Embargos de Declaração MPC 602061 18

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MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS DO ESTADO DO PARANÁ

Gabinete da Procuradoria-Geral

EXCELENTÍSSIMO SENHOR RELATOR CONSELHEIRO FÁBIO DE


SOUZA CAMARGO - TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO
PARANÁ

Protocolo n.º 602061/18


Ato recorrido: Acórdão n.º 1393/2019 – Tribunal Pleno

O MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS DO ESTADO DO PARANÁ, por


meio de seu Procurador-Geral abaixo assinado, vem, mui respeitosamente à presença
de Vossa Excelência, no uso de suas atribuições e competências, com fulcro nos
artigos 127, caput, 129, inciso IX e 130 da Constituição Federal, combinados com o
artigo 76 da Lei Complementar Estadual nº. 113/2005 e artigo 490 do Regimento
Interno desta Corte, opor

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

em face do v. Acórdão n.º 1393/2019 – Tribunal Pleno, que respondeu a Consulta


formulada pelo Município de Ortigueira.

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I. DOS FATOS

Trata-se o Protocolo nº. 60206-1/18 de Consulta formulada pelo


Município de Ortigueira, dispondo acerca do critério de formação do preço de
medicamentos a partir do Banco de Preços em Saúde (BPS). Os questionamentos da
municipalidade foram os seguintes:

a) os valores registrados pelos Municípios no banco de preços em saúde,


especialmente aqueles que representam a mesma região geográfica, podem
ser utilizados como critério único de formação de preço máximo?
b) a aplicação da média ponderada dos preços dos medicamentos constantes
do banco de preços em saúde, é a única metodologia possível para
determinação dos preços máximos a serem observados no processo
licitatório?
c) não sendo a única metodologia possível, qual a metodologia adequada
para a formação dos valores máximos indicados nos termos de referência de
certames que envolvam a compra de medicamentos?

A Coordenadoria de Gestão Municipal, em sua Instrução nº. 494/19-


CGM (peça 11), propôs que: a) o BPS pode ser utilizado em conjunto com outras
fontes para fins de pesquisa na formação do preço máximo de medicamento, e em
caráter excepcional, devidamente justiçado, utilizado como fonte única; b) a média
ponderada não pode ser utilizada como única metodologia possível, devendo ser
utilizada em conjunto com outras fontes; c) a metodologia adequada para a formação
do preço deve utilizar o BPS e as demais fontes existentes no mercado.
Este Parquet, em seu Parecer n.º 90/19 (peça 12), após discorrer
sobre o dever dos gestores públicos de alimentar o BPS1, em todos os níveis
federativos, ressaltou que a metodologia a ser adotada deveria ser a média
ponderada dos preços constantes no BPS conjugada com outras fontes para definir
os preços máximos do edital.

1 Resolução nº 18/2017 da Comissão Intergestores Tripartite.

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Ainda, por entender pela pertinência temática, destacou a importância


do uso do Código BR como identificador dos medicamentos e recomendou a sua
adoção obrigatória de modo a garantir não apenas a identificação dos valores
efetivamente praticados no mercado, como também viabilizar a adequada
padronização das comprovas promovidas pelo Poder Público e eficiente fiscalização
por esta Corte de Contas.
Os membros do Tribunal Pleno assim responderam a Consulta:

a) Não. Além da obrigatória consulta ao Banco de Preços em Saúde - BPS e a


adoção do Código BR como identificador dos medicamentos, devem ser
consultadas outras fontes de pesquisa para formação do preço de referência,
como o COMPRASNET (âmbito federal) e o COMPRASPARANA (âmbito
estadual) e a cotação direta a fornecedores. Há que se estabelecer uma cesta
de preços aceitáveis, que deve ser analisada de forma crítica, em especial
quando houver grande variação entre os valores apresentados. Todas as
consultas realizadas devem constar expressamente e de forma detalhada e
justificada do procedimento administrativo utilizado para a definição do preço
de referência;
b) Não, conforme resposta à questão anterior; e
c) Prejudicada em razão da resposta à primeira questão.

Contudo, conforme adiante se demonstrará, a proposta de decisão do


I. Relator, acolhida à unanimidade de votos pelo respectivo órgão fracionário, com o
devido respeito, ressente-se de omissão ao apreciar a fundamentação formulada pelo
Ministério Público, fato a ensejar o manejo do presente expediente.

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II. DAS RAZÕES PARA A REFORMA DA DECISÃO

DA TEMPESTIVIDADE

O artigo 490 do Regimento Interno e o artigo 76, da Lei Orgânica do


Tribunal de Contas do Paraná, são claros ao delimitarem o prazo de 05 (cinco) dias
úteis para o exercício do direito dos legitimados à proposição de Embargos de
Declaração.
A decisão objurgada foi disponibilizada no Diário Eletrônico do
Tribunal de Contas do Estado do Paraná nº 2073, do dia 05 de junho de 2019,
considerando-se como publicado no dia 06 de junho de 2019, conforme certidão
constante na peça 15, o que acarreta a tempestividade do presente recurso.

