Espiritualidade Cristã Completo
Espiritualidade Cristã Completo
Espiritualidade Cristã Completo
ESPIRITUALIDADE
CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida
Profunda em Deus
Monte Mor/SP
2018
Esta apostila foi redigida a partir das videoaulas ministradas na Escola
Convergência de Teologia & Vida Cristã EAD (Ensino a Distância) e
outros materiais didáticos relacionados, cujas referências constam no
corpo da mesma.
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Copyright© 2018 por Escola Convergência
Todos os direitos reservados
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Autor:
Harlindo de Souza
Revisão Teológica:
Harlindo de Souza
Revisão Final:
Maria de Fátima Barboza
Diagramação:
Fabi Vieira
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Esta apostila ou qualquer parte dela não pode ser reproduzida
ou usada de forma alguma sem autorização expressa da Escola
Convergência, exceto pelo uso de citações breves desde que
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Sumário
Aula 1
A Disciplina da Meditação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Aula 2
A Disciplina de Oração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Aula 3
A Disciplina do Jejum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Aula 4
A Disciplina do Estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Aula 5
A Disciplina da Simplicidade e da Solitude . . . . . . . . . . . . . . . 57
Aula 6
A Disciplina da Submissão e do Serviço . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Aula 7
A Disciplina da Confissão e da Adoração . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Aula 8
A Disciplina da Orientação e da Celebração . . . . . . . . . . . . . . . 103
Aula 1
v.1.0.0
A DISCIPLINA
DA MEDITAÇÃO
INTRODUÇÃO
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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deveriam ser batizados no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Com essa du-
pla preparação seriam, então, instruídos a guardar e observar tudo o que Jesus havia
ordenado (Mt 28.20). Sem transformar os convertidos em discípulos é impossível
ensiná-los a viver conforme Cristo viveu e ensinou.
No tempo em que Jesus viveu na terra havia certa simplicidade em ser discípulo.
Isso significava, principalmente, segui-lo em atitude de estudo, obediência e imi-
tação. Não havia curso por correspondência, como nos dias de hoje. As pessoas
sabiam o que fazer e qual o custo disso. Simão Pedro exclamou: “Nós deixamos tudo
para seguir-te!” (Mc 10.28 – NVI). Apesar do alto preço, o discipulado tinha um
significado bastante claro e direto. Hoje o mecanismo é diferente, pois não pode-
mos estar com Jesus literalmente como estiveram os primeiros discípulos. Contu-
do, as prioridades e intenções – o coração e as atitudes interiores – do discípulo
são sempre as mesmas. No coração de um discípulo há sempre desejo, decisão e
intenção clara. O discípulo de Cristo deseja, acima de tudo, ser semelhante a ele.
DISCIPLINAS ESPIRITUAIS
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O caminho para uma vida espiritual e da prática das disciplinas espirituais, podem
nos livrar da maldição da superficialidade ao nos fazer encontrar, na profundidade
do nosso coração, o Deus que habita em nós. A partir desse encontro, começamos
a ter uma conexão muito mais forte com o próximo e com a nossa própria alma, ou
seja, lidando com os nossos anseios e permitindo, inclusive, interpretar da maneira
correta e até filtrar coisas que se passam dentro de nós. Se não fosse através das prá-
ticas e tradições da espiritualidade, provavelmente, estaríamos perdidos em meio à
confusão mental e relacional que a maioria das pessoas hoje em dia experimentam.
Não devemos pensar que a espiritualidade é apenas para quem julgamos ser "mui-
to espiritual", nem somente para aqueles que devotam todo seu tempo à oração e
meditação. Ao contrário disso, o desejo de Deus é que as disciplinas sejam pratica-
das por seres humanos comuns, envolvidos em suas rotinas ordinárias de trabalho,
criação de filhos, cuidados com a casa, e em seus relacionamentos diários.¹
Na vida de oração e meditação é preciso ter humildade e saber aceitar conselhos sá-
bios. A orientação espiritual é uma necessidade para quem pretende aprofundar-se
na vida das disciplinas espirituais. Ninguém pode enfrentar as dificuldades da vida
de meditação e oração sem estar plenamente satisfeito em ser um iniciante e ver a
si próprio como alguém que sabe pouco ou nada, por isso, está desesperado para
aprender seus simples rudimentos. Os que acham que “sabem” desde o início, na
verdade, nunca conheceram nada.
As disciplinas não devem ser consideradas como uma prática penosa e cansativa.
O tom mais básico da espiritualidade cristã é o contentamento, e o propósito é li-
bertar o homem da escravidão do seu próprio ego. Lembre-se do contexto em que
Paulo declarou saber estar satisfeito em todas as circunstâncias.
"Sei passar necessidade e sei também ter muito; tenho experiência diante
de qualquer circunstância e em todas as coisas, tanto na fartura como na
1. FOSTER, Richard J. Celebração da disciplina: o caminho do crescimento espiritual. 2ª edição. São Paulo:
Editora Vida, 2007, p. 30.
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Paulo se refere a "poder todas as coisas naquele que o fortalece" como quem pode
suportar qualquer coisa por causa da graça de Deus que operava nele. Existem rea-
lidades que experimentamos que são impossíveis de serem contornadas, sofrimen-
tos impossíveis de serem evitados, e a única coisa que nos resta como escape é o
encorajamento provido pela graça de Deus. É a graça que nos permite suportar to-
das as coisas, experimentando alegria e contentamento, apesar da tribulação, para
a glória de Deus.
Então, não precisamos ter uma teologia avançada para praticar as disciplinas. Os re-
cém-convertidos – pessoas que ainda precisam se entregar completamente a Jesus
Cristo – podem e devem praticar essas disciplinas. Todos nós, na verdade, preci-
samos nos encarar como um iniciante nas práticas espirituais; por toda nossa vida
precisamos conservar uma postura humilde de iniciante na vida do espírito, caso
contrário, veremos nosso progresso se tornando cada vez mais lento por pensar-
mos ter alcançado algo.²
O apóstolo Paulo é um exemplo bíblico de alguém que, apesar de todo conheci-
mento que possuía, não considerou ter atingido um status de aprovação diante de
Deus, como se já não houvesse nada mais do que poderia aprender sobre o Senhor
e com o Senhor.
"Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado; mas faço o se-
guinte: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando
para as que estão adiante, prossigo para o alvo, pelo prêmio do chamado
celestial de Deus em Cristo Jesus." (Fp 3.13,14)
Davi, conhecido por ser "o homem segundo o coração de Deus" ou "o homem se-
gundo as emoções de Deus", escreveu salmos que descreviam sua alma derramada
de anseio por mais do próprio Deus.
“Como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti,
ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando poderei
entrar para apresentar-me a Deus?” (Sl 42.1,2 – NVI)
2. Id. Ibid.
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"Quem não deixa de caminhar, mesmo que tarde, afinal chega. Para
mim, perder o caminho é abandonar a oração." (Santa Teresa de Ávilla)³
"Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei!
Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava fora! (...) Tu me
chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e brilhaste
e tua luz afugentou minha cegueira. Espargiste tua fragrância e, respi-
rando-a, suspirei por ti. Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de
ti. Tu me tocaste, e agora ardo no desejo de tua paz." (Santo Agostinho)4
Nessa jornada, aqueles que estão frustrados com as experiências fúteis e ensinos
rasos, mas que ouvem o chamado para um viver mais profundo e pleno, imediata-
mente se deparam com algumas dificuldades.
O fato de vivermos em uma época fundamentada no materialismo incita dúvidas na
busca por algo que esteja além do mundo físico. A espiritualidade é vista com des-
confiança pela sociedade que não considera a necessidade de um encontro entre o
homem e Deus. É preciso coragem para assumir e crer nas coisas eternas para uma
sociedade que supervaloriza o material. 5
Há também uma dificuldade prática: não sabemos como partir para a exploração da
vida interior. Porém, isso nem sempre foi assim. O contexto do qual as disciplinas
espirituais nasceram destoa do nosso estilo de vida contemporâneo, o qual busca
a satisfação instantânea, o desejo de fazer com que as coisas sejam cada vez mais
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A TRANSFORMAÇÃO INTERIOR
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Heinrich Arnold diz: “Enquanto acharmos que podemos salvar a nós mesmos com a
força de vontade, só faremos a maldade dentro de nós ficar ainda mais forte”. 8
É um equívoco pensar que a mera boa vontade e esforço próprio, por si só, seja a garan-
tia de obtermos bons resultados. Graves erros podem ser cometidos mesmo se tendo
boas intenções. O esforço pode produzir uma demonstração exterior de sucesso du-
rante certo tempo, mas em algum momento nossa condição íntima será revelada.
Por meio da vontade as pessoas conseguem resultados externos satisfatórios, mas
cedo ou tarde chegará aquele momento irrefletido em que a “palavra inútil” esca-
pará, revelando a condição real do coração. Se estivermos cheios de compaixão,
isso será revelado; se estivermos cheios de amargura, isso também será revelado.
Não que planejemos ser assim, mas quando estamos diante das pessoas aquilo que
somos acaba se manifestando.9
8. ARNOLD, Heinrich. Freedom from Sinful Thoughts. Rifton: Plough Publishing House, 1973 apud FOS-
TER, Richard J. Celebração da disciplina: o caminho do crescimento espiritual. 2ª edição. São Paulo: Edi-
tora Vida, 2007, p. 34.
9. FOSTER, Richard J. Celebração da disciplina: o caminho do crescimento espiritual. 2ª edição. São Paulo:
Editora Vida, 2007, p. 35.
10. Id. Ibid.
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"Não posso fazer coisa alguma por mim mesmo (...)" (Jo 5.30a)
11. LLOYD-JONES, David Martyn. Estudos no Sermão do Monte. São Paulo: Editora Fiel, 2009, p. 45
12. Owen, John. O Espírito Santo. 2013. E-book (p. 106-107). Disponível em: https://ler.amazon.com.br/
reader?asin=B00CQBRQI0&ref_=dbs_t_r_kcr. Acesso em: 4 mar. 2022.
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Assim como o corpo recebe força e capacidade da cabeça, os membros recebem supri-
mentos para a sua santificação providos por Jesus, por meio do Espírito Santo
Fomos enxertados em Cristo e só podemos frutificar se estivermos unidos com ele.13
"Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que
está em mim e não dá fruto, ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o
limpa, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos pela palavra que vos
tenho falado. Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. O ramo
não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira; assim
também vós, se não permanecerdes em mim." (Jo 15.1-4)
John Owen, o príncipe puritano, afirmou que a graça de Deus opera em nós para
a santificação, e por isso devemos deixar com que ela nos motive e encoraje à dili-
gência de nos santificarmos. Ele continua dizendo:
13. RYLE, J. C. Santidade sem a qual ninguém verá o Senhor. São Paulo: Editora Fiel, 2009. E-book (p.
63). Disponível em: https://ler.amazon.com.br/reader?asin=B08VF8SCST&ref_=dbs_t_r_kcr. Acesso em:
4 mar. 2022.
14. Owen, John. O Espírito Santo. 2013. E-book (p. 105). Disponível em: https://ler.amazon.com.br/rea-
der?asin=B00CQBRQI0&ref_=dbs_t_r_kcr. Acesso em: 4 mar. 2022.
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assim, a verdade é que Deus estabeleceu meios de graça que nos conduzem para
receber aquilo que não merecemos; para receber o que nós não trabalhamos para
conquistar, mas que nos é dado mediante ao que Cristo conquistou na cruz.
Em seu livro, Discipulado, Dietrich Bonhoeffer diz que a graça barata é graca sem
discipulado, é a graça sem cruz, é a graça sem Jesus Cristo vivo e encarnado15. Por
isso, ainda que nossa santificação e crescimento em santidade sejam obras do
Espírito Santo, também é de nossa responsabilidade o empenho e compromisso
no exercício das ordenanças e meios que Deus determinou para sermos santos,
através da obediência fiel aos seus mandamentos. Além disso, nossa diligência com
as disciplinas espirituais em cada tempo oportuno é o meio de Deus para que cres-
çamos na sua graça e conhecimento.
"Seu divino poder nos tem dado tudo que diz respeito à vida e à pie-
dade, pelo pleno conhecimento daquele que nos chamou por sua própria
glória e virtude, pelas quais ele nos deu suas preciosas e mais sublimes
promessas para que, por meio delas, vos torneis participantes da natu-
reza divina, tendo escapado da corrupção que há no mundo por causa
da cobiça. Por isso mesmo, empregando todo o vosso esforço, acres-
centai a virtude à vossa fé, e o conhecimento à virtude, e o domínio
próprio ao conhecimento, e a perseverança ao domínio próprio, e a
piedade à perseverança, e a fraternidade à piedade, e o amor à fra-
ternidade." (2 Pe 1.3-7)
15. BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p. 20.
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pessoas. Podemos cair nesta tentação, mas graças a Deus por Jesus Cristo que está
sempre nos reconduzindo para o caminho certo.
É de graça tudo o que Deus nos deu. As bênçãos e o favor de Deus não nos são
dados por merecimento, e nada do que fizermos poderá nos tornar dignos ou mere-
cedores de alguma coisa – até mesmo a nossa fé é puro favor e dádiva de Deus. Não
podemos ser justificados perante Deus por nenhuma de nossas obras.
Somos justificados pela graça por meio da redenção que há em Cristo. Ainda que as
boas obras não possam expiar os nossos pecados, elas são agradáveis e aceitáveis a
Deus, pois é resultado da fé verdadeira que seguiu à justificação. Assim como uma
árvore é julgada pelo seu fruto, nós somos julgados pelas nossas obras. Através de-
las evidencia-se em nós uma fé viva, verdadeira e autêntica que é fruto da graça de
Deus sobre nossas vidas.
"Assim também a fé por si mesma é morta, se não tiver obras. Mas al-
guém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me tua fé sem obras, e eu
te mostrarei minha fé por meio de minhas obras." (Tg 2.17,18)
A graça é preciosa porque teve um preço – a vida do Filho de Deus. Por isso, não
pode ser barato para nós o que custou tão caro para Deus:
O chamado de Jesus é que deixemos nossas redes para trás e o sigamos com tudo o
que somos e temos (Mt 4.20). Não devemos nos disciplinar para ganhar o favor de
Deus, mas para dar tudo o que temos a ele, dedicando-lhe toda a nossa vida.
A DISCIPLINA DA MEDITAÇÃO
Dentro da espiritualidade cristã, a meditação talvez seja a mais importante das dis-
ciplinas, e a mais difícil de ser praticada nos dias tumultuados em que vivemos. Os
maiores inimigos da meditação - o ruído, a pressa e as multidões - têm sido parte
integrante das nossas vidas, e isto tem nos tornado pessoas ocupadas, debaixo de
um amontoado de coisas, sempre com a impressão de que algo deixou de ser feito.
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Jesus é o maior exemplo disto. Com um ministério muito atarefado, com multidões
a segui-lo, vez após vez Jesus se retirava para lugares em que podia ficar sozinho.
