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VIGILÂNCIA

EM SAÚDE

Aline do Amaral
Zils Costa
Medidas de prevenção
e controle de doenças
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer os conceitos de prevenção e controle de doenças.


„„ Identificar riscos ambientais e tecnológicos que afetam a saúde da
população.
„„ Descrever estratégias de vigilância, prevenção, controle e erradicação
de doenças.

Introdução
O processo de adoecimento faz parte da dinâmica da vida, trazendo
grandes impactos nos indivíduos e nas populações. Nesse sentido,
implementar medidas para a prevenção de doenças é essencial e de-
safiador para o sistema de saúde. No Brasil, a prevenção de doenças
tem se apresentado cada vez mais complexa devido ao processo de
transição epidemiológica, em que há um aumento das doenças crônicas
por causa do envelhecimento da população. Simultaneamente, ainda há
repercussões de doenças transmissíveis na população que não podem
ser negligenciadas.
Neste capítulo, você vai compreender a importância da prevenção e
controle de doenças, identificando os riscos envolvidos e a implementa-
ção de medidas de vigilância, prevenção, controle e erradicação.

Prevenção e controle de doenças


Antes de serem especificadas as medidas de prevenção, serão abordadas
algumas classificações a respeito das doenças. Segundo Duncan et al. (2013),
as doenças agudas são aquelas de início abrupto e respondem, rapidamente, ao
tratamento curativo ou até mesmo se resolvem sem intervenções. Geralmente,
2 Medidas de prevenção e controle de doenças

são doenças infecciosas, de causa bem definida e não duram mais de três
meses; As doenças crônicas são aquelas com duração mínima de três a doze
meses, ou perdurando por toda a vida da pessoa, são causadas por diversos
fatores e o foco do tratamento não é a cura, mas sim, o controle da evolução
da doença, o alívio dos sintomas e a redução das complicações; As doenças
transmissíveis são aquelas causadas por agentes infecciosos específicos (ou
seus produtos tóxicos) que ocorrem após a transmissão de uma pessoa ou animal
ou reservatório inanimado para um hospedeiro suscetível. Essa transmissão
pode ser direta ou indireta, por meio de um hospedeiro intermediário, de um
vetor ou do ambiente.
Assim, a prevenção envolve medidas antecipadas para impedir o desen-
volvimento de uma doença ou evitar complicações decorrentes dela. As ações
de prevenção se organizam em três níveis distintos e envolvem: prevenção
primária, secundária e terciária. Estas ações de prevenção se dão em momentos
distintos do processo saúde-doença, chamado pelos autores de história natural
da doença. Esta história engloba dois períodos: pré-patogênese (momento em
que não há manifestações clínicas da doença) e patogênese (momento em que
se apresentam sinais e sintomas da doença).
A prevenção primária trata de medidas de saúde que evitem o apareci-
mento da doença, circundam ações de promoção da saúde e proteção específica.
Já, a prevenção secundária envolve o diagnóstico precoce das doenças e
tratamento imediato. A doença pode ser assintomática ainda nesse período.
Por fim, a prevenção terciária implementa ações para a prevenção de inca-
pacidade total e visam à recuperação e à reabilitação.
Para a prevenção e controle das doenças transmissíveis, é importante
compreender o processo infeccioso e, também, aspectos epidemiológicos de
cada doença. A cadeia epidemiológica de transmissão da doença resulta da
interação entre o agente, o reservatório e o hospedeiro. Para compreendê-la,
é necessário conhecer alguns conceitos básicos. Veja a seguir os principais
conceitos:

„„ Agente: são os microrganismos que causam a infecção, podem ser


bactérias, vírus, protozoários, helmintos, fungos ou príons. Algumas
características importantes dos agentes são capacidade de disseminação
ou transporte do agente pelo ambiente, capacidade de produção da
infecção e capacidade de produção da doença.
Medidas de prevenção e controle de doenças 3

