A Familia Na Era Digital

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2020 Editora Kaleo

Todas as citações bíblicas são da Nova Versão Internacional,


tradução da Editora Vida, salvo outra indicação

Todos os direitos reservados e protegidos pela lei nº 9.610,


de 19/02/1998

É expressamente proibida a reprodução total ou parcial


deste e-book, por quaisquer meios (eletrônico, mecânico,
fotográfico e outros), sem prévia autorização, por escrito,
da editora.

______________________________________________________

dos Santos, Lediel


Família na Era Digital - A Família na Era Digital
1ª ed. - Blumenau - 2020

Categoria: Liderança. Psicologia, Auto Ajuda.

Publicado no Brasil com todos os direitos autorais


reservados por:
Editora Kaleo

1ª Edição: Verão de 2020


1ª Versão: Maio de 2020

ISBN: 978-85-8490-210-1

Autor: Lediel dos SAntos

Edição e
Revisão: Judson Canto
Projeto Gráfico: Lucas de Oliveira Wisintainer

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Ao Eterno Deus, seja para sempre a gló-
ria. Ele é o inventor da vida e do amor, en-
tão, consequentemente todas as boas dádi-
vas que vivenciamos procedem de Suas mãos.

É Ele quem nos presenteia com a família,


pessoas especiais que abrilhantam nossas
vidas, trazem um complemento existencial e
possibilitam as maiores experiências do existir.
Minha esposa Juliane, você me surpreende a cada
dia. Sua dedicação, determinação e compreensão
me encantam, a cada nova aurora estou mais
apaixonado por você. Obrigado por tudo.

Meus filhos Kennydiel e Eyshila, obrigado por


todos os dias sorrirem o sorriso de Deus para mim.
Cada momento com vocês é uma perfeita tera-
pia que recarrega minhas energias e esperança.

Aos meus pais, que sempre acredita-


ram e investiram em mim, obrigado. Vocês
são meus referenciais de onde quero chegar.

Meu obrigado a todos que de alguma maneira


contribuíram para a publicação deste livro, que as
bênçãos de Deus sejam intensas em suas vidas.

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Este é um livro que trata de um assunto relevan-
te para todos. Talvez alguns ao lerem o título logo
pensem que era digital não tem muito haver con-
sigo pois não gostam de tecnologias. Mas este
material fala de gente, sentimentos e estruturas
familiares que tem sido impactadas diretamente
pelo uso da tecnologia. Se o seu bem estar e de
sua família tem importância, continue lendo até o
fim.
O mundo está mudando de maneira acelerada
impulsionado pelas tecnologias de informações,
e por mais que estamos diariamente sofrendo as
consequências destas mudanças, ainda não as-
similamos os riscos, e consequentemente não te-
mos preparado nossa família para viver esta vida
digital.
Há quarenta anos atrás tudo era mais simples,
estável e previsível. As transformações sociais
aconteciam lentamente gerando certa segurança
nas pessoas que precisavam apenas ajustar sua
caminhada de vida ao padrão vagaroso da socie-
dade. Mas tudo mudou rapidamente quando a in-
ternet e a tecnologia de informação ficaram mais
acessível as pessoas e o individuo descobriu que
podia se conectar a tudo e a todos quando qui-
sesse. O mundo ficou complexo, rápido e impre-
visível. O lar passou a ser invadido por ondas wi-fi
que não são neutras, trazem consigo uma infinida-
de de ideologias que moldam a mente dos filhos e
dos pais. O ser humano criou a internet, e agora a
internet está recriando o ser humano.

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Preste atenção nas seguintes situações:

Uma mãe faz boletim de ocorrência contra o próprio


filho adolescente pois apanhou do mesmo quando não
deu o celular novo que ele queria.

Um jovem confessa estar viciado em pornografia e não


consegue mais viver sem acessar sites eróticos diaria-
mente.

Mãe pede ajuda pelo filho que não quer mais sair de
casa devido ao vício em jogos eletrônicos.

Uma adolescente afirma que o maior sonho de vida


dela é ter um iphone de última geração, e até venderia o
corpo para obter um.

Esposa descobre que marido tem diversos casos ex-


traconjugais no mundo virtual.

Marido não sabe mais o que fazer para a esposa sair


do watsapp.

Pai está desesperado pois algumas fotos da filha ado-


lescente nua estão circulando nas redes sociais.

Estes são alguns dos casos que estão presentes nos conselhos
tutelares, nas clinicas terapêuticas e nos gabinetes pastorais da
atualidade e que evidenciam mudanças na sociedade e na es-
trutura familiar que ainda são pouco discutidas. Todos os ca-
sos acima foram atendidos por mim mesmo no aconselhamen-
to pastoral, e percebo que a tendência desses inconvenientes é
aumentar.
Por isso, penso que já passou da hora das família pararem para
pensar sobre o impacto das novas tecnologias da informação e
comunicação (NTICs) no lar , e tomarem uma posição preven-
tiva para não serem destruídas pelos riscos fatais que acompa-
nham a má utilização dos meios de comunicação.

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Este livro não vem para questionar a
importância da tecnologia em si, mes-
mo porque todos nós sabemos de sua
utilidade no dia a dia e que este é um
caminho sem volta. O objetivo aqui é
alertar e instigar reflexões sobre o como
estamos lidando com as tecnologias de
informação, os limites necessário e os
riscos existente decorridos da utilização
inapropriada.

Sabemos que Deus criou a família, e desde o princípio deu as


instruções necessárias para que esta instituição gerasse prazer
e bem estar aos seus membros. Durante todas as épocas o su-
cesso ou fracasso de um lar foi resultado de como os manda-
mentos de Deus foram compreendidos e obedecidos.
A bíblia sagrada nos revela desde o início da humanidade um
Deus cuidadoso que colocou limites para seu povo afim de pre-
servá-los e livra-los do mal. Em cada detalhe vê-se o zelo do
Eterno para o bem estar familiar. Deuteronômio 22.8 diz:
Quando você construir uma casa nova, faça um parapeito em
torno do terraço, para que não traga sobre a sua casa a culpa
pelo derramamento de sangue inocente, caso alguém caia
do terraço.
De primeira impressão parece um mandamento desneces-
sário ou algo que poderia passar batido, mas revela que o zelo
de Deus por nós é tão grande que nos orienta nos detalhes para
que possamos evitar a dor e a tristeza.
Este contexto revela Moisés tirando o povo do Egito e condu-
zindo para a Terra Prometida. Neste percurso Deus trouxe mui-
tas orientações para o povo de Israel pois eles vinham de um
longo período de escravidão e precisavam se organizar como
sociedade.

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As leis ensinavam ao povo como deveriam servir ao Senhor
Deus; como se relacionar; como lidar com os inimigos; cuidar
dos animais; da natureza, etc.
Um dos principais assuntos revelados nas instruções de Deus
era sobre o cuidado com a família.
Quando o povo de Deus, guiado por Josué entrou na terra
prometida, deixaram de habitar em tendas e passaram a habitar
em casas já no estilo retangular, muito similar aos dias de hoje.
Essas casas eram construídas com uma escada lateral que da-
ria acesso a uma varanda no teto onde os moradores utilizavam
para muitas atividades, como: ponto de observação;
lugar de frescor; secar e guardar colhei-
tas; preparo de refeições ; etc.
Sendo um lugar de fácil acesso e
bastante utilização, existia o ris-
co das crianças subirem sem su-
pervisão e caírem de lá, trazendo as-
sim tristeza e culpa para sua família. Já
com intensão de prevenir esta tragédia Deus
orienta a construção de um parapeito.
Trazendo essa lição para os dias atuais, a chamada era pós-
moderna ou era digital, precisamos também tomar alguns cui-
dados importantes no dia a dia de nossa família a fim de não
trazermos destruição ao nosso lar. Acredito que Deus, se es-
tivesse falando para os nossos dias, como era a proposta dele
para Moisés e Josué na edificação de uma nova sociedade, fala-
ria sobre o cuidado que devemos ter nessa era digital, sobre os
cuidados com a tecnologia e a conectividade. Assim como Ele
se preocupou com algo tão simples como um parapeito, cer-
tamente se preocupa em como as pessoas e as famílias estão
lidando com as novas tecnologias de comunicação e os riscos
que estas mudanças podem trazer quando negligenciado os de-
vidos cuidados.

10
No período em
que estive cur-
sando a faculda-
de de Psicologia,
tive a oportunidade
de estagiar em diver-
sas áreas e lugares. Com
o objetivo de conhecer o
trabalho do psicólogo dentro
de uma instituição educacional,
fui despertado a observar as gran-
des mudanças no comportamento
das crianças e adolescentes de hoje,
comparando-os com minhas experiências
escolares pessoais na adolescência. Mesmo
aquela instituição abrangendo uma classe eco-
nomicamente mais baixa da população, percebi uma
grande quantidade de adolescentes portando celulares. O
que mais me chamou a atenção foi a mudança do compor-
tamento no período do recreio, pois, ao invés de correrem,
jogarem bola, se divertirem com os amigos, muitos ficavam
com os olhos fixos na tela de seus celulares, digitando fre-
neticamente, imersos em outra realidade.

Durante o estágio em um hospital público, deparei-me


novamente com a maioria dos pacientes utilizando um ce-
lular, tablet ou laptop para se manter conectada com o
mundo. Em diversos momentos, até mesmo quando as en-
fermeiras vinham trocar os curativos, certos pacientes não
tiravam os olhos do seu celular.

11
Na minha trajetó-
ria vocacional fora
da psicologia, traba-
lhando diretamen-
te com adolescentes
em grupos de igrejas,
também pude me certifi-
car que o comportamento das
novas gerações, e até dos adultos, tem
sofrido intensas transformações com o avanço
das tecnologias de comunicação e informação.
Enquanto participava de um jantar de fim de ano,
fiquei impressionando ao observar que, das treze
crianças e adolescentes presentes no ambiente,
apenas uma não estava com um gadget na mão.
O próprio termo gadget (do inglês) surgiu para
nomear os dispositivos eletrônicos que agora fa-
zem parte do nosso cotidiano

Segundo o site da enciclopédia Wikipédia, são equipa-


mentos que tem um propósito e uma função específi-
ca, prática e útil no cotidiano. São comumente chama-
dos de gadgets dispositivos eletrônicos portáteis como
celulares, smartphones, leitores de MP3, computador,
tablets, entre outros. Quem é um pouquinho mais ve-
lho certamente se lembra do Inspetor Bugiganga, per-
sonagem de desenho animado que fez algum sucesso
na década de 90 e que dispunha de diversos aparatos
para solucionar os casos. Pois bem: seu nome original
(em inglês) é “Inspector Gadget” – dessa forma po-
demos associar o termo Gadget com bugiganga, ge-
ringonça, enfim: uma espécie de apetrecho tecnológi-
co. Esse contexto nos permite entender a função que
o termo ocupa nesse mundo tecnológico, qual seja:
classificar um dispositivo complexo, desenvolvido com
a melhor tecnologia disponível no momento, e que tem
por fim facilitar as tarefas de quem o utiliza.

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Voltando ao assunto do jantar, estas observações me levaram
a questionar a respeito de como estes equipamentos tecnoló-
gicos têm impactado o comportamento humano. Qual a real
influência que esta conectividade causa na vida diária das pes-
soas e principalmente das novas gerações?

Esse questionamento não é apenas meu. Nos últimos anos,


temos visto diversas pesquisas científicas a respeito do assun-
to, como também o conhecimento popular buscando entender

o avanço da tecnologia e sua influência.

Uma
revista conheci-
da nacionalmente publicou como
matéria de capa, uma reportagem sobre o vício di-
gital. Entre as muitas afirmações, as mais relevantes foram:
• 105 milhões de brasileiros já estão conectados à in-
ternet, segundo uma pesquisa realizada pela Na-
vegg (empresa de análise de audiência online).
• Cerca de 10% dos brasileiros já são viciados digitais;
• Os brasileiros passam mais tempo no Youtube, Twit-
ter e no Facebook do que os internautas do Reino Uni-
do e dos EUA, segundo dados da Serasa Experian.

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Além
dos da-
dos estatís-
ticos, a revista
trouxe diversos tes-
temunhos de pessoas
que vivenciaram experiên-
cias negativas devido ao vício da
internet. Crise de pânico, compro-
metimento dos relacionamentos reais e
perda de rendimento profissional foram al-
gumas das consequências relatadas.
Ao contrário do que muitos pensam, não são ape-
nas os países de primeiro mundo que estão imersos na
virtualidade. Conforme os dados acima citados, em alguns
critérios o Brasil está mais conectado do que as nações mais
tecnológicas do mundo.
Uma pesquisa realizada em uma universidade no Rio Grande
do Sul afirma que 85% dos adolescentes possuem acesso livre
e diário a rede mundial de computadores.

