TCC - Holding Familiar Como Mecanismo de Planejamento
TCC - Holding Familiar Como Mecanismo de Planejamento
TCC - Holding Familiar Como Mecanismo de Planejamento
TRÊS LAGOAS, MS
2023
LUCAS ASSUNÇÃO DE OLIVEIRA
TRÊS LAGOAS, MS
2023
LUCAS ASSUNÇÃO DE OLIVEIRA
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi avaliado e julgado ___________ em sua forma final,
como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, perante Banca
Examinadora constituída pelo Colegiado do Curso de Graduação em Direito do Campus de
Três Lagoas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, composta pelos seguintes
membros:
Lucas Mochi
UFMS/CPTL - Membro
Inicialmente, agradeço a Deus pela oportunidade de poder concluir mais uma importante etapa
de minha vida juntamente com o apoio de minha família. No mais, no desenvolvimento do
presente trabalho contei com a ajuda de diversas pessoas nas quais dentre elas são:
Meus pais e irmão que ajudaram a me incentivar quando desanimava, tendo em vista que o
último ano sempre é corrido, ainda mais para quem almeja passar em um concurso público de
sua preferência. Agradeço ao meu orientador Marcelo Pereira Longo por ter me dado as
instruções e ter me acompanhado ao longo do presente trabalho e fizesse que o mesmo fosse
concluído com êxito.
Por fim, agradeço aos amigos que adquiri ao longo desses anos de graduação, que, apesar das
diferenças me fez ter uma visão maior do mundo e contribuiu para minha formação.
RESUMO
The purpose of this paper is to verify the basic concepts of Family Holding and its possible
application as a succession planning tool. This is a bibliographical and documental research, in
a literature review format, involving Business, Civil and Tax Law. Thus, although this
interdisciplinarity is evident, it only helps to foster discussions about the practical consequences
of the creation of a holding in the family environment. Based on the research and the use of
the deductive method, the results were based on the pertinent legislation and studies on the
proposed theme. In this sense, throughout the study it became clear that the Family Holding
presented itself as an important tool, as a mechanism of patrimonial shielding and succession
planning, with the possibility of including clauses that can settle possible conflicts, considering
that it can be done in life, besides contributing to the reduction of the tax burden, if done in a
correct manner. Thus, within the particularities of each case, if done with prudence and with a
refined technique, it is incontrovertible the benefits that can contribute in the business,
succession and tax areas, with the scope of preserving family assets.
Figura 1 - ................................................................................................................................ 25
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
1 INTRODUÇÃO
A denominada holding familiar apesar de ainda ser pouco difundida no Brasil, vem
ganhando seu espaço paulatinamente. Nos Estados Unidos e outros país europeus é bem mais
difundida, tendo em vista que os impostos sucessórios possuem custos, muita das vezes altos,
que consequentemente pode ser reduzido com essa técnica.
Nesse diapasão, essa técnica vem crescendo no mercado brasileiro, apesar de grande
parte desse conhecimento ficar restrito as camadas mais ricas da sociedade brasileira. Contudo,
a preocupação sucessória não está adstrita apenas aos que detém muito patrimônio, a morte é
certa e cada vez mais a população deve se ater aos mecanismos que possam contribuir para
facilitar a sucessão de maneira geral.
É evidente que no instante da abertura da sucessão vários conflitos costumam aparecer,
seja por herdeiros, altos custos de impostos e despesas. Nesse sentido, os desgastes emocionais
tendem a dificultar o processo, ocasionando em grande parte dos casos, perca de tempo e
dinheiro para dirimir os conflitos ocasionados pela sucessão.
Dito isso, um planejamento sucessório pautado através da ferramenta intitulada como
holding familiar, procura tentar dirimir ou de certa forma evitar grande parte do desgaste
financeiro e emocional. No momento da partilha, toda a estratégia já estará realizada, restando
simplesmente sua execução, tendo em vista que em vida, todo o plano sucessório já foi traçado.
Com os apontamentos feitos, o presente estudo, possui o escopo de demonstrar os
possíveis benefícios sucessórios que a holding familiar pode ocasionar, tanto como ferramenta
de planejamento sucessório, quanto como o de menos gastos tributários. Nota-se que embora
haja a possibilidade de redução de custos, tudo deve ser feito dentro da legislação brasileira, de
forma lícita.