"A sua fama, porém, se espalhava cada vez mais, e grandes multidões
se ajuntavam para ouvi-lo e serem curadas de suas doenças. Mas ele se
retirava para lugares desertos, e ali orava." (Lc 5.15,16)
Sendo assim, como padrão da imagem que Deus deseja nos conformar, o próprio
Jesus abriu o caminho para revelar como o anseio do coração de Deus é ter comu-
nhão com o homem, e a meditação é o lugar em que abriremos espaço para que isto
aconteça!
De forma simples e resumida, a meditação cristã é a capacidade de ouvir a voz
de Deus e obedecê-la. Sabemos que Jesus Cristo ressuscitou, está vivo e conti-
nua falando e agindo em nosso meio através do Espírito Santo. Por isso, é nossa
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16. FOSTER, Richard J. Celebração da disciplina: o caminho do crescimento espiritual. 2ª edição. São
Paulo: Editora Vida, 2007, p. 47.
17. Id. Ibid., p. 51.
18. Id. Ibid., p. 52.
19. Id. Ibid., p. 50-51.
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difícil e aparentemente infrutífera poderá, na verdade, ser muito mais valiosa que a
meditação tranquila, alegre, iluminadora e, a nosso ver, bem-sucedida.
Um dos maiores erros dos israelitas foi a sua insistência em ter um rei humano,
rejeitando o próprio Deus como rei deles. Por vezes, isto implica a nós quando ao
invés de buscarmos ouvir o Senhor e obedecê-lo, preferimos eleger homens que
assim o façam por nós. Isto revela a preguiça e idolatria do nosso coração, visto que
estar na presença do Senhor, sem intermediários, nos implica mudanças, mas pre-
ferimos o conforto de permanecer da maneira em que estamos. Por isso a medita-
ção pode soar desafiadora, pois nos leva a verdade de que Deus fala continuamente,
e isto requer nosso tempo para ouvir, e prontidão para obedecer.
AS FORMAS DE MEDITAÇÃO
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Essa forma de meditação será melhor executada com a Bíblia em uma das mãos
e o jornal na outra. Apesar de serem tendenciosos e muitas vezes superficiais, o
objetivo é apresentarmos os fatos do nosso tempo diante de Deus e buscar discer-
nimento dos tempos. Sobretudo, pensar como podemos ser sal e luz neste mundo
corrompido.
Concluímos, então, que cada um desses tipos tem o seu valor dentro da jornada na
meditação, e cada um deles vai fazer com que o nosso coração seja mais conforma-
do à presença de Cristo, mais cheio da presença de Deus e mais sensível à voz do
Espírito Santo.
Somos salvos pela graça, e não só isso, vivemos por ela também. O anseio de Deus
é estar conosco, a despeito das nossas falhas e pecados, Ele está interessado em nos
transformar e lançar luz em nosso interior à medida que nos aproximamos.
Não se sinta desencorajado se no começo suas meditações não parecerem significa-
tivas. Tenha paciência consigo mesmo. Você está aprendendo uma disciplina para a
qual não recebeu nenhum treinamento, e nem vive em uma cultura que o encoraja
a desenvolver tais habilidades. Você está nadando contra a correnteza, mas seja
perseverante, essas disciplinas possuem um imenso valor. E é perseverando que
construímos os hábitos que moldam o nosso coração.
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Aula 2
v.1.0.0
A DISCIPLINA
DA ORAÇÃO
A oração é a disciplina espiritual mais elementar da vida de um cristão. Alguém não
pode dizer ser um cristão e não orar. R. C. Sproul diz que assim como a respiração
está para a vida, a oração está para um cristão.¹ A oração é o derramar de coração
sincero diante de Deus, por meio de Cristo com a ajuda do Espírito Santo. Ela
busca as promessas de Deus, a conformidade com a sua Palavra, e a sua vontade.
Todo cristão verdadeiro anseia por uma vida de oração constante, uma prática que o
leve a experimentar a presença de Deus de forma mais plena e rica. A oração é uma
realidade gloriosa, mas também simples e fácil de praticar. É justamente a oração
1. SPROUL, R. C. A oração muda as coisas? São Paulo: Editora Fiel, 2013. E-book (p. 12) Disponível em:
https://ler.amazon.com.br/reader?asin=B08TSYWZBC&ref_=dbs_t_r_kcr. Acesso em: 30 mar. 2022.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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que nos leva à prática da espiritualidade. A principal das disciplinas espirituais que
nos leva à comunhão com o Pai, ao nos aproximar dele. E esta aproximação nos fará
reconhecer melhor a nossa necessidade de estarmos conformados a Cristo e mais
desejaremos por isso.²
Todos os que já caminharam com Deus tinham a oração como uma prática que per-
meava as suas vidas. O maior exemplo seria o estilo de vida de Jesus, que frequen-
temente se retirava para períodos de oração e comunhão com o Pai.
Homens que marcaram a história da igreja com sua vida de devoção tinham a
oração como algo do qual a vida deles dependia:
2. FOSTER, Richard J. Celebração da disciplina: o caminho do crescimento espiritual. 2ª edição. São Pau-
lo: Editora Vida, 2007, p. 67.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
O princípio fundamental no reino de Deus é que recorremos a ele por tudo. Tanto
para que aumente as coisas boas quanto para diminuir as coisas ruins. A oração não
faz com que nós mereçamos o favor de Deus, mas posiciona o nosso coração para
que por meio do relacionamento e da intimidade com Deus, em parceria com ele,
a atividade de Deus na nossa vida e nas circunstâncias aumente.
"Não andeis ansiosos por coisa alguma; pelo contrário, sejam os vos-
sos pedidos plenamente conhecidos diante de Deus por meio de oração e
súplica com ações de graças" (Fp 4.6)
Deus pode nos privar de algumas coisas por causa da falta de oração, pelo tanto que
ele ama interagir conosco.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
"Por isso o SENHOR esperará para ter misericórdia de vós; ele se le-
vantará para se compadecer de vós; porque o SENHOR é um Deus de
justiça; felizes são todos os que nele esperam. Na verdade, o povo habi-
tará em Sião, em Jerusalém; não chorarás mais; certamente ele se com-
padecerá de ti quando ouvir o teu clamor; e, ao ouvi-lo, te responderá."
(Is 30.18,19)
Deus decidiu fazer algumas coisas à medida em que ouve o nosso clamor. Deus nos
quer como posse exclusiva dele. Calvino diz algo interessante a respeito de que a
fé desperta a nossa mente da preguiça de acharmos que não precisamos recorrer
a Deus em todas as nossas necessidades, ele afirma que Deus deseja que tudo que
recebemos seja reconhecido como concedido por causa das nossas orações.³
Nosso entendimento a respeito da soberania de Deus não nos deveria levar a consi-
derar desnecessário o trabalho da oração, mas deveria provocar em nós uma intensa
vida de oração de ação de graças; se ele nos conhece tanto, isto não deveria limitar
nossa oração, ao contrário, deveria aumentar a nossa contemplação da beleza da
sua santidade diante de nós. Por isso, vamos até Deus em oração para conhecê-lo e
sermos conhecidos por ele.4
Nas Escrituras, temos tantos exemplos de homens e mulheres que oravam como
se as orações pudessem mudar as coisas de maneira objetiva, e isso demonstrava a
grande dependência que possuíam do Senhor. O apóstolo Paulo, com alegria, pro-
clama que somos “cooperadores de Deus” (1 Co 3.9). Foster diz que é o estoicismo
– movimento filosófico que preza a fidelidade ao conhecimento e despreza os sen-
timentos e emoções externos – que prega a ideia de um Universo fechado sem pos-
sibilidades de mudança, e não a Bíblia5. Moisés orava com ousadia por acreditar que
suas orações podiam mudar o curso das coisas, como exemplifica o texto abaixo:
3. CALVINO, João. Oração: O exercício contínuo da fé. 1ª edição. São Paulo: Editora Vida, 2016, p. 13.
4. SPROUL, R. C. A oração muda as coisas? São Paulo: Editora Fiel, 2013. E-book (p. 88) Disponível em:
https://ler.amazon.com.br/reader?asin=B08TSYWZBC&ref_=dbs_t_r_kcr. Acesso em: 30 mar. 2022.
5. FOSTER, Richard J. Celebração da disciplina: o caminho do crescimento espiritual. 2ª edição. São Pau-
lo: Editora Vida, 2007, p. 70.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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"Longe de ti fazer tal coisa, matar o justo com o ímpio, igualando o justo
ao ímpio; longe de ti fazer isso! Não fará justiça o juiz de toda a terra?
Então disse o SENHOR: Se eu achar em Sodoma cinquenta justos dentro
da cidade, pouparei o lugar todo por causa deles." (Gn 18.25,26)
Estes exemplos nos fazem perceber que podemos orar com base no que conhece-
mos a respeito do caráter de Deus. Moisés, porque conhecia a bondade e longani-
midade de Deus, intercedeu com confiança. Da mesma maneira, Abraão, porque
conhecia o caráter de Deus como justo juiz, intercedeu com base nisto. Conhecer
a quem oramos é fundamental para crescermos na disciplina da oração!
APRENDENDO A ORAR
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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Deus atende nossas orações pelo simples fato de sermos seus filhos, e estarmos
pedindo-lhe que nos atenda. Somente pelo privilégio de estarmos em Cristo é que
podemos nos dirigir a Deus como nosso pai, e por isso não nos achegamos como
indivíduos desconhecidos e isolados, mas como membro de uma família e uma
comunidade de santos.7
Além disso, a relação pai e filho pressupõe intimidade. O tipo de intimidade que
encontra liberdade para falar a respeito das suas necessidades sem nenhum tipo de
constrangimento ou sem se sentir inadequado. É este tipo de liberdade que pode-
mos encontrar na oração, sem oscilar na confiança de que Deus ouve cada pequena
necessidade, ansiedade e dificuldade que levamos até ele.
Vejamos a recomendação de Paulo (Fp 4.6) de que nossos pedidos devem ser feitos
plenamente conhecidos diante de Deus!
Precisamos ter em mente que orar é mudar. A oração é a principal via usada por
Deus para nos transformar. Se não estivermos dispostos a mudar deixemos a ora-
ção de lado, porque ela não será mais uma característica perceptível em nossa vida.
Quanto mais perto chegarmos de Deus, mais veremos a necessidade de sermos
conformados a Cristo e desejaremos de todo o coração que isso se torne realidade
em nossas vidas.
No decorrer da vida de oração começaremos a orar segundo os pensamentos de
Deus, isto é, passaremos a desejar o que ele deseja, amar o que ele ama, e querer
o que ele quer. Aprenderemos progressivamente a enxergar as coisas do ponto de
vista dele e não do nosso.
CRESCENDO EM ORAÇÃO
Para desenvolvermos uma vida de oração não basta amarmos a Deus e cultivarmos
esse amor, mas também utilizar os seguintes passos práticos para avançar e crescer
7. SPROUL, R. C. A oração muda as coisas? São Paulo: Editora Fiel, 2013. E-book (p. 256) Disponível em:
https://ler.amazon.com.br/reader?asin=B08TSYWZBC&ref_=dbs_t_r_kcr. Acesso em: 30 mar. 2022.
8. FOSTER, Richard J. Celebração da disciplina: o caminho do crescimento espiritual. 2ª edição. São Pau-
lo: Editora Vida, 2007, p. 76.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
nesta disciplina. A verdade é que uma vida de oração não planejada é uma vida de
oração que não acontece e que não é constante, isto deve nos levar a alguns passos
práticos que nos auxiliarão a amadurecer na prática da oração.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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"Nisto conhecemos o amor: Cristo deu sua vida por nós, e devemos dar
nossa vida pelos irmãos." (1 Jo 3.16)
TIPOS DE ORAÇÃO
Na oração, propriamente dita, não há uma ordem determinada, mas tanto o impul-
so preliminar quanto a própria experiência da oração, nos mostram que o primeiro
passo dela é a ação de graças. Precisamos despertar a mente para as alegrias de
nossa caminhada. Podemos até mesmo registrar por escrito as bênçãos recebidas.
Portanto, a oração de ação de graças deve ser bem específica: “Eu te agradeço por
essa amizade, por essa vitória, por esse sinal da graça". A frase “por todas as suas
misericórdias” é correta para uma lembrança coletiva, mas não para a gratidão
individual. Se estivermos “agradecidos por todas as coisas”, talvez acabemos gratos
por nada.
2. Oração de confissão
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A oração sábia de confissão sempre leva a uma aceitação do perdão de Deus. Ele
não quer que fiquemos presos às lembranças do pecado, pois ele mesmo já o esque-
ceu, mas deseja muito que sejamos totalmente dependentes dele.
Pode parecer algo simples, mas se está orando de joelhos experimente se levantar
no momento da sua confissão, como sinal da aceitação do perdão de Deus e da
certeza da nova liberdade em sua graça. Nossa vontade, por mais frágil e fraca que
seja, precisa aproximar-se do lado novo da nova vida, pois a confissão é incompleta
sem essa decisão.
3. Oração devocional
A oração devocional tem como objetivo expressar o nosso coração para Deus, e
expressar o nosso louvor, a nossa admiração e o nosso amor por ele; a oração de-
vocional é o momento onde nós podemos chegar diante de Deus e falar de como a
nossa alma o anseia e como nós queremos ser cada vez mais apaixonados por ele.
4. Oração de Intercessão
Quase toda a oração do “Pai nosso” mantém sua ênfase no próximo: “Pai nosso”,
“nosso pão de cada dia”, “nossas dívidas”. O amor genuíno visualiza pessoas, não a
multidão. O bom pastor chama suas ovelhas pelo nome. A intercessão é mais es-
pecífica e ponderada, pois exige que suportemos no coração o peso daqueles por
quem oramos.
Devemos interceder até mesmo por nossos inimigos, talvez eles devam ser os
primeiros a quem dirigimos nossa atenção na oração de intercessão.
Intercessão é concordar com o que Deus quer fazer, ela traz justiça para a terra.
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5. Oração de Petição
“Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração
e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus”
(Fp 4.6 – NVI)
Devemos reconhecer que nossa visão é turva e ofuscada, e que nossos propósitos
podem possuir motivos suspeitos. Por isso, o término da nossa petição deve ser
sempre: “não seja feita a minha vontade, mas a tua” (Lc 22.42).
Observações importantes:
• A oração envolve ouvir e falar, receber e pedir. É a amizade sustentada pela
reverência. A oração diária deve sempre terminar onde começou – na adoração.
Quando estamos na presença de Deus, onde podemos contemplá-lo, seremos
sempre levados a adorá-lo.
• Após a ação de graças devemos contemplar a abundante bondade de Deus e
aguardar a palavra dele sobre suas dádivas.
• Após a confissão devemos louvar a Deus pelo amor perdoador manifesto em
Cristo, e estar atentos à sua orientação.
•Após a intercessão devemos parar e ver as necessidades do mundo, como Cris-
to as viu na cruz.
•Após a petição precisamos esperar outra vez, para meditar sobre a vontade de
Deus.
