Casos Práticos Dip (Reenvio)

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CASOS PRÁTICOS DIP

Caso 1

– Por morte de A, de nacionalidade francesa, que teve o seu último domicílio em


Portugal, discute-se em tribunais portugueses uma questão relativa à sucessão nos seus
bens móveis.

– A norma de conflitos portuguesa atribui competência à lei francesa, enquanto última lei
nacional do de cujus (artigos 62º e 31º, nº 1, do Código Civil).

– A norma de conflitos francesa remete a regulamentação do caso para a lei portuguesa


(lei do último domicílio) e os tribunais franceses praticam a devolução simples.

– Uma vez que, ao praticar devolução simples, o direito internacional privado francês não
remete para o direito interno português, mas também para as normas de conflitos, não
está verificado o condicionalismo do artigo 18º, nº 1, do Código Civil.

– Não se aplicando o artigo 18º, nº 1, do Código Civil, a referência que a lei portuguesa
faz à lei francesa é uma referência material (artigo 16º do Código Civil), sendo pois o
direito material francês o aplicável à questão.
Caso 2

– Discute-se em tribunais portugueses uma questão relativa à sucessão de um cidadão do


Reino Unido que deixa imóveis em Portugal.

– Admite-se que a norma de conflitos portugueses considera competente para regular a


questão, a título de lei nacional, o direito inglês, nos termos dos artigos 62º, 31º, nº 1, e
20º do Código Civil.

– O direito inglês não se considera competente, antes remete para a lei portuguesa,
enquanto lex situs. Os tribunais ingleses praticam a dupla devolução, pelo que iriam
julgar a questão tal como a julgaria um tribunal português.

– Sendo assim, não está preenchido o requisito do artigo 18º, nº 1, do Código Civil,
porquanto a lei inglesa não remete para o direito interno português 1.

– Não se aplicando o artigo 18º, nº 1, do Código Civil, a referência que o direito


português faz ao direito inglês é uma referência material (artigo 16º do Código Civil).

1
No sentido do texto, cfr. Ferrer Correia, Direito lnternaciona1 Privado - A1guns
Prob1emas, Coimbra, 1981, p. 210.
Em sentido contrário, embora com dúvidas, Baptista Machado, Lições de Direito
Internacional Privado, 3ª ed., Coimbra, 1935, p. 202.
Caso 3

– Discute-se em tribunais portugueses a sucessão imobiliária de A, francês, que morreu


com último domicílio em Portugal, deixando imóveis no Brasil.

– A norma de conflitos portuguesa atribui competência ao direito francês, enquanto


última lei nacional do de cujus (artigos 62º e 31º, nº 1, do Código Civil).

– Por seu lado, o direito francês não se considera competente e remete para o direito
brasileiro, enquanto lei da situação dos imóveis, praticando devolução simples, pelo que
os tribunais franceses aplicariam a lei material portuguesa.

– O direito brasileiro também não se considera competente, remetendo materialmente


para o direito português, enquanto lex domicilii, pelo que vem também a aplicar a lei
material portuguesa.

– Uma vez que o direito francês aplica ao caso o direito interno português, está
preenchida a previsão do artigo 18º, nº 1, do Código Civil. De notar que a terceira lei
considerada (lei brasileira, lei através da qual a lei francesa acaba por considerar
competente a lei portuguesa) aplica também o direito interno do foro, uma vez que lhe
dirige uma referência material.

– Tratando-se de matéria compreendida no estatuto pessoal, só haverá retorno se se


verificar uma das condições previstas no nº 2 do artigo 18º do Código Civil.

– Uma vez que o interessado residia habitualmente em Portugal, haverá lugar ao retorno,
aplicando-se a lei material portuguesa ao caso.
Caso 4

– Discute-se em tribunais portugueses a validade substancial do casamento celebrado em


Portugal entre A e B, cidadãos dos E.U.A., com residência habitual em França, pelo que
tem de determinar-se qual a lei reguladora da capacidade para contrair casamento.

– O casamento seria válido face ao direito material de Nova Iorque, mas não segundo o
direito material português.

– A lei designada para regular a capacidade a título de lei nacional será, por hipótese, a lei
do Estado de Nova Iorque (artigos 49º, 31º, nº 1, e 20º do Código Civil).

– O direito internacional privado de Nova Iorque submete a capacidade para casar à lei do
lugar da celebração do casamento e o direito de conflitos francês considera aplicável a lei
da nacionalidade.

– Os tribunais franceses praticam a devolução simples e o direito de Nova Iorque não


aceita o reenvio.

– Nos termos do artigo 18º, nº 1, do Código Civil, haverá, em princípio, devolução,


porque o direito internacional privado do Estado de Nova Iorque remete para o direito
interno português.

