Contenções e Ancoragens

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MODELAÇÃO DE UMA ESTRUTURA

DE CONTENÇÃO NUM EDIFÍCIO COM


PISOS ENTERRADOS NA REGIÃO DO
PORTO
Caso de Estudo - Parque de Estacionamento no
centro Cultural de Gaia

Álvaro Severiano Ortigão Osório Magalhães

Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de


MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL — ESPECIALIZAÇÃO EM GEOTECNIA

Orientador: Professora Doutora Sara Rios da Rocha e Silva

Coorientador: Engenheiro Marco António Dias Duarte

JUNHO DE 2019
MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL 2018/2019
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Tel. +351-22-508 1901
Fax +351-22-508 1446
[email protected]

Editado por
FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Rua Dr. Roberto Frias
4200-465 PORTO
Portugal
Tel. +351-22-508 1400
Fax +351-22-508 1440
[email protected]
 http://www.fe.up.pt

Reproduções parciais deste documento serão autorizadas na condição que seja mencionado
o Autor e feita referência a Mestrado Integrado em Engenharia Civil - 2014/2015 -
Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto,
Porto, Portugal, 2015.

As opiniões e informações incluídas neste documento representam unicamente o ponto de


vista do respetivo Autor, não podendo o Editor aceitar qualquer responsabilidade legal ou
outra em relação a erros ou omissões que possam existir.

Este documento foi produzido a partir de versão eletrónica fornecida pelo respetivo Autor.
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

AGRADECIMENTOS

A presente dissertação não poderia ser realizada sem a ajuda da minha família e amigos, aos quais
expresso os meus profundos agradecimentos.
Em primeiro lugar, quero agradecer à minha mãe, aos meus avós e à Francisca, pela sua presença
constante na minha vida, pelo apoio incondicional nos momentos cruciais, que me tem ajudado a
alcançar os meus objetivos pessoais com sucesso.
Em segundo lugar, quero agradecer à minha orientadora na FEUP, professora Sara Rios, pelo seu
interesse, contribuição e partilha de conhecimento essencial na concretização do projeto realizado.
Ao meu orientador na SOPSEC, Eng.º Marco Duarte, pela sua disponibilidade e recetividade, no sentido
de esclarecer as minhas dúvidas e me dar concelhos construtivos.

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

RESUMO
A presente dissertação incide no projeto de construção de um parque de estacionamento situado na Zona
Ribeirinha da cidade de Vila Nova de Gaia, atualmente na fase final de conclusão. O caso de estudo real
abordado consiste numa parede de contenção flexível no edifício com pisos enterrados, para a qual foi
adotado um processo construtivo de Parede do tipo Berlim definitiva. A contenção deste edifício propõe
a aplicação de ancoragens como sistema de suporte da estrutura. A solução implementada nesta obra,
realizada num solo residual do granito do Porto, foi influenciada por constrangimentos do local e da
altura enterrada da própria parede.
O crescimento exponencial do turismo e fluxo populacional, verificados ao longo dos últimos anos,
neste local, tem se vindo a traduzir no surgimento de novos edifícios e infraestruturas na área
metropolitana do Porto. Pelo que, o caso de estudo em meio urbano tratado no contexto do presente
trabalho e os ensinamentos retirados deste estudo se podem aplicar a obras semelhantes na região.
O principal propósito do presente estudo incide na modelação numérica de parte da solução de contenção
implementada, no sentido de compreender e analisar o comportamento da estrutura durante as sucessivas
fases de escavação. Desta forma, considerou-se o impacto dos movimentos de terras, bem como os
deslocamento e esforços verificados na cortina. O programa de elementos finitos PLAXIS 2D foi
utilizado como instrumento de modelação.
O desenvolvimento de um estudo paramétrico, permite ainda avaliar e aferir os efeitos provocados por
diferentes variáveis. Os fatores considerados mais relevantes para o desempenho da estrutura, e cujo
efeito foi utilizado para fins de análise consistem no módulo de deformabilidade do solo suportado, no
pré-esforço dos vários níveis de ancoragens e na espessura da parede.
Por fim, foi apresentada uma solução alternativa, onde é proposta a implementação de uma parede de
estacas de betão, com a finalidade de averiguar se a solução de contenção executada foi a mais adequada.
Desta forma, procede-se à análise do comportamento da estrutura em comparação com a solução inicial,
implementada no contexto real da obra.
Por último, apresentam-se algumas considerações finais e sugerem-se alguns aspetos passíveis de serem
desenvolvidos futuramente como complemento do presente estudo.

PALAVRAS-CHAVE: Escavações para edifícios com pisos enterrados, Cortinas multi-ancoradas,


Parede do tipo Berlim, Modelação Numérica, Parede de Estacas de Betão

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

ABSTRACT
The present dissertation focuses on the construction project of a car park located in Vila Nova de Gaia,
at Douro Riverside, currently in the final construction phase. The case study consists on a flexible
retaining wall on a building with basements, for which a permanent Berlin-type wall was built. The
retaining wall for this building has used anchors as the structure support system. This work was carried
out in a residual soil of Porto granite, and it was influenced by site constraints and the wall’s embedded
height.
The exponential increase of tourism and population over the last few years has been the major trigger
for the development of new projects in the Porto metropolitan area. In that sense, the urban context of
the case study treated in the scope of the present work and the knowledge taken from the performed
analysis can be applied to other similar projects of the region.
The main aim of the present study consisted on the numerical modelling of the implemented retaining
structure, in order to understand and analyze its behavior during the successive stages of excavation.
Therefore, the impact of the earth movements, as well as the displacements and stresses of the wall were
carefully analyzed. The software PLAXIS 2D for finite elements program analysis was used as a
modeling tool.
The development of a parametric study also allowed the evaluation and measurement of the effects
caused by different variables. The factors that were considered relevant to the performance of the
structure, were the supported soil, deformability modulus, the pre-stress of each anchor level and the
thickness of the wall.
In addition, an alternative solution for the retaining structure was presented, namely a concrete pile wall,
in order to enable the comparison between its performance and the implemented solution.
Finally, the last section presents some final considerations, as well as some examples and proposals of
future developments to complement the present study.

KEYWORDS: Excavations for buildings with basements, Multi-anchored walls, Berlin Wall,
Numerical Modelling, Concrete pile wall

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS………………………………………………………………………………...................i
RESUMO………………………………………………………………………………………………………....iii
ABSTRACT…………………………………………………………………………………………….………...v

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1
1.1 Enquadramento Geral ....................................................................................................... 1
1.2 Objetivos da Dissertação ................................................................................................. 2
1.3 Estrutura da Dissertação.................................................................................................. 2

2. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................ 5


2.1 Estruturas de Suporte ....................................................................................................... 5
2.1.1 Introdução ........................................................................................................................ 5
2.1.2 Muros de Gravidade ........................................................................................................ 5
2.1.3 Cortinas ........................................................................................................................... 6
2.1.4 Estruturas de Suporte Compósitas ................................................................................. 7
2.2 Sistemas de Suporte ......................................................................................................... 7
2.2.1 Tipos de Sistema de Suporte .......................................................................................... 7
2.2.2 Ancoragens ..................................................................................................................... 8
2.2.3 Escoramentos ................................................................................................................ 11
2.3 Cortinas Multi-Ancoradas .............................................................................................. 12
2.3.1 Comportamento de Estrutura de Contenção Multi-Ancorada ....................................... 12
2.3.2 Pressões de Terras e Pré-Esforço das Ancoragens ..................................................... 13
2.3.3 Dimensionamento Estrutural ......................................................................................... 15
2.3.4 Equilíbrio Vertical ........................................................................................................... 16
2.3.5 Deslocamentos associados à escavação ..................................................................... 17
2.4 Paredes tipo Berlim ......................................................................................................... 21
2.4.1 Descrição ....................................................................................................................... 21
2.4.2 Parede tipo Berlim Definitiva e Provisória ..................................................................... 22
2.4.3 Efeito de Arco ................................................................................................................ 22
2.4.4 Faseamento Construtivo de uma Parede tipo Berlim Definitiva.................................... 23
2.4.5 Faseamento Construtivo de uma Parede tipo Berlim Provisória .................................. 26
2.4.6 Características das Paredes tipo Berlim ....................................................................... 26

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

3. CASO DE ESTUDO: PARQUE DE ESTACIONAMENTO NO


CENTRO CULTURAL DE GAIA ........................................................................... 29
3.1 Introdução .......................................................................................................................... 29
3.2 Enquadramento da Obra ................................................................................................ 29
3.3 Características e Pressupostos do Problema .......................................................... 31
3.3.1 Cenário Geológico - Geotécnico ................................................................................... 31
3.4 Faseamento da obra ........................................................................................................ 33
3.4.1 Trabalhos de Demolição................................................................................................ 34
3.4.2 Estruturas de Contenção adotadas ............................................................................... 35
3.4.3 Cálculo e Dimensionamento ......................................................................................... 39

4. MODELAÇÃO NUMÉRICA DE UMA ESCAVAÇÃO TIPO


BERLIM ........................................................................................................................................ 41
4.1 Descrição do Modelo Numérico ................................................................................... 42
4.1.1 Apresentação do Problema ........................................................................................... 42
4.1.2 Geometria ...................................................................................................................... 44
4.1.3 Caracterização do Solo ................................................................................................. 44
4.1.4 Caracterização dos Elementos Estruturais ................................................................... 47
4.1.5 Malha de Elementos Finitos .......................................................................................... 48
4.1.6 Processo Construtivo .................................................................................................... 48
4.1.7 Resultados ..................................................................................................................... 51
4.2 Estudo Paramétrico da Solução Adotada .................................................................. 56
4.2.1 Influência do Módulo de Deformabilidade ..................................................................... 56
4.2.2 Influência do Pré-esforço nas Ancoragens ................................................................... 59
4.2.3 Influência da Rigidez da Cortina ................................................................................... 61
4.3 Solução Alternativa: Parede de Estacas de Betão .................................................. 63
4.3.1 Descrição da Solução.................................................................................................... 63
4.3.2 Resultados da Modelação ............................................................................................. 64

5. CONCLUSÕES E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS ............ 67


5.1 Conclusões ........................................................................................................................ 67
5.2 Desenvolvimentos Futuros............................................................................................ 69

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 2.1: Representação de Diferentes Tipos de Cortina .................................................................... 7

Figura 2.2: Estabilidade Conferida por Encastramento no Solo ............................................................. 8


Figura 2.3: Ancoragem Pré-Esforçada .................................................................................................... 9

Figura 2.4: Solução Escorada de uma Estrutura de Contenção ........................................................... 11

Figura 2.5: Evolução do Estado de Tensão em Elementos de Solo Suportado por Cortina Ancorada 13
Figura 2.6: Diagramas de Pressões Aparentes e Correspondentes Esforços nas Escoras ................ 14

Figura 2.7: Diagramas de Terzaghi e Peck ........................................................................................... 14

Figura 2.8: Métodos Utilizados no Cálculo de uma Cortina Ancorada ................................................. 16


Figura 2.9: Estabilidade Vertical de Estruturas de Contenção Ancoradas ........................................... 16

Figura 2.10: Estado de Tensão Abaixo do Nível de Escavação ........................................................... 18


Figura 2.11: Dependência dos Movimentos da Escavação em Relação á Carga e Distribuição dos Pré-
Esforços nas Ancoragens ..................................................................................................................... 20

Figura 2.12: Parede tipo Berlim na Construção do Metro de Berlim .................................................... 21

Figura 2.13: Aplicação de Painéis de forma Alternada durante Construção de Parede tipo Berlim
Definitiva ................................................................................................................................................ 23

Figura 2.14: Processo Construtivo das Paredes de Contenção Tipo Berlim Definitivas ...................... 23

Figura 2.15: Descrição Detalhada das Fases 5 e 6 .............................................................................. 24

Figura 3.1:Localização da Obra Estudada ............................................................................................ 29

Figura 3.2: Envolvente da Obra ............................................................................................................ 30

Figura 3.3: Carta Geológica do Conselho de Vila Nova de Gaia .......................................................... 31

Figura 3.4: Localização das Sondagens ............................................................................................... 32

Figura 3.5: Processo Construtivo Adotado para a Concretização da Escavação ................................ 33

Figura 3.6: Edifícios a Manter ............................................................................................................... 34

Figura 3.7: Planta da Periferia da Escavação ....................................................................................... 35

Figura 3.8: Introdução de Perfis Metálicos ............................................................................................ 37

Figura 3.9: Construção da Viga de Coroamento ................................................................................... 37

Figura 3.10: Aplicação do 1º Nível de Ancoragens ............................................................................... 37

Figura 3.11: Aplicação do 2º Nível de Ancoragens ............................................................................... 38

Figura 3.12: Realização da Sapata de Fundação ................................................................................. 38

Figura 4.1: Planta da Periferia de Escavação ...................................................................................... 42

Figura 4.2: Alçado com Orientação Sul ................................................................................................ 43

Figura 4.3: Corte 2-2 do Alçado com Orientação Sul ........................................................................... 43

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

Figura 4.4: Relação Hiperbólica da Tensão-Deformação ..................................................................... 45


Figura 4.5: Malha de Elementos Finitos ................................................................................................ 48

Figura 4.6: Comparação entre a Rigidez à Flexão dos Painéis de Betão Armado e dos Perfis Metálicos
Verticais ................................................................................................................................................. 50
Figura 4.7: Deformada da Malha de Elementos Finito ......................................................................... 51

Figura 4.8: Deslocamentos Horizontais do Solo no Final da Escavação ............................................. 51

Figura 4.9: Deslocamentos Verticais do Solo no Final da Escavação.................................................. 52


Figura 4.10: Deslocamentos da Cortina na Fase Final de Escavação ................................................. 52

Figura 4.11: Deslocamentos Horizontais da Cortina nas Fases 3 a 12 ................................................ 53

Figura 4.12: Assentamentos Superficiais do Terreno na Última Fase de Escavação .......................... 54

Figura 4.13: Momentos Fletores da Cortina nas Fases de Escavação 3 a 12 ..................................... 54

Figura 4.14: Momentos Fletores da Cortina das Fases de Escavação 8 e 9 ....................................... 55

Figura 4.15: Esforços Axiais Mobilizados na Cortina nas Fases 3 a 12 ............................................... 55

Figura 4.16: Esforços Axiais Mobilizados na Cortina na Ultima Fase de Escavação ........................... 56

Figura 4.17: Evolução do Comportamento de Variáveis em Função do Módulo de Deformabilidade . 58

Figura 4.18: Evolução do Comportamento de Variáveis em Função Pré-esforço Aplicado ................. 60

Figura 4.19: Evolução do Comportamento de Variáveis em Função da Rigidez da Cortina ............... 62

Figura 4.20: Comparação do Comportamento de Variáveis pela Implementação de uma Cortina do tipo
Berlim face a uma Cortina de Estacas de Betão .................................................................................. 65

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 2.1: Vantagens e Desvantagens de Sistemas Ancorados ........................................................ 10


Tabela 2.2: Descrição de Fases Apresentadas na Figura 2.15 ............................................................ 25

Tabela 2.3: Descrição das Fases de Construção de Paredes do tipo Berlim Provisórias.................... 26

Tabela 2.4: Vantagens e Desvantagens conferidas pela Aplicação de Paredes do Tipo Berlim ......... 27
Tabela 3.1: Parâmetros do Solo nas Zonas Geotécnicas Identificadas no Local da Obra .................. 33

Tabela 3.2: Fatores de Segurança Utilizados no Cálculo Estático e Pseudo-Estático......................... 39

Tabela 4.1: Caracterização dos Estratos, segundo o Modelo Hardening-Soil ..................................... 46


Tabela 4.2: Características da Parede do tipo Berlim........................................................................... 47

Tabela 4.3: Características das Ancoragens ........................................................................................ 48

Tabela 4.4: Faseamento Construtivo Utilizado na Modelação Numérica ............................................. 49

Tabela 4.5: Parâmetros de Deformabilidade Alterados ........................................................................ 57

Tabela 4.6: Faseamento Construtivo da Solução Alternativa ............................................................... 63

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SÍMBOLOS, ACRÓNIMOS E ABREVIATURAS

Acrónimos

INE - Instituto Nacional de Estatística


IFO - Information Forschung ou Instituto de Pesquisa Económica

SOPSEC - Sociedade de Prestação de Serviços de Engenharia Civil, S.A.

Alfabeto Latino

Ntotal - Força total vertical ascendente

W parede - Peso da estrutura de contenção


Fancoragens - Força instalada nas ancoragens

α - Ângulo que as ancoragens fazem com a horizontal

Fb - Força vertical na base da estrutura de contenção

Fac - Força de corte do lado passivo

Fap - Força de corte do lado passivo

Nperfil - Força mobilizada nos perfis

Δh - Altura de solo na zona de escavação

E - Módulo de Deformabilidade

c´- coesão do solo em termos de tensões efetivas

E50ref. - Módulo de deformabilidade em primeira carga

Eoedref. - Módulo de deformabilidade edométrico

Eurref - Módulo de deformabilidade na carga/descarga

Preferencia - Tensão efetiva de confinamento de referência = 100 kPa

m - Expoente da lei de potência

w - Peso por metro


EA - Rigidez axial

EI - Rigidez de flexão

Aestaca - Área transversal da Estaca

Iestaca - Inércia transversal da Estaca

destaca - Diâmetro da estaca


R f - Coeficiente de rotura, rácio da tensão de desvio na rotura
R inter - Fator de redução de resistência da interface;

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G ref - Módulo de distorção de referência;


K o - Coeficiente de impulso em repouso

Pútil - Pré-Esforço útil

Alfabeto Grego

𝜎1 - Tensão principal máxima

𝜎3 - Tensão principal mínima

𝜎1 − 𝜎3 - Tensão Deviatórica
𝛿3 - Deformação final da estrutura, no caso de ser aplicado pré-esforço nas ancoragens

𝛿3𝐴 - Deformação final da estrutura, no caso de não ser aplicado pré-esforço nas ancoragens

h0 - Tensão total horizontal de repouso


v0 - Tensão total vertical de repouso

ɣ - Peso Volúmico do Solo

ϕ' - Ângulo de resistência ao corte;

ψ´- Ângulo de dilatância


𝛾𝑢𝑛𝑠𝑎𝑡 - Peso volúmico do solo não saturado

𝛾𝑠𝑎𝑡 - Peso volúmico do solo saturado


𝜈 - Coeficiente de Poisson

𝜐𝑢𝑟 - Coeficiente de Poisson em descarga/recarga

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1.
INTRODUÇÃO

1.1 Enquadramento Geral


A presente dissertação incide na modelação de uma estrutura de contenção num edifício com pisos
enterrados. O estudo concentrou-se no caso da construção de um parque de estacionamento no Centro
Cultural de Gaia. O projeto analisado foi proposto pela empresa Sociedade de Prestação de Serviços de
Engenharia Civil, S.A., no âmbito da dissertação do Mestrado Integrado em Engenharia Civil, da
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Ao longo dos últimos anos, têm-se vindo a verificar fortes flutuações no setor da construção, marcadas
essencialmente por um período de profunda recessão entre 2002 e meados de 2016 (dados INE),
derivado da forte crise económica e financeira vivida na Europa, e consequente rarefação do crédito a
partir de 2007. Contudo, o setor já começou a apresentar significativas melhorias, sendo que um estudo
realizado pelo Instituto de Investigação Económica IFO, sedeado em Munique e pelo Euroconstruct
prevê um aumento do setor da construção em Portugal na ordem dos 15% entre 2018 e 2020. Tendo em
consideração, os principais fatores que contribuíram para este crescimento, destaca-se
fundamentalmente o turismo, observado principalmente nos grandes centros urbanos.
O crescimento do turismo acompanhou o período de crise económica e contribuiu de forma muito
significativa para a recuperação do setor de construção. Em 2015, o contributo direto da atividade
turística em Portugal foi de cerca de 11 mil milhões de euros, correspondendo a 6,4% do PIB. Em
conclusão, num contexto de grave recessão, o turismo veio originar múltiplos investimentos na área de
construção.
No contexto do caso de estudo analisado, é importante salientar o forte aumento do fluxo de visitantes
na área metropolitana do Porto. O estudo sobre o turismo no Porto desenvolvido por Dias (2011)
centrou-se na análise dos principais motivos de atração e perfis comportamentais dos visitantes da
cidade. As principais atrações identificadas correspondem, essencialmente a monumentos, museus,
locais históricos e caves de vinho do Porto. Desta forma, a zona ribeirinha de Vila Nova de Gaia
corresponde a um dos maiores polos turísticos, devido ao conjunto de armazéns de vinho do Porto que
agrega.
No contexto do caso de estudo analisado este cenário é relevante para o estudo de fiabilidade económica
do projeto. Paralelamente, este também expressa as principalmente condicionantes que novos projetos
neste local terão de enfrentar pelo facto de se prever um elevado fluxo humano no local, bem como

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diversos edifícios e construções circundantes, tais como locais de restauração, alojamento, atrações
históricas, entre outros.
Estas condicionantes aliadas ao facto de uma obra de um parque de estacionamento exigir uma
intervenção no subsolo, assim como o desenvolvimento de atividades e utilização do mesmo, obrigaram
a empresa responsável pelo projeto do parque de estacionamento do centro cultural de Vila Nova de
Gaia, a garantir a segurança da estrutura proposta. Esta responsabilidade foi delegada á empresa de
consultoria especializada SOPSEC, S.A., atuante desde 1988 no setor da construção em diversos
domínios, tais como consultoria, elaboração de projetos, gestão e fiscalização de obras, e diferentes
etapas e fases do projeto.
A obra definida com elemento de estudo, no âmbito da presente dissertação, está, neste momento, em
fase de implementação.
O desenvolvimento do presente trabalho consistiu numa análise detalhada da revisão bibliográfica
existente acerca de temas relevantes no contexto do problema, na caracterização do caso de estudo e nas
principais características e pressupostos inerentes ao mesmo, na apresentação de uma proposta de
solução, bem como de uma proposta alternativa e respetivos resultados.