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Na revista “Psicolo-
gia e argumento”, foi pu-
blicado um artigo com
os dados científicos de
uma pesquisa realizada
em 2010 com 534 ado-
lescentes. O título era
“Adolescência Conecta-
da, mapeando o uso da
internet em jovens inter-
nautas” e mostrou que:
• 89% dos adolescentes
têm computador em
casa com acesso à in-
ternet;
• 75,10% utilizam a in-
ternet por mais de 2
horas diárias;
• 80,7% responde-
ram afirmativamente
quando questionados
se acreditavam que
com o tempo as pes-
soas se comunicariam
mais virtualmente do
que pessoalmente;
• 70,9% citaram a rapi-
dez na comunicação
ao listar as vantagens
da internet.

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Percebe-se, neste dados, que a vivência digital era uma reali-
dade em 2010 e que a maioria dos adolescentes já participavam
veementemente deste processo. Hoje certamente a situação
está mais intensa. Numa pesquisa realizada pelo Data Folha em
2015 abrangendo 175 municípios brasileiros, constatou que 56%
dos adolescentes ficam conectados por quatro horas diárias na
internet, e quando se fala em estar on-li-
ne pelo celular, o grupo dos de 16 aos
24 anos ficam em média 9 horas
diárias. Qualquer pessoa pode
prevenir que um indivíduo
que investe mais de duas
horas diárias em qualquer
atividade que seja, segura-
mente terá sua vida marca-
da e alterada por isto, assim
como suas perspectivas para
o futuro estarão também
relacionadas com essas vi-
vências.
As novas tecnologias mó-
veis têm facilitado a conexão com
o mundo via internet e milhões de
brasileiros já desfrutam destes equipamentos fazendo deles uma
ferramenta diária. No mundo já são mais de 5 bilhões de equi-
pamentos conectado. E estes equipamentos de informação e
comunicação não são inerentemente maléficos ou benéficos,
mas podem vir a ser, dependendo da maneira que são usados. É
justamente esta noção que precisa ser discutida, pois vivemos
um tempo em que a população ficou hipnotizada pelas inúme-
ras funções dos aplicativos disponíveis e nem perceberam que
nossa maneira de viver e pensar está sendo alterada. Nossas
crianças e adolescentes já estão crescendo com os gadgets na
mão e carecem de limites e orientações no que se refere ao uso
destas tecnologias. Uma pesquisa com crianças de 2 a 5 anos
revelou que 58% tinham capacidade para jogar games virtual,
52 % sabiam andar de bicicleta, 19% sabiam utilizar
outro aplicativo no smartphone, mas
apenas 11% conseguiam amarrar
o próprio calçado.

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Em outra pesquisa realizada em 2013 na Austrália pela empresa
de segurança digital McAfee com 500 crianças sobre compor-
tamento de risco na web, viu-se que:

- 67 % das crianças entre 8 e 12 anos acessam redes


sociais;
- 66% preferem telefones celulares
e/ou tablets para acessar a rede;
- 54% usam o tablet mais de uma
hora por dia;

Considerando a influência da internet e das tecno-


logias na vida das pessoas na atualidade, podemos perceber
que esta interação é um caminho sem volta. A probabilidade é
justamente o oposto: a cada dia estaremos mais envolvidos e
dependentes delas. Para que possamos utilizar estas tecnolo-
gias como fonte de benefícios, precisamos conhecer os riscos
que elas oferecem, e evitá-los. Que a leitura deste livro te con-
duza a reflexões significativas e gerem mudanças pessoais e
familiares na incorporação do uso tecnológico afim de não abrir
mão dos bons valores de um lar.

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CAPÍTULO 1 - RISCOS PSICOLÓGICOS

18
Com uma utilidade inquestionável, a internet rapidamente
passou a fazer parte da vida das pessoas. Para muitos, essa
frequência resultou no abuso, e do abuso para a dependência.
Como toda dependência vem ferir a liberdade, geralmente
o indivíduo começa a sofrer prejuízos na sua vida
pessoal, social ou profissional pelo uso ex-
cessivo daquilo que se tornou seu
objeto de desejo. No caso da
internet, por não ser uma
substância que entra no
corpo, ela tem sido ne-
gligenciada como vício
por muitos, principalmen-
te por aqueles que já fazem
uso excessivo dela, mas os
seus efeitos são devastado-
res, tendo as pessoas noção disso ou não.
Segundo a especialista Kimberly Young , o vício da internet
é tão grave quanto a dependência de álcool e outras drogas
ilícitas. Semelhantemente a um alcoólatra que precisa consu-
mir maiores níveis de álcool para alcançar a satisfação, os vi-
ciados em internet precisam rotineiramente gastar uma maior
quantidade de tempo online para se satisfazerem. E da mes-
ma forma que um alcoólatra faz uso da substância para fugir
da realidade ou superar a ansiedade, o viciado em internet
tende a usá-la mais como fuga dos problemas da vida do que
como ferramenta de trabalho. Outro fator interessante são os
sinais da abstinência: quando o dependente químico procura
ficar sem a substância de seu vício, é comum passar por es-
tresse, ansiedade e até depressão. O viciado em internet tem
os mesmo sintomas quando percebe não estar online e sem
opção de conectividade.

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De acordo com o psicólogo Cristino Nabuco Abreu o número
de dependentes tecnológicos irá aumentar significativamente
nos próximos anos. A quantidade infinita de funções e a mobi-
lidade dos smartphones facilitam a criação da relação de de-
pendência involuntária entre indivíduo e aparelho. Na pesquisa
“Dossiê Universo Jovem 5” (2010) a cada 10 adolescentes entre-
vistados, metade afirmou nunca desligar o celular, e dizem que
é “impossível viver sem ele”.
A dependência ou o uso excessivo do telefone celular foi re-
centemente nomeado de “nomofobia”, que deriva da expressão
inglesa no mobile phobia, que é o mal estar apresentado por in-
divíduos quando se encontram sem seu aparelho celular.
Essa dimensão de consequências a respeito dos smar-
tphones é muito limitada por se tratar de algo novo.
Para especialistas, a inclusão desta ferramenta
em nosso cotidiano se fez de maneira desregra-
da e desmedida, portanto, ainda temos um conheci-
mento rudimentar da análise dos seus efeitos a mé-
dio e longo prazo.

Além dos smartphones que passam constante-


mente por atualizações e ganham novas funções,
as empresas de tecnologia sempre procuram
lançar novos aparelhos que acabam fazendo
parte do cotidiano das pessoas.
Para você saber se o seu uso do celular já está
em nível perigoso, analise:
- Tem aflição, angústia, taquicardia, sudorese ou altera-
ção de humor quando não está com o aparelho, ou quan-
do fica sem internet ou bateria.
- Checar o celular a cada 2 ou 3 minuto de forma obses-
siva.
- Ter a impressão que o tempo todo o celular está vibran-
do ou chamando.
- Tentar justificar o tempo que fica no celular com menti-
ras.

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As crianças e adolescentes têm sido fortes candidatos para
serem viciados em internet. Com muita vontade de conhecer o
mundo, mas com pouca autonomia para isso, o mundo virtual
tem sido uma excelente opção para satisfazerem seus desejos.
Sem poder dirigir, sem poder responder por si mesmo, sem po-
der fazer tantas coisas restritas aos menores, a internet é um
paraíso.
Não tem fiscalização de restrição de idade, não tem hora para
funcionar, não tem supervisão do que acessam. A web se tor-
nou uma fonte de prazer e fascínio para a geração Y e Z, além de
gerar uma intensa sensação de liberdade. Isso explica o porquê
de tão grande percentual de adolescentes já serem viciados na
internet e levarem a vida virtual tão a sério quanto a vida real.
Geração Y são os nascidos na década de 80 e 90.
Geração Z são os nascidos depois do ano 1995.
Países como Coreia do Sul e Japão, per-
cebendo os possíveis riscos da má utiliza-
ção da internet pelos menores de 18 anos,
vêm tomando medidas drásticas para
prevenir prejuízos maiores. Em algu-
mas cidades chegaram a limitar o ho-
rário de funcionamento da internet de-
vido aos alunos madrugarem na rede
e estarem desgastados para estu-
dar no dia seguinte. O Transtorno
de Adição à Internet (TAI) é um
diagnóstico reconhecido nes-
tes países, onde já existem cen-
tros de desintoxicação e hospi-
tais com internação dedicados
ao seu tratamento.

É claro que os riscos de uso excessivo da internet não devem


servir de base para declarar guerra contra a rede, mas serve
como alerta para que se aprenda a lidar com a situação.

21
Além da dependência, quan-
do falamos de riscos psicológi-
cos, precisamos lembrar-nos da
influência da tecnologia na vida
emocional das pessoas. Quem
nunca chorou ouvindo ou as-
sistindo uma história de amor;
quem nunca sorriu ao ouvir uma
boa piada no rádio ou assistindo
o programa favorito de humor; ou
quem nunca se angustiou com uma
notícia negativa anunciada pelo jor-
nalista? Mesmo inconscientemen-
te, a mídia sempre influenciou as
gerações nas quais se fez presen-
te. E nem sempre esta influência
foi de forma positiva. De acordo
com o médico Michael Rich, pe-
diatra especialista em adolescentes,
muitas causas de mortalidade, como ho-
micídio e suicídio, e as morbidades de longo prazo
que iniciam predominantemente na infância, como obesidade,
comportamentos de risco e vícios já foram associados ao au-
mento da exposição às mídias.

A vida digital que se vive hoje tem contribuído para o aumento


do stress, cansaço mental, ansiedade e outros problemas emo-
cionais. Ao observar este revés, o escritor Douglas Rushkoof
afirma:
“Pela primeira vez na história, pessoas comuns estão
começando a mostrar sinais de estresse e fadiga men-
tal que eram exclusivos de operadores de tráfego aéreo
e operadores de telefones de emergência (190 ou 193).
Usuários de telefones celulares agora se queixam da
“síndrome da vibração fantasma”, a sensação de que há
um telefone vibrando na sua coxa, mesmo que não haja
um celular em seu bolso.”

22
A conexão com o mundo, proporcionada
pela internet e redes sociais, tem gerado nas
pessoas uma percepção diferente sobre o
tempo e o descanso. Na vida real, quan-
do se para e dorme, tem-se a ideia que o
mundo parou contigo. Diferentemente,
o mundo virtual nunca para. O senti-
mento de que se está perdendo algo
nas redes sociais tem contribuído
muito para o aumento da ansie-
dade na atual geração. Tal senti-
mento ganhou a sigla em inglês
de FOMO ou fear of missing
out, isto é, medo de estar perdendo algo.

De acordo com um estudo realizado pela Cisco em 2013, das 3,6


mil pessoas entrevistadas, 60% afirmaram conferir sistematica-
mente suas atualizações nas redes sociais. E destes, dois terços
dizem ficar ansiosos ou sentir um vazio quando não estão onli-
ne. No caso dos jovens e adoles-
centes que levam a vida [...] muitos se co-
virtual muito mais a nectam para saber quem fez
sério, a necessi- mais coisas interessantes, postou
dade de con- mais fotos ou ainda quem tem mais
ferir sempre o conhecidos, ou seja, as redes sociais se

que se pas- transformaram em verdadeiro “termôme-

sa nas re- tro social” de aceitação (ou rejeição). Desta


forma, uma pessoa pode descobrir facilmen-
des sociais
te se foi ou não convidada para um evento,
se tornou
isto é, se foi ou não deixado(a) de lado pelo
questão de
seu grupo de referência. Assim, os sentimen-
vida ou mor-
tos negativos também se tornam parte in-
te, conforme tegrante do FOMO, pois a noção de exclu-
afirma Abreu: são se torna ainda mais impactante.

23
O psiquiatra Dr. Augusto Cury desvendou nos últimos anos
uma síndrome resultante desta intoxicação de informações que
assola a humanidade. Chamada de Síndrome do Pensamento
acelerado, provém do excesso de informações recebidas pela
mente humana diariamente, gerando assim um estresse e des-
gaste mental.

Posteriormente pode resultar em irritabilidade, flutuação tem-


peramental, intolerância, incapacidade de concentração, fadiga
e uma serie de doenças psicossomáticas. t
Numa de suas ilustrações o Dr. Cury compara este processo
com o motor de um carro. Você dirige até o trabalho, desliga o
carro e vai trabalhar. Retorna para casa para dormir e desliga o
carro... Imagine o que aconteceria com o motor se jamais fosse
desligado. Você está trabalhando, dormindo estudando e o mo-
tor ligado... Certamente a vida útil daquele veículo seria abre-
viada. É exatamente assim que se encontra a mente humana
ultimamente. As pessoas não conseguem se “deligar” pra nada
e acabam se sobrecarregando, comprometendo sua qualidade
de vida e consequentemente abreviando a própria história.
Segundo o psicólogo Carlos Catito Grzybowski, essa neces-
sidade de informação vem da fantasia de que informação é si-
nônimo de poder. Em alguns âmbitos, como na política, essa
premissa é verdadeira, mas, no cotidiano,
ter muita informação, especialmente a
superficial, não empodera ninguém,
apenas leva facilmente ao estresse
por sobrecarga mental. Definiti-
vamente não precisamos saber
tudo da vida de todos, antes o
importante é saber menos
e com mais qualidade da
vida daqueles a quem
realmente amamos.

