o Estado
moderno é laico, não se admite decisões com base em fundamentos religiosos.

A coerência do sistema jurídico se dá a partir da estrutura lógica da norma, elaborada por


Kelsen (já abordada em outra aula. Se tiver dúvida, volte o conteúdo para revisá-lo).

Fontes formais x fontes materiais

A palavra fonte (do francês fonts), usada na ciência do direito, refere-se ao que dá origem ao
direito, de onde ele provém. Neste sentido, vimos que a lei é a fonte primária do direito positivo e a
sua existência está condicionada por fatores materiais, extraídos da sociedade (realidade social,
histórica, problemas econômicos etc.). Assim, temos como:

▪ Fonte formal: a lei


▪ Fonte material: os fatores materiais (sociais, políticos, econômicos, históricos etc.)
existentes na sociedade.

LEI NATURAL X LEI SOCIAL

Lei natural: É aquela dada pela natureza. Quer dizer, não existe uma norma que estabeleça a
sua existência (lei da gravidade, por exemplo). São as leis de causalidade. Ou seja, na ocorrência
de A, a consequência será B (lei da ação e da reação).

Lei social: Nesta, não há causalidade. Elas são baseadas na regra da imputação (putare), da
responsabilização, da atribuição de um dever. Está relacionada ao sentido objetivo que qualifica a
ação individual ou coletiva.

Desta forma, as leis naturais não podem ser revogadas nem descumpridas. As leis sociais sim, e
é por conta disso que existe a sanção: para constranger o indivíduo a não descumprir a lei, sob
pena de receber uma punição.

OBS: Para Kelsen, a lei fundamental é o que rege a ordem jurídica. E lei fundamental não se
confunde com a constituição, pois está acima dela.

DIREITO NATURAL X DIREITO POSITIVO

A ideia de um direito natural que antecede e se sobrepõe à norma positivada é antiga e


medieval. Se voltarmos no tempo, uma viagem controlada pela historicidade, veremos que a
escravidão, por exemplo, já foi legitimada por uma defesa de direito natural, fundada em
argumentos científicos (eugenia), como a teoria da seleção natural, de Charles Darwin (1809 -
1882). A história, neste aspecto, nos serve para criticidade e reflexão de como o direito é dinâmico
e varia de acordo com o momento social, histórico, cultural, econômico etc.
Vimos noutra aula que o direito positivo é o direito que existe efetivamente na sociedade. Sendo
assim, não podemos admitir que o direito natural seja direito (no sentido de regra jurídica, norma,
de acordo com uma concepção imperativa). Também vimos que o positivismo nasceu com o
Estado moderno, no século XIX, e defendia o conhecimento científico como fonte da verdade
(Augusto Comte, filósofo francês, conhecido como o pai do positivismo).

DIREITO OBJETIVO X DIREITO POSITIVO

Vale dizer que a distinção entre ambos equivale a uma relação de gênero e espécie. Já falamos
sobre isso noutra aula. Estamos apenas retomando alguns conceitos por questão de imperiosa
necessidade didática, para que possamos evoluir com o conteúdo.

Já o direito objetivo é mais amplo porque abrange diversas normas. O direito positivo é mais
restrito, pois refere-se à norma positivada. Nesta relação, temos a ideia de algo que contém e está
contido. O direito positivo está contido no direito objetivo.

Portanto, lembre-se que o direito positivo compreende tudo aquilo que o Estado produz,
reconhece ou autoriza. Isto também é direito objetivo, pois está relacionado ao direito
objetivamente existente.

Agora que desenvolvemos um raciocínio jurídico em torno destes temas, é hora de falarmos
acerca da interpretação, pois ela é o principal mecanismo de compreensão do sistema jurídico
como um todo — e por assim dizer do ordenamento jurídico.

HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO

Na virada filosófica para o séc. XX, influenciada principalmente por Wittgenstein, houve uma
época de grande efervescência nos debates que envolvia diversas ciências. No campo da
filosofia, esses debates deram origem ao positivismo lógico (ou filosofia normativa),
impulsionado, principalmente, pelas ideias do Círculo de Viena.

Como vimos na aula, o Círculo de Viena foi um movimento da filosofia e também de diversas
ciências que surgiu na Áustria, na virada para o século XX. Esse grupo de intelectuais defendia
que era preciso estabelecer critérios de verificação e validade para o conhecimento científico.
Enquanto alguns diziam que o conhecimento partia da experiência geral para a experiência
particular, os intelectuais do Círculo de Viena, conhecidos como “positivistas lógicos”, diziam o
contrário: o conhecimento deve partir da experiência particular para a experiência geral. Assim, o
Círculo de Viena se opunha à filosofia idealista e especulativa da época, e se inspirava na lógica,
na matemática e na física.

No campo do direito, defendia-se que o conhecimento provinha dos fatos. Mas onde estavam os
fatos e como poderíamos conhecê-los? É aí que adentramos na concepção de várias correntes
que procuram explicar o objeto do direito. De um lado tínhamos duas figurando como as principais
correntes. Vejamos a seguir.

A primeira corrente dizia que para se alcançar o objeto do direito era preciso fazer uma
investigação do mundo interior, através dos fatos psicológicos que dão origem aos fatos jurídicos.
Neste sentido, temos uma corrente que defende que os fatos psicológicos, àqueles referentes
ao mundo interior do homem, à criação intelectual e não à realidade exterior, era o que explicava
o direito, pois diz respeito a algo que não pode ser percebido através das sensações.

Exemplos:

Negócio jurídico
Direito Objetivo produtos da racionalidade
Direito Subjetivo
Por outro lado, a segunda corrente dizia que para se alcançar o objeto do direito era preciso fazer
uma investigação do mundo exterior, através dos fatos sociológicos, pois são eles que são origem
aos fatos jurídicos. Neste sentido, temos uma corrente que defende que os fatos sociológicos,
àqueles referentes ao mundo exterior, e que esses eventos e acontecimentos do mundo exterior
interferem no comportamento humano.

Exemplos:

Dogmas religiosos
Regras jurídicas produtos da realidade
Tecnologia

Essas são as duas principais correntes do pensamento jurídico da época. Contudo, haviam
outras. Elas antecederam o pensamento kelseniano e, portanto, dizem respeito à construção do
direito antes de Kelsen (1881-1973).

