5 A Argumentação Oral
5 A Argumentação Oral
5 A Argumentação Oral
2023v26n1p66
* Doutora em Letras pela Universidade de São Paulo - USP (2009). Professora Doutora Adjunta da Universidade
Federal de Sergipe - UFS. Contato: [email protected]
Resumo:
Este artigo está vinculado às pesquisas realizadas no âmbito do Mestrado Profissional em
Letras e objetiva discutir como aspectos vinculados à oralidade, identificados em dois vídeos
de divulgação científica em circulação no YouTubeBR, produzidos em torno do tema fake
news, estão articulados a outras semioses na composição de opiniões que visam à adesão de
adolescentes e jovens às ideias veiculadas em dois diferentes canais. Com base em conceitos do
campo da conversação e da linguística textual, é proposto um procedimento metodológico que
orienta a compor análises da oralidade combinadas com a complementaridade intersemiótica
de materialidades multimodais. Os resultados apontam que acompanhar a organização do
fluxo e tópico discursivo colabora com a compreensão das operações de filtragem e da
saliência, ambas associadas às características próprias de produções audiovisuais, além de
registrar o tipo de raciocínio privilegiado em cada uma. Entende-se que a identificação desses
recursos linguístico-discursivos pode servir de referência para a composição de práticas
pedagógicas voltadas à compreensão da argumentação oral.
Palavras-chave:
Oralidade. Argumentação multimodal. Opinião.
Introdução
Desde o início do século XXI, a divulgação científica tem se expandido como uma prática discursiva
cada vez mais presente na sociedade globalizada, sobretudo com a facilidade de circulação no espaço da internet.
Apesar de sempre ter sido difícil caracterizar esse gênero discursivo, uma vez que se trata de um “discurso
segundo – derivado do científico –” (GRILLO, 2008, p. 1), a crescente produção desse gênero tem provocado
distintas reflexões entre professores e profissionais de diferentes áreas.
No Brasil, por aproximadamente quarenta anos, o jornalismo científico define que a divulgação
científica “compreende a utilização de recursos, técnicas e processos para a veiculação de informações científicas
e tecnológicas ao público em geral” (BUENO, 1985, p. 1421). Nesse sentido, esse tipo de jornalismo se associa
tanto ao campo midiático – como fonte de informação para o público em geral – quanto ao campo educacional
– como se vê pelo seu uso em livros didáticos (NASCIMENTO, 2005), em aulas de ciências (FERREIRA;
QUEIROZ, 2012) e em cursos de extensão para não especialistas, sobretudo com a larga frequência desse tipo
de curso na rede social YouTube (REYES; VAZQUEZ, 2020).
Embora os textos de divulgação científica estejam recebendo particular atenção em função da mediação
que o jornalismo oferece aos assuntos acadêmicos e científicos, ainda carecem análises que possibilitem a
discussão em torno do papel da oralidade e de outros recursos semióticos na constituição desse gênero discursivo.
Assim, neste artigo, é proposta uma tentativa inicial de descrição e análise de materiais produzidos com a
finalidade de orientar adolescentes e jovens. Isso porque se torna necessária a fundamentação de professores
para que possam formar os estudantes a compreender as informações veiculadas em redes sociais.
Entende-se ainda que a descrição e interpretação de artigos de divulgação científica que circulam
livremente na internet se justifica por pelo menos três motivos, que serão inter-relacionados ao longo do texto:
Para discutir essas amplas questões em um artigo de curta extensão, optou-se por organizar este texto
em três partes, antes das considerações finais: 1. descrever, breve e sinteticamente, o gênero artigo de divulgação
científica, produzido para adolescentes e jovens, com base em exemplares disponíveis na rede social YouTubeBR;
2. demarcar os diferentes aspectos que são articulados por meio de uma complementaridade intersemiótica
(ROYCE, 2007) a fim de construir um discurso explicativo-argumentativo (GRÁCIO, 2014), bem como ilustrar
um modelo de procedimento analítico; 3. selecionar pontos que podem colaborar com o trabalho do professor
da educação básica que se dedique a ensinar a linguagem oral na escola.
