Contenções e Ancoragens
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JUNHO DE 2019
MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL 2018/2019
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
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Reproduções parciais deste documento serão autorizadas na condição que seja mencionado
o Autor e feita referência a Mestrado Integrado em Engenharia Civil - 2014/2015 -
Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto,
Porto, Portugal, 2015.
Este documento foi produzido a partir de versão eletrónica fornecida pelo respetivo Autor.
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
AGRADECIMENTOS
A presente dissertação não poderia ser realizada sem a ajuda da minha família e amigos, aos quais
expresso os meus profundos agradecimentos.
Em primeiro lugar, quero agradecer à minha mãe, aos meus avós e à Francisca, pela sua presença
constante na minha vida, pelo apoio incondicional nos momentos cruciais, que me tem ajudado a
alcançar os meus objetivos pessoais com sucesso.
Em segundo lugar, quero agradecer à minha orientadora na FEUP, professora Sara Rios, pelo seu
interesse, contribuição e partilha de conhecimento essencial na concretização do projeto realizado.
Ao meu orientador na SOPSEC, Eng.º Marco Duarte, pela sua disponibilidade e recetividade, no sentido
de esclarecer as minhas dúvidas e me dar concelhos construtivos.
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
RESUMO
A presente dissertação incide no projeto de construção de um parque de estacionamento situado na Zona
Ribeirinha da cidade de Vila Nova de Gaia, atualmente na fase final de conclusão. O caso de estudo real
abordado consiste numa parede de contenção flexível no edifício com pisos enterrados, para a qual foi
adotado um processo construtivo de Parede do tipo Berlim definitiva. A contenção deste edifício propõe
a aplicação de ancoragens como sistema de suporte da estrutura. A solução implementada nesta obra,
realizada num solo residual do granito do Porto, foi influenciada por constrangimentos do local e da
altura enterrada da própria parede.
O crescimento exponencial do turismo e fluxo populacional, verificados ao longo dos últimos anos,
neste local, tem se vindo a traduzir no surgimento de novos edifícios e infraestruturas na área
metropolitana do Porto. Pelo que, o caso de estudo em meio urbano tratado no contexto do presente
trabalho e os ensinamentos retirados deste estudo se podem aplicar a obras semelhantes na região.
O principal propósito do presente estudo incide na modelação numérica de parte da solução de contenção
implementada, no sentido de compreender e analisar o comportamento da estrutura durante as sucessivas
fases de escavação. Desta forma, considerou-se o impacto dos movimentos de terras, bem como os
deslocamento e esforços verificados na cortina. O programa de elementos finitos PLAXIS 2D foi
utilizado como instrumento de modelação.
O desenvolvimento de um estudo paramétrico, permite ainda avaliar e aferir os efeitos provocados por
diferentes variáveis. Os fatores considerados mais relevantes para o desempenho da estrutura, e cujo
efeito foi utilizado para fins de análise consistem no módulo de deformabilidade do solo suportado, no
pré-esforço dos vários níveis de ancoragens e na espessura da parede.
Por fim, foi apresentada uma solução alternativa, onde é proposta a implementação de uma parede de
estacas de betão, com a finalidade de averiguar se a solução de contenção executada foi a mais adequada.
Desta forma, procede-se à análise do comportamento da estrutura em comparação com a solução inicial,
implementada no contexto real da obra.
Por último, apresentam-se algumas considerações finais e sugerem-se alguns aspetos passíveis de serem
desenvolvidos futuramente como complemento do presente estudo.
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ABSTRACT
The present dissertation focuses on the construction project of a car park located in Vila Nova de Gaia,
at Douro Riverside, currently in the final construction phase. The case study consists on a flexible
retaining wall on a building with basements, for which a permanent Berlin-type wall was built. The
retaining wall for this building has used anchors as the structure support system. This work was carried
out in a residual soil of Porto granite, and it was influenced by site constraints and the wall’s embedded
height.
The exponential increase of tourism and population over the last few years has been the major trigger
for the development of new projects in the Porto metropolitan area. In that sense, the urban context of
the case study treated in the scope of the present work and the knowledge taken from the performed
analysis can be applied to other similar projects of the region.
The main aim of the present study consisted on the numerical modelling of the implemented retaining
structure, in order to understand and analyze its behavior during the successive stages of excavation.
Therefore, the impact of the earth movements, as well as the displacements and stresses of the wall were
carefully analyzed. The software PLAXIS 2D for finite elements program analysis was used as a
modeling tool.
The development of a parametric study also allowed the evaluation and measurement of the effects
caused by different variables. The factors that were considered relevant to the performance of the
structure, were the supported soil, deformability modulus, the pre-stress of each anchor level and the
thickness of the wall.
In addition, an alternative solution for the retaining structure was presented, namely a concrete pile wall,
in order to enable the comparison between its performance and the implemented solution.
Finally, the last section presents some final considerations, as well as some examples and proposals of
future developments to complement the present study.
KEYWORDS: Excavations for buildings with basements, Multi-anchored walls, Berlin Wall,
Numerical Modelling, Concrete pile wall
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ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS………………………………………………………………………………...................i
RESUMO………………………………………………………………………………………………………....iii
ABSTRACT…………………………………………………………………………………………….………...v
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1
1.1 Enquadramento Geral ....................................................................................................... 1
1.2 Objetivos da Dissertação ................................................................................................. 2
1.3 Estrutura da Dissertação.................................................................................................. 2
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ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 2.5: Evolução do Estado de Tensão em Elementos de Solo Suportado por Cortina Ancorada 13
Figura 2.6: Diagramas de Pressões Aparentes e Correspondentes Esforços nas Escoras ................ 14
Figura 2.13: Aplicação de Painéis de forma Alternada durante Construção de Parede tipo Berlim
Definitiva ................................................................................................................................................ 23
Figura 2.14: Processo Construtivo das Paredes de Contenção Tipo Berlim Definitivas ...................... 23
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Figura 4.6: Comparação entre a Rigidez à Flexão dos Painéis de Betão Armado e dos Perfis Metálicos
Verticais ................................................................................................................................................. 50
Figura 4.7: Deformada da Malha de Elementos Finito ......................................................................... 51
Figura 4.16: Esforços Axiais Mobilizados na Cortina na Ultima Fase de Escavação ........................... 56
Figura 4.20: Comparação do Comportamento de Variáveis pela Implementação de uma Cortina do tipo
Berlim face a uma Cortina de Estacas de Betão .................................................................................. 65
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ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 2.3: Descrição das Fases de Construção de Paredes do tipo Berlim Provisórias.................... 26
Tabela 2.4: Vantagens e Desvantagens conferidas pela Aplicação de Paredes do Tipo Berlim ......... 27
Tabela 3.1: Parâmetros do Solo nas Zonas Geotécnicas Identificadas no Local da Obra .................. 33
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Acrónimos
Alfabeto Latino
E - Módulo de Deformabilidade
EI - Rigidez de flexão
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Alfabeto Grego
𝜎1 − 𝜎3 - Tensão Deviatórica
𝛿3 - Deformação final da estrutura, no caso de ser aplicado pré-esforço nas ancoragens
𝛿3𝐴 - Deformação final da estrutura, no caso de não ser aplicado pré-esforço nas ancoragens
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1.
INTRODUÇÃO
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diversos edifícios e construções circundantes, tais como locais de restauração, alojamento, atrações
históricas, entre outros.
Estas condicionantes aliadas ao facto de uma obra de um parque de estacionamento exigir uma
intervenção no subsolo, assim como o desenvolvimento de atividades e utilização do mesmo, obrigaram
a empresa responsável pelo projeto do parque de estacionamento do centro cultural de Vila Nova de
Gaia, a garantir a segurança da estrutura proposta. Esta responsabilidade foi delegada á empresa de
consultoria especializada SOPSEC, S.A., atuante desde 1988 no setor da construção em diversos
domínios, tais como consultoria, elaboração de projetos, gestão e fiscalização de obras, e diferentes
etapas e fases do projeto.
A obra definida com elemento de estudo, no âmbito da presente dissertação, está, neste momento, em
fase de implementação.
O desenvolvimento do presente trabalho consistiu numa análise detalhada da revisão bibliográfica
existente acerca de temas relevantes no contexto do problema, na caracterização do caso de estudo e nas
principais características e pressupostos inerentes ao mesmo, na apresentação de uma proposta de
solução, bem como de uma proposta alternativa e respetivos resultados.
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2.
REVISÃO DE LITERATURA
A presente secção incide na literatura existente de conceitos relevantes para a execução do projeto.
Durante este capítulo serão abordados os conceitos inerentes a estruturas de contenção, sistemas de
suporte, cortinas multi-ancoradas e paredes do tipo Berlim.
2.1.1 Introdução
Em geral, um problema geotécnico pode envolver grandes deformações, descontinuidades e uma
complexa evolução do comportamento e impulsos do solo (Oetomo, Vincens et al. 2016). Uma estrutura
de suporte, também conhecida como estrutura de contenção visa reter o solo, rocha, aterro de
preenchimento e/ou água. A principal função destas estruturas consiste na separação do terreno a
diferentes cotas, de forma a evitar roturas causadas pelo peso próprio do maciço ou por carregamentos
externos. Esta confere o suporte de um terreno ou material, caso o talude apresente uma inclinação
superior aquela que este assumiria caso a mesma não existisse.
A escolha da estrutura de suporte adequada não depende somente das condições do solo, como também
de fatores económicos e temporais associados à natureza e âmbito do projeto, tais como prazos e
orçamento disponível. A segurança e funcionalidade podem ser alcançadas pelo aumento das margens
e nível de segurança, através da minimização de deformações e probabilidade de rotura. Os fatores
económicos do projeto requerem uma comparação entre os custos associados ao aumento da segurança
e as potenciais perdas inerentes a deficiências no comportamento ou rotura da estrutura. Desta forma, é
necessário analisar e identificar uma solução que satisfaça todos os fatores técnicos e económicos e que
preencha os critérios de segurança.
