Relatorio de Estagio Pediatria
Relatorio de Estagio Pediatria
Relatorio de Estagio Pediatria
ESTÁGIO PROFISSIONALIZANTE NO
- LUANDA, ANGOLA -
Nélia Neves
PORTO 2009
Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
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Resumo
Durante um período total de 100 horas, distribuídas por 4 semanas. passei por várias
Unidades de Internamento do HPDB: Cuidados Intermédios 2, Infecciologia, Cuidados
Intermédios 1, Pneumologia, Centro de Recuperação Nutricional e Neonatologia. Sendo um
estágio de carácter profissionalizante, fui integrada na actividade da enfermaria em cada uma das
unidades e procurei desempenhar as mesmas funções atribuídas aos restantes alunos estagiários e
participar nas mesmas actividades hospitalares, incluindo as sessões clínicas semanais, as
reuniões de médicos diárias e o banco de urgência semanal.
Foi um mês intenso e enriquecedor: do ponto de vista médico, pois tive a oportunidade de
experimentar um estágio verdadeiramente profissionalizante, como se pretende que seja o 6ºano
do curso de Medicina, e intenso também a nível de formação e de vivência pessoal.
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
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Agradecimentos
Ao Dr. António Carneiro, orientador deste estágio, amigo e conselheiro, pelo incentivo e
inspiração.
Aos Chefes de Equipa Dr. Leite Cruzeiro e Dr.ª Sílvia Silvestre, pela sabedoria e experiência
partilhadas e dinamismo contagiante.
Aos médicos especialistas, nomeadamente Dr.ª Carla Benchimol, Dr.ª Ondina Cardoso, Dr.ª
Adelina Fernandes e Dr. Elizete e aos médicos internos complementares Dr.ª Yala Almeida, Dr.
Joaquina, Dr. Manza, Dr. Tete, Dr.ª Vanda, Dr. Jorge, Dr.ª Felismina e Dr.ª Laurinda.
Aos alunos estagiários com quem trabalhei diariamente nas enfermarias e partilhei dúvidas,
angústias e pequenas vitórias.
Às empresas Bacelar e Vitalino Sousa Figueiredo, Lda. pelo material cedido para a avaliação
nutricional realizada no Centro de Acolhimento de Crianças Arnaldo Janssen, em Luanda.
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Lista de Abreviaturas
IV Intra-venoso
IV
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Índice Geral
1. Introdução……………………………………………………………………………………1
2. Discussão……………………………………………………………………………………...2
2.1. Contextualização………………………………………………………………………...2
2.2.2.4. Neonatologia………………………………………………….................24
3. Conclusões…………………………………………………………………………………..31
4. Bibliografia……………………………………………………………………….................33
Anexos
Anexo I. Calendarização das actividades hospitalares
Anexo VIII. Projecto “Promoção da saúde e melhoria das condições alimentares e higio-sanitárias do
Centro de Acolhimento de Crianças Arnaldo Janssen”
Anexo IX. Apresentação da organização médica International Physicians for the Prevention of Nuclear
War
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1. Introdução
Todo este percurso, desde a preparação do estágio até à sua conclusão, foi acompanhado e
orientado pelo Dr. António Carneiro. O planeamento das actividades hospitalares,
nomeadamente a distribuição pelas Unidades de Internamento do Hospital Pediátrico, e o
acompanhamento durante a rotação foram assegurados, respectivamente, pelo Dr. Luís
Bernardino e pelos médicos responsáveis em cada unidade.
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2. Discussão
2.1. Contextualização
2.1.1. Impacto do contexto social na saúde da criança
Angola, que emergiu em 2002 de quase três décadas de guerra civil, é hoje um país em
construção, apresentando nos últimos anos um crescimento exponencial. Com a consolidação do
processo de paz iniciou-se um processo de reconciliação e recuperação nacional, mas o conflito
que devastou o país por quase 30 anos deixou cicatrizes profundas em praticamente todos os
aspectos da vida social e económica do país, incluindo a saúde e nutrição da população,
especialmente de mulheres e crianças.
Indicadores Demográficos
Com uma taxa de crescimento populacional anual superior ao valor médio estimado para
a África subsariana, Angola tem actualmente uma população total de cerca de 17 milhões de
habitantes, dos quais mais de 50% são menores de 18 anos. A esperança média de vida é de 42
anos, uma das mais baixas do mundo, sendo inferior à média deste indicador nos países menos
desenvolvidos a nível mundial, estimada em 55 anos. A taxa de natalidade é muito elevada – 48
nascimentos por 1000 habitantes, em 2007, assim como a taxa global de fertilidade,
correspondendo a 6,5 filhos por mulher (UNICEF, 2009) (Anexo III. Indicadores
demográficos e indicadores de nutrição, UNICEF 2009).
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A proporção da população angolana que vive abaixo do limiar de pobreza é de 68%, dos
quais 28% vivem em situação de pobreza extrema (INE Angola, 2001).
Verificou-se também que as taxas de mortalidade infantil em Angola são tão elevadas nas
áreas rurais como nas áreas urbanas, o que contrasta com outros países em desenvolvimento em
que estas taxas de mortalidade são consideravelmente mais elevadas nas áreas rurais. Este facto
pode ser explicado pela deslocação de milhões de pessoas do meio rural para as regiões urbanas
durante a guerra, o que resultou no crescimento rápido e anárquico de grandes musseques
(bairros) na periferia dos centros urbanos.
Assim, para a elevada taxa de mortalidade infantil nos centros urbanos contribuem a falta
de acesso das populações urbano-periféricas a cuidados de saúde, a baixa qualidade dos mesmos
e os riscos ambientais acrescidos nas zonas urbanas muito aglomeradas e pobres.
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Dados mais recentes publicados pela UNICEF em The State of the World’s Children 2009
revelam que Angola se encontra, de acordo com a taxa de mortalidade de menores de 5 anos, na
décima sexta posição no ranking de 189 países, revelando uma evolução positiva, nos últimos
anos, no que diz respeito à saúde infantil (Anexo IV. Ranking mortalidade menores de 5
anos).