„„ Reservatório: local onde vive e se multiplica o agente infeccioso. O


agente depende do reservatório para sobreviver, podendo ser qualquer
humano, animal, artrópode, planta, solo, matéria ou a combinação deles.
„„ Hospedeiro: é a pessoa que recebe o agente infeccioso e, que se estiver
suscetível, desenvolverá a doença.
„„ Portador: é uma pessoa ou animal que carrega um agente infeccioso
específico de uma doença, porém não apresenta sintomas clínicos da
doença.
„„ Fonte de infecção: é a pessoa, o animal, o objeto ou a substância de
onde o agente infeccioso é transmitido para o hospedeiro.
„„ Período de transmissibilidade ou período de contágio: é o intervalo
de tempo durante o qual o agente infeccioso pode ser transmitido. Esse
período varia de acordo com cada agente infeccioso.
„„ Transmissão por contato: é transferência do agente infeccioso para
uma porta de entrada receptiva no hospedeiro. Pode ocorrer de forma
direta ou indireta, quando o agente se utiliza de veículos e vetores.
„„ Veículo: qualquer objeto ou material que sirva de meio para o agente
infeccioso se transportar até um hospedeiro suscetível. Exemplo: brin-
quedos, roupas, talheres, mãos de profissionais, alimentos, água e
produtos biológicos (sangue, urina, tecidos e órgãos).
„„ Vetor: é um artrópode que pode ser um vetor mecânico, quando ele
é um simples transportador do agente ou vetor biológico, quando,
necessariamente, ocorre uma fase de desenvolvimento ou multiplicação
antes da transmissão da forma infectante do agente ao hospedeiro.
„„ Transmissão aérea: ocorre quando há disseminação de aerossóis, que
são suspensões aéreas de partículas contendo parte ou todo o agente
infeccioso até a porta de entrada de um hospedeiro suscetível. As partí-
culas são tão pequenas (menores que 5 µm) e permanecem em suspensão
no ar por longos períodos de tempo.
„„ Porta de entrada no hospedeiro: é diretamente relacionada à via de
transmissão do agente infeccioso, podendo ocorrer pelo trato respira-
tório, pele, mucosas, sistema gastrintestinal ou sangue.
„„ Período de incubação: é o intervalo de tempo decorrido entre a expo-
sição de uma pessoa ou animal ao agente e o aparecimento da primeira
manifestação clínica da doença.
4 Medidas de prevenção e controle de doenças

Riscos ambientais e tecnológicos


à saúde humana
O processo saúde-doença envolve diversos determinantes e condicionantes.
Para que ocorra uma doença, é necessário o encontro do agente causador e um
hospedeiro suscetível, bem como a exposição de um hospedeiro a fatores de
risco. Com isso, existem alguns riscos relacionados ao ambiente e às tecnologias
que ameaçam a saúde humana, sendo causadores de doenças que fragilizam
a saúde e tornam o indivíduo e populações suscetíveis ao adoecimento. Entre
esses diversos riscos, veja a seguir dois com impacto relevante: o uso de
agrotóxicos e as infecções relacionadas à assistência à saúde.

O risco dos agrotóxicos à saúde humana


Segundo Carneiro et al. (2015), o Brasil é o maior consumidor mundial de
agrotóxicos. São numerosos trabalhadores expostos a esses produtos, e as
intoxicações agudas são o impacto mais visível na saúde. A utilização dos
agrotóxicos traz sérias consequências, tanto para o meio ambiente como para
a saúde de populações de trabalhadores e de consumidores (alimentos e água
contaminados).
O processo produtivo agrícola brasileiro está cada vez mais dependente
dos agrotóxicos e fertilizantes químicos. Os agrotóxicos são os produtos e
os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso
nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos
agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas e de
outros ecossistemas. Também, de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja
finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las
da ação danosa de seres vivos considerados nocivos (CARNEIRO et al., 2015).
Um terço dos alimentos, consumidos cotidianamente pelos brasileiros, está
contaminado pelos agrotóxicos. Merecem destaque os seguintes alimentos e
seu nível médio de contaminação: pimentão (91,8%), morango (63,4%), pepino
(57,4%), alface (54,2%), cenoura (49,6%), abacaxi (32,8%), beterraba (32,6%)
e mamão (30,4%). Embora, a análise isolada de cada produto ou substância
apresente risco baixo ou moderado para a saúde, não se pode deixar de se
atentar aos efeitos crônicos que podem ocorrer da exposição, se manifestando
em várias doenças como cânceres, malformações congênitas, distúrbios en-
dócrinos, neurológicos e mentais.
Medidas de prevenção e controle de doenças 5

O dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) faz um alerta sobre


os impactos dos agrotóxicos na saúde (2015), expondo que cada brasileiro consome,
em média, 5,2 litros de agrotóxico por ano.

