Dip Analise Do Acordao (Lei Aplicavel)
Dip Analise Do Acordao (Lei Aplicavel)
Dip Analise Do Acordao (Lei Aplicavel)
Sobre a lei aplicável as pessoas singulares na analise deste segundo acórdão discutir em volta da
lei aplicável às pessoas singulares, nas suas várias vertentes: noção e âmbito da lei pessoal, a
nacionalidade, o domicílio e a residência habitual, a determinação da lei do apátrida e do
refugiado, o Estado e a capacidade.
O número 1 do art. 31 do Código Civil (CC), define lei pessoal como lei da nacionalidade do
indivíduo. Segundo Lima Pinheiro, lei pessoal é aquela que afecta a pessoa na totalidade de sua
esfera jurídica ou um sector importante dela, verificando-se assim dois princípios:
Quanto ao âmbito, a lei pessoal rege o conjunto de matérias previstas no art. 25 CC: o estado dos
indivíduos (arts. (26 a 34 CC); a capacidade das pessoas (art. 63 CC); as relações de família (arts.
49 à 61) e as sucessões por morte (arts. 62 a 65 CC).
Tanto a nacionalidade como o domicílio ou residência habitual são elementos de conexão que,
em princípio, exprimem uma ligação estreita com a pessoa em causa e asseguram uma
continuidade das qualidades e situações jurídicas do estatuto pessoal. Para o ordenamento
jurídico moçambicano, a determinação da lei pessoal consta do art. 31/1 do CC que consagra o
princípio da nacionalidade considerando-se como lei pessoal a da nacionalidade do indivíduo,
ora limitado pela relevância concedida à lei da residência habitual quanto aos negócios jurídicos
celebrados, em conformidade com esta lei, no país da residência habitual, nos termos do artigo
31/2 do CC.
Identificação do acórdão
Número: rl
Votação: Unanimidade
Decisão: Procedente
Como resulta da exposição dos factos, a questão fundamental que se coloca no processo julgado
improcedente (e neste recurso) é a da determinação da lei aplicável à sucessão por morte de
William Leacock e, consequentemente, a ponderação sobre a validade legal do testamento por
este outorgado no dia 1 de Março de 2010, sopesando a factualidade concreta do caso,
nomeadamente, ser o referido William Leacock, cidadão britânico, nascido e falecido no
Portugal, onde outorgou o referido testamento. Uma vez que as relações jurídicas em causa se
acham em contacto com dois sistemas jurídicos (o português e o britânico), cumpre determinar a
lei aplicável fazendo intervir as Regras de Conflitos, previstas nos arts. 14º e ss. do CC
I - A sucessão por morte de um cidadão de nacionalidade britânica, é regulada, por regra, pela lei
da nacionalidade, em concreto, pela Lei britânica – arts. 25.º, 31.º e 62.º, todos do CC.
II - A Lei britânica congrega diferentes sistemas legislativos locais, mas não contém normas de
direito interlocal ou normas de direito internacional privado unificado, pelo que, por excepção, a
sucessão por morte é regulada pela Lei da residência habitual (ainda que esta não coincida com o
Estado de que é nacional), em concreto, pela Lei portuguesa – art. 20.º, n.os. 1 e 2, do CC.
III - A Lei portuguesa prescreve que, por testamento, o de cujus não pode dispor da porção de
bens que constituem a legítima, sob pena de redução dessa disposição – arts. 2156.º, 2168.º,
2169.º e 2172.º, todos do CC, pelo que, o facto de o testador ter disposto da totalidade dos seus
bens a favor do cônjuge sobreviva, não determina a inutilidade do processo de inventário para
partilha do acervo hereditário entre todos os herdeiros.