O DIREITO ANTES DE KELSEN (1881-1973)

Como vimos, os debates acerca do conhecimento jurídico envolviam essas duas principais teorias
do direito: teoria psicológica e teoria sociológica. Não apenas. Em síntese, as teorias são:

▪ Teoria Psicológica (Bierling)


▪ Teoria Sociológica do Direito (Ehrlich)
▪ Movimento do Direito Livre (Ehrlich, Büllow e Kantorowics)
▪ Jurisprudência dos Interesses (Jhering)

DICA:

Para aprofundar o conhecimento acerca dessas outras teorias, sugiro que façam uma pesquisa
acerca de cada uma. Não iremos abordá-las com detalhes porque não é o objetivo desta disciplina
discorrer sobre esses movimentos. A citação deles é usada para fins de contextualização temática
e para a compreensão do cenário anterior a Kelsen, para que se compreenda o porquê deste ter
formulado uma nova teoria e para que possamos entender o quão necessária ela é para o mundo
jurídico, visto que a sua obra é um divisor de águas no campo do direito. Há um direito antes e
depois de Kelsen

Cabe-nos dizer que a segunda corrente (sociológica) servirá de base metodológica para Kelsen
formular o que chamou de ciência do direito.

O DIREITO DEPOIS DE KELSEN (1881-1973)

A partir da influência do Círculo de Viena, Kelsen irá desenvolver uma teoria consistente para
defender o Direito como ciência autônoma. Neste aspecto, ele irá excluir o objeto do direito de
outras metodologias (sociológica, axiológica (teoria dos valores), metafísica etc.) e irá se restringir
ao uso da norma. Como ele desenvolve suas ideias com base nos ideais do positivismo lógico,
haverá uma restrição do direito enquanto ciência aos fatos empíricos (ciência prática).
Consequentemente, podemos falar que, de acordo com a teoria de Kelsen, é impossível haver a
normatização de padrões morais (a justiça, por exemplo).

O DIREITO COMO “DEVER-SER”

Kelsen formula uma teoria em que a estrutura fundamental da ciência jurídica é o “dever-ser” ser
(conduta humana) + dever (previsão normativa). Nisto, ele transpõe o direito para uma nova ciência,
que passa a ser chamada de ciência social aplicada. Nisto, ele desenvolve seus estudos em torno
da norma jurídica e, na mesma obra, apresenta-nos o que seriam as regras de conhecimento e de
interpretação da norma. Para tanto, Kelsen toma por empréstimo alguns conhecimentos da
hermenêutica, visto que ela pode ser compreendida como “a arte de interpretar”.
Por ora, daremos uma pausa na compreensão do significado expressivo de Kelsen para o Direito
porque precisamos retomar alguns conceitos basilares acerca da hermenêutica

HERMENÊUTICA

Etimologia: vem da palavra “Hermes” (mitologia grega: o mensageiro)

▪ Hermeneuein (verbo: interpretar)


▪ Hermeneia (substantivo: interpretação)

A palavra “hermenêutica” é muito associada ao Direito Romano porque se refere à capacidade de


interpretação dos códigos, uma prática comum entre os antigos, iniciada pela Roma Antiga. A
prática da “interpretação”, porém, é ainda mais antiga e já era praticada pelo Antigo Egito,
conforme comentamos na aula.

HERMENÊUTICA JURÍDICA

Refere-se ao conjunto de técnicas usadas para a interpretação e aplicação das normas


jurídicas com o objetivo de conduzir o indivíduo à mais adequada solução. Ou seja, a aplicação da
lei ao caso concreto em uma situação de conflito (tomada de decisão). Ela é responsável por
realizar a aproximação da norma geral e abstrata aos casos reais, extraídos da sociedade, assim
como possibilita o surgimento de novos direitos. Portanto, é por meio da hermenêutica jurídica
que conseguimos fixar o sentido e o alcance da norma jurídica, de modo a atender de forma
mais fiel possível à pretensão do Legislador (mens legis) e a finalidade da norma (ratio legis).

Como toda ciência, a hermenêutica jurídica possui regras estabelecidas, o que evita uma situação
de insegurança jurídica, uma vez que o intérprete tem uma liberdade interpretativa, mas essa
liberdade não é irrestrita.

COMENTÁRIO EXTRACLASSE (COM CONTRIBUIÇÃO1)

Dworkin propõe que a interpretação jurídica deve começar com a identificação do fato jurídico,
seguida pela adequação desse fato às normas e princípios aplicáveis, e finalmente, a justificação
da decisão judicial, buscando a melhor resposta para o caso. Portanto, a interpretação da lei não
é um processo que segue linearmente após a interpretação do fato social, mas sim uma atividade
complexa que envolve a integração de fatos, normas e princípios em busca de uma decisão justa
e coerente com a integridade do direito.

Assim, teremos o seguinte esquema:

Fato social > Lei > Interpretação

Ocorre que na visão de Kelsen, a interpretação não é um processo linear simples. Na sua obra, a
interpretação consiste em uma atividade complexa. E essa atividade irá envolver a compreensão
e aplicação de normas jurídicas. Assim, a interpretação jurídica do fato social deve estar baseada
nas normas existentes, sem influência de fatores externos, como moral e política (algo que já
comentamos na aula). Assim, podemos dizer que para Kelsen a interpretação é um ato de
conhecimento que acompanha a aplicação do direito, progredindo de um escalão superior para
um inferior, e não um esquema linear direto que parte do fato social a norma.

Ou seja:
Fato social > Interpretação > Lei

// FIM DA AULA //

1
Contribuiu para esta formulação um aluno do P2 noturno.
Prof. Estagiário-Docente: DAMIÃO BENILSON GOMES DE MELO Data: 18/07/24
Curso: Bacharelado em Direito
Departamento: Direito Privado – Centro de Ciências Jurídicas (UFPB)
Disciplina: Introdução ao Estudo do Direito II Aulas: 9-10

HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO

Esta aula é continuidade imediata do conteúdo anterior.

Na aula passada, iniciamos os debates acerca da hermenêutica e da interpretação, momento em


que fizemos as distinções necessárias à compreensão do conteúdo como um todo. Toda a
abordagem seguiu o roteiro sugerido na ementa, que nada mais é, em alguns pontos, uma revisita a
temas que já são do conhecimento comum de todos vocês. Agora, há uma abordagem sob o prisma
da argumentação, da retórica e da justificação do direito pela linguagem descritiva, para que vocês
possam ampliar a visão acerca dos aspectos descritivos da ciência jurídica. As disciplinas
propedêuticas estão se dispersando. Do próximo semestre em diante, a realidade será outra.
Acredito que todos já perceberam que propedêutica é essencial para compreender tudo o que virá
adiante. Eis o objetivo da disciplina, comentado desde o primeiro dia de aula. Sem mais delongas,
voltemos à nossa abordagem conceitual.