O Eurocódigo 7 em Portugal subdivide as estruturas de suporte em três tipos – muros de gravidade,
cortinas e estruturas de suporte compósitas (IPQ, 2010)
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não sofrem deformações significativas, independentemente da grandeza dos impulsos do solo com
origem no tardoz do muro. Os muros de gravidade de betão com espessura constante ou variável, os
muros de betão armado com sapata, ou os muros de contrafortes, são alguns exemplos de estruturas de
suporte rígidas.
2.1.3 Cortinas
As estruturas de suporte flexíveis, também designadas por cortinas ou paredes, caracterizam-se por
apresentar uma espessura relativamente reduzida de aço, betão armado ou madeira, suportadas por
ancoragens, escoras ou por impulsos passivos do solo. Desta forma, as deformações geradas pelos
impulsos do solo condicionam as distribuições dos próprios impulsos, esforços transversos e momentos
fletores da estrutura. A principal característica destas estruturas é a flexibilidade. A sua resistência à
flexão desempenha uma função crucial para garantir o equilíbrio da escavação e evitar deslocamentos
na superfície, e consequentemente no suporte do material retido (Matos Fernandes, 1983).
Contrariamente aos muros de gravidade, nas cortinas o peso próprio não tem impacto na contenção do
terreno. Por consequência, quando sujeitas às mesmas ações, as cortinas apresentam momentos fletores
menores em comparação com os de uma estrutura de suporte rígida. No caso das cortinas, onde se
verifica uma maior interação solo-estrutura, as pressões na cortina têm maior liberdade de se
redistribuírem, e consequentemente é verificado maiores deslocamentos na mesma.
Existe uma extensa variedade de estruturas de suporte flexíveis. Estas estruturas diferem quanto ao tipo
de processo construtivo adotado, materiais constituintes e suporte utilizado. Os elementos de suporte de
uma cortina podem ser escoras ou ancoragens. As escoras são elementos de apoio da cortina colocados
do lado interior da escavação, funcionando à compressão. Geralmente, as escoras são compostas por
elementos metálicos apoiados nos dois lados da escavação, caracterizando-se pela sua elevada rigidez.
A utilização destes elementos não requer a utilização de terrenos adjacentes à escavação para a sua
colocação. Por sua vez, as ancoragens são instaladas na parte de trás da cortina, do lado do maciço,
trabalhando à tração. Habitualmente, as ancoragens são constituídas por elementos metálicos, de aço de
alta resistência, devidamente selados com calda de cimento no maciço adjacente. Estes apresentam uma
rigidez reduzida, pelo que de forma a controlar os movimentos induzidos pela escavação, estas devem
ser sempre pré-esforçadas, contrariamente ao que acontece com a utilização de escoras.
As estruturas de suporte flexíveis podem ser classificadas de acordo com o método de estabilidade
adotado, podendo ser subdividas em cortinas autoportantes, cortinas monoapoiadas, cortinas multi-
escoradas ou cortinas multi-ancoradas (Almeida e Sousa, 2007). No caso das cortinas autoportantes e
monoapoiadas, respetivamente, não existe, ou existe apenas um ponto de apoio no topo da base da
escavação. Desta forma, o equilíbrio da estrutura requer a mobilização de uma parte do impulso passivo
do lado da escavação. Finalmente, no caso das cortinas multi-escoradas e multi-ancoradas existem
diversos níveis de apoio com escoras ou ancoragens ao longo da escavação. A necessidade de enterrar
a cortina pode ser provocada pela necessidade de garantir a estabilidade externa da estrutura ou melhorar
as condições de apoio do seu pé. Na Figura 2.1 é apresentada uma ilustração da representação de cada
um dos diferentes tipos de cortina abordados.
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O apoio utilizado na aplicação de uma estrutura de contenção pode ser composto por escoramentos
metálicos, ou em alternativa, por ancoragens pré-esforçadas. A aplicação destes elementos surge da
necessidade de garantir a estabilidade vertical, devido à elevada flexibilidade inerente às cortinas. Desta
forma, os apoios utilizados pressionam a parede contra o terreno, limitando assim os seus movimentos.
A pressão que os elementos de apoio exercem na cortina depende de aspetos, tais como a interface
solo/estrutura, as cargas externas aplicadas e as características físicas do solo. Adicionalmente, as
soluções ancoradas podem ser complementadas por escoras metálicas nos cantos de escavação.
Na seleção do tipo de elemento de apoio a implementar - escoras ou ancoragens – é necessário ter em
considerações os seguintes aspetos (Pinto, 2008)
Custo previsto;
Profundidade de escavação;
Caraterísticas do terreno;
Tipo de solicitação e esforços atuantes;
Durabilidade das ancoragens e/ou escoramentos;
Carácter provisório ou definitivo das ancoragens e/ou escoramentos;
Espaço e condições da zona envolvente à escavação;
Equipamento disponível.
2.2.2 Ancoragens
Segundo Matos Fernandes (1990), as ancoragens são elementos estruturais capazes de transmitir uma
força de tração da estrutura principal ao terreno competente, situado no tardoz da estrutura. Esta força é
aplicada no sentido contrário às pressões de terras, resultando na compressão da parede contra o terreno,
e mobilizando, desta forma a sua resistência ao corte.
Assim, as ancoragens contribuem não só para a redução dos deslocamentos horizontais da estrutura de
contenção, geralmente verificados na zona superior da mesma, como também para a consequente
redução do assentamento do terreno no tardoz da estrutura.
Existem diversos tipos de ancoragens, que podem ser distinguidos pelos materiais e processo construtivo
utilizado. Contudo, no âmbito do presente estudo serão apenas abordadas as ancoragens pré-esforçadas.
Por sua vez, estas caracterizam-se por incluírem na sua constituição uma armadura em aço de elevada
resistência selado sob pressão com calda de cimento, em solos ou rochas.
Habitualmente, uma ancoragem compreende uma cabeça, um fuste e um bolbo de selagem, tal como
apresentado na Figura 2.3.
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A cabeça da ancoragem permite a fixação deste elemento ao maciço. Para tal, é necessária a aplicação
de um pré-esforço na cabeça. Esta fixação, realizada por via de um macaco hidráulico, requer a utilização
de uma placa de distribuição, ou em casos em que se verifiquem elevadas cargas de pré-esforço, blocos
de betão e/ou cintagem de aço, que confiram uma distribuição adequada da carga aplicada.
O fuste, por sua vez, corresponde ao comprimento livre da ancoragem e representa o troço de ligação
entre a cabeça da ancoragem e o bolbo de selagem. O seu interior é constituído pela armadura e o sistema
de injeção do elemento de suporte. O tipo de armadura mais comum, em Portugal, é o cabo formado por
diversos cordões de alta resistência, utilizado para cargas elevadas, habitualmente revestido por uma
manga em PVC ao longo do seu comprimento livre e desprotegido na zona correspondente ao bolbo de
selagem. Quanto ao sistema de injeção, este pode ser constituído por dois tubos em PVC, cujo propósito
consiste na reinjeção da calda de cimento a alta pressão, e consequente constituição do bolbo de selagem.
Finalmente, o bolbo de selagem é responsável por transmitir a carga ao terreno. Este encontra-se
localizado na ponta inferior do furo, fora da cunha ativa de rotura. A calda de cimento a elevada pressão
que o constitui é essencial, no sentido de preencher os vazios existentes no solo e garantir uma boa
ligação entre a extremidade da ancoragem e o terreno envolvente.
A constituição destes elementos torna complexa a sua abordagem, não só pelas tecnologias de execução
e medidas necessárias contra a corrosão, assim como, pela necessidade de conduzir diversos ensaios
para o seu dimensionamento. O comportamento e capacidade resistente de uma ancoragem é
determinado pelas características do terreno, resistência ao corte e fluência e técnicas construtivas. No
que se refere às técnicas construtivas, é necessário ter em consideração a tecnologia de furação utilizada,
o período de tempo em que o furo fica aberto, a técnica de injeção, assim como a qualidade da mão de
obra responsável pela aplicação destes elementos estruturais.
O processo construtivo das ancoragens pode variar segundo as suas características. Porém, segundo
Matos Fernandes (1990), geralmente, este apresenta as seguintes fases:
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Execução do furo, se necessário auxiliar o revestimento das paredes com tubos protetores;
Colocação da armadura sobre o eixo do furo;
Solidarização da armadura ao terreno ao longo do comprimento de selagem, através da
injeção sob pressão da calda de cimento;
Pré-esforço da armadura e sua blocagem na cabeça da ancoragem;
Preenchimento do furo correspondente ao comprimento livre, geralmente com calda de
cimento.
As ancoragens podem ser utilizadas em diversas estruturas de contenção flexíveis, tais como paredes
moldadas, paredes Tipo Berlim definitivas e provisórias, paredes de estacas moldadas e paredes de
estacas prancha. A utilização destes elementos de suporte em edifícios de pisos enterrados pode assumir
um carácter provisório, no caso do seu tempo de vida ser inferior a dois anos. Pelo contrário, as
ancoragens que possuem um carácter definitivo, apresentam um tempo de vida superior a dois anos.
Em conclusão, uma ancoragem deve resistir à carga aplicada, pelo que o seu dimensionamento requer
uma determinada inclinação e profundidade, de forma a estabelecer um compromisso económico entre
o nível de pré-esforço e a estabilização do terreno envolvente.