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1ª Semana:
6 a 9 Abril 2009
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Caso clínico 1
AFA, crianças de 10 anos, sexo masculino, raça negra, natural e residente em Luanda,
recorre ao SU do HPDB a 06.04.2009 por vários episódios de vómitos consecutivos, cefaleias e
alterações do comportamento, nomeadamente agitação e recusa de contacto com água, desde
há 1 dia. Pai refere história de mordedura por cão vadio não vacinado em Fevereiro do ano
decorrente no membro superior esquerdo. Na altura, recorreu a um posto médico local onde foi
tratado com fármacos intravenosos que não sabe especificar, permanecendo assintomático. Sem
antecedentes pessoais de relevo.
Terapêutica instituída: Apenas sintomática, incluindo Cloropromazina (25mg/1ml) 2ml 6/6h IV,
fluidoterapia e medidas gerais como repouso no leito, medição de sinais vitais 2/2h e dieta
líquida.
CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS COM ESTE CASO A raiva é uma doença quase sempre fatal e
não existe tratamento específico após manifestação da infecção. No entanto, na maioria dos
casos a doença é passível de prevenção com a profilaxia pós-exposição (PPE) apropriada durante
o período de incubação que pode ir de 1 a 3 meses. A PPE inclui cuidados locais com a ferida e
imunização activa (Vacina anti-rábica, 5 doses IM: D0, D3, D7, D14 e D28) e passiva
(Imunoglobulina anti-rábica, 20 UI/kg, até 7 dias após a 1ª dose de vacina, se possível totalmente
infundida no local da ferida). Após o início da manifestação da infecção os doentes sobrevivem
apenas alguns dias, mesmo em unidade de cuidados intensivos. O diagnóstico definitivo é
confirmado na autópsia pela observação de corpúsculos de Negri no tecido cerebral.
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Caso clínico 2
MM, 4 anos, sexo feminino, raça negra, natural e residente em Cacuaco - Luanda.
Criança com antecedentes de internamento em Janeiro de 2009 por meningite tuberculosa,
tendo obtido alta sem sequelas neurológicas com a instituição de tratamento ambulatório com
anti-bacilares. Permaneceu assintomática durante cerca de 2 meses, tendo interrompido a
terapêutica no último mês. Desde há 6 dias apresenta um quadro clínico de arrepios de frio,
hipersudorese, cefaleias, vários episódios de convulsões e tosse produtiva.
Objectivamente: F.C.: 120 bpm, FR.: 60 cpm, Temp.:38ºC. Criança com 8 kg (<P5) e
malnutrição grave (Peso/altura<70%). Mucosas coradas e hidratadas, não apresentando sinais de
dificuldade respiratória. Diminuição do estado de consciência (Coma grau 2/5 na Escala de
Blantyre), com sinais de descerebração e rigidez cervical. Auscultação pulmonar: murmúrio
vesicular rude com roncos dispersos bilateralmente. Auscultação cardíaca e exame abdominal
sem alterações. Sem edemas periféricos. Analiticamente: glicose sérica-72,6 mg/dL,
hemoglobina-13,6 g/ml, Leucócitos-8,350/mm3 (Neutr:51%, Linf: 48%, Eosin: 1%); LCR:
aspecto límpido, 4 cel/µl, predomínio de linfócitos, glicose 15,4 mg/dL; exame bactereológico
directo (Gram): negativo; exame cultural: sem crescimento bacteriano. Pesquisa de plasmódio
(gota espessa) positiva: 1012 P/µL.
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Caso clínico 3
MG, 7 anos, sexo feminino, raça negra, natural e residente em Viana – Luanda, é trazida ao SU
de HPDB dia 01.04.2009 com história de febre e cefaleias com 3 dias de evolução, que não
cederam à toma de paracetamol. Um dia após o inicio da sintomatologia ocorre perda de
consciência. Sem antecedentes pessoais e familiares de relevo.
Objectivamente: criança corada, hidratada e apirética. F.C.: 106 bpm, FR.: 28 cpm. Com
alteração do estado de consciência, letargia e rigidez da nuca. Sem outros sinais meníngeos.
Sem sinais de dificuldade respiratória. Sem exantemas ou petéquias. Sem alterações
auscultatórias nem ao exame do abdominal. Analiticamente: Hb: 11,5 g/ml, glicose sérica: 58,5
mg/dL. LCR: aspecto turvo, 5800 cel/mm3, predomínio de neutrófilos, glicose 7,1 mg/dL,
exame bactereológico: diplococos gram negativo, ex.cultural: positivo para Neisseiria
meningitidis. Pesquisa de plasmódio negativa.
Terapêutica instituída: Penicilina (1M/4cc) 5,7cc 6/6h IV, Cloranfenicol (1g/cc) 2ml 6/6h IV,
Diazepam (10mg/2 cc) 1 ml IV em SOS, Paracetamol (500mg) em SOS.
Nos países em que não estão disponíveis cefalosporinas de terceira geração, a combinação de
penicilina G ou ampicilina com cloranfenicol é uma alternativa aceitável, que foi a opção
terapêutica neste caso. No tratamento específico para a meningite meningocócica, a penicilina G
continua a ser o antibiótico de escolha contra as estirpes sensíveis de N.meningitidis.
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Caso clínico 4
MM, 3 anos, sexo feminino, raça negra, natural e residente em Samba – Luanda, é trazida
ao SU do HPDB dia 13.04.2009 com história de febre, convulsões e alteração do
comportamento com 24 horas de evolução. Mãe nega diarreia, vómitos, desconforto abdominal
ou outras queixas álgicas. Criança sem antecedentes pessoais e familiares de relevo.