CONSISTÊNCIA NA ORAÇÃO
Sendo assim, a oração é este lugar em que encontramos o Senhor, onde nós esta-
belecemos com ele uma comunhão. No entanto, é comum experimentarmos em
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"E não somente isso, mas também nos gloriamos nas tribulações; saben-
do que a tribulação produz perseverança, e a perseverança, a aprova-
ção, e a aprovação, a esperança; e a esperança não causa decepção, visto
que o amor de Deus foi derramado em nosso coração pelo Espírito Santo
que nos foi dado." (Rm 5.3-5)
O profeta Daniel foi levado para a Babilônia quando tinha entre 15 e 20 anos de
idade, e durante décadas cultivou uma história com Deus. Cada um de nós também
está escrevendo uma história e Deus não é injusto de se esquecer de cada uma das
atitudes que tomamos por ele:
Daniel era irrepreensível e tinha o compromisso com Deus de orar três vezes ao
dia. Mesmo ameaçado de morte não deixou de ser fiel a este compromisso (Dn 6.5-
11). Mas levou 21 dias para que a resposta de sua oração chegasse até ele.
Jesus fez uma analogia à perseverança na oração com a perseverança de uma viúva
diante de um juiz. A viúva não desanimou mesmo tendo que recorrer a um homem
que não temia a Deus. No entanto, nós como cristãos estamos perseverando diante
de um bom Pai, e por isso nossas orações não serão em vão.
"Jesus também lhes contou uma parábola sobre o dever de orar sempre e
nunca desanimar. (....) E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que
dia e noite clamam a ele, mesmo que pareça demorado em responder-lhes?
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Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do
homem, achará fé na terra?" (Lc 18.1,7,8)
É a perseverança que nos levará a uma vida de oração eficaz. Mike Bickle diz que
"a nossa vida de oração não é medida em horas, nem dias, nem anos, mas ela é medida
em décadas". Os benefícios da vida de oração podem não ser evidentes quando nós
olhamos um ano para trás e como nós estamos hoje. Mas à medida que os anos vão
passando, as orações vão se acumulando e o nosso tempo na presença de Deus vai
aumentando e isso nos transforma.
É por isso que Paulo diz que a perseverança nas tribulações gera aprovação, pois a
perseverança nutre a confiança e a esperança de que Deus sempre nos socorre em
nossas necessidades; a capacidade de continuar confiando em Deus quando tudo
vai mal. Perseverar gera em nós um caráter aprovado diante de Deus, pois amadu-
recemos em continuar confiando, e isto gera a esperança: o firme aguardo do cum-
primento final das promessas de Deus. Por isso, perseverar faz parte do processo de
santificação e a constância na vida de oração é muito mais importante do que uma
intensidade sem perseverança.9
9. CALVINO, João. Romanos: Série de comentários Bíblicos. São Paulo: Editora Fiel, 2013. E-book (p.209).
Disponível em: https://ler.amazon.com.br/reader?asin=B08VF92GDL&ref_=dbs_t_r_kcr. Acesso em: 30
mar. 2022.
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Aula 3
v.1.0.0
A DISCIPLINA
DO JEJUM
A disciplina do jejum é, talvez, uma das questões mais mal compreendidas na Bíblia.
Com o passar do tempo ela caiu em descrédito de forma generalizada, tanto dentro
como fora da Igreja. Na Idade Média, o jejum se viu submetido a rígidas regras, não
se atentando para a realidade interna da fé cristã, mas para a sua forma externa. Os
excessos e a mortificação, relacionados ao jejum, fizeram com que a cultura moder-
na rejeitasse totalmente essa prática.
O jejum tornou-se algo obsoleto, uma vez que satisfazer cada um dos apetites hu-
manos é considerado como uma virtude. Contudo, sabemos que a verdadeira sa-
tisfação só é alcançada quando nos distanciamos da escravidão dos nossos próprios
desejos e os direcionamos a Deus. Para quem deseja se voltar à prática do jejum
deve saber que a princípio será difícil mantê-la, pois os hábitos arraigados em nós
tenderão a resisti-la. A boa notícia, contudo, é que tais hábitos, com o passar do
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Jesus espera que você jejue. Ele não disse: “Se algum dia você decidir tentar jejuar...”.
Não! Ele disse: “Quando você jejuar...”. Jesus não nos deu a opção de não jejuar, ao con-
trário, considerou o jejum uma prática natural da vida cristã. Nada mudou desde que
ele pronunciou tais palavras, por isso, se você é cristão apegue-se à prática do jejum.
Talvez você seja levado, pelo Espírito, a jejuar uma vez por semana, ou um dia a
cada dois meses. Isso será uma questão entre você e Deus, ninguém mais precisa
saber, pois o Pai vê o que ninguém mais vê, e o recompensará. Seja qual for sua
periodicidade em jejuar, seja fiel a este compromisso e confie que o Senhor lhe
dará graça para exercê-lo. Sua resposta obediente a Deus é uma das mais temidas e
perigosas catástrofes para o reino das trevas.
O jejum não é uma prática exclusivamente cristã. Durante toda a história da hu-
manidade ela foi exercida pelas várias tradições espirituais e religiões “mais impor-
tantes”, e até mesmo a medicina comprovou seus benefícios para o corpo humano.
Grandes filósofos (como Platão e Aristóteles) e personalidades, que se destacaram
no decorrer da história, praticaram o jejum por reconhecerem seus benefícios es-
pirituais e físicos.
Geralmente, ao passarmos algumas horas sem nos alimentar sentiremos certo des-
conforto, o que não indica necessariamente estar com fome. O que acontece é que
nosso organismo se acostumou a receber alimento o tempo todo. Muitas vezes,
relacionamo-nos com o nosso estômago como se ele fosse um deus exigente, que
dá sinais constantes de que precisa ser alimentado. Porém, não devemos nos deixar
escravizar por nós mesmos.
1. FOSTER, Richard J. Celebração da disciplina: o caminho do crescimento espiritual. 2ª edição. São Paulo:
Editora Vida, 2007, p. 84.
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É difícil abandonar velhos hábitos, e muito mais difícil contrariar nossa própria
vontade. Contudo, se não conseguimos dominá-la em coisas tão pequenas e tri-
viais, como dominaremos nas mais difíceis? Combata a sua vontade e dê fim aos
maus hábitos, para evitar que seja conduzido a problemas mais difíceis e sérios.
Creia! A disciplina do jejum o levará ao crescimento espiritual. Por isso, não deixe
que as pequenas barreiras impeçam você de viver o que a Bíblia o chama para viver.
Não há como escapar do poder das palavras de Jesus nesta passagem. Ele deixou
claro que sua expectativa era de que os discípulos jejuassem, após a sua partida.
Embora suas palavras não expressem uma ordem, fica claro que sustentava como
certa a disciplina do jejum e esperava que seus seguidores a praticassem. Para os que an-
seiam andar em intimidade com Deus, as afirmações de Jesus são palavras convidativas.
2. PIPER, John. Fome por Deus: Buscando Deus por meio do Jejum e da Oração. São Paulo: Cultura Cristã,
2013, p. 26.
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Em primeiro lugar, a resposta de Jesus aos discípulos de João ensina que o jejum
naquela época era associado a períodos de desespero e tristeza; uma prática para
tempos de crise e dificuldades: "Por acaso os convidados para o casamento podem
ficar tristes, enquanto o noivo está com eles?"
Em segundo lugar, esta pergunta retórica de Jesus afirma muito a seu respeito. Ele
se apresenta como o noivo, identificando-se à maneira como Deus se apresentou
em tantos momentos ao longo do Antigo Testamento, como o marido de Israel.
"Vós mesmos sois testemunhas de que eu disse: Não sou o Cristo, mas sou
enviado adiante dele. A noiva pertence ao noivo; mas o amigo do noivo,
que está presente e o ouve, alegra-se muito com a voz do noivo. Assim se
completa esta minha alegria." (Jo 3.28,29)
Em resumo, o que estava em jogo era que o Deus de Israel, que se comprometeu
com seu povo em uma aliança de amor, estava bem ali entre eles, e este era um
motivo de grande alegria que não caberia um jejum agora. Jejum é para tempos de
anseio, anelo e desejo ardente. Mas aquele o qual Israel esperou e ansiou por tantos
anos estava bem no meio deles!³
Continuando a narrativa de Mateus 9, Jesus faz uma advertência de quando seus
discípulos jejuarão: "Mas chegarão os dias em que o noivo lhes será tirado, e então
jejuarão." Com isso, ele estava predizendo o tempo em que ele retornaria para o
Pai, e durante esse tempo os seus discípulos haveriam de jejuar. Mas uma indaga-
ção pode ser levantada: "Jesus não nos prometeu que não ficaríamos órfãos, nos
deixando o Espírito Santo como consolador?" É verdade que em certa medida ele
ainda está conosco, no entanto, sabemos que a dimensão da presença e intimidade
que poderá ser desfrutada quando Jesus voltar é muito maior.
Jesus fala a respeito deste tempo, até que finalmente ele volte, todo discípulo expe-
rimentará de um vazio e de uma saudade em seu interior porque ele não está aqui
fisicamente, inteiramente e intimamente. Intrinsecamente, nossa alma anseia por
mais, e é por esse motivo que jejuamos.4
3. Id. Ibid., p. 28
4. Id. Ibid., p. 29.
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Por fim, Jesus conclui seu discurso com uma analogia muito famosa: "Ninguém põe
remendo de pano novo em roupa velha, pois o remendo rasgará parte da roupa, e o
rasgo ficará maior. Nem se põe vinho novo em recipiente de couro velho; do contrário
se rompem, derrama-se o vinho, e os recipientes se perdem; mas põe-se vinho novo em
recipiente de couro novo, e assim ambos se conservam." Por que ao falar de jejum, a
conclusão é feita justo com esta analogia? O fato é que Jesus está comparando o je-
jum como um velho costume judaico ao remendo de pano velho e ao odre de couro
velho. Mas o pano novo e o vinho novo referem-se à nova realidade inaugurada com
Jesus - o Reino de Deus está entre nós!
Sendo assim, o jejum como um vinho novo diz respeito que os discípulos jejuem
com vista à nova realidade do triunfo do Filho de Deus, da entrada do Messias na
História, sua morte e ressurreição, reinando para a salvação do seu povo e a glória
de Deus. Este é o vinho novo: a esperança em Cristo repousada sobre sua encarna-
ção no passado, a realidade do presente de que ele está assentado à destra do Pai,
e a expectativa do futuro de que ele voltará para consumar a sua obra e manifestar
em plenitude a glória do Pai.
Por isso, a prática do jejum que Jesus estava ensinando tem a ver com um deleite
sobre a sua obra consumada como Noivo. O anseio, o anelo e o desejo ardente pelo
Noivo que nos move a jejuar, são expressões de fome e necessidade daquilo que se
pode experimentar da era vindoura no agora, mas que aguarda ansiosamente até
que se experimente em plenitude.
Piper diz que o jejum cristão é uma fome por toda a plenitude de Deus, provocada pelo
aroma do amor de Jesus e pelo gosto da vontade de Deus no evangelho de Cristo. Ele
continua dizendo:
"A novidade do nosso jejum é esta: sua intensidade vem, não do fato
de que nunca tenhamos provado do vinho da presença de Cristo, mas
porque o provamos de modo tão maravilhoso pelo seu Espírito que
não podemos nos satisfazer até a chegada da consumação."5
O jejum é, para nós cristãos, uma espécie de lamento e declaração de que as coisas
não estão satisfatórias. Por mais que nossa vida esteja bem, por mais que sejamos
prósperos, tenhamos boa saúde, família e riquezas, sabemos que nenhum dos pra-
zeres dessa vida nos é suficiente, enquanto Jesus não estiver presente conosco.
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TIPOS DE JEJUM
No seu jejum de quarenta dias Jesus, quando tentado pelo Diabo, não comeu nada
e no final teve fome (Lc 4.2). O versículo em questão dá a entender que Jesus não
se absteve de água, pois é dito apenas que ele não comeu.
"tendo sido tentado pelo Diabo durante quarenta dias. Sem ter comido
nada nesses dias, teve fome ao fim deles." (Lc 4.2)
2. Jejum parcial.
"Não comi nada agradável, nem carne nem vinho entraram na minha
boca, nem me ungi com óleo, até que se cumpriram as três semanas com-
pletas." (Dn 10.3)
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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Esse período pode ser mais prolongado, uma vez que não se abstém completamente
de alimento. Entenda! Jejum não é dieta para emagrecer, mas para aproximar mais
o nosso coração do Senhor, ser mais sensíveis espiritualmente, e para demonstrar a
Deus que a sua Palavra nos sustenta mais que qualquer alimento. É importante ter
esses limites estabelecidos.
3. Jejum absoluto
Nesse jejum não há ingestão de nada, nem mesmo água. Nele é preciso maior cau-
tela e não é recomendado para os iniciantes dessa disciplina. Vale alertar que o cor-
po humano sobrevive apenas três dias sem a ingestão de água. Esse tipo de jejum
é sempre visto na Bíblia em situações de extrema necessidade ou perigo iminente,
como destacado nas seguintes passagens:
4. Jejum sobrenatural
É o jejum feito em condições sobrenaturais, como foi o caso de Moisés. Ele mesmo
disse: "Fiquei no monte quarenta dias e quarenta noites; não comi pão, nem bebi água”
(Dt 9.9b). O corpo humano não consegue suportar tais condições, mas Deus sus-
tentou o corpo de Moisés para fazer algo que para nós é impossível.
5. Jejum coletivo
Na maioria das vezes, o jejum é uma questão particular entre o indivíduo e Deus.
Há, no entanto, ocasiões de jejuns comunitários, coletivos ou públicos.
Há exemplos disso nas Escrituras, quando se convocava para um jejum em tempos
de emergência nacional ou de algum grupo:
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O jejum em grupo pode ser uma experiência maravilhosa e poderosa, desde que
todos estejam preparados e tenham um mesmo pensamento.
Em qualquer discussão em relação às disciplinas espirituais devemos ter em mente
as seguintes advertências de Paulo:
Temos sempre que ter cuidado com o ascetismo religioso em relação ao corpo que
pode apenas alimentar o ego com mais autoconfiança. O jejum atinge sua finalidade
como meio de abnegação apenas quando nos ajuda a oferecermo-nos inteiros em
submissão a Deus.
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PROPÓSITO DO JEJUM
Existem outras formas de encontrar satisfação em nosso interior, sem ser preci-
so nos alimentar. Podemos, sim, ser libertos do vício pela comida como forma de
abafar nossa ansiedade. No início, sentiremos incômodo, ansiedade e dificuldade
em permanecer, mas com o tempo persistiremos na prática desta disciplina, e,
cada vez mais, nosso coração será suprido no Senhor. Então, um dos propósitos do
jejum é nos conectar com a fome que há em nosso coração por sua presença, a qual
só será saciada com o retorno do Noivo, para habitar em nosso meio.
7. FOSTER, Richard J. Celebração da disciplina: o caminho do crescimento espiritual. 2ª edição. São Pau-
lo: Editora Vida, 2007, p. 92
8. Id. Ibid., p. 93.
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Todos nós precisamos do poder de Deus para ter uma vida cristã vitoriosa diária.
Jejuar nos mantém honestos em saber que somos necessitados, continuamente, da
graça de Deus em nossas vidas.
“Tendo o Diabo acabado todo tipo de tentação, afastou-se dele até oca-
sião oportuna. No poder do Espírito, Jesus voltou para a Galiléia; e sua
fama se espalhou por toda a região.” (Lc 4.13,14)
Deus não quer apenas que derrotemos nossos pecados, mas também que possamos
ir além das nossas necessidades para, assim, cobrir a brecha como intercessores por
outros. Se existe um vício ou pecado que continua brotando em sua vida, humilhe
sua alma em jejum e Deus o purificará.