Na Tabela 2.1, são apresentadas as principais vantagens e desvantagens conferidas pelas ancoragens,
como alternativa face a outros sistemas de suporte.
Tabela 2.1: Vantagens e Desvantagens de Sistemas Ancorados
Vantagens Desvantagens
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2.2.3 Escoramentos
As soluções escoradas são um dos métodos mais antigos para o suporte de estruturas de contenção.
Normalmente, estes elementos são utilizados em escavações de ambiente urbano, caracterizadas por
valas de largura, profundidade e tempo de abertura reduzidos para instalação ou reparação de
infraestruturas (Figura 2.4).
Dependendo dos esforços atuantes, as escoras podem ser compostas por metal, betão, betão armado e
madeira, podendo em certos casos, ser pré-esforçadas. O pré-esforço nas escoras visa, para além de
reforçar as ligações entre as escoras e a parede, pelo aumento da rigidez do conjunto escorado, diminuir
os deslocamentos da estrutura de contenção, pela aplicação de cargas de pré-esforço de sentido contrário
aos impulsos de terras.
A aplicação dos escoramentos como suporte de contenções apresenta baixos custos de execução, dado
não exigir a contratação de mão de obra qualificada e possibilitar a reutilização de materiais. Contudo,
estes custos são aumentados pelo custo do próprio escoramento e pelo volume de mão-de-obra
necessário para a sua instalação. Em suma, a escavação escorada é significativamente lenta, devido ao
processo iterativo de aplicação dos diversos níveis de escoras. Quando comparadas com as ancoragens,
as escoras não exigem a invasão do subsolo vizinho. Assim, quando o terreno competente apresenta uma
elevada profundidade, as ancoragens tornam-se numa solução inviável.
Paralelamente, em escavações de elevada largura, a implementação desta solução, para o travamento de
faces opostas, deixa de ser eficaz, uma vez que a sua segurança em relação à encurvadura, passa a exigir
um complexo sistema de travamento das escoras. Assim, verifica-se uma significativa diminuição do
espaço da escavação, o que dificulta o processo construtivo, aumentando consequentemente os custos
da estrutura. Nestas circunstâncias, pode-se alternativamente recorrer a escoras inclinadas apoiadas na
base de escavação (Matos Fernandes, 1990).
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É importante salientar a importância do pré-esforço nas cortinas multi-ancoradas. A Figura 2.5 ilustra
ainda a deformação final na estrutura, no caso de não ser realizado pré-esforço 𝛿3𝐴 . Esta revela-se
significativamente maior e mais próxima da rotura.
Figura 2.5: Evolução do Estado de Tensão em Elementos de Solo Suportado por Cortina Ancorada
(Guerra, 2007)
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No entanto, a maior parte dos maciços é constituída por diversos estratos com diferentes propriedades
mecânicas, pelo que é aconselhável que o uso destes diagramas seja feito com uma certa criticidade,
pelo facto de se referirem essencialmente a maciços homogéneos não correspondendo por vezes aos
casos práticos reais.
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As cortinas ancoradas contínuas, tais como cortinas de estacas-pranchas, cortinas moldadas no terreno
de betão armado, entre outras, exigem que sejam consideradas as forças desenvolvidas na interface solo-
parede e forças de corte do lado ativo e passivo, no sentido de verificar o equilíbrio vertical da estrutura.
Desta forma, o equilíbrio vertical requer a mobilização da resultante da força vertical, tendo em
consideração o peso próprio da estrutura de contenção e das componentes verticais desenvolvidas por
via de forças verticais instaladas nas ancoragens. A estabilidade vertical de uma cortina ancorada
contínua é conferida pela Equação 2.1.
𝑁𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑊𝑝𝑎𝑟𝑒𝑑𝑒 + ∑ 𝐹𝑎𝑛𝑐𝑜𝑟𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠 ∗ 𝑠𝑖𝑛 𝛼 = 𝐹𝑏 + 𝐹𝑎𝐶 + 𝐹𝑎𝑃 ( 2.1)
Na Equação 2.1, Ntotal representa a força total vertical ascendente, Wparede constitui o peso da estrutura
de contenção, 𝛴𝐹𝑎𝑛𝑐𝑜𝑟𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠 × 𝑠𝑖𝑛𝛼 é a componente da força instalada nas ancoragens e Fb consiste na
força na base da estrutura de contenção. A força de corte do lado ativo e passivo são representadas por
FaC e FaP , respetivamente.
É relevante realçar, que mesmo quando os assentamentos verificados são muito reduzidos, as forças
tangenciais do lado passivo deste tipo de paredes se encontram direcionadas para cima, numa
percentagem significativa da resistência da interface. Adicionalmente, do lado “ativo” da parede a
resistência lateral não é totalmente mobilizada, mesmo quando esta está sujeita a assentamentos muito
elevados (Guerra, Fernandes et al. 2002).
Em estruturas de contenção do tipo Berlim definitivas não existe interface do lado “passivo”, visto não
existir parede abaixo de cada nível de escavação. Desta forma, o equilíbrio vertical deve ser assegurado
apenas pelos perfis e pela interface do lado “ativo” (Guerra, Fernandes et al. 2003). Assim, se as
dificuldades de mobilização de uma elevada percentagem da resistência ao corte na interface solo-parede
do lado “ativo” forem semelhantes às que se verificam em estruturas contínuas, os perfis terão de ser
dimensionados para cargas verticais bastante elevadas (Figura 2.9 (b)).
O equilíbrio vertical é verificado, a partir das forças axiais instaladas nos perfis e pelas forças de corte
instaladas na interface solo-parede do lado ativo, pela aplicação da Equação 2.2.
𝑁𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑊𝑝𝑎𝑟𝑒𝑑𝑒 + ∑ 𝐹𝑎𝑛𝑐𝑜𝑟𝑎𝑔𝑒𝑛𝑠 ∗ 𝑠𝑖𝑛 𝛼 = 𝑁𝑝𝑒𝑟𝑓𝑖𝑙 + 𝐹𝑎𝐶 (2.2)
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A aplicação do método dos elementos finitos permite o cálculo dos deslocamentos associados a uma
escavação, contudo a obtenção de um resultado minimamente fiável, depende da determinação de um
número significativo de parâmetros.
Os deslocamentos associados à escavação apresentam duas componentes fundamentais: os
deslocamentos verificados abaixo do nível da escavação e os deslocamentos que ocorreram acima do
mesmo nível. Os deslocamentos abaixo do nível da escavação dependem maioritariamente das
propriedades do solo, da altura enterrada, rigidez e condições de apoio do pé da cortina. Porém, os
deslocamentos acima do nível da escavação dependem das propriedades do maciço, contudo o fator de
maior influência é composto pelo sistema de suporte e pelo processo construtivo.
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Figura 2.11: Dependência dos Movimentos da Escavação em Relação á Carga e Distribuição dos Pré-Esforços
nas Ancoragens
(Matos Fernandes, 1990)
Em conclusão, tanto os deslocamentos abaixo da escavação como acima têm tendência a aumentar, no
caso de nas proximidades existirem estruturas que induzam tensões adicionais sobre o sistema de
suporte. Por outro lado, estes deslocamentos podem ser reduzidos se a largura e o desenvolvimento da
escavação forem reduzidos. Nestas circunstâncias o efeito de arco é essencial, de forma a redistribuir as
tensões instaladas no solo antes da escavação para as zonas não escavadas. Deste modo, as zonas onde
se verificam fenómenos de rotura são reduzidas.
Paralelamente, aos deslocamentos acima e abaixo do nível da escavação diretamente provenientes da
escavação em si, existem outros movimentos, tais como operações construtivas preparatórias, a
instalação da cortina, a demolição ou retirada de antigas fundações no maciço, variações do nível
freático, entre outros, que podem também ter um forte impacto, caso não sejam antecipadamente tidos
em consideração. Neste sentido, devem ser, por exemplo, elaborados estudos rigorosos do solo e das
fundações dos restantes edifícios
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2.4.1 Descrição
As paredes tipo Berlim foram introduzidas durante a construção do metropolitano de Berlim, atual
capital da Alemanha, no último ano do século XIX, antes da Primeira Guerra Mundial (Figura 2.12).
Desde então que este tipo de estruturas, constituídas por perfis metálicos e pranchas de madeiras, tem
sido muito utilizado em escavações profundas em meio urbano à volta do mundo. Em Portugal, as
paredes tipo Berlim são recorrentemente utilizadas para suporte de escavações urbanas (Guerra,
Fernandes et al. 2003).
Esta solução consiste numa estrutura de contenção flexível multi-apoiada. Estas estruturas são,
habitualmente, utilizadas em solos com boas características mecânicas e com uma significativa
componente coesiva. No entanto, em cenários em que se verifica a presença de um elevado nível freático,
esta solução torna-se inadequada, pelo que é importante identificar soluções alternativas, tais como as
estruturas de estacas-prancha.
De acordo com Guerra (2000), a aplicação de uma Parede do tipo Berlim envolve, numa fase inicial, a
instalação de perfis metálicos em furos verticais previamente realizados ao longo da periferia da
escavação. Estes perfis podem ser cravados ou instalados após a execução prévia de furos no solo.
A escavação é realizada por níveis, sendo que em cada nível são construídos de forma alternada os
painéis primários entre os perfis metálicos. De seguida, são desenvolvidos os painéis secundários. Uma
potencial alternativa aos painéis de betão armado, consiste na utilização de uma parede do tipo Berlim
provisória, que prevê a utilização de pranchas de madeira apoiadas nos perfis metálicos.