24
A internet pode também ser prejudicial para aqueles que já
apresentam quadros de riscos psicológicos. Por exemplo, pes-
soas depressivas. A depressão, que já é fruto da incapacidade
das pessoas de lidarem com sentimentos negativos, intensifica
ainda mais a baixa percepção de valor pessoal, levando muitos
a procurarem uma fuga drástica e irreversível no suicídio. Vá-
rios sites oferecem incentivo ao suicídio, além de mostrarem os
métodos mais eficazes de cometer o ato. Entre os adolescentes
tem aumentado o índice de suicídios assistidos pela internet,
onde o ato é compartilhado com outros pela webcam.
Outro exemplo são aquelas pessoas que sofrem de timidez.
Estes desenvolvem grande interesse pelo mundo virtual, pois
podem mudar sua aparência e se relacionarem com diversas
pessoas a fim de compensar a falta de habilidade social e, caso
aconteça algum constrangimento, basta se desconectar. O pro-
blema é que sua real timidez não foi tratada, e no mundo real
pode resultar em maior isolamento social, se agravando e evo-
luindo para transtorno psicológico.
A internet tem se revelado também como um lugar muito as-
sustador expondo a essência da maldade humana e como se-
ria um mundo sem respeito e amor. Atrás de uma tela muitos
revelam seu verdadeiro eu e agem de maneira que jamais agi-
riam na vida real. Se tornam julgadores, agressivos em palavras,
promovem bullyng e formam quadrilhas virtuais para espalhar
a maldade e perversidade. Especialis-
tas afirmam que nos relacionamen-
tos virtuais por não se interagir
com outras pessoas observando
sua reação e linguagem corpo-
ral (com exceção em vídeo con-
ferencias), isso potencializa as
pessoas a falaram e fazerem
coisas que jamais fa-
riam pessoalmente.

25
Há uma grande necessidade dos pais e responsáveis aten-
tarem para a relação dos seus filhos com o mundo virtual, a fim
de evitarem estes riscos psicológicos. A falta de limitação e su-
pervisão quanto ao uso da internet tem oferecido as crianças e
adolescentes uma liberdade perigosa. Assim como uma faca, é
extremamente útil na mão de alguém apto, mas pode ser mortal
na mão de quem não a sabe usar, muitos conteúdos da web pre-
cisam de maturidade e cuidado para serem acessado. De acordo
com Abreu, muito ainda precisa ser compreendido para que se
possa efetivamente au-
Algumas medidas importantes a
xiliar essa legião de ór-
serem tomadas são:
fãos digitais soltos e en-
- Não dê tecnologias ao seu fi-
tregues à própria sorte.
lho se você não está disposto
Os pais estão tranquilos
a ensiná-lo a usar com sabe-
pelo filho estar “seguro”
doria.
no quarto, protegido do
- Crie juntamente com a famí-
mundo externo, mas não
lia uma lista de regras quanto
desconfiam do que de
ao uso das tecnologias de co-
fato acontece ali do seu
municação e fiscalizem a obe-
lado.
diência das mesmas.
- Cuide para que um dos pais
não desautorize o outro apre-
sentando regras opostas.
- Defina e restrinja os sites e
aplicativos que seu filho pode
acessar, jogos que pode jogar,
etc.
- Crie um ambiente aberto ao
diálogo sempre. Inclusive
quando imprevistos aconte-
cerem.
- Limite o tempo de conexão
dos filhos, ou tempo nos jogos
virtuais.

26
Diferentemente da televisão,
que ainda tenta regular horários
para cenas de violência, sexo ou
promoção aos vícios, na in-
ternet cada pessoa vê o que
quer e quando quer. Para se
ter uma ideia de quanta po-
dridão é despejada na rede,
uma das profissões mais trau-
matizantes da atualidade tem sido de mo-
deradores virtuais. Pessoas que trabalham filtrando
conteúdo para que as buscas sejam precisas e eficazes para os
internautas comuns. Mas como tudo tem que antes passar por
eles, acabam desenvolvimendo diversas doenças da alma (prin-
cipalmente estresse e ansiedade) pela demanda de conteúdo
toxico despejado na rede diariamente. São mais de 1,8 bilhões
de imagens publicados por dia na web.
Tem sido cada vez mais precoce a exposição das crianças a
conteúdos indevidos para suas idades, sendo comum o com-
partilhamento de pornografia e violência entre os menores. As
brigas que ocorrem na escola, segundos depois já estão dis-
poníveis para todos verem na web sem nenhuma censura. As
gravações de violências reais do mundo têm quebrado recordes
de acesso. Quem gasta mais tempo na web, provavelmente re-
ceberá mais conteúdos indevidos e terá sua vida moldado por
esta vivencia. Por exemplo, um estudo feito pela universidade
de Notre Dame com 1618 adolescentes da China demonstrou
que os estudantes dependentes de internet eram cinco vezes
mais propensos a praticar gestos auto agressivos do que os não
dependentes.

27
Hoje, o compartilhamento virtual de pornografia
tem altos índices entre os jovens e adolescentes. Se-
gundo uma investigação realizada já em 2009 pela orga-
nização Beat Bullying, mais de 38% dos adolescentes en-
tre 11 e 17 anos receberam mensagens de telefone móvel
ou de correio eletrônico com conteúdo sexual explícito.
Com a praticidade do watsapp em nossos dias, este
material se alastra como uma epidemia. Violência, por-
nografia e imoralidade, lamentavelmente fazem parte
dos grupos de empresas, famílias e amigos. Já na dee-
pweb (darkweb) que recebe diariamente mais de 2,5 mi-
lhões de visitantes, o compartilhamento de pornografia
infantil é intenso. São mais de 100 milhões de imagens
com este tipo de conteúdo.
As mensagens eró-
Será que os chefes do lar
ticas através de textos
conversam sobre isso com
ou fotos (sexting) têm in-
os filhos? Filtram os conteú-
corporado também as pa-
dos perigosos das redes só-
queras dessa geração
cias? Saem dos grupos que
digital. A prática de ti-
compartilham imoralidade?
rar foto nua de si mes-
Não esqueça que todo esse
mo (a) e enviar a(ao) conteúdo pode intoxicar a
namorado(a) já é uma alma e enfraquecer os laços
realidade para muitas de amor e pureza de qual-
pessoas. Quem prati- quer individuo.
ca o sexting nem ima-
gina os muitos proble-
mas que podem surgir
a partir disso.

28
De acordo com Abreu: Em um dos atendi-
mentos que realizei, a
Quando o pretensamente privado
filha adolescente cristã
se dá a conhecer a outras pessoas
enviou uma foto fazendo
ou se faz público com o protagonis-
topless ao menino que
ta sendo identificável, este sofre um paquerava. Meses de-
dano moral irreparável e uma viola- pois se deixaram e o infe-
ção da sua privacidade, o que pode liz jovem resolveu enviar
acarretar problemas psicológicos a imagem para seu me-
como ansiedade ou depressão e lhor amigo. Este amigo
sintomas associados. enviou para outro ami-
go e a situação fugiu do
controle. Em poucos dias
aquela imagem era o assunto no grupo da escola e igreja.
A drástica consequência foi a depressão da meni-
na que confessou diversas vezes ter pensado no sui-
cídio como solução para o problema que se metera.
Todos os pais e líderes devem orientar seus jovens e adolescen-
tes a jamais tirarem fotos de seu corpo nu ou compartilharem
qualquer conteúdo pessoal que possa comprometê-los. Uma
imagem publicada nas redes ou enviada para alguém, pode ja-
mais ser apagada.
O contato regular e precoce com conteúdos indevidos está
alterando o processo cognitivo, afetivo e comportamental das
crianças e adolescentes. Uma pesquisa realizada pela agência
britânica Child Exploitation and Online protection Center desta-
ca que entre as meninas de 14 e 15 anos, 40% já não veem nada
de mal em tirar foto fazendo topless. Segundo o especialista
Jorge Flores Fernandez “a dinâmica da web e, mais ainda, das
redes sociais, estimula a competividade adolescente em aspec-
tos como ter o maior número de amigos, mais comentários nas
fotos... e sem dúvida esse tipo de imagem pode ser usado para
alcançar notoriedade.” A socióloga Gail Dines que estuda o im-
pacto da pornografia na sociedade há mais de 25 anos, tem
percebido em suas pesquisas que a internet é a maior fonte
de educação sexual para meninos e que todo este conteúdo
imoral está criando uma geração de homens violentos.

29
Estudiosos afirmam que cada vez mais a internet tem sido usa-
do pelas pessoas como escape afim de se distrair dos proble-
mas da vida real. Na rede é bem mais fácil achar alguém com
os mesmos interesses seus e manter um contato que te tire da
solidão, preencha sua necessidade de reconhecimento e gere
em você uma sensação de valor. O problema é que quanto
mais tempo desperdiçado no espaço cibernético, menos solu-
ções surgem para os problemas da vida real.

As novas gerações com suas limitadas experiências de vi-


das tem pouca conscientização a respeito dos riscos que as-
sumem no mundo virtual. Muitos aprenderão apenas quando
já for tarde demais. Para os que nasceram depois dos anos
80, as tecnologias têm sido uma “faca de dois gumes”, pois, ao
mesmo tempo em que podem potencializar problemas da vida
real, ela também pode reduzir a percepção das consequências
das escolhas da realidade.

O mundo ficou atônito em 2010 quando saiu a noticia de um


casal Sul Coreano que deixou seu bebê de três meses morrer
de fome enquanto estavam obcecados em cuidar da filha vir-
tual num jogo online. Claro que este é um caso extremo,
mas infelizmente muitas consequên-
cias menos graves acon-
tecem cotidianamente
no mundo real das famí-
lia por se investir mais
no virtual?

30
Segundo especialistas as gera-
ções anteriores à Y pensavam mais
para realizar escolhas importantes
na vida, pois todas elas tinham im-
pacto determinante no mundo real.
Já as atuais gerações de adolescen-
tes e jovens que vivem num univer-
so também artificial, tendem a usar
menos a capacidade intelectual de
prevenção. Os jogos virtuais, prin-
cipalmente os simu-
Infelizmente muitos progenitores
ladores de vida, como
bloqueiam-se para as tecnológicas
Second Life, The Sims,
dizendo que essas coisas não servem
eRepublik, etc, sempre
para si e acabam deixando órfãos di-
proporcionam um re-
começo se as decisões gitais. Mas assim como acontece na

tomadas não tiverem vida real, de alguma maneira os filhos


êxito. Mesmo saben- terão que aprender com alguém, e é
do que na realidade as justamente aí que se encontra o pe-
coisas são diferentes, rigo. Lembre-se que não existe o mo-
os jogadores mais as- delo perfeito para educar os filhos.
síduos tendem a ter Exercer as funções parentais exige
menor percepção das reaprendizado e superação de limites
consequências de suas a cada dia. Seu filho certamente terá
escolhas reais. Por isso mais facilidade para lidar tecnicamen-
a importância dos pais te com a tecnologia do que você, mas
monitorarem e limita- isso não lhe garante a maturidade e
rem o nível de imersão experiência de vida que você tem.
dos filhos na era digital.
Os menores de 18 anos
tem mais dificuldades em se disci-
plinarem na administração do tem-
po gasto com os entretenimentos e
carecem de orientação e exemplo.

31
Além disso, quan-
do se fala de cognição, diver-
sas pesquisas pelo mundo têm mostrado que, por
mais que a tecnologia possibilite maior informação e
melhorias no acesso ao conhecimento, as facilidades
que ela traz têm comprometido a utilização da nossa
memória. Não memorizamos mais os números de tele-
fone, pois estão todos na agenda do celular. Não conhe -
cemos mais as ruas e localizações de nossas cidades,
pois o GPS automatiza nosso andar. Não sabemos mais
calcular, pois nos smar tphones temos uma calculadora
onipresente. Ou seja, aos poucos vamos deixando
nossa memória preguiçosa para algumas atividades.
Sutil e imperceptivelmente, estamos a cada dia pen-
sando e agindo conforme os programas digitais nos es-
timulam. Segundo Rushkoff, as tecnologias vêm carac-
terizando o futuro do modo como vivemos, e as pessoas
que as programam acabam por moldar o nosso mundo.
As tecnologias digitais darão a forma nesse processo
de moldagem, seja com ou sem a nossa cooperação.
Depois de tudo que vimos, é evidente que, quan-
do se trata de impactos psicológicos, o mau uso
das tecnologias pode trazer grandes prejuízos. Esse
fato precisa nos conduzir a um novo estilo de vida
que melhore nossa utilização das inovações digitais.

