Epistemologia

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação

33º Encontro Anual da Compós, Universidade Federal Fluminense (UFF). Niterói - RJ. 23 a 26 de julho de 2024
.

EPISTEMOLOGIAS DOS ESTUDOS RADIOFÔNICOS:


construir a pesquisa com lentes plurais1
EPISTEMOLOGIES OF RADIOPHONIC STUDIES: building
research with plural lenses

Debora Cristina Lopez2


Juliana Cristina Gobbi Betti3
Marcelo Freire4

Resumo: Este artigo, de caráter ensaísco, nasce de um incômodo com uma baixa diversidade
epistemológica dos estudos radiofônicos brasileiros, especialmente no que diz
respeito às questões de raça e interseccionalidades. Nele, discutimos o que se
compreende por epistemologias plurais e como essa diversidade epistemológica
pode auxiliar a compreender o rádio sob uma perspectiva múltipla. Discutimos,
especialmente, as questões de raça, e como elas afetam a compreensão dos estudos
radiofônicos. Defendemos a tomada de posição e a quebra do pacto narcísico,
reconhecendo os impactos das perspectivas eurocêntricas e das violências cotidianas
do mundo acadêmico na consolidação de uma visão singular do fenômeno que
estudamos.

Palavras-Chave: Estudos radiofônicos. Epistemologias. Interseccionalidade. Raça. Gênero.

Abstract: This paper, an academic essay, is born out of a discomfort with the low epistemological
diversity of Brazilian radio studies, especially with regard to issues of race and
intersectionality. In it, we discuss what is understood by plural epistemologies and
how this epistemological diversity can help to understand radio from a multiple
perspective. In particular, we discuss issues of race and how they affect the
understanding of radio studies. We advocate taking a stand and breaking the
narcissistic pact, recognizing the impacts of eurocentric perspectives and the daily
violence of the academic world on the consolidation of a singular vision of the
phenomenon we study.

Keywords: Radio studies. Epistemologies. Intersectionality. Race. Gender.

1
Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Estudos Radiofônicos. 33º Encontro Anual da Compós,
Universidade Federal Fluminense (UFF). Niterói - RJ. 23 a 26 de julho de 2024.
2
Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Ouro Preto, Doutora em
Comunicação e Cultura Contemporâneas (UFBA), Bolsista Produtividade em Pesquisa (Pq-2) do CNPq, e-mail
[email protected].
3
Grupo de Investigação em Rádio, Fonografia e Áudio da Universidade Federal de Santa Catarina, Doutora em
Jornalismo (UFSC), e-mail [email protected].
4
Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Ouro Preto, Doutor em Comunicação
e Cultura Contemporâneas (UFBA), e-mail [email protected].

1
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1. Introdução
A análise da produção científica é um exercício recorrente entre as/os pesquisadoras/es
dos estudos radiofônicos no Brasil, o que resulta em um vasto conjunto de textos que
sistematizam e discutem o conhecimento que vem sendo produzido e divulgado em diferentes
períodos e localidades. Ao realizarmos uma breve revisão desse material, observamos que as
temáticas e as abordagens teórico-metodológicas compõem o foco da maior parte das
discussões, que são geralmente apresentadas com ênfase no recorte de marcos temporais (Del
Bianco; Zuculoto, 1997; Moreira; Del Bianco, 1999; Haussen, 2004, 2016), geográficos
(Klöckner, 2008; Prata et al, 2011), por tipo de produção (Lopez; Mustafá, 2012) e/ou vínculos
institucionais (Zuculoto; Lopez; Kischinhevsky, 2016; Prata; Avellar, 2017). Eventualmente,
o olhar é também direcionado para a comunidade acadêmica e/ou seus sujeitos, em especial,
com o exame do quadro de autoria das produções (Prata; Mustafá; Pessoa, 2014). Em conjunto,
essas análises formam um panorama abrangente, que permite a identificação de tendências,
tensões e possíveis lacunas no desenvolvimento dos estudos ao longo décadas, e ampara a
compreensão dos processos de formação, institucionalização e legitimação do campo de
estudos dentro da área da Comunicação. Logo, além de ser um indicador das dimensões
quantitativa e qualitativa da produção, o movimento de constante análise é, ao mesmo tempo,
requisito e revelador do processo de amadurecimento das pesquisas e das práticas de suas
autoras e seus autores. Neste sentido, embora decorram de uma leitura ainda exploratória do
material, as dimensões (e as referências) anteriormente destacadas favorecem a compreensão
dos caminhos percorridos, apontando não somente quais ângulos têm sido priorizados na
reflexão epistemológica do grupo, mas quais têm sido desconsiderados.

É justamente uma inquietação sobre as ausências que vem motivando a articulação de


iniciativas que, reconhecendo o avanço já empreendido no conjunto que delineia o estado da
arte, e partindo de seus indicativos, observam que “se não se nomeia uma realidade, sequer são
pensadas melhorias para uma realidade que segue invisível” (Ribeiro, 2019, p. 41). Este texto
integra, portanto, uma mobilização mais ampla, inclusive por parte de suas autoras e seu autor.
A demarcação da invisibilidade das desigualdades de gênero foi, de certa forma, um ponto de
partida neste processo, a exemplo da proposição de um caminho metodológico que
considerasse “a configuração e as especificidades do campo de estudos e das práticas de
pesquisa como variáveis olhadas desde o lugar do gênero para que se possa avançar na

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compreensão do lugar da mulher nos estudos radiofônicos brasileiros” (Lopez et al, 2024, p.
257-258). Contudo, não tardou para que se encadeassem outros questionamentos. Afinal, a
mesma estrutura que promove a naturalização do gap de gênero incide sobre outros grupos
socialmente marginalizados, como pessoas negras, indígenas, com deficiência, oriundas de
determinadas localidades geográficas etc.