“Então voltei o rosto ao Senhor Deus, para buscá-lo com oração e súpli-
cas, com jejum, com pano de saco e cinzas. Orei ao SENHOR, meu Deus,
e, confessando, disse: Ó SENHOR, Deus grande e temível, que guardas
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Jejuar é uma escolha por Deus e contra a carne. Quando jejuamos estamos fazen-
do uma escolha interior consciente, demonstrada por um ato exterior. Desejamos
que o poder de Deus, e não o nosso, flua através de nós; ansiamos pela resposta de
Deus, e não pela nossa.
Os homens se voltam para Deus em tempos de crise. Ester ordenou que os judeus
fizessem um jejum, antes de arriscar sua própria vida entrando na presença do rei,
para obter misericórdia e perdão para o povo. No final, Deus mudou aquela crise
trazendo libertação a todos os judeus, como podemos ver na passagem abaixo:
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“Então proclamei um jejum ali junto ao rio Aava, para nos humilhar-
mos diante do nosso Deus, a fim de lhe pedirmos uma viagem segura
para nós, nossos filhos e todos os nossos bens. Pois tive vergonha de pedir
ao rei uma escolta de soldados e cavaleiros para nos defenderem dos ini-
migos no caminho, pois havíamos dito ao rei: A mão do nosso Deus age
para o bem e está sobre todos os que o buscam, mas o seu poder e a sua
ira são contra todos os que o abandonam. Assim, jejuamos e pedimos isso
ao nosso Deus; e ele atendeu às nossas orações.” (Ed 8.21-23)
A PRÁTICA DO JEJUM
Como todas as disciplinas, há uma progressão no jejum. Devemos aprender a cami-
nhar, antes de tentar correr. Escolha um dia e comece jejuando uma refeição. Muitos
pensam ser apropriado aos iniciantes jejuar o intervalo entre dois almoços. Experimen-
te fazer isso uma vez por semana, durante algumas semanas. Acompanhe a atitude do
seu coração. Você continuará cumprindo suas obrigações comuns de cada dia, mas in-
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ternamente estará mais atento ao Espírito Santo. Interrompa o jejum com uma refeição
leve, nunca com algo gorduroso ou muito pesado.
Após algum tempo você poderá tentar o jejum normal de 24 horas. Beba muita água,
pausadamente, e em pequenas quantidades. Se sentir muita fraqueza, experimente
adicionar um pouco de mel em um copo com água.
Você irá sentir pontadas de fome e desconforto, mas lembre-se que isso não é fome
de verdade – seu estômago está mal-acostumado. Precisamos ser mestres do nosso
estômago e não escravos dele. Se possível, gaste o tempo que iria fazer as refeições,
orando e meditando.
Não chame a atenção para você mesmo, lembre-se das instruções de Jesus: “O Pai
que vê em secreto, o recompensará”. Assim como os fariseus chamavam atenção para si
quando davam esmolas, aqueles que jejuam para serem vistos pelos homens já recebe-
ram sua recompensa. Mas você está jejuando por recompensas muito maiores e mais
profundas.
Após algumas experiências com jejuns, ore ao Senhor para saber se ele deseja que você
prossiga com jejuns mais longos. Um bom período de tempo será de três a sete dias,
o que causará um grande impacto em sua vida. Os primeiros três dias podem ser mais
difíceis, por causa das dores provocadas pela fome e o desconforto físico. É óbvio que
nem todos podem jejuar, por razões físicas, como os diabéticos, as gestantes e outros.
Se você tiver dúvidas em relação às suas condições físicas para o jejum, procure orien-
tação médica.
Antes de jejuar por um longo período faça refeições mais leves um ou dois dias antes
de iniciar o jejum. Não tente “estocar” energia se alimentando mais do que o normal,
isso resultará em prisão de ventre e, provavelmente, sentirá fome mais rapidamente.
Sempre priorize saladas frescas, vegetais cozidos, frutas e sucos.
O objetivo principal do jejum é dedicar tempo para buscar e se concentrar em Deus. Se
abafarmos a ansiedade gerada pelo jejum com outras atividades (redes sociais, televisão
etc.) perderemos o nosso tempo, e apenas passaremos fome. Isso não trará nenhum
benefício espiritual para nós. Embora os aspectos físicos do jejum nos intriguem, o
principal efeito do jejum bíblico acontece no âmbito espiritual. O jejum é um meio da
graça e da benção de Deus para nos alcançar, por isso, não devemos negligenciá-lo se
queremos verdadeiramente crescer em santidade e conhecimento de Deus.
“A fé é um banquete espiritual em
Cristo com vistas a estar tão
satisfeito nele que o poder de todos
os encantamentos é quebrado.”
9. PIPER, John. Fome por Deus: Buscando Deus por meio do Jejum e da Oração. São Paulo: Cultura Cristã,
2013, p. 32
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Aula 4
v.1.0.0
A DISCIPLINA
DO ESTUDO
A disciplina do estudo é importante tanto quanto as disciplinas estudadas anterior-
mente (meditação, oração e jejum), e a nossa dedicação a ela também deve ser a
mesma. Não faz sentido, por exemplo, tornar Deus a regra e a medida da nossa
vida de oração e não torná-lo a regra e medida das demais ações de nossa vida. O
propósito de todas as disciplinas, inclusive a do estudo, é transformar nossas vidas,
substituindo velhos hábitos de pensamentos p or hábitos vivificadores.
A Bíblia diz sobre amarmos o Senhor Deus de todo o coração, de toda a alma, de
todas as nossas forças, e com todo nosso entendimento. Ou seja, a nossa men-
te precisa estar envolvida no processo da comunhão com Deus, e a disciplina do
estudo é o meio através do qual o Senhor estabelece para o amarmos também com
a nossa mente.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
Paulo endossa o nosso entendimento dizendo que essa transformação acontece por
meio da renovação da nossa mente. Ele diz:
A marca distintiva de todo cristão é uma mente renovada pelo Espírito Santo. No
momento em que fazemos concessões com o espírito deste século, conformando a
mente segundo seus moldes, provaremos que deixamos de adorar a Deus com todo
o nosso entendimento.
Pedro Dulci comenta sobre como o anti-intelectualismo dentro da igreja tem en-
tregado de bandeja ao “inimigo” o espaço do pensamento, e com isso cristãos vêm
sendo privados de experimentar a renovação promovida pelo Espírito de Deus na
mente, através da Escritura, provando a boa, perfeita e agradável vontade de Deus.1
Somos constantemente bombardeados em nossa mente por mentiras que nos le-
vam a um modo errôneo de enxergar o mundo, e a viver de forma completamente
fora do padrão estabelecido por Deus. Mas nossa mente será renovada à medida
que nos aplicamos e dedicamos às coisas que realmente importam.
FINALIDADE DO ESTUDO
Foster diz que a disciplina do estudo é a mente assumindo uma ordem conforme a
ordem daquilo que nos concentramos.2 Ou seja, ao passo que é estabelecido foco
e atenção sobre determinado assunto, gradualmente a mente adquire as catego-
rias contidas a respeito do que está concentrada. A partir disso, hábitos sólidos de
pensamento são formados. Por isso, estudar a palavra de Deus é tão importante e
crucial para experimentarmos a conformação da mente de Cristo na nossa mente.
Estudar é uma experiência que leva nosso pensamento a se mover em determinada
direção. Ao pegarmos um livro qualquer, imediatamente tiramos algumas conclu-
sões sobre ele, como seu tamanho, grossura, apresentação da capa etc. Mas quando
1. DULCI, Pedro. Inteligência pra quê? Como usar o cérebro para a glória de Deus. 1ª edição. São Paulo:
Mundo Cristão, 2019, p. 15.
2. FOSTER, Richard J. Celebração da disciplina: o caminho do crescimento espiritual. 2ª edição. São Pau-
lo: Editora Vida, 2007, p. 103.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
Os pais, por sua vez, eram orientados a inculcar (imprimir) na mente de seus filhos
a lei de Deus, por meio da repetição, do foco e do retornar aos padrões descritos
nela. A finalidade dessa instrução era dirigir a mente de seus filhos para um modo
correto de pensar e viver.
Para uma sociedade cada vez mais consumista e permeada de pretensões que se
levantam contra o conhecimento de Deus, a igreja precisa recuperar a noção do que
significa querer, sentir e pensar como um discípulo de Cristo!3 É justamente a disci-
plina do estudo que nos levará a pensar e refletir sobre essas coisas. A capacidade
de refletir nos é dada através da graça de Deus, com o fim de transformar o nosso
espírito. Adorar e obedecer a Jesus Cristo como Senhor e Mestre, requer alterações
no teor (na maneira de ser) da nossa vida. O estudo é a ferramenta apropriada nesse
sentido e precisamos abraçá-lo como um dos meios que Deus usa para nos aperfei-
çoar. Jesus disse que o conhecimento da verdade é o que nos liberta:
3. DULCI, Pedro. Inteligência pra quê? Como usar o cérebro para a glória de Deus. 1ª edição. São Paulo:
Mundo Cristão, 2019, p. 15.
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“Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre,
tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo
o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor,
pensem nessas coisas” (Fp 4.8 – NVI)
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1. Livros verbais
Esse tipo de objeto de estudo abrange tanto literaturas em geral, como palestras,
aulas, apostilas etc. Esse tipo requer de você: atenção (parar), tempo, e outros ma-
teriais de auxílio.
Os livros não verbais são a maior parte daquilo a que devemos nos aplicar. Tudo o
que você precisa para estudá-los é manter seu foco nas coisas que estão acontecen-
do ao seu redor – a natureza, os eventos, as pessoas (inclusive nós mesmos), etc.
Para tanto, seria precioso que cultivássemos em nós a característica que despertava
a atenção de John Piper na vida de C.S. Lewis, que ele chamava de atentividade oní-
vora. Atentividade é a qualidade de se ter foco e atenção em algo, e onívora remete a
animais que comem de tudo, sem nenhuma restrição. Trazendo esse conceito para
a disciplina do estudo: é a característica da pessoa que consegue focar a sua atenção
e ter interesse nos mais diversos aspectos da vida, desde observar um pequeno in-
seto até observar o complexo comportamento do ser humano.
Porém, o que mais precisa ser resgatado em nós para o estudo dos livros não ver-
bais é o senso de assombro diante de todas as coisas que denotam a engenhosidade e
criatividade de Deus, características estas que ele também depositou nos seres hu-
manos. Se tivermos esse assombro ao nos relacionarmos com as pessoas, seremos
capazes de ver-lhes o coração e suas motivações. Mas o objeto mais complexo de
estudo talvez seja o nosso próprio coração. Quantas vezes gastamos tempo refle-
tindo sobre nossas próprias ações, motivações, pensamentos, e até mesmo sobre
nossos preconceitos?
1. Repetição
A repetição, mesmo sem ser acompanhada pela compreensão, é importante, pois
fará com que o conteúdo comece a fazer parte de nós, ainda que muita coisa não
faça sentido. A repetição leva à expansão da compreensão. Foi por isso que Deus
orientou o povo para que repetisse constantemente a lei; ela começaria a fazer par-
te da mente, do imaginário e da forma do seu povo ver o mundo. Através da repe-
tição nossos hábitos se aprofundam e criam raízes, além de resultar em mudança
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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2. Concentração
3. Compreensão
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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“A COMPREENSÃO CONCENTRA-SE NO
CONHECIMENTO DA VERDADE”6
4. Reflexão
Podemos pensar no estudo como uma tarefa simples, mas este tipo de pensamento
pode nos conduzir a uma atitude leviana diante desta tarefa e, como consequência,
o aprendizado se tornar estéril ao invés de frutífero.
Isto não precisa chegar aos ouvidos do aluno como um desencorajamento, mas com
uma conscientização de que a disciplina do estudo envolve um custo do qual vale a
pena se esforçar. Para iniciantes, assim como em qualquer atividade da qual se de-
dique, o estudo no início pode representar um desafio muito operoso, no entanto,
se consciente da necessidade de aprender, a prática o levará ao aperfeiçoamento.
Mortimer Adler, em seu livro Como Ler Livros, cita seis regras necessárias para o
estudo de livros, subdivididas em dois grupos: regras intrínsecas (internas – seu
contato com o livro) e regras extrínsecas (seu auxílio externo para o estudo).
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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Regras Intrínsecas
As regras intrínsecas são divididas em três estágios da leitura: Entender, Interpre-
tar e Avaliar. Dificilmente uma pessoa que está iniciando na caminhada do estudo
conseguirá assimilar esses três aspectos em uma única leitura do livro. Por isso, são
recomendadas três leituras, uma para cada um dos três estágios. Mas com o tempo
pode ser que isso seja feito simultaneamente.
1. Entender
Esse primeiro estágio tem como objetivo entender o que o autor está dizendo. Isso re-
quererá certo esforço e atenção para se apropriar do conhecimento do livro em questão.
2. Interpretar
É preciso interpretar o que o autor quer dizer. Antes, porém, é necessário reconhe-
cer as suas limitações no modo, por exemplo, como coloca as palavras. Nesse está-
gio podemos detectar, às vezes, que o livro não é completo na sua estrutura ou que
determinadas categorias ficaram em aberto. Nesse caso, é preciso entender o que
de fato o autor queria dizer com todo o conhecimento que ele aplicou ou inseriu na
literatura em pauta.
3. Avaliar
Muitas vezes somos tentados a vir direto para esse estágio, isto é, costumamos fa-
zer a análise crítica do livro, antes mesmo de entender as suas afirmações. Porém,
é preciso compreender e interpretar cuidadosamente o livro, antes de julgar se ele
está certo ou errado em suas afirmações.
Regras Extrínsecas
As regras intrínsecas, por si só, são insuficientes para o sucesso na leitura e estudo
de livros. Por isso, precisamos do auxílio secundário das três regras extrínsecas:
1. Experiência
Muitos livros só são compreendidos de forma plena, quando passamos por uma
experiência que abra nosso entendimento. Quando lemos sobre sofrimento, por
exemplo, mas nunca tivermos enfrentado momentos de verdadeira angústia, não
compreenderemos o livro da mesma forma que uma pessoa que tenha passado pela
experiência do sofrimento compreende. No entanto, ler sobre determinado tema,
mesmo que não tenha tido nenhuma experiência a respeito, nos trará sabedoria
para as circunstâncias futuras em que seja necessário enfrentá-lo. Fato é que as ex-
periências farão com que nossa compreensão do assunto seja expandida.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
Ler outros livros faz-nos ter uma visão mais ampla, mais tridimensional do assun-
to que está sendo tratado no livro em questão. Podemos listar aqui dicionários,
comentários e leituras críticas, sempre dando preferência a livros que ampliem
o tema que estamos estudando. Fique atento para a bibliografia usada pelo autor,
registrada no final do livro, pois ela diz muito sobre a qualidade do livro. Que fon-
tes o autor usou para escrever seu livro? Certamente se as fontes são ruins, o livro
também será ruim; mas o contrário também é verdadeiro. Ler outros livros sempre
irá nos ajudar a aumentar nossa compreensão a respeito de determinado assunto.