32
33
Ao perceber as mudanças comporta-
mentais humanas decorrentes da intera-
ção com as tecnologias, a mais evidente se
passa no campo das relações sociais. As famí-
lias têm sido grandemente afetadas pela maneira
com que seus membros interagem com seus gadgets. A tele-
visão já havia contribuído para a redução da comunicação de
qualidade na família, mas com a internet e a mobilidade dos
tabletes e smartphones esta realidade se agravou.
Atualmente, vemos, em todos os lugares, pessoas presencial-
mente acompanhadas de outras, mas numa espécie de transe
na frente de um aparelho que as colocam mentalmente em ou-
tra realidade. O australiano Alex Haigh propôs uma nova pala-
vra para descrever estes acontecimentos: phubbing, que é uma
união entre phone (telefone) e snubbing (esnobar). Ele chegou
a criar a campanha “stop phubbing”, alegando que em outros
tempos isso era chamado de falta de educação.
Para o professor da Universidade de Stanford, Clifford
Nass, as crianças têm sido negativamente afetadas por terem
que dividir a atenção dos pais com seus celulares. Segundo ele,
“quando se está interagindo com uma criança, mas não se está
olhando para ela ou ouvindo o que ela está dizendo, isso se tor-
na péssimo para a relação. Esta prática sendo rotineira pode
transformar as crianças em indivíduos inseguros que passam a
fazer qualquer coisa por alguns minutos de atenção.”

34
Por outro lado, no ativismo
hodierno é comum vermos os
pais dando um equipamen-
As relações conjugais tam-
to eletrônico aos filhos para
bém podem ficar compro-
distraí-los e mantê-los ocu-
metidas quando não se tem
pados afim de não “atrapa-
limite sobre o uso das tecno-
lhar” a atividade adulta. Esta
logias. Além de comprometer
prática quando frequente
o tempo de qualidade com a
não só incentiva o vício dos
esposa ou marido, o mundo
filhos nos eletrônicos como
virtual oferece inúmeras op-
também não preenche as ca-
ções de compensação para
rências emocionais da crian-
as carências humana. O ín-
ça. Sem falar que aumenta
dice de adultérios que teve
significativamente a proba-
seu início na internet é maior
bilidade dos próprios filhos
a cada ano. De acordo com a
repetirem o comportamento
Academia Americana de Ad-
“phubbing”.
vogados da área matrimonial,
63% dos advogados entre-
vistados relataram que a internet tem desempenhado um papel
significativo nos processos de divórcios que eles advogaram a
partir do ano de 2002.
Hoje são inúmeros sites de relacionamento amorosos e
sexuais onde você encontra pessoas de todos os tipos. Os sites
existem para atender demandas desde quem deseja um relacio-
namento sério ou para quem só deseja uma noite de aventura.
Infelizmente muitas pessoas casadas tem caído nestas arma-
dilhas alegando que ficará apenas nos contatos virtuais e pen-
sam que por ser na virtualidade não tem nada demais. É preci-
so lembrar dos ensinamentos bíblicos sobre guardar o coração
pois dele procedem as saídas da vida (Pv 4.23). Nestes casos, o
adultério já aconteceu no coração, e para se consumar é questão
de tempo. Muitas famílias já se destruíram por entrarem nestas
ciladas.

35
Não brinque com o perigo. Jamais mantenha conversas íntimas
t

com alguém que não seja seu cônjuge. Um abismo chama outro
abismo. Começa com um oi, um elogio, um desabafo, uma foto,
quando viu está alienado num caso extraconjugal que certa-
mente resultará em catástrofe.

Outra realidade assustadora


tem sido o aumento de pessoas
que estão mantendo caso amo-
roso com um robô ou programa
virtual. No Japão já são milhares
de homens que tentam afugen-
tar a solidão com a personagem
Rinko. Uma namorada virtual
que se encaixa no perfil do usuá-
rio e lhe trás a garantia de nunca
abandoná-lo. Criada pela love-
Tem aumen- plus como simulador de namo-

tando também a ro, este aplicativo já ultrapassou


fronteiras e possui usuários em
venda de robôs sexuais (ex:
todo o mundo.
Armony) que prometem não
apenas satisfazer seus clien-
tes sexualmente, mas criar vínculos de um relacionamento real,
mas sem contradições ou confrontos que possas desgastar a
relação.
A internet má utilizada pode afastar os que deveriam estar
perto e aproximar os que deviam estar longe. Anos atrás na Tai-
lândia, uma das maiores empresas de telecomunicações che-
gou a fazer uma campanha em vídeo para alertar a população
sobre os riscos que o uso errado das novas tecnologias pode
causar nas relações pessoais. Recentemente no Brasil, a ope-
radora Vivo também publicou um vídeo denominado “Viver é a
melhor Conexão” para mostrar que nada substitui as vivencias
reais do dia a dia.

36
As tecnologias que são criadas para facili-
tar nossas vidas e nos aproximar uns dos ou-
tros podem também fazer o processo inverso e
acabar afastando o que o indi-
víduo tem de mais importante,
por isso existe uma necessida-
de urgente de repensar as
maneiras de usá-las.
Esta crítica fica
clara nas palavras
de Rushkoff:

[...] em vez de otimizar nossas máquinas para a


humanidade – ou mesmo para o beneficio de al-
gum grupo em particular, estamos otimizando os
humanos para as máquinas. E eis porque as esco-
lhas que fazemos (ou deixamos de fazer) exata-
mente agora são tão relevantes ou mais relevan-
tes do que foram para nossos ancestrais quando
se esforçavam arduamente para dominar a lin-
guagem, a escrita e a imprensa. [...] (2010, p. 16).

37
Os riscos que corremos de sofrer prejuízos sociais incluem
também nossa atuação online. A comunicação eletrônica per-
mite que as pessoas se relacionem com uma diversidade muito
grande de gente. Você pode se comunicar com pessoas de dife-
rentes culturas, países, gostos, idades etc. Em todas estas rela-
ções, você irá influenciar e receber influência, seja por pessoas
com boas intenções, e por outras com nem tão boas intenções
assim, seja por heróis ou por bandidos. Todo tipo de gente está
na rede.
Além desta possibilidade infinita de contatos, no mundo vir-
tual tendemos a ser menos inibidos, o que acelera a intimidade
percebida. Para Rushkoff nossas experiências digitais são extra-
corpóreas. Isso nos dispõe a um comportamento despersonali-
zado em um ambiente em que a identidade da pessoa pode ser
uma desvantagem. Mas quanto mais anonimamente nos enga-
jarmos com os outros, menos vivenciamos as repercussões do
que dizemos e fazemos.
Sobre esta realidade, o especialista Abreu afirma:
“O sentimento de segurança proporcionado pelo ano-
nimato da internet parece oferecer aos indivíduos pos-
sibilidades menos arriscadas de envolver-se em uma
relação virtual. Essa estratégia pode parecer, inicial-
mente, um método bastante eficaz de socialização, mas
com o decorrer do tempo e o uso excessivo da rede,
essa forma de comunicação e de estabelecimento de
amizades pode resultar em um declínio da vida social e
tornar-se um terreno fértil para manifestação de outras
patologias. “

38
Nos sites de relacio-
namentos, especialis-
tas afirmam que mais de
70% das pessoas men-
tem algo sobre si mesmo
nos perfis. Portanto não
saia confiando nas infor-
mações que as pessoas
passam na web, pois a
web aceita tudo.

As ideologias compartilhadas na rede podem também trazer


grandes prejuízos. Um exemplo clássico foi do youtuber Stefan
Molyneux da Freedomain Radio que se autodenominava anar-
quista e através de vídeos manipulou para que
os filhos enxergassem os pais como influên-
cia negativa. Suas ideias levaram milhares
de adolescentes e jovens a saírem de casa
e abandonarem os vínculos familiares. Boa
parte nunca mais contatou os pais.

Precisamos estar muito atendo


quanto aos contatos dos filhos na
rede e as influencias que estão rece-
bendo. Alguns pais querem negar a
realidade da invasão tecnológica em nossos lares, mas queren-
do ou não, nossos filhos irão acessar a internet; seja na escola,
lan house, casa de amigos ou parentes. Por isso melhor é acom-
panhar e ensinar, pois a negação da realidade acaba apenas
contribuindo para que eles acessem a rede sem monitoramento.

39
Um dos perigos derivados destes sites de relaciona-
mentos e ultimamente do watsapp tem sido chamado
pelos especialista de sextorsão. Este termo é a junção
das palavras sexo e extorsão e por si só explica o que é.
O cibercriminoso cria vínculos com a vitima a ponto de
conseguir conversas ou imagens íntimas dela e depois
passa a extorqui-la alegando que se a pessoa não fizer o
que ele pede espalhará o conteúdo na lista de contato da
vítima. As exigências dos criminosos não são apenas de
dinheiro, mas as vezes querem mais imagens íntimas da
pessoa e já houve casos de exigirem encontros sexuais.
As consequências emocionais e sociais para as vítimas
são as piores possíveis e infelizmente já houveram vá-
rios casos fatais onde ocorreu o suicídio. Um dos mais
conhecido foi da adolescente canadense Amanda Todd
que antes de tirar a vida publicou um vídeo no youtube
relatando a desgra-
ça que sua vida havia Contatar pessoas des-
se tornado depois conhecidas pela web tem
de cair nesta arma- sido mais frequente do que
dilha. Jamais esque- se imagina. Conforme uma
ça, escolhas virtuais pesquisa realizada pelo
podem resultar em Data Folha em 2015, 62%
prejuízos reais. dos jovens entrevistados
consideram nada seguro
conversar com desconhe-
cidos em redes sociais,
mas 57% já haviam se en-
contrado pessoalmente
com alguém que conhe-
ceram on-line.

40
No comportamento virtual dos adultos, se
espera que tenham o mínimo de bom senso
para saber se quem está do outro lado tem
boas ou más intenções. Mas e as crianças e
adolescentes, com quem elas estão se rela-
cionando virtualmente? Uma pesquisa reali-
zada pela ONG SaferNet Brasil com mais de
1.400 pessoas (entre crianças, adolescentes,
jovens, pais e mães) evidenciou que

dos menores en-


trevistados não possuíam restrições quanto
ao uso da internet. A pesquisa realizada na
Austrália, que foi citada anteriormente, mos-
trou que uma em cada cinco das quinhentas
crianças entrevistadas havia conversado com
estranhos pela internet. Sobre isso, o soció-
logo Zygmunt Bauman diz que “em tempos
de internet, falar com estranhos tem se tor-
nado algo muito comum, pois está preconi-
zando uma nova forma de habitar o mundo
globalizado. Os pais necessitam descobrir e
recriar novos meios de controlar a utilização
da internet para conseguir exercer a função
de cuidado e proteção, tão antigos e neces-
sários na educação dos filhos.”

41
Uma ativis-
ta dos direitos
infantis chama-
da Alicia Kozakiewicz
abriu sua experiência
pessoal ao mundo para alertar os pais do perigo que se
tornou para os menores a internet sem supervisão. Ela
não se achava inteligente, bonita nem popular e quando
conheceu um garoto na web que a valorizou, ela criou
fortes vínculos. Ele dizia ter a mesma idade dela, além
dos mesmo interesses por músicas e filmes. Era a pessoa
perfeita. Depois de alguns dias conversando ele propôs
um encontro. Após um jantar em família Alicia saiu es-
condida de casa e caminhou um quarteirão de distância
até o local do encontro; o que ela se lembra foi de um
homem de uns 30 anos a forçando a entrar num carro.
Ela foi levada para outro estado e mantida em cativeiro
por quatro dias até que o FBI conseguiu rastrear o IP do
sequestrador e prende-lo. Felizmente o caso da família
Kozakiewicz terminou bem, mas lamentavelmente ou-
tros milhares ainda não foram solucionados.

42
maioria dos delinquentes virtuais
trabalham com calma e vão gradual-
mente conquistando a confiança
dos seus contatos. Oferecem ternu-
ra, compreensão, empatia e as vezes
até presentes, mas a intenção final
é de prejuízo. Proteja a sua família
destes criminosos! Não coloque em
redes sociais informações pessoais
como telefone, endereço, locais que
frequentam, escola dos filhos, dias
que sairá de férias, etc. Aqui em San-
ta Catarina onde moro, num dos se-
questros que foi solucionado na cida-
de de Ilhota e conseguiram prender
os bandidos, os mesmos relataram à
mídia que todas informações da ro-
tina da família conseguiram através
do facebook.