INTERPRETAÇÃO

Utilizarei o conceito exposto por Maximiliano, um clássico e tradicional doutrinador da ciência do


direito. Ele nos fala que interpretar nada mais é do que “determinar o sentido e o alcance das
expressões de direito” (MAXIMILIANO, 2011). Quer dizer, podemos expandir este conceito
dizendo que a interpretação é a compreensão e aplicação das normas jurídicas por meio da
utilização dos chamados “métodos hermenêuticos”, onde o jurista reúne elementos textuais e não-
textuais para a compreensão dos fatos ocorridos em um determinado caso, aplicando sobre ele os
elementos prescritivos da norma. Evidentemente, este método se baseia na argumentação e na
fundamentação jurídica, voltadas para o convencimento/persuasão do destinatário da norma
(Poder Judiciário, por exemplo).

Um aspecto importante: alguns autores consideram como um erro utilizar as palavras


“hermenêutica” e “interpretação” como se fossem sinônimos. Concordamos que há distinções a
serem consideradas, visto que hermenêutica é a ciência estabelece as regras de interpretação,
enquanto interpretação é o ato de aplicar essas mesmas regras. Outros doutrinadores, porém,
não fazem qualquer distinção, tratando-as como sinônimos. Então, não estranhem se porventura,
no momento particular dos estudos, aparecer algum autor confundindo tais conceitos.

INTERPRETAÇÃO NA TEORIA PURA DO DIREITO

Para Kelsen, o conceito de interpretação é definido logo nas primeiras linhas do Capítulo VIII,
intitulado “a interpretação”, na sua magnífica obra “Teoria Pura do Direito”. Ao dissertar sobre a
essência da interpretação, Kelsen nos diz que o ato de interpretar consiste em “[…] uma operação
mental que acompanha o processo de aplicação do Direito no seu progredir de um escalão
superior para um escalão inferior” (KELSEN, 1999, p. 245). Tal conceito se refere à aplicação do
direito pelos órgãos julgadores, que precisam fixar o sentido e o alcance das normas que serão
aplicadas ao caso concreto. E para isso, o jurista precisa fazer uma adequada interpretação.
Porém, Kelsen não impõe limites ao ato de interpretar. O intérprete tem, desta forma, uma certa
liberdade.

O ato de interpretação, explicitado acima, ocorre de três formas na obra kelseniana:


1. Pelo órgão julgador (aqueles que aplicam a norma jurídica ao caso concreto)
2. Pelas pessoas submetidas à Lei (os jurisdicionados, a sociedade como tal)
3. Pela ciência do Direito
COMENTÁRIO EXTRACLASSE:

Na primeira hipótese acima, a aplicação da norma não se limita aos órgãos julgadores, portanto,
seria mais adequado falarmos de “órgãos de competência” (Legislativo, Poder Judiciário, órgãos
da administração pública etc). Trata-se de uma abrangência maior, visto que, a classificação
acima nos levará imediatamente à compreensão dos “intérpretes autênticos” e “não-autênticos”.

Essas três formas são o sustentáculo para ordenarmos os tipos de interpretação.

OS TIPOS DE INTERPRETAÇÃO KELSENIANO

Após tratar da essencialidade – e indispensabilidade – da interpretação jurídica, Kelsen nos


apresenta duas espécies de verificação na experiência jurídica, as quais possuem claras
distinções. São elas:

a. Interpretação autêntica: verificamos a sua ocorrência, por exemplo, na hipótese de uma


lei que é criada pelo Poder Legislativo (obedece à ordem hierárquica das normas), ou
quando ela é aplicada pelo Poder Judiciário – este fixa de forma objetiva o sentido e o
alcance da norma jurídica.

b. Interpretação não-autêntica: verificada na hipótese em que a lei é interpretada pelas


pessoas submetidas a ela ou pela ciência do direito (doutrina em geral).

Daí, a conclusão de Kelsen acerca de qual norma é aplicável ao caso concreto passa por duas
diferenciações ou distinções, que teremos a interpretação como ato de vontade e a
interpretação como ato de conhecimento. A primeira está relacionada àqueles que tem o poder
de editar as normas jurídicas (os órgãos de competência, por assim dizer), ou seja, ao mens legis
(vontade do legislador) e a ratio legis (finalidade da norma). A segunda, está relacionada aos
intérpretes não-autênticos, pois a interpretação que se faz na ciência jurídica não tem o poder de
vinculação, diferentemente do que ocorre na interpretação autêntica.

Em todos esses casos, é preciso levar em conta o ordenamento jurídico, que é a ordem
hierárquica estabelecida no nosso sistema civil law. Não é uma questão de saber qual lei é boa ou
ruim, mas de entender que as leis obedecem a um sistema de hierarquia – não somente para a
formação, mas também para a sua aplicação. Daí, temos a ideia de um direito como sistema
ordenador. Ou seja, “o processo de aplicação do direito no seu progredir de um escalão superior
para um escalão inferior” (Kelsen, 1999, p. 245). Estamos falando da famosa “Pirâmide de
Kelsen”:

Esta é uma visão básica da pirâmide, pois não é o objetivo da aula o estudo detalhado dessa
hierarquia. É algo que será visto na disciplina de Direito Constitucional. Trata-se apenas de uma
ideia acerca da sua estrutura basilar, segundo a concepção kelseniana.
A TEORIA DA MOLDURA

Kelsen nos diz que há diversas maneiras ou possibilidades de aplicação do direito (teoria da
moldura). É uma ideia que nos parece óbvia, principalmente porque já chegamos à faculdade com
uma noção preliminar do direito, mesmo que não tenhamos qualquer conhecimento perfunctório
da ciência jurídica, pois é algo que vai sedimentando na nossa memória a partir das primeiras
lições.

Todos, indistintamente, chegam com uma ideia básica do direito, que poderá ser confirmada ou
rejeitada pela experiência jurídica, uma vez que muitos conhecimentos comuns do dia a dia não
têm base jurídica. Agora que não somos mais pessoas de “conhecimento médio”, mas cientistas
do direito, sabemos que as normas têm uma relação de vinculação (hierarquia das normas).
Assim, as normas inferiores não podem negar ou contradizer as normas superiores.

