Projeto Urbanístico de Katembe
Projeto Urbanístico de Katembe
Projeto Urbanístico de Katembe
A inserção deste projeto é justificada pela necessidade de poder dar resposta ao grave
problema social atual que se vive em Maputo, face ao crescimento e aumento da
população na capital moçambicana. A procura de novas áreas seria atendida
principalmente pela extensão da área urbana em direção a Boane, Moamba, Marracuene
e KaTembe, permitindo uma melhor gestão do uso do solo. Igualmente a abertura de
novas áreas permitiria descongestionar algumas áreas excessivamente densas e
responder a demanda de terrenos para urbanização dos espaços, numa primeira fase, ao
longo das vias rodoviárias. Também seria desenvolvida uma nova área habitacional em
KaTembe, usufruindo da sua proximidade ao centro metropolitano.
Assim, uma vez que, mais a Norte da capital já se fez a expansão31, a KaTembe
aparece como resposta positiva para a expansão a Sul, através de um potencial
urbanístico a Sul de Maputo, fazendo uma ligação entre as duas margens da Baía de
Maputo, permitindo deste modo o desenvolvimento urbano para Sul (Betar &
Promontório Planning, 2012). Este projeto também pretende corrigir a forma de
organização do espaço em KaTembe, caracterizado por uma urbanização não planeada.
No interior dos bairros Guachene, Chalí, uma parte do bairro Incassane e toda área dos
bairros Chamissava e Inguide, apresenta duas características distintas: uma com
tendência agrupada, apresentando apenas uma estrada principal, sem ruas, onde as
habitações são construídas num sistema de autoconstrução, quer seja com uso de
material precário (vide a figura 48) quer de material convencional (vide a figura 49).
A população residente nesta área, uma parte dela fixou-se durante a época colonial
tendo-se refugiado na área urbanizada durante a guerra civil e com o fim desta voltaram
para as zonas de origem. No entanto, atualmente tem-se notado uma substituição
gradual das habitações de caniço por habitações construídas com material convencional,
mas sem o grau técnico exigido para as características físicas da área (Araújo, 1999).
SITUAÇÃO HABITACIONAL DA POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA NOS
BAIRROS POLANA CANIÇO “A” E “B”, COMO REFLEXO DA
URBANIZAÇÃO RECENTE DA CIDADE DE MAPUTO
Devido a recessão econômica registrada no país, poucos dos que migraram para Maputo
conseguiram inserir-se no mercado de trabalho formal. A maioria passou a sobreviver
através da iniciativa individual e a margem das intervenções do poder público.
Com o rendimento gerado nestas atividades o grupo social da periferia foi substituindo,
progressivamente, o caniço por um material de construção durável onde se destacaram
blocos de cimento e zinco. Deste modo, desencadeou-se um processo de mudança que
culminou com a transformação da situação habitacional nesta área da periferia da cidade
de Maputo. Nos Bairros Polana Caniço “A” e “B”, as casas de caniço foram suplantadas
por moradias de alvenaria implantadas por meio da autoconstrução.
O grupo social que residente nesta área da periferia ocupa-se de outras atividades como
pedreiros, carpinteiros, sapateiros, transportadores a conta própria, motoristas e
cobradores de chapa27, operários, agricultores, lavadeiras, eletricistas, carregadores de
mercadorias, funcionários públicos, empregados domésticos, trabalhadores de empresas
privadas de segurança entre outras. A composição familiar, que constitui um dos
elementos fundamentais na análise da situação habitacional, assume uma dimensão
peculiar nesses bairros. Nas famílias inquiridas constatou-se que a sua composição
variava entre 5 a 14 pessoas por moradia. Esta estrutura compreende o agregado nuclear
e outros parentes que passam a ser incluídos (por casamento, nascimento, convite, etc.)
na composição familiar. O número de pessoas por família tem implicações diretas na
distribuição da renda e nas condições de moradia. As famílias que agregam um número
relativamente elevado de pessoas e com uma proporção baixa (ou nula) dos que
exercem uma atividade econômica remunerada, tornam-se mais instáveis na satisfação
daquelas das necessidades básicas. Ademais, parte significativa da população local
ocupa-se de atividades à contaprópria de onde geram a renda necessária para o seu
sustento cotidiano. Estas ocupações praticadas por um estrato social com pouca (ou
nenhuma) qualificação escolar regem-se por meio de contratos verbais e dependem de
uma clientela que flui ocasionalmente.