Não se trata de uma campanha pela simples diversificação de temas e/ou objetos de
estudo, ainda menos de uma aderência vazia ao discurso “da moda” ou, ao contrário, da
tentativa de “imposição” de uma agenda de pesquisa. Este artigo recorre ao estilo ensaístico
para demarcar uma tomada de posição, reflete a quebra do pacto narcísico, reconhecendo os
impactos das perspectivas eurocêntricas e das violências cotidianas do mundo acadêmico na
consolidação de uma visão singular do fenômeno que estudamos. É um chamado à reflexão
coletiva, buscando, especialmente, compreender as questões de raça, e como elas afetam a
compreensão dos estudos radiofônicos. Neste caminho, partimos do entendimento freireano a
respeito do compromisso profissional (Freire, 2018) para expressarmos um posicionamento
que busca assumir uma branquitude crítica, que não silencia diante dos fenômenos e que busca
não objetificar ou assujeitar o outro. De modo que a discussão apresentada objetiva alertar para
a necessidade de avançarmos no diálogo interdisciplinar, promovendo a incorporação de outros
saberes e modos de interpretação5. Para isso, a aproximação com outras epistemologias é
fundamental. É a partir dela, passamos ao debate sobre os desafios e as potencialidades da
ampliação da perspectiva epistemológica dos estudos radiofônicos.

2. Sobre epistemologias plurais


Antes de iniciarmos qualquer discussão sobre possíveis contribuições das
epistemologias plurais aos estudos radiofônicos - antes mesmo da própria indicação de que
epistemologias seriam essas e do que efetivamente as diferencia -, é preciso reconhecer a
existência de uma concepção epistemológica hegemônica que, de modo geral, rege produção
científica. À primeira vista, pode parecer um ponto de partida óbvio – e, portanto, desnecessário
-, no entanto, temos observado que há questões inerentes a essa afirmação que ainda não foram
suficientemente debatidas em nossa área.

5
Assim como já ponderamos que faz necessária uma revisão do relato histórico sobre o rádio para a inserção das
mulheres, e não a escrita de uma história das mulheres no rádio alijada do todo (Betti, Zuculoto, 2021).

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Ao citarmos uma concepção epistemológica hegemônica, estamos aludindo à


configuração orientadora do pensamento científico ocidental moderno, que se definiu dentro
de moldes eurocêntricos. Embora se reivindique universal, essa concepção foi estruturada com
base em uma figura bem determinada, que pode ser resumidamente descrita como: homem,
branco e proprietário. Este é o sujeito referência legitimado como produtor, validador e
beneficiário maior do conhecimento. É uma questão estrutural, que advém do processo
histórico de desenvolvimento da própria ciência e se perpetua no ciclo organizativo por ela
engendrado. Uma lógica que ajuda a explicar, por exemplo, o estereótipo de cientista que é tão
arraigado no imaginário social.
A crítica a esse modelo está na base de outras epistemologias. Destacando a perspectiva
feminista sobre a questão, Margareth Rago (2019, p. 374) explica que os principais pontos de
crítica “[...] incidem na denúncia de seu caráter particularista, ideológico, racista e sexista: o
saber ocidental opera no interior da lógica da identidade, valendo-se de categorias reflexivas,
incapazes de pensar a diferença”.
Também nessa linha, ao questionar as características sociais e grupais das pessoas que
produzem ciência, Ruth Hubbard (1993, p. 22) afirma que
[...] Acima de qualquer outra coisa, elas têm de ter um tipo especial de educação, que
inclui curso universitário e treinamento em graduação e pós-graduação. Isso significa
que, além da disciplina que estudaram, foram socializadas para pensar de certa
maneira e se familiarizaram com uma estreita fatia de história e cultura humanas, que
compreende basicamente as experiências dos homens europeus e norte-americanos
da classe mais alta, durante aproximadamente os dois últimos séculos. Também
aprenderam a obedecer a determinadas regras de comportamento individual e social
e a falar e pensar de forma a permitir que adquiram os graus exigidos de um cientista.

A autora igualmente pondera que, apesar do crescimento no número de mulheres e de


pessoas de cor6, a carreira científica ainda possui uma composição majoritariamente masculina,
branca e de classe alta. A despeito do fato de terem mais de vinte anos, as observações de
Hubbard continuam procedentes, principalmente nos patamares mais altos da profissão. Um
boletim7 divulgado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) em 2023, considerando dados registrados entre 2005 e 2022, confirma a persistente
sub-representação de mulheres:

6
Termo comumente utilizado na literatura internacional para designar pessoas não brancas, podendo fazer
referência a pessoas negras, de origem indígena ou de determinadas nacionalidades, como as latino-americanas.
7
O documento pode ser acessado em: https://www.gov.br/cnpq/pt-br/assuntos/noticias/cnpq-em-
acao/2023.09.20PainelolhareseperspectivasCNPq.pdf

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A modalidade Produtividade em Pesquisa (PQ)– bolsa concedida para


pesquisadores/as já reconhecidos em seus campos– possui em torno de 35%
(quantidade bolsa/ano) de mulheres no conjunto de todos os níveis,
percentual que diminui conforme aumenta o nível das bolsas. No nível mais
alto- PQ 1A, o percentual gira em torno de 24% de mulheres quando
consideradas todas as áreas de conhecimento, na série histórica proposta.