Como dissemos, na Teoria da Moldura existem diversas possibilidades de soluções que o


intérprete pode utilizar para sustentar os seus argumentos e solucionar o caso concreto. Não
existe uma interpretação “correta” a ser feita, isto porque a escolha é livre pelo intérprete. Vale
dizer que a ideia de uma interpretação “correta” não passa de uma ficção jurídica. Contudo, a
liberdade do intérprete não é irrestrita ou ilimitada, visto que a aplicação do direito deve obedecer
a parâmetros fixos. A fixação desses parâmetros é justamente evitar uma situação de insegurança
jurídica.

Kelsen, então, nos diz que na aplicação do direito se forma “uma moldura dentro da qual existem
várias possibilidades de aplicação, pelo que é conforme ao Direito todo ato que se mantenha
dentro deste quadro ou moldura, que preencha esta moldura em qualquer sentido possível”.
(KELSEN, 1999, p. 247).

Imaginemos que a moldura (borda colorida da imagem acima) representa o sistema jurídico ou
ordenamento jurídico brasileiro, composto por diversas normas, sabendo que elas obedecem a
uma hierarquia rígida que vai da norma superior à norma inferior. Digamos que dentro dessa
moldura, ou seja, dentro do sistema jurídico, há a ocorrência de um fato jurídico (representado pela
cor mais escura, dentro da borda) e este fato será levado à apreciação do órgão competente (Poder
Judiciário, por exemplo). Este órgão, ao se debruçar sobre o fato para analisá-lo e solucioná-lo, não
poderá interpretar o caso fora do sistema jurídico. Ou seja, deverá o órgão julgador avaliar todas as
hipóteses de solução concreta de acordo com o ordenamento jurídico vigente e as fontes do direito.
A hipótese acima representa um caso hipotético qualquer (fato jurídico), em que há quatro
possibilidades de solução. A solução a ser dada pelo órgão julgador poderá ser quaisquer delas (1,
2, 3 ou 4), em qualquer sentido (1 e 2; ou 1 e 4; ou 3 e 2... e assim por diante). No caso hipotético
acima, temos quatro possibilidades de solução. Assim, a interpretação da lei que será feita e
aplicada ao caso concreto não pode oferecer uma única solução como sendo a “correta”, mas deve
possibilitar a interpretação de várias outras soluções.

INTERPRETAÇÃO JURÍDICO-CIENTÍFICA

Como dissemos anteriormente, a interpretação da lei deve conduzir a várias soluções possíveis,
visto que não pode haver apenas uma única forma de resolver o conflito. Contudo, evidentemente,
qualquer solução que seja dada ao caso irá constituir (se tornar) uma norma individual
(sentença, por exemplo) quando for aplicada a lei à solução do caso, seja pelo Poder Judiciário ou
pelo órgão administrativo.

Ainda assim, a existência de uma norma individual não quer dizer que a interpretação do Juiz
dada ao caso concreto seja a única solução possível (considerem que o nosso sistema jurídico é
de dupla jurisdição – Primeira e Segunda instâncias). O que ocorre, no caso de uma norma
individual, é que dentre todas as soluções possíveis (voltemos à teoria da moldura), uma solução
foi escolhida como a mais adequada para resolver o conflito.

O intérprete tem liberdade para se posicionar diante do problema e oferecer soluções. Portanto,
toda lei deve ser interpretada antes da sua aplicação.

A interpretação, contudo, pode encontrar problemas pelo caminho, visto que as normas jurídicas
podem ser:

▪ Determinadas (se relacionam à hipótese de incidência da lei ao caso concreto, ou seja,


“há uma relação de vinculação” (Kelsen, 1999, p. 245);
▪ Indeterminadas (não há método ou critério estabelecido pelo legislador, pois há uma
multiplicidade de casos possíveis e com diferentes soluções. Assim, a realidade nunca é
exaurida pela Lei).

Quanto à indeterminação da norma, ela pode ser:

▪ Intencional - quando o Legislador deixa uma margem de discricionariedade para o


intérprete, pois não há como prever tudo. Consiste em um ato de intersubjetividade. Kelsen
(1999, p. 246) traz como exemplo uma lei de sanitária que determina certos
comportamentos aos habitantes de uma cidade, sob pena de multa (sanção
administrativa), mas deia o legislador de fixar o valor da multa, ficando a critério do órgão
competente.

▪ objetivista – Quando a indeterminação intencional ocorre pela vontade do


Legislador. O exemplo anterior deixou isso bastante claro.

▪ subjetivista – Quando a indeterminação intencional visa a análise do caso


concreto para a adequada aplicação da norma. Kelsen (1999, p. 246) traz como
exemplo uma decisão de um órgão A que manda o órgão B prender um indivíduo C
sem, contudo, determinar como será a forma da prisão, deixando à margem da
discricionariedade o cumprimento da ordem. Ou seja, será realizada de acordo com
as circunstâncias externas (dependerá da subjetividade do aplicador da norma).
Outro exemplo2. seria quando a norma penal incriminadora diz no Art. 121 “matar
alguém” sem especificar o agente passivo da ação (“alguém”), deixando à margem
do intérprete do caso concreto como será a aplicação da norma penal
incriminadora, o que, por sinal, gera um debate bastante polêmico nos casos de
aborto, em que a discussão envolve determinar se um feto é “alguém” (no sentido
de personalidade) ou não.

▪ Não-intencional - produto da tessitura aberta da linguagem. A vontade do legislador não é


clara (imagine, por exemplo, uma situação em que a lei traz uma palavra que possui
variadas significações, o que interfere na compreensão do texto. Essa obscuridade,
ambiguidade ou vagueza da lei interfere na sua compreensão e, por conta disso, o
sentido e o alcance da norma precisam ser complementados com outras fontes.

2
Contribuiu para esta formulação Ana Elohin, aluna do P2, turno manhã.
A FUNÇÃO DO INTÉRPRETE NA APLICAÇÃO DO DIREITO

São funções basilares:

• Interpretar e aplicar as normas jurídicas do ordenamento jurídico;


• Interpretar as normas jurídicas para buscar soluções que resolvem conflitos;
• Observar as normas jurídicas para evitar a sanção.

Como vimos, o ato de interpretação envolve também o reconhecimento dos signos (palavras)
presentes no texto normativo.