1.2 Objetivos da Dissertação


O desenvolvimento do presente trabalho tem como principal finalidade a modelação de uma estrutura
de contenção de um edifício com pisos enterrados, em construção num solo residual de granito do Porto,
com todas as especificidades que isso representa. A obra consiste, tal como mencionado, num parque
de estacionamento localizado na zona ribeirinha de Vila Nova de Gaia.
Na sequência da elaboração do projeto proposto, foram definidos os seguintes objetivos:
 Desenvolver um estudo conceptual das principais soluções e métodos construtivos presentes na
literatura, assim como da sua adaptabilidade ao caso em estudo;
 Realizar o acompanhamento da obra em estudo;
 Compreender os principais constrangimentos do local da obra e da altura enterrada da parede;
 Modelar a estrutura de contenção do parque de estacionamento;
 Desenvolver uma análise paramétrica, no sentido de identificar as variáveis com maior impacto
no comportamento da estrutura;
 Propor uma solução alternativa para a contenção de terras na construção do edifício;
 Comparar a solução implementada com a solução alternativa proposta.
Em função dos objetivos mencionados, a estrutura de contenção do parque de estacionamento com pisos
enterrados foi modelada com recursos ao programa comercial PLAXIS®.

1.3 Estrutura da Dissertação


A estrutura do relatório é composta por cinco capítulos principais, organizados em secções que, por sua
vez, se subdividem em diferentes subsecções. O enquadramento e os principais objetivos abordados ao
longo do presente documento são introduzidos no decorrer desta introdução, correspondente ao Capítulo
1.
No Capítulo 2 subsequente é apresentada uma revisão de literatura de temas importantes no contexto do
problema. Este capítulo é composto pela base conceptual de pesquisa e enquadramento teórico, bem
como pela análise de contributos e estudos relevantes acerca das temáticas em estudo.

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

O Capítulo 3 é constituído pela apresentação detalhada do caso de estudo, tendo em consideração os


objetivos do projeto, bem como as principais características e pressupostos inerentes ao mesmo.
Paralelamente, para uma melhor compreensão da obra procedeu-se ao faseamento construtivo da
mesma.
O Capítulo 4 contempla a apresentação e análise dos dados recolhidos. Adicionalmente, é apresentada
a modelação da estrutura de contenção implementada. Além disso, procede-se a um estudo paramétrico
da solução adotada, analisando uma profunda análise do módulo de deformabilidade, pré-esforço das
ancoragens e rigidez da cortina. Finalmente, este incluí uma proposta de solução alternativa, bem como
a discussão dos respetivos resultados de modelação obtidos face aos resultados de modelação da
estrutura de contenção implementada.
Finalmente, no Capítulo 5 são enunciadas as principais conclusões finais do trabalho efetuado, tal como
identificadas limitações e potenciais desenvolvimentos futuros.

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2.
REVISÃO DE LITERATURA

A presente secção incide na literatura existente de conceitos relevantes para a execução do projeto.
Durante este capítulo serão abordados os conceitos inerentes a estruturas de contenção, sistemas de
suporte, cortinas multi-ancoradas e paredes do tipo Berlim.

2.1 Estruturas de Suporte

2.1.1 Introdução
Em geral, um problema geotécnico pode envolver grandes deformações, descontinuidades e uma
complexa evolução do comportamento e impulsos do solo (Oetomo, Vincens et al. 2016). Uma estrutura
de suporte, também conhecida como estrutura de contenção visa reter o solo, rocha, aterro de
preenchimento e/ou água. A principal função destas estruturas consiste na separação do terreno a
diferentes cotas, de forma a evitar roturas causadas pelo peso próprio do maciço ou por carregamentos
externos. Esta confere o suporte de um terreno ou material, caso o talude apresente uma inclinação
superior aquela que este assumiria caso a mesma não existisse.
A escolha da estrutura de suporte adequada não depende somente das condições do solo, como também
de fatores económicos e temporais associados à natureza e âmbito do projeto, tais como prazos e
orçamento disponível. A segurança e funcionalidade podem ser alcançadas pelo aumento das margens
e nível de segurança, através da minimização de deformações e probabilidade de rotura. Os fatores
económicos do projeto requerem uma comparação entre os custos associados ao aumento da segurança
e as potenciais perdas inerentes a deficiências no comportamento ou rotura da estrutura. Desta forma, é
necessário analisar e identificar uma solução que satisfaça todos os fatores técnicos e económicos e que
preencha os critérios de segurança.
O Eurocódigo 7 em Portugal subdivide as estruturas de suporte em três tipos – muros de gravidade,
cortinas e estruturas de suporte compósitas (IPQ, 2010)

2.1.2 Muros de Gravidade


Os muros de gravidade constituem estruturas de suporte rígidas e são compostos por pedra ou betão
simples ou armado, dotados por uma sapata na base com ou sem saliência inferior ou contrafortes. A
elevada rigidez e peso próprio deste tipo de estruturas aumenta a sua estabilidade e garante que estas

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

não sofrem deformações significativas, independentemente da grandeza dos impulsos do solo com
origem no tardoz do muro. Os muros de gravidade de betão com espessura constante ou variável, os
muros de betão armado com sapata, ou os muros de contrafortes, são alguns exemplos de estruturas de
suporte rígidas.

2.1.3 Cortinas
As estruturas de suporte flexíveis, também designadas por cortinas ou paredes, caracterizam-se por
apresentar uma espessura relativamente reduzida de aço, betão armado ou madeira, suportadas por
ancoragens, escoras ou por impulsos passivos do solo. Desta forma, as deformações geradas pelos
impulsos do solo condicionam as distribuições dos próprios impulsos, esforços transversos e momentos
fletores da estrutura. A principal característica destas estruturas é a flexibilidade. A sua resistência à
flexão desempenha uma função crucial para garantir o equilíbrio da escavação e evitar deslocamentos
na superfície, e consequentemente no suporte do material retido (Matos Fernandes, 1983).
Contrariamente aos muros de gravidade, nas cortinas o peso próprio não tem impacto na contenção do
terreno. Por consequência, quando sujeitas às mesmas ações, as cortinas apresentam momentos fletores
menores em comparação com os de uma estrutura de suporte rígida. No caso das cortinas, onde se
verifica uma maior interação solo-estrutura, as pressões na cortina têm maior liberdade de se
redistribuírem, e consequentemente é verificado maiores deslocamentos na mesma.
Existe uma extensa variedade de estruturas de suporte flexíveis. Estas estruturas diferem quanto ao tipo
de processo construtivo adotado, materiais constituintes e suporte utilizado. Os elementos de suporte de
uma cortina podem ser escoras ou ancoragens. As escoras são elementos de apoio da cortina colocados
do lado interior da escavação, funcionando à compressão. Geralmente, as escoras são compostas por
elementos metálicos apoiados nos dois lados da escavação, caracterizando-se pela sua elevada rigidez.
A utilização destes elementos não requer a utilização de terrenos adjacentes à escavação para a sua
colocação. Por sua vez, as ancoragens são instaladas na parte de trás da cortina, do lado do maciço,
trabalhando à tração. Habitualmente, as ancoragens são constituídas por elementos metálicos, de aço de
alta resistência, devidamente selados com calda de cimento no maciço adjacente. Estes apresentam uma
rigidez reduzida, pelo que de forma a controlar os movimentos induzidos pela escavação, estas devem
ser sempre pré-esforçadas, contrariamente ao que acontece com a utilização de escoras.
As estruturas de suporte flexíveis podem ser classificadas de acordo com o método de estabilidade
adotado, podendo ser subdividas em cortinas autoportantes, cortinas monoapoiadas, cortinas multi-
escoradas ou cortinas multi-ancoradas (Almeida e Sousa, 2007). No caso das cortinas autoportantes e
monoapoiadas, respetivamente, não existe, ou existe apenas um ponto de apoio no topo da base da
escavação. Desta forma, o equilíbrio da estrutura requer a mobilização de uma parte do impulso passivo
do lado da escavação. Finalmente, no caso das cortinas multi-escoradas e multi-ancoradas existem
diversos níveis de apoio com escoras ou ancoragens ao longo da escavação. A necessidade de enterrar
a cortina pode ser provocada pela necessidade de garantir a estabilidade externa da estrutura ou melhorar
as condições de apoio do seu pé. Na Figura 2.1 é apresentada uma ilustração da representação de cada
um dos diferentes tipos de cortina abordados.

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Figura 2.1: Representação de Diferentes Tipos de Cortina


(Almeida e Sousa, 2007)
Entre as cortinas mais comuns aplicadas em estruturas de suporte flexíveis, destacam-se: i) cortinas tipo
muro de Berlim; ii) cortinas metálicas; iii) paredes moldadas; iv) cortinas de estacas de betão armado.
As cortinas tipo Berlim, podem ser provisórias ou definitivas e são executadas à medida que a escavação
avança, podendo apenas ser aplicadas acima do Nível Freático, e em maciços com uma capacidade
resistente que garanta a sua estabilidade durante um determinado intervalo de tempo. As restantes
cortinas requerem uma execução anterior à escavação, em que o maciço já se encontra parcialmente
suportado, de forma a facilitar o controlo dos seus movimentos.

2.1.4 Estruturas de Suporte Compósitas


As estruturas de suporte compósitas são compostas por elementos dos dois tipos de estruturas de suporte
mencionados nas secções 2.1.1 e 2.1.2. As ensecadeiras constituídas por duas cortinas de estacas-
pranchas de aço, assim como as obras de terra reforçadas com armaduras são alguns exemplos deste tipo
de estruturas de suporte.

2.2 Sistemas de Suporte

2.2.1 Tipos de Sistema de Suporte


Grande parte das estruturas de contenção flexíveis necessitam de elementos de suporte, para garantir a
sua estabilidade. Em alguns casos, a estabilidade desejável da estrutura é garantida sem necessidade de
recorrer a qualquer tipo de apoio. Nestes cenários, o suporte da estrutura depende apenas da estabilidade
conferida pela parte da parede encastrada no solo e do impulso passivo fornecido pelo terreno no seu
tardoz, tal como é possível verificar através da Figura 2.2.

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Figura 2.2: Estabilidade Conferida por Encastramento no Solo


(Pinto, 2008)

O apoio utilizado na aplicação de uma estrutura de contenção pode ser composto por escoramentos
metálicos, ou em alternativa, por ancoragens pré-esforçadas. A aplicação destes elementos surge da
necessidade de garantir a estabilidade vertical, devido à elevada flexibilidade inerente às cortinas. Desta
forma, os apoios utilizados pressionam a parede contra o terreno, limitando assim os seus movimentos.
A pressão que os elementos de apoio exercem na cortina depende de aspetos, tais como a interface
solo/estrutura, as cargas externas aplicadas e as características físicas do solo. Adicionalmente, as
soluções ancoradas podem ser complementadas por escoras metálicas nos cantos de escavação.
Na seleção do tipo de elemento de apoio a implementar - escoras ou ancoragens – é necessário ter em
considerações os seguintes aspetos (Pinto, 2008)
 Custo previsto;
 Profundidade de escavação;
 Caraterísticas do terreno;
 Tipo de solicitação e esforços atuantes;
 Durabilidade das ancoragens e/ou escoramentos;
 Carácter provisório ou definitivo das ancoragens e/ou escoramentos;
 Espaço e condições da zona envolvente à escavação;
 Equipamento disponível.

2.2.2 Ancoragens
Segundo Matos Fernandes (1990), as ancoragens são elementos estruturais capazes de transmitir uma
força de tração da estrutura principal ao terreno competente, situado no tardoz da estrutura. Esta força é
aplicada no sentido contrário às pressões de terras, resultando na compressão da parede contra o terreno,
e mobilizando, desta forma a sua resistência ao corte.
Assim, as ancoragens contribuem não só para a redução dos deslocamentos horizontais da estrutura de
contenção, geralmente verificados na zona superior da mesma, como também para a consequente
redução do assentamento do terreno no tardoz da estrutura.
Existem diversos tipos de ancoragens, que podem ser distinguidos pelos materiais e processo construtivo
utilizado. Contudo, no âmbito do presente estudo serão apenas abordadas as ancoragens pré-esforçadas.
Por sua vez, estas caracterizam-se por incluírem na sua constituição uma armadura em aço de elevada
resistência selado sob pressão com calda de cimento, em solos ou rochas.
Habitualmente, uma ancoragem compreende uma cabeça, um fuste e um bolbo de selagem, tal como
apresentado na Figura 2.3.

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Figura 2.3: Ancoragem Pré-Esforçada


(Matos Fernandes, 1990)

A cabeça da ancoragem permite a fixação deste elemento ao maciço. Para tal, é necessária a aplicação
de um pré-esforço na cabeça. Esta fixação, realizada por via de um macaco hidráulico, requer a utilização
de uma placa de distribuição, ou em casos em que se verifiquem elevadas cargas de pré-esforço, blocos
de betão e/ou cintagem de aço, que confiram uma distribuição adequada da carga aplicada.
O fuste, por sua vez, corresponde ao comprimento livre da ancoragem e representa o troço de ligação
entre a cabeça da ancoragem e o bolbo de selagem. O seu interior é constituído pela armadura e o sistema
de injeção do elemento de suporte. O tipo de armadura mais comum, em Portugal, é o cabo formado por
diversos cordões de alta resistência, utilizado para cargas elevadas, habitualmente revestido por uma
manga em PVC ao longo do seu comprimento livre e desprotegido na zona correspondente ao bolbo de
selagem. Quanto ao sistema de injeção, este pode ser constituído por dois tubos em PVC, cujo propósito
consiste na reinjeção da calda de cimento a alta pressão, e consequente constituição do bolbo de selagem.
Finalmente, o bolbo de selagem é responsável por transmitir a carga ao terreno. Este encontra-se
localizado na ponta inferior do furo, fora da cunha ativa de rotura. A calda de cimento a elevada pressão
que o constitui é essencial, no sentido de preencher os vazios existentes no solo e garantir uma boa
ligação entre a extremidade da ancoragem e o terreno envolvente.
A constituição destes elementos torna complexa a sua abordagem, não só pelas tecnologias de execução
e medidas necessárias contra a corrosão, assim como, pela necessidade de conduzir diversos ensaios
para o seu dimensionamento. O comportamento e capacidade resistente de uma ancoragem é
determinado pelas características do terreno, resistência ao corte e fluência e técnicas construtivas. No
que se refere às técnicas construtivas, é necessário ter em consideração a tecnologia de furação utilizada,
o período de tempo em que o furo fica aberto, a técnica de injeção, assim como a qualidade da mão de
obra responsável pela aplicação destes elementos estruturais.
O processo construtivo das ancoragens pode variar segundo as suas características. Porém, segundo
Matos Fernandes (1990), geralmente, este apresenta as seguintes fases:

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 Execução do furo, se necessário auxiliar o revestimento das paredes com tubos protetores;
 Colocação da armadura sobre o eixo do furo;
 Solidarização da armadura ao terreno ao longo do comprimento de selagem, através da
injeção sob pressão da calda de cimento;
 Pré-esforço da armadura e sua blocagem na cabeça da ancoragem;
 Preenchimento do furo correspondente ao comprimento livre, geralmente com calda de
cimento.
As ancoragens podem ser utilizadas em diversas estruturas de contenção flexíveis, tais como paredes
moldadas, paredes Tipo Berlim definitivas e provisórias, paredes de estacas moldadas e paredes de
estacas prancha. A utilização destes elementos de suporte em edifícios de pisos enterrados pode assumir
um carácter provisório, no caso do seu tempo de vida ser inferior a dois anos. Pelo contrário, as
ancoragens que possuem um carácter definitivo, apresentam um tempo de vida superior a dois anos.
Em conclusão, uma ancoragem deve resistir à carga aplicada, pelo que o seu dimensionamento requer
uma determinada inclinação e profundidade, de forma a estabelecer um compromisso económico entre
o nível de pré-esforço e a estabilização do terreno envolvente.
Na Tabela 2.1, são apresentadas as principais vantagens e desvantagens conferidas pelas ancoragens,
como alternativa face a outros sistemas de suporte.
Tabela 2.1: Vantagens e Desvantagens de Sistemas Ancorados

Vantagens Desvantagens

 A força de pressão ativa com  Solução menos económica


sentido inverso ao impulso de associado a prazos de execução
terras, reduz a deformação mais alargados;
horizontal na zona superior da  Exigem mão-de-obra
contenção, que por sua vez especializada;
diminui o assentamento de  Solução limitada pela existência
fundações de edificações de edifícios semienterrados ou
vizinhas; outras estruturas subterrâneas na
 Permite a livre circulação no proximidade;
interior da escavação, não  Os processos de furação, podem
gerando constrangimentos ao danificar os edifícios envolventes
processo construtivo; à escavação;
 Solução mais segura, em  Desperdício de material elevado,
alternativa às soluções principalmente em ancoragens
escoradas. provisórias, apenas a sua cabeça é
reaproveitada.