43
Outro perigo nas relações
virtuais é o cyberbullying, que
ocorre com mais frequên-
cia do que imaginamos.
Como os adolescentes
passam muito tempo co-
nectados, a famosa violên-
cia psicológica, emocional
e às vezes física, deno-
minada de bullying, ga-
nhou dimensões virtuais.
E-mails ameaçadores,
apelidos nas redes so-
ciais, fotos comprome-
tedoras, comentários
maliciosos, torpedos
agressivos e outros tipos de ameaças têm aumentado significa-
tivamente no Brasil. Segundo a pesquisa do Data Folha de 2015
entrevistando adolescentes de 12 a 15 anos, 38% afirmaram já ter
sido ofendidos publicamente na internet. Existem dois agravan-
tes do cyberbullying que o diferencia do tradicional: o primeiro
é que o espaço virtual é ilimitado. Isso potencializa o poder de
agressão dando dimensões bem maiores do que numa escola.
O segundo é que sua atuação não se limita ao período da esco-
la, mas acontece a qualquer hora e lugar. Os danos emocionais
nas vítimas destas práticas podem ser irreversíveis, comprome-
tendo seu futuro. Em um dos casos que atendi de uma garota de
14 anos que havia cortado os pulsos, o que a motivou a cometer
o ato foi justamente as humilhações que ela sofreu no comen-
tário de uma das fotos que os colegas da escola publicaram no
facebook.
Previna-se do cyberbullying não postando fotos compromete-
doras nas redes sociais. Também não tire fotos íntimas com seu
celular, pois pode ser roubado ou hackeado. Mantenha atualiza-
do seu antivírus e sistema operacional. Cadastre senhas seguras
nos seus gadgets e não as compartilhe com ninguém. Jamais
deixe suas redes sociais abertas no celular ou no computador.

44
muitos são os casos de adoles-
centes que sofrem cyberbullying
e não falam nada com vergonha e
medo de não serem compreendi-
dos. Numa pesquisa realizado na
Inglaterra, apenas 17 % dos ado-
lescentes cogitaram em falar aos
pais que sofriam cyberbullying,
e 1% contariam aos professores.
Portanto estejam atentos a com-
portamentos estranhos do seu fi-
lho; como isolamento, não querer
conversar com amigos, não que-
rer sair de casa, mudanças drás-
ticas de humor, etc. E para solu-
cionar o problema é preciso gerar
confiança e apoiar a vítima, não
brigar ou acusar por ter compar-
tilhado conteúdo íntimo. Também
não caia no erro de negligenciar
o caso desconsiderando o sofri-
mento da vítima, pois como já fa-
lamos, para essa geração a vida
virtual tem um valor significativo.

45
A dinâmica da rede de computadores é um fator ainda
incompreensível e certamente um universo a ser explorado.
Interessantemente, ao mesmo tempo em que precisa haver
cautela sobre com quem manteremos conexão, alguns auto-
res chamam a atenção para o também perigo de não sairmos
da nossa zona de conforto. Por mais que a rede é uma jane-
la para o mundo e possibilita uma grande oportunidade de
ampliar o conhecimento, é possível que muitos da geração
atual estejam experimentando uma profunda imersão junto
apenas às pessoas de interesses e afinidades semelhantes.
A internet propicia um ambiente altamente personalizado
(customizado) e que reflete cada vez mais os valores pes-
soais ou grupais de cada internauta.
Com o acesso apenas ao que lhe interessa e com o poder
de bloquear e filtrar informações indesejadas, esta geração
corre também o risco de se fechar no mundo dos seus va-
lores pessoais e viver uma realidade personalizada, o que
limita sua visão de mundo. Para Rushkoff, “uma sociedade
que olhava para a internet como uma via para conexões al-
tamente articuladas e para novos modos de criação de sig-
nificado, está, ao contrário, achando-se desligada, destituída
de oportunidades, de pensamento profundo e de valores du-
radouros”.

46
Além de limitar nossa visão de mundo, as re-
des sociais podem potencializar comportamen-
tos marginais quando imersos num contexto
coletivo. Assim como na vida real pessoas num
grupo fariam coisas que jamais praticariam so-
zinhas, uma pessoa imersa no seu clã virtual é
capaz por exemplo de praticar um linchamento
virtual para alguém de quem discorda. Um so-
ciólogo e médico da universidade de Yale cha-
mado Nicholas Christakis explica o fenômeno
com base no chamado “viés de grupo”, tendên-
cia que temos a temer ou a odiar aqueles que
não enxergamos como semelhantes. Já o soció-
logo Richard Sennett chama de
tribalização: o impulso natu-
ral, animalesco, de solida-
riedade com os parecidos
e agressão aos diferentes.

Um exemplo claro desta


realidade são os aliciamentos
dos jovens por grupos mul-
çumanos radicais como o
estado islâmico. Milhares
de jovens do mundo todo
foram agenciados e disci-
pulados via web onde ti-
veram sua visão de mundo
limitada pela ótica mao-
metana radical.

47
A expectativa de que a web traria apenas benefícios para a
sociedade se mostrou ilusória. Uma das áreas sociais que tem
percebido também os reveses do mau uso da tecnologia foi
o mercado de trabalho. Atualmente, as empresas estão muito
preocupadas com a relação que seus colaboradores têm com
a internet. Tem ocorrida baixa de produtividade em diversas or-
ganizações devido a funcionários que desperdiçam horas de
trabalho navegando na rede ou conversando no whatsapp. Sem
falar nos casos de trabalhos manuais onde as distrações virtuais
tem contribuído para a ocorrência de acidentes, e o risco a inte-
gridade física dos trabalhadores.
Sendo esta a realidade de uma geração que na sua maioria
são imigrantes digitais e não nativos, a preocupação aumenta
quando se pensa a respeito
das futuras gerações
de trabalhadores.

Já na virada
do milênio, di-
versas empresas
norte-americanas
começaram a desen-
volver políticas para fiscalizar
e disciplinar seus colaboradores a respeito do uso da internet no local
de trabalho. Uma pesquisa feita pela Websense no ano 2000 com 224
empresas norte-americanas evidenciou que 64% delas já haviam dis-
ciplinado colaboradores pelo uso indevido da internet durante o ex-
pediente e mais de 30% haviam demitido algum funcionário por esse
motivo. No Brasil, recentemente, a empresa Triad PS realizou uma
pesquisa com 4100 profissionais sobre o uso da internet no trabalho e
constatou que 62% admitiram que se “perdem” navegando na inter-
net e acabam adiando atividades importantes. Além disso, 25% gas-
tam até uma hora diária no trabalho resolvendo assuntos pessoais na
web.

48
Sabendo que não existe retro-
cesso para a cultura digital, a solu-
ção para fugirmos dos perigos na
área social é levar a sério a relação
que temos com as tecnologias. Se
as relações reais são passíveis de
problemas, certamente as virtuais
também serão. O erro acontece jus-
tamente quando não identificamos
os riscos e negligenciamos o esta-
belecimento de limites.

49
50
Somos uma geração extremamente sobrecarregada de en-
tretenimento. Todos os dias surgem novos aplicativos para se-
rem baixados via celular, novos vídeos são postados, novos jo-
gos são desenvolvidos para o divertimento, o tempo aparenta
passar cada vez mais rápido e as novidades, que se originam
nos mais longínquos cantos do mundo, chegam até nós em
poucos segundos.
O problema é que diante de uma oferta tão grande, as pessoas
estão perdendo as prioridades e
enfrentado um desequi-
líbrio vital, especial-
mente as gerações
Y e a geração Z.
Estas gerações
tem gasto muito
tempo com “fu-
tilidades”, com
jogos, redes
sociais, celular,
Tv, séries, enfim,
muito tempo com
toda esta tecnolo-
gia e consequentemente
pouco ou nenhum tempo com
Deus. Infelizmente é uma geração em que a minoria se
dedica ao estudo das Sagradas Escrituras e leva a palavra de
Deus a sério. É também uma geração que perdeu a prática da
oração; o pouco que ora é para abrir a lista de pedidos ao deus-
-gênio da lâmpada, ou para alívio de sua própria consciência,
pois dobra o joelho antes de dormir por 2 minutos e considera
isso como relacionamento sério com Deus.

51
Falta periência com o Eterno, e isso ocorre porque o nosso
tempo está sobrecarregado de entretenimento. O engraçado,
para não dizer lamentável, é que nunca estamos entretidos o
suficiente, sempre queremos mais. Sempre queremos uma tv
maior, uma versão mais atualizada do jogo, uma plataforma mais
avançada de game, o celular de última geração, etc. O curioso
também é que o mundo sempre nos oferece mais e nos convence
de maneira descarada (através da mídia) a entrar neste sistema
insustentável de consumismo frenético adquirindo coisas que
jamais preencherão nossas necessidades espirituais e emocio-
nais. Essa busca maluca continuará acontecendo e o vazio no
coração humano continuará aumentando. Por isso Jesus deixou
bem claro em Mateus 6:33 so-
Mas, buscai primeiro o reino
bre o que deve ser a prioridade
de Deus, e a sua justiça, e todas
para quem deseja viver bem:
estas coisas vos serão acres-
centadas.

O homem foi feito em primeira


instância para Deus, como disse
Santo Agostinho: “Fizeste-nos,
Senhor, para ti, e o nosso cora-
ção anda inquieto enquanto não
descansar em ti”.
Se engana quem acredita que
encontrará o preenchi-
mento para este vazio
em toda tecnologia e
modernidade que nos
é oferecido, pois o va-
zio do coração humano
é do tamanho de Deus
e só pode ser preen-
chido por Ele.

52
As pessoas sabem que
estão perdendo o domínio
do tempo devido ao mal
uso das tecnologias de co-
municação e até tem feito
piadas sobre o problema.
É comum ver no facebook
imagens de brincadeiras,
como a tampa do fogão vi-
rando tela do computador
representando o sonho de
algumas mulheres, ou um
bebê indignando dizendo
que seus pais não saem
da frente do computador;
etc. Será que estamos
cientes do que a falta de domínio de tempo nas
redes sociais pode causar em nossas vidas?
Pode soar estranho, mas esta geração tem
buscado até o conhecimento e a revelação do
divino através dos meios de tecnologia. Em vez
de procurar saber mais sobre seu Deus pela pa-
lavra revelada, em reuniões de estudo e oração,
nos cultos de ensino, muitas pessoas hoje vão
ao google pesquisar sobre Deus ou ao cinema
para ver os filmes que apresentam temas bíbli-
cos, e o triste é que algumas voltam acreditan-
do nas alucinações produzidas por Hollywood.
O mundo parece muito interessado em produzir
entretenimento para os cristãos, mas infelizmen-
te os cristãos entretidos pelo mundo não estão
produzindo soluções para sua geração.

53
Sem tempo com Deus
igreja não se comporta
como igreja e cristão não
vive como cristão. Deixa-
mos de ser sal do mundo
e as trevas dominam onde
não há luz. As famílias cris-
tãs precisam lembrar nova-
mente que estar conectado
com Deus é mais importan-
te do que qualquer outro
tipo de conexão, é isso que
fará toda a diferença em
nossa socieda-
de.

Lembro quando
na minha adoles-
cência perdi o con-
trole do tempo ao co-
nhecer os jogos virtuais
de futebol “Fifa Soccer”. Foi como
se um ima me puxasse o tempo
todo para jogar. Chegava do tra-
balho e corria para o computador.
Voltava da escola e jogava. Antes
de ir para o culto jogava. Era pra-
ticamente todo o tempo quando
não estava nas atividades obriga-
tórias.

54
Só compreendi que esta-
va viciado e sendo prejudica-
do pelo jogo, quando Deus me
confrontou sobre quem esta-
va no trono de minha vida. Me
lembro que a partir daque-
le dia revi minhas prioridades
e corrigi a administração do
meu tempo. A escolha de in-
vestir mais tempo com Deus e
sua obra trouxeram resultados
profundamente positivos que
até hoje geram bênçãos em
minha vida.
Incentivo você a analisar seu
tempo. Redes sociais não po-
dem ter mais de você do que Efésios 5.15 : “ Tenham
Deus e sua família. cuidado com a manei-
John Piper falando deste as- ra como vocês vivem;
sunto disse: “Uma das maio- que não seja como in-
res utilidades das redes sociais sensatos, mas como
será provar no último dia que a sábios, aproveitando
falta de oração não era por fal- ao máximo cada opor-
ta de tempo”. tunidade, porque os
dias são maus.”

55
O evangelho genuíno de Jesus sempre foi um choque con-
tra qualquer cultura mundana, em qualquer época da história.
E logicamente não é diferente nos dias de hoje. Os princípios
apresentados para os que desejam viver por Jesus estão bem
distantes dos ideias hedonistas e egoístas defendidos pela hu-
manidade caída.
O que talvez diferencia este nosso tempo de globalização é
a rapidez e o poder de convencimento que estes ideais chegam
nos cantos do mundo gerando assim um maior contrastes com
a proposta do evangelho. Nosso mundo está mudando a cada
ano e parece que seus passos caminham cada vez mais para
longe dos valores da cruz. Na pesquisa citada acima do Data
Folha 2015, foram ouvidos 1.036 jovens. A pesquisa repetiu as
mesmas perguntas feitas em 2007 com a mesma faixa etária de
participantes, e o resultado mostra que os valores dos brasilei-
ros estão mudando.