Segundo Bobbio (1995), em sua “teoria do ordenamento jurídico”, a linguagem jurídica possui
duas características: poder e dever. A primeira diz respeito à produção das normas, e a segunda,
ao seu cumprimento.

MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

Podemos dizer que os métodos de interpretação são regras técnicas para a obtenção de um
resultado. Os métodos clássicos são:

• Interpretação gramatical
• Interpretação lógica
• Interpretação sistemática

Ferraz Júnior (2003, p. 287) diz que a forma como as palavras estão organizadas e conectadas
(substantivos, adjetivos e pronomes relativos, por exemplo) pode causar dúvidas, isto porque o
uso natural da língua possui plurissignificação. Logo, é preciso encontrar o sentido semântico
da Lei.

Dispensaremos os comentários acerca dos métodos gramatical e lógico porque as próprias


expressões são autoexplicativas. Contudo, Tércio traz uma explicação bastante abrangente e que
pode ser consultada, no caso de ainda haver dúvida sobre tais métodos (v. Ferraz Júnior, 2003, p.
286).

• Interpretação sistemática

Vale-se da organização sistemática das leis dentro do ordenamento jurídico, observando as


regras de superioridade e inferioridade, as matérias que são tratadas por cada uma, pois o
ordenamento jurídico é um sistema unitário (Cf. BOBBIO, 1995).

• Interpretação histórica, sociológica e evolutiva

Conhecer a realidade social do tempo em que a lei foi escrita e as particularidades da época para
compreensão da realidade atual (v. Ferraz Júnior, 2003, p. 289).

• Interpretação teleológica

Busca-se compreender qual a finalidade da lei e o que o Legislador quis proteger (bem jurídico)
quando editou a norma (v. Ferraz Júnior, 2003, p. 292).

• Interpretação axiológica

Busca compreender os valores que serão concretizados pela norma com vistas a sua efetividade
(v. Ferraz Júnior, 2003, p. 292).

Neste sentido, podemos compreender que a interpretação da norma deve respeitar o:


(i) significado;
(ii) alcance;
(iii) efetividade.

OS TIPOS DE INTERPRETAÇÃO

Além dos métodos, há os tipos de interpretação (v. Ferraz Júnior, 2003, p. 294-297).

▪ Interpretação especificadora ou declarativa

O sentido usual atribuído à letra da lei é suficiente. O intérprete apenas declara o que a lei
enuncia. O legislador não escreveu nem mais nem menos do que realmente pretendia dizer.
Exemplo: Art. 138, do Código Penal: “caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido
como crime”. A interpretação é meramente declaratória, ou seja, a lei é clara no sentido que
deseja atribuir ao verbo “caluniar”, não havendo outra interpretação possível a ser dada ao texto
da lei.

▪ Interpretação restritiva

O intérprete limita o sentido da norma. Toda norma que restringe direitos e garantias fundamentais
deve ser interpretada restritivamente. O mesmo ocorre com as exceções da lei preservar o
espírito da norma. Exemplo: uma lei que estabelece isenção para veículos que tenham mais de 15
anos de fabricação. A interpretação deste benefício trazido pela lei se restringe a esses veículos.
Portanto, não cabe àqueles que tenha um veículo com fabricação inferior a 15 anos buscar o
direito à isenção do imposto previsto na lei. O mesmo ocorre com as garantias fundamentais da
constituição (Art. 5º da CF).

▪ Interpretação extensiva

Ocorre a expansão do sentido da norma para além do texto legal. Visa incluir ao sentido da norma
um conteúdo que não foi explicitado pelo Legislador. Ou seja, quando a lei diz menos do que
deveria dizer, exigindo a extensão do sentido dado.

Exemplo:

• O crime de violação de domicílio (art. 150, CP), que estabelece como inviolável o elemento
“casa” alheia, sem, contudo, conceituar o que se entende por “casa”.

// FIM DA AULA //
Prof. Estagiário-Docente: DAMIÃO BENILSON GOMES DE MELO Data: 24/07/24
Curso: Bacharelado em Direito
Departamento: Direito Privado – Centro de Ciências Jurídicas (UFPB)
Disciplina: Introdução ao Estudo do Direito II Aulas: 13-14

EFICÁCIA DA LEI NO TEMPO E ESPAÇO

Encerramos na aula passada o conteúdo acerca da “hermenêutica e interpretação”. Distinguimos


ambos os conceitos para que pudéssemos expandir a nossa compreensão acerca do sentido e
alcance das normas jurídicas. Todas as aulas até foram amplamente exemplificadas com casos
extraídos da realidade para que a teoria fosse melhor compreendida. Nisto, fizemos um breve
passeio pela Teoria Pura do Direito (Kelsen, 1999) para aprofundar o conhecimento jurídico acerca
da interpretação, dos tipos de interpretação kelseniana, além de abordar a famosa “Pirâmide de
Kelsen” e a “Teoria da Moldura”, finalizando a aula com a abordagem da interpretação jurídico-
científica e os problemas de interpretação da norma, além de revisitarmos os métodos de
interpretação e os tipos de interpretação pela ótica do saudoso Ferraz Júnior.

Ora, até o momento, o que podemos verificar é que não basta identificar o fato jurídico e a norma
aplicável. É preciso buscar também as correlações necessárias dentro do esquema de
interpretação da estrutura interna do sistema jurídico, pois, em algum momento, é possível
estarmos diante de um fato que atenda a todas as condições de existência da norma, mas não seja
a norma juridicamente existente. Logo, o comando que sobrevier sobre o fato jurídico não terá
validade. Basta lembrar do exemplo que usamos na sala de aula: acerca das placas proibitivas de
estacionamento (exclusivo para clientes em atendimento). Se você não estava na aula, não se
desespere. Nas próximas linhas, é possível compreender o mesmo exemplo em outro contexto: no
campo da validade. Eficácia e validade caminham juntas.

NORMA JURÍDICA, INTERPRETAÇÃO E VALIDADE

Nosso amado Ferraz Júnior (2003, p. 174), ao lecionar sobre este conteúdo, traz como exemplo um
simples fato de estacionarmos o veículo em local proibido. Diferentemente do exemplo que usamos
na aula, desta vez o fato jurídico contempla uma realidade prescrita na norma. Ou seja, não se trata
de estacionar em um local com vagas privativas supostamente reservadas, mas de estacionar em
um local terminantemente proibido por lei. No exemplo de Tércio, este fato é visto por outra pessoa
que imediatamente ordena ao motorista/condutor um comando: “Ei, não estacione aí, é proibido”.