– Mas, como se trata de matéria compreendida no estatuto pessoal, há que ter em conta o
artigo 18º, nº 2, do Código Civil. Este artigo não impede o reenvio, porque em França,
país da residência habitual, os tribunais, ao praticarem a devolução simples, consideram
afinal competente o direito interno português.

– Sendo aplicável a lei material portuguesa, por força do artigo 18º, nºs 1 e 2, do Código
Civil, o casamento não seria válido, mas já o seria segundo a regra fixada no artigo 16º do
Código Civil. Sendo assim, por força do artigo 19º, nº 1, do Código Civil, o artigo 18º
deve ser afastado, aplicando-se a lei nacional (artigo 16º do Código Civil).
b) Transmissão de competência – artigo 17º do Código Civil

Caso 5

– A e B, tio e sobrinha, de nacionalidade suíça, domiciliados na Rússia, celebraram o seu


casamento em Moscovo.

– Discute-se em tribunais portugueses a validade do acto, invocando-se a disposição do


Código Civil Suíço que proíbe o casamento entre colaterais em 3º grau (artigo 100º)

– À face do direito interno russo, o casamento seria válido.

– A norma de conflitos portuguesa (artigos 49º e 31º, nº 1, do Código Civil) remete para o
direito suíço.

– No direito suíço, a norma de conflitos considera válido o casamento celebrado por


suíços no estrangeiro, se como tal o entender a lei do lugar de celebração (artigo 44º, nº 1,
da LDIP).

– O direito internacional privado russo considera a lei russa aplicável ao casamento na


Rússia de estrangeiros aí domiciliados.

– Nos termos do artigo 17º, nº 1, do Código Civil, o tribunal português aceita a devolução
do direito suíço para o direito russo e aplicará este direito, uma vez que ele se considera
competente.
– Por esta forma, obter-se-á a harmonia de julgados, uma vez que o direito suíço também
aplicará ao caso o direito material russo.
– O artigo 17º, nº 2, do Código Civil não impede a devolução, pois a lei do país da
residência habitual não considera competente o direito interno do Estado da
nacionalidade.

– O artigo 19º, nº 1, do Código Civil não se aplica, pois, neste caso, é o reenvio, operado
nos termos do artigo 17º, nºs 1 e 2, e não a referência material (artigo 16º do Código
Civil), que conduz à validade do casamento.
Caso 6

– Discute-se em tribunais portugueses a sucessão imobiliária de um francês que morreu


com o último domicílio no Brasil, deixando bens imóveis na Dinamarca.

– A norma de conflitos portuguesa (artigos 62º e 31º, nº 1, do Código Civil) remete para a
lei francesa.

– O direito internacional privado francês submete a sucessão imobiliária à lex rei sitae.

– O direito de conflitos dinamarquês, tal como o brasileiro, considera aplicável a lei do


último domicílio do de cujus.

– Os tribunais franceses praticam a devolução simples e os sistemas brasileiro e


dinamarquês adoptam a teoria da referência material.

– Em França, o tribunal regularia a sucessão pela lei material brasileira.

– No Brasil a solução seria idêntica, porque a lei brasileira considera-se competente


(artigo 10º da Lei de Introdução ao Código Civil).

– Na Dinamarca também seria aplicada a lei material brasileira.

– Nos termos do artigo 17º, nº 1, do Código Civil, deve aplicar-se, em princípio, a lei
material brasileira, que é designada pelo direito internacional privado da lei referida pela
norma de conflitos portuguesa e que se considera competente.
– Aceitando o reenvio da lei francesa para a lei brasileira, garante-se a plena harmonia de
julgados: com efeito, quer em França, quer no Brasil, quer na Dinamarca, os tribunais
aplicariam igualmente a lei material brasileira.
Caso 7

– Discute-se em tribunais portugueses a sucessão mobiliária de um francês que morreu


com o último domicílio na Alemanha.

– A norma de conflitos portuguesa (artigos 62º e 31º, nº 1, do Código Civil) remete para a
lei francesa.

– O direito internacional privado francês submete a sucessão mobiliária à lei do último


domicílio do de cujus.

– O direito de conflitos alemão regula a sucessão pela lei da nacionalidade.

– Os tribunais franceses e alemães praticam a devolução simples.

– A lei francesa considera-se indirectamente competente, pois remete para a lei alemã
mas aceita a referência que esta faz à lei nacional.

– Por seu lado, a lei alemã também se considera competente, pois remete para a lei
francesa mas aceita a referência que esta faz à lei do último domicílio.

– Como o direito internacional privado da lei referida pela norma de conflitos portuguesa
não considera aplicável a lei alemã, não há reenvio; aplica-se o artigo 16º do Código
Civil e não o artigo 17º, nº 1.
– Em Portugal, tal como em França, aplicar-se-á a lei material francesa, mas na
Alemanha a sucessão será regulada pela lei material alemã.

– A harmonia de julgados entre as leis do circuito não poderia nunca alcançar-se neste
caso, mesmo que Portugal aceitasse a devolução.

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