No presente trabalho, foi empregado a pesquisa exploratória, baseado em procedimentos
de pesquisa bibliográfica e documental, analisado livros, legislações e artigos científicos. Não
obstante, será utilizado o método dedutivo. Ao longo da presente monografia, o segundo e
terceiro capítulos trará algumas noções básicas de uma holding além de entendimentos
sucessórios que se mostram indispensáveis quando se trata do tema em questão. Já no quarto
capítulo será detalhado como a holding familiar pode atuar como uma forma de planejamento
sucessório, trazendo um aprofundamento maior trazendo suas peculiaridades e importantes
aspectos a serem destacados. No quinto capítulo será demonstrado os aspectos tributários, como
a holding pode reduzir a carga tributária, sempre dentro da legislação brasileira, não obstante,
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será tratado a elisão fiscal. Por fim, será relatado sobre os aspectos que impactam a atividade
econômica sob a forma empresaria.
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Inicialmente, salienta-se que a expressão holding se origina do verbo inglês to hold que
tem como significado: “controlar”, “manter” ou “guardar”. Dito isso, pode ser definida como:
uma empresa de participação societária (fazendo parte do quadro societário de outras
empresas), gestora de participações, quer por meio de ações (Sociedades Anônimas), quer por
meio de quotas pelas Sociedades Limitadas. (ARAUJO; JÚNIOR, 2023).
De modo simplificado, é uma empresa sócia de uma empresa que como regra não realiza
nenhuma atividade, apenas controla a outra empresa. Pode ser apenas para investimento ou para
“blindagem patrimonial”. A Holding no Brasil surgiu com a publicação da Lei n° 6.404/1976,
a famosa Lei das S. A – Sociedades Anônimas, estabelecendo:
Objeto Social
Art. 2º Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim lucrativo, não
contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes.
§ 1º Qualquer que seja o objeto, a companhia é mercantil e se rege pelas leis
e usos do comércio.
§ 2º O estatuto social definirá o objeto de modo preciso e completo.
§ 3º A companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades; ainda
que não prevista no estatuto, a participação é facultada como meio de
realizar o objeto social, ou para beneficiar-se de incentivos fiscais.
A holding pode ser classificada como pura, mista, familiar, imobiliária, patrimonial, de
controle, de participação e de administração. Para explanar os entendimentos necessários sobre
a conceituação da holding familiar, segue um trecho sobre sua definição:
3 NOÇÕES SUCESSÓRIAS
No Código Civil a matéria está disciplinada do artigo 1.784 até 2.027, sendo composto
com diversas normas que regulam a transferência de direitos em razão da morte. Essa sucessão
pode se dar em vida (inter vivos), como ocorre com a transmissão de obrigações, ou após a
morte (mortis causa).
Para definir o direito sucessório, Diniz aponta que:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...) XXX - é garantido o direito de herança;
(...) XXII - é garantido o direito de propriedade.
É de suma importância destacar que para a transmissão dos bens e direitos, é necessário
o pagamento de impostos e outras despesas, conforme será destacado adiante.
3.3 Inventário
Dessa forma, quando morre uma pessoa deixando bens, abre-se a sucessão e procede-se
o inventário, para regular apuração dos bens deixados, com a finalidade de que passem a
pertencer legalmente aos seus sucessores. É imprescindível destacar que o inventário é um
procedimento obrigatório para a atribuição legal dos bens aos sucessores do falecido, mesmo
em caso de partilha extrajudicial (TARTUCE, 2020, p. 2358).
Para destacar a obrigatoriedade do inventário, de acordo com a súmula 542 do Supremo
Tribunal Federal é possível aplicação de multa se nenhum dos legitimados iniciar no prazo de
dois meses o inventário. O novo Código Processo Civil de 2015, alterou alguns pontos do
procedimento do inventário e partilha, nesse sentido uma mudança de importância ímpar é
destacada pelos autores:
Não menos importante, com o advento da Lei 11.441/2007 (BRASIL, 2007), passou a
ser possível a realização do inventário extrajudicial ou administrativo, feito por escritura
pública, desde que não haja testamento, e as partes sejam capazes, além da anuência quanto a
partilha dos bens.
Acerca do inventário extrajudicial é importante destacar alguns aspectos:
A fase de avaliação dos bens inventariados é de suma importância, tendo em vista que
que servirá de base de cálculo do imposto de transmissão causa mortis e possibilitará uma
correta partilha dos bens.