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2.2.3 Escoramentos
As soluções escoradas são um dos métodos mais antigos para o suporte de estruturas de contenção.
Normalmente, estes elementos são utilizados em escavações de ambiente urbano, caracterizadas por
valas de largura, profundidade e tempo de abertura reduzidos para instalação ou reparação de
infraestruturas (Figura 2.4).

Figura 2.4: Solução Escorada de uma Estrutura de Contenção


(Matos Fernandes, 2018)

Dependendo dos esforços atuantes, as escoras podem ser compostas por metal, betão, betão armado e
madeira, podendo em certos casos, ser pré-esforçadas. O pré-esforço nas escoras visa, para além de
reforçar as ligações entre as escoras e a parede, pelo aumento da rigidez do conjunto escorado, diminuir
os deslocamentos da estrutura de contenção, pela aplicação de cargas de pré-esforço de sentido contrário
aos impulsos de terras.
A aplicação dos escoramentos como suporte de contenções apresenta baixos custos de execução, dado
não exigir a contratação de mão de obra qualificada e possibilitar a reutilização de materiais. Contudo,
estes custos são aumentados pelo custo do próprio escoramento e pelo volume de mão-de-obra
necessário para a sua instalação. Em suma, a escavação escorada é significativamente lenta, devido ao
processo iterativo de aplicação dos diversos níveis de escoras. Quando comparadas com as ancoragens,
as escoras não exigem a invasão do subsolo vizinho. Assim, quando o terreno competente apresenta uma
elevada profundidade, as ancoragens tornam-se numa solução inviável.
Paralelamente, em escavações de elevada largura, a implementação desta solução, para o travamento de
faces opostas, deixa de ser eficaz, uma vez que a sua segurança em relação à encurvadura, passa a exigir
um complexo sistema de travamento das escoras. Assim, verifica-se uma significativa diminuição do
espaço da escavação, o que dificulta o processo construtivo, aumentando consequentemente os custos
da estrutura. Nestas circunstâncias, pode-se alternativamente recorrer a escoras inclinadas apoiadas na
base de escavação (Matos Fernandes, 1990).

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2.3 Cortinas Multi-Ancoradas


As estruturas de contenção flexíveis apoiadas em vários níveis ao longo da escavação são
frequentemente utilizadas na reabilitação de infraestruturas urbanas, na execução de túneis de céu aberto
e na escavação de caves de edifícios. A designação destas estruturas varia consoante o tipo de sistema
de apoio utilizado, quer por escoras ou por ancoragens.
A seleção do tipo de sistema de apoio depende das condições geotécnicas do solo escavado. No caso de
as condições geotécnicas não serem indicadas para as escoras, estas devem ser substituídas por
ancoragens pré-esforçadas seladas no terreno (Guerra, 2007). A grande vantagem conferida por este tipo
de estruturas em relação às cortinas escoradas é a redução do espaço ocupado no interior da escavação,
o que apresenta um notável impacto na redução dos prazos de execução da obra e no aumento da
maleabilidade da respetiva programação (Matos Fernandes, 1990).

2.3.1 Comportamento de Estrutura de Contenção Multi-Ancorada


A rigidez axial das ancoragens não é um fator que promova a limitação dos deslocamentos da cortina
(Guerra, 2007). As ancoragens constituem elementos com rigidez axial de uma ordem de grandeza
inferior à das escoras. As cortinas multi-ancoradas estão sujeitas a um número mais elevado de
deslocamentos da cortina e do terreno suportado. Desta forma, os elevados deslocamentos traduzem-se
na mobilização de um diagrama de pressões no tardoz da cortina que corresponde ao impulso ativo.
Paralelamente, o efeito de imposição de deslocamentos causado pelo pré-esforço nas ancoragens não
justifica a utilização das mesmas. Segundo Guerra (2007), a aplicação de uma carga de pré-esforço numa
ancoragem, provoca um movimento da cortina no sentido contrário ao ocorrido durante a retirada do
solo, nas fases de escavação. No estudo realizado pelo autor, este conclui que os deslocamentos obtidos
na estrutura e no solo, onde não foram considerados deslocamentos na fase de pré-esforço são muito
semelhantes aos deslocamentos nas fases onde o pré-esforço foi considerado.
Apesar da rigidez e dos deslocamentos impostos pelas ancoragens contribuírem para o funcionamento
da estrutura de contenção flexível, estas apresentam como principal vantagem a alteração do estado de
tensão que causam no solo suportado. Esta alteração do estado de tensão resulta na preparação das fases
seguintes. A Figura 2.5, representa de forma esquematizada a evolução do estado de tensão num
elemento do solo suportado por uma cortina ancorada, onde o eixo das abcissas representa a deformação
δ e o eixo das ordenadas a tensão deviatórica 𝜎1 − 𝜎3 , correspondente à diferença entre a tensão vertical
principal 𝜎1 e a tensão horizontal principal 𝜎3 . As tensões 𝜎1 𝑒 𝜎3 são ambas principais durante a
escavação e aplicação do pré-esforço. A Figura 2.5 destaca três fases distintas – 1, 2 e 3 –
respetivamente.
1. A primeira fase corresponde à fase de escavação, onde se verifica que a tensão vertical não se altera,
a tensão horizontal diminui e a tensão deviatórica aumenta, resultando no aumento da tensão-
deformação nos elementos de solo.
2. A segunda fase reflete o estado de tensão durante a aplicação do pré-esforço na ancoragem, apenas
a tensão horizontal sofre alterações, que se refletem na diminuição da tensão deviatórica.
3. Finalmente, a terceira fase ilustra o comportamento dos elementos do solo durante a realização de
uma nova escavação, onde se observa um aumento da tensão deviatórica que provoca a evolução na
curva tensão-deformação. Este processo construtivo, escavação, pré-esforço e escavação resulta na
deformação 𝛿3 .

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É importante salientar a importância do pré-esforço nas cortinas multi-ancoradas. A Figura 2.5 ilustra
ainda a deformação final na estrutura, no caso de não ser realizado pré-esforço 𝛿3𝐴 . Esta revela-se
significativamente maior e mais próxima da rotura.

Figura 2.5: Evolução do Estado de Tensão em Elementos de Solo Suportado por Cortina Ancorada
(Guerra, 2007)

2.3.2 Pressões de Terras e Pré-Esforço das Ancoragens


As estruturas de contenção flexíveis são caracterizadas por constituírem um problema de interação solo-
estrutura, dado dependerem das características mecânicas do solo, da sobrecarga aplicada, do estado de
tensão inicial do solo, assim como das características de deformabilidade e interação da interface solo-
estrutura, tornando difícil o desenvolvimento de uma teoria para o cálculo de pressões de terras.
Qualquer que seja o terreno, é crucial garantir o adequado comportamento da cortina e do terreno
suportado, com deslocamentos compatíveis com o meio envolvente. Assim, uma escavação suportada
por uma estrutura flexível representa um sistema altamente indeterminado (Matos Fernandes, 1990).
No caso das cortinas multi-ancoradas a determinação dos valores das pressões permite determinar o pré-
esforço a aplicar nas ancoragens, de forma a garantir o equilíbrio de pressões de terras geradas no tardoz
da estrutura. Os pré-esforços a instalar em cada nível de ancoragem desvalorizam a previsão das pressões
de terras, pelo facto, de a combinação de pré-esforços aplicados aos diversos níveis de ancoragens
corresponderem a uma distribuição de pressões de terras sobre a cortina. As ancoragens constituem
elementos com rigidez axial de uma ordem de grandeza inferior à das escoras. A rigidez axial reduzida
das ancoragens resulta no aumento dos deslocamentos da cortina e do terreno suportado.
A simulação, utilizando um modelo baseado no método dos elementos finitos, realizada por Matos
Fernandes (1990), revela que quanto maior for o deslocamento da cortina numa determinada fase,
maiores serão as tensões existentes entre a massa e a própria cortina. Tal, resulta ainda em maiores
forças dirigidas para a escavação. Adicionalmente, o pré-esforço tende a atenuar os incrementos de
tensões de corte no maciço de ambos os lados da cortina gerados por fases anteriores de escavação. Em
suma, a adoção de níveis de pré-esforço mais elevados reflete-se na diminuição das forças aplicadas à
cortina, da deformabilidade do maciço e dos deslocamentos. Verificou-se ainda que os deslocamentos
das cortinas ancoradas se assemelham aos deslocamentos comuns em paredes escoradas, através da
combinação da reduzida rigidez axial das ancoragens com pré-esforços relativamente altos.
A aplicação de pré-esforço nas ancoragens distribuído, de forma a equilibrar os diagramas de Terzagui
e Peck reflete-se, habitualmente, num adequado comportamento da escavação (Guerra, 2000).

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

2.3.2.1 Diagramas de Terzaghi e Peck


Terzaghi e Peck (1967), através da medição de diversos esforços instalados nas escoras de diferentes
estruturas de contenção flexíveis, determinaram os diagramas de pressões aparentes, correspondentes à
divisão do esforço pela área de influência na vertical (Figura 2.6). As observações realizadas neste
âmbito, revelaram que a forma e grandeza destes diagramas variam ao longo do desenvolvimento da
escavação, maioritariamente devido aos processos construtivos.

Figura 2.6: Diagramas de Pressões Aparentes e Correspondentes Esforços nas Escoras


(Matos Fernandes, 1990)

Posteriormente Terzaghi e Peck, em 1967, através da análise de resultados obtidos anteriormente,


propuseram os diagramas de pressões envolventes (Figura 2.7), que visam garantir uma maior
envolvente de segurança na previsão do comportamento de estruturas de contenção flexíveis, quando
comparados com os diagramas aparentes. A grande utilidade no uso destes diagramas reside no facto,
de a partir dos mesmos ser possível determinar os pré-esforços aplicados nas ancoragens, de forma a
garantir o equilíbrio horizontal provocado pelo impulso de solo suportado.

Figura 2.7: Diagramas de Terzaghi e Peck


(Matos Fernandes, 1990)

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

No entanto, a maior parte dos maciços é constituída por diversos estratos com diferentes propriedades
mecânicas, pelo que é aconselhável que o uso destes diagramas seja feito com uma certa criticidade,
pelo facto de se referirem essencialmente a maciços homogéneos não correspondendo por vezes aos
casos práticos reais.

2.3.3 Dimensionamento Estrutural


De acordo com Guerra (2007), o dimensionamento estrutural de uma cortina ancorada, segundo o
método dos elementos finitos, apresenta significativas vantagens no que diz respeito à previsão dos
deslocamentos e esforços instalados na estrutura de contenção durantes as diversas fases.
Como referido anteriormente, a determinação dos esforços inicialmente instalados nas ancoragens está
inteiramente dependente dos diagramas de Terzaghi e Peck. Segundo Matos Fernandes (1990), a relação
existente entre o esforço máximo mobilizado numa ancoragem e o seu nível e distribuição do pré-esforço
aplicado permite concluir que a diminuição do nível de pré-esforço implica uma redução dos esforços
finais. No que diz respeito à evolução dos esforços, é esperado um aumento destes ao longo das
sucessivas fases de escavação, bem como um decréscimo quando um nível inferior é pré-esforçado. O
esforço máximo é atingido na fase de escavação seguinte à aplicação do pré-esforço. Na fase de projeto,
depois de determinado o nível de pré-esforço e a sua respetiva distribuição do conjunto formado pelas
ancoragens, procede-se a uma estimativa do esforço máximo de serviço de cada uma das ancoragens,
não podendo este valor ultrapassar a parcela referente aos vários estados limites da ancoragem nível
(Matos Fernandes, 1990).
Segundo o mesmo autor, no que diz respeito, ao dimensionamento das cortinas ancoradas, este tem a
particularidade de necessitar de equilibrar as componentes verticais das cargas de pré-esforço instaladas
nas ancoragens, o que torna necessário recorrer a uma maior altura enterrada quando comparadas com
as estruturas de contenção escoradas. Para a determinação dos momentos fletores na cortina recorre-se
a dois métodos simplificados de dimensionamento, como esquematizados na Figura 2.8.
No primeiro método a cortina é considerada uma viga contínua multi-apoiada, enquanto no segundo se
considera uma serie de vigas isostáticas. Embora as duas metodologias conduzam a resultados
diferentes, no que diz respeito aos diagramas de momentos fletores, os valores absolutos dos momentos
máximos resultantes são da mesma ordem de grandeza. No caso das paredes Tipo Berlim, o seu
dimensionamento, torna-se bastante específico, pelo facto de neste tipo de estrutura de contenção não
existir parede de betão abaixo do nível de escavação. Assim, geralmente o seu comportamento à flexão
na direção vertical é desprezado, sendo a armadura na direção mencionada condicionada pela fase
definitiva da estrutura. A aplicação da armadura horizontal dá-se às profundidades próximas das cabeças
das ancoragens, originando assim as vigas de repartição. O dimensionamento das vigas de repartição,
considera-as desligadas da cortina assimilando-as a uma viga em apoio elástico sob a ação das forças
geradas pelas componentes dos pré-esforços instalados nas ancoragens, perpendiculares ao plano da
cortina. O comprimento da viga a ser considerado será o da estrutura na direção horizontal betonada em
cada troço.

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Figura 2.8: Métodos Utilizados no Cálculo de uma Cortina Ancorada


(Matos Fernandes, 1990)

2.3.4 Equilíbrio Vertical


Geralmente, as cortinas ancoradas suportam cargas verticais relativamente elevadas, provenientes
maioritariamente da componente vertical das forças aplicadas (Guerra, Fernandes et al. 2002).
Segundo os mesmos autores, no dimensionamento de uma estrutura de contenção flexível, é crucial
garantir o equilíbrio vertical da mesma, através da verificação da sua segurança. Para a verificação de
segurança de uma cortina ancorada é importante distinguir entre cortinas contínuas (Figura 2.9 (a)) ou
paredes tipo Berlim (Figura 2.9 (b)).

Figura 2.9: Estabilidade Vertical de Estruturas de Contenção Ancoradas


(Guerra, Fernandes et al. 2003)

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As cortinas ancoradas contínuas, tais como cortinas de estacas-pranchas, cortinas moldadas no terreno
de betão armado, entre outras, exigem que sejam consideradas as forças desenvolvidas na interface solo-
parede e forças de corte do lado ativo e passivo, no sentido de verificar o equilíbrio vertical da estrutura.
Desta forma, o equilíbrio vertical requer a mobilização da resultante da força vertical, tendo em
consideração o peso próprio da estrutura de contenção e das componentes verticais desenvolvidas por
via de forças verticais instaladas nas ancoragens. A estabilidade vertical de uma cortina ancorada
contínua é conferida pela Equação 2.1.
𝑁𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑊𝑝𝑎𝑟𝑒𝑑𝑒 + ∑ 𝐹𝑎𝑛𝑐𝑜𝑟𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠 ∗ 𝑠𝑖𝑛 𝛼 = 𝐹𝑏 + 𝐹𝑎𝐶 + 𝐹𝑎𝑃 ( 2.1)

Na Equação 2.1, Ntotal representa a força total vertical ascendente, Wparede constitui o peso da estrutura
de contenção, 𝛴𝐹𝑎𝑛𝑐𝑜𝑟𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠 × 𝑠𝑖𝑛𝛼 é a componente da força instalada nas ancoragens e Fb consiste na
força na base da estrutura de contenção. A força de corte do lado ativo e passivo são representadas por
FaC e FaP , respetivamente.
É relevante realçar, que mesmo quando os assentamentos verificados são muito reduzidos, as forças
tangenciais do lado passivo deste tipo de paredes se encontram direcionadas para cima, numa
percentagem significativa da resistência da interface. Adicionalmente, do lado “ativo” da parede a
resistência lateral não é totalmente mobilizada, mesmo quando esta está sujeita a assentamentos muito
elevados (Guerra, Fernandes et al. 2002).
Em estruturas de contenção do tipo Berlim definitivas não existe interface do lado “passivo”, visto não
existir parede abaixo de cada nível de escavação. Desta forma, o equilíbrio vertical deve ser assegurado
apenas pelos perfis e pela interface do lado “ativo” (Guerra, Fernandes et al. 2003). Assim, se as
dificuldades de mobilização de uma elevada percentagem da resistência ao corte na interface solo-parede
do lado “ativo” forem semelhantes às que se verificam em estruturas contínuas, os perfis terão de ser
dimensionados para cargas verticais bastante elevadas (Figura 2.9 (b)).
O equilíbrio vertical é verificado, a partir das forças axiais instaladas nos perfis e pelas forças de corte
instaladas na interface solo-parede do lado ativo, pela aplicação da Equação 2.2.
𝑁𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑊𝑝𝑎𝑟𝑒𝑑𝑒 + ∑ 𝐹𝑎𝑛𝑐𝑜𝑟𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠 ∗ 𝑠𝑖𝑛 𝛼 = 𝑁𝑝𝑒𝑟𝑓𝑖𝑙 + 𝐹𝑎𝐶 (2.2)

Na Equação 2.2, 𝑁𝑝𝑒𝑟𝑓𝑖𝑙 representa a reação mobilizada nos perfis.

2.3.5 Deslocamentos associados à escavação


Os principais objetivos de uma estrutura de contenção de uma escavação, são constituídos pela
segurança e estabilidade da estrutura de suporte e do maciço envolvente, e pela garantia que os
deslocamentos associados à escavação não originem danos nas estruturas e infraestruturas próximas.
Segundo Kempfert and Gebreselassie (2006), os movimentos numa escavação surgem devido às
alterações do estado de tensão do terreno na sua envolvente, correspondentes ao alívio de tensões
horizontais e verticais. A análise dos movimentos associados à escavação reflete uma relação direta
entre os deslocamentos laterais da parede de suporte e os assentamentos no terrapleno (Matos Fernandes,
1990).
Os movimentos do solo podem ser classificados em movimentos horizontais, verticais ou levantamento
de fundo da escavação. Os movimentos horizontais estão associados a deslocamentos da parede de
contenção ou pelo assentamento do solo na envolvente da escavação. Os movimentos verticais provêm
de assentamentos do solo no tardoz da parede de contenção ou de levamentos do solo abaixo da
escavação.

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A aplicação do método dos elementos finitos permite o cálculo dos deslocamentos associados a uma
escavação, contudo a obtenção de um resultado minimamente fiável, depende da determinação de um
número significativo de parâmetros.
Os deslocamentos associados à escavação apresentam duas componentes fundamentais: os
deslocamentos verificados abaixo do nível da escavação e os deslocamentos que ocorreram acima do
mesmo nível. Os deslocamentos abaixo do nível da escavação dependem maioritariamente das
propriedades do solo, da altura enterrada, rigidez e condições de apoio do pé da cortina. Porém, os
deslocamentos acima do nível da escavação dependem das propriedades do maciço, contudo o fator de
maior influência é composto pelo sistema de suporte e pelo processo construtivo.

2.3.5.1 Deslocamentos abaixo do nível da escavação


Os deslocamentos abaixo do nível de escavação dependem essencialmente das propriedades do solo,
nomeadamente da sua resistência e deformabilidade. Paralelamente, estes são ainda influenciados,
embora em menor escala, pela altura enterrada, rigidez da cortina e condições de apoio do pé da mesma
(Matos Fernandes, 1990).
Segundo Matos Fernandes (1983), depois de instalados os sistemas de suporte, é possível admitir-se,
por simplificação, que não se verificam deslocamentos acima do nível de escavação. Desta forma, o
autor avalia os deslocamentos provocados pela escavação em quatro elementos distintos do solo à
mesma profundidade, conforme descrito abaixo e ilustrado na Figura 2.10 a).
 Elemento A: Subjacente à escavação e consideravelmente afastado da face do corte
 Elemento B: Subjacente à escavação e próximo da estrutura de suporte
 Elemento C: Simétrico ao ponto B no lado contrário da cortina
 Elemento D: Bastante afastado da cortina
Na Figura 2.10, as tensões iniciais são representadas por σv0 e σh0.