O mesmo documento informa que o “percentual de bolsas PQ para autodeclarados


negros gira em torno de 11%. No caso da categoria 1A, temos em torno de 4% autodeclarados
negros”. Observando que, segundo o último Censo Demográfico, divulgado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em outubro de 2023, a população residente no
Brasil é predominantemente feminina (51,5%) e se identifica como preta ou parda (55,5%), a
discrepância dos dados apresentados pelo CNPq são ainda mais relevantes.
Para fazer a crítica à ciência “exercida, em larga medida, por um grupo que se
autoperpetua e se auto-reflete” (1993, p. 23), Hubbard recorre a ideia de que existe uma
“unidade indispensável entre subjetividade e objetividade no ato de conhecer” (Freire, 1985
apud Hubbard, 1993, p. 30). Centrada nas ciências naturais, a autora defende a premissa de que
o fazer científico é um processo social e, como tal, sempre esteve submetido a interesses.
Portanto, reconhecer a existência de um sujeito referência e suas características permite
compreender que a ciência não é, e nunca foi, neutra. “Na medida em que os cientistas
pretender ser neutros, estão apoiando a presente distribuição de interesses e poder” (Hubbard,
1993, p. 34). Ressaltando a perspectiva racial, Grada Kilomba (2008) reforça que “os temas,
paradigmas e metodologias do academicismo tradicional – a chamada epistemologia – refletem
não um espaço heterogêneo para a teorização, mas sim os interesses políticos específicos da
sociedade branca” (Collins, 2000; Nkweto Simmonds, 1997 apud Kilomba, 2008, p. 54). Logo,
considerando que:
Epistemologia é, então, a ciência da aquisição de conhecimento, que determina:
1) (os temas) quais temas ou tópicos merecem atenção e quais questões são dignas de
serem feitas com o intuito de produzir conhecimento verdadeiro.
2) (os paradigmas) quais narrativas e interpretações podem ser usadas para explicar
um fenômeno, isto é, a partir de qual perspectiva o conhecimento verdadeiro pode ser
produzido.
3) (os métodos) e quais maneiras e formatos podem ser usados para a produção de
conhecimento confiável e verdadeiro.
Epistemologia, como eu já havia dito, define não somente como, mas também quem
produz conhecimento verdadeiro e em quem acreditarmos. (Kilomba apud Ribeiro,
2019, p. 87)

Uma epistemologia feminista abre o caminho para o questionamento da compreensão


hegemônica, mas nos termos de Hubbard (1993, p. 35), também uma ciência feminista deve

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levar em consideração a posição social dos/as pesquisadores/as, não se esquivando de examinar


“de que forma essa posição afeta sua interação com o objeto pesquisado”.
É neste ponto que salientamos que outras epistemologias se fazem necessárias e, é com
esse entendimento que propomos esmiuçar as contribuições da perspectiva étnico-racial como
forma de discutir o pensar epistemologia no rádio. Assim, desafiando o campo a aprofundar
sua compreensão sobre si mesmo e reconhecer o protagonismo de grupos historicamente
discriminados.

3. Desafios aos estudos radiofônicos


O rádio é um meio próximo, coloquial e que há anos é protagonista da vida da população
brasileira. Como nos lembra Zuculoto (2016), já são mais de 55 anos de pesquisa sobre o meio
no Brasil. É uma área nova, mesmo nos estudos de comunicação. Trata-se de um fenômeno
que, em seus pouco mais de 100 anos, se construiu a partir de contextos mutantes, reverberando
práticas sociais e, em muitos momentos, afetando-as.
Esta relação próxima do meio com a sociedade persiste, com adaptações narrativas, de
estratégias de circulação e de produção, nas plataformas digitais (Medeiros, Prata, 2019; Ota,
Oliveira Silva, 2022; Pinheiro, Del Bianco, 2022). Ao estudar as relações entre produtores,
emissoras e público buscamos dar olhares diversos e pensar metodologias complexificadas
para que se possa reconhecer camadas de sentido inscritas no fenômeno (Lopez, Chagas, 2022;
Lopez, Bufarah Jr., 2023).
A preocupação da área de estudos radiofônicos brasileiros com a sistematização das
pesquisas e com os olhares multidimensionais (Kischinhevsky et al, 2017; Lopez et al, 2023)
esbarra nas próprias compreensões de ciência e de epistemologia adotadas. A epistemologia
singularizada, única, contrapõe-se a uma defesa da complexidade do próprio fenômeno. A
partir desta virada metodológica que ainda vivemos, defende-se a ampliação do olhar
construído nos estudos radiofônicos. Mas o debate ancora-se em uma epistemologia
eurocentrada e vinculada a uma construção de ciência que se origina da sociedade colonial,
branca, masculina e heteronormativa. “Se tivéssemos acesso a outras epistemologias, talvez
escolhêssemos caminhos diferentes e, por consequência, talvez tivéssemos resultados
diferentes e estaríamos construindo uma realidade totalmente diferente da que vivemos”
(Molina, 2021, p.9).