56
A – O comportamento homossexual é
moralmente aceitável?
- Em 2007 – 50% responderam NÃO
- Em 2015 - 30% responderam NÃO

B – O Aborto é aceitável?
- Em 2007 – 85% responderam NÃO
- Em 2015 - 79% responderam NÃO

Foi tema da Revista


C – Fumar Maconha é aceitável?
TIME em 2013 a falta de
- Em 2007 – 73% responderam NÃO
engajamento dessa nova - Em 2015 - 67% responderam NÃO
geração em diversos as-
pectos sociais altruístas. D – Ver pornografia é aceitável?
É uma geração que se - Em 2007 – 78% responderam NÃO
tornou refém da opinião - Em 2015 - 51% responderam NÃO
dos outros, se preocupam
muito se terceiros gostam do que elas postam nas redes sociais.
Estão excessivamente preocupadas em quantas curtidas obte-
rão. Antigamente se valorizava as pessoas muito pelo ser e sa-
ber, já hoje é mais pelo aparentar. Somos a sociedade das apa-
rências. A sociedade que valoriza o ostentar, mesmo que você
não tenha precisa dar um jeito e parecer ter.
Para alguns nativos digitais, curtir virou sinônimo de amar.
Buscam a atenção para si, mas não tem olhos para o próximo
necessitado. Não visitam orfanatos, asilos ou se engajam em
uma organização com fins humanitários. E se fazem, tem como
objetivo se auto promover nas redes. Isso evidencia um alto ní-
vel de egoísmo e faz com que o evangelho se torne um oposto
indesejável.

57
Quem não sabe negar a si mesmo não está prepara-
da para seguir as diretrizes básicas do cristianismo cita-
das por Jesus em Lucas 9:23 “...Se alguém quer vir após
mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz,
e siga-me.”
Parece que a cada geração da população mundial o
ideal egoísta se torna mais latente. Estas mudanças so-
ciais antropocêntricas vem ocorrendo lenta e silencio-
samente sem que as vezes percebêssemos. Com o final
da segunda guerra mundial muitas famílias ficaram sem
pai, obrigando as mulheres a ir ao mercado de trabalho
e terceirizando a educação dos filhos. Nas décadas se-
guintes as mulheres passaram a desejar direitos iguais
e o mundo foi se tornando cada vez mais capitalista. A
união destes fatores gerou órfãos de pais vivos que ten-
tavam compensar sua ausência com uma melhoria na
“qualidade” de vida, proporcionando mais bens mate-
riais para seus filhos. Na lei da compensação, a ausência
vira presentes, desejos atendidos, e uma educação sem
negar nada ao filho. Por consequência disso as crianças
de hoje estão sendo criadas como se o mundo giras-
se em torno delas. Não podem receber um não como
resposta pois são o “centro do mundo” dentro daquela
casa. São pais e avós fazendo de tudo para atender o
desejo destes pequenos reis e rainhas.
Quando o verdadeiro evangelho chega a estas pes-
soas com um Cristo propondo uma vida de negação ao
eu, isso não faz o menor sentido para uma geração que
foi educada para estar no
trono. E para piorar o ce-
nário, vemos ainda certas
ramificações da “igreja”
distorcendo o verdadei-
ro evangelho ao
apresentar um
cristo papai-noel
para atrair esse
grupo.

58
Outro risco espiritual que a família na era digital tem
que estar atenta é com o acesso a pornografia. Infeliz-
mente hoje há famílias inteiras sendo destruídas através
deste mal. Pense que há 20 anos atrás o acesso a porno-
grafia estava muito limitada ao material impresso onde a
pessoa precisava ser maior de dezoito anos, ir até uma
banca e comprar uma revista; eventualmente o adoles-
cente teria acesso se pegasse emprestado de alguém,
mas havia todo um drama, uma maneira de se esconder
aquilo de forma com que não fosse descoberto.
Hoje uma pessoa simplesmente pega seu smar-
tphone, acessa a internet e assiste todo e qual-
quer tipo de pornografia que desejar na palma de
sua mão praticamente sem nenhum custo financeiro.
Os pais precisam repensar algumas práticas desta pós-
-modernidade. Dar aos filhos um celular com acesso a
internet, colocar um computador ou televisão no quarto
do filho, e não ter uma fiscalização diária sobre isto, pode
custar aos pais um preço que eles não estão dispostos a
pagar.
Atualmente, as dúvidas sexuais dos jovens e adoles-
centes estão sendo “esclarecidas” na web. O Dr. Google
desenvolvendo o papel de “educador” sexual das crian-
ças e adolescentes, certamente resultará no aumento de
experiências sexuais precoces, sexo sem proteção, múl-
tiplos parceiros, gravidez na adolescência e doenças se-
xualmente transmissíveis.

59
Pais, o computador deve ficar em um lugar comum da casa
onde todos tenham acesso e possam uns fiscalizar os outros;
não deixe que seu filho entre no quarto e feche a porta com o
laptop. Não estou propondo um extremismo, vetando o acesso
dos filhos aos meios eletrônicos, não se trata disso, pelo contrá-
rio elas precisam sim do acesso a tecnologia, isso é algo neces-
sário para que se possa ter uma profissão no futuro, mas não
negligencie os perigos do mundo virtual, e a disseminação da
imoralidade sexual através da web. O vicio em pornografia gera
culpa, distorce a valorização das pessoas, leva ao isolamento,
banaliza o sexo, leva a comparações injustas com o cônjuge,
insensibiliza o ser para a perversidade, gera confusão mental,
baixo autoestima, etc.
O papel dos pais é ensinar, trazer para o filho a consciência de
uma utilização saudável destes aparelhos. É saber orientar o filho
sobre um limite de quantidade de horas de utilização, de proibi-
ção de conteúdo inapropriado, de não deixar ir dormir com celu-
lar ou tablets; tudo isso ensinando que todas essas medidas são
para o bem dos próprios filhos. Alguns pais hoje caem no outro
extremo de bloquear o acesso dos filhos a qualquer tecnologia.
Isso também é ruim pois grande parte das profissões de hoje e
de amanhã exigem conhecimentos nesta área, e desta maneira
você estará limitando as oportunidades profissionais dos seus
filhos. A solução é nós adultos fazermos bom uso dos gadgets
e introduzi-los aos poucos na vida dos filhos com orientação,
amor e cuidado. Isso é cumprir a instrução de Provérbios 22:6
“Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando
envelhecer não se desviará dele.”

60
A expressão usada é NO caminho, você tem que estar
no caminho para poder ensinar e conduzir seu filho. Pre-
cisamos estar presente também na vida virtual de nossos
filhos para poder ensinar, fazer as devidas restrições e for-
mar o caráter deles segundo a vontade de Deus.
Voltando a falar da pornografia, infelizmente temos vis-
to este mal destruir diversos lares; e não estamos falando
somente sobre as crianças e adolescentes, mas também
sobre adultos, mulheres e até idosos. A pornografia tem
sido um grande complicador da vida espiritual cristã nes-
te mundo cada vez mais informatizado. Mais de 30% dos
acessos ou do volume de navegação da internet está rela-
cionado a pornografia e infelizmente a tendência é aumen-
tar a cada ano, pois além de ser de fácil acesso e garantir
privacidade, se tornou para os produtores uma indústria
altamente lucrativa.
Precisamos estar atentos a este problema que não mais
se limita a gênero, classe social ou religião. Se você está
sofrendo deste mal, peça ajuda, fale com sua esposa ou
esposo, com seu pastor, com um amigo de confiança, mas
não deixe que isto te domine. Ficar com vergonha não trás
solução, dificilmente você irá vencer esse mal sozinho.
Existem alternativas: fuja
da tentação, peça ao cônju- O aumento epidêmico do uso das tecno-
ge para colocar uma senha logias de comunicação e informação pelo
de acesso restrito no com- homem tem levado os profissionais de di-
putador, celular ou TV; não versas áreas a estudarem o impacto e as
fique sozinho na utilização consequências deste comportamento no
dos equipamentos; saia de ser humano. Além dos riscos psicológicos,
grupos virtuais (watsapp) sociais e espirituais, ultimamente muitas
que compartilham este tipo crianças e adolescentes têm desenvolvi-
de material; ocupe a mente do problemas de saúde física por influên-
com coisas boas; etc. cia direta das tecnologias.

61
Com o advento do youtube e a facilidade em se postar vídeos
na internet, todo tipo de conteúdo tem seu espaço, e a disse-
minação de várias ideologias, comportamentos e linguagens,
se tornou inevitável. Além de poder compartilhar com o mundo
seu vídeo, pode ainda lucrar com ele dependendo o número de
acessos. Isto resultou numa geração de jovens que fazem de
tudo chamar a atenção e atrair expectadores para seus vídeos.
O uso frequente de linguagem degradante e imoral se tornou
popular nos canais mais famosos do youtube e uma geração
imensurável vem consumindo este lixo diariamente.
O problema é que aquilo que se ouve muito se acostuma e
se reproduz, por isso o vocabulário de nossos jovens e adoles-
centes está assustador. Visite uma escola na hora do intervalo e
você verá adolescentes falando de modo imoral e desrespeito-
so, reproduzindo as coisas que tem visto e ouvido nesses tipos
de vídeo. Isso ocorre também nas redes sociais, onde pessoas
deixam seus princípios cristãos de lado e passam a se ofender
mutuamente por questões banais.
O escritor aos efésios nos dá uma excelente recomendação em
4:29 “ Não saia da vossa boca ne-
nhuma palavra torpe, mas só a que
for boa para promover a edificação,
para que dê graça aos que a ou-
vem.”
Além da internet, no cinema, na
televisão, nos filmes brasileiros, po-
demos contar nos dedos quais não
apresentam linguagem e conteú-
do inapropriado. Nossas crianças
e adolescentes tais como esponjas
estão absorvendo este conteú-
do em seu comportamento e
precisam ser corrigidos e ree-
ducados.

62
Esses meios eletrônicos invadiram todos os
ambientes sociais e consequentemente chega-
ram também na igreja. Como falamos, a tecnolo-
gia em si não é maléfica, o prejuízo vem com a má
utilização, e isto tem acontecido quando o celular
ou tablete rouba nossa atenção durante o culto.
Não estamos querendo proibir a utilização ou
restringir os acessos dos aparelhos aos cultos,
mas precisamos de disciplina. Observe durante
o culto a quantidade de pessoas que se distraem
com o celular, seja para acessar whatsapp, face-
book ou para tirar um selfie e publicar a foto nas
redes sociais. Me pergunto como Deus está ven-
do tudo isso? Aonde está a reverência diante da
santidade do Eterno?
Não deixe satanás se utilizar da tecnologia para
tirar sua atenção do culto. Estamos pecando por
falta de reverência na casa do Senhor. Precisa-
mos de um cuidado extremo, de zelo, de discipli-
na e muitas vezes de praticar a renúncia e deixar
o smartphone em casa ou no carro. Precisamos
parar e repensar a maneira de cultuarmos na pós-
-modernidade pois corremos um sério risco de
estarmos brincado com o sagrado.

63
Muitos são os riscos
espirituais que vem junto
com a má utilização das
tecnologias de comunica-
ção. Poderíamos falar de
muitos outros assuntos,
mas creio que já tivemos
um alerta sobre como o
não saber lidar com es-
tes aparelhos pode afe-
tar nosso relacionamen-
to com Deus. Desejo que
você coloque “parapeitos”
na sua vida espiritual e na
de sua família. Parafra-
seando as palavras de Je-
sus; se teu celular, tablete,
computador te leva a pe-
car, quebre-o e jogue fora,
mais vale entrar no reino
de Deus desconectado do
que ser lançado no infer-
no tendo toda paraferná-
lia tecnológica. (Mt 5.29)

64
65
Um dos casos mais comuns entre
os jovens e adolescentes tem sido a
surdez temporária e em alguns casos
definitiva devido ao uso errado dos
fones de ouvido. A possibilidade de
fazer download da música que dese-
ja e reproduzi-la no celular onde es-
tiver, sem atrapalhar outras pessoas,
tem feito a humanidade se relacio-
nar diferentemente com a música. É
comum ver esta geração com suas
orelhas ocupadas pelos fones de ou-
vido em altíssimo volume, recebendo
ruídos de alta potência sonora que
causam trauma acústico. Um estu-
do publicado no Proceedings of the
National Academy of Science afirma
que fones de ouvido são tão perigo-
sos para a audição quanto o barulho
de turbinas de avião. Se mudanças
não acontecerem, teremos em breve
uma geração surda.

66
Outro caso preocupante
tem sido a “síndrome dos olhos
secos”. Quando os olhos ficam
muito tempo na frente de telas
de tv, celular ou computador, e
não são descansados, aconte-
ce falhas na produção lacrimal
que, consequentemente, acar-
reta em coceira, ardume, visão
embaçada e irritação. Quando
o ambiente tem ar-condicio-
nado, o processo é ainda pior.
Sobre estes perigos oftalmo-
lógicos, a médica pediatra Su-
sana Graciela Estefenon afir-
ma que biologicamente, nosso
olho está acostumado a olhar
para objetos iluminados e não
diretamente para fontes de luz,
como são os monitores ou te-
las. A luz excessiva pode pro-
vocar fototoxidade, que con-
siste na lesão das células da
retina responsável por captar
o sinal eletromagnético da luz
e depois transformá-lo em in-
formação para o cérebro.