Deste modo, entregue o laudo de avaliação, o juiz mandará que as partes se manifestem
sobre ele no prazo de quinze dias, que correrá em cartório (CPC/2015, art. 635). Se a
impugnação versar sobre o valor dado pelo perito, o juiz deverá decidir de plano, levando em
consideração os elementos do processo (§ 1º), no mais, se julgar procedente a impugnação, ele
determinará que o perito retifique a avaliação, Gonçalves (2023) aponta a que é de grande valia
de se atentar aos fundamentos da decisão (§ 2º).
3.5 Partilha
Não há partilha se houver apenas um herdeiro, ao qual serão adjudicados todos os bens.
Observa-se que partilha pode ser feita, mesmo quando houver credores do espólio, pois os bens
partilhados aos herdeiros continuam respondendo por esses débitos. São legitimados à partilha
os herdeiros necessários, legítimos e testamentários. Como ponderou Lobo (2022), os legatários
não têm legitimidade para requerer a partilha, pois são destinatários de bens determinados e
singulares que são destacados na herança.
A natureza da partilha é meramente declaratória e não atributiva da propriedade. O
herdeiro adquire o domínio e a posse dos bens não em virtude dela, mas por força da abertura
da sucessão, conforme já explanado, relativo a saisine. A sentença que a homologa retroage os
seus efeitos a esse momento, tendo, portanto, efeito ex tunc. Dito isso, há possibilidade da
partilha ser amigável ou judicial, conforme Gonçalves (2023), a amigável resulta de acordo
entre interessados capazes, ao passo que a judicial é aquela realizada no processo de inventário,
por deliberação do juiz, quando não há acordo entre os herdeiros ou sempre que um deles seja
menor ou incapaz.
Existem dispositivos de grande relevância que merecem ser destacados, dispõe o art.
2.015 e 2016 do Código Civil (BRASIL, 2002), respectivamente:
Imagem 1
A sucessão do patrimônio e
das empresas é decidida em
vida, sob a liderança do Não há surpresas: a Os herdeiros são sócios e
empresário (a). O modelo é administração da(s) seguem na gestão do
testado e pode consolidar-se, empresa(s) já está patrimônio, segundo a
preparando a sucessão. resolvida. estrutura montada em vida
por seu pai e/ ou mãe.
É necessário tomar alguns cuidados na elaboração do estatuto social, tendo em vista que
se for mal elaborado pode acarretar consequências nefastas ao patrimônio. Dito isso, há
estratégias significativas, como:
aberta, sendo definida em cada caso a sua aplicação, com diversas críticas doutrinárias. Dito
isso, Teixeira preceitua:
A definição de pacto social pode ser compreendida como uma convenção paralela ao
ato constitutivo (contrato social ou estatuto social), com o escopo de tentar dirimir os conflitos
do cotidiano. Se apresenta como um importante mecanismo tendo em vista que pode tratar de
questões mais delicadas, e não sendo público, evita que terceiros vejam as peculiaridades de
seu negócio. Mamede e Mamede (2019, p.179) são incisivos nesse aspecto ao afirmar que:
“uma ferramenta extremamente útil para empresas familiares, podendo cuidar de assuntos como
as regras para a sucessão entre os familiares”.
Embora os pactos parassociais sejam um modo legítimo de autonomia das vontades,
indubitavelmente, existem limites, nesse diapasão Mamede e Mamede explana com maestria
ao averiguar que:
Dessa forma, possuem uma enorme vantagem, tendo em vista que pode tratar de normas
internas, criando regras válidas e eficazes, restritas aos sujeitos envolvidos na empresa, sempre
pautado na atuação ética e proba, visto que se trata de um patrimônio familiar conquistado ao
longo de anos, que deve ser considerado e respeitado, visto que, além do respeito as regras
jurídicas no âmbito do Direito de Família, passará a ser também do Direito empresarial. Nesse
diapasão, não se deve ser utilizado para justificar práticas nefastas à empresa, ou para o
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descumprimento de obrigação social, que corroboram para consequências lesivas aos acionistas
e terceiros, que no caso da holding estudada, prejudica o patrimônio familiar.