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A adoção de epistemologias plurais permite ao rádio e aos estudos radiofônicos construir


uma abordagem que compreenda os sujeitos, suas experiências e a necessidade de questionar
compreensões cristalizadas na organização científica ocidental, abrindo-se a olhares de origens
múltiplas que buscam reformar protagonismos, relatos e combater silenciamentos construídos
a partir do olhar singular ao fenômeno. Essa perspectiva plural permite também compreender
como as interseccionalidades se inscrevem no rádio, nos estudos radiofônicos e,
principalmente, nas condições dos sujeitos plurais nesta vida acadêmica.
O que queremos: ser negro, sem ser somente negro; ser mulher, sem ser somente
mulher; ser mulher negra, sem ser somente mulher negra. É tornar- se um ser humano
pleno com possibilidades e oportunidades para além da condição racial, de gênero ou
orientação sexual. Este é o sentido final de nossas vidas. (d’Adesky, 2021, p. 176)

As palavras de Jacques d’Adesky falam das experiências cotidianas. Elas são, como
afirma Grada Kilomba (2019), parte da vida de quem pesquisa e impactam suas relações com
outros sujeitos, com instituições, com processos do dia-a-dia. d’Adesky nos lembra que o
racismo cotidiano vai além de eventos violentos da vida de um indivíduo. Trata-se de um
padrão histórico, de “memórias coletivas do trauma colonial” (2021, p. 187).
A ciência tem potencial de reiterar e reforçar essas memórias. O apagamento das vozes
dissonantes inscritas nas epistemologias plurais se constrói, muitas vezes, de maneira
naturalizada, imperceptível, constante e intensa. Sujeitos historicamente discriminados gritam
pela necessidade de existir na sociedade (Ribeiro, 2019), mas também em microgrupos sociais,
em que estabelecem suas relações cotidianas, profissionais e pessoais. Suas vozes, no entanto,
demoram a ser ouvidas e ecoam menos quando negadas pela reiteração de padrões de validação
tradicionais, ocidentais e singulares, que relegam a um segundo plano os que rompem a
perspectiva eurocêntrica de quem pode falar.
Trazemos aqui, para o debate acadêmico dos estudos radiofônicos, a noção de “privilégio
branco” e o questionamento sobre seu impacto na própria constituição do campo. O conceito
“[...] expressa uma discriminação de caráter racial que exerce seus efeitos sobre aqueles que
obtêm benefícios, portanto remete também a uma posição de dominância social considerada
indevida” (d’Adesky, 2021, p. 262). Propomos um olhar para o outro, considerando o
deslocamento de olhar dos “outros racializados” para o “branco ocidental” (Bento, 2022, p.
15). Como duas autoras e um autor brancos que defendem o rádio como um espaço de
diversidade e crítica, propomos o deslocamento, o reconhecimento da ocupação do lugar de
privilégio, das desigualdades.

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Concordamos com d’Adesky (2021, p. 176) quando ele ressalta a responsabilidade das
ciências sociais em evidenciar critérios como classe, raça, gênero, origem geográfica na
construção de uma abordagem interseccional. “A interseccionalidade visa dar
instrumentalidade teórico-metodológica à inseparabilidade estrutural do racismo, capitalismo
e cisheteropatriarcado [...]”. (Akotirene, 2019, p. 18).
A autora explica que a relação entre classe e raça revelam mutuamente o que uma diz da
outra. “Raça é a maneira como a classe é vivida” (Davis apud Akotirene, 2019, p. 50). O
acionamento da interseccionalidade é a fuga das comparações ou das abordagens
hierarquizantes, evitando a mera soma de identidades, que podem ser separadas, olhadas sem
uma perspectiva entrecruzada. Com a interseccionalidade,
[...] analisa-se quais condições estruturais atravessam corpos, quais posicionalidades
reorientam significados subjetivos desses corpos, por serem experiências modeladas
por e durante a interação das estruturas, repetidas vezes colonialistas, estabilizadas pela
matriz de opressão, sob a forma de identidade (Akotirene, 2019, p. 43-44).

Mas porque falar dos corpos, das suas experiências, das opressões estruturais e coloniais
se nosso objeto é o rádio? Consideramos o rádio como um fenômeno composto, acima de tudo,
por sujeitos e suas relações e entrecruzado, portanto, por identidades e experiências. Como
fenômeno – comunicacional ou de pesquisa –, é compreendido a partir do ponto de vista do
pensamento moderno ocidental. Desta forma, reitera a relação apresentada por Lélia González
(2020), que parte da atribuição de valorização e universalidade da ciência ao sujeito branco,
aquele que ao possuir privilégio social, possui também o epistêmico, que nega uma capacidade
de desenvolvimento de saberes e reforça a desumanização e o empobrecimento dos corpos do
feminismo negro latino-americano. “A consequência dessa hierarquização legitimou como
superior a explicação epistemológica eurocêntrica, conferindo ao pensamento moderno
ocidental a exclusividade do que seria um conhecimento válido, estruturando-o como
dominante e assim inviabilizando outras experiências de conhecimento” (Ribeiro, 2019, p. 24).
O conceito de feminismo afro-latino-americano de Lélia González coloca em evidência
o legado de luta, a partilha de caminhos de enfrentamento ao racismo e sexismo já percorridos
e se apresenta como um caminho para pensar epistemologias plurais para rever a história e
como entendemos o rádio e os estudos radiofônicos. Refutar uma suposta neutralidade
epistemológica e descolonizar o conhecimento ao olhar para o campo propicia outros pontos
de vista para entender o meio. Os personagens da história, por exemplo, podem ser discutidos
a partir de outros pontos de vista. Entender quem são esses sujeitos e como eles se colocavam