Figura 2.10: Estado de Tensão Abaixo do Nível de Escavação


a) Situações caraterísticas; b) Estrutura muito flexível; c) Rotura de fundo; d) Estrutura com elevada rigidez e
encastrada num solo rijo subjacente (Matos Fernandes, 1990)

18
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

Assim, considerando um alívio de carga correspondente à altura de solo Δh na zona da escavação,


verifica-se uma redução equivalente ao peso do solo retirado, na tensão vertical do elemento A.
Consequentemente, a tensão horizontal em A sofre uma variação proporcional (h0 = K0. v0). No
elemento D, não se verificam alterações das suas tensões iniciais. No caso dos elementos B e C, estes
apresentaram tensões verticais semelhantes às instaladas em A e D, respetivamente.
Contudo, relativamente às tensões horizontais dos pontos mais próximos da cortina, estas são fortemente
afetadas pelo comportamento do conjunto solo-cortina. Se admitirmos que a cortina é muito flexível,
então as tensões horizontais nestes elementos serão praticamente iguais. Pelo que, o elemento C evolui
no sentido de equilíbrio ativo, relativamente ao estado de tensão em D, pelo contrário, o elemento B
evolui, relativamente ao estado de tensão instalado em A, no sentido do estado passivo (Figura 2.10 b)).
Esta alteração dos estados de tensão provoca deformações, e consequentemente, deslocamentos abaixo
do nível da escavação.
Na Figura 2.10 c) é possível observar, que mesmo em circunstâncias em que se verifica o
desenvolvimento em B e C dos estados de equilíbrio limite, em cortinas muito flexíveis, é possível que
as tensões horizontais não se igualem. Esta situação resulta na rotura da cortina.
Por fim, na Figura 2.10 d) é apresentado um cenário em que se considera uma parede de elevada rigidez,
pelo que o encastramento do seu pé é relevante para o seu equilíbrio. Assim, para que as tensões
horizontais dos elementos B e C sejam equivalentes, é necessária a ocorrência de uma redistribuição de
tensões por efeito de arco para a parte superior da cortina rigidamente suportada. Esta situação coloca-
se com particular interesse no caso de terrenos argilosos, onde o comportamento mecânico do terreno
no fundo da escavação condiciona fortemente os deslocamentos da parede e no terreno suportado.
Em suma, os deslocamentos abaixo do nível da escavação ocorrem sempre que a cortina seja
suficientemente flexível para permitir o equilíbrio das tensões horizontais no intradorso e extradorso da
altura enterrada. No intradorso passando da situação em repouso para um comportamento passivo e no
extradorso da situação em repouso para um comportamento ativo.
Em qualquer um dos casos os deslocamentos abaixo do nível da escavação dependem da
deformabilidade e resistência do solo e da rigidez e resistência ao corte da cortina. A relação da
deformação máxima horizontal com a profundidade de escavação varia, entre 0,9% para uma parede
moldada de 1,0 m de espessura, 1,3% para uma parede moldada de 0,50 m de espessura. (Matos
Fernandes, 1990)

2.3.5.2 Deslocamentos acima do nível da escavação


Os deslocamentos acima do nível da escavação dependem das propriedades do maciço, do sistema de
suporte e do processo construtivo. Quando a escavação desce abaixo de um determinado nível e são
instaladas as ancoragens, todos os deslocamentos do solo adjacente a esse nível nos passos seguintes da
realização da escavação dependem essencialmente das características do sistema de suporte e da forma
e rapidez com que é colocado em serviço.
A redução deste tipo de deslocamentos exige a minimização do volume escavado em cada fase de
escavação para a instalação de um dado nível (Clough & Davidson, 1977). O conceito de “sobre-
escavação” verifica-se sempre que a escavação excede significativamente a profundidade do nível de
ancoragens a instalar. Em simultâneo, é fundamental que a instalação de um nível de ancoragens seja
realizada logo que possível, reduzindo os tempos das fases críticas do processo construtivo.

19
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

Instaladas as ancoragens, os movimentos acima do nível da escavação passam a depender do pré-esforço


a que foram submetidas e da rigidez das ancoragens (Figura 2.11). Os deslocamentos ocorridos podem
também ser influenciados pela qualidade da mão-de-obra, pelo processo construtivo e pelas
características da estrutura de suporte. Estes fatores afetam, em menor escala, os movimentos abaixo da
escavação.

Figura 2.11: Dependência dos Movimentos da Escavação em Relação á Carga e Distribuição dos Pré-Esforços
nas Ancoragens
(Matos Fernandes, 1990)

Em conclusão, tanto os deslocamentos abaixo da escavação como acima têm tendência a aumentar, no
caso de nas proximidades existirem estruturas que induzam tensões adicionais sobre o sistema de
suporte. Por outro lado, estes deslocamentos podem ser reduzidos se a largura e o desenvolvimento da
escavação forem reduzidos. Nestas circunstâncias o efeito de arco é essencial, de forma a redistribuir as
tensões instaladas no solo antes da escavação para as zonas não escavadas. Deste modo, as zonas onde
se verificam fenómenos de rotura são reduzidas.
Paralelamente, aos deslocamentos acima e abaixo do nível da escavação diretamente provenientes da
escavação em si, existem outros movimentos, tais como operações construtivas preparatórias, a
instalação da cortina, a demolição ou retirada de antigas fundações no maciço, variações do nível
freático, entre outros, que podem também ter um forte impacto, caso não sejam antecipadamente tidos
em consideração. Neste sentido, devem ser, por exemplo, elaborados estudos rigorosos do solo e das
fundações dos restantes edifícios

20
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

2.4 Paredes tipo Berlim

2.4.1 Descrição
As paredes tipo Berlim foram introduzidas durante a construção do metropolitano de Berlim, atual
capital da Alemanha, no último ano do século XIX, antes da Primeira Guerra Mundial (Figura 2.12).
Desde então que este tipo de estruturas, constituídas por perfis metálicos e pranchas de madeiras, tem
sido muito utilizado em escavações profundas em meio urbano à volta do mundo. Em Portugal, as
paredes tipo Berlim são recorrentemente utilizadas para suporte de escavações urbanas (Guerra,
Fernandes et al. 2003).

Figura 2.12: Parede tipo Berlim na Construção do Metro de Berlim


(Matos Fernandes, 2018)

Esta solução consiste numa estrutura de contenção flexível multi-apoiada. Estas estruturas são,
habitualmente, utilizadas em solos com boas características mecânicas e com uma significativa
componente coesiva. No entanto, em cenários em que se verifica a presença de um elevado nível freático,
esta solução torna-se inadequada, pelo que é importante identificar soluções alternativas, tais como as
estruturas de estacas-prancha.
De acordo com Guerra (2000), a aplicação de uma Parede do tipo Berlim envolve, numa fase inicial, a
instalação de perfis metálicos em furos verticais previamente realizados ao longo da periferia da
escavação. Estes perfis podem ser cravados ou instalados após a execução prévia de furos no solo.
A escavação é realizada por níveis, sendo que em cada nível são construídos de forma alternada os
painéis primários entre os perfis metálicos. De seguida, são desenvolvidos os painéis secundários. Uma
potencial alternativa aos painéis de betão armado, consiste na utilização de uma parede do tipo Berlim
provisória, que prevê a utilização de pranchas de madeira apoiadas nos perfis metálicos.
Devido à elevada deformabilidade apresentada pela parede durante a fase construtiva torna-se necessário
garantir um controlo eficaz dos deslocamentos do terreno suportado para assim a garantir a segurança
dos edifícios nas imediações da escavação. O controlo das deformações e da estabilidade da parede é
assegurado pela inclusão de ancoragens pré-esforçadas seladas no terreno ou de escoras metálicas,
apoiadas ou não em vigas metálicas horizontais.

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

2.4.2 Parede tipo Berlim Definitiva e Provisória


Segundo, Guerra, Fernandes et al. (2003), no que diz respeito ao processo construtivo, é possível
distinguir entre estruturas de contenção do tipo Berlim definitivas e estruturas de contenção do tipo
Berlim provisórias ou tradicionais. A principal diferença entre estes dois tipos de estruturas reside na
sua conceção e dimensionamento.
A conceção de uma estrutura de contenção tipo Berlim, distingue-se pelo tipo de material utilizado no
preenchimento do espaço entre os consecutivos perfis. Em paredes do tipo Berlim definitivas, são
colocados painéis de betão armado moldados in situ. Desta forma, os perfis são incorporados na parede.
Contudo, este preenchimento pode também ser realizado através da colocação de pranchas de madeira
ou de outro material de baixa resistência à flexão, tal como betão projetado, entre perfis. Esta conceção
frequentemente utilizada, está associada a paredes do tipo Berlim provisórias (Guerra, 2000).
No que diz respeito ao dimensionamento de paredes do tipo Berlim, no caso das paredes definitivas a
resistência à flexão é conferida pelos painéis de betão armado moldados entre os perfis responsáveis
pela transferência de cargas verticais ao maciço. As paredes do tipo Berlim provisórias, pelo contrário
são constituídas por elementos de baixa rigidez à flexão. Assim, os perfis metálicos são responsáveis
por absorver os impulsos de terras gerados no tardoz da estrutura.

2.4.3 Efeito de Arco


De acordo com Terzaghi (1943), citado por Matos Fernandes (1990), definiu o efeito de arco do seguinte
modo: “Quando uma parte da estrutura que suporta uma dada massa de solo se afasta desta mantendo-
se a restante na posição inicial, o solo adjacente à primeira tende a acompanhá-la. Ao movimento relativo
no interior do solo opõe-se a resistência ao corte na zona de contacto entre a massa que tende a deslocar-
se e a remanescente, tentando manter a primeira na posição inicial. Por esse motivo, as pressões de terras
diminuem na parte da estrutura de suporte que se afastou e aumentam nas que se mantiveram imóveis
(ou que se deslocaram menos ou, até, que se deslocaram contra o solo). Esta transferência de tensões é
designada por efeito de arco.”
De acordo com Matos Fernandes (1990), o efeito de arco em solos está relacionado com as
redistribuições das pressões do solo geradas pelas deformações por flexão da estrutura. Assim, nas zonas
com menores deslocamentos da parede, as pressões de terras aumentam. Pelo contrário, nas zonas com
maiores deslocamentos as pressões diminuem.
No entanto, a redistribuição de tensões por efeito de arco, não depende apenas da resistência à flexão da
estrutura. Estas são também influenciadas pelas características mecânicas do solo e das condições de
apoio da cortina, tais como a localização e a rigidez das ancoragens e respetivo pré-esforço aplicado.
Nas paredes do tipo Berlim definitivas, a escavação e colocação dos painéis primários e secundários de
betão armado em cada nível, é realizada de forma alternada com recurso a banquetas de solo não
escavado entre os painéis primários, que permitem suportar as tensões geradas pela descompressão do
terreno (Figura 2.13). Neste sentido são tomadas as medidas de prevenção necessárias para evitar o
efeito de arco.

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

Figura 2.13: Aplicação de Painéis de forma Alternada durante Construção de Parede tipo Berlim Definitiva
(Matos Fernandes, 2018)

2.4.4 Faseamento Construtivo de uma Parede tipo Berlim Definitiva


O processo construtivo de paredes tipo Berlim definitivas compreende oito fases distintas (Figura 2.14).

Figura 2.14: Processo Construtivo das Paredes de Contenção Tipo Berlim Definitivas
(Guerra, 2007)

Segundo Guerra (2000), o processo é iniciado por um processo de furação do solo para posterior
instalação dos perfis metálicos. Para tal, deve ser realizada uma avaliação das características do solo,
necessária para a elaboração de um relatório-geotécnico. Os perfis metálicos, recorrentemente utilizados
em paredes do tipo Berlim, apresentam normalmente uma estrutura em forma de I, H ou U, também
sendo comum a colocação de perfis tubulares.
De seguida, é efetuada a colocação dos perfis. Esta, por sua vez, pode ser realizada de duas formas
distintas, por meio de uma cravação, onde os perfis metálicos são instalados no terreno através de uma
grua hidráulica ou um bate-estacas, em solos que apresentem características mecânicas razoáveis, ou
por meio de uma furação prévia, onde é utilizada uma máquina perfuradora com trado contínuo que

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

realiza os furos por rotação. Esta última opção permite reduzir os problemas associados a vibrações nos
edifícios envolventes à escavação, o que é bastante importante em meios urbanos.
Posteriormente, é realizada a selagem dos perfis no maciço. Este representa um aspeto importante na
estabilidade vertical da cortina. O comprimento de selagem na ordem dos 1,5 metros, depende das cargas
suportadas e das características mecânicas do maciço. De notar, que o espaço entre o perfil metálico e o
furo deve ser preenchido por um material incompressível, tal como betão pobre ou calda de cimento.
Estes materiais contribuem para uma redução dos deslocamentos e das deformações nas paredes do furo,
evitando também o risco de encurvadura do perfil e contribuindo para uma maior absorção dos esforços
verticais.
Seguidamente, a viga de coroamento, característica de paredes tipo Berlim definitivas é armada e
betonada in situ. Este elemento tem como objetivo unir todos os perfis para que estes possam funcionar
como um corpo rígido, contribuindo para a diminuição dos deslocamentos entre os elementos verticais
e os painéis de betão armado.
Na sequência do processo de construção das paredes do tipo Berlim definitivas, procede-se à escavação
de 1º nível, onde é necessário numa fase inicial construir os painéis de forma alternada. Para esta
construção recorre-se a duas banquetas adjacentes, uma de cada lado da escavação. Os painéis entre
banquetas designam-se por primários, sendo que os painéis resultantes da escavação destes, são
conhecidos por secundários. O comprimento dos painéis corresponde à distância entre duas secções dos
perfis metálicos, com uma altura correspondente ao pé-direito do edifício com piso enterrado.
A construção dos painéis primários inicia-se com a colocação das armaduras que deve ser acompanhada
por um apropriado amarramento aos varões de espera da viga de coroamento. De forma a garantir um
adequado comprimento de amarração das armaduras de ligação aos painéis dos níveis seguintes, deve
ser colocada uma “almofada de areia” na base dos painéis do nível anterior (Figura 2.15).

Figura 2.15: Descrição Detalhada das Fases 5 e 6


(Guerra, 2007)

A cofragem dos painéis, para posterior betonagem, é executada com recurso a tábuas de madeira ou
elementos metálicos. O escoramento da cofragem deve garantir a segurança relativamente aos impulsos
gerados pelo betão e pelo terreno. A descofragem do painel é realizada quando as características
mecânicas do betão são suficientes para garantir o equilíbrio das pressões geradas pelo terreno.
De seguida, é escavado um furo para posterior colocação da armadura da ancoragem e selagem dos
cabos. Os furos das ancoragens são realizados diretamente nos painéis. É aconselhável que os painéis
terciários ou de canto sejam executados antes dos painéis secundários, sendo conveniente garantir

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

primeiro a segurança dessa zona sensível da escavação. A estabilidade dos painéis de canto, devido à
falta de espaço, é assegurada por elementos escorados. Para a execução dos painéis secundários repetem-
se o mesmo procedimento enunciado na realização dos painéis primários.
Depois de realizado o primeiro nível de escavação em ambas as paredes, procede-se à aplicação do
respetivo pré-esforço nas ancoragens.
Este processo é replicado para a execução dos níveis posteriores, até ser atingida a cota do projeto.
Por fim, concluído o último nível de escavação, procede-se então à realização da sapata de fundação da
parede. A execução deste elemento tem como função sustentar o peso próprio da estrutura de contenção,
impedindo que esta se afunde no terreno. Assim, numa fase inicial introduz-se a armadura da sapata nos
respetivos troços dos painéis primários, realizando de seguida a betonagem, e repetindo este
procedimento para a execução das sapatas dos troços dos painéis secundários.
Em síntese, as diferentes fases do projeto são definidas, conforme apresento na Tabela 2.2, e ilustradas
anteriormente nas Figuras 2.14 e 2.15.
Tabela 2.2: Descrição de Fases Apresentadas na Figura 2.15

(1) Furação, instalação dos perfis e selagem


(2) Execução da viga de coroamento
(3) Escavação do 1º nível, por painéis alternados
(4) Execução, por painéis alternados, dos painéis do 1º nível; realização e pré-
esforço das ancoragens
(5) Escavação do 2º nível, por painéis alternados
(5A) Montagem da armadura
(5B) Colocação de “almofada” de areia na base do painel, para ligação da armadura
ao painel do nível seguinte
(5C) Instalação da cofragem e betonagem
(5D) Retirada da cofragem apos a presa do betão; execução do furo para a ancoragem
e selagem dos cabos
(6) Execução, por painéis alternados, dos painéis do 2º nível; realização e pré-
esforço das ancoragens
(7) Escavação do 3º nível, por painéis alternados
(8) Execução, por painéis alternados, dos painéis do 3º nível; realização e pré-
esforço das ancoragens e execução da sapata de fundação da parede

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

2.4.5 Faseamento Construtivo de uma Parede tipo Berlim Provisória


O processo de furação, instalação e selagem dos perfis metálicos é semelhante ao processo descrito na
secção anterior, relativo à construção de uma parede tipo Berlim definitiva. Deste modo, apenas são
descritas as atividades em que os processos apresentam maiores divergência, nomeadamente a fase de
escavação do 1º nível (Pinto, 2008).
A escavação do primeiro nível para a implementação de uma parede tipo Berlim provisória, é realizada
com recurso a gruas hidráulicas escavadoras. A altura da escavação depende da rigidez e coesão do
terreno no tardoz da estrutura. Ao longo da escavação, o espaço compreendido entre os perfis pode ser
preenchido por pranchas de madeira, painéis de betão projetado ou painéis de betão pré-fabricado. O
encaixe entre as pranchas de madeira e os perfis deve ser feito de forma a garantir que os primeiros são
colocados no interior dos segundos, pelo seu bordo exterior. Adicionalmente, a folga entre a prancha e
o maciço deve ser preenchida por calda de cimento, para evitar potenciais escorregamentos do maciço
do tardoz da estrutura. No caso de as características mecânicas do solo não permitirem o encaixe das
pranchas, estas devem ser aparafusadas no exterior dos perfis.
De seguida, procede-se à instalação do primeiro nível de elementos de suporte, com o propósito de
garantir a estabilidade da parede. Geralmente, são utilizadas ancoragens pré-esforçadas provisórias, com
uma vida útil inferior a dois anos. Estas são, em fases seguintes do projeto, desativadas logo que a
estrutura de contenção não seja mais necessária.
Na fase seguinte, dá-se início à execução do furo para posterior colocação da armadura, selagem dos
cabos e aplicação de carga em todas as ancoragens. Concluída a execução do primeiro nível de
ancoragens, executa-se de forma semelhante os níveis seguintes de escavação até ser atingida a cota
prevista de projeto.
A Tabela 2.3 apresenta uma descrição resumida das fases envolvidas no processo construtivo de paredes
do tipo Berlim tradicionais.
Tabela 2.3: Descrição das Fases de Construção de Paredes do tipo Berlim Provisórias

(1) Furação, instalação e selagem dos perfis metálicos


(2) Escavação do 1º nível e colocação dos respetivos elementos de preenchimento
(3) Realização do 1º nível de ancoragens ou escoramentos
(4) Repetição das fases descritas anteriormente, até ser atingida a cota de projeto;

2.4.6 Características das Paredes tipo Berlim


A viabilidade do uso as Paredes Tipo Berlim definitivo e provisório é determinada para solos com
significativa coerência, baixo nível freático e sem edifícios vizinhos na envolvente da escavação. A
utilização destas paredes também é recomendada, em terrenos com uma área de implementação
reduzida. Na Tabela 2.4 são enumeradas as vantagens e desvantagens que determinam a aplicabilidade
da utilização destas soluções.