Devido à elevada deformabilidade apresentada pela parede durante a fase construtiva torna-se necessário
garantir um controlo eficaz dos deslocamentos do terreno suportado para assim a garantir a segurança
dos edifícios nas imediações da escavação. O controlo das deformações e da estabilidade da parede é
assegurado pela inclusão de ancoragens pré-esforçadas seladas no terreno ou de escoras metálicas,
apoiadas ou não em vigas metálicas horizontais.
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
Figura 2.13: Aplicação de Painéis de forma Alternada durante Construção de Parede tipo Berlim Definitiva
(Matos Fernandes, 2018)
Figura 2.14: Processo Construtivo das Paredes de Contenção Tipo Berlim Definitivas
(Guerra, 2007)
Segundo Guerra (2000), o processo é iniciado por um processo de furação do solo para posterior
instalação dos perfis metálicos. Para tal, deve ser realizada uma avaliação das características do solo,
necessária para a elaboração de um relatório-geotécnico. Os perfis metálicos, recorrentemente utilizados
em paredes do tipo Berlim, apresentam normalmente uma estrutura em forma de I, H ou U, também
sendo comum a colocação de perfis tubulares.
De seguida, é efetuada a colocação dos perfis. Esta, por sua vez, pode ser realizada de duas formas
distintas, por meio de uma cravação, onde os perfis metálicos são instalados no terreno através de uma
grua hidráulica ou um bate-estacas, em solos que apresentem características mecânicas razoáveis, ou
por meio de uma furação prévia, onde é utilizada uma máquina perfuradora com trado contínuo que
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
realiza os furos por rotação. Esta última opção permite reduzir os problemas associados a vibrações nos
edifícios envolventes à escavação, o que é bastante importante em meios urbanos.
Posteriormente, é realizada a selagem dos perfis no maciço. Este representa um aspeto importante na
estabilidade vertical da cortina. O comprimento de selagem na ordem dos 1,5 metros, depende das cargas
suportadas e das características mecânicas do maciço. De notar, que o espaço entre o perfil metálico e o
furo deve ser preenchido por um material incompressível, tal como betão pobre ou calda de cimento.
Estes materiais contribuem para uma redução dos deslocamentos e das deformações nas paredes do furo,
evitando também o risco de encurvadura do perfil e contribuindo para uma maior absorção dos esforços
verticais.
Seguidamente, a viga de coroamento, característica de paredes tipo Berlim definitivas é armada e
betonada in situ. Este elemento tem como objetivo unir todos os perfis para que estes possam funcionar
como um corpo rígido, contribuindo para a diminuição dos deslocamentos entre os elementos verticais
e os painéis de betão armado.
Na sequência do processo de construção das paredes do tipo Berlim definitivas, procede-se à escavação
de 1º nível, onde é necessário numa fase inicial construir os painéis de forma alternada. Para esta
construção recorre-se a duas banquetas adjacentes, uma de cada lado da escavação. Os painéis entre
banquetas designam-se por primários, sendo que os painéis resultantes da escavação destes, são
conhecidos por secundários. O comprimento dos painéis corresponde à distância entre duas secções dos
perfis metálicos, com uma altura correspondente ao pé-direito do edifício com piso enterrado.
A construção dos painéis primários inicia-se com a colocação das armaduras que deve ser acompanhada
por um apropriado amarramento aos varões de espera da viga de coroamento. De forma a garantir um
adequado comprimento de amarração das armaduras de ligação aos painéis dos níveis seguintes, deve
ser colocada uma “almofada de areia” na base dos painéis do nível anterior (Figura 2.15).
A cofragem dos painéis, para posterior betonagem, é executada com recurso a tábuas de madeira ou
elementos metálicos. O escoramento da cofragem deve garantir a segurança relativamente aos impulsos
gerados pelo betão e pelo terreno. A descofragem do painel é realizada quando as características
mecânicas do betão são suficientes para garantir o equilíbrio das pressões geradas pelo terreno.
De seguida, é escavado um furo para posterior colocação da armadura da ancoragem e selagem dos
cabos. Os furos das ancoragens são realizados diretamente nos painéis. É aconselhável que os painéis
terciários ou de canto sejam executados antes dos painéis secundários, sendo conveniente garantir
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
primeiro a segurança dessa zona sensível da escavação. A estabilidade dos painéis de canto, devido à
falta de espaço, é assegurada por elementos escorados. Para a execução dos painéis secundários repetem-
se o mesmo procedimento enunciado na realização dos painéis primários.
Depois de realizado o primeiro nível de escavação em ambas as paredes, procede-se à aplicação do
respetivo pré-esforço nas ancoragens.
Este processo é replicado para a execução dos níveis posteriores, até ser atingida a cota do projeto.
Por fim, concluído o último nível de escavação, procede-se então à realização da sapata de fundação da
parede. A execução deste elemento tem como função sustentar o peso próprio da estrutura de contenção,
impedindo que esta se afunde no terreno. Assim, numa fase inicial introduz-se a armadura da sapata nos
respetivos troços dos painéis primários, realizando de seguida a betonagem, e repetindo este
procedimento para a execução das sapatas dos troços dos painéis secundários.
Em síntese, as diferentes fases do projeto são definidas, conforme apresento na Tabela 2.2, e ilustradas
anteriormente nas Figuras 2.14 e 2.15.
Tabela 2.2: Descrição de Fases Apresentadas na Figura 2.15
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
Tabela 2.4: Vantagens e Desvantagens conferidas pela Aplicação de Paredes do Tipo Berlim
Parede
Tipo Vantagens Desvantagens
Berlim
Parede Economia a nível de custos nos Desempenho limitado para nível
Tipo processos construtivos freático elevado
Berlim Execução paralela da escavação e da Exigem solos com coesão para
definitivo estrutura de contenção permanecer sem suporte enquanto a
Recorre a técnicas, equipamentos e entivação é colocada
conhecimentos correntes, não Provocam descompressão do solo no
necessitando de pessoal nem tardoz da estrutura, originando
tecnologia especializada. assentamentos das fundações dos
Não exige grandes área de estaleiro edifícios vizinhos
ou acesso largos à obra A introdução dos perfis metálicos pode
Apresentam bom aproveitamento da provocar vibrações nos edifícios
área útil do edifício, devido à envolventes à escavação
reduzida espessura das paredes e Construção mais longa e com menores
estas serem betonadas contra o rendimentos diários em área
terreno, isto é, no limite do lote
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
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3.
CASO DE ESTUDO: PARQUE DE
ESTACIONAMENTO NO CENTRO
CULTURAL DE GAIA
3.1 Introdução
O presente capítulo destina-se à caracterização do caso de estudo da construção de um parque de
estacionamento no centro cultural de Gaia. Para o efeito, são descritos diversos componentes no âmbito
do estudo realizado. Ao longo do capítulo é elaborada uma apresentação e enquadramento da obra
analisada, uma descrição das principais condições e pressupostos associados à mesma, bem como uma
descrição das principais fases de execução da obra.
O caso de estudo abordado no âmbito do presente projeto consiste na construção de um novo parque de
estacionamento localizado no Centro Cultural de Gaia, na freguesia de Santa Marinha, no concelho de
Vila Nova de Gaia, com uma área total de 7980m2. Este local era ocupado pelos antigos armazéns da
Real Companhia Velha, limitados por arruamentos a Norte, Nascente e Sul e por uma propriedade
privada a poente. Em suma, o terreno escolhido para a concretização da obra é delimitado pela avenida
Ramos Pinto a Norte, pela rua Serpa pinto a Este e pela rua da Carvalhosa a Sul (Figura 3.1).
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
No início da obra, o terreno apresentava um desnível de 11 m descentes de Sul para Norte. A direção
Nascente–Poente incluía um arruamento interior, que subdividia o terreno em dois segmentos distintos.
O segmento a Norte era formado por antigos armazéns térreos. Por sua vez, o segmento a Sul encontrava-
se repartido em três zonas distintas, dado incluir um edifício na zona central da fachada Sul com dois
piso parcialmente enterrados e dois elevados em relação à Rua da Carvalhosa; um antigo armazém térreo
na extremidade Sul-Nascente, bem como um armazém térreo, constituído por uma estrutura porticada
de betão armado que garantia o suporte de uma cobertura em chapas de fibrocimento e madres metálicas,
do lado Nascente-Sul.
A responsabilidade pela execução do empreendimento mencionado está a cargo da “NOVOPCA
CONSTRUTORES ASSOCIADOS, S.A”. Porem o projeto de estabilidade ficou a cargo da empresa
“SOPSEC, S.A”.
No âmbito da construção do Parque de Estacionamento foi necessário proceder à demolição das
construções existentes no local. Contudo, foi necessário preservar as fachadas a Norte e a Nascente até
ao arruamento interior, um desmonte para posterior utilização de dois arcos em pedra na fachada Norte,
bem como as guarnições dos vãos do edifício a Sul. Adicionalmente, foi necessário proceder a um
rebaixamento da plataforma térrea do segmento a Sul. Ou seja, na interseção da Rua Serpa Pinto com a
Rua da Carvalhosa. Ainda assim, foi conduzida a recuperação das plataformas originais do segmento a
Norte, que haviam sido modificadas por sucessivos aterros no decorrer dos anos.
Os trabalhos de escavação desenvolvidos no local preveem a execução de três pisos enterrados com
recurso a uma estrutura de suporte. Pra tal, a solução adotada consistiu na aplicação de uma parede tipo
Berlim definitiva com vários níveis de ancoragens provisórias (Figura 3.2).
Em fases subsequentes de construção estas ancoragens serão substituídas pelas lajes dos pisos
constituintes do parque de estacionamento. As causas que estiveram na origem da seleção desta solução,
consistiram essencialmente, no cenário geológico-geotécnico do local, na consideração de aspetos que
poderiam apresentar implicações insatisfatórias para a vizinhança, bem como no nível freático no
terreno.