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socialmente pode auxiliar a compreensão de movimentos históricos que se converteram em


definidores do rádio.
Pensemos em Edgar Roquette-Pinto. Ele é apresentado historicamente como um cientista
visionário que acredita nos valores da difusão do conhecimento, como um homem de esquerda
que defendia o uso educativo do rádio (Moreira, 2002; Ferraretto, 2007). Uma faceta da história
do médico e antropólogo foi apagada dos livros de história do rádio: sua abordagem eugenista8.
Roquette-Pinto liderava, no período em que também estava à frente da Rádio Sociedade do Rio
de Janeiro, um movimento eugenista “antirracista” (Souza, 2022), que negava a compreensão
de que as “questões raciais” fossem responsáveis por uma inferioridade civilizacional do país.
O cientista simpatizava com as ideias de aperfeiçoamento humano propostas pela eugenia,
independente da raça. Por isso, contrapunha-se às propostas do movimento eugênico brasileiro
de embranquecimento da população (Souza in Pierro, 2021).
O racismo científico dominava a cena da eugenia no Brasil e os acadêmicos eugenistas
“antirracistas” defendiam a inexistência do que se chamava “raças puras”, explicitando a
origem miscigenada de todos os sujeitos e desvinculando a cor da pele da definição de
qualidades do sujeito. Se por um lado um dos principais nomes da eugenia no Brasil, Renato
Kehl, “via os cruzamentos raciais como mistura de características heterogêneas incompatíveis”
(Souza, 2022, p. 103), para Roquette-Pinto elas combinavam genética e antropologia. A
compreensão de que a eugenia não pertencia somente à medicina, mas contemplada uma
abordagem menos determinista e transdisciplinar é defendida por Roquette-Pinto (apud Maciel,
1999, p. 139) logo após o 1º Congresso Brasileiro de Eugenia. “A Eugenia está, exatamente,
na ponte que liga a biologia às questões sociais, à política, à religião, à philosofia e... aos
preconceitos”. Sua perspectiva, ancorada na biologia evolutiva, questionava a organização
nacional e atribuía os problemas do Brasil a questões como a falta de organização e estrutura
de saúde e educação no país. As análise de Roquette-Pinto ancoravam-se na sociologia aplicada
à diversidade racial e cultural brasileira, com a miscigenação apresentada positivamente e,
como consequência, com posicionamentos explicitamente contrários ao racismo científico e às
propostas de esterilização eugênica ou segregação (Wegner, Silva, 2013).

8
As teorias eugênicas, difundidas no início do século XX, estão associadas ao racismo científico e ao darwinismo
social. Elas defendem que há raças superiores e inferiores e que é possível aplicar técnicas científicas para eliminar
apressar o processo de evolução. Articulou teorias científicas e ideologias políticas e raciais, promovendo medidas
de seleção social, racial, de gênero, de sexualidade e de identidade nacional. Entre suas propostas, estavam a
segregação racial, a esterilização compulsória e o racismo. (Souza, 2022, p. 94).

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As epistemologias plurais e o olhar contextualizado para o acontecimento nos levam a


pensar em como este embate, tão presente na carreira científica de Roquette-Pinto, se
apresentava no rádio. Seria o novo meio um espaço a mais para defender seus ideais culturais?
Como o vínculo do cientista com os debates racializados impactou a maneira como a
programação foi definida, na seleção das palestras e aulas a serem transmitidas, na composição
de equipes, nas relações e decisões de bastidores do meio ou na própria decisão de investir no
rádio como um espaço educativo? O posicionamento de quem pesquisa revela a lente com a
qual o fenômeno será observado. A interseccionalidade, neste caso, apresenta variáveis,
acontecimentos e contextos que o olhar eurocentrado não revela.
A adoção de epistemologias plurais reconhece que o discurso científico é também
político, pessoal e poético, defende estratégias para a produção de conhecimentos
emancipatórios e se abre a novos espaços para a teorização e para a prática”. (Kilomba, 2019,
posição 647-650). Uma pesquisa antirracista, descolonizadora, emancipatória, feminista,
latino-americana, múltipla não pode considerar que corpos negros estão “fora do lugar” e
corpos brancos estão “em casa” (Kilomba, 2019, posição 619-621). Ao contrário, reconhece
nos saberes dos diversos grupos historicamente discriminados a origem de novos olhares e
geografias para o mundo (Ribeiro, 2019, p. 70). Sem romantizar os sujeitos que resistem e a
própria resistência, Carla Akotirne (2019, p. 37) nos alerta para o “perigo da história única e
Patricia Hill Collins diz que os eixos da sociabilidade humana atuam e influenciam
simultaneamente, dando às pessoas acesso à complexidade do mundo e de si mesmas”.
João Baptista Borges Pereira (1967) nos lembra que as pessoas negras estavam integradas
ao rádio já na chamada “era de ouro”. A história do autor e o processo de quebra do pacto
narcísico que marca uma dominância cercada de silêncios (Bento, 2022) que o autor viveu ao
perceber a existência do “negro que era objeto da sociologia” é representativo da invisibilidade
das questões de raça para os sujeitos brancos. O questionamento da sua experiência cotidiana
a partir de outros olhares permitiu a ele reconhecer a existência de uma questão a investigar e
o levou a escutar as vozes que falavam do racismo, dos preconceitos e estereótipos (Betti,
2015).
Pereira (1967), que estudou raça no rádio e sua pesquisa doutoral, dizia que o Brasil
passava por uma “conspiração do silêncio”, um desinteresse da academia com a temática racial.
Na sua pesquisa, olhou para o rádio paulista do final dos anos 1950 e início dos anos 1960,
produzido e consumido predominantemente por pessoas negras. Em uma análise que olha para