A caracterização do artigo de divulgação científica (doravante DC), em geral, parte da versão escrita,
como é possível confirmar em diferentes trabalhos: Bueno (1985); Jacobi (1986); Berruecos (1995); Grillo
(2006), entre outros. Contudo, Jacobi, desde a segunda metade da década de 1980 já se mostrava sensível às
representações figurativas utilizadas na vulgarização científica, por isso dedicou atenção ao esforço empreendido
pelos museus e pela educação não formal. Apesar de haver estudiosos que se preocupam com a relação entre
escrita e imagem, são mais raros os trabalhos que exploram as especificidades da DC que acontece na modalidade
oral. No Brasil, são encontrados trabalhos que exploram o ensino de exposição oral, seminário ou debate, mas
o que tem sido encontrado em vídeos que circulam em redes sociais diferencia-se substancialmente desses
gêneros escolares.
Na descrição do artigo de DC, na modalidade escrita, afirma-se ser um gênero que integra três campos:
o científico – que subsidia as discussões técnicas relativas aos diferentes temas de interesse social –, o midiático
ou jornalístico – que se associam às discussões socioeconômicas culturais próprias de uma determinada época
e local – e o educacional – que divulga os conhecimentos aos estudantes da educação básica, por meio de
variados recursos (livros e manuais didáticos ou paradidáticos, jornais ou revistas especializadas etc.), tal como
descreveu Grillo (2006). Além disso, o texto de divulgação segue uma ordenação inversa ao texto científico
canônico (objetivos, procedimentos, conclusões, aplicações), pois visa a captar a atenção e o interesse do
leitor em relação ao saber científico por meio da construção de textos organizados em uma grande variedade
composicional, “adequada ao necessário diálogo que o gênero reportagem de divulgação científica deve realizar
com enunciados da esfera científica” (GRILLO; OLÍMPIO, 2006, p. 389), entre outras razões.
Desse modo, as explicações são acompanhadas de um tom interpretativo relativo ao tema e/ou aos
fatos tratados no artigo, bem como às implicações relacionadas a ele, por isso é possível identificar propósitos
indutivos ou persuasivos. Quando o assunto em questão é polêmico, identificam-se os pontos de vista em oposição
e os recursos utilizados para obter a adesão do leitor (COSTA, 2014). Tais características estão presentes em
materiais de DC construídos em múltiplas modalidades. A variedade relativa aos temas tratados, ao modo como
as ideias são discutidas, e ao estilo é frequente nos exemplares que se encontram disponíveis no YouTubeBR,
pois as novas produções discursivas são marcadas pelo hibridismo tanto na composição construcional quanto
nos padrões de pensamento, o que permite superar o binarismo e as dicotomias das antigas lógicas de mídias.
São diferentes tipos de cruzamento que inter-relacionam valores, informações e posicionamentos discursivos
que passam a coexistir e interagir na internet (MAST; COESEMANS; TEMMERMAN, 2016).
Há mais de uma década estão sendo produzidos estudos sobre o papel educativo dos vídeos encontrados
no YouTube (BERK, 2009; BURGESS; GREEN, 2009; JONES; CUTHRELL, 2011; MION; LOPES, 2021;
RESENDE, 2015; REYES; VAZQUEZ, 2020; VIZCAÍNO-VERDÚ; CONTRERAS-PULIDO, 2019, etc.).
Isso porque, desde a constituição dessa rede social em 2005, crianças e jovens passaram a ter acesso direto a
temas sociais e culturais, a variadas formas de entretenimento e a plataformas formativas, além de estabelecerem
O Brasil é um dos principais consumidores dos vídeos encontrados no YouTubeBR2, além de ser o país
com a terceira maior média de tempo diária no uso de redes sociais (por usuários de 16 a 64 anos de idade)3.
Em relação à produção de conteúdo de DC para essa plataforma, em 2019, foi criado o selo Science Vlogs4,
como recurso para atestar a qualidade dos conteúdos de ciência na internet. Como se quer discutir o lugar
da oralidade na constituição da complementaridade intersemiótica em vídeos disponíveis para adolescentes
e jovens, a título de ilustração, foram selecionados dois vídeos, conforme os seguintes critérios: (i) tratar de
um mesmo assunto – optou-se pelas fake news, devido à relevância que o tema passou a ter na sociedade
1
O conceito de “complementaridade intersemiótica” é proposto por Royce (2007) com base nos princípios da Linguística Sistêmico-
Funcional, que se organiza em três tipos de metafunções (ideacional, interpessoal e composicional), porém neste trabalho não
haverá separação dos elementos em cada um dos três tipos, pois está sendo proposta uma análise global dos materiais selecionados
para discussão. Além disso, serão agregados pontos que não foram tratados ao considerar materiais multimodais impressos, como
os utilizados pelo autor.