Existem muitas lacunas para apreciação quando se trata de avaliar a mul-


tiexposição ou a exposição combinada a agrotóxicos. A maioria das pesquisas
analisa apenas a exposição a um princípio ativo ou produto formulado, des-
considerando que, no dia a dia das populações, as pessoas estão expostas a
misturas de produtos tóxicos cujos efeitos combinados são desconhecidos ou
não são levados em consideração. Além disso, também, é necessário ponde-
rar que as vias de penetração no organismo são variadas, podendo ser oral,
inalatória, dérmica ou até mesmo, de formas simultâneas.

Alguns dos agrotóxicos utilizados têm a capacidade de se dispersarem no ambiente,


enquanto outros podem se acumular no organismo humano, inclusive, no leite ma-
terno. O consumo de leite materno contaminado pode provocar agravos à saúde
dos recém-nascidos.
Em pesquisa realizada pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com
62 nutrizes de 2 a 8 semanas pós-parto, foram identificadas dez substâncias tóxicas
presentes no leite materno.

O Quadro 1 apresenta a classificação dos agrotóxicos, segundo a praga


que controla e os efeitos/sintomas agudos e crônicos da exposição humana a
estes produtos:
6 Medidas de prevenção e controle de doenças

Quadro 1. Classificação dos agrotóxicos, sinais e sintomas agudos e crônicos na saúde


humana

Praga Sintomas de
Sintomas de
que Grupo químico intoxicação
intoxicação crônica
controla aguda

Organofosforados Fraqueza, cólica Efeitos neurotóxicos


e carbamatos abdominal, retardados, alterações
vômito, espasmos cromossomiais e
musculares e dermatites de contato.
convulsões.

Organoclorados Náusea, vômito Lesões hepáticas,


e contrações arritmias cardíacas,
musculares lesões renais
Inseticidas involuntárias. e neuropatias
periféricas.

Piretroides Irritações das Alergias, asma,


sintéticos conjuntivas irritação nas mucosas
(membranas e hipersensibilidade.
posteriores
das pálpebras),
espirros, excitação
e convulsões.

Ditiocarbamatos Tontura, vômito, Alergias respiratórias,


tremores dermatites, doença
Fungicidas musculares e de Parkinson e
dor de cabeça. neoplasias.

Fentalamidas - Teratogênese

Dinitroferois e Dificuldade Neoplasias e


pentaciclorofenol respiratória, cloroacnes.
hipertermia e
convulsões.

Fenoxiacéticos Perda de apetite, Indução da produção


Herbicidas náusea, vômito, de enzimas hepáticas,
e fasciculação neoplasias e
muscular. teratogênese.

Dipiridilos Sangramento nasal, Lesões hepáticas,


fraqueza, desmaios dermatites de contato
e conjuntivite. e fibrose pulmonar.

Fonte: Adaptado de Carneiro et al. (2015)


Medidas de prevenção e controle de doenças 7

As infecções relacionadas à assistência à saúde


Se a tecnologia trouxe grandes avanços para a medicina e serviços de saúde,
por outro lado, as intervenções e procedimentos representam um risco impor-
tante à saúde. Segundo Slavish (2012), a definição de Infecções Relacionadas
à Assistência à Saúde (IRASs) é simples. As IRASs são infecções que os
pacientes adquirem enquanto recebem tratamento em uma instituição de
assistência à saúde. Contudo, a definição é a única parte simples sobre desse
quadro: seu impacto nos pacientes, profissionais da assistência à saúde e em
hospitais pode ser complexo, de difícil controle.
Existem alguns riscos de infecção específicos associados a pacientes e
procedimentos. Por exemplo, os pacientes submetidos a procedimentos ou
intervenções com as características a seguir, podem ter maior risco:

„„ presença de dispositivos invasivos;


„„ permanência na Unidade de Terapia Intensiva (UTI);
„„ exposição a antibióticos;
„„ terapia imunossupressora;
„„ longo período de hospitalização;
„„ vários exames e procedimentos realizados por profissionais de saúde.

Os próprios pacientes, também, podem ter riscos que aumentam as chances


de desenvolver as IRASs. Os fatores que podem aumentar o risco de adquirir
uma infecção são:

„„ condições de comorbidade, como asma, diabetes, doença cardíaca e HIV;


„„ doenças e distúrbios imunossupressores;
„„ distúrbios malignos;
„„ quadro de subnutrição;
„„ idade (população de idosos e neonatos);
„„ grandes queimados;
„„ trauma.

