Projeto Urbanístico de Katembe

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PROJETO URBANÍSTICO DE KATEMBE

No contexto das intervenções urbanísticas previstas no PEUMM-2008, o distrito


municipal da KaTembe é identificado como uma potencial área para urbanização. Em
sequência, foi aprovado o projeto para a sua execução, onde é apresentado um modelo
de urbanização de raiz (Vide a figura 43) integrado num Plano de Urbanização do
mesmo distrito (Lopes, 2005).

A inserção deste projeto é justificada pela necessidade de poder dar resposta ao grave
problema social atual que se vive em Maputo, face ao crescimento e aumento da
população na capital moçambicana. A procura de novas áreas seria atendida
principalmente pela extensão da área urbana em direção a Boane, Moamba, Marracuene
e KaTembe, permitindo uma melhor gestão do uso do solo. Igualmente a abertura de
novas áreas permitiria descongestionar algumas áreas excessivamente densas e
responder a demanda de terrenos para urbanização dos espaços, numa primeira fase, ao
longo das vias rodoviárias. Também seria desenvolvida uma nova área habitacional em
KaTembe, usufruindo da sua proximidade ao centro metropolitano.

Assim, uma vez que, mais a Norte da capital já se fez a expansão31, a KaTembe
aparece como resposta positiva para a expansão a Sul, através de um potencial
urbanístico a Sul de Maputo, fazendo uma ligação entre as duas margens da Baía de
Maputo, permitindo deste modo o desenvolvimento urbano para Sul (Betar &
Promontório Planning, 2012). Este projeto também pretende corrigir a forma de
organização do espaço em KaTembe, caracterizado por uma urbanização não planeada.

Territorialmente KaTembe é caracterizado por ser pouco povoado, representando 1% da


população da AMM e uma ocupação residencial dispersa de baixa densidade, tinha
cerca de 19 371 habitantes em 2007 (ver a figura 44), quando comparado com os
distritos urbanos do município, prevendo-se que até 2040, esta nova área urbana
comporte cerca de 400.000 habitantes (Betar Consultores and Promontório Planning,
2012).

O tecido urbano ocupado encontra-se maioritariamente desordenado e carece de


infraestruturas de transporte e saneamento, verificando-se pressões para ocupação dos
espaços vazios, incluindo zonas baixas e suscetíveis a inundações (Betar Consultores &
Promontório Planning, 2012).
O efeito da construção da ponte pode também ser visto sob ponto de vista de outros
territórios do mundo como é caso do efeito que trouxe a construção da ponte 25 de
Abril. A ponte 25 de Abril foi construída em 1966, tendo sido iniciado a sua construção
em 1962. Com base nos dados do censo da população apresentados na figura 45, o
período entre 1960 e até 1966 o crescimento da população era linear quando comparado
ao crescimento registado após a ligação de Lisboa com a margem sul. A partir de 1966
com a ponte já construída verifica-se um assinalável crescimento da população,
particularmente na margem Sul (AML, 2013).

Segundo o Arquivo Municipal de Lisboa32, a seguir à 2ª Guerra Mundial (1939 a


1945), a construção da ponte sobre o Tejo passou a ser desejada para responder ao
grande afluxo migratório para a região de Lisboa. A construção da Ponte 25 de Abril,
que tornou a travessia entre as duas margens do rio Tejo mais fácil e rápida, envolveu
cerca de três mil trabalhadores e teve uma "grande inovação técnica" para a época.

É interessante notar a semelhança das problemáticas do atravessamento de um rio (Tejo


em Lisboa e baía de Maputo em Maputo), e os efeitos conhecidos na margem Sul da
Área Metropolitana de Lisboa depois da construção da Ponte sobre o Tejo em 1966 por
comparação com a futura construção de uma nova Ponte em Maputo com consequências
na KaTembe. Embora os contextos do nível de desenvolvimento das duas cidades sejam
muito diferentes serão de esperar na KaTembe impactos urbanísticos muito
significativos e imparáveis: por um lado pelo acréscimo de acessibilidade que a nova
Ponte vai dar à Região de Maputo; a continua atratividade desta região e a migração de
populações rurais para Maputo; a esperável ocupação de terras na KaTembe que, com
uma nova Ponte, facilitará o acesso ao centro de Maputo, aos seus serviços e locais de
potencial emprego.