2
Em abril de 2022, o Brasil se posicionou em quarto lugar entre os países com maior número de usuários do YouTube (totalizou 138
milhões), segundo Ask Statista (Disponível em: https://bit.ly/3GEYC1g. Acesso em: 05 jan. 2023).
3
Segundo a pesquisa da Hootsuite de 2022. Disponível em: https://kepios.com/reports. Acesso em: 05 jan. 2022.
4
O Science Vlogs Brasil (SVBR) é uma comunidade de divulgação científica que faz a curadoria de canais do YouTube para dar a eles
um selo de confiabilidade e de qualidade e ainda busca expandir a divulgação de conteúdos de ciências nas redes sociais, por meio
de youtubers parceiros, considerados “Patronos” da iniciativa, como Pirula, Sergio Sacani, André Azevedo da Fonseca e o médico
Drauzio Varela. Conferir em: https://bit.ly/3ZcDMh2 (Jornal da USP).
5
Segundo a Nova Retórica, o auditório, “[...] o conjunto daqueles que o orador quer influenciar sua argumentação. Cada orador
pensa, de uma forma mais ou menos consciente, naqueles que procura persuadir e que constituem o auditório ao qual se dirigem
seus discursos”. Nesse sentido, o auditório presumido é uma construção, mais ou menos sistematizada, com base em características
psicológicas ou sociológicas, que visa a persuadir “efetivamente indivíduos concretos [...]” (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA,
1996, p. 22).
O vídeo de DC, como o texto falado, em nível global, desenvolve-se por meio de uma atividade
interacional, mas que se organiza de modo monologal8, com planejamento prévio à produção do material e
interação estabelecida em espaços e tempos distanciados, o que difere da oralidade praticada face a face. Assim,
a produção pode ser coletiva, não apenas individual, há possibilidade de revisão tanto do roteiro quanto da
expressão verbal (por meio de recursos de edição de vídeo, isto é, o processo de criação é escondido do usuário
da plataforma, que só tem acesso à versão final) e o produtor pode antecipar as “possíveis reações” daqueles
que possam se interessar pela temática. Observa-se, então, que as condições de produção desse tipo de vídeo
se aproximam mais da caracterização que se faz da escrita do que da fala (FÁVERO; ANDRADE; AQUINO,
1999, p. 74).
Quanto ao fluxo discursivo, dado o caráter polêmico da temática, é visível a articulação entre diferentes
pontos de vista na composição de uma disputa de posições discursivas, a partir da qual se depreende um embate
entre posicionamentos que circulam na sociedade brasileira. Também se depreende, por meio do que é dito e de
outros recursos – como: entoação, pausas, gestualidade, expressão facial –, um jogo de subjetividades, ou seja,
de representações, por meio de um processo de negociação que acontece a partir das antecipações do produtor
em relação ao que é partilhado com o interlocutor na projeção construída pelo discurso (BRAIT, 2003).
No vídeo 1, Felipe Castanhari, desde a abertura do vídeo, inscreve-se em uma enunciação estabelecida
entre o “eu” (que já compartilhou notícias sem realizar uma checagem antes disso) e um “tu” (um adolescente
ou jovem, que é tratado por “você”). O “eu”, inscrito no discurso, antecipa dificuldades que podem ser vividas
pelos interlocutores, oferece exemplos de situações que podem ter acontecido, antes de explicar por que isso
é um problema social. A câmera capta a imagem do youtuber em close-up (primeiro plano), o que possibilita um
olhar direto para quem assiste ao vídeo, e o cenário de fundo, preparado com brinquedos para diferentes idades,
colabora com a familiaridade entre ambos, e por vezes o big close-up (primeiríssimo plano) auxilia a dar mais
dramaticidade ao que está sendo dito (0’35”-0’36”).