Para o controlar a transmissão de infecções no ambiente dos estabeleci-


mentos de saúde, existem algumas formas de controle:

„„ higiene eficaz das mãos;


„„ isolamento: aplicação de precauções adicionais, segundo o padrão de
transmissão do agente infeccioso;
8 Medidas de prevenção e controle de doenças

„„ utilização de equipamentos de proteção individual pelos profissionais;


„„ práticas de aplicação segura de medicamentos e infusões parenterais.

Vigilância, prevenção, controle e


erradicação de doenças
A vigilância em saúde tem por objetivo melhorar a situação de saúde das popu-
lações e abrange diversas ações na área de vigilância sanitária, epidemiológica,
ambiental e saúde do trabalhador. A respeito da vigilância epidemiológica,
ela tem como principal finalidade fornecer a orientação técnica permanente
para a tomada de decisão sobre a execução de ações de controle de doenças
e agravos, disponibilizando informações atualizadas sobre a ocorrência de
doenças e seus fatores condicionantes em determinada população.
Assim, considerando os níveis de prevenção de doenças, as medidas preven-
tivas ocorrem nos níveis primário, secundário e terciário, sendo direcionadas
aos indivíduos e às comunidades. Estratégias de prevenção primária direcio-
nadas ao indivíduo são, por exemplo a imunização e a quimioprofilaxia que
podem ser utilizadas antes ou após a exposição para prevenir uma infecção.
Já, a educação em saúde e o saneamento são exemplos de prevenção primária
direcionadas à comunidade.
Estratégias de prevenção secundária são dirigidas à prevenção da evo-
lução de uma doença, envolvendo a identificação e intervenção precoce de
infecções a fim de minimizar seus efeitos patogênicos. Alguns exemplos são
o rastreamento para doenças sexualmente transmissíveis e o uso de antivirais
para evitar a recorrência de infecção por herpes.
Na prevenção terciária as estratégias são dirigidas para eliminar ou mini-
mizar as sequelas ou incapacidade, desenvolvendo a capacidade do indivíduo
acometido pela doença que já se encontra instalada. Esse conceito envolve tanto
a terapia em doenças crônicas quanto a reabilitação de sequelas de doenças.
Um exemplo é o uso de antivirais em portadores crônicos com infecção ativa
pelo vírus da hepatite C. Outro exemplo é a fisioterapia para a reabilitação de
pacientes com sequelas motoras da poliomielite, já erradicada nas Américas,
mas ainda, endêmica em muitos países do mundo.
Ao se implementar estratégias de prevenção e controle para interromper
a cadeia de transmissão de determinada doença infecciosa, é importante
analisar a cadeia de infecção da doença em questão, para identificar sua fra-
Medidas de prevenção e controle de doenças 9

gilidade, seja ela no agente, ambiente (modo de transmissão) ou hospedeiro.


Embora, diferentes medidas possam ser implementadas simultaneamente,
estratégias direcionadas à fragilidade da cadeia de transmissão, geralmente,
são mais efetivas.

A higienização das mãos é considerada a medida mais importante para a redução do


risco de transmissão de organismos de uma pessoa a outra ou de um local a outro.

Outra estratégia importante na prevenção e controle de doenças, é inter-


romper a transmissão de infecções entre pacientes e de um paciente para o
profissional de saúde. Para isso, são implementadas as chamadas precaução
padrão e precauções adicionais. As precauções adicionais, também chamadas
de isolamento, são uma das medidas preventivas mais eficazes na interrupção
da cadeia de transmissão. O Quadro 2 apresenta os tipos de precauções, in-
dicando o momento em que devem ser aplicadas, quais os Equipamentos de
Proteção Individual (EPIs) e cuidados necessários. Note que cada precaução
é adequada para um tipo de transmissão.

Quadro 2. Tipos de precauções aplicadas para prevenir a transmissão de infecção relacio-


nada à assistência à saúde

EPIs e cuidados
Precaução Momento de aplicação
necessários

Padrão Aplicada quando são prestados „„ Higienização das mãos


cuidados a todos os pacientes „„ Avental e luvas
do hospital, independente, „„ Óculos e máscara
se tenha ou não infecção. „„ Caixa de pérfuro cortante

Adicional Aplicada aos pacientes „„ Higienização das mãos


para colonizados ou infectados „„ Avental e luvas
contato por bactérias ou vírus de „„ Quarto privativo
transmissão por contato.