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
A elaboração do presente trabalho exigiu uma identificação das principais características e pressupostos
associados ao problema em análise. Para tal, foi necessário compreender os condicionalismos, bem
como os principais motivos que estiveram na origem da adoção da solução mencionada.
A fase de elaboração do projeto foi condicionada por um conjunto de condições impostas pela existência
de vizinhança, bem como pelo cenário geológico-geotécnico do local, tal como mencionado
anteriormente.
O Parque de Estacionamento projetado para a zona ribeirinha de Vila Nova de Gaia, foi afetado pela
densidade e consolidação urbana desta zona. A leitura inerente à densidade populacional neste local
pode ser feita atendendo à proximidade do local em relação ao Rio Douro. Como referido anteriormente,
este terreno está localizado numa zona envolvida por arruamentos públicos a Sul, Nascente e Norte e
por edifícios a Poente. Desta forma, os projetistas tiveram a necessidade de considerar, não só, a situação
atual das estruturas adjacentes ao local da obra, como também a proximidade destas, de modo a garantir
que a sua integridade estrutural não seria condicionada pela realização da obra.
No que diz respeito ao nível freático, considerou-se uma profundidade entre os 3,0 m e os 7,0 m. O facto
de o nível da água intercetar com a escavação, requereu um rebaixamento deste nível. Desta forma, as
pressões hidrostáticas, foram eliminadas através de bueiros em todas as paredes, que conduzirão as águas
freáticas para o lado interior com auxílio de telas geodrenantes, onde posteriormente foram recolhidas
por caldeiras. Será ainda de referir, que tanto as caldeiras como as paredes de contenção foram ocultadas,
através do revestimento por uma parede de alvenaria.
3.3.1 Cenário Geológico - Geotécnico
Do ponto de vista, geológico o terreno envolvido na construção da obra analisada é constituído por
rochas granitoides compostas por granito de grão médio de duas micas, também denominado por granito
do Porto. O estrato granítico está parcialmente coberto por uma franja de alteração importante e por
outro lado, por recobrimentos procedentes das camadas sobrejacentes, deslizadas e alteradas, assim
como por aterros e aluviões. A Figura 3.3, apresenta a carta geológica do concelho de Vila Nova de
Gaia. Nesta o local da obra encontra-se representado por uma circunferência de cor azul clara.
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
Paralelamente ao estudo preliminar da carta geológica de Vila Nova de Gaia, nomeadamente do local
da obra em questão, o estudo geológico-geotécnico efetuado consistiu ainda num conjunto de dez
sondagens de furação vertical. As dez sondagens foram acompanhadas de ensaios de penetração
dinâmica (SPT). Estas possibilitaram, por um lado, a recolha de amostras em profundidade,
posteriormente acondicionadas e analisadas macroscopicamente. Por outro lado, estas permitiram ainda
estimar propriedades do solo, tais como as suas características de resistência e deformabilidade. Para
tal, foram consideradas correlações com base na resistência que o maciço oferece à penetração.
A empresa “INDUBEL INDÚSTRIAS DE BETÃO S.A” assumiu a responsabilidade pela execução
destes ensaios, conduzidos nos locais indicados na Figura 3.4.
Os resultados provenientes das sondagens realizadas, evidenciaram que a formação geológica deve ser
definida à superfície como Aterros - Depósitos de Cobertura, dado apresentar uma espessura inferior a
4,3 m. O estrato de aterro revela padrões heterogéneos, sendo composto por materiais limos terrosos a
argilosos, contendo por vezes alguns níveis arenosos e numerosos blocos graníticos.
Por baixo das camadas de aterro, e de acordo com as sondagens S1 A, S1 B e S1 C, foram detetadas
camadas de aluviões, que apresentam uma espessura compreendida entre 5,90 m e 11,80 m. Este
material é constituído por materiais argilo-lodosos, de cor castanha a cinzenta, contendo passagens de
areias finas a médias. Obtiveram-se resultados do ensaio SPT muito fracos com um valor médio de 10
pancadas, que correspondem a solos de compacidade solta.
A formação granítica apresenta uma grande dispersão em termos de espessura, conforme demonstrado
pela obtenção de resultados a variar entre os 3,20 m e 11,80 m, segundo as sondagens S1A e S3D
respetivamente. Inicialmente, as sondagens indicaram um granito decomposto, formado por um saibro
arenoso fino a médio, argiloso. Progressivamente, na parte basal, este passou a um saibro mais grosseiro,
envolvendo alguns blocos graníticos e em alguns casos bastantes volumosos. Posteriormente, já no final
das sondagens, surge um granito alterado e fraturado no seio. Os ensaios SPT atingiram cerca de 60
pancadas, tendo sido necessário continuar as furações com carotagens.
Por motivos externos, não foi possível o acesso dos parâmetros dos solos obtidos nos ensaios realizados.
Assim, com base nos tipos de solo identificados no contexto do problema, foi necessário determinar os
parâmetros característicos destes solos. Segundo Topa Gomes (2008), estes parâmetros, correspondentes
ao peso volúmico, à coesão, ao ângulo de atrito e ao módulo de deformabilidade, podem ser obtidos por
intervalos de referência, por meio da Tabela 3.1.
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
Tabela 3.1: Parâmetros do Solo nas Zonas Geotécnicas Identificadas no Local da Obra
Zona Tipo de ɣ
c´(kN/m2) Φ' (º) E (MPa)
Geotécnicas Terreno (kN/m3)
Terra Vegetal-
ZG1 17-20 0-10 25-30 20-70
Areias
Granito
decomposto
ZG2 19-21 10-50 35-38 70-200
muito
compacto (W5)
Granito
decomposto a
ZG3 20-23 50-80 35-40 100-400
muito alterado
(W4-5)
Granito muito
ZG4 22-24 80-150 35-40 200-600
alterado (W4)
Com base nos resultados obtidos da campanha de prospeção, foram analisados três horizontes
geotécnicos, que permitem uma melhor visualização das camadas constituintes do solo.
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
A aplicação da estrutura de contenção periférica em betão armado, envolveu uma de escavação de cima
para baixo. Numa escavação desta natureza, as paredes de contenção são realizadas por níveis, com um
comprimento de 3,0m. Para tal, foi implementada uma introdução de forma alternada dos painéis. Este
cenário prevê que um nível superior de painéis primários seja betonado e ancorado antes da introdução
de painéis secundários. Contudo, durante a fase de introdução de painéis primários, as zonas destinadas
ao alojamento de painéis secundários são preenchidas por banquetas com uma largura mínima
correspondente à largura de escavação e uma inclinação de 2(v):3(h).
A escavação foi realizada de forma progressiva. Assim, em cada nível de ancoragem o solo foi escavado
até 1,0 metro abaixo deste. Este intervalo adicional visa assegurar que existe espaço suficiente para a
ocupação da armadura de espera. A betonagem dos painéis foi realizada contra o geodreno, aplicado
contra o terreno, previamente escavado.
As ancoragens existentes nos diversos alçados, têm um espaçamento de 3,0m e são constituídas por 5
cordões de 0,6”, de forma a acomodar um pré-esforço de 600 kN. O comprimento e inclinação
apresentam uma elevada variabilidade ao longo das diversas fases de escavação. Desta forma, estas
variáveis estão dependentes não só das condições de vizinhança, como também da selagem do bolbo em
terrenos competentes e estáveis. O comprimento mínimo de selagem encontra-se na ordem dos 6 metros.
De forma, a analisar as condições de amarração dos bolbos de selagem, foram realizados ensaios de
carga em zonas distintas dos alçados das paredes, depois de concluída a aplicação das ancoragens.
No que diz respeito aos perfis metálicos, os elementos responsáveis pelo projeto definiram que seriam
utilizados perfis HEB 140 localizados nos eixos das paredes, com afastamentos médios da ordem dos
3,0m, situados, normalmente, em cada extremidade dos painéis primários. O comprimento total dos
perfis é significativamente variável, estando diretamente dependente da geometria do alçado.
Relativamente ao comprimento de selagem destes elementos metálicos e de forma a garantir boa
capacidade resistente do estrato subjacente, considerou-se no mínimo uma selagem de 2,00m abaixo da
base de escavação.
Com o objetivo de simplificar a colocação das lajes dos pisos, a execução das estruturas de suporte, teve
em consideração a realização de ferros de espera, localizados na zona de colocação desses elementos.
No final da construção do Parque de Estacionamento, prevê-se que a estabilidade da parede seja
assegurada pela estrutura das lajes dos pisos enterrados. Este cenário, invalida a necessidade da presença
das ancoragens, podendo estas ser desativadas.
Em suma, conforme descrito no Capítulo 2, o faseamento construtivo de uma parede tipo Berlim
definitiva envolve a realização de oito fases distintas. De seguida, serão descritas e ilustradas as
principais fases percorridas durante a execução da obra.
Realização dos furos verticais, no eixo da parede de betão, seguindo-se a introdução dos
perfis metálicos verticais HEB 140 (Figura 3.8);
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
Execução dos ensaios de receção em função das propriedades dos solos, de forma a verificar
a eficácia das ancoragens face às cargas de dimensionamento;
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
Realização dos restantes níveis de painéis, até se atingir a cota de projeto, segundo a
metodologia indicada na fase anterior (Figura 3.11);
(a) Colocação da armadura e betonagem dos Painéis primários, com as respetivas banquetas intercalados entre
os primeiros; (b) Betonagem e ancoragem dos painéis primários, colocação da armadura nos painéis
secundários; (c) Betonagem e ancoragem dos painéis secundários (Sopsec, 2008)
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
3.4.3.2 Dimensionamento
De forma, a definir as diferentes soluções adotadas nos respetivos alçados, realizou-se o
dimensionamento e estabilidade global das estruturas de contenção. Devido ao carácter definitivo das
soluções utilizadas, foi necessário efetuar uma análise estática e uma análise pseudo-estática, segundo a
zona do país onde se insere a obra. Na Tabela 3.2, encontram-se ilustrados os valores do fator de
segurança introduzidos no cálculo estático e pseudo-estático, bem como o valor do coeficiente de
sismicidade, relativo a este último, em função da localização da obra (zona D) e obtido a partir do R.S.A
(Regulamento de Segurança e Ações para Estruturas de Edifícios e Pontes).