Ao longo do processo interacional, “eu” e “tu” são incluídos em “todo mundo” (a partir de 1’04”-
11:15”: “eu LEio a noTÍcia antes de compartilhAR com meus aMIgos. Eu também checo se aquela corrente
do whatsapp é verdaDEIra eu CHECO Tudo bem galera eu não estou aqui para julgar to:do mu:ndo já
6
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HNCYAVcT_Is. Acesso em: 02 jan. 2023.
7
Disponível em: https://bit.ly/3Qqmnh5. Acesso em: 02 jan. 2023.
8
Segundo Charaudeau e Maingueneau (2004, p. 164, grifos dos autores), o “[...] discurso monologal (ou ‘monogerado’, isto é,
construído por um único locutor, sem intervenção direta de outrem) [geralmente é] o discurso monológico (que coloca em cena
um único enunciador) [...]”, mas também podem existir discursos monologais-dialógicos.
9
Está sendo utilizada a marcação de prolongamento de vogais proposta pelo Projeto de Estudo da Norma Linguística Urbana Culta,
conhecido como Projeto NURC, realizado em cinco capitais brasileiras na década de 1990.
Imagine isso rolando o tempo todo com notícia de Justificando bastante o isolamento do Brasil nesse
política ou economia ou notícias de seu time, isso é assunto em relação ao resto do mundo, na minha
muito perigoso, galera, porque de repente o boato e o opinião, imagine só se o povo compreendesse como
exagero começam a ganhar mais peso do que os fatos... a sua saúde foi pisoteada por puro interesse político...
Em ambos os trechos reunidos no Quadro 1 prevalece o raciocínio por abdução, que é fundamental
para a pesquisa científica, visto que, em função de seu caráter conjectural, permite propor alternativas decorrentes
de um conjunto de fenômenos diversos, dispersos e concomitantes. A tese defendida explicitamente em cada
canal é apresentada como uma razão verossímil e razoável para todos os fenômenos que são considerados.
Entende-se, assim, que a abdução é construída com base em inferências que se apresentam como as melhores
explicações possíveis para o conjunto de situações sociais selecionadas (ANGENOT, 2015) e é construída
principalmente a partir da combinação de recursos linguístico-discursivos. “Em decorrência disso, afirma-se
que uma argumentação não persuade por si mesma, mas que ela conduz o destinatário a se persuadir ele
mesmo” (GRIZE, 2020, p. 260).
A análise de cada recorte indicou que a concernência e a relevância são traços imprescindíveis para
precisar a centração tópica, o que colabora diretamente com a argumentação em relação ao assunto em questão
e com a pontualização em relação ao tratamento do tema. Estabelecer um ponto focal é um processo que é
reforçado pela operação de saliência, que passará a ser analisada em associação com a complementaridade
semiótica.
No âmbito local, em função dos limites deste trabalho, a interação verbo-imagética será avaliada a
fim de demarcar a organicidade do texto oral, caracterizar os participantes e a articulação entre os elementos
composicionais. São distintos os participantes representados nos vídeos: por se expressar em primeira
pessoa do singular, Felipe Castanhari assume uma voz individual, mas que inclui outros jovens que praticam
o compartilhamento de informações sem confirmação prévia de veracidade. Colocar-se como alguém que já
fez isso pode promover a identificação do internauta que interage com o material selecionado para o vídeo 1.
10
Ficha Técnica: Roteiro - Rob Gordon e Felipe Castanhari Montagem e Edição - Nando Almeida Artes - Rick Ordonez Pesquisa -
Leonardo Produtora - http://tucanomotion.com.br
11
Estamos juntos na luta pela informação de qualidade na internet, principalmente em momentos que podemos salvar vidas. Por isso,
queremos conscientizar a todos sobre a importância de verificar as fontes das informações, valorizando a divulgação científica, o
jornalismo, os checadores e pesquisadores que trabalham diariamente para alimentar o debate público com informações precisas
e confiáveis.
Se a compreensão da interação verbal face a face é uma atividade exigente, tal como o projeto NURC
demarcou na pesquisa acadêmica brasileira ao longo de anos, a articulação entre a oralidade e variados recursos
semióticos torna essa tarefa ainda mais complexa tanto para professores quanto para estudantes do ensino
fundamental e médio, sobretudo quando se trata de materiais que visam a defender uma tese diante de um
auditório presumido. Ao tomar o que tem sido estudado há mais de vinte anos, percebe-se que atentar para
o contexto de cada material, o que inclui tanto o reconhecimento das condições de produção e circulação
dos vídeos do YouTubeBR quanto a identificação dos participantes; para o reconhecimento das crenças e dos
conhecimentos em disputa no/pelo discurso; para os aspectos constitutivos da oralidade; para a composição
multimodal de uma produção audiovisual é prioritário quando se quer organizar atividades de compreensão de
textos orais.