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5 ASPECTOS TRIBUTÁRIOS
Nas transmissões causa mortis ocorrem tantos fatos geradores quantos sejam os
herdeiros ou legatários, dito isso, cada obrigação tributária surgida tem diferente passivo. Já a
abertura da sucessão ocorre no exato momento da morte, e é esse momento que define a
legislação aplicável no tocante ao lançamento do ITCMD (ALEXANDRE, 2022). Nessa
perspectiva, é importante destacar a Súmula 112 do STF (BRASIL, 1963) e outras que versam
sobre a temática:
Conforme o inciso I do §2° do art. 156 da Constituição Federal de 1988 não incide ITBI
sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em
realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou direitos decorrentes de fusão,
incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade
preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens
imóveis ou arrendamento mercantil. Conforme o trecho supracitado, o legislador visou
estimular o crescimento das empresas, evitando que o ITBI fosse um entrave para a evolução
econômica.
Contudo, nem toda incorporação de bens e direitos ao patrimônio de pessoa jurídica está
abrangida pelo texto constitucional, conforme preceitua Alexandre:
Por fim, caso a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens
for a compra e venda desses bens e direitos, locação de imóveis ou arrendamento mercantil,
haverá incidência do ITBI.
Dessa forma, se o for transferido pelo mesmo valor que conste na declaração do IR
original, não se cogita na incidência de imposto sobre a renda, tendo em vista que não houve
aumento patrimonial para incidência tributária. Não obstante, o Estatuto das Microempresas e
Empresas de Pequeno Porte, Lei Complementar 123/2006 (BRASIL, 2006), limita que algumas
holdings participem do regime simplificado- SIMPLES, nesse sentido vide a legislação:
tenha optado por apurar o Imposto de Renda pelo lucro presumido, o que
envolve a adoção de base substitutiva tendo como referência percentual da
receita bruta (PAULSEN, 2023, p.242).
Considerações feitas, esses são os principais tributos possíveis em uma holding, sendo
de suma importância considerá-los em seu planejamento, ressaltando mais ainda a grande
importância de um bom profissional para analisar em cada caso concreto o melhor caminho,
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tendo em vista as diversas nuances que podemos ter, a depender da composição familiar e a
constituição da holding.
É muito propagado que a holding familiar inibe o fato gerador de vários tributos, contudo,
essa assertiva deve ser analisada. A Constituição Federal (BRASIL, 1988) em seu artigo 156,
§ 2º O imposto previsto no inciso II (ITBI):
Depreendendo o exposto, pode-se afirmar que não existe no Direito Tributário brasileiro
a figura do propósito negocial como requisito de validade de negócio jurídico empresarial. No
mais, é importante destacar a Lei Complementar 104/2001 que inseriu um parágrafo único no
Código Tributário Nacional, com o escopo de tentar evitar a elisão. Dito isso, conforme o Artigo
116, Parágrafo único do CTN:
Percebe-se que se trata de uma norma para combater o planejamento tributário abusivo,
que teve sua constitucionalidade já declarada na Ação Direta de Inconstitucionalidade 2.446.
Contudo, embora esteja tipificada essa ferramenta, não há a regulação dos procedimentos que
deveriam ter sido realizados por meio de lei ordinária, causando uma grande discussão
doutrinária, e que se apresenta como benéfico ao contribuinte, haja visto a ausência de
regulamentação do dispositivo.
Nesse sentido Araujo ensina:
Conforme se abstrai do §1º, a transferência do bem for feita com base na avaliação da
Declaração de Bens, a pessoa física deverá lançar nesta declaração das quotas subscritas pelo
mesmo valor dos bens ou direitos transferidos, com o objetivo que não sejam aplicadas as regras
da distribuição disfarçada de lucro.
Para facilitar a compreensão, vide o quadro abaixo:
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Na prática, muitas pessoas vendem o único bem que recebe de herança por não ter
dinheiro para bancar todo o processo do inventário. A Holding em questão ajudaria tanto essas
pessoas, quanto as que embora tenham condições de pagar um inventário, prefiram economizar
e planejar em vida várias nuances sucessórias.
Fonte: https://www.brasilpostos.com.br/noticias/colunistas/holding-patrimonial-familiar-planejamento-
sucessorio-e-os-beneficios-tributarios-na-locacao-de-imoveis/
Infere-se que, há vantagens tributárias nos rendimentos advindos da pessoa jurídica, que
nesse caso, será a constituição da Holding Familiar, com o intuito de locação baseada no lucro
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presumido. Diante disso, a pessoa física no caso em tela seria tributada em 27,5%,
correspondendo a um total de tributo exorbitante. Contudo, deve-se ter em conta uma análise
mais profunda em cada situação, tendo em vista que a alíquota do imposto de pessoa física
tende a modificar de 15 a 27,5%.
