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Via humoral 1 e a febre
A via humoral 1 consiste na ativação dos receptores TLR-4 na
barreira hematoencefálica por fatores exógenos (principalmente microorganismos).
Esses pirogênicos exógenos estimulam os leucócitos a liberar
pirogênicos endógenos como a IL-1 e TNF que aumentam as enzimas (ciclo-oxigenases) responsáveis pela conversão de ácido araquidônico em prostaglandina.
No hipotálamo, a prostaglandina, principalmente
a prostaglandina E2, promove a ativação de receptores do núcleo pré-óptico, levando ao aumento do ponto de ajuste hipotalâmico.
Via humoral 2 e a febre
Quanto à via humoral 2, pode ocorrer de forma direta ou indireta.
No caso da via indireta, as citocinas irão ativar os
receptores TLR-4 na barreira hematoencefálica, desencadeando toda a sequência descrita na via humoral 1.
Já na via direta, as citocinas funcionam diretamente nos
receptores do núcleo pré-óptico, aumentando o ponto de ajuste hipotalâmico.
Quando a temperatura ultrapassa o novo limiar, são
desencadeados interruptor de dissipação de
calor (vasodilatação periférica, sudorese e transpiração)
que tendem a reduziri-lá novamente. Desta forma, na resposta
febril a termorregulação é preservada, ainda que em nível mais elevado, mantendo-se inclusive o ciclo circadiano fisiológico (temperatura máxima entre 16 e 20hrs, mínima entre 4 e 6hrs).
Os principais pirogênicos endógenos são os IL-1 e IL-6, o TNF e
o IFN e, mais recentemente ouvido, a IL-8 e o MIP-1. Já os pirogênicos exógenos principais são os microorganismos intactos, produtos microbianos, complexos imunes, antígen os não-microbianos, drogas e outros agentes farmacológicos.
Sinais e sintomas relacionados à febre
Os sinais e sintomas da febre estão envolvidos com as respostas metabólicas à ação dos pirogênios. Podem ser observados calafrios, piloereção, extremidades frias (em decorrência da vasoconstrição periférica), posição fetal , taquicardia, taquipnéia, taquisfigmia, oligúria, náusea e vômito, convulsões (principalmente em crianças), delírios e confusão mental, astenia , inapetência e cefaleia, sudorese (após a cessação da febre).
Devem ser persistentes as seguintes características semiológicas
da febre: início, intensidade, duração, modo de evolução e termo . O início pode ser súbito ou gradual, já a intensidade é classificada como leve (até 37,5°C), moderadamente (37,6 a 38,5°C) ou alta (acima de 38,6°C). Em relação à duração, a febre pode ser recente (menos de 7 dias) ou prolongada (mais de 7 dias).
Evolução da febre: como pode ocorrer?
O modo de evolução pode ser avaliado através de um quadro térmico, com verificação da temperatura uma ou duas vezes por dia ou até de 4 em 4 horas, a depender do caso.
Classicamente, são sentidos os seguintes padrões evolutivos:
Contínua: permanece sempre acima do normal com
variações de até 1 grau, sem grandes oscilações. Irregular ou Séptica: picos muito altos intercalados baixas temperaturas ou apirexia, sem nenhum caráter cíclico nessas variações. Remitente: há hipertermia diária com variações de mais de 1 grau, sem períodos de apirexia. Intermitente: a hipertermia é ciclicamente interrompida por um período de temperatura normal. Pode ser cotidiana, terçã (um dia com febre e outro sem) ou quartã (um dia com febre e dois sem). Recorrente ou Ondulante: semanas ou dias com temperatura corporal normal até que períodos de temperatura elevada ocorram. Durante a fase de febre não há grandes oscilações.
Por fim, o término da febre pode ser súbito ou gradual. O
término súbito é chamado de crise e apresenta sudorese profusa e prostrações.
O término gradual é denominado de lise e apresenta uma diminuição
da temperatura dia após dia, até alcançar os níveis normais. Diagnosticando a febre O diagnóstico de febre é basicamente clínico, ou seja, a aferição da temperatura, juntamente com os principais sinais e sintomas são suficientes.