3. Discussão ou diálogo
Muitas vezes, descobrimos que não entendemos determinado assunto, quando não
o conseguimos explicar a outra pessoa, através de uma discussão ou diálogo. Po-
rém, pode acontecer que ambos tenham uma ótica diferente a respeito, mas isso
não é ruim; a opinião do outro certamente enriquecerá a compreensão do assunto
abordado pelo autor do livro.
CONCLUSÃO
Depois de tudo o que vimos nesta aula, fica claro que o estudo depende da humildade.
Ele não acontece enquanto não estivermos dispostos a nos submeter ao assunto em
pauta. Precisamos agir como alunos sedentos pelo conhecimento, e não como profes-
sores. Não podemos ser arrogantes e confundir acúmulo de informação com conheci-
mento. Nos submeter ao que estudamos com a humildade e o espírito dócil de quem
deseja aprender favorece o processo de aprendizado.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
O apóstolo João considera que a vida eterna é conhecer a Deus e o seu Filho, Jesus.
Como cristãos temos esta perspectiva do verdadeiro conhecimento, e conscientes de
que estamos diante de um Deus magnífico, não pode existir espaço para a presunção
em nosso coração. Nada do que podemos conhecer nesta vida é grande ou bom o sufi-
ciente diante da supremacia da sabedoria de Deus.
Apenas um pequeno vislumbre desse conhecimento será suficiente para gerar em nós
profundo senso de humildade. Um dos objetivos principais do estudo somos nós mes-
mos. Devemos tomar conhecimento das coisas que nos controlam e observar nossos sen-
timentos e oscilações de humor. O que controla nosso estado de ânimo? O que estas
coisas nos ensinam a respeito de nós mesmos? É preciso humildade para estudar essas
questões, e dependência da graça e liderança do Espírito Santo. Para o novato nessa
disciplina o trabalho parecerá difícil no começo, mas com o passar do tempo o estudo
produzirá alegria, e quanto maior a proficiência (aptidão), maior será a alegria. O estudo
vale todo o nosso esforço!
O estudo vai fornecer a substância e o conteúdo para as demais disciplinas espirituais. Quando
oramos, a palavra que oramos é a palavra que estudamos. Quando meditamos, a palavra
que meditamos também é a que estudamos. Quando jejuamos, nos abstemos porque o
nosso alimento é essa palavra que estudamos. Precisamos entender que o estudo é essen-
cial nessa formação de uma mentalidade renovada e uma base para as demais disciplinas.
O estudo exige da nossa razão, ele é exigente com a nossa racionalidade. Nós não somos
apenas coração e vontade, emoções e decisão, somos também mente e razão. Lembre-
-se, Jesus foi chamado de mestre, então nesse aspecto Jesus é aquele que ensina, ele é o
mestre; e o estudo então, como uma disciplina espiritual é aquela disciplina que o coloca
em contato com os aspectos de Jesus como seu mestre. O estudo também é aquilo que
nos permite entender o plano de Deus e sua ação na história; nos engajar com a maneira
de Deus trabalhar.
Além disso, quando amamos a Deus com todo o nosso entendimento, testemunhamos
ao mundo que o evangelho é uma fonte plausível para todo aquele que se empenha no
empreendimento intelectual. A Escritura possui recursos suficientes e necessários para
orientar toda vida humana na realidade do mundo. Sendo assim, nossa fé é um empreen-
dimento intelectual não de ordem privada, mas de ordem pública. Toda a palavra de Deus
é útil para nos orientar com sabedoria!9
9. DULCI, Pedro. Inteligência pra quê? Como usar o cérebro para a glória de Deus. 1ª edição. São Paulo:
Mundo Cristão, 2019, p. 29.
56
Aula 5
v.1.0.1
A DISCIPLINA DA
SIMPLICIDADE E DA
SOLITUDE
A SIMPLICIDADE CRISTÃ
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
A simplicidade cristã como disciplina espiritual nos ajuda a nos livrar de toda ob-
sessão e compulsão alimentadas pelo espírito deste século. Nos ajuda a encarar os
bens como facilitadores e não para nos sobrecarregar.1
Dietrich Bonhoeffer, antes de morrer pelas mãos dos nazistas, afirmou: “Ser sim-
ples é fixar os olhos unicamente na simples verdade de Deus quando todos os conceitos
se mostrarem confusos, distorcidos, de pernas para o ar.” 2
A disciplina da simplicidade tem, portanto, a tarefa de agir em nosso coração, na
desfragmentação do nosso ser, promovida pela complexidade crescente na vida
moderna, que faz com que, infelizmente, tenhamos um coração dividido e uma
mentalidade fragmentada. Ou seja, a confusão da complexidade desse tempo faz
com que a paz interior seja uma realidade cada vez mais distante ao passo que ela é
tão característica do evangelho.
Uma pessoa fragmentada é aquela que perdeu a sua identidade, assim como perde
um bloco único que se quebra. Seguir o fluxo sem ao menos saber o motivo por que
o segue é se comportar semelhante às máquinas que realizam várias funções sem
reconhecer a própria identidade: sem consciência, sem reflexão, sem integração.
Isso é viver um estilo de vida fragmentado.
Os seres pós-modernos vivem como se fossem compostos por um conglomerado
de “eus” - o “eu financeiro”, “eu espiritual”, “eu material”, “eu profissional” etc. E
esta forma fragmentada de viver gera uma disputa no interior do homem e perde-
-se de vista a simplicidade da qual este foi criado para experimentar. Esses “eus”
alimentam a individualidade e a dureza de coração. Cada um deles “bradam e cla-
mam” a fim de garantir seus próprios interesses, e fazem cada vez mais com que
a mente e atenção sejam divididas. Não é de se admirar que atualmente o homem
experimente tanta inquietação.
“Tudo o que aprendi se resume nisto: Deus nos fez simples e direitos, mas
nós complicamos tudo.” (Ec 7.29 - NTLH)
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
“Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas essas coisas vos
serão acrescentadas.” (Mt 6.33)
Jesus nos deixa essa orientação sobre a qual disciplina da simplicidade repousa:
buscar o reino de Deus e a sua justiça em primeiro lugar, de modo que tudo que
for necessário virá no tempo apropriado. Isso é ter os olhos bons, singelos, e ter
um só alvo. Tudo gira em torno de manter as “primeiras coisas” em primeiro lu-
gar. Estar livre de ansiedades é uma das evidências internas de quem vive dessa
maneira. A realidade interior da simplicidade envolve uma alegre despreocupação
em relação aos bens materiais, consequência de saber que tudo em sua vida tem
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
No entanto, não se deve confundir que este discurso de Jesus possui o intuito de
dizer que o dinheiro, conforto e outras coisas que podem nos gerar prazer nessa vida
precisam ser desprezadas pelos seus discípulos. O cristianismo não tem como obje-
tivo gerar uma vida ascética - nos colocar em circunstâncias de extremo desconforto
como se isso fosse uma espécie de distintivo para uma espiritualidade mais avançada.
As Escrituras declaram, de forma coerente e vigorosa, que a criação é boa e deve ser
desfrutada. O ascetismo faz uma divisão estranha à Bíblia, considerando o mundo es-
piritual bom e o mundo físico ruim, renunciando, assim, os bens materiais. Contudo,
a simplicidade encara os bens materiais pela perspectiva correta.5
É necessário entendermos que possuir riqueza e confiar na riqueza são ações com-
pletamente distintas. Possuir riqueza é ter o direito de decidir como ela será ou não
usada, como será consumida ou transferida a outros. Confiar na riqueza, por sua
vez, é depender dela para obter ou assegurar aquilo que mais desejamos. É pensar
que ela trará alegria e bem-estar, e supor que estamos seguros por possuí-la.
“Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e por causa dessa co-
biça alguns se desviaram da fé e se torturam com muitas dores.” (1 Tm 6.10)
60
ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
À luz dessa distinção, fica claro que podemos possuir bens sem confiar neles. Po-
demos ter posses com o coração livre de qualquer idolatria, quando elas estão a
serviço do Senhor e das pessoas, e nunca como fonte do nosso contentamento.
A simplicidade nos proporciona uma reorientação para que os bens materiais se-
jam genuinamente desfrutados, sem que nos destruam. Quando Deus deixa de
ser o centro no qual toda a nossa vida gira em torno, depositamos nossa confiança
em alguma outra fonte. Na nossa sociedade moderna, o ímpeto pelo acúmulo é
visto como sinônimo de empoderamento e facilmente pode conduzir o homem ao
engano de que muito dinheiro trará paz. Esta ordem é a lógica de uma sociedade
doente, e se conformar a ela é adoecer junto. Enquanto não percebermos o quão
desequilibrada está a nossa cultura, não desejaremos a simplicidade cristã. Precisa-
mos, corajosamente, buscar um estilo de vida simples e bíblico.
O tipo de narrativa que costuma nos despertar a admiração é sempre da pessoa que
era pobre e se tornou rica. Normalmente essas pessoas são aclamadas e conside-
radas heróicas em nossa sociedade. Mas no evangelho, a perspectiva é contrária,
aquele que verdadeiramente é o herói, Jesus Cristo, nosso salvador, era rico e se
fez pobre em favor de muitos. E o grande cenário é que Jesus não é aquele que não
tinha nada e trabalhou muito para ter tudo. Jesus é aquele que tinha tudo e deixou
tudo. O movimento de Jesus é descendente e não ascendente. Logo, ele não se
encaixa na narrativa do herói reconhecido pela nossa cultura. Jesus não seria o per-
sonagem principal da maioria das nossas narrativas.
Por esse motivo, precisamos nos voltar para a recomendação do apóstolo Paulo:
Jesus é o nosso maior exemplo de uma vida simples. Ele era dono de tudo, mas seu
foco estava em obedecer até à morte. A vontade do Pai era o objetivo de sua vida;
tudo que não cooperasse para essa vontade, era descartado. Por isso, somos chama-
dos para sermos conformados à imagem do Filho de Deus.
Esse é o sentido de viver uma vida simples. Não existe pecado em ser rico, mas
precisamos viver com a consciência de que somente Deus é a nossa única fonte de
provisão. O alerta é sempre de que não podemos colocar nosso coração e confiança
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
Quando nosso coração repousa nas riquezas, nos tornamos ansiosos e inquietos, nos
esquecemos que somente nossa vida e bens estão sob os cuidados de Deus. Se acre-
ditarmos que a preocupação é o que protege a nós mesmos e aos nossos bens, tam-
bém seremos dominados pela ansiedade. Quando passarmos a enxergar Deus como
o Criador todo-poderoso e como Pai amoroso, seremos capazes de confiar nele em
relação aos nossos bens e de como reparti-los com outros, porque ele cuidará de nós
como sempre cuidou – seremos livres da desconfiança voltada para o futuro.
Se tudo o que possuímos é uma dádiva e deve ficar aos cuidados de Deus e à dis-
posição dos outros, então, somos livres da ansiedade. Essa é a realidade interna
da simplicidade. Mas, se pensamos que o que temos foi por mérito nosso, a nós
pertence e não está à disposição de outros, então, a ansiedade nos alcança, pois nos
apegamos ao que é perecível.
Uma das figuras mais usadas na Bíblia para falar a respeito de prosperidade é Abraão.
Ele possuía muitas riquezas e experimentou prosperidade da parte de Deus. Mas,
como argumenta Dan Juster, Abraão possuía a prosperidade de um peregrino, a
qual tinha um limite para que ele pudesse se locomover de acordo com a vontade
de Deus. Essa mobilidade é fundamental. A identidade de peregrino na vida de
Abraão apontava para alguém que não estava preso àquilo que é passageiro.
Quando olhamos para a vida de Jesus e de Abraão percebemos uma vida focada, um
coração não dividido entre as riquezas deste mundo e as riquezas do reino de Deus.
Nosso chamado e identidade é nos mover nesta vida como peregrinos que somos.
Devemos eliminar todas as coisas que nos prendem a esta era, que nos impedem de
caminhar na direção em que Jesus está nos chamando para caminhar. Aqueles que
são nascidos de Deus são como vento; não sabem de onde vem, nem para onde vão.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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A simplicidade é uma disciplina que libertará o nosso coração das amarras da incre-
dulidade que não são exclusivas da vida moderna, mas totalmente comuns ao cora-
ção humano. A simplicidade vem como um meio da graça de Deus para nos libertar
da escravidão, do cativeiro cultural que prende nosso coração, e que nos impede de
experimentar a liberdade que existe em sermos filhos de Deus.
A. W. Tozer descreve sobre a benção de nada possuir. Segundo ele, ter tudo e nada
possuir é o segredo que somente pode ser aprendido na escola da renúncia da qual
Jesus condiciona seus discípulos:
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A DISCIPLINA DA SOLITUDE
Solidão x Solitude
A solidão geralmente se refere à falta de algo ou
alguém. É uma experiência involuntária que está pre-
sente na história de todos os seres humanos, em um
momento ou outro de suas vidas. Etimologicamente,
a solidão é "a experiência de se sentir sozinho, sentin-
do a ausência de outras pessoas e desejando a presença
compartilhada delas". A solidão nos faz sentir sozinhos
mesmo quando há uma multidão ao nosso redor. Ela
nos tira o prazer de estarmos sozinhos conosco e,
consequentemente, com Deus.
Solitude não é sinônimo de solidão. Em vez disso,
é uma experiência voluntária, desejável e desfrutada
pelo indivíduo. Ela nos leva a aproveitar nosso tempo
a sós, a ler, a meditar na Bíblia ou a aprender algo
novo. A solidão nos convida a querer ficar sozinhos
e ainda assim nos sentirmos completos e plenos por
dentro. Busco a solidão não para me sentir sozinho,
mas para desfrutar do prazer de olhar para dentro de
mim sem me sentir vazio.
Há obras de teólogos que falam sobre espiritualidade
cristã (especialmente nas traduções em português
e espanhol) que os termos são intercambiáveis, ou
seja, tem o mesmo significado. Porém, seguindo a
linha de Richard Foster, nessa disciplina faremos a
diferença citada acima.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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De fato, a solitude é uma prova terrível, pois abre o abismo desconhecido que nós
carregamos; e, nos leva a encarar o quão frágeis são nossas seguranças, aquilo em
que depositamos nossa fé. Só sobrevivemos na solitude porque Jesus gentilmente
nos encontra lá, com sua doce presença que nos acalma a alma.
A disciplina da solitude anda de mãos dadas com a disciplina do silêncio. Sem silên-
cio é impossível experimentar uma verdadeira solitude (ausência de pessoas) e esta
é necessária para que a disciplina do silêncio realmente aconteça, já que se torna
mais difícil estar em silêncio na companhia de outras pessoas.
No entanto, o objetivo do silêncio nesta disciplina não é simplesmente deixar de
falar, mas calar as vozes internas e externas para ouvir. A disciplina da solitude
unida com a disciplina do silêncio é o esforço que fazemos em nos isolar das outras
pessoas para assim encontrarmos o silêncio exterior como um meio de gerar gra-
dualmente o silêncio interior.