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Apesar de não serem objeto do presente estudo, há instrumentos não jurídicos que
corroboram para uma boa administração, como até mesmo a psicologia, a contabilidade, a
ciência da administração e outras ciências. O Direito pode ser utilizado como um grande
mecanismo de resolução de conflitos, até mesmo na formulação e manutenção da Holding
Familiar, isso é obvio, contudo, é importante destacar sozinho não resolve todos os problemas,
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a interdisciplinaridade cada dia mais faz parte do nosso cotidiano, e com as Holdings não é
diferente.
A forma por excelência para evitar um tal cenário funesto é a prevenção, não
por meio dos pactos parassociais, que podem ser denunciados e, assim,
extintos, com maior facilidade. O contrato social ou o estatuto social,
respectivamente nas sociedades por quotas e por ações, são o melhor
instrumento para dispor normas de proteção aos minoritários, mormente
quando se preveja a necessidade de aprovação unânime para a sua alteração.
Assim, diversos instrumentos podem ser erigidos, como a constituição de
conselho consultivo, a previsão de que as deliberações devem ser aprovadas
não apenas pela maioria do capital social, mas também pela maioria dos sócios
(voto por cabeça), a previsão de quórum mais elevado ou, até o
estabelecimento de indispensável unanimidade nas votações (MAMEDE;
MAMEDE, 2019, p. 182).
Destarte, é evidente que há grandes riscos caso a constituição de uma sociedade holding
for realizada de qualquer maneira, um bom planejamento societário é elemento fulcral para ser
o alicerce da atividade empresária. Essa transformação do patrimônio da família para a sua
constituição acarreta também mudança de natureza jurídica das relações familiares, visto que
passam a ser submetidas ao Direito Empresarial, respeitando as regras atinentes ao Direito
Societário.
Depreendendo o exposto, percebe-se que sobre a diferença do valor dos bens imóveis
que superar o valor do capital subscrito a ser integralizado, incidirá a tributação pelo ITBI, e é
evidente que esse entendimento pode afetar o planejamento sucessório, em particular a
constituição das holdings familiares.
Conforme dita o controle difuso de constitucionalidade, o Poder Judiciário fica
vinculado ao RE 796.376, devendo as decisões judiciais serem no mesmo sentido, visto que se
tratam de efeitos erga omnes. Nesse diapasão, o Tribunal de Justiça de São Paulo explica:
de ordem de segurança para que não sofra exação de ITBI. Para tanto, sustenta,
como principal argumento, que a imunidade em questão é incondicionada,
conforme reconhecido recentemente pelo E. Supremo Tribunal Federal. (…)
Assim, revendo entendimento anterior a fim de curvar-me ao recentemente
esposado pelo Pretório Excelso, entendo que a parte final do artigo 156,
parágrafo 2º, inciso I, da Constituição Federal, refere-se apenas à transmissão
de bens ou direitos decorrentes de fusão, incorporação, cisão ou extinção de
pessoa jurídica, excluída a hipótese de integralização de capital social. (…)
Em outras palavras, entendo que a hipótese constitucional de não incidência
da imunidade quando “a atividade preponderante do adquirente for a compra
e venda desses bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento
mercantil” restringe-se aos casos de “transmissão de bens ou direitos
decorrentes de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica”,
sendo incondicionada a imunidade nos casos de integralização de capital
social (Agravo de Instrumento nº 2042850-06.2021.8.26.0000 – São Paulo –
Voto nº 11.386. Pub. 23. 04. 2021).
Apesar disso, é interessante destacar que na prática a referida imunidade tributária não
está sendo abarcada na constituição das Holdings familiares, vejamos alguns julgados:
Dessa forma, infere-se que o constituinte possuía realmente incentivar a livre iniciativa,
objetivando a utilização dos imóveis pela pessoa jurídica, solidificando a empresa, gerando
mais empregos e benefícios, pautado no desenvolvimento nacional. Embora esse seja o intuito,
grande parte da jurisprudência hodierna acredita que grande parte das holdings criadas não foi
instituída para fomentar o mercado, com riquezas ou empregos, visto que na maioria das vezes,
o objeto social abarca somente a gestão do patrimônio familiar.