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o fenômeno não somente com a lente da raça, mas também da classe e, em alguns momentos,
do gênero, representa um meio distinto dos relatos da era de ouro, das discussões sobre
consolidação de uma estrutura profissional baseada na criação de funções ou na organização
estrutural de emissoras. Discutem-se as experiências do ponto de vista social. Para o autor,
“[...] o simples convívio com o meio radiofônico e com os artistas, tirando os indivíduos do
apagado da existência do dia-a-dia, consegue compensar de alguma maneira essa aspiração de
melhoria social, mesmo que tais compensações não sejam resultantes diretas de real ascensão
socioeconômica” (Pereira, 1967, p. 113). A perspectiva exploratória da pesquisa indica
também que o que o ouvinte negro de rádio buscava, além dos contatos com “gente
importante”, era conviver com iguais, participar de ações associativas e sentir-se notado e
valorizado (Pereira, 1967, p. 113). A escuta do outro e o desvelamento de experiências contadas
permitiram ao autor entender que o rádio se configurava como um espaço de segurança e
compartilhamento para o público negro paulistano do período. E esta percepção é acionada a
partir de um contexto social que posiciona o meio no processo de construção de identidades,
observando conexões entre as condições dos sujeitos. O rádio, então, pode ser entendido como
um fenômeno que chama por um pensamento interseccional. Para Kimberlé Crenshaw, é
preciso reconhecer que as identidades não são independentes, mas se cruzam, se afetam,
permitem ver sentidos de uma em outra a partir da interseccionalidade.
[...] o que a proposta da interseccionalidade faz? Como seu nome indica, intersecciona.
Então, o problema da interseccionalidade é que, por meio dela, primeiro se assume que
as identidades se constroem de maneira autônoma, quer dizer, que minha condição de
mulher está separada de minha condição de negra e que minha condição de negra
também está separada da minha condição de lésbica. E de classe. Esse é o primeiro
problema. E que há um momento em que, como as autopistas, isso se intersecciona
(apud Akotirene, 2019, p. 88).

Defendemos a orientação por epistemologias outras para entender fenômenos sociais,


como o rádio, entrecruzados por condições diversas que se afetam e que constituem
experiências. Desta maneira, mudar o olhar para a construção coletiva de uma história que não
ignore o que se fez, mas que tensione verdades e recontextualize acontecimentos. Afinal, mudar
requer uma tomada de posição sobre o mundo e esta tomada de consciência permitirá aos
estudos radiofônicos entender-se rompendo a lógica da história única e dos apagamentos dos
sujeitos. Uma história singular, vista pelas mesmas lentes, contada pelos mesmos sujeitos e que
deriva na concepção epistemológica de um campo de estudos a partir de um grupo dominante
integra o que Arthur Ramos denominava, já em 1942, como “conspiração do silêncio” (apud

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Pereira, 1967). Ela pode estar vinculada também ao pacto narcísico (Bento, 2022), em que os
coletivos silenciam ações brutais e violações de seus antepassados, negando crimes e
responsabilidades, recusando-se a rever leituras anteriores, negando o direito à ocupação de
espaços até então reservados aos detentores do privilégio.
Grada Kilomba (2019, posição 272-273) diz: “Eu sou quem descreve minha própria
história, e não quem é descrita. Escrever, portanto, emerge como um ato político”. Aos sujeitos
é reservado o direito de contar sua história a partir das suas identidades, de definir a sua própria
realidade, deixando a condição de objeto e assumindo a condição de sujeito (hooks, 2019). A
adoção de epistemologias plurais nos estudos radiofônicos prevê o reconhecimento da ausência
de sujeitos pertencentes a grupos historicamente discriminados nos fóruns de debate, como
protagonistas das pesquisas, representados em lugares mais qualificados. Mas não basta
assumirmos o papel de uma branquitude crítica (Bento, 2022) que reconhece as ausências e
busca reconsiderar o problema. É preciso reconhecer também as distintas origens do
conhecimento, os pontos de vista variados sobre os fenômenos, trabalhar pela quebra das
restrições à presença de corpos negros, femininos, originários ou com deficiências no ambiente
acadêmico. É preciso observar e criticar políticas e deslocar-se ao construir propostas de
pesquisa, lutando por uma academia que não se configura como um espaço de violências.
Porque nos falta controle sobre tais estruturas, a articulação de nossas próprias
perspectivas fora de nossos grupos torna-se extremamente difícil, se não irrealizável.
Como resultado, o trabalho de escritoras/es e intelectuais negras/os permanece, em
geral, fora do corpo acadêmico e de suas agendas, como as perguntas às/aos
estudantes mostrou. Eles e elas não estão acidentalmente naquele lugar; foram
colocadas/os na margem por regimes dominantes que regulam o que é a “verdadeira”
erudição. (Kilomba, 2019, posição 572-576)

