Baixados 5
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DOI 10.5935/2595-0118.20230029-pt
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Inibição retrógrada das vias centrais hiperativas nas dores nociplásticas BrJP. São Paulo. 2023;6(Suppl 2):S120-5
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BrJP. São Paulo. 2023;6(Suppl 2):S120-5 Jacob MT e Milani BJ
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Inibição retrógrada das vias centrais hiperativas nas dores nociplásticas BrJP. São Paulo. 2023;6(Suppl 2):S120-5
rológica humana26. Esses estudos reforçaram a teoria de 2004, e em timas décadas, houve um crescente debate sobre o uso da cannabis
muito contribuíram para o entendimento da fisiopatologia da DC, para diversas doenças crônicas refratárias a tratamento convencional,
principalmente a neuropática e a nociplástica. principalmente a DC30.
Além da provável deficiência do SEC confirmada por esses estudos, Há vários estudos pré-clínicos sobre o uso de canabinoides para
foi avaliada também a resposta terapêutica ao uso da cannabis me- a dor, porém os estudos clínicos ainda permanecem um pouco
dicinal para MC. Foi comprovada uma diminuição estatisticamente limitados. Existem muitas evidências em estudos observacionais,
significativa das crises de MC após a introdução de canabinoides. relatórios anedóticos e mesmo em revisões sistemáticas. Porém,
Outra comprovação interessante foi a da eficácia do tratamento com como no caso de outras doenças crônicas refratárias a tratamentos
cannabis de uso médico em pacientes portadores de FM, quando convencionais, para a dor também são necessários mais ensaios clí-
comparada com a utilização de Duloxetina, Pregabalina e Minal- nicos randomizados.
ciprano, fármacos aprovados pela Food and Drug Administration O termo “cannabis medicinal” refere-se ao uso da planta e seus
(FDA) e pela European Medicines Agency (EMA), para essa doença27. componentes, principalmente os canabinoides, sob recomendação
e acompanhamento médico, para tratar ou melhorar os sintomas de
Sistema endocanabinoide e dor diferentes doenças. Estudos recentes comprovaram que os fitocana-
O potencial de ação gerado na terminação pré-sináptica faz com binoides exercem suas ações terapêuticas sobre a dor através de dife-
que as vesículas citoplasmáticas se fundam com a membrana pré-si- rentes alvos, tanto na periferia como no SNC, da mesma forma que
náptica e ocorra a liberação de neurotransmissores excitatórios. Os os endocanabinoides. Esses alvos incluem não apenas os receptores
endocanabinoides são então sintetizados em resposta ao aumento da CB1 e CB2, presentes ao longo de toda a via da dor, mas também
atividade no neurônio pós-sináptico. A ligação do neurotransmissor outros receptores acoplados à proteína G importantes na via anal-
aos receptores da membrana pós-sináptica causa acúmulo de Ca2+, gésica, como o GPR55, o GPR18, receptores opioides, receptores
despolarização da membrana e ativação de enzimas dependentes de serotoninérgicos (5-HT), além de receptores de potencial transitório
cálcio, responsáveis pela síntese dos endocanabinoides NAPE-PLD (TRVP, TRPA e subfamílias, e TRPM).
e DAGL. Muitos estudos relataram a capacidade de certos canabinoides na
A AEA e o 2-AG, então sintetizados, passam a atuar de modo re- modulação de receptores PPARs, importantes como analgésicos,
trógrado nos receptores da membrana pré-sináptica. Esses endoca- neuroprotetores e moduladores da função neuronal. Os estudos de-
nabinoides se ligam aos receptores canabinoides da membrana pré- monstraram também a interação entre os receptores opioides μ e os
-sináptica e da membrana celular das células da micróglia no corno receptores CB1, o que potencializa a ação dos fitocanabinoides31-33.
posterior da medula espinhal. Os canabinoides têm mecanismos de ação multimodais no trata-
Os receptores CB1 estão presentes predominantemente nos neurô- mento da dor, incluindo: modulação do processamento nociceptivo
nios do terminal pré-sináptico, e sua ativação diminui a liberação neuronal, inibição da liberação de moléculas pró-inflamatórias, ini-
vesicular, reduzindo a liberação de glutamato nos neurônios de pro- bição da ativação de mastócitos e modulação de receptores opioides
jeção nociceptiva. Esse mecanismo é conhecido como sinalização endógenos em vias aferentes primárias34-36.
