Febre Aguda Na Infância

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Febre aguda na pediatria

Definição de febre:

Elevação da temperatura corpórea em resposta a uma variedade de estímulos, mediada e


controlada pelo sistema nervoso central. A medida da temperatura corpórea mais confiável é
aquela obtida por via oral ou retal. Os valores geralmente utilizados são: temperatura retal >
38,3ºC, temperatura oral > 38ºC e temperatura axilar > 37,8ºC.

Febre sem sinais localizatórios:

Febre sem sinais localizatórios (FSSL) é definida como a ocorrência de febre com menos de 7
dias de duração, em criança na qual a história clínica completa e o exame físico cuidadoso não
revelam a causa da febre. É importante ressaltar que FSSL não é sinônimo de febre com exame
físico normal, porque a elucidação de sua causa pode estar na história e não no exame físico,
por exemplo, numa criança com disenteria e febre. Nesse caso, o exame físico pode estar
completamente normal, mas a história revela a causa da febre.

Considerações gerais sobre a febre:

 A febrefobia provoca um uso abusivo de antipiréticos.


 A indicação de medicação é: febre + outro sintoma (choro, irritabilidade e mal estar).
 Se somente febre, retirar vestimentas e aguardar. Contudo, não se deve intervalar
medicamentos porque ocorre maior risco de hipotermia e toxicidade.
 O antipirético de escolha deve ser aquele que causa menos efeitos colaterais. Nesse
sentido, o paracetamol é a droga de escolha, seguida da dipirona. A dipirona pode
causar hipotensão e discrasias sanguíneas.
 Crise convulsiva febril: ocorre diante de uma mudança brusca de temperatura com o
objetivo de reiniciar o sistema nervoso, protegendo-o de danos. Ela é benigna, rara e
autolimitada, não causando nenhum dano neurológico. O antitérmico não deve ser
utilizado para tratá-la, já que ele não previne a ocorrência de convulsões.
 Técnica do resfriamento: somente se temperatura > 39,5 ºC E presença de sintoma
neurológico.
 Termômetros de mercúrio podem quebrar em altas temperaturas e isso é perigoso, já
que o mercúrio é tóxico.
 Pacientes desnutridos podem não apresentar febre.

| “A crise convulsiva febril deve ser tratada como uma emergência, mas dispensa a
necessidade de exames complementares ou avaliação de neurologistas. Medicamentos
antitérmicos não cedem nem previnem crises convulsivas febris.” (Tratado de Pediatria
5ª edição, cap. 13).

Etiologia:

A maioria das febres sem sinais localizatórios são de etiologia viral. Assim, são benignas e
autolimitadas. Contudo, é importante suspeitar sempre de algo mais grave, que são as
infecções bacterianas graves. Infecção bacteriana grave (IBG) é toda infecção bacteriana que
acarreta risco de morbidade ou mortalidade, caso ocorra atraso no seu diagnóstico. O
conceito de IBG inclui: bacteremia, infecção urinária, pneumonia, meningite, artrite séptica,
osteomielite, celulite e sepse. Todas essas infecções podem se apresentar inicialmente como
FSSL, mas a bacteremia, infecção urinária e pneumonia são as mais frequentes. Por esse
motivo, o fluxograma contempla principalmente a exclusão dessas condições.

 Bacteremia oculta: hemocultura positiva sem infecção localizada em criança com


febre. Dependa da situação vacinal da criança e cobertura para Haemophilus
influenzae tipo b e Streptococcus pneumoniae.
 Infecção urinária oculta: principal causa bacteriana.
 Pneumonia oculta: criança sem nenhum comemorativo de tosse, falta de ar ou
desconforto respiratório no exame físico.

Investigação

O primeiro passo é realizar uma observação rápida da criança, analisando o triângulo


pediátrico.

Triângulo pediátrico

Avaliação rápida com o objetivo de “triar” a criança. Pode ser feito em 30s.