O silêncio é importante nesse processo, pois é a forma de tornar a solitude uma re-
alidade. Abster-se de falar, sem ouvir Deus com o coração, não é verdadeiramente
silêncio. A chave para o verdadeiro silêncio não é a ausência de ruído, mas o con-
trole da língua. Nele vamos aprender quando falar e quando não falar; e, com isso,
ganharemos a capacidade de ver e ouvir através das grades da superficialidade.8
Tiago compara a língua a um leme e rédeas, sugerindo que ela guia e controla todo
o corpo:
A pessoa disciplinada é aquela que consegue fazer o que precisa ser feito na hora
quando precisa ser feito. De igual modo, a pessoa que está submetida à disciplina
da solitude e ao silêncio, pode dizer o que precisa ser dito quando é necessário –
não desperdiça suas palavras, mas também não as deixa em falta.9
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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O Senhor Jesus orientando sobre a vida de intimidade com Deus disse que esta
vida se dá no secreto, e este secreto é a solitude da qual estamos nos referindo.
Quando vamos buscar a Deus, devemos nos separar e ir até um lugar especial, no
sentido de ser um lugar reservado para se separar das demais pessoas, e se dedicar
exclusivamente para o encontro com Deus. A solitude é essa postura de coragem de
ter tempo com Deus sozinho. Uma ação externa visando uma experiência interna.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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“Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a
teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê o que é secreto, te recompen-
sará.” (Mt 6.6)
10. MANNING, Brennan. Convite à solitude. São Paulo: Mundo Cristão, 2010, p. 13.
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11. Thomas Merton apud WILLARD, Dallas. O Espírito das Disciplinas: Entendendo como
Deus transforma vidas. E-book (260 p.) Disponível em: https://bityli.com/AXydRb. Acessa-
do em: 11 maio 2022.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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Jesus diz que aqueles que o amam obedecem aos seus mandamentos. A palavra
obediente vem do latim ‘audire’ que significa ouvir. A nossa obediência é inviável
caso não sejamos ouvintes. Henri Nouwen fala sobre vivermos uma vida absurda
por estarmos surdos para Deus.12
Na história do povo de Israel podemos ver que a aliança de Deus estava vinculada
ao fato deles ouvirem a sua voz.
Ao longo da narrativa desta nação como povo de Deus, seu fracasso foi marcado
pelo fato de rejeitarem ouvir a voz de Deus. Isto nos ensina como muitos de nos-
sos problemas e frustrações são fruto da nossa falta de relacionamento com Deus.
Desejamos obedecer às regras impessoais das quais podemos nos apegar, mas o
anseio de Deus em nos fazer seu povo é distintivo do relacionamento profundo
resultante de uma comunhão com ele.
“Ah, se o meu povo me escutasse! Ah, se Israel andasse nos meus cami-
nhos! Logo eu derrotaria seus inimigos e voltaria minha mão contra seus
adversários.” (Sl 81.13,14)
Sem ouvidos para Deus, tudo que podemos colher é a falta de paz do coração que
se rejeita a descansar no Senhor.
“Ah! Se tivesses obedecido aos meus mandamentos! Então a tua paz seria
como um rio, e a tua justiça, como as ondas do mar.” (Is 48.18)
O lugar secreto da reclusão é para onde Deus nos atrai, interessado em falar conos-
co. Oséias registra esse anseio de Deus em nos atrair ao deserto para falar ao nosso
coração. Essa é a solução de Deus para a nossa surdez.
12. . Henri Nouwen. Renovando todas as coisas. Retirado do livro: Clássicos Devocionais
(org. Richard Foster). São Paulo: Editora Vida, 2009 apud Vanessa Belmont. Série Disci-
plinas Espirituais: #2 Silêncio. Disponível em: https://vanessa-belmonte.medium.com/série-
-disciplinas-espirituais-2-silêncio-b659faa48e1d. Acessado em: 6 abr. 2022.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
Precisamos trazer a experiência do deserto para dentro da nossa rotina onde pode-
mos ficar em silêncio e termos nosso coração preenchido pela voz de Deus. Na me-
dida que vamos abrindo espaço para ele, teremos nossos corações transformados.
Todos aqueles que marcaram a história por terem intimidade profunda com Deus,
tomaram passos práticos e organizaram suas vidas para que, de alguma forma, pu-
dessem receber a paz que excede todo o entendimento.
Nesta disciplina, queremos te encorajar a procurar um lugar isolado para gastar
tempo em silêncio e solitude. Na quietude desse tempo ouça o estrondoso silêncio
de Deus. Faça desse tempo um momento de orientação para o seu caminho e vida
cristã, através da comunhão com Deus.
É na solitude, silêncio e quietude, que a alma devota aprende os segredos das Es-
crituras, deixa de lado as vaidades e entenda, com verdadeira intensidade, que o
Senhor é Deus. Teremos nossa sensibilidade ampliada, nossa liberdade e atenção
renovadas. A solitude fará com que nos tornemos pessoas diferentes. Nossa socie-
dade e igreja carecem de pessoas que tenham verdadeira profundidade. Deus nos
chama para um viver mais profundo nele, aquietando todas as outras vozes para ou-
vir somente a sua. É a disciplina da solitude que abrirá a porta para uma exposição
mais profunda e completa diante da presença divina.
13. Teresa de Ávila apud FOSTER, Richard J. Celebração da disciplina: o caminho do cresci-
mento espiritual. 2ª edição. São Paulo: Editora Vida, 2007, p. 143.
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Aula 6
v.1.0.0
A DISCIPLINA DA
SUBMISSÃO E DO
SERVIÇO
A prática da disciplina da submissão, tanto no contexto governamental quanto no
congregacional, provavelmente, seja a que mais sofreu abuso em toda a história.
Este é um assunto muito delicado que devemos estudar com cuidado e discerni-
mento, mas sem ignorar que pode nos trazer muitos benefícios.
Cada disciplina tem como objetivo trazer liberdade e sua prática nunca é um fim
em si mesmo. Como temos visto, as disciplinas são sempre meios de nos levar até
Deus, o único que pode realmente nos transformar. Nada é mais eficaz do que a
religião para aprisionar pessoas, e nada na religião contribui mais para manipular
e destruir pessoas do que o ensino equivocado sobre a submissão. No entanto, ela
tem como objetivo moldar o nosso coração e nos expor à presença de Deus para
que, assim, possamos receber sua graça.
71
ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
LIBERDADE NA SUBMISSÃO
Qual é a liberdade que a disciplina da submissão traz para nós? Liberdade da ne-
cessidade de que todas as coisas sejam feitas para o nosso bel-prazer. Queremos
controlar tudo ao nosso redor, desde os relacionamentos até os acontecimentos
mais simples do dia a dia. Nosso desejo é que tudo aconteça de acordo com a nossa
própria vontade. Porém, a verdade é que isso nunca irá acontecer.
A partir do momento em que tentamos controlar todos os elementos que nos ro-
deiam, ficaremos totalmente frustrados, aflitos e envoltos em preocupação e an-
siedade. Alguns agem como se a própria vida dependesse do seu controle e, por
causa disso, desenvolvem até mesmo doenças físicas. O desejo por controle é algo
que não nos traz nenhum benefício, pois tal desejo jamais será satisfeito, uma vez
que é impossível controlar tudo o que nos cerca. Na disciplina da submissão somos
livres para desprender-nos da questão e para esquecê-la. A maioria das coisas com
as quais nos preocupamos, no fim, não são tão importantes quanto pensávamos.1
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
“Do mesmo modo, vós, os mais jovens, sujeitai-vos aos presbíteros. Ten-
de todos uma disposição humilde uns para com os outros, porque Deus se
opõe aos arrogantes, mas dá graça aos humildes.” (1 Pe 5.5)
A principal atitude de submissão deve ser o silêncio. Esse tipo de silêncio é de-
monstrado quando carregamos um santuário em nosso coração, um silêncio in-
terior. No dia a dia enfrentamos situações, nas quais somos tentados a encontrar
justificativas, ou seja, sempre explicando nossas ações a fim de demonstrar a razão
das nossas ações, pois resistimos ao erro e zelamos pela nossa imagem. O silêncio
é algo que acompanha a submissão, pois ele é a atitude livre de abrir mão da neces-
sidade de controlar situações e opiniões através de justificativas; nos submeter de
tal forma que as pessoas possam nos julgar somente pelas nossas ações, isto é, sem
nenhum tipo de comentário ou explicação de nossa parte.
Dessa forma, nos veremos diante das pessoas sem a necessidade de controlá-las por
meio de nossas palavras. Quando ouvirmos uma repreensão ou uma ordem que não
nos agrada, pratiquemos o silêncio da submissão. Diante da desconfiança de que
alguma acusação possa estar sendo levantada contra nós, precisamos entender que
é possível renunciar o direito de contestar. Praticar a submissão é trilhar o caminho
oferecido por Jesus aos seus discípulos:
73
ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
“Ele foi oprimido e afligido, contudo, não abriu a sua boca; como um
cordeiro foi levado para o matadouro, e como uma ovelha que diante de
seus tosquiadores fica calada, ele não abriu a sua boca” (Is 53.7 – NVI)
Devemos praticar a submissão como algo que nos leva a encarnar essa realidade
de Cristo, para também nos tornar semelhantes a ele. A autonegação é um meio
de chegarmos à compreensão de que não precisamos trilhar um caminho próprio.
Nossa felicidade não depende de conseguir aquilo que queremos.
O ensino bíblico a respeito da submissão repousa no fato de como vemos o seme-
lhante. A Escritura não intenta estabelecer relacionamentos de maneira hierárqui-
ca, mas comunica uma atitude no coração de subordinação mútua e voluntária2.
A submissão perpassa um sentimento de apreço e respeito pelo outro. Esta foi
a recomendação paulina aos filipenses; sempre devemos ter em mente o mesmo
sentimento que houve em Jesus:
Não façais nada por rivalidade nem por orgulho, mas com humildade,
e assim cada um considere os outros superiores a si mesmo. Cada um
não se preocupe somente com o que é seu, mas também com o que é dos
outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus”
(Fp 2.3-5)
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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“Pois quem quiser preservar sua vida, irá perdê-la; mas quem perder a
vida por causa de mim e do evangelho, irá preservá-la.” (Mc 8.35)
“Já que fostes ressuscitados com Cristo, buscai as coisas de cima, onde
Cristo está assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas de cima e não
nas que são da terra; pois morrestes, e a vossa vida está escondida com
Cristo em Deus.” (Cl 3.1-3)
Precisamos aprender que apenas entregando nossa vida a Cristo teremos verda-
deira satisfação. E assim, podemos nos unir à oração puritana, clamando para que
o Senhor nos ensine com os paradoxos da sua palavra, que subvertem os valores
deste século e nos levam aos caminhos de vida em abundância.
Permite-me aprender pelo paradoxo
Que o caminho para baixo é o caminho para cima,
Que ser humilde é ser elevado,
Que o coração quebrado é o coração sarado,
Que o espírito contrito é o espírito alegre,
Que a alma arrependida é a alma vitoriosa,
Que não ter nada é possuir tudo,
Que suportar a cruz é usar a coroa,4
4. BENNET, Arthur G. O Vale da Visão: uma coletânea de orações puritanas. Brasília: Moner-
gismo, 2020, p. 15.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
Ainda que não pudessem obedecer a determinadas ordens, eles precisavam ter uma
atitude de submissão e mansidão diante das punições que vinham sobre eles. A sub-
missão jamais deve se estender até ao ponto de entrar em contradição com a palavra
de Deus e, assim, desobedecê-la. Não é lícito obedecer àquilo que contradiz à vontade
revelada de Deus nas Escrituras. Mas, ainda assim, devemos ter uma atitude interior
de submissão.
A submissão transforma situações de nossa vida. Paulo, na sua carta aos colossen-
ses, exorta os escravos e as mulheres a terem uma atitude de submissão para com
seus senhores e maridos. Ao falar a respeito dessa obediência, ele não está se re-
ferindo a algo externo, mas a uma realidade interior. É possível fazermos exter-
namente o que nos pedem e internamente estarmos em total rebelião. A respeito
da obediência externa daquela época, a mulher não possuía qualquer direito de
opinião ou de mudar sua circunstância, assim como o escravo não possuía meios
para mudar sua relação com seu senhor. Porém, podiam mudar sua disposição inte-
rior para que, assim, suas atitudes refletissem o caráter de Cristo e glorificassem a
Deus. Se vivermos uma vida de cruz diante de nossos líderes, logo constataremos
que isso trará crescimento espiritual tanto para eles como para nós.
Por isso, não existe nada mais torturante do que tentar viver na base da nossa pró-
pria vontade, ser o centro do mundo e ficar constantemente na busca de garantir
os nossos interesses. Não existe paz nesta maneira de viver. Procurar sempre ter a
própria vontade satisfeita é ter o mesmo espírito de Satanás, que queria ser o centro
de tudo. Submissão é ser livre da própria vontade, e deriva da confiança na sobera-
nia de Deus de que ele escolheu pessoas ao nosso redor que podem nos contrariar
e nos livrar de nós mesmos.
A DISCIPLINA DO SERVIÇO
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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O Verdadeiro Serviço
Na Bíblia, o maior exemplo a respeito da disciplina do serviço é o próprio Senhor
Jesus se dispondo a lavar os pés de seus discípulos. Estes discutiam, em determina-
do momento, a respeito de qual deles seria o maior. A partir do momento em que
definimos quem é o maior, consequentemente também seremos levados a definir
quem é o menor. A tarefa de lavar os pés sempre deveria ser delegada àquele que
fosse o menor dentre todos, geralmente algum escravo. E ainda que os discípulos
estivessem dispostos a não ser o maior de todos e ter um status “mediano” entre
os seguidores de Cristo, nenhum deles tinha disposição interior para ser o menor;
para se deixar de alguma forma ser abusado por seus companheiros, e se colocar
em uma posição de maior fragilidade por meio do serviço. Então, Jesus pegou uma
toalha e uma bacia com água e redefiniu o sentido de grandeza através da sua ati-
tude servil.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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9. CALVINO, João. Série de Comentários Bíblicos: Evangelho segundo João. Volume 2. São
Paulo: Editora Fiel, 2013. Ebook (328 p.) Disponível em: https://amzn.to/3KNj1RE. Acesso
em: 14 abr. 2022.
10. Id. Ibid.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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“Jesus os chamou e disse: Vocês sabem que aqueles que são considerados
governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem
poder sobre elas. Não será assim entre vocês. P contrário, quem quiser
tornar-se importante entre vocês deverá ser servo; e quem quiser ser o
primeiro deverá ser escravo de todos. Pois nem mesmo o Filho do homem
veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por
muitos.” (Mc 10.42-45 - NVI)
Serviço e Humildade
O serviço, no espírito de Jesus, nos leva a uma humildade sincera que não carrega
fardo de “aparência”, pois nos permite viver uma humildade autêntica. Nunca al-
cançaremos humildade se a buscamos diretamente, ou seja, quanto mais a busca-
mos, mais distante ela fica de nós. Pensar que a possuímos é evidência clara de que
não a possuímos. Por isso, muitos acreditam que não existe nada que se possa fazer
para adquirir tal virtude.11
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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Mas existe algo que podemos fazer para alcançá-la: o serviço. Ele é a disciplina es-
piritual que mais possibilita o desenvolvimento da humildade em nós. Nada como
servir longe dos holofotes, para transformar os desejos da carne; o serviço discipli-
na os desejos desordenados da carne.12
A disciplina do serviço treina o coração do discípulo na graça da humildade. Virtu-
de tão importante e apreciada pela Escritura. Nela encontramos afirmações impor-
tantes a respeito da humildade, como: “Deus se opõe aos arrogantes, mas dá graça
aos humildes.” (1 Pe 5.5); e: “Pois todo o que a si mesmo se exaltar será humilhado, e
aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado” (Lc 14.11). A humildade, portanto,
é um imperativo que permeia as Escrituras, e um dos motivos é que humildade
é um atributo de Deus, e estaremos longe de sermos como Jesus se andarmos na
contramão da humildade.