67
Falando sobre o impacto
da tecnologia na saúde, não
podemos esquecer-nos das
mãos e dos dedos que tam-
bém têm sofrido seus reve-
ses. O longo tempo que se
gasta jogando videogame e
a grande quantidade de pa-
lavras escritas nos teclados
do celular e computadores
tem desenvolvido sérios pro-
blemas nas articulações e
fortes dores nos punhos. De
acordo com a empresa Niel-
sen, adolescentes chegam Sendo ainda o com-
a enviar mensalmente 3.500 putador de mesa e o
mensagens de textos pelo laptop importantes
celular, o que sobrecarrega meios de acesso à in-
músculos e tendões. ternet, outra área muito
Segundo especialistas, os afetada devido ao tempo
movimentos rápidos e repe- exposto diante destas tec-
titivos das mãos propiciam o nologias é as costas. A
aparecimento de tenossino- má postura tem levado
vite, tendinite ou bursite. Es- pessoas a desenvolve-
sas lesões, conhecidas como rem sérios problemas
lesões por esforço repetitivo de coluna. Segundo a
(LER), são insidiosas e de di- Organização Mundial
fícil tratamento. de Saúde (OMS), em al-
guns países, como nos
Estados Unidos, 38% dos
adolescentes já apresen-
tam problemas posturais
e sintomas estatistica-
mente iguais ao da popu-
lação idosa.

68
Tem aumentando muito o
numero de pessoas que so-
frem de eletrohipersensibili-
dade, doença onde a pessoa
sente mal estar em lugares
que transmitem ondas. Seja
um roteador de wi-fi ou ante-
nas de celular. Desidratação,
vista embaçada, irritabilida-
de, insônia, dores de cabeça,
etc, são alguns sintomas re-
latados pelas vitimas desta
doença. Pesquisadores acre-
ditam que 5% da população
já sofre deste mal, e a grande
maioria ainda não sabe pelo
fato dos diagnósticos esta-
rem apenas em nível inicial.
Infelizmente não há cura, a
não ser se isolar totalmente
destas tecnologias de comu-
nicação.

69
A internet também tem tido um pa-
pel fundamental no aumento dos casos
de transtornos da alimentação. O papel
que a TV exerceu na percepção de cor-
po perfeito, hoje é intensificado pela rede
de computadores que continua estereo-
tipando a magreza como o ideal. Com
as redes sociais, as pessoas passaram a
ser o principal conteúdo nesta mídia, as-
sim cada um precisa compartilhar uma
imagem que venha agradar uma socie-
dade que cultua o corpo. Conforme es-
pecialistas a insatisfação de muitos ado-
lescentes com o próprio corpo os tem
levado a condutas extremas, dietas rigo-
rosas, excesso de exercícios físicos, vô-
mitos provocados após as refeições, uso
de anabolizantes, laxantes, diuréticos e
outras substâncias. Os sites que estimu-
lam a anorexia, a bulimia e o uso de ana-
bolizantes são frequentemente visitados
por menores de idade. Há tempos atrás
quando uma garota entrava para o mun-
do da anorexia, a oposição que recebia
dos familiares e amigos tinha mais força
para leva-la a rever este comportamen-
to. Hoje em dia, enquanto tem
10 pessoas ao seu redor
falando para não pra-
ticar, na internet tem
10 mil a incentivan-
do, afirmando que
assim ela estará lin-
da e será aceita.

70
Outro comportamento que tem se tornado comum nos últi-
mos tempos e feito parte da rotina diária dos adolescentes é o de
levar celular, tablets e até laptop para a cama na hora de dormir.
O que muitos não sabem é que esta atitude pode comprometer
significativamente a qualidade do sono. Quanto maior o tempo
de uso dos aparelhos eletrônicos perto da hora de dormir, pior
será a noite de sono de uma pessoa, pois a luminosidade emi-
tida pelas telas pode comprometer a qualidade do descanso.
Sobre isso, os médicos afirmam que a retina contém células fo-
tossensíveis que ajudam o cérebro a regular nosso relógio bio-
lógico, aquele responsável pelos ciclos de sono-vigília, controle
da temperatura corporal e mudanças hormonais. Assim, ao ser
atingido pelo brilho das telas, seu ritmo biológico pode ser des-
regulado.
Um estudo feito no Centro Médico JFK, nos EUA, com da-
dos coletados na amostra de 40 crianças e jovens adultos com
idade variando entre 8 e 22 anos, no qual evidenciou que aque-
les que mais faziam uso de tecnologia antes de dormir eram
também os que mais relatavam dores nas pernas, insônia, além
de diversas condições, como Transtorno do Déficit de Atenção
e Hiperatividade (TDAH), ansiedade, depressão e dificuldades
de aprendizado. As análises também mostraram que 77,5% dos
participantes tinham problemas persistentes para dormir (difi-
culdade de pegar no sono) e, em média, despertavam do sono
profundo ao menos uma vez por noite. Sobre o sono e as conse-
quências físicas, outro médico chamado Marco Antônio Chaves
Gama afirma que com a diminuição das horas de sono, a produ-
ção de diversos hormônios pode ficar alterada, como: melatoni-
na; cortisol; hormônio do crescimento; leptina, responsável pela
sensação de saciedade; interleucinas, que ajudam o organismo
a se defender de infecções; e a insulina, que processa a glicose
e previne a obesidade e o diabetes.

71
Essa turma acorda que nas-
ceu com os dois pés no mundo
virtual, vive e dorme conectados
a tecnologia, principalmente aos
seus smartphones. Estes celu-
lares avançados em tecnologia,
trouxeram como uma importante
ferramenta as câmeras fotográficas embutidas, o que desen-
cadeou na prática de tirar foto de tudo e todos. As imagens
preferidas são as selfies (fotos de si mesmos), que geralmen-
te são publicadas nas redes sociais onde os amigos e conhe-
cidos podem curtir e comentar.
Até aí tudo bem; o problema surge quando certas pessoas
querem estar ativos na vida digital mas não lidam bem com
a própria imagem. Alguns entram numa saga em busca da
foto perfeita e desenvolvem uma obsessão desenfreada que
apenas resulta em ansiedade e frustração. A isso chamamos
de selfcidio, transtornos psicológicos gerados pelo descon-
tentamento com a imagem pessoal nas selfies.
A principal patologia é o transtorno dismórfico corporal,
manifestada por uma extrema preocupação com algum de-
feito real ou imaginário no corpo.
Muitas pessoas sofrem com isso sem nem perceber, gas-
tam minutos e horas tirando centenas de fotos para achar
a imagem perfeita. Em casos extremos, pessoas decidiram
fazer plástica para corrigir falhas, que na maioria das vezes
nem existem.
Este é um assunto sério, pois geralmente o selfcidio reve-
la outros problemas como: baixo autoestima, dificuldade nos
relacionamentos, depressão, ansiedade, transtorno narcisis-
ta, busca equivocada por aceitação, etc.

72
Este transtorno afeta pes-
soas de todas as idades,
mas as pesquisas reve-
lam que o maior índice
são em mulheres entre 12
e 20 anos. Especialistas
afirmam que geralmente
os selfcidas se comparam
com o padrão de beleza
imposto pela mídia e al-
mejam uma perfeição que
jamais encontrarão.
Uma pesquisa na Ingla-
terra com 2.000 meninas
entre 16 a 25 anos cons-
tatou que elas gastavam
5 horas semanais envol-
vidas com seus selfies. 48
minutos por dia tentando
encontrar a pose e a ima-
gem perfeita para as redes
sociais.
A superação para este
mal está em identificar o
transtorno e reconhecer
que somos todos diferen-
tes, cada um tem sua be-
leza exclusiva e não pre-
cisamos cair na cilada da
comparação.

73
Todos sabem que álcool e direção não combinam, mas poucos
percebem que celular e direção também acarretam os mesmos
riscos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde , no
mundo já são mais de 1,3 milhão de acidentes por ano relaciona-
dos ao uso do celular na direção. Segundo o departamento de
trânsito dos Estados Unidos da América, um em cada 4 aciden-
tes ocorre por algum motorista estar usando o celular. Na Espa-
nha 51,74% dos acidentes com lesões em 2014 foram causados
por falta de atenção na condução gerada pelo uso do aparelho.
Estes dados evidenciam que o fator álcool e drogas como cau-
sa de acidentes de trânsito já perde para a distração com o uso
do celular. No Brasil, o código de trânsito proíbe o celular des-
de 1997, mas o uso continua intenso. Alguns até pensam que o
proibido é falar no celular, mas a lei proíbe o uso do mesmo para
qualquer tarefa.
Quem digita mensagem de texto ao volante tem 23 vezes mais
chances de sofrer um acidente. De acordo com o departamen-
to de transito norte americano, uma simples ligação aumenta o
risco de acidente em seis vezes. Fazer mais de uma atividade im-
portante ao mesmo tempo aumenta significativamente o risco de
que uma delas saia mal, pois o tempo de resposta diminui.
Atenção pais, não brinque com coisa séria. Sua vida e de sua
família valem mais que uma mensagem ou uma ligação. Não
espere algo terrível acontecer para fazer as mudanças necessá-
rias.

74
Qualquer coisa na existência humana que não
for feita com equilíbrio trará seus prejuízos. A saú-
de pode ser drasticamente afetada quando a rela-
ção das pessoas com as tecnologias não estiverem
embasadas neste princípio. As novas gerações pre-
cisam de muita orientação para que sua proteção
integral não seja anulada pelo uso desregrado da-
quilo que era para ser bom. Incentive sua família a
desenvolver atividades na natureza, praticar espor-
te, e que tenham muitos momentos de lazer fora das
tecnólogas de comunicação.

75
Nunca na história da humanidade as pes-
soas precisaram lidar com uma quantidade
tão grande de informações em um interva-
lo tão curto de tempo. Todo este processo
gera uma filtragem e reflexão diferente das
outras gerações, resultando em comporta-
mentos também diferentes.
A conectividade contemporânea tem
seus riscos quando utilizada indevidamen-
te, mas com educação e disciplina é possí-
vel levar nossas famílias a desfrutarem da
tecnologia sem perder uma qualidade de
vida baseada em princípios.
As previsões mundiais indicam que o se-
tor das tecnologias de conexão continuará a
crescer em todos os países. Como cristãos,
precisamos avaliar as tendências que afe-
tam diretamente nosso lar e construir ”para-
peitos” que venham proteger nossa família
dos males da pós-modernidade. Enquanto
muitas famílias não se protegem e perecem,
que a sua, venha se aproveitar inclusive das
novas tecnologias para fortalecer os rela-
cionamentos, aperfeiçoar o amor e viver in-
tensamente os propósitos de Deus.

76
77
A comunicação sempre fez parte da
vida humana. Não poderia existir comu-
nicação sem sociedade e nem sociedade
sem comunicação. É um dos fenômenos
mais importantes da espécie humana. As
formas de comunicação sempre transfor-
maram a sociedade e não poderia ser dife-
rente em nossos dias, mas não podemos
ignorar o fato de que as transformações
contemporâneas estão mais rápidas do
que antes.
Os pesquisadores ainda buscam che-
gar a uma conclusão definitiva a respei-
to do início da comunicação humana,
mas, independente das teorias a respeito
do desenvolvimento humano, o consen-
so de probabilidade é que os primeiros
seres humanos vivessem numa mesma
zona geográfica e que possuíam a mes-
ma maneira de se comunicar (linguagem,
gestos, ruídos etc.), estando em conexão
direta uns com os outros. Segundo Bor-
denave (1982), o homem chegou às asso-
ciação dos sons e gestos para designar
um objetivo, dando origem ao signo.
Com a evolução da linguagem e das tecnologias, o processo
de conexão com outras pessoas foi sendo facilitado. Tivemos a
escrita desenhada ou pictográfica, hieróglifos e cuneiforme. De-
pois, a elaboração do alfabeto, a invenção do papel para substituir
argilas, pergaminho e papiro, a imprensa para produzir livros em
série, os mensageiros para levar mensagens, ou pombo correio
em outros casos, telégrafo, telefone; áudio reproduzido, fotogra-
fia, cinema, rádio, televisão, computador, celular; internet, smar-
tphone, tablets e assim continua um processo que está cada vez
mais acelerado.

78
Como afirma Rushkoof, cada etapa abre um
leque para outros desenvolvimentos:
No curso de longa experiência, cada
revolução na mídia oferece as pes-
soas uma perspectiva inteiramente
nova por meio da qual podem se rela-
cionar com seu mundo. A linguagem
impulsionou o aprendizado compar-
tilhado, a experiência cumulativa e a
possibilidade de progresso. O alfabe-
É certo que todas estas to conduziu à responsabilização, ao
novas tecnologias trazem pensamento abstrato, ao monoteísmo
grande benefícios para a e ao direito contratual. A imprensa e
sociedade contemporânea e, a leitura em particular levaram a uma
consequentemente, promovem experiência de individualidade, a um
outras maneiras de se comunicar. relacionamento pessoal com Deus, á
Isto já está bem evidente na reforma protestante, aos direitos hu-
mentalidade humana, pois quase manos e ao Iluminismo. Com o adven-
todas as pessoas que habitam to de uma nova mídia, não só o status
nas regiões urbanas desfrutam quo é submetido a um exame minu-
diariamente dessas vantagens. cioso, como é revisado e reescrito por
Ninguém discorda que a internet aqueles que ganharam novo acesso
facilitou a comunicação entre as ás ferramentas de sua criação. (2010,
pessoas, aumentou a capacidade p. 13).
de pesquisa, potencializou as
transações comerciais, enfim,
trouxe o mundo na palma da
nossa mão. E justamente quem
mais pode exaltar a utilidade da
rede global é a geração Y, isto é,
pessoas que nasceram de 1980
em diante. São eles os que mais
desfrutam das ferramentas e
dispositivos que surgiram a partir
do nascimento da web.