Conforme já vimos em outra aula, neste caso ocorre a constatação, a descrição do fato e a ação
comunicativa, três ações que decorrem do uso da linguagem para haver uma comunicação entre
os indivíduos envolvidos na situação narrada (isto se chama enunciado performativo). Contudo, tal
comando não expressa uma norma jurídica, embora atenda as condições de uma norma existente.
O mesmo não ocorreria se a ordem estivesse partindo de um guarda de trânsito, pois, neste caso,
estaríamos diante de um agente do Estado (detentor do monopólio da coerção e do poder de
legislar). Assim, a ordem dada para o motorista, vinda de um terceiro/particular/cidadão qualquer
não tem qualquer validade.

ENTRE DESCRIÇÃO E PRESCRIÇÃO JURÍDICA

Notadamente, há uma diferença prescrever e mencionar uma prescrição. Quem prescreve uma
norma, por exemplo, estabelece uma relação de interpretação entre o fato e a lei em sentido
objetivo. Ou seja, quem prescreve/edita/legisla a norma, tem competência para tal. Por tanto, detém
uma interpretação autêntica, no sentido kelseniano do termo. Por outro lado, quem apenas
menciona a norma, descreve a sua prescrição. A descrição da lei é um ato não-vinculativo e,
portanto, trata-se de uma interpretação não-autêntica ou inaltêntica.
Exemplos:

1. O guarda de trânsito que flagra uma violação à lei prescreve a norma (órgão de competência)
2. Qualquer outra pessoa que flagra uma violação descreve a norma (não-autêntica ou inautêntica)

Agora que discorremos brevemente sobre descrição e prescrição jurídica, iremos abordar a questão
da validade e invalidade das normas jurídicas, outro ponto crucial para a boa interpretação e
aplicação do direito.

VALIDADE E INVALIDADE

Kelsen (1999, p. 137) nos diz que as normas são orientadas por dois princípios:

a. Estático
b. Dinâmico

Estes dois princípios possuem capítulos próprios na “Teoria Pura do Direito” e são exaustivamente
enunciados pelo autor. Contudo, o que precisamos saber é que ambos os princípios estão
relacionados com a natureza da validade da norma.

De maneira muito resumida, podemos dizer que são estáticas as normas que prescrevem condutas
(dever-ser), dentro do sistema de hierarquia normativa estabelecido no ordenamento jurídico,
fornecendo o conteúdo de validade de todas as outras normas (a norma superior dá validade à
norma inferior. Exemplo: Constituição Federal). Por outro lado, são dinâmicas aquelas normas que
são criadas pelos órgãos competentes. São pressupostas pelas normas superiores.

Na Física, a dinâmica investiga as causas do movimento dos corpos (basta lembrar as leis de
Newton, energia, trabalho, impulso, momento linear, colisões e gravitação universal). Já a estática
investigada as condições necessárias para que os corpos estejam em equilíbrio.

Trnsmutando o conhecimento físico para o mundo jurídico, verificamos que Kelsen irá trabalhar com
estes dois princípios como uma forma de descrever o seu pensamento. O primeiro, que é a estática
jurídica, está relacionada à questão da normatividade. O segundo, que é a dinâmica jurídica, nos
revela a hipótese fundamental de toda a ordem do direito, ou seja, é o direito em movimento, em
constante modificação.

Kelsen (1999, p. 139) nos diz que uma norma jurídica é válida não apenas por causa do seu
conteúdo, mas porque obedece a uma forma determinada, fixada por outra norma ou pela
Constituição Federal, o que a torna a norma como parte do direito positivado.

OBS: Toda e qualquer conduta humana pode ser positivada.

Assim, uma norma somente é válida pela existência anterior de outra (pressuposto de validade da
norma). A norma prescrita pela autoridade jurídica tem como fundamento uma lei que define o fato
gerador de condutas subjetivas e, por isso, são interpretadas objetivamente ou em sentido
objetivo.

Neste sentido, Kelsen (1999, p. 135-137) nos apresenta um silogismo que nos permite
compreender melhor essa relação entre estática e dinâmica, em que a premissa maior traz um
pressuposto de conclusão do dever-ser que enuncia a norma inferior e ambas possuem um elo
essencial entre si, de modo que uma não existe sem a outra.

Ambas são proposições de dever-ser, porém:

a. A norma superior é “conditio per quam” (condição pela qual)


b. A norma inferior é “conditio sine qua non” (condição sem a qual não existe).
Significa dizer que a norma afirmada na premissa maior é válida porque provém de uma autoridade
competente, legiferante, para estatuir normas. Esta vincula tanto a própria autoridade dotada de
poder legislativo quanto os indivíduos que devem obediência a ela. Por óbvio, a validade da norma
inferior está condicionada à verificabilidade da norma superior. Se a norma superior é válida, a
inferior (pressuposto lógico de validade) também será. Obviamente, estamos falando sob a ótica da
teoria de Kelsen. Posteriormente, algumas críticas foram adicionadas a esta visão, mas falaremos
delas em outro momento.

Podemos afirmar que as normas jurídicas tem vida própria e seu aparecimento e permanência no
mundo jurídico dependem da validade do seu conteúdo. Conforme vocês puderam perceber até
aqui, nosso estudo é um paralelo entre a visão de vários doutrinadores, porém, alguns são mais
notórios que outros, muito mais devido à importância deles para a ciência jurídica.

Neste sentido, Ferraz Júnior (2003, p. 197) apresenta alguns questionamentos que irão diferenciar
os zetéticos dos dogmáticos. Retomamos estes conceitos para que possamos avançar no campo
da interpretação jurídica, agora voltando os olhos para a eficácia e validade da norma. Para tanto,
Ferraz Júnior elaborou algumas perguntas, as quais ele procurou responder ao longo de dezenas de
páginas. Em síntese, as perguntas que podemos extrair são:

• O que é a validade? (do ponto de vista da zetética, portanto, é uma fundamentação aberta)
• Como se define? (outra fundamentação aberta que exige distinguir a validade da existência)
• A partir de quando se torna exigível? (agora estamos lidando com o sentido dogmático)
• Quais os efeitos que produz? (por ser delimitado pela dogmática, é possível definir isto)
• Quando deixa de valer? (a dogmática nos dá uma visão acerca disso. É determinável)

Ou seja, o que podemos concluir destas perguntas é que na doutrina jurídica existem visões
abertas, cujas discussões são formuladas no âmbito da Filosofia e da Filosofia Jurídica, visto que
tais debates não pretendem alcançar uma resposta, mas têm uma preocupação profícua com as
perguntas e um compromisso com o ato de questionar o questionamento, podendo tornar-se
infindável; e as visões fechadas, delimitadas, que são aquelas promovidas pelo dogmatismo jurídico
(e são estas que nos interessam para fins de descrição do direito).