Como, segundo Marcuschi (1998, p. 23), “[...] a compreensão é um processo de sinalização múltipla
[...]”, uma vez que requer a existência de referentes comuns, o interesse construído em função de objetivos
previamente definidos e atenção concentrada, entre outras capacidades, cabe às atividades de ensino-
aprendizagem identificar meios para haver “engajamento suficiente para o desenvolvimento de atividades
cognitivamente sintonizadas e interativamente coordenadas”. Particularmente, no caso do trabalho com textos
multimodais de DC, que tenham na linguagem verbal um apoio preponderante, as exigências são ampliadas,
pois também será preciso entender como o jogo entre perspectivas é articulado na construção de explicações
e argumentações.
Por aceitar também que a construção de conhecimentos em sala de aula se realiza interativamente em
uma “rede de relações com espaços cognitivos sobrepostos e interconectados” socialmente (MARCUSCHI,
1998, p. 27), assume-se que as ações docentes e discentes que ocorrem dentro da escola precisam considerar
as práticas de leitura/compreensão situadas na realidade social. Em relação ao que foi discutido anteriormente,
sabe-se que diariamente os estudantes são expostos aos vídeos que circulam no YouTubeBR, mas ainda há
carência de trabalhos que possam subsidiar o trabalho docente quanto à compreensão da oralidade, tal como
a pesquisa de Galvão e Azevedo identificou em 2015. Assim, além de propor um procedimento exploratório
aplicado à análise de dois vídeos de DC, para finalizar este artigo, são indicados cinco pontos que podem
orientar a composição de atividades de compreensão de textos orais e multimodais.
12
“[...] modulação entonacional típica: entonação ascendente, sugerindo começo de frase, na abertura de um tópico e entonação
descendente, na maioria das vezes com inflexão conclusa, no fecho” (JUBRAN, 2006, p. 110).
4. Mapear os recursos linguísticos e semióticos que colaboram com a organicidade do tópico discursivo
a fim de depreender a orientação argumentativa.
Esse tipo de identificação frequentemente é realizado no âmbito acadêmico, assim, para realizar
atividades favoráveis a este ponto, tende a ser necessário um planejamento coordenado com atividades
específicas que promovam a construção de inferências, sobretudo as socioculturais, bem como a organização
de esquemas que facilitem a percepção das relações entre os diferentes recursos multimodais.
Embora seja uma lista curta, esses pontos perpassam o conjunto de aspectos analisados e demarcam
aqueles que colaboram diretamente com o ensino-aprendizagem da descrição e interpretação de artigos de
divulgação científica que circulam livremente na internet. Em função dos limites deste texto, os conceitos
sinalizados merecem ser ampliados e incluir os detalhes que se encontram disponíveis nos textos referenciados.
Agregado a isso, intentou-se explicitar que os artigos de DC constroem uma objetividade que se
associa a opiniões (avaliações axiológicas) justificadas tanto em situações vivenciadas em sociedade quanto em
estudos e pesquisas que aprofundam as discussões apresentadas, o que amplia o entendimento da composição
de um gênero discursivo em circulação e a contínua alteração por que passa na sociedade contemporânea.
Por fim, é importante marcar que o estudo relativo aos tipos de raciocínio, rapidamente mencionado
neste trabalho, é um campo que pode ser ampliado a fim de subsidiar muitas atividades de compreensão.
Considerações Finais
Neste artigo, o gênero artigo de divulgação científica foi escolhido na versão em vídeo e em circulação
no YouTubeBR, para que fosse possível compor um procedimento metodológico e analítico que favorecesse a
análise da oralidade combinada com a complementaridade intersemiótica. Ao longo da análise de dois vídeos
de divulgação científica, foram circunscritas duas operações que balizam a construção desse tipo de discurso: a
filtragem e a saliência, que auxiliam a compreender como os elementos linguísticos e não verbais constitutivos
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