1) Estado geral: observar aparência, interatividade, consolabiblidade, olhar,


choro/fala.
2) Respiração: sons anormais, posição anormal e retrações.
3) Aparência de pele: palidez, moteamento (pele rendilhada) e cianose. O
moteamento é o rendilhado na pele e, na pele negra, pode apresentar-se como
áreas claras com linhas negras. É formado devido ao fornecimento insuficiente
de O2 para região (má perfusão).

Após realização do triângulo pediátrico, coletar cronologia da febre com a genitora:

 Quando começou? Qual foi a temperatura mais alta? Medicações usadas? De


quanto em quanto tempo? Contato com pessoas doentes?
 Solicitar caderneta de vacinação
 Presença de comorbidades
 Exame físico completo, incluindo genitália
 Avaliar a quantidade de roupa para diferenciar febre de hipertermia por
agasalhamento.

Na avaliação clínica de crianças com FSSL devemos levar em conta os principais fatores
de risco para IBG: estado geral, idade, temperatura e situação vacinal.A presença de
toxemia, alteração do estado geral ou instabilidade dos sinais vitais é um grande
indicativo de infecção bacteriana grave e esta criança deverá ser abordada como
potencialmente em sepse. Os lactentes devem jovens merecem atenção especial
devido à sua imaturidade imunológica, que faz com que os sintomas sejam
inespecíficos e há maior risco para evolução para sepse. Por essa razão, todos os
protocolos de atendimento de crianças com FSSL recomendam condutas mais
invasivas e agressivas nos lactentes jovens.
Exames complementares

 Hemograma: Importante saber qual é o tipo de célula predominante para direcionar


se a infecção é bacteriana ou viral. Avaliamos a quantidade total de leucócitos e de
neutrófilos.
 Sumário de urina com urocultura: são observados presença de leucócitos
(maior do que 10 L/C), de nitritos (positivo ou negativo) e de bactérias. Nem
toda ITU tem nitrito positivo. Apesar de o sumário de urina não fornecer
diagnóstico de ITU, ele pode sugerí-la. Assim, devemos solicitar sumário de
urina e urocultura. Porém, como a urocultura demora, analisaremos o
sumário de urina e estabeleceremos conduta.
 Proteína C reativa: marcador inflamatório que tende a se elevar rapidamente
em infecções bacterianas graves. Quanto mais elevada, maior o risco de uma
IBG.
 Procalcitonina: é produzida de acordo com a produção de interleucinas. É um
exame mais caro e, assim, não está disponível na maioria dos serviços. Quanto
mais elevada, maior o risco de uma IBG.
 Raio X de tórax, hemocultura e punção lombar.

Fluxograma FSSL

O protocolo aplica-se a crianças de 0 a 36 meses de idade com apresentação


inicial considerada como FSSL.

 Aplica-se a crianças de 0 a 36 meses de idade.


 Primeiro passo: presença de toxemia? Utilizar triângulo pediátrico.

 Se comprometimento do estado geral INDEPENDENTE da idade: internação,


investigação para sepse e uso de ATB.

Sem comprometimento do EG:

 Se RN (0-28 dias): conduta invasiva – internamento e uso de antibiótico.


Ampicilina + cefotaxima ou ceftriaxone podem ser utilizados.

 Lactente jovem (1-3m): avaliar critérios de Rochester. Se todos os critérios


forem preenchidos, a criança será baixo risco. Se baixo risco, liberar a criança e
reavaliação diária. Se alto risco, conduta invasiva e uso de ceftriaxone.

 Entre 3-36 meses: avaliar situação vacinal (completa se 2 ou mais doses). Se a


criança possuir menos que 2 doses da vacina, analisar temperatura porque
quanto maior for a temperatura (>39ºC), maior o risco de ITU. Assim, se maior
que 39ºC, investigar ITU, que é a IBG mais prevalente. Se ausência de
sugestividade para ITU, solicitar raio-X de tórax para avaliar presença de
pneumonia oculta. Se RX normal, solicitar hemocultura para avaliar presença de
bacteremia oculta.

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