Pensando na possibilidade de um quadro infeccioso, a anamnese e o
exame físico somados ditarão a conduta, incluindo a necessidade de exames complementares e tratamento específico.
A investigação de outras queixas é de extrema importância para o
diagnóstico da etiologia da febre. Alguns sintomas podem ser simplesmente associados ao quadro febril, como mialgia, cefaléia e fraqueza. Porém alguns outros já são mais indicativos da etiologia, por exemplo, tosse produtiva e dispneia podem apontar uma pneumonia.
O padrão cronológico também é muito importante para o diagnóstico
da causa da febre. Febres com intervalos de 1-2 dias estão relacionadas com malária (Plasmodium vivax e P. falciparum, respectivamente). Por outro lado, febre recorrente pode ser observada em pacientes com HIV, linfoma de Hodgkin ou outros linfomas.
Outro diferencial no diagnóstico da etiologia da febre é saber se o
paciente está vindo da comunidade ou estava previamente internado. No caso do paciente internado, pode-se pensar em infecções hospitalares e aumento de temperatura secundário a agentes e procedimentos. Já em pacientes vindos da comunidade, além das causas infecciosas, deve-se pensar em causas neoplásicas, colagenoses e processos inflamatórios.
Em boa parte dos casos de febre, os exames complementares não são de
extrema importância, porém, nos casos em que são necessários, os exames devem ser dirigidos e condizentes com a suspeita diagnóstica. As situações em que mais se obtém benefício de exames complementares são as febres de origem indeterminada (FOI), apesar da alta prevalência de casos sem diagnóstico (40% dos casos, segundo a literatura). Febres de origem indeterminada (FOI) A FOI clássica é caracterizada por temperaturas axilares maiores que 38,3°C em várias ocasiões. Outra característica é a febre com duração de mais de três semanas e impossibilidade de estabelecer um diagnóstico após três consultas ambulatoriais ou três dias de internamento hospitalar.
Já considerando a FOI nosocomial deve-se encontrar
temperaturas acima de 38,3 °C em pacientes internados com ausência de infecção ou doença incubada à admissão. O pré-requisito mínimo é pelo menos três dias de internação com pelo menos dois dias de incubação de culturas.
Por outro lado, a FOI neutropênica é febre também é superior à
38,3°C naqueles pacientes que possuem neutrófilos com valor absoluto menor que 500, ou nos quais exista expectativa de queda para tais valores em 1 a 2 dias.
A FOI associada ao HIV é quando se encontra febre superior à
38,3°C em várias ocasiões em pacientes infectados pelo vírus HIV.
O foco do tratamento deve ser tratar a causa da febre e não apenas a febre isoladamente. Alguns autores trazem o fato de que em algumas doenças o padrão da febre pode ser muito útil para o diagnóstico e, por isso, não deveria tratá-la de imediato.
Ainda, pensando devido a sintomas possivelmente associados, como
cefaleia, mialgia, artralgia e mal-estar durante a febre, medicações sintomáticas podem ser associadas à antipirética. Não é necessário manter medicação de forma a evitar a elevação da temperatura no paciente (medicação de horário), bastando deixar a medicação em uso de acordo com a temperatura. Os principais antipiréticos são:
Dipirona: medicação bastante utilizada em nosso meio,
apesar de ser preterida e até mesmo não disponível em outros países. Possui uma potente ação antitérmica e analgésica, porém não possui ação anti-inflamatória. o IM/IV: 2 a 5mL; dose máxima diária: 10mL. o VO: 500mg a 1g/dose até 4x/dia. Paracetamol: droga mais utilizada no mundo para combate à febre. Tem ação antitérmica, antiinflamatória e analgésica. o Apresenta risco de hepatotoxicidade (em geral se paciente fizer uso de >4g/dia). o VO: 500mg a 1g/dose até 4x/dia. Ácido Acetilsalicílico (AAS): mais antigo dos antitérmicos. Possui ação antitérmica, antiinflamatória e analgésica. Atualmente, tem sido pouco utilizado no combate à febre. o Contra-indicado em casos de dengue e história de hipersensibilidade; cautela com pacientes com história de sangramento por úlcera péptica, outros sangramentos e trombocitopenia. o VO: 300 a 900mg/dose de 4/4hrs ou 6/6hrs.