79
O momento de inten-
sa conectividade que es-
tamos vivendo hoje tem
uma ligação direta com o
surgimento da internet.
Por volta dos anos de
1960, nos Estados Uni-
dos, o departamento de
defesa deste país criou uma rede a fim de ligar as informações
dos seus laboratórios de pesquisas. Em 1974, a ARPAnet abriu
o seu leque de atuação, distanciando-se da pesquisa exclusiva-
mente militar, iniciando a primeira versão não-militar chamada
de Telnet. Neste mesmo ano, o termo Internet foi usado pela pri-
meira vez, num estudo de Vincent Cerf e Robert Kahn. Esta fer-
ramenta foi evoluindo a cada ano e se tornou a “cereja do bolo”
do final do milênio, no que se refere à evolução na comunica-
ção. A internet tomou uma dimensão tão grande no mundo que
abrange a maioria das atividades da vida humana contemporâ-
nea. Hoje, estamos no modelo denominado de web 2.0, termo
definido por Tim O’Reilly, que tem como principal característica
a interação entre os internautas com conteúdos produzidos e
compartilhados por eles mesmos.
No Brasil, a internet chegou a alguns centros acadêmicos por
volta de 1988, mas seu real crescimento se deu a partir de 1990,
e como em todos os lugares do mundo, teve um crescimento
epidêmico. Conforme citamos anteriormente, os brasileiros co-
nectados à internet já passaram dos 105 milhões.
Esta fantástica ferramenta facilitou e potencializou a conec-
tividade entre as pessoas e foi ganhando espaço nas mais di-
versas áreas de atuação humana. Sobre o impacto da internet,
Bauman (1999) já ressaltava há mais de uma década que esta se
tornou uma plataforma tão importante para o desempenho das
mais variadas atividades humanas (econômicas, políticas, edu-
cacionais etc.), que chegará um momento que as pessoas não
conseguirão viver “normalmente” sem ela.

80
Desde o início da web, o desejo das
pessoas de se manterem conectadas
aumentou significativamente. Assim, as
indústrias buscaram novas maneiras de
proporcionar a conexão. Do computa-
dor de mesa passamos para o laptop,
do laptop para os tablets e celulares
que, mesmo cabendo na palma da mão,
cumprem eficientemente a comunica-
ção instantânea.

81
Uma importante mudança social no que se re-
fere à comunicação foi a chegada do celular de-
sempenhando o papel de conectar pessoas. Inicial-
mente criado para fins profissionais, passou a ocupar
também a vida privada do ser humano se tornando
um dos utilitários indispensável no dia a dia. Segun-
do o especialistas, no planeta já são contabilizadas
6,5 bilhões de linhas telefônicas. Levando em conta
que somos um pouco mais de 7 bilhões, é eviden-
te que a tecnologia já chegou a locais onde nem a
água potável se faz presente.
Devido a grande adesão ao uso desta inovação,
estamos vivendo um fenômeno social que vem alte-
rando a maneira de se comunicar, trabalhar e até de
se divertir. Com o melhoramento dos celulares e o
surgimento dos smartphones, o proprietário destes aparelhos,
além de poder ligar e mandar SMS, tem, com o acesso à inter-
net com inúmeros aplicativos, possibilidades infinitas de ativi-
dades.
A combinação de multifuncionalidade e mobilidade dos smar-
tphones tem sido o objeto de desejo das gerações Y e Z. Um
aparelho móvel com funções de: chamada de voz, texto, foto,
filmagem, vídeo, GPS, relógio, MP3, agenda, games, internet,
calculadora etc; deixa palpável a sensação de liberdade e segu-
rança tão necessária aos jovens.
Segundo a pesquisa Data Folha 2015, 76% dos mais jovens cos-
tumam acessar a rede pelo celular, índice maior que qualquer
dos outros aparelhos pesquisados; notebook, computador de
mesa, tablet, videogame e smart TV.
O exemplo citado na introdução de uma adolescente que ti-
nha como sonho de vida ter um iphone de última geração, foi
uma experiência que eu ouvi em gabinete e infelizmente conti-
nuo ouvindo. Esta geração está tão obcecada pelas tecnologias
que os ideais de mudanças sociais tão almejados nos tempos
de nossos pais e avós não são sequer cogitados.

82
As inovações tecnológicas são utilizadas por
todos os tipos de pessoa, mas se tornam mais
atraentes, principalmente, para os “nativos di-
gitais”, aquela geração que sabe falar a língua
da tecnologia digital. Conforme vimos até aqui,
num mundo globalizado que possibilita realizar
diversas conexões instantâneas e oferece infi-
nitas opções de entretenimento a partir da in-
ternet, a maioria das crianças e adolescentes
contemporâneos passaram, literalmente, a viver
vidas digitais e ter suas personalidades construí-
das de maneira diferente das gerações anterio-
res. A citação abaixo, a qual relata pensamentos
de autores renomados, comprova isto:

Estudiosos do tema, como os sociólogos canaden-


ses D.Tapscott e B. Tulgan, tem caracterizado essa
geração como ‘NetGeneration’, ‘Geração Y’, ‘Geração
Digital’ entre outras denominações. Esses que hoje
são jovens adultos, adolescentes ou ainda crianças
cresceram e crescem na era da comunicação instan-
tânea. É comum que eles estejam frequentemente
conectados a alguma mídia, muitas vezes a mais de
uma simultaneamente. São consumidores de TV, rá-
dio, internet, celular, videogames, entre outros. São
sujeitos criados não somente num contexto globa-
lizado, mas que também desenvolveram uma visão
globalizada, complexa e com uma compreensão in-
tuitiva das tecnologias atuais. Sendo assim, tendem
a ser sujeitos curiosos e flexíveis. (WAGNER , 2009).

83
Além das evoluções tecnológicas influenciarem direta-
mente na personalidade da geração Y e Z, as mudanças so-
ciais também são mais rápidas a cada ano e influem no pro-
cesso de amadurecimento. Nos últimos anos, o número de
mulheres que entraram no mercado de trabalho e não pude-
ram mais ficar todo tempo cuidando dos filhos foi imenso; o
sistema capitalista ganhou mais força e exige dos operários
mais produtividade, fazendo-os sempre trabalhar mais. Com
isso, vemos a terceirização da educação dos filhos para as
escolas, creches e, no caso dos adolescentes, para a mídia e
amizades. Hoje, é comum ver adolescentes passarem horas
a fio sozinhos em casa, na frente da TV ou do computador,
sem nenhum tipo de acompanhamento ou limitação de con-
teúdo.
No universo da web, a possibilidade de conteúdo a ser ab-
sorvido é imensurável e todas elas podem trazer profundos
impactos na vida de quem está construindo um alicerce de
existência. De acordo com os dados relatados na introdução,
um dos maiores atrativos dos adolescentes na web têm sido
as plataformas de redes sociais. Há um tempo, o Orkut era o
grande passatempo da moçada, hoje é o Facebook, watsapp,
instagran, etc. Estas redes são ferramentas utilizadas diaria-
mente por bilhões de pessoas, a fim de expor ideias e opiniões,
divulgar fotos, vídeos, eventos, bater papo, interagir através
de aplicativos, etc. Segundo o médico Michael Rich, as redes
sociais estão entre os principais geradores desta conectivi-
dade compulsiva hodierna, que leva as pessoas a verificarem
o tempo todo o que está acontecendo no mundo virtual. Mas
não são apenas elas, os games online que possibilitam vários
jogadores participarem do mesmo jogo simultaneamente e
os games de continuidade que segue acontecendo mesmo
quando o jogador dorme, têm gerado a necessidade de estar
online pelo maior tempo possível.

84
Falar da era digital e não falar dos games é
negligenciar uma importante “fatia deste bolo”.
Muitas pessoas não tem a noção de que hoje
o maior mercado de entretenimento já são os
jogos eletrônicos. Superou Hollywood e toda a
indústria do cinema. Isso ocorre porque há cada
vez mais pessoas jogando e se viciando nesta
brincadeira virtual. Temos que reconhecer que
realmente os jogos são muito bem feitos, bem
produzidos, com bons gráficos e nos envolvem
completamente. Sem que você perceba pode
passar horas a frente de um videogame. Uma edição da re-
vista Veja do fim de 2013 trouxe alguns dados interessantes
a respeito dos games no mundo. Segundo a revista a quan-
tidade de jogadores assíduos no mundo já passou de 1 Bi-
lhão de pessoas; no lançamento do XBOX ONE e PS4, ambos
venderam mais de 1 milhão de consoles já no primeiro dia e o
faturamento anual deste mercado passa de US$ 70 Bilhões.
Mais uma vez o Brasil se apresenta forte como consumidor,
tão forte que começou a ocorrer algo inédito; os jogos come-
çaram a ser produzidos e narrados totalmente em português
brasileiro, um fenômeno que começou com a narração dos
jogos de futebol e já se estendeu para as maiores franquias
de jogos mundiais. O vício aqui na terra tupiniquim só não
é maior devido a gigantesca carga de impostos, a maior do
mundo, o que inviabiliza o acesso a todas as camadas da so-
ciedade.

85
Além de viciantes, muitos
jogos trazem em si a questão
da violência, cada vez mais
real e com boas opções de
enredo. Não quero ser ex-
tremista neste assunto ale-
gando que os jogos violentos
criam bandidos, mas precisa-
mos sim estar atentos. Qual-
quer psicólogo confirmará
que a exposição frequente a
uma situação gera um efeito
progressivo de tolerância em
nossa mente. O
A adição aos
uso intenso des-
vídeo games tem
ses jogos tem
sido um assunto
sim a capacida-
tão sério, que a 5ª
de de dessen-
edição do Manual
sibilizar nosso
Estatístico e Diag-
repudio a violên-
nóstico dos Trans-
cia nos fazendo
tornos Mentais,
ficar acostuma-
o DSM-5, incluiu
dos com ela.
como nova ca-
tegoria de doen-
ça psiquiátrica o
“Internet Gaming
Disorder”, que se-
ria um novo trans-
torno mental de-
corrente do uso
excessivo dos vi-
deogames.

86
Com a internet, o estímulo ao consumo ga-
nhou novas formas e muita força. Hoje você
pode comprar coisas do mundo inteiro com al-
guns clicks no seu mouse sem sair do conforto
de casa, ou através de poucos toques no celu-
lar. Entendendo a oportunidade neste campo,
os comerciantes e varejistas tem investido pe-
sado no comercio eletrônico, e boa parte dos
lucros já vem das vendas online. Hoje é rápido,
prático e seguro comprar na internet.
A tecnologia está tão avançada que se você
fizer buscas no Google, ele consegue gravar
esta informação e colocar em links patrocina-
dos como assunto de seu interesse.. Quando
você pesquisa por um produto nos principais buscadores,
logo a inteligência artificial entenderá o que você deseja e
vários banners surgirão nos sites onde você visita chamando
a sua atenção com ofertas e promoções! Na verdade, com os
assistentes virtuais dos smartphones modernos, até mesmo
as palavras chaves que você fala durante o dia é catalogado
e transformada em sugestões de comprar na sua navegação
virtual Esta facilidade tem também um lado perigoso devido
a indisciplina financeira de muitas pessoas. O número de en-
dividados que se perderam justamente no comércio virtual
(e-commerce) tem aumentado a cada ano.
A ganancia ao dinheiro pode tomar enormes propor-
ções na web onde tudo se compra e vende. Na deepweb (ou
darkweb) por exemplo, que é outro nível na rede de compu-
tadores onde o conteúdo não é indexado pelos mecanismos
de busca padrão, pode-se comprar drogas, armas, órgãos
humanos, senhas de cartão de créditos, falsos diplomas,
contratar assassinos de aluguel, e outros tipos de serviços
bizarros.

87
O descontrole
consumista é incen-
tivado diariamente
a entrar dentro da
nossa família, não
se restringindo ao
sonho dos pais, mas
envolvendo tam-
bém um estímulo de
desejo nos filhos. Se
não nos atentarmos,
isso pode destruir
casamentos, rela-
cionamento entre
pais e filhos, e for-
mar crianças con-
sumista impulsivas
que não sabem li-
dar com a diferença
entre o necessário
e o supérfluo. Isto é
muito sério, e preci-
samos nos atentar a
estas mudanças.

88
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