OMISSÃO

Inicialmente, cumpre esclarecer pontos fundamentais acerca do


Banco de Preços de Saúde. Segundo o Manual de Consulta e Análise de Preços, o
BPS é:

Um sistema desenvolvido pelo Ministério da Saúde no qual órgãos e


instituições públicas ou privadas podem registrar, de forma voluntária, suas
compras de medicamentos e produtos para a saúde e, dessa forma, torná-
las disponíveis para consulta. Criado em 1998, com o nome de Banco de
Preços Praticados na Área Hospitalar (BPPH), seu objetivo principal é dar
publicidade e transparência aos gastos públicos, bem como melhorar a
gestão e a eficiência dos processos de compra. Com o propósito de
complementar as informações inseridas, o BPS também disponibiliza as
informações das compras em saúde realizadas por toda Administração

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Pública Federal direta, autárquica e fundacional registradas obrigatoriamente


por meio do Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais (Siasg)2.

Para a aferição das informações são utilizadas diversas variáveis,


quais sejam: preço unitário, tipo de compra, modalidade de compra, localidade da
instituição compradora e quantidade negociada.
Na Consulta em exame, o Município de Ortigueira provocou esse
Tribunal acerca da metodologia de preço que pode ser aferido a partir de três
variáveis: média ponderada, preço mínimo e máximo:

O preço médio ponderado, ou média ponderada, representa a tendência


central dos preços unitários de um produto considerando as quantidades
compradas. É calculado dividindo-se a soma do valor das compras de
determinado produto pela quantidade total comprada deste mesmo produto
em certo período de tempo. No cálculo do preço médio ponderado
desconsideram-se os preços unitários acima e abaixo de um desvio-padrão
do preço médio. Além disso, ele é calculado separadamente para cada
unidade de fornecimento, para medicamentos genéricos e para cada tipo de
compra.
O preço mínimo é o menor preço informado e o preço máximo é o maior preço
informado para determinado produto em certo período de tempo. Cabe
destacar que o preço máximo usado no BPS não está relacionado ao Preço
Máximo de Venda ao Governo (PMVG), nem mesmo ao Preço Fábrica (PF),
ambos regulados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (AGÊNCIA
NACIONAL DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2006).

2Disponível em:
<https://drive.google.com/file/d/0Bw1QbCDRaWMIOUZCU2hEZ0FOalE/view?pref=2&pli=1>.

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A título de exemplo, vejamos o medicamento Aciclovir 200MG (Código


BR: 0268370)3, que tem diversos valores disponibilizados por meio do BPS, podendo
variar de R$0,0825 a R$230,00, com a média ponderada de R$ 0,1982:

Ainda, o medicamento Carbamazepina 400MG (Código BR:


0267617)4, pode variar de R$ 0,2980 a R$1,4000, com a média ponderada de R$
0,3254:

Feitas tais ponderações, no mérito, o I. Relator em resposta ao item


“a” da Consulta formulada, em consonância com o opinativo deste Parquet,
estabeleceu que o BPS não pode ser utilizado como única fonte de formação do preço
máximo para aquisição de medicamentos:

Resposta: Não. Além da obrigatória consulta ao Banco de Preços em


Saúde - BPS e a adoção do Código BR como identificador dos
medicamentos, devem ser consultadas outras fontes de pesquisa para
formação do preç60o de referência, como o COMPRASNET (âmbito
federal) e o COMPRASPARANA (âmbito estadual) e a cotação direta a
fornecedores. Há que se estabelecer uma cesta de preços aceitáveis, que

3 Vide anexo I. Consulta realizada em 11/06/2019. Não utilizado filtro de período. UF: Paraná.
4 Vide anexo I. Consulta realizada em 11/06/2019. Não utilizado filtro de período. UF: Paraná.

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deve ser analisada de forma crítica, em especial quando houver grande


variação entre os valores apresentados. Todas as consultas realizadas
devem constar expressamente e de forma detalhada e justificada do
procedimento administrativo utilizado para a definição do preço de referência.

Com a devida vênia, entende-se que houve omissão da decisão ao


determinar a obrigatoriedade de utilização do Banco de Preços em Saúde, sem a
fixação do parâmetro a ser utilizado, pois conforme já exposto no presente
expediente, a ausência de definição do critério pode ocasionar uma variação
considerável de preços.
Este Ministério Público de Contas defende a adoção da média
ponderada como critério de preços por constituir uma tendência central e, assim,
representar uma forma mais robusta dos preços praticados no mercado5.
Ademais, sem a fixação de parâmetros, deixar-se-ia ao arbítrio dos
Municípios a escolha de qualquer valor constante no BPS, podendo levar a distorções
que acarretem dano ao erário. Um padrão único permite uma uniformidade dos preços
no Estado e um melhor controle por parte desta Corte de Contas e pelos cidadãos.
Em vista disso, o suprimento da omissão é necessário para a fixação
da “média ponderada” constante no Bando de Preços em Saúde (BPS) como o
parâmetro a ser utilizado, em conjunto com outras fontes, na metodologia para
determinação dos preços máximos a serem observados dos processos licitatórios.

III. PEDIDO

Ante o acima exposto, este Ministério Público de Contas,


respeitosamente, requer, em ordem:

a) seja o presente expediente recebido e processado, em consonância


com os princípios constitucionais que regem o devido processo legal;

5 Vide Acórdão 3068/2010 – Plenário do TCU.

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b) sejam providos os presentes Embargos para o fim de que seja suprida


a omissão constante do v. Acórdão n.º 1393/19 - Pleno no que se refere
à ausência de fixação do parâmetro de preço constante do Banco de
Preço em Saúde (BPS).

Nestes termos,
Pede Deferimento.

Curitiba, 12 de junho de 2019.

FLÁVIO DE AZAMBUJA BERTI


Procurador-Geral do Ministério Público de Contas

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