À admissão encontrava-se febril (38,5ºC), corada, hidratada, anictérica. F.C.: 130 bpm,
FR.: 30 cpm. Diminuição do estado de consciência (coma grau 8/15 na escala de Glasgow) e
agitação psicomotora. Sem rigidez da nuca nem outros sinais meníngeos. Sem exantemas ou
petéquias. À auscultação pulmonar: murmúrio vesicular discretamente diminuído na base
pulmonar direita e crepitações com a mesma localização. Auscultação cardíaca: S1 e S2
presentes, rítmicos. Sem sopros audíveis. Abdomen: plano, mole e depressível. Esplenomegalia
grau II (bordo esplénico palpável 4 cm abaixo do rebordo costal, liso e doloroso). Sem
hepatomegalia. Membros sem alterações.
Diagnóstico:
Terapêutica instituída:
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2ª Semana:
14 a 17 Abril 2009
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CLÍNICOS OBSERVADOS Nesta semana, tive a oportunidade de observar uma grande diversidade
de patologias: Sarampo, Pneumotórax, Pneumonia/Broncopneumonia, Tuberculose pulmonar,
Tuberculose ganglionar, Tuberculose óssea, Empiema, Abcesso pulmonar, Bronquiolite,
Malformações congénitas broncopulmonares, como Hipoplasia pulmonar, Pericardite e
Cardiopatias congénitas, como Transposição dos grandes vasos e Comunicação inter-ventricular.
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Caso clínico 5
IM, criança de 21 meses, sexo masculino, raça negra, natural e residente em Luanda, apresenta
quadro clínico de febre, não quantificada no domicílio, e tosse com inicio há uma semana.
Quatro dias após início da sintomatologia, aparecimento de lesões cutâneas peri-orais e no
períneo, tendo sido medicada com quinino, paracetamol e nistatina no Centro de Saúde. Recorre
ao Serviço de Urgências 24horas depois por agravamento do quadro clínico. Mãe refere história
de contacto com tia com tuberculose pulmonar (a fazer tratamento há 2 meses) e incumprimento
do plano de vacinação.
Ao exame objectivo: criança com peso inferior ao percentil 5 (8,200 kg) e malnutrição moderada
(Peso/altura<80%). F.C.: 120 bpm, FR.: 48 cpm, Temp.:36,8ºC. Corada e hidratada, sem sinais
de dificuldade respiratória. Presenças de lesões ulcerativas na face (região peri-oral e
mentoniana) e região perineal. À auscultação pulmonar: diminuição do murmúrio vesicular e
presença de crepitações no campo pulmonar esquerdo. Auscultação cardíaca sem alterações.
Sem alterações no exame do abdómen. Sem edemas periféricos. Analiticamente: Leucócitos
25.310/mm3 (50% Neutrófilos, 46% Linfócitos), hemoglobina 6,2 g/dl; Hematócrito 24,8%,
VCM 54 fl, HCM 13,5 pg e RDW 21,8%. A radiografia torácica revela nível hidroaéreo no terço
inferior do campo pulmonar esquerdo, apagamento do fundo de saco costo-frénico esquerdo e
infiltrado intersticial difuso no campo pulmonar esquerdo.
Durante o internamento: evolução para tosse produtiva com expectoração seromucosa espessa e
aparecimento de dispneia.
Hipóteses de diagnóstico:
Abcesso pulmonar
Tuberculose pulmonar
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Figura 1. Radiografia torácica frente e perfil de IM, 21 meses de idade, no dia da admissão.
Caso clínico 6
BA, 3 anos, sexo feminino, raça negra, natural e residente em Cacuaco – Luanda. Criança com
quadro clínico arrastado, desde 1 ano antes antes antes, caracterizado por episódios de febre e
rigidez cervical, tendo recorrido ao Serviço de Urgências por 3 vezes durante este período com
a referida sintomatologia, tendo recebido alta após realização de punções lombares negativas e
tendo sido medicada em ambulatório, com terapêutica que não sabe especificar. Um mês antes
nota aparecimento de tumefacção dolorosa na região cervical posterior, tendo realizado
tratamento tradicional para “Giba”, com massagens e aplicação local de ervas, sem remissão da
sintomatologia. Nega cefaleias, vómitos e queixas respiratórias. Sem história de contacto com
tuberculose.
Ao exame objectivo: F.C.: 120 bpm, FR.: 32 cpm, Temp.: 36,5ºC. Criança consciente,
apresentando mau estado geral, com gemido. Mucosas coradas, hidratadas. Sinais de ligeira
dificuldade respiratória: tiragem intercostal inferior ligeira.
Apresenta tumefacção na região cervical posterior, ligeiramente à direita da linha média das
apófises espinhosas, com aproximadamente 10 cm de diâmetro, consistência elástica, dolorosa à
palpação. Rigidez cervical e limitação dos movimentos de rotação e lateralização do pescoço.
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Sem outros sinais meníngeos. Sem exantemas ou petéquias. Sem edemas periféricos. Cicatriz de
BCG visível. Auscultação pulmonar: murmúrio vesicular presente e simétrico, sem ruídos
adventícios. Auscultação cardíaca: S1 e S2 presentes, rítmicos. Sem sopros audíveis. Sem
alterações no exame abdominal.
Analiticamente: hemoglobina 10,8 g/dl, glicemia 91,3mg/dl. Prova de Mantoux com 17 mm,
mas pesquisa de BK nas secreções brônquicas negativa (Ziel-Neelson e exame cultural
negativos). Gota espessa negativa.
Exames complementares adicionais: Ecografia das partes moles da região cervical posterior,
serologia para HIV e teste de falciformação.
Terapêutica instituída:
Paracetamol 500 mg ½ comp. VO SOS
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3ª Semana:
20 a 24 Abril 2009
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Assim, a introdução de água, outros líquidos ou sólidos antes dos 6 meses de idade é uma
medida desnecessária, uma vez que o aleitamento materno cobre todas as necessidades líquidas e
nutricionais das crianças menores de 6 meses, como pode ser também uma fonte de infecção,
especialmente nas famílias pobres.