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

Tabela 2.4: Vantagens e Desvantagens conferidas pela Aplicação de Paredes do Tipo Berlim

Parede
Tipo Vantagens Desvantagens
Berlim
Parede  Economia a nível de custos nos  Desempenho limitado para nível
Tipo processos construtivos freático elevado
Berlim  Execução paralela da escavação e da  Exigem solos com coesão para
definitivo estrutura de contenção permanecer sem suporte enquanto a
 Recorre a técnicas, equipamentos e entivação é colocada
conhecimentos correntes, não  Provocam descompressão do solo no
necessitando de pessoal nem tardoz da estrutura, originando
tecnologia especializada. assentamentos das fundações dos
 Não exige grandes área de estaleiro edifícios vizinhos
ou acesso largos à obra  A introdução dos perfis metálicos pode
 Apresentam bom aproveitamento da provocar vibrações nos edifícios
área útil do edifício, devido à envolventes à escavação
reduzida espessura das paredes e  Construção mais longa e com menores
estas serem betonadas contra o rendimentos diários em área
terreno, isto é, no limite do lote

Parede  Economia, sobretudo em contenções  Soluções relativamente limitados em


Tipo provisórias termos de profundidade e requerem
Berlim  Não exige grandes área de estaleiro cuidados na colocação dos elementos
provisório ou acesso largos à obra de entivação
 Recorre a técnicas, equipamentos e  A área de implantação do edifício
conhecimentos correntes, não como área útil é limitada no sentido
necessitando de pessoal nem que as espessuras das paredes de
tecnologia especializada contenção devem ser somadas à
 Permitem espaço de manobra no espessura das paredes interiores
interior da escavação definitivas;
 Fortes rendimentos diários em  Desempenho limitado para elevado
termos de área construída nível freático, devido à percolação dos
 Escavação rápida e construção da finos e erosão interna do solo a água
estrutura no seu interior passa livremente entre os elementos

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

3.
CASO DE ESTUDO: PARQUE DE
ESTACIONAMENTO NO CENTRO
CULTURAL DE GAIA

3.1 Introdução
O presente capítulo destina-se à caracterização do caso de estudo da construção de um parque de
estacionamento no centro cultural de Gaia. Para o efeito, são descritos diversos componentes no âmbito
do estudo realizado. Ao longo do capítulo é elaborada uma apresentação e enquadramento da obra
analisada, uma descrição das principais condições e pressupostos associados à mesma, bem como uma
descrição das principais fases de execução da obra.

3.2 Enquadramento da Obra

O caso de estudo abordado no âmbito do presente projeto consiste na construção de um novo parque de
estacionamento localizado no Centro Cultural de Gaia, na freguesia de Santa Marinha, no concelho de
Vila Nova de Gaia, com uma área total de 7980m2. Este local era ocupado pelos antigos armazéns da
Real Companhia Velha, limitados por arruamentos a Norte, Nascente e Sul e por uma propriedade
privada a poente. Em suma, o terreno escolhido para a concretização da obra é delimitado pela avenida
Ramos Pinto a Norte, pela rua Serpa pinto a Este e pela rua da Carvalhosa a Sul (Figura 3.1).

Figura 3.1:Localização da Obra Estudada

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

No início da obra, o terreno apresentava um desnível de 11 m descentes de Sul para Norte. A direção
Nascente–Poente incluía um arruamento interior, que subdividia o terreno em dois segmentos distintos.
O segmento a Norte era formado por antigos armazéns térreos. Por sua vez, o segmento a Sul encontrava-
se repartido em três zonas distintas, dado incluir um edifício na zona central da fachada Sul com dois
piso parcialmente enterrados e dois elevados em relação à Rua da Carvalhosa; um antigo armazém térreo
na extremidade Sul-Nascente, bem como um armazém térreo, constituído por uma estrutura porticada
de betão armado que garantia o suporte de uma cobertura em chapas de fibrocimento e madres metálicas,
do lado Nascente-Sul.
A responsabilidade pela execução do empreendimento mencionado está a cargo da “NOVOPCA
CONSTRUTORES ASSOCIADOS, S.A”. Porem o projeto de estabilidade ficou a cargo da empresa
“SOPSEC, S.A”.
No âmbito da construção do Parque de Estacionamento foi necessário proceder à demolição das
construções existentes no local. Contudo, foi necessário preservar as fachadas a Norte e a Nascente até
ao arruamento interior, um desmonte para posterior utilização de dois arcos em pedra na fachada Norte,
bem como as guarnições dos vãos do edifício a Sul. Adicionalmente, foi necessário proceder a um
rebaixamento da plataforma térrea do segmento a Sul. Ou seja, na interseção da Rua Serpa Pinto com a
Rua da Carvalhosa. Ainda assim, foi conduzida a recuperação das plataformas originais do segmento a
Norte, que haviam sido modificadas por sucessivos aterros no decorrer dos anos.
Os trabalhos de escavação desenvolvidos no local preveem a execução de três pisos enterrados com
recurso a uma estrutura de suporte. Pra tal, a solução adotada consistiu na aplicação de uma parede tipo
Berlim definitiva com vários níveis de ancoragens provisórias (Figura 3.2).

Em fases subsequentes de construção estas ancoragens serão substituídas pelas lajes dos pisos
constituintes do parque de estacionamento. As causas que estiveram na origem da seleção desta solução,
consistiram essencialmente, no cenário geológico-geotécnico do local, na consideração de aspetos que
poderiam apresentar implicações insatisfatórias para a vizinhança, bem como no nível freático no
terreno.

Figura 3.2: Envolvente da Obra


(Sopsec, 2008)

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

3.3 Características e Pressupostos do Problema

A elaboração do presente trabalho exigiu uma identificação das principais características e pressupostos
associados ao problema em análise. Para tal, foi necessário compreender os condicionalismos, bem
como os principais motivos que estiveram na origem da adoção da solução mencionada.
A fase de elaboração do projeto foi condicionada por um conjunto de condições impostas pela existência
de vizinhança, bem como pelo cenário geológico-geotécnico do local, tal como mencionado
anteriormente.
O Parque de Estacionamento projetado para a zona ribeirinha de Vila Nova de Gaia, foi afetado pela
densidade e consolidação urbana desta zona. A leitura inerente à densidade populacional neste local
pode ser feita atendendo à proximidade do local em relação ao Rio Douro. Como referido anteriormente,
este terreno está localizado numa zona envolvida por arruamentos públicos a Sul, Nascente e Norte e
por edifícios a Poente. Desta forma, os projetistas tiveram a necessidade de considerar, não só, a situação
atual das estruturas adjacentes ao local da obra, como também a proximidade destas, de modo a garantir
que a sua integridade estrutural não seria condicionada pela realização da obra.
No que diz respeito ao nível freático, considerou-se uma profundidade entre os 3,0 m e os 7,0 m. O facto
de o nível da água intercetar com a escavação, requereu um rebaixamento deste nível. Desta forma, as
pressões hidrostáticas, foram eliminadas através de bueiros em todas as paredes, que conduzirão as águas
freáticas para o lado interior com auxílio de telas geodrenantes, onde posteriormente foram recolhidas
por caldeiras. Será ainda de referir, que tanto as caldeiras como as paredes de contenção foram ocultadas,
através do revestimento por uma parede de alvenaria.
3.3.1 Cenário Geológico - Geotécnico
Do ponto de vista, geológico o terreno envolvido na construção da obra analisada é constituído por
rochas granitoides compostas por granito de grão médio de duas micas, também denominado por granito
do Porto. O estrato granítico está parcialmente coberto por uma franja de alteração importante e por
outro lado, por recobrimentos procedentes das camadas sobrejacentes, deslizadas e alteradas, assim
como por aterros e aluviões. A Figura 3.3, apresenta a carta geológica do concelho de Vila Nova de
Gaia. Nesta o local da obra encontra-se representado por uma circunferência de cor azul clara.

Figura 3.3: Carta Geológica do Conselho de Vila Nova de Gaia


(Instituto Geológico e Mineiro, 2004; Almeida, 2016)

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

Paralelamente ao estudo preliminar da carta geológica de Vila Nova de Gaia, nomeadamente do local
da obra em questão, o estudo geológico-geotécnico efetuado consistiu ainda num conjunto de dez
sondagens de furação vertical. As dez sondagens foram acompanhadas de ensaios de penetração
dinâmica (SPT). Estas possibilitaram, por um lado, a recolha de amostras em profundidade,
posteriormente acondicionadas e analisadas macroscopicamente. Por outro lado, estas permitiram ainda
estimar propriedades do solo, tais como as suas características de resistência e deformabilidade. Para
tal, foram consideradas correlações com base na resistência que o maciço oferece à penetração.
A empresa “INDUBEL INDÚSTRIAS DE BETÃO S.A” assumiu a responsabilidade pela execução
destes ensaios, conduzidos nos locais indicados na Figura 3.4.

Figura 3.4: Localização das Sondagens


(Sopsec, 2008)

Os resultados provenientes das sondagens realizadas, evidenciaram que a formação geológica deve ser
definida à superfície como Aterros - Depósitos de Cobertura, dado apresentar uma espessura inferior a
4,3 m. O estrato de aterro revela padrões heterogéneos, sendo composto por materiais limos terrosos a
argilosos, contendo por vezes alguns níveis arenosos e numerosos blocos graníticos.

Por baixo das camadas de aterro, e de acordo com as sondagens S1 A, S1 B e S1 C, foram detetadas
camadas de aluviões, que apresentam uma espessura compreendida entre 5,90 m e 11,80 m. Este
material é constituído por materiais argilo-lodosos, de cor castanha a cinzenta, contendo passagens de
areias finas a médias. Obtiveram-se resultados do ensaio SPT muito fracos com um valor médio de 10
pancadas, que correspondem a solos de compacidade solta.
A formação granítica apresenta uma grande dispersão em termos de espessura, conforme demonstrado
pela obtenção de resultados a variar entre os 3,20 m e 11,80 m, segundo as sondagens S1A e S3D
respetivamente. Inicialmente, as sondagens indicaram um granito decomposto, formado por um saibro
arenoso fino a médio, argiloso. Progressivamente, na parte basal, este passou a um saibro mais grosseiro,
envolvendo alguns blocos graníticos e em alguns casos bastantes volumosos. Posteriormente, já no final
das sondagens, surge um granito alterado e fraturado no seio. Os ensaios SPT atingiram cerca de 60
pancadas, tendo sido necessário continuar as furações com carotagens.
Por motivos externos, não foi possível o acesso dos parâmetros dos solos obtidos nos ensaios realizados.
Assim, com base nos tipos de solo identificados no contexto do problema, foi necessário determinar os
parâmetros característicos destes solos. Segundo Topa Gomes (2008), estes parâmetros, correspondentes
ao peso volúmico, à coesão, ao ângulo de atrito e ao módulo de deformabilidade, podem ser obtidos por
intervalos de referência, por meio da Tabela 3.1.

32
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

Tabela 3.1: Parâmetros do Solo nas Zonas Geotécnicas Identificadas no Local da Obra

Zona Tipo de ɣ
c´(kN/m2) Φ' (º) E (MPa)
Geotécnicas Terreno (kN/m3)
Terra Vegetal-
ZG1 17-20 0-10 25-30 20-70
Areias
Granito
decomposto
ZG2 19-21 10-50 35-38 70-200
muito
compacto (W5)

Granito
decomposto a
ZG3 20-23 50-80 35-40 100-400
muito alterado
(W4-5)

Granito muito
ZG4 22-24 80-150 35-40 200-600
alterado (W4)

Com base nos resultados obtidos da campanha de prospeção, foram analisados três horizontes
geotécnicos, que permitem uma melhor visualização das camadas constituintes do solo.

3.4 Faseamento da obra


Para descrever as principais etapas de execução do Parque de Estacionamento foi elaborado um
fluxograma, conforme apresentado na Figura 3.5.
Segundo Jackson 2004, um fluxograma, é um diagrama representativo do plano de trabalhos, estando
as atividades inerentes ao projeto, organizadas de forma sequencial. A utilização desta técnica revela-se
bastante útil na indústria da construção civil, de forma a facilitar a compreensão e comunicação, ao
constituir uma abordagem unificada para todos os intervenientes no projeto. Comprovando a sua eficácia
na realização do projeto.

Figura 3.5: Processo Construtivo Adotado para a Concretização da Escavação


(Elaboração própria)

33
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

3.4.1 Trabalhos de Demolição


Pela observação do fluxograma apresentado, é possível verificar que na fase inicial do projeto todos os
edifícios localizados no espaço de construção foram demolidos, à exceção das fachadas Norte (Figura
3.6 (a)) e Nascente até ao caminho interior (Figura 3.6 (b)) e da chaminé (Figura 3.6 (c)). Além disso,
de forma a garantir a estabilidade das fachadas mantidas durante a execução da obra preservou-se uma
distância de três metros entre estas e as paredes transversais demolidas.
Os trabalhos de demolição apresentaram uma abordagem ambientalmente sustentada, pelo que foi
adotada uma demolição seletiva. Os resíduos obtidos pelo desmonte e demolição foram separados, tendo
em consideração a sua perigosidade. Estes por sua vez, foram conduzidos aos destinos apropriados,
seguindo a legislação de resíduos vigente. A escolha de tecnologias a implementar foi influenciada pelo
tipo de edifício e respetivos sistemas construtivos, seguindo uma ordem de demolição de cima para
baixo.
O risco inerente à realização de um determinado trabalho tem um impacto direto na rapidez de
demolição. Desta forma, os desmontes associados aos acabamentos, revestimentos, divisórias não
estruturais, instalações e equipamentos foram executados de forma rápida, dado não constituírem um
risco elevado. No que diz respeito à demolição das coberturas, das paredes resistentes e dos pavimentos,
verificou-se a necessidade de uma abordagem preventiva e cuidada.

Figura 3.6: Edifícios a Manter


(a) Fachada Norte; (b) Fachada Nascente; (c) Chaminé
(Sopsec, 2008)

34
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

3.4.2 Estruturas de Contenção adotadas


As soluções adotadas para a contenção da escavação, tiveram em conta as condicionantes envolventes
na área em estudo, no sentido de garantir não só a estabilidade e monitorização das deformações nos
terrenos envolventes, como também de garantir a integridade estrutural dos edifícios vizinhos.
A construção do Parque de Estacionamento, foi realizada ao abrigo de uma contenção periférica,
constituída por três alçados - Nascente, Sul e Poente (Figura 3.7).

Figura 3.7: Planta da Periferia da Escavação


(Sopsec, 2008)
A área dos alçados Nascente, Sul e Poente corresponde a 334m2, 1090m2 e 325m2, respetivamente.
Paralelamente, a espessura destes alçados está compreendida entre 0,30 e 0,40m. A solução de contenção
em todos os alçados, envolveu a execução de painéis de betão armado, apoiados temporariamente em
perfis metálicos verticais do tipo HEB. Estes painéis caracterizam-se por serem ancorados na sua
totalidade. Desta forma, a tecnologia adotada designa-se por Parede Tipo Berlim definitiva. Além disso,
é relevante referir que foram adicionalmente incluídos pranchões de madeira, como extensão das paredes
tipo Berlim. Estes elementos visam garantir um confinamento lateral das escavações.
No caso dos alçados Nascente e Poente, foi ainda necessário, construir um muro betonado contra a
alvenaria existente e estabilizado através de pregagens provisórias, no sentido de assegurar a transição
entre os arruamentos e as plataformas inferiores.
A obra considerada no âmbito do presente estudo, apresenta uma altura máxima de escavação de 15,0
m. Esta altura máxima corresponde à escavação da estrutura de contenção a Sul-Poente.

35
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

A aplicação da estrutura de contenção periférica em betão armado, envolveu uma de escavação de cima
para baixo. Numa escavação desta natureza, as paredes de contenção são realizadas por níveis, com um
comprimento de 3,0m. Para tal, foi implementada uma introdução de forma alternada dos painéis. Este
cenário prevê que um nível superior de painéis primários seja betonado e ancorado antes da introdução
de painéis secundários. Contudo, durante a fase de introdução de painéis primários, as zonas destinadas
ao alojamento de painéis secundários são preenchidas por banquetas com uma largura mínima
correspondente à largura de escavação e uma inclinação de 2(v):3(h).
A escavação foi realizada de forma progressiva. Assim, em cada nível de ancoragem o solo foi escavado
até 1,0 metro abaixo deste. Este intervalo adicional visa assegurar que existe espaço suficiente para a
ocupação da armadura de espera. A betonagem dos painéis foi realizada contra o geodreno, aplicado
contra o terreno, previamente escavado.
As ancoragens existentes nos diversos alçados, têm um espaçamento de 3,0m e são constituídas por 5
cordões de 0,6”, de forma a acomodar um pré-esforço de 600 kN. O comprimento e inclinação
apresentam uma elevada variabilidade ao longo das diversas fases de escavação. Desta forma, estas
variáveis estão dependentes não só das condições de vizinhança, como também da selagem do bolbo em
terrenos competentes e estáveis. O comprimento mínimo de selagem encontra-se na ordem dos 6 metros.
De forma, a analisar as condições de amarração dos bolbos de selagem, foram realizados ensaios de
carga em zonas distintas dos alçados das paredes, depois de concluída a aplicação das ancoragens.
No que diz respeito aos perfis metálicos, os elementos responsáveis pelo projeto definiram que seriam
utilizados perfis HEB 140 localizados nos eixos das paredes, com afastamentos médios da ordem dos
3,0m, situados, normalmente, em cada extremidade dos painéis primários. O comprimento total dos
perfis é significativamente variável, estando diretamente dependente da geometria do alçado.
Relativamente ao comprimento de selagem destes elementos metálicos e de forma a garantir boa
capacidade resistente do estrato subjacente, considerou-se no mínimo uma selagem de 2,00m abaixo da
base de escavação.
Com o objetivo de simplificar a colocação das lajes dos pisos, a execução das estruturas de suporte, teve
em consideração a realização de ferros de espera, localizados na zona de colocação desses elementos.
No final da construção do Parque de Estacionamento, prevê-se que a estabilidade da parede seja
assegurada pela estrutura das lajes dos pisos enterrados. Este cenário, invalida a necessidade da presença
das ancoragens, podendo estas ser desativadas.
Em suma, conforme descrito no Capítulo 2, o faseamento construtivo de uma parede tipo Berlim
definitiva envolve a realização de oito fases distintas. De seguida, serão descritas e ilustradas as
principais fases percorridas durante a execução da obra.
 Realização dos furos verticais, no eixo da parede de betão, seguindo-se a introdução dos
perfis metálicos verticais HEB 140 (Figura 3.8);

36
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

Figura 3.8: Introdução de Perfis Metálicos


(Sopsec, 2008)

 Realização da viga de coroamento, deixando armaduras de espera correspondentes à


armadura vertical dos painéis da parede (Figura 3.9);

Figura 3.9: Construção da Viga de Coroamento


(Sopsec, 2008)

 Realização da parede de contenção em betão armado, onde se deu inicialmente a betonagem


e ancoragem dos painéis primários e só depois dos painéis secundários (Figura 3.10);

Figura 3.10: Aplicação do 1º Nível de Ancoragens


(a) Colocação da armadura dos Painéis primários, com as respetivas banquetas intercalados entre os primeiros;
(b) Betonagem dos painéis primários; (c) Ancoragem dos painéis primários e betonagem dos secundários;
(d) Ancoragem dos painéis secundários (Sopsec, 2008)

 Execução dos ensaios de receção em função das propriedades dos solos, de forma a verificar
a eficácia das ancoragens face às cargas de dimensionamento;

37
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

 Realização dos restantes níveis de painéis, até se atingir a cota de projeto, segundo a
metodologia indicada na fase anterior (Figura 3.11);

Figura 3.11: Aplicação do 2º Nível de Ancoragens

(a) Colocação da armadura e betonagem dos Painéis primários, com as respetivas banquetas intercalados entre
os primeiros; (b) Betonagem e ancoragem dos painéis primários, colocação da armadura nos painéis
secundários; (c) Betonagem e ancoragem dos painéis secundários (Sopsec, 2008)

 Realização da sapata de fundação (Figura 3.12);

Figura 3.12: Realização da Sapata de Fundação


(a) Colocação da armadura, com as respetivas banquetas; (b) Betonagem da sapata; (c) Substituição das
banquetas por armadura; (d) Betonagem da armadura (Sopsec, 2008)

 Colocação de camada de proteção anti corrosão a todas as cabeças de ancoragem;


 Introdução das lajes dos pisos enterrados, com posterior desativação das ancoragens
provisórias
No enquadramento da obra estudada, as paredes de contenção foram aplicadas com o propósito de
diminuir a descompressão dos terrenos. De maneira que, foi assegurado um intervalo de tempo entre a
escavação e betonagem de cada painel inferior a 12 horas. Numa fase seguinte, entre a betonagem dos
painéis e a aplicação de pré-esforços nas ancoragens, promoveu-se uma realização no menor intervalo
de tempo possível.