Decorre desta breve reflexão que:

 Os fenómenos de migração para a cidade-capital são de escala nacional/regional e


que só se mitigam com políticas de descentralização regional;

 Grandes melhorias nas infraestruturas de mobilidade de uma área metropolitana


tendem a reforçar a sua atratividade;

 A construção de uma nova Ponte (como no caso de Lisboa em 1966 e agora em


Maputo) tende a reequilibrar a ocupação urbana nas duas margens;
 Não será arriscado dizer que uma nova Ponte em Maputo poderá provocar a prazo
uma explosão demográfica e reforço da atividade económica a Sul de Maputo e o
impulsionar das migrações rurais para esta área metropolitana.

O Instituto Nacional de Planeamento Físico (INPF) em 1999, propôs para a KaTambe


uma forma de crescimento e expansão da área de forma radial, ao longo das principais
vias de acesso já existentes (vide a imagem 1 na figura 50). Os bairros de Guachene e
Chali (ver a figura 33, imagens 3 e 4) tem a forma de ocupação ordenada do espaço e
uma parte do bairro de Incassane (vide a imagem 1), localizados na zona costeira de
KaTembe. O parcelamento destas áreas foi feito na época colonial e é caracterizada por
uma razoável cobertura de infraestruturas socioeconómicas como mercado, escolas,
unidades sanitárias, postos de combustível, padarias e estâncias turísticas e serviços
urbanos.

A forma desordenada de ocupação do espaço caracteriza-se por uma precariedade das


condições de habitação e de salubridade e representam problemas tanto sob o ponto de
vista ambiental como social. Quanto as tipologias habitacionais na área de estudo, as
construções são de material convencional do tipo moradias simples e algumas moradias
de 2 a 3 andares, com água canalizada e energia elétrica.

No interior dos bairros Guachene, Chalí, uma parte do bairro Incassane e toda área dos
bairros Chamissava e Inguide, apresenta duas características distintas: uma com
tendência agrupada, apresentando apenas uma estrada principal, sem ruas, onde as
habitações são construídas num sistema de autoconstrução, quer seja com uso de
material precário (vide a figura 48) quer de material convencional (vide a figura 49).

A população residente nesta área, uma parte dela fixou-se durante a época colonial
tendo-se refugiado na área urbanizada durante a guerra civil e com o fim desta voltaram
para as zonas de origem. No entanto, atualmente tem-se notado uma substituição
gradual das habitações de caniço por habitações construídas com material convencional,
mas sem o grau técnico exigido para as características físicas da área (Araújo, 1999).
SITUAÇÃO HABITACIONAL DA POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA NOS
BAIRROS POLANA CANIÇO “A” E “B”, COMO REFLEXO DA
URBANIZAÇÃO RECENTE DA CIDADE DE MAPUTO

A periferia da cidade de Maputo, na qual se dispõem os bairros Polana Caniço “A” e


“B”, surgiu a partir da ocupação espontânea da terra a volta da área central pela
população, que durante a vigência do sistema colonial, teve de migrar das áreas rurais
para este centro urbano. A busca pelas melhores condições de trabalho e salariais, que
serviam para o cumprimento das obrigações estipuladas pelo governo colonial26,
constituiu um dos motivos do êxodo rural e um dos fatores que contribuiu para a
consolidação deste espaço habitacional.

A situação conjuntural, interna e externa, que acompanhou a transição da sociedade


moçambicana de um sistema colonial para o republicano em meados da década de 1970,
impulsionou a ocorrência de uma intensa mobilidade populacional das áreas rurais para
os principais centros urbanos do país, caso da Cidade de Maputo.

O Bairro Polana Caniço “A” beneficiou-se de uma intervenção de reordenamento


territorial realizada pelo governo, em 1976, de onde resultaram três ruas de dimensões
largas que possibilitam a circulação no interior deste espaço habitacional (Figura 27).