(Continua)
10 Medidas de prevenção e controle de doenças

(Continuação)

Quadro 2. Tipos de precauções aplicadas para prevenir a transmissão de infecção relacio-


nada à assistência à saúde

EPIs e cuidados
Precaução Momento de aplicação
necessários

Adicional Aplicada aos pacientes em „„ Higienização das mãos


para que o patógeno é transmitido „„ Máscara cirúrgica
gotículas pelas secreções de vias aéreas (profissionais e paciente
em pequenas distâncias durante o transporte)
(menor de 1 metro). Partículas „„ Quarto privativo
maiores que 5 micras.

Adicional Aplicada aos pacientes em que „„ Higienização das mãos


para o patógeno é transmitido pelas „„ Máscara PFF2 (N95)
aerossóis secreções em vias aéreas em (profissionais)
grandes distâncias (maiores „„ Máscara cirúrgica
que 1 metro). Partículas (paciente durante o
menores que 5 micras. transporte)
„„ Quarto privativo

Fonte: Adaptado de Slavish (2012).

Segundo Kasper e Fauci (2015), os programas de imunização estão asso-


ciados aos objetivos de controlar, eliminar ou erradicar uma doença. O controle
de uma doença, passível de prevenção por vacinas, reduz o aparecimento da
doença e limita os impactos relacionados a surtos da doença nas comunidades,
escolas, instituições etc. Já, a eliminação de uma doença é uma meta mais
rigorosa do que o controle, necessitando de ações para a redução do número
de casos a zero, em uma área geográfica definida.
Por fim, a erradicação de uma doença é alcançada quando a sua eliminação
pode ser mantida sem intervenções contínuas. A única doença passível de ser
prevenida por vacina que foi, globalmente, erradicada até hoje é a varíola.
Embora, a vacina contra a varíola não seja mais administrada rotineiramente,
a doença não ressurgiu naturalmente, porque todas as cadeias de transmissão
humana foram interrompidas pelos esforços da vacinação e, também, os seres
humanos eram os únicos reservatórios naturais do vírus. Atualmente, uma
iniciativa de saúde importante é o objetivo de erradicação global da poliomielite.
No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) atualiza anualmente
o calendário nacional de vacinação, que inclui a vacinação de crianças, ado-
lescentes, adultos, idosos, gestantes e povos indígenas. São disponibilizadas
Medidas de prevenção e controle de doenças 11

19 vacinas cuja proteção inicia no período neonatal e se estende por todos os


ciclos vitais.
Ainda se tratando de prevenção e controle de doenças, se faz necessário
abordar as DCNTs que estão, frequentemente, associadas ao envelhecimento.
Além do perfil de cronicidade, também outro fator relevante é a multimor-
bidade ou comorbidade, que se trata da associação de múltiplas doenças em
um mesmo indivíduo.
Embora, as pessoas com multimorbidade acabem recebendo uma maior
atenção nos serviços de saúde, ainda assim, elas apresentam uma maior dificul-
dade de controle das doenças. Pois, esse controle é dependente de um adequado
tratamento, da adesão por parte da pessoa ao tratamento e de mudanças no
estilo de vida. Para Duncan et al. (2013), quanto maior a carga de doença de
uma pessoa maior vai ser a sensação de depender de fatores externos a ela.
Porém, é de extrema relevância a abordagem sobre o autocuidado e a autonomia.
Entre as DCNTs de maior impacto na população brasileira estão: hiperten-
são arterial, diabetes, neoplasias e doenças respiratórias crônicas. Em relação
aos fatores de risco para o desenvolvimento e agravamento de complicações
dessas doenças estão: tabagismo, sedentarismo, práticas sexuais de risco e
uso abusivo de álcool.

CARNEIRO, F. F. et al. (Org.) Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos
na saúde. Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo: Expressão Popular, 2015.
DUNCAN, B. B. et al. Medicina ambulatorial: condutas clínicas em atenção primária. 4.
ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
KASPER, D. L.; FAUCI, A. S. Doenças infecciosas de Harrison. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015.
SLAVISH, S. M. (Org.). Manual de prevenção e controle de infecções para hospitais. Porto
Alegre: Artmed, 2012.

Leituras recomendadas
FLETCHER, R. H.; FLETCHER, S. W.; FLETCHER, G. S. Epidemiologia clínica: elementos
essenciais. 5. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2014.
ROTHMAN, K. J.; GREENLAND, S.; LASH, T. L. Epidemiologia moderna. 3. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2011.
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