38
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

3.4.3 Cálculo e Dimensionamento


3.4.3.1 Ações
As ações atuantes na estrutura de contenção consideradas são as seguintes:
 Peso próprio dos elementos de betão armado;
 Peso próprio dos elementos de aço;
 Peso próprio específico dos estratos geotécnicos ocorrentes;
 Sobrecarga uniformemente distribuída na superfície do terreno;
 Sobrecarga uniformemente distribuída para simular as cargas dos edifícios vizinhos;
 Pré-esforços ancoragens;
 Ação das Pregagens;
 Estado de tensão inicial do solo;
 Pressões hidrostáticas;
 Escavação;
 Ações transmitidas pelas lajes em fase de utilização.

3.4.3.2 Dimensionamento
De forma, a definir as diferentes soluções adotadas nos respetivos alçados, realizou-se o
dimensionamento e estabilidade global das estruturas de contenção. Devido ao carácter definitivo das
soluções utilizadas, foi necessário efetuar uma análise estática e uma análise pseudo-estática, segundo a
zona do país onde se insere a obra. Na Tabela 3.2, encontram-se ilustrados os valores do fator de
segurança introduzidos no cálculo estático e pseudo-estático, bem como o valor do coeficiente de
sismicidade, relativo a este último, em função da localização da obra (zona D) e obtido a partir do R.S.A
(Regulamento de Segurança e Ações para Estruturas de Edifícios e Pontes).
Tabela 3.2: Fatores de Segurança Utilizados no Cálculo Estático e Pseudo-Estático

Cálculo Estático Cálculo Pseudo-Estático


Fatores de Segurança 2.0 1.3
Coeficiente de sismicidade - 0.3

Através da interpretação do relatório geológico-geotécnico, atribui-se para cada alçado, de forma


ponderada, as propriedades mecânicas dos estratos interessados na envolvente à escavação. O
dimensionamento das contenções consistiu em estabelecer o tipo de ancoragem-pregagem a utilizar, o
número de níveis necessários, comprimentos, inclinações e forças dos apoios estabilizadores da parede
assim como o tipo de elemento metálico a utilizar. Introduziu-se uma situação de impulso ativo, através
do método de Coulomb e de Mononobe-Okabe, para a determinação do impulso ativo e o coeficiente de
impulso ativo sísmico.
Assim, o número de apoios, afastamento e inclinação, foram determinadas de acordo com as
particularidades geológicas-geotécnicas, altura de escavação a vencer e às especificidades existentes no
tardoz da estrutura (sobrecargas de terrenos, sobrecargas de muros existentes e a manter, ou a própria
inclinação do terreno no tardoz) de cada estrutura de contenção.
O dimensionamento do comprimento de selagem das ancoragens e o comprimento das pregagens foi
realizado através do método Bustamante, conforme enunciado no relatório do projeto disponibilizado

39
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

pela Sopsec S.A., onde se variou o valor do atrito lateral limite unitário, conforme os estratos geológicos-
geotécnicos atravessados pelas selagens.
Concluído o dimensionamento de todas as estruturas de contenção, procedeu-se a uma simulação da
interação solo-estrutura, através do programa computacional, PLAXIS 2D, com o intuito de analisar a
estabilidade global das diversas estruturas de contenção

40
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

4.
MODELAÇÃO NUMÉRICA DE UMA
ESCAVAÇÃO TIPO BERLIM

O dimensionamento de uma estrutura de contenção flexível é um problema complexo e de difícil


resolução. Neste contexto, a estrutura apresenta um comportamento não linear, dado ser composta por
um maciço, uma estrutura de contenção e diversos elementos de suporte. Desta forma, uma estrutura
deste tipo requer uma análise faseada e incidente nas várias etapas de construção.
A análise da estabilidade de uma escavação pode ser verificada através de equações de equilíbrio limite.
No entanto, a previsão das deformações que poderão ocorrer durante as diversas fases de construção
consiste numa análise mais exigente e complexa, exigindo a utilização de modelos computacionais. A
incerteza associada a cada fase construtiva requer instrumentos que forneçam um suporte eficaz e
eficiente para a redução do risco no processo de tomada de decisão. Uma previsão consiste na tentativa
de antecipar um comportamento futuro a partir das condições atuais, pelo que assume extrema
importância e relevância para um melhor desempenho da obra (Rios, 2007).
O controlo dos deslocamentos do solo envolvente à escavação e das estruturas vizinhas são aspetos
condicionantes para um bom desempenho das estruturas de contenção, assim o recurso de métodos de
tensão-deformação, isto é, método dos elementos finitos, são indispensáveis para uma correta previsão
do comportamento da estrutura e possível reestruturação da solução de projeto.
Nas últimas décadas, a utilização de programas de cálculo, que possibilitam a análise de tensão-
deformação, pela aplicação do método dos elementos finitos, vieram possibilitar grandes
desenvolvimentos na área de geotecnia. Estes métodos traduziram numa melhor capacidade de previsão
e análise do comportamento de obras geotécnicas (Rainieri, Dey et al. 2010).
O método dos elementos finitos é uma ferramenta numérica utilizada na análise de problemas
geotécnicos, nomeadamente no estudo da interação solo-estrutura. Este, por sua vez, considera as
características inerentes à obra, no sentido de modelar o comportamento mecânico da estrutura em
análise, bem como do solo. O método propõe a divisão de uma obra em diversos segmentos, interligados
entre si através de pontos nodais, e cujo comportamento é determinado, tendo em consideração a sua
geometria e propriedades.
A caracterização dos parâmetros geométricos e mecânicos da estrutura e do solo, bem como um
faseamento detalhado das atividades construtivas, são aspetos que devem ser cuidadosamente avaliados,
dado permitirem a obtenção de uma modelação da estrutura mais correta. Não obstante, este modelo

41
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

computacional apresenta algumas limitações, em casos em que é necessário ter em considerações


fatores, tais como vibrações, sobre-escavação, atrasos na colocação do suporte e avaliação incorreta das
sobrecargas, derivadas da dificuldade em simular os mesmos (Rios, 2007).
Para a modelação da estrutura de contenção utilizou-se o programa de cálculo automático PLAXIS 2D-
2018. Este software tem por base o método dos elementos finitos e permite a introdução de dados,
visualização dos cálculos efetuados, visualização de resultados, e finalmente simulação de
representações gráficas. Desta forma, em função dos dados do problema introduzidos, o programa
calcula automaticamente a malha dos elementos finitos, apresentando os resultados de modelação e
permitindo relacionar diferentes variáveis através da sua representação gráfica. A precisão dos
resultados depende do refinamento da malha, pelo que a geometria de cada segmento considerado é
constituída por elementos triangulares de 6 ou 15 nós.

4.1 Descrição do Modelo Numérico


4.1.1 Apresentação do Problema
O presente capítulo destina-se à apresentação da modelação numérica da secção 2-2, localizada no
alçado a sul, representado na Figura 4.1.

Figura 4.1: Planta da Periferia de Escavação


(Adaptação de Sopsec, 2008)

42
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

Apesar de todas as secções diferirem quanto à sua geometria e solução construtiva, optou-se pela escolha
desta secção, dado esta constituir um caso de estudo convencional de uma estrutura de contenção do
Tipo Berlim definitiva com ancoragens provisórias. Desta forma, são apresentadas nas Figuras 4.2 e 4.3
as plantas do recinto de escavação, do alçado com orientação a sul e do corte 2-2 do respetivo alçado.
É, ainda relevante mencionar, que os outros cortes, relativos às restantes orientações, embora apresentem
diferentes características, a sua modelação envolveu a adoção de princípios semelhantes.

Figura 4.2: Alçado com Orientação Sul


(Adaptação de Sopsec, 2008)

Figura 4.3: Corte 2-2 do Alçado com Orientação Sul


(Adaptação de Sopsec, 2008)

43
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

4.1.2 Geometria
De forma a dar inicio à modelação do corte 2-2, com orientação a sul, foram definidas em primeiro lugar
as unidades e o número de nós de cada elemento finito. No sentido de determinar o número de nós mais
conveniente para abordar o problema, foi possível concluir através de um estudo realizado por Rios
(2007), que o tipo de elementos e número de pontos nodais não tem praticamente influência nos
deslocamentos da cortina. Desta forma, optou-se, conforme proposto por Carvalho (2013) e Garcia
(2014), por considerar elementos triangulares de 15 nós. Este valor permite a obtenção de resultados do
modelo mais precisos e refinado. De seguida, foi traçada a geometria da janela, com o propósito de
reproduzir a situação real no contexto do problema. Para determinar o domínio da escavação, é
necessário considerar que a largura de influência de uma escavação deve estar a uma distância em
relação à cortina, correspondente a 2 a 3 vezes a profundidade de escavação.
Em conclusão, a geometria da janela utilizada para a modelação do presente caso de estudo, resulta num
domínio com uma largura equivalente a 60 m e numa profundidade correspondente a 30 m. Para o
desenho da geometria do modelo, foi necessário utilizar o comando create line, no sentido de simular
as quatro camadas de solo, assim como as linhas referentes às diferentes fases de escavação.
A modelação da estrutura de contenção exigiu, também a caracterização das cargas atuantes no solo.
Para tal, o programa de cálculo utilizado dispõe de dois tipos de carregamento, nomeadamente as cargas
pontuais e as cargas distribuídas. No contexto do problema, considerou-se uma sobrecarga distribuída
correspondente a 10 kN/m2 no tardoz da estrutura. Esta, por sua vez, advém das cargas dos arruamentos
adjacentes ao local da obra. O comando do PLAXIS utilizado a simulação realizada foi o Create load.
Numa etapa posterior, procedeu-se à caracterização dos elementos de uma parede do Tipo Berlim. Para
a simulação da estrutura de contenção, foi necessário definir os materiais constituintes da Parede do
Tipo Berlim, bem como dos perfis HEB 140, de forma a incluir as respetivas especificações ao plate,
representativo de cada elemento. A cota de projeto atingida, no corte 2-2, foi de 15 m. Adicionalmente,
foi considerado um prolongamento de selagem dos perfis de 2m, atingindo uma profundidade total de
17m.
Os quatro níveis de ancoragens foram simulados com o comando node-to-node anchor para o
comprimento livre, e geogrid para o bolbo de selagem. Através do comando interfaces foram criadas as
interfaces nos dois lados da cortina.
No que diz respeito ao nível freático, este não foi considerado no âmbito da modelação efetuada, devido
ao facto de ser sido realizado um rebaixamento do mesmo, tal como mencionado na secção 3.4 do
presente documento. Desta forma, a consideração das pressões hidrostáticas é desprezável no contexto
da obra em estudo.

4.1.3 Caracterização do Solo


Para simular o comportamento do solo, o Plaxis dispõe de diversos modelos para a sua caracterização.
O modelo adequado e realista para prever o comportamento do solo é o Hardening-Soil (Ni, Mei et al.
2016). Além disso, este modelo provou ser adequado para qualquer tipo de solo (Schanz, Vermeer et al.
1999, Ni, Mei et al. 2016).
O Modelo Hardening-Soil consiste num modelo elasto-plástico que segue a teoria da plasticidade. Este
modelo simula o comportamento dos solos segundo uma relação tensão-deformação não linear, baseada
na lei Hiperbólica, que considera uma diminuição da rigidez quando o material é sujeito a tensões
crescentes, gerando deformações plásticas irreversíveis (Figura 4.4).

44
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

Figura 4.4: Relação Hiperbólica da Tensão-Deformação


(Adaptação de (Tjie-Liong 2014))

Este modelo simula um comportamento do solo semelhante ao seu comportamento num ambiente real.
O comportamento simulado, considera os ciclos de carga e recarga gerados pelas sucessivas fases de
construção, compreendendo o pré-esforço das ancoragens. Pelo contrário, o modelo elástico
perfeitamente plástico, denominado de modelo de Mohr-Coulomb, também disponível no programa,
tem em consideração uma relação da tensão com a rigidez. Este defende que a rigidez dos estratos
aumenta em função das pressões.
O modelo Hardening-Soil considera essenciais, para uma caracterização integral do solo, os seguintes
parâmetros:
 Parâmetros de resistência adotados pelo critério de rotura Mohr-Coulomb, complementados pelo
ângulo de dilatância:
c´- coesão do solo;
ϕ' - ângulo de resistência ao corte;
ψ´- ângulo de dilatância;

 Parâmetros de deformabilidade:

𝑟𝑒𝑓.
𝐸50 - Módulo de deformabilidade em primeira carga, correspondente a 50% da tensão de
rotura, para uma pressão de referência (𝑝𝑟𝑒𝑓 ) por defeito igual à pressão atmosférica
(100 kPa);
𝑟𝑒𝑓.
𝐸𝑜𝑒𝑑 - Módulo de deformabilidade edométrico em primeira carga, para uma pressão de
referência por defeito (𝑝𝑟𝑒𝑓 );
𝑟𝑒𝑓.
𝐸 𝑢𝑟 - Módulo de deformabilidade em segunda carga e descarga, correspondente à pressão de
referência por defeito (𝑝𝑟𝑒𝑓 );
m - Expoente da lei de potência que expressa a dependência da rigidez em relação ao nível
de tensão (power).
O manual do utilizador do Plaxis, bem como diversos autores, propõe a adoção de certas aproximações
para os diferentes valores dos parâmetros de deformabilidade, quando se recorre ao modelo Hardening-
Soil, estabelecendo assim as seguintes aproximações (Brinkgreve, Kumarswamy et al. 2014, Chogueur,
Abdeldjalil et al. 2018):
𝐸 ≈ 𝐸50 𝑟𝑒𝑓
𝑟𝑒𝑓
𝐸50 𝑟𝑒𝑓 ≈ 𝐸𝑜𝑒𝑑
3𝐸50 𝑟𝑒𝑓 ≈ 𝐸 𝑟𝑒𝑓
𝑢𝑟

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

 Outros parâmetros:

𝛾𝑢𝑛𝑠𝑎𝑡 - Peso volúmico do solo não saturado;


𝛾𝑠𝑎𝑡 - Peso volúmico do solo saturado;
𝜐𝑢𝑟 - Coeficiente de Poisson em segunda carga;
𝑅𝑓 - Coeficiente de rotura, rácio da tensão de desvio na rotura, 𝑅𝑓 = 𝑞𝑓 /𝑞𝑎 ,
𝑅𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟 - Fator de redução de resistência da interface;
𝐺𝑟𝑒𝑓 - Módulo de distorção;
𝐾𝑜 - Coeficiente de impulso em repouso, correspondente ao solo normalmente consolidado.
Tendo em conta os parâmetros descritos anteriormente, são apresentados na Tabela 4.1 os valores
adotados em função dos estratos do problema, para o modelo em questão.
Tabela 4.1: Caracterização dos Estratos, segundo o Modelo Hardening-Soil

Zona Geotécnicas

Aterro Granito Granito Granito muito


decomposto decomposto a alterado
Parâmetros muito muito alterado - -W4
compacto -W5 W4-5
[ZG1] [ZG2] [ZG3] [ZG4]

7,55 – 8,55; a
Cota (m) 0 - 3,25 3,25 – 7,55 8,55 – 14,2
partir dos 14,2
γunsat (kN/m3) 17 21 22 24

γsat (kN/m3) 18 21 22 24
𝐸50𝑟𝑒𝑓 (kN/m2) 10000 70000 100000 200000
𝐸𝑜𝑒𝑑𝑟𝑒𝑓 (kN/m2) 10000 70000 100000 200000
𝐸𝑢𝑟𝑟𝑒𝑓 (kN/m2) 30000 210000 300000 600000
m 0,5 0,5 0,5 0,5
c´(kN/m2) 0,5 10 65 80
ϕ'(°) 30 35 37 39
ψ´(°) 0 12 12 12
νur 0,3 0,3 0,3 0,3
Rf 0,9 0,9 0,9 0,9
𝐾𝑜 (*) 0,5 0,5 0,398 0,371

Para fins de modelação, na zona geotécnica 1 (ZG1) foi considerado um valor de coesão efetiva
equivalente a 0,5 kN/m2. Apesar da variação deste parâmetro entre valores pertencentes ao intervalo de

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

0 a 1 ter um impacto desprezável ao nível prático, permite resolver problemas associados ao cálculo
numérico.

Por forma a considerar as debilidades existentes na construção de uma Parede do Tipo Berlim definitiva,
onde a execução da cortina é caracterizada por ser moldada contra o terreno, optou-se por atribuir um
valor de 0,9 em alternativa a 1.0, ao coeficiente de rotura (Rf). Desta forma, não é considerada uma
ligação tão eficaz entre a parede de contenção e o terreno no seu tardoz.