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Indicadores de desnutrição
Causas da desnutrição
A desnutrição das crianças resulta de uma complexa interacção de factores que podem
actuar a vários níveis. A um nível mais imediato, existe a sinergia negativa entre a alimentação
inadequada e as doenças infecciosas que acometem as crianças, em que a desnutrição aumenta
em 50% o risco de morte devido às doenças infecciosas, devido à supressão do sistema
imunitário (UNICEF, 2001).
A nível familiar e do círculo social próximo da criança actuam factores como a falta de
segurança alimentar; o acesso limitado ou inexistente a água potável, saneamento básico e a
cuidados primários de saúde; e o nível de escolaridade das mães. Factores relacionados com a
estrutura económica, política e cultural da sociedade afectam igualmente a prevalência de
desnutrição no país.
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• O baixo peso ao nascer relacionado com a má nutrição e saúde das mães durante a
gestação;
• As gravidezes sucessivas, com intervalos pequenos, que se traduzem na interrupção
precoce da amamentação materna;
• A diversificação alimentar inadequada e insuficiente para as necessidades nutricionais
das crianças;
• O baixo nível de escolaridade das mães e a falta de conhecimento relativamente à
reintrodução de outros alimentos e cuidados básicos de higiene na confecção e
armazenamento dos alimentos;
• A ausência de água potável e saneamento básico.
A educação e esclarecimento das mães têm um papel essencial na protecção dos recém-
nascidos e crianças contra a desnutrição e doenças infecciosas. A promoção da amamentação
exclusiva e precoce, juntamente com mensagens simples sobre práticas de higiene básicas na
preparação dos alimentos, tais como manter a comida tapada para impedir o acesso de insectos
ou utilizar água fervida para consumo, podem ter resultados altamente benéficos. Igualmente
importante é o esclarecimento das mães para promover o reconhecimento dos sinais de
desnutrição, como cabelo fino e descorado, aparecimento de lesões cutâneas hipo-pigmentadas e
lesões nas mucosas oral e genital.
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NEONATOLOGIA
4ª Semana:
27 e 28 Abril 2009
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2.2.2.4. Neonatologia
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Caso clínico 7
Recém-nascido de 3 dias, sexo masculino, raça negra, natural de Luanda, onde reside, trazido ao
Serviço de Urgências dia 24.04.2009 com quadro clínico caracterizado por icterícia, febre (não
quantificada), um episódio convulsivo e recusa alimentar (“recusa as mamadas”), com início
24 horas após o parto. Gravidez de termo, não vigiada e com intercorrências (malária aos 9
meses). Parto hospitalar, eutócico, peso à nascença: 3,500kg, Índice Apgar 1/5 minutos: 6/7.
Mãe, 32 anos, doméstica, G6P6A0. Pai, 37 anos, pedreiro, sem antecedentes patológicos
significativos. Nega consaguinidade. 5 Irmãos saudáveis. Residem numa habitação de blocos,
com 1 quarto, 1 sala, 1 WC, sem electricidade, água canalizada ou saneamento básico, onde
coabitam 8 pessoas (pai, mãe e 6 filhos).
Ao exame objectivo: FC: 136 bpm, FR: 52 cpm, Temp: 37,2ºC. Peso – 3,000 Kg, comprimento
não medido, PC-36 cm. Mucosas coradas e hidratadas. Sem sinais de dificuldade respiratória.
Sem exantemas ou petéquias. Fontanela anterior normotensa e pulsátil, 5cmx2,5cm. Fontanela
posterior 2cmx0,5cm. Recém-nascido sem choro, com diminuição da resposta a estímulos,
ictérico, sem reflexo de sucção. Reflexo de Moro normal. Tónus muscular normal. AP:
Murmúrio vesicular presente, simétrico, bilateral; sem ruídos adventícios. AC: S1 e S2 presentes,
rítmicos, sem sopros audíveis. Abdómen sem alterações; coto umbilical limpo, sem sinais
inflamatórios. Mancha hiperpigmentada, de coloração azulada, na região sagrada. Fimose
fisiológica. Testículos no saco escrotal.
Analiticamente: Hemograma 18,4 g/dl, glicemia 95,5 mg/dl. Pesquisa de plasmódio negativa.
Punção lombar traumática.
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SERVIÇO DE U RGÊNCIAS
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A experiência no Serviço de Urgências (SU) foi, sem dúvida, a mais marcante do estágio.
O grande número de doentes que recorre ao SU do HPDB (Quadro V.), muito superior à
capacidade de resposta humana e técnica, e a diversidade de patologias encontrada são as
principais razões pelas quais esta experiência foi tão proveitosa e formativa. O movimento e as
ocorrências dos dias em que estive integrada na equipa de urgência podem ser consultados em
anexo (Anexo VI. Serviço de Urgências – Movimento e Ocorrências do dia).
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Consulta Externa
A restante actividade hospitalar dos alunos estagiários incluía as reuniões diárias dos
médicos, no início da manhã, momento em que eram apresentados o movimento e as ocorrências
das últimas 24 horas de banco de urgências, bem como todos os doentes internados nas
Urgências e transferidos para as enfermarias.
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3. Conclusões
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Foi um mês intenso e enriquecedor, não só do ponto de vista médico, mas também a
nível humano, de crescimento e de vivência pessoal.
Durante quatro semanas conheci alunos, enfermeiros, médicos. Trabalhei, aprendi com
eles. No final, trouxe amigos que não esquecerei.
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4. Bibliografia
Bickley LS, Szilagyi PG. The Physical Examination of Infants and Children. Bates’ Guide to Physical Examination
and History Taking 2003, Eighth Edition; 621-704.
Black RE, Morris SS, Bryce J. Where and why are 10 million children dying every year? Lancet 2003;361:2226-34.