Outro aspecto interessante é a natureza de Deus como Trindade. O fato de Deus
ser um só e existir em três pessoas eternamente, implica na verdade de que o pró-
prio Deus vive em comunhão e em um relacionamento. Jesus orou: “Eu te glorifi-
quei na terra, completando a obra da qual me encarregaste. Agora, pois, glorifica-me, ó
Pai, junto de ti mesmo, com a glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse”
(Jo 17.4-5), indicando como desde a eternidade cada pessoa da Trindade vive em
um relacionamento de amor e serviço umas às outras.
Tim Keller cita a obra de Plantinga em que ele diz que:
Isso significa que por toda a eternidade, a realidade última é uma comunhão de
pessoas que amam e servem incondicionalmente. O Pai, o Filho e o Espírito Santo
estão centrados uns nos outros, adorando e servindo uns aos outros, conclui Keller.
Por isso, este padrão de serviço e submissão deve estar impresso em nossa vida.
Carregamos em nosso corpo as digitais do Deus trino que nos criou para dar, servir
e amar assim como ele tem vivido desde a fundação do mundo.15
14. KELLER, Timothy. A cruz do Rei: a história do mundo na vida de Jesus. 1ª edição. São
Paulo: Vida Nova, 2012, p. 26 apud Cornelius Plantinga, Engaging God’s Word: a Christian
vision of faith, learning and living. Grand Rapids: Eerdmans, 2022, p. 20-23.
15. KELLER, Timothy. A cruz do Rei: a história do mundo na vida de Jesus. 1ª edição. São
Paulo: Vida Nova, 2012, p. 27-32
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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No entanto, isso não exclui o fato de que o serviço assume formas específicas e
para concluir, abaixo alguns exemplos dados com o intuito de reflexão e até mesmo
iluminação a respeito de como colocar em prática a disciplina do serviço.16
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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17. Piper, John. Penetrado pela Palavra. O que é humildade? Editora Fiel, 2009. Disponível
em: https://bityli.com/HCPevo. Acesso em: 18 abr. 2022.
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Aula 7
v.1.0.0
A DISCIPLINA DA
CONFISSÃO E DA
ADORAÇÃO
Sabemos que Jesus está vivo agora e para todo o sempre. A sua obra redentora na
cruz absorveu toda a violência, todo o medo, todo o pecado do passado, do presente
e do futuro. É esta obra que possibilita a confissão e o perdão. Sem a cruz a confissão
seria apenas terapêutica, algo no contexto psicológico. Porém, ela é uma disciplina
espiritual que envolve uma mudança objetiva em nosso relacionamento com Deus.1
“Se dissermos que não temos pecado algum, enganamos a nós mesmos, e a
verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo
para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” (1 Jo 1.8,9)
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
Uma grande discussão ocorreu a partir da reforma protestante, por causa das prá-
ticas abusivas e exageradas relacionadas à confissão de pecados. Discutia-se, por
exemplo, se deveríamos confessar nossos pecados a Deus ou diretamente para um
líder espiritual ou a um irmão. A prática da confissão naquele período, muitas ve-
zes, estava ligada a indulgências e penitências, feitas com a intenção de se obter o
perdão dos pecados. Os reformadores nunca se colocaram contra a disciplina da
confissão em si, mas foram contrários aos exageros cometidos nela.
O objetivo desta aula – disciplina da confissão – não é tentar restaurar a noção
antiga a respeito da confissão (fazer algo para conquistar o perdão de Deus), mas é
nos levar a entender como podemos alcançar a liberdade da certeza de que Deus
liberou seu perdão sobre a nossa vida.
“Portanto, confessai vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos ou-
tros para serdes curados. A súplica de um justo é muito eficaz.” (Tg 5.16)
Alguns dizem que devemos confessar nossos pecados exclusivamente para Deus, em
nossos momentos de devoção, sem a necessidade de intervenção humana. É verda-
de, há um só mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5), e Deus é fiel para perdoar
2. Id. Ibid.
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“mas, se andarmos na luz, assim como ele está na luz, temos comunhão
uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo
pecado.” (1Jo 1.7)
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As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
SAINDO DA SUBJETIVIDADE
8. BONHOEFFER, Dietrich. Vida em Comunhão. São Leopoldo: Editora Sinodal, 1997. E-book
(95p.) Disponível em: https://docero.com.br/doc/xs5nee5. Acessado em: 25 abr. 2022.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
A VULNERABILIDADE DA CONFISSÃO
Precisamos entender que confessar nossos pecados é nos colocar em uma posição
de fragilidade, pois a partir do momento que os confessamos a alguém estamos lhe
dando ferramentas para nos fazer mal ou nos difamar, caso seja esta a sua vontade.
Porém, não confessamos pecados como quem está simplesmente se sujeitando a
homens. Antes de nos sujeitarmos aos irmãos, nos sujeitamos a Deus em confiança
de que ele nos deu a confissão como um meio de graça para nos purificar e santifi-
car. Se o obedecemos, podemos ter a certeza de que ele nos guarda e nos protege.
Ao confiarmos no amor de Deus, o medo da traição e frustração não são maiores
que a confiança de que é Deus quem nos justifica.
PRATICANDO A CONFISSÃO
Um amigo cristão maduro ou ministro qualificado é capacitado para orar por pro-
blemas específicos e fazer coisas que podem colaborar com a redenção daquele que
está confessando.
A confissão de nossos pecados a Deus deve ser diária. Precisamos ter um estilo de
vida de arrependimento, para que o Espírito Santo possa nos purificar dos pecados.
Como vimos antes, mesmo com a prática de confissão a Deus, perceberemos que al-
guns pecados continuarão a nos afligir. Esse, então, será o momento de procurarmos
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
alguém para que possamos nos abrir. Essa decisão nos colocará em posição para ser-
mos libertos e continuarmos a andar em pureza. Precisamos ser práticos, objetivos e
anotar o que queremos confessar.
Talvez a maior necessidade de confissão não seja acerca dos “grandes” pecados
que cometemos, cujas consequências são extremamente visíveis. Há, por exemplo,
padrões de pensamentos pecaminosos em nossas vidas, que se não forem expostos
continuarão ocultos e nunca serão tocados.
Lembre-se sempre, o coração de Deus é como de um pastor que está disposto a ir
atrás da sua única ovelha perdida; é o mesmo coração do pai do filho pródigo que
está de braços abertos para receber o filho de volta em sua casa. Não precisamos
convencer Deus a nos perdoar, ele é quem trabalha para que tenhamos vontade de
buscar o seu perdão.9
Ao ouvir uma confissão não precisamos ficar debaixo da compulsão de dizer algo,
nosso papel primordial naquele momento é simplesmente ouvir. Após a confissão
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
devemos colocar nossas mãos sobre a pessoa e orar, liberando sobre ela o perdão
de Deus. Você, como representante de Cristo naquele momento, declara o fato de
que o sangue dele purificou aquela pessoa de qualquer pecado que tenha cometido.
Porém, é importante entender que não basta apenas ouvir, há momentos em que é
necessário falar e orientar a pessoa; falar a respeito do seu pecado e conduzi-la ao
ensino das Escrituras.
Na disciplina da confissão é importante dizer que não devemos procurar pessoas
do sexo oposto para confessar nossos pecados, especialmente se forem pecados na
área sexual. Homens devem confessar a homens, e mulheres devem confessar a
mulheres. Esta é uma ética que protege e guarda tanto quem confessa quanto quem
ouve a confissão. Há algumas raras exceções em relação a pecados cometidos con-
tra a pessoa em si, mas em todos os outros casos, esta é uma norma na disciplina da
confissão que deve ser seguida.
Ao se dispor a ouvir os pecados de alguém é preciso atentar aos seguintes passos:
1. Ouvir com total disponibilidade de coração e atenção;
2. Liberar o perdão de Deus de uma maneira clara, objetiva, séria e espiritual;
3. Liberar uma palavra que mostre a necessidade de arrependimento, algum
ensino bíblico ao qual a pessoa possa se apegar;
4. Dar-lhe um conselho prático de como viver uma vida longe daquele pecado.
A DISCIPLINA DA ADORAÇÃO
O estudo sobre Deus, em sua Palavra e outros livros, abre o caminho para a discipli-
na da adoração. Na adoração reconhecemos e expressamos a grandeza, a beleza e a
bondade de Deus. Sempre que a palavra “adoração” aparece na Bíblia, ela está ligada
a algo que fazemos para honrar quem Deus é. Geralmente, quando pensamos em
adoração logo nos referimos à música na igreja, mas, ainda que a música tenha um
papel importante na adoração, adoração não é música.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
Segundo Wayne Grudem, adorar é uma expressão direta do nosso principal pro-
pósito na vida de “glorificar a Deus e gozá-lo eternamente”. Ao refletirmos sobre o
propósito da adoração, devemos nos lembrar da dignidade e honra de Deus em re-
ceber adoração14. Apocalipse demonstra um cenário de total adoração a Deus entre
os seres celestiais; eles estão contemplando a beleza da santidade diante do trono
de Deus, a sua dignidade como Criador e sustentador de todas as coisas.
11. FONTE, Filipe. Idolatria: um inimigo ignorado. Editora 371, 2020. 1ª edição. E-book (51p.)
Disponível em: https://amzn.to/3s1CZ3x. Acesso em: 28 abr. 2022.
12.Catecismo Maior de Westminster (resposta à pergunta 01). Disponível em: https://bit.ly/
3vR1uBv. Acesso em: 28 abr. 2022.
13. GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. São Paulo: Vida Nova, 1999, p.
848.
14. d. Ibid., p. 848-849.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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O que faz os vinte e quatro anciãos no céu sentirem tamanha reverência e alegria é
porque tinham a revelação de quem Deus é e da grandiosidade das suas obras. Por isso,
adoração é uma correspondência dos homens mediante a revelação divina. As Escri-
turas estão repletas de exemplos do esforço de Deus para iniciar, restaurar e manter a
comunhão com seus filhos. A adoração é a nossa reação a esta oferta de amor originada
no coração do Pai. Adorar, portanto, é corresponder à revelação de quem Deus é.
Adoração não diz respeito a uma experiência sensorial, mas a um serviço que pres-
tamos diante de Deus. Nosso chamado para adorar não é para nos sentirmos “bem”,
mas viver esta vida como expressão do quanto nós valorizamos a Deus. Por isso,
no momento de culto público, caso a música ou estilo de adoração não o agrade, a
menos que a letra transgrida a Escritura, o mais importante é adorar a Deus junta-
mente com o seu povo – simplesmente porque ele é digno.
Adoração é uma resposta que damos à iniciativa de Deus em se revelar a nós. Quan-
do nós adoramos, ou seja, correspondemos à iniciativa de Deus, começa a ser for-
mado em nós a percepção da realidade última do mundo, ou seja, o próprio Deus.
Adoração não tem a ver conosco, com nossos sentimentos e sensações. Ainda que
iremos ter experiências com a presença de Deus, com seu Espírito, com sua glória,
este não deve ser o nosso foco. A partir do momento em que nos tornamos o foco
da adoração, ela perde o seu sentido. Quando tudo o que queremos é sentir algo
ou passar por uma experiência, estamos entrando na adoração com a perspectiva
errada.
Devemos, sim, ter fome e sede por Deus, mas nossos desejos não de-
vem determinar como correspondemos à revelação sobre quem ele é.
“Pois não existe árvore boa que dê fruto mau, nem árvore má que dê fru-
to bom. Toda árvore é conhecida pelo fruto; pois não se colhem figos dos
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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espinheiros nem uvas dos espinhos. O homem bom tira o bem do bom te-
souro do seu coração; e o homem mau tira o mal do seu mau tesouro; pois
a boca fala do que o coração tem em grande quantidade.” (Lc 6.43-45)
“Não compreendeis que tudo o que entra pela boca e desce para o estô-
mago é depois expelido? Mas o que sai da boca procede do coração; e é
isso que torna o homem impuro. Porque do coração é que saem os maus
pensamentos, homicídios, adultérios, imoralidade sexual, furtos, falsos
testemunhos e calúnias. São essas coisas que tornam o homem impuro;
mas o comer sem lavar as mãos não o torna impuro.” (Mt 15.17-20)
Embora como cristãos, não sejamos mais escravos do pecado, e tendo recebido
liberdade e poder da parte do Redentor para lutar contra o mal e obter vitória so-
bre ele, o risco de cairmos em idolatria é real, por isso existem imperativos na
Bíblia, direcionado aos cristãos, contra a idolatria. E não é somente um risco, mas
frequentemente a idolatria se torna uma realidade na vida do povo de Deus, um
exemplo disso é a história de Israel.
“Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da
escravidão. Não terás outros deuses além de mim.” (Êx 20.2,3)
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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“Os que escolhem outros deuses terão as dores multiplicadas; não ofere-
cerei seus sacrifícios de sangue, nem meus lábios pronunciarão seu nome.
(...) Tu me farás conhecer o caminho da vida; na tua presença há plenitu-
de de alegria; à tua direita há eterno prazer.” (Sl 16.4,11)
Ou seja, a idolatria é o maior inimigo da adoração, sendo ela uma violação contra a
glória de Deus. Quando substituímos Deus, diminuímos sua glória e nos tornamos
expressão da imagem falsa do deus substituto ao qual elegemos. Além disso, se
Deus nos criou para a sua glória e para que desfrutemos eternamente da sua pre-
sença, a idolatria é um atentado contra nossa própria satisfação.
Por esse motivo, John Piper diz que:
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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Segundo Foster, adoração é uma palavra que está sempre relacionada a algo físi-
co na Bíblia, algo que fazemos com nosso corpo. O significado da raiz da palavra
hebraica que traduzimos por ‘adoração’ é ‘prostrar’. O verbo ‘abençoar’ significa
literalmente ‘ajoelhar’. ‘Ação de graças’ refere-se a ‘estender as mãos’. Por toda a
Escritura, encontramos uma variedade de posturas físicas vinculadas à adoração:
prostrar-se, ficar em pé, ajoelhar-se, levantar as mãos, bater palmas, levantar a ca-
beça, abaixar a cabeça, dançar, vestir-se com pano de saco e cobrir-se de cinzas.
Portanto, devemos oferecer nosso corpo a Deus, bem como todo o resto de nosso
ser. A adoração é essencialmente corporal. 18
Louvar é outro caminho para a adoração. As linguagens do louvor são muitas: dan-
çar, cantar, gritar, tocar, pular. O sacrifício de louvor é um princípio bíblico, po-
demos vê-lo, por exemplo, quando Pedro e João saem do Sinédrio sangrando com
as chibatadas, mas louvando (Atos 5); e quando Paulo e Silas estão presos, mas na
prisão eles seguem louvando (Atos 16).