4.1.4 Caracterização dos Elementos Estruturais


Na presente secção procedeu-se à caracterização dos elementos que compõe a estrutura modelada. Para
tal, são inicialmente identificados os componentes de uma parede do tipo Berlim e as respetivas
características. Para fins de simulação, considerou-se a rigidez axial, rigidez à flexão, peso e o
coeficiente de Poisson inerentes aos dois elementos constituintes de uma parede do tipo Berlim,
nomeadamente a parede de betão armado e os perfis metálicos. Para a parede de betão armado em estudo,
considerou-se o mesmo tipo de betão utilizado na obra em análise, ou seja, betão C30/37 (Betão C30/37:
E=33 GPa; γ=25 kN/m3; ν=0,2), e uma espessura de 0,4 m. Relativamente aos perfis metálicos, estes
são do tipo HEB 140 com uma largura de influência de 2,5 m.
Na Tabela 4.2, são apresentadas as características, por unidade de largura na direção perpendicular ao
plano, dos elementos constituintes da parede do tipo Berlim.
Tabela 4.2: Características da Parede do tipo Berlim

Parâmetros Parede de Betão C30/37 Perfis metálicos HEB 140


𝐸𝐴 (𝑘𝑁/𝑚) 1,32 × 107 361200
𝐸𝐼 (𝑘𝑁. 𝑚²/𝑚) 176000 1260
𝑤 (𝑘𝑁/𝑚/𝑚) 9,0 0,3
𝜈 0,2 0,2

A caracterização das ancoragens, como referido anteriormente, tem em consideração os dois elementos
que constituem as mesmas. Como tal, foram analisadas as características inerentes ao comprimento livre
e ao bolbo de selagem. A carga de pré-esforço das ancoragens, 𝑃ú𝑡𝑖𝑙 , definida no contexto do projeto
assume um valor de 600 kN. Adicionalmente, considera-se um espaçamento entre ancoragens de 3,0 m.
Para o cálculo da rigidez axial foi necessário determinar a área de armadura de pré-esforço, estando
definido no relatório de projeto a utilização de 5 cordoes de 0,6´´. Como tal, cada ancoragem dispõe de
um diâmetro nominal correspondente a 1,4 × 10−4 m.
De seguida, de forma a caracterizar o bolbo de selagem, considerou-se um betão de menor resistência
no sentido de por sua vez, foi modelado considerando um betão de menor resistência devido à
sobreposição do betão com o solo, tendo assumido um módulo de elasticidade de 25 GPa, o diâmetro
de furação apresentado no projeto tem o valor de 200 mm (Tabela 4.3).

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

Tabela 4.3: Características das Ancoragens

Parâmetros Comprimento livre Bolbo de selagem


𝐸𝐴 (𝑘𝑁/𝑚) 140000 100000
𝑃ú𝑡𝑖𝑙 (k𝑁) 600 600
𝐿𝑠𝑝𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 (𝑚) 3,0 3,0

4.1.5 Malha de Elementos Finitos


Esta etapa consistiu na conceção da malha de elementos finitos com recurso ao comando mesh do
PLAXIS. A malha gerada representa a divisão da geometria do domínio da escavação em elementos
triangulares, previamente selecionados (Figura 4.5).

Figura 4.5: Malha de Elementos Finitos

Tal como mencionado anteriormente, malhas mais refinadas fornecem resultados mais precisos. Desta
forma, o programa disponibiliza cinco diferentes níveis de refinamento, Very Coarse, Coarse, Medium,
Fine e Very Fine. No âmbito do presente trabalho foi selecionado o nível Very Fine, constituído por
4913 elementos e 39884 nós, de forma a obter um resultado mais preciso, como era de esperar. No
sentido de aumentar a precisão, o software utilizado permite ainda um refinamento localizado nos
elementos de maior relevância para o projeto.

4.1.6 Processo Construtivo


Na seguinte etapa, inicia-se a caracterização das diversas fases de construção de uma parede multi-
ancorada. Esta representa uma fase de significativa importância para a modelação do processo
construtivo da estrutura.
A utilização do software PLAXIS, para efetuar os cálculos necessários, permite desenvolver uma análise
de diversas alterações das características e geometria dos materiais verificadas durante as diferentes
fases de construção. Por consequência, permite a monitorização dos esforços e deslocamentos
verificados em cada atividade construtiva, com o propósito de obter valores mais verossímeis e em
concordância com o cenário real.

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

A fase 0, corresponde à Initial phase já definida por defeito pelo programa. Esta compreende todos os
deslocamentos derivados do peso, sobrecargas e condições iniciais do solo. O método de cálculo
aplicado pelo programa é o K0 procedure, através do qual são geradas as tensões iniciais do solo.
Na fase 1 caracteriza-se pela aplicação de uma sobrecarga correspondente a 10 𝐾𝑁/𝑚² no tardoz da
estrutura.
A fase seguinte consiste na inserção dos perfis metálicos no terreno até ser atingida a cota de selagem
de – 17 m, como resultado da adição do comprimento de selagem correspondente a -2 m à cota do
projeto equivalente a -15 m. Na sequência da execução desta fase, através do PLAXIS, é selecionada e
alocada a plate dos perfis metálicos nos diversos níveis de escavação. Com o objetivo de analisar apenas
os deslocamentos criados durante o processo construtivo, recorreu-se à opção reset displacements, no
separador deformation control parameters, de forma a anular os deslocamentos obtidos nessas fases.
A fase 3 e fase 4, correspondem respetivamente, ao início da escavação do 1º nível e betonagem da viga
de coroamento, correspondente a 1,0m de escavação.
Neste tipo de estruturas flexíveis a análise bidimensional (2D) deste programa, não tem em conta o
aspeto tridimensional provocado pela inserção de painéis primários e secundários, de forma alternada.
Consequentemente, não é completamente considerado o fenómeno de transferência de pressão do solo,
denominado efeito de arco, que permite que a escavação ocorra sem descompressão do terreno.
Assim, de forma a contornar este aspeto inerente à utilização do PLAXIS como instrumento de
modelação, foi adotado um valor de 𝛴 − 𝑀𝑠𝑡𝑎𝑔𝑒 entre 1 e 0,5. O valor equivalente a 0,5 assume um
carácter conservativo, habitualmente utilizado em paredes multi-ancoradas. Contudo, o facto de os
painéis apresentarem diferentes dimensões e do tensionamento das ancoragens ser realizado de uma só
vez, e não de forma faseada, aumenta o impacto do aspeto tridimensional. Assim, a utilização deste
valor reflete-se em resultados menos precisos do faseamento construtivo.
Pelo que, o valor adotado para o 𝛴 − 𝑀𝑠𝑡𝑎𝑔𝑒 foi de 0,7, que apesar de não ser a solução exata é a que
permite a melhor aproximação da realidade (Garcia, 2014).
Depois de concluída cada fase de escavação, foi selecionada a plate relativa aos painéis, de forma a
serem substituídas as especificações da plate relativas a perfis metálicos pelas características dos painéis
de betão armado, constituintes da Parede Tipo Berlim definitiva. Concluída esta alteração, aplicou-se a
carga útil de pré-esforço, enunciada anteriormente, às ancoragens.
A metodologia utilizada durante as fases de escavação, alteração do elemento da plate e aplicação da
carga de pré-esforço nas ancoragens, para modelar o processo construtivo, foi repetida até ser atingida
a cota de projeto.
O faseamento construtivo adotado corresponde ao faseamento realizado em obra, com o propósito de
modelar um processo o mais idêntico possível da realidade. Na Tabela 4.4 são apresentadas as diversas
fases de cálculo utilizadas.
Tabela 4.4: Faseamento Construtivo Utilizado na Modelação Numérica

Fase 1 Aplicação da sobrecarga de 10 𝐾𝑁/𝑚²;

Colocação dos perfis metálicos HEB 140, com 17m de comprimento incluindo o
Fase 2
comprimento de selagem de 2m;

Fase 3 Escavação do 1º nível correspondendo a uma altura de escavação de 1m;

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

Fase 4 Betonagem da viga de coroamento

Fase 5 2º nível de escavação, correspondendo a uma altura de escavação de 2,55m;

Betonagem dos painéis do 2º nível de escavação, colocação das ancoragens uma


Fase 6
cota de 1,85m e aplicação do pré-esforço da ordem dos 600 kN;

Fase 7 3º nível de escavação, correspondendo a uma altura de escavação de 4,50m;

Betonagem dos painéis do 3º nível de escavação, colocação das ancoragens uma


Fase 8
cota de 5,8m e aplicação do pré-esforço da ordem dos 600 kN;

Fase 9 4º nível de escavação, correspondendo a uma altura de escavação de 3,00m;

Betonagem dos painéis do 4º nível de escavação, colocação das ancoragens uma


Fase 10
cota de 9,55m e aplicação do pré-esforço da ordem dos 600 kN;

Fase 11 5º nível de escavação, correspondendo a uma altura de escavação de 3,95m;

Betonagem dos painéis do 5º nível de escavação, colocação das ancoragens uma


Fase 12
cota de 12,55m e aplicação do pré-esforço da ordem dos 600 kN;

Estudos desenvolvidos por Matos Fernandes (1990), demonstraram que uma parede de betão armado
tem um impacto significativamente superior na rigidez à flexão, face ao conferido pelos perfis metálicos.
Desta forma, é possível concluir que os perfis metálicos não contribuem para a rigidez dos painéis, sendo
a sua rigidez à flexão apenas importante, nas fases de escavação em que estes constituem os únicos
elementos de apoio do terreno. Assim, a rigidez dos perfis verticais foi desprezada durante a simulação
do processo de construção dos painéis (Figura 4.6).

Figura 4.6: Comparação entre a Rigidez à Flexão dos Painéis de Betão Armado e dos Perfis Metálicos Verticais
(Matos Fernandes, 1990)

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

4.1.7 Resultados
Os resultados de modelação obtidos são apresentados, pelo PLAXIS, numa secção específica
denominada de “Output”. Deste modo, depois de concluída a fase de cálculo, foram analisados nesta
secção os resultados obtidos, de forma a avaliar a deformada da malha de elementos finitos, os
deslocamentos e tensões instaladas no solo, bem como os deslocamentos e esforços associados a todos
os elementos estruturais da estrutura de contenção.
Nesta seção são, assim, apresentados e discutidos os resultados obtidos da deformada da malha de
elementos finitos, dos deslocamentos horizontais e verticais verificados no solo e na estrutura de
contenção, bem como dos momentos fletores e esforços axiais mobilizados na estrutura, após se ter
atingido a cota de projeto.

4.1.7.1 Deslocamentos
Na Figura 4.7 é apresentada a configuração da deformada da malha de elementos finitos obtida no final
da modelação da estrutura de contenção.

Figura 4.7: Deformada da Malha de Elementos Finito


(Ampliado 500 vezes)

Os deslocamentos horizontais verificados no solo na fase final de escavação podem ser observados
através da Figura 4.8. Estes deslocamentos são caracterizados, por atingirem o seu máximo no tardoz
da estrutura de contenção entre o 2º e 3º nível de ancoragens, com direção para o interior do terreno,
com um valor na ordem dos 7,15 mm.

Figura 4.8: Deslocamentos Horizontais do Solo no Final da Escavação


(Deslocamento máximo = 7,15 mm)

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

Pela análise da Figura 4.9, é possível concluir que o deslocamento vertical do solo atinge o seu valor
máximo, equivalente a -8,96 mm, no tardoz da estrutura. Porém, na base da escavação também se
verificam elevados deslocamentos. No que diz respeito aos deslocamentos verificados no tardoz da
estrutura, estes são os mais condicionantes, podendo causar danos estruturais nos edifícios vizinhos. Os
deslocamentos na base de escavação correspondem a um empolamento na ordem dos 5,68 mm.

Figura 4.9: Deslocamentos Verticais do Solo no Final da Escavação


(Deslocamento máximo = -8,96 mm)

Os deslocamentos horizontais, verticais e totais da cortina são apresentados na Figura 4.10.

Figura 4.10: Deslocamentos da Cortina na Fase Final de Escavação


a) Deslocamentos Horizontais; b) Deslocamentos Verticais; c) Deslocamentos Totais.

Os deslocamentos horizontais da cortina atingem o seu máximo positivo, aproximadamente a meia altura
da mesma, com um deslocamento máximo na ordem dos 6,32 mm. Por outro lado, o máximo negativo,
ou seja, com orientação para o interior da escavação, é verificado no topo da cortina e corresponde a
-2,50 mm. Estes resultados derivam da relação entre a baixa rigidez do solo junto à superfície, quando
comparada com a rigidez dos restantes estratos, com a curvatura da cortina, originada pelos momentos
fletores mobilizados.
Os deslocamentos verticais não variam com a profundidade, apresentando como valor máximo negativo
2,53 mm. Por último, é possível concluir que os deslocamentos totais da estrutura são fortemente
influenciados dos deslocamentos verticais na sua deformação assumindo um valor máximos de
aproximadamente 6,78 mm.

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

Para além de avaliar os deslocamentos da cortina na fase final de escavação, é importante avaliar o
desenvolvimento dos deslocamentos ao longo das sucessivas fases de escavação. Assim, a Figura 4.11
demonstra os deslocamentos horizontais na cortina a partir do 1º nível de escavação. Contudo, é
importante salientar que as fases representadas por um número ímpares correspondem às fases de
escavação, sendo que, por outro lado, as fases pares constituem as fases de aplicação dos painéis
primários e secundários e introdução do pré-esforço nas ancoragens.

Figura 4.11: Deslocamentos Horizontais da Cortina nas Fases 3 a 12

A análise da Figura 4.11 permite observar o significativo efeito do pré-esforço nos deslocamentos
ocorridos nas diferentes fases de escavação. Este permite não só a recuperação de deslocamentos
impostos em fases de escavação anteriores, como também uma melhor resposta face aos deslocamentos
impostos nas fases seguintes. Adicionalmente, verifica-se que nas três primeiras fases os deslocamentos
são caracterizados por estarem dirigidos para o interior da escavação, passando posteriormente, com a
aplicação da carga de pré-esforço, a estar dirigidos no sentido contrário.
Por fim, procedeu-se à análise da evolução dos assentamentos superficiais, durante a fase final de
escavação, em função da sua distância à cortina. Os assentamentos superficiais verificados ao longo da
última fase de escavação são apresentados na Figura 4.12. Como é possível observar, o assentamento
máximo é atingido no tardoz da estrutura na interface solo-estrutura e assume um valor na ordem dos
8,70 mm.

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

Figura 4.12: Assentamentos Superficiais do Terreno na Última Fase de Escavação

4.1.7.2 Momentos Fletores


Os momentos fletores na cortina, ao longo das sucessivas fases de construção, podem ser observados
através da Figura 4.13. Os momentos instalados na cortina são bastante variáveis em função da
profundidade, correspondendo predominantemente a momentos fletores positivos. Este traduzem-se em
trações na face voltada para o interior da escavação. O valor máximo positivo equivalente a
129,0 kN. m/m, na fase 7 correspondente ao 2º nível de escavação, localizado entre o 1º e 2º nível de
ancoragens. Verifica-se, ainda, que tanto os valores máximos positivos como negativos ocorrem em
fases de escavação ímpares, ou seja, às fases de escavação.

Figura 4.13: Momentos Fletores da Cortina nas Fases de Escavação 3 a 12

Com vista em analisar o efeito do pré-esforço no diagrama de momentos, representa-se na Figura 4.14,
o diagrama de momentos finais respetivos á Fase 8 e 9. A aplicação do pré-esforço, ilustrado pela seta
a cinzento, causa uma translação do diagrama de momentos para o lado de momentos negativos,
reduzindo significativamente o momento máximo verificado na fase de escavação anterior.

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Figura 4.14: Momentos Fletores da Cortina das Fases de Escavação 8 e 9

4.1.7.3 Esforços Axiais na Cortina


Na Figura 4.15 é apresentada a evolução dos esforços axiais mobilizados na cortina, ao longo das
sucessivas fases de escavação. Tal como referido anteriormente, nas estruturas multi-ancoradas, as
componentes verticais provenientes da carga inclinada, são muito importantes, no sentido de verificar a
estabilidade vertical da cortina. Paralelamente, observa-se um aumento significativo do esforço axial
em fases de instalação, expresso por significativos aumentos no diagrama de esforço nos ponto de
aplicação das ancoragens, provenientes da carga de pré-esforço aplicada na ancoragem.

Figura 4.15: Esforços Axiais Mobilizados na Cortina nas Fases 3 a 12

Relativamente à última fase de escavação, a análise da Figura 4.16 expressa um aumento do esforço
axial ao longo do desenvolvimento da escavação, atingindo o seu valor máximo de compressão

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equivalente a -532,0 kN/m na base de escavação a uma cota de –15 m. Apartir desta cota está localizada
a zona de selagem dos perfis metálicos, onde se geram forças de atrito entre a mesma e o solo. Estas
forças contrariam o esforço normal instalado na estrutura de contenção, pelo que se verifica um
desenvolvimento linear, até ser atingido um valor aproximo de zero.

Figura 4.16: Esforços Axiais Mobilizados na Cortina na Ultima Fase de Escavação

4.2 Estudo Paramétrico da Solução Adotada

A presente secção compreende um estudo paramétrico da Parede do Tipo Berlim definitiva, com o
principal propósito de compreender a influência de diferentes fatores no seu comportamento. Um estudo
paramétrico surge da necessidade de conferir às previsões obtidas na fase de modelação, mais rigor e
controlo durante as fases de construção (Hight & Higgins, 1995). No âmbito do seguinte objetivo, este
estudo incidiu particularmente na deformação da parede, sendo que está diretamente relacionada com
os esforços mobilizados.
Desta forma, os fatores considerados mais relevantes para o desempenho da estrutura e cujo efeito foi
utilizado para fins de análise consistem no módulo de deformabilidade, no pré-esforço dos vários níveis
de ancoragens e na espessura da parede.

4.2.1 Influência do Módulo de Deformabilidade


Com o objetivo de avaliar a influência que o solo suportado assume no comportamento da estrutura de
contenção, foi necessário, com base nos resultados do cálculo de referência, apresentados na secção
anterior, definir quais os parâmetros a analisar.
Para tal, foi realizada uma avaliação do comportamento da cortina em função de parâmetros do solo,
cujo valor assume uma certa incerteza no contexto do problema, dado não serem conhecidos certos
parâmetros geotécnicos reais do solo. Desta forma, é considerado um intervalo de variação associado à
incerteza de cada parâmetro definido. Este, por sua vez, será estudado no sentido de avaliar o impacto
do parâmetro na solução obtida.
Conforme apresentado na Tabela 3.1, incluída na secção 3.3.1 do presente documento, o módulo de
deformabilidade está compreendido num intervalo de referência consoante o tipo de solo em análise. Na
fase de modelação da estrutura foram adotados módulos de deformabilidade reduzidos para todos os

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diferentes tipos de solo em análise. Contudo, no âmbito do presente estudo serão analisados módulos de
deformabilidade mais elevados, de forma a verificar qual o seu impacto no comportamento da estrutura
Nos cálculos efetuados, o comportamento do solo foi simulado, através do modelo Hardening-Soil
Model. Assim, na Tabela 4.5 são demonstrados os parâmetros relativos aos módulos de deformabilidade
alterados, sendo que os restantes parâmetros que definem o cenário geotécnico do terreno analisado no
contexto do problema se mantiveram constantes.