Bryce J et al. WHO estimates of the cause of death in children. Lancet 2005; 365:1147-1152.
Fauci A, Braunwald E, at al. Harrison’ Principles of Internal Medicine 2008, 17th Edition.
Kengman S, Katz SL. Measles (rubeola). Infectious diseases of children 1981, Seventh Edition; 144-159.
Kengman S, Katz SL. Rabies (hydrophobia; rage, lyssa). Infectious diseases of children 1981, Seventh Edition; 252-
258.
Kliegman RM, Marcdante KJ, Jenson HB, Behrman HE. Nelson’ Essentials of Pediatrics 2007, Fifth Edition.
Lissauer T, Clayden G. The child in society. Illustrated Textbook of Paediatrics 2007, 3nd Edition; 1-8.
Long SS, Pickering LK, Prober CG. Rabies Virus. Principles and Practice of Pediatric Infectious Diseases 2008,
Third Edition; 1126-1130.
Manual de Bolso - Normas de Tratamento da Malária 2005, Programa Nacional de Controlo da Malária, Ministério
da Saúde, Angola.
Plano estratégico para a redução acelerada da Mortalidade Materno-Infantil em Angola 2004-2008, Direcção
Nacional de Saúde Pública, Ministério da Saúde, República de Angola; disponível on-line em
http://www.unicef.org/angola/pt/Plano_estrategico_MI_
22_04_04.pdf.
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A NEXOS
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O mundo da criança consiste num sistema complexo de factores e influências, que inclui
quer aspectos individuais da criança, como idade, género e genética, quer questões ligadas ao
círculo social próximo, bem como à estrutura e contexto social, a nível local, nacional e
internacional (Bronfenbrenner, 1979). A importância da influência do meio na saúde da criança é
demonstrada pelas diferenças entre os principais problemas de saúde infantil nos países
desenvolvidos e nos países em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos estes problemas
incluem, principalmente, doenças crónicas; distúrbios comportamentais, emocionais e de
desenvolvimento neurológico; acidentes; excesso de peso e obesidade; desigualdades sócio-
económicas; consumo de drogas e álcool; tabagismo e gravidez na adolescência.
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* Lissauer T, Clayden G. The child in society. Illustrated Textbook of Paediatrics 2007, 3nd Edition; 1-8.
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H ISTÓRIA C LÍNICA 1
Dados de Identificação:
História clínica baseada nas informações cedidas pela mãe e pela consulta do processo clínico.
Criança internada via Serviço de Urgências no Centro de Recuperação Nutricional do Hospital
Pediátrico David Bernardino, Luanda. Data de Internamento: 21.04.2009.
Criança de 18 meses com história de febre e diarreia há 1 mês atrás, com a frequência de a 5 a 8
dejecções diárias abundantes de fezes de coloração escura (“pretas”), sem raios de sangue, em
muco, que evoluiu para diarreia aquosa, tendo recorrido ao Centro de Saúde da área da
residência, onde foi medicada com Bactrim® (Roche), com remissão do quadro ao fim de uma
semana. Recorre a 21.04.2009 ao Serviço de Urgências com quadro clínico de edemas
generalizado, com inicio há 2 semanas, de instalação progressiva, primeiro nos membros
inferiores e em seguida no abdómen, membros superiores e face e oligúria há uma semana. Mãe
refere ocorrência anterior de quadro de edema de localização peri-orbitária, de predomínio
matinal, há 2 meses, acompanhado de febre, com menos de uma semana de evolução, obtendo
melhoria da sintomatologia após tratamento com diuréticos que não sabe especificar. História de
contacto com tuberculose pulmonar (avô paterno).
Exame objectivo:
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Antecedentes familiares:
Antecedentes pessoais:
Mãe não apresenta o boletim de vacinas e refere incumprimento do plano vacinal. Sem cicatriz
de BCG visível.
Resumo:
Criança de 18 meses, trazida ao Serviço de urgências com quadro clínico caracterizado por
edema generalizado (face, membros e abdómen) com 2 semanas de evolução e oligúria há uma
semana. Duas semanas antes do episódio actual, história de febre e diarreia, várias dejecções
diárias abundantes de fezes de coloração escura, tendo sido medicada com Bactrim®. Sem
antecedentes patológicos de relevo até há 2 meses, altura em que inicia quadro de edema peri-
orbitário, acompanhado de febre, obtendo melhoria da sintomatologia após tratamento com
diuréticos no Centro de Saúde.
41
Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
História de contacto com tuberculose pulmonar (avô paterno), PNV não actualizado e sem
cicatriz de BCG visível.
Lista de problemas:
# Ascite
# Oligúria
Hipóteses de diagnóstico:
Sindrome nefrótico
Tuberculose peritoneal
Exames Complementares:
Hemograma, sumário de urina, serologia HIV, Bioquimica (glicemia, função renal), Teste de
falciformação, Prova de Mantoux, Radiografia torácica
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
Ecografia abdominal: Sem alterações a nível do fígado, pâncreas, baço, vesícula e vias biliares.
Sem imagens de adenomegalias. “Presença de liquido em todos os espaços livres do abdómen,
sugerindo ascite.”
Terapêutica instituída:
H ISTÓRIA C LÍNICA 2
Dados de Identificação:
Nota de entrada baseada nas informações cedidas pela mãe e pela consulta da ficha clínica do
Serviço de Urgências e do Cartão de Saúde Infantil.
Motivo de internamento:
Criança trazida ao SU por apresentar um quadro clínico de diarreia e vómitos com 3 dias de
evolução. Diarreia de fezes claras, com muco, sem sangue, com a frequência de 3 dejecções
diárias. Vómitos pós-prandiais, de conteúdo alimentar. Nas últimas 24horas a mãe refere tosse
produtiva ligeira e hipersudorese, não tendo medido a temperatura. Refere emagrecimento que
não sabe quantificar, sonolência e menor interacção da criança desde o início do quadro e
rinorreia serosa 4 dias antes. Nega recusa alimentar.