ZETÉTICA E DOGMÁTICA

Nas questões zetéticas, o problema tematizado é configurado como um ser (no sentido de
existência, ou seja, “o que é algo?”). Elas visam estabelecer o que é “algo” no mundo sensível, por
isso sua base é a dúvida. Sua origem data do ceticismo filosófico, desde a Grécia Antiga.

Já nas questões dogmáticas, a situação nelas captadas configura-se como um “dever-ser” (como
deve ser algo?), isto porque sua base é uma discussão direta e objetiva. Por isso, o que estudamos
na ciência do direito é a dogmática jurídica. Nela, para que a norma tenha validade, é preciso
haver a sua integração ao ordenamento jurídico. O que isto quer dizer? Significa que para a norma
jurídica ter validade (no sentido de ser exigível), ela precisa ter cumprido às exigências formais de
sua elaboração, votação, sanção, promulgação, publicação e vigência. A norma que não cumpre
este caminho pode ser totalmente ou parcialmente inválida.

Assim, os critérios de validade da norma são:

a. Elaboração
b. Votação
c. Sanção
d. Promulgação
e. Publicação
f. Vigência.

Publicada a norma, a vigência poderá ser imediata ou não.


O período entre a publicação e a vigência se chama “vacatio legis”. Vigente, portanto, é a norma
válida. Assim, podemos afirmar que uma norma pode ser válida sem ser vigente, mas toda norma
vigente é sempre uma norma válida.

Mais uma vez relembro que estamos lidando com a regra geral. Mais à frente, em outras disciplinas,
vocês irão estudar as exceções a esta regra. Por ora, nos interessa apenas isto.

Dito isto, os critérios de validade são diferentes de acordo com o tipo de norma (decreto, portaria,
resolução, lei estadual, sentença etc.). Cada norma possui os seus próprios critérios. Mas uma
exigência comum a todas elas é que precisam cumprir o processo prescritivo de sua produção para
que tenham validade. Este processo de criação é regulado por outras normas superiores. Já vimos
isto nas linhas acima. Se você ficou com alguma dúvida, volte o texto até compreender totalmente a
ideia do que são normas estáticas e dinâmicas. Nenhuma explicação dispensa estudos adicionais.

VALIDADE FORMAL E INFORMAL

A validade formal está relacionada à observância das normas de competência para a criação da
norma. Já a validade material, diz respeito a observância da matéria, do conteúdo da norma. Ou
seja, tem que haver uma sintonia do conteúdo da norma criada com o ordenamento jurídico vigente
e hierarquicamente constituído.

Basta lembrar de uma notícia amplamente divulgada nos meios de comunicação acerca da tentativa
de alguns vereadores do Município de São Paulo que tentaram criar uma norma para barrar a
caridade nas ruas. O projeto de lei tentava criar uma exigência de alvará prévio, expedido pela
Prefeitura, a ser exigido das ONGs e instituições filantrópicas de caridade. O descumprimento
acarretaria em uma multa de quase R$ 20 mil.

Neste caso, a norma atenderia aos critérios formais de validade, mas não ao critério material, pois a
matéria (o direito material em tela) é totalmente contraditória ao princípio da dignidade da pessoa
humana, que neste caso deve ser entendido como a garantia das necessidades vitais básicas de
cada indivíduo, algo que colide frontalmente com os princípios fundamentais da Constituição
Federal brasileira.

Nisto, cabe-nos dizer que a norma somente será válida se cumprir os critérios formais e materiais.

// FIM DA AULA //
Prof. Estagiário-Docente: DAMIÃO BENILSON GOMES DE MELO Data: 25/07/24
Curso: Bacharelado em Direito
Departamento: Direito Privado – Centro de Ciências Jurídicas (UFPB)
Disciplina: Introdução ao Estudo do Direito II Aulas: 13-14

AULA DISPENSADA

OBS: No dia 25/07/2024, sob solicitação do Prof. Enoque, os alunos foram dispensados da aula
para participarem de um evento no Auditório do Centro de Educação, conforme requisitado pelo
Departamento de Direito Público. No mesmo dia, foi passada uma atividade complementar para os
alunos que obtiveram pontuação inferior a 2,0 (1,8 abaixo) e que desejam obter a complementação
dos pontos que precisam para alcançar os 2,0 atribuídos como bonificação extra. A atividade
consiste na elaboração de um fichamento (ou resumo), com extensão mínima de 10 e máxima de
20 linhas, da parte da obra de Tércio Sampaio Ferraz Júnior (qualquer ano ou edição), na qual ele
discorre sobre as “fontes do direito”. O prazo de entrega fixadado, sem prorrogação, foi o dia
31/07/2024 (próxima quarta-feira). O fichamento será recebido apenas na forma manuscrita. A
atividade complementar é opcional (apenas para quem quiser melhorar a pontuação).
Prof. Estagiário-Docente: DAMIÃO BENILSON GOMES DE MELO Data: 31/07/24
Curso: Bacharelado em Direito
Departamento: Direito Privado – Centro de Ciências Jurídicas (UFPB)
Disciplina: Introdução ao Estudo do Direito II Aulas: 15-16

EFICÁCIA DA LEI NO TEMPO E ESPAÇO (CONTINUAÇÃO)

Nas últimas 16 aulas ministradas por mim, contando com a de hoje, foram realizados 7 encontros
presenciais e 1 aula dispensada, ocorrida no dia 25/07/2024. Dito isto, posso afirmar que
finalmente encerramos todo o conteúdo da Unidade I. O que vimos desde o nosso primeiro
encontro, ocorrido no dia 04/07/2024 até hoje, não foram emaranhados de conceitos complexos
de teoria do Direito, mas a disposição lógica, conceitual e sistemática da dogmática jurídica em
torno do seu objeto: a ciência do direito.