Tabela 3.2: Fatores de Segurança Utilizados no Cálculo Estático e Pseudo-Estático
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
pela Sopsec S.A., onde se variou o valor do atrito lateral limite unitário, conforme os estratos geológicos-
geotécnicos atravessados pelas selagens.
Concluído o dimensionamento de todas as estruturas de contenção, procedeu-se a uma simulação da
interação solo-estrutura, através do programa computacional, PLAXIS 2D, com o intuito de analisar a
estabilidade global das diversas estruturas de contenção
40
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
4.
MODELAÇÃO NUMÉRICA DE UMA
ESCAVAÇÃO TIPO BERLIM
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
Apesar de todas as secções diferirem quanto à sua geometria e solução construtiva, optou-se pela escolha
desta secção, dado esta constituir um caso de estudo convencional de uma estrutura de contenção do
Tipo Berlim definitiva com ancoragens provisórias. Desta forma, são apresentadas nas Figuras 4.2 e 4.3
as plantas do recinto de escavação, do alçado com orientação a sul e do corte 2-2 do respetivo alçado.
É, ainda relevante mencionar, que os outros cortes, relativos às restantes orientações, embora apresentem
diferentes características, a sua modelação envolveu a adoção de princípios semelhantes.
43
Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
4.1.2 Geometria
De forma a dar inicio à modelação do corte 2-2, com orientação a sul, foram definidas em primeiro lugar
as unidades e o número de nós de cada elemento finito. No sentido de determinar o número de nós mais
conveniente para abordar o problema, foi possível concluir através de um estudo realizado por Rios
(2007), que o tipo de elementos e número de pontos nodais não tem praticamente influência nos
deslocamentos da cortina. Desta forma, optou-se, conforme proposto por Carvalho (2013) e Garcia
(2014), por considerar elementos triangulares de 15 nós. Este valor permite a obtenção de resultados do
modelo mais precisos e refinado. De seguida, foi traçada a geometria da janela, com o propósito de
reproduzir a situação real no contexto do problema. Para determinar o domínio da escavação, é
necessário considerar que a largura de influência de uma escavação deve estar a uma distância em
relação à cortina, correspondente a 2 a 3 vezes a profundidade de escavação.
Em conclusão, a geometria da janela utilizada para a modelação do presente caso de estudo, resulta num
domínio com uma largura equivalente a 60 m e numa profundidade correspondente a 30 m. Para o
desenho da geometria do modelo, foi necessário utilizar o comando create line, no sentido de simular
as quatro camadas de solo, assim como as linhas referentes às diferentes fases de escavação.
A modelação da estrutura de contenção exigiu, também a caracterização das cargas atuantes no solo.
Para tal, o programa de cálculo utilizado dispõe de dois tipos de carregamento, nomeadamente as cargas
pontuais e as cargas distribuídas. No contexto do problema, considerou-se uma sobrecarga distribuída
correspondente a 10 kN/m2 no tardoz da estrutura. Esta, por sua vez, advém das cargas dos arruamentos
adjacentes ao local da obra. O comando do PLAXIS utilizado a simulação realizada foi o Create load.
Numa etapa posterior, procedeu-se à caracterização dos elementos de uma parede do Tipo Berlim. Para
a simulação da estrutura de contenção, foi necessário definir os materiais constituintes da Parede do
Tipo Berlim, bem como dos perfis HEB 140, de forma a incluir as respetivas especificações ao plate,
representativo de cada elemento. A cota de projeto atingida, no corte 2-2, foi de 15 m. Adicionalmente,
foi considerado um prolongamento de selagem dos perfis de 2m, atingindo uma profundidade total de
17m.
Os quatro níveis de ancoragens foram simulados com o comando node-to-node anchor para o
comprimento livre, e geogrid para o bolbo de selagem. Através do comando interfaces foram criadas as
interfaces nos dois lados da cortina.
No que diz respeito ao nível freático, este não foi considerado no âmbito da modelação efetuada, devido
ao facto de ser sido realizado um rebaixamento do mesmo, tal como mencionado na secção 3.4 do
presente documento. Desta forma, a consideração das pressões hidrostáticas é desprezável no contexto
da obra em estudo.
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
Este modelo simula um comportamento do solo semelhante ao seu comportamento num ambiente real.
O comportamento simulado, considera os ciclos de carga e recarga gerados pelas sucessivas fases de
construção, compreendendo o pré-esforço das ancoragens. Pelo contrário, o modelo elástico
perfeitamente plástico, denominado de modelo de Mohr-Coulomb, também disponível no programa,
tem em consideração uma relação da tensão com a rigidez. Este defende que a rigidez dos estratos
aumenta em função das pressões.
O modelo Hardening-Soil considera essenciais, para uma caracterização integral do solo, os seguintes
parâmetros:
Parâmetros de resistência adotados pelo critério de rotura Mohr-Coulomb, complementados pelo
ângulo de dilatância:
c´- coesão do solo;
ϕ' - ângulo de resistência ao corte;
ψ´- ângulo de dilatância;
Parâmetros de deformabilidade:
𝑟𝑒𝑓.
𝐸50 - Módulo de deformabilidade em primeira carga, correspondente a 50% da tensão de
rotura, para uma pressão de referência (𝑝𝑟𝑒𝑓 ) por defeito igual à pressão atmosférica
(100 kPa);
𝑟𝑒𝑓.
𝐸𝑜𝑒𝑑 - Módulo de deformabilidade edométrico em primeira carga, para uma pressão de
referência por defeito (𝑝𝑟𝑒𝑓 );
𝑟𝑒𝑓.
𝐸 𝑢𝑟 - Módulo de deformabilidade em segunda carga e descarga, correspondente à pressão de
referência por defeito (𝑝𝑟𝑒𝑓 );
m - Expoente da lei de potência que expressa a dependência da rigidez em relação ao nível
de tensão (power).
O manual do utilizador do Plaxis, bem como diversos autores, propõe a adoção de certas aproximações
para os diferentes valores dos parâmetros de deformabilidade, quando se recorre ao modelo Hardening-
Soil, estabelecendo assim as seguintes aproximações (Brinkgreve, Kumarswamy et al. 2014, Chogueur,
Abdeldjalil et al. 2018):
𝐸 ≈ 𝐸50 𝑟𝑒𝑓
𝑟𝑒𝑓
𝐸50 𝑟𝑒𝑓 ≈ 𝐸𝑜𝑒𝑑
3𝐸50 𝑟𝑒𝑓 ≈ 𝐸 𝑟𝑒𝑓
𝑢𝑟
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
Outros parâmetros:
Zona Geotécnicas
7,55 – 8,55; a
Cota (m) 0 - 3,25 3,25 – 7,55 8,55 – 14,2
partir dos 14,2
γunsat (kN/m3) 17 21 22 24
γsat (kN/m3) 18 21 22 24
𝐸50𝑟𝑒𝑓 (kN/m2) 10000 70000 100000 200000
𝐸𝑜𝑒𝑑𝑟𝑒𝑓 (kN/m2) 10000 70000 100000 200000
𝐸𝑢𝑟𝑟𝑒𝑓 (kN/m2) 30000 210000 300000 600000
m 0,5 0,5 0,5 0,5
c´(kN/m2) 0,5 10 65 80
ϕ'(°) 30 35 37 39
ψ´(°) 0 12 12 12
νur 0,3 0,3 0,3 0,3
Rf 0,9 0,9 0,9 0,9
𝐾𝑜 (*) 0,5 0,5 0,398 0,371
Para fins de modelação, na zona geotécnica 1 (ZG1) foi considerado um valor de coesão efetiva
equivalente a 0,5 kN/m2. Apesar da variação deste parâmetro entre valores pertencentes ao intervalo de
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
0 a 1 ter um impacto desprezável ao nível prático, permite resolver problemas associados ao cálculo
numérico.
Por forma a considerar as debilidades existentes na construção de uma Parede do Tipo Berlim definitiva,
onde a execução da cortina é caracterizada por ser moldada contra o terreno, optou-se por atribuir um
valor de 0,9 em alternativa a 1.0, ao coeficiente de rotura (Rf). Desta forma, não é considerada uma
ligação tão eficaz entre a parede de contenção e o terreno no seu tardoz.
A caracterização das ancoragens, como referido anteriormente, tem em consideração os dois elementos
que constituem as mesmas. Como tal, foram analisadas as características inerentes ao comprimento livre
e ao bolbo de selagem. A carga de pré-esforço das ancoragens, 𝑃ú𝑡𝑖𝑙 , definida no contexto do projeto
assume um valor de 600 kN. Adicionalmente, considera-se um espaçamento entre ancoragens de 3,0 m.
Para o cálculo da rigidez axial foi necessário determinar a área de armadura de pré-esforço, estando
definido no relatório de projeto a utilização de 5 cordoes de 0,6´´. Como tal, cada ancoragem dispõe de
um diâmetro nominal correspondente a 1,4 × 10−4 m.