Entender que as pesquisas construídas a partir da epistemologia eurocêntrica e do ponto


de vista de sujeitos brancos até então detentores da narrativa histórica é reconhecer que a
academia não é um espaço neutro. Entender que os sujeitos que formam os fenômenos que
estudamos - no nosso caso, os estudos radiofônicos - são múltiplos e precisam ser escutados
porque, como nos diz Djamila Ribeiro (2019), gritam pela possibilidade de existir, significa
repensar contextos, abordagens, objetos e ações na vida acadêmica. Pensar os estudos
radiofônicos desconectados de uma epistemologia latinoamericana, africana ou feminista,
desconsiderando intersecções de classe é conhecer um lado da história, um lado do rádio e
excluir experiências que formam a identidade do fenômeno, que explicam seu
desenvolvimento, que definem o lugar que ele ocupa na sociedade brasileira.

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4. Caminhos futuros
Quando falamos em rádio brasileiro, de que rádio falamos? Quais os acontecimentos e
os sujeitos apresentados como protagonistas de um meio tão presente no cotidiano da
população? A partir de que ponto de vista entendemos representatividade e caracterizamos os
sujeitos que falam no rádio ou o que se fala sobre os sujeitos no rádio? E somamos uma
pergunta igualmente importante: quem está autorizado a falar sobre o rádio, a entender como
ele se define, a contar a sua história?
Neste artigo, defendemos uma pluralidade epistemológica para os estudos radiofônicos.
Reconhecemos nosso lugar como parte de um grupo privilegiado e autorizado a formar parte
destes espaços tendo nossas vozes mais escutadas e sofrendo menos violências institucionais.
Por isso mesmo buscamos apontar para importância de pluralizar os olhares, de quebrar
hierarquizações históricas e de reconhecer saberes diversos. “As experiências desses grupos
localizados socialmente de forma hierarquizada e não humanizada faz com que as produções
intelectuais, saberes e vozes sejam tratados de modo igualmente subalternizados, além das
condições sociais os manterem num lugar silenciado estruturalmente” (Ribeiro, 2019, p. 63).
Ao olhar para os estudos radiofônicos, acionamos o contexto de Edgard Roquette-Pinto,
personalidade reconhecida no campo, estudada, registrada historicamente, para demonstrar
como uma perspectiva interseccional nos permite compreender nuances e descobrir
perspectivas não consideradas sobre nosso fenômeno. Mas, ressaltamos, esse é um dos
questionamentos possíveis. Vinculamos o debate à raça, mas reconhecemos não viver a
experiência racializada. A área demanda diversidade dos sujeitos que falam, demanda escuta
de suas vozes, de seus olhares e instrumentos para fazer ciência. “Isso, de forma alguma,
significa que esses grupos não criam ferramentas para enfrentar esses silêncios institucionais,
ao contrário, existem várias formas de organização políticas, culturais e intelectuais. A questão
é que essas condições sociais dificultam a visibilidade e a legitimidade dessas produções”
(Ribeiro, 2019, p. 63).
Ainda que este seja um texto com caráter ensaístico que se aproxima do debate sem
encerrá-lo, algumas descobertas saltam aos olhos. O fato de uma das primeiras produções de
caráter científico dos estudos radiofônicos brasileiros ser centrada em uma perspectiva racial
(Betti, 2013) e demonstrar a centralidade das pessoas negras neste fenômeno comunicacional
nos leva ao questionamento: por que, mais de 60 anos depois, quase não se olha o rádio por
esta lente? Em um país em que 78,8% dos jovens brancos e 55,6% dos jovens negros entre 18