É evidente que grande parte das holdings familiares não exercem atividade econômica
de fato, contudo, tem uma atividade do ponto de vista transacional e da comunicação perante a
receita, tendo em vista que anualmente presta declarações. A Lei Nº 14.195 tutelou em seu texto
diversos assuntos, contudo, o que importa para o presente trabalho é as possíveis consequências
para uma holding familiar. O trecho mais importante dela é o Art. 81, que dispõe:
Art. 81. As inscrições no CNPJ serão declaradas inaptas, nos termos e nas
condições definidos pela Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil,
quando a pessoa jurídica: II - for inexistente de fato, assim considerada a
entidade que: a) não dispuser de patrimônio ou de capacidade operacional
necessários à realização de seu objeto, inclusive a que não comprovar o capital
social integralizado; b) não for localizada no endereço informado no CNPJ;
c) quando intimado, o seu representante legal: 1. não for localizado ou alegar
falsidade ou simulação de sua participação na referida entidade ou não
comprovar legitimidade para representá-la; ou 2. não indicar, depois de
intimado, seu novo domicílio tributário; d) for domiciliada no exterior e não
tiver indicado seu procurador ou seu representante legalmente constituído no
CNPJ ou, se indicado, não tiver sido localizado; ou e) encontrar-se com as
atividades paralisadas, salvo quando a paralisação for comunicada (BRASIL,
2021).
Percebe-se que, a dicção do texto legal preceitua que as inscrições do CNPJ, ou seja,
das pessoas jurídicas, serão consideradas inaptas se atenderem algum dos quesitos expostos. O
mais preocupante dos elementos destacados na lei se encontra na alínea e, tendo em vista que
uma holding familiar nem sempre exerce uma atividade econômica de fato, contudo, embora
tenha essa característica, essa empresa possui atividade do ponto de vista transacional, no mais,
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na mesma alínea em debate, há a exceção: “salvo quando a paralisação for comunicada”, dessa
forma, é só comunicar que houve a paralisação para evitar que a pessoa jurídica seja considerada
inapta.
Contudo, apesar das considerações, só o tempo dirá como a jurisprudência vai se
consolidar, por isso, é evidente que embora vantajosa, a constituição de uma holding apresenta
riscos além de sua alçada.
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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por todo exposto, é notório que o sistema da holding familiar não é tão difundido no
Brasil, sendo utilizado apenas por pouca parcela da população, contudo, se apresenta como um
mecanismo viável a depender de cada caso, objetivando vantagens fiscais, tributárias e como
um mecanismo de planejamento sucessório.
Conforme a pesquisa realizada, apesar de ser um instrumento sem grandes referências
bibliográficas, com poucos livros e estudos esparsos, a forma societária mais utilizada é a
sociedade limitada, com poucas sociedades anônimas que são constituídas com esse intuito.
Não menos importante, é fulcral a importância de um bom profissional para sua
abertura, tanto para saber equalizar a situação do arranjo familiar e empresarial, quanto para
produzir uma holding bem estruturada, reduzindo tributos, disputas familiares, deixando claro
as questões societárias e entre outros elementos essenciais.
A respeito do âmbito sucessório, a holding familiar se apresenta como uma boa opção,
conforme narrado, em vida a família possui a opção de planejar todo o sistema sucessório, com
clareza, calma e sendo atendido os objetivos pessoais dos integrantes da relação familiar. Nesse
sentido, se bem elaborada, pode evitar diversos conflitos que são comuns com o inventário,
além de sua criação ser bem mais célere do que um inventário, e não envolver o Poder
Judiciário. No mais, foi explanado com termos numéricos os possíveis gastos da sucessão, que
na maioria das vezes acarretam em um ônus excessivo para os herdeiros, que muitas das vezes
têm que vender o bem para arcar com todos os gastos existentes com um inventário.
Quanto os benefícios e possibilidades, a holding familiar pode se afirmar que com a
incorporação dos bens da pessoa física à nova pessoa jurídica, os pais, ou seus detentores
continuarão com o controle do patrimônio, podendo ser transferido apenas depois do evento
morte. É essencial o conhecimento sobre o âmbito do direito sucessório, tendo em vista que há
de ser respeitado a legítima dos herdeiros necessários. O planejamento sucessório de certa
forma previne a ansiedade dos sucessores, permitindo que dialoguem em um momento mais
calmo, antes da morte do ente querido, evitando as enormes disputas ocorridas em um processo
de inventário.