De seguida, de forma a caracterizar o bolbo de selagem, considerou-se um betão de menor resistência
no sentido de por sua vez, foi modelado considerando um betão de menor resistência devido à
sobreposição do betão com o solo, tendo assumido um módulo de elasticidade de 25 GPa, o diâmetro
de furação apresentado no projeto tem o valor de 200 mm (Tabela 4.3).
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
Tal como mencionado anteriormente, malhas mais refinadas fornecem resultados mais precisos. Desta
forma, o programa disponibiliza cinco diferentes níveis de refinamento, Very Coarse, Coarse, Medium,
Fine e Very Fine. No âmbito do presente trabalho foi selecionado o nível Very Fine, constituído por
4913 elementos e 39884 nós, de forma a obter um resultado mais preciso, como era de esperar. No
sentido de aumentar a precisão, o software utilizado permite ainda um refinamento localizado nos
elementos de maior relevância para o projeto.
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
A fase 0, corresponde à Initial phase já definida por defeito pelo programa. Esta compreende todos os
deslocamentos derivados do peso, sobrecargas e condições iniciais do solo. O método de cálculo
aplicado pelo programa é o K0 procedure, através do qual são geradas as tensões iniciais do solo.
Na fase 1 caracteriza-se pela aplicação de uma sobrecarga correspondente a 10 𝐾𝑁/𝑚² no tardoz da
estrutura.
A fase seguinte consiste na inserção dos perfis metálicos no terreno até ser atingida a cota de selagem
de – 17 m, como resultado da adição do comprimento de selagem correspondente a -2 m à cota do
projeto equivalente a -15 m. Na sequência da execução desta fase, através do PLAXIS, é selecionada e
alocada a plate dos perfis metálicos nos diversos níveis de escavação. Com o objetivo de analisar apenas
os deslocamentos criados durante o processo construtivo, recorreu-se à opção reset displacements, no
separador deformation control parameters, de forma a anular os deslocamentos obtidos nessas fases.
A fase 3 e fase 4, correspondem respetivamente, ao início da escavação do 1º nível e betonagem da viga
de coroamento, correspondente a 1,0m de escavação.
Neste tipo de estruturas flexíveis a análise bidimensional (2D) deste programa, não tem em conta o
aspeto tridimensional provocado pela inserção de painéis primários e secundários, de forma alternada.
Consequentemente, não é completamente considerado o fenómeno de transferência de pressão do solo,
denominado efeito de arco, que permite que a escavação ocorra sem descompressão do terreno.
Assim, de forma a contornar este aspeto inerente à utilização do PLAXIS como instrumento de
modelação, foi adotado um valor de 𝛴 − 𝑀𝑠𝑡𝑎𝑔𝑒 entre 1 e 0,5. O valor equivalente a 0,5 assume um
carácter conservativo, habitualmente utilizado em paredes multi-ancoradas. Contudo, o facto de os
painéis apresentarem diferentes dimensões e do tensionamento das ancoragens ser realizado de uma só
vez, e não de forma faseada, aumenta o impacto do aspeto tridimensional. Assim, a utilização deste
valor reflete-se em resultados menos precisos do faseamento construtivo.
Pelo que, o valor adotado para o 𝛴 − 𝑀𝑠𝑡𝑎𝑔𝑒 foi de 0,7, que apesar de não ser a solução exata é a que
permite a melhor aproximação da realidade (Garcia, 2014).
Depois de concluída cada fase de escavação, foi selecionada a plate relativa aos painéis, de forma a
serem substituídas as especificações da plate relativas a perfis metálicos pelas características dos painéis
de betão armado, constituintes da Parede Tipo Berlim definitiva. Concluída esta alteração, aplicou-se a
carga útil de pré-esforço, enunciada anteriormente, às ancoragens.
A metodologia utilizada durante as fases de escavação, alteração do elemento da plate e aplicação da
carga de pré-esforço nas ancoragens, para modelar o processo construtivo, foi repetida até ser atingida
a cota de projeto.
O faseamento construtivo adotado corresponde ao faseamento realizado em obra, com o propósito de
modelar um processo o mais idêntico possível da realidade. Na Tabela 4.4 são apresentadas as diversas
fases de cálculo utilizadas.
Tabela 4.4: Faseamento Construtivo Utilizado na Modelação Numérica
Colocação dos perfis metálicos HEB 140, com 17m de comprimento incluindo o
Fase 2
comprimento de selagem de 2m;
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
Estudos desenvolvidos por Matos Fernandes (1990), demonstraram que uma parede de betão armado
tem um impacto significativamente superior na rigidez à flexão, face ao conferido pelos perfis metálicos.
Desta forma, é possível concluir que os perfis metálicos não contribuem para a rigidez dos painéis, sendo
a sua rigidez à flexão apenas importante, nas fases de escavação em que estes constituem os únicos
elementos de apoio do terreno. Assim, a rigidez dos perfis verticais foi desprezada durante a simulação
do processo de construção dos painéis (Figura 4.6).
Figura 4.6: Comparação entre a Rigidez à Flexão dos Painéis de Betão Armado e dos Perfis Metálicos Verticais
(Matos Fernandes, 1990)
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
4.1.7 Resultados
Os resultados de modelação obtidos são apresentados, pelo PLAXIS, numa secção específica
denominada de “Output”. Deste modo, depois de concluída a fase de cálculo, foram analisados nesta
secção os resultados obtidos, de forma a avaliar a deformada da malha de elementos finitos, os
deslocamentos e tensões instaladas no solo, bem como os deslocamentos e esforços associados a todos
os elementos estruturais da estrutura de contenção.
Nesta seção são, assim, apresentados e discutidos os resultados obtidos da deformada da malha de
elementos finitos, dos deslocamentos horizontais e verticais verificados no solo e na estrutura de
contenção, bem como dos momentos fletores e esforços axiais mobilizados na estrutura, após se ter
atingido a cota de projeto.
4.1.7.1 Deslocamentos
Na Figura 4.7 é apresentada a configuração da deformada da malha de elementos finitos obtida no final
da modelação da estrutura de contenção.
Os deslocamentos horizontais verificados no solo na fase final de escavação podem ser observados
através da Figura 4.8. Estes deslocamentos são caracterizados, por atingirem o seu máximo no tardoz
da estrutura de contenção entre o 2º e 3º nível de ancoragens, com direção para o interior do terreno,
com um valor na ordem dos 7,15 mm.
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
Pela análise da Figura 4.9, é possível concluir que o deslocamento vertical do solo atinge o seu valor
máximo, equivalente a -8,96 mm, no tardoz da estrutura. Porém, na base da escavação também se
verificam elevados deslocamentos. No que diz respeito aos deslocamentos verificados no tardoz da
estrutura, estes são os mais condicionantes, podendo causar danos estruturais nos edifícios vizinhos. Os
deslocamentos na base de escavação correspondem a um empolamento na ordem dos 5,68 mm.
Os deslocamentos horizontais da cortina atingem o seu máximo positivo, aproximadamente a meia altura
da mesma, com um deslocamento máximo na ordem dos 6,32 mm. Por outro lado, o máximo negativo,
ou seja, com orientação para o interior da escavação, é verificado no topo da cortina e corresponde a
-2,50 mm. Estes resultados derivam da relação entre a baixa rigidez do solo junto à superfície, quando
comparada com a rigidez dos restantes estratos, com a curvatura da cortina, originada pelos momentos
fletores mobilizados.
Os deslocamentos verticais não variam com a profundidade, apresentando como valor máximo negativo
2,53 mm. Por último, é possível concluir que os deslocamentos totais da estrutura são fortemente
influenciados dos deslocamentos verticais na sua deformação assumindo um valor máximos de
aproximadamente 6,78 mm.
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
Para além de avaliar os deslocamentos da cortina na fase final de escavação, é importante avaliar o
desenvolvimento dos deslocamentos ao longo das sucessivas fases de escavação. Assim, a Figura 4.11
demonstra os deslocamentos horizontais na cortina a partir do 1º nível de escavação. Contudo, é
importante salientar que as fases representadas por um número ímpares correspondem às fases de
escavação, sendo que, por outro lado, as fases pares constituem as fases de aplicação dos painéis
primários e secundários e introdução do pré-esforço nas ancoragens.
A análise da Figura 4.11 permite observar o significativo efeito do pré-esforço nos deslocamentos
ocorridos nas diferentes fases de escavação. Este permite não só a recuperação de deslocamentos
impostos em fases de escavação anteriores, como também uma melhor resposta face aos deslocamentos
impostos nas fases seguintes. Adicionalmente, verifica-se que nas três primeiras fases os deslocamentos
são caracterizados por estarem dirigidos para o interior da escavação, passando posteriormente, com a
aplicação da carga de pré-esforço, a estar dirigidos no sentido contrário.
Por fim, procedeu-se à análise da evolução dos assentamentos superficiais, durante a fase final de
escavação, em função da sua distância à cortina. Os assentamentos superficiais verificados ao longo da
última fase de escavação são apresentados na Figura 4.12. Como é possível observar, o assentamento
máximo é atingido no tardoz da estrutura na interface solo-estrutura e assume um valor na ordem dos
8,70 mm.
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Com vista em analisar o efeito do pré-esforço no diagrama de momentos, representa-se na Figura 4.14,
o diagrama de momentos finais respetivos á Fase 8 e 9. A aplicação do pré-esforço, ilustrado pela seta
a cinzento, causa uma translação do diagrama de momentos para o lado de momentos negativos,
reduzindo significativamente o momento máximo verificado na fase de escavação anterior.