Entre a década de 1970 e início de 1990 desencadearam-se determinados eventos que


tornaram o meio rural repulsivo e induziram a migração de pessoas das áreas rurais que
se deslocaram para os principais centros urbanos do país. A crise política, a regressão
econômica e incapacidade do Estado de providenciar as condições necessárias para o
acolhimento de imigrantes concorreram, conjuntamente, para o adensamento de
habitações precárias e a expansão da periferia da capital país.

O vínculo campo- cidade, permeado por laços de familiaridade e de solidariedade,


possibilitou a existência de fluxos de informações entre estes espaços geográficos. Estas
interações impulsionaram também a mobilidade de pessoas de seus locais de origem
(notadamente das províncias situadas na região sul do país) para a cidade de Maputo
fixando-se em casas de seus conterrâneos (parentes, amigos, etc.).

A migração campo-cidade aumentou a demanda por novas infraestruturas, serviços,


emprego e bens de consumo que careciam na cidade. As pessoas que se deslocaram para
Maputo procuravam instalar-se o mais próximo possível do centro da cidade de modo
ter acesso a essas necessidades. Ocupando a terra urbana “disponível” implantaram-se
formas habitacionais concebidas e perpetuadas pelas formações socioculturais locais.
Assim, foram reproduzidas casas de tipo palhota e as pequenas moradias de caniço na
periferia de Maputo.

Devido a recessão econômica registrada no país, poucos dos que migraram para Maputo
conseguiram inserir-se no mercado de trabalho formal. A maioria passou a sobreviver
através da iniciativa individual e a margem das intervenções do poder público.

A liberalização político-econômica efetivada a partir dos anos 1990 propiciou o


crescimento de diversas práticas sociais que passaram a ser promovidas pelos grupos
sociais empobrecidos com a finalidade de garantir a sua existência o que contribuiu para
expansão do comércio transfronteiriço e de varejo.

Com o rendimento gerado nestas atividades o grupo social da periferia foi substituindo,
progressivamente, o caniço por um material de construção durável onde se destacaram
blocos de cimento e zinco. Deste modo, desencadeou-se um processo de mudança que
culminou com a transformação da situação habitacional nesta área da periferia da cidade
de Maputo. Nos Bairros Polana Caniço “A” e “B”, as casas de caniço foram suplantadas
por moradias de alvenaria implantadas por meio da autoconstrução.

Esta dinâmica decorreu desvinculada de um planejamento que delineasse um arranjo


espacial ordenado das novas edificações e das habitações preexistentes. Assim, as
moradias e as atividades econômicas praticadas nestes bairros expandiram-se e
reproduziram-se seguindo uma disposição desorientada.

Os bairros Polana Caniço A e B integram a extensa periferia da cidade de Maputo que


se constituiu como um espaço habitacional de formação espontânea que compreende um
extenso território que concentra moradias populares e onde se praticam diversas
atividades de iniciativa individual ou conta própria.

Entre as práticas sociais que configuram as estratégias de sobrevivência e de reprodução


social da população local, destacam-se o comércio de varejo e prestação de serviços
domiciliares. Estas atividades são praticadas também por mulheres que, não raras vezes,
tem de conciliar os serviços domésticos com a sua fonte de renda. Constitui uma
característica comum desses bairros, a predominância do comércio de varejo praticado à
porta de casa em pequenas mesas e cantinas. Os produtos comercializados consistem
basicamente em alimentos, carvão vegetal, peças de vestuários, calçados. Nesta
categoria de atividades destaca-se também a prestação de serviço de cabeleireiro.

O grupo social que residente nesta área da periferia ocupa-se de outras atividades como
pedreiros, carpinteiros, sapateiros, transportadores a conta própria, motoristas e
cobradores de chapa27, operários, agricultores, lavadeiras, eletricistas, carregadores de
mercadorias, funcionários públicos, empregados domésticos, trabalhadores de empresas
privadas de segurança entre outras. A composição familiar, que constitui um dos
elementos fundamentais na análise da situação habitacional, assume uma dimensão
peculiar nesses bairros. Nas famílias inquiridas constatou-se que a sua composição
variava entre 5 a 14 pessoas por moradia. Esta estrutura compreende o agregado nuclear
e outros parentes que passam a ser incluídos (por casamento, nascimento, convite, etc.)
na composição familiar. O número de pessoas por família tem implicações diretas na
distribuição da renda e nas condições de moradia. As famílias que agregam um número
relativamente elevado de pessoas e com uma proporção baixa (ou nula) dos que
exercem uma atividade econômica remunerada, tornam-se mais instáveis na satisfação
daquelas das necessidades básicas. Ademais, parte significativa da população local
ocupa-se de atividades à contaprópria de onde geram a renda necessária para o seu
sustento cotidiano. Estas ocupações praticadas por um estrato social com pouca (ou
nenhuma) qualificação escolar regem-se por meio de contratos verbais e dependem de
uma clientela que flui ocasionalmente.