Nas distintas organizações sociais, existentes nos Bairros Polana Caniço “A” e “B”,
permeiam laços de solidariedade que servem de suporte para o estrato social de baixa
renda. Os grupos de Xitique30 participam do cotidiano local perpetuando práticas que
possibilitam a transmissão da renda fundamental para a sobrevivência da população
local. Em determinadas circunstancias (caso de doença, morte, etc.) o Círculo do Bairro
promove ações para a coleta de contribuições (em dinheiro ou em produtos de primeira
necessidade) de modo a apoiar as famílias em situação de dificuldade. Trata-se de um
auxilio pontual que deixa de ser providenciado logo de imediato (superado ou não
aquele momento de crise), mas as dificuldades do cotidiano permanecessem.
A situação social da maioria que reside nesses bairros, à ação dos agentes econômicos e
a insuficiente da ação estatal em providenciar melhorias para o grupo social
desfavorecido influem para a reprodução de um espaço marcado por discrepâncias nas
formas habitacionais.
As habitações de status existentes nesta área do Bairro Polana Caniço “A” variam de
construções horizontais a edificações verticais de 1 a 2 andares, dotados de vários
compartimentos (tais como sala, quartos, cozinha, escritórios e banheiro) distribuídos
internamente pelos corredores. A cobertura de concreto é decorada essencialmente com
o material cerâmico (telha) e zinco pintado a cor. Concentradas numa área, estas
vivendas possuem uma forte expressão visual que resulta da variação de cores e da
forma arquitetônica.
Estes empreendimentos envolvem custos inacessíveis para maioria que reside na Cidade
de Maputo. O restrito estrato social que possui uma renda relativamente alta tem a
possibilidade de adquirir financiamento para a construção de uma residência ou compra
de uma moradia transacionada no mercado imobiliário.
A esta área “luminosa” contrapõe-se o extenso território que alberga uma maioria que
sobrevive situação de precariedade habitacional nos Bairros Polana Caniço “A” e “B”.
O problema habitacional que afeta este grupo social tende a agravar-se devido à
insuficiência dos serviços de saneamento e a inoperância dos transportes públicos. Da
disposição anárquica das moradias populares configura-se um arruamento estreito e
sinuoso que dificulta a circulação no interior do bairro e a acessibilidade dos serviços
públicos.
A classe média à semelhança da população de baixa renda ergue a sua própria moradia
por meio da autoconstrução, contratando pedreiros e ajudantes que geralmente integram
a família ou fazem parte da vizinhança do proprietário da casa. A renda auferida por
estes estratos sociais não permite erguer ou comprar uma moradia num curto período de
tempo. Por esta razão, a autoconstrução tende a durar vários anos e algumas moradias
começam a ser habitadas mesmo antes de serem concluídas.
As moradias de status são habitadas por um restrito grupo social de maior poder
aquisitivo que abrange a classe empresarial e a elite política que desfrutam de melhores
condições salariais e rendimento. A maior parte dos moradores da periferia ocupa-se de
atividades informais de onde extraem os parcos rendimentos com os quais produzem e
transformam as suas modestas moradias. O grupo social intermediário abrange alguns
funcionários da função pública e trabalhadores qualificados das empresas privadas,
trabalhadores a contaprópria e comerciantes (RAPOSO; SALVADOR, 2002). Estes
ostentam melhores condições de habitação em relação ao estrato social de baixa renda,
mas inferiores quando comparadas às moradias de status
Nos bairros Polana Caniço “A” e “B”, que integram a periferia da cidade de Maputo,
predominam construções populares de alvenaria erguidas com blocos de cimento e
dotadas de uma cobertura de zinco apoiada sobre barrotes de madeira. Este tipo de
material de construção (cimento e zinco) usado na edificação e reforma das habitações
populares pode ser adquirido em ferragens e distribuidores locais (Figura 34).