Exame objectivo:
Sinais vitais: FC: 115 bpm, FR: 46 cpm, Temp: 37,2ºC, TA e Sat.O2: não medidas.
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
Criança consciente (5/5 na escala de Blantyre) com deficiente estado nutricional. Mucosas
hipocoradas e diminuição do turgor da pele (sinal da prega cutânea). Apresenta sinais de
dificuldade respiratória: tiragem intercostal moderada, mas sem adejo nasal. Sem exantemas ou
petéquias. Boa perfusão periférica. Fontanela anterior normotensa e pulsátil. Sem adenomegalias
palpáveis, edemas periféricos ou dermatites cutâneas. Otoscopia: não realizada. Orofaringe: sem
alterações. AC: S1 e S2 presentes, rítmicos, sem sopros audíveis. AP: Murmúrio vesicular
presente, simétrico, bilateral; sem ruídos adventícios. Abdómen: mole e depressível, sem massas
ou organomegalias palpáveis
Evolução intra-hospitalar: Edema bilateral dos membros inferiores até à região maleolar com
inicio no 2ºdia de internamento e duração de 3 dias. À auscultação pulmonar: crepitações
inspiratórias ligeiras dispersas no hemitórax direito.
Antecedentes familiares:
Mãe – 20 anos, sem escolaridade, desempregada, nega hábitos tabágicos, consumo de drogas ou
álcool. Sem antecedentes patológicos significativos.
Pai – 24 anos, desempregado, escolaridade desconhecida, abuso de álcool e tabagismo que a mãe
da criança não sabe quantificar. Apresenta comportamento violento após consumo de álcool.
Mãe nega agressões do pai à criança, mas admite ser agredida com bastante frequência. Sem
antecedentes patológicos significativos.
Sem consanguinidade. Agregado familiar constituído por 3 elementos (pai, mãe, filho); vivem
em casa de adobe alugada, com apenas uma divisão, sem WC, electricidade, água canalizada ou
saneamento básico.
Antecedentes pessoais:
Gravidez – I Gesta, I Para, normal, vigiada e sem intercorrências. Grupo Sanguíneo da Mãe
desconhecido. Imunizada.
Parto – de termo, eutócico, domiciliário, Índice de Apgar não medido, Peso à nascença 3,300
Kg (P25), comprimento e perímetro cefálico desconhecidos. Período neonatal sem
intercorrências.
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
Alimentação – Amamentação exclusiva até aos 6 meses. A partir desta idade introdução de papa
de farinha de milho 2 vezes/dia.
Hipóteses de diagnóstico:
Gastroenterite
Broncopneumonia
Malnutrição moderada
Exames Complementares:
Terapêutica instituída:
Medidas gerais – Sinais vitais 6-6h, Vitamina A (6 gotas ao 1º, 2º e 14º dia), Leite fórmula F75
(100 ml 3/3h), Ácido fólico (5mg, dose única), Coartem® (Artemeter+Lumefantrina) (140 mg,
12-12h, 3 dias) e Amoxicilina xarope (125mg/5ml) 5ml 8-8h
45
Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
H ISTÓRIA C LÍNICA 3
Dados de Identificação:
Nota de entrada baseada nas informações cedidas pela mãe e pela consulta da ficha clínica do
Serviço de Urgências. Criança internada via SU na Unidade de Nutrição do Hospital Pediátrico
David Bernardino - Luanda no dia 19.04.2009.
Motivo de internamento:
Febre e tosse.
Criança trazida ao SU por apresentar um quadro clínico de febre e tosse produtiva com 1 semana
de evolução. A febre foi objectivada no centro de saúde, mas a mãe não sabe quantificar.
Rinorreia serosa prévia. Criança mantém apetite, sem recusa alimentar.
Aos 7 meses:
- Quadro clínico de diarreia, caracterizado por vários episódios de dejecções diarreicas por dia
durante 4 dias, com acentuada perda de peso, que a mãe não sabe quantificar, e da qual a criança
não voltou a recuperar.
- Celulite do membro inferior esquerdo na região da coxa após trauma, com drenagem de
exsudado purulento. Curativos realizados no Centro de Saúde.
Exame objectivo: FC: 150 bpm, FR: 76 cpm, Temp: 37,8ºC, TA e Sat.O2: não medidas.
Medidas antropométricas: Peso – 5,400 Kg; Comprimento – 68 cm; PC - 42,4 cm, Índice
P/A<70%.
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
Fontanela anterior hipotensa, 3cm x 2,5 cm. Sem adenomegalias palpáveis. Lesões ponteadas de
coloração esbranquiçada em toda a cavidade bucal, principalmente em toda a superfície da
língua e palato. Otoscopia: não realizada.
AC: S1 e S2 presentes, rítmicos, sem sopros audíveis. AP: Murmúrio vesicular diminuído no
hemitórax direito, com crepitações inspiratórias. Abdómen: globoso, mole e depressível, sem
massas ou organomegalias palpáveis. Membros: ligeiro edema bilateral no dorso dos pés. Na
face anterior da coxa, presença de mancha hipopigmentada e de 2 locais de drenagem prévia.
Sem exsudados nem sinais inflamatórios.
Antecedentes familiares:
Mãe – 28 anos, doméstica, 4ª classe de escolaridade, nega hábitos tabágicos, consumo de drogas
ou álcool. História prévia de tuberculose pulmonar há 2 anos. Refere cumprimento terapêutico
completo do tratamento tuberculostático.
Agregado familiar constituído por 5 elementos (mãe, avô materno e 3 crianças); vivem em casa
com 2 quartos, 1 sala, 1 cozinha, 1 WC, sem electricidade, água canalizada ou saneamento
básico.
Antecedentes pessoais:
Gravidez – vigiada. III Gesta, III Para. Malária aos 6 meses de gestação.