Ao mesmo tempo, fizemos um encadeamento teórico-prático da ciência jurídica com a realidade


social e a norma posta, que é o direito positivado. Todo esse conhecimento (acredito firmemente
nisto) servirá a cada um de vocês, nesta longa e maravilhosa jornada pelo Direito. Evidentemente,
muitas águas passarão por este rio até que o mar seja alcançado. Mas quando no mar estiverem,
velejar será muito mais tranquilo, podem ter certeza. A essa altura vocês já devem ter desconfiado
que mar calmo não faz bom marinheiro. Por isso, toda água que corre para o mar nem sempre corre
com tranquilidade. E isso faz parte do treinamento. No mar há desafios e ondas a serem vencidas,
mas não importa o caminho, importa quem caminha por ele. E as aulas foram uma pequena e
singela contribuição minha para a vida de vocês.

Nas próximas linhas, encerraremos essa proveitosa jornada que tivemos durante a Unidade I. Na
próxima aula faremos a nossa revisão e, na outra semana, realizaremos a nossa tão esperada
avaliação. Depois disso, novas histórias virão...

VIGÊNCIA E EFICÁCIA

Vigência é o termo que demarca o tempo de validade de uma norma. Vigente, é, portanto, uma
norma que pertence ao ordenamento jurídico (válida), cujos comportamentos prescritos são
exigíveis (Ferraz Júnior, 2003, p. 198).

Ver: Art. 1° da LINDB.

Durante o período de “vacatio legis” a norma é válida, mas não vigente. Ou seja, a sua validade está
suspensa. Assim, uma norma válida pode estar vigente, mas não ter eficácia.

Eficácia, por sua vez, está relacionada à capacidade da norma de produzir efeitos (Ferraz Júnior,
2003, p. 199).

Exemplo:

Se uma norma prevê o uso de determinado EPI que ainda não existe no mercado, essa norma se
torna ineficaz.

Kelsen diz que uma norma ineficaz perde a validade. Entretanto, a posição majoritária da doutrina é
no sentido de que se a norma foi editada por uma autoridade competente, a falta de eficácia não
altera sua validade. Contudo, se a norma cai em desuso, ela pede a validade.

Eficácia pode ser:

a. Plena
b. Contida
c. Limitada

Será plena quando a aplicação é imediata, sem depender de outra norma.


Será contida quando a aplicação depende de outra norma.
Será limitada quando sobrevier outra norma que restrinja seus efeitos.

• Vigência = aspecto temporal da norma


• Vigor = imperatividade, força vinculante

Ver: Ferraz Júnior, 2003, p. 203.

REVOGAÇÃO, CADUCIDADE E DESUSO

A norma perde a validade quando é revogada por outra. Ou seja:

a. a norma superior revoga a norma inferior

b. a norma especial revoga a lei geral no tocante à especialidade

c. a norma editada por última revoga a norma anterior

Revogar significa retirar a validade por meio de outra norma, deixando a norma revogada de fazer
parte do sistema. Logo, perde a vigência.

A eficácia de uma norma não pode ser revogada, apenas anulada.

Revogação pode ser:

a. Total (ab-rogação)

b. Parcial (derrogação)

Uma norma se torna caduca (caducidade) pela superveniência de uma situação, cuja ocorrência lhe
retira a validade sem que ela precise ser revogada.

Diferentemente, se o comportamento social se modifica com o tempo, a norma em vigor, que


prescreve certa conduta, pode cair em desuso. Ou seja, as condições de aplicabilidade da norma não
existem mais.

ANTINOMIA JURÍDICA

“[...] oposição que ocorre entre duas normas contraditórias (total ou parcialmente), emanadas de
autoridades competentes em um mesmo âmbito normativo, que colocam o sujeito em uma posição
insustentável pela ausência ou inconsistência de critérios aptos a permitir-lhe uma saída nos quadros
de um dado ordenamento”. (Ferraz Júnior, 2003, p. 212).

As antinomias jurídicas possuem várias divisões, porém, as duas mais importantes são as seguintes:

• Antinomias reais ou aparentes: são reais quando não há no ordenamento jurídico regras de
solução e aparentes quando há.

• Antinomias próprias e impróprias: são próprias as que ocorrem por motivos formais (uma
norma permite o que a outra obriga) e impróprias as que se dão em virtude do conteúdo material
(pena leve para uma conduta antijurídica grave).

Elas fazem parte da classificação de Ferraz Júnior (2003, p. 212-215).

// FIM DA AULA//
Prof. Estagiário-Docente: DAMIÃO BENILSON GOMES DE MELO Data: 01/08/24
Curso: Bacharelado em Direito
Departamento: Direito Privado – Centro de Ciências Jurídicas (UFPB)
Disciplina: Introdução ao Estudo do Direito II Aulas: 17-18

REVISÃO PARA A PROVA

Nesta aula, todos os conteúdos serão abordados de maneira intuitiva e objetiva por meio do uso de
recurso tecnológico para avaliação em tempo real das habilidades necessárias à compreensão do
conteúdo da disciplina, exposto na ementa do curso, relacionados à Unidade I.

O recurso utilizado faz parte de uma TIC (Tecnologia de informação e comunicação) que, dentre
outos, utiliza o “método gamificado” como critério de aferição das habilidades do estudante. No
nosso caso, dentre as habilidade esperadas para a disciplina de “Introdução ao Estudo do Direito II”,
está a capacidade do estudante de examinar, sob perspectiva da argumentação, persuasão e
linguagem jurídica, os problemas reais do cotidiano, segundo as categorias centrais do direito
moderno dogmaticamente organizado e as teorias subjacentes à construção da ciência jurídica, de
forma que o estudante se sinta estimulado a expressar uma abordagem crítica da forma jurídica
com referenciais descritivos e não-prescritivos com suporte teórico e fundamentado na teoria geral
do Direito.

Por isso, inserimos em todas as aulas (ou quase todas) o debate acerca das formas jurídicas sob o
viés dos aportes contemporâneos e também à luz das doutrinas clássicas, seja no aspecto das
teorias da argumentação ou sob a visão da construção de um discurso jurídico como justificação.
Ou seja, trabalhamos a construção de um argumento em defesa da ordem jurídica e do sistema
ordenador como um todo e da sua juridicidade.

Acredito que os objetivos propostos foram alcançados satisfatoriamente. Encerramos a Unidade I


com a utilização deste recurso para avaliar em tempo real o desempenho dos estudantes quando
expostos aos conceitos que foram trabalhados ao longo dos encontros presenciais, sempre às
quartas e quintas, pela manhã.

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