retrógrada. Da mesma forma, a cannabis também pode fornecer alívio para gru-
Os receptores CB2 estão presentes predominantemente na micró- pos de sintomas que acompanham os quadros de DN, como náusea,
glia, e sua ativação suprime a ativação microglial, responsável pelos ansiedade, insônia e depressão, por meio de seus efeitos no sistema
sintomas clássicos da sensibilização central (alodinia e hiperpatia), endocanabinoide. Esse grupo de sintomas pode ser difícil de aliviar
pelos sintomas clássicos de tal forma que a micróglia passa a produzir usando agentes farmacêuticos tradicionais, que geralmente se con-
mais mediadores anti-inflamatórios e menos mediadores pró-infla- centram em um único sintoma. Portanto, além da melhora da dor,
matórios. A ativação dos receptores canabinoides neuronais e micro- melhorando sintomas associados nos portadores de DN, ela ajuda a
gliais leva a uma modulação da nocicepção. reduzir o sofrimento psicológico associado à DN37.
Após atuarem, os canabinoides endógenos presentes na fenda si-
náptica são captados por transportadores de canabinoides celulares, Tetrahidrocanabinol
sendo então decompostos pelas enzimas de degradação, a FAAH e O THC é o responsável pela maioria das ações farmacológicas da
a MAGL. A inativação dos endocanabinoides AEA pela FAAH e planta, como ação analgésica, anti-inflamatória, antioxidante, an-
2-AG pela MAGL, ocorre por hidrólise, formando ácido araquidô- tiespasmódica, relaxante muscular, broncodilatadora e antiprurigi-
nico e etanolamina ou glicerol, respectivamente28. nosa. Apesar de todos os canabinoides serem psicoativos, pois atuam
Um estudo publicado em 2020 sugere que a manutenção e a po- no SNC, o THC é o único que possui efeito disléptico, provavel-
tencialização da alodinia mecânica no córtex pré-límbico seja de- mente por ser agonista parcial do receptor CB1, com alta afinidade
corrente da estimulação de receptores NMDA e TRPV1. Essa hi- pelo receptor CB134.
perexcitabilidade pode ser atenuada pela ativação de receptores CB1 Além de modular a liberação de neurotransmissores excitatórios nas
corticais29. sinapses hiperativas, o THC inibe a COX-2 e ativa os receptores
CB2 na micróglia com controle e diminuição da hiperpatia e alo-
Cannabis de uso médico no tratamento da hiperatividade central dinia. O THC também atua nos receptores PPARs, importantes na
A cannabis é usada para fins medicinais há milhares de anos. Com analgesia.
a proibição da planta em meados do século XX, as pesquisas sobre Apesar do papel dos receptores CB2 na mediação dos efeitos do
o uso da planta com fins medicinais foram interrompidas. Nas úl- THC na analgesia não ter sido esclarecido totalmente, os efeitos dos
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agonistas do receptor CB2 na dor induzida por inflamação são mais CONTRIBUIÇÕES DOS AUTORES
bem descritos do que seus efeitos na dor relacionada à disfunção do
sistema nervoso38,39. Maria Teresa R. J. Jacob
Coleta de Dados, Redação - Revisão e Edição
Canabidiol Beatriz Jacob Milani
São poucos ensaios clínicos explorando os efeitos analgésicos do Redação - Revisão e Edição
canabidiol (CBD) em humanos. Um estudo observacional recente
avaliou retrospectivamente as mudanças na qualidade de vida em REFERÊNCIAS
um subconjunto dos primeiros 400 pacientes da Nova Zelândia a
1. IASP.2021.https://www.iasppain.org/Education/Content.aspx?ItemNumber=1698#-
receberem prescrição de CBD (principalmente 100 mg CBD/mL Nociplasticpain.
de óleo administrado por conta-gotas)40. Nesse estudo, os pacientes 2. Kosek E, Cohen M, Baron R, Gebhart GF, Mico JA, Rice ASC, Rief W, Slu-
com dor não oncológica (n=53) relataram melhorias significativas ka AK. Do we need a third mechanistic descriptor for chronic pain states? Pain.
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na qualidade de vida relacionada à dor, melhor mobilidade e redu- 3. Peres MF, Young WB, Kaup AO, Zukerman E, Silberstein SD. Fibromyalgia is com-
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mais frequência para ansiedade e depressão, enquanto produtos com 6. Walitt B, Ceko M, Gracely JL, Gracely RH. Neuroimaging of central sensiti-
predominância de THC são preferencialmente usados para dor e vity syndromes: key insights from the scientific literature. Curr Rheumatol Rev.