Alimentação – Amamentação exclusiva até aos 6 meses. A partir desta idade introdução de papa
de farinha de mandioca (1vez/dia). Introdução de leite em pó e papa de cereais aos 7 meses.
Peixe e fruta esporadicamente.
Dieta actual: Peq. Almoço- pão e leite em pó; meio da manha – leite materno; 12h – papa de
cereais com leite; lanche – leite materno; 18h – papa de farinha de mandioca.
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
Hipóteses de diagnóstico:
Malnutrição grave
Pneumonia à direita
Abcesso pulmonar
Exames Complementares: Hemograma, Urina tipo II, Serologia HIV, Bioquimica (glicemia),
Teste de falciformação e Radiografia torácica, que revelou um infiltrado intersticial no terço
superior e inferior do hemitórax direito, com uma hipertransparência no terço médio e, no raio X
de perfil, presença de nível hidroaéreo sugestivo de abcesso pulmonar.
Terapêutica instituída:
Medidas gerais – repouso no leito, Vitamina A (100.000 UI) 6 gotas ao 1º, 2º e 14º dia, Leite
terapêutico F75, 80 ml 3/3h, Ácido fólico (5mg, dose única), Penicilina cristalizada 1ml IV 6/6h,
Metronidazol (500 mg/100 ml) 10 ml IV 8/8h.
H ISTÓRIA C LÍNICA 4
Dados de Identificação:
Nota de entrada baseada nas informações cedidas pela mãe e pela consulta da ficha clínica do
Serviço de Urgências. Criança internada via SU na Unidade de Nutrição do Hospital Pediátrico
David Bernardino - Luanda no dia 21.04.2009.
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
Motivo de internamento:
Febre e tosse.
Criança com malnutrição grave, seguida em Centro Nutricional desde os 12 meses, é trazida ao
SU por apresentar um quadro clínico de febre, não quantificada, e tosse com 3 semanas de
evolução. Mãe refere nas últimas 24 horas 5 dejecções diarreicas semi-liquidas, sem muco e sem
sangue.
Exame objectivo:
Sinais vitais: FC: 120 bpm, FR: 55 cpm, Temp: 37,4ºC, TA e Sat.O2: não medidas.
Medidas antropométricas: Peso – 6 Kg; Comprimento – 71 cm; PC – 46,4 cm. Índice P/A<70%.
AC: S1 e S2 presentes, rítmicos, hipofonéticos. Sem sopros audíveis. AP: Murmúrio vesicular
diminuído no hemitórax direito, com crepitações inspiratórias dispersas. Abdómen: globoso,
mole e depressível, sem massas ou organomegalias palpáveis. Sem edemas periféricos.
Antecedentes familiares:
Mãe – 30 anos, doméstica, sem escolaridade, nega hábitos tabágicos, consumo de drogas ou
álcool. Sem antecedentes patológicos significativos.
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
Antecedentes pessoais:
Alimentação – Amamentação materna até aos 11 meses. Introdução de papa de farinha de milho
e mandioca aos 3 meses, 2 vezes por dia. Carne, peixe e fruta apenas esporadicamente, “quando
há dinheiro” (sic), desde os 6 meses. Desde os 11 meses, sem ingestão de nenhum tipo de leite.
Dieta actual: Papa de farinha de milho e de mandioca, 2 vezes por dia.
Antecedentes patológicos: Aos 12 meses, aparecimento de edema facial e edema dos membros
inferiores bilateralmente, passando a ser seguido no Centro de Nutrição.
Hipóteses de diagnóstico:
Broncopneumonia à direita
Exames Complementares:
Hemograma, Ionograma, Gasimetria arterial, Glicemia, Urina tipo II, Serologia HIV, Teste de
falciformação, Radiografia torácica.
Terapêutica instituída:
Medidas gerais (Sinais vitais 6/6h), Soro glicosado 5% 200 ml + Soro fisiológico 200 ml
10gotas/min., Oxigenoterapia 3L/min, Vitamina A (100.000 UI) 6 gotas ao 1º, 2º e 14º dia,
Ácido fólico (5mg, dose única), Ampicilina (500 mg/4 ml) 1,2 ml IV 6/6h e Gentamicina (40
mg/ml) 0,6ml IV, por dia.
Evolução intra-hospitalar:
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
H ISTÓRIA C LÍNICA 5
Dados de Identificação:
Nota de entrada baseada nas informações cedidas pela mãe e pela consulta da ficha clínica do
Serviço de Urgências. Criança internada via SU na Unidade de Nutrição do Hospital Pediátrico
David Bernardino - Luanda no dia 21.04.2009.
Criança com história de internamento prévio de 30 dias nos Cuidados Intermédios 2, em Março
de 2009, por Tuberculose Pulmonar e Meningite, seguida no Hospital de Dia após alta devido às
sequelas de meningite, é trazida ao Serviço de Urgências dia 21.04.2009 por tosse, dificuldade
respiratória e anorexia desde há uma semana. Nega febre, dor torácica, rinorreia, obstrução nasal
ou alterações do trânsito intestinal.
Exame objectivo:
Sinais vitais: FC: 100 bpm, FR: 12 cpm, Temp: 36,6ºC, TA e Sat.O2: não medidas. Medidas
antropométricas: Peso – 14 Kg. Criança com mau estado geral, prostrada e letárgica. Aspecto
muito emagrecido, com sinais de desidratação grave: olhos encovados e sinal da prega cutânea
presente. Mucosas coradas e escleróticas anictéricas. Apresenta ligeira tiragem intercostal. Sem
exantemas ou petéquias. Sem adenomegalias palpáveis ou edemas periféricos. Orofaringe:
Presença de lesões de coloração esbranquiçada na cavidade oral. Otoscopia: não realizada. AC:
S1 e S2 presentes, rítmicos, normofonéticos. Sem sopros audíveis. AP: Murmúrio vesicular
diminuido bilateralmente; sem ruídos adventícios. Abdómen: mole, depressível e indolor. Sem
massas ou organomegalias palpáveis. Membros: úlcera no calcâneo do pé direito com fundo de
coloração amarelado e exsudado seroso. Sem edemas periféricos.