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Relativamente à última fase de escavação, a análise da Figura 4.16 expressa um aumento do esforço
axial ao longo do desenvolvimento da escavação, atingindo o seu valor máximo de compressão
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Modelação de uma Estrutura de Contenção num Edifício com Pisos Enterrados na Região do Porto
equivalente a -532,0 kN/m na base de escavação a uma cota de –15 m. Apartir desta cota está localizada
a zona de selagem dos perfis metálicos, onde se geram forças de atrito entre a mesma e o solo. Estas
forças contrariam o esforço normal instalado na estrutura de contenção, pelo que se verifica um
desenvolvimento linear, até ser atingido um valor aproximo de zero.
A presente secção compreende um estudo paramétrico da Parede do Tipo Berlim definitiva, com o
principal propósito de compreender a influência de diferentes fatores no seu comportamento. Um estudo
paramétrico surge da necessidade de conferir às previsões obtidas na fase de modelação, mais rigor e
controlo durante as fases de construção (Hight & Higgins, 1995). No âmbito do seguinte objetivo, este
estudo incidiu particularmente na deformação da parede, sendo que está diretamente relacionada com
os esforços mobilizados.
Desta forma, os fatores considerados mais relevantes para o desempenho da estrutura e cujo efeito foi
utilizado para fins de análise consistem no módulo de deformabilidade, no pré-esforço dos vários níveis
de ancoragens e na espessura da parede.
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diferentes tipos de solo em análise. Contudo, no âmbito do presente estudo serão analisados módulos de
deformabilidade mais elevados, de forma a verificar qual o seu impacto no comportamento da estrutura
Nos cálculos efetuados, o comportamento do solo foi simulado, através do modelo Hardening-Soil
Model. Assim, na Tabela 4.5 são demonstrados os parâmetros relativos aos módulos de deformabilidade
alterados, sendo que os restantes parâmetros que definem o cenário geotécnico do terreno analisado no
contexto do problema se mantiveram constantes.
Cenário Geotécnico
Na Figura 4.17 é apresentada a evolução dos movimentos de terras e dos esforços mobilizados na cortina
em função da profundidade, considerando os parâmetros de deformabilidade alterados (Tabela 4.5) e
considerando os parâmetros de deformabilidade iniciais (Tabela 4.1).
Os menores deslocamentos horizontais verificados a meio vão e no pé da cortina, são exigidos pela
solução alterada, onde o módulo de deformabilidade é superior face à solução inicial (Figura 4.17 a)).
Por sua vez, os assentamentos superficiais representados na Figura 4.17 b) e e) revelam que o valor
máximo é atingido nos solos com menor rigidez, estando de acordo com os maiores deslocamentos
horizontais verificados. Para uma melhor compreensão dos resultados anteriormente descritos, são
apresentados na Figura 4.17 e) os assentamentos superficiais em função da distância à cortina em escala
logarítmica.
Assim, no que se refere, aos movimentos de terras induzidos pela escavação, apresentados na Figura
4.17 a), b) e e), verifica-se que quanto menor for o módulo de deformabilidade do solo, representado
pela solução inicial, maiores serão os deslocamentos horizontais verificados, e consequentemente os
assentamentos à superfície. Estes resultados estão de acordo com o esperado, uma vez que os impulsos
gerados por uma massa de solo são maiores para um solo com um módulo de deformabilidade menor.
Desta forma, maiores módulos de deformabilidade nas fases de escavação, resultam numa menor
descompressão por parte deste, levando à verificação de deslocamentos menores.
Os diagramas de momentos fletores demonstram pequenas variações ao longo da escavação, bem como
uma estrutura semelhante em ambos os cenários considerados (Figura 4.17 c)). Contudo, em certas fases
de escavação a solução alterada, apresenta uma menor mobilização de esforços, pelo que é nessa
situação que se geram menores pressões de terras aplicadas na cortina.
Por fim, é apresentada a variação do esforço axial ao longo da cortina, onde não são observadas
diferenças significativas entre os diferentes cenários considerados (Figura 4.17 d)).
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𝜋 × 𝑑2
𝐴𝑒𝑠𝑡𝑎𝑐𝑎 = (4. 1)
4
𝜋 × 𝑑4
𝐼𝑒𝑠𝑡𝑎𝑐𝑎 = (4. 2)
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Figura 4.20: Comparação do Comportamento de Variáveis pela Implementação de uma Cortina do tipo Berlim
face a uma Cortina de Estacas de Betão
a) Deslocamentos Horizontais; b) Assentamentos superficiais( Escala linear); c) Momentos fletores mobilizados
na cortina; d) Esforços axiais mobilizados na cortina; e)Assentamento superficiais (Escala logarítmica)
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5.
CONCLUSÕES E DESENVOLVIMENTOS
FUTUROS
5.1 Conclusões
O estudo desenvolvido teve como principal propósito, a modelação de uma estrutura de contenção com
pisos enterrados, em meio urbano analisando todos os aspetos inerentes à realização da mesma, com o
objetivo de contribuir para uma melhor compreensão do tema, no contexto da área de geotecnia. No
âmbito desta dissertação foi ainda desenvolvido um estudo paramétrico, bem como uma proposta de
solução alternativa, de forma a comparar o desempenho da mesma, com o da parede do tipo de Berlim
implementada.
Os principais objetivos definidos no contexto da dissertação foram atingidos. A concretização dos
objetivos propostos exigiu, numa fase inicial, uma extensa revisão de contributos teóricos presentes na
literatura existente a cerca do tema em estudo. Esta fase permitiu desenvolver um modelo conceptual a
cerca das principais temáticas em análise, nomeadamente dos diversos tipos de estruturas de contenção
e respetivo propósito, de diferentes sistemas de suporte. Bem como das cortinas multi-ancoradas e das
paredes do tipo Berlim.
De seguida, realizou-se a caracterização do caso de estudo analisado, para a qual foi necessário
primeiramente proceder-se à recolha de dados inerentes à obra, nomeadamente a memória descritiva do
projeto. O facto de a obra já estar próxima da fase de conclusão, resultou na impossibilidade de observar
o desenvolvimento da sua realização. Os dados mencionados foram fornecidos pela empresa Sopsec,
S.A., tendo sido cuidadosamente analisados.
Seguidamente, procedeu-se à modelação numérica de uma parte da estrutura de contenção analisada no
âmbito do projeto, nomeadamente o corte 2-2, apresentado em detalhe no Capítulo 4. Adicionalmente,
de forma a complementar o estudo realizado, procedeu-se ainda ao desenvolvimento de um estudo
paramétrico da solução adotada, assim como à apresentação de uma proposta alternativa através da
implementação de uma parede de estacas de betão.
A modelação numérica da estrutura de contenção analisada foi desenvolvida com recurso ao Software
PLAXIS. Este permite recriar de forma aproximada o comportamento mecânico do solo e da estrutura,
no sentido de ser posteriormente desenvolvida uma análise da interação solo-estrutura. Este foi utilizado,
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com a finalidade de modelar a estrutura em análise através da simulação da técnica de uma parede do
tipo Berlim.
Os resultados de modelação obtidos permitiram concluir, que a estrutura não está sujeita a
deslocamentos significativos em nenhuma das fases de construção. Consequentemente, os
assentamentos verificados à superfície não têm um impacto significativo nos edifícios adjacentes. O
estrato com maior influência nas deformações horizontais da cortina é o primeiro situado desde a cota 0
até 3,25, correspondente ao aterro. Esta conclusão, pode ser facilmente justificada pelo facto deste tipo
de solo apresentar características mecânicas mais débeis. Em suma, os deslocamentos horizontais da
cortina e as deformações horizontais do solo, apesar de representam fatores críticos numa obra,
apresentaram um comportamento satisfatório que não condicionou a estrutura nem a sua vizinhança.
Infelizmente, o Plano de Instrumentação da Obra não estava disponível, o que impossibilitou a
comparação entre os resultados obtidos e os resultados observados. A utilização de parâmetros
geotécnicos diferentes dos reais, derivada da incerteza associada à determinação dos mesmos, teve um
impacto nos resultados obtidos. Contudo, o projetista da obra confirmou que no cenário real os
deslocamentos verificados não foram significativos, conforme obtido na modelação.
Ainda assim, verificou-se a existência de algumas limitações inerentes à utilização do Software
PLAXIS. Este, tal como referido anteriormente, não tem em consideração o efeito de arco, e os
respetivos deslocamentos gerados pelas banquetas de solo, utilizadas durante as fases de aplicação de
painéis primários. Tal limitação resulta na obtenção de um cenário de modelação menos verossímil face
à situação real.
De seguida, através do estudo paramétrico desenvolvido foi analisado o impacto que parâmetros como
o módulo de deformabilidade, o pré-esforço nas ancoragens e os esforços axiais na cortina têm na
evolução dos movimentos de terras e dos esforços mobilizados na cortina ao longo das sucessivas fases
de escavação. Em consequência, a execução de um estudo desta natureza permite que a empresa
responsável identifique os principais fatores em que deve investir, de forma a reduzir os custos e
aumentar a sua eficiência. Isto é, verificando-se que o aumento do módulo de deformabilidade do solo
permite reduzir significativamente os deslocamentos da cortina, então talvez seja conveniente investir
numa melhor caracterização geotécnica que permita obter parâmetros de solo menos conservativos.
Dependendo da obra em causa, o investimento na caracterização geotecnia poderá ser menor que o
investimento numa solução mais robusta (por exemplo, com uma cortina de maior espessura) de forma
a conseguir a mesma redução dos deslocamentos.
A concretização de uma solução alternativa como uma parede de estacas de betão demonstrou que a
utilização deste método de simulação provoca menores movimentos do solo, nomeadamente
deslocamentos horizontais e assentamentos superficiais. Adicionalmente, esta solução apresenta ainda
maiores esforços na estrutura na última fase de escavação, face à solução inicial da parede de tipo
Berlim.
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