16. PIPER, John. Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nEle. Dis-
ponível em:
https://bit.ly/3Ffx7ZS. Acessado em: 4 mai. 2022.
17. Id. Ibid.
18.FOSTER, op. cit., p. 234.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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C. S. Lewis diz, em seu livro Reflexões sobre Salmos, que o louvor não é só a ex-
pressão daquilo que possui valor, mas é a própria consumação do prazer àquilo que
detém sua afeição.
Sendo assim, nosso louvor pode ser expressado de maneira física e verbal, com nossos
lábios e com o nosso corpo, manifestando a alegria e o prazer que temos em Deus.
Porque o valorizamos acima de tudo, temos nossa alegria completa em viver para elo-
giá-lo com louvores em nossos lábios. É exatamente esta alegria que vemos relatadas
em salmos; a alegria de quem encontrou em Deus o seu tesouro, e por isso transborda
em louvor!
19. LEWIS, C. S. Reflections on the Psalms. New York: Harcourt, Brace and World, 1958, p.
93–95 apud John Piper. Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos
nEle. Disponível em: https://bit.ly/3Ffx7ZS. Acessado em: 4 mai. 2022.18
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OS FRUTOS DA ADORAÇÃO
1. Alegramo-nos em Deus
Deus nos criou não apenas para glorificá-lo, mas também para nos alegrarmos nele.
Experimentamos mais plenamente da alegria em Deus na nossa adoração. Veja
Davi que dizia buscar “uma só coisa” durante toda a sua vida:
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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O povo que conhece o Senhor exulta de alegria por tamanha salvação que os alcan-
ça. À medida que prosseguimos em conhecê-lo nossa alegria é completa e transbor-
da em uma vida de adoração.
“Pois, como um jovem se casa com uma moça, assim teus filhos se ca-
sarão contigo; e, como o noivo se alegra da noiva, assim o teu Deus se
alegrará de ti.” (Is 62.5)
“O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para te salvar; ele se
agradará de ti com alegria; ele se renovará no seu amor e se alegrará em
ti com júbilo.” (Sf 3.17)
Deus tem mais alegria em seu povo, quando mais seu povo se alegra nele. Ele se
alegra como um noivo que se alegra de sua noiva. Ele nos ama, e porque nos ama,
nos atraiu com fidelidade. Quanto maior nossa consciência acerca do seu amor,
maior alegria teremos em agradar o seu coração.
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
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3. Aproximamo-nos de Deus
A realidade da nova aliança, inaugurada pelo sangue de Jesus, é que podemos nos
achegar com confiança até o trono da graça (Hb 4.16).
Embora não possamos ver, a Escritura nos garante que nossa adoração é diante da
presença de Deus, e que nos unimos aos seres celestiais enquanto o adoramos.
Essa é a garantia de que “tendes chegado ao monte Sião, à cidade do Deus vivo, à
Jerusalém celestial, ao incontável número de anjos em reunião festiva; à igreja dos
primogênitos registrados nos céus, a Deus, o juiz de todos, aos espíritos dos justos aper-
feiçoados; a Jesus, o mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão, que fala
melhor do que o sangue de Abel.” (Hb 12.22-24) e “por isso, recebendo um reino inaba-
lável, sejamos gratos e, dessa forma, adoremos a Deus de forma que lhe seja agradável,
com reverência e temor; pois o nosso Deus é fogo que consome” (Hb 12.28,29).
No meio dos louvores, Deus é entronizado. Ele habita no meio do seu povo, mas
quando nos achegamos a Deus, ele se achega a nós.
O apóstolo Pedro relata em sua carta, que enquanto nos achegamos a Deus, vamos
sendo edificados como uma casa espiritual para Deus:
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
“Ele tem a força humana, mas nós temos o Senhor, nosso Deus, para nos
ajudar e lutar por nós.” (2 Cr 32.8a)
CONCLUSÃO
“Se a adoração não nos impelir a uma obediência mais intensa a Deus e
a uma transformação interior profunda, então não houve adoração.”.22
Estar diante do Santo eterno significa mudança. Contemplá-lo, estar em sua pre-
sença e não ser transformado é impossível:
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
Enquanto gastamos tempo em verdadeira adoração, Deus nos transforma, por isso,
é, sem dúvida, uma disciplina muito profunda e importante. Mesmo não perceben-
do, em meio à sua prática, Deus está mudando nosso coração e alinhando nossos
valores, para que todo nosso ser seja atraído para ele, como uma bússola.
Deus nos criou para ser um povo sacerdotal, um povo onde a adoração não é uma
mera atividade, mas o elemento central da nossa identidade. Adorar e existir devem
ser a mesma coisa para nós. Somos seres essencialmente adoradores, a idolatria é
uma prova disso.
Existimos para adorar, fomos criados para isso. Se não estamos adorando a Deus
estamos automaticamente adorando outras coisas. Quanto mais tempo gastamos
em comunhão e adoração a Deus, maior será a nossa experiência de transformação
em nossa vida.
Precisamos adorar com a consciência de que ele é digno – é digno de nossas expres-
sões de louvor, de nossas canções, do nosso silêncio, de tudo o que somos e temos.
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Aula 8
v.1.0.0
A DISCIPLINA
DA ORIENTAÇÃO E
DA CELEBRAÇÃO
A DISCIPLINA DA ORIENTAÇÃO
A disciplina da orientação espiritual tem uma relação direta com ouvir a direção do
Espírito Santo na comunhão. É nos esforçar para conseguir perceber e entender o
que Deus quer de nós enquanto seguimos a Ele como seus discípulos.
Deus nos orienta de várias formas: pelas Escrituras, pelo Espírito Santo e seus
dons, e pelo Corpo de Cristo. Nós, que seguimos a Jesus, precisamos aprender a
ouvir a orientação de Deus nestes três aspectos.
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As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
Todos nós devemos ser guiados pelo Espírito Santo e a disciplina da orientação nos aju-
da a entrar nessa dimensão. A disciplina da orientação visa encontrar a mente do Espíri-
to. Isso não significa tentar “descobrir a vontade de Deus” para nossas vidas a fim de
que todos os nossos planos deem certo e não tenhamos qualquer tipo de dificuldade.
A nossa busca é pela sabedoria que vem do Espírito Santo de Deus. Precisamos
ter a consciência de que, no poder do Espírito, o próprio Cristo guia seu povo. Na
Bíblia não vemos os apóstolos preocupados e questionando a respeito de suas de-
cisões pessoais. Eles buscavam entender a mente do Espírito para que pudessem
cooperar com o que Deus estava realizando em seus dias, colaborando assim com a
realização de sua obra e pregando o Evangelho:
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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
As Disciplinas Espirituais - Ferramentas para uma Vida Profunda em Deus
Em Atos vemos um grupo de pessoas que decidiu viver sob o senhorio do Espírito.
Eles rejeitaram o totalitarismo humano e até mesmo a democracia, ou seja, a de-
cisão da maioria. Ousaram ser fundamentados na direção do Espírito. Assim, até
mesmo o irmão mais maduro deve reconhecer que precisa da ajuda dos irmãos.
Somos membros de um corpo e Cristo é o nosso cabeça.
Isoladamente ninguém
consegue ouvir a totalidade
do conselho de Deus.¹
O Orientador Espiritual
Existiu, na tradição da espiritualidade cristã, algo chamado de orientador espiri-
tual. Na Idade Média nem mesmo os maiores santos arriscavam se aprofundar na
jornada interior sem a ajuda de um orientador espiritual. Hoje se fala muito a res-
peito de mentoriamento ministerial, mas muito pouco a respeito da orientação
espiritual, tão presente na história da espiritualidade.
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A orientação espiritual não diz respeito a alguém que irá orientar, por exemplo,
como ter um ministério bem sucedido. Mas é receber orientações – de uma pessoa
que consideramos ter uma vida profunda de comunhão com Deus – de como de-
senvolver uma vida semelhante à dela, isto é, de como crescer em comunhão com
Deus e em experiências espirituais.
Essa orientação serve para nos conduzir com simplicidade e clareza ao nosso ver-
dadeiro orientador.
O orientador espiritual era alguém que não possuía nenhum tipo de autoridade
hierárquica ou organizacional, mas reconhecido por sua profundidade, santidade e
vida com Deus. Precisamos recuperar isso! Sentar aos pés desses irmãos e ouvir o
que eles têm a dizer a respeito da vida no Espírito.
O orientador espiritual precisa ser alguém que já aceitou a si mesmo e que tenha
maturidade genuína que permeie toda a sua vida. Quem é assim não é levado pelas
variações dos tempos, porque possui um leme e consegue navegar através do egoís-
mo, da apatia e da mediocridade que existe ao seu redor.²
A orientação espiritual é o abrir total do coração, o compartilhar das experiên-
cias, lutas e incertezas. É entender que tanto o orientado como o orientador estão
aprendendo com Jesus – o Mestre sempre presente. Sem isso ficaremos presos na
superficialidade de nossa vida espiritual. O que buscamos não é uma carreira bem
sucedida, não é aparecer, não é ter o reconhecimento das pessoas, mas é nos en-
contrar verdadeiramente com Deus e sermos transformados à sua imagem.
Os Limites da Orientação
Existem perigos tanto na orientação individual quanto na comunitária, e precisa-
mos entender os seus limites. A manipulação e o controle são coisas que ameaçam
constantemente esta disciplina. Se a orientação não for conduzida no contexto da
graça, ela irá se tornar algo degenerativo e, por meio disso, os líderes irão impor
sua vontade aos indivíduos. Será um meio de forçar o alinhamento de opiniões
contrárias resultando em sufocamento da vida espiritual.³
O contrário também pode acontecer. Apesar de os líderes definitivamente preci-
sarem do conselho e do discernimento do corpo, também precisam de liberdade
para liderar. Eles não são obrigados a justificar todos os detalhes de suas ações para
a comunidade, pois foi Deus que os colocou nesta posição. Ele designa líderes com
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autoridade em sua Igreja. Nem todo membro precisa ter uma opinião de peso equi-
valente sobre qualquer banalidade da vida comunitária.
Devemos estar sempre submetidos à Palavra, entendendo que o Espírito nunca nos
conduzirá por um caminho que se oponha a ela. Devemos reconhecer que somos
seres humanos falíveis e que, às vezes, nossos conceitos e medos nos impedirão de
alcançar a unidade para a qual o Espírito nos conduz. Caso isso aconteça, devemos
ser humildes, gentis uns com os outros e nos submeter ao Espírito Santo.
A DISCIPLINA DA CELEBRAÇÃO
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Celebrar não é apenas lembrar o passado e de como Deus foi bom para conosco,
mas viver com a certeza e expectativa futura de que ele será sempre bom!
Com isso podemos aprender que existe uma alegria que só é encontrada na obedi-
ência. E isto acontece porque nas palavras do Verbo encarnado encontramos vida
em abundância (Jo 6.63, 68). Não há nada que possa encher o homem com maior
alegria ao perceber Deus invadindo a sua realidade e transformando suas misérias,
trazendo redenção e santificação para os contextos mais ordinários da sua vida.
A Bíblia dispõe de muitas exortações ao povo de Deus para que se alegrem no Se-
nhor, mas especificamente, vejamos a recomendação do apóstolo Paulo:
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Nesse trecho das Escrituras, Paulo aponta um caminho para a alegria, que exige um
ato de vontade e iniciativa nossa, sempre debaixo da graça de Deus, para enxergar
que a vida é sustentada pelo amor de Deus, e que Ele está perto. Essa realidade
envolve dois aspectos.
Primeiro, o Apóstolo deixa claro, que não devemos andar ansiosos. A ansiedade
desvenda nosso coração incrédulo quanto a confiabilidade de Deus. Igualmente,
revela nossa desconfiança na própria liderança do Senhor. No entanto, quando esti-
vermos livres para depender e confiar inteiramente nele, só neste caso, poderemos
experimentar alegria.
A recomendação é que por meio de oração e súplicas, façamos a Deus conhecida
todas as nossas ansiedades e preocupações, e o resultado, garantido pela Escritura,
é recebermos a paz que excede o entendimento dos homens, a mente e o coração
livre de tudo que tenta nos impedir de descansar em Deus.
Segundo, somos instruídos a concentrarmos nossos pensamentos em tudo que
seja verdadeiro, honesto, justo, puro e de boa fama. Essa decisão de voltar a mente
para coisas mais elevadas, ao invés de alimentarmos os problemas e as frustrações
da vida, moldará nossa forma de viver e pensar.
É por isso que a celebração é uma disciplina. Não é algo despejado sobre nós. O
fruto de repousar a mente nas coisas excelentes, emergidos pela gratidão, faz com
que Cristo penetre nos processos mais íntimos de nossas vidas e de nossos relacio-
namentos, e a consequência disso, inevitavelmente, será a alegria.6
Os cristãos são chamados para serem libertos da ansiedade. Não vamos alcançar o
espírito da celebração enquanto não aprendermos a deixar de lado a “preocupação
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Devemos oferecer a nossa vergonha e a nossa dança diante de Deus, pois ele é
digno de nossa celebração.
Dallas Willard diz que:
"Na celebração, a fé às vezes se transforma numa alegria esfuziante que
atravessa todo o nosso ser físico, quando começamos a ver realmente
quão grande e amoroso é Deus e quão bondoso tem sido para conosco.
A celebração feita de coração torna nossas privações e tristezas peque-
nas; e nós encontramos nela grande força para fazer a vontade de nosso
Deus, porque sua bondade se torna real para nós."8
8. WILLARD, Dallas. O Espírito das Disciplinas: Entendendo como Deus transforma vidas.
E-book (260 p.) Disponível em: https://bityli.com/AXydRb. Acessado em: 11 mai. 2022.
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também pode criar suas celebrações, não fique limitado às já existentes. Use sua
criatividade e promova sinfonias, cantatas, almoços, etc.
CONCLUSÃO
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prosperarão e você será bem-sucedido" (Js 1:8). Esses versículos incorporam a sa-
bedoria das Escrituras de que precisamos tomar certas medidas para receber a assis-
tência espiritual necessária e de que, em geral, essa assistência não será imposta ou
infundida em nós enquanto permanecermos passivos.
A solitude e o silêncio, o jejum e a frugalidade, o estudo e a adoração, o serviço e a
submissão — e outras práticas que cumprem os mesmos propósitos (não existe uma
lista completa) — são, portanto, partes essenciais de qualquer programa confiável de
formação espiritual. Devem constituir uma parcela considerável de nossa vida pri-
vada e de nossas relações com outros do corpo de Cristo. Essas atividades não nos
proporcionam mérito, mas nos permitem receber de Deus aquilo que não seria con-
cedido se permanecêssemos passivos. Não são retidão, mas sim, sabedoria.9
9. WILLARD, Dallas. A Grande Omissão. São Paulo: Mundo Cristão, 2008. E-book (99 p.)
Disponível em: https://bit.ly/3LmGHfb. Acessado em: 11 mai. 2022.
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