Exame Neurológico: Perda da capacidade da fala em Março de 2009, sequela da meningite. Não
interage, não cumpre ordens. Incapacidade para a marcha, diminuição global da força muscular,
sensibilidade preservada, hipotonia cervical, hipertonia dos membros inferiores e flexão
permanente dos joelhos. Nervos cranianos não testados.
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
Antecedentes familiares:
Mãe – 42 anos, 6º ano de escolaridade, vendedora, nega hábitos tabágicos, consumo de drogas
ou álcool. Sem antecedentes patológicos significativos. Pai – 48 anos, nacionalidade congolesa,
pedreiro, escolaridade desconhecida, abuso de álcool e tabagismo (1 Maço por dia). Sem
antecedentes patológicos significativos. Nega consanguinidade. 2 Irmãos (24 anos, sexo
masculino e 20 anos, sexo feminino) saudáveis. Agregado familiar constituído por 5 elementos
(pai, mãe e 3 filhos); vivem em habitação própria, com 4 quartos, 1 sala, 1 cozinha, 1WC
exterior, com electricidade, sem água canalizada nem saneamento básico.
Antecedentes pessoais:
Gravidez vigiada e sem intercorrências (III Gesta, III Para). Parto de termo, eutócico e
hospitalar. Sem intercorrências no período neo-natal. Amamentação materna até aos 14 meses.
Começou a andar aos 8 meses, a falar quando completou 1 ano de idade. Estudou até 3ª classe
até Março de 2009, altura em que deixou de frequentar a escola devido às sequelas neurológicas.
Plano de vacinação actualizado.
Antecedentes patológicos:
Malária e Febre Amarela, que a mãe não sabe especificar as idades. Tuberculose pulmonar e
meningite com sequelas, aos 8 anos (Março de 2009), tendo ficado internada nos CI 2 durante 30
dias. Após alta, seguimento no Hospital de Dia, incluindo fisioterapia para os membros.
Hipóteses de diagnóstico:
Exames Complementares:
Terapêutica instituída:
Lactato Ringer 400 ml IV, 4h, 25 gotas/min, Leite terapêutico F75, 220 ml 3/3h, Paracetamol
500 mg, ½ comp. 8/8h, Vitamina Complexo B, 1comp./dia, Rimactazide®
(Rifampicina+Isoniazida) 25 mg, 1+1/4 comp./dia, Pirazinamida 500 mg, 1 comp./dia,
Coartem® (Artemeter+lumefantrina) 140 mg, 1 comp. 12/12h.
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
09.04.2009
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
16.04.2009
54
Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
23.04.2009
55
Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
Caso clínico 1
Dados de Identificação:
G.J., 7 meses, sexo feminino, raça negra, natural e residente em Luanda, Angola
Exame objectivo: Peso- 6,900 Kg; Temp.: 38ºC, FC: 160 bpm, FR: 46 cpm. Criança consciente,
mucosas coradas, estado de nutrição e de hidratação normais. Apresenta sinais de dificuldade
respiratória: tiragem intercostal, sem adejo nasal. Conjuntivas hiperemiadas, com exsudado
purulento bilateralmente. Não foi possível
confirmar a presença de Mancha de
Koplik. À auscultação pulmonar:
murmúrio vesicular rude com
prolongamento do tempo expiratório com
crepitações inspiratórias e expiratórias
bilateralmente. Sem adenomegalias
palpáveis. Sem edemas periféricos.
Exantema maculo-papuloso punctiforme
generalizado (face, pescoço, tronco e
membros); palmas e plantas livres.
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
Sem antecedentes patológicos significativos, nem história de contacto com doentes com
Tuberculose pulmonar
Lista de problemas:
# Tosse
# Febre (38ºC)
# Dificuldade Respiratória
# Exantema máculo-papuloso
# Conjuntivite
# Diarreia
Plano terapêutico:
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
Caso Clínico 2
EE, 1 ano, sexo masculino, raça negra, natural e residente em Luanda, trazido ao SU por febre,
dispneia e lesões cutâneas disseminadas, desde há uma semana, e tosse há 3 dias.
Objectivamente a criança encontrava-se letárgica, com mucosas descoradas, taquipnéico (FR: 68
cpm) com sinais de dificuldade respiratória, sinais de desidratação e malnutrição moderadas
(Peso:6,980kg, P/A >80%).
Terapêutica instituída:
Oxigénio 3L/min
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
Caso clínico 3
TF, 2 anos, sexo feminino, raça negra, natural e residente em Luanda. Criança com antecedentes
de Anemia de células falciformes diagnosticada aos 15 meses, seguida em consulta externa no
HPDB desde então. È trazida ao Serviço de Urgência por aumento do volume do membro
superior esquerdo com início há aproximadamente 4 dias. Medicada com ibuprofeno, sem
melhoria. Iniciou febre nas últimas 24 horas, não quantificada. Ao exame objectivo: 9,200Kg;
criança consciente, corada, hidratada, com um bom estado nutricional. Escleróticas subictéricas.
Hipóteses de diagnóstico:
Terapêutica instituída:
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
Caso Clínico 4
GLF, recém-nascido de 15 dias, sexo masculino, raça negra, natural e residente em Luanda, é
trazido ao Serviço de Urgências dia 08.04.2009 apresentando quadro de dificuldade respiratória
desde o 3º dia de vida.
Hipótese de diagnóstico:
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
Anexo VIII. Projecto “Promoção da saúde e melhoria das condições alimentares e higio-
sanitárias do Centro de Acolhimento de Crianças Arnaldo Janssen”
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
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Relatório de Estágio – Mestrado Integrado em Medicina
ICBAS
Anexo IX. Apresentação da organização médica International Physicians for the Prevention
of Nuclear War (IPPNW)
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