IV- Ao testar, o de cujus deixou claro a sua intenção de fazer vigorar a lei inglesa (lei da
nacionalidade), em detrimento da lei portuguesa (lei da residência habitual);
V- A lei inglesa considera-se competente para reger a sucessão mobiliária, bem como a sucessão
quanto aos imóveis situados em Inglaterra;
VI- As disposições testamentárias feitas pelo de cujus são válidas e eficazes perante o direito
inglês, razão por que as filhas, em caso de necessidade, poderão requerer da herança atribuições
patrimoniais para o seu sustento, conforme o permite a lei inglesa no Inheritance (provision for
family and dependants) act 1975.
Do que se discute no acórdão, a questão fundamental que se coloca no processo (e neste recurso)
é a da determinação da lei aplicável à sucessão por morte de William Leacock e,
consequentemente, a ponderação sobre a validade legal do testamento por este outorgado no dia
1 de Março de 2010 a favor da sua cônjuge sobreviva, tendo em conta a factualidade concreta do
caso, nomeadamente, ser o interessado, cidadão britânico, nascido e falecido em Portugal e com
residência habitual também em Portugal onde outorgou o referido testamento. Uma vez que as
relações jurídicas em causa se acham em contacto com dois sistemas jurídicos (o português e o
britânico), cumpre determinar a lei aplicável fazendo intervir as Regras de Conflitos, previstas
nos arts. 14º e ss. do CC.
O Douto Tribunal da relação de Lisboa, por força da aplicação do disposto nos arts. 25º, 62º e
63º, à sucessão por morte e especificamente quanto à capacidade de disposição por morte, é
aplicável a lei pessoal, a qual corresponde, nos termos do disposto no art. 31º, à lei da
nacionalidade do indivíduo ( Reino Unido). A significar, no caso, a lei britânica, face à
factualidade provada sob os nºs 2 e 3. Dispõe o art. 16 do C.C que “a referência das normas de
conflito a qualquer lei estrangeira determina apenas, na falta de preceito em contrário, a
aplicação do direito interno dessa lei”, querendo isto significar pela interpretação feita a
aplicação do Direito material, prevendo-se, porém, nos arts. 17º e 18º situações de reenvio da lei
estrangeira aplicável para a lei de um terceiro estado ou para a lei portuguesa, por força das
regras de direito de conflitos respectivas, e em que poderá aceitar-se esse reenvio (L1-L2-L1).
Trata-se de matéria de estatuto pessoal, concretamente a sucessão por morte que pode ser
reflectido a partir do artigo 25 + 31/1.
Esquema:
De acordo com o artigo mencionado, é ao ordenamento complexo que compete fixar o sistema
de direito interno aplicável (através, nomeadamente, do sistema unitário de direito interlocal);
não existindo, deve aplicar-se aos conflitos de leis interlocais o direito internacional privado
unificado; e na falta de ambos, atende-se à lei da residência habitual, no caso, do de cujus. Tal
como referem as apelantes, o Reino Unido é precisamente um dos casos em que se revela
impossível, por inexistente, o recurso a regras unificadas de direito interlocal e de regras de
conflitos num sistema internacional privado, unificado, o que obriga ao recurso à solução
prevista na parte final do nº 2 do artigo 20º.
De acordo com o ordenamento jurídico inglês, não há limitações à liberdade de testar, ou seja, a
lei inglesa desconhece o instituto da sucessão legitimária. Nessa medida, o testamento outorgado
por William Leacock, no qual legou à esposa Oksana Baiguzina, “todos os meus bens móveis,
bem como todos os meus bens imóveis situados na Região autónoma da Madeira e no reino
Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, que à data da minha morte me pertençam, no todo
ou em parte” é válido perante a lei inglesa.
Cumpre, então, apreciar a 2ª questão colocada pelas apelantes, à cautela, e que se prende com o
disposto no art. 22º. Dispõe este preceito, com a epígrafe “Ordem Pública”, que “1 – Não são
aplicáveis os preceitos da lei estrangeira indicados pela norma de conflitos, quando essa
aplicação envolva ofensa dos princípios fundamentais da ordem pública internacional do Estado
português.2 – São aplicáveis, neste caso, as normas mais apropriadas da legislação estrangeira
competente ou, subsidiariamente, as regras de direito interno português”.