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e 24 anos frequentam a universidade (IBGE, 2019), ainda olhamos para os fenômenos com um
ponto de vista predominantemente branco, heteronormativo e masculino.
O acesso ao ensino superior por pessoas não brancas no Brasil melhorou a partir dos anos
2000, com a institucionalização de ações como as políticas de cotas para acesso a vagas nos
cursos de graduação nas universidades públicas e o desenvolvimento de programas como o
REUNI, o SISU, o FIES e o PROUNI. Um relatório da Associação Nacional de Travestis e
Transexuais indica que somente 0,02% das pessoas trans cursam ensino superior no Brasil
(Iazetti, 2022). Acionando Viviane Vergueiro, a pesquisadora Brume Iazetti explica que
“Perspectivas epistemológicas tem procurado se atentar às particularidades da constituição de
identidades de gênero nesse contexto, compreendendo os modos como já no período colonial
haviam imposições violentas contra pessoas que destoavam da binaridade de gênero em certo
padrão europeu e colonial”. O debate sobre a presença de grupos historicamente discriminados
nas universidades – seja na graduação, na pós-graduação ou na vida docente – é complexo e
reverbera violências e preconceitos historicamente construídos, que ao serem observados sob
outros pontos de vista propiciam movimentos de reconstrução e de mudança de postura.
A presença de mulheres, de negros, de indígenas e de outros grupos historicamente
discriminados nestes espaços amplia as possibilidades de escuta de suas vozes. No entanto, é
importante ir além. Estar nos bancos da universidade e não ver professores negros, reitoras e
pró-reitoras mulheres, pesquisadores e pesquisadoras de povos originários reitera a violência
do não pertencimento e reforça o silenciamento. “Tal fenômeno evidencia a urgência de incidir
na relação de dominação de raça e gênero que ocorre nas organizações, cercada de silêncio”
(Bento, 2022, p. 19). Como explicita a autora, é preciso parar de atender a interesses grupais
para confrontar o que ela define como pacto narcísico da branquitude. “Enquanto posições de
autoridade e comando na academia forem negadas às pessoas negras e às People of Color (PoC)
a ideia sobre o que são ciência e erudição prevalece intacta, permanecendo “propriedade”
exclusiva e inquestionável da branquitude” (Kilomba, 2019, posição 581-584).
A definição dos homens brancos cisheteronormativos como “padrão” na academia
reiteram um silenciamento de outras vozes e de sua percepção como neutros e criteriosos, em
detrimento de outras visões dos processos científicos e sociais. A consolidação de políticas de
ação afirmativa na pós-graduação pode ajudar, institucionalmente, a ampliar a escuta das vozes
silenciadas e a abrir espaços de reconhecimento de pessoas discriminadas. No quadriênio 2017-
2020 menos de 50% das universidades brasileiras haviam instituído políticas de ações

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afirmativas (Bernardino-Costa, Borges, Ferreira e Carlos, 2024). Os autores organizam as


políticas em três ondas: a primeira, que trata da reserva de vagas em cursos de graduação; a
segunda, em cursos de pós-graduação; e a terceira, em concursos públicos para docentes. As
ondas, afirmam eles, refletem a realidade de um processo “em aberto, irregular e sem garantias”
(2024, p.5).
Consideremos também que as políticas de ação afirmativa devem considerar a entrada,
mas também a permanência nas universidades. Bolsas de pesquisa e financiamentos de projetos
docentes devem considerar grupos historicamente discriminados e suas demandas específicas.
Some-se a isso a necessidade de mudança social, de reconhecimento de dívidas históricas e da
diversidade de experiências que, como nos diz Carla Akotirene (2019), corporificam-se pelo
sistema colonial moderno e desumanizam através do preconceito, do racismo e da
discriminação.
Falar de racismo, opressão de gênero, é visto geralmente como algo chato, “mimimi”
ou outras formas de deslegitimação. A tomada de consciência sobre o que significa
desestabilizar a norma hegemônica é vista como inapropriada ou agressiva, porque aí
se está confrontando poder. (Ribeiro, 2019, p. 79)

A confrontação do silêncio e do silenciamento leva à reflexão sobre a violência e a


brutalidade históricas inscritas na nossa história, mas também a um novo lugar a ser assumido
pelo campo de estudos e pelos próprios pesquisadores. O lugar de privilégio reiterado pela sua
negação e pela negação das suas consequências deriva em uma invisibilização da diversidade
nos protagonistas dos processos comunicativos e acadêmicos. “Assim, falar sobre a herança
escravocrata que vem sendo transmitida através do tempo, mas silenciada, pode auxiliar as
novas gerações a reconhecer o que herdaram naquilo que vivem na atualidade, debater e
resolver o que ficou do passado, para então construir uma outra história e avançar para outros
pactos civilizatórios” (Bento, 2022, p. 25). É preciso enxergar as hierarquias produzidas por
grupos sociais privilegiados e o seu impacto na constituição dos lugares de grupos
subalternizados. (Ribeiro, 2019, p. 85).
Um dos desafios à área é se reconhecer como parte do problema. “A destruição de um
pacto narcísico não é só individual, mas tem sua âncora em ações coletivas estruturais
envolvendo a responsabilidade social das organizações que precisam se posicionar diante de
sua herança concreta e simbólica na história do país” (Bento, 2022, p. 125). Na academia e nos
estudos de comunicação a perspectiva percebida como “democrata” e “inclusiva” nos leva a
ver e a destacar a existência de múltiplas formas de discriminação, nos permite admitir a

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existência do racismo e do racismo estrutural, os impactos positivos da política de cotas (maior


na graduação do que na pós-graduação ou na ocupação de postos de trabalho ou no avanço nas
carreiras). Mas nos falta um ponto. A meia verdade da pesquisa reside em entender que não
basta reconhecer os problemas estruturais da sociedade, mas que as estruturas, como diz Silvio
de Almeida (2019), são compostas por sujeitos e que as responsabilidades são compartilhadas.
É preciso entender que o racismo e que o olhar da branquitude masculina hetero ainda é um
padrão. E que este padrão se estende à academia e aos estudos radiofônicos. Um caminho é
racionalizar a presença da branquitude, como nos explica Cida Bento, para que ela também se
perceba um vetor do processo de construção social e assuma suas responsabilidades na
reparação de uma história e de uma ciência unilaterais e singulares, que já não cabem em um
mundo plural.

Referências

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