Foi constatado que por meio desse aparato empresarial, não é necessário mover toda a
máquina judiciária, nem tão pouco esperar por anos como acontece com diversos processos de
inventários. A única preocupação existente é a contratação de um profissional qualificado e de
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confiança, que possa com o diálogo e análise, verificar qual a melhor opção de seu cliente,
objetivando sempre vantagens e adequação a legislação brasileira.
Ao longo do trabalho também foi apresentado os principais tributos que incidem em
uma holding familiar, sendo detalhado por meio de quadros. Nesse aspecto, conclui-se que é de
importância ímpar a presença de profissionais preparados, visto que existem nuances diferentes
em cada arranjo familiar e a constituição da holding. Não obstante, a vantagem tributária tão
almejada depende de um bom planejamento.
A elisão fiscal, instrumento válido, e utilizado para a diminuição da carga tributária é
um mecanismo pautado na legalidade, com o escopo de realizar uma operação incidente de
tributo, mas objetivando uma menor carga tributária ao contribuinte. Apesar das novidades
legislativas, é permitido essa forma para favorecer o contribuinte de forma que aproveite das
brechas da lei. Conclui-se que com a holding não é diferente, buscando além de vantagens
sucessórias, as tributárias. No mais, foi explanado com termos numéricos os possíveis gastos
da sucessão, que na maioria das vezes acarretam em um ônus excessivo para os herdeiros, que
muitas das vezes têm que vender o bem para arcar com todos os gastos existentes com um
inventário.
Conclui-se que a holding, é uma empresa controlado de outas empresas, contudo, no
âmbito da holding familiar, ela é utilizada para composição do patrimônio familiar que era de
pessoa física, e passa a ser atribuída a uma pessoa jurídica, com diversas nuances empresariais
e sucessórias. A forma societária mais adequada e utilizada é a sociedade limitada, muito
embora seja possível ser constituída em outros tipos societários, como por exemplo em
sociedades anônimas.
Uma boa administração e representação da holding se apresenta como essencial para o
deslinde da atividade empresária. Não obstante, infere-se que com a instituição de uma holding
familiar, aparece uma nova faceta do direito, o Direito Empresarial, na qual tutelará a empresa
constituída, deixando de ser uma questão meramente de Direito de Família.
Assim, se bem pensada e executada a holding familiar pode sim trazer vantagens, e
culminar em benefícios fiscais, tributários, sucessórios e satisfazer a família abarcada. Contudo,
embora tenha a possibilidade de harmonizar todas essas vantagens, no caso concreto existem
diversas variantes, como falta de ausência de conflitos familiares, bens irregulares, medo,
desconfiança e patrimônio fora de ordem.
A blindagem patrimonial deve ser tratada com um pé atrás, tendo em vista que em crises
financeiras ou execuções fiscais não é recomendado a constituição de uma holding familiar,
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visto que a chance de ser declarado algum tipo de fraude é grande, acarretando além disso, mais
prejuízos, pois além de pagarem para a sua instituição, a execução irá acontecer.
Por fim, conclui-se que embora haja muita dúvida sobre a legalidade da existência de
uma holding familiar, ela é amparada por legislação no Brasil. É evidente que em um futuro
próximo possa ocorrer modificações a fim de regulamentar de maneira mais esmiuçada,
contudo, ela não deve ser enxergada como algo ilegal, ou como uma elusão fiscal, em que os
seus instituidores simulam um negócio jurídico para evitar a ocorrência do fato gerador dos
tributos devidos.
49
REFERÊNCIAS
ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário. 16. São Paulo: Saraiva Jur. 2022.
BRASIL. Lcp 104/01. Altera dispositivos da lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 – código
tributário nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp104.htm.
Acesso em 05 de maio de 2023
BRASIL. Lei nº 6.404 de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades Por Ações.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm. Acesso em: 20
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outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7689.htm.
Acesso em 06 de maio de 2023.
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51
ANEXO I
Ficha de Avaliação Individual do Trabalho de Conclusão de Curso
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SEI/UFMS - 4157388 - Ata https://sei.ufms.br/sei/controlador.php?acao=documento_visualizar&...
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