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sono41. 7. Fitzcharles MA, Petzke F, Tölle TR, Häuser W. Cannabis-based medicines and medi-
Os dados atuais do Special Access Scheme Category B indicam que cal cannabis in the treatment of nociplastic pain. Drugs. 2021;81(18):2103-16.
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quase um quarto das aprovações atuais para DC envolvem produtos ci. 2022;1(1):1-2.
CBD-dominantes, apesar da evidência mínima disponível em rela- 9. Leffler AS, Kosek E, Lerndal T, Nordmark B, Hansson P. Somatosensory perception
ção à sua eficácia (SAS-B, abril 2021). and function of diffuse noxious inhibitory controls (DNIC) in patients suffering from
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Considerando as evidências atuais, um painel de 20 especialistas 10. Pollard LC, Ibrahim F, Choy EH, Scott DL. Pain thresholds in rheumatoid
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mecanismos neuropáticos e nociplásticos da dor e não para a dor 11. Smallwood RF, Laird AR, Ramage AE, Parkinson AL, Lewis J, Clauw DJ, Williams
nociceptiva42. Existe um extenso número de estudos pré-clínicos DA, Schmidt-Wilcke T, Farrell MJ, Eickhoff SB, Robin DA. Structural brain ano-
malies and chronic pain: a quantitative meta-analysis of gray matter volume. J Pain.
sobre os efeitos dos canabinoides na DC, porém estudos clínicos 2013;14(7):663-75.
permanecem limitados. Há muitos estudos observacionais, relatos 12. Napadow V, Harris RE. What has functional connectivity and chemical neuroimaging
anedóticos e mesmo revisões sistemáticas, mas poucos ensaios clíni- in fibromyalgia taught us about the mechanisms and management of ‘centralized’
pain? Arthritis Res Ther. 2014;16(5):425.
cos randomizados43. 13. Loggia ML, Kim J, Gollub RL, Vangel MG, Kirsch I, Kong J, Wasan AD, Napadow
Os desafios são consideráveis em termos de evidências confiáveis V. Default mode network connectivity encodes clinical pain: an arterial spin labeling
study. Pain. 2013;154(1):24-33.
sobre os efeitos médicos dos canabinoides na DC neuropática e na 14. Ichesco E, Puiu T, Hampson JP, Kairys AE, Clauw DJ, Harte SE, Peltier SJ, Harris
DN devido à heterogeneidade de produtos à base de cannabis e dife- RE, Schmidt-Wilcke T. Altered fMRI resting-state connectivity in individuals with
fibromyalgia on acute pain stimulation. Eur J Pain. 2016;20(7):1079-89.
rentes métodos de administração em várias populações. Observa-se 15. Fleming KC, Volcheck MM. Central sensitization syndrome and the initial
também uma falta de compromisso da indústria da cannabis em evaluation of a patient with fibromyalgia: a review. Rambam Maimonides Med J.
apoiar pesquisas de melhor qualidade que confirmem o que os es- 2015;6(2):e0020.
16. Fitzcharles MA, Cohen SP, Clauw DJ, Littlejohn G, Usui C, Häuser W. No-
tudos observacionais, os relatos anedóticos e as revisões sistemáticas ciplastic pain: towards an understanding of prevalent pain conditions. Lancet.
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tencialmente preencher a lacuna terapêutica no tratamento da DC 20. Cravatt BF, Lichtman AH. The endogenous cannabinoid system and its role in noci-
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neuropática e da DN. Seu mecanismo de ação na DN é importante 21. Staud R. New evidence for central sensitization in patients with fibromyalgia. Curr
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minuindo a hiperexcitabilidade. Além disso, ela também modula 2004;8(5):379-84.
a inflamação neuronal microglial, potencializa o sistema opioide e 23. Russo EB. Clinical endocannabinoid deficiency (CECD): can this concept explain
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outros mecanismos inibitórios centrais (em toda a via envolvida na and other treatment-resistant conditions? Neuroendocrinol Lett. 2004;25(1):31-9.
fisiopatologia da dor), e tem ações analgésicas periféricas. Embora 24. Greco R, Gasperi V, Maccarrone M, Tassorelli C. The endocannabinoid system and
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