Tabela 4.5: Parâmetros de Deformabilidade Alterados

Cenário Geotécnico

Parâmetros do Granito Granito


modelo decomposto decomposto a
Aterro Granito muito alterado W4
muito compacto muito alterado
Hardening-Soil
W5 W4-5
Cota (m) 0 – 3,25 3,25 – 7,55 8,55 – 14,2 7,55 – 8,55; a partir de 14,2
𝑬𝟓𝟎𝒓𝒆𝒇 (kN/m2) 30000 200000 400000 600000
𝑬𝒐𝒆𝒅𝒓𝒆𝒇 (kN/m2) 30000 200000 400000 600000
𝑬𝒖𝒓𝒓𝒆𝒇 (kN/m2) 90000 600000 1200000 1800000

Na Figura 4.17 é apresentada a evolução dos movimentos de terras e dos esforços mobilizados na cortina
em função da profundidade, considerando os parâmetros de deformabilidade alterados (Tabela 4.5) e
considerando os parâmetros de deformabilidade iniciais (Tabela 4.1).
Os menores deslocamentos horizontais verificados a meio vão e no pé da cortina, são exigidos pela
solução alterada, onde o módulo de deformabilidade é superior face à solução inicial (Figura 4.17 a)).
Por sua vez, os assentamentos superficiais representados na Figura 4.17 b) e e) revelam que o valor
máximo é atingido nos solos com menor rigidez, estando de acordo com os maiores deslocamentos
horizontais verificados. Para uma melhor compreensão dos resultados anteriormente descritos, são
apresentados na Figura 4.17 e) os assentamentos superficiais em função da distância à cortina em escala
logarítmica.
Assim, no que se refere, aos movimentos de terras induzidos pela escavação, apresentados na Figura
4.17 a), b) e e), verifica-se que quanto menor for o módulo de deformabilidade do solo, representado
pela solução inicial, maiores serão os deslocamentos horizontais verificados, e consequentemente os
assentamentos à superfície. Estes resultados estão de acordo com o esperado, uma vez que os impulsos
gerados por uma massa de solo são maiores para um solo com um módulo de deformabilidade menor.
Desta forma, maiores módulos de deformabilidade nas fases de escavação, resultam numa menor
descompressão por parte deste, levando à verificação de deslocamentos menores.
Os diagramas de momentos fletores demonstram pequenas variações ao longo da escavação, bem como
uma estrutura semelhante em ambos os cenários considerados (Figura 4.17 c)). Contudo, em certas fases
de escavação a solução alterada, apresenta uma menor mobilização de esforços, pelo que é nessa
situação que se geram menores pressões de terras aplicadas na cortina.
Por fim, é apresentada a variação do esforço axial ao longo da cortina, onde não são observadas
diferenças significativas entre os diferentes cenários considerados (Figura 4.17 d)).

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Figura 4.17: Evolução do Comportamento de Variáveis em Função do Módulo de Deformabilidade


a) Deslocamentos Horizontais; b) Assentamentos superficiais (Escala linear); c) Momentos fletores mobilizados
na cortina; d) Esforços axiais mobilizados na cortina; e) Assentamentos superficiais (Escala logarítmica)

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4.2.2 Influência do Pré-esforço nas Ancoragens


A influência do pré-esforço no comportamento da cortina ilustrada na Figura 4.18, consiste num estudo
de carácter comparativo para duas cargas distintas de pré-esforço. Estes valores dizem respeito à solução
inicialmente considerada durante a modelação da estrutura, correspondente a uma carga de 600 kN, e
uma solução onde a carga considerada corresponde a metade do valor de pré-esforço inicialmente
considerado.
Na Figura 4.18 a) e 4.18 b), são apresentados os movimentos do solo, referentes ao deslocamento
horizontal e assentamentos superficiais, em função do nível de pré-esforço. Como seria de esperar o pré-
esforço é um parâmetro que tem influência significativa nos movimentos do solo. Ao ser aplicado um
menor pré-esforço nas ancoragens, verifica-se um aumento significativo dos deslocamentos horizontais
no topo da cortina, tendendo a dirigir-se para o interior da escavação. Contudo, contrariamente aos
deslocamentos verificados no topo da cortina, à medida que a profundidade aumenta é possível observar
uma diminuição da variação dos deslocamentos em função do pré-esforço aplicado, resultando, já na
base de escavação, numa uniformização dos deslocamentos verificados.
Pela análise da Figura 4.18 b) e como seria de prever os deslocamentos horizontais estão em direta
consonância com os assentamentos superficiais, apresentando um comportamento semelhante. Assim,
verifica-se um aumento dos assentamentos superficiais quando são aplicadas cargas de pré-esforço
menores. O comportamento dos assentamentos em função do nível de pré-esforço só é influenciado, até
aproximadamente 20m de distância à parede, sendo que a partir deste valor o pré-esforço deixa de ter
efeito. Relativamente ao assentamento máximo, este ocorre junto da cortina tal como é próprio de uma
cortina multi-ancorada.
No caso dos momentos fletores, a análise da Figura 4.18 c), demostra que a solução alterada, ou seja,
considerando um pré-esforço menor, apresenta uma menor mobilização de esforços.
Para finalizar, é possível concluir, pela observação da Figura 4.18 d), que quanto menor o pré-esforço
aplicado nas ancoragens menor será o esforço axial nos pontos de instalação de ancoragens.

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Figura 4.18: Evolução do Comportamento de Variáveis em Função Pré-esforço Aplicado


a) Deslocamentos Horizontais; b) Assentamentos superficiais (Escala linear); c) Momentos fletores mobilizados
na cortina; d) Esforços axiais mobilizados na cortina; e) Assentamentos superficiais (Escala logarítmica)

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4.2.3 Influência da Rigidez da Cortina


O aumento da espessura de uma parede resulta no consequente aumento da sua rigidez. Desta forma, o
estudo da influência da rigidez da cortina no comportamento da estrutura de suporte, teve por base o
cálculo numérico de diferentes espessuras. Para avaliar a importância da rigidez, e uma vez que a
espessura da cortina inicial, considerada para a respetiva modelação, corresponde a 0,40 m, foram
considerados dois cenários alterados, nomeadamente uma parede com uma espessura de 0,60 m e outra
com uma espessura equivalente a 0,80 m.
No que diz respeito, às deformações do maciço, a Figura 4.19 a) b) e e) demonstra que o aumento da
rigidez da cortina gera uma diminuição dos deslocamentos horizontais, e consequentemente diminuição
dos deslocamentos superficiais da cortina. De facto, cortinas com maior rigidez tendem a sofrer menores
deslocamentos a meio vão, o que resulta numa menor rotação em torno do primeiro nível de ancoragens.
Tal, provoca progressivamente maiores deslocamentos horizontais no topo da cortina, à medida que a
rigidez aumenta. No entanto, o aumento da rigidez não implica necessariamente uma diminuição do
assentamento superficial na face da cortina, tal como demonstrado na Figura 4.19 b) e e) os
assentamentos a esta distância à cortina são semelhantes para os três casos considerados. Um outro
aspeto que se pode constatar pela análise da Figura 4.19 a) referente à deformação da cortina que
apresenta uma menor espessura, é que devido à sua elevada flexibilidade, esta tende a fletir nos pontos
de apoios. Este aspeto não é verificável nos restantes cenários considerados. Contudo, esta variação
apresenta um impacto praticamente desprezável no comportamento da escavação. A presente conclusão
permite justificar a reduzida espessura característica das paredes do tipo Berlim.
Comparando agora os diagramas de momentos fletores, verifica-se uma maior mobilização dos
momentos na cortina mais rígida (Figura 4.19 c)).
Por último, são apresentados na Figura 4.19 d) os esforços axiais inerentes a cada cenário considerado,
sendo possível constatar que o aumento da rigidez provoca uma ligeira diminuição dos mesmos.

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Figura 4.19: Evolução do Comportamento de Variáveis em Função da Rigidez da Cortina


a) Deslocamentos Horizontais; b) Assentamentos superficiais (Escala linear); c) Momentos fletores mobilizados
na cortina; d) Esforços axiais mobilizados na cortina; e) Assentamentos superficiais (Escala logarítmica)

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4.3 Solução Alternativa: Parede de Estacas de Betão


Na presente secção é proposta uma solução alternativa para a implementação da Parede Tipo Berlim
definitiva, apresentada na secção 4.1. Esta solução, designa-se por cortina de estacas ancoradas. Para
tal, foram consideradas estacas são de betão, com um diâmetro correspondente a 800 mm e um
afastamento de 1m entre si.
No sentido de comparar o desempenho estrutural entre a solução inicial e a solução alternativa,
considerou-se relevante analisar os respetivos movimentos do solo, bem como os esforços mobilizados,
pela implementação de cada uma destas soluções, na última fase de escavação.

4.3.1 Descrição da Solução


Para a modelação da solução de Cortina de Estacas Ancoradas, recorreu-se, tal como para a análise da
solução inicial, ao programa computacional PLAXIS 2D. Considerou-se novamente o corte 2-2
referente à contenção a Sul.
Para a caracterização do modelo apenas foram alterados os parâmetros do elemento plate, referentes à
estrutura de contenção. Neste caso, estes encontram-se associados às características de uma cortina de
estacas ancorada. Além disso, às características associadas à geometria do modelo, ao cenário
geotécnico, bem como aos parâmetros e aos níveis das ancoragens, foram mantidas tal como na solução
inicial (Secção 4.1).
De seguida, são demonstrados os parâmetros necessários para a simulação da cortina de estacas, na qual
foram utilizadas as Equações (4.1) e (4.2): (Betão C30/37: E=33 GPa; γ=25 kN/m3; ν=0,2).

𝜋 × 𝑑2
𝐴𝑒𝑠𝑡𝑎𝑐𝑎 = (4. 1)
4
𝜋 × 𝑑4
𝐼𝑒𝑠𝑡𝑎𝑐𝑎 = (4. 2)
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Rigidez Axial por metro (EA/m) = 1,659 × 107 𝑘𝑁/𝑚


Rigidez à Flexão por metro (EI/m) = 663504 𝑘𝑁. 𝑚2 /𝑚
Peso por metro (w) = 12,57 𝑘𝑁/𝑚/𝑚

Por último, é importante demonstrar o faseamento construtivo adotado na simulação da cortina de


estacas de betão (Tabela 4.6).
Tabela 4.6: Faseamento Construtivo da Solução Alternativa

Fase 1 Aplicação da sobrecarga de 10 𝑘𝑁/𝑚²

Fase 2 Ativação da cortina de estacas

Fase 3 Escavação do 1º nível correspondendo a uma altura de escavação de 3,55 m

Colocação das ancoragens a uma cota de -1,85 m e aplicação do pré-esforço da


Fase 4
ordem dos 600 kN

Fase 5 Escavação do 2º nível correspondendo a uma altura de escavação de 4,05 m

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

Colocação das ancoragens a uma cota de -5,8 m e aplicação do pré-esforço da


Fase 6
ordem dos 600 kN

Fase 8 Escavação do 3º nível correspondendo a uma altura de escavação de 3,00 m

Colocação das ancoragens a uma cota de -9,55 m e aplicação do pré-esforço da


Fase 9
ordem dos 600 kN

Fase 10 Escavação do 4º nível correspondendo a uma altura de escavação de 3,95 m

Colocação das ancoragens a uma cota de -12,55 m e aplicação do pré-esforço


Fase 11
da ordem dos 600 kN

4.3.2 Resultados da Modelação


Os resultados obtidos pela modelação da solução alternativa permitiram verificar que esta apresenta um
melhor comportamento estrutural face à solução inicial, não só devido à redução dos deslocamentos da
estrutura, como também, dado apresentar um melhor comportamento face às condicionantes da obra. Os
menores movimentos do solo, deslocamentos horizontais e assentamentos superficiais, assim como os
maiores esforços mobilizados pela estrutura na última fase de escavação, podem ser facilmente
sustentados tanto pelo aumento da rigidez axial, como também pelo aumento da rigidez à flexão da
estrutura em análise (Figura 4.20).
A análise da Figura 4.20 a), representativa dos deslocamentos horizontais, demonstra que no topo da
cortina de estacas de betão o deslocamento é aproximadamente nulo, aumentando progressivamente até
atingir o seu deslocamento máximo de 6,15 mm a meio vão da cortina. A partir dos 4,0 metros de
profundidade, a geometria dos deslocamentos verificados nas duas estruturas é muito similar.
Como seria de prever, a diminuição dos deslocamentos horizontais, provocaria, consequentemente uma
diminuição dos assentamentos superficiais, atingindo um valor máximo na ordem dos 5,5 mm (Figura
4.20 b)). Para uma melhor compreensão dos resultados anteriormente descritos, são apresentados na
Figura 4.20 e) os assentamentos superficiais em função da distância à cortina em escala logarítmica.
Na Figura 4.20 c) exibe um gráfico que reúne os momentos fletores relativos às duas estruturas em
análise. De acordo com o gráfico apresentado, pode verificar-se a elevada variabilidade dos esforços em
questão no desenvolvimento em profundidade da cortina. A predominância dos momentos fletores
positivos em profundidade na cortina torna-se percetível e evidente, provocando trações no lado
direcionado para o interior da escavação. O momento máximo mobilizado pela cortina da solução de
estacas de betão, na última fase de escavação, corresponde a um valor positivo na ordem dos 164,0
kN.m/m.
Por último, são apresentados os esforços axiais ao longo da cortina, Figura 4.20 d). Pela observação do
gráfico, e como verificado na parede tipo Berlim definitiva, o aumento mais significativo do esforço
axial ocorre no momento em que se aplica o pré-esforço na ancoragem, atingindo o seu esforço máximo
na base de escavação com um valor de 555 kN/m.

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

Figura 4.20: Comparação do Comportamento de Variáveis pela Implementação de uma Cortina do tipo Berlim
face a uma Cortina de Estacas de Betão
a) Deslocamentos Horizontais; b) Assentamentos superficiais( Escala linear); c) Momentos fletores mobilizados
na cortina; d) Esforços axiais mobilizados na cortina; e)Assentamento superficiais (Escala logarítmica)

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

5.
CONCLUSÕES E DESENVOLVIMENTOS
FUTUROS

5.1 Conclusões
O estudo desenvolvido teve como principal propósito, a modelação de uma estrutura de contenção com
pisos enterrados, em meio urbano analisando todos os aspetos inerentes à realização da mesma, com o
objetivo de contribuir para uma melhor compreensão do tema, no contexto da área de geotecnia. No
âmbito desta dissertação foi ainda desenvolvido um estudo paramétrico, bem como uma proposta de
solução alternativa, de forma a comparar o desempenho da mesma, com o da parede do tipo de Berlim
implementada.
Os principais objetivos definidos no contexto da dissertação foram atingidos. A concretização dos
objetivos propostos exigiu, numa fase inicial, uma extensa revisão de contributos teóricos presentes na
literatura existente a cerca do tema em estudo. Esta fase permitiu desenvolver um modelo conceptual a
cerca das principais temáticas em análise, nomeadamente dos diversos tipos de estruturas de contenção
e respetivo propósito, de diferentes sistemas de suporte. Bem como das cortinas multi-ancoradas e das
paredes do tipo Berlim.
De seguida, realizou-se a caracterização do caso de estudo analisado, para a qual foi necessário
primeiramente proceder-se à recolha de dados inerentes à obra, nomeadamente a memória descritiva do
projeto. O facto de a obra já estar próxima da fase de conclusão, resultou na impossibilidade de observar
o desenvolvimento da sua realização. Os dados mencionados foram fornecidos pela empresa Sopsec,
S.A., tendo sido cuidadosamente analisados.
Seguidamente, procedeu-se à modelação numérica de uma parte da estrutura de contenção analisada no
âmbito do projeto, nomeadamente o corte 2-2, apresentado em detalhe no Capítulo 4. Adicionalmente,
de forma a complementar o estudo realizado, procedeu-se ainda ao desenvolvimento de um estudo
paramétrico da solução adotada, assim como à apresentação de uma proposta alternativa através da
implementação de uma parede de estacas de betão.
A modelação numérica da estrutura de contenção analisada foi desenvolvida com recurso ao Software
PLAXIS. Este permite recriar de forma aproximada o comportamento mecânico do solo e da estrutura,
no sentido de ser posteriormente desenvolvida uma análise da interação solo-estrutura. Este foi utilizado,

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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto

com a finalidade de modelar a estrutura em análise através da simulação da técnica de uma parede do
tipo Berlim.
Os resultados de modelação obtidos permitiram concluir, que a estrutura não está sujeita a
deslocamentos significativos em nenhuma das fases de construção. Consequentemente, os
assentamentos verificados à superfície não têm um impacto significativo nos edifícios adjacentes. O
estrato com maior influência nas deformações horizontais da cortina é o primeiro situado desde a cota 0
até 3,25, correspondente ao aterro. Esta conclusão, pode ser facilmente justificada pelo facto deste tipo
de solo apresentar características mecânicas mais débeis. Em suma, os deslocamentos horizontais da
cortina e as deformações horizontais do solo, apesar de representam fatores críticos numa obra,
apresentaram um comportamento satisfatório que não condicionou a estrutura nem a sua vizinhança.
Infelizmente, o Plano de Instrumentação da Obra não estava disponível, o que impossibilitou a
comparação entre os resultados obtidos e os resultados observados. A utilização de parâmetros
geotécnicos diferentes dos reais, derivada da incerteza associada à determinação dos mesmos, teve um
impacto nos resultados obtidos. Contudo, o projetista da obra confirmou que no cenário real os
deslocamentos verificados não foram significativos, conforme obtido na modelação.
Ainda assim, verificou-se a existência de algumas limitações inerentes à utilização do Software
PLAXIS. Este, tal como referido anteriormente, não tem em consideração o efeito de arco, e os
respetivos deslocamentos gerados pelas banquetas de solo, utilizadas durante as fases de aplicação de
painéis primários. Tal limitação resulta na obtenção de um cenário de modelação menos verossímil face
à situação real.
De seguida, através do estudo paramétrico desenvolvido foi analisado o impacto que parâmetros como
o módulo de deformabilidade, o pré-esforço nas ancoragens e os esforços axiais na cortina têm na
evolução dos movimentos de terras e dos esforços mobilizados na cortina ao longo das sucessivas fases
de escavação. Em consequência, a execução de um estudo desta natureza permite que a empresa
responsável identifique os principais fatores em que deve investir, de forma a reduzir os custos e
aumentar a sua eficiência. Isto é, verificando-se que o aumento do módulo de deformabilidade do solo
permite reduzir significativamente os deslocamentos da cortina, então talvez seja conveniente investir
numa melhor caracterização geotécnica que permita obter parâmetros de solo menos conservativos.
Dependendo da obra em causa, o investimento na caracterização geotecnia poderá ser menor que o
investimento numa solução mais robusta (por exemplo, com uma cortina de maior espessura) de forma
a conseguir a mesma redução dos deslocamentos.
A concretização de uma solução alternativa como uma parede de estacas de betão demonstrou que a
utilização deste método de simulação provoca menores movimentos do solo, nomeadamente
deslocamentos horizontais e assentamentos superficiais. Adicionalmente, esta solução apresenta ainda
maiores esforços na estrutura na última fase de escavação, face à solução inicial da parede de tipo
Berlim.

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5.2 Desenvolvimentos Futuros


De seguida, são apresentados alguns aspetos passíveis de serem desenvolvidos futuramente, no sentido
de complementar a presente dissertação acerca de estruturas de contenção em edifícios com pisos
enterrados num meio urbano.
 Modelação da estrutura em estudo num programa 3D capaz de simular o efeito de arco, de forma
a avaliar o seu impacto no comportamento e deformação da cortina e no meio envolvente.
 Desenvolvimento de um estudo paramétrico mais abrangente e detalhado, com o objetivo de
avaliar um maior número de parâmetros geotécnicos e retirar conclusões passiveis de ser
consideradas em cenários semelhantes.
 Modelação dos edifícios adjacentes à escavação, com recurso a softwares convenientes, no
sentido de desenvolver uma análise de risco face a efeitos que possam ser originados pelos
movimentos de terras provenientes da escavação. Deste modo, podem ser adotadas medidas
preventivas, com o propósito que reduzir o fator de incerteza.
 Desenvolver uma análise sísmica da estrutura modelada, de forma a analisar o seu desempenho
quando sujeita a elevadas cargas dinâmicas e movimentos aleatórios em todas as direções, que
podem originar assentamentos ou danos na estrutura.

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