Estes aspetos não oferecem garantias para o aprovisionamento da renda, contribuem


para a instabilidade do consumo familiar e aprofunda a sua vulnerabilidade em situações
de reajuste econômico (caso da depreciação da economia e inflação de preços).

No inquérito aplicado a esse estrato social constatou-se que poucas pessoas


conseguiram declarar a sua renda ou a auferida pelos seus parentes, uns por
desconhecimento28 e outros devido à natureza das suas ocupações que geralmente
dependem de uma clientela ocasional, caso do comércio29. Ficou explícito também que
as famílias com uma pessoa (ou mais) exercendo uma profissão no mercado de trabalho
formal são as que possuem uma renda claramente definida e melhores condições de
habitação. No entanto, as atividades socioeconômicas que predominam nesta área da
periferia da cidade de Maputo figuram como estratégias de sobrevivência da maioria
empobrecida. A renda gerada por aquelas ocupações destina-se essencialmente ao
consumo de bens e serviços de primeira necessidade caso de alimentos, saúde,
educação, educação, água e transporte. Diante destas necessidades do cotidiano, a baixa
renda adquirida impossibilita a realização de uma poupança significativa que seja capaz
de pagar o tipo de moradias transacionadas no mercado imobiliário formal.

Nas distintas organizações sociais, existentes nos Bairros Polana Caniço “A” e “B”,
permeiam laços de solidariedade que servem de suporte para o estrato social de baixa
renda. Os grupos de Xitique30 participam do cotidiano local perpetuando práticas que
possibilitam a transmissão da renda fundamental para a sobrevivência da população
local. Em determinadas circunstancias (caso de doença, morte, etc.) o Círculo do Bairro
promove ações para a coleta de contribuições (em dinheiro ou em produtos de primeira
necessidade) de modo a apoiar as famílias em situação de dificuldade. Trata-se de um
auxilio pontual que deixa de ser providenciado logo de imediato (superado ou não
aquele momento de crise), mas as dificuldades do cotidiano permanecessem.

Deste modo, pode-se considerar que a estrutura do trabalho e a distribuição da renda


familiar definem a situação habitacional de um grupo social. A maioria das pessoas que
residem nesses bairros reproduz sua habitação através da baixa renda gerada nas
atividades informais.

As habitações predominantes nessa área da periferia resultam da ocupação espontânea


da terra, erguidas por meio da autoconstrução e cada família procura melhorar a sua
situação habitacional recorrendo a mecanismos de baixo custo. Esta dinâmica possibilita
o aprovisionamento de habitações para os grupos sociais empobrecidos que com o
tempo vão remodelando suas próprias residências. Porém, a situação de precariedade
habitacional persiste e decorre associada ao adensamento dos espaços habitacionais.

Entretanto, no levantamento realizado nesta área da periferia de Maputo constatou-se


que outros agentes intervêm na dinâmica local impulsionado a ocorrência de
transformações na organização deste espaço habitacional. Os agentes econômicos e os
grupos sociais de maior poder aquisitivo intervêm na dinâmica local implantando novas
formas espaciais dotadas de um padrão arquitetônico diferenciado, ditando a sua
localização, uso e conteúdo social.

Estes promovem um processo de urbanização “onde o poder do capital e a especulação


fundiária urbana retomam o seu lugar determinante e perverso” para os grupos sociais
desfavorecidos (ARAÚJO, 2003: 169).
Os agentes econômicos intervêm na reprodução desse espaço urbano realizando
investimentos em diversas atividades socioeconômicas de onde se destacam os
empreendimentos imobiliários para a habitação. As novas tipologias das edificações
erguidas nesta periferia (mais próxima do centro da cidade e das amenidades como a
orla costeira) representam a inserção de uma concepção modernista na transformação
deste espaço habitacional.

Situados próximo das amenidades físico-naturais (como a Praia do Costa do Sol e da


Miramar), das áreas enobrecidas e do centro da cidade, os Bairros Polana Caniço A e B
registraram mudanças subsidiadas pelo capital financeiro-imobiliário que beneficiam o
restrito grupo social de maior poder aquisitivo. Atrelado ao avanço da ciência e da
técnica, ergue-se outro padrão habitacional que se dispõe em forma de condomínios
fechados e moradias unifamiliares de status (Figura 28a, b, c e d).

A situação social da maioria que reside nesses bairros, à ação dos agentes econômicos e
a insuficiente da ação estatal em providenciar melhorias para o grupo social
desfavorecido influem para a reprodução de um espaço marcado por discrepâncias nas
formas habitacionais.

As moradias de status distinguem-se na paisagem desta periferia pela forma e qualidade


da sua construção, cor, jardins, arruamento bem demarcado e iluminação pública. Esta
área é beneficiada pelos serviços, públicos de água, eletricidade, saneamento e coleta de
lixo. Estas moradias (isoladas ou em condôminos) erguem-se em lotes claramente
demarcados e ordenados, obedecem aos recuos laterais, paredes coloridas, calçadas
pavimentadas e ornamentadas por jardins. Estes elementos refletem a preponderância de
um volume de capital atrelado a concepção modernista da produção e transformação do
espaço habitacional urbano (Figura 29).

As habitações de status existentes nesta área do Bairro Polana Caniço “A” variam de
construções horizontais a edificações verticais de 1 a 2 andares, dotados de vários
compartimentos (tais como sala, quartos, cozinha, escritórios e banheiro) distribuídos
internamente pelos corredores. A cobertura de concreto é decorada essencialmente com
o material cerâmico (telha) e zinco pintado a cor. Concentradas numa área, estas
vivendas possuem uma forte expressão visual que resulta da variação de cores e da
forma arquitetônica.
Estes empreendimentos envolvem custos inacessíveis para maioria que reside na Cidade
de Maputo. O restrito estrato social que possui uma renda relativamente alta tem a
possibilidade de adquirir financiamento para a construção de uma residência ou compra
de uma moradia transacionada no mercado imobiliário.

A esta área “luminosa” contrapõe-se o extenso território que alberga uma maioria que
sobrevive situação de precariedade habitacional nos Bairros Polana Caniço “A” e “B”.
O problema habitacional que afeta este grupo social tende a agravar-se devido à
insuficiência dos serviços de saneamento e a inoperância dos transportes públicos. Da
disposição anárquica das moradias populares configura-se um arruamento estreito e
sinuoso que dificulta a circulação no interior do bairro e a acessibilidade dos serviços
públicos.

As habitações populares predominantes nos bairros da periferia são, na maioria,


erguidas em lotes de dimensões menores, recorrendo ao material de fabricação
industrial (cimento e zinco) e caseiro (caso concreto de blocos de cimento). Estas
construções compreendem paredes edificadas com blocos de cimento sobrepostos e
cobertas com chapas de zinco apoiadas sobre estacas ou barrotes de madeira. São casas
duráveis, com poucas subdivisões internas, com um ou dois quartos separados por uma
sala de dimensões reduzidas. A vedação destes loteamentos varia entre material
vegetal31, zinco a muros feitos com blocos de cimento (Figura 30a e b).

As pequenas dimensões e a pouca compartimentação das moradias populares induzem a


um maior aproveitamento do ambiente externo onde se dispõem outras componentes
resultantes da ampliação e transformação da casa matriz. A maioria destas habitações
possui alguns cômodos (como quartos, a cozinha e o banheiro) erguidos separadamente,
distribuídos pelo quintal e com portas expostas para o exterior da residência (Figura 31a
e b).

Determinadas abordagens feitas sobre a situação habitacional registrada na periferia da


cidade de Maputo, associam esta disposição das componentes da casa à persistência de
hábitos rurais. Nesta perspectiva, as transformações engendradas pela população de
baixa renda representam um processo de adaptação ao meio urbano aonde às moradias
de caniço são progressivamente substituídas por formas inspiradas em edificações
presentes nas áreas urbanizadas.
No entanto, percebe-se que a reprodução das distintas formas de habitação que existem
nesta periferia esta também relacionada com as possibilidades experimentadas pelos
grupos sociais nos diferentes setores da economia e do mercado de trabalho de onde
extraem a renda necessária para a construção e compra de uma moradia. Portanto, a
situação habitacional dos grupos sociais desfavorecidos é condicionada por uma
diversidade de fatores dos quais se salienta a insuficiência da renda que impossibilita
construção ou a compra de uma casa adequada.

Porém, a insegurança na geração da renda constitui um dos aspetos que condiciona a


morosidade da edificação ou transformação da moradia habitada pelo estrato social
empobrecido fato que se manifesta com a persistência de diversas casas populares
inacabadas (Figura 32).

Ademais, entre as moradias de status e as casas populares existem formas espaciais


intermediarias que ostentam melhores condições de edificação. Inseridas na área
habitada majoritariamente pelo grupo social de baixa renda, estas moradias consistem
em edificações de alvenaria erguidas com bloco de cimento, embelezadas com pinturas
e com subdivisões internas compostas por 2 a 3 quartos, sala, cozinha, banheiro,
cobertura de laje e/ou zinco (Figura 33).

A classe média à semelhança da população de baixa renda ergue a sua própria moradia
por meio da autoconstrução, contratando pedreiros e ajudantes que geralmente integram
a família ou fazem parte da vizinhança do proprietário da casa. A renda auferida por
estes estratos sociais não permite erguer ou comprar uma moradia num curto período de
tempo. Por esta razão, a autoconstrução tende a durar vários anos e algumas moradias
começam a ser habitadas mesmo antes de serem concluídas.

A paisagem desta área estrutura-se a partir da coexistência de formas espaciais que


refletem a situação social dos distintos grupos populacionais que habitam a periferia da
Cidade de Maputo. A estratificação social e as desigualdades sociais tornam-se notórias
entre áreas de habitação de status e de moradia popular.

As moradias de status são habitadas por um restrito grupo social de maior poder
aquisitivo que abrange a classe empresarial e a elite política que desfrutam de melhores
condições salariais e rendimento. A maior parte dos moradores da periferia ocupa-se de
atividades informais de onde extraem os parcos rendimentos com os quais produzem e
transformam as suas modestas moradias. O grupo social intermediário abrange alguns
funcionários da função pública e trabalhadores qualificados das empresas privadas,
trabalhadores a contaprópria e comerciantes (RAPOSO; SALVADOR, 2002). Estes
ostentam melhores condições de habitação em relação ao estrato social de baixa renda,
mas inferiores quando comparadas às moradias de status

Nos bairros Polana Caniço “A” e “B”, que integram a periferia da cidade de Maputo,
predominam construções populares de alvenaria erguidas com blocos de cimento e
dotadas de uma cobertura de zinco apoiada sobre barrotes de madeira. Este tipo de
material de construção (cimento e zinco) usado na edificação e reforma das habitações
populares pode ser adquirido em ferragens e distribuidores locais (Figura 34).

Constata-se que nesta periferia da Cidade de Maputo o caniço foi rapidamente


substituído por construções de alvenaria erguidas basicamente com cimento e zinco.
Estas mudanças são propulsionadas pela diversificação das estratégias de sobrevivência
e de práticas de geração de renda facultadas pela inserção de outros membros do
agregado familiar no mercado de trabalho urbano, formal ou informal.

A coexistência de formas de habitação desiguais revela a ocorrência de uma dinâmica


impulsionada pela ação dos agentes econômicos e do estrato social de maior poder
aquisitivo. A periferia da Cidade de Maputo deixou de ser habitada apenas por uma
maioria empobrecida e passaram a albergar outros estratos sociais. Estas desigualdades
repercutem-se no território através de formas habitacionais contrastantes e pela
existência